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NOTA DE INSTRUCAO Nr 3012/88 — EM/PM — TUMULTOS EM PRAGAS DESPORTIVAS — “A filosofia que orienta 0 cumprimento da missao de Policia Militar tem se manifestado no sentido de protegao, assistén- cia e socorro ao cidadao e da comunidade" — uma das con- clusdes do Ill Congresso Brasileiro das Policias Militares/87 ~ Belo Horizonte, 1, FINALIDADE Estabelecer orientagbes para o planejamento e execucao de operagées relaciona- das a “Tumultos em Pragas Desportivas”, particularmente em Campos de Futebol, 2, OBJETIVOS a. Reduzir improvisacdes; b, Estabelecer formas coerentes de conduta operacional face a ocorréncia ou hi- pétese de “tumultos” em pragas desportivas; c, Elevar a eficigncia ¢ eficdcia operacionais; 4. Aperieigoar as acées policiais-militares; e. Estabelecer conduta operacional, propiciando rotina de comportamento, no rela- cionamento Polic'a Militar versus Administragéo de Prages Desportivas versus Entidades Desportivas versus autoridades envolvidas, etc, 3. CONCEITOS BASICOS a. Antecivagdo Um dos princfpios do policiamento ostensivo, 6 0 que preconiza a iniciativa de providéncias estratégicas, taticas e técnicas, destinadas a minimizar @ surpresa, caracterl- zando um clima de seguran¢a na comunidade e que permite fazer face ao fendmeno da cri- minalidade com maior presteza. E um princfpio predominantemente preventivo (Nota de Ins- trugéio Nr 3011/87 -EMPM). b, Praga Desportiva E todo 0 complexo de edificagées e obras para, principalmente, & pratica de es- 7 portos compreendendo ndo s6 0 espace tisico destinado a0 jogo, como também outras de- pendéncias destinadas ao piblico e outros servigos de apoio. (PM3) ¢. Tumulto Para efeito desta Nota de Instruco, tumulto é entendida como serdo um movi- mento desordenado envolvendo piiblico em Pragas Desportivas, geralmente originado de um descontentamento ou desaprovago a agdes ou omissdes de dirigentes, entidades, atletas ou do poder piiblico, ou ainda motivada por instigag&o advinda do mesmo ptibiico ou grupos organizados (TORGIDAS), ou originados por acidentes ou fendmenos de causas faturais ou do inesperado surgimento de animais-(vespas, abelhas, morcegos, etc) que causem panico, © piiblico torcedor, -»5 eventos esportivos, apresenta, dentre outras, as se- guintes caracteristicas bésicas: ~ Pertence a classes sociais diversas; Indole pacfica, Tem como objetivo o lazer; ~— Tem precilesao pelo esporte, € por uma equipe; — Excita-se com facilidade, podende perder 0 senso da razao € adotar compor- lamentos inconsequenies. (PM3) d. Associagdes Desportivas ou Cluves Sao entidades basicas da organizagao nacional do desporto comunitfrio € cons lituem os centros em que os desportos séo ensinados € praticados, Em Belo Horizonte so diretamente filiados & Federagao Mineira de Futebol e nos demais municfpios mineiros, dues ou mais associagdes desportivas poderdo filiar-se a uma Liga que, por sua vez, filiar-se-& & FMF (Dec, 80,228), e. Ligas Desportivas Sao entidades, de criagdo, de direg&o facultativa, dos desportos de Ambito muni- cipal, que se filiam diretamente a Federacao Mineira de Futebol (Dec. 80.228). f, Federacdo Mineira de Futebol E a entidade de diregdo do futebol no Estado de Minas Gerais, filiada a Confede- ragao Brasileira de Futebol (CBF) (Dec. 80.228), g. Contederacio Brasileira de Futebol Entidade responsdvel pela diregdo do futebol amacorista e profissional em Ambito nacional, sob a imediata supervis&o normativa e discipinar do Conselho Nacional de Des- portos (Dec, 80,228). 98 h, Conselho Nacional de Desporios (CND) Orgao Colegiado, constituinte da estrutura basica do Ministério Ga Educacao e Cultura, que tem por finalidade colaborer na formulagao da Politica Nacional de Desportos e atuar como érgao normative ¢ disciplinar do desporte nacional (Dec. 80.228). 4, DIAGNOSTICO DA SITUAGAO. Temese observado 0 aumento de ocorréncias de tumulto em pracas desportivas, por ocasiao da realizacao de partidas anir equipes profissionais das primeira, segunda e terceira divisdes da Federacéo Mineira de Futeboi, 0 mesmo ocorrendo no futebol amado- rsta. Vez por outra, a imprensa tem noticiado, com destaque, atos de violéncia envolven- do torcedores, atletas, dirigentes ¢ policiais-militares, antes, durante e apés os eventos des portivos. Observa-se, ainda, que a falta de ANTECIPACAO, princ’pio bésico do Policiamento Ostensivo, tem propiciado a ecios4o de tumultos em pracas desportivas, A tragilidade a inadequagao das instalagées flsicas de pracas desportivas, contri- buem sensiveimente para 0 surgimento e/ou agravamento de incidentes ou acidentes gera- dores de tumultos. Além desse aspecto, citadas deficiéncias concorrem, em sentido contré- rio, para dificultar a aco policial-militar, e mesmo de cirigentes, no restabelecimento da normalidade, Neste aspecto, 0 desporto amader, em particular 9 futebol de varzea, 6 dispu- tado com grande trequéncia, envolvendo indimeras partidas ao mesmo tempo e na mesma localidade, om pragas onde os mais simples requisitos de seguranga s&o desconsiderados, dificultando sobremaneira uma ago mais efetiva da Corporacao. Se ndo bastassem as deficiéncias e dificuldades jé apresentadas ¢ intimeras outras existentes, verifica-se, também, a inibic&o do policiamento, decorrente de desconhecimento de sua real competéncia, escudada na maioria das vezes na cren¢a de que 6 0 JUIZ a Gni- ca e soberana autoridade, ¢ que de sua dinica iniciativa poder& agir 0 policial-niiitar, ou ainda pelo recelo da adocao de medida legal, t&cnice e oportuna, quando 0 fato envolve pessoa de representatividade, enxergando téo somente a sua situagao social, deixando de lado os princfpios da impessoalidade e imparcialidade que devern guiar suas agbes. Clara esté a necessidade de que providéncias urgentes sejam direcionadas para a minimizagao de lais situagdes, ou mesmo para a sua completa extirpagao. 5, LEGISLAGAO VIGENTE a, Lei Complementar Nr 3, de 28 Dez 72 (Estadual) 1) Compete 2o municipio dispor sobre normas de edificacéo e obras em geral, zoneamento urbano e loteamento (artigo 21, inciso V, alfnea "a"). 2) “Art, 179 — Cabe 20 municfpio apoiar @ incrementar as prdticas esportivas na comunidade, mediante esifmulos especiais e auxllic material &s agremiacdes organizadas pela populagdo em forma regular. §12 O municipio poder4, mediante convénio ou autorizagdo, concecer a clubes 99 ou agremiacées esportivas, locais regularmente constituldos a utilizagdo temporéria, com ou sem exclusividade, de pragas de esportes, estddios ou centros esportivos que construir. §22 A administragZo municipal fiscalizaré a organizac4o e o funcionamento re= gulares € as préticas esportivas das agremiacées locais beneficiadas com qualquer forma de auxflio ou cooperacao do municipio" (gritarnos). b, Decreto Nr 80.228, de 25 Ago 77 (Federal) “Das ligas @ das Associagées Desportivas: Ail, 41 — As Ligas Desportivas, de criaco facultativa, s40 entidaces de direcdo dos desportos de Ambito municipal e poderao ser especializadas ou ecléticas. Art, 42 — As associacées desportivas ou clubes, entidades bésicas da organi- zac¢do nacional dos desportos comunitérios, constituem os centros em que os desportos so ensinados e praticados. Pardgrafo nico — As associagdes desportivas poderao ser especializadas ou ecléticas. Art, 43 - As associacées desportivas do Distrito Federal e nas Capitais dos Estados @ dos Territérios filar-se~ao diretamiente & respectiva Federaco, nos demais muni- cfpios, duas ou mais associacées desportivas, praticantes do mesmo desporto, podergo fi- liar-se @ uma Liga, que, por sua vez, fliar-se-4 & Federac&o correspondente, Paragrafo nico — As Federacbes ndo poderdo conceder, em cada municipio, fi- liag4o a mais de uma Liga para o mesmo desporto”, c. Resolugdo Nr 7/86, de 10 Abr 86, do Conselho Nacional de Desportos (CND) Dispde sobre comissées de vistorias das Pracas Desportivas: “O CONSELHO NACIONAL DE DESPORTOS, no uso das atribuigdes que lhe $80 conteridas pela Lei n2 6,251, de 08 ce outubro de 1975 e 0 Decreto n? 80.228, de 25 de agosto de 1977, tendo como referéncia a indicago n° 67 da Comiss&o de Reformulagao do Desporto Nacional, institufda pelo Dacreto n° 91.452, de 19 de julho de 1985 e regulamenta- da pela Portaria Ministerial n° 598, de 01 de agosto de 1985, nas quais ressattam: — a dilusdo da violéncia nas pragas e espetéculos desportivos, cam mais énfase, nas com- peticdes de futebol; - que a violéncia, dentro e fora do campo, deve ser encerada como re- curso ces incapazes e incompetentes; ~ que todos os segmentos desportivos da Socieda- de Brasileira devem ser responsdveis pelo controle da violéncia ¢ pelos procedimentos que possam estabelecer seguranca para todos os protagonisias das compeli¢es desportivas no pals, CONSIDERANDO que a seguranca nas competicéas desportivas deve ser um dos fatores de prioridace a serem entocados nos planejamentos desportivos. CONSIDERANDO que todos os segmentos envolvidos nas eompotigdes desportivas sfo responséveis pola seguranga, de vez que s&0 protagonistas do ‘ato desportivo. CONSIDERANDO que todos ‘0s segmentos envolvidos com atividaces desportivas devem ser vistos pela sociedade e pelos seus cédicos, como responséveis pelas manifestacdes de violéncia que ocorram. RESOLVE: Art. 12 ~ As entidades desportivas de direcéo deverao sempre priorizar a se- guranga nos planejamentos de competigdes cesporiivas. Ax. 2° - As entidades desporti- 100 vas de dire¢&o dever4o criar, caso nao as tenha, Comissées de Visloria das pracas e ins- talagdes desportivas, a serem utilizadas, § 1° — A Comissdo de Vistoria deverd ser cons- titulda com os seguintes integrantes: 1) 01(um) representante da entidade-associagao pro- prietario ou responsavel pela praca desportiva a ser vistoriada, 2) 01(um) representante do 6rgao de Seguranca Pullica. 3) 01(um) dirigente da entidade desportiva responsdvel pela competi¢ao. 4) 01(um) Arbitro, 5) 01(um) atleta. 6) 071(um) técnico ou treinador desportivo. 7) 01(um) jomnalista desportivo, §2° — Caber& aos érgéos de classe indicer os integrantes da Comissdo com excecao dos representantes que serao solicitados pela entidade de dire- ¢0; caso nao existam os drgaos ce classe acima citados, a entidade de direc&o os indica- 14, §3° - As entidades cesportivas de diregao deverao estabelecer os objetivos e requisi- tos de vistoria, detalhando os itens a serem examinados nas pracas ¢ instalacdes desporti- vas, podendo os mesmos seram aiterados a julgamento da Comiss&o. §42 — A Comissao de Vistona funcionaré com o mfnimo de 04 (quatro) dos 07 (sete) integrantes, sendo indis- pensdvel a presenca do representante do érgao de Seguranga Publica. §5? ~ As pragas ¢ instalagdes desportivas serda liberadas pela aprovagéio da maioria dos vistoriadores pre- sentes, sendo indispensdvel a aprovacdo do representante do 6rgao de Seguranca Piblica; no havendo aprovacao, a entidade de dirogdo tomara as providéncias necessérias para correcao cas falhas encontradas, submetendo-a A 2? (segunda) vistoria. §62 — O CRD re- cebera cépia do laudo final de vistoria, Art, 3° — A entidade de direcao tomara as providén- cias necessérias para eletivacao das diligéncias referidas nesta Resolugao. Art. 42 — A presente Resolugo entrar& em vigor na data de sua publicag3o, SALA DAS SESSOES, 10 de abril de 1986. MANOEL JOSE GOMES TUBINO, Presidente do CND”. d, Jurisprudéncia do Tribunal de Algada do Estado, publicada no MINAS. GERAIS Nr 73, de 15 Abr 87 LESAO CORPORAL — VIOLENCIA ESPORTIVA - AGRESSAO QUE EXTRAVASA OS LIMITES DE TOLERANCIA — DELITO CONFIGURADO. “Se a Lei extrapenal permite a violéncia esportiva, desde que respeitadas as normas de seu exercicio, as consequéncias lesivas daf resultantes nao podem ser penal- mente imputadas; todavia, a agressdo do atleta que extravasa os limites de tolerdncia, constitui delito, porque n&o necesséria & pratica do jogo ou produzida além das regras técni- cas permitidas pela moral pratica, que 6 regulada © regulamentada pelo poder ptblico. APELACAO CRIMINAL N° 13.914 — RELATOR: JUIZ JOAQUIM ALVES ACORDAO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelacao Criminal n° 13.914, da Comarca de Senador Firmino, sendo apelante Isaias Francisco de Moura e apelada a Just- a Publica, acorda, em Turma, a Primeira CAmara Criminal do Tribunal de Algada do Estado de Minas Gerais, incorporando neste 0 relat6rio de Fis. @ sem divergéncia na votacdo, dar provimento parcial, pelos fundamentos constantes das inclusas faquigréficas, devi- damente autenticadas, que ficam fazendo parte integrante desta decis&o. Datas na forma da Lei, 101 Belo Horizonte, 05 de junho de 1986, JUIZ JOAQUIM ALVES: Isaias Francisco de Moura foi condenado a trés meses de detengdo, na Comar- ca de Senacor Firmino, por haver ofendido a integridade corporal de Isaac Moreira Heleno, dando-Ihe um ponta-pé no rosto, durante um jogo de futabo! em que ambos atuavam inte- grando equipes adversérias, Incontormado, em tempo oportuno, alega em suas bem eladoradas razbes que a vtima teria sido atingida na disputa da bola, circunstancia inerente ao esporte e “que tudo nao passou de um percalco de quem se 4 de corpo e alma & disputa esportiva; sem 9 animus laedendi essentialis do crime de les4o corporal, mas, aqui, mero fato no auge da disputa, no fogo da luta pela bola, nao se podendo cogitar da oxisténcia de crime. Quer absolvie’o, Contra-razdes do nobre Promotar de Justia manifestando-se pelo improvimento. do recurso. Nelson Hungria, comentando a “Viol&ncia Esportiva”, salienta: “Enquanto houver liconga para as pugnas esportivas corpo a corpo, que hd a reprimir 8, 80 somente, a aplica- 40 de golpes proibidos ou a violéncia inditil, Se é guardada a técnica do jogo, a impunidade do qualquer dos competidores tem de ser reconhecida, quando resulta ao outro alguma le- ‘s40 corporal ou mesmo a morte. A consciéncia de injuridicidade 6 essencial para que se possa atribuir a alguém, a titulo de dolo, um evento lesivo, Em suma: enquanto o esporte violento nao for classificado entre as agées ilfcitas, e uma vez se que nao transgndam suas normas técnicas, todo mal que dele eventualmente advenha nfo pode deixar de ser consi- derado, sob 0 relativo ponto de vista juridico-penal, como uma infelicitas facti, um mero casus. E mais: “Nao h4 dispositivo algum da lei penal autorizando, expifeita ou implicita- mente, os jogos esportivos violentos; mas, como estes sao permitidos e regulados pelo di- reito administrative — ou pelo poder de polfcia do Estado — segue-se a solugao I6gica; se uma lei extrapenal permite a violéncia esportiva em si mesma desde que respeitadas as normas de seu exercicio ~ as consequéncias lesivas daf resultantes ndo podem ser pena mente imputadas, e isto por auséncia de culpabllidade, pois esta pressupde a pratica de uma ago (ou omissao) illcita” - In Comentarios ao Cédigo Penal, 3 ed., v.5, p. 101, 103.¢ 104. A Lei Penal Brasileira néo pune especificamente 0 delito esportivo, expresséo conderada pelo préprio Nelson Hungria. O antigo Cédigo de Detesa Social de Cuba, 1996, artigo 449, ¢ 0 Cédigo Penal do Equador, 1938, artigo 438, nZo punem o atleta que matar ou ferir 0 adversério, em pratica esportiva autorizada, “se aparecer claramente que no houve intengéio nem violagéo dos respectivos regulamentos”. Sem dtivida, € opinio communis dos doutrinadores que so impunes os golpes, as lesdes e a propria morte produzidos no espor'e violento, uma vez obedecidas as respec- tivas regras. Aguiar Dias, tratando da Responsabilidade Civil, referindo-se aos esportes vio- lentos, lembrando Savatier, acentua: “Nos jogos mais ou menos brutos, segundo concep¢des que varia conforme os costumes 102 dos palses © até de acordo com a sensitilidade individual, hé que se atender, primeiramen- te, as regras do esporte. Aconselha-se, entretanto, 0 maior rigor na observaclo dessas normas, mesmo porque, sendo de ordem pdblica o respoito & integridade da pessoa huma- na, tais esportes nao sZo Ilcitos sendo enquanto a sua pratica nao exorbite os limites do pex rigo tolerado pelo uso ou por aquele princfpio de ordem piblica” - Da Responsabilidade Civil, 3? ed., Rio, Forense, p. 382. A questo nao oferece dificuidace. Os participantes ou jogadores nao respondem pelas conseqiiéncias da simples aplicacéio das regras do jogo, Todavia, so responsaveis — penal e civilmente — por qualquer dano resultante de infracdo das regras, escritas ou no, aplicéveis & atividade esportiva que desempenham, Assim, na hip6tese em julgamento, o problema € saber se 0 apelante, ao ofender a intogridade f'sica da vitima, sou adverséirio no jogo de futebol, o fez dentro daquoles limites petmiiidos pelas regras do apaixonante esporte bretdo. A testemunha Edmilson Fernandes Soares, &rbitro da partida, um engenheiro agrimensor arrolado pela defesa, informa que a vitima havia cometido anteriormente duas faltas contra 0 apelante, nao marcada porque este levara vantagem, Houve a terceira falta, o recorrente foi ao cho, O juiz marcou a penalidade estipulada na lei esportiva e esclarece: “a vilima foi para frente mas voltou, nao sabendo o deposnte se foi para pedir desculpas ou por outro motivo; que foi nesta hora que o acusado mesmo caldo chutou e acertou o rosto do rapaz”, acrescentando o detalhe da expulsdo do recorrente, No interrogatério, Isalas Francisco de Moura evidencia sua coincidéncia da ilegalidade do ato praticado, enfatizando © detalhe de haver corrido do campo, com medo da reagao dos outros jogadores. No se pode negar a agressao ffsica do recorrente ao adversario, num momento de interrupg4o do jogo, com falta a ser cobrada justamente em favor de sua equipe, com a bola parada, E tal agresso, quando a bola néo estava em jogo, com as duas agremiacdes em providéncias, pata cumprir a deteminagao do &rbitro, absolutamente, nao pode ser entendi- ‘da como “circunstncia inerente ao esporte”, fato corriquairo na luta pela bola, como preten- ‘de ailustrada defesa, Foi agress&o mesmo, alheia ao jogo, que estava momentaneamente interromp- ‘do. Tal gesto nada tem de esportivo, violou as regras do futebol e ocasionou 0 alijamento do apelante, A fuga apressada, “correndo do campo, com medo de represélias” — conforme ele mesmo informou — demonstra sua plena consciéncia do fato criminoso que acabara de praticar, porque, no esporte, quem age dentro das regras técnicas nao precisa ter medo e, muito menos, fugir da cena, Irritado com as fallas praticadas pelo seu adversdrio, esquecendo-se de que estava sujeito &s regras daquele esporte, conscientemente, com o &nimo evidente de ofen- der a integridade ffsica do outro jogador, cometeu uma viol&ncia inatil, prejudicial a seus pid- prios companheiros, a vkima, a0 esporte e acabou por atingir também a lei penal, Fatos como este, lamentavelmente, sao comuns em nossos estadios. Contudo, a raridade dos processos-crime instaurados, torna quase inexistente a contribuicao preto- riana, que seria fator relevante de saneamento da violéncia esportiva, A Segunda Camara Criminal deste sodalfcio, em erudito acérd4o de 11/02/85, julgando apelagao do ponta-esquerda Eder Aleixo de Assis, por agressao a seu colega Mu- 103 ilo Moreira dos Santos, pontilica: “A lesAo coiporal nao necesséria ou produzida além das limites fixados pelas regras do jogo extravasa as raias da chamada “violéncia esportiva” ~ tolerada pela moral prética, regulada e regulamentada pelo Poder Publico — para configu- rar © delito previsto no artigo 129 CP” ~ In Revista dos Tribunais 596/397, Ap. 11.696, Rel. Guido de Andrade. Assim, pelo exposto, quanto ao mérito, estando clara a existéncia do crime de lesdes corporais praticado pelo recorrente, mantenho a condenacao, mas, de contormidade com o disposto no artigo 60, 2°, c/c e artigo 44, Ile Ill, CP, dando provimento parcial ao recurso, faco a conversdo da pena privativa de trés anos de ceten¢&o em multa — aqui aplicada no maximo (Cz$4,00) clovada ao triplo — valor total de Cz$ 12,00 — crime praticado antes da vigéncia da Lei n? 7.209/64 — porque o réu é primério @ os motivos, circunstancias, conduta social e sua personalidade — to arrependido ficou que deixou de praticar futebol — indicam ser a substituigdo uma medida suficiente. Custas, pele apolante.” JUIZ ELISSON GUIMARAES: “De acordo com 0 erudito voto do emitente Relator “JUIZ WILLIAM ROMUALDO: “De acordo com os vo‘os dos eminentes Juizes Relator 2 Revisor, que me ante- cederam”, e. Regras de Futebol - Confederagao Brasileira de Futebol Fiegra V — Arbitros: “Sua autoridade e 0 exercicio dos seus poderes, outorgados pelas Regras do Futebol, comegarZo no momento em que ele entrar no campo de jogo”. f, Lei das Contravengées Penais (Decreto-Lei 3688, de 03 Out 41) “Ar, 28 — ws Paragrato tinico ~ piblica ou em cirecdo a ela, ser licenga da autoridade, causa detlagr fogo de artificio ou solta bal aceso.” quem, em lugar habitado ou em suas adjacéncias, em via perigosa, queima g- Cédigo ce Processo Penal (Decreto-Lei 3931) “Art. 240 — A busca sera domiciliar ou pessoal. gv. a) oa d) Apreender armas e munigées, instrumentos utiizados na pratica de crime ou destinados a fins delituosos; §2° — Proceder-se-4 a busca pessoal quando houver fundada suspeita de que elguém oculta consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras “b” a “i e letra “h” do par&grato anterior.” 104 6. ORIENTACGAO PARA A CONDUTA OPERACIONAL a, Idéias Gerais Tumulto em pragas desportivas consttui um risco potencial, n&o obstante sua eclosdo e desenvelvimento serem, em geral, imprevisiveis ¢ inopinadas. Tudo depende das circunstancias que envolvem o evento, da animosidade dos expectadores, das rivalidades entre torcedores, do desempenho do Juiz, dirigentes, etc. Tudo isso dificulta o planejamento de uma aco policial-militar, mas Certas medi= das podem ser adotadas, com vistas a facilitar a prevengao e repressdo a esse tipo de cis- trvio, permitindo que a frag&o de tropa existente na localidade tenha condicbes de operar com presteza, diminuindo os riscos e minimizando as consequéncias, cumprindo pronta- mente as missGes que Ihe forem atribufdas. Conforme dispde © subparégrato 5.c. desta Nota de Instruggic, Conselho Na- cional de Desportos baixou Resolugdo visando coibir a violéncia nas pragas e espetdculos desportivos, na qual determina as entidades desportivas a priorizagdio da seguranca nos planejamentos de competiges desportivas, Nessa Resolugao, definiram-se as Comisstes de Vistorias das pracas e instalagdes desportivas, composta por 07 (sete) membros, po- dendo funcionar com 04 (quatro) deles, sendo indispens4vel a presenca do representante do 6rgao de Seguranga Publica, A liberagao da praca desportiva esta concicionada & apro- vag&o do representante do 6rgao de Seguranga Publica, Esse representante pertence & Po- cia Militar, uma vez que — em raz4o do cardter de Forca Estadual — compete a ela 4 ma- nutengao da Ordem Piblica. Conforme o disposto no artigo 2° da Resolugéo n? 7/86/CND, a criagdo da Co- missao de Vistoria 6 atribuigdo das entidades desportivas de direg’o ~ FederacSo ou Liga, respectivamente, de acordo com a categoria profissional ou amador. O representante da Polfcia Militar designado deveré, como membro efetivo e in- dispensavel na Comissao, colocar-se sempre dispontvel para os atos de competéncia da Comissao de Vistoria. b. Medidas Preliminares 4) Em Belo Horizonte, 0 Comando de Policiamento da Capital (CPC) designar& um oficial para compor a Comissao de Vistoria: 2) Em cidades sedes de BPM, 0 Comandante da Unidade deverd indicar um ofi- cial para compor a Comissao de Vistoria ce pracas e instalacées desoortivas, de preferén- cia 0 P/3 ou o Comandante da frag&o responsével pelo policiamento da sede; 3) Nas demais cidades, o préprio Comandante da fragao de tropa fara parte da Comissao; 4) Os Comandantes do CPC, de BPM e de tracdes destacadas deverdo dirigir- se oficialmente &s Ligas ou Federa¢4o, comunicando o nome do policial-militar que compor& a Comisséo de Vistoria, tao logo esta Nota de Instrucao seja do dominio da OPM; 5) © policia-militar integrante da Comissao deverA observar os seguintes as- pectos, dentre outros: 105 a) Barreiras Perimetrais: (1) Se existem; (2)Se s4o adequadas para impecir entradas furtivas, b) Alambrados: (1)Se existom; (2) Se so adequadios para impedir a invasdo do campo por partes dos torce- dores: (3) Se possuem altura minima de 1.80m e sao resistentes; c) Condigées de protegdo aos arbitros: (1) Posicionamento cos vestiarios dos érbitros em relac8o aos vestiérios dos atletas @ do ptiblico; (2) Trecho de acesso dos &rbitros, do vestidr'o para o campo e vice-versa, se possui protegao contra possiveis tentativas de agresso; (3) Condigdes de seguranca para salda cos Arbitros do estadio/campo, apos @ partida; d) Sala de Arrecadacao e/ou Bilheterias: (1) Posicionamento (2) Condigées de seguranca; e) Arquibancadas e Gerais: (1) CondigSes ce seguranga ao torcedor, contra quedas e outros risces: (2) CondigSes de sucesso de um pata outro setor, em casos de cobranga de ingresso; (3) Exis'éncia ou ndo de materia’s ou objetcs que possam ser atirados no campo €/ou contra pessoas; (4) Condigdes de rapida evacuago do piiblico em emergéncias; f) Bares e locais de venda de bebidas: (1) Se esto bem distribuldos, ce forma a evitar grandes aglomeragées, du- ante 0s intervalos dos jogos; (2) Se so suficientes; (3) Se vendem bebidas em getratas ou latas; g) Outros aspectos: (1) Protecao para os bancos de reservas das equipes (2) Locais de Postos Médicos e Sanitérios; 3) Locais de Casa de Forca, torres de iluminagéo & depésitos d'agua; (4) Local apropriado para recolhimento ce preso ¢ realizayao de busca minu- ciosa e recolhimento de material apreerdido ou retido; (5) Existéncia de servigo de comunicacao interna destinada a orientacéo do piblico (6) A mecdnica preteniida para a execucao da vistoria, nos termos da Resolu- cio Nr 7/26/CND @ a seguirte: 106 a) Composicao da Comisséo de Vistoria pela entidade desportiva de dire&o (Lit gas e Federacées); b) Realizago da vistoria com avaliag4o de cada integrante no seu respectivo campo de atividade; c) Montagem pela Comissao do laudo de vistoria, aprovando ou nao a praca par ta a realizag&o do evento; d) Se o parecer for pela néo aprovacao da Praca no aspecto de seguranga, se- ro adotadas as seguintes providencias: (1) A Liga ou Federacao adotaré as medidas necessérias para a correco das falhas identificadas, submetendo-a, apés, 2 uma segunda vistoria; (2) Sanadas as falhas, seré emitido laudo, pela Comissao de Vistoria, apro- vando-a para a realizacao do evento; (3) Se na segunda vistoria ainda persistirem as falhas, novo laudo sera expe- dido constando a circunst&ncia impeditiva da aprovacao; (4) A entidade de diregdo (Liga ou Federagao) remeteré o Laudo Final a0 Conselho de Reformulagao do Desporto Nacional (CRD); 7) Emitido laudo firial de vistoria com parecer desfavoravel 2 aprovacao da Pra- ca Desportiva, o representante da PMMG, integrante da Comissac de Vistoria, encaminhard eépia do mesmo ao Comandante imediato, acompanhado de uma avaliacao das repercus- s6es de uma posstvel interdi¢éo de mecionada praca e da possibilidade ce reparac&o das causas motivadoras da desaprovacao.-O Comandante, de posse do documento, faré uma avaliag&o buscando a melhor solugao para 0 caso; 8) O parecer do policial-miitar dever ser detalhado, com a aprovacao ou nao, conforme o tipo de disputa a ser realizado naquele campo de futebol; 9) Em caso de plena aprovacao do funcionamento da praca desportiva, devera ser elaborado um Plano de Policiamento para aplicago por ocasiéo dos pedidos de policia- mento para eventos esportivos; 10) Devem constar do Estudo de Situage da frag&o aspectos relacionados com as agremiagdes das cidades vizinhas, antecedentes esportivos, principais insufladores de brigas, etc, c. Informagées Os Elomentos Essenciais de Informagées (EEN), que devem constar do Estudo de Situag&o de Informagées, e que sero obtidos através da operacionalizacdo das P/2, se- ro de fundamental importanc'a para o planejamento das operagées, jA que definirao as me- didas preventivas a serem tomadas até mesmo o suporte (auxtiio} logistico necossSrio para o enfrentamento do problema, Planos de A¢&o para os Agentes de P/2 devern ser elabora- dos. Os Comandantes de fragdes, desde que responsdveis por policiamenta em pra- cas desportivas, deverdo solicitar das Ligas locais um calendario anual/mensal, visando a manter atualizado 0 quadro de eventos de sua frac4o. Os Elementos Essenciais de Informagdes {EEl) a serem levantados s40, dentre outros: 107 1) Interesse da partida; 2) Previstio de comparecimento da torcida adverséria; 3) Grau de animosidade entre as torcidas; 4) Situagdes anteriores e/ou atuais que poderdo servir de motivag4o para tu- multos; 5) Provaveis organizagées interessadas nos tumultos; 8) Envolvimento de dirigentes, organizagdes e outros, em campanhas de hostil- zag&o ao time @ torcidas adversérias; 7) Locais ou meios para primeiros socorros; 8) Informacbes obtidas através ce contatos com Chetes de Torcidas Organiza~ das; 9) Dados obtidos da andlise dos Elementos Essenciais de Informag6es que de- vem ser solicitados da fragdo onde se localiza o advorsério; 40) Possibilidades de conflitos; 11) Possibilidades de porte de armas; 12) Possibilidades de invasao de campo; 13) Possibilidades de necessidade de reforco, d. As Operagées 1) Medidas Preventivas: a) Diante do Estudo de Situaco de InformacSes pode-se pressentir 0 ambiente ‘ou cima que envolve a partida, Sendo um clima de tens&o ¢ proplcio 4 eclosZo de tumultos @ 0 campo nao liver sido aprovado pela Comiss4o de Vistoria, no aspecto de seguranca, tal circunstancia deve ser comunicada aos organizadores da competig¢ao visando ao cancela- mento da partida por falta de seguranca ou outra medida saneadora; b) Seo ambiente 6 de tens4o e propicio a tumulto, mas a praga desportiva ofe- rece condigbes de seguranca, comprovada na vistoria, o Plano de Policiamento deve ser executadn, segundo as varidveis préprias, previstas no proprio Plano, com énfase especial Para a prevengao de tumultos ¢ o aproveitamento criterioso e estratégico do efetivo policial; ©) Na situagao descrita na allnea “6.d.1)b)”, 0 Comandante da Frag&o local deve fazer uso dos meios de comunicagbes existentes na localidade, procurando encetar agdes de convencimento e de psicologia para tratar com muttiddes, visanco a diminuir as anil osi- dades existentes ¢ buscando 0 atingimento de seu objetivo, que & fazer com que os torce- dores n&o se hostilizem, e sim comparegam ao estddio para assistirem @ um bom espet4- culo desportivo, Para isso, & colaborag4o da imprensa local ¢ imprescindivel, com a qual a Policia deve manter sempre boas relagGes de trabalho. Em pragas desportivas que possuam sorvigo de alto falante ou placar eletrénico, esses meios devem ser ulilizdos na orientag&o preventiva e repressiva, no que diz res- Peito a tumultos; d) Entre as torcidas conflitantes deve ser estabelecido um cordao de isolamento, se nao houver barreira fisica instalada, de modo que fique mais remota a possibilidade de se hostilizarem. e) Elementos mais impetuosos que se dirjam ao local destinado a torcida adver- 108 sAria, trajando uniformes, emblemas ou outros objetos que possam ser considerados como atronta, devem ser prontamente impedidos, advertidos ©, se for 0 caso, conduzidos para uma sala prépria, ou mesmo retirados do est4dio; f) Sendo @ aco de presenga um étime fator inibitbrio, os policiais devem postar+ se em locais esiratégicos, onde possam facilmente ser vistos e percebidos pelos torcedo- res; 9) A tropa deve ser convenientemente instruica, alertada e adestrada para atua- ¢40 em policiamentos de campos de futebol; H) Recursos materiais e humanos devem ser remanejados para atender ao dis- positivo operacional; i) O Plano de Policiamento para determinada praga desportiva deve ser sempre revisto e atualizado; j) Os promotores de eventos esportivos devem ser alertados que pedidos de po- liciamento para partidas de futebol devem ser teitos com uma antecedéncia minima de 05 (cinco) dias; tal providéncia no desobriga o Comandante da OPM do acompanhamento da situag&o, tendo em vista os princlpios da responsabilidade territorial e da antecipac&o; 1) Deve ser prevista, quando necesséria, a escolta das agremiacées ¢ torcidas visitantes, desde a entrada da cidade até 0 local a eles destinado, com busca geral, sobre- tudo para reprimir 0 porte ilegal de armas, foguetes, fogos de artifcio, etc, bem como a es colla no sentido inverso, a fim de se evitar contronto com a torcida adverséria e alos de vandalismo principalmente em bares, boites ¢ restaurantes; m) Contatos devem ser feitos com a Preteitura local, administracao da praca ou outros 6rgaos que disponham de ambulancias, a fim de que estas sejam colocadas & dispo- si¢éo do Comandante do Policiamento da Praga Desportiva, por ocasiao de jogos, cuja es- timativa indique possibilidade da eclosao ce tumultos; n) Em cidades de grande porte, onde o némero de jornalistas e radialistas 6 ex- pressivo, conveniente se tomna a exigéncia de credenciamento (crach) para que adentrem 20 gramado, o que & desnecessério em cidades pequenas, onde esses profissionais so, fem geral, conhecidos da tropa. Tal providéncia ¢ da responsabilidade da administragéio da Praga Desportiva, devendo, contudo, ser estimulada pelo Comandante da OPM: ©) A busca ligeira nos porthes & imprescindivel, de forma a evitar, que os torce- dores adentrem na praca desportiva com armas e/ou objetos que possam representar risco; p) Policiais-Mililares 4 paisana — policiamento velado — © desarmados devem ser escalados com a finalidade precfpua de informar ao Comandante do Policiamento das possibilidades de eclosdo de tumultos; bem como seus focos. Esse polic’amento velado de- ve auxiliar os policiais-militares fardados, no caso de interveneo polcial junto & torcida e dentro do gramado, qtando houver necessidade de se retirar elemento estranho & competi- G80. @) Deve ser esti | ulada, junto & administracdo da praca desportiva, a proibig&o de venda de bebidas ao piiblico, em garrafas, copos de vidro ou latas, pelo risco que pode representar sua utilizago inde vida; r) Deve ser feita uma vistoria nns bares e/ou estabelecimentos do local do evento, a fim de se evitar que sirvam de guarda e/ou comerciaizagao de fogos de artificio e outros objtetos que porsam comprometer a integridade fsica das pessoas; 8) A vistoria des locais de eventos desportivos, antes do acesso do pubblico, & 109 absolutamente necesséria, para fins de langamento do efetivo policial, visando a intensificar © policiamento nos locais de riscos especiais ou até mesmo para uma varredura, com a f+ nalidade de identificar ¢ retirar objetos que possam ser utlizados como instrumentos de agressdo, pelo pablico; t) A utilzagéo de policiais com a frente voltada para o pliblico 6 uma postura a- tamente inibidora de ages ilicftas e deve ser adotada principalmente nas pragas de esporte de tamanho reduzido; u) Se for 0 caso, 0 Comandante da Frag&o deverd manter viatura policial fora da Praga Desportiva, ou no seu interior, com armamento e munigdes quimicas, cassetetes de madeira, etc, com radio VHF ligado e em escuta permanente &s ordens do Comandante do Policiamento, Vale lembrar que 0 uso de munic¢o quimica 6 contra-indicado em locais te- chados. O emprego aqui considerado refere-se a movimentos que venham a ocorrer na parte externa da praca desportiva; v) O policia-militar deve estimular a existéncia de alto-falantes em pragas des- portivas que nao disponham desse recurso; x) Deve-se prever policiamento nos locais de hospedagem das equipos, jufzes bandeiras, se for 0 caso; z) Nos planejamentos especificos deve-se prever resorva disponfvel e com | o- bilidace para pronta utlizagao em circunstancias emergenciais; aa) Conscientizar autoridades, dirigontes desportivos @ torcedores locais, fa- zendo-o através dos meios de comunicagao de massa ou por outros meios de convenci- mento, procurando, na oportunidade, alerté-los sobre os seguintes riscos: (1) de revanche futura, no campo adversério; (2) de desgaste para a imagem do municfpio/localidade; (3) de o campo local ser interditado para a tealizagao de jogos; ab)Atentar para 0 fato de que os regulamentos dos Campeonatos Nacional, Re- gional ou Local, prevéem, normalmente, 0 nimero de pessoas que podem permanecer no tinel ou no interior do alambrado durante a partida. Atualmente 6 permitido o maximo de 10 (dez) pessoas, sendo 05 (cinco) jogadores reservas © 05 (cinco) membros da Comiss&o Técnica, mais o Presidente; ac) A agao policial-militar, no tocante & protegao aos Arbitros, deve morecer pla- nejamento e instrugo prévios por parte do Comandante do Policiamento; ad) Quando todas as evidénoias detectadas através dos Elementos Essenciais de Informgbes forem de que a partida possui alto risco, independentemente de pedido formal de policiamento, este deve ser executado; ae) Deve haver o exercicio constante dos integrantes das Fracdes, no sentido de terem a favor, 0 respeito @ 0 apoio das comunidades @ que servern; af) Em princlio, no policiamento de eventos desportivos, & excegao do Coman- dante e Oficiais em geral ¢ policiamento da 4rea externa © designado para cobertura as bi Iheterias e arrecadacdo, os demais estaréo armados apenas com cassetete de borracha, Nos campos de varzea, onde geralmente o efetivo 6 menor, o Comandante da Frac&o faréio estudo, procurando adapiar a regra geral (atmado apenas com cassetete de borracha), & situagao do evento; ag) Na Frac&o que dispuser de policiais-militares tomininos, estes deverao ser utiizados na busca ligeira em mulheres nas portarias de acesso, em casos de suspeita, 110 Havendo fracao de Bombeims, esta devera ser envolvida, para cumprimento do sua missfo especfiica; ah) Deverao ser observadas as prescrigdes contidas no “Manual Basico de Po- liciamento Ostensivo", Capftulo Il, Artigo IV (Policiamento de Eventos Esportivos), item “2-10b", nao contlitantes com as previstas nesta Nota de Instrucdo. 2) Medidas Reprossivas: a) O comportamento humano nfo pode ser definido frente a determinado evento; Por isso, as medidas repressivas a um tumulto em pracas desportivas, pela propria nature- 2a do evento, so de ciffcil execucao, motivo pelo qual os esiorgos devem ser amplamente direcionados para se evitar sua eclosao, dando-se énfase as medidas preventivas, onde a antecipacéio tem destaque; b) Devem ser extirpados 08 focos, com a retirada do local dos elementos mais exaltados, que estejam tentando induzir a massa torcedora & execuc&o de atos hostis aos adversérios, a julzes e a outras pessoas; ¢) A acao policia-militar no meio de uma torcida, nunca deve ser isolada, Deve ser feita sempre em grupos, com ntimero compattvel de policiais-militares, de modo a evitar ris- Cos aos componentes da aco e/ou torné-la desastrosa; d) A retirada de torcedores infratores deve ser feita pela safda mais préxima e 0 mais ri pidamente poss'vel, evitando-se desnecesséria truculéncia; €) No deslocamento dos policiais-militares para atendimento de ocorréncias no meio de uma torcida, deve ser evitada a correria por parte do grupo, o que poderé causar problemas sérios (panico), exaltando-se o animo da massa, 0 que dificultar& ainda mais a aco policial-militar. Muitas vezes, o foco 6 extirpado e o problema € solucionado, to logo 0s contendores percebam a aproximaco dos PM; f) Se 0 policiamento for insuficiente para conter um tumulto generalizado, 0 Comane dante do Policiamento deverd solicitar reforco policial e adotar medidas na seguinte ordem de prioridade: (1) Protecao aos Arbitros, se for 0 caso, com a ago concomitante e rapida, po rém serena, da retirada do lider ou do mais exaltado dentre os agitadores; (2) Protecao aos times, principalmente aos visitantes, se for 0 caso; (3) Protecdo aos torcedores visitantes, se for o caso; (4) Seguranga de numerdrios (arrecadagéo), se for 0 caso; 9) Tratando-se de tumulto generalizado, os esforgos deve ser direcionades para a convergéncia da grande massa para as vias de escoamento mais préximas. Para tanto, 0 Comandante do Policiamento deve ter a preocupacao de manter sob o seu controle os por- tées da praca desportiva. A experiéncia tem demnnstrado que a desconsiderac&o desse detalhe tem ocasionado viimas; h) Dentre as mecidas repressivas, deve ser prevista a abertura de todas as safdas da praca desportiva, em trabalho sincronizado e previamente acertado com a Administracao da Praga, possibilitando escoamento mais rapido e seguro; i) Dependendo das proporgées do tumulto, o Comandante do Policiamento procede- 14 a requisigo de meios necessérios ao socorro de feridos. i 7. ORIENTAGOES FINAIS a, O Estudo de Situagéo 6 um instrumento imprescindfvel, através do qual 0 Co- mandante devera decidir sobre a Linha de Agao a ser escolhida, A presente Nota de Instru- ¢40 versa sobre diversas situagdes passiveis de ocorréncia, no que concerne & eclosdo dd um tumulto em campo de futebol, sendo imposstvel chegar-se & completa exaustdo do as- sunto, Compete exclusivamente ao Comandante a deciséo, diante da situagao que se Ihe apresentar no momento, Diversos fatores podem ser determinantes da forma de atuacdo da Polfcia Militar. Sao fatores polticos, econdmicos, sociais, meteorolégicos e outros, que in- fluenciarao decisivamente na atua¢o policial, b) A execugao de Policiamento Ostensive em eventos esportivos se fard apos and- lise de todas as varidveis que envolvam o problema, No caso especffico de Futebol de Var- zea, a Pollcia Militar faré uma revista (Inspec&o) no local, para verificar, principalmente, a existéncia de material que possa ser utilizado como arma (pedras, paus, cercas, otc) nas proximidades. A revista aqui citada nao tem o carditer formal da vistoria prevista para even- tos maiores ¢ nao tem o carter impecitivo daquela. Visa mais a possibilitar ao Comandante da Fracao um maior dominio da situacéo, pois impede que alguns torcedores até entéo pack ficos, possam se armar a partir do momento em que se sentirem insatisfeitos com o anda- mento da partida. A revista, ainda que sem o ritual da Vistoria feita por uma Comissao e pre~ vista na Resolug&o Nr7/86 —CND, deve conter todos os dados possiveis de serem utiliza. dos pelo Comandante da Frac&o, orientando o seu Estudo de Situacao, na maioria das ve- zes mental, que direcionara o seu Plano de Policiamento a ser executado, razo pela qual deve ser realizada com antecedéncia que permita a correg&o, reparagéo, saneamento das irregularidades porventura verificadas. A execugao de policiamento deve ser considerada sob duas vertentes: 1) Efetivo cispontvel; 2) Possibilidade/Probabilidade de Tumulto. Se 0 tumulto 6 provavel, o atendimento se faz necessarlo em circunst€ncias es- peciais, devendo ser priorizado, em relagao a outros atendimentos, decorrendo inclusive reforcgo & Fracao, Sendo a partida um evento normal, o pedidn ser& colocado na relag&o de Pontos- Base do patrulhamento e qualquer atendimento a ocorréncia havida no local ser& em virtude de solicitagao. O efetivo escalado deverd ser compatfvel com o grau da disputa, tendo cond- g6es de fazer frente a qualquer quebra de normalidade ou ruptura da ordem, Para tal, as frax Ges policiais-militares devem coletar dacos referentes a previsdo de torcedores, rivalida- des das equipes, posicdes nas tabelas, titimos acontecimentos que marcaram as partidas anteriores, etc, enfim, todos os fatos que possam melhor orientar a fragéo policial-militar quanto ao langamento do Policiamento. c. Ag pracas desportivas também so utilzadas para a realizago de eventos de modalidades diversas, principalmente Shows Artisticos. © policial-militar componente da Comisséo de Vistoria deverd valer-se dela por ocasiéio de tais eventos, objetivando a que sua ocorréncia se verifique sem riscos para o ptiblico. No caso de qualquer irregularidade que possa comprometer a seguranga, deve ser levada imediatamente ao conhecimento dos organizadores do evento, visando a0 seu saneamento e, paralelamente, comunicagao ao 112 escalao imedictamente supericr, para aientacées. @. As orientagdes constantes desta Nota de Instru¢éo deverao ser observadas por ocasiéo de eventos festivos, tais como exposicbes agropecusrias, festivals, etc, proceden- corse a5 adaptagdes convenientes a cada situacdo. ©. A acéo polcial-militar, quanco ocorrerem atritos envolvendo jogadores, érbitros, etc, deve buscar 0 pronto restabolecimen’o da normalidade, ainda que z reterica acdo nao st torne simpatica a alguns dos componentes de segmentos tais como: dirigentes, jogaco res, to cedores € profissionais de imprensa. f. Os assuntos contidos nesta Nota de instrugo deverao ser amplamente estuda- dos € discutidos nas OPM, devendo a tropa ser convenientemente inteirada dos desdobra- mentos decorrentes, g. Os comandos Operacionais poderao baixar normas complementares as deter- minagdes constantes deste documento, visando a um maior aperfeigoamento de seus pla- nejamentos particulares. - APENDICES: ESTUDOS DE CASOS ELABORADOS PELOS 6° BPM E CPI — “ESTUDO DE CASO Nr 01/87 — 6? BPM” (HOMICIDIO NO CAMPO DE FUTEBOL) 1. INTRODUGAO presente Estudo de Caso visa analisar os diversos aspecios do homictdio prati- cado pelo Soldado PM GERALDO JOSE RIBEIRO, na localidade de Nazario, municipio de Mantena, em que foi viima um dos jogadores da equipe visitante. Os dados foram levantados no local, através de entrevistas com torcedores, joga- dores e policiais-militares que presenciaram ou que se envolveram na ocorréncia, Por se tratar de fato recente, somente agora teve infcio o competente IPM. 2, HISTORICO No dia 18 do corrente més, a equipe de futebol de campo de Santo Gnoire, munict pio de Barra de Sao Francisco/ES, denominada “América”, {ci ao povoado de Nazério, dis- tante 08 km de Mantena pagar a visita que recebera da agremiacdo local, de nome “Cruze+ ro". As 1630 horas, teve inicio a peleja, apitada por um arbitra de Santo Onofre, trazido pelos visitantes. Transcortidos 15 minutos do jogo, o juiz expulsa um jogador do time da ca- 8a, Sob a alegagdio de jogo violento, comegando daf um tumulto em campo. Assistiam & partida os Soldados PM do Subdestacamento local, GERALDO JOSE RIBEIRO e EDILSON ERON VIEIRA. Dissemos assistiam, porque estavam & paisana. 113 Embora estivessem portando arma da carga co Subdestacamento PM, 0 Soldado PM GE- RALDO estava inclusive trajando bermuda. Assim, apesar de terem a inteng&o de perma- necer ali para dar seguranca, faltava-Ihes a caracterfstica principal do.Policiamento Osten- sivo — IDENTIFICACAO. Pois bem, comegou 0 tumults entre os jogadores e os policiais-militares sentiram-se no dever de interferir. Foi expulso de campo justamente o filho do Soldado PM GERALDO JOSE RIBEIRO. Jé comecara a briga generalizada, com agressées ao juiz, quando este policial-militar, emocionalmente movido, entra em campo e fala ao juiz que “ou expulsa os dois jogadores que deram motivo coniuséo ou entao deixa os dois em campo”. Esta atitude do policial-militar acirrou mais ainda os animos. Apesar de estar & pai- sana era conhecido da vitima que residira em Mantena antes de mudar-se para Santo Ono- fre. O jogacor JOSE PAULINO NETO, vuigo “Lambreta” disse ao Soldado PM GERALDO. que ngo entrasse em campo, porque “ali cuem mandava era o jogador e que o Soldado nao tinha autoridade nenhuma no campo". Ato continuo, agtediu 0 Soldado com um soco que 0 alingiu parcialmente, gracas @ interferncia dos jogadores que seguraram “Lambreta”, © Soldado PM GERALDO entrou em campo s6, porque 0 Soldaco PM ERON, no infcio do tumulto, estava distante uns trinta metros de onde se encontrava o Soldado GE- RALDO. O Soldado ERON estava conversando com o Subdelegado de Policia e agora, no ato da agressdo ao colega, jA estava dentro do campo. Com 0 auxllio do Subdelegado, afasta “Lambreta” do “bolo”. Este jogador tinha o fisico avantajado e os dois nao resistiram por muito tempo seu esforco para safar-se © voltar a agredir 0 Soldado GERALDO. Além disto, este policia-militar ficara sozinho na confusao, levando socos, empurrdes € pontapés, » prescindia do auxfiio do colega. a. Uso da Arma: Neste interim, 0 Soldado PM GERALDO ‘oi obrigado a se valer da arma que conduzia numa bolsa, colocada por dentro da bermuda. Quando ia ser agredido por um jo- gador, apés conseguir esquivar-se de uns tr8s ou quatro, sacou do revélver e ameagou ati- rar. Neste momento, 0 Subdelegado que vinha em seu socorro, acompanhado do Soldado ERON, gritou que no atirasse. O jogador reconheceu a gravidade do mornento ¢ retirou-se de campo. Enlretanto, no ficou por af, pois “Lambreta” no se dava por satisfeito e, epesar da adverténcia do Subdelegado, partiu em direco ao Soldado GERALDO, este em flagrante inferioridade fisica, considerando sua compleicdo fisica e seus quase trinta anos de servico. “Lambreta”, apesar de ver a arma na mao do Soldado GERALDO, dizia que ia tomar-ihe 0 revélver € mostrar-Ihe quem mandave ali no campo. Quando 0 Soldado GERALDO se viu ao alcance das maos de “Lambreta”, puxou 0 gatiho, acertando o térax do jogador com um projétil que transfixou na diagonal da esquerca para a direita, em decorréncia da torgéo no corpo, por natural instinto de defesa. b. Tiro de Adverténcia: Antes do desfecho fatal, 0 Soldado ERON esteve com a arma na mao, para ati- rar como adverténcia, na expectativa de que se desfizesse o tumulto. Entretanto, teve re- 114 colo de que os jogadores tomassem a arma de seu companteiro e dessern dimensées in- controléveis 20 fato. O susto provocado pelo disparo de adverténcia poderia — pensou ele ainda — aumentar o tumult, causando mais vitimas. c. Socorro a Vitima: Imediatamente apés 0 disparo, houve total dispersdo e “Lambreta” {ci colocado no carro do Subdelegado, com auxtio do proprio Soldado GERALDO e foi conduzicio a Mantena. O Soldado ERON acompanhou, enquanto 0 Soldado GERALDO foi providenciar sous objetos e farda para epresentar-se na Sede do Pelotéio PM, 0 que se deu logo apés a ocorréncia, Em Mantena, no Hospital Evangélico, nao havia médico de plantéo. © mesmo ocorreu no Hospital S20 Vicente de Paula, onde a vitima ficou no correcor, aguardando que fossem chamar 0 méice. Quando este chegou, "Lambreta” jé havia falecido. Transcorrer cerca de 30 minutos do instante do impacto até este momento. 3, CAMPO E TORCIDA A inica diversao do lugarejo 6 0 futebol e ¢ muito comum a realizagao de jogas aos domingos com equipes da redondeza. © campo, como via de regra nas pequenas localidades, nao tem qualquer barreira ffeica que dificulte ou obsta a invasao da torcida. Entretanto, naquele dia os torcedores tive- ram pequena participacdo no tumulio. Havia cerca de 100 pessoas na assisténcia. 4. ANTECEDENTES DOS JOGOS E DE “LAMBRETA” Nao & raro ocorrerem brigas nos jogos do Cruzeiro de Nazario. Recentemenie, nu- ma partida com ume equipe vizinha, a comitiva chegou a Nazario conduzindo um cadaver. “Lambreta” era individuo muito popular em Mantena, conhecido como “bom-de-bola”. Foi para Santo Onofre para trabalhar, mas também para jogar na representacao local. Era tido como brigéo em campo ¢ tinha a fama de bater em quatro-seis de uma vez. Era sujeito conhecide como valente ¢ destemido, 5, SITUAGAO DE PESSOAL © efetivo previsto no Pelotao de Mantena é de 50 policiais-militares. O existente 6 igual a 44, com um claro de 06, correspondente a 12% do previsto. O claro global do Bata- Iho corresponde a 13,01% do previsto. Portanto, o Pelotao est privilegiado em rela¢do ao todo. © municipio de Mantena tem seis Destacamentos PM e apenas o de Nazario no tem Cabo no comando. Est com o efetivo de 02 Soldados PM, Dos 11 Cabos exisientes na Sede co Pelotio, 05 comandam Subdestacamentos, 02 so empregacos no rédiopatrutha- mento, 03 na Guarda de Cadeia e 01 no radio. © Soldado PM ERON estava reforcando o Subdestacamento, considerando-se que © outro policial-militar estava gozando férias, na locelidade. 1s 6. INFORMAGAO DE SEGURANGA PUBLICA Os dois policiais-militares integrantes do Subdestacamento PM tomaram conheci- mento do jogo no dia de sua realizagao, Nao houve preocupacdo en avaliar a importancia da partida, a animosidade dos componentes das equipes e a presenca de atlota tamoso pe- las brigas erm campo. No foi solicitado 0 policiamento para o evento por parte das equipes nem haveria necessidade, porque a iniciativa deveria ser espontanea, mas o evento também nao foi comunicado ao Comandante do Pelotéo PM. 7. PLANEJAMENTO OPERACIONAL No decorrer deste ano, foram registradas na localidade de Nazério apenas 07 ocor- réncias rotineiras. Existe ali uma populagao aproximada de 400 pessoas. A realizaco de uma partida de futebol como aquela nao mereceu um planejamento, mesmo que mental, com a incluso de um pecido de reforgo, considerando-se o claro de um policial-militar no Subdestacamento PM. 8. ASPECTOS LOGISTICOS ‘A munigao @ armamento (revélver) séo pagos de modo fixo aos componentes do Subdestacamento PM, observadas as normas vigentes, Existem também na {racdo casse- tetas e algemas, que evidenternente no foram usados, pois os dois policiais-militares esta- vam a paisana. 9. AVALIAGAO CRITICA a. Aspectos Negatives: 1) Fattou ao policiamento a caracterstica basica da IDENTIFICAGAO; 2) Faltou ao Soldado PM GERALDO JOSE RIBEIRO o principio da ISENGAO, ao demonstrar concepgdes pessoais @ emocéio, quando seu filho fol expulso do jogo e ele tentou influir na dociso do juiz, contrariando nogbes elementares de policiemento 3) Os policiais-militares nao portavam algemas. Se o Soldado PM ERON tivesse manietado a vfima com a ajuda do Subdelogado, poderia ter evitaco 0 homictdio; 4) Auséncia de informagao de seguranga ptiblica, para avaliar a necessidade ou nao do reforco; 5) Falta de comunicagao, ainda no campo das informac6es, do evento 20 Co- mandante do Pelotao PM; 8) Falta de observancia do principio do EMPREGO LOGICO, ou uso inade- quado de meios e etetivo; 7) Subdestacamento PM com efetivo incompleto; 8) Repercussao negativa em Mantena, pelas circunstancias do fato e por ser a vitima bastante conhecida; 9) © Soldado PM GERALDO, como o mais antigo da fragao, ndo assumiu o seu comando; 116 10} No inicio da interveng¢ao do Soldado PM GERALDO, 0 Soldacio PM ERON se encontrava a uma distancia tal que permitiu que seu colega fosse agredido, sem que pu- desse apoié-lo. b. Aspectos Positivos 1) A rapidez com que o Soldado PM ERON, auxiliado pelo seu companteiro, procurcu socorrer a viima. A demora na assisténcia médica nao Ihe coube responsabilida- de; 2) A atitude do Soldado PM ERON ao desistir de fazer o tiro de adverténcia, que poderia ter resultado imprevisivel. 10. MEDIDAS ADMINISTRATIVAS, a, Soldado PM GERALDO JOSE RIBEIRO, tio logo apresentou-se na sede do Pelotao, foi recolhido & sede do Batalh4o para se evitar mais notoriedade e possivel revide; b. Os dois policiais-militares est&o sendo punidos disciplinarmente pelas faltas resi- duais; ¢. O Comandante do Polotio PM estd sendo responsabilizado disciplinarmente, pela falta de instrugao e fiscalizagdo no seu setor; 4d, Instauragdo de IPM. 11. CONCLUSAO Conclui-se que a agao policial comegou totalmente errada nesta ocorréncia. Primei- To, 0S policiais-militares ndo estavam fardados. Segundo, o Soldado PM mais antigo, movido pela emogao, agiu com parcialidade, quando, ao ver seu filho expulso do jogo, interferiu na decisao do juiz. ‘S80 realmente corriqueiros jogos dessa natureza nos povoados, vilas e cistritos. Entretanto, merece maior atengao dos Comandantes de Fragdes, porque se constituem em legtimos locais de risco. Ainda apés os jogos, 6 comum nos botequins acontecerem atritos que acabam em vias de fatos. Eventos como este merecem ser estudados com mais cuidado, sensibilizando-se os promotores para que comuniquem & Polfcia Militar, com a devida antecedéncia, a sua realizagdo, E necess4rio ainda criar no pessoal subordinado a mentalidade de informagao, voltada para os eventos ptiblicos. Fica também a licdo de qué as pequenas fracées, principalmente, em nivel de Sub- destacamento PM, nao devem ficar sem graduados no comando, Na realidade, com raras € honrosas excegées, nas localidades afastadas da Sede do Pelotéo ou Subdestacamento PM, o companheirismo e a convivéncia diéria tendem a igualar 0 Soldado PM, ficando de la- do a questo da ascendéncia. Quartel em Governacor Valadares, 26 de outubro de 1967 (a) José Eustaquio Natal — Ten Cel PM Comandante 117 “ESTUDO DE CASO Nr 28/84 — CPI" — PARTIDA DE FUTEBOL EM RIO PARANAIBA GERA TUMULTO E RESULTA EM MORTE DE UMA PESSOA — 1, A OCORRENCIA Em 15 Jul 84, na cidade de Rio Paranafba, jogavam uma partida de futebol equipes local do Paranaibana e Paranafba de Carmo do Paranafba, Era um jago semifinal do torneio da Liga Patense de Desportos. A partida transcorreu normalmente até os 15 minutos do se- gundo tempo, quando houve uma penalidade a favor da equipe visitante. Balida a penalida- de, 0 Paranafba fazia seu primeira gol. © gol do Paranafha deixou parte dos torcedores do Paranaibana revoltacos com a arbitragem. Ap6s © gol,o Comandante do Destacamento PM advertiu o vice-prefeito da cidade, que embriagado, havia atirado uma lata de cerveja vazia no bandeirinha. Minutos apds 0 vi- ce-prefeito procurou 0 Sargento Comandante do Destacamento PM queixando-se dos tor cedores do Paranafha, alegando que estavam destruindo parte do alambrado do estadio. Antes de deslocar at8 0 local da torcida do Paranatba, o Sargento providenciou a retirada do vice-prefeito das proximidades do Paranafba, para assim evitar um atrito mais grave entre 08 torcedores locais e visitantes. © vice-prefeito foi retirado, mas seus companheiros de “briga" permaneceram nas imediacdes. Passados alguns instantes, 0 Paranalba fazia sou segundo gol, gol este que viria a ser anulado pelo bandelrinha, foi que os torcedores locals, revollados com a perspectiva de derrota dentro de seu campo, saltaram 0 baixo e fraco muro que cerca o estddio, para que do lado de fora do campo pudessem atacar os torcedores do Paranafba com pedras, Apedrejados, os torcedores visitantes passaram a responder a agresso sofrida, tam- bém com pedras, latas de cerveia vazias e até mesmo estacas cue serviam de protecdo as 4rvores plantacas dentro do estadio. Travou-se um grande conflito entre as duas torcidas, com troca de pedradas e pau ladas, A maioria dos torcedores buscavam as safdas do estAdio, enquanto outros mais aptessados saltavam 0 muro na tentativa de resguardar sua integridade fisice. O contito estendeu-se para a rua, onde ocorreram disparos de armas de fogo. Alguns disparos acer- laram um torcedor de Carmo do Paranafba que veio a falecer quando dava entrada num hospital de Patos de Mines, Vérias pessoas salram feridas @ foram socorridas no hospital local. Alguns torcedores visitantes tentaram linchar os responsaveis pelos disparos con- tra 0 torcedor que veio a falecer. Vefculos que estavam estacionados na porta do estadio fo- ram depredados, mas nenhuma queima foi registrada. Havia no esiddio 1.600 torcedores, sendo 1.200 lacais e 400 visitantes. 2. ACAO POLICIAL MILITAR a. O policiamento estava com as armas descarregadas, a munigao no belse, con- 18 > forme instrucdo contida em Nota de Instrugéo Nr003/84-PM3, b. O policiamento foi langado as 13:30 horas para que todos torcedores pudessem sor revistados. O efetivo omponhado ora de: 01 Sargento, 02 Cabos 0 08 Soldados PM, c. O vice-prefeito da cidade foi advertido e retirado pela Polfcia Militar do local onde se iniciou 0 confiito, d. Policiais-Militares foram colocados no interior do alambrado e nas proximidades do portao principal. e. Durante o conflito, no momento dos disparos, do lado de fora do estadio, a GURP-1 100 tentou disperser os contendores, de sirene aberta. f. A GuRP-1100 conduziu 0 torcedor viiima de disparos, até Patos de Minas. De volta & cidade, prestou assisténcia aos demais teridos. g. © Comandante do Destacamento e 01 Soldado PM impediram que os suspeitos pelos disparos no torcedor do Paranafta fssem linchados por torcedores visitantes. h, O Comandante do Destacamento PM e alguns policiais-miltares deram cobertu- ra policial a arbitragem, aos jogadores e diretores do clube visitante. i, Fora do estadio, alguns policiais-militares deram cobertura ao embarque dos tor- cedores visitantes. j. A GuRP-1100 fez a cobertura da embaixada do Paranafoa, até 0 trevo da BR-254, 3, AVALIACAO E CRITICA a. Aspectos Negativos: 1) © tumutto, que redundou na morte de uma pessoa, é o resultado da falta de planejamento; 2) A busca ligeira nfo foi bem efetuada & entrada do estédio, tanto que disparos de arma de fogo aconteceram durante o conflito; 3) Vé-se que por ocasiao do tumulto, a Policia Militar se perdeu. A Gnica medida repressiva adotada foi fazer funcionar a sirene da RP; 4) Pela Sindicncia Regular instaurada e pelo ROD/15° BPM e que serviram de base para este Estudo de Caso, vé-se que nenhum torcedor foi preso. Nenhuma agao poli- cial-militar contra os respons4veis pela morte, agressdes, depredacées e tumulto foi adota- da. Estao impunes. Houve omissao. 5) O planejamento deveria obedecer os seguintes detalnes: estimativa de pt co, interesse da partida, possibilidade de conflito, necessidade do reforco policial-militar, possibilidade do porte de arma, possibilidade de invasao de campo, enfim, todos as detalhes do evento, b. Aspectos Positivos: Registre-se 0 socorro @ a cobertura policiakmilitar depois do tumulto & arbitra- gem, embaixada e torcedores do time visitante, Quartel em Belo Horizonte, 19 de outubro de 1984. (a) Zéder Gongalves do Patracinio, Cel PM cPl 119

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