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Inventriode Traos Calosos
Inventriode Traos Calosos
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5.1. Indicações
nados com a expressão e gestão emocional (e.g., “Não mostro os meus sentimen-
tos aos outros”).
88 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
5.2. História
controlo de impulsos estavam relacionados com reações mais rápidas. Os autores suge-
rem que os diferentes padrões de reatividade emocional podem caracterizar subgrupos
distintos de jovens com problemas de comportamento antissocial. Pardini, Lochman e
Frick (2003) analisaram a relação entre os fatores traços calosos/insensibilidade emo-
cional e impulsividade/perturbação do comportamento em adolescentes detidos. Os
resultados apoiaram a natureza bidimensional dos dois fatores, sendo que os traços ca-
losos/insensibilidade emocional estavam fortemente associados a défices na empatia
emocional e cognitiva, enquanto o fator impulsividade/perturbação do comportamento
estava mais fortemente relacionado com desregulação do comportamento.
Os comportamentos antissociais e agressivos dos jovens com estes tipos de traços ele-
vados parecem estar menos relacionados com fatores de adversidade (e.g., más práticas
parentais, baixa inteligência), sendo que estes jovens aparentam ter características qua-
litativamente distintas a nível emocional e cognitivo (e.g., ausência de medo a punições
e perigos, busca persistente de sensações e novidades) que levam a que a sua trajetória
delinquencial seja qualitativamente diferente.
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5.4.1. Objetivos
A amostra foi obtida junto de jovens institucionalizados nos Centros Educativos geri-
dos pelo Ministério da Justiça de Portugal. Duzentos e vinte e um participantes do sexo
masculino com idades compreendidas entre os 13 e os 20 anos de idade (M = 16.75,
DP = 1.41) concordaram em participar voluntariamente do estudo. Os participantes
eram maioritariamente portugueses caucasianos (54.3%) e residentes em contexto ur-
bano (92.8%). Em média, os participantes relataram que os seus primeiros problemas
criminais ocorreram aos 11.33 anos (DP = 2.24), e que a maioria foi detida antes dos
16 anos (M = 15.46, DP = 1.31) e condenada a uma média de 21 meses de detenção
(M = 20.67, DP = 6.69), a maior parte deles (87.6%) por crimes graves e violentos (e.g.,
homicídio, roubo, assalto, violação). Todos foram detidos por decisão do tribunal.
5.4.3. Metodologia
A tradução inicial, do inglês para o português europeu, foi concluída pelo primeiro e
segundo autores deste texto, tendo como objetivo a correta compreensão, por parte dos
jovens do significado dos itens. O questionário foi então traduzido novamente para
o inglês por um tradutor independente, com experiência profissional considerável na
tradução de textos científicos relacionados com a psicologia. Não foram encontradas
diferenças significativas entre a tradução e a versão original, o que demonstra que os
itens traduzidos tinham um significado igual ou semelhante aos itens originais em in-
glês. A autorização para avaliar os jovens foi obtida a partir da Direção-Geral de Re-
inserção e Serviços Prisionais (DGRSP) do Ministério da Justiça. Os jovens estavam
institucionalizados num dos centros educativos existentes em território português que
admitem jovens do sexo masculino, tendo sido informados sobre a natureza do estudo
Inventário de Traços Calosos/Insensibilidade Emocional (ICU) 91
Na Tabela 5.1 podem ser observados os índices de ajustamento obtidos para os diferen-
tes modelos: modelo de um fator de primeira ordem, modelo de três fatores de primeira
ordem intercorrelacionados e modelo de três fatores de segunda ordem hierárquica (em
que um fator de segunda ordem justifica as relações entre os três fatores de primeira
ordem). Foi possível encontrar um bom ajustamento para o modelo intercorrelacio-
nado de três fatores de primeira ordem, mas o modelo de três fatores de segunda ordem
hierárquica teve um ajustamento que pode ser considerado adequado.
RMSEA
S-Bχ2/df IFI CFI
[90% CI]
Um fator de primeira ordem 6.33 .77 .76 .16 [.15, .16]
Três fatores de primeira ordem 1.85 .96 .96 .06 [.05, .07]
Três fatores de segunda ordem 1.85 .90 .90 .06 [.05, .07]
Nota. S-Bχ = qui-quadrado de Satorra-Bentler; IFI = Incremental Fit Index; CFI = Comparative Fit Index;
2
RMSEA = Root Mean Square Error of Approximation; CI = Intervalo de Confiança; ML = Máxima Vero-
similhança.
A Tabela 5.2 apresenta o peso dos itens para os três fatores de primeira ordem de acordo
com a estrutura intercorrelacionada estimada com o método ML. Todos os itens tive-
ram valores acima de .30, pelo que nenhum foi removido do modelo, mas vale a pena
mencionar que o item 10 teve o menor valor. Embora este modelo não seja inteiramente
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a partir da tabela –, as saturações dos itens são consistentes com fatores identificados em
pesquisas anteriores (e.g., Essau et al., 2006; Kimonis et al., 2008).
Tabela 5.2: S aturações dos itens no modelo confirmatório de três fatores intercorrelacionados de primeira
ordem do ICU
A Tabela 5.3 apresenta as correlações entre a pontuação total do ICU e as suas dimen-
sões que se apresentaram de moderadas a fortes.
Inventário de Traços Calosos/Insensibilidade Emocional (ICU) 93
Tabela 5.4: A
lfas de Cronbach, médias das correlações interitens e amplitudes das correlações item-total
corrigidas do ICU
α MIIC CITCR
ICU Total .90 .28 .23 – .64
Calosidade/Frieza Emocional .88 .39 .30 – .69
Insensibilidade Emocional .86 .44 .50 – .71
Indiferença Emocional .87 .59 .61 – .82
Nota. α = alfa de Cronbach; ICU = Inventário de Traços Calosos/Insensibilidade Emocional; MIIC =
médias das correlações interitens; CITCR = amplitudes de correlações item-total corrigidas.
Tabela 5.5: Validade convergente do ICU com APSD-SR, YPI e CATS e validade discriminante com RSES
Tabela 5.6: V
alidade concorrente do ICU com diagnóstico de Perturbação do Comportamento do DSM-5,
idade de início criminal, gravidade de crimes cometidos e uso de violência física
Tabela 5.7: C
orrelações do ICU e as suas dimensões com consumo de álcool, canábis e/ou cocaína/heroína
e sexo sem proteção
Sexo sem
Álcool Canábis Cocaína/Heroína
Proteção
ICU total rS = .26*** rS = .32*** rS = .17** rS = .04ns
Calosidade rS = .29*** rS = .37*** rS = .24*** rS = .07ns
Insensibilidade Emocional rS = .21** rS = .24*** rS = .09ns rS = .04ns
Indiferença Emocional rS = .15* rS = .14* rS = .08ns rS = .05ns
Nota. ICU = Inventário de Traços Calosos/Insensibilidade Emocional; rS = correlação de Spearman.
*** p < .001; ** p < .01; * p < .05; ns não significativo.
Como qualquer instrumento de autorrelato, o ICU deverá ser aplicado num contexto
propício, de uma forma clara e objetiva, típica num processo de avaliação psicológica
(Aiken, 2002), seja este clínico ou forense. A sua aplicação deverá ser feita, preferen-
cialmente, em formato individual, devendo ser previamente esclarecidas as dúvidas em
relação ao seu preenchimento. Em casos específicos (e.g., dificuldades de compreensão
dos itens), o preenchimento poderá ocorrer com o auxílio do psicólogo ou psiquiatra.
Em circunstâncias normais, é preenchido entre 5 a 10 minutos. O ICU é um instru-
mento com 24 itens que remetem para três subescalas:
Cada item é pontuado numa escala de quatro pontos (0 = Totalmente falso, 1 = Por vezes
falso, 2 = Por vezes verdade e 3 = Totalmente verdade). Doze itens, formulados pela posi-
tiva (1, 3, 5, 8, 13, 14, 15, 16, 17, 19, 23, 24), requerem inversão antes de se proceder ao
cálculo das pontuações totais. A soma de todos os itens providencia a pontuação total,
sendo que pontuações mais elevadas indicam a maior presença de traços calosos/insen-
sibilidade emocional. Para obter as pontuações de cada dimensão soma-se os respetivos
itens após se ter revertido os itens enunciados de forma positiva. Pode também obter-se
uma nota global somando as pontuações das três dimensões.
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96 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Trabalhos recentes (Frick et al., 2013) têm destacado o equívoco de alguns investi-
gadores e profissionais em entenderem este constructo como sendo conotado com a
presença imediata de psicopatia no adolescente. Parece-nos relevante salientar que a
interpretação dos resultados deve ser efetuada de modo prudente, tendo presente que
os traços calosos/insensibilidade emocional se referem a um estilo afetivo (e.g., ausên-
cia de culpa, contenção emocional) e interpessoal (e.g., dificuldades na demonstração
de empatia, uso de outras pessoas para proveito próprio), o que é especialmente im-
portante para predizer um padrão comportamental de agressividade mais grave e per-
sistente. A presença deste tipo de traços não é equivalente a fazer um diagnóstico de
psicopatia. Ademais, é recomendável que não se utilizem etiquetas como “psicopata”
quando se avaliam crianças e jovens – que, por definição, continuam em pleno desen-
volvimento biopsicossocial –, dados os malefícios que daí poderão advir em termos de
rejeição social e interpessoal.
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Material
Edição e distribuição