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Autos nº: 5386996-35.2021.8.09.

0144
Polo Ativo: Luzinete Ferreira Valoz
Polo Passivo: Municipio De Silvania
Serventia: Silvânia - Juizado das Fazendas Públicas

SENTENÇA

Trata-se de Ação De Cobrança formulada por Luzinete Ferreira Valoz

em desfavor do Município De Silvânia, ambos qualificados nos autos.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 38 da Lei n.º 9.099/95, passo

a fundamentar e decidir.

O processo tramitou de forma normal, inexistindo qualquer vício ou

nulidade a ser decretada, preservado os interesses dos sujeitos da relação

processual quanto à observância do contraditório e da ampla defesa.

O fim último do Poder Judiciário é a composição pacífica dos litígios, que

espera que seja alcançada, no mais das vezes, através de um pronunciamento

jurisdicional célere e com a apreciação do conflito posto a desate.

O “julgamento antecipado da lide”, como é chamado pelo legislador do

Código de Processo Civil, em seu artigo 355, inciso I. Vejamos:

"Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo a sentença

com resolução de mérito, quando:

(…)

I - não houver necessidade de produção de outras provas;"

O “julgamento antecipado da lide” é modalidade de “julgamento conforme

o estado do processo”, e leva à extinção deste, através da prolação de sentença que

acolhe ou rejeita o pedido do autor (art. 487, I, do CPC), com a vantagem de

eliminar atos inúteis, o que viabiliza maior celeridade processual, sem prejuízo,

entretanto, das garantias processuais constitucionais.

Fundado no Princípio da Efetividade da Prestação Jurisdicional, conclui-se,

que o julgamento imediato do mérito não é uma faculdade do Juiz, mas uma

obrigação, sempre que já estiverem presentes nos autos elementos suficientes para

a formação de seu convencimento.

Assente é a jurisprudência:
“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE

EMPRÉSTIMO CONSIGNADO C/C PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E

REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. CERCEAMENTO DO DIREITO DE

DEFESA. NÃO CARACTERIZADO. PERÍCIA CONTÁBIL. DESNECESSIDADE.

MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. 1. Não implica em

cerceamento do direito de defesa o julgamento antecipado da lide,

quando existem nos autos provas suficientes à formação do

convencimento do juiz e a parte interessada não se desincumbe do

ônus de demonstrar o seu prejuízo, sem o qual não há falar em

nulidade. 2. Defeso ao órgão revisor análise de mérito não arguido no

recurso. 3. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC, desprovido o recurso,

majoram-se os honorários sucumbenciais. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA

E DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA”. (TJGO, 7ª Câmara Cível,

5429243-97.2022.8.09.0143, Rel. DORACI LAMAR ROSA DA SILVA

ANDRADE, DJE 29/07/2023, Publicado em 29/07/2023). G.n

Feitas estas ponderações, inicialmente, passo a análise das questões

processuais pendentes e/ou preliminares arguidas.

Ausência de legislação:

Inobstante o fato da parte autora não ter colacionado aos autos as

respectivas legislações municipais ora debatidas, verifico que se trata de mera

irregularidade processual que poderá ser sanada, sem nenhum prejuízo às partes,

inclusive em razão da primazia do mérito.

Soma-se a isto de que, no caso, há possibilidade de compreensão dos fatos

e da pretendida consequência jurídica traduzida no pedido, motivo pelo qual afasto a

inépcia da inicial.

Registre-se, por fim, que não houve prejuízo ao contraditório e ampla

defesa, o que pode ser constatado da própria contestação.

Prescrição:

Compulsando os autos, denoto que a requerente protocolou o

requerimento na data de 19/03/2019, junto ao requerido.


Neste sentido, ressalta-se o Decreto nº 20.910/1932 que discorre sobre

direitos, pretensões, ações e exceções exercidos contra a Fazenda Pública Federal,

Estadual, ou Municipal:

"Art. 1º. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem

assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual

ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos

contados da data ou fato do qual se originaram".

Ademais, o artigo 4º do decreto supracitado expõe sobre suspensão do

prazo prescricional.

Observa-se:

"Art. 4º. Não corre a prescrição durante a demora que, no estudo, ao

reconhecimento ou no pagamento da dívida, considerada líquida, tiverem

as repartições ou funcionários encarregados de estudar e apurá-la.

Parágrafo único. A suspensão da prescrição, neste caso, verificar-se-á

pela entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros

ou protocolos das repartições públicas, com designação do dia, mês e

ano".

Desta maneira, ao não dar prosseguimento ou findar o requerimento

administrativo solicitado pela requerente, o requerido forçou a suspensão do prazo

prescricional, mostrando que, tanto o certificado e aproveitamento do curso, são

tempestivos.

Diante disso, presentes os pressupostos processuais e as condições da

ação, não havendo mais qualquer irregularidade processual a ser sanada, passo a

análise do mérito.

A parte autora afirma que a administração, embora provocada a cumprir o

estabelecido no Estatuto do servidor público do município de Silvânia, Lei Municipal

n° 1.518/07, não concedeu a Progressão Vertical para a Classe III, mesmo após ter

feito o curso de Nível Superior em Serviço Social, e requerido a progressão

administrativamente.

Progressão Vertical
Sabe-se que a promoção vertical consiste em ato administrativo de

provimento derivado, por meio do qual o servidor é alçado a cargo mais elevado

dentro da própria carreira, conforme o escalonamento e os critérios previstos no

estatuto funcional.

Nesse sentido, é o magistério do renomado administrativista Celso Antônio

Bandeira de Mello:

“provimento derivado vertical é aquele em que o servidor é guinado para


cargo mais elevado. Efetua-se através de promoção – por merecimento

ou antiguidade, critérios alternados de efetuá-la. Promoção é a elevação

para cargo de nível mais alto dentro da própria carreira” (in Curso de

Direito Administrativo. 29ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 316).

Merece registro, outrossim, o abalizado estudo sobre a matéria realizado

pelo jurisconsulto José dos Santos Carvalho Filho, cujas lições transcrevo, ipsis

litteris:

“No que concerne particularmente à promoção, é forçoso reconhecer que

são muito variados os sistemas de melhoria funcional. Algumas leis

funcionais distinguem a promoção da progressão (esta strictu sensu,

porque toda melhoria, em última análise, retrata uma forma de

progressão funcional). Naquela o servidor é alçado de cargo integrante de

uma classe para cargo de outra, ao passo que na progressão o servidor

permanece no mesmo cargo, mas dentro dele percorre um inter funcional,

normalmente simbolizado por índices e padrões, em que a melhoria vai

sendo materializada por elevação nos vencimentos”. (in Manual de Direito

Administrativo. 27ª ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 624)

No mesmo sentido, é a doutrina de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, ad

litteris:

"Promoção (…), é forma de provimento pela qual o servidor passa para

cargo de maior grau de responsabilidade e maior complexidade de

atribuições, dentro da carreira a que pertence. Constitui uma forma de

ascender na carreira. Distingue-se da transposição porque, nesta, o

servidor passa para cargo e conteúdo ocupacional diverso, ou seja, para


cargo que não tem mesma natureza de trabalho." (in Servidores Públicos

na Constituição de 1988. São Paulo: Atlas, 2011. p. 61)

A matéria vem assim regulamentada na Lei municipal nº 1.520/07,de 31

de dezembro de 2007:

“Art. 7º - Progressão Vertical é a passagem do servidor de uma classe

para outra superior do mesmo cargo efetivo que ocupe, observando as

seguintes condições:

I - atender o pré-requisito constante do Anexo IV desta Lei;

II – não ter sofrido Pena Disciplinar.

III - ter sido aprovado nas duas últimas Avaliações de Desempenho;

IV - ter cumprido o Estágio Probatório;

V – estar desempenhando efetivamente as atribuições do cargo.

§ 1º - A Administração concede a Progressão Vertical todo mês de maio

de cada ano a requerimento do servidor, a partir de 2008, nos limites

estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

§ 2º - O servidor efetivo que atender os pré-requisitos da Classe III,

estabelecidos para o seu cargo, pode requerer sua Progressão Vertical

diretamente para a referida classe, respeitando o estabelecido no §1º

deste artigo.

§ 3º - Após uma Progressão Vertical o servidor não pode solicitar nova

Progressão Vertical pelo prazo mínimo de 05 (cinco) anos.

Art. 8º – Na Progressão Vertical, o servidor é posicionado no Nível da

Tabela a que for promovido, na mesma Referência em que se encontrava

no Nível Anterior.”

Portanto, a lei é clara em estabelecer o direito à progressão na carreira ao

servidor que preencher os requisitos legais, passando de um nível para outro

superior.

In casu, depreende-se do acervo documental acostado aos autos que a

autora concluiu o curso de superior de Serviço Social, requerimento administrativo


em 19/03/2019, data que deverá ser considerada para fins de pagamento da

progressão.

Desse modo, preenchidos os requisitos preconizados na Lei Municipal, não

é faculdade do ente público deferir ou não a progressão vertical, mas uma

obrigatoriedade, ou seja, tem-se, na hipótese, uma norma cogente.

Neste sentido é o julgado, vejamos:

“EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DE COBRANÇA. PROFESSORA

MUNICIPAL. PROGRESSÃO VERTICAL NA CARREIRA. POSSIBILIDADE.

PREVISÃO NA LEGISLAÇÃO. RECOMPOSIÇÃO SALARIAL DEVIDA. Na

presença dos requisitos da lei de regência para a promoção na carreira de

professora da rede pública municipal de ensino, deve o benefício ser

concedido, autorizando o pagamento das diferenças salariais decorrentes

da progressão vertical desde a data do requerimento administrativo.

REMESSA DESPROVIDA”. (TJ-GO-Reexame Necessário:

02764439320118090099, Relator: Des(a). MARCUS DA COSTA

FERREIRA, Data de Julgamento: 11/05/2020, 5ª Câmara Cível, Data de

Publicação: DJ de 11/05/2020.)

Assim, presentes os requisitos legais exigidos para a obtenção da

progressão vertical funcional pleiteada, a administração pública tem o dever de

concedê-la, já que se trata de ato administrativo vinculado.

Quanto ao início do pagamento da gratificação, entende-se ser retroativo

desde a data em que o servidor realizou o requerimento junto à administração, uma

vez que não pode ser prejudicado pela inércia do ente público em implementar o

benefício a que tem direito.

Neste sentido é o julgado:

“APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. SERVIDORA

PÚBLICA MUNICIPAL. GRATIFICAÇÕES DE INCENTIVO PROFISSIONAL E

PROGRESSÃO FUNCIONAL. TERMO INICIAL. DATA DO REQUERIMENTO

ADMINISTRATIVO. 1. Constatado que a servidora municipal preenche os

requisitos para a progressão vertical, bem como para o recebimento da

gratificação de incentivo funcional, é dever do Município, por tratar-se de


norma cogente, a devida exequibilidade da lei. Ademais, é dever, tanto

do Chefe do Poder Executivo ao propor, quanto da Câmara dos

Vereadores ao aprovar, a análise do impacto orçamentário como medida

prévia, a fim de que se evite sejam sancionadas leis que veiculem

direitos que não poderão ser devidamente atendidos. 2. Os valores a

que faz jus a servidora municipal devem ser pagos desde a data

dos pedidos administrativos até o momento em que desligou-se

do cargo público em questão, devidamente atualizados. 3. Sendo

sucumbente a municipalidade, os honorários devem ser pagos à parte

adversa nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 85 do Código de Processo

Civil. APELAÇÕES CÍVEIS CONHECIDAS, SENDO A DA AUTORA PROVIDA

E A DO MUNICÍPIO DESPROVIDA”. (TJGO, 0015438.74.2015.8.09.0144,

Rel. Des. LEOBINO VALENTE CHAVES, DJE 10/09/2018 Publicado em

10/09/2018) Grifei.

Verifico, que a autora comprovou que requereu administrativamente o

incentivo funcional em 19 de março de 2019, razão pela qual a referida data deverá

ser considerada como termo inicial para recebimento da progressão.

Não vejo necessidade de detenças maiores.

Ante o exposto, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil,

JULGO PROCEDENTE o pedido inicial, para o fim de conceder a autora a Progressão

Vertical, passando para a Classe “C”, em razão do preenchimento dos requisitos

necessários, bem como, condenar o Município de Silvânia a pagar a diferença salarial

(vencimento base e seus reflexos) em relação ao enquadramento na respectiva

Classe/Letra (progressão vertical), contado a partir da data em que o valor deveria

ter sido pago, qual seja, 19/03/2019, respeitada a prescrição quinquenal (até cinco

anos antes do ajuizamento desta ação).

Sobre a condenação incidirá correção monetária e juros de mora, à taxa

referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), estabelecido no

art. 3º da Emenda Constitucional nº 113/2021, a partir da citação, e acrescido de

juros simples de 0,5% (meio por cento) ao mês desde a data da citação do

requerido, com base no artigo 240 do Código de Processo Civil.


Sem custas processuais e honorários advocatícios nos termos do artigo 27

da Lei n° 12.153, e artigo 55 da Lei n° 9.099/95.

Após o trânsito em julgado, arquive-se o processo com as cautelas e

baixas de estilo.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Cumpra-se.

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