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A Milésima Vista - Camila Sodré
A Milésima Vista - Camila Sodré
Hannah já não se lembrava mais das horas que tinha passado em pânico
até colocar os pés em Nice. Depois de terem conseguido empilhar suas malas
no carro conversível alugado, as garotas partiram pela rota cênica que as
levaria do aeroporto para Mont Boron, região da cidade em que ficariam
hospedadas.
Dirigindo ao lado da Promenade des Anglais, a orla mais famosa de
Nice, era impossível não ficar embasbacada com aquele lugar. De um lado, a
arquitetura Art Déco, cheia de prédios coloridos e ornamentos, a fazia sentir
como se tivesse sido transportada para outra época. Do outro, o mar azul-
turquesa, a praia de pedras e toda a beleza natural da Costa Azul. Estava em
Nice havia uma hora, mas era fácil saber que aquele lugar ficaria em sua
memória para sempre.
— Eu poderia facilmente ficar hospedada aqui no meio. — Becky
apontou para alguns prédios com pequenas varandas de frente para a orla. —
Onde mesmo que é a casa da sua tia?
Hannah sorriu.
— Lá em cima. — Ela apontou, mostrando o sentido para as amigas.
— Você quer dizer ali, onde tem aquelas mansões? — Ellie piscou
algumas vezes, parecendo incrédula.
— Exatamente.
Becky deixou o queixo cair, depois estapeou o ombro de Hannah.
— Ai!
— Por que você não contou para nós que sua tia deixou uma mansão
para passarmos as férias? — perguntou, com a voz esganiçada, e Hannah riu.
— Escute. Tia Janice é casada há muitos anos com um empresário
francês do ramo alimentício. Eles moraram um bom tempo em Paris e estão
aqui na Costa Azul há mais ou menos três anos, desde que compraram essa
casa. Pelo que eu entendi, é uma mansão. Afinal, tem oito quartos...
— Oito quartos?!
— E piscina, e um monte de outras coisas com uma vista espetacular. O
cara é realmente rico, mas, como não vi nem foto do lugar, não queria encher
vocês de falsas expectativas.
— Estando aqui, eu acho que ficaria feliz em qualquer lugar. — Becky
riu.
— Eu também. Falando em mansão, meu irmão já chegou lá e mandou
uma mensagem. Aparentemente o lugar é “inacreditável”, seja lá o que isso
signifique — Hannah disse, e Ellie sorriu.
— Inacreditável é você querer passar as férias com os amigos do seu
irmão.
— Acredite se quiser, mas eu estou com muitas saudades do Ollie. A
gente quase não se vê desde que ele se mudou para a faculdade.
— Não era disso que eu estava falando — Ellie provocou e riu ao ver,
pelo retrovisor, a amiga rolar os olhos azuis.
— Lucas não vem.
— É mesmo?
— Sim. Foi o que Oliver disse — Hannah respondeu, chacoalhando a
cabeça como quem precisava se livrar de um pensamento ruim. — Além
disso, meu irmão também sente a minha falta. Ele sabe que, se trouxesse o
amiguinho dele, nossas férias seriam simplesmente arruinadas.
— Sem ofensas, amiga, mas não acho que as férias de ninguém podem
ser arruinadas quando se tem um mar azul desses — Becky disse, fazendo
Hannah sorrir.
— Você tem um bom argumento.
“Você chegou ao seu destino.”
As três pararam de falar assim que escutaram a voz do GPS anunciar
que tinham chegado. Hannah deixou o queixo cair, olhando os imponentes
muros altos daquilo que parecia uma mansão que só poderia pertencer a um
ator de Hollywood.
— Isso não deve estar certo.
— Toque o interfone! — Ellie falou, rapidamente, lá do banco de trás.
Hannah o fez, mas ninguém respondeu. Quando ia falar alguma coisa,
assistiu aos dois enormes portões de madeira abrirem em sua frente, como em
um filme.
— Uau — Ellie disse, depois de ter passado um minuto em completo
silêncio.
— Inacreditável.
Hannah ouviu uma batida suave à porta e sorriu ao ver Ellie entrar no
quarto. Ela estava linda com seu vestido azul-turquesa e os cabelos castanhos
arrumados em ondas. Ellie puxou a barra do vestido, envergonhada.
— Essa roupa ficou esquisita? — perguntou, parando ao lado da amiga
no espelho. Hannah riu.
— Esquisita? Você está maravilhosa, meu Deus!
— Sempre acho que estou forçando a barra com esses vestidos de
balada.
— Você não precisa usar um se não quiser, amiga — Hannah disse, e
Ellie sorriu.
— Eu sei que não. Mas quero aproveitar essas férias de uma maneira
diferente, sabe? Quero ser menos encanada com essas coisas bobas.
— Ellie, essas são suas férias de verão, não o ano-novo — Hannah
brincou, tomando uma cotovelada da amiga, que riu.
— Eu sei, mas eu gosto de me planejar. Não consigo me conter. E o
plano, dessa vez, é ser um pouco mais livre. Acho que vou conseguir.
— Eu tenho certeza de que sim — Hannah concordou, caminhando até a
cama com um vestido preto nas mãos.
— E você — Ellie fez uma pausa, sentando ao lado da amiga —, como
está?
Hannah não tinha certeza de como deveria responder àquela pergunta.
Ver Lucas depois de tantos meses tinha trazido à tona uma mistura de
sentimentos que a deixaram um pouco entorpecida. Estava furiosa por ele ter
aparecido, mas uma pequena parte dela – mesmo que se recusasse a admitir –
tinha até gostado de vê-lo.
E ela não sabia o motivo. Talvez tivesse sentido falta de ter alguém a
desafiando o tempo inteiro durante o último ano. Talvez fosse apenas seu
cérebro, que ainda estava muito afetado com o fuso horário. De uma forma
ou de outra, aquele reencontro tinha feito com que Hannah percebesse que
sua relação com Lucas, possivelmente, tinha mais camadas do que ela
imaginava.
— Eu estou bem, acho — disse, por fim. — Oliver veio aqui, mais cedo.
Socá-lo algumas vezes deu uma diminuída na minha tensão. — Arrancou
uma risada da amiga.
— Ele não fez por mal.
— Eu sei que não. Ele só tem um péssimo gosto para eleger seus
melhores amigos. Não há nada que eu possa fazer a respeito disso. Ao menos,
nada novo. — Hannah riu.
— Sabe? Vocês passaram todos esses anos se odiando, e eu nunca tive a
oportunidade de sentar e conversar com o Lucas. Agora há pouco, eu
conversei com ele — Ellie disse, sob o olhar atento da amiga.
— Sobre o quê?
— Sobre as viagens mais recentes dele. Sobre eu ter conseguido realizar
meu sonho de estudar em Harvard. Essas coisas. — A garota encarava a
amiga. — Ele parece um cara legal, Han.
— Ah, pronto. Era só o que faltava. — Hannah rolou os olhos,
impaciente. — O que esse cara tem, sério? Por algum acaso, Lucas Cooper
tem alguma espécie de encantamento que funciona com todo mundo, menos
comigo?
— Você queria que funcionasse com você? — Ellie perguntou, de
sobrancelha erguida.
— Não seja ridícula — Hannah retrucou, chacoalhando a cabeça. — Eu
só queria entender!
Ellie pareceu ponderar por um instante. Então, começou a andar de um
lado para outro no quarto, como fazia quando estava memorizando alguma
matéria da escola – uma imagem com a qual Hannah estava muito
acostumada.
— Há alguns anos, alguns cientistas ingleses fizeram um estudo que eu
particularmente acho que se aplica ao seu relacionamento com o Lucas —
Ellie disse, voltando a olhar para a amiga.
— É mesmo? — Hannah perguntou, interessada.
— Sim. O estudo provou que há uma linha tênue entre o amor e o ódio.
— Ellie...
— Espere, me escute — a amiga pediu. — Pelo que me lembro, o amor
e o ódio dividem alguns circuitos nervosos. Por isso, embora sejam opostos,
os dois resultam em alguns comportamentos extremos similares. Não estou
insinuando nada, amiga, mas...
— Eu sei bem o que você quer dizer — Hannah a interrompeu. — Não
acho que seja o nosso caso.
— É uma possibilidade.
— Ellie!
— Está bem, vou parar com isso. — A amiga levantou as mãos, rendida.
— Sei que o desfecho do dia de hoje não foi o que você estava esperando,
então Becky e eu conversamos e achamos que seria legal irmos para outra
balada, separadas dos meninos. O que você acha?
— Vocês são incríveis. — Hannah sorriu.
— Eu sei. Agora termine de se arrumar, por favor, que eu já estou com
sono só de pensar em sair. Se você me deixar cair em um sofá, não tenho
certeza se meu jet lag não me carregará para outro plano — disse, fazendo a
amiga rir.
— Desço em dez minutos.
— Cinco — Ellie deu uma piscadinha, saindo do quarto.
Hannah caminhou até o bar sob o olhar atento de Lucas. Ele baixou os
óculos escuros para observá-la chegar, o que a fez rir e quase escorregar nas
pedrinhas arredondadas que tomavam o lugar da areia na praia.
— Duas águas, por favor — pediu, encostando no balcão ao seu lado.
Lucas fez uma careta de aprovação.
— Você fala francês?
— Ellie acabou de passar os últimos dez minutos me ensinando a falar
isso. — Hannah riu, negando com a cabeça. — Era mais fácil que ela tivesse
vindo buscar.
— Mas, se Ellie tivesse feito isso, você não conseguiria ter desfilado até
o bar com seu biquíni que combina com a água e com os guarda-sóis —
Lucas retrucou, despretensiosamente.
A garota baixou o olhar, praguejando em silêncio por saber que iria
enrubescer.
— Você anda prestando atenção demais em mim, Cooper.
— Acho que posso dizer o mesmo de você, Lane. — Ele deu uma
piscadinha, virando de costas para pegar um sorvete da mão da atendente,
que parecia encantada por ele.
Hannah suprimiu uma risada, mas não comentou nada a respeito.
— Isso é bom — ele disse, distraído, lambendo o sorvete de massa que
estava tomando em uma casquinha. — Quer?
Hannah negou com a cabeça.
— Não, obrigada — disse, mas depois riu da cara com que Lucas estava
devorando o doce. — É do quê?
— Não tenho a menor ideia — Luke disse, depois de uma pequena
pausa. Ele riu da expressão confusa da garota.
— Como isso é possível?
— Eu não falo uma palavra de francês e queria um sorvete de frutas.
Então, dei uma olhada nos disponíveis e apontei para esse aqui. — Ele deu de
ombros. — Achei que fosse morango, mas definitivamente não é. — Então
estendeu o sorvete para Hannah. — Experimenta.
— Não, obrigada — ela negou pela segunda vez, e Luke fez outra
careta.
— Caramba, docinho. Eu escolhi guardar um segredo nosso a sete
chaves há poucas horas, e é assim que você me retribui? — disse, divertido.
— Estava demorando. — Hannah prendeu o riso, enquanto pegava as
duas garrafas de água.
— Eu só estou pedindo uma ajuda, sabe? — Ele fez bico, quase rindo.
— Eu posso ser alérgico a isso aqui. Eu posso morrer por não saber, Hannah.
É isso que você quer?
Hannah gargalhou.
— Você quer mesmo que eu responda essa pergunta? — ela retrucou,
depois riu da expressão chocada de Luke.
Ele também riu, chacoalhando a cabeça.
— E então? — Estendeu a casquinha na frente do rosto de Hannah.
— Ugh. Você é muito chato, sabia?
— Ouvi dizer. — Ele sorriu, vitorioso. Assistiu a Hannah devolver as
garrafas de água no balcão e provar um pouco do sorvete, com a expressão
pensativa.
— Não sei. Algo tropical?
— Eu pensei em framboesa.
— Framboesa não é tropical.
— Quem disse que isso aqui é tropical?
— Eu disse — Hannah respondeu, com uma sobrancelha erguida. — E
aparentemente minha opinião importa — completou com um sorrisinho, e
Luke rolou os olhos. — Deixe eu provar de novo.
Luke estendeu o sorvete para Hannah, mas, antes que ela pudesse
apanhá-lo, ele a golpeou com o sorvete na bochecha. Gargalhou, vendo a
expressão atônita da garota.
Ela demorou um segundo para cair em si, empurrando a mão de Luke
para que o sorvete batesse em seu nariz. Assistiu ao queixo do garoto cair,
rindo alto, enquanto ele a encarava com o nariz sujo de sorvete cor-de-rosa.
— Lichia, eu acho — ela disse, por fim, provando um pouco do sorvete
em sua própria bochecha. — E você é um idiota.
Luke experimentou de novo, parecendo ponderar.
— Tem certeza? — perguntou a ela, despreocupado. Antes que Hannah
pudesse responder, no entanto, ele a acertou mais uma vez.
Agora, para sua surpresa, ouviu um xingamento em resposta.
— Eu não acredito que você fez isso — ela reclamou, segurando a ponta
do cabelo castanho. — Você sujou meu cabelo!
Hannah bufou, praguejando entre dentes. Abriu rapidamente uma
garrafa de água, tentando lavar a mecha que Lucas havia sujado com sua
brincadeira. Ele a encarou, confuso, mas ainda dando risada.
— É só uma... — Não conseguiu terminar a frase, sendo interrompido
por Hannah no mesmo segundo.
— Merda, Luke! Agora vai ficar tudo grudado — reclamou, depois
rolou os olhos ao ver a expressão no rosto do garoto. — Ah, pelo amor de
Deus. Pare de ser pervertido.
— Eu não disse nada — ele se defendeu, rindo. — E foi só um
pedacinho do seu cabelo, pelo amor de Deus. Um banho de mar resolve.
— Eu não quero mergulhar no mar.
— Então fique com o cabelo assim, ué. Quem é que vai reparar nisso?
— ele questionou, de maneira prática. — Você se preocupa demais com o
que os outros pensam de você, docinho.
Hannah, que até então estava afoita tentando lavar o cabelo com água
mineral, levantou os olhos e encarou Lucas. Ela abriu a boca algumas vezes,
mas não conseguiu responder nada. Chacoalhou a cabeça, irada.
— Babaca — resmungou, pegando as duas garrafas de água e o
deixando para trás.
Lucas franziu o cenho, correndo para alcançá-la.
— O que aconteceu? — ele perguntou, confuso. — Você realmente
ficou puta com isso? — Ainda achava graça, mas rolou os olhos quando não
recebeu nenhuma resposta. A ultrapassou, parando em sua frente no caminho
de madeira que levava até a praia.
— Sai da minha frente, Cooper — ela disse, parecendo exausta, e Lucas
negou.
— Não enquanto eu não entender esse chilique.
— Desde quando você se importa, por Deus? — Hannah retrucou,
nervosa.
Para sua surpresa, entretanto, Lucas estava rindo. Não era uma risada
debochada, daquelas que ele dava para a provocar. Algo em sua expressão
fez com que Hannah pensasse que, assim como ela, ele também estava puto.
Ah, que ousadia.
— Você sempre faz isso — Lucas disse, voltando a encará-la.
— Isso o quê? — Hannah perguntou, impaciente.
— Isso. — Ele fez um gesto, irritado. — Toda vez que começamos a ter
uma conversa normal, você acha um motivo rapidinho para estragar tudo.
Hannah soltou o ar pela boca, sem saber o que responder. Talvez Lucas
estivesse certo. Era possível que ela estivesse se sabotando, coisa que
acontecia com demasiada frequência quando o assunto era Lucas Cooper.
Apertou os olhos contra o sol, xingando mentalmente aqueles olhos cor
de amêndoa tão bonitos que ele tinha. Lucas ainda estava parado em sua
frente, sem fazer menção alguma de sair. Em outra situação, ele não estaria
dando a mínima por uma resposta para um assunto tão pífio como aquele. No
entanto, Lucas parecia verdadeiramente curioso, por trás de sua expressão
sempre inabalável.
— Foi você quem começou — Hannah respondeu, fazendo uma careta
ao perceber o quanto tinha soado infantil.
Luke riu, olhando para os pés; devia estar pensando o mesmo. Não era
possível o quanto aquele garoto a irritava. Não fazia o menor sentido.
— Você quem estragou tudo quando... — Hannah suspirou,
chacoalhando a cabeça. Não queria ter aquela conversa, ali, na praia, muito
menos com Lucas. — Quer saber? É melhor terminarmos esse assunto por
aqui. Pense o que você quiser pensar — disse, e Lucas apenas assentiu com a
cabeça.
— Algumas coisas nunca mudam, não é mesmo? — ele confirmou,
dando espaço para que Hannah passasse. Ela o olhou por sobre os ombros.
— Infelizmente.
*
Era o último dia antes das férias de verão e quase todos os professores
haviam optado por liberar os alunos de suas classes. Mais tarde, todos
estariam na final do campeonato de futebol americano e também na festa que
os próprios alunos tinham organizado fora dali. As matérias já tinham
fechado e aquele dia no colégio era meramente burocrático.
Os alunos do último ano já estavam se despedindo, entre lágrimas e
abraços, falando sobre o futuro e sobre suas universidades. Aqueles que
ficavam mal podiam esperar para desfrutar daqueles meses de verão, antes
que tivessem que se preocupar novamente com classes avançadas, atividades
extracurriculares e faculdades.
Mesmo ciente disso, a senhora Brown – professora de literatura do
colégio – tinha decidido que tornaria aquele último dia de aula no mínimo
marcante para suas turmas. Como parte de um projeto pessoal, que ninguém
fazia ideia de que ela tinha, a professora havia sorteado duplas de alunos para
que cumprissem uma série de tarefas pelas duas horas de duração de sua aula.
Seu objetivo era que os alunos se relacionassem fora de seus grupos e se
conhecessem melhor, encontrando similaridades inesperadas.
Lucas não acreditava em destino, mas era no mínimo cômico que
justamente ele houvesse sido sorteado para fazer par com Hannah. Teve uma
crise de riso quando ouviu seus nomes serem chamados à frente, ainda mais
pela reação da garota, que parecia preferir ser atropelada por um caminhão do
que passar uma parte da tarde com ele.
Os planos que ele tinha para aquela aula eram bem diferentes daqueles
da senhora Brown: queria utilizar cada minuto ao lado de Hannah para
infernizá-la; afinal, aquele era seu último dia no colégio e, mesmo que ainda
fosse vê-la esporadicamente durante o verão – por culpa de Oliver, claro –,
não voltaria para aquele lugar quando o novo semestre começasse. Embora
odiasse admitir, estava se sentindo um pouco nostálgico.
Ainda que tivessem trocado farpas pelo corredor até completarem a
primeira tarefa, que era mostrar sua música preferida para “seu novo amigo”,
Lucas devia admitir que a tarde estava até agradável. Como parte da segunda
tarefa, ele teve que levar Hannah até seu local preferido no colégio – o jardim
em frente ao pátio, onde comeram hambúrguer juntos e comentaram a vida
das pessoas com tanta naturalidade que alguém menos informado chutaria
que os dois eram até amigos.
Curioso. Ele chacoalhou a cabeça, tentando não pensar no quão
esquisita aquela situação era. Hannah estava caminhando ao seu lado havia
pelo menos cinco minutos, entrando e saindo de diversos corredores com
uma determinação típica. Ela o encarou e sorriu, sem dizer nada. Por alguma
razão, Luke sentiu seu rosto enrubescer e respirou aliviado por ter a certeza
de que a garota não estava prestando atenção nele.
Passaram pelo prédio onde ficavam os laboratórios de ciências e
também pelos estúdios de artes, chegando a uma espécie de bosque que Luke
nunca tinha visto na vida. Ele franziu a testa.
— Aonde, diabos, você está me levando? Estou começando a achar que
você quer fazer alguma coisa proibida comigo nos matos do colégio — disse,
com uma falsa expressão de medo, arrancando uma risada de Hannah.
— Idiota — respondeu ela, dando um soquinho no braço de Luke, que
riu brevemente, confuso.
Estava acostumado a ser xingado por Hannah – fosse pelas coisas mais
bobas, como comer algum doce na casa dela, até em brigas homéricas, que
chamavam a atenção do pátio inteiro. No entanto, não conseguia se lembrar
de uma única vez nos últimos anos em que Hannah Lane houvesse o xingado
apenas por graça.
Antes que pudesse divagar demais, percebeu que Hannah tinha parado
de andar. Ela sorriu, abrindo os braços para mostrar seu lugar preferido do
colégio.
— Voilà — disse, empolgada.
Luke notou que tinham parado em um jardim. O local era pequeno, mas
muito bem-cuidado, circundado por flores coloridas dos mais diversos tipos.
Perto de uma cerca, havia um banco de praça. Hannah ainda o olhava,
parecendo ansiosa. Ele sorriu.
— Nossa. Você tem certeza de que isso é dentro do colégio? —
perguntou, e Hannah apenas meneou a cabeça, deitando na grama em
seguida. Seus cabelos castanho-claros tinham se aberto como uma nuvem, e
ela parecia verdadeiramente em casa.
Sem pensar muito, Lucas se viu repetindo o gesto, deitando do lado dela.
— Está vendo aquele casebre ali? — Hannah apontou, continuando a
falar assim que o viu assentir. — Aquela era a casa da senhora Cruz, que
costumava trabalhar no refeitório. Lembra dela?
— Lembro, sim. Ela não tinha uma filha na sua classe?
— Sim, a Elena. Ela foi minha primeira amiga, assim que entrei no
colégio. Eu costumava vir aqui com ela quase todos os dias depois da aula
para estudar, mas, na verdade, era porque a senhora Cruz fazia o bolo de
cenoura mais maravilhoso da face da Terra — Hannah disse, sorrindo
sozinha, sem notar que Luke estava a encarando. Ele acabou sorrindo
também.
— Então nós invadimos a antiga casa da senhora Cruz? Não sei se isso
vale como “seu lugar preferido dentro do colégio” — ele disse, fazendo aspas
com os dedos. — Você quer mesmo me meter em encrenca no meu último
dia de aula, não é? Finalmente entendi seu plano diabólico — Luke brincou,
divertido.
— Ah, por favor. Você já se meteu em encrencas muito piores. —
Hannah riu. — E, na verdade, ainda estamos dentro do colégio. Nos limites
do colégio, ao menos. Tecnicamente, não estamos fazendo nada errado. —
Ela o encarou de lado, dando uma piscadinha.
Antes que Lucas dissesse alguma coisa, Hannah continuou.
— Além do mais, ninguém mora aqui há pelo menos um ano, desde que
a família Cruz se mudou. Fiz uma pequena investigação e descobri que é um
dos porteiros quem cuida do jardim. — Ela suspirou, fechando os olhos. —
Gosto de vir aqui para ter um tempo para mim, sabe? É como se fosse um
porto seguro em meio ao caos.
Luke ficou em silêncio, sem tirar os olhos de Hannah. Por mais incrível
que aquilo parecesse, estava cem por cento confortável ali, do lado dela. Para
sua surpresa, a garota abriu os olhos repentinamente, o encarando de lado.
Merda. Não era para ela ter notado aquilo. Agora, tinha certeza, Hannah
faria de sua vida um inferno.
— E você quis me trazer aqui? — ele perguntou, tentando soar o mais
casual possível, mas, no fundo, ansioso por saber a resposta.
Hannah deu de ombros, com um sorriso sincero.
— É seu último dia de aula, acho que merecíamos uma trégua. E, claro,
se você contar do meu esconderijo para alguém, serei obrigada a matá-lo.
Luke gargalhou. Ele gostava daquela Hannah. Tossiu, envergonhado de
seu próprio pensamento.
— Embora eu odeie admitir e te dar essa vitória — Luke se forçou a
falar, antes que seu cérebro acabasse derretendo de tanta nostalgia e o fato de
a garota estar tão perto dele —, seu lugar preferido no colégio é infinitamente
melhor do que o meu.
— Não é uma competição — ela disse, baixinho, e quase riu da
confusão na expressão de Luke. — Mas, sim, meu lugar é mesmo incrível.
— É uma pena que eu só tenha descoberto agora — ele disse de maneira
vaga, soltando o ar pela boca.
Hannah riu.
— Acha melhor lermos a próxima tarefa antes que você fique
sentimental demais por seu último dia no ensino médio? — perguntou, como
quem lia pensamentos.
— Ei! Eu não... — Luke parou de falar, fazendo uma careta ao ver que
Hannah estava rindo. — Ah, cale a boca. Vamos logo para a próxima —
disse, prendendo o riso.
Assistiu a Hannah sentar e cruzar as pernas, sem pressa, enquanto
alcançava um dos envelopes da senhora Brown. Sua expressão ao abrir e ler o
texto foi de curiosidade, e Luke apoiou a cabeça em uma das mãos, olhando-a
nos olhos.
— Vamos lá. O que temos que fazer agora?
— “Descreva para o seu amigo como você o vê” — Hannah leu,
prendendo o riso com a piada pronta que caberia ali. Lucas rolou os olhos,
rindo.
— Pobre senhora Brown. Aposto que essa vai ser a resposta mais rápida
de todas as duplas — disse, pegando o envelope da mão de Hannah.
Então, viu a garota morder o lábio, pensativa.
— O jeito que eu vejo você...
— Espere. Você realmente vai responder isso? — perguntou, achando
graça. Hannah deu de ombros.
— É claro. Já estou aqui mesmo.
— Ok, então — ele respondeu, tentando parecer não se importar, mas,
por algum motivo, suas mãos estavam geladas quando viu que Hannah estava
prestes a despejar o que quer que fosse que ela achava dele.
— Lucas Cooper é um cara estranho — ela disse, olhando para o nada.
— Ele diz odiar jogadores populares, mas anda com dois deles. E, pior ainda,
vive correndo atrás das líderes de torcida.
— Ei! Seu irmão e o Dylan já eram meus amigos antes de se bandearem
para o lado mau da força. Eu apenas tenho o coração bom o suficiente para
não os privar do privilégio que é ter minha amizade — Lucas disse,
arrancando uma risada de Hannah. — E eu não corro atrás de líderes de
torcida, por favor.
— Em primeiro lugar, pare de me interromper enquanto eu estou
cumprindo uma tarefa, Cooper — Hannah provocou, rindo ao vê-lo rolar os
olhos. — Segundo, você corre atrás delas, sim. Não esqueça que eu também
era uma líder de torcida e, para sua sorte ou azar, garotas contam tudo.
— Isso não...
— Continuando... Eu não acho que você é tão bad boy quanto gosta de
aparentar. — Ela fez uma pausa. — Para falar a verdade, eu acho que você é
muito mais doce do que deixa transparecer. Você é extremamente
observador, determinado e quase tão teimoso quanto eu. E, por fim, eu acho
que você não me odeia.
Ao parar de falar, Hannah acabou dando risada do queixo caído e da
expressão chocada no rosto de Luke. Lucas Cooper, o cara que sempre tinha
resposta para tudo, estava sem palavras. Aquilo era divertido em um nível
que ela nem poderia começar a descrever.
Ele demorou um ou dois minutos para se recuperar.
— Em minha defesa, eu não corro atrás das líderes de torcida. Elas que
me amam muito e vivem me procurando — disse do jeito sarcástico de
sempre, e Hannah chacoalhou a cabeça.
— Nem todas.
— Eu não teria tanta certeza disso — ele retrucou, com uma piscadela,
fazendo-a rir. — Aliás, eu nunca disse que odiava você. A gente só briga...
muito.
Hannah, que até então estava brincando distraidamente com um pedaço
de grama, pareceu interessada nessa revelação, olhando-o nos olhos.
— É mesmo? — perguntou, incerta. Assim que Luke assentiu, ela
sorriu. — Eu também acho.
— Então você não me odeia?
— É claro que não.
— Legal — Luke disse, sem saber o que mais responder. Estava se
amaldiçoando por sua recente falta de capacidade de ter respostas rápidas.
Não estava acostumado com isso. Antes que pudesse pensar, ouviu Hannah
dizer:
— Sua vez de falar de mim.
— Sério? — perguntou, na esperança de ouvir uma negativa, mas sabia
que ela não faria isso. Não demorou tempo demais pensando, apenas se
sentou de frente para ela e, surpreso consigo mesmo, começou a falar. —
Você não sabe se ama ou odeia ser a garota mais popular do colégio. Isso
porque a Hannah Lane que os caras desejam e as garotas querem copiar não é
quem você é de verdade. Você mataria e morreria por suas amigas e por sua
família, embora você e seu irmão briguem quase tanto quanto nós dois. Você
também parece muito mais doce do que deixa transparecer, mas não
necessariamente comigo. — Ele riu. — E você tem uma aptidão nata para se
apaixonar por bruxos, anjos, vampiros, líderes de boy bands ou qualquer
coisa que não exista, ou que esteja longe demais do seu alcance.
Luke parou de falar e encarou a garota, que chacoalhava a cabeça de um
lado para outro com um sorriso no rosto. Era fácil dizer que estava chocada
com aquela torrente de informações, mas de uma maneira boa.
— Isso foi surreal.
— Eu sou mesmo maravilhoso. — Ele sorriu.
— Acho que você é uma espécie de espião contratado.
— Droga! Não era para você ter descoberto isso tão cedo, não antes de
eu salvá-la da máfia que está atrás de você e... — Luke parou de falar, rindo
junto com Hannah. — O que você acha de pularmos a parte constrangedora
de comentar essa conversa e irmos direto para a próxima pergunta?
— Nunca concordei tanto com você em toda minha vida. Mas, antes,
acho melhor sairmos daqui. Estamos gastando demais minha parte favorita do
colégio.
— Por quê? Está com medo de cair em tentação ao ficar muito tempo
em um lugar recluso e romântico comigo? — Luke provocou, estendendo a
mão para ajudar Hannah a se levantar.
Ela arqueou uma sobrancelha, encarando-o de perto.
— Não. Você está? — respondeu, em alto e bom som, e viu a expressão
no rosto de Cooper mudar.
Aquela resposta afiada não era o que ele estava esperando escutar, e os
dois sabiam disso. Ao ver Lucas abrir a boca, sem falar nada, Hannah sorriu,
vitoriosa.
— Foi o que eu pensei.
— “Pergunte a seu novo amigo algo que você sempre quis saber sobre
ele” — Lucas leu, baixando o papel para olhar para Hannah.
Tinham voltado a sentar sob a árvore onde tinham almoçado, o lugar
favorito de Luke no colégio. Mais adiante, era possível observar várias duplas
sentadas juntas – algumas rindo, outras parecendo desconfortáveis. Era certo
que os dois tinham achado que fariam parte da segunda opção, porém,
incrivelmente, aquela tarde estava saindo muito melhor do que esperavam.
Talvez, no fundo, a senhora Brown tivesse um bom objetivo.
— Nós devíamos ter ficado no seu jardim — Luke disse, olhando
sutilmente para o lado. Algumas pessoas estavam espiando os dois, talvez
esperando que alguma cena acontecesse.
Hannah não pareceu perceber. Em vez disso, sentou-se completamente
de frente para Luke, suspirando em seguida.
— Dessa vez, você pode começar — incentivou, e ele franziu a testa,
curioso.
— Você está mesmo participativa nessa brincadeira. Não sabia que
gostava tanto assim da minha companhia — ele provocou, vendo-a
chacoalhar a cabeça.
— Menos, Luke. Bem menos. — Ela fez uma pausa. — Mas vou te dar
essa. Talvez você esteja um pouquinho menos insuportável hoje — ela disse,
e Luke fez uma careta de aprovação.
— Acho que isso é o melhor que vou conseguir.
Ficou uns instantes em silêncio, e, durante todo esse tempo, o olhar de
Hannah não deixou o seu. Sentia-se desafiado, mas não de um jeito ruim.
— Então está bem, vamos lá. Acho que essa pode ser uma pergunta
idiota, mas não estou muito criativo. Por que você tem medo de altura?
Por alguma razão, Hannah pareceu surpresa com a pergunta.
— Eu definitivamente não esperava por essa. — Ela riu, estupefata. —
Sendo bem sincera, achei que fosse me perguntar alguma putaria.
Lucas deixou o queixo cair, fingindo choque.
— Que absurdo! Quem você pensa que eu sou? — Ele riu, depois sorriu
ao ver a garota curvar as costas em uma gargalhada. — É sério, Hannah. Já vi
várias demonstrações desse seu medo, mas nunca soube o real motivo.
Hannah soltou o ar pela boca, derrotada.
— Ah, Luke. Você vai rir de mim — ela reclamou, com a voz baixa e
tímida, bem diferente do normal. Luke estava se sentindo idiota com o tanto
que vinha sorrindo sem razão alguma, mas já estava o fazendo de novo.
— Eu prometo que não vou rir — ele disse, prendendo o riso quando viu
a expressão desconfiada da garota. — Eu dou a minha palavra, se é que ela
vale alguma coisa.
Hannah pareceu ponderar.
— Não vale muito, mas é o que temos para hoje — disse, respirando
fundo antes de prosseguir, sob o olhar atento de Luke. — Quando eu tinha
cinco anos, Oliver e eu estávamos passando férias na fazenda do meu avô, no
Texas. Um dia, estávamos brincando no pomar e o idiota do seu melhor
amigo me desafiou a subir em uma árvore muito alta que tem lá. Eu subi, é
claro, porque você sabe que eu sou um tanto competitiva — ela disse,
fazendo Luke rir baixo. — O tempo estava horrível. Assim que eu subi,
começou a chover muito, muito forte. Com raios, trovões e o pacote
completo. Oliver saiu correndo para dentro da casa e me deixou lá, sozinha.
Eu fiquei umas duas horas lá em cima, em pânico, sem conseguir descer.
Hannah estava encarando os próprios pés quando parou de falar
abruptamente. Não tinha costume de contar aquela história porque não
gostava de revivê-la. Embora fosse muito nova, essa era a primeira memória
vívida que tinha de sua infância – memória essa que, é claro, havia a
traumatizado talvez para o resto da vida.
Ela voltou o olhar para Lucas, apenas esperando uma risada alta ou
qualquer coisa que a deixasse furiosa. Em vez disso, ele estava apenas a
encarando de volta, com uma expressão indecifrável no rosto.
— Vai. Pode rir — ela o desafiou, assim que encontrou sua própria voz.
Surpresa, assistiu a Lucas negar com a cabeça.
— Eu prometi que não iria rir.
— Mas é idiota.
— Não é idiota — ele refutou. — Não é um trauma tão legal quanto um
avião caindo, como eu pensei que seria. Mas não é idiota — ele brincou, e
Hannah chacoalhou a cabeça.
— O que, diabos, seria um trauma legal? — ela perguntou, dando risada,
e viu que Lucas a acompanhava.
Ele fixou o olhar atrás de Hannah, para a frondosa árvore que os
protegia do sol. Arqueou uma sobrancelha.
— Vem — disse, puxando-a pela mão. — Vamos encarar seu medo.
— O quê? — Hannah retrucou, com a voz esganiçada. — Você bebeu?
— É claro que não — Lucas respondeu, pensativo. — Escute. Você
provavelmente acha que aquela árvore da fazenda era alta demais porque
tinha cinco anos. E talvez a tempestade nem fosse tudo isso também.
— Você não estava lá — ela disse, entre dentes.
— Eu sei que não. Mas estou aqui agora — Lucas incentivou, sorrindo.
— Vamos lá. Nem é uma árvore alta assim. Não tem a menor chance de
chover e eu prometo que não vou deixar você lá em cima. Você pode,
inclusive, me matar se eu fizer isso. Está autorizada.
— Você não pode estar falando sério. — Hannah gargalhou, incrédula.
— Vamos lá, Hannah — ele disse, a puxando pela mão. Assustou-se ao
perceber o quão gelada a palma da garota estava.
— Lucas, não — ela retrucou, firme, puxando a mão da dele. — Essa
árvore não é alta para você, mas é para mim. E eu sei que é uma fobia idiota,
mas...
— Não, não é — ele afirmou outra vez. Mordeu o lábio, chocado
consigo mesmo assim que percebeu o que tinha feito. — Porra. Eu que sou
idiota. Eu sei que, para você, isso é um negócio sério.
Hannah mordeu o lábio, tentando entender o que tinha acabado de
acontecer. Suas mãos estavam geladas e trêmulas, algo que ela estava
acostumada a vivenciar quando era colocada de frente com seu medo.
Entretanto, o que mais tinha lhe chamado a atenção havia sido a reação de
Lucas ao perceber que fora longe demais. Meses antes – Deus, até uma
semana antes, que fosse –, o garoto estaria rindo da cara dela e não teria dado
a mínima para seu trauma. Agora lá estava ele, mortificado e preocupado.
Isso fez com que seu coração acelerasse – e não pelo medo de subir na
árvore.
— Me desculpe, docinho — ele disse, sorrindo ao vê-la rolar os olhos.
— Eu odeio quando você me chama de docinho.
— Eu sei. É por isso que eu adoro — ele disse, rindo ao vê-la mostrar o
dedo do meio. — Acho que já está tudo bem, então?
— Vou pensar no seu caso.
— Você pode se vingar com a sua pergunta — ele sugeriu, vendo o
rosto de Hannah se iluminar com a sugestão.
Ela sorriu largo, olhando para o nada, extremamente concentrada. Luke
riu baixo, dando de ombros. Estava achando aquilo divertido. Não achava
que houvesse nada que Hannah pudesse lhe perguntar que o deixaria
desconcertado. Embora fosse clichê, acreditava de verdade que era um livro
aberto. E, o conhecendo por anos, talvez Hannah soubesse muitas de suas
histórias, daquelas que ele deveria se envergonhar.
Foi apenas quando Hannah se sentou de frente para ele, parecendo
cautelosa, que Luke engoliu em seco. Algo havia mudado na expressão da
garota e isso lhe despertou um certo medo, mesmo sem saber o motivo ou
tendo certeza de que não tinha nada a esconder. Depois do que ele havia
feito, qualquer que fosse a pergunta, ele teria que aceitar.
— Luke, o que estou prestes a perguntar provavelmente o deixará bravo
comigo — ela disse, olhando em seus olhos. Luke arqueou uma sobrancelha.
— Não acho que isso seja possível.
— É possível. E, sendo honesta, é uma pergunta um pouco estranha. —
Hannah fez uma careta, parecendo ponderar. Suas bochechas estavam
rosadas. — Prometa que não vai ficar puto nem querer me matar.
Lucas riu alto.
— Que diabo de pergunta me faria querer te...
— Prometa.
— Ok. — Ele franziu o cenho, nervoso e curioso na mesma proporção.
— Eu prometo.
— Isso pode ser idiota e talvez não signifique nada. — Hannah fez uma
pausa, parecendo procurar as palavras certas para prosseguir, o que deixou
Lucas inquieto. — Dois meses atrás, você e os garotos foram passar um fim
de semana em Nashville para o aniversário do... — A garota parou de falar,
vendo que Luke começou a encarar a grama. — Ah, nem vou continuar.
Luke voltou a fitá-la, mordendo o lábio. Estava surpreso com a escolha
de Hannah para aquela pergunta, embora ela ainda nem tivesse concluído sua
linha de raciocínio. Soltou o ar pela boca e forçou um sorriso.
— Não, está tudo bem — ele disse, tentando soar o mais calmo possível.
— Pode continuar.
Hannah torceu o nariz, em dúvida.
— Vamos, Hannah — ele a incentivou.
— Eu lembro que meu irmão chegou no domingo à noite, eufórico,
contando histórias intermináveis do quanto vocês se divertiram. Liguei para o
Liam para dar meus parabéns, e ele me falou que aquele tinha sido o melhor
fim de semana da vida dele. — Hannah suspirou, vendo o quanto Luke
parecia se esforçar para não desviar o olhar. — Mas, na segunda-feira,
quando chegamos ao colégio, você não apareceu. E você não apareceu a
semana inteira — disse, com cuidado. — Meu irmão disse que você estava
doente, mas, quando você reapareceu, estava todo... machucado. E não foi só
isso. Você estava diferente. Nem parecia você mesmo.
— Como assim? — Luke perguntou, com um fiapo de voz. Seu coração
estava batendo nos ouvidos, e sabia que precisava ganhar tempo.
— Você estava apático, não sei dizer. Não o vi fazendo gracinhas sobre
seu olho roxo, dando uma de bad boy, nem tentando usar isso para ganhar a
empatia das garotas. — Hannah riu baixo, mas percebeu que Luke não a
acompanhou. — E eu tentei arrancar algo de você, não sei, implicar com você
de propósito, mas nada aconteceu.
Lucas soltou o ar pela boca e abraçou os joelhos. Talvez tivesse
subestimado Hannah Lane. Aquela garota tinha o poder de surpreendê-lo e
desafiá-lo em qualquer situação, e ele estava em choque com a percepção
dela sobre aquela história. Com o coração acelerado, voltou a encará-la nos
olhos. Ela sorriu de canto, parecendo tímida.
— Você não precisa me contar se não quiser. Não vou dedurar você para
a senhora Brown — ela brincou, e Luke tentou sorrir.
— Você abriu mão da sua história do medo de altura. A pergunta é justa.
— Mas você claramente está muito mais incomodado do que eu para
falar sobre o assunto. Por incrível que pareça, Luke, essa jamais foi minha
intenção.
Ele sorriu. Algo lhe dizia que Hannah estava falando a verdade. Se
surpreendeu ao perceber que, no entanto, não queria a saída mais fácil.
Queria contar aquela história para ela, por mais dolorosa que fosse e por mais
que ele tivesse a guardado num cantinho do cérebro e jogado a chave fora.
Soltou o ar pela boca.
— Está tudo bem. Só fiquei surpreso por você lembrar disso.
— Talvez eu também seja uma espiã contratada — Hannah disse,
tentando animar o clima, mas o que recebeu de volta foi apenas um sorriso
triste. Antes que ela pudesse acrescentar mais alguma coisa, Lucas começou a
contar-lhe.
— Aquele foi, sim, um dos melhores fins de semana que eu vivi, até eu
voltar para casa. Foi aí que tudo desabou — ele disse, sob o olhar atento de
Hannah. — Naquela época, minha mãe estava namorando um cara, coisa de
quatro, cinco meses. Ele parecia bacana nas poucas vezes que eu tinha visto,
já que eu nunca estava muito em casa. Então, naquele domingo, eu cheguei e
minha mãe estava toda machucada.
Luke parou de falar, vendo os olhos de Hannah arregalarem. Ela abriu a
boca, mas não conseguiu falar coisa alguma. O garoto respirou fundo,
voltando a encarar os próprios tênis.
— Aquele filho da puta tinha batido nela e, pior, não era a primeira vez
— ele cuspiu as palavras de qualquer jeito, enquanto chacoalhava a cabeça.
— Você não tem ideia do que é chegar em casa e ver sua mãe machucada,
tentando esconder isso de você. Eu me senti um lixo. Eu nunca tinha
percebido nada e nunca tinha feito nada para impedir — Luke disse, com os
olhos marejados.
Hannah instantaneamente sentiu os olhos encherem de lágrimas.
— Luke, eu...
— Deixe-me terminar, ok? — ele pediu, sem conseguir olhá-la nos
olhos. Hannah apenas assentiu, em silêncio. — Eu pirei. Dirigi para a casa do
cara a milhão e o enchi de porrada. É claro, ele não deixou barato, então eu
acabei apanhando também. Muito. Inclusive, ele torceu meu pulso, o que me
deu o atestado de uma semana.
Ele fez uma pausa e se atreveu a olhar para Hannah, que estava com os
olhos vermelhos e vidrados em sua direção.
— Minha mãe ligou para a polícia e ele foi preso em flagrante naquela
mesma noite. Ela ainda tem uma marca nas costas por causa daquele... —
Luke parou de falar no meio da frase, chacoalhando a cabeça e ficando quieto
logo em seguida.
— Eu sinto muito — Hannah disse. Sua voz parecia um sopro, e ela
estava comovida com aquela confissão. Arrependida também, por ter feito
com que Lucas revivesse tudo aquilo. — Me sinto uma babaca. Desculpe por
ter perguntado isso.
Lucas não respondeu nada. Ele continuava abraçando os joelhos, com o
olhar perdido na grama. Hannah mordeu o lábio e, em um impulso, passou o
braço por cima dos ombros dele, em um abraço de lado, muito desajeitado.
Estava receosa, talvez por toda aquela proximidade que os dois nunca
tiveram. Mas sentiu que estava fazendo a coisa certa quando notou que os
ombros de Lucas relaxaram minimamente.
Ficaram em silêncio ali, por um minuto, e então Hannah se afastou, se
dando conta de onde estava e do que tinha feito sem nem pensar.
— Eu nunca tinha dito isso para ninguém além dos caras — Lucas disse,
por fim a encarando e preenchendo o silêncio. Hannah lhe devolveu um
sorriso triste.
— Eu nunca teria perguntado se soubesse que... Você sabe.
— Está tudo bem. — Ele assentiu. — Eu confio em você.
Lucas sentiu o baque daquelas palavras. Por Deus, não era para ter dito
aquilo. Estava em uma espécie de torrente emocional incontrolável e não
tinha conseguido frear os pensamentos. Sentiu seu rosto queimar,
especialmente ao ver o choque nos olhos azuis de Hannah, enquanto ela o
fitava. Antes que pudesse tentar consertar, no entanto, viu a expressão da
garota suavizar. E então ela sorriu. Um sorriso doce, que ele poucas vezes
vira em anos de convivência.
— Seu segredo está a salvo comigo — ela disse, dando uma piscadinha,
e Luke sentiu a nuca arrepiar com o gesto. — Que tal irmos para a última
tarefa? — sugeriu, meneando a cabeça para que Luke pegasse o envelope que
estava ao seu lado na grama.
Ele fez exatamente isso, voltando a encará-la.
— Está com medo? — perguntou, com um sorriso desafiador nos lábios.
Hannah deu de ombros.
— Não acho possível que aí dentro tenha uma pergunta que vá nos
deixar desconcertados. Não depois de tudo o que acabamos de falar — ela
disse, e Lucas concordou com a cabeça, abrindo o envelope azul-marinho
com uma careta.
— “Parabéns! Vocês chegaram à última tarefa” — Lucas leu, imitando a
voz de um apresentador de talk show. Hannah riu. — “Agora é a hora mais
importante. Escrevam um pequeno texto sobre a pessoa com quem estiveram
durante essa atividade. Comentem o que achavam dela e o que acham agora,
mas com uma regra: falem bem. Falem todas as qualidades de seu novo
amigo, porque eu sei que ele tem muitas. Assim que terminarem, entreguem
as cartas em minha sala.”
— Ai, meu Deus — Hannah disse, rolando os olhos.
— Isso vai ser interessante — Lucas comentou, e os dois riram. — Quer
papel e caneta?
— Por favor.
Lucas pegou um caderno na mochila e arrancou uma folha, dando o
caderno para Hannah. Em seguida, pegou duas canetas. Os dois se encararam
em silêncio e riram, sem nem ter ideia de por onde deveriam começar.
Hannah mordeu a tampa da caneta e, pouco tempo depois, baixou a
cabeça e começou a escrever, concentrada. Luke tratou de acompanhá-la,
fazendo o mesmo, mas se amaldiçoou no instante seguinte. Deus, ele era
péssimo naquilo. Não era bom com as palavras, não sabia o que deveria
colocar ali e, para completar, ainda estava duzentos por cento curioso para
saber o que Hannah tanto escrevia.
Pensou em tentar espiar, mas, ao olhar para ela, a viu sorrindo sozinha,
olhando para o papel. Fez o mesmo e voltou a escrever, tentando se empenhar
ao máximo.
Hannah esperou pacientemente por Luke, em absoluto silêncio,
enquanto ele concluía o que estava escrevendo.
— Terminei — ele disse, dobrando o papel. Os dois trocaram um
sorriso.
— Ótimo. Vamos lá entregar, então.
Caminharam lado a lado pelo corredor que levava até a sala onde as
aulas de literatura aconteciam. Não trocaram uma palavra, entendendo que
aquele dia estava chegando ao fim – com todos os sentimentos misturados
que ele havia trazido.
Ao abrirem a porta, deram de cara com a professora, que estava quase
escondida atrás de uma enorme pilha de envelopes, o que os fez concluir que
tinham demorado muito mais do que o restante da turma.
— Cooper, Lane! — a senhora Brown disse, assim que os viu. — Fico
feliz em vê-los. Por favor, cada um pegue um envelope e escreva do lado de
fora quem escreveu sobre quem.
— Para que a senhora precisa disso? — Hannah questionou, curiosa. A
professora apenas sorriu.
— Só para ter certeza de que vocês fizeram a brincadeira direito.
Fiquem tranquilos.
Luke estava olhando para Hannah quando ela virou a cabeça para
encará-lo, deitados na beira da piscina. Os dois sorriram, pois sabiam que
estavam pensando na mesma coisa.
— Não gosto de admitir, mas eu me diverti naquela tarde — ele
sussurrou, como se estivesse contando um segredo, e Hannah riu.
— Foi mesmo uma boa tarde — concordou, depois voltou a olhar para o
céu estrelado. — Acho que o dia inteiro teria sido, se Brian não tivesse
estragado tudo naquela festa. — Soltou o ar pela boca, nervosa só de lembrar.
Hannah não sabia explicar o que tinha acontecido naquelas duas horas
em que estivera com Lucas durante a aula de literatura. Ela detestava aquele
cara – ao menos achava que sim –, mas tinha passado por momentos tão
agradáveis ao lado dele que seu cérebro não estava nem conseguindo
acompanhar. Pior ainda, tinha se aberto com ele de uma maneira que não
fazia com outras pessoas.
E ele parecia entender. Aquilo era extremamente raro.
Para sua surpresa, tinha se empolgado quando Lucas dissera que
compareceria à festa que tinha sido organizada por Rebecca para quase todos
os alunos do penúltimo e último ano, em um lago perto da casa de seu pai.
Depois de andar muito de um lado para outro, tentando entender seus
próprios pensamentos, Hannah concluíra que, dali a pouco, Lucas se mudaria
e ela não teria a oportunidade de passar um tempo com ele tão cedo.
Precisava deixar de lado suas preconcepções e aproveitar aquela conexão
inesperada que os dois tinham. Era aquilo que queria fazer de verdade,
embora sua razão tentasse lutar contra.
Portanto, deixara a vergonha de lado e, conhecendo aquele lugar como a
palma da mão devido às inúmeras festas nos últimos dois anos, puxara Luke
para o alto de um pequeno morro, onde os dois podiam beber cerveja e
assistir à festa com uma vista privilegiada. Conversaram como se fossem
grandes amigos, fizeram um jogo em que bebiam cada vez que viam algo
bizarro acontecer na festa e riram até doer a barriga. Ela não podia estar mais
feliz com sua decisão.
Foi apenas quando retornaram para o lago que ela esbarrara com seu ex-
namorado, Brian Portman. Brian era o capitão do time de futebol americano e
os dois pareciam feitos um para o outro, ao menos em teoria –
desconsiderando, era claro, o fato de que Brian havia a traído com metade do
colégio sem que ela percebesse durante seu ano de idas e vindas.
Depois que descobrira que Brian tinha nada mais, nada menos, do que
outra namorada em uma cidade vizinha, Hannah tinha o exposto para o
colégio inteiro em uma festa na semana anterior, roubando suas roupas e
fugindo do local de carona com sua outra namorada, de quem havia se
tornado amiga. Ele tinha jurado vingança, mas Hannah duvidava muito de
que Brian poderia fazer algo para atingi-la.
Então, ela ouvira sua voz ecoar da cabine do DJ. Brian estava bêbado,
escoltado por seus melhores amigos. Nas mãos, ele carregava um bocado de
envelopes azuis, e Hannah sentira o coração acelerar naquele instante: eram
as cartas da aula de literatura.
*
Hannah nem sequer se lembrou de que Luke estava ao seu lado, abrindo
caminho entre as pessoas assim que viu Ellie mais adiante. Suas mãos
estavam trêmulas quando ela segurou o braço da amiga.
— Onde a Becky está? — perguntou, exasperada. O desespero também
estava estampado na cara de Ellie.
— Ela foi até em casa buscar mais copos — a amiga respondeu,
digitando freneticamente no celular. — Estou tentando falar com ela, mas...
— Alguém precisa fazer alguma coisa — Hannah disse, indo até a
cabine com Ellie logo atrás.
Brian estava cambaleando e quase derrubou seu copo no equipamento
do DJ. Estava sorrindo, parecendo meio ludibriado.
— Katie Stern sobre Jennah Roberts — ele leu, sua voz ecoando por
todo o lago.
— Brian, desce daí. — Hannah se aproximou, chamando sua atenção.
Ele virou seu olhar para ela. — Você está bêbado e vai se arrepender disso
depois. Vamos, desça daí — ela tentou, com a voz mais complacente
possível, pois sabia que outra abordagem não funcionaria.
Brian precisava saber que estava no comando, era assim que ele
funcionava. E, embora quisesse socar a cara dele, ela sabia o que tinha que
fazer.
— Vamos lá, Brian. Eu ajudo você — disse, recebendo um largo sorriso
em resposta.
— Ainda não, princesa. Estou me divertindo muito.
Hannah grunhiu, frustrada, vendo-o pegar o microfone e começar a ler
em voz alta todas as coisas que Katie havia dito sobre Jennah. Era seguro
dizer que a garota não tinha se importado em seguir as regras estipuladas pela
senhora Brown, e, entre algumas risadas desconfortáveis e gritos para que
Brian parasse de fazer aquilo, Hannah avistou Jennah sair chorando de perto
do palco.
— Brian, porra — dessa vez, era Oliver quem estava dizendo, na outra
extremidade do lago. — Se você não descer daí agora, eu subo para te tirar.
Foi aí que Lucas voltou a aparecer, parando do lado de Hannah. Ele
parecia tão alarmado quanto ela – se não mais –, mas apenas a segurou pelo
braço e aproximou sua boca do ouvido da garota.
— Encontrei um dos seguranças particulares das casas daqui de perto.
Ele acionou os outros e estão vindo para cá — disse, tentando parecer o mais
firme possível. — Tentei fazer com que não ligassem para a polícia, mas...
— Obrigada. — Hannah forçou um sorriso. — Você foi ótimo.
— Escute, Hannah, eu acho que o Brian... — Luke começou a falar, mas
a garota o interrompeu.
— Desculpe, Luke. Eu não consigo ver isso acontecendo. Não sem fazer
nada — disse, chacoalhando a cabeça. — Vou desligar os microfones antes
que aquele idiota machuque mais pessoas. Ou que meu irmão suba na cabine
e machuque a cara dele.
— Hannah...
— Eu já volto — ela sussurrou, caminhando para contornar o palco.
Antes que conseguisse dar três passos, sentiu cada músculo do seu corpo
paralisar.
— Hannah Lane sobre Lucas Cooper — Brian disse, sorrindo. — Ah,
essa é a minha preferida.
Luke deixou o queixo cair ao perceber o que estava prestes a acontecer.
Sua vontade era a de voar naquele palco e tirar aquele cara de lá a qualquer
custo, mas sabia que isso poderia causar um problema muito pior. Avistou
Rebecca chegando e a segurou pelo braço.
— Faça esse cara parar. Agora — pediu, o mais sério que conseguiu,
embora sua ordem tivesse soado como uma súplica. Becky apenas assentiu,
empurrando um saco de copos vermelhos contra o peito de Luke e correndo
para dar a volta na cabine.
E então Brian começou a ler, em um silêncio sepulcral, a carta que
Hannah tinha escrito horas antes.
— “Lucas Cooper é um cara completamente diferente de mim e também
muito diferente do que eu esperava. Ele parece ser o único capaz de entender
o que eu penso, e talvez essa seja a razão pela qual brigamos tanto, já que eu
odeio estar desarmada em frente às pessoas. Luke não me olha e vê a mesma
Hannah Lane que os outros alunos desse colégio. Quando ele me olha, eu
tenho certeza de que ele vê muito mais, e isso me deixa desconcertada.” —
Brian fez uma pausa, gargalhando. — “Mas, se devo falar coisas boas, devo
confessar que adoro a risada dele. Acho que as coisas ficam mais leves
quando ele ri, e é impossível não querer rir junto. O jeito que ele...”
Luke chacoalhou a cabeça, atônito. Embora quisesse se mover, as
palavras da carta de Hannah estavam ecoando em sua mente, e ele precisou
fechar os olhos para tentar retomar a consciência. Foi aí que percebeu que
Oliver estava se debatendo, sendo segurado por quatro caras do time.
Ele olhou mais à frente e, por um milissegundo, seu olhar cruzou com o
de Hannah. Ela estava chorando de verdade, com o rosto todo vermelho.
Então, mesmo vendo que Rebecca já tinha subido na cabine e estava prestes a
acabar com aquilo, não conseguiu conter sua raiva por aquela cena estar
acontecendo.
Empurrou algumas pessoas que estavam em sua frente e puxou Brian
para fora do palco, derrubando-o no chão. Quando o quarterback foi se
levantar, Luke acertou um soco em seu queixo, ouvindo uma arfada coletiva
dos presentes.
Brian foi interceptado antes de se levantar, tomando outro soco de
Oliver, que de alguma maneira tinha conseguido se soltar e correr até ali.
Enquanto o ex-namorado de Hannah xingava e fazia ameaças, o lago foi
tomado pela voz da Dua Lipa em todos os alto-falantes, em uma tentativa
desesperada de Becky de impedir que aquela briga tomasse uma proporção
muito maior.
Luke deu alguns passos para trás, com Dylan o puxando pelo braço, e
seu olhar correu da cabine para o bar improvisado, passando pelo lago e pelas
centenas de pessoas que estavam ali.
Não viu Hannah em lugar algum.
Capítulo 5
Lucas se lembrava da mistura de sentimentos que o deixara entorpecido
naquela noite com tanta nitidez, que para ele era como se tudo tivesse
ocorrido um ou dois dias antes. Lembrava-se da estranha felicidade que
sentia até que Brian subisse no palco, de seu coração batendo mais forte ao
ouvir as palavras na carta de Hannah, da adrenalina que correra por suas veias
quando a vira chorando e que o fizera derrubar Brian da cabine do DJ.
Procurara por Hannah pelos quarenta minutos mais longos de que se
lembrava e a encontrara sozinha, sentada perto de um outro lago, mais
adiante. Ela estava arremessando pequenas pedras, distraída, assistindo-lhes
pularem e formarem pequenos círculos na água antes de afundarem.
Sentara-se ao seu lado. Os dois conversaram por bons minutos sobre seu
término com Brian e como ela se sentira exposta com tudo o que ele havia
dito. Hannah havia pedido a Lucas para que não ficasse se achando depois
daquilo e agradecido por ele ter dado fim naquela cena que o ex-namorado
tinha armado – ainda que, para isso, tivesse entrado em uma briga.
Em certo momento, Lucas a vira se encolher, ao sentir a brisa fria
comum das noites de verão na Carolina do Norte, e emprestara a ela a blusa
vermelha que estava vestindo. Um ano depois, o garoto não sabia como se
sentir ao descobrir que Hannah ainda se lembrava daquela peça de roupa
surrada – e que, surpreendentemente, tinha uma espécie de afeição por ela.
Na manhã em que a encontrara cheirando a blusa, seu primeiro instinto
fora o de infernizá-la – afinal, ainda eram Lucas Cooper e Hannah Lane. Mas
saber que ela também nutria uma espécie de sentimento por aquele dia o
brecara de fazer qualquer coisa. E, caramba, aquilo o havia deixado feliz,
embora não quisesse admitir nem para si mesmo.
Luke encarou Hannah de rabo de olho, ainda deitado ao seu lado. Seus
olhos azuis estavam cintilando com o reflexo da água da piscina, e ele se
lembrava daquela sensação ao ter deitado com ela no jardim escondido da
escola. Acabou sorrindo e agradeceu pela iluminação fraca provavelmente
esconder suas bochechas vermelhas.
— Aquele dia você estava caidinha por mim — ele provocou, com um
sorriso de canto, e Hannah o encarou com o queixo caído.
— Eu não estava, nada! — ela negou, com a voz esganiçada, fazendo-o
gargalhar. A garota riu, chacoalhando a cabeça, e o empurrou. — Você bem
que queria que isso fosse verdade.
— Era verdade.
— Você está delirando, Lucas. Será que foi o excesso de sol na cabeça?
— brincou, e Lucas mordeu o lábio, divertido. Sentou, encarando-a.
— Você me abraçou duas vezes, Hannah Lane. E, na segunda vez, ainda
disse que estava precisando disso. — Ele tinha um tom desafiador na voz,
vendo-a sentar ao seu lado. — Contra fatos não há argumentos.
— Primeiro, eu te abracei no colégio porque você estava todo
deprimido, abrindo seu coração. Era a coisa certa a fazer, e eu faria com
qualquer pessoa. — Antes que Luke abrisse a boca para revidar, ela
prosseguiu. — Por isso, quando eu estava perdida e sofrendo por tudo que
Brian fez naquela noite, você deveria ter me abraçado, sem que eu pedisse.
Isso se chama bom senso.
— Isso não muda o fato de que você queria um abraço meu. — Lucas
sorriu, vitorioso.
Hannah chacoalhou a cabeça, fazendo uma careta.
— Você parece ter doze anos, às vezes. Já te disse isso?
— Talvez. Você me fala muitas coisas. — Ele deu um sorrisinho de
lado, e a garota praguejou baixo.
— Ninguém merece você.
— Tem certeza? — Lucas sorriu, vendo-a rir. — Eu realmente achei que
aquela noite mudaria alguma coisa — ele reafirmou, olhando-a nos olhos.
Hannah continuou atenta ao que ele falava, o que o deixava vagamente
desconcertado, dado o assunto. — Quer dizer, a gente teve um dia muito
legal e, mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda teve uma conversa
bacana no lago, e eu te levei para casa. Você estragou a música Wouldn’t It
Be Nice com a sua voz terrível, e...
Lucas parou de falar quando não foi interrompido ou tomou um soco no
braço ao brincar com Hannah. A garota ficou paralisada por um instante, ao
ouvi-lo mencionar com tanta naturalidade a música, depois sorriu de lado.
— Eu sei. E eu acabei ficando com a sua blusa, e trocamos algumas
mensagens — Hannah disse, por fim, parecendo meio atordoada. — Eu
também achei que as coisas fossem mudar.
— O que aconteceu, então? — Lucas perguntou, surpreso por estar tão
ansioso para ouvir aquela resposta. Hannah soltou o ar pela boca, dando de
ombros.
— A vida aconteceu — ela disse, calma. — Assim como ela acontece
todos os dias. Às vezes, a gente vive um momento e parece que tudo vai
durar para sempre. E então a gente acorda, se atrasa para um compromisso,
passa nervoso no trânsito e, quando vê, o momento que parecia eterno
simplesmente passa.
Luke ficou em silêncio por um instante, sem saber o que acrescentar
àquela resposta. Hannah olhou para a piscina, abraçando os joelhos, e não
olhou para Lucas ao voltar a falar.
— Bem, ou isso, ou eu sabotei qualquer possibilidade que a gente tinha
de... Sei lá. — Ela parou no meio da frase, chacoalhando a cabeça.
— Como assim? — Luke perguntou, inquieto, querendo que Hannah
olhasse para ele e respondesse todas as dúvidas que ele tivera depois daquela
noite no início do verão passado.
Ela riu, sem humor.
— Pensei que, com anos de convivência, você entenderia como eu me
comporto, Luke — ela disse, pesarosa. Apoiou a cabeça de lado nos braços
para encará-lo. — Por Deus, você sabe perfeitamente do que eu estou
falando.
— Sei?
— Sim. Você mesmo disse hoje, na praia — Hannah respondeu,
envergonhada.
Não sabia o motivo pelo qual estava levantando aquele assunto, mas as
palavras já tinham escapado e era tarde demais para reavê-las. Ao notar que
Luke parecia cavar sua própria mente para entendê-la, Hannah soltou o ar
pela boca.
— “Você se preocupa demais com o que os outros pensam de você,
docinho” — ela o imitou, fazendo aspas com os dedos.
Luke deixou o queixo cair brevemente. Como um estalo, se lembrou das
palavras – e de como Hannah reagira ao escutá-las. Na hora, achara que ela
estava apenas dando um chilique desnecessário por ele ter sujado o seu
cabelo, mas, ao que parecia, havia mais por baixo da superfície daquela
história.
Ironicamente, era assim que ele se sentia em relação a Hannah. Sempre
que parecia entendê-la, ela revelava uma camada mais profunda, que ele não
fazia ideia de que existia, e com a qual tampouco sabia como lidar.
— Você tem razão no que disse, e pode ter certeza de que eu odeio
admitir isso. — Ela sorriu ao olhar para a piscina, e Cooper fez o mesmo. —
Eu sei que parece estúpido, mas eu me preocupo mesmo com o que as
pessoas pensam de mim. O tempo inteiro.
Hannah voltou a olhar para Luke. Seus olhos, com a pouca iluminação,
tinham um tom de âmbar espetacular. E ele estava ali, vidrado nela, cem por
cento interessado na conversa. Aquilo a deixou desconcertada, como se um
olhar fosse capaz de convencê-la a despejar seus segredos mais profundos.
Ao que parecia, era bem isso o que estava acontecendo. Hannah riu,
envergonhada.
— Desculpe. Eu tomei um pouco de vinho, por isso estou falando
demais. Você não deve estar interessado nisso — ela disse, baixando os
olhos. Luke franziu a testa, então segurou seu queixo suavemente, fazendo-a
encará-lo.
— Quem disse? — Ele sorriu, incentivando-a. E pronto. Bastou aquele
sorriso para Hannah sentir a nuca arrepiar. Não era culpa da brisa da
madrugada da Riviera Francesa.
— Você não precisa me falar nada, se não quiser, Hannah. Mas isso não
significa que eu não esteja interessado em ouvir. — Sua voz era calma. — Na
verdade, eu vou até deitar de novo aqui e fechar os olhos. Se você quiser,
você me explica o que aconteceu hoje e o que isso tem a ver com aquela
noite.
Luke se espreguiçou, deitando na grama sob o olhar atento de Hannah.
Ele sorriu para ela antes de fechar os olhos.
— Mas, se não quiser também, tudo bem. Tem bastante grama para você
deitar aí. Cada um fica na sua, como sempre.
Hannah passou alguns segundos em choque, encarando o garoto. Ele
tinha apoiado a cabeça sobre as mãos e parecia relaxado. Sua camiseta tinha
levantado um pouco e mostrava um pedacinho de nada da barriga e da cueca
da Calvin Klein. Ela chacoalhou a cabeça, ruborizando.
Ao perceber que Luke permaneceria em silêncio, deu uma risada baixa e
virou de costas para ele, olhando seu reflexo na água da piscina. Quando se
deu conta, já estava falando de novo.
— O problema é que eu preciso ser perfeita o tempo inteiro. Eu sempre
tive essa necessidade, desde pequena. E tudo se agravou quando eu cheguei à
adolescência e me tornei popular no colégio. A sensação de ser observada o
tempo todo foi legal no começo, mas depois tornou minha vida um inferno —
ela confessou, mexendo na água com o dedo indicador. — Eu precisava ser a
melhor líder de torcida. Ter as notas mais altas. Estar em todos os eventos,
quando tudo o que eu queria era ver um filme embaixo do edredom. — Ela
riu, sem humor. — Eu precisava ter o namorado mais popular, mais
seguidores no Instagram e uma vida da qual eu me orgulhasse. Só que isso
nunca aconteceu.
Luke abriu os olhos, vendo-a de costas. Não sabia como, mas tinha
certeza de que ela estava mordendo o lábio inferior, absorta em pensamentos.
A escutou suspirar.
— Meu excesso de cobrança começou a afetar quase todas as áreas da
minha vida. Muito mais do que eu tenho coragem de admitir — Hannah disse
e então se virou para Lucas, que estava de olhos fechados. — Eu tive aquela
reação quando o Brian leu a carta porque eu não queria que as pessoas
ouvissem aquilo. Não o que eu achava sobre você, mas o que eu achava sobre
mim mesma.
Hannah viu Luke abrir um dos olhos, espiando-a, e então fechá-lo
rapidamente. Deu uma risada baixa, e ele acabou fazendo o mesmo, olhando-
a em seguida.
— Eu não queria que as pessoas soubessem que eu sou uma farsa. E foi
isso o que elas ouviram — Hannah finalizou, olhando nos olhos de Lucas. —
Eu tenho tentado mudar, Luke. De verdade. O ano passado foi diferente para
mim. Mas, vez ou outra, acontecem coisas que me levam bem para o lugar
aonde eu não quero ir.
— Como eu falando para você que você se importa demais com o que os
outros pensam — ele disse e, ao vê-la assentir, voltou a se sentar. —
Desculpe por isso.
— Está tudo bem. Esses são problemas de gente privilegiada. Sinto
vergonha de compartilhá-los com você aqui, em uma mansão na França, com
tanta coisa pior acontecendo no mundo. — Ela riu. — Mas essa sou eu. Bem
ridícula. Você já deve ter reparado.
Luke chacoalhou a cabeça, em negativa. Nunca tinha se sentido tão
próximo de Hannah como naquele exato momento, e seu coração estava
batendo de uma forma esquisita desde que ela começara a falar.
Percebera ali, deitado, a escutando, o quanto se importava com ela. Era
uma surpresa com que ele não sabia como lidar, então preferiu seguir em
frente.
— Posso te perguntar uma coisa? — Luke questionou.
— Mais uma?
— Posso? — Ele riu, com o olhar suplicante.
— Pode. — A garota rolou os olhos, achando graça.
— Entenda que o que eu vou te dizer não é nenhuma espécie de
julgamento, é só uma curiosidade minha — explicou, percebendo que tinha
chamado a atenção de Hannah com essa introdução. — Você já pensou em
fazer terapia?
Hannah riu, chacoalhando a cabeça.
— A sua sorte é que esse tipo de pergunta não é ofensivo nos dias de
hoje, embora seja extremamente intrometida — ela revidou, e Luke sentiu as
bochechas corarem.
— Bom, você me conhece. Ser intrometido faz parte da minha vasta
lista de qualidades. E eu faço com muita maestria, diga-se de passagem —
disse, arrancando uma gargalhada da garota.
— Você é muito idiota.
— Você quer dizer “realista”.
— Cala a boca, por favor. — Ela riu e o viu fazer o mesmo da eterna
piadinha entre eles. — E, sim, eu já tentei fazer terapia. Algumas vezes,
especialmente no último ano. E eu sempre me sinto ofendida quando alguém
começa a me falar a verdade. Dou as costas sem nunca mais voltar.
— Pelo menos você assume.
— Ouvi dizer que esse é o primeiro passo para aceitar sua própria
loucura — ela retrucou, fazendo piada. — Na minha última tentativa, a
terapeuta disse que meu perfeccionismo foi a chave para alguns problemas
sérios que eu tive e poderia se tornar um transtorno de personalidade
obsessiva compulsiva.
Luke franziu o cenho.
— Quais problemas sérios?
— Luke! — Hannah ralhou, achando graça. — Escute, você já arrancou
informações demais de mim. Talvez você devesse me dar algo em troca —
disse e gargalhou ao vê-lo arquear uma sobrancelha, com um sorriso
malicioso. — Ridículo.
— Tenho certeza de que era disso que você estava falando, mas tudo
bem. — Ele jogou o cabelo para o lado, rindo também. — Eu devo confessar
que me identifico com algumas dessas coisas.
— É mesmo?
— Sim. Eu também sinto que eu não sou bom o suficiente em grande
parte das coisas que faço. E que eventualmente vou decepcionar todo mundo
— disse, depois deu de ombros. — A diferença é que eu não ligo para isso,
porque não estou nem aí para o que as pessoas pensam.
Hannah o fitou, parecendo analisá-lo.
— Você está mentindo.
— Como é?
— Não existe isso de não se importar com o que as pessoas pensam. Se
ao menos passa pela sua cabeça que algo que você faça vai decepcionar todo
mundo, isso já te preocupa. Pode não ser um nível de gente maluca como o
meu, mas... — Hannah parou de falar e sorriu vitoriosa ao ver a expressão
chocada de Luke. — Não se sinta mal. É inato à raça humana. Não sabemos
fazer quase nada sem ter validação externa.
— Primeiro, eu não acho que você seja maluca, então pare de se
autodepreciar — Cooper disse. — Segundo, não sabia que tinha me inscrito
para uma aula sobre comportamento humano no meio das minhas férias.
— Eu achei que você estivesse de férias há meio ano — Hannah
instigou, e o garoto rolou os olhos, fazendo-a rir. — Está pronto para me
contar por que você abandonou a faculdade?
— Por que eu deveria fazer isso?
— Porque você adora conversar comigo. Está estampado na sua cara.
Luke gargalhou.
— Agora é você quem está sendo pretensiosa pra cacete.
— Estou? — Hannah arqueou uma sobrancelha, provocando-o. — Nós
dois sabemos que eu estou falando a verdade, docinho.
Luke deu um sorrisinho de canto. Ela tinha razão. Tiveram poucas
conversas de verdade na vida, mas ele gostara de cada uma delas, sem
conseguir explicar o motivo. Sabia que Hannah estava o desafiando, e
ninguém fazia isso tão bem quanto ela – para o bem ou para o mal. Para sua
sorte, os dois jogavam muito bem aquele jogo. Aproximou seu rosto do dela,
mas não viu a garota mover um só músculo. Então, começou a mexer na
ponta do cabelo dela, olhando-a nos olhos.
— Talvez esteja estampado na sua cara também — ele disse baixinho, e
Hannah engoliu em seco. — Vamos fazer assim, então. Se você disser que
ama as nossas conversas e passar um tempo comigo, eu posso pensar em
dizer o que você quer ouvir.
— E você sabe o que eu quero ouvir? — ela retrucou, com um meio
sorriso.
— Tenho certeza de que sim — ele respondeu, piscando algumas vezes
ao ver Hannah passar a língua nos lábios. Em seguida, recebeu um jorro de
água da piscina no rosto.
— Pare de babar — ela sussurrou, lançando um sorriso vitorioso assim
que Luke abriu os olhos, em choque.
Ele deixou o queixo cair, vendo-a curvar as costas em uma gargalhada
alta. Acabou rindo junto. Foi inevitável.
— Você é o demônio em forma humana — ele disse, e Hannah pareceu
achar graça.
— Adoro quando você é romântico comigo, Cooper — ela retrucou,
com cara de apaixonada. Lucas chacoalhou a cabeça, rindo.
— Estava pensando em me vingar outra hora, mas acho que não vou
resistir em acabar com isso logo — ele disse, olhando sugestivamente de
Hannah para a piscina. A garota arregalou os olhos.
— Ah, não — disse, se afastando ao ver o sorriso malicioso nos lábios
de Lucas. — Não ouse.
— Você deveria ter pensado nisso antes, docinho. — Luke riu ao vê-la
se levantar, pronta para fugir.
— Escute, se você me jogar nessa água, eu vou gritar tão alto que vou
acordar a casa inteira. É isso que você quer? — ela perguntou, dando um
passo para trás assim que Cooper se levantou, limpando a grama da bermuda.
— Você sabe que eu não dou a mínima. — Ele abriu um sorriso largo.
— Vou te dar cinco segundos de vantagem.
— Isso não pode ser real — Hannah reclamou, aflita. — Luke, você não
quer cair na piscina a essa hora da madrugada, quer?
— Eu quero te derrubar lá dentro. Cair é circunstancial — ele
respondeu.
Então, começou a desabotoar a camisa que vestia e sorriu ao ver Hannah
olhar descaradamente para sua barriga.
— Parece que você aproveitou bem seus cinco segundos — ele disse,
jogando a peça no chão e rindo ao vê-la corar e xingar baixo.
— Você não vai fazer isso.
— Ah, não? — ele perguntou, abraçando-a antes que ela pudesse correr.
Hannah soltou o ar pela boca, com o rosto quase encostado no peito de
Luke. Ele riu ao ouvi-la grunhir.
— Você vai me odiar se eu fizer? — perguntou, divertido.
— Com toda certeza.
Ele abriu um sorriso largo.
— Você está mentindo.
— Eu não duvidaria.
Luke sorriu, acariciando a bochecha de Hannah devagar, enquanto sentia
a respiração dela contra a sua.
— Tarde demais — ele sussurrou, puxando-a para dentro da piscina sem
aviso.
Soltou-a debaixo da água, e os dois emergiram juntos. Embora o
conhecesse havia anos, Hannah ainda assim parecia chocada. Ela espirrou
mais água nele, xingando alto ao vê-lo gargalhar.
— Eu não acredito que você fez isso! — reclamou, passando as mãos
nos olhos. Luke se aproximou, encarando-a de perto.
— Achei que você soubesse com quem estava lidando — disse, achando
graça.
— Babaca — ela resmungou.
— Você está adorando.
— Nossa, tem razão. Estou achando o máximo ter sido jogada dentro de
uma piscina e precisar tomar banho e secar meu cabelo às quatro da manhã —
Hannah ironizou.
— Ah, pare de fingimento. — Luke riu. — Vamos combinar uma coisa?
— Não — a garota retrucou, e Luke rolou os olhos, dando risada.
— A partir de agora, nós só vamos falar a verdade um para o outro.
Mesmo que sejam verdades difíceis de engolir — ele propôs, olhando-a nos
olhos. — Por alguma razão, ser sincero não é tão difícil quando é com você.
E sei que você acha o mesmo.
Hannah pareceu ponderar por um instante.
— O que te leva a crer que eu ainda queira conversar com você depois
disso?
— Você ainda está aqui — ele respondeu, de maneira óbvia, e viu
Hannah lutar para esconder um sorriso.
— Você adora falar comigo, não é? — ela provocou, e Luke deu de
ombros.
— Sim — respondeu, na lata, e viu o queixo de Hannah cair. — Não sei
o motivo, mas sim.
Ela sorriu de canto. Algo em sua expressão dizia a Luke que estava
curiosa e se sentindo desafiada ao mesmo tempo. Talvez ele se arrependesse
daquela proposta muito rapidamente, mas estava entretido demais para pensar
nisso.
— Você está se divertindo comigo aqui, às quatro da manhã, dentro da
piscina.
Hannah bufou, derrotada.
— Talvez.
— Hannah.
— Sim — ela disse, vendo-o sorrir. — Isso é ridículo — completou,
fazendo menção de que iria sair da água, e então ouviu Luke limpar a
garganta.
— Eu larguei a faculdade porque não posso ser um engenheiro como
meu pai quer que eu seja. Ele ia se desapontar, então eu peguei a saída mais
fácil, que era jogar tudo para o alto — ele confessou, vendo o interesse no
olhar de Hannah. — É isso que eu costumo fazer. Se eu percebo que vou
falhar em alguma coisa, eu desisto. — Ele fez uma pausa, dando um sorriso
melancólico. — Você não pode perder se não entrar para jogar — disse, por
fim.
— A gente não podia ser mais diferente. — Ela riu, estupefata. — Mas
eu acho que isso é uma coisa boa. Talvez sermos tão opostos nos ajude a ter
um pouco de perspectiva.
— Sobre o quê?
— Sobre o que a gente quiser.
Ficaram um tempo em silêncio. Hannah assistiu a Luke boiar de costas
por alguns segundos e o empurrou para que afundasse. Ela riu ao vê-lo
xingar, assim que voltou para a superfície.
— Eu queria que Brian tivesse lido sua carta da aula de literatura, não a
minha. E não pelo motivo que você deve estar pensando — Hannah
confessou. — Às vezes é difícil compreender como você se sente em relação
a mim.
Luke assentiu, se aproximando.
— Deve ser porque, às vezes, eu mesmo não entendo. — Ele fez uma
pausa, então abaixou o tom de voz, sem desconectar o olhar do dela. — Eu
queria ter te beijado naquela festa.
Hannah piscou algumas vezes, atônita. Seu coração tinha ido de zero a
cento e vinte quilômetros por hora em questão de segundos. Luke ainda
estava olhando para ela, ali, a um sopro de ar de distância. Ele e aquele corpo
maravilhoso que tinha adquirido no último ano, fazendo sabe Deus o quê.
Ela soltou o ar pela boca.
— E por que não beijou? — perguntou, num ímpeto de coragem.
— Porque eu não sabia se você queria — ele respondeu, meio achando
graça, meio contrariado. — Você confunde a porra da minha cabeça, Hannah
Lane. E eu não entro em quadra sem ter certeza.
— A gente não pode ter certeza de tudo. Às vezes, é preciso arremessar
para a cesta mesmo sem saber no que isso vai dar. — Hannah fez uma pausa,
sustentando o olhar de Luke.
— O que você quer dizer com isso?
— Que você deveria ter beijado — ela respondeu, aproximando a boca
do ouvido de Lucas, e ele a encarou demoradamente assim que ela voltou
para perto dele.
— Talvez eu queira te beijar agora — ele disse, baixinho, embrenhando
a mão pelos cabelos molhados da garota. Beijou seu pescoço e sorriu ao ver
aquela parte arrepiar. Então, encarou-a de volta.
— Só talvez? — ela perguntou, com um fiapo de voz.
Hannah deu um pulo ao ouvir o portão automático começar a abrir.
Encarou Luke com os olhos arregalados, como quem saía de um transe.
— Acho que os caras chegaram — ele disse baixo, e Hannah se
desvencilhou dele, indo até a borda da piscina. — O que você está fazendo?
— Eu não quero que eles nos vejam aqui — ela respondeu, quase
escorregando no deque.
Lucas a seguiu. Deram a volta na casa, e ele a segurou pelo braço antes
que ela sumisse pela porta dos fundos.
— Eu não tinha terminado — ele disse, com um sorriso malicioso, e
Hannah ficou na ponta dos pés, lhe dando um beijo no canto da boca.
— Talvez essa seja a noite em que você queria muito jogar, Luke, mas o
técnico resolveu deixá-lo no banco de reservas — ela respondeu, divertida.
— Hannah — ele suplicou, com a voz arrastada, recebendo um sorriso
de volta.
— Boa noite, Luke.
Capítulo 6
Hannah se esticou em uma espreguiçadeira em frente à piscina,
escutando apenas parcialmente a história que Ellie contava. Alheia ao que
havia acontecido meras horas antes, a amiga havia entrado em seu quarto
como um furacão pouco depois das dez da manhã, já de biquíni, pronta para
arrastá-la para o sol. Queria socá-la, mas não tinha forças nem para isso.
Havia dormido pouco mais de três horas aquela noite. Depois do
momento que tivera com Luke na piscina, precisara tomar outro banho e
secar o cabelo para se deitar. Embora estivesse exausta, não conseguira
pregar os olhos por mais de uma hora e até assistira ao sol nascer pelas
enormes janelas de vidro em frente à sua cama.
Seu coração acelerava só de lembrar o que quase acontecera naquela
madrugada, fazendo suas mãos gelarem. Hannah quase nunca agia por
impulso, calculava sempre suas ações. Até quando era irresponsável em uma
festa do colégio ou fazia alguma besteira – afinal, não era de ferro –, sempre
tinha cem por cento de certeza do que decidia fazer.
E isso não parecia acontecer quando ela estava com Lucas, o que a
deixava perplexa. Em questão de minutos, se via falando sem filtro sobre
assuntos que raramente abordava até com suas melhores amigas. Como se
isso não bastasse, ainda agia sem pensar, movida por qualquer coisa que não
fosse seu cérebro.
Se recusava a acreditar que aquilo fosse seu coração. Talvez, como um
cara, estivesse aprendendo a pensar com as partes baixas.
Depois de perder uma hora sorrindo para o teto e ficando mortificada no
segundo seguinte, pensando no que tinha feito e no que aquilo significava –
para ela e, principalmente, para ele –, acabara sendo vencida pelo cansaço.
No entanto, não contava com as intenções de Ellie de tomar sol a manhã
inteira.
Ajeitou os óculos escuros, sonolenta, ouvindo Ellie falar algo sobre os
dormitórios de Harvard. Becky estava batendo um papo animado com Dylan
dentro da piscina. Oliver e Mia haviam saído, e, até onde ela sabia, Liam
tinha passado mal depois da balada e ainda estava querendo morrer na cama.
Nem sinal de Luke.
Não que ela estivesse o esperando, era claro, mas estava curiosa para
saber o que iria acontecer. Não fazia ideia de como lidar com ele após quase
se beijarem ali mesmo.
O que, diabos, isso significava?
— Ah, inferno — murmurou para si mesma, e Ellie apertou os olhos
contra a claridade, encarando-a.
— O que disse? — perguntou, e Hannah deu graças aos céus por estar
tomando sol para poder justificar o rubor que certamente tinha surgido em
seu rosto.
— Nada, amiga. Tinha um bicho em mim — mentiu, se ajeitando na
cadeira.
Ellie não pareceu prestar muita atenção na desculpa, com o olhar
vidrado em algo atrás dela. Hannah assistiu à amiga sorrir e levantar.
— Bom dia, Luke — ela disse, e Hannah apertou os lábios em uma linha
fina, com o coração acelerado.
Soltou o ar pela boca, se preparando para o que quer que estivesse por
vir. Ainda não tinha decidido como se sentia a respeito do que acontecera
naquela madrugada, portanto, preferiu não se mostrar muito interessada.
Continuou deitada, plena, como se nada estivesse acontecendo. O ouviu
cumprimentar Ellie, que perguntou se ela queria algo da cozinha antes de se
afastar.
Luke pareceu demorar uma eternidade para surgir em sua frente, se
esticando na cadeira onde Ellie estivera um minuto antes. Ele a encarou com
um sorriso divertido.
— Bom dia, docinho. Dormiu bem?
Hannah abaixou os óculos escuros por um instante, olhando-o de volta.
Lucas usava apenas uma bermuda azul-turquesa de banho e óculos escuros.
Seus cabelos estavam uma completa desordem, provando que ele havia
apenas rolado para fora da cama e parado ali ao seu lado.
Ainda assim, ele estava maravilhoso. Por Deus, o que estava
acontecendo?
Ela voltou os óculos escuros para o lugar, olhando para o céu.
— Você está animado demais para esse horário — retrucou, e Luke
franziu o cenho, achando graça.
— É quase meio-dia.
— Ellie me acordou às dez — disse, ouvindo a risada inconfundível de
Luke.
Ele se sentou, apoiando um braço na espreguiçadeira onde Hannah
estava deitada. A garota virou a cabeça, surpresa com a proximidade de seus
rostos.
— Acho que você precisa de amigas melhores — Lucas disse, com um
sorrisinho malicioso. Então, abaixou o tom de voz. — Ou, quem sabe, talvez
você deva parar de ficar tomando banhos de piscina às quatro da manhã.
Hannah chacoalhou a cabeça, prendendo o riso.
— Estou te odiando agora. Você sabe que eu não vou te perdoar por
isso, né? — ela respondeu, mas algo em seu tom de voz e em seu meio
sorriso entregava que estava brincando. Luke deu uma risada baixa.
— Primeiro, achei que tínhamos concordado que não iríamos mais
mentir um para o outro — ele retrucou, divertido. — Segundo, não me
lembro de ter pedido desculpas por ter feito o que fiz.
— Pois deveria.
— Por quê? Você vai se vingar de mim? — ele provocou, tirando os
óculos escuros. — Estou doido para ver isso. Hoje, no mesmo horário?
Hannah sentiu a nuca arrepiar com a proposta, mesmo debaixo do sol
quente. Ele estava falando sério?
Ela o encarou, erguendo uma sobrancelha por trás dos óculos.
— Por que eu faria isso? — perguntou e quase caiu da cadeira com o
sorriso espetacular que Luke lhe deu em resposta.
— Porque nós dois sabemos que você só faz o que você quer. E que esse
é exatamente o caso.
— Você não deveria dizer isso com tanta certeza.
Luke aproximou a boca do ouvido dela.
— E, ainda assim, é justamente isso o que estou fazendo — ele
sussurrou, afastando-se com um sorriso vitorioso. — Se eu estiver errado, é
só você não aparecer.
— Você sabe que há uma chance imensa disso acontecer, não sabe?
— É claro. Você é mais teimosa do que uma mula.
— Luke! — ela reclamou, socando seu braço, enquanto ele gargalhava.
Então, Hannah assistiu ao garoto se levantar e parar um instante em frente à
sua espreguiçadeira.
— Prove que eu estou errado, então... docinho.
Antes que Hannah pudesse responder, Luke correu pela pequena
distância que estava da piscina e, abraçando as pernas, se jogou dentro dela.
A garota deu um gritinho ao ser atingida com os espirros de água, pulando de
pé em seguida.
— Puta merda, Luke! — ela xingou. — Não acredito que você fez isso!
Ele sorriu após limpar o rosto com as mãos.
— Te molhei? — perguntou, com a expressão mais descarada do
mundo, e Hannah se viu dividida entre acertar um copo na cabeça dele ou dar
risada. — Desculpe. Parece que ultimamente tudo o que eu faço é te deixar
molhada — finalizou, com uma piscadela.
Hannah sentiu o queixo cair, chocada com aquela resposta.
— Você poderia fazer um esforço para não soar tão pervertido —
retrucou, recebendo um sorriso angelical de volta.
— É isso mesmo o que você quer?
— Desde quando você se importa com o que eu quero? — ela
perguntou, deixando-o sem resposta. Então, devolveu-lhe um sorriso
vitorioso, vendo Becky se aproximar com uma toalha na mão.
A ruiva olhou de Luke para Hannah e repetiu o gesto. Assim que Luke
se afastou para encontrar Dylan na outra extremidade da piscina – não sem
antes dar uma olhada sobre o ombro –, Becky deu um sorriso malicioso.
— O que está acontecendo com vocês dois? — perguntou, desconfiada.
Hannah agradeceu mentalmente por ter escolhido aqueles óculos escuros
enormes para compor o look da manhã. Era impossível enganar Becky.
Quando estava interessada, a amiga não perdia em nada para um agente do
FBI.
A garota não fazia a menor ideia de como deveria responder àquela
pergunta, quando nem mesmo entendia o que estava ocorrendo. Tinha
dormido poucas horas, ficado sob o sol e estava emocionalmente perturbada,
tanto com as coisas que Luke vinha falando quanto com as gotas de água que
escorriam pelo peitoral dele naquele exato momento.
Ugh. Aquilo era patético.
Chacoalhou a cabeça, afastando o pensamento e seus olhos de Luke.
— Nada, ué. — Deu de ombros, fingindo estar despreocupada. — Como
você pôde ver, dois minutos atrás, ele continua o mesmo moleque babaca...
que se joga na água para molhar os outros, como um imbecil! — ela disse um
pouco mais alto, mas Luke nem pareceu ouvir.
Hannah voltou seu olhar para Becky, que estava de braços cruzados e
com um sorrisinho desafiador.
— É mesmo? — Becky perguntou e, ao ver que a amiga iria responder,
seguiu falando. — Porque, ontem à noite, eu levantei para tomar uma água e
tive a impressão de ter visto vocês dois bem ali, ó. — Ela apontou para a
borda oposta da piscina. — Luke estava, inclusive, sem camisa, indo em sua
direção. Imagino que para um banho de piscina noturno. — Becky fez uma
pausa. — Não é curioso?
Hannah sentiu que iria engasgar com a própria saliva. Quando tinha
fugido da piscina para que Dylan e Liam não os vissem na volta da balada,
nem chegara a considerar que outra pessoa pudesse ter feito isso – e, para
piorar, que essa pessoa fosse Becky.
— Minha nossa, Becky. Parece que você escreveu uma fanfic, hein? —
Hannah retrucou, dando uma risada meio esquisita.
Que droga, Hannah. Aja naturalmente.
Suspirou, tentando organizar seus pensamentos em três segundos antes
que Rebecca voltasse a falar.
— Eu estava, sim, aqui na piscina — Hannah começou a dizer, com a
voz mais firme que conseguiu. — E, quando Lucas chegou da balada, ele
parou para me infernizar.
Encarou a amiga, que não parecia impressionada.
— Para te infernizar?
— Sim. Esse idiota — ela cuspiu as palavras de qualquer jeito. —
Acredita que ele queria me jogar dentro da água em plena madrugada? Fiquei
puta.
Becky riu.
— E conseguiu?
— Claro que não. Eu fugi a tempo — Hannah respondeu, deitando na
espreguiçadeira. Becky a encarou de cima.
— Fico feliz que tenha conseguido. Seria mesmo um absurdo ele fazer
isso. — Ela chacoalhou a cabeça, fingindo indignação. Então, se deitou na
outra espreguiçadeira e abriu uma revista. Antes que Hannah pudesse respirar
normalmente, a ouviu acrescentar: — Ah! Dylan me contou uma coisa
engraçada agora há pouco.
— O quê? — Hannah perguntou, hesitante.
— Liam quase morreu quando chegaram em casa ontem — Rebecca
jogou a informação, e Hannah arregalou os olhos, encarando a amiga.
— Quê? Como assim?
— Pois é, menina — ela disse, virando as páginas da revista
preguiçosamente. — Ao que parece, ele escorregou na escada, que estava
toda molhada. Então, Dylan acendeu a luz e viu um rastro de água da porta
dos fundos até lá. Uma loucura. — Becky abaixou os óculos, encarando
Hannah nos olhos. — Por sorte, ele está vivo. Achei mesmo um perigo
alguém ter deixado tudo molhado — ela disse, com um sorriso triunfal ao ver
a expressão atônita de Hannah.
Ah, ela estava ferrada.
Você vai usar esse vestido, hoje à noite, para o nosso banho de piscina?
Gostei. ;)
Aliás... Onde você está? Estou na orla com os caras e vi suas amigas na
praia, mas você certamente não está aqui.
*
Hannah avistou Lucas e Liam sentados perto da piscina assim que
desceu para o térreo. A conversa com Becky tinha feito sua cabeça e seu
peito doerem. Tinha despejado sobre a amiga várias coisas que não deveria,
especialmente por não acreditar nelas. Não sabia como se sentir a respeito de
Luke, mas não o julgava por suas escolhas de vida. Quem era ela para fazer
isso?
Passara bons minutos encarando o teto, sem conseguir respirar direito.
Estava se sentindo um lixo completo e tinha mandado uma mensagem para
Lucas – apenas fazendo uma gracinha sobre cactos –, mas ele não
respondera.
Liam abriu um sorriso enorme ao ver a amiga se aproximar.
— Minha nossa, Hannah, você quer matar alguém hoje? — disse, assim
que ela chegou mais perto.
Hannah sorriu, olhando de soslaio para Luke, que estava mexendo no
telefone.
— Talvez — respondeu, e Liam assentiu.
— Então você fez direitinho. Só não caí duro aqui porque já estou
acostumado com sua beleza — ele disse, levantando para abraçar a amiga.
— Obrigada, Liam. E você também está maravilhoso.
— Curtiu? — Ele sorriu, satisfeito, dando uma voltinha. — Estou
tentando uma vibe meio Michael B. Jordan. Já tenho o magnetismo sexual, os
tênis e a vontade, só me falta a barriga e o dinheiro.
Hannah gargalhou.
— Quem é Michael B. Jordan perto de Liam Johnston, por favor?
— É por isso que eu te amo — Liam disse, sorrindo.
— Liam, corre aqui. — A voz de Dylan ecoou pelo jardim.
Liam suspirou, fingindo estar exausto.
— Preciso escolher os tênis do Dylan — disse, arrancando uma risada
da amiga.
— É sério?
— Acredite se quiser. Esses garotos brancos não sabem de nada —
disse, com uma piscadela, correndo pelo jardim.
Hannah suspirou, encarando Luke. Ele ainda estava sentado, olhando
seu feed do Instagram até receber um delicado chute na canela. Soltou o ar
pela boca, levantando.
Assistiu a Hannah olhar por sobre o ombro e, depois de se certificar de
que ninguém estava por ali, sorrir em sua direção.
— Você fica bem de vermelho — ela disse, vendo a camisa xadrez do
rapaz. — Acha que o bar é grande o suficiente para escaparmos uns minutos?
— Ela fez uma pausa, parecendo sem graça. — Para conversar, quero dizer.
Luke riu, chacoalhando a cabeça.
— Você é inacreditável.
Hannah franziu o cenho, confusa.
— O que foi? — perguntou, olhando de novo para trás e se
surpreendendo ao ver que ainda estavam sozinhos. Ao ouvir outra risada de
escárnio, arqueou uma sobrancelha, impaciente. — Luke! O que foi?
— Pare de se fingir de santa, pelo amor de Deus. Você sabe bem do que
eu estou falando — ele disse e, antes que pudesse ser interrompido,
acrescentou: — Não faço a menor ideia do tamanho do bar, Hannah, mas
sugiro que você fique na sua e me deixe em paz. Hoje à noite e para o resto
da vida, se for possível.
Hannah assistiu, com o coração na boca e o queixo caído, a Luke
marchar para dentro da casa. Demorou alguns segundos para acordar e, sem
ter certeza de que aquilo realmente estava acontecendo, correu atrás dele.
— Você pirou? — Ela entrou na sala, já falando, vendo-o parar no meio
da escada.
Liam, Ellie e Becky estavam ali, mas ela não se importou. Seu sangue já
estava correndo rápido demais pelas veias, o que não costumava ser um bom
sinal quando o assunto era Lucas Cooper.
— O que, diabos, eu fiz para você? — ela falou mais alto, caminhando
até a escada.
Luke olhou para o teto, buscando forças para responder, e praguejou
entre dentes ao voltar a encará-la.
— Eu não sei, Hannah. Talvez seja apenas a sua existência. Talvez eu
não suporte que você precise que o mundo gire ao seu redor — ele cuspiu as
palavras, irado. — Mas também pode ser que eu tenha desistido de ser
bonzinho. Não é isso o que sempre faço?
Hannah deu um passo para trás, sem desviar o olhar de Luke. Abraçou a
si mesma, mortificada. Ele tinha escutado.
Lucas tinha escutado sua conversa com Becky.
— Posso ver pela sua expressão que você entendeu o problema, não é,
docinho? — ele disse, irônico. — Agora faça o favor de me deixar em paz.
Hannah ouviu Liam e Ellie falarem alguma coisa atrás dela, mas não
conseguiu distinguir o quê. Em choque, se viu correndo de salto escadaria
acima, com o coração batendo nos ouvidos e um torpor se formando na
garganta.
— Eles vão se matar! — Ellie disse, assim que a amiga terminou de
subir as escadas.
— Que merda, não aguento mais isso. — Liam bufou, indignado. — Eu
vou até lá.
— Não! — Becky exclamou, afoita, segurando o garoto pelo braço.
Quando os dois amigos a encararam, confusos, ela soltou o ar pela boca. —
Deixe que eles se resolvam.
— Mas isso nunca deu certo. Os dois parecem crianças quando estão...
— Eu sei — Becky interrompeu Liam, olhando para a escada. — Mas
não podemos continuar consertando qualquer burrada que eles resolvam
fazer. Os dois precisam se entender por eles mesmos, sem a nossa
interferência.
Liam arqueou uma sobrancelha, encarando a ruiva.
— Por que você está dizendo isso? Você sabe de alguma coisa?
Ela sorriu, dando de ombros.
— Apenas confie em mim — disse, com uma piscadela. — Vamos para
o bar.
— Mas, Becky... — Ellie começou a falar, preocupada.
— Para o bar, Ellie. — Ela puxou a amiga pela mão até a porta de vidro.
— Hoje esses docinhos vão aprender a se resolver sem nós.
Não acredito que esse cara teve a pachorra de te mandar uma cantada
barata dessas, hahahahahahaha.
Finja que está indignada e diga que irá ao banheiro. Me encontre atrás
do bar em dez minutos. ;)
*
— Estou falando sério, cara. — Luke se virou para Liam, jogando uma
toalha sobre o ombro ao descer do carro. — Considerando que tudo o que
tinha planejado deu absolutamente errado, nunca estive em um encontro que
deu tão certo.
Luke não se esqueceria daquela noite tão cedo. Embora achasse que ela
ficaria marcada em sua mente como algo ruim, ver Hannah embarcar em um
encontro improvisado e assumir que queria passar aquele tempo ao seu lado
fez tudo valer a pena.
Não se lembrava de já ter se sentido tão confortável em um primeiro
encontro. Os dois tinham a liberdade de fazer e falar o que bem entendessem,
e, embora só tivessem estabelecido benefícios a seu relacionamento poucos
dias antes, ele sentia como se estivessem juntos havia muito mais tempo.
Aquela sensação era nova e tinha o pegado desprevenido, mas, para sua
surpresa, não o assustava nem um pouco.
— Ficamos sozinhos por horas, finalmente, em um dos lugares mais
bonitos que já vi — Luke começou a listar, encarando Liam de lado. —
Comemos e bebemos, demos risada, rolamos nas pedras. — Ele riu. — Até
tiramos algumas selfies. Hannah disse que preferiu nosso encontro assim do
que o que eu tinha planejado. E eu concordo com ela.
Liam sorriu, satisfeito.
— É realmente surpreendente.
— O quê?
— Vocês dois. Quer dizer, eu sempre imaginei que fossem ficar juntos,
mas por uma questão de tesão, para dar um jeito nessa tensão absurda. — Ele
riu, tirando os óculos escuros. — O fato de que vocês dois estão se dando
bem e passando um tempo juntos é uma grande surpresa.
— Para mim também — Luke concordou.
— Hannah me disse que vocês são “amigos com benefícios”. — Liam
achou graça, fazendo aspas com os dedos. — Isso foge muito do contexto que
eu esperava.
— Mas acho que é uma boa definição. — Luke riu. — Ainda estamos
nos conhecendo. Quer dizer — ele fez uma pausa, mordendo o lábio —, a
gente se conhece há quase dez anos, mas só agora está deixando de ser idiota,
eu acho.
— Bom, fico feliz de fazer parte disso — Liam disse, passando o braço
por cima do ombro do amigo. — Vocês são o casal que eu não sabia que
precisava, mas agora estou shippando.
Luke apertou os olhos, dando risada.
— Sossega, cara.
Os dois passaram pelo bar e pediram drinques, enquanto tentavam
avistar em qual barraca o grupo tinha escolhido se abrigar em mais um dia de
sol. Tinham ficado para trás porque Liam chegara muito tarde do encontro, e
Luke não podia aparecer ao mesmo tempo em que Hannah na mansão se não
quisesse levantar suspeitas.
— Acho que eles estão ali. — Liam apontou para um grupo bem
adiante, enquanto os dois andavam pelas pedras entre os guarda-sóis.
Luke colocou a mão na testa e apertou os olhos, se amaldiçoando por ter
esquecido seus óculos escuros. Viu Dylan e Ellie jogando vôlei mais adiante,
Oliver e Mia dividindo uma espreguiçadeira e Becky tomando um drinque,
conversando com uma garota e um cara que ele nunca tinha visto.
A poucos passos deles, Hannah travava uma conversa animada com um
moreno alto e atlético, rindo e curvando a cabeça para trás. Jogou o cabelo e
tocou o braço dele para dizer alguma coisa, e Luke estreitou o olhar,
apertando os lábios em uma linha fina.
— O que f... — Liam não terminou a frase, olhando para o mesmo lugar
que o amigo. — Ah. Quem são aquelas pessoas? — Ele disfarçou e, ao ver
que Luke não iria responder, soltou o ar pela boca. — É só um cara. Não
significa nada.
— Ei — Luke o interrompeu, caindo na real. — Falei alguma coisa?
— Mas...
— Escute, Liam, nós somos amigos com benefícios, não somos? —
Luke tentou sorrir, dando de ombros. — Ela está no direito dela de conversar
com quem quiser — ele disse, caminhando até o grupo.
— Por que eu acho que essa história não vai dar certo? — Liam falou
baixinho e viu Luke se virar para encará-lo.
— O que disse? — ele perguntou, confuso.
— Nada, não, cara. Vamos logo até lá.
— Você é muito ruim nisso — Lucas disse, rindo ao ver Oliver xingar
baixo, olhando para a mesa de sinuca.
Depois de terminarem seus afazeres, tinham resolvido relaxar na sala de
jogos e aquela era a terceira partida seguida que Luke vencia.
— Bom, eu sou melhor que você em muitas outras coisas. — Oliver fez
uma careta, arrancando uma risada do amigo.
— Que ótima resposta. Você precisa ter umas aulas com a sua irmã —
ele disse, despreocupado. Oliver não pareceu captar nada estranho no
comentário, sorrindo feito um idiota para a porta.
Lucas se virou e sorriu ao ver Mia se aproximar.
— Aí está você — ela disse, beijando rapidamente os lábios de Oliver.
— Onde você estava?
— Conversando com as meninas e o George — ela disse, sem ver Lucas
rolar os olhos.
Ele tinha esquecido a existência daquele cara na última hora, apenas
para ter notícias dele sem pedir por isso como prêmio. Recolheu seu celular e
a garrafa de Coca-Cola que tinha deixado na borda da mesa, pronto para uma
saída estratégica, quando seus ouvidos voltaram a focar no que Mia contava
para o namorado.
— O cara é um sonho, com todo respeito. — Ela riu da expressão de
Ollie. — E acho que ele está babando pela sua irmã.
Lucas piscou algumas vezes, paralisado onde estava. Por mais que
quisesse sair dali e não escutar o resto da história, não conseguia mover um
músculo para fazer isso.
— É sério? — Oliver fez uma careta. — Mas ele é... velho.
— Ele tem vinte e dois anos, Ollie — Mia respondeu, achando graça.
— E minha irmã tem dezoito.
— Bom, eu tenho vinte e um e você, dezenove — Mia respondeu de
prontidão, vendo Oliver bufar. — Além do mais, qual o problema? Ele é gato
e ela é solteira. Não vejo mal algum em uma aventura antes que cada um
volte para o seu país.
— É porque não é com a sua irmã — ele respondeu, emburrado,
arrancando uma gargalhada da namorada.
— Pare de ser machista. Sei que você não está preocupado com a idade
deles. Sua irmã não precisa ser salva por você, nem por ninguém — Mia
retrucou. — Lembre que é um direito dela beijar as bocas que quiser.
— Eu ainda tenho um longo caminho de aceitação a percorrer nesse
assunto, amor — Oliver confessou e fez uma careta, parecendo exausto.
Lucas percebeu apenas ali que estava com o olhar vidrado no casal e sua
conversa, sem sequer disfarçar. Tentou olhar para o celular, mas quase via
através do aparelho.
Vamos lá, Oliver, faça a pergunta que eu e você queremos fazer. Vamos
lá, cara.
— E ela quer ficar com o tal George? — Oliver questionou e Lucas
quase riu da conexão mental inesperada, mas seu estômago dava cambalhotas
dentro do corpo.
Só teria paz ao ouvir a resposta de Mia. Se pegou apertando os lábios em
uma linha fina, nervoso.
— Não conheço sua irmã tão bem para saber — ela respondeu, vaga. —
Mas, se quer minha opinião, não vejo motivos para não estar. Eles têm tudo a
ver. Acho que fiquei meia hora escutando os dois falarem de teatro sem parar
— Mia disse, rindo. — E ainda tem o bônus deles serem estupidamente
lindos, então acho que temos o pacote completo.
— Ah, que ótimo! — Oliver deu um pulinho com o calcanhar, fingindo
empolgação.
— Pare de ser idiota. — Mia riu, beijando-o no rosto em seguida.
Ela tinha razão, Lucas concluiu. Tudo bem, Mia não estava se referindo
a ele, mas tomaria aquele conselho para si. Precisava parar de ser idiota.
Precisava parar de se preocupar com o que Hannah fazia ou deixava de fazer.
Precisava engolir a raiva que sentia e dar um jeito de fazer seu coração
desacelerar.
Eram amigos com benefícios, no fim das contas, e ele estava agindo
como um tonto enquanto Hannah claramente entendia o significado do termo
e pretendia segui-lo à risca. E ele apenas se recusava a deixar Hannah passá-
lo para trás. Tinha que pensar como ela e aproveitar as férias da mesma
forma.
*
Tinham resolvido ir a pé até a padaria, onde comeram croissants de
chocolate e compraram guloseimas para os amigos, que acordariam exaustos
e talvez bravos por terem organizado levemente a casa sem a ajuda dos dois.
Precisavam se redimir. A descida para o local tinha sido uma delícia, mas
tinham se esquecido de calcular que teriam que subir uma ladeira enorme na
volta, e Hannah ria da torrente de reclamações que Lucas despejava, dizendo
que estava prestes a morrer e deixá-la viúva tão jovem.
— Você é muito ridículo. — Ela riu, tomando um gole de água enquanto
apertava o controle remoto para abrir o portão. — Era de se pensar que
exercícios físicos fizessem parte da sua rotina, já que você agora tem esse
corpinho aí.
— Você adora objetificar meu corpo, né? — ele brincou, bebendo o
resto do líquido da garrafa. — Em minha defesa, eu bebi muito ontem e já fiz
muito exercício de madrugada... Três vezes — disse, presunçoso, e a garota
rolou os olhos, rindo.
— Eu fiz a mesma coisa e não estou reclamando. — Ela sorriu,
vitoriosa.
— Isso quer dizer que estamos a caminho do quarto round?
— Se você conseguir respirar até lá.
— Não me desafie, docinho — Lucas advertiu, com um sorriso de canto.
— Por que não? O que você vai fazer?
— Jogar você de roupa na piscina, porque está calor e eu quero te punir.
Aí, quando estivermos quites, abrir um novo round.
— Você não ousaria — ela disse, dando um gritinho ao ver a expressão
de Luke e disparando jardim adentro. — Agora você está disposto a correr?
— Eu falei para você não me desafiar — ele retrucou, alcançando-a.
Hannah viu Luke colocar as sacolas da padaria na grama e fez uma careta,
encarando-o.
— Já disse que você é lindo hoje?
— Não o suficiente — ele brincou, enquanto a garota se aproximava.
— Nunca vi você tão lindo.
— Fale mais, estou estudando perdoá-la — ele disse, enquanto Hannah
o abraçava.
— E você é muito gostoso.
— O que mais?
— Você é tão gostoso que eu prefiro você ao croissant de chocolate —
Hannah sussurrou, com a boca perto da dele.
— Agora já acho que você está mentindo.
— Shhh. — Ela colocou o dedo sobre os lábios de Luke, com um
sorriso. — Não estrague o momento — pediu, e os dois riram antes dele
beijá-la.
Hannah cambaleou para trás, encostando em uma árvore. Seus joelhos
tinham uma mania terrível de ceder com os beijos de Luke, e ela estava feliz
por ter um apoio. Assim que pararam de se beijar, Luke deu uma risada
breve, sem tirar os olhos dos dela.
— Mentirosa.
— Ei! Eu jamais mentiria para que você não... — Hannah parou de falar,
escutando um barulho.
— Hannah!
Era a voz de Ellie. Os dois se entreolharam, e Lucas sorriu, em um claro
incentivo para que ela olhasse para a amiga. Não precisavam mais esconder a
verdade e, pelo que imaginavam, Ellie ficaria muito feliz com a história toda.
Quando Hannah se virou, no entanto, a expressão de Ellie era de pânico
– e, para sua surpresa, sua amiga não estava sozinha. Dylan parecia
igualmente assustado, com os olhos castanhos arregalados enquanto segurava
um espeto de churrasco. Becky fazia uma careta, e a expressão de Liam era
de preocupação. Mia, por sua vez, não dava sinais de entender a cena que
presenciava.
Havia um copo de bebida derramado no chão ao lado de Ellie. Hannah
demorou alguns segundos para entender a expressão desesperada de todos,
quando viu Oliver aparecer por trás de Liam. Dizer que seu irmão parecia
consternado era um eufemismo.
Luke apertou sua mão com mais força, tentando lhe passar alguma
confiança. Hannah pensou em abrir a boca e falar alguma coisa. Queria dizer
algo para Luke, queria caminhar até Oliver e acalmá-lo. No entanto, tudo o
que Hannah escutou a seguir foi o grito de Ellie, um “Ollie, não!”, meio
estrangulado, enquanto via seu irmão correr na direção de Lucas.
Em uma fração de segundo, sua mão caiu ao lado do corpo.
E então Luke estava no chão.
Capítulo 12
Luke definitivamente não estava esperando por aquilo. O murro certeiro
de Oliver próximo ao seu olho tinha o pegado desprevenido, fazendo seu
rosto latejar. Segurou o nariz, sem conseguir expressar reação alguma devido
ao choque.
— Eu vou te matar, seu traidor! — Oliver berrou, se debatendo contra
Liam, que o segurava. — Me solta, Johnston!
Hannah olhou assustada para o irmão, que estava com o rosto vermelho
de raiva. A última vez que tinha o visto assim fora na festa da escola, quando
Brian lera sua carta para o colégio todo e a fizera chorar. Oliver era
superprotetor, o que era igualmente bonitinho e um pé no saco, mas, mesmo
com seu histórico, ela jamais poderia esperar que agisse assim contra seu
melhor amigo.
— Luke! Você está bem? — Ela se ajoelhou, saindo de um transe, e
segurou o rosto dele entre as mãos. Seus olhos estavam ardendo e o corpo
tremendo, e ela se perguntou se era possível morrer tão nova com o coração
batendo naquela velocidade.
Não esperou que Lucas respondesse, no entanto. Sem largar dele, olhou
por cima do ombro, gritando:
— Ollie! Você ficou maluco?
— Eu não estou maluco, porra nenhuma — ele vociferou. — Você que
só pode ter ficado doida!
Hannah deixou que Dylan ajudasse Lucas a se levantar, e ela se colocou
de frente para o irmão, ainda preso contra o corpo de Liam, que suava para
mantê-lo ali. Mia estava em sua frente tentando o acalmar, mas era fácil dizer
que ela não obtinha sucesso.
— Pare de falar assim comigo, Oliver. Eu não tenho cinco anos e não
preciso que você me proteja — Hannah respondeu, irada, mas Oliver não
pareceu dar a mínima.
Ele encarou Lucas, que agora estava de pé.
— Eu nunca esperei isso de você, cara! Porra, você é o meu melhor
amigo! — ele gritou, então xingou alto, virando-se para Liam. — Me solta!
— Ollie, olhe para mim, por favor. — Hannah se aproximou do irmão,
que virou o rosto. — Deixe-me explicar.
— Eu não quero falar com você. Meu assunto é com o Cooper.
Luke passou a mão pelo rosto, sentindo um pouco de sangue escorrer
por seu nariz. Aquilo não era exatamente inesperado, visto que Oliver era um
jogador defensivo de futebol americano. Respirou fundo, encarando o amigo.
— Solta ele, Liam.
— O quê? — Hannah e Mia disseram em uníssono, alarmadas.
Luke olhou nos olhos de Hannah, sentindo o desespero dela a metros de
distância. Se aproximou rapidamente e segurou sua mão de forma quase
imperceptível.
— Vai ficar tudo bem — ele murmurou, para que apenas ela escutasse.
— Luke, não — ela pediu, com a voz suplicante. Aquilo deixou Lucas
inquieto.
Hannah sempre parecia independente e cheia de si, e vê-la vulnerável
daquela forma lhe dava um aperto no peito. Entretanto, não havia nada que
pudesse fazer além de encarar Oliver de frente e torcer para não tomar um
cruzado que acabasse de lhe quebrar o nariz.
— Vai ficar tudo bem — ele repetiu, indo em direção a Oliver. —
Relaxe. Eu não vou fazer nada.
Luke viu pela visão periférica que Ellie e Becky estavam ao lado de
Hannah, abraçando a amiga. Parou na frente de Oliver, que estava tendo uma
conversa acalorada com Liam, que ainda não tinha o soltado.
— Vamos conversar então, Ollie — Lucas disse calmamente, medindo
as palavras. Olhou firmemente para Liam, que hesitou em soltar o amigo,
mas o fez em seguida.
Oliver respirou fundo.
— Você é inacreditável, Cooper — ele disse com desprezo. — É a
minha irmã, porra! — despejou. Hannah ia abrir a boca para intervir, mas
Liam a repreendeu com o olhar.
— Eu sei, cara, mas...
Antes que pudesse terminar a frase, Oliver acertou um soco em sua
barriga, dessa vez com menos força. Ainda assim, Lucas se curvou, gemendo.
Ao ver Liam e Dylan correrem em sua direção, o próprio Oliver deu alguns
passos para trás, chocado consigo mesmo.
— É melhor eu sair daqui — ele disse, caminhando até o portão.
*
Hannah se ajoelhou na frente de Lucas, que estava sentado em uma
espreguiçadeira perto da piscina. Segurou o rosto dele com as mãos trêmulas,
o seu molhado de lágrimas.
— Me desculpa. Me desculpa, por favor — pediu, ainda chorando, e
Lucas acariciou seus cabelos, beijando-a na testa.
— Ei, você não tem que se desculpar por coisa alguma. Não é culpa sua.
— Claro que é minha culpa — ela refutou. — Aquele idiota é meu
irmão, e, se ele não achasse que precisa salvar minha honra ou coisa do tipo,
nada disso teria acontecido.
Luke sorriu, se arrependendo em seguida ao sentir a dor em seu nariz.
— Seu irmão não é um idiota, Hannah. Ele só reagiu de cabeça quente,
coisa que parece bem comum nessa família — ele brincou, vendo a garota
fazer um bico. — Não é culpa sua, nem minha. Acho que nem é do Oliver,
para falar a verdade.
Hannah suspirou, abraçando-o.
— Obrigada por não ter revidado. Sei que não deve ter sido fácil.
— Eu jamais bateria no Ollie, Han. E acho que ele também não bateria
em mim em situações normais — Luke assegurou, acariciando o cabelo da
garota.
— Precisamos levá-lo ao hospital. Você fez seguro de viagem? Eu...
— Ei, não, não precisa — ele a interrompeu, rindo. — Foi só um soco.
Não quebrei nada.
— Seu nariz parece dizer o contrário.
— Está tão ruim assim? — Luke perguntou, pensando em seu rosto
ensanguentado na frente da garota que ele mais queria impressionar, e
Hannah fez uma careta.
— Não, mas eu vou ficar mais tranquila se você for ao hospital.
— Han, eu estou bem.
— Mesmo?
— Juro para você — ele disse, sorrindo ao ver a preocupação de
Hannah. — Eu gosto da ideia de você cuidando de mim.
— É nisso que você está pensando? — Ela riu.
— Sempre.
— Que bom. Porque eu também curto essa ideia. — Hannah o beijou
nos lábios. — Embora eu prefira que você não me mate do coração e evite
esse tipo de cena.
— Prometo tentar.
*
Luke respirou fundo antes de abrir o quarto de Hannah. Sabia que sua
conversa com Oliver devia ter terminado justamente por ter ouvido o barulho
ensurdecedor de uma porta batendo. Ao passar pelo corredor, no entanto, a de
Oliver estava aberta, e ele teve que suprimir o impulso de ir até lá tirar
satisfações – até por não ter certeza do que tinha acontecido.
Hannah chorava na cama, agarrada a um travesseiro. Com o coração
apertado, Luke caminhou até ela, aconchegando-a em seu peito em um
abraço apertado e silencioso. Afagou os cabelos da garota e a beijou na testa,
escutando seus soluços baixinhos. Depois de se segurar por alguns minutos,
se esforçando ao máximo, acabou soltando:
— O que o Oliver falou para você ficar assim? — perguntou, nervoso.
— Porra. Eu vou até lá socar a cara dele de volta para ver se ele aprende a se
comportar.
— Por favor, não — Hannah pediu, olhando-o nos olhos. — Só fique
aqui comigo.
Lucas mordeu o lábio.
— Você quer conversar sobre isso? — perguntou, e Hannah apenas
negou com a cabeça. Ele assentiu, muito embora Hannah já não o olhasse, e a
apertou com mais força. Percebeu, ali, que faria praticamente qualquer coisa
para estancar a dor que ela sentia.
Demorou quase meia hora, mas Luke notou que a respiração
entrecortada de Hannah estava normalizando, e suas lágrimas já tinham
parado de cair. Ela entrelaçou os dedos nos dele, encarando-o com ansiedade.
— Ei... — ela sussurrou para que Luke a olhasse.
— O que foi, linda?
— Promete que você nunca vai me decepcionar?
Lucas franziu o cenho, sem entender.
— Por que o pedido?
— Só prometa.
Ele assentiu, confuso.
— É claro que eu prometo — disse e respirou aliviado ao ver um sorriso
tímido aparecer no rosto de Hannah, depois de tudo.
Ela aproximou a boca da dele, beijando-o delicadamente. Lucas se
surpreendeu com a velocidade em que seu coração acelerou, parecendo
aquecer dentro do peito. Não fazia ideia do quanto estava preocupado até
então. Soltou um suspiro pesado quando Hannah se afastou, acariciando seu
rosto.
— Você pode ficar aqui hoje? — perguntou, envergonhada. — Eu só
quero acordar abraçada com você. Só isso.
Lucas assentiu, com um sorriso. Deitou na cama e a puxou para o seu
peito, abraçando-a. Talvez acordasse sem sentir o braço na manhã seguinte,
mas não dava a mínima. Se Hannah pedisse com jeitinho, faria aquilo todos
os dias.
Anika
Se eu não estivesse vendo fotos esporádicas no Instagram, teria certeza
de que você estava morto. Quando você vai deixar a vida boa de lado e voltar
para cá?
Estou com saudades, sabia? Mas não fique se achando. Talvez eu esteja
bêbada.
— Hey.
Hannah deu um pulo ao perceber que Luke estava atrás dela. Ele a
encarava com um sorriso calmo nos lábios, enquanto segurava a garrafa de
champanhe e as taças.
— Desculpe a demora, meu cabelo não estava ficando do jeito que eu
gostaria — ele disse, sentando na grama. — Você vai ficar aí em pé?
Ao ver que a garota continuava paralisada, Luke franziu a testa.
— Aconteceu alguma coisa?
Hannah torceu a boca de um lado para outro, nervosa. Todo seu ensaio
para declarar seu amor por ele tinha sido deixado para trás, três mensagens
antes, e agora tudo o que ela conseguia pensar era em quem, diabos, era
Anika e sobre o que ela estava falando.
Queria agir normalmente. Queria sentar, olhá-lo nos olhos e confessar
que tinha trazido seu celular por engano. No mundo ideal, apenas avisaria
que o celular estava vibrando e deixaria que ele explicasse, se quisesse.
Provavelmente não significava nada, certo?
Então por que seu coração parecia que ia sair pela boca?
— Hannah? — Luke levantou, fitando-a com curiosidade.
Hannah empurrou o celular dele contra seu peito, com as mãos
tremendo. Ele piscou algumas vezes, sem entender, até olhar para o aparelho
e perceber que ele o pertencia. Então, em uma fração de segundo, viu as
notificações de mensagens de Anika.
Luke soltou o ar pela boca, parecendo desacreditado.
— Peguei seu celular por engano — Hannah cuspiu as palavras,
nervosa.
— Não é isso que você está pensando — ele se defendeu, parecendo
calcular as palavras. Então, colocou a mão no bolso e devolveu o aparelho de
Hannah. — Anika é apenas uma amiga.
Hannah estreitou o olhar, sem dizer nada.
— Estou falando sério. A gente só ficou uma vez, há muitos meses —
Luke disse, se arrependendo ao ver o queixo de Hannah cair.
— Ela obviamente está com saudades, então.
Lucas riu, segurando-a pelos ombros.
— Ela é só uma amiga. Juro. Não tem motivo algum para você ficar
com ciúmes disso — ele acrescentou, segurando-a pelos ombros.
Ela tirou as mãos dele dali, dando um passo para trás. Antes que Hannah
surtasse em sua frente, Luke continuou a falar.
— Anika é holandesa. Ela costumava trabalhar em um hostel em
Amsterdã e viajava o mundo esporadicamente. A conheci em um bar na
Tailândia. Ela estava com um casal de amigos, uma garota brasileira e um
músico holandês, mas eles voltaram para a Europa depois de duas semanas
— disse, olhando-a nos olhos. — Ela tinha conseguido um bico como
garçonete em um bar e me ajudou a conseguir um trabalho lá também. — Ele
fez uma pausa, com uma careta. — A gente só ficou uma vez, bêbados, e eu
percebi que não tinha nada a ver. Então continuamos a amizade — Lucas
disse, sincero. — Essa explicação é suficiente para você? Porque eu posso
continuar falando, se você quiser.
Hannah não respondeu por um instante. Para falar a verdade, mal estava
prestando atenção no que Luke explicava sobre Anika. Tinham se acertado
havia pouco tempo e ela não era ingênua. Sabia que ele tinha um passado,
assim como ela própria, e estava tudo bem – mesmo que isso a deixasse
vagamente enciumada, dada a situação. Luke havia a assegurado de que
Anika era apenas uma amiga, e ela acreditava.
No entanto, a pergunta de Anika sobre uma proposta de trabalho, em
Bali, estava a deixando tonta. Encarou Luke, que parecia ansioso, pronto para
contar toda e qualquer história que tivesse sobre Anika, a fim de fazê-la
entender que eles não tinham nada – quando, na verdade, aquele não era o
problema.
— O que ela quis dizer com “proposta de trabalho”? — perguntou, sem
rodeios, e Luke pareceu finalmente entender o que tanto a incomodava.
Ele voltou o olhar para o celular, já que nem tinha lido direito as
mensagens depois que vira Anika dizer que estava com saudades. Então, a
encarou.
— Não é nada demais.
— Então você não vai se importar de dividir com a classe, não é
mesmo? — ela perguntou, mais ácida do que gostaria. Luke assentiu,
parecendo nervoso.
— Jesse é um surfista profissional que conheci na ilha de Ko Tao. Nos
tornamos amigos, e ele acabou vendo as fotos que eu fazia da minha viagem
e ficou interessado.
Luke parou de falar, estudando a expressão de Hannah. Embora se
orgulhasse de ter se tornado um tipo de especialista em Hannah Lane, não
fazia ideia do que ela estava pensando. E aquilo o deixava nervoso.
Suspirou, continuando.
— Ele me ofereceu um trabalho para acompanhá-lo como fotógrafo em
Bali, onde ele treina, e também em algumas etapas de um torneio de surfe —
respondeu, com o coração na boca.
Hannah o olhou nos olhos pela primeira vez desde que começara a se
explicar. Ficou alguns instantes em silêncio e, quando estava praticamente o
matando de ansiedade, voltou a falar:
— Você aceitou?
Luke deu de ombros.
— Eu ainda não respondi.
— E você pretendia me contar isso quando? — Hannah perguntou, com
a voz afiada como uma faca. Luke baixou a cabeça, em silêncio, ouvindo a
risada de escárnio da garota. — Isso não pode ser sério.
— Deixe-me explicar, Hannah.
— Não, Luke — ela respondeu, exasperada. — Hoje à tarde eu pedi
para que tivéssemos uma conversa sobre o futuro, e você me fez acreditar que
estava tudo certo, tão certo que não precisaríamos decidir nada agora. Se eu
não tivesse visto essas mensagens por engano, quando eu ficaria sabendo
dessa proposta de emprego? Quando você estivesse postando fotos na
Indonésia?
— Ei, eu não aceitei ainda.
— Ainda! — ela frisou, estupefata. — Eu não acredito nisso.
Quando começou a andar em direção à casa, Luke correu, se colocando
em sua frente.
— Hannah, pare com isso. Eu estava falando sério no barco.
— Por que, toda vez que eu estou perto de me deixar levar por nossa
história, alguma coisa acontece, Luke? É como se o universo estivesse
mandando milhões de sinais de que isso não vai dar certo — ela disse, vendo
o queixo de Luke cair.
— Não vai dar certo se você não quiser que dê.
— Ou se você for fazer uma turnê pelo mundo procurando as melhores
ondas — ela cuspiu as palavras, sem pensar.
Luke chacoalhou a cabeça.
— Aonde você vai? — ele perguntou, vendo-a entrar na casa. — Vamos
conversar.
Hannah riu, sem humor.
— Se você pode fugir do inevitável, eu também posso.
— Hannah...
— Boa noite, Luke.
Está acordada?
Por Deus, eram sete da manhã. Luke também odiava acordar cedo e o
fato dessa mensagem já ter chegado significava bastante coisa. Sentiu o
coração aquecer minimamente com isso, embora soubesse ser egoísmo
pensar assim. Talvez estivesse em seu direito.
Com um frio esquisito na barriga e as mãos trêmulas, respirou fundo ao
pegar o aparelho. Era melhor resolver aquela história de uma vez.
Luke bateu à porta meros três minutos depois de ter visualizado sua
resposta. Vestia uma camiseta cinza surrada e uma calça de pijama xadrez,
que parecia ter duzentos anos de idade. Seus cabelos estavam desordenados e,
assim como ela, o garoto também estava com olheiras arroxeadas.
Ele mordeu o lábio ao encará-la.
— Desculpe mandar a mensagem tão cedo.
— Eu já estava acordada — Hannah disse ao abrir um espaço para que
ele entrasse no quarto, fechando a porta atrás de si.
Lucas era o tipo de garoto que se sentia à vontade onde fosse. Quando
começaram a ficar, ele entrava e saía de seu quarto como se fosse dono do
lugar, deitando na cama e mudando o canal da televisão, mexendo nos
produtos em cima da bancada da pia e comendo as balinhas de goma que
Hannah gostava de carregar na bolsa, mesmo que elas estivessem meio
derretidas.
Naquele momento, no entanto, ele estava parado no meio do quarto,
com os braços rentes ao corpo e uma expressão de dúvida no rosto. Hannah
daria risada se a situação fosse outra, mas estava quase tendo um colapso
nervoso, portanto não conseguia. Apenas meneou a cabeça para que ele
sentasse, e, sem dizer uma palavra, Luke a obedeceu.
— Noite ruim? — ele se atreveu a perguntar, e Hannah fez uma careta.
— Péssima.
— A minha também — ele concordou, enquanto apertava uma
almofada, sem olhar de verdade para Hannah. Suspirou e, como quem
tomava coragem, a encarou nos olhos. — Me desculpe por não ter contado
sobre a proposta de Jesse. Sei que parece injustificável, já que eu tive a
chance de falar sobre isso, mas eu não queria estragar nosso momento com
uma conversa dessa. Você tem toda razão em ficar puta.
Hannah concordou com a cabeça. Sabia que seus sentimentos eram
válidos, mas ouvir isso da boca de Lucas tinha toda uma conotação diferente.
Embora brigassem a vida toda, aquele assunto era sério, e ela estava surpresa
com a maneira sensata com que Lucas estava se portando. Embora ele tivesse
seus lapsos esquisitos que a faziam perder a cabeça – como a briga insana na
festa, alguns dias antes –, Luke tinha crescido bastante naquele último ano.
— Nós não temos que escolher o momento para ter conversas difíceis,
Luke. Elas precisam existir — Hannah respondeu, vendo-o assentir. —
Quando você recebeu a proposta?
— Logo que cheguei aqui — Lucas respondeu prontamente. Embora
houvesse confiança em sua voz, sua expressão mostrava que estava com
medo do que aquela afirmação poderia causar. — Jesse me ligou quando eu
estava no aeroporto. Ele não sabia que eu não estava mais na Tailândia e
ficou surpreso ao ouvir que eu estava desembarcando na França. Ele estava
em uma ilha, a ligação estava muito ruim e acabamos desligando sem querer.
— Luke fez uma pausa, estudando a expressão de Hannah. — Até então, para
mim, não havia dúvida alguma. Assim que Jesse voltasse para Bangkok ou
para algum lugar com um serviço de internet melhor, ele me contataria e eu
diria que sim, que queria ser o fotógrafo particular dele durante esse torneio.
Eu tinha muita certeza — ele disse, com um sorriso fraco. — Então ele me
ligou na noite em que eu te prendi no quarto. Eu perdi a ligação porque
estava preocupado com você e fui reparar muitas horas depois. Eu não fazia
ideia do que ia acontecer entre nós, então eu liguei de volta. Mas não
consegui falar.
Hannah engoliu em seco, com as mãos geladas. Seu coração estava tão
acelerado que ela se questionou se Luke podia escutá-lo, mesmo estando a
meio metro de distância.
— Então, quando ele voltou a falar comigo por mensagem, dias depois,
eu já estava envolvido demais com você. Por isso, eu comecei a ignorar as
mensagens, a princípio torcendo para que ele achasse que o problema era a
internet, porque eu não sabia o que fazer. Se ele desistisse de mim, ao menos
eu não precisaria tomar essa decisão sozinho. — Ele riu, nervoso. — As
coisas estavam muito claras antes, Hannah. Mas eu comecei a gostar de
verdade de você, e eu sabia que passar meses viajando estragaria tudo.
Hannah respirou fundo, tentando se controlar. Seus olhos estavam
ardendo, mas ela não queria chorar. Encarou a almofada em seu colo por
alguns instantes, então voltou a Lucas.
— Quando você pretendia me contar?
— Quando tudo estivesse resolvido.
— E se a resolução fosse ir embora, como você acha que eu iria me
sentir?
Luke a encarou, atônito. Ela tinha razão. Se fosse o contrário, ele se
sentiria absurdamente traído com uma história dessas. Ele sentou mais perto
dela, num ímpeto de coragem. Hannah não ofereceu resistência quando ele
segurou sua mão.
— Eu sei que você merece mais do que ouvir minhas desculpas
esfarrapadas por ter trocado de novo os pés pelas mãos, Han. Mas, acredite,
eu jamais fiz isso com o intuito de magoar você. Infelizmente, pode ser que
esse seja meu talento nato. — Ele suspirou, parecendo triste. — Eu nunca me
apaixonei por ninguém antes, então não... — Luke parou de falar, vendo
Hannah encará-lo de queixo caído.
— O que você disse?
— Disse que percebi que estava apaixonado por você — ele reafirmou,
sem rodeios. — E foi isso que complicou as coisas. Eu queria achar uma
maneira de resolver todos os meus problemas e ainda ficar com você, mas
não sabia como fazer isso. Juro, Hannah, eu esgotei todas as possibilidades.
Então, ontem, sem conseguir dormir por causa da nossa briga, eu percebi que
a resposta que eu buscava estava na minha cara o tempo inteiro.
— E qual era a resposta? — Hannah perguntou, com um sopro de voz.
Luke deu um sorriso tímido.
— A resposta, Hannah Lane, é que não importa meu trabalho, ou minha
localização geográfica, ou qualquer outra coisa. Se eu não puder estar com
você, nenhuma outra decisão faz sentido.
Hannah deixou que o canto de sua boca se curvasse em um sorriso.
Quando percebeu, já tinha derrubado uma lágrima solitária, que Luke
enxugou com as costas da mão. Ele não disse nada, apenas a segurou pela
nuca e a beijou no rosto, passando o nariz pela pele da sua bochecha. Então,
encostou a testa na dela e a viu fechar os olhos.
Aquele beijo não foi como nenhum outro. Embora estivessem brigados
por menos de dez horas, havia tanta saudade e alívio naquele gesto que
Hannah sentiu o corpo inteiro arrepiar. Segurou o rosto de Luke, aflita por ter
cada pedacinho dele com ela. Acariciou sua bochecha quando se afastaram e
desviou o olhar, respirando fundo.
— O que foi? — ele perguntou, levantando seu queixo com a mão.
Ao olhar para o rosto de Luke, Hannah se lembrou das poucas vezes em
que enfrentara seu medo de altura. Seu coração pulsava no peito como se
fosse sair pela garganta. Sua boca ficava seca e ela sentia um frio estarrecedor
nos ossos. Não conseguia se mover, pois sua cabeça rodava em todas as
direções.
Ela piscou algumas vezes, voltando a encarar Luke, que parecia
preocupado.
— Você não sabe o quanto eu quis ouvir isso, Luke. Eu passei a noite
inteira sonhando com esse momento — disse, com as mãos trêmulas. — Eu
nunca gostei de alguém o tanto que gosto de você. Ontem, inclusive, eu
estava pronta para dizer que eu te amava — ela disse, evitando olhar para o
rosto de Luke. — Você mudou a minha vida para melhor, e eu mal consigo
lembrar da Hannah que eu era antes de você.
Luke apertou sua mão com mais força, e então ela o encarou. Ele lhe
deu um sorriso, sem dizer nada. Embora estivesse sorrindo, parecia tão
nervoso quanto ela. Hannah soltou suas mãos, enxugando as lágrimas do
rosto. Respirou fundo, e a expressão de Lucas mudou completamente quando
ela abriu a boca.
— Mas eu não quero ser a garota que vai impedi-lo de realizar seus
sonhos — ela disse, vendo Luke morder o lábio e encarar as próprias mãos.
— Você tem um talento enorme, Luke, e essa é uma oportunidade única. Nós
somos novos demais para essa história de largar tudo por amor.
Ele a encarou, perplexo.
— Você realmente acha isso?
— Acho — ela disse, o mais firme que conseguiu. — E isso não diminui
nem um pouco o que eu sinto por você. Eu me odeio por dizer isso, mas não
posso carregar essa responsabilidade.
Lucas levantou, andando pelo quarto.
— Mas fui eu quem decidiu isso. A responsabilidade não é sua.
— Você mesmo disse que jamais pensaria em negar antes de se
aproximar de mim, Luke. — Hannah levantou, caminhando até ele. — Isso é
lindo demais agora, mas, daqui a alguns meses, quando você entrar nas redes
sociais desse cara e perceber que tem alguém fazendo o trabalho que você
queria, você vai se arrepender. E a culpa vai ser minha.
Luke rolou os olhos, depois a encarou.
— Isso não vai acontecer.
— Como você sabe?
— Eu não sei, Hannah — ele disse, exasperado. — Mas, porra, eu estou
aqui dizendo que percebi que nenhum sonho vale mais do que a gente. Se
fosse o contrário, a gente estaria se reconciliando nessa cama agora mesmo.
Hannah suspirou, olhando-o nos olhos.
— Luke... Por que você não propôs que eu largasse tudo e fosse com
você?
Ele franziu o cenho, confuso.
— Porque eu não achei que você fosse aceitar — ele respondeu. Ao ver
que Hannah tinha se aproximado, com uma sobrancelha erguida, soltou o ar
pela boca. — Porque eu não achava justo que você largasse tudo para ficar
comigo.
Hannah sorriu de canto, sem dizer nada. Ele chacoalhou a cabeça.
— É diferente.
— Diferente como?
— Você ainda vai começar a faculdade. Tem um monte de experiências
novas para descobrir. Eu já fiz isso, já joguei tudo para o alto. E poderia jogar
de novo. — Ele se aproximou, segurando o rosto da garota. — Hannah, me
deixe ao menos tentar.
Hannah baixou a cabeça ao ouvir essa súplica. Estava tentando o
máximo que podia se manter firme, mas seus joelhos estavam cedendo. Tudo
o que ela queria era ser tomada nos braços e esquecer aquela conversa, mas
não podia fazer isso. Ela fungou.
— Eu não posso. Mesmo querendo, eu não posso.
Luke se afastou, piscando algumas vezes. Aquele era o soco no
estômago que ele não esperava receber da garota que mais gostava no mundo.
Hannah estava chorando, mas ele estava paralisado. Seus olhos estavam
ardendo, e seu coração acelerado demais.
— Luke, por favor, fale alguma coisa — ela pediu, se aproximando.
— Eu acho que essa é a decisão mais estúpida que você já tomou na
vida — ele disse entre dentes, e Hannah baixou a cabeça.
— Talvez seja — ela concordou. — Mas acho que um dia você irá me
agradecer.
Lucas riu, incrédulo.
— Fale por você mesma.
— Luke...
— É melhor eu ir embora — ele disse, dando um passo para trás quando
ela chegou mais perto. — Te mando um cartão-postal de Bali então, Hannah.
Obrigado por decidir a minha vida por mim.
— Luke, espere.
Ele a encarou, deixando uma lágrima escapar. Assistiu-lhe abrir a boca
algumas vezes e, quando estava prestes a virar as costas e desistir, a ouviu
dizer:
— Me desculpe. Eu espero que um dia você entenda por que eu estou
fazendo isso.
Ele assentiu, com um sorriso fraco.
— Eu também espero.
Hannah não conseguia parar de chorar. Estava com o rosto enterrado nos
travesseiros, soluçando tão alto que Ellie tivera que lhe buscar um calmante.
Sabia que aquela era a decisão certa – não suportaria prender Luke a ela,
sabendo que ele poderia ganhar o mundo –, mas aquilo doía muito. Por Deus,
achava que iria morrer.
Sabia que Lucas ficaria chateado com ela, mas pensara que ele a
entenderia. Não foi isso o que aconteceu, no entanto, e ele acordou a casa
inteira com a força com que bateu a porta do quarto. Quando Liam foi até lá,
ele estava arrumando as malas para ir embora.
Hannah não queria que as coisas terminassem assim, mas Luke tinha se
recusado a falar com ela de novo e dissera para os garotos que achava melhor
que eles não se despedissem. Quando tomara aquela decisão, ainda de
madrugada, uma pequena parte dela acreditava que os dois talvez fossem
capazes de encontrar um meio termo. Agora, parecia que uma parte de seu
coração tinha sido arrancada, e ela mal podia respirar. Tinha feito o cara que
ela amava, o seu novo melhor amigo, a odiar. Nunca se perdoaria.
Sentiu a cama mexer e a mão de Ellie afagar seu cabelo. Deitou em seu
colo. Ellie era a mãe do grupo, sempre cuidando dela e de Becky, as
protegendo. Mas nem as palavras doces da amiga funcionavam para amenizar
sua dor. Ficou ali pelo que lhe pareceu uma eternidade, até o calmante e o
cansaço tomarem conta de seu corpo, fazendo-a cochilar.
Acordou assustada, horas depois, sentando na cama de uma vez só. Ellie
não estava mais ali, mas Rebecca estava sentada na ponta de sua cama, a
encarando, imóvel. Jamais vira Becky sem palavras, mas essa parecia a
situação.
— Ele já foi? — perguntou, com a voz rouca.
Becky mordeu o lábio e assentiu. Ao ver Hannah chorar, ela correu pelo
lado da cama, abraçando-a.
— Você fez a coisa certa, amiga — ela sussurrou, apertando-a. — Não
vai parecer agora. Merda, vai doer pra cacete. Mas você fez a coisa certa.
Hannah assentiu, sem vontade de rir daquela frase esquisitamente
motivacional.
— Ele me odeia.
— Não acho que seja o caso. Muito pelo contrário.
Hannah conhecia Becky tão bem que sabia que aquela resposta da amiga
tinha muito mais camadas do que ela deixava aparentar.
— O que você quer dizer com isso?
— Que você deveria ir até o quarto dele — Becky respondeu, depois
acrescentou: — Ele realmente foi embora, então não espere que ele esteja lá
para te fazer uma surpresa. Mas Luke definitivamente não te odeia, e eu
posso provar.
Hannah estremeceu ao ver Becky abrir a porta. Não sabia de onde Dylan
tinha surgido, mas ele também estava lá, plantado do lado delas sem dizer
uma palavra. O quarto estava uma bagunça, como se um tornado tivesse
atingido uma pequena ilha. Hannah passou os olhos pela cômoda, a poltrona
e o amontoado de almofadas, travesseiros e lençóis. Então, seu coração
praticamente parou de bater.
No cantinho da cama, do lado em que Lucas dormia, avistou o moletom
vermelho de que ela tanto gostava. Ao contrário das demais coisas, ele estava
perfeitamente dobrado, como em uma bancada de loja. Ela correu até lá,
dando a volta na cama sem conseguir conter as lágrimas. Agarrou o moletom
como se sua vida dependesse disso, então escutou o barulho de algo caindo
no chão. Franziu o cenho, abaixando ao avistar uma pequena caixinha branca.
Ela olhou para Dylan, procurando uma explicação. Ele apenas fez um
gesto com a cabeça, sugerindo que ela a abrisse.
Hannah tirou com cuidado a fitinha cor-de-rosa que envolvia a caixa. A
abriu, com as mãos trêmulas, revelando um pequeno pingente que se parecia
com um docinho. Com o coração acelerado e a visão embaçada, o segurou na
mão. Dylan, que já tinha dado a volta na cama, a abraçou de lado.
— Ele comprou para você. Acho que queria te pedir em namoro, ou
alguma coisa assim.
Becky estapeou o braço do garoto quando viu a amiga chorar.
— Ai!
— Luke avisou que tem um bilhete em algum lugar, acho que no bolso
da blusa ou algo assim — Rebecca disse, vendo a amiga buscar pelo pedaço
de papel, afoita.
— Vocês podem me deixar sozinha, um minuto? — Hannah pediu, e os
dois concordaram.
Hannah soltou o ar pela boca ao ouvir o barulho da porta se fechando.
Apertou o pingente em uma das mãos e, agarrada na blusa, abriu o pequeno
papel.
Me desculpe pela forma como fui embora hoje, mas eu não conseguiria
encará-la de frente depois de tudo o que aconteceu. Quanto à blusa e ao
pingente, essas coisas são muito mais suas do que minhas. Não fazia sentido
carregá-las comigo, seja qual for o meu destino. Seja feliz, Hannah Lane.
Capítulo 15
Hannah encarou a pulseira em seu pulso. O pingente de docinho
tintilava toda vez que ela se mexia. Mais de um mês tinha se passado desde
que ela e Luke terminaram, e a dor que sentia não parecia diminuir.
Quando Luke deixara a Riviera Francesa, a viagem dos amigos fora
arruinada. Ainda tinham quatro dias na cidade, mas Hannah estava deprimida
demais para fazer qualquer coisa, o que também sugara a alegria dos demais.
A história da proposta de emprego de Luke tinha surpreendido a todos e a
decisão de Hannah, dividido opiniões. Embora concordassem que ela tinha
feito o que era melhor para Luke, os mais românticos temiam que Hannah
tivesse aberto mão do amor de sua vida.
Ela também achava. Mais uma vez, Hannah Lane estivera com a
felicidade em mãos, e sua decisão fora amassá-la e jogar no lixo, sem pensar
em si mesma. Voltar para os Estados Unidos depois de tudo o que acontecera
tinha sido um pesadelo, e o voo até Nova York fora desesperador.
Ao chegarem à cidade que nunca dorme, Hannah tivera uma crise de
pânico e não conseguira se mover no aeroporto. Deixara todos desesperados.
Oliver correra pelo saguão e voltara minutos depois com a chave de um carro
alugado. Dispensara a namorada e os amigos para dirigir com a irmã até a
Carolina do Norte, se dispondo a escutá-la chorar e a confortá-la. Demoraram
alguns dias para chegar ao destino, mas Hannah nunca fora tão grata por ter
Oliver em sua vida como naquela semana.
Desde então, os amigos vinham tentando arrumar formas de animá-la,
sem sucesso. Hannah só queria ficar na cama, vestida com o moletom de
Luke e olhando para o teto, aguardando uma mensagem de texto que ela
sabia que jamais iria chegar.
Tinha entrado em contato, era claro, minutos depois de ter lido o bilhete
de Luke e recebido seus presentes. Enviara uma mensagem agradecendo e
pedindo perdão por toda a dor que sabia ter lhe causado.
Nenhuma resposta.
Desde então, passara a mandar mensagens esporádicas para ele e a se
torturar ao ver suas breves aparições em redes sociais alheias – não se
orgulhava disso, mas tinha descoberto o Instagram de Jesse, Anika e mais
alguns caras que estavam na Tailândia. Na primeira vez que o vira nos stories
de Jesse, organizando as lentes da câmera para a viagem a Bali, Hannah
passara a noite chorando. Estava feliz por ele, mas vê-lo seguir sem ela lhe
doía, mesmo tendo sido uma decisão sua.
Para completar, estava apavorada com a aproximação de sua viagem
para a Califórnia. Viver em Charlotte era cômodo, conhecido e fácil.
Conhecia as pessoas, era popular no colégio e sabia o que esperar de cada
dia. Mudar para o outro lado do país, no entanto, era como virar uma página
de um livro que você já leu várias vezes e descobrir, inesperadamente, que
todos os capítulos depois daquele estavam em branco.
Ela não sabia o que fazer com páginas em branco.
Becky também estava de mudança para a Califórnia, o que a deixava
mais reconfortada, mesmo que as duas não fossem estudar na mesma
universidade. Ao contrário dela, a amiga já tinha tudo decidido, desde o curso
de psicologia até as viagens que queria fazer aos finais de semana; também
sobre a possibilidade de alugar um apartamento no segundo ano e morarem
juntas.
Hannah mal se lembrava de como era ter tudo planejado.
Queria cursar teatro, mas não conseguia se convencer de que era a
melhor ideia. Tinha conseguido uma vaga na USC, como sonhara, mas vinha
se questionando se não era uma farsa. As peças de teatro que fizera no
colégio foram elogiadas, mas estudar essa arte profissionalmente podia ser
um passo maior que suas pernas – e ela não queria falhar. Não queria chegar
a Los Angeles e descobrir que seus colegas de classe eram estupidamente
mais talentosos do que ela, o que provavelmente aconteceria.
Além do mais, estaria na cidade para onde todos os atores do mundo se
direcionavam em busca da fama. Sabia que se destacar beiraria o impossível.
Não se importava em começar de baixo, desde que tivesse certeza de que
chegaria a algum lugar, o que não era o caso.
Distraída com os pensamentos depreciativos, escolheu a saída errada
com o carro, xingando baixo por ter que acrescentar alguns minutos em sua
rota até em casa, onde pretendia deitar para fingir assistir à televisão até que
Becky aparecesse no fim do dia, sob a desculpa de que precisava de ajuda
para fazer as unhas.
Percebeu, então, que estava de frente a seu antigo colégio. Estava tão
acostumada a dirigir até ali que nem viu como isso aconteceu. Aquele lugar a
enchia de lembranças de todo tipo, e Hannah se pegou estacionando o carro e
descendo, sem pensar.
O lugar estava vazio, ainda nas férias de verão, e não foi difícil
conseguir entrar, visto que os seguranças a conheciam havia anos. Olhou para
o banco em que ela e as amigas costumavam se encontrar todos os dias antes
das aulas e sorriu, colocando a mão sobre o peito. Foi ali que tinha contado
para elas que começara a namorar Brian. Também onde Becky contara cada
detalhe sórdido de suas aventuras de fim de semana, e onde elas seguraram a
mão de Ellie para que abrisse a carta de admissão de Harvard.
Avistou, mais adiante, a árvore em que ela e Luke escolheram para se
abrigar durante boa parte da famigerada aula de literatura, em que tudo tinha
mudado. Suspirou quando um turbilhão de emoções a tomou, trazendo-lhe
memórias que ela não esperava reviver naquela tarde de quarta-feira.
Então, avistou ao longe uma senhora baixinha, carregando uma pilha de
fichários coloridos. Ao perceber de quem se tratava, teve a ideia mais
estapafúrdia dos últimos tempos.
O queixo de Hannah tinha caído depois de reler a carta pela quarta vez.
Havia a aberto sabendo que iria se martirizar, mas, ao contrário disso,
encontrara nela as palavras de que precisava para seguir em frente. Percebera
o quanto estava sendo hipócrita. Tinha aberto mão do cara que amava para
que ele não desistisse de seus sonhos, apenas para colocar empecilhos diante
de sua própria felicidade.
Ainda doía, ela não iria mentir. Mas precisara retomar o controle de sua
vida, pôr suas metas em um papel e segui-las. Afinal, se não fizesse isso,
Lucas jamais poderia dar uma entrevista a tabloides como “uma fonte
próxima à atriz”. Não podia privá-lo desse sonho.
Hannah estava adorando a vida na Califórnia. A mudança tinha sido
dura – tinha ido de uma costa a outra e deixado para trás a família e os
amigos –, mas tinha se adaptado ao seu novo estilo de vida como ninguém.
Morava no campus da Universidade do Sul da Califórnia, tinha uma colega
de quarto adoravelmente esquisita e estava apaixonada por seu curso. Apesar
de se tratar de um ambiente competitivo, já tinha feito amigos e estava certa
de que as artes cênicas tinham sido sua melhor escolha.
Não tinha mais conversado com Lucas. Prometera a si mesma que não
acompanharia a vida dele, mas vez ou outra acabava falhando na missão e
procurando notícias. Oliver tinha dito a ela que ele estava nas Ilhas Fiji, e ela
resolvera ver isso com os próprios olhos.
Luke estava maravilhoso, bronzeado e sorrindo de orelha a orelha em
uma foto. A sensação era agridoce, e ela ainda não sabia como lidar quando
tinha esses lapsos. Certa vez, ao ver um comentário suspeito de uma garota
muito bonita em seu Instagram, acabara entrando em um buraco negro que a
levara até mesmo ao Facebook da tia-avó da garota.
Tendo a certeza de que já estava sendo patética o suficiente, resolvera
tomar uma atitude. Ele não iria voltar. Portanto, resolvera dar uma chance a
um garoto simpático de sua aula obrigatória de inglês. Aceitara sair. Sabia
que não seria fácil, mas não havia esperado ficar tão decepcionada quando as
estrelas não se alinharam e ela não descobriu sua alma gêmea em um
restaurante hipster de lámen em Venice Beach.
Dessa forma, seguia desacreditada do amor, mas ao menos estava em
um lugar lindo, vendo sua melhor amiga maluca quase sempre e realizando
um de seus sonhos. Poderia estar pior.
— Liam me ligou ontem — Becky disse, apertando o botão do elevador.
— Queria saber se eu vou voltar para casa no dia de Ação de Graças.
Hannah riu.
— Não entendo o relacionamento de vocês.
— Nós não temos um relacionamento — Becky corrigiu. — Apenas
gostamos um do outro e, quando a gente se vê, acontece alguma coisa.
— E você não fica com ciúme se ele sai com outra?
Becky fez uma careta, como se a amiga estivesse falando em um idioma
que ela não conhecia.
— Han, meu amor, é assim que amizade colorida funciona. Eu não vou
subir em uma mesa com um taco na mão para rebolar e reclamar toda vez que
o Liam deslizar para a direita no Tinder — ela disse, rindo ao tomar um tapa.
— Eu estava alterada pela bebida.
— Você estava alterada pelo Cooper.
Hannah rolou os olhos.
— Podemos deixar esse nome de lado?
— Não sabia que ele tinha se tornado aquele que não deve ser
mencionado — Becky retrucou, abrindo a porta ao chegar no primeiro andar.
— Devíamos ter vindo de escada.
— Eu disse isso quinhentas vezes — Hannah grunhiu, jogando os braços
para cima. — E o Luke postou uns três stories com uma garota aleatória. Não
quero nem ouvir o nome dele.
Becky colocou a mão na cintura, encarando a amiga.
— Pensei que você tivesse parado de ver os posts dele.
— Eu parei — Hannah disse, entrando pela porta já aberta do
apartamento. — É você quem vê.
— Como é que é?
— Eu vejo pela sua conta — Hannah retrucou, gargalhando ao ver o
queixo caído da amiga. — Mas parei com isso. Juro! Preciso parar de me
importar com quem não dá a mínima para mim.
— Foi você quem mandou ele embora — Becky disse, distraída,
enquanto olhava a bancada da cozinha.
— De que lado você está?
— Do lado que me tirar menos do sério, ou seja, qualquer lado que não
seja o seu — Becky retrucou, com um sorrisinho.
— Já disse que te odeio hoje?
— Você achou essa cozinha pequena?
— Você quer mesmo se mudar? — Hannah fez uma careta, confusa. —
Achei que seu plano fosse ficar o primeiro ano no dormitório para
“experimentar o espírito acadêmico”. — Hannah fez aspas com os dedos,
com a voz afetada.
— Eu queria fazer isso antes de descobrir que o carpete tem cheiro de
chulé e que a minha colega de quarto é mais irritante do que você falando do
Luke o tempo inteiro. — Becky deu um sorrisinho.
— Golpe baixo. Ao menos, eu estou tentando mudar — Hannah se
defendeu, rindo com o olhar descrente de Becky. — É sério!
— Claro que é. Aliás, me lembre de deslogar minha conta do seu
telefone depois — ela disse, olhando para o celular. — Vou atrás da
corretora.
Hannah caminhou até a pequena varanda. O lugar era uma gracinha, e
gostaria de visitá-lo mais vezes caso Rebecca se mudasse – coisa de que ela
duvidava muito. Observou a vista da piscina e algumas crianças correrem ao
redor da borda. Precisava alertar Becky sobre o barulho que elas faziam, que
devia ser constante.
— Olá, Hannah Lane.
Hannah deu um pulo ao ouvir a voz vinda da varanda ao lado.
Puta merda. Só podia estar alucinando.
Tinha passado tanto tempo pensando e falando de Luke que seu cérebro
havia criado um holograma dele. Era a única explicação plausível. Deu um
passo para trás, esbarrando em um vasinho de suculenta que estava na borda
da varanda. Apertou os olhos ao ouvir o barulho dele caindo no concreto lá
embaixo.
Abriu um dos olhos devagar, segurando no parapeito com força.
— Acho que você não matou ninguém — ele voltou a dizer,
despreocupado.
Não posso dizer o mesmo de você, Hannah pensou, engolindo em seco.
Ele estava mesmo ali. Não era possível.
— Como?
— O vasinho caiu no deque — Luke respondeu de forma óbvia, e a
garota chacoalhou a cabeça, confusa.
— Não. Quero saber como você veio parar aqui — ela disse, encarando-
o.
Luke estava mesmo bronzeado, o que destacava seus olhos. Ele vestia
uma camiseta preta simples, mas Hannah não conseguia ver o resto de suas
roupas. Queria dar um berro para que Becky voltasse o mais rápido possível.
Alguém precisava garantir que não estava ficando doida.
— Foi um voo muito longo — ele respondeu, com um sorrisinho de
canto.
— Luke! Quer parar de ser ridículo? — Hannah ralhou, perdendo a
paciência.
Quando ouviu a risada dele, no entanto, cada parte de seu corpo pareceu
arrepiar ao mesmo tempo. Lembrou-se do encontro que tivera semanas antes,
no restaurante de lámen, e o quanto torcera para sentir as benditas borboletas
no estômago. Agora estava ali, com elas voando livremente só de escutar
uma risada familiar.
— Desculpe. Acho que estou um pouco nervoso — ele confessou,
olhando-a nos olhos. — Eu queria ver você.
Hannah piscou algumas vezes, atônita.
— Pela sua cara de choque, acho melhor eu começar a me explicar —
ele concluiu, rindo ao se aproximar da borda da varanda. — Naquele dia em
que brigamos, a primeira coisa que fiz foi agendar um voo para voltar para a
Tailândia. Eu estava furioso, triste, e a última pessoa da face da Terra que eu
queria ver era você, embora você também fosse a única pessoa que eu queria
ver. Não sei se isso faz sentido.
— Faz, sim — Hannah respondeu, tentando reprimir um sorriso.
— Acho que demorei um mês para entender a motivação por trás do que
você fez, embora ela fosse muito clara. Para mim, você jamais desistiria de
nós dois se me amasse de verdade — Luke disse, encarando as mãos. —
Então eu fui para Bali. E entendi.
Hannah o observou, mordendo o lábio. Queria fazer trezentas e
cinquenta perguntas, mas a língua estava enrolando na boca, tamanho seu
nervoso. Ela cruzou os braços, em uma tentativa de esconder que suas mãos
estavam trêmulas.
— Quando eu comecei a trabalhar com o Jesse, entendi qual era o meu
propósito profissional. Foi quase instantâneo. E eu jamais saberia disso se
você não tivesse feito o que fez.
— Eu disse que você ia me agradecer — Hannah achou sua voz para
falar, com um sorriso presunçoso. — Foi isso o que você veio fazer aqui?
Aliás, meu Deus! Você ainda precisa me explicar como foi parar nesse
apartamento. — Ao ver Lucas abrir a boca, acrescentou: — Se você repetir
que veio de avião, eu arremesso o vasinho de suculenta sobrevivente na sua
testa.
Lucas gargalhou.
— Sempre muito delicada — ele disse, e os dois trocaram um sorriso
cúmplice. Hannah parecia ter uma resposta na ponta da língua, mas não a
deu. — Eu não vim agradecer pelo chute certeiro que você me deu — ele
brincou.
— Qual o motivo, então? — Hannah chacoalhou a cabeça.
Por favor, responda “porque eu amo você”. Vamos lá, Luke, você já se
materializou como num filme. Não custa nada seguir o roteiro, Hannah
pensou, sentindo as bochechas corarem.
— A fase do campeonato que eu estava cobrindo terminou e, como eu
ganhei uma grana, achei interessante fazer uma viagem para a Califórnia.
Hannah estreitou o olhar.
— Eu pensei que tivéssemos um acordo tácito de que só falamos a
verdade um para o outro.
Lucas sorriu, como se fosse ali que quisesse chegar.
— Você sabe que eu estudava aqui antes, não sabe? Aqui em Los
Angeles.
— Nos três meses que você fez faculdade? Sei, sim — Hannah
provocou, fazendo-o rir.
— Meu meio-irmão me segue no Instagram, e ele mostrou algumas
fotos que eu tirei para o meu pai. Imagine a minha surpresa quando recebi
uma ligação, num horário completamente errado pelo fuso, com meu pai me
dizendo que tinha entendido o meu talento e que minhas fotos eram muito
boas.
— Meu Deus, Luke. Isso é incrível! — Hannah abriu um sorriso.
— Eu desliguei o telefone em choque. E foi então que eu percebi que,
mesmo com tudo o que aconteceu, a única pessoa com quem eu queria
compartilhar isso era você.
Hannah sentiu os joelhos amolecerem. Não queria se empolgar. Podia
não significar nada.
— Ele me disse que pagaria para que eu fizesse um curso na área que
gosto, se eu quisesse. Eu não sabia se era isso o que eu queria. Eu já tinha
começado a minha carreira com Jesse e, se ele continuasse surfando bem, eu
provavelmente continuaria ganhando bem. — Ele riu. — Mas, a cada dia que
passava, eu pensava mais em você. Comecei a olhar as suas redes sociais, a
perguntar alguma coisa para o seu irmão ou para o Liam. E então eu telefonei
para a Becky.
Hannah deixou o queixo cair, olhando para dentro do apartamento.
— Ela sabia que você estava aqui? Aquela vaca! — Hannah xingou,
com o coração acelerado.
— Claro que sabia. Qual a chance de, com milhões de apartamentos em
Los Angeles, você parar logo do lado do meu?
Hannah o encarou, estupefata.
— Seu?
— Meu. — Ele sorriu de canto.
— O que isso significa, Luke?
Ele suspirou, tomando coragem.
— Viajar esses quatro meses como fotógrafo realmente foi incrível,
Han. E eu devo tudo isso a você. Você não teve medo de fazer o que
acreditava ser certo quando eu ia desistir, de novo, de um sonho. — Ele fez
uma pausa e a encarou nos olhos. — O problema é que, para embarcar em um
sonho, eu precisei desistir de algo que queria muito. Você.
Era aquilo. Se seu coração batesse um pouquinho mais forte, Hannah
teria um treco ali mesmo. Ela sorriu, percebendo que Luke ainda ia continuar
a falar.
— Eu pensei que esse tempo separados fosse me fazer perceber que o
que nós dois tínhamos foi algo muito especial, mas momentâneo. Quanto
mais ficava claro que não era o caso, menos eu queria te ligar, porque eu não
queria assumir que você tinha razão o tempo todo. — Ele riu. — Quando eu
decidi ligar, Liam disse que você ia sair com um cara. E aí eu fiquei puto e
desisti.
— E começou a sair com uma garota e a postar no Instagram.
— Algo assim. Como você sabe? — Luke arqueou uma sobrancelha.
— Adivinhe.
Os dois sorriram.
— Eu larguei a turnê com o Jesse. Não por sua causa, mas porque eu
vou fazer meu curso de fotografia e coincidentemente conheci na viagem um
amigo skatista de Jesse, que quer que eu o fotografe por aqui. — Então
acrescentou: — Bom, talvez ter resolvido concentrar todos os meus esforços
em Los Angeles seja um pouco culpa sua, sim.
Hannah riu alto.
— Eu não acredito que isso está acontecendo — ela disse, atônita. — Eu
pensei que você tivesse voltado a me odiar.
— Eu também. Mas Ellie estava certa, afinal. É mesmo uma linha tênue
— ele disse, e Hannah sorriu. — Você é a garota mais incrível que eu
conheço. Eu vim do outro lado do mundo para a sacada ao lado porque
precisava que você soubesse disso. E eu sei que nós podemos ser esquisitos e
até um pouco disfuncionais, mas eu nunca senti tanto a falta de alguém como
eu sinto de você.
— Luke...
— Eu nem sei direito como a sua vida está agora. Pode ser que tudo
tenha mudado, mas eu espero que não — ele disse, sincero.
— Tudo mudou — ela respondeu, e Luke mordeu o lábio, apreensivo.
— Eu mudei. Eu resolvi me aceitar e parar de me sabotar. Eu levei em conta
cada um de seus comentários na carta de literatura.
— Como é?
— Eu li a carta, mas não me interrompa — Hannah disse, fazendo-o rir
baixo. — Esses últimos meses foram muito difíceis, porque sempre faltava
alguma coisa. E eu sempre soube o que era, mas nunca imaginei que pudesse
ter uma segunda chance. Mas agora você está aqui, e eu não posso
desperdiçar isso — ela concluiu, com um sorriso nos lábios.
Então, Luke arregalou os olhos ao vê-la colocar as duas mãos no
parapeito e tomar impulso para subir.
— Hannah, o que você está fazendo? — perguntou, alarmado.
— O que você acha? — ela retrucou, e ele deixou o queixo cair.
— Meu Deus, mulher, use a porta — ele suplicou, vendo-a se sentar.
As duas varandas eram quase coladas uma na outra, mas havia um
espaço de pouco menos de um metro que, com toda certeza, apavoraria
Hannah dos pés à cabeça. Ela apertou os olhos e depois os abriu de vez,
tomando fôlego.
— Hannah!
Ele a viu ficar de pé e, sem pestanejar, pular para o outro parapeito,
enquanto observava a cena em absoluto pânico. Luke a segurou pelo quadril,
puxando-a para dentro.
— O que foi isso? Você pirou?
— Eu amo você — Hannah disse, de uma vez só. — Não há ninguém
nesse mundo com quem eu preferiria implicar e crescer junto. E,
definitivamente, não há uma só pessoa por quem eu correria o risco de morrer
para fazer uma declaração brega dessas.
Luke abriu um sorriso enorme, apertando o corpo dela contra o seu. Não
sabiam qual coração estava batendo mais alto, mas definitivamente
conseguiam senti-los. Luke colocou uma mecha do cabelo de Hannah para
trás da orelha, então olhou em seus olhos, quase encostando o nariz no dela.
— Você sabe que, se caísse dessa altura, mal quebraria um pé, não é? —
ele perguntou, e a garota fez uma careta, indignada.
— Eu não acredito que você...
Luke gargalhou, interrompendo-a.
Hannah sentiu um choque percorrer seu corpo quando a boca dele
encostou na sua. Ela fechou os olhos, embrenhando as mãos por seus cabelos.
Havia tanta saudade e familiaridade naquele beijo que achou que estava
delirando. Queria aproveitar cada toque como se fosse o último, mas, na
verdade, eles eram apenas os primeiros.
Tinham passado anos brigando, tinham se apaixonado e se separado.
Mas, em qualquer uma dessas fases, nunca estiveram distantes de verdade.
De alguma forma, a vida sempre dera um jeito de os unir – e isso devia
significar alguma coisa.
Hannah abriu os olhos devagar quando Luke se separou do beijo,
encostando a testa na dela. Ele abriu um sorriso largo quando seus olhos se
encontraram.
— Eu também amo você — disse e então aproximou a boca de seu
ouvido, fazendo-a sorrir por antecipação. — Docinho.
Agradecimentos
Agradeço a meus pais, por terem apoiado cada um dos meus sonhos.
Vocês me ensinaram a não desistir daquilo que me faz feliz, e isso me deu a
coragem necessária para colocar cada uma de minhas histórias no papel.
A todos os meus amigos, que estão sempre ao meu lado, me
acompanhando e aconselhando. Tenho muita sorte por ter cada um de vocês
em minha vida.
A Cínthia Zagatto e Suellen Roman, pelo convite para mais essa parceria
e pelo trabalho incrível que vocês realizam. Vocês fizeram parecer fácil
escrever um livro em meio a uma pandemia e me deram todo o apoio que eu
precisei nessa jornada. Vocês arrasam!
Por fim, a cada um dos meus leitores, que me acompanham há tanto
tempo. Fazer uma releitura de Summertime depois de dez anos do fim da
fanfic foi uma honra e também um desafio enor- me. Obrigada por todo o
carinho que vocês sempre tiveram co- migo e com essa história. Queria
abraçar cada um de vocês e ficar com tendinite de tanto autografar seus
livros, mas teremos outras oportunidades. Saibam que eu amo cada um de
vocês, docinhos.
Um beijo e muito amor.
Camila Sodré nasceu em São Paulo, em 1989. Começou a escrever ficção
ainda na adolescência, publicando suas histórias online. Hoje, formada em
jornalismo, é também apaixonada por escrever comédias românticas como
aquelas que sempre amou ler. À milésima vista é seu terceiro livro publicado
e uma homenagem a uma de suas fanfics de maior sucesso, Summertime.
Conheça outro título da P.S.: Edições
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