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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais, é mera coincidência.

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dessa obra, através de quaisquer meios —tangível ou intangível —sem o
consentimento escrito da autora.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Sumário
Capítulo 1 – Mia
Capítulo 2 - Aspen
Capítulo 3 – Mia
Capítulo 4 – Aspen
Capítulo 5 - Mia
Capitulo 6 – Aspen
Capítulo 7 - Mia
Capítulo 8 - Aspen
Capítulo 9 – Mia
Capítulo 10 – Aspen
Capítulo 11 – Mia
Capítulo 12 – Aspen
Capítulo 13 – Mia
Capítulo 14 – Aspen
Capítulo 15 – Mia
Capítulo 16 – Aspen
Capítulo 17 – Mia
Capítulo 18 – Aspen
Capítulo 19 - Mia
Capítulo 20 – Aspen
Epilogo – Mia
Agradecimentos
Sobre a Autora
Contato
Capítulo 1 – Mia

Natal... família... natal em família...noivo... MERDA!


Respiro fundo ao ver a tela do meu celular acender, tentando
controlar os meus nervos.
A foto da mamãe aparece na tela, demonstrando que ela não iria
desistir da ideia tão facilmente.
Faço igual às aulas de ioga que aprendi no YouTube. Inspiro e expiro
fundo. Noto que isso não é o necessário e então conto até dez, prendendo e
soltando a respiração. O telefone para de tocar. O silêncio apaziguador volta a
reinar na sala e eu encosto-me à confortável cadeira de couro.
Mas como dizem: o que é bom, dura pouco. E a voz grossa e rouca de
Aspen ecoa através das paredes da sua sala. Ele na verdade quase grita pela
minha atenção. E eu penso se devo tomar um advil para a dor de cabeça, que
será causada pelo o cretino do meu chefe, e não por uma noite relaxante na
banheira acompanhada de um bom vinho.
Pego a pasta, a agenda com os compromissos de Aspen e me levanto,
pronta para fazer o meu chefe trabalhar.
Afinal de contas, o que seria de Aspen Russell sem Mia Sanders?
Paro em frente a porta da sua sala, dando três batidas na madeira antes
de entrar. Vai que bater nessa madeira três vezes me livra de encontrar
alguma merda ali dentro.

Desde que comecei a trabalhar para Aspen — há exatos três anos — o


cara meio decidiu que eu seria alvo de suas cantadas (que digamos não são
nada encantadoras). Eu me esquivava a todo momento, inventando desculpas
aqui e acolá. Mas Aspen sabia que isso me irritava ao cubo, e não parava um
segundo sequer.
Então, desde o contratada até o Mia, o meu café! Aspen encontrava
uma maneira de encaixar uma cantada em nossos diálogos diarios. Até um
certo dia trágico...
— Entre.
A voz de Aspen tira-me dos meus devaneios passados. Trazendo-me
de volta para a realidade.
Seguro a maçaneta, respiro fundo, e a giro, entrando na sua sala.
No entanto, não é a figura masculina que está sentada em sua
confortável cadeira de couro branco que me chama a atenção. Não! É a coisa
toda que está espalhada por seu escritório.
Olho para os lados, surpresa por ele ter enfeitado a sua sala com
coisinhas natalinas.
Mesmo nesses três anos trabalhando para ele, nunca vi Aspen enfeitar
a sua sala. Nem que fosse com apenas pisca-pisca.
Contudo, sua sala agora ostentava uma grande árvore de natal em um
canto estratégico, com vista para a linda cidade de Los Angeles. Nela,
sapatinhos, papais noéis, anjinhos, pisca-pisca brilhavam em cada pedacinho
da árvore.
Era inacreditável que aquele ser de sorriso de lado poderia fazer algo
tão bonito.
— Apreciando a vista? — ele pergunta, me olhando de cima abaixo.
Reviro os olhos para ele, e no instante que faço isso, noto o grande
enfeite que pende acima da cabeça do meu chefe.
O visco estava posicionado estrategicamente sobre a cadeira de
Aspen. Bem no lugar do qual eu deveria me posicionar para lhe informar
sobre os seus deveres do dia. Mais uma jogada perfeita de Aspen Russell.
Eu o encaro boquiaberta. Enquanto o cretino abre o seu famoso
sorriso colgate de modelo e faz um sinal com o dedo. Insinuando para que eu
me aproxime dele.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, em negativa, e o sorriso do
meu chefe aumenta ainda mais. Filha da mãe!
— Mia, traga a minha agenda aqui, por favor — ele pede em seu tom
meloso.
Novamente faço que não com a cabeça. Nem a pau, jubileu! Ele quer
que eu me aproxime dele, e consequentemente o beije. Por isso a bendita flor!
A regra é bem clara: se tem o visco, o beijo tem que rolar!
É a regra número um do natal!
— Eu posso dizer os seus compromissos daqui, senhor Russell.
Abro um sorriso vitorioso para Aspen, que em resposta olha para
cima, onde a flor descansa.
— Tá com medo de uma florzinha?
— Não!
— Então, por que não traz a minha agenda aqui?
Touché, Aspen!
Por que eu não levo a agenda até ele? A resposta é simples: ele é um
canalha!
Beijar Aspen, mesmo que seja uma brincadeira, resultaria na minha
demissão. Consequentemente, eu teria que voltar para Fergus Falls,
Minnesota, a minha cidade natal e ter que aguentar as cobranças da minha
maravilhosa mãe (sintam a ironia!).
— O senhor tem uma reunião às dez e meia, com aquela mulher
estranha que faz cookies, pra aquela propaganda...
— Tá, tá. Já sei. — Aspen me corta. — Mas preciso da minha agenda
para verificar uma coisa, então...
Ele se levanta em um pulo de sua cadeira, fazendo um ruído quase
ensurdecedor, e a passadas largas para na minha frente. A nossa diferença de
tamanho é quase gritante. Mesmo usando um salto alto, Aspen consegue ser
uns vinte centímetros mais alto do que eu.
De repente, sinto seu corpo tão próximo ao meu que chega a ser
sufocante. Ele se curva, de modo que nossos rostos fiquem tão próximos e eu
precise olhar para cima para não deixar que sua beleza cafajestosa me
intimide.
E foi aí que eu vi a coisinha vermelha e verde pendurada acima das
nossas cabeças. E então algo macio e molhado toca os meus lábios.
E no segundo seguinte, Aspen tem uma agenda tatuada na cara.
Capítulo 2 – Aspen

Observo aquela coisinha pequena e raivosa sair da minha sala


batendo o pé e a única coisa que se passa na minha cabeça enquanto
massageio a minha bochecha machucada é: deu certo, porra!
Desde o momento em que coloquei meus olhos na figura pequena e
esbelta de Mia Sanders, eu soube que ela seria um problema para mim. Sua
eficiência, inteligência e boca esperta é o que motivou a contratá-la. E eu não
me arrependo nenhum pouco disto!
Logo nos primeiros dias, percebi que Mia se irritava fácil com
algumas piadas minhas. Passei a fazer cantadas ridículas de proposito para
ela, e isso resultava em caretas e xingamentos baixinhos.
É inacreditável que uma criatura tão pequena tenha a boca tão suja.
Eu ainda não sei como Mia me aguenta por quase três anos. E ainda
não sei como eu ainda não a demiti.
Mesmo depois do incidente do café (que foi a coisa mais cruel que
uma mulher já fez comigo) era para Mia ter a carta de demissão assinada por
justa causa.
Mas a culpa foi minha, e confesso que mereci aquele acidente. Ela
chegou ao limite. Mas eu ei de ter a minha vingança. Ah se vou!
E um aviso de: vá trabalhar, Aspen! Começa soar ao longe. Mas a
minha cabeça está em Mia, e no quanto ela deve estar me xingando. Balanço
a cabeça de um lado para o outro, abrindo um sorriso enorme ao me lembrar
da cara de espanto da minha secretária... e então o telefone toca, tirando-me
dos devaneios deliciosos sobre Mia.
O engraçado é que não é o meu telefone. Nem o da minha mesa, nem
o da mesa da Mia. Mas o barulho vem de lá de fora, e a minha secretária não
se encontra na sua mesa.
Olho para o meu relógio, e sem querer, um gemido contrariado escapa
dos meus lábios.
Mia não está aqui. É seu horário de almoço. O que significa que a
bendita está fora por uma hora. Ou mais, de acordo com o bilhete que ela
deixou colado na minha mesa com post-it. Talvez daqui a duas horas, quem
sabe.
O som insistente continua, e eu sou obrigado a sair da minha
confortável cadeira e ir verificar o que diabos esta tocando.
Uma vez fora da minha sala, sigo em direção ao toque. A música já
conhecida por mim Use Somebody-Kings of Leon é a resposta silenciosa (ou
não) que eu precisava.
Paro na frente da mesa da Mia, olhando impaciente para o celular que
está aceso em cima da sua mesa. Eu não sou o tipo de chefe intruso. Mas
quando o negócio incomoda o meu trabalho, é necessário uma intervenção.
No caso atual: calar a porra do celular da Mia!
Rapidamente pego o aparelho e olho para a tela acesa. A foto de uma
mulher (que, diga-se de passagem, é gata pra caralho) pisca de forma
irritante, acompanhada do seguinte nome: mamãe.
É, meus amigos. Eu não li errado. Nem preciso fazer uma visita ao tal
oftalmologista mais cedo que o imaginado!
Olho atentamente para a foto, e até posso notar alguns traços
parecidos da mulher com os de Mia. Como, por exemplo, os lábios carnudos
e pequenos, os olhos castanhos claros e expressivos... e é claro! O cabelo
escuro.
Cogito a ideia de atender, mas o aparelho para de tocar. Solto um
suspiro de alívio e o deixo em cima da mesa dela. Viro para entrar na minha
sala novamente, para retomar o meu trabalho, quando de repente, o
desgraçado começa a apitar de novo.
Com a paciência que mamãe me deu é quase zero, viro e agarro o
aparelho com tudo, sem me importar com a possibilidade de ter café
entornado nas minhas calças novamente. Sem pensar duas vezes, deslizo a
tela e atendo.
— Alô? — Meu tom é ríspido, o que não parece intimidar a pessoa do
outro lado.
— Mia Rosele Sanders! Eu estou pouco me ferrando que seu noivo
está viajando, ou qualquer que seja a desculpa da vez. Eu quero você e o
bonitinho aqui em casa, na manhã do dia vinte e três, ou vamos até vocês.
Não vou acreditar em nenhuma das suas desculpas, Mia. Eu quero conhecer
o cara que desencalhou a minha filha. Eu tenho esse direito, oras! E querida,
você sabe que a mamãe não está blefando quando digo que vamos até aí.
Eu escuto o vômito de palavras, e simplesmente fico quieto, em um
possível estado de choque. Eu penso, e a única palavra que a louca da mulher
disse que me impactou foi: noivo.
A Mia é noiva? E por que eu nunca o vi aqui? Ou eu ao menos olhei
para ver se ela tinha algum anel? Será que ela tem mesmo um noivo?
Dou um tapa na minha própria testa com esse último pensamento. É
claro que Mia tem alguém! Uma mulher como ela não estaria sozinha, ainda
mais aqui em Los Angeles.
— Mia, querida, você está aí? — A voz volta a insistir.
Saio do meu estado pensativo e me concentro na voz da mulher do
outro lado da linha.
E novamente, sem pensar duas vezes, respondo a primeira coisa que
me vem na cabeça.
— A Mia não está — digo me lembrando do bilhete que ela deixou.
— Foi fazer as compras de natal.
Mal fecho a boca, e a linha fica muda. Conto até cinco, pensando que
é tempo o suficiente para a mulher dizer algo e desligar. Mas não, eu estava
equivocado! Nem chego a contar até três e a linha é preenchida por um grito
animado.
— Tua voz é masculina?! — Ela meio pergunta, meio afirma.
Faço um som de desagrado, e a mulher do outro lado da linha solta
uma risada alta. É claro que minha voz é masculina! Ou não é? Não tenho
tempo para pensar em uma resposta grosseira e rápida, pois a louca do outro
lado recomeça com o vômito de palavras.
— Ah, sim, foi o que pensei! Masculina e desse jeito, deve ser o tal
pseudo noivo da Mia. Prazer, Elena Sanders, mãe da Mia e sua sogra.
É o que está acontecendo?
Minha cabeça começa a dar voltas. Eu penso, e penso... e penso. Algo
que raramente faço! E não chego a nenhuma conclusão. Quer dizer, a louca
tirou a sua própria conclusão da situação. Situação essa da qual eu não faço
ideia do que é. Exceto que Mia “parece” ter um noivo e não disse nada sobre
o cara para a sua mãe.
Além do mais, quem mente pra mãe e diz que o nome do cara é
noivo? Só Mia mesmo para inventar uma coisa dessas!
E com esse ultimo pensamento, eu me viro em direção à porta, dando
de cara com a minha secretária olhando-me boquiaberta e muito pálida,
segurando a sua bolsa aberta. Seu olhar tem a pergunta que sua boca não faz,
e de repente, um sorriso malvado surge em meus lábios.
Ah, a vingança! Ela tarda, mas não falha!
— Sou eu mesmo — digo olhando diretamente para Mia. — Aspen
Russell, é um prazer finalmente conhece-la, sogrinha.
Capítulo 3 – Mia

Encosto-me no batente da porta aberta da sala do Aspen, o


observando trabalhar concentrado na campanha da louca dos cookies. Seguro
o copo de café e espero ansiosamente que ele diga aquelas palavras magicas.
Depois de vê-lo interagir com a minha mãe — não é preciso ser um
gênio para saber que era ela — e confirmar a minha (e atenção aqui, por
favor!) e a presença dele no natal com a minha família, simplesmente entrei
no modo automático. Joguei a minha bolsa nele sai dali o mais rápido
possível.
É claro que não consegui voltar a tempo e pegar o meu celular sem
que ele percebesse. Tudo o que queria naquele dia era:
1- Fazer as compras para o natal;
2- Voltar para o trabalho sem receber a carta de demissão;
3- Arrumar um noivo a tempo para o natal com a minha família;
É parece que o item três da minha lista já pode ser excluído... ou não!
Enquanto fazia o meu caminho de volta para a empresa, eu comecei a
formular um novo plano.
Minha mãe apenas conversou com Aspen, logo ela nunca o viu na
vida! Então eu poderia contratar alguém para fingir que é meu noivo por
alguns dias. Contando que seja um homem e embarque na mentira comigo, tá
tudo ok.
Mas o grande problema era encontrar essa pessoa que pode fingir ser
o “Aspen Russell.” Já que meu chefe fez o enorme favor de dizer o seu nome
verdadeiro e ferrar com a minha mentira — que, diga-se de passagem, estava
virando uma gigantesca bola de neve.
— Mia?
Sou tirada dos meus pensamentos sobre encontrar um ator bom o
suficiente que interprete um noivo apaixonado, e olho para Aspen que me
encara pálido. Eu assisto o momento em que ele engole em seco e encara o
copo na minha mão.
Ora essa, Russell, Você não queria um café?
O pensamento me faz abrir um sorriso bem grande, e eu me sinto a
própria Malévola ao ver o rei Stephan implorar para que ela não amaldiçoe a
sua pequena princesa.
Eu espero Aspen dizer algo. Encaramos um ao outro para ver quem
vai ceder primeiro, e como o demitida não vem, dou um passo a frente e entro
por completo na sua sala.
— Seu café, chefinho — digo em um tom meloso, e Aspen arregala os
olhos.
Chupa essa, Russell!
— Eu não pedi café, Mia.
Seu tom trêmulo faz com que meu sorriso aumente.
— Engraçado, pensei ter ouvido você pedir um café do Starbucks
quando eu sai para o almoço.
Faço um biquinho e Aspen fica ainda mais pálido.
— Eu retirei o pedido! — ele diz apressadamente.
Dou um passo na sua direção, e Aspen se levanta da cadeira em um
pulo. Quando faço menção de me aproximar ainda mais dele (e já desejando
a demissão pelo o que vou fazer) Aspen solta um grito e levanta as mãos para
o alto, e começa afalar desenfreadamente:
— Caralho, Mia! Desculpe pelo o que eu disse a sua mãe, tá legal? Eu
não pensei que você iria ficar toda nervosinha com o que aconteceu! Aliás,
Eu pensei que a merda da bolsada que você me deu já teria servido como
castigo!
E como eu fico ao ouvi-lo falar da minha bolsa? Fula da vida. É claro!
— Não é apenas uma bolsa! É uma Prada! — digo entre dentes.
Aspen leva as duas mãos a cabeça, puxando os fios escuros com
força, com uma expressão assustada no rosto. “Tem medo, mas não tem
vergonha!” Penso irônica.
— Que seja! É quase tudo a mesma merda! — diz ele.
Ele não me olha de imediato, e quando o faz, passa a mão no rosto,
claramente frustrado por não dizer nada que possa livrá-lo do castigo.
— Errou feio, hein, senhor Russell.
— Que droga, Mia!
— Que droga nada! Você ferrou com o meu natal em família, Russell!
O que vou dizer a minha mãe agora? Acha que é fácil mentir para ela? Que
inferno! Por que não deixou a droga do celular tocar até a morte dele?
Meu tom é frio e acusatório. Estou soltando fogos pelas ventas e isso
é culpa de Aspen e sua intromissão nos meus assuntos familiares. Filha da
mãe! Mas não é a situação, ou o fato de Aspen ter dito algo sobre a minha
bolsa (que merda! É uma Prada, seu idiota!), mas é a cara de quem está
prendendo o riso para tentar evitar outro acidente.
Ele está rindo de mim na maior cara de pau!
Aspen morde o lábio, me olha como se estivesse tentando desvendar
um mapa do tesouro, e então abaixa as mãos e dá alguns passos na minha
direção.
— Já acabou com o monólogo? — ele pergunta. Seu tom é o mesmo
que ele usa quando uma de suas “namoradas” aparece por aqui.
— Vá se danar, Aspen! — digo e me viro de costas para ele. — Por
sua culpa eu vou ter que explodir o meu orçamento com algum ator que finja
ser você por quase duas semanas!
Saio falando por cima do meu ombro. Não me importa se estamos na
empresa, se alguém vai nos escutar ou etc e tal. Geralmente, o nosso andar é
calmo e quase não tem visitas. O que é uma ótima. Mas no momento, eu
prefiro mil vezes um lugar movimentado a ficar sozinha com Aspen.
As chances de acontecer um homicídio no momento são altíssimas!
— Acho que você não vai precisar gastar sua fortuna com atorzinhos
de merda — Aspen diz atrás de mim.
Viro-me no exato momento em que Aspen balança o celular na minha
cara, abrindo um sorriso presunçoso. Na tela, o seu Facebook está aberto, e
bem na página do perfil que eu conheço muito bem. Alguém que levou nove
meses para me colocar no mundo, e agora, está me traindo de tal forma.
— Ai meu Deus...
— Ai meu Deus não, bruxinha. É mamãe mesmo!
Eu respiro fundo três vezes. Olho do Aspen para o seu celular. A
mensagem de amigos me deixa a ponto de ter um infarto. Minhas mãos
começam a suar, meu coração dispara e tenho uma leve vertigem. Deus do
céu! Quando esse pesadelo vai acabar? Pergunto a mim mesma, querendo
que um raio caísse sobre mim.
Mus ombros caem, sinto meus olhos queimarem assim como a minha
garganta ficar seca. A situação agora fica clara como água para mim: Vou
levar meu chefe para o natal em família.
Finalmente olho para Aspen, que está sorrindo igualzinho ao dia que
conseguiu aquela campanha para os Roosevelts Company. Um sorriso que
chega aos olhos. O tipo vitorioso cheio de dentes perfeitos e bonitos que dá
inveja, e posso até perceber uma covinha tímida na sua bochecha esquerda.
É, Sanders, você se ferrou legal!
— Vou voltar ao trabalho — digo e pego a mão de Aspen depositando
o café. Dessa vez sem incidente. — Seu café, senhor Russell. Tenha uma boa
tarde.
Viro-me e ando de volta para a minha mesa. Aspen retorna para a sua
sala saltitando, parecendo uma gazela. Mas ele nem ao menos encosta a porta
e o elevador se abre.
Uma loira no estilo das Patricinhas de Bervely Hills sai de lá e
caminha até a porta da sala de Aspen. Ignorando a minha presença por
completo. Como sempre!
— Srta. Devon, em que posso ajudá-la? — pergunto assim que ela faz
menção de abrir a porta.
Hoje não, querida. Estou fula da vida com seu caso do dia que está
ali dentro. Penso malévola e a ideia de ser uma empata-foda não me parece
tão ruim assim.
— Meu assunto é com o Aspen, não com você, queridinha.
Seu tom é tão falso quanto as suas unhas grandes e vermelhas. Fala
sério! Quem usa uma unha daquele tamanho? E o cabelo? Agora um pouco
mais próxima, percebo que ela mirou no loiro, mas acertou no cinza chumbo.
Cristo! O que certas mulheres não fazem para ficar na moda? Chega a
ser ridículo e hilário.

No caso dela, hilário. Já que é um ser todo plastificado. Nem os olhos


azuis são dela!
— O assunto é sim da minha conta a partir do momento em que sou
responsável pela entrada e saída de qualquer pessoal que passa por aqui.
Afinal de contas, o sr. Russell me paga para isso.
Abro o meu sorriso colgate e apoio o queixo na minha mão. Encaro-a
em desafio. Aguardando o segundo em que ela perderá a pose que tenta
manter e deixe seu lado barraqueiro aparecer. E isso já aconteceu.
E como o esperado, Tiffany (sim, esse é o nome dela) joga o cabelo
de lado, empina os seios siliconados e se aproxima da minha mesa.
— Escuta aqui, sua secretáriazinha de merda — Diz ela. — Você
pode até querer tentar mandar no Aspen com esse seu jeitinho de assistente
pessoal, mas entenda uma coisa: você jamais vai estar na cama com ele.
Aspen é meu! E logo, logo serei a senhora Russell, e você, querida Mia, irá
para a rua. Como as outras quinze que toquei daqui.
Suas palavras deveriam me fazer tremer na base. Ficar com medo ou
até mesmo pedir demissão. Mas o ao invés de retrucar a sua “ameaça”, reviro
os olhos e abro um sorriso amigável para ela.
Na verdade sinto pena de Tiffany. Pena de uma mulher que precisa de
um homem para poder se sentir poderosa. Algo que não preciso, é claro.
Tiffany usa de sua “relação” com Aspen para tentar me intimidar a anos. Mas
mal sabe ela que seu caso, na verdade, tem em mente que é livre e
desimpedido.
— Tiffany? O que faz aqui?
O som da voz do meu chefe faz com que Tiffany dê alguns passos
para trás. Ela se vira, e abrindo um sorriso mais falso que Iphone do Paraguai,
caminha até ele e tenta beijá-lo na boca. Mas não obtém sucesso.
— Oi, meu amor. Vim ver você, mas acabei me entretendo em uma
conversa com a fofa da Mia.
Falsa! Cobra plastificada! Cérebro de mosca!
Aspen me olha, e vejo seus olhos brilharem. Ele não acreditava nela.
E eu até posso suspeitar que ele escutou parte que sua “foda” disse pra mim.
— Mia, por favor, envie para mim o portfólio daquela campanha de
jeans que estamos trabalhando. Não vou demorar aqui.
Eca! Penso ao vê-lo puxar a cobra plastificada para dentro da sua sala.
Antes de fechar a porta, vejo Tiffany abrir um sorriso de orelha a orelha para
mim, e então a porta se fecha.
Respiro e volto à atenção para o meu computador. Tento focar a
minha atenção no trabalho, mas minha cabeça tem coisa demais para pensar.
Meu celular toca em cima da mesa, e o nome mamãe brilha na tela
com a música insistente.
Ah, dia! Você nunca terá fim?
Capítulo 4 – Aspen

Tiffany era uma questão que eu deveria ter resolvido há muito


tempo. A filha da mãe me atormenta há mais de cinco anos, e eu apenas
mantinha uma relação casual com ela em consideração a minha irmã, que era
a sua melhor amiga e a adorava.
Nunca assumi relacionamento algum com ela. Tudo sempre muito
bem claro e definido. Mas desde então, a louca simplesmente resolveu que
estamos noivos e que vamos nos casar na próxima primavera.
Mas alguém ai perguntou se eu queria? Ou se ao menos fiz o pedido?
Tiffany era a razão de noventa por cento dos meus problemas. Ela era
a culpada de eu ter que trocar mais de quinze vezes as minhas assistentes, que
pediam demissão sem direito a nada. Tudo com medo das ameaças que a
maluca fazia. A única que aguentou foi Mia. Inacreditável, eu sei. Mas ela
não se deixava abater pelas ameaças que Tiffany fazia.
Como agora há pouco.
Que Tiffany era mulher superficial e sem conteúdo algum, isso já não
era uma novidade para mim. E ao vê-la intimidar Mia hoje, só me mostrou o
quanto cabeça oca uma mulher pode ser.
Tiffany era apenas uma mulher com atributos físicos que atraiam um
homem. Perto de Mia, isso desaparecia e Tiffany tornava-se nada. Minha
assistente era uma mulher estonteante, natural e com uma inteligência que me
botava no bolso todos os dias.
Eu era a porra do um chefe pau mandado!
Olho para o meu celular em cima da mesa, com o facebook aberto no
perfil da mãe da minha assistente. Rolo a pagina para baixo, investigando um
pouco sobre a Mia.
Mia Sanders é uma mulher do tipo que faz as coisas acontecerem ao
invés de ficar sentada falando sobre o assunto. Agora a pouco mesmo, depois
que Tiffany saiu aos prantos da minha sala e gritou algo desconexo, antes de
entrar no elevador e sumir. Mia entrou na minha sala com um semblante sério
e profissional. Ela entregou-me os portfolios e voltou para a sua mesa sem
dizer nada.
E detalhe: eu não os pedi impresso e em cores.
Quando eu chego com o fermento, Mia já está com o bolo assado,
decorado e pronto para ser cortado. Profissionalismo deveria ser seu
sobrenome.
Olho para o meu celular e vejo uma foto da Mia.
Ela está abraçada com um rapaz alto, com um sorriso lindo que eu
jamais vi. Eles estão com roupas de frio e patins, sobre um lago congelado.
Minha tem os cabelos soltos por baixo de uma touca e os lábios e bochechas
vermelhas devido à baixa temperatura.
Eu vejo aquilo, e só consigo focar na sua boca e o sorriso perfeito.
Algo dentro de mim deseja aquele sorriso voltado a mim, que fossem meus
braços na sua cintura, não a do rapaz cujo nome é...bebê da mamãe?
Não consigo evitar e quando dou por mim, já estou gargalhando alto,
sozinho na minha sala enquanto a legenda da foto roda na minha cabeça.
Caralho! Nem a minha mãe me chama assim... se bem que no momento
minha mãe está de cara comigo por pensar que estou em um relacionamento
com a maluca da Devon.
Não, Russell. Você está em um noivado falso com a sua assistente.
O pensamento me faz rir ainda mais.
Quem diria que eu, Aspen Russell, estaria em um noivado de fachada
como forma de vingança por ter café entornado nas minhas calças. Tudo
porque a esquentadinha da minha assistente não gostou que eu a comi com os
olhos.
Ok, a palavra é meio pejorativa. Mas ninguém imagina o quanto é
tentador ter Mia andando de um lado para o outro na minha sala com aquele
vestido de secretária colado ao corpo e saltos altíssimos pretos todos os dias.
Eu sou homem, poxa!
Escuto o som de uma campainha, indicando o elevador. Através do
vidro opaco, assisto o momento em que ela na caixa de metal e aperta os
botões do painel. Mia olha na minha direção e faz uma careta, contorcendo os
lábios e inclinando a cabeça para o lado. Seus olhos brilham em hesitação.
Ela balança a cabeça, parecendo tentar espantar algum pensamento e desvia o
olhar da minha sala.
Mas então, as portas se fecham e Mia some do meu campo de visão,
deixando apenas seu perfume como uma lembrança de que ela esteve aqui.
Solto uma longa lufada de ar, só agora percebo que estava prendendo
a respiração. Passo as mãos pelos meus cabelos, confuso com toda essa
situação.
Volto a encarar a tela do computador. Uma campana a ser finalizada,
mas eu nem sequer conseguia pensar nisso. Minha mente estava cheia demais
com pensamentos de Mia e a palavra noivado.
Noivo.
Era uma palavra que soava estranha na minha cabeça. Eu sempre me
considerei um homem livre e desimpedido. Relacionamentos não se
encaixavam nos meus planos. E eu estava bem sozinho. Tinha a mulher que
quisesse e, bem... a louca da Devon no meu pé.
Mas isso não importa mais! Finalmente dei um jeito de sumir com a
maluca. A situação já estava passando dos limites! Foram apenas algumas
noites e bons drinks. Nada além do combinado.
Se ela se apaixonou por mim, o problema era dela. Eu não tenho culpa
se sou irresistível. Fazer o que? Minha genética era boa, oras!
Lanço um último olhar para o meu computador, e então desvio a
atenção para a tela do meu celular, que ainda estava aberto na foto de Mia.
Então uma ideia surge na minha cabeça.
Levanto-me de supetão e desligo o computador. Guardo alguns papéis
importantes em uma pasta e deixo tudo organizado. Pego o celular, chaves e
pasta e saio do meu escritório.
Adeus, meu amor. Até depois do Natal.
Sorrio com este pensamento e me encaminho para o elevador. Aperto
o botão e aguardo. Saco o celular do bolso e anoto o número que preciso.
Disco e espero a ligação ser concluída.
No instante seguinte, escuto uma voz feminina e alegre do outro lado
da linha, e sorrio.
— Elena Sanders, com quem falo?
Entro no elevador e aperto o botão de subsolo. Olho-me no espelho e
noto que meus olhos tem um olhar travesso.
Ah, bruxinha. Minha vingança está apenas começando...
— Oi sogrinha. — Abro um sorriso enorme ao dizer aquilo. Caralho!
Que doideira! — Sou eu, Aspen Russell.
Capítulo 5 - Mia

Eu tinha duas certezas atuais na minha vida.


A primeira? O meu natal seria uma catástrofe!
E a segunda? O meu chefe era um cretino.
Encaro a sua figura alta e esbelta andar pelo meu apartamento, num
tipo de reconhecimento do terreno. Palavras dele, não minhas!
O desgraçado simplesmente brotou na minha porta nesta manhã. Um
dia antes da minha viagem, cujo eu ainda acreditava fazer sozinha e chegar na
casa da minha família com alguma desculpa qualquer.
Mas eu estava tão, mas tão equivocada!
Aspen bateu na minha porta às oito da manhã. Segurando dois copos
do Starbucks e seu famoso sorriso de lado que conquista qualquer coisa, de
qualquer pessoa.
Primeiro ele me olhou de cima abaixo, provavelmente estranhando o
meu pijama de inverno com estampa de Olaf. Depois, Aspen começou a
gargalhar alto, não se importando com o fato de que estava no corredor do
meu prédio, com apartamentos vizinhos, que abrigavam pessoas ainda
adormecidas.
Minha reação foi fechar a porta na cara dele. Apenas para dois
segundos depois o meu telefone tocar com sua cara desgraçada de tão linda
aparecendo na tela.
— Você ainda não disse o que veio fazer aqui, Aspen.
Beberico o meu café delicioso, enrolada em um dos lados do meu
sofá, enquanto o observo andar de um lado para o outro.
Quando chegou aqui, Aspen usava um sobretudo preto, coturnos e
calça jeans escura. Tudo muito escuro e estranho para ele. Mas assim que
entrou no meu aconchegante e quentinho apartamento, o casaco voou longe.
Deixando a mostra a blusa de manga longa branca.
Fala sério! Como alguém poderia ficar tão bonito de jeans e blusa
branca? Aspen conseguia essa proeza facilmente, e ainda por cima fazia
questão de esfregar na minha cara o quanto era bonito enquanto andava pela
minha sala.
— A viagem ainda está de pé? — ele pergunta enquanto tenta
esconder o sorriso travesso que brinca em seus lábios.
Alço uma sobrancelha de forma questionadora. Minha mente começa
a se perguntar se ouvimos a coisa certa mesmo.
Quando dou por mim, estou encarando o meu chefe boquiaberta e
olhos arregalados. Minhas mãos começam a soar enquanto seguram o copo
de café, e um arrepio percorre o meu corpo.
Mas que merda! Nem está frio aqui dentro! No entanto, porque tenho
a sensação de que a temperatura está diminuindo gradativamente?
— Mia?
Ouço a voz de Aspen. Pelo seu tom, parece um tanto alarmado, e eu
me forço a encará-lo.
— Você quer ir para a minha casa e fingir ser meu noivo?
Minha voz sai em um sussurro incrédulo, enquanto eu tento a todo
custo não sair correndo e gritando com qualquer um que apareça na minha
frente.
— Sim. — Aspen responde com tamanha convicção. — Na verdade,
preciso fazer isso. Vamos chamar de troca de favores.
— Por que tenho a sensação que isso vai dar merda?
— É porque vai dar merda.
Pisco, surpresa por suas palavras tão sinceras. E então, no instante
seguinte, estamos os dois gargalhando feito dois idiotas.
É claro que vai dar merda! Mesmo fazendo um grande esforço, Aspen
e eu não conseguimos passar dois segundos sem insultar um ao outro.
Entretanto, parece que são os insultos que nos mantém unidos no trabalho.
Devo confessar que existe uma química entre nós. Aspen pode ser um
grande filho da puta às vezes, mas tornou-se um amigo nos últimos três anos.
Então, se ele quer me ajudar, não custa nada fazer a mesma coisa por
ele. Basta saber o que o cretino quer.
— Qual é o favor que você deseja, Russell? — pergunto.
Aspen passa as mãos pelos cabelos, parecendo nervoso. Sorrio e me
ajeito no sofá, segurando o meu copo de café ao alcance dos seus olhos. Ele
percebe as minhas intenções, e em um movimento rápido, toma o copo das
minhas mãos.
— Tá legal, bruxinha — ele diz, depositando o meu copo sobre a
minha mesinha de centro. — A primeira coisa é: não ria. Ou eu ligo para a
sua mãe, te deduro e ainda assino a sua carta de demissão.
Eu encaro Aspen e ele me encara. Busco em suas feições algum sinal
de que ele está brincando. Mas seu rosto está impassível. Engulo em seco e
decido colaborar. Seguro as minhas mãos juntas e as encaro.
— Ok. Desembucha logo, cretino.
Aspen ri, e se senta ao meu lado, me encarando.
— Eu passei a noite inteira pensando no assunto. Então não pense que
é uma vingança, pois não é. Se fosse, não estaria aqui tentando ser sério e...
Ah, que merda Mia!
Juro que tentei segurar o riso, mas ver Aspen tentando ser tão sério e
certinho aguçou o meu lado rebelde e agora, estou gargalhando feito uma
louca enquanto ele me encara emburrado.
— V-você... s-se-sério... — digo entre a risada, mas sai tudo em um
gaguejo.
Tento respirar fundo, me controlar para não ganhar a carta de
demissão e a ignorada másters da minha mãe no natal. Ninguém merece
passar as festas de fim de ano sozinho. Ainda mais quando se fez e está
fazendo uma merda tão grande como eu.
Quando estou mais calma, Aspen me passa o meu copo de café e eu
dou um longo gole. A cafeína tem um efeito de calmante sobre mim, e eu me
sinto mais dona de mim mesma.
— Posso continuar?
Ele me encara alçando uma sobrancelha. Balanço a cabeça para cima
e para baixo, e ele toma o meu copo de café. Medroso!
— Desculpa.
— Tudo bem. — Ele respira fundo. — Então. Eu tentei pensar na
loucura que vai ser isso. Uma vez que você tem um instinto assassino sobre
mim quando faço merda, e eu, bem... vivo te irritando. Sabe, não vai dar
certo.
— Que saco, Aspen! Diga-me algo que eu já não saiba?
Eu o corto e ele me lança um olhar mortal. Ui, me arrepiei aqui!
— Cala a boca, Sanders! — Ele passa as mãos pelo cabelo
impaciente. — Então eu recebi uma ligação, mais especificamente da minha
mãe...
Eu sinto a tensão no ar no momento em que ele diz isso. Aspen hesita
e me olha de relance e respira fundo. Mordo o lábio inferior, segurando uma
risada insistente.
— Tá, o que a mamãe Russell disse? — digo e recebo um olhar
reprovador.
— Minha mãe... quer dizer, a Eva, como ela me mandou chama-la.
Convocou-me para o natal em casa, assim como a sua. Mas tem uma coisa de
muito ruim nisso.
— Que seria... ?
— A filha da mãe da Devon vai estar também. Afinal de contas, ela é
amiga da mimada da minha irmã. Longa história, Mia. — Abro a boca para
fazer um comentário, e ele levanta uma mão, me calando. — O problema é
esse. Depois de ontem, bem você viu, Tiffany não aceitou o fora. Foi até a
minha casa, fez chilique e me ameaçou. Tem ideia que loucura foi isso?
Assinto e seguro a risada. Isso que dá ser um cretino, Russell. Eu
penso com ironia.
— E onde eu me encaixo nisso tudo?
A minha curiosidade resolve dar as caras, e eu me vejo ansiosa para
saber mais sobre o chilique da ex do meu chefe. E o que ele fez e irá fazer a
respeito disso tudo.
— Minha família acredita que eu estou em um relacionamento com a
maluca — Ele solta de uma vez. Abro a boca para dizer algo, e sua mão vem
de encontro aos meus lábios. — Não, eu não fiz uma coisa dessas. Você me
vê noivo dela, Mia? Fala sério! Eu sou idiota, mas não chega a tanto!
— Convenhamos, Aspen, você é sim maluco de fazer uma merda
dessas.
Eu rio da sua cara. Aspen está pálido, os olhos escuros brilham de
pavor e eu me pergunto o quão terrível foi esse “barraco” da Tiffany. Coisa
boa é que não foi!
— Ela é apaixonada por você, chefinho.
Jogo lenha na fogueira. Aspen se levanta de supetão e começa a andar
de um lado para o outro, puxando os cabelos com uma expressão incrédula
no rosto.
— O sentimento não é reciproco. Acredite.
— Eu acredito. Agora, se não vai me contar os detalhes sórdidos.
Sugiro que me diga em qual parte da sua história eu me encaixo. E que seja
rápido e bem convincente.
Meu tom é sério, mas suave. Aspen me olha incrédulo, mas faz o que
peço. Ele se senta ao meu lado e devolve o meu café, fazendo o mesmo com
o seu copo. Dou um longo gole, e Aspen faz o mesmo. Mas tenho a
impressão que ele deseja que a cafeína fosse uma dose de vodka.
— Preciso que realmente me aceite como seu noivo de mentira. Por
favor, Mia. Não quero ir para casa e enfrentar a Devon nem a minha
progenitora. Tem ideia do inferno que vai ser?
— Acho que tenho uma “ideia” de como é.
Paro para pensar por um segundo. Aspen estava com medo do que a
maluca da Tiffany poderia fazer quando estivesse perto da sua família. E eu
sei bem como é ter um louco na família. Mas no seu caso, ela se dizia noiva e
protetora da virtude de Aspen Russell. É até engraçado a forma como ela age
em cima dele.
Por outro lado, ele assim como eu, estaria mentindo sobre um
relacionamento inexistente.
Eu mentindo para agradar as vontades malucas da minha mãe. Ele
para fugir da sua família e da maluca que se dizia ser sua noiva.
Levanto o meu olhar para Aspen. Ele me encara em expectativa. Os
olhos escuros brilhando, as mãos segurando o copo de café a ponto dos nós
dos seus dedos ficarem brancos. Ele estava desesperado, e assim como eu, em
busca de uma solução.
— Então isso é uma proposta? — pergunto por fim. — Você me
ajuda com a minha família, e eu te ajudo a fugir da sua?
Aspen dá de ombros.
— É basicamente isso.
Nós nos encaramos por alguns segundos. Dois idiotas apreensivos em
busca de uma solução para os nossos problemas. Não que ser noiva de Aspen
será um problema. Mesmo que de mentira, fingir ter alguma ligação com ele
é engraçada e desesperador. Afinal de contas, o diabo é lindo de morrer, o
que facilita.
Imagina se ele fosse barrigudo, meio careca e burro? Deus me livre!
E com um sorriso de lado, estendo uma mão para ele, que encara
confuso por um segundo. Vejo o relampejo de compreensão cruzar seus olhos
escuros, e com um sorriso ele aperta a minha mão. Selando o nosso acordo
silencioso.
De repente, começo a rir sem parar. Aspen me olha sem compreender
o que está acontecendo. Coitado, pensou que eu fosse normal! O pensamento
me faz rir ainda mais.
Eu me deito de costas no sofá, rindo e rindo da careta do meu chefe.
Cacete!
— Do que está rindo, Sanders? — Aspen pergunta. Seu tom é um
misto de curiosidade e irritação.
— De tudo — digo entre as risadas. — Até ontem eu iria alugar um
noivo. E agora, eu tenho um noivo de mentira, e ainda por cima é o cretino do
meu chefe, quem eu derrubei café nas calças por estar me secando!
Confesso em um folego só. E só então percebo o quão insana é a
situação.
Aspen não é o tipo de cara que eu levaria para passar o natal com a
minha família e diria: Ei, pessoal! Esse aqui é meu noivo e chefe, quem eu
entornei café nas calças por estar olhando mais do que devia para o meu
corpo.
Qual é?! É ridículo para qualquer um!
Mas aqui estou eu. Descabelada com um pijama do Olaf tomando
café com o meu chefe que parece um modelo, enquanto discutimos como vai
ser esse noivado de mentira.
Parecendo ler a minha mente, Aspen se junta a mim e começa a rir
junto. Pela primeira vez eu não o desejo morto, e ele não me come com os
olhos. Ah, que palavra ridícula! Nós dois simplesmente rimos da nossa
situação, tomamos café e conversamos como duas pessoas normais.
Sem café nas calças, sem mãe maluca casamenteira e ex-maluca.
Somos apenas a Mia e o Aspen. Chefe e assistente. Noivos de mentira.
Tem como isso ficar ainda pior?

Levanto um cardigã azul da arara e coloco na frente do meu corpo.


Aspen olha, coloca a mão sobre o queixo, parecendo ponderar sobre a
vestimenta. Por fim, ele faz sinal que não e me joga uma sacola preta grande.
— Isso ai não vai combinar com isso aqui. — Ele diz.
— O que você aprontou?
Encaro a sacola em choque. O logo dourado que reconheço bem me
fazendo abrir um sorriso gigantesco. Solto o cardigã e corro na sua direção.
Sem medir as minhas ações, envolvo o pescoço de Aspen com meus braços e
o puxo contra mim.
Nossos corpos se colam e eu sinto um arrepio percorrer o meu corpo
quando seus braços fortes me envolvem pela cintura. Sinto sua respiração no
meu pescoço, fazendo a minha pele se arrepiar com o contato, enviando
ondas de sensações estranhas para o meu estomago.
— Eu sei que você gosta dessa marca. E a vendedora me disse que
todas as mulheres estão loucas nessa dai. Então me lembrei de um filme que
minha irmã me obrigou a assistir, e realmente é a sua cara.
— Que filme?
Afasto-me de Aspen, apenas o suficiente para vê-lo com um sorriso
travesso e nos lábios e os olhos brilhando de excitação. O típico olhar que
Aspen faz quando apronta ou é pego no flagra por mim.
Com um sorriso de lado, ele me puxa para mais perto de si e aproxima
sua boca do meu ouvido. A proximidade causa arrepios pelo o meu corpo.
— O Diabo Veste Prada.
Em um instante, vejo Aspen como um possível novo melhor amigo.
No outro, vejo a sua figura como o próximo alvo a ser enterrado vivo.
— Fala sério, Mia! — ele resmunga em um misto de dor e
divertimento. — Eu só estava brincando, bruxinha.
— Não estava não.
Volto a minha atenção para as roupas, ignorando os protestos
baixinhos do meu chefe. Filha da mãe! Ele ri enquanto se aproxima de mim,
segurando a caixa que caiu da sacola.
— Você não gostou? Será que devo devolver?
— Nem pense nisso, Russell!
Viro-me rapidamente e pego o embrulho das suas mãos fazendo um
biquinho. Ele solta uma gargalhada alta enquanto eu sento em um desses pufs
de loja para abrir a minha gratificação de natal.
Tiro o papel de embrulho e vejo o objeto que vou ostentar nas
próximas semanas. O sorriso que se abre em meu rosto deve ser capaz de
iluminar o continente europeu por vários meses.
— Cacete Aspen! — exclamo boquiaberta. — Eu amei! Obrigada,
chefinho.
Aspen ri e se aproxima de mim. Sinto algo de estranho com a sua
proximidade, e não tem nada a ver com instinto assassino que tenho quando
ele está por perto.
Esse é mais intenso, abrasador e confuso.
Pisco confusa. Aspen está tão próximo agora. Sinto seu perfume caro
me rodear, e tenho uma súbita vontade de soca-lo por usar uma fragrância tão
boa e máscula. Cretino!
— Finalmente acertei, hein, Sanders?! — ele ri, e então a sua mão
acaricia a minha bochecha. O polegar fazendo círculos, deixando um rastro
quente pelo m eu rosto. Coro pela primeira vez na sua presença, o que me
deixa fula da vida e desconcertada ao mesmo tempo. — Já acabou por aqui?
Ele se afasta e solto o ar que estava preso em meus pulmões. Só então
percebo que estava prendendo a respiração. Sua aproximação repentina me
deixou paralisada no lugar. Levo um tempo para processar as suas palavras, e
só consigo pensar em algo quando uma das vendedoras que estava me
atendendo aparece, segurando várias roupas em seus braços pequenos.
— Acho que ainda não. — Respondo com um sorriso de orelha a
orelha. — Preciso ver mais algumas coisas.
— Mais? Você já comprou metade da loja! Do que mais precisa?
O tom indignado de Aspen me faz rir, assim como a vendedora que
tem roupas até o pescoço. Tadinha!
— Nunca é o suficiente, senhor. Deixe a sua namorada se divertir. —
A moça diz e eu olho para Aspen sorridente.
— Você a ouviu. Deixe-me ser feliz, amorzinho.
Dou de ombros e sigo em direção a um provador vazio, com a moça
em meu encalço. Assim que entro fecho à cortina e começo a provar algumas
coisas que escolhi. Ouço Aspen resmungar algo do lado de fora, avisando que
estará em uma loja ao lado. Apenas grito um ok e volto a me divertir.
Não existe nada mais relaxante do que fazer compras!
Trinta sacolas depois e um arrombo no cartão (até parece!) saio de
mais uma loja com um sorriso enorme, com a minha nova Prada em mãos
em busca do meu noivo falso. Dou risada sozinha com o pensamento.
Penso em rodar a praça de alimentação em sua busca, afinal de
contas, já passa do meio dia e Aspen é um homem que tem fome infinita.
Mas assim que avisto o Starbucks, meu estomago protesta. Meu corpo
imediatamente sente falta da cafeína que geralmente tomo em excesso, e
hoje, foi totalmente diferente.
Desisto da ideia de procurar Aspen e entro no café. Com certa
dificuldade, me coloco na fila e aguardo a minha vez.
Aspen tem meu número, ele sabe onde me encontrar.
Sinto o olhar de algumas pessoas sobre mim, mas quem liga? Se eu
aparecer em casa sem um mísero presente para a minha mãe, ela com certeza
vai me matar e fazer um cachecol com o meu cabelo.
Ela é louca, sim. Mas eu a amo incondicionalmente.
Minha vez chega e peço o de sempre, mas o problema real vem na
hora de pagar.
Como pegar o meu cartão com cinquenta sacolas em mãos? É missão
impossível! Peço um minuto para a garota fofa que está me atendendo e tento
(inutilmente) pegar o bendito cartão.
— Precisa de ajuda? — Alguém pergunta atrás de mim.
Viro-me para trás pronta para dizer: Que? Imagina! Posso fazer isso.
Até ver o belo espécime que estava se oferecendo para ajudar-me.
Se anjos existem? Eu não sei, mas o cara atrás de mim com certeza é
um enviado dos céus para foder o psicológico de qualquer mulher.
Alto, moreno de olhos verdes e cabelos escuros. Lindo de morrer e
ainda por cima com um sorriso de derreter gelo. Tem como ficar melhor?
Oh, sim! Claro!
Ele estende a mão e faz menção de segurar as minhas preciosas
sacolas de Victoria’s Secret que estão na minha mão esquerda. De branca fico
escarlate e tento murmurar um: obrigada ao gentil bonitão.
Sim, o melhor tá em ser cavalheiro!
Pago o meu café em pego as minhas sacolas de volta. O rapaz sorri
lindamente para mim e eu retribuo. Puta merda! Até o sorriso da criatura é
lindo! Será que ele não tem algum defeito?
— Obrigada mais uma vez — digo assim que tenho o liquido precioso
em mãos.
— Há outras maneiras de agradecer, boneca. — ele murmura e eu
coro.
Opa! Vai com calma Sanders! Tu não percebestes as segundas
intenções no tom do cara não? Minha consciência — até então adormecida
— grita comigo. Balanço a cabeça e tento pensar em uma boa desculpa e sair
dali.
Defeito encontrado: cretino igual ao Aspen.
— Ela agradece o convite, mas a minha noiva não está disponível.
Há momentos na vida em que você deseja com todo o seu coração que
um buraco se abra sob seus pés e te leve para algum lugar que não seja uma
situação constrangedora.
Mas infelizmente, não tenho tanta sorte assim.
Neste momento, eu adoraria enfrentar um chilique da minha mãe por
não estar noiva e mentir sobre um cara falso. Até mesmo enfrentar Tiffany e
seu ciúme descabido. Qualquer coisa seria melhor do que o olhar mortal que
estou recebendo dele.
Do meu noivo de aluguel. Aspen Russell.
Capitulo 6 – Aspen

Encaro uma Mia muito envergonhada. Vejo as suas bochechas


tomarem uma coloração intensa de vermelho. Ela abre e fecha a boca várias
vezes, e por fim, me lança um olhar assassino.
Abro o meu sorriso sacana e encaro o panaca parado na frente dela.
— Sabe como é mulher, né? É só deixa-las sozinhas por alguns
segundos e elas saem comprando o mundo. — digo e me aproximo de Mia,
pegando as suas sacolas.
— O que? — Mia resmunga baixinho, me fazendo rir.
Aproximo dela e a puxo pela cintura enquanto a minha outra mão
livre pega algumas sacolas. O cara olha para mim, depois para Mia, e
novamente para mim, e por fim resmunga algo antes de sair da nossa frente e
ir para a fila de pedidos.
Vejo isso como uma deixa e puxo minha assistente para fora do café.
Ela vive resmungando e xingando baixinho, o que arranca vários sorrisos de
mim.
— O que pensa que está fazendo Aspen?
Olho para ela, que faz biquinho.
— Te deixo sozinha por alguns minutos e você já quer me substituir?
— Coloco a mão sobre o peito, tentando fazer um drama.
— Fala sério, Aspen!
Ela revira os olhos.
— Pensei que fosse um bom noivo. Mas parece que você já quer me
substituir.
— Aspen, para de frescura. Isso tudo não passa de um combinado.
— Tem razão. — digo e olho para todos os lados, e então me ajoelho
na sua frente. — Não passa de um mero combinado.
— Aspen! — ela exclama alarmada. — O que pensa que está
fazendo?
Um olhar para Mia e sei que ela deve estar entrando em choque, e
provavelmente no minuto seguinte eu terei café nas minhas calças. Mas o
esforço vale a pena se for para importunar a vida da Mia.
Pois é isso que os chefes faze; levam seus funcionários ao limite.
— Amarrando os meus sapatos, oras!
Sorrio ainda mais ao ouvi-la grunhir de quase (eu disse quase) virar o
café na minha cabeça. Mas sou mais rápido e pego o copo de suas mãos, e
rapidamente levo aos meus lábios, provando o gosto amargo.
— Ei! Esse café é meu!
— Agora é meu, amor. Obrigada pela eficiência.
— Argh! Fique com esse ai, eu posso comprar outro.
Ela se vira, pronta para retomar o caminho até o Starbucks.
Levanto-me em um pulo e em passadas largas me aproximo dela.
— Se voltar lá para ele, saiba que tudo estará acabado entre nós —
digo em alto e bom som, e acabo chamando a atenção d algumas pessoas que
estavam passando. Mia se vira lentamente, como se estivesse em câmera
lenta e me lança um olhar de “Você ficou louco?” — Eu ou ele, Sanders.
E como o imaginado, o rosto de Mia é tomado pela cor vermelha. Ela
está furiosa, posso sentir as correntes de raiva que emana dela.
Abro um sorriso de orelha a orelha, e antes que ela comece a me
xingar e jogar a bolsa em mim, volto a me ajoelhar e pego do bolso a pequena
caixinha. Mia arregala os olhos e de vermelha ela passa a pálida em questão
de segundos.
— Amo você, amor. Não me deixe por conta dele. Pense no nosso
filho, como ele vai ficar?
— Aspen, que merda é essa? — ela pergunta e eu me seguro para não
rir da sua cara de desespero.
Neste momento, já temos uma pequena multidão a nossa volta.
Algumas pessoas cochicham umas para as outras, outras já nos encaram
apaixonadas. E eu tento a todo custo não rir da situação, que confesso, foi
muito bem planejada por mim.
É, eu sou foda!
— Eu sei que demorei muito tempo para perceber o que estava
sentindo aqui — Coloco a mão sobre o meu coração. — Mas eu te amo e
quero passar o resto da minha vida ao seu lado, ursinha. Então... casa
comigo, Mia?
Mia abre e fecha a boca várias vezes. Ela olha para as pessoas a nossa
volta, que iniciaram um coro de “own, que fofo” ou “Se ela não quiser, eu
aceito” e eu já não sou mais capaz de segurar o riso.
E superando todas as minhas expectativas, Mia me encara sorridente,
seus olhos brilhando de excitação e eu percebo em fim que ela iria aprontar.
Claro que iria! Ou não seria a Mia Sanders que eu conheço.
— Tá. — ela diz simplesmente. — Agora vamos. E... Ah! Por favor,
traga as minhas sacolas.
E então se vira e sai andando como se nada tivesse acontecido.
Sorrio para as pessoas e agradeço pela atenção. Encerro o show e sigo
a maluca. Quando enfim consigo alcança-la, Mia já está pagando o
estacionamento e indo em direção ao elevador.
— Você deveria ser ator, e não um dos melhores publicitários do país,
Russell.
Jogo a cabeça para trás liberando a gargalhada que tentei segurar
desde o momento em que fiz o pedido ridículo.
— Você amou que eu sei.
— Claro, como não amar um anel desses?
Ela analisa a caixinha por um segundo, e então levanta o olhar para
me encarar, fazendo uma careta.
— Mas tinha que ser da Tiffany e Co? Uma homenagem a sua ex-
maluquinha que me ameaçou nos últimos três anos? Não poderia ser algo, sei
lá! De plástico? Afinal de contas, todo esse teatro é para uma mentira contada
por mim.
— E por mim.
— Também — ela diz. — Mas, chefinho, não precisa gastar dinheiro
com coisas que serão devolvidas... — ela para de falar, e segundos depois, se
vira para mim sorrindo igual o gato da Alice. — Ou pode dar esse anel a
Tiffany quando retornar da casa dos meus pais.
E então joga a cabeça para trás, rindo gostosamente. Eu fico
boquiaberto com a audácia dessa pequena criatura. Nunca na minha vida eu
pediria alguém como Tiffany Devon em casamento. Com ela, eu sabia onde
estava me metendo. Mas tardiamente fiquei sabendo do tal “compromisso”
que levou a minha mãe me odiar e minha irmã virar a cara por pegar a sua
amiga.
Mas (que deus me perdoe) Tiffany se abriu para mim, e eu como
homem, fiz o que qualquer um faria se estivesse no meu lugar naquela noite:
cairia de matando!
E a minha reação daquela noite trouxe uma das piores consequências
da minha vida. Eu tive aquela garota fútil no meu pé nos últimos três anos. E
me arrependo amargamente de ter cedido aos desejos carnais.
— Tiffany nunca vai receber uma coisa dessas de mim — respondo
por fim, e Mia faz uma careta. — Não me olhe assim, Mia. Sabe como sou.
Mulher alguma me tem...
— Mulher alguma te tem na palma de suas mãos. Eu já sei, cretino.
Mas já parou para pensar que você está ficando velho, e logo, logo o seu
patrimônio vai ficar a deriva caso não tenha um herdeiro?
Suas palavras me atingem como um soco. Eu nunca havia parado para
pensar nisso. Nunca, em meus trinta e três anos, passou pela minha cabeça
em ter filhos para dar continuidade ao meu trabalho. Assim como o meu pai,
e o pai dele.
Abaixo meu olhar e a encaro nos olhos. Mia tem um brilho especial
no olhar, não sei explicar o que é, mas me sinto cativado e relaxado quando
vejo esse brilho habitar os belos olhos castanhos dela.
E agora, finalmente percebo o que é. É o olhar de te peguei. O tipo de
olhar que uma mulher lança a um homem quando ela é mais inteligente que
ele.
E é esse olhar de Mia que me deixa sem palavras.
— Você não existe, Mia! — digo e ela cora.
Puta merda! Mia Sanders acabou de corar! E atenção, mundo! Fui eu
que causei isso!
Suas bochechas ficam ainda mais vermelhas sob a intensidade do meu
olhar, e eu reprimo a vontade de pular em alto e mandar um soquinho no ar.
Pois, em três anos, Mia nunca corou com um elogio ou cantada Mia.
— É sério, Aspen. Você deveria repensar a sua situação. Eu acredito
que Tiffany faria de tudo para te dar um filho — ela diz e desvia o olhar do
meu, claramente envergonhada.
Sua reação me faz sentir o macho alfa. O fodão. Pica das galáxias.
Em três anos tudo o que ganhei de Mia foi olhares mortais, café nas
calças e xingamentos. Eu até desacreditava no meu poder de sedução sobre o
sexo feminino, pois Mia era uma mulher espetacular, logo, se ela não me
queria ninguém mais o faria. Exceto pela Devon.
— Lava essa boca com sapólio, Mia. Deus me livre ter um filho com
aquela doida!
— Seria um mini maluquinho!
Ela dá uma gargalhada. Contorço meu rosto em uma careta, e ela para
de rir no mesmo instante, seu rosto voltando a ficar corado.
— Não repita isso de novo. Meu Deus! Será que praga de mulher
pega? — pergunto.
— Pega — ela diz em resposta.
— Como você sabe?
Mia faz uma careta antes de me responder. O sino das portas do
elevador apita, e antes de sair, ela se vira para mim e diz:
— Amaldiçoei um ex. E deu certo.
E então sai, me deixando com essa bomba nas mãos e o coração
apertado de medo.
Capítulo 7 - Mia

“Não há nada nessa vida que não possa piorar.”


Isso era o que eu repetia para mim mesma quando me encontrava em
uma situação difícil.
O dia anterior passou que eu nem vi. Geralmente, a minha rotina é
estressante e cheia de trabalho. Eu faço relatórios para Aspen, levo café ao
Aspen, acompanho Aspen nas reuniões, aviso Aspen sobre a sua agenda...
Bom, a minha vida gira entorno do meu chefe, e eu percebi que o que eu
sabia sobre ele, era na verdade, apenas a ponta do iceberg.
Passamos o dia juntos. Ele queria me acompanhar até em casa, com
uma desculpa de: eu carrego as suas compras, e você me deve um almoço.
Após uma discussão acalorada no estacionamento do shopping, do
qual fiquei tentada a deixar Aspen congelando o incomum frio da Califórnia,
decidimos por fim ir para a casa dele, onde poderíamos conversar com calma
e discutir a hora da saída para o aeroporto.
Acabou que, de um almoço simplesmente, passou para filmes e
chocolate quente e jantar. Quando finalmente fui para casa, percebi a merda
que cometi ao ficar com Aspen durante toda uma tarde, quando teria uma
viagem marcada para a madrugada seguinte e nenhuma das minhas malas
estavam prontas.
Afinal de contas, até dois dias atrás eu estava disposta a inventar uma
desinteira para não ir para a casa dos meus pais no natal e eles descobrirem a
mentira do noivo.
E agora, eu me encontrava ao lado de um Aspen relaxado enquanto
seguíamos para a minha cidade natal, enquanto discutíamos coisas sobre o
trabalho.
— Você está me deixando tenso só de vê-la tensa — reclama Aspen
assim que o piloto avisa o tempo que faltava para aterrissarmos.
— A ultima vez que vim para casa, não foi uma das melhores
ocasiões — digo olhando pela janela. A vista eram apenas nuvens escuras
carregadas de neve.
— Você me disse ontem que odeia a sua prima. E daí? Nós todos
temos um parente que odiamos. É a lei natural da família.
Desvio a minha atenção para Aspen, que me encara de volta divertido.
Vejo os pequenos detalhes nele que nunca havia notado antes, se não fosse
por essa loucura toda, como por exemplo: os olhos castanhos escuros que me
olhavam tão intensamente.
Aspen tinha uma barba por fazer, e o cabelo escuro um pouco maior
que o normal, que sempre caia sobre os seus olhos, fazendo com que ele
passe a mão sobre os fios de minuto a minuto. O que me deixou morrendo de
vontade de puxa-lo pelos cabelos para ver se os fios eram tão macios quanto
parecia ser. Ou se sua boca era gostosa por ser carnuda e um pouco
avermelhada.
O pensamento me faz balançar a cabeça. Que droga! Não posso ter
esse tipo de pensamento com o cara que é meu empregador, e pior! Meu
noivo de mentira!
Respiro fundo e desvio o olhar para a minha mão esquerda, onde o
exuberante diamante ocupa o meu anelar esquerdo.
— E se ela sacar o quão falso nós dois somos juntos? — digo, minha
voz sai embargada e eu me sinto frágil por estar querendo chorar.
Aspen por sua vez, ri baixinho e o som me deixa arrepiada. É rouco,
gostoso e me faz relaxar. Quando que eu imaginei que meu chefe — o cara
mais cretino e sem vergonha que eu conheço — me faria relaxar e não entrar
em surto? Obviamente que nunca em três anos que trabalho para ele!
— Fica tranquila, bruxinha. O papai aqui sabe atuar perfeitamente.
Você mesma me disse que mereço um Oscar!
Reviro os meus olhos.
— Eu estava sendo irônica, seu cretino!
— Não estava não. Você estava toda bobinha pelo meu pedido
emocionante de casamento.
— Deus, Aspen! Quando vai parar de ser tão convencido? — Não
consigo evitar e um grande sorriso se forma em meus lábios.
— O dia que você deixar de ser tão mentirosa quanto eu. — Ele faz
uma careta, o que o deixa ainda mais bonito. — Na verdade, pra você chegar
ao meu nível demora e muito! São anos contando mentiras e mais mentiras.
Não consigo evitar e acabo gargalhando alto dentro do avião.
Provavelmente chamando a atenção de vários passageiros a nossa volta. Sinto
o olhar de Aspen sobre mim, e quando finalmente recupero o folego, o olho
de volta, e percebo a sombra de um sorriso bobo se formando em seus lábios
grossos.
— O que foi? — pergunto enquanto seco uma lágrima que escapou
dos meus olhos.
Aspen apenas balançou a cabeça e sorriu.
— Você nunca sorriu desse jeito quando viajamos juntos.
Sua constatação me deixou paralisada, e eu percebo enfim que ele
tinha razão. Eu nunca ri daquela forma quando viajamos a trabalho.
— Ah!
— É — digo ele e ri.
— Não ria de mim. — Faço biquinho e Aspen continua a rir. — Ei!
Na minha cabeça você era um cara cretino que na primeira oportunidade que
eu desse, iria se aproveitar e me levar para a cama.
— Meu Deus, Mia! Como você é absurda! — ele exclama jogando a
cabeça para trás e rindo.
A nossa sorte era que a primeira classe estava quase vazia, e as
poucas pessoas que ocupavam os assentos estavam alheias a nossa conversa.
Reviro os meus olhos para ele e faço uma careta.
— Sim, absurda. Mas você não discordou de mim. — Alço uma
sobrancelha e o encaro.
Sua risada morre no mesmo instante.
— Por que iria discordar? Você provavelmente iria me surpreender
jogando qualquer coisa que estivesse por perto na minha cara e gritar: Aspen,
seu cretino idiota! — Aspen imita a minha voz, enquanto usa a sua mão
tentando me imitar em uma encenação nada feminina. Eu só consigo rir e
imaginar a cena.
E ele tinha razão. Eu provavelmente fingiria interesse e depois jogaria
qualquer coisa que estivesse por perto na sua cara. Porque é assim que nossa
relação funcionária-chefe funciona.
— Eu não sou tão má assim, chefinho — digo olhando-o nos olhos.
— Não, só uma bruxinha terrível quando quer. — Ele faz uma careta.
— E é claro que você não nunca me daria bola.
— Claro que não. Sou mais esperta que noventa por cento das
mulheres que vão para a sua cama. — Sorrio.
— E sabe por que elas vão parar na minha cama? — pergunta.
Balanço a cabeça em negativa. — Porque elas sabem que terão apenas uma
chance comigo. Uma noite só e nada, além disso.
Bufo. Indignada por suas palavras.
— Cretino convencido! — sussurro.
Antes que Aspen possa responder o meu comentário baixo (nem tão
baixo assim) com algum comentário idiota. O piloto anuncia que iremos
pousar em alguns minutos. Por instinto, olho para a janela e vejo o mar
branco de neve que é Fergus Falls nesta época do ano.
— Vai dar tudo certo, Sanders. — a voz de Aspen é calma, e me
deixa tranquila. Por um momento quase acredito nas suas palavras.
Quase.
—É claro. Vai dar tudo certo! — repito as suas palavras.
Mas eu estava redondamente enganada.

Passar seis horas trancafiadas a um assento de avião (mesmo este


sendo da primeira classe) deixa qualquer um de pernas bambas, nervoso e
cansado.
Geralmente, o tempo de viagem de Los Angeles até Fergus Falls, em
Minnesota, demora em média três horas. Mas como estamos em pleno
dezembro, com nevascas frequentes, demoramos mais do que o imaginado.
Ao sair pelo portão de desembarque, Aspen fez questão de pegar as
nossas malas. Não eram muitas, mas o suficiente para deixa-lo com um peso
extra. Assim que estávamos livres daquela loucura toda de familiares
excitados com a chegada de mais familiares, crianças correndo e gente para
todos os lados, enfim poderíamos respirar o ar gélido de Minnesota.
Ou foi o que eu pensei, antes de ouvir um gritinho agudo e ver a
enorme (não, não estou exagerando) placa em vermelho, dourado e verde
abrir caminho na nossa direção.
— Bebezinha da mamãe!
Meu corpo ficou imediatamente tenso, e Aspen em meu socorro
segurou a minha mão firmemente. Seu polegar fazia círculos e a palma
quente contra a minha fria evitada que eu gritasse algo e voltasse correndo
para o avião.
— Não acho que vamos sobreviver a este natal — Aspen sussurra
para mim, e abrindo um sorriso enorme, ganhou a atenção da minha mãe. —
Senhora Sanders.
— Já disse a você, meu querido — Ela para no meio do aeroporto,
carregando as suas bugigangas pomposas e colocando a mão na cintura
enquanto encara Aspen seriamente. — É apenas sogrinha ou Elena para
você.
Aspen sorri. O bendito sorriso que faz qualquer uma derreter e ficar
em suas mãos. Aquele mesmo que ele me presenteou várias vezes durante o
dia de ontem, e agora, estava presenteando a minha mãe também.
Uma parte minha não gostou disso. Uma parte minha queria esse
sorriso do Aspen reservado só a mim, e a mais ninguém.
— É claro, Elena. É finalmente uma honra conhece-la.
Aspen solta a minha mão, apenas para pegar a da minha mãe e, como
um perfeito falso cavalheiro, a leva aos lábios. Mamãe cora em tempo
recorde e da uma tampinha na mão do meu chefe.
— Ah, garoto não seja galanteador assim, e, por favor, me dê um
abraço.
— O que?
Aspen não tem tempo de protestar. Minha mãe envolve seu pescoço
com seus braços finos e o aperta contra si. Como faz com meu irmão todos os
dias, e comigo, quando vai me visitar em Los Angeles.
Olho para a cena e tento sufocar a risada ao ver os braços de Aspen se
moverem de um lado para o outro e ele dizer que está sufocado. Minha mãe
me olha por cima dos ombros largos do meu chefe e faz sinal de positivo e
um sorrisinho sapeca.
Era o sinal que Aspen havia sido adotado por ela. Ele só ainda não
sabia disso.
— Tudo bem, meu filho. Hora de checar a minha bebezinha — ela diz
soltando Aspen de uma vez e dando um passo na minha direção.
— Que? Não, mãe. Não estou afim de...
Tarde demais. Sou pega em um abraço de uma mãe ursa. Ela me
aperta contra si, quase quebrando alguns ossos meus no processo, e quando
solto um gemido de dor, ouço a risada abafada e rouca de Aspen ao longe.
Filha da mãe me paga!
— Olha só para você, Mia! Está tão magra! Tem comido direito?
Aposto que o cretino do seu chefe tem te pagado bem o suficiente para você
se alimentar. Afinal de contas, se aquele cara idiota não o fizer, e estiver
roubando você todo o natal de nós, eu vou caçá-lo e decepar a cabeça dele. E
não disse qual!
Ouço um puta merda baixinho e ao levantar os meus olhos, vejo uma
cena que me faz rir sem temer as consequências.
Aspen está parado no mesmo lugar em que minha mãe o deixou. Ele
ainda segura algumas das minhas bolsas, enquanto suas duas mãos estão
protegendo o seu órgão reprodutor. Em seu olhar, vejo a ameaça de: Você
está muito ferrada, Sanders! Brilhar como a Times Square no dia de ano
novo.
Só que a Times é menos assustadora do que Aspen.
E bem no momento em que Aspen está me matando com o seu olhar,
a minha mãe se vira para ele, e alça uma sobrancelha de forma questionadora.
— Ele está bem, Mia? — ela sussurra.
Encaro-a e tento pensar em alguma desculpa boa para lhe contar.
Mas a verdade era que ninguém da minha família sonhava que o chefe
da qual eu vivia xingando (e colocando a culpa pela minha falta no natal em
casa) era, na verdade, o mesmo homem que estava parado na nossa frente
lançando olhares raivosos na minha direção e agora era o meu noivo de
mentira.
— Tá sim, mãe — garanto-lhe e me aproximo do meu falso noivo. —
Ele só... ficou muito surpreso com as suas palavras. Sabe aquela dor
masculina nas joias reais...
Para o meu alívio, minha mãe ri, e eu a acompanho em um riso menos
alegre. Aspen por sua vez fecha a cara.
— Bom, temos que ir, Mia. — Minha mãe checa seu relógio de pulso.
— Os convidados já estão chegando e eu nós precisamos recepcionar todos!
— Convidados? Que convidados, mamãe? — pergunto já temendo a
resposta.
Minha mãe se volta para mim e Aspen sorrindo. Ela joga o cabelo
castanho para trás e com seu jeito animado de quem está preparando uma
surpresa, diz:
— A festa que preparei para a sua volta. Afinal, faz três anos que
você não passa o natal em casa, e ainda por cima é seu aniversário e você
voltou noiva! — Ela bate palminhas e para o meu assombro, dá dois pulinhos
animados. Então se vira e vai em direção à saída rapidamente.
Capítulo 8 - Aspen

Eu vou matar minha assistente!


Nem mesmo quando Mia derrubou café nas minhas calças, ou trocou
os pedidos do meu almoço e acabou me trazendo lula ao invés de salmão —
que por consequência fui parar no hospital com a garganta praticamente
fechada por uma alergia — eu não considerei a hipótese de demiti-la ou
mata-la.
No entanto, agora que estamos acomodados no carro da sua mãe,
enquanto percorremos a cidade pequena de Fergus Falls, eu tenho vontade de
assassiná-la. Ou lhe jogar na neve fria e deixa-la lá para morrer de
hipotermia.
Filha da mãe!
Eu não estava preparado para uma festa com a toda a sua família.
Pensei ter dito a Elena algo mais reservado. E eu nem imaginei ouvir as
palavras cheias de ódio da sua mãe direcionadas ao chefe da Mia — que por
coincidência era eu — e acabar em estado de choque. Eu não queria criar
laços para depois ela chegar e dizer: ei, família! Era tudo falso. Aspen não
passa de um aluguel e meu chefe, que resolveu embarcar nessa maluquice
por cobiçar uma vingança por eu ter derrubado café em suas calças.
Eu realmente não estava preparado para o fim. Era como levar um pé
na bunda. E levar um pé na bunda de Mia Sanders não era qualquer coisa. Era
O PÉ NA BUNDA.
“E como você pretendia passar o natal com a família dela, seu
bocó?” O capetinha no meu ombro perguntou e eu congelei ao ouvir as suas
sinceras palavras. Ou minhas. Tanto faz!
Alguns minutos nessa cidade e eu já estou ficando maluco! É tudo
branco e algumas coisas verdes, com enfeites para todos os lados, coloridos e
com renas.
Por que renas? Porque não algo fofo e sem chifres? Ou sem nariz
vermelho? Ou que voa por conta de uma magia de natal tosca?
Jesus! Meu humor piora a cada segundo que nos aproximamos de
nosso destino. E o pior de tudo é saber que a culpa é minha. Por que diabos
eu atendi ao telefone dela aquele dia? Mas não, me deixei levar por um
sentimento estranho (mais conhecido como sede de vingança) e embarquei
nessa. Mas isso era pela Mia não? E por mim também. Longe da Devon e das
loucuras da minha mãe.
E mais próximo de Mia do que antes.
Afinal de contas, como eu pretendia passar o natal com a família da
minha assistente (que por um acaso é uma mulher ainda mais espetacular do
que eu imaginei) e não me apegar? Principalmente na Mia.
Passamos três anos juntos trabalhando lado a lado, e nada dos últimos
anos podem ser comparados às ultimas vinte e quatro horas ao seu lado.
Descobrir como é Mia por trás da mascara profissional tem me deixado ainda
mais fascinado e curioso. Por trás daqueles lindos olhos castanhos, existe um
iceberg. E eu apenas desbravei a pontinha ainda!
Logo, pensar no fim da viagem, era como pensar no fim de vê-la
daquela forma; descontraída, relaxada e bem humorada.
Mia no escritório é um serzinho ranzinza e estressado. Não a culpo.
Eu mesmo sou o culpado de sobrecarrega-la e fazê-la de minha escrava.
Mas que culpa que eu tenho se a bruxinha não gosta de tirar férias?
E foi pensando nisto que já deixei todos os documentos acertados para
as suas tão merecidas férias. Que terão inicio logo após o natal.
Esse foi o motivo que me fez perceber o quanto eu preciso de Mia na
minha vida.
Todo homem deveria ter a sua Mia. E eu a tinha ali, bem do meu lado
agora, girando o anel caríssimo que dei a ela. Que Mia, por sua vez,
desacreditou de minhas palavras em relação ao anel de noivado, até a sua mãe
elogiar a joia e dizer para Mia não perder mais um anel que eu dava.
O que isso significava? Eu não fazia a menor ideia, apenas entrei no
personagem de noivo amoroso e murmurei algo fofo para Mia, fazendo Elena
suspirar apaixonada.
— Você está muito bravo? — Mia pergunta. Sua voz baixa tentando
não chamar a atenção da mãe que fala sem parar no banco da frente.
— Depende.
— Do que?
Sorrio do seu tom apreensivo.
— Do quanto você me xingou nos últimos três anos pelas costas, e se
tinha conhecimento dessa tal festa — digo e ela arregala os olhos.
— Merda!
Ela empalidece quase de imediato. Eu sorrio ainda mais.
— Então? — insisto.
Ela passa a mão pelo cabelo, respiro fundo e olha para frente,
checando se sua mãe está prestando a atenção em nós, e então volta os seus
olhos castanhos para mim.
— Foram tantos xingamentos que nem sei. Muita raiva acumulada
pelo meu chefe cretino e sua amante de voz de taquara. Fala sério, Aspen! Eu
odiava você por me fazer penar em suas mãos e nas da Tiffany. Ela é ainda
pior do que você imagina, acredite.
Ela fala, e fala e fala, e de tudo o que ela disse, a única coisa que
prestei a atenção foi em Tiffany, eu e o apelido carinhoso que ela me deu.
— Hora, hora, hora, Sanders. Não me diga que está com ciúmes da
Tiffany?
Ela arregala os olhos.
— Tá maluco? — ela exclama, e então cobre a boca com as mãos.
Seus olhos desviam para a sua mãe, que agora parece estar entretida com as
músicas de natal que tocam no rádio.
Outra coisa que odeio no natal: as músicas.
São todas muito alegres, com o mesmo toquinho de sino e famosos
cantando para ganhar dinheiro em cima disso.
Como publicitário, eu deveria amar o natal. É a época em que mais
faturamos em cima das propagandas. Mas como Aspen Russell, eu
simplesmente odeio essas músicas!
— Admita, bruxinha. Você queria estar no lugar da Devon todas as
vezes que a via entrar na minha sala, não? — digo.
Mia por sua vez, cora, xinga baixinho e desvia o olhar do meu. Sua
reação me faz rir, e sem querer, meu lado safado e cretino a imagina no lugar
da Devon.
Seria perfeito, se não fosse pela nossa relação profissional, e uma das
regras que eu mesmo criei quando abri minha agencia de publicidade era:
nada de relação entre funcionários.
Contudo, ao lado de Mia a caminho da casa dos seus pais, eu vejo que
essa regra é totalmente sem pé e nem cabeça. Estamos juntos. Não de
verdade, mas tecnicamente, nossa relação não vai ser falsa ao todo. Mia e eu
nos aproximamos muito, e tenho certeza que ela percebeu isso, pois toda vez
que me olha, acaba ficando corada. E não é pelo frio congelante da sua
cidade!
— Não faz nem uma hora que estamos aqui e o frio de Minnesota já
está congelando os poucos miolos que você tem? — ela diz com um ar
vitorioso.
— Touché, Mia. — Ela sorri, sabendo que levou aquela rodada. É por
isso que preciso garantir o prêmio ao fim da viagem. E com esse pensamento,
me aproximo de seu ouvido e sussurro: — Mas não pense que acabou. Ainda
tenho muitas cartas nas mangas. E no fim disso tudo, você vai estar caidinha
por mim.
Ela não aguenta, e jogando a cabeça para trás, começa a gargalhar
alto. Olho nervoso para frente, e meu olhar cruza com a minha “sogra” e um
arrepio percorre o meu corpo. O medo. Cru e nu. É inexplicável como tenho a
sensação de que aquela mulher podia olhar dentro e ver a mentira que eu e
sua filha estávamos contando.
De repente, Mia para de rir e olha para frente. Seus olhos tem um
brilho apaixonado e ela abre um sorriso lindo.
Encaro-a de soslaio. Desacreditado na beleza da mulher ao meu lado.
Mia não é apenas linda por fora (por Deus! Ela é a definição de Afrodite na
terra!), mas por dentro também. E agora, olhando para o seu magnifico
sorriso e seus olhos brilhosos, preciso me beliscar para ver se realmente estou
acordado, e não sonhando com a deusa da beleza.
Que merda! Essa viagem não vai acabar bem!
— Mamãe! Como você fez isso tudo sozinha? A casa está linda! —
Mia diz dando pulinhos no seu lugar.
Eu gelo ao ouvir o tom extremamente alegre na sua voz. Faço o
mesmo que ela e olho para frente, e no mesmo instante sinto que Mia
derrubou café nas minhas calças novamente. A sensação não é em nada
agradável.
— Ah, bebezinha. Você sabe que apenas dou as ordens, não? Seu pai
e seu irmão fizeram tudo para mim. Apenas entreguei os enfeites a eles —
Elena diz. Mia solta um gritinho animado.
— Não acredito! O Chad vai estar aqui? — pergunta Mia.
— Quem é Chad? — pergunto. Meu tom é levemente zangado.
Mia revira os olhos e olha para frente. Para a enorme casa que ocupa
quase metade do quarteirão. Toda enfeitada, parecendo um farol de natal com
tanto pisca-pisca, neve e enfeites.
Jesus! Se queriam chamar a atenção do bom velhinho, bem,
conseguiram!
— Meu irmão — ela diz simplesmente.
Graças aos céus, ela me olha. Sua postura muda rapidamente, e de
alegre Mia passa para tensa. Alço uma sobrancelha em questionamento e
vejo-a engolir em seco.
— Então — digo baixinho. — Essa casa é mesmo da sua família?
Mia arregala os olhos e engasga. Sua mãe começa a rir no banco da
frente e me olha através do espelho retrovisor.
— Aspen, querido. Mia às vezes estava sendo apenas tímida. Ela não
lhe disse dos negócios da família?
Eu pensava que era impossível um homem corar. E eu acabo de
quebrar essa regra, talvez. Não sei bem. Mas fico extremamente
envergonhado pela forma como Elena disso aquilo. Como um aviso banal.
— Não. — Olho para Mia. — Ela não me disse nada.
A risada de Elena é quase musical. Alegre e satírica. Mia por sua vez,
cora e me lança um olhar culpado. Ela murmura um “desculpe” sem emitir
som.
O carro para diante da casa, Elena salta antes de nós, e quando estou
prestes a sair, viro-me para Mia e digo, apenas para que ela me escute:
— Depois a gente conversa.
E saio do carro antes que ela possa dizer algo.
Capítulo 9 – Mia

Eu ainda estava paralisada dentro do carro quando meu pai saiu de


casa, e atrás dele, meu irmão e cunhada. Ao mesmo tempo, Aspen abre a
porta para mim, com a sombra de um sorriso brincando em seus lábios.
Por trás do sorriso brincalhão, dos olhos brilhando animados, eu sei
que meu chefe estava se corroendo de raiva e planejando uma morte lenta e
dolorosa para mim.
A minha sorte? Ele ainda não tinha notado as três pessoas paradas na
porta.
O meu azar? Provavelmente eu morreria afogada na neve no segundo
que descer do carro.
Seguro a mão que Aspen me oferece, e no mesmo instante, sinto um
arrepio percorrer meu braço.
Estremeço.
Aspen me olha com uma sobrancelha alçada e então sorri.
— Com frio, bruxinha?
Reviro os olhos.
— Claro — murmuro mal-humorada. — Está fazendo vinte graus a
menos que Los Angeles. Você queria que eu sentisse o que? Calor é que não
é!
Aspen não me responde. Seu sorriso desaparece e seu olhar estava
congelado em um ponto atrás de mim. Seu maxilar estava retesado, e aposto
o meu braço, que ele estava assinando a minha carta de demissão
mentalmente.
— Você me paga por essa, Mia — ele diz, antes de segurar a minha
mão, fechar a porta do carro e dar a volta, me puxando consigo.
Eu pensei que fosse morrer durante o pequeno trajeto do carro até a
porta principal. Havia pouca neve no quintal, meu pai provavelmente deve ter
limpado hoje pela manhazinha. Infelizmente, não tinha neve para eu me
afogar e morrer congelada. Ao contrário disso, na porta havia quatro pares de
olhos curiosos olhando diretamente para Aspen.
Ele por sua vez, segurava a minha mão com força, não o suficiente
para me machucar, mas para dizer que o maldito contrato com os Roosevelts
já era!
— Me desculpa por ter contado antes — digo baixinho, antes que
alcançássemos a porta.
Aspen respira fundo, aperta a minha mão e me lança um olhar
diabólico.
— Depois Mia. — Ele sorri. — Mas você vai ter que aguentar as
consequências.
No exato momento que alcançamos a minha família, eu quis... Não!
Implorei para que Deus abrisse buraco sob os meus pés e me levasse direto
para um lugar para que eu pudesse me esconder. País das Maravilhas, talvez?
Minha consciência me dá um soco no estomago e ri da minha cara.
Viu só? Quem manda inventar milhares de mentiras? Um dia o preço vem. E
acredite, nunca vem de uma forma que dá para aguentar.
Como se dizia Rumpelstiltskin: Toda magia tem um preço.
No meu caso: A mentira tem perna curta.
Como eu não cai magicamente em um buraco aguardei temerosa ao
lado de Aspen enquanto a minha mãe falava sem parar dando ordens, e em
seguida sumindo casa adentro. Deixando Aspen e eu com meu pai, irmão e
cunhada.
— Russell, hein? — diz Chad, olhando Aspen de cima abaixo.
Pelo canto do olho, vi Aspen engolir em seco e levantar uma mão
para cumprimentar o meu irmão.
Merda! Eu estava muito, mas muito ferrada.
— Senhor Roosevelt — Aspen se volta para o meu pai que o encara
seriamente.
Eu sinto o exato momento em que meu corpo vira uma grande bola de
gelo. Talvez eu estivesse virando um boneco de gelo. Mas meu corpo todo
estava frio e paralisado no lugar. O medo me possuía de uma forma
assustadora, e eu sabia que nada de bom viria a seguir.
Meu pai era um homem extremamente possessivo. Principalmente
com a sua filinha mais nova.
Dizer que eu estava ferrada era pouco! Digamos o inglês correto
então: eu estava fodidamente fodida.
— Aspen Russell.
O aperto de Aspen se intensifica. Aquela estranha e irritante corrente
elétrica percorre o meu braço novamente. Paralisando-me, me deixando ainda
mais nervosa do que eu já estava. O que diabos estava acontecendo?
E superando todas as minhas expectativas, meu pai puxa a mim e
Aspen para um abraço. Ele murmura algo bem alto, do qual eu não entendo
nada já que meus sentidos estão todos entorpecidos por ter Aspen tão perto de
mim, e logo nos solta.
Se não fosse por Aspen, eu teria caído de cara na escada.
E por culpa de Aspen eu estava com as pernas bambas e me sentindo
ridiculamente baixa perto dele.
Desde quando eu me importei de ser alguns centímetros a menos que
meu chefe? Nunca! Não antes dessa viagem. Não antes de ontem.
Eu sei que coisas estavam mudando. E eu tinha medo do futuro.
— Tudo bem? — Aspen pergunta no meu ouvido.
Estremeço e anui-o.
— Desculpa, querida — disse meu pai — Sabe como sinto falta da
minha ursinha.
Sou pega d surpresa em um abraço de urso do meu pai. Eu sinto como
se meus ossos fossem quebrar. Eu o amo, mas precisa mesmo me abraçar
desta forma?
— Pai! — exclamo em um sopro. — Está me sufocando!
— É claro. Desculpe-me, querida.
Sou liberta dos braços fortes de meu pai, e quando respiro fundo,
sinto minhas costelas doerem.
Eu ei de um dia fazer alguém abraça-lo da forma como ele faz comigo
e Chad. Isso é uma promessa que faço a mim mesmo.
— Ei, vamos entrar. Está frio aqui fora — informa Anne, minha
cunhada.
Sorri e corri para abraçar Anne, que por sua vez, tem um abraço mais
suave e menos apertado que o do meu pai.
Ainda de braços dados com Anne, entrei em casa, mas não antes de
ouvir meu pai prometer uma conversa com Aspen.
Voltar para casa era estranho. Eu olho o ambiente a minha volta
atentamente. Tudo decorado para o natal, como sempre foi desde a minha
infância.

A última vez que estive aqui foi há quase três anos. No mesmo ano
que comecei a trabalhar para Aspen, e quase carregada, vim para Fergus Falls
passar o natal com a família. O que não aconteceu como o esperado e retornei
mais cedo para casa do que o imaginado.
Mas agora, tudo parecia diferente. Eu sabia a programação, ou
pensava que sabia. Bom, isso não importa. O importante era que eu estava ali
como prometido, com um falso noivo e uma futura carta de demissão.
Pois é, as coisas não eram fáceis para mim.

A hora que se seguiu foi estranha em todos os sentidos para mim.


Primeiro que eu me sentia deslocada com a minha família. Segundo
era que Aspen era o centro das atenções. E terceiro foi que eu era tia!
Quando no mundo eu imaginei que esse dia chegaria? Talvez nunca!
Mas é que eu gostei do fato. Mais do que o imaginado.
A história foi ainda mais surpreendente que a notícia, e me deixou
furiosa. Eu quis socar Chad por ter encoberto o fato por nove meses e
chacoalhar Anne para ver se ainda restavam neurônios naquela garota.
Então eu senti raiva de mim mesma por evitar o contato por meses
com minha cunhada e irmão.
Eu me afastei. Há dois natais atrás. A culpa era minha, não deles.
O que me restou foi ficar em um cantinho com a minha velha caneca
decorada de natal cheia até a boca de chocolate quente enquanto observava a
interação da minha família com o meu falso noivo.
A conversa passou de negócios para jogos de Baseball em questão de
segundos. Em certos momentos eu corrigia Aspen em relação do motivo que
levou ao nosso “noivado” e voltava a ficar quieta novamente.
Aspen sabia lidar com essa mentira toda melhor do que eu. Ele era
realmente um bom quando se tratava de situações complicadas como essa.
— No que está pensando?
Olho assustada para Aspen parado na minha frente. Seus olhos
estavam fixos na caneca em minhas mãos.
Eu rio e coloco a caneca em um móvel próximo a mim.
— Com certeza não é a mesma coisa que você — eu digo. Aspen
revira os olhos, mas ri também. — Está furioso comigo ainda?
— Você acha que eu estava furioso?
Encolho os ombros e faço biquinho.
— Provavelmente estava planejando a minha morte.
— Correta.
Sorrio e continuo:
— E pensando na minha carta de demissão — murmuro a ultima parte
em um sussurro para que apenas Aspen me ouvisse.
— Errada — informa fazendo um biquinho. Nem sei qual a sensação
que tive ao ver aquilo. Apenas... apenas queria que ele fizesse aquilo outra
vez. — Eu não saberia o que fazer sem você por perto, Mia. Demiti-la está
fora de cogitação.
Sem que eu percebesse, um gemido aliviado escapou dos meus lábios.
Agradeci aos céus por não estar demitida (ainda!) e algo dentro de mim
dançou ao ouvir as palavras de Aspen.
Isso era um sinal de que eu era importante para ele.
— Não precisa fazer essa carinha de apaixonada. Sei que você
morreria por não me ver todos os dias.
Gargalho alto ao ouvir mais uma das atrocidades de Aspen, e ainda
por cima ganho um olhar de advertência de Chad.
O bebê tinha acabado de dormir.
— Desculpa — murmuro.
— Sem problemas — Ele riu. — Mas me desculpe também. Mamãe
me mandou espalhar essas coisinhas pela casa toda — diz ele.
Chad aponta com o queixo para um ponto acima da minha cabeça. Eu
soube no momento em que minha mãe aparece igual ao flash na sala que isso
era tudo uma armação da Máfia dos Roosevelts.
Eu fiz isso com Chad e Anne no passado. Havia chegado a minha
hora.
— Eu não posso acreditar! — Exclama Aspen.
Olhp para cima bem a tempo de ver as pequenas frutinhas
avermelhadas do visco pendurado. Elas tinham um brilho diabólico para
mim.
Eu quis matar Chad.
Eu quis afogar mamãe na neve por dar uma ordem estupida daquelas
ao meu irmão.
E eu quis socar a cara de Aspen.
Ele me olhava de um jeito diferente. Os olhos brilhavam travessos,
seus lábios bonitos ostentavam um sorriso lindo de dentes perfeitos. Meu
estremeceu com a visão. Minhas mãos suaram e eu me senti sufocada de
imediato.
Eu queria beijar Aspen? Talvez. Quer dizer, não era algo que eu faria
se estivesse em um dia normal na empresa. Na verdade, já nos beijamos, não
é mesmo? Está certo que foi apenas um tocar de lábios. Então, por que eu
estava tão nervosa como aquela possibilidade?
Não tive muito tempo para pensar em um motivo para o nervosismo.
Um pequeno coro se iniciou atrás de nós. Minha família dizia em alto e bom
som o famoso: “Beija! Beija!” e eu quis morrer ali mesmo.
Aspen sorri para mim, enlaça a minha cintura, colando os nossos
corpos. Minhas mãos buscam equilíbrio em seu peitoral forte, e mesmo por
cima da blusa fina de frio dele, pude sentir seus músculos. Meu coração
passou a bater descompassado, minhas pernas tremiam e eu sentia algo
estranho dentro de mim. Algo do qual eu não era capaz de explicar o que é.
— Isso vai ser melhor que a encomenda, Sanders — diz ele.
E então a sua boca cobriu a minha.
Capítulo 10 – Aspen

Beijar Mia era como beber um shot de tequila. Queimava,


embriagava e excitava.
Eu me sentia perdido, alucinado e querendo mais daqueles lábios
pequenos e rosados. Nunca imaginei que iria amar tanto uma florzinha como
aquela tal de visco. Nem mesmo imaginei que o irmão da minha funcionária
iria subir no meu conceito por espalhar essa coisinha pela casa dela.
Agora, eu tinha Mia em meus braços enquanto a minha boca devorada
a dela.
De inicio, Mia foi tímida, e não precisou de muito para que ela
cedesse. Uma puxada na cintura, uma apertada de leve na nuca e Mia passou
de tímida a sem vergonha em questão de segundos.
Eu deveria parar.
Eu sabia que o certo era me manter afastado.
Mas como posso fazer isso quando tudo em Mia implorava por mim?
Eu não conseguia me afastar dela. Fui fraco, confesso. E por mais que
eu esteja puto da vida com ela, não posso deixar passar o fato de que algo
estranho está crescendo dentro de mim. Apenas alguns minutos que ela ficou
longe (mesmo que Mia estivesse dentro da sua casa) eu me vi louco e com a
falta de algo. Era um buraco no peito, como se apenas Mia fosse capaz de
preenchê-lo.
E ela era.
Não resisto à tentação e mordo seu lábio inferior. Mia se agarra ainda
mais a mim, e naquele instante me sento o macho alfa. O homem mais
sortudo do mundo. Se estivéssemos as sós, eu daria um pulo para o alto
dando um soco no ar comemorando.
— Você me paga por isso, Russell — ela sussurra, com os lábios
ainda colados nos meus.
Não posso evitar e um sorriso enorme surge em meus lábios.
Ela poderia me matar, jogar café em mim ou socar o meu lindo rosto.
Eu não me importaria, já teria vencido e ganhado o premio Nobel por ter
conseguido roubar um beijo de Mia Sanders.
— Você não vai fazer isso. Sabe o por quê? — pergunto, afastando-
me um pouco para olha-la nos olhos. Mia balança a cabeça em negativa e me
lança um olhar mortal. Sorri. — Porque estará ocupada demais me beijando.
Vai, pode dizer, sou irresistível e viciante.
Pisco para ela e o rosto de Mia toma uma cor intensa de vermelho. Ela
se afasta de mim desviando o olhar do meu. Mia tenta esconder um sorriso
que insistia em aparecer em seus lábios, e eu tomo isso como uma resposta
positiva.
Ela não concordou comigo. Mas também não discordou.
Balançando a cabeça, ela olha para frente e faz um sinal obsceno para
o irmão. Diz algo para mãe e promete que aquilo não aconteceria novamente
na frente do seu pai.
Sorri e faço algo ainda mais impensado, puxo Mia para os meus
braços, mantendo-a ali. Meu rosto afunda em seus cabelos. Inalo o seu cheiro
embriagante. A vontade de beijá-la retornando como da primeira vez que a
vi; sentada do lado de fora da minha sala, esperando pela entrevista.
— Você é muito convencido, chefinho — diz ela, se remexendo em
meus braços.
— Talvez seja porque você me faz sentir assim — sussurro contra o
seu ouvido.
Sinto o momento em que um tremor percorre seu belo corpo. Seguro
um gemido ao sentir seu pesinho delicado esmagar o meu. Filha da mãe!
Mia gargalha alto, e de forma provocadora, aconchega-se ainda mais
em meus braços. Eu desejei esmaga-la em um abraço que, para os outros,
seria apenas uma demonstração de carinho.
Ela estava brincando comigo, e tinha consciência de que era um jogo
perigoso. Eu não entrava em campo para vencer. Eu não iria ceder, e Mia
também não.
Os jogos estavam apenas começando.
— Não sei qual vai ser o fim disso tudo, Mia. Mas tenho a certeza de
que não será nada como o planejado.
— Eu também não sei, Aspen. Mas sei que vai dar merda. Eu te
avisei!
— Não vai dar merda — murmuro contrariado.
— Claro que vai, Aspen — contrapôs Mia. — Nós dois brigamos
praticamente o tempo todo. E eu quero te matar agora por ter me beijado.
— Engraçado, porque o sentimento é reciproco. Mas não quero te
matar por tê-la beijado, na verdade — Puxo Mia ainda mais de encontro a
mim, e rapidamente olho a nossa volta. Ninguém está dando a mínima para
nós. — Eu quero repetir esse beijo milhares de vezes. Então você pode me
matar depois e me beijar agora. Será muito bem-vinda.
— Cretino!
— Bruxinha!
Fito seus olhos grandes e divertidos. Sabíamos até onde isso iria dar, e
desta vez, eu tinha duvidas se seria cada um para um lado. Eu não era capaz
de deixa-la se afastar por alguns segundos.
— Eu vou ver se mamãe precisa de ajuda na cozinha — diz ela,
afastando-se de mim, sumindo por uma porta logo em seguida.
Suspiro cansado, sentindo aquela coisa chata e estranha se apossar do
meu corpo. Isso era novo para mim, e uma parte minha dizia que eu deveria ir
atrás de Mia e sequestra-la para um cômodo vazio e mantê-la ali até a manhã
de natal. A outra resmungava que eu estava virando um bunda mole.
Eu particularmente concordava mais com a segunda opção. Até essa
viagem acabar, sempre será a segunda opção.

Eu pensei que fosse morrer na ultima hora que se seguiu. Fui


questionado de todas as formas. Quase perguntei a Elena se ela gostaria de
saber a cor da minha cueca naquele dia.
Mas é claro que eu não iria dizer que era uma edição especial de natal
da Calvin Klain.
Então, para o meu pesadelo, os familiares de Mia começaram a chegar
para a festa. No momento em que Elena disse aquilo, eu engoli em seco e
puxei Mia para os meus braços. Tê-la ali parecia me acalmar mais do que a
Gin tônica que meu sogro (isso ainda é estranho pra caralho!) me serviu.
Eu precisava repetir a mim mesmo que aquilo logo acabaria e eu
finalmente seria o Aspen de antes. Na minha casa. Longe de tias malucas que
querem saber o quanto sou sadio e se meu instrumento funciona bem para
produzir filhos.
É claro que funciona, inferno!
Quando a atenção se voltava para mim, eu podia sentir o corpo de
Mia ficar tenso contra o meu. Ela levantava aqueles olhinhos castanhos
lindos para mim, me observando em expectativa, e quando eu dava a minha
tacada de mestre, Mia suspirava aliviada.
Ela corou mais vezes hoje do que em três anos trabalhando para mim.
Mas não foi isso que me fez sorrir igual a um idiota sozinho, e sim pelo fato
de tê-la flagrado tocando os lábios três vezes escondido de sua família, e de
mim.
Senti-me o cara quando seus olhos cruzaram com os meus, e eu me vi
refletido em seus castanhos e brilhosos olhos. De uma forma que jamais
imaginei estar diante de uma mulher. Mas eu não estava com qualquer
mulher, eu estava com Mia. Minha assistente pela qual eu nutria um
sentimento estranho desde o momento que a vi sentada no meu escritório.
— Você sabia disso?
— Sabia do que?
Mia tinha me puxado para um canto afastado de seus familiares.
Parece que esses cantinhos acabaram tornando-se nossos pontos de encontro.
Os únicos lugares em que poderíamos ser nós dois. A bruxinha assistente e o
cretino do chefe.
— Da festa, Aspen! — esbraveja ela, tentando se manter calma.
— Ah — pigarreio, escondendo uma risada. — Saber, ter
conhecimento e planejar... não foi exatamente da minha parte. Na verdade,
Mia, eu apenas dei a ideia. O resto foi com a sua mãe.
— Você o que? — Ela solta um grunhido irritado, e eu acabo
imaginando-a como uma gatinhada raivosa.
Fofa, linda e com garras afiadas.
— Eu dei a ideia. É seu aniversário, e achei que merecia uma festa —
Cruzo os meus braços rentes ao peito, pressionando os dedos na palma da
mão. Eu não poderia abraça-la como queria. Na verdade, ter Mia em meus
braços estava tornando-se uma necessidade absurda. Eu mal estava me
reconhecendo! — Ah! E obrigada por me dizer sobre o seu aniversário.
Fiquei contente em saber através da sua mãe.
Meu tom é carregado de ironia. Mia, por sua vez, arregala os olhos e
me encara perplexa. Por essa ela com certeza não esperava.
— Eu pensei que você sabia disso. Há muito tempo, alias! — Seu tom
não passa de um mero sussurro.
Por essa eu não esperava.
Droga!
— Mia, não... Não é isso... eu... — Tento buscar as palavras corretas
para explicar que eu já tinha conhecimento disso, desde o momento que a
conheci. Mas as palavras parecem estar entaladas na minha boca.
Encaro aqueles olhos castanhos que fita com curiosidade e
expectativa.
— Você o que? — Ela pergunta alçando a sobrancelha.
Seu tom é encorajador, e sinto o momento que suas mãos envolvem
meus braços. Mia cola seu corpo ao meu, abrindo um sorriso tímido e me
olhando nos olhos.
Eu me vejo perdido e totalmente fora de orbita quando ela faz isso. E
quando percebo, estou falando sem parar, até mais do que deveria.
— Sempre soube do seu aniversário. Mas por se tratar de uma data
complicada, nunca tive a oportunidade de te dar um presente.
— Puta merda, Aspen!
— Por favor, não jogue café nas minhas calças de novo! — digo
puxando-a para os meus braços, esquecendo completamente que devo manter
certa distancia da Mia. — Não fique brava, tá legal? Eu adoraria ter te
presenteado como esse ano. Eu só não sabia como ia ser recebido.
Mia enterra seu rosto contra o meu peito. Seus braços magros apertam
a minha cintura, e sem aqueles saltos habituais, eu vejo o quanto Mia é baixa
em comparação a mim. Sinto seu corpo tremer, e fico na duvida se ela está
rindo ou chorando.
Espero em Deus que seja uma risada, e não choro. Não sei lidar com
mulheres chorosas.
— Eu não estou brava — ela diz. Sua voz sai um pouco abafada. —
Surpresa, talvez, mas não brava. Um pouco culpada também.
Dou uma gargalhada.
— Por que culpada?
— Porque eu nem se quer sei a data do seu aniversário— Ela
esbraveja, levantando o rosto para me olhar. — Eu sou péssima quando o
assunto é aniversário dos outros.
Mia faz uma careta e eu continuo a rir da sua constatação.
Só Mia para ser tão absurda quanto agora. Mal sabe ela que eu
também nem me lembro do meu aniversário.
— Você me traz café todos os dias. Isso já é um presente — digo.
Aproveito-me do momento e coloco uma mecha do seu cabelo atrás de sua
orelha. Suas bochechas imediatamente ficam rosadas.
— Eu não chamaria isso de presente — ela contrapõe.
Sorrio.
— Ei! Será que os pombinhos podem namorar depois e vir aqui?
Chad — o irmão de Mia que até então estava quieto demais — grita
atrás de nós, chamando a atenção das pessoas. O burburinho de várias
pessoas falando ao mesmo tempo cessa, e um silêncio constrangedor se
instaura no ambiente.
Mia fica ainda mais vermelha e respira fundo, fechando os olhos e
contando baixinho. Igualzinho quando faço alguma piadinha maliciosa pra
cima dela.
— Tá tudo bem — asseguro-lhe. — Nós vamos lá, vamos mostrar que
somos o casal mais apaixonado desta da casa e você vai esfregar na cara das
suas tias o quanto seu noivo é perfeito.
Minhas palavras faz com que ela gargalhe alto, jogando a cabeça para
trás e soltando um riso descontrolado. Observo a cena embasbacado.
Como alguém pode ser tão bonita desse jeito? Deveria ser
considerado crime federal alguém possuir tamanha beleza e um sorriso de
tirar a concentração de qualquer pessoa.
Mia tem esse dom. Ela possui um sorriso iluminado, apaziguador e
que me deixa igual a um cacho babão. Seus olhos brilhavam divertidos e era
difícil não sorrir junto.
— Você não tem jeito, Aspen — ela diz, ainda com um sorriso nos
lábios, balançando a cabeça.
Seguro sua mão e afasto seu corpo do meu. A puxo em direção ao
corredor, saindo para a sala de visitas onde todos nos esperam. Coloco-a na
frente ao meu corpo, e deixo que Mia me guie.
Dizer que estou nervoso seria eufemismo. Eu estou tremendo na base.
Ter tantas pessoas desconhecidas — que não verei nunca mais — me deixa
temeroso. Eu não tinha pensado no que viria depois desse acordo. Não se
passou pela minha cabeça que Mia teria que inventar uma desculpa para o
misterioso termino com seu noivo para a sua família, e que nem teria tantas
pessoas envolvidas nesta história.
No fim, um ato impensado provavelmente me traria mais
consequências do que o imaginado. Mas será que eu estava preparado para o
fim desta viagem?
Capítulo 11 – Mia

Eu beijei o meu chefe! Eu beijei o meu chefe! Eu beijei Aspen, o cara


que era meu empregador e ainda por cima meu noivo falso!
Como diabos isso aconteceu? Muito fácil à resposta! A culpa era toda
da minha mãe e de Chad. Aquele idiota! Assim como Aspen — que entrou
nessa história toda movido por um sentimento de vingança por eu ter
entornado café em suas calças — Meu irmão resolveu que queria retribuir o
favor que eu fiz há muitos (e bota muitos nisso!) natais atrás, quando Anne
era apenas uma amiga minha e ele completamente louco nela, e eu como uma
boa irmã, enfeitei todos os possíveis lugares que ambos poderiam estar juntos
com a florzinha da discórdia.
Deu certo para os dois na época. E agora, parecia que meu irmão tinha
a intenção de me ver passar vergonha.
Eu não apresentei os caras dos meus antigos relacionamentos para a
minha família. Tá, talvez um. Mas esse filho da mãe não se enquadra aqui.
Não mais!
— Você parece tensa — Aspen comenta após de certo silêncio da
minha parte.
— Pessoas demais, algumas omissões e pensamentos demais, Aspen.
Espero que ele entenda o que quero dizer. E, para o meu alívio, Aspen
aquiesce e olha para frente, para a minha mãe que fala sem parar do novo
membro da família.
Sinto a sua risada na minha nuca, seu hálito quente enviando arrepios
para o meu corpo. Ele não consegue segurar a língua por muito tempo, e
antes que eu possa fazer algo, Aspen já está fazendo algum comentário
constrangedor da nossa tal “relação.”
É demais para mim!
— Você precisa relaxar, Mia — ele diz próximo ao meu ouvido. Pra
ele é fácil falar! — Não é o fim do mundo. Até agora está tudo bem e sua
família me ama. Aceita que dois menos, bruxinha.
Tenho vontade de bater com a minha cabeça na parede. Era isso que
eu temia. Minha família gostar tanto de Aspen, e consequentemente ele da
minha família, que todos decidissem virar melhores amigos para sempre.
Como eu poderia sobreviver depois desse natal?
Já estava sendo difícil o suficiente me manter sã com Aspen tão
próximo. Desde que seus lábios tocaram os meus, tudo que consigo imaginar
é na sua boca e o quanto deve ser bom repetir a dose. Ou o quanto seus
braços são quentes e aconchegantes. E tem o fato de que toda a vez que ele
fala comigo, eu apenas consigo olhar para a sua boca e sentir o que a sua voz
faz com o meu corpo.
Essa era uma missão suicida. E eu não queria ver o fim disso.
— Puta que pariu!
Ouço o palavrão escapar da boca do meu chefe, paralisando não só a
mim, mas todos a minha volta.
Eu não compreendi o motivo do palavreado, na verdade, nem fiz nada
para Aspen xingar daquela forma. Viro-me para trás, pronta para dar-lhe uma
bronca, quando vejo o motivo do palavrão.
Ambos estão paralisados na porta de entrada, segurando várias
sacolas e com neve nos cabelos e roupas de frio. Os sorrisos falsos
congelados nas feições, que agora me encaram surpresas.
Por essa nem eu esperava.
— Jade, Pietro! — Minha tia, mãe da diaba número um e sogra do
diabo numero dois, diz levantando-se da sua confortável poltrona e seguindo
na direção deles. — Vocês vieram!
— Nos atrasamos devido à neve, mamãe. Mas a senhora pensou que
iriamos perder o aniversário da princesinha Mia? — Ela diz, direcionando o
seu sorriso falso na minha direção.
É claro que a cobra já iria começar a destilar o seu veneno.
— Jade, não comece — Minha mãe intervém. — Não estamos aqui
para isso. É quase natal, não quero brigas na minha casa.
— Claro que não haverá brigas, Elena. Não estamos aqui para isso.
Pietro, que até então parecia um boneco de gelo parado na porta de
casa, dá um passo a frente.
Ele olha para mim, os olhos escuros intensos e carregados de algo que
sei muito bem o que é. Não consigo me manter indiferente diante do seu
olhar. Um arrepio percorre o meu corpo, correspondendo diretamente no meu
estomago.
Sinto nojo. Repulsa e vergonha de mim mesma.
Por um instante, volto há dois natais passados, quando tudo foi por
água abaixo e eu voltei para Los Angeles na véspera de natal. Confesso que
foi difícil encarar aquela comemoração sozinha, já que os anos anteriores
passei ao lado da minha família.
Mas por conta dele e de Jade, abandonei tudo, envergonhada e
chorando, e retornei para o conforto do meu apartamento.
É então que sinto os braços fortes de Aspen intensificarem o aperto
em torno de mim. Seus lábios tocam a minha nunca, fazendo-me tremer, não
pelo frio, mas pelo contato da sua boca com a minha pele. Sinto a sua risada
ecoar pelo meu corpo, e eu sei que Aspen descobriu os efeitos que tem
causado em mim.
E agora eu que o aguente.
— Está com frio, querida? — Aspen pergunta. Sua voz rouca em meu
ouvido.
Movo-me desconfortável em seus braços. Ele sabe o que está fazendo,
e em momento algum faz algo para me ajudar.
Aspen está brincando perigosamente comigo.
— Acho que o olhar da cobra me deu um pequeno calafrio. Diga-me,
querido, você acha que o inferno é gelado?
Pergunto a Aspen em um sussurro, apenas para que ele me ouça. Mas
o cretino tem que jogar a cabeça para trás e rir daquele jeito gostoso,
chamando a atenção das várias pessoas ali presentes, que observam o
espetáculo que é Aspen Russell rindo.
É meninas, apreciem o show que é o meu noivo.
— Certamente, querida. O inferno vai congelar nessa época do ano, já
que você não está lá para manter as coisas pegando fogo — Ele diz bem-
humorado, piscando o olho esquerdo para mim.
É quase impossível não rir das suas constatações, principalmente
quando ele me chama de diaba e dona do lá de baixo.
— Olha só, temos carne nova na área?
Paro de rir quase que de imediato ao ouvir a voz de Jade ser
direcionada a Aspen.
Desvio meu olhar do meu falso noivo e encaro a minha prima
seriamente. Todo o resquício de humor se foi, deixando apenas o ódio e ranço
que sinto por ela.
— Acho que não é da sua conta, Jade — digo com certo desgosto.
Ela abre aquele maldito sorriso que sempre me ferrou na infância, e
encara Aspen. Os olhos brilhando de curiosidade e... desejo.
Égua!
— É claro que é da minha conta, prima. Principalmente quando se
trata de um membro novo na família.
“Membro esse que você adoraria por na boca.” Penso em dizer, mas
me dou à lei do silêncio.
Aspen, diferente de mim, dá um passo a frente e estende a mão para a
oferecida, que prontamente estende a sua esperando um beijo.
— Ouvi falar muito de você, Jade. É um prazer, eu sou Aspen
Russell. — Aspen diz e superando todas as minhas expectativas, ele aperta a
mão de Jade como se tivessem acabado de discutir algum plano futuro para
negócios que provavelmente não irá resultar em nada.
Mas Jade não parece notar a indiferença do meu noivo, pois abre um
sorriso gigantesco, provavelmente não notando a ironia no tom de Aspen.
— O prazer é todo meu, Aspen. Espero que tenha ouvido as melhores
coisas ao meu respeito.
Não me viro para ver o maldito sorriso que deve estar escancarado no
rosto de Aspen. Ele, com toda a certeza, deve estar gostando de receber a
atenção dela.
— Ouvi sim, muitas coisas a seu respeito. Mas se eu fosse você, não
ficaria toda eufórica. — Ele diz, surpreendendo-me. Posso notar a ironia em
seu tom. — Parece que você não é muito bem-vinda por aqui.
— Você já fez a minha caveira para ele, Mia? — Pergunta Jade,
tentando conter a raiva em sua voz.
— Ela não foi preciso, querida. — É Aspen quem responde por mim.
— Consigo identificar uma cobra a muitos metros de distância, sabe como é.
Morei na Austrália por alguns anos. Lá tem muito do seu tipo.
Puta. Que. Pariu!
Fui ao céu e voltei na terra! Nasci para ver o momento em que Aspen
Russell — o cara mais descarado que conheço e que nunca nega um flerte —
acaba de se esquivar das investidas da minha prima e chamá-la de cobra.
Parece que minha noite acaba de ficar melhor.
E para fechar com chave de ouro, Aspen me roda em seus braços, de
modo que eu fique de frente para ele. O cretino tem um sorriso de lado, o seu
típico sorriso safado. Sua mão toca o meu rosto, e quando dou por mim, seus
lábios estão tocando os meus em um beijo carregado de paixão.
Puta merda, estamos dando um show para a toda a minha família!
Em um instante estou nos braços de Aspen, no segundo seguinte,
estou olhando envergonhada para os meus familiares e para Jade que nos
encara furiosa.
Parece que ela não irá receber outro brinquedinho vindo de mim.
Gritos e mais gritos alegres ecoam pela sala, vindos dos convidados.
Tento esconder meu rosto no peito de Aspen, mas ele se afasta sorrindo. Um
olhar para cima, e sei que cai novamente na maldita pegadinha do visco.
— Eu vou matar o Chad — digo entre dentes. — E depois matar você
por se aproveitar da situação!
Aspen ri, e segura os meus braços. Ele me olha nos olhos, com um
sorriso brincalhão nos lábios, e rapidamente perco a linha de raciocínio.
— Você que se eu não me aproveitar da situação, não serei eu.
— Aspen!
Jogo meus braços para o alto, tentando levar embora a frustação de
suas palavras.
Ele iria continuar com isso até o fim da viagem, para Aspen, estava
cômodo, afinal de contas ele sempre demonstrou interesse em mim. E aqui,
na casa dos meus pais onde tenho que fingir que estamos em um
relacionamento de longa data, não há maneiras de recusar as suas investidas.
Mas será que eu realmente quero me esquivar das investidas de
Aspen?
Capítulo 12 – Aspen

Duas horas.
Esse foi o tempo em que levei para ganhar o coração de cada mulher
daquela casa e o respeito dos homens. Exceto pelo projetil que Mia um dia
chamou de namorado.
Para aquele lá, eu reservei o meu olhar assassino e imaginei milhares
de maneiras de mata-lo a cada vez que seu olhar pairava sobre o corpo de
Mia.
Babaca!
Com certeza foi uma noite cheia de surpresas, principalmente a prima
de Mia, Jade, que mais parecia uma sósia de Tiffany do que uma parenta da
Mia.
Por um instante pensei que iria ficar louco. Senti-me
momentaneamente claustrofóbico e todas aquelas pessoas me confundiam
com seus nomes e interesses na minha vida pessoal.
Por Deus, quem é que pergunta o número do calçado que um homem
usa? Ou a marca da cueca? Fala sério!
Foi então que encontrei o meu pequeno refúgio, na varanda da casa,
onde todo o barulho era bloqueado pela porta de entrada e pelo som do vento.
Respiro fundo, sentindo-me aliviado. Quando combinei com Elena
sobre a festa surpresa de Mia, não imaginei que a mulher fosse convidar
metade da cidade para a sua casa. Merda! Eram pessoas demais para mim, e
olha que lido constantemente com várias pessoas, de todos os tipos de
preferencia.
Mas naquele lugar, naquela cidade, eu não conseguia pensar em nada
em ficar sozinho (a preferencia era com Mia, mas ela está ocupada demais
sendo paparicada pelo ex-pau no rabo) e esperar todas aquelas pessoas irem
embora.
Meu dia foi cheio, cansativo e repleto de surpresas. Para ajudar,
aquela Jade é uma mulher grudenta que parece que não pode ver um homem
que já quer sentar no colo dele e Mia está me ignorando.
Que ótimo!
Olho para o céu, em busca de uma ajudinha de Deus. Tá legal, eu não
fui um menino levado esse ano. Não tanto quanto os anos anteriores. Era
pedir demais ficar a sós com a minha assistente?
Parece que era. Acho que fiz alguma merda das grandes e não estou
me lembrando no momento. Bem, fico devendo desculpas por essa.
— O que faz aqui fora sozinho?
Assusto-me com o som doce e preocupado da voz da Mia. Viro para
trás, a tempo de vê-la encolhida sob a fina blusa de frio.
Olho para o céu e agradeço silenciosamente a Deus por atender o
mais desesperado pedido que já fiz, e então volto a observar a linda mulher
parada na minha frente.
— Precisava ficar um pouco sozinho — confesso sob um suspiro.
— Ah, Aspen, me desculpa — Mia diz, aproximando-se de mim. —
Te deixei completamente de lado! Sou uma péssima pessoa.
Sorrio de sua constatação.
— Não, Mia, você não é uma péssima pessoa, apenas estava
encantadinha por seu ex pau no rabo.
— Ex o que? — ela repete rindo.
— Você entendeu, Sanders.
— Aspen! — Ela ri. — Você está com ciúmes do Pietro?
Nego com a cabeça, mas isso só faz Mia sorrir.
Eu não queria demonstrar o quanto o fato de ela estar dando atenção
para aquele babaca me incomodou. Não depois de tudo o que ela me disse.
Não entrava na minha cabeça que ela estava sendo todo sorriso para ele.
Eu queria a sua atenção.
Seus sorrisos.
Eu queria mia. Ponto.
Chame-me de mimado se quiser, mas nunca contrarie um homem com
necessidades de ter uma mulher especifica ao seu lado.
— Acho que você deveria voltar lá para dentro. O pau no rabo deve
estar esperando por você para balançar o rabo e pegar a bolinha — murmuro
contrariado. Mas a verdade era que eu desejava, não, necessitava que ela
ficasse ali comigo, longe de todos aqueles olhares sobre nós.
Nunca pensei que ser o centro das atenções era tão cansativo e
enjoativo. Parece que o dia de descobrir isso chegou.
— Aspen, pare de frescura — Mia exclama passando a mão no rosto,
parecendo frustrada. — Eu não quero Pietro. Será que você não percebeu isso
desde o inicio?
— Não era o que parecia há poucos minutos atrás — murmuro
emburrado.
— Aspen... — Ela solta um longo suspiro. — Não fique assim. Olha,
eu só estava sendo educada.
— Educada com o cara que te expos para a sua família, e que por
coincidência, te trocou pela prima plastificada.
— Eu não acredito nisso! — Mia ri. Ou melhor, solta uma gargalhada
alta e gostosa, fazendo-me relaxar por um instante. — Você chamou uma
mulher de plastificada? Quem é você e o que fez com o meu Aspen?
Encaro Mia paralisado, minha boca provavelmente está aberta e eu só
consigo encarar aqueles olhos castanhos que me observam divertidos.
Puta merda!
Ela não pode simplesmente falar meu Aspen e sair dessa impune. Não
mesmo.
Suas palavras são tão naturais e verdadeiras, que quando dou por
mim, estou rindo sem parar da situação.
— Qual a graça, Aspen?
Ela parece preocupada, mas seu tom ainda carrega um pouco de
humor.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, tentando recuperar a
compostura e encará-la sem rir.
O que vem se tornando uma missão impossível, pois tudo em Mia
fazia-me sorrir igual a um bobo apaixonado.
O pensamento me paralisa.
Seria eu capaz de me apaixonar? Não, claro que não.
Mas por que eu não conseguia me manter afastado de Mia? E por que
eu sentia tanta necessidade de tê-la por perto a todo o momento?
Caralho! Será que estou mesmo me apaixonando? E ainda por cima
pela minha assistente?
Sim, é provável que sim.
É possível que eu tenha me apaixonado por Mia. Mas o sentimento
não vem de agora, e sim de muito tempo atrás, quando olhei pela primeira
vez em seus olhos castanhos intensos.
Ah, a realidade. Ela vem como um soco no estomago e que ri quando
você está deitado no chão em posição fetal chorando. É um soco no ego de
um homem como eu, que vive os dias conforme as suas regras e sem amarras.
— Terra chamando Aspen! — Eu ouço a voz suave e doce de Mia ao
longe, e é provável que eu esteja encarando o nada como um idiota
apaixonado.
Pois era isso o que eu estava me tornando.
Ou o que eu penso que é.
— Desculpe — digo envergonhado.
Mia arregala os olhos e coloca a mão sobre a boca, abafando um grito.
— Puta merda! — ela exclama.
Imediatamente fico em alerta. Ela parece assustada e muito, muito
surpresa.
Mas o que diabos...
— Você acabou de me pedir desculpas?
Encaro-a confuso.
O que diabos ela quis dizer com isso?
— Acho que sim. — Franzo o cenho. — Não é isso o que as pessoas
pedem quando faz algo de errado?
— Normalmente sim — ela responde, e juntando as sobrancelhas bem
cuidadas, caminha até ficar próxima suficiente de mim. Posso sentir o seu
perfume delicioso tocar a minha pele. Inalo profundamente, apreciando o seu
cheiro. — Você está se sentindo bem? Alguma vertigem? Falta de ar? Sei lá!
Algum indicio de que esteja passando mal?
Ela fala enquanto suas pequenas e macias mãos tocam o meu rosto. O
contato me faz fechar os olhos, sentindo o toque da sua pele contra a minha,
as mãos pequeninas e macias. Tão deliciosa e delicada.
— Eu estou bem — garanto-lhe ainda de olhos fechados. — Muito
bem, alias. Só precisava respirar um pouco e ficar sozinho, sem ter ninguém
perguntando sobre a maldita cor da minha cueca.
— Ah!
Ela parece compreender o que digo.
— Sim, bruxinha. Ah!
Abro os meus olhos, apenas para me perder em seu olhar.
A coisinha irritante dentro de mim que ganhou vida desde o dia
anterior parece ficar maior com o contato da sua mão contra o meu rosto. O
anjinho no meu ombro abre um sorriso gigantesco e faz um soquinho
imaginário.
É, amigão, eu sei.
— Vamos voltar lá para dentro. Minha mãe deve estar dando falta de
nós — Mia diz baixinho, sob um suspiro.
Ela parece tão reticente em voltar para dentro quanto eu.
É então que uma ideia fenomenal surge na minha cabeça.
— Você não parece muito a fim de voltar lá para dentro — constato, e
acabo ganhando um sorriso genuíno de Mia.
— Confesso que não é uma das melhores opções.
— Não, não é. — Sorrio. — Mas acho que tenho uma proposta
melhor para lhe fazer — digo e ela alça a sobrancelha.
— Que seria... ?
Sorrio com o possível não que vou receber. Mas como dizem: sonhar
não paga imposto. E provavelmente vou receber uma bola de neve na cara,
mas quem se importa?
Sorrio e aproximo meu rosto do seu, meus lábios roçando os de Mia e
eu assisto deliciado o momento em que seu corpo treme — não pelo frio que
faz — mas por eu estar tão próximo.
— Podemos ficar aqui fora, sozinhos, na companhia um do outro e
deixar todos lá dentro pensando que fugimos para namorar... — Hesito em
continuar com a linha de raciocínio que criei, porque uma vez com Mia em
meus braços, não vou querer soltá-la tão cedo.
— Ou? — Ela pergunta quando fico em silencio.
Tomo uma longa respiração. Meus lábios tão próximos dos dela...
apenas uma inclinada e meus problemas estariam resolvidos... por hora.
Afasto-me de Mia para finalizar a minha proposta. Era tentação
demais tê-la ali e não poder beijá-la, não sem antes confirmar que ela me
deseja tanto quanto eu a desejo.
— Ou podemos voltar lá pra dentro, você vai me ver interagir com a
cobra que você chama de prima enquanto eu a vejo conversar alegremente
com o seu ex pau no rabo.
Mia semicerra os olhos para mim, abre e fecha a boca várias vezes.
Assisto paciente enquanto ela parece colocar de um lado para o outro em uma
listinha os prós e contras de ficar comigo aqui fora, no frio congelante, ou lá
dentro cheio de pessoas que mais parecem estar interessados na cor da nossa
roupa intima do que se temos cérebro ou não.
— Isso parece uma proposta tentadora de um cara que está se
comendo de ciúmes, Aspen — ela diz por fim, abrindo aquele bendito sorriso
lindo para mim e dando um passo à frente, colando os nossos corpos. —
Confesso que gosto de vê-lo assim, fora do controle.
Sorrio.
Ah, bruxinha, você não faz ideia de como eu gosto de perder o
controle...
Balanço a cabeça tentando espantar esses pensamentos.
Não com Mia. Pelo menos não ali.
— Vamos lá, bruxinha, eu trabalho com respostas rápidas. É sim ou
não?
Estou ficando impaciente com a sua relutância. Tenho vontade de
pegá-la pelos cabelos e arrastar para qualquer lugar do qual ninguém vá nos
perturbar.
— Não seja impaciente, Aspen.
— Não sou impaciente, Sanders.
Mia percebe meu tom de voz contrariado e me lança um olhar
duvidoso.
— Seu sobrenome deveria ser impaciente, Aspen. Pare de mentir.
— Não sou o único mentiroso aqui, Mia.
Faço uma careta e penso em tentar outra manobra para fazê-la ficar.
Aproximo meu corpo do seu e enlaço a sua cintura com meus braços,
como eu comecei a imaginar, Mia cora e apoia as duas mãos pequenas contra
o meu peito. Um tremor percorre o seu corpo e sorrio.
Como o esperado, ela está deixando de ser tão durona comigo.
— Por favor, bruxinha — Tento usar o meu tom suave e sedutor. Mia
pisca e então desce seu olhar para os meus lábios a centímetros dos seus. —
Fique aqui comigo. Podemos voltar quando quase todos tiverem indo
embora. Isso é muito normal, afinal de contas somos um casal, não é mesmo?
Para a minha surpresa e deleite, Mia envolve seus braços em meu
pescoço, levando o meu rosto em direção ao meu.
Mas como sou um menino levado e não recebo a minha gratificação
de natal, quando ela está prestes a me beijar, viro o rosto e sua boca acaba
acertando a minha bochecha.
O grunhido que sai de seus lábios é delicioso e divertido. Ela se afasta
de mim, como um raio e me olha de cara feia.
Eu começo a rir da sua carranca e tento puxá-la de volta para os meus
braços, mas ela começa a se de debater, relutando em voltar para mim.
— Vamos lá, bruxinha. Diga que aceita e terá o que tanto quer —
digo com um sorriso gigantesco no rosto. — É muito fácil, só dizer as
palavras mágicas e vai me ter. Admita que me quer.
— Ah, Aspen! Você é tão ridículo! — ela esbraveja em meus braços,
batendo o pé no chão com a frustração. Por pouco não me acerta. — Admita
você que está com ciúmes do Pietro. E eu nem sequer quero você!
Fico impressionado em como Mia se irrita fácil, e amo ainda mais
fazê-la ficar desta forma.
Quando está brava, Mia fica vermelha, as bochechas adquirem um
tom avermelhado adorável, seu lábio inferior é esmagado pelos dentes
brancos e perfeitos, e para piorar, seus olhos adquirem uma cor mais escura e
felina.
Uma gatinha furiosa.
— Tá — digo. — Se eu admitir que estou com ciúmes do seu ex...
— Pelo amor de Deus, não o chame mais disso! — ela praticamente
grita comigo.
Faço biquinho e Mia paralisa.
É, parece que Mia Sanders não é tão imune a mim quanto pintava
toda hora.
— Tudo bem. — Respiro fundo. — Eu estava sim me sentindo i-n-c-
o-m-o-d-a-d-o — soletro a palavra, já que não quero dar o braço a torcer. —
Por conta do tal de Pietro. Desculpe, mas ele é um grande idiota por tentar
dar em cima de você na minha frente. E para piorar, você estava bem à
vontade na presença dele.
— Eu não estava à vontade, Aspen. Ao contrário disso. Estava muito
a fim de meter a mão na cara daquele idiota por agir como se nada tivesse
acontecido. Mas em respeito a minha família, preferi agir de forma educada a
jogar o champanhe na cara dele.
Mia Sanders, minhas senhoras. Não basta ser boa em quase tudo o
que faz na vida e ainda precisa pisar em mim com seu monólogo em forma de
esporro pra cima de mim.
— Desculpe-me, Mia. Eu não estava me tocando do fato de que a sua
família não iria gostar de assistir eu ou você quebrando o nariz do pau no...
— Você nunca vai parar de chama-lo assim? — Ela me corta rindo.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Jamais. Nunca vou me esquecer do modo como ele largou a
mulher dele para ficar balançando o rabo para você.
Sorrio com a lembrança.
O tal Pietro não parava de encarar Mia um segundo sequer. Para
aonde quer que ela fosse, ele estava lá a observando. Até que seus olhos
passaram a segui-la de perto e eu quase perdi a paciência.
Um homem não pode nem ir ao banheiro tirar a água do joelho e o
resto da cachorrada cai matando. É incrível!
— E eu nunca vou me esquecer do fora que você deu na Jade. Na
verdade, a cara dela vai ficar marcada para sempre na minha cabeça. O dia
em que ela levou um fora de um homem — ela diz e então ri.
— Ela nunca recebeu um não na vida dela? — pergunto curioso.
Mia balança a cabeça, e parecendo aceitar o meu convite, se
aconchega ainda mais em meus braços, encostando a cabeça no meu ombro.
— Não. Na verdade, Jade sempre foi acostumada a ter o que quer, e
quando digo tudo, é tudo mesmo. Quando comecei a namorar com Pietro,
bem, ela decidiu que o queria. E não é que a cobra consegui?
Gargalho alto e sou acompanhado de Mia.
Ela já tinha me contado parcialmente a história que a afastou da
família por dois anos, mas mesmo assim, eu me via curioso para tentar
entender o motivo que levou o babaca a trocar uma mulher como Mia por sua
prima que não chega nem aos pés da minha assistente.
Até Afrodite ficaria com ciúmes de uma mulher como Mia.
— Isso a incomoda? — indago.
— Ser trocada pela minha prima? — ela retruca.
— Também, mas o fato do pau no rabo tê-la exposto para a família, e
sua prima te humilhar...
Minha voz diminuiu gradativamente quando sinto o corpo de Mia
ficar tenso. Droga! Eu realmente não queria deixa-la triste.
Ela não me responde de imediato, continua com a cabeça encostada
em meu ombro sem me encarar. Espero sem pressioná-la para saber se isso a
incomoda ou não. Mas sei que se a resposta for um sim o incomodado serei
eu.
— Não. — ela sussurra. — Pensei que incomodasse, talvez um dia no
passado. Mas agora, eu tenho é pena dos dois. Eu pensei que era apaixonada
por Pietro, mas na verdade eu não sabia o que era o amor de verdade.
Fico estático com sua resposta. Ela me encara, eu a encaro de volta.
Nós dois não dizemos nada, apenas ficamos nessa bendita troca de olhares,
com as palavras dela ainda jogadas no tempo.
Engulo em seco, sentindo o meu coração se apertar com o
pensamento de que ela está apaixonada, não por mim, mas por outra pessoa.
Eu preciso perguntar. Preciso saber quem é o felizardo que não está
aqui com ela em seus braços.
— E agora você o que é esse tal amor? — pergunto tomando uma
longa respiração.
Naquele segundo nada mais importa do que a resposta de Mia. Se ela
disser sim, serei obrigado a perguntar quem e onde ele está. Se a reposta for
não, bom, azar de quem gostar dela porque vou lutar para tê-la para sempre
em meus braços.
Que se dane a política que coloquei na empresa.
Que se dane as mentiras sobre estarmos noivos.
Que se dane a porra toda!
Eu preciso de Mia ao meu lado. Percebo que um dia sem ela eu estaria
perdido. Pensar na possibilidade de vê-la nos braços de outro, no nosso andar,
seria como levar um tiro no peito.
E acredite, eu desejaria morrer a ter que assisti-la sair com outro
homem que não fosse eu.
Ah, amor. Então é isso o que você é? Uma confusão de sentimentos.
Medo de possibilidades e de um futuro sem a pessoa amada. Um ciúme
irracional e amedrontador. Uma insônia do caralho e coragem o suficiente
para passar por cima de tudo e de todos par alcançar o amado?
É, acho que é isso o que é o tal de amor.
— Não conheço, Aspen. Mas acredito estar começando a conhecer e a
entender os sentimentos que venho sentindo. São estranhos e confusos. Mas
acho que um dia tudo vai se encaixar.
— Você acha? — pergunto, não só me referindo aos sentimentos dela,
mas aos meus também.
Sinto seu olhar sobre mim, e quando olho para baixo, deparo-me com
Mia encarando-me sorridente.
— Claro que sim, chefinho. — Ouço sua risada gostosa. — Nem tudo
continua da mesma forma para sempre. Nem mesmo o amor. Ele...
— Ele transforma. — completo sua frase, ganhado em troca um olhar
surpreso. — Acho que também estou sentindo umas coisas estranhas, Mia. —
Confesso. — Sabe, não é dor de barriga, mas são estranhos, confusos e
necessitados. Você sabe o que poderiam significar?
A pergunta deve tê-la pego de guarda.
Mia me encara sem dizer m=nada. Pisca várias vezes e abre e fecha
boca em seguida, sem ter o que dizer. Provavelmente pensando que é uma de
minhas brincadeiras.
Ah, como eu gostaria que fosse!
— Me conta! — Exige.
— Te contar o que? — retruco rindo.
— Quem é a azarada que por quem você está se apaixonado!
Mia diz isso com tanta incredulidade, de olhos arregalados, que quase
acredito ser um péssimo partido para uma mulher.
Fala sério! Até alguns minutos atrás a família dela inteira estava me
paparicando, e agora, ela quase cospe na minha cara que sou um péssimo
partido.
Faço uma careta para ela.
— Não é azarada. E me admira que você não tenha descoberto ainda
— murmuro emburrado.
Seus olhos parecem brilhar ainda mais depois da minha resposta. O
sorriso de Mia vai de orelha a orelha e quase posso ver as engrenagens do seu
cérebro trabalhar.
Eu gostaria saber o que se passava na cabeça daquela bruxinha
naquele exato momento. Mas provavelmente eu jamais saberia.
Capítulo 13 – Mia

Puta merda!
Eu nunca imaginei que chegaria o dia em que Aspen Russell — meu
chefe e o cara mais cretino e safado que conheço — iria se apaixonar por
alguém.
Quer dizer, o problema não é se apaixonar. Todo mundo tem o direito
de conhecer o amor. Na realidade, eu acredito que as pessoas tem mais
compaixão pelo próximo quando estão em uma relação reciproca e feliz.
Mas o problema era que uma parte minha — uma que nunca dei
ouvidos — estava em um estado de alerta gritando com uma possibilidade
assustadora.
Seria possível Aspen se apaixonar por mim?
O pensamento me faz tremer. Sinto um vento frio percorrer o meu
corpo, e a vozinha aumentar gradativamente dentro de mim.
Não, não poderia ser por mim. Tiffany era a minha aposta mais alta,
afinal, os dois tiveram um tipo de estranho relacionamento por um bom
tempo.
Mas por que eu me sentia tão estranha e irritada ao imaginar Tiffany e
Aspen juntos? Ou melhor, sempre me senti irritada ao vê-la rebolar seu
traseiro magro para dentro da sala do meu chefe. No entanto, o sentimento
vem ganhado força desde o ultimo dia.
Que merda!
Olho para Aspen por um momento, me perdendo em seu belo rosto
adormecido.
Ele parece tão tranquilo agora, sem a ruga que se forma entre as suas
sobrancelhas sempre que alguém faz uma pergunta ridícula e Aspen, idiota
do jeito que é, tenta segurar uma resposta à altura. Ou quando seu rosto se
fecha quando em uma expressão séria quando algo dá errado.
Na verdade, ele parece tão tranquilo e relaxado dormindo, parecendo
se esquecer do mundo a nossa volta, do lugar que estamos.
Passamos as ultimas horas jogando conversa fora. Não dos demos
conta de quanto tempo passou, apenas continuamos a nos conhecer melhor e
esquecemos o resto.
E agora estamos aqui, ainda na varanda da casa dos meus pais, com
Aspen sentado em uma cadeira de balanço, me mantendo aquecida em seus
braços fortes.
Deito minha cabeça em seu ombro, aproveitando-me para inalar seu
perfume delicioso.
Aspen tem um cheiro amadeirado, cítrico e de... Aspen. É tão viciante.
Sinto-me como uma abelha viciada no perfume de uma flor. Ele me guia a
direção de Aspen, tornando ainda mais difícil a minha situação.
Por um momento, Aspen resmunga algo dormindo. É desconexo e
incompreensível. Seu rosto se contorce em uma careta, mas ele não acorda.
Seus braços me apertam ainda mais forte, e ele enterra o nariz em meus
cabelos.
Fico paralisada, sentindo as tais borboletas no estomago dançarem
felizes dentro de mim. Um suspiro escapa dos meus lábios, e quando dou por
mim, estou o observando encantada, possivelmente com uma carinha de
idiota de olhos brilhosos e um sorriso bobo nos lábios.
Pergunto-me o motivo que me levou a nunca observar Aspen além da
fachada de chefe cretino. Talvez nossa relação profissional tenha sido mais
fácil, e assim, eu jamais teria derrubado café em suas calças.
E provavelmente não estaríamos aqui hoje. Penso com pesar, pois a
ideia de não ter Aspen naquele momento comigo era dolorosa.
Ninguém poderia se comparar a ele. Ninguém saberia lidar com a
minha família como Aspen Russell fez.
Respiro fundo e volto a encarar Aspen. Tenho vontade de tocar seu
rosto bonito, minha mão coça para fazê-lo. Meus lábios de repente ficam
secos e um arrepio percorre o meu corpo. As borboletas fazem uns rasantes
felizes no meu estomago, e minhas mãos soam.
De repente paro de respirar. Uma estranha coincidência cruza a linha
dos meus pensamentos. Meu estomago parece dar uma volta, não pelas
borboletas imaginárias, mas por reconhecerem aquelas sensações.
Desta vez, mais intensas e confusas.
Por um instinto novo e estranho, minha mão faz seu caminho até o
rosto adormecido de Aspen, tocando sua bochecha delicadamente. A barba
por fazer faz cocegas e tenho que me segurar para não rir. Uma corrente
elétrica percorre a palma da minha mão, indo pelo meu braço e
correspondendo em todas as partes do meu corpo. As conhecidas e
desconhecidas.
Arfo surpresa. Minha respiração se acelera, meu corpo se arrepia por
inteiro e sinto a necessidade de ter seus lábios colados aos meus, como ele fez
várias vezes ao longo do dia.
Levanto meu olhar para cima, e me perco na escuridão que são seus
olhos.
Meu coração dispara no peito, Tento imaginar várias formas de me
explicar, mas as palavras simplesmente somem, deixando apenas uma certeza
em seu lugar.
Eu estava me apaixonando pelo meu chefe.
— Você ia me beijar, bruxinha? — pergunta ele, agora totalmente
desperto.
— O-o-que? N-não... C-claro que não! — gaguejo arrancando de
Aspen um sorriso gigantesco.
— Não foi isso que vi em seu rosto, Mia.
Franzo o cenho.
— E o que você viu? Por um acaso você é mestre em ler as feições
alheias?
Aspen gargalha alto, sua risada reverberando pelo meu corpo.
Assustando-me, Aspen me levanta em seus braços e se ajeita melhor
na cadeira, ele volta a me sentar em seu colo, nossos rostos a centímetros um
do outro.
— Vamos dizer que você é uma pessoa fácil de ler — ele diz
seriamente. — E também pelo fato de você estar hesitando e esmagando seu
lábio em uma mordida, que eu achei extremamente sexy.
— Aspen! — exclamo envergonhada. Sinto minhas bochechas
pegarem fogo.
— Vai negar bruxinha? — pergunta alçando uma sobrancelha.
Suspiro frustrada. Não tem como negar que estava pensando em beijá-
lo, e também, porque eu realmente quero beijá-lo.
— Não.
— Ótimo — ele diz sorrindo safado. — Porque eu também quero
beijá-la.
Seus lábios buscam os meus em um beijo necessitado. Sua língua
pede passagem, devorando-me lentamente. Um gemido escapa dos meus
lábios quando a minha língua toca a sua. Aspen faz o mesmo. Sua mão desce
até a base da minha coluna, onde minha blusa deixa um pedaço da minha pele
exposta. Seus dedos abeis tocam a minha pele, subindo pelas minhas costas,
traçando delicadamente a minha coluna.
A outra mão de Aspen vai de encontro a minha nuca, aprofundando o
beijo, enquanto as minhas próprias estão em seus cabelos, amassando os fios
macios entre meus dedos.
Suspiro contra a sua boca. Um arrepio desce pelo meu corpo
correspondendo lá embaixo.
— Não me canso de beijá-la, bruxinha — murmura contra a minha
boca. — Quanto mais a beijo, mais a quero. Você é doce e viciante, Mia. Um
perigo para a minha sanidade.
Sorrio.
— Então não pare, Aspen.
Seus lábios se contorcem em um meio sorriso, e atendendo ao meu
pedido, Aspen torna a me beijar apaixonadamente.
Por um longo tempo nos tornamos apenas gemidos, lingas e mãos.
Esquecemos-nos do mundo a nossa volta, do motivo que nos levou até ali e
todo o resto.
Bem, que se dane!

— Não, não e não! — esbravejo irritada. — Eu não vou dormir no


mesmo quarto que ele mamãe!
— Deixe de frescura, Mia. Sou adulta o suficiente para saber que
vocês dois dormem juntos. Casais fazem isso. Qual o problema, filha?
Eu encaro a minha mãe, totalmente desacreditada que ela me disse
aquilo.
Logico que ela teria essa linha de raciocínio contando que eu e Aspen
mantemos um relacionamento longo, e que consequentemente, já fomos
várias vezes para a cama juntos. É até compreensível.
Mas a realidade era outra. Eu e Aspen nunca tivemos nada além de
alguns amassos (que, digam-se de passagem, muito bons) e um
relacionamento completamente profissional.
— Vai, Mia. Diga a sua mãe o problema em dormir comigo — Aspen
diz atrás de mim, jogado na cama que era minha na adolescência. Sua voz é
carregada de humor e sei que ele ostenta um sorriso de orelha a orelha.
Respiro fundo, tentando não acabar com as lembranças dos beijos há
alguns minutos atrás com um chute em suas partes.
— Por que... — Penso por um momento, e então me lembro da
desculpa perfeita. — O papai. É, o papai vai odiar descobrir que eu dormi
com o meu noivo na mesma cama na casa dele. Não queremos ver o Aspen
correndo amanhã cedo pelo quintal pelado enquanto o papai vai atrás dele
com o cortador de grama, não?
Bingo! Ponto pra mim! Penso feliz da vida, abrindo um sorriso
vitorioso.
A expressão da mamãe se fecha na hora, e ouço alguém tentando
abafar uma crise de tosse atrás de mim.
— É, querida. Você tem razão. — Ela diz e eu quase grito de
felicidade. — Mas essa ideia foi do seu pai, já que estamos com a casa cheia
e com todos os quartos de hóspedes ocupados.
Ela diz isso e o sorriso se desfaz do meu rosto.
Essa não!
Atrás de mim, Aspen não consegue abafar o riso e começa a gargalhar
alto. Minha mãe o encara sem entender nada, mas infelizmente, eu o entendo.
Ela assiste a cena mais um tempo, abrindo um sorriso amarelo e
imaginando que Aspen é louco (o que é parcialmente verdade) e eu sinto a
necessidade de intervir.
— Mamãe — bato as minhas mãos para chamar a sua atenção. —
Acho que ouvi a tia Carla chamar por você.
Ela me olha e franze o cenho.
— Oh, claro. Bem, vou deixa-los a sós. Se precisarem de algo...
— Nós a chamamos, Elena. Obrigada. — Aspen responde por mim.
Ele parece estar recuperado de sua crise de risos.
— Certo. Bom, eu vou... — Ela dá alguns passos para trás, apontando
para um ponto cego das suas costas.
Seguro o riso e quando a vejo fechar a porta, explodo em uma
gargalhada. Que logo some quando me viro para trás e me deparo com Aspen
mordendo o lábio com seu olhar safado.
Oh, merda!
— Dormir comigo, hein? — Aspen sorri, balançando as sobrancelhas
para cima e para baixo. — Parece que eu já a ouvi dizer que é mais esperta do
que noventa por cento das mulheres que vão para a cama comigo.
— Aspen — suspiro com frustação. Ele está levando a coisa para o
lado errado. — Eu não estou indo pra cama com você, seu cretino. Nós
vamos dormir, sim, no mesmo quarto. Mas não dividir a mesma cama.
Ele alça a sobrancelha, compreendendo o que quero dizer.
— E como pretende fazer isso, gênio?
Sorrio. Talvez o sorriso mais maléfico que já dei em toda a minha
vida. Aspen percebe as minhas intenções, pois se encolhe todo de onde está.
— Muito simples, chefinho — digo e me encaminho até meu antigo
armário, o abrindo e deparando-me com o que preciso. — Você terá a sua
própria cama, neste mesmo quarto. Mas nem pense em sair dela, as
consequências serão altas.
— Que seriam?
Ele parece confuso, mas ansioso para saber o que estou aprontando.
Seu tom denota isso.
Pego os cobertores e o travesseiro extra do armário. Viro-me para
Aspen e o encaro sorridente. Seus olhos descem para o conteúdo que carrego
e de surpreso, a expressão de Aspen torna-se incrédula e furiosa em questão
de segundos.
Meu sorriso cresce ainda mais.
— Nem fodendo, Mia!
Faço biquinho.
— Pensei que você gostasse de fazer isso, Aspen — falo me
aproximando da cama e depositando os cobertores.
— Do que?
— De foder.
Ele ri sem humor.
— Eu ainda gosto, Mia. Mas não em um chão duro onde vou ter um
problema na coluna e a temperatura está a quase menos vinte graus! — ele
diz entre dentes.
— Bom — dou de ombros. — Acho melhor você se acostumar então.
Viro em direção ao banheiro, onde minha mala descansa lindamente
de forma estratégica e ando até lá enquanto ouço os resmungos de Aspen
atrás de mim.

Às vezes, tudo o que uma pessoa precisa após um longo dia é um


banho quentinho e relaxante, um pijama confortável e uma cama deliciosa.
Já deveria passar das duas da manhã quando finalmente apaguei a luz
sob os protestos de Aspen por estar dormindo no chão. Era impossível não rir
de um homem daquele tamanho reclamando feito criança.

Adormeci tão rápido como há muito tempo não fazia. Não tive
sonhos, nem sequer senti nada além das cobertas grossas sobre o meu corpo.

Quando acordei, com a luz da manhã infiltrando-se pela janela, da


qual me esqueci de fechar a cortina, me deparei com o sol de um dia de
inverno dando as caras. Sorri animada com aquilo, e me preparei para pular
da cama, quando algo me manteve presa.
Ou melhor, dizendo: alguém.
Ao olhar para o lado, me deparei com um Aspen adormecido, com
apenas os cobertores escondendo seu quadril para baixo, enquanto seus
braços estavam envolta de mim. Mantendo-me presa na cama.
Quis gritar, chutá-lo para longe e perguntar se ele havia ficado
maluco. Então a culpa me bateu.
Onde eu estava com a cabeça em manda-lo dormir no chão com
aquele frio? Não estávamos na Califórnia, onde o frio era ameno e sem neve.
Mesmo contando com a lareira, o frio ainda era um inimigo.
— Olha, eu sei que sou lindo. Mas se continuar me olhando dessa
forma vou ser obrigado a saciar seus desejos mais primitivos — Aspen diz de
olhos fechados, fazendo-me dar um pulo na cama.
— Que merda, Aspen! Você me assustou! — falo colocando a mão
sobre o peito, onde meu coração batia descompassado.
— Assustei por quase parecer um morto congelado devido ao frio ou
por ter adivinhado suas intenções para com a minha pessoa?
Reviro os olhos. Nem pela manhã ele deixa de ser um cretino!
— Nem um e nem o outro.
— Não? — Ele abre os olhos. — Tem certeza? Porque eu acredito
que você estava querendo um delicioso beijo de bom dia — diz e eu arregalo
os olhos.
— Hora essa! Nem pense nisso Asp...
Tarde demais.
Aspen me puxa para o seu lado, me prendendo sob o seu corpo
musculoso. Sua boca vem ao encontro da minha. Arfo surpresa e reluto em
beijá-lo de volta.
Droga! Quando foi que a situação chegou até aqui? Com Aspen me
beijando, ou melhor, devorando-me com a boca enquanto me entrego aos
seus beijos deliciosos e irresistíveis?
— Bom dia, bruxinha — diz afastando-se de mim.
Preciso me deitar novamente, com os sentidos entorpecidos pelos
beijos de Aspen.
— B-bom dia — gaguejo em resposta.
— Então... — Aspen começa. Sinto a cama balançar com uma risada
sua. — Quais os planos para o dia? — Pergunta ele. Meus olhos vão
automaticamente para a janela com as cortinas abertas.
Os planos para o dia.
Abro um sorriso ao ver que o tempo estava excelente para fazer algo
que eu amo. O sol estava a aparecendo por entre as nuvens, e a neve
provavelmente iria diminuir um pouco.
Era um excelente dia para patinar.
— Hm... eu preciso fazer a minha higiene matinal, se você não se
importa. E trocar essa roupa. Podemos descer e tomar café e só então te digo
que podemos fazer.
— Você não vai me dizer? — indaga alçando a sobrancelha.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Não. É surpresa. — Sorrio para encorajá-lo. — Você vai gostar.
Ele faz sinal de negativo, olhando-me nos olhos. Tento não forçar o
sorriso e não deixar transparecer as minhas intenções para ele. Pois, como
Aspen disse na noite passada: ele me lê facilmente.
— Eu sei que vou odiar o que você tem em mente. Mas não tenho
escolha a não ser aceitar e esperar, bruxinha. — Fala fazendo um biquinho.
Dou um gritinho alegre e enlaço seu pescoço com meus braços, o
abraçando um pouco desajeitada.
— Obrigada. Você vai ver, vai ser divertido — digo e me levanto da
cama, indo em direção ao banheiro, mas antes fazendo uma parada para pegar
a minha necessária com meus produtos de higiene pessoal.

Meia hora depois (tive que esperar a dondoca terminar de se arrumar


e sair do quarto) estou devidamente vestida com roupas de frio e pronto para
uma aventura, desço as escadas para tomar café.
Eu só não estava preparada para ver a cena que discorre na sala.
Fico paralisada no lugar. Minhas mãos tremem e meu coração
imediatamente para. Meu gorro até cai na minha testa, parecendo coisa do
destino para bloquear a minha visão.
Sentado na poltrona favorita do papai, está Aspen. A sua volta
algumas das minhas tias que acordam com o galo e meus pais. Nas mãos do
meu falso noivo está o motivo da vergonha de quase cem por cento da
população mundial: álbuns de família.
— A Mia era uma peste quando criança. Nem parece com a moça que
se tornou. Uma vez, a encontrei escalando a trepadeira do quintal dos Watson
igual a um macaco. — Minha mãe conta fazendo Aspen gargalhar alto.
— E qual foi a desculpa dela? — Pergunta um Aspen muito curioso.
— Argh! Mia teve a cara de pau de dizer que um esquilo havia
roubado a noz que ela iria quebrar. Mas nós todos sabemos que ela estava era
apaixonada no filho do vizinho.
Oh, merda!
A sala é preenchida pelas várias risadas. Todos riem as minhas custas.
Que ótimo!
Limpo a garganta tentando chamar a atenção deles, e infelizmente eu
consigo.
— Olha só, a macaquinha da família — Zomba Aspen. — Não sabia
que você era tão amorosa desde criança, amor.
Aspen sorri e eu engulo em seco.
— Sempre fui uma criança boa. Mamãe está exagerando! — digo
tentando não corar, mas falho miseravelmente.
— Não estou não! — esbraveja mamãe. — Uma vez, querido, fui
chamada no colégio da Mia pela diretora. Chegando lá, descobri que a peste
da minha filha tinha jogado chocolate quente nas calças do filho da prefeita.
Foi um caos só! Tudo isso porque o menino a chamou de...
— Gostosa boa para foder. Sinceramente, mamãe, ele mereceu por
isso.
— Mas precisava mandar o garoto para o hospital com queimaduras
de segundo grau, Mia? Seu pai teve que pagar um bom dinheiro para
indenizar a prefeita. Foi a pior peripécia que você já fez!
— Ela o que? — Aspen questiona rindo. Ele joga para trás,
gargalhando alto, sendo acompanhado dos demais. — Eu não acredito!
Minha cara se fecha na hora, e eu lamento não ter acontecido o
mesmo com Aspen.
Com ele o café já estava morno. Quente o suficiente para incomodar,
não queimar.
— Acredite, Aspen. A deixei de castigo por meses. O que finalmente
funcionou e Mia virou essa doçura que é hoje.
Aspen continuar a gargalhar, até que lágrimas sair de seus olhos. Ele
respira fundo várias vezes, tentando recobrar o controle sobre si mesmo.
Quando está mais calmo e parecendo o Aspen de sempre, abre um sorriso e
me encara com um olhar travesso.
— E eu pensando que fui a primeira vitimo de Mia — ele confessa
rindo.
Em um instante todos me encaram chocados e surpresos, no segundo
seguinte, a sala é preenchida por vários palavreados e a risada de Aspen.
— Que merda é essa, Mia? — minha mãe pergunta furiosa.
Engulo em seco, nervosa e olho para Aspen.
“Que merda, hein, Russell!” digo em pensamento e espero que ele me
entenda.
— Mãe, eu juro que posso explicar.
Levanto as minhas mãos para o alto, dando sinal branco para ela. Mas
seu olhar continua irredutível.
— Espero que tenha uma boa, ou melhor, uma das melhores
explicações que você já me deu em toda a sua vida. Ou vai ficar de castigo
pelo resto da sua vida.
Empalideço com sua ameaça.
Ah mas nem fodendo!
— Mãe, você não pode me colocar de castigo! Eu já tenho vinte e sete
anos, uma adulta que trabalha e se mantém sozinha. Não há maneiras de você
fizer isso.
— Tem certeza, Mia? Tem certeza absoluta do que acaba de dizer?
Mamãe me encara com o queixo erguido, sua postura na defensiva e
os olhos semicerrados são indicativos de que ela está me desafiando a
contraria-la.
E sim, eu vou.
— Mãe, por favor. É claro que tenho certeza de que a senhora não vai
me por de castigo — Faço uma pausa e respiro fundo, sabendo que lidar com
Elena Sanders Roosevelt não será uma tarefa fácil. — Até porque, o caso de
Aspen foi um acidente, não é mesmo, querido?
Preciso segurar a minha língua para não chamar Aspen de cretino ou
chefe. Seria o nosso fim, com certeza.
— Que? Ah, claro! Acidente. Foi tudo um acidente — Ele diz para o
meu alívio. — Na verdade, Elena, a culpa foi toda minha. Mia só estava
tentando fazer o trabalho dela.
Como é que é? Não acredito que estou quase alcançando o meu
objetivo e finalizando a viagem, e Aspen irá me dedurar agora.
Não aqui. Não nesse momento. Não na bendita véspera de Natal!
Fico em estado de alerta, e tento a todo custo fazer algum sinal sutil
para tentar pará-lo. No entanto, ele apenas abre aquele sorriso sacana, me
lança uma piscadela e se levanta da poltrona, aproximando-se da minha mãe.
— Conte-nos o que aconteceu, querido — ela sugere.
Mal sabe minha mãe que esse seu jeitinho toda apaixonadinha por
Aspen infla ainda mais o ego dele.
— Com maior prazer — Ouço-o dizer. — Então. É uma história bem
engraçada, pois foi assim que nos conhecemos. — Aspen começa a sua
historia. Vejo seus olhos brilharem de excitação e sei que ele gosta da
história. Mesmo sendo o mais prejudicado. — Eu estava em reunião com um
amigo meu, que por uma coincidência linda do destino é chefe da Mia — ele
diz piscando para mim. Coro quase de imediato. — E sabe, uma reunião bem
sucedida não é a mesma sem um belo café — Aspen repete um dos slogans
de uma campanha que ele mesmo fez para uma grande empresa. — E Mia era
nova na empresa, toda desastrada e nervosa. Quando ela entrou na sala de
reuniões, carregando uma bandeja com cafés, eu pensei: Minha nossa! Essa é
a mulher da minha vida.
A história de Aspen é interrompida por um coro das mulheres que se
resumem em own e que rapaz mais fofo.
Para enfatizar o personagem de noivo apaixonado, Aspen coloca a
mão sobre o peito e pisca, fingindo espantar lágrimas falsas.
Não consigo assistir a cena nem por mais um segundo. Tomo a frente,
segurando Aspen pelo braço e encarando metade da minha família.
— Então, pessoal, Aspen ao invés de mostrar todo o seu
cavalheirismo naquele momento, ele foi e me chamou de gostosa e elogiou a
minha bunda. Na frente do meu chefe. Sem querer eu me desequilibrei nos
saltos altos devido a surpresa e derrubei café nas calças dele. — Falo tudo em
um folego só, e ao fim, abro um sorriso alegre. — Fim da história. Já
podemos ir tomar café?
Ouço um coro de estraga prazeres e outras coisas por ter interferido
na história do meu adorável noivo. Dou de ombros e sorrio para cada uma das
minhas tias que disseram que eu nunca, jamais, não enquanto nesta vida, iria
me casar um dia e ter um homem me que amasse.
Em parte, as palavras são verdadeiras. Mas eu estava ali, com Aspen e
até então estávamos sendo perfeitos juntos. Não acredito que ninguém vá
desconfiar de nada.
Pelo menos não enquanto eu puder manter a fachada de noiva
apaixonada.

O café da manhã passa em um borrão. Há muitas vozes na mesa,


conversações sobre temperos, formatos de biscoito de natal e o tempo de
forno do peru. Nenhum deles me chama a atenção, e quando estou saciada e
muito entediada, encaro Aspen em busca de ajuda.
— O que foi, bruxinha? — pergunta ele. Sua boca está suja devido ao
açúcar de confeiteiro, do modo que sua barba por fazer fique branca.
Dou risada baixinha para não chamar a atenção dos demais.
— Estou entediada, papai noel. — digo e ele franze o cenho.
— Mia, tá querendo que eu escreva a sua carta para o papai noel. Não
acha que é um pouco tarde para fazer isso? Quer dizer, você já não está velha
demais para isso?
— Puta merda, Aspen. — Escondo meu rosto em minhas mãos,
sentindo um fogo ardente crescer dentro de mim. Um fogo que quer matar
Aspen Russell vive por me chamar de velha. — Você não me disse isso!
— O que? — Aspen pisca confuso. Seu olhar inocente não combina
com ele. — Só quis dizer que você não tem mais tamanho para enviar
cartinhas ao papai noel, bruxinha. Apenas isso.
— Ah, Aspen. Às vezes você é tão lerdo! — rio da sua careta.
Aproveito-me de sua distração e aproximo minha boca da sua. O
açúcar está mais intenso no cantinho esquerdo dos seus lábios, e isso me
parece uma boa maneira de fazê-lo pagar pelo constrangimento de minutos
atrás.
Os beijos de Aspen são boas formas de pagamentos. Deveriam ser
considerados elogios, tipo: Você está tão beijo do Aspen hoje.
Meus lábios tocam os seus levemente, em uma caricia singela. Minha
língua passa para o canto da sua boca, recuperando os resquícios do açúcar de
confeitar. Assisto maravilhada o momento em que Aspen se mexe
desconfortável na cadeira, e suas mãos apertam com força o pãozinho que
está na sua mão esquerda.
Afasto-me sorrindo vitoriosa por conseguir alcançar o meu objetivo
que era deixar Aspen tão desconfortável quanto eu.
Tento disfarçar, olhar para os lados e fingir que aquela era uma
situação muito comum para nós dois. E não uma competição ainda sem nome
para o que estamos fazendo.
Escuto Aspen respirar fundo. Sua cadeira se move contra o piso da
sala de jantar fazendo um barulho estranho, mas não chama a atenção.
Quando sinto seu delicioso perfume amadeirado me rodear, sei que Aspen
está tão próximo quanto o espaço é permitido. Sinto sua respiração quente na
minha nuca e é a minha vez de suspirar.
Merda! Ele sabe meu ponto fraco.
— Eu sei o que você está tentando fazer, bruxinha — sussurra ele
com a boca colada em meu ouvido. — Mas saiba que quanto pior você o
fizer, pior será para você. Não se esqueça de que posso ser o diabo em
pessoa.
“Um diabo lindo de morrer que sabe muito bem como desconcertar
uma mulher e deixa-la completamente apaixonada.” Penso com amargura.
— Engano seu, bobo — digo em um tom falso. — Só tinha um
pouquinho de açúcar no cantinho da sua boca, apenas estava tentando ser
uma boa noiva. — Sorrio e pisco da forma mais inocente que posso.
Aspen parece não acreditar nas minhas palavras. Sua expressão
continua fechada e sua boca está em uma linha fina.
Ora essa!
— Não tente jogar esse seu charme irresistível pra cima de mim
agora, Sanders. Isso não vai funcionar. — Ele se cala e faz uma careta. —
Pelo menos não agora.
Murcho na hora. Droga! Não foi desta vez. Bom, quem sabe numa
próxima?
É então que me lembro dos planos para o dia, e o meu sorriso volta
com força total. Levanto-me de supetão, arrastando a cadeira para trás e me
viro para encarar Aspen.
Ele me olha curioso, mas não faz menção de se levantar.
— Vai ficar ai sentado ou vai vir comigo, papai noel?
— Aonde vamos? — pergunta semicerrando os olhos.
Sorrio estendo a mão para ele.
— Surpresa! — dou de ombros. — Agora levanta essa bunda durinha
dai e vai saindo lá para fora. Vou apenas checar uma coisa com minha mãe e
já vou indo.
Aspen não diz nada, mas faz o que peço. Levanta-se da cadeira e se
aproxima de mim. Ele me puxa pela cintura e beija a minha bochecha, e se
despede de todos antes de sair lá para fora.
Sorrio ao imaginar o que deve se passando na cabeça do cretino.
— Olha lá o que vai aprontar, hein, Mia. — Ouço o meu irmão dizer,
e apenas lhe jogo um beijinho antes de me virar e ir em direção à cozinha.
Isso será interessante. Muito interessante.

— ISSO FOI UMA PÉSSIMA IDEIA, SANDERS! — Aspen gritava


comigo, do outro lado do lago.
Eu ria sem parar. Minha barriga já estava dolorida de tanto rir, mas
ver Aspen com medo de patinar era algo hilário e único na vida.
— ARRASTE OS PÉS SOBRE O GELO! — grito de volta. — UM
NA FRENTE DO OUTRO... NÃO... ASSIM NÃO, RUSSELL!
Corro na sua direção para ajuda-lo. Aspen estava quase perfurando o
gelo, e se ele o fizesse, nós dois iriamos cair na água e congelar iguais
mamutes no período glacial.
Quando o alcanço, Aspen se agarra em mim quase nos derrubando.
Seguro o riso que tenta escapar, e não consigo obter sucesso quando as
pernas do meu chefe começam a se abrir em uma abertura de bailarina.
— Você me paga por essa, Sanders! — ele berra enquanto tenta
manter o equilibro sobre os patins.
— Para de graça, Aspen. É só equilibrar o seu corpo sobre os patins.
Primeiro tente ficar de pé e...
— E o caralho, Mia! Você diz que essa coisa é fácil, mas só fala isso
porque nasceu já patinando e vive com aqueles saltos que te deixa com a
bunda arrebitada. Então para de falar merda e me leva de volta pra beirada.
Por um momento me desligo completamente de todas as asneiras que
Aspen me disse e jogo a cabeça para trás rindo igual a uma louca do medo
insano do meu chefe de patinar no gelo.
Rio tanto, que preciso abanar o meu rosto com as mãos.
O resultado foi que sem querer soltei Aspen no chão.
— Mia! — ele esbraveja do chão.
Encaro-o divertida, enquanto Aspen tenta inutilmente apoiar suas
mãos no gelo frio para se levantar.
O idiota apenas não sabia que o gelo era escorregadio e que as
laminas dos seus patins também eram escorregadias.
— MAS QUE DROGA!
Aspen agora está furioso. Penso que foi a melhor ideia que tive em
vários anos. Vê-lo daquela forma, tão puto e tentando se levantar, sem se
importar se está ridículo ou não, me faz sorrir.
— Aspen, não faça assim. Veja — digo antes que ele caia mais um
tudo e quebre os dentes. — Você só precisa confiar em si mesmo e se
concentrar nas lamina. Relaxe e mantenha a postura... o resto não tem muito
segredo.
Estendo a mão para ele, que prontamente a segura e faz um pequeno
esforço para se levantar.
— Eu vou ficar com a minha bunda doendo durante a ceia de natal, e
a culpa é sua, Mia! Você vai ter que me dar um bom pagamento para me
ressarcir do roxo que vai ficar.
Ele cruza os braços e me encara emburrado. Sorrio quando Aspen
nem se dá conta de que está de pé, sobre os patins no gelo escorregadio sem
cair de bunda ou cara no chão.
— Claro, eu faço o que você quiser — digo e seus olhos brilham
como uma arvore de natal. — Mas antes você terá que me pegar!
Saio correndo, deslizando pelo gelo deixando um Aspen puto para
trás. Ele grita algo, balança a cabeça, e quando dou por mim, estamos
patinando pelo gelo rindo igual a duas crianças.
Porque com Aspen era assim; eu voltava a ser uma menininha levada.
Capítulo 14 – Aspen

Encaro meu celular com um sorriso bobo de apaixonado.


Talvez o motivo do meu sorriso seja o de Mia. Tiramos a foto após
quase matar um ao outro no gelo. Mia tinha os cabelos cheios de neve após
perder uma guerra de bola de neve para mim. Seu sorriso era lindo e
humorado e seus olhos... ah! Seus olhos pareciam àquela estrela que fica no
topo da arvore de natal, iluminando tudo.
A foto é exatamente igual a que vi no Facebook de Elena. Exceto que
o irmão fora substituído por mim e sou eu que tiro a foto, mas isso não
importa. Não enquanto tenho Mia só para mim.
Isso me faz pensar em algo, e antes que a bruxinha saia do banheiro
onde está se preparando para a ceia de natal, clico em compartilhar Facebook
e em todas as redes sociais que possuo. Escrevo uma legenda enigmática e
compartilho.
Em questão de segundos tenho milhares de comentários, curtidas e
mensagens de pessoas que desejam suas felicitações (e pregando o seu ódio
xingando Mia).
Sorrio respondendo algumas, e outras apenas dou uma patada e
bloqueio.
Leio comentários de algumas mulheres tristes perguntando se a nossa
noite não foi boa o suficiente, e eu me pergunto: quem são essas loucas?
Mas é aquele ditado, não? Se eu não me lembro, eu não fiz. Ponto.
Mia provavelmente irá me matar ao descobrir isso. Só que eu não me
importo!
Não depois de hoje.
Nem de ontem.
Ou depois dos beijos que dei naquela boca deliciosa.
Ah... a boca de Mia! Lábios carnudos e pequenos. Perfeitos para
serem beijados e devorados. Não me canso de beijá-la. Isso se tornou meu
vicio. Ultrapassou o meu amor por cafeína.
E olha que meu amor por cafeína só era superado pelo amor que tenho
na minha mãe. Logo, Mia estava entre as minhas principais prioridades.
— Aspen, você viu o meu...
Levanto o meu olhar do celular ao sim da voz de Mia. Ela está saindo
do banheiro. Seus saltos altos fazem um barulho contra o carpete, enquanto
ela busca por algo.
Quando a vejo sair do banheiro, perco completamente o ar.
O bendito celular cai das minhas mãos, não tenho forças nas minhas
pernas e pela primeira vez na vida fico nervoso perto de uma mulher.
O foda é que a desgraçada está linda. Porra, Não! Ela está perfeita. Na
verdade, palavras não poderiam descrever Mia naquele momento.
Ela usava um vestido colado ao corpo, do tipo que sempre me deixava
louco na empresa, mas seu vestido vermelho tinha alças de ombro caído,
deixando sua clavícula perfeita a mostra. Seu cabelo estava penteado e jogado
para o lado, uma maquiagem simples que realçava a sua beleza natural era o
toque final.
Minhas mãos estavam coçando para saber se seu cabelo estava tão
macio quanto parecia, e minha boca salivava para traçar uma linha de beijos
do pé do seu ouvido até seu colo.
Encaro-a de cima abaixo, imaginando várias maneiras sacanas de
pegá-la de jeito, que resultariam na nossa falta na bendita ceia.
— Aspen? — Ouço a sua voz ansiosa me chamar ao longe. Mas no
momento estou concentrado demais apreciando a mulher a minha frente.
Porra! Eu sou um cretino sortudo mesmo!
— Tô. — digo hipnotizado. — Tô sim.
— Sério? Não parece. Você está me encarando de uma forma
estranha. Tem certeza que não quer um remédio para dor?
Balanço a cabeça, sem respondê-la.
Não existe remédio para paixão. Não para o que sinto por Mia.
Levanto meu olhar para olhá-la nos olhos. Mia me encara de volta,
seu olhar é preocupado e ela morde o lábio inferior. Seu rosto delicado me
deixa desconcertado e noto uma ruguinha de preocupação no vão entre as
sobrancelhas bem cuidadas.
Sem que eu perceba estou a olhando novamente dos pés a cabeça. Sua
beleza é como um soco, e não consigo imaginar Mia mais bonita do que
agora.
Mentira! Consigo sim!
Mia recém-acordada é a coisa mais linda que já vi em toda a minha
vida. Ela não se importa se está descabelada, com bafo ou com marca de baba
pelo rosto (eu já reparei, e ela dorme como uma princesa. Impossível, eu
sei!), apenas abre um sorriso bem humorado e sai desejando bom dia a todos.
Menos essa manhã, e na anterior.
Mas o fato de Mia estar vestida daquela forma começa a me
incomodar. Não pelo fato de ela estar perfeita, e sim pelo fato do pau no rabo
correr atrás dela igual a um cachorrinho adestrado.
O filho da puta não irá perder a oportunidade de tentar uma
aproximação de Mia. Não importa quando, onde ou se ela vai estar só ou não.
Pietro vai querer a minha Mia.
Sim, minha. Não vou aceitar menos do que isso. Quero Mia ao meu
lado, não apenas como uma assistente, mas como minha companheira.
Deus! Eu pensei isso mesmo? Sim, pensei! Porque não quero nada
menos do que Mia sendo minha.
Minha para chamar de algo mais além de companheira.
— Você esta... perfeita — confesso.
— Estou? — indaga. Sinto a incerteza em seu tom, por isso, tento
sorrir de forma convincente.
O que não é difícil, pois sorrio como um idiota quando se trata dela.
— Com certeza a mulher mais linda que já vi. E olha que não foram
poucas!
— Ah, Aspen. Não seja ridículo!
Ela ri.
— Não estou sedo ridículo, e sim verdadeiro — digo e me
aproximando dela. — Veja, mulher nenhuma me fez derrubar o celular no
chão por estar provavelmente com um inicio de mal de Parkinson.
Abaixo-me a sua frente e pego o celular caído. Meu rosto fica a
centímetros de suas pernas torneadas. Tenho vontade de tirar aqueles saltos,
arrastá-la pelos cabelos e mostrar a ele o quão verdadeiro estou sendo quando
digo que ela está maravilhosa.
E também evitar um possível assassinato cuja vitima será o ex-pau no
rabo.
— Provavelmente é por conta dos seus exercícios extras de hoje.
Sabe, cair e levantar, jogar bolas de neve e...
Mia não termina a sua frase, pois a calo com os meus lábios.
Se ela vai falar da vergonha que me fez passar, prefiro que faça isso
com os lábios colados nos meus enquanto posso me aproveitar de poder fazê-
lo.
Sinto o exato momento em que sua língua invade a minha boca,
desesperada, faminta, e suas mãos puxam os cabelos da minha nuca. Sugo
seu lábio inferior e Mia geme contra a minha boca, colando seu corpo ao
meu. Minhas mãos estão na sua cintura fina, mantendo-a presa ali.
Subo uma mão em direção a sua nunca, aprofundando o beijo.
Perco-me em seus lábios, em seus gemidos e protestos baixinhos.
Enlouqueço-a aos poucos e fico insatisfeito com esses amassos.
Quero mais.
Quero Mia por inteiro. Por completo.
Quero me perder em seu corpo. Sentir o seu gosto enquando ela está
sob o meu corpo. Quero acordar e ver o ninho que está os seus cabelos após
uma noite e ouvir seus xingamentos todas as vezes que faço algo que a irrite.
Não quero. Na verdade, preciso da Mia em minha vida. Muito mias
do que antes dessa farsa toda.
Quero fazer amor com ela. Amá-la todas as noites e todas as manhãs.
Sem me importar se teremos problemas ou não, porque isso sempre irá ter.
Só quero chamá-la de minha sem me importar de levar um tapa na
cara, porque Mia faria isso. Com certeza faria.
Diminuo a intensidade do beijo até virar selinhos deliciosos e ainda
mais excitantes. Mia protesta, mas não desgruda o corpo do meu.
Encosto minha testa na sua, sentindo falta do ar, mas mais ainda da
sua boca. Ainda de olhos fechados respiro fundo e me preparo para olhá-la
nos olhos. E quando o faço, tenho a certeza de que ela é a única mulher capaz
de me fazer passar vergonha e mesmo assim me fazer sorrir por isso.
— Ainda preciso de mais beijos como esse para fazer a minha bunda
gostosa parar de doer — digo e Mia ri.
— Pensei que já tinha feito o pagamento por ter te levado para o lago
congelado para patinar — diz risonha.
Sorrio ao me lembrar de sua travessura.
— Eu ainda nem comecei a cobrar — Respiro fundo, tentando manter
uma linha racional de pensamentos. — Mas acredito que exista algo que a
faça pagar de uma vez. — Meu tom torna-se misterioso. Mia alça uma
sobrancelha e me encara com expectativa.
— Que seria?
Penso por um segundo, meus desejos confusos e meus sentimentos
abalados. Eu não tinha certeza de mais nada na minha vida, exceto uma, que
era manter Mia ao meu lado por tempo o suficiente.
Uma missão impossível para um homem que nunca teve um
relacionamento sério. Palavras nunca foi o meu forte, e agora eu me via em
uma situação difícil.
— Depois da ceia, subimos para o quarto e te digo o que. — Apresso-
me em dizer, antes que Mia pense alguma besteira. — E te dou a minha
palavra que não iremos fazer nada do que você não desejar. Se é que me
entende.
Uma porque eu queria mais do que apenas uma noite com Mia. Duas
é que teria que ser um pedido muito convincente. E três, para um homem de
trinta e três anos, saber fazer um pedido de namoro não era para ser uma
novidade. Mas eu deveria fazer algo perfeito, por que... Deus! Mia era uma
mulher que merecia o mundo. E eu adoraria poder dar a ela tudo o que
desejasse.
— O que está aprontando, Aspen? — Pergunta-me desconfiada.
Sorrio e afasto-me dela. Já é uma tentação vê-la tão linda como agora,
e estar com ela em meus braços... Seria o fim do natal em família!
— Você vai descobrir em breve. Agora, temos que descer e participar
da ceia que sua mãe passou o dia preparando.
Mia faz careta diante das minhas palavras.
— Será que não podemos dizer que você está com muita dor e que
vamos ficar no quarto?
— O que? Nem pensar, Srta. Sanders! Você me arrastou para cá, para
passar o natal com a sua família e quando finalmente estamos quase na linha
de chegada, você quer simplesmente desistir?
Meu tom indignado a faz se encolher toda. Na hora sinto receio de
dizer aquilo a ela, e quase me dou um tapa ao ver seu olhar culpado.
Que merda, Russell!
— Não é isso, Aspen — murmura baixinho. — Eu só... não quero
mais fingir. Isso tudo é muito...
— Mia, para! — esbravejo e ela me olha perplexa. Aproximo-me dela
e a seguro pelos ombros. Flexiono os joelhos até meu rosto estar na mesma
altura que o seu e a encaro nos olhos. — Eu entendo você. Entendo que esteja
confusa, por que... Diabos! Eu também estou. Então vamos deixar essa
conversa para depois, descer lá e fazer o que fazemos de melhor: ser o chefe e
a bruxinha de sempre. Porque juntos nós dois somos perfeitos.
Para o meu alivio, Mia abre um sorriso e anui. Ela aproxima seu rosto
do meu e deixa um selinho rápido em meus lábios, se afastando logo em
seguida.
— Vamos lá. Acho que preciso esfregar na cara de todos mais um
pouquinho o quanto o meu noivo é gato.
— Ora essa! Um elogio vindo de você? — questiono com um sorriso
presunçoso.
Mia estala a língua e me lança um olhar cético.
— Sim, mas não vá alimentando o seu ego extremamente gigante com
isso. Ainda te acho um cretino.
Sorrio com sua resposta.
Veremos, Mia. Veremos.

Natal por si só já é uma comemoração repleta de sorrisos, abraços e


familiares inconvenientes fazendo piadinhas sem graça.
E a família de Mia não era muito diferente da minha.
Exceto que o inconveniente era o Pietro (mais conhecido como ex-
pau no rabo) e Jade, a prima que odeia Mia e vice e versa.
Desde que descemos as escadas, o casal vinte não parou de nos olhar.
Eu sei, Mia e eu temos uma química de dar inveja, e posso dizer que minha
bruxinha está de matar.
Sei disso porque o ex dela não para de babar a observando.
Em momento algum permiti que ela se afastasse. Não queria dar asa
para a cobra. E desde que ouviu a prima fazer um comentário nada legal
sobre a minha pessoa, Mia tem se mantido perto o suficiente de mim.
Deixando-me embriagado com seu perfume delicioso e sua presença
hipnotizante.
Como eu disse, a mulher mais linda que já vi. É impossível não olhá-
la e não me apaixonar.
— Você parece tensa — comento no ouvido de Mia.
Aproveito-me da nossa posição — eu sentado no sofá ao lado de
Chad e Mia em meu colo — e faço algo que desejo desde que estávamos no
quarto. Traço uma linha de beijos do pé do seu ouvido até a seu pescoço. Sua
pele macia parece queimar sob meus lábios e sinto o momento em que ela
engole em seco e um arrepio percorre o seu corpo.
— Não gosto do modo que Jade está te olhando — ela responde
baixinho. — É exatamente o olhar que ela lança a algum homem quando o
quer na sua cama.
Sorrio diante das suas acusações.
— Com ciúmes, bruxinha? — pergunto já esperando um não.
— Claro que sim. E se ela quiser você? Eu vou estar ferrada e...
Ela se cala e me olha assustada. Suas mãos vão de encontro a sua
boca. O anel de noivado reluzindo contra as luzes que enfeitam a casa.
Alço uma sobrancelha, desconfiado e surpreso por ouvir Mia
confessar que está com ciúmes de mim.
Isso sim é uma novidade!
— Por que estaria ferrada? — questiono. Mia balança a cabeça em
negativa e desvia o seu olhar do meu. — Mia? Me diga o motivo! — Insisto,
mas ela é irredutível.
— Não. Quem sabe depois... quando você me disser a forma de
pagamento por ter te deixado cair hoje mais cedo.
Sorrio. A bruxinha sabe muito bem como me dobrar. Pergunto-me se
será sempre assim com Mia.
Algo dentro de mim não se importa se for assim sempre, mesmo
depois da viagem.
— Tudo bem — respondo por fim. — Depois do jantar. Mas não
pense que irá fugir de mim, Sanders.
Pisco para ela e Mia sorri. Aproximo meus lábios dos seus e dou um
beijo casto.
Ouço alguém pigarrear próximo de nós. Olho na direção que o som
veio e acabo me deparando com a cara feia de Pietro.
Ele nos encara seriamente, uma carranca horrenda digna de um
vencedor de concurso de Halloween.
Quando percebe que eu o encaro, muda sua postura e desvia seu olhar
para Mia, que está completamente alheia a sua presença.
— Vocês dois não deveriam ficar se pegando dessa forma. Há
crianças presente, e acredito que isso seja um mau exemplo.
— Crianças? — questiono desviando o olhar para a sobrinha de Mia
que dorme tranquilamente no colo de Chad. — Não vejo nenhum pirralho
correndo pela casa, e mesmo se tivesse vários, isso não iria me impedir de
beijar a minha noiva — friso bem a palavra minha e noiva.
Pietro me lança um olhar furioso, e eu apenas sorrio abertamente para
ele.
Sinto os braços de Mia intensificar o aperto em meu pescoço.
Chamando a minha atenção de forma sutil. Olho para o seu rosto, ignorando
totalmente Pietro e encaro Mia.
Vejo em seus olhos um brilho preocupado, e sei que ela está tentando
se manter calma. A intromissão de Pietro em nosso momento casal super
apaixonado a incomoda tanto quanto eu, e isso me faz sorrir largamente.
— Vocês dois são tão melosos! — Uma voz feminina diz próxima de
nós.
Olho em sua direção e me dou conta de que foi Anne que disse aquilo.
Pelo menos não me incomoda. Na verdade, é apenas uma prova do quão bom
estamos sendo juntos e ela acaba de esfregar de forma sutil na cara do pau no
rabo que eu e Mia somos um casal apaixonado.
Pelo menos da minha parte era.
— Obrigada, Anne. Vivo dizendo a Aspen que as pessoas nos olha
estranho quando vamos a algum lugar. Ele se faz de surdo e me ignora
completamente — Mia diz, arrancando risadas das pessoas.
— E como foi que ele te pediu em casamento, Mia? Você nunca nos
contou! — Anne questiona curiosa.
Mia me lança um olhar surpreso e temeroso, e sorrio diante da sua
expressão. Começo a acariciar as suas costas, passando a mão da base da sua
coluna até a nuca, e isso parece fazê-la relaxar.
— Foi no shopping — Sou eu quem começa a contar a história. —
Mia estava fazendo compras, afinal, ela ama fazer isso, e eu me aproveitei da
sua distração e fui em busca do anel perfeito. Porque a minha linda noiva só
merece o melhor. — Falo em um tom sério e mandando uma direta bem no
meio da cara do tal Pietro.
— E ai, quando sai da loja Aspen simplesmente tinha sumido. Rodei
quase o shopping inteiro em busca dele, e quando parei para comprar um
café, ele resolveu aparecer.
— Ainda bem né, amor? Caso contrário àquele hippie de humanas
teria te levado para a combe dele e feito uma arte com seu corpo e nada de
Mia para Aspen — retruco irônico ao me lembrar do cara da cafeteria.
Filho da mãe! Por pouco Mia não estaria aqui com um hippie de
humanas que mais parece o bicho preguiça falando do que em meus braços.
O pensamento me deixa cego de raiva.
— É. E você o espantou em menos de dois segundos, meu
ciumentinho — ela diz segurando as minhas bochechas e fazendo biquinho.
Fico puto com a forma como ela o faz, quase manchando a minha
reputação de macho alfa.
— Claro. Eu precisava me garantir — digo. — E dai eu me ajoelhei
no meio do shopping? Por essa mulher valeu a pena!
— E quando fique surpresa com o gesto, o cara de pau teve a coragem
de dizer que estava apenas amarrando os sapatos — Mia completa. Noto o
seu tom aumentar conforme as lembranças a faziam ficar possessa.
Sorrio para ela.
— E ai fiz o pedido quando ela estava prestes a se virar e ir embora
brava comigo.
— E eu com certeza disse sim — ela completa com um brilho
especial nos olhos.
— E depois virou as costas e mandou que eu levasse as suas sacolas.
Mia gargalhada com a minha resposta, sendo acompanhada pelos
demais.
Permito-me relaxar com o som da sua risada, e me esqueço de
completamente dos planos para o futuro. Apenas me entrego naquele
momento a Mia e as suas vontades.
— É realmente uma história muito incomum — Anne comenta entre
risadas.

Continuamos a conversar em um clima descontraído. Mia falando


sobre compras com a cunhada e eu conversando sobre negócios com Chad e
Paul que acabara de se sentar próximo a nós.
Pietro e Jade não nos incomodaram. Não até o momento de sentar a
mesa para a ceia de natal.
Para o meu azar, e o de mia, o casal vinte estava sentado a nossa
frente. Mia de cara com Pietro e eu de cara com a... cobra.
Elena dá inicio a um discurso alegre sobre o verdadeiro significado do
natal e agradece a mim, por finalmente ter o genro que sempre sonhou e
trazer a felicidade de volta ao rosto da filha.
A ultima parte eu não me toquei muito bem na hora. Não até olhar
para frente e ver Jade olhando para Mia mortalmente.
Paul parece pegar o bastão da fala e nos encoraja a fazer uma oração,
agradecendo ao ano que passou, pelas bênçãos e milagres que aconteceram.
Nunca fui um homem muito religioso, mas faço as minhas preces
silenciosamente e agradeço por ter Mia ao meu lado. Não só agora, mas há
muito tempo.
Finalizadas as falas e orações, todos começam a se servir.
As conversas a mesa são altas, há barulho das louças batendo e de
espumante sendo abertos.
Olho para Mia que sorri para mim, enquanto murmura algo e toma o
prato das minhas mãos, me servindo do que eu gosto.
Esperta do jeito que é, deve se lembrar das minhas preferencias
culinárias.

O jantar discorre tranquilamente. Bebo apenas duas taças de vinho,


pois quero me manter sóbrio para a conversa com Mia. Já a maluca, já está na
quarta taça. Vejo-me então obrigado a para-la, pois a quero consente de todas
as suas palavras e ações essa noite.
— Chega! — falo enquanto tomo a taça das suas mãos.
— Ei! — protesta ela. — É a minha taça!
— Eu sei. — Aproximo meu rosto do seu e murmuro apenas para ela.
— Mas tenho planos para essa noite, e preciso que você esteja sóbria.
Mia revira os olhos para mim.
— Aspen! Eu não vou ficar bêbada. Por favor, devolva a minha taça!
Balanço a cabeça. Mia faz beicinho, e tenta me persuadir.
Coitada, mal sabe ela que estou definitivamente decidido a ter essa
conversa. De hoje, Mia Sanders não me escapa!
— Não — digo e passo um copo de água para ela. — Eu vou ao
banheiro e passar na cozinha para deixar a sua taça. Se eu voltar aqui e tiver
alguma taça de vinho em suas mãos... — Balanço a cabeça só de imaginar um
castigo delicioso para ela. — Você estará em maus lençóis, bruxinha.
Beijo a sua testa e me levanto, carregando a sua taça comigo.
Faço a primeira parada na cozinha, despejando o liquido na pia e
depois seguindo para o banheiro.
Tento não demorar, pois deixar Mia sozinha a mercê do pau no rabo é
um pensamento inquietante. Ainda mais quando o desgraçado parece tão
disposto a tentar reconquistá-la.
E, é claro! Não posso me esquecer de Jade e seus comentários nada
sutis para mim. Aquela mulher cheira a problema! E se fosse há algumas
semanas atrás, eu não hesitaria em ir para a cama com ela.
Mas agora, eu desejava apenas uma mulher na minha cama. E essa
mulher era a mesma que estava tentando ficar bêbada há alguns minutos
atrás.
E se Mia ficar bêbada e eu não estiver por perto, Pietro pode se
aproveitar da situação e ir... Balanço a cabeça com o pensamento.
Nem por cima do meu cadáver!
Retorno para a sala de jantar em passadas. Ao me aproximar, não
escuto mais as vozes altas e alegres. A sala poderia estar vazia, se não fosse
por uma.
— Não seja patética, Mia! Todos aqui já notaram a de vocês dois.
Viagem nos anos anteriores? Você é corna e continua sendo! Pode ter o
homem que quiser. Você nunca irá conseguir fazer um ficar ao seu lado. Não
como eu fiz com Pietro. Eles sempre irão sentir falta de algo que você não
pode dar a eles. Aceite, priminha.
Escuto tudo atrás da porta, completamente chocado com as palavras
rudes de Jade.
Com certeza aquilo não foi apenas o inicio. Ela deve ter esperado eu
me afastar, e escolheu justamente o momento em que todos estivessem juntos
para pegar Mia.
Naja peçonhenta!
Acelero os meus passos em direção a sala, Ao passar pela porta, vejo
Mia correr para longe. Ela some por uma porta e então tudo fica silencioso.
— O que diabos você disse a ela? — pergunto entre dentes.
Encaro Jade do outro lado da mesa. Ela abre um sorriso largo e se
encosta na cadeira de forma relaxada.
— A verdade. Você a trai. Quem não vê isso? Mia sempre foi
reticente no quesito relacionamentos. Uma mulher sem atributos para atrair
sexualmente um homem. Ela não passa de um homem de saias. Pode
confessar, Aspen. Ninguém irá julgá-lo. Acho que você até pode encontrar
coisa melhor por aqui.
— Jade! — esbraveja Elena. — Eu não vou admitir que você faça
essas acusações sobre a minha filha e meu genro. Sei que você e Mia têm
suas desavenças. Mas hoje não é dia disso! Pelo amor de Deus! Será que não
podemos ter uma ceia de natal como uma família normal?
Jade revira os olhos e dá um longo gole do seu vinho.
— Desculpa, tia. Mas pensei que Mia merecia ouvir a verdade.
— Eu não vou...
— Não, Elena. Jade tem razão. — corto mais uma possível bronca
vinda de Elena.
— Viu só? Eu avisei a todos vocês — A peçonhenta diz com um
sorriso vitorioso.
Sorrio de lado, imaginando o que se passa na cabeça de uma mulher
como ela. Quem ela pensa que é para falar assim de Mia? Fico puto ao me
lembrar das suas palavras.
Sinto meu sorriso crescer mais ainda, mas não como faço quando
estou com Mia. É o mesmo sorriso que dou a alguém que quero matar.
Vejo pelo canto do olho Pietro tentando disfarçar e se levantar e ir a
busca de algo que me pertence. Essa oportunidade ele não iria perder por
nada!
— Você pode continuar sentado ai, pau no rabo! — perco a
paciência. — E você, Jade, está completamente errada em relação à Mia e o
nosso relacionamento. Fiquei sim todo esse tempo sem vir para cá e conhecer
a família da minha noiva, pois é isso que Mia é. Minha noiva. Mas o que
você não sabe é que passamos os últimos dois anos juntos, nos conhecendo
melhor. Viajando e aproveitando a nossa relação. E se você não aceita o fato
de ela ser uma mulher maravilhosa, gostosa e bem sucedida, o problema é
seu. Porque Mia é tudo isso e muito mais, além de uma das mulheres mais
maravilhosa com quem tive a oportunidade de me relacionar. E olha que não
foram poucas! — Solto tudo o que estava entalado na minha garganta. Não
me importo de falar algo que alguém não goste. Que se dane! Não estou aqui
para agradar ninguém, apenas Mia e isso é a única coisa que me importa. —
Agora, se vocês me dão licença. Preciso ir atrás da minha noiva. — Olho para
todos a minha volta. Encaro demoradamente Jade e Pietro, e para esse ai,
aponto um dedo em riste e ameaço: — Nem pense em se aproximar de Mia.
Faça isso, e seu chifre vai encontrar com seu rabo. Eu não vou hesitar em
quebra-lo por inteiro.
Aviso dado.
Não espero por uma resposta e ando na mesma direção na qual Mia
desapareceu.
Ando em direção ao hall de entrada e vejo que a porta está
entreaberta. Apresso-me em sair, para o frio congelante e espero encontrar
Mia.
Um suspiro aliviado escapa dos meus lábios ao vê-la sentada na
cadeira de balanço. Fecho a porta atrás de mim e ando em silencio até parar
ao seu lado. Mia não parece notar a minha presença, seu olhar está perdido
encarando a noite escura. Seus lábios estão pressionados um contra o outro,
enquanto algumas lágrimas molham a sua bochecha. Ela usa uma blusa de
frio que eu deduzi ser minha, e nada mais além do seu vestido.
Encosto-me e na parede ao lado da sua cadeira, esperando em silencio
o momento em que ela irá me notar.
Alguma hora isso vai acontecer, só espero que eu não me torne um
boneco de gelo.
— Não precisava dizer aquilo a Jade — ela diz baixinho, para o meu
alívio.
— Eu precisava sim. Estou aqui para te proteger, mesmo que isso
signifique enfrentar a sua própria família — devolvo baixinho.
Mia se mexe na cadeira, claramente desconfortável. Seu corpo treme
de frio e vejo isso como uma brecha para pegá-la em meus braços.
E é isso mesmo que faço.
Dou um passo à frente e puxo suas mãos. Mia se levanta relutante,
mas me obedece. Assim que a cadeira está livre, sento-me a puxando para os
meus braços. Mia vem de bom grado e esconde seu rosto no meu pescoço.
Sua respiração quente contra a minha pele fria. Uma sensação tão gostosa,
que eu não me surpreenderia se não fosse Mia a me proporcionar.
Sentamos em silencio. Cada um perdido em seus próprios
pensamentos. Não forço o assunto. Se ela quiser falar sobre, irá fazê-lo. Tudo
há seu tempo. Só peço a Deus paciência para segurar a minha curiosidade.
Enquanto isso, a aperto em meus braços, cheira o seu cabelo e aprecio
a sensação de tê-la em meus braços. Tão pequena e vulnerável. Sinto o meu
instinto protetor bater no peito e gritar, querendo espantar todos os fantasmas
que assombram Mia.
— Ela disse a mesma coisa há dois anos — Mia começa. — Eu vim
para casa, ansiosa para contar a minha família sobre o meu primeiro ano
longe de casa, então tudo aconteceu. Jade começou a me humilhar, dizendo
que eu era incapaz de fazer qualquer coisa sozinha. Que se eu fosse tão boa
assim, estaria sendo a chefe da minha própria empresa, e não a subordinada.
E quando retruquei, o assunto voltou para a traição de Pietro e a minha
primeira vez. — Ela suspira, parecendo estar cansada. — Tentei
desconversar, dizendo que estava noiva... uma confusão. Foi ai que tudo deu
errado. Voltei para casa no mesmo dia e acabei ficando presa em casa durante
todo o resto do ano.
— Mia...
Penso em dizer algo, mas as palavras me faltam. Eu sei que Mia se
sentia inferior, mas não deixava isso aparecer. Quando a questionei hoje mais
cedo sobre usar o sobrenome de solteira da mãe, Mia confessou que não
queria ter as coisas de mão beijada. Nem mesmo o trabalho. Ela contou sobre
querer crescer sozinha profissionalmente, sem a ajuda dos pais, e isso me fez
admirá-la ainda mais.
— Eu sei, Aspen. Há muito mais do que apenas isso. Mas agora
mesmo, quando você disse aquilo sobre mim, fiquei em duvida sobre a minha
capacidade. E se Jade estiver certa? E se eu não for capaz nem de me manter
em um relacionamento. Quem dirá ser uma boa funcionária?
Puta que me pariu!

Nunca vi Mia tão vulnerável quanto agora. Sua mascara de durona foi
completamente destruída pela cobra da prima, e isso parte o meu coração.
Não gosto de vê-la assim.
Quero apenas os seus sorrisos. Suas risadas e suas travessuras. Se
tiver lágrimas, que seja de cólica para que eu possa a embalar em um cobertor
e enche-la de sorvete e chocolate.
Que seja algo que eu possa estar ao meu alcance.
— Mia, não pense tão pouco sobre si mesma. Você não imagina a
força que tem. Da mulher maravilhosa que é. Eu posso dizer com toda a
convicção que você é a definição de mulherão da porra! Nunca a vi se abalar
por alguma ameaça de Tiffany, ou ficar constrangida por uma das minhas
cantadas, que convenhamos, são ridículas — falo e acabo recebendo um
sorriso em troca. — Sobre relacionamentos, você ainda não encontrou o cara
certo. Na verdade, precisamos conversar sobre isso. Mas agora, enfia na sua
cabeça que você é uma mulher, e que não precisa de homem algum para fazê-
la feliz, porque Mia, você é que faz os outros felizes.
Deixo que Mia absorva o meu vomito de palavras, encarando aqueles
olhos castanhos lindos que me deixam completamente bobo. Não demora
muito e sou retribuído com o seu sorriso lindo.
Não me importo se estamos fingindo ou não. Que se foda! Essa farsa
nunca iria dar certo mesmo. Mia avisou que iria dar merda. Eu não acreditei,
mas ela com certeza via apenas dois futuros para isso:
Um seria comigo morto e o outro, bem... esse ainda tenho duvidas.
Mas por hora elas continuarão assim.
— Obrigada, Aspen. Por estar aqui e dizer tudo isso.
Sorrio para ela.
— Noivos servem para isso, bruxinha — digo piscando um olho para
ela.
Mia ri e balança a cabeça em negativa. Aproveito-me e aproximo meu
rosto do seu, distribuindo beijos por sua pele macia. Indo de encontro aos
seus lábios carnudos. Sua boca busca a minha e eu a beijo como se não
houvesse amanhã. Como se fosse a nossa ultima vez, e provavelmente seria.
Mas por hora, eu não queria que o amanhã chegasse. Queria apenas
beijar Mia e demonstrar todo o amor que eu estava descobrindo sentir por ela
naquele beijo.
Capítulo 15 – Mia

Sempre ouvi dizer que o amor era um sentimento estranho. Que nos
consumia de dentro para fora. Que se tornava uma necessidade da outra
pessoa. Que queimava, machucava e dava insônia. Ouvi muitas coisas sobre
o amor, mas nunca soube identificar tal sentimento por alguém.
No entanto, agora eu sei que de onde quer que eu tenha ouvido isso,
tenho certeza que a pessoa estava coberta de razão. O amor era um
sentimento tão simples e puro, que chega de mansinho e te dá uma rasteira
para cair na real.
Sorrio sozinha ao pensar nisso.
Aspen poderia facilmente ter deixado de lado o assunto que Jade
resolveu tocar. Seria mais fácil e melhor para mim. Ela tocou em uma ferida,
só que nem ela e nem eu imaginávamos que essa ferida estava curando-se. E
tudo isso era graças ao meu chefe.
Após a confusão na mesa de jantar, Aspen não insistiu para voltarmos
para dentro e continuar como se nada tivesse acontecido. Na verdade, ele foi
um anjo e me chamou para subi para o quarto.
Eu relutei por um momento, imaginando todas as possibilidades que
deveriam estar se passando na cabeça do cretino. E ao perceber a minha
expressão, Aspen soltou uma gargalhada gostosa e bateu com a mão na testa,
exclamando que não acreditava que eu tinha uma mente tão poluída.
Após juramentos e apertos de mãos, ele me levou para cima, descendo
logo em seguida para surrupiar pedaços da deliciosa torta de nozes da mamãe
e avisar a mesma que estávamos no quarto. Ele deve ter usado todo o seu
charme para convencê-la de que eu estava bem e que não precisava de nada.
O que para mim foi ótimo. Não queria ninguém por perto. Ninguém
além do meu chefe.
Passamos o resto da noite embaixo das cobertas, assistindo filmes de
natal na tv e comendo porcarias. Conversamos sobre tudo e nada ao mesmo
tempo, esquecendo completamente o assunto passado.
À meia noite, o relógio indicou a virada e Aspen e eu nos abraçamos
comemorando o natal. É claro que o safado se aproveitou da situação e me
puxou para os seus braços, selando a nossa noite com um beijo intenso e de
tirar o folego.
Adormeci em algum momento após vários beijos e pedaços de torta,
Quando acordei novamente, ainda estava escuro e a televisão
desligada. Aspen dormia tranquilamente ao meu lado, agarrado a mim.
Sorrio com a visão do seu rosto adormecido contra o meu travesseiro,
enquanto uma de suas pernas está entrelaçada com a minha e seus braços me
abraçam protetoramente.
Tento-me desvencilhar dos seus braços, mas Aspen geme e se mexe
na cama. Prendo a respiração e paraliso. Como ele não dá sinal de que está
acordando, tento mais uma vez sair dos seus braços confortáveis, e desta vez
consigo.
A primeira parada que faço é no banheiro. Minhas necessidades
fisiológicas falando mais alto que o normal. Depois desço as escadas
lentamente, nas pontas dos pés. No caminho não vejo ninguém o que me faz
suspirar aliviada.

Uma vez no andar de baixo, corro silenciosamente na direção da


cozinha. Ao chegar lá, me deparo com alguém atacando os biscoitos que
mamãe deixou preparados para a manhã de natal.
Meu queixo vai ao chão assim que a figura alta de Chad se vira para
mim, com dois biscoitos enfiados na boca e um grande copo de leite na mão.
— Oh, merda!
Chad arregala os olhos e corre na minha direção, abandonado o copo
de leite na bancada da cozinha, ele coloca duas mãos na minha boca, ainda
me olhando assustado, e balança a cabeça de um lado para o outro.
O encaro sem entender o que está acontecendo, e assisto horrorizada
ele mastigar e engolir os biscoitos de uma vez. Sem precisar da ajuda do leite.
— Fique quieta! — ele sussurra. — Quer que a mamãe desça até aqui
e descubra que eu comi os biscoitos?
Seguro a risada que começa a crescer, e balanço a cabeça de um lado
para o outro. Chad sorri e lentamente, tira a sua mão da minha boca, voltando
a sua atenção para o leite esquecido na bancada.
— O que faz acordado a essa hora? — pergunto em um sussurro.
— Fome — responde ele, apenas com os lábios sem emitir som.
Rio baixinho sem conseguir acreditar que um homem do tamanho de
Chad invade a cozinha naquela hora da madrugada.
Dou a volta na ilha da cozinha, me sentando em uma das banquetas
dispostas ali, de frente para o meu irmão. Ele faz o mesmo, só que do outro
lado.
— Você sabe que será o principal suspeito nos sumiços dos biscoitos,
não? — falo e Chad abana a mão na minha direção.
— Relaxa, isso vai ser muito fácil — diz. — Só colocar a culpa no
Pietro e tudo fica na boa. Alias, mamãe o odeia ainda mais depois de ontem.
— O que? — Pergunto de olhos arregalados.
— É. Depois que você saiu correndo, Aspen falou umas boas
verdades para os dois. Pietro fez novamente comentários nada agradáveis
sobre seu noivo e Jade insistiu na tecla que você é corna. Ela só não se toca
que vocês dois estão na verdade fingindo que estão juntos.
Ele despeja enquanto come tranquilamente os biscoitos de natal.
Meu corpo todo paralisa com a sua ultima frase, e tenho a sensação de
ter levado um soco no estomago.
Como diabos ele soube?!
Meu coração erra uma batida e minhas mãos tremem. Uma pontada
dá sinal na minha cabeça, e sei que estou com um grande problema nas mãos.
— C-c-como? — indago. Minha voz falhando no processo.
— Sério, Mia? Vai querer mentir pra mim, seu irmão?
— Chad... eu... Deus! Eu posso explicar! — tento pensar em alguma
coisa que pode fazê-lo acreditar em mim, mas sei que é uma batalha perdida.
Chad me conhece melhor do que ninguém e não é cego como os outros.
— Mia, sinceramente? Eu não quero saber o que te levou a fazer isso.
Nem em como você e Aspen entraram nessa, a única coisa que quero saber é:
valeu a pena?
Pisco, totalmente confusa com a mudança brusca de assunto. Como
assim valeu a pena?
— Como assim. Chad? — pergunto o fazendo revirar os olhos.
— Valeu a pena, Mia, mentir para a sua família e trazer um noivo
falso para casa?
— Ah!
— É.
Compreendo o que quis dizer. Valeu a pena? Será que valeu mesmo a
pena trazer Aspen para a minha casa e fingir que somos noivos?
Encaro meu irmão, que me observa aguardando uma resposta. Vejo
no seu olhar algo que me faz acreditar que sim, valeu muito a pena.
Meus pensamentos voam para a manhã passada, enquanto Aspen e eu
nos divertíamos no gelo. No sorriso dele quando sai do banheiro um pouco
antes da ceia e o modo como ele me observava e nas suas palavras da noite
passa.
Dou-me conta então que valeu muito mais do que eu imaginada. E
que no fim, eu sairia daqui com boas lembranças do meu chefe.
Por que eu estava completamente apaixonada por Aspen Russell.
— Eu estou apaixonada por ele, irmão — confesso em voz alta. — O
sentimento não é reciproco. Mas fico feliz em saber que, por alguns dias, eu
tive alguém ao meu lado, não importasse a situação, Aspen está aqui e ainda
não saiu correndo.
— O que não é um sinal? — indaga ele.
— Um sinal?
— Sim. — Chad sorri. — Um sinal mais do que claro que Aspen
sente o mesmo por você. E acredite, Mia, eu acredito veemente que seu falso
noivo está de quatro por você.
Pisco, totalmente alarmada por sua suposição.
— Não, Chad. Eu conheço Aspen. Saberia se ele estivesse dando
sinais ou não sobre isso.
Meu irmão joga a cabeça para trás, rindo de mim.
— Não seja boba, Mia. Eu sou homem e sei como nós, homens,
agimos quando estamos apaixonados. Não demonstramos até termos certeza
de que a mulher sente a mesma coisa. Aspen pode estar esperando por sua
declaração.
Chad explica e eu me lembro das palavras de Aspen ontem a noite,
antes de tudo dar errado e nós dois fugirmos para o quarto.
— Ele queria conversar comigo ontem, antes de tudo aquilo acontecer
— informo ao meu irmão. — Será que...
Olho para Chad em busca de respostas, mas ele apenas dá de ombros
e se levanta.
— Pode ser possível que sim. Mas você só vai saber se não arriscar e
disser o que sente. Vai por mim, é reciproco. — diz ele, piscando para mim e
virando, indo em direção à porta.
Nós só não esperávamos nos deparar com um Aspen encostado no
batente da porta, olhando-me seriamente e braços cruzados.
— Boa sorte, cara — Chad diz enigmático e dá um tapa no ombro de
Aspen ao passar por ele.
Um silêncio incomodo fica após os passos de Chad sumir pela escada.
Eu encaro Aspen e ele me encara de volta. Seu rosto está amassado devido ao
sono e os olhos inchados brilhando alegres. Pelo menos era o que deduzia ser.
Engulo em seco enquanto o assisto dar um passo na minha direção.
Permaneço ainda sentada na banqueta da cozinha, olhando-o dar a volta na
ilha e parar ao meu lado.
Eu sinto o calor que emana do seu corpo, e uma sensação de saudade
começa a crescer dentro de mim. Tenho vontade de me virar e encarar a sua
cara safada e puxá-lo para mim e beija-lo até essa sensação insana
desaparecer.
Ou seja: nunca!
Gentilmente, e sem dizer nada, Aspen vira a banqueta lentamente, de
modo que eu fique de frente para ele e bem... bem mais baixa.
Seu olhar é intenso e ainda com o brilho alegre. Aspen não diz um
piu. Sua boca está fechada em uma linha fina e o vão entre as suas
sobrancelhas está enrugado. Um sinal bem claro que Aspen Russell está
pensando, e isso não é uma coisa que acontece com frequência.
— O quanto você ouviu? — pergunto. Meu tom é um misto de
curiosidade e apreensão.
— O suficiente, bruxinha — responde ele, fazendo-me engolir em
seco.
Santo Deus!
— Então?
Aspen respira fundo e eu paro de respirar. Literalmente! Minhas mãos
soam e a tensão toma conta do meu corpo. Meu coração bate descompassado,
e quando ele abre aquele sorriso de lado, sinto que estou perdida.
Ele ouviu!
— Seu irmão é um bom conselheiro — diz por fim. Na hora sinto
meu coração diminuir o passo e o nervosismo diminuir gradativamente.
Minhas expectativas levando um balde de água fria. — Mas ele está certo em
uma coisa. Nós, homens, vamos esperar as mulheres se declararem primeiro.
Pronto. É o meu fim.
— Aspen... eu... droga!
Fico envergonhada e sem conseguir olhar em seus olhos, escondo o
meu rosto nas mãos. Ouço a risada silenciosa de Aspen e isso só me deixa
pior.
Será que ele está rindo de mim ou por eu confessar que estou
apaixonada por ele?
— Mia, olhe para mim. — Ele ordena, mas eu não o faço. Estou
mortificada! — Por favor, bruxinha — pede, seu tom é tão persuasivo e
suave. Faço o que ele pede, só para me arrepender logo em seguida. — Não
quero que você desvie seu olhar do meu. Nem que se envergonhe por
confessar algo ao seu irmão, desculpe, o errado fui eu em ouvir atrás da porta.
Aspen despeja suas palavras em cima de mim. Fico frustrada por não
ser o que eu esperava, mas ao mesmo tempo aliviada por ouvi-lo se
desculpar. Pelo menos Aspen sabe o que fez de errado!
— Tudo bem, Aspen. Ninguém tem culpa de você ser enxerido —
digo ganhando um olhar reprovador dele.
— Não sou enxerido! — Defende-se. — Eu acordei e não te achei.
Vim procurar por você e ouvi a sua conversa sem querer. Sorte sua é que era
seu irmão. Se fosse o seu ex-pau no rabo a coisa teria ficado séria!
Sorrio de suas palavras.
— Hm... ciúmes, chefinho? — provoco.
Aspen fecha a cara e me lança um olhar nada amigável. Ele cruza os
braços e mantém uma pose de homem sério. O que é muito falso, porque
Aspen jamais será um homem sério. Pelo menos não comigo.
— Sim, estou com ciúmes. Algum problema, Sanders?
Arfo com sua declaração. Merda! Meu coração volta a bater feito
louco, e fico estática encarando Aspen.
As palavras me faltam assim como o ar. Tremo por inteira e minha
cabeça repassa milhares de vezes as suas palavras.
Aspen? Com ciúmes de mim? Impossível!
— Você está ficando louco, querido. — digo arrancando um sorriso
dele.
— Sim, Mia. Eu estou louco. E você acredita se eu disser que não
existe cura para a minha loucura? — brinca ele, aproximado o rosto do meu.
— Acredito. Mas qual é o tipo da sua loucura? — pergunto entrando
na sua.
Aspen abre o seu sorriso de derreter coração e aproxima seu rosto do
meu ouvido. Um arrepio percorre o meu corpo, fazendo-me ir de encontro a
ele.
Sinto o seu sorriso reverberar por meu corpo, e com a voz rouca ainda
de sono, Aspen sussurra baixinho:
— Amor, Mia. Acho que estou ficando louco de amor.
Oh meu santo bom Deus!
Afasto-me de Aspen para encará-lo. Sua expressão é neutra, mas seus
olhos transmitem a mensagem silenciosa que Chad já tinha me confirmado.
Um sinal. Um sinal lindo de olhos castanhos brilhantes e
apaixonados.
Respiro fundo, trazendo ar para os meus pulmões. Sorte a minha de
estar sentada, ou já estaria estabanada no chão de tão tremula que estão.
Meu coração erra uma batida quando o sorriso de Aspen aumenta,
iluminando a minha noite.
— Isso é... — As palavras fogem da minha cabeça. Tudo fica em
branco e a única coisa que consigo identificar é o sorriso de Aspen e sua voz
rouca.
— Sim, Mia. É reciproco.
Capítulo 16 – Aspen

Nunca pensei que algum dia eu chegaria a dizer os meus sentimentos


a uma mulher. E o melhor de tudo? Nunca imaginei que o sentimento era
reciproco.
Escutar a conversa de Mia e Chad não era a minha intenção.
Simplesmente aconteceu por um acaso do destino, que confesso eu, foi de
grande ajuda.
Agora eu não consigo tirar o gigantesco sorriso que teima em ficar
estampado em meu rosto.
Mia parece tão atônita quanto o dia que me viu com seu celular em
mãos e conversando com sua mãe.
A situação parece ser tão longínqua, mas aconteceu apenas há três
dias!
Minha bruxinha parece estar em choque. Seus olhos estão arregalados
e a boca aberta. Ela passa a mão pelo rosto milhares de vezes, respira fundo e
desvia seu olhar do meu. Suas bochechas estão mais vermelhas agora e eu
tento não rir dela.
Isso seria o fim de uma noite que tinha tudo para ser perfeita.
— Acho que você está sofrendo de algum mal, Aspen. Sei lá. Deve
ter batido muito forte com a cabeça no gelo... não está falando coisa com
coisa.
— É o que você acha, Mia? — pergunto segurando a risada.
— Claro que sim, Aspen! — ela diz balançando os braços para o alto.
— Como você poderia estar apaixonado por mim, sendo que eu só sei te
machucar fisicamente e... caralho! Você jamais olharia pra mim!
Começo a gargalhar alto, sem me importar se alguém vai acordar ou
não. Se é madrugada ou se está amanhecendo. Que se dane!
Mia faz sons baixinhos e resmunga para que eu cale a minha boca.
Seguro a vontade de retrucar o famoso “Vem calar” porque eu sei que a
maluquinha iria jogar o prato de biscoitos na minha cara.
— Você não se vê claramente, Mia — Respiro fundo e tento manter a
voz baixa e suave. A questão agora é convencê-la de que não foi à viagem
que fez eu me apaixonar por ela. Eu já estava em suas mãos há muito tempo.
— Eu nunca brinquei quando disse aquelas coisa a você. Sempre a desejei,
desde o momento em que chamei o seu nome para a entrevista. E todas as
palavras que disse até agora, até mesmo para a sua família, foi e são
verdadeiras. Eu quero você, Mia. Não como as outras que já passaram pela a
minha vida. — Aproximo meu corpo do seu, e me encaixo no meio de suas
pernas. Seguro seu rosto delicado em minhas mãos, fazendo-a olhar em meus
olhos. — Não pense que tudo aconteceu só agora, porque esses sentimentos
já estão aqui há muito tempo. Só que fomos idiotas demais para perceber
tudo, e só notamos agora.
— Então você está dizendo que somos apaixonados um pelo outro há
muito tempo? — pergunta ela.
Sorrio.
— Bem na mosca, hein, bruxinha? — falo fazendo Mia corar.
— Não! Aspen isso é...
— Possível. Muito possível, Mia.
Mia me encara sem dizer nada. Sua expressão incrédula é hilária e até
posso ver as engrenagens do seu cérebro trabalhando. Ela pisca três vezes,
abre a boca seguidas vezes, provavelmente buscando palavras para me
contradizer.
Mas no fundo Mia deveria saber que nossa relação de ódio, na
verdade era enrustido de amor. Apenas precisávamos dar um tempo no
trabalho e ficar a sós um com o outro para descobrir isso.
Às vezes não percebemos o que está bem embaixo do nosso nariz. No
meu caso, nunca percebi que o sentimento que eu tinha por Mia na verdade
era amor, e continuei me enganando por muito tempo.
Pergunto a mim mesmo em como seriam as coisas entre nós se
tivéssemos feito isso antes. Será que estaríamos juntos? Provavelmente nem
fingindo um noivado, e sim casados.
Sem que eu perceba, meus pensamentos me levam a uma visão de
Mia vestida de branco, com os cabelos presos em um coque alto e tão linda
como é, nem maquiagem iria precisar. Imagino-me nervoso em um altar, a
observando entrar sob a macha nupcial enquanto é guiada por Paul.
Apenas o sorriso de Mia em um momento como aquele seria o
suficiente para que eu me desmontasse inteiro e esquecesse os meus votos.
Pois a única coisa que me faz perder a concentração em tudo na minha vida,
essa coisa é seu sorriso.
— E agora? — ela diz, tirando-me dos meus devaneios.
Estraga prazeres!
— E agora o que, bruxinha? — indago, curioso pela súbita mudança
de assunto.
— E agora, Aspen? Como as coisas irão ficar entre nós? — Ela exige.
Franzo o cenho, confuso. Será que não dei sinais o suficiente? Não.
Mia é diferente, por incrível que pareça, ela prefere palavras a sinais.
E se é palavras que ela quer, palavras terá.
— Mia, sinceramente, eu não sei como funciona um relacionamento.
Nunca estive em um para saber como é, mas eu tenho a certeza que não quero
você por apenas uma noite, quero você por quantas noites você aceitar ser
minha. Eu só preciso da sua promessa de que será paciente comigo, pois tudo
isso ainda é muito novo pra mim. E sobre relacionamentos, acho que
deveríamos começar pelo começo, como namorados e...
— Shhh... Aspen! — ela exclama colocando um dedo sobre a minha
boca, calando-me. — Não foi isso o que eu quis dizer. Por Deus! Não
continue com as suas palavras ou terá que aguentar as minhas lágrimas de
emoção pela sua declaração. E sim, eu também quero passar milhares de
noites ao seu lado e dormir de conchinha com você. Isso se tornou um vicio
para mim — ela diz me fazendo sorrir safado. — Mas não foi sobre o
relacionamento que eu quis dizer. Eu me refiro a nossa relação profissional.
Sua voz diminui para um sussurro. Ela me encara em expectativa,
enquanto meu cérebro processa as informações.
— Demiti-la está fora de cogitação — Penso em voz alta. — Eu não
saberia nem atender a um telefone sem você, Mia. E outra, eu sou o chefe,
posso quebrar as minhas próprias regras.
Empertigo-me tentando demonstrar que sou o chefe fodão e que nada
me intimida.
Só que Mia não precisa saber que sem ela, a minha empresa vai ficar
no buraco porque eu não vou saber nem o nome do rapaz do RH.
— Que tipo de chefe quebra a própria regra e dá mau exemplo aos
outros funcionários?
— O tipo de chefe que está nem ai para a opinião dos outros e quer
apenas ter duas coisas na vida: a namorada e a assistente na mesma pessoa.
— digo e Mia arfa.
Sorrio sacana e Mia balança a cabeça em negativa. Não sei o que se
passa na sua cabeça neste momento, mas rezo para que não seja a
possibilidade de ela me abandonar.
Não sei se nesta altura do campeonato eu poderei me afastar de Mia.
— Já te disseram que não se pode ter tudo na vida? Principalmente
duas coisas? É um ou outro.
Faço uma careta para as suas palavras.
Quem disse isso está completamente errado. Se estiver ao meu
alcance, eu farei. E isso inclui ter Mia na minha cama e na empresa.
— Minha mãe deve ter me dito algo assim quando eu era mais novo.
Mas nunca dei muita bola para ela. Estava mais interessado em sair com
meus amigos e ir a festas.
— Aspen! — ela ri. — Você é inacreditável!
— Eu sei, bruxinha. Eu sou um show de homem. Mas será que
podemos esquecer isso por hora e voltar lá para cima. Quero você na cama —
falo balançando as sobrancelhas para cima.
Mia ri e balança a cabeça em negativa.
— Eu não vou para a cama com você, chefinho. — ela contrapôs.
Por essa eu já imaginava.
— Eu disse que a quero na cama, não disse sem roupa. Até porque,
está frio demais para tirar a roupa. Não sei como os seus pais fizeram você e
Chad!
É a vez de Mia gargalhar. Ela joga a cabeça para trás, rindo sem se
dar conta do quanto é linda e hipnotizadora. Assisto maravilhada a cena,
completamente envolvido por seu riso leve e animado. E o melhor de tudo é
saber que eu sou o motivo dele.
— Aspen, você não existe! — exclama entre risos.
Sorrio também.
Aproveito-me de sua distração e a pego em meus braços. Mia para de
rir quase que de imediato, soltando um gritinho surpreso enquanto eu a
carrego em direção as escadas.
Subo os degraus com cuidado, não por Mia ser pesada, porque isso
ela não é, mas pelo fato de eu estar nervoso com ela em meus braços em uma
escada da qual podemos cair e sair rolando para trás.
Ao chegar ao andar de cima, desço Mia dos meus braços e puxo seu
rosto na minha direção. Beijo sua boca com vontade, tomando tudo o que
tenho por direito. Não me importo em ser pego no flagra, apenas quero beijar
a minha bruxinha e demonstrar todo o amor que descobri sentir por ela.
Porque não bastam apenas palavras, tem que ter demonstração também.
Pelo menos é isso o que minha mãe me dizia.
— O dia em que nos casarmos, vou comprar um carrinho de mão e
carrega-la. Tá doido que vou ter problema na coluna por subir uma escada
com você em meus braços vestida de noiva — falo e acabo ganhando um
tapa no braço.
— Aspen! Seu... Seu... Seu cretino! — ela diz, virando-se de costas e
marchando em direção do quarto.
Meu sorriso cresce ainda mais ao ouvi-la resmungar do corredor.
Quem diria que eu, Aspen Russell, estaria completamente apaixonado
na minha assistente?
Capítulo 17 – Mia

— Eu não quero levantar! — digo a Aspen, enquanto seus braços


me envolvem em um abraço protetor.
— Nós temos o querer, mas não o poder — ele diz e logo sinto seu
corpo balançar com sua risada.
Estamos deitados na minha cama, após acordar depois de ter passado
boa parte da noite conversando. Aspen me fez rir como nunca antes, e não
tocamos no assunto iniciado lá na cozinha. Deixamos tudo de lado e nos
concentramos no agora.
Por hora, ainda tínhamos mais uma semana juntos.
— Eu queria ter o poder, mas sei que se não descermos para o café,
minha mãe vai invadir o quarto e gritar conosco.
— Você acha que ela faria isso? — pergunta inocentemente.
Viro o meu rosto para encará-lo. Apoiando o queixo em seu peito.
Aspen se acomoda na cama, me olhando atentamente.
Sorrio e ele também.
— Ela não faria, Aspen. Ela faz. E aposto que deve estar neste exato
momento subindo as escadas com uma vassoura na mão para nos tocar da
cama.
Aspen me encara duvidosamente, e eu o encaro de volta. Ficamos em
silencio, atentos aos sons do lado de fora. Até então nada nos chama atenção,
até que passos ligeiros se aproximam no corredor.
Pulamos da cama em sincronia, correndo de um lado para o outro
procurando roupas limpas e os nécessaires com nossos produtos de higiene
pessoal. Por ironia do destino, encontramos ao mesmo tempo o que
procurávamos.
Encaro Aspen e a porta do banheiro aberta. Ele faz o mesmo. Ficamos
olhando um para o outro, em desafio. Nenhum de nós da o primeiro passo.
— Primeiro as dama — digo e dou um passo na direção do banheiro.
— Primeiro é as visitas, Mia! — ele esbraveja.
Corremos em direção ao banheiro, em uma competição boba de quem
chega primeiro. Mas para o meu azar, tropeço em uma das minhas bolsas e
caio de cara no chão.
Ouço a risada de Aspen ecoar pelo quarto e logo em seguida a porta
do banheiro fechando e a trava da fechadura sendo ativada.
— Filho da mãe! — grito do chão, mas ninguém me escuta.
Que ótima maneira de começar o dia.

Após esperar a boa vontade de Aspen liberar o banheiro, finalmente


consegui fazer a minha higiene matinal e trocar o pijama da noite por algo
mais confortável.
Descemos as escadas de mãos dadas, e eu me sentia tensa. E se todos
já estivessem acordados e na mesa? Com certeza após a noite de ontem,
minha família deve ter várias suposições sobre o meu sumiço e o de Aspen.
Isso que era passar vergonha no crédito e no débito.
— Relaxa, bruxinha — Aspen diz apertando de leve a minha mão. —
A única cobra que vai te atacar de agora em diante é a minha.
Puta merda! Aspen Russell sabe como estragar o clima!
Sinto meu rosto queimar e sei que estou corando, mas de vergonha
por saber que ele é capaz de dizer isso em voz alta para a minha família.
Por que diabos eu não contratei alguém desconhecido mesmo?
— Para de ser idiota, seu cretino!
Aspen ri, e me puxa para os seus braços, nos guiando em direção a
cozinha.
A casa está parcialmente silenciosa, exceto pelas vozes estridentes
que vem da cozinha.
Levanto o meu olhar para Aspen, e acabo me deparando com seus
olhos escuros. Ele sorri travesso e dá de ombros, continuando o caminho até a
cozinha.
Ao passar pela porta, me deparo com a cena que me faz rir até doer à
barriga.
— Não posso acreditar que você comeu todos, Chad. Todos! —
minha mãe esbraveja dando pulinhos e puxando a orelha do meu irmão.
— Ai! Mãe! Você tá me machucando! — Chad exclama exasperado.
— Machucando? Você come todos os biscoitos que sua tia passou o
dia fazendo, e vem dizer que estou te machucando! Quantos anos você tem,
Chad? Pensei ter criado um homem e não um menino com a síndrome do
Peter Pan!
— Puta merda! — Chad grita quando mamãe lhe da um tapa na
cabeça. — Mãe, são apenas biscoitos! Se o problema é esse eu vou agora
mesmo na melhor confeitaria comprar mais!
Oh, merda! Escolha de palavras erradas, Chad.
— Não se compra biscoitos de natal para o natal, Chad! — interfiro
antes que minha mãe arranque a cabeça do meu irmão. — Sabe, essa não é a
tradição. Sabe como a mamãe é — digo e ganho um sorriso da minha mãe.
Chad faz uma careta horrenda e eu começo a rir. Aspen me
acompanha e mamãe mantém a cara fechada.
Desta vez Chad não teve tempo de inventar uma desculpa.
— Poxa, Mia. Pensei que você fosse me defender, afinal de contas, eu
te dei uma mãozinha — Meu irmão diz. Paro de rir no mesmo instante e lhe
dou um olhar mortal.
Filho da mãe!
Irmão mais velho só serve para dedurar o mais novo. Incrível isso!
— Na verdade, Chad, nós vamos ajudar você — Aspen resmunga
atrás de mim. Ele encara a minha mãe e aposto que está presenteando-a com
seu sorriso magnifico. — Elena, o que acha de Chad e eu fazer os biscoitos
novamente? Assim ninguém precisa dispor mais tempo para refazer o que foi
comido.
Aspen diz aquilo com tanta naturalidade, que quase acredito que ele é
capaz de assar um pernil sem por fogo na casa.
Olho para cima e o encaro duvidosamente, ele me encara de volta e
sorri convincente.
Minha mãe exclama algo e bate palminhas, depois sai apressada em
direção à dispensa para buscar os ingredientes.
— Eu pensei que vocês fossem me ajudar, e não me colocar para
trabalhar. Eu nem se quer sei fazer o leite da minha filha!
Meu irmão faz cara de desagrado, e eu só consigo imaginar a cena de
dois homens daquele tamanho decorando biscoitos para o natal.
— Cara, deixa de ser careta e comece a aprender algo para ajudar a
sua mulher — Aspen diz atrás de mim.
Sorrio com a sua provocação.
Chad não tem tempo de responder, pois mamãe surge na cozinha
segurando os ingredientes necessários para preparar os biscoitos. Ela lança
um olhar furioso ao meu irmão, e então se volta para mim e Aspen com um
sorriso capaz de ofuscar o sol.
— Vamos lá, queridos. Mãos a massa!
Não precisa mais do que essa intimação para Aspen me soltar e
arregaçar as mangas da sua blusa xadrez de flanela, que confesso eu, cai
muito bem nele.
— Você tem certeza, Aspen? Não quero ter que correr para chamar os
bombeiros em um possível incêndio — Meu tom é preocupado e Aspen
apenas ri enquanto pega uma tigela funda e começa a abrir os sacos de
farinha.
— Relaxa, Mia. Eu sei cozinhar. Agora você vai ver como sou
prendado — ele diz piscando um olho para mim.

E não é que o safado sabia mesmo o que estava fazendo? Assisti


impressionada Aspen preparar os biscoitos e rir do modo desajeitado do meu
irmão. Minha mãe ora ou outra dava uma volta e elogiava o meu falso noivo,
o que o fazia abrir um sorriso de orelha a orelha e inflar o peito.
Com certeza Aspen irá terminar essa viagem com o ego lá nas alturas.
Enquanto minha mãe preparava a cobertura para decorar os biscoitos,
Aspen puxou uma banqueta ao meu lado e roubou a minha rabanada. Olhei
feio para ele que sorriu e beijou-me rápido nos lábios.
— Onde você aprendeu a fazer biscoitos dessa forma? — questiono-o
curiosa.
Nunca vi um homem fazer biscoitos de natal igual à Aspen.
— Minha mãe — responde ele. — Ela arrastava a mim e Donna,
minha irmã, para a cozinha todas as vésperas de natal. Donna e eu ficávamos
responsáveis pelos biscoitos e ela... bem, por quase todo o resto.
Sorrio ao tentar imaginar um Aspen pequenino preparando biscoitos
para o natal.
— É muito fofo, da sua parte — digo e seu sorriso cresce.
— Eu tenho muitas coisas fofas que você ainda não viu, bruxinha —
diz o convencido.
— E porque você não passou o natal com sua família este ano,
querido? — É a minha mãe quem pergunta.
Olho de soslaio para Aspen e o vejo se remexer na cadeira. Ele parece
tenso e incomodado. Mas esse é um assunto do qual eu não posso ajuda-lo.
— Problemas com alguns familiares — ele responde e olha para mim.
Sorrio encorajadora e balanço a cabeça. Eu o entendo. — E eu e Mia
planejamos essa viagem há vários meses. Acho que já estava na hora de
oficializar tudo.
Aspen e sua habilidade de mudar de assunto na hora certa.
— Oh, querido. Sinto muito.
— Tudo bem, Elena. Nós todos temos problemas com a família — ele
diz e mamãe assente.
— Sim, com certeza. Mas você enviou algum cartão de natal para a
sua mãe? Ou pelo menos uma mensagem? Eu imagino o quanto ela deve
estar triste sem você por perto. Eu pelo menos sentia falta da minha Mia.
— Ai, merda! — Aspen exclama batendo as mãos nos bolsos. —
Mensagens... puta que pariu! Mia você viu o meu celular? — Pergunta em
um tom desesperado.
— Acho que deve estar em algum canto do quarto. Você o deixou
cair, lembra?
— Droga! — Ele passa as mãos pelos cabelos, em um gesto nervoso.
— Eu vou procura-lo. Já volto.
Antes de subir Aspen beija a minha testa e sai apressado pela porta.
Encaro a minha mãe que me encara de volta, e antes que percebemos,
estamos rindo sozinhas.
— Acho que a neve está congelando os poucos neurônios que Aspen
tem — digo para a minha mãe e irmão.
— Ou ele está com medo de apanhar quando vocês voltarem — Chad
diz, virando a tela do seu celular para mim.
Encaro a tela do seu celular boquiaberta. Meu corpo gela por
completo e sinto um misto de raiva e exasperação.
Na tela, a foto que Aspen tirou de nós dois ontem pela manhã está
escancarada no facebook do meu chefe. A legenda são apenas emojis
enigmáticos. Mas não é por isso que estou entrando em desespero, mas sim o
fato da foto ter mais de cem mil curtidas e comentários, e milhares de
compartilhamento.
À uma hora dessas, toda a população de Los Angeles deve estar
sabendo que o queridinho Aspen Russell está em um relacionamento com sua
assistente.
Ok, vida. Você tem como piorar!
Capítulo 18 – Aspen

Toda ação tem uma reação.


Eu tinha plena consciência de que ao postar aquela foto com Mia,
minha família iria ver. A intenção era declarar que sou um homem de apenas
uma mulher e mostrar que Mia era minha de agora em diante.
Só que eu deveria ter usado o meu lado racional e ter conversado com
a minha mãe sobre a minha assistente.
Quando encontrei o meu celular, vi diversas chamadas e mensagens
não respondidas da minha mãe e de Donna. Todos deveriam estar furiosos
comigo, entendo perfeitamente motivo, eu só não conseguia imaginar que as
várias ligações não eram apenas para me xingar, e sim, comunicar um
acidente.
— Você precisa voltar para casa imediatamente! — minha mãe
berrou ao telefone. — Sua irmã bateu o carro enquanto tentava entender o
que diabos é aquela foto. Afinal, deserdado, o que diabos é aquela foto?
— Mãe, não posso explicar por telefone o que exatamente está
acontecendo. Por favor, me diga como está Donna? — pergunto andando de
um lado para o outro, preocupado com a minha irmã.
Merda! Eu deveria ter contado sobre Mia a eles!
— Está bem. Não foi nada grave, apenas bateu com a garagem de
casa. A levamos para o hospital e o medico a liberou rapidamente. —
Informa. Suspiro aliviado. Bom, pelo menos nada de ruim aconteceu. — Mas
o que me interessa de verdade, Aspen Russell, é: quem é a garota?
Respiro fundo. Merda! Desta vez não tenho escapatória.
Olho para os lados, checando se ninguém está me bisbilhotando, e
então tomo coragem para expor os benditos sentimentos que tenho por Mia
para alguém vulgo minha mãe.
— Ela é a Mia, mãe. A minha assistente — digo e aguardo pelo grito
que virá.
No entanto, a linha fica muda, um silencio mortal faz do outro lado e
eu preciso ver se a ligação ainda está acontecendo. Olho para a tela do meu
celular e vejo o cronometro contar os minutos. Franzo o cenho e tento:
— Mãe? — chamo, mas a linha continua muda.
Penso em desligar, mas assim que tiro o telefone do ouvido, escuto o
grito que me faz tremer dos pés a cabeça.
— Puta que pariu. Aspen! Será que você não consegue guardar a
merda do seu pau dentro das calças? Que inferno, garoto! Onde foi parar a
sua politica correta de não dormir com funcionário? Aspen Russell, se você
estiver iludindo essa garota, eu juro pela minha mãe viva que eu mato você e
te dou de comida para as piranhas, está me ouvindo? Eu não quero saber de
desculpas esfarrapadas, quero a verdade!
É senhoras e senhores, essa é minha mãe.
— Primeiro, mãe, eu não estou iludindo-a. Mia é minha noiva e
pretendemos nos casar em breve — solto sem pensar, e ouço um segundo
grito ecoar pela linha, desta vez de Donna. — Segundo, Mia e eu demoramos
três anos para finalmente assumir o nosso relacionamento. E nós não
dormimos juntos... ainda.
Ouço minha mãe arfar do outro lado da linha, e então, ela está
gritando comigo:
— Está me dizendo que a pobre moça é corna, Aspen? O que você
tem na cabeça? Não, pelo amor de Deus! Não me diga que foi com a nojenta
da Devon. Aspen, se você traiu a Mia com a Tiffany, eu vou até ai e te mato,
está me ouvindo?
— Mãe, pelo amor! Não seja absurda! — digo, mas não consigo
segurar a risada e provavelmente ela deve estar fazendo um documento, me
deserdando literalmente! — Eu não tenho qualquer contato com a Devon há
muito tempo, na verdade, ela apareceu na empresa várias vezes querendo
algo, intimidou Mia e tentou espalhar que estávamos noivos, mas na verdade
meu compromisso sempre foi e sempre será com a Mia.
— Oh, meu Deus, Aspen — ela diz com a voz embargada. — Você
está apaixonado! — Minha mãe exclama do outro lado da linha, e a ouço
espalhar a noticia para os nossos familiares. Quando volta a falar comigo,
tenho certeza de que ela está se debulhando em lágrimas: — Aspen, querido,
você a ama?
Respiro fundo e passo a mão sobre meu cabelo, completamente
desconcertado por sua pergunta. Não que eu não saiba os meus sentimentos
em relação à Mia, mas sim por ter a certeza de que ela é a mulher que quero
para o resto da minha vida.
Logo, essa é a pergunta de um milhão de dólares.
— Mãe — digo, tomando coragem. — Eu não sei exatamente o que
vai acontecer de agora em diante, confesso que estou com medo, pois nunca
senti o que sinto por mulher alguma. Mas sim, eu a amo. E não vejo ninguém
além dela ao meu lado.
Sorrio por minhas palavras parecerem tão sinceras, e em como saíram
tão fáceis. Quero ver o dia que eu dizer isso para Mia, olhando-a nos olhos.
Provavelmente vou gaguejar igual a um idiota.
— Ah, Aspen...
Minha mãe começa a dizer coisas que jamais a ouvi dizer antes. Ela e
Don comemoram através do celular e passamos bons minutos falando de
Mia, e com a minha irmã dizendo ao longe que já a viu, e que é uma mulher
maravilhosa.
Sim, minha bruxinha é uma mulher espetacular.
Antes de desligar, mando um beijo para a minha mãe e digo que a
amo. Para a minha alegria, ela parou de me chamar de deserdado e outros
pronomes que prefiro nem comentar!
Ao me virar, me deparo com uma Mia preocupada de braços cruzados
e Elena logo atrás.
F-O-D-E-U!
— Era a minha mãe — Procuro me explicar rapidamente. — Ela
estava desesperada me ligando. Donna sofreu um acidente e ela queria...
— Oh, Deus, querido! Ela está bem?
É Elena quem pergunta.
— Sim, está. Sofreu alguns arranhões, uma luxação no pé. Mas
segundo a minha mãe está bem.
— Oh, graças aos céus que nada de ruim aconteceu! — ela diz
juntando as mãos e olhando para o céu.
Sorrio da cena.
Olho para Mia que me encara seriamente, ela não parece acreditar em
mim. Aproximo-me dela, segurando os seus braços e flexionando os joelhos
para olhar dentro dos seus olhos.
— O que foi, bruxinha? — pergunto. Meu tom é apreensivo e sou eu
quem está ficando preocupado agora.
Ela franze o cenho e morde a boca. Meus olhos desviam para os seus
lábios e salivo para sugar aqueles lábios carnudos.
Mia percebe o que estou encarando, e libera os lábios. Aproveito-me
disso e desço a minha boca até a sua, beijando-a lentamente. Seus braços
abandonam a sua posição durona e envolvem o meu pescoço, puxando-me na
sua direção.
Mordo o seu lábio com força, sugando em seguida e voltando a beijá-
la com vontade.
Deus, porque fez algo tão bom quanto esses lábios?
Esqueço completamente do mundo quando estou beijando Mia. Sua
boca é macia e pequena, ela tem gosto de chocolate e canela, tão deliciosa
quanto à combinação. Acabo de definir chocolate e canela como a terceira
coisa favorita no mundo. A primeira é dormir com Mia, e a segunda é beijá-
la.
Beijo-a até que o ar nos falte, e quando preciso me afastar, distribuo
beijinhos por todo o seu rosto. Envolvo seu pequeno corpo com os meus
braços e afundo meu rosto nos seus cabelos.
Mia respira fundo, seu corpo treme contra o meu e ela traça uma linha
imaginária com a boca na minha mandíbula. Sorrio quando a ouço suspirar.
— Aspen, acho que você deveria voltar para casa — diz ela, pegando-
me de surpresa.
Afasto-me de supetão, sentindo todo o meu corpo congelar diante das
suas palavras. Ela disse mesmo aquilo?
O choque é rapidamente preenchido pela raiva e frustração. Respiro
fundo várias vezes, tentando processar o que ela disse e o que ainda não
disse. Faço menção de dizer algo, mas ela me cala com um selinho.
Isso é o suficiente para me desarmar.
— Calma ai, querido. Você não está entendendo o que quero dizer —
ela fala, calmamente. — O que eu quis dizer, Aspen, que você deveria voltar
para ver a sua irmã. Eu voltaria se fosse com Chad.
— Mia eu não vou te deixar sozinha aqui — resmungo. — Minha
mãe garantiu que ela está bem. Não há motivos para isso.
A possibilidade de deixa-la aqui, sozinha a mercê do ex-pau no rabo e
a cobra está fora de cogitação.
Para o meu desespero total, Mia sorri e vem até mim, envolvendo
seus braços magros em meu pescoço.
— Se for da sua vontade, eu posso ir com você — fala e eu vejo as
estrelas. — Capaz mesmo de eu deixar o meu noivinho perto da Tiffany. Não
estou rasgando dinheiro ainda!
Sorrio da sua confissão. Mia com ciúmes. Quem diria?
Mas o meu sorriso morre quase de imediato.
Por mais que eu queira leva-la comigo, não posso tirar de Mia o
direito de ficar com a sua família no natal. Ela não vem para cá há dois anos,
leva-la embora fosse muita covardia da minha parte!
E há outro ponto também. Eu preciso conversar seriamente com a
minha família em relação à Mia. Se eu a quero como minha namorada,
preciso fazer as coisas certas. E isso inclui conversar com meus pais sobre.
— Mia, não posso tirá-la daqui. Sua família está feliz por te ter de
volta. Não quero atrapalhar os seus planos.
— Você não atrapalha. Acredite — ela diz.
— Não. Não posso fazer isso com você.
— Pode sim — Elena intervém. — Mia, pode ir com ele. Mamãe está
te liberando pelo resto da semana — ela diz me fazendo rir.
Mia me lança um olhar de “viu só?” E olha de volta para a mãe
agradecida.
Ela só não sabe que eu me sinto mal em pensar em deixa-la aqui, mas
fico ainda pior em imaginar a tristeza de sua mãe e pai por eu leva-la de
volta.
É esse o pensamento que me faz puxar Mia para um canto e dizer o
que preciso. É apenas uma semana, por Deus! Eu posso sobreviver.
— Eu não quero ir — digo sem rodeios. — Mas você tem razão, é a
minha irmã. E mesmo a minha mãe confirmando que ela está bem, não
consigo imagina-la sem ser em uma cama de hospital.
— Aspen, fique tranquilo. Eu posso trocar as passagens para hoje à
noite, voltamos e amanhã mesmo você pode checar a sua irmã.
Mia parece animada em poder fazer algo útil. Ela sempre foi muito
prestativa, e agora não seria diferente. Contudo, não é isso o que me
preocupa.
— Mia, você confia em mim? — pergunto. Mia pisca e dá alguns
passos para traz, surpresa pela minha pergunta.
— Sim, Aspen. Confio — ela responde sem rodeios.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Eu quis dizer como um namorado, Mia. Você.confia.em.mim? —
questiono pausadamente.
Mia arregala os olhos surpresa, sua boca vai parar literalmente no
chão e sinto uma pontada no peito.
Essa não era uma pergunta pela qual ela esperava!
— Aspen, você...
Respiro fundo e passo a mão pelo cabelo.
Chega de meios termos. Chega de falso noivado ou o caralho a
quatro. Mia já sabe como me sinto, não totalmente, mas o suficiente para ser
minha. E se ela aceitar e confirmar que confia em mim, ótimo. Eu posso voar
para casa sozinho.
— Você confia? Porque eu confio em você como minha namorada.
Mas eu realmente preciso saber a sua resposta, porque não vou conseguir sair
do seu lado até fazê-la acreditar em mim.
Se possível, seus olhos arregalam ainda mais. Mia arfa e dá um passo
a frente, voltando para os meus braços.
— Confiança não se constrói do dia para a noite, Aspen — ela diz.
Puta que pariu! Que soco no estomago. — Mas a nossa levou apenas alguns
dias, e eu realmente confio em você, porque posso olhar em seus olhos e
saber que o que sinto é correspondido. Não tenho duvidas disso.
— Que bom. Porque eu não consigo me imaginar com uma mulher
que não seja você.
E então a beijo, matando a saudade que sei que já vou sentir dela, do
seu cheiro, do seu corpo. De Mia por completo.
Porque agora eu sei que ela é Minha.
— Você vai me esperar? — pergunto quebrando o beijo.
Sinto o seu sorriso contra os meus lábios.
— Só se você me esperar também — contrapõe.
Sorrio e deixo um beijo casto em seus lábios.
— Eu vou, Mia. Até o meu ultimo dia de vida. Eu vou sempre esperar
por você.
Capítulo 19 - Mia

Nunca em três anos pensei que iria sentir tanta a falta do meu chefe.
Eu queria ir com Aspen, na verdade, durante todo o momento em que
o assisti arrumar as suas malas enquanto eu tentava mudar o dia da sua
passagem, eu insisti para acompanha-lo.
Só que ele conseguiu me fazer mudar de ideia em questão de
segundos. A palavra sogra e família foram o suficiente para mim.
Foi fácil vê-lo se despedir da minha família e prometendo voltar para
o próximo natal, ou até mesmo para as férias de verão. Meu pai confirmou
mais uma reunião com ele para depois das festas de fim de ano, e eu marquei
mentalmente o recado.
Depois era só passar para a agenda de Aspen e ele estaria ciente da
visita do meu pai.
A parte engraçada da sua despedida foi ver Aspen tirar uma com a
cara de Pietro, e fazer uma cara de nojo para Jade, que fez uma expressão
chocada e gritou com a minha mãe.
Nós dois saímos de lá correndo antes que ela começasse a fazer
barraco.
Então a parte difícil chegou.
A despedida foi estranha e difícil. Aspen não queria me soltar, e nem
eu a ele. Abraçamo-nos como um casal apaixonado enquanto a voz entediada
chamava pelo seu voo.
Aspen reforçou as suas palavras de hoje mais cedo, e informou que eu
estava de férias. Pelo menos até o dia dois do mês que vem.
E então ele se foi, arrastando a sua mala e hora ou outra virando para
trás.
Ao chegar a casa, fui recebida por Chad e Anne, que brincavam com a
minha sobrinha pequena na sala. Meu irmão deve ter notado a minha cara
vermelha de choro, pois não perdeu a oportunidade de me zoar.
— Você está parecendo a rena de nariz vermelho do papai noel! —
diz ele.
Sem animo algum, me sento ao seu lado e mostro o dedo do meio.
Não iria responder aquilo. Pelo menos não agora, quem sabe amanhã.
— Não fica assim, Mia. Logo vocês estão juntos novamente — Anne
diz docemente.
Pelo menos alguém nessa casa é capaz de dizer algumas palavras de
conforto para a minha pessoa!
— Obrigada, Anne. Mas vocês terão que me aturar até o dia um —
informo e meu irmão faz um som de desagrado.
— Ah, não! Puta merda! Aspen não fez isso conosco!
Chad começa a gargalhar e é acompanhado por Anne.
É, eu pensei que tinha uma amiga.
— Parem de rir os dois! Talvez eu me demita até lá! — falo sem
pensar, mas então volto atrás.
Aspen não iria me demitir, ele jamais faria isso. E eu não quero
chegar à empresa após o ano novo e receber os olhares curiosos e de repudio
dos meus colegas.
Então, a melhor solução era me demitir, e assim, eu e Aspen
poderíamos ficar juntos sem que ninguém ficasse espalhando fofocas.
Essa era a melhor ideia que já tive!
— O que você está aprontando, Mia? — Chad pergunta, tirando-me
dos meus devaneios sobre o futuro.
Encaro o meu irmão e sorrio. Ele sacou a minha e a de Aspen logo de
cara, e acredito que irá concordar com a minha linha de raciocínio.
— É sobre o meu trabalho — digo. — Acho que vou me demitir.
Fecho os meus olhos, já imaginando a chuva de palavrões e entre
outras coisas que irei ouvir.
Por um segundo, os dois ficam em silencio. Até que Chad resolve
abrir a boca.
— Por quê?
Oi?
— Porque o que?
— Porque você vai se demitir? Pensei que gostasse do seu emprego.
— Eu amo o meu emprego — Afirmo. — Mas a politica da empresa é
bem clara, e se Aspen não fizer, bem, alguém tem que ser o responsável e dar
o bom exemplo, não?
Chad balança a cabeça em negativa, provavelmente pensando que
fiquei louca. Mas não, eu não fiquei.
— Acho que você está se precipitando — diz ele. — Politicas de
empresas sempre mudam. Nada é irrefutável. E Mia, regras foram feitas para
serem quebradas.
Sorrio.
— Eu sei, maninho. Mas isso é apenas uma ideia, e tenho ainda
alguns dias para me decidir.
Respiro fundo e massageio o ponto acima dos meus olhos. Minha
cabeça está levemente dolorida, e provavelmente isso é culpa do chororo no
aeroporto.
Chad e Anne não dizem mais nada, ficamos os três em silencio,
apenas escutando os sonos de bebê que minha sobrinha faz.
Ora ou outra escuto passos apressados pela casa, mas ninguém desce.
Não depois da ceia de almoço que tivemos hoje, mais o frio que está fazendo,
metade da família deve estar dormindo à uma hora dessas.
Dormir. Isso era uma coisa boa, afinal de contas, meu sono foi
cortado várias vezes na noite passada.
— Acho que já vou ir nessa. O dia foi longo e a noite passada também
— falo me levantando. — Boa noite para vocês dois.
Jogo beijinhos para a pequena família e me viro em direção ao
corredor que dá para a escada. Apenas para dar de cara com a última pessoa
que eu gostaria de ver durante os meus dias em Fergus Falls: Jade.
— Oi prima — diz a cínica. — Aspen já foi? Pensei que os dois iriam
continuar com o teatro até o ano novo.
Gelo.
— O que você quer dizer com isso, Jade? — pergunto. Ela abre o seu
sorriso falso e dá um passo na minha direção.
Atrás de mim, sinto Chad se levantar e parar ao meu lado.
— Eu ouvi tudinho, Mia — ela praticamente grita. Provavelmente
querendo palco para o seu show. — Você não conheceu Aspen porque
trabalha para um amigo dele. Ele é o seu chefe! Eu o ouvi dizer ontem à noite
para você, e hoje, quando ele estava lá fora falando com a tal amante dele, eu
o ouvi confirmar tudo! Além de corna, é a assistente mal comida.
Meu mundo literalmente para.
O ar falta em meus pulmões e sinto as minhas pernas falharem. Ouço
Jade dizer os absurdos dela, mas não é o fato de ela dizer que Aspen estava
falando com a amante que me deixa sem chão, porque eu sei que não era.
O espanta o diabo para fora de mim são as suas palavras sobre a
minha verdadeira relação com o Aspen.
A vadia sabe de tudo!
— Jade, eu não vou admitir que você fale assim da minha irmã! —
Chad sai em minha defesa.
— Ou o que? Vai fazer o que para me impedir, Chadizinho? Você
sabe que sua irmãzinha perfeita está errada, e mesmo assim quer protege-la?
Corajoso, você.
Chad dá um passo à frente, quase me derrubando.
Saio do meu estado de torpor e seguro o braço do meu irmão com
força. Ele me encara furioso e sei que mais uma palavra de Jade, ele irá voar
no pescoço dela.
— Não — Meu tom é firme e rouco. Ele balança a cabeça e faz
biquinho. — Chad, não. O papai e a mamãe ficarão furiosos. E eu não voltei
para brigar. — falo e meu irmão parece recuar. Viro para encarar Jade, que
sorri malévola. — E você tem razão, eu sou a assistente. Mas não mal comida
como você pra sair infernizando a vida dos outros. Graças a Deus eu fui uma
menina boazinha e recebi um homem maravilhoso de natal. E você, Jade? O
que você fez de bom para as outras pessoas?
Jade engole em seco, por um segundo a vejo perder a postura, que
rapidamente ela recupera, jogando o cabelo para trás do ombro e me lançando
um olhar sínico.
— Eu sempre estou tentando ajuda-la, prima. E olha só como você me
retribui! Estou tentando te avisar que seu chefe não vale nada, e é assim que
me agradece?
Ela pisca os cílios falsos para mim, enfatizando o seu drama com a
mão sobre o peito e com uma cara triste. Mas quem a conhece, que a compre!
E eu sei que ela não quer nada além de me ver chorando como há dois natais
atrás.
Só que eu não sou mais a menininha que saiu de casa para se virar na
cidade grande.
— Eu te conheço, Jade. E sei o que está tentando fazer, mas não vai
funcionar. Não desta vez. — Me aproximo dela e a mesma se encolhe. — Eu
não sou mais a menina que você humilhou e roubou o namorado. Há uma
grande diferença entre mim e a pessoa que fui. Então não venha destilar o seu
veneno para cima de mim, não vai funcionar. Não mais.
Cansada, me viro para sair dali o quanto antes. Não vou dar palco
para as maluquices da minha prima. Já deu! São anos fugindo e sentindo que
eu não era absolutamente nada. Mas agora as coisas são diferentes, eu não
sou mais a Mia de antes. Sei que errei ao trazer Aspen para cá, mas no fim,
nós dois descobrimos que somos dois idiotas perfeitos um para o outro.
Eu confio nele, e por um milagre de Deus, ele também confia em
mim.
Continuo o meu caminho em direção as escadas. Até que a menção do
nome daquela mulher me paralisa.
É então que meu mundo desmorona.
— Tiffany Devons!
Viro-me lentamente para encarar Jade.
— O que você disse? — indago entre dentes.
Agora ela tem a minha completa e total atenção.
— Tiffany Devons, a mulher que seu noivinho te trai. — Ela ri. —
Tiffany a mulher que sempre está ao lado de Aspen. Em quase todos os
lugares. Tem certeza que é você mesmo que ele quer? Porque ao que tudo
indica, Mia, você é só o passatempo de Aspen. Quem te garante que ele não
está agora mesmo voltando para os braços da sua amada Tiffany enquanto
você está aqui, presa em Fergus Falls chorando?
Ouvir suas palavras é como levar um soco no estomago. Sinto-me
tonta e uma vertigem me ataca. Jade continua o seu ataque. Respiro e inspiro
fundo, tentando me manter calma. Mas a filha da mãe conseguiu! Ela de
alguma forma conseguiu me atingir.
— Chega, Jade! — Alguém grita mais alto que o protesto da maluca.
— Eu não quero ouvir mais nada vindo de você! E, Mia, vá para o seu quarto.
Eu já vou falar com você.
Identifico a voz como a da minha mãe. Olho na direção da sua voz e
encontro o seu olhar preocupado. Ela balança a cabeça para mim, indicando
as escadas, e antes que eu possa retrucar e dizer que não, Chad me arrasta
para longe dali.
Subimos os degraus pulando dois de cada vez, e ao entrar no meu
quarto digo ao meu irmão:
— A mamãe e o papai devem estar decepcionados comigo.
Meu tom é apenas um sussurro. Minha tristeza tomando proporções
estratosféricas.
— Não acredite nela, Mia. Não deixe que Jade transforme o seu natal
em uma droga — meu irmão diz me segurando pelos ombros.
— Chad, ela já entregou tudo. Eu deveria ter contado a verdade para a
mamãe, pelo menos teria me poupado dessa vergonha.
Abaixo a minha cabeça em sinal de vergonha.
— Não, Mia. Não pense assim! Se não fosse por isso, você e o
Russell não teriam descoberto os sentimentos que um tem pelo o outro.
— O que você quer dizer com isso, Chad?
Levanto o meu olhar para ele.
Meu irmão tem um sorriso convencido no rosto, nem parece que até a
poucos minutos ele estava preparado para a guerra.
— Não é obvio Mia? Se não fosse por sua mentira, você e Aspen não
teriam vindo para cá. Você talvez não tivesse enfrentado a Jade e descobrir
que é possível encontrar o amor mesmo depois de quebrar a cara.
Sorrio. É, ele tem razão. Mas...
— E se Jade estiver certa? E se ele foi atrás da Tiffany?
— Não acho que ela esteja — responde ele. — Aspen não queria ir e
te deixar sozinha. Ele me fez prometer que cuidaria de você até o dia do seu
retorno. — Chad revira os olhos ao se lembrar de algo. — Como se eu não
fosse proteger a minha irmãzinha!
Rimos e da cara de pau de Aspen. Só ele pra dizer uma coisa assim
para o meu irmão.
Chad respira e resmunga sobre ter que voltar lá para baixo e verificar
se todo mundo ainda está vivo e me beija na testa, antes de sair fechando a
porta atrás de si.
Sento-me na cama e espero pela a minha mãe. Ela provavelmente vai
me xingar até a minha última geração.

Não demora muito e uma batida suave ecoa através da porta.


Murmuro um entre e então a porta se abre completamente, revelando a minha
mãe.
Ela entra no quarto e fecha a porta atrás de si. Espero pela bronca que
virá logo em seguida. Mas para a minha total surpresa, dona Elena caminha
até a cama, se sentando de frente para mim. Ela respira fundo. Sua expressão
não é furiosa como imaginei, e nem encontro indícios de decepção em seu
olhar.
Então, tomo coragem para perguntar:
— Você está muito furiosa?
Mamãe sorri, para a minha total exasperação. Ela levanta uma mão e
coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Eu estivesse, se eu não já soubesse de tudo.
— O que? — Franzo o cenho.
— Mia, você pensou mesmo que iria me enganar? Eu fiz a pesquisa
completa sobre quem é Aspen Russell. Você pode até tentar enganar o seu
pai e todo o resto da família, mas não a mim.
Cacete!
Fico boquiaberta com sua declaração.
— Mãe! — exclamo chocada. — Você sabia o tempo todo? E nem ao
menos disse algo?
Minha mãe começa a rir, me deixando mais indignada.
Ela sabia! E nem foi capaz de dizer algo para me fazer voltar atrás!
— Sim, Mia. Agradeço a sua tentativa de agradar a sua família, mas
filha, se não for da sua vontade, não o faça. — ela diz em seu tom maternal.
— E querida, eu vi a forma que vocês dois se olhavam. Só tinha um caminho
para a relação de vocês, e fico feliz que tenham encontrado o amor.
Sorrio para ela.
— Eu ainda tenho duvidas, mamãe. Agora mesmo, eu estava em crise
por imaginar Aspen voltando para casa, para Tiffany e...
— Não, Mia. Não se martirize por isso. Eu vi como Aspen olha para
você. É um amor tão lindo e puro. Não duvide dos sentimentos do rapaz —
ela diz.
— Eu... eu o amo, mamãe — confesso.
Encaro-a e vejo seus olhos brilharem de alegria.
— Oh, minha filha! — Ela me puxa para um abraço. — Eu imaginei
que isso fosse o motivo para os dois viverem grudados. E acredite, Aspen
também sente a mesma coisa por você.
Sorrio e me deito em seu colo. Mamãe começa a fazer cafuné no meu
cabelo, e me sinto mais leve e calma.
— Eu vou me demitir — informo a ela.
— Por que, querida? — ela pergunta. Seu tom é suave e nem parece
que acabei de dizer que vou me demitir.
Eu esperava por rojões e pedidos de volte para casa, Mia! Mas parece
que nem tudo está acontecendo conforme o planejado.
— A politica da empresa proíbe relacionamento entre funcionários —
digo a ela. — E Aspen não quer me demitir, mas ele não pode ter tudo,
mamãe. Se ele me quer como namorada, não poderá me ter como sua
assistente. E vice e versa.
— Você tem razão, filha — concorda ela. — Faça isso e vamos
conversar com o seu pai. Ele tinha planos de expandir a empresa para Los
Angeles mesmo.
Olho para a minha mãe e sorrio. No fim das contas, não foi tão ruim
assim vir para casa no natal.
Talvez as coisas não tenham saído como o planejado. Eu sabia da
minha prima, ela já não era mais um problema. Tive um medo bobo e acabei
negando a mim mesma de passar os dois últimos natais ao lado da minha
família.
Mas agora, eu tinha muito mais do que quando sai de Los Angeles há
dois dias.
Eu me apaixonei pelo meu chefe, o que eu achei algo impossível. O
julguei sem conhecer e descobri um homem maravilhoso além do que ele
permitia se mostrar. Sorri mais do que em um ano e descobri coisas novas ao
meu respeito.
Talvez não tenha sido a viagem perfeita como imaginei. Eu avisei a
Aspen que iria dar merda, e deu, mas não como eu esperei. Pré-julguei as
ações dos outros, e não confiei.
Mas agora, me sinto pronta para começar um novo ano, diferente do
que imaginei, e se ainda der tempo, ao lado do homem que descobri amar a
muito tempo.
O meu chefe e noivo de aluguel; Aspen Russell.
Capítulo 20 – Aspen

A loucura deve ter uma séria relação com o amor.


Foram dias sem contato com Mia. Imaginei que uma semana fosse
tempo o suficiente para deixar alguém louco. Estou prestes a comprovar essa
hipótese.
Tudo o que recebi dela fora uma carta de demissão. A minha gerente
do RH me entrou logo pela manhã, quando cheguei à empresa, cansado sem
dormir mais uma noite, pensando e imaginando todos os tipos de coisas que
podem ter acontecido a minha bruxinha.
As teses variavam de lago congelado se rachar a ex-pau no rabo e
prima cobra venenosa.
Imaginar Mia sozinha com aquele Pietro rodando livremente pela sua
casa fazia meu sangue ferver. Tentei manter a minha palavra. Eu confio na
Mia, mas é no pau no rabo que não confio!
A coisa mais fácil dessa situação toda foi revelar a verdade para a
minha família. Minha mãe ficou nas alturas ao descobrir que seu filho
finalmente tinha sossegado, meu pai me parabenizou, dizendo que Mia era
uma mulher bonita e educada. Ele a conheceu quando foi fazer uma visita na
empresa, e Donna, não poderia estar mais feliz por me ver largar o status de
cretino desapegado e finalmente me apaixonar.
O melhor de tudo? Foi ver a cara de nojo da Tiffany ao ver o anel
exuberante que dei a Mia. Don fez questão de esfregar a foto na cara da
Devon, que empinou o nariz e saiu da sala.
Eu sabia que ela não iria ficar quieta por muito tempo, mas por hora,
me contentava em vê-la longe. Bem longe de mim e da Mia.
Ouço a campainha do elevador ecoar através do meu andar silencioso.
Dou um pulo da cadeira, ansioso para que seja Mia. Meu coração erra uma
batida e eu praticamente corro na direção em direção a minha porta fechada.
Assisto através dos vidros fume o exato momento em que as portas do
elevador de abrem. Paro de respirar e espero... Apenas para soltar todo o ar
em frustração.
O que vejo não me agrada nem um pouco. E pior, quando percebo que
ela vem na minha direção, sem saber ou não se estou ali, sinto o meu sangue
ferver e o resto de paciência se esvai quando Tiffany segura à maçaneta da
porta da minha sala e abre, abrindo um sorrindo vitorioso.
A porta se abre silenciosamente, Tiffany não olha para frente, na
verdade, ela parece estar checando se alguém está bisbilhotando-a.
Quando ela levanta seus olhos, seu corpo paralisa no lugar e seu
sorriso morre. De corada Tiffany passa para branca feito papel, e eu não
preciso de muitas informações para saber que a maluca estava aprontando.
— Aspen? — Pergunta surpresa. — O que faz aqui?
Alço uma sobrancelha de forma questionadora.
— É a minha empresa, Tiffany. O que você faz aqui?
— Eu? Ah... e-eu... — Ela gagueja, olha para todos os lados em busca
de algo invisível. — Eu pensei que você só voltaria a trabalhar depois do
almoço. — diz ela, abrindo um sorriso amarelo. — Pensei em...hm... fazer
uma visita. Algo que pudesse te alegrar.
Ela tem a cara de pau de me dizer isso?
— Pensei ter deixado claro para você aquele dia, Devon. Agora eu
sou homem de uma mulher só. Eu estou com Mia, aceita que dói menos. —
digo e sua expressão se transforma na hora.
Tiffany abandona a expressão surpresa e meiga e agora me olha com
raiva. Ela coloca as duas mãos na cintura e empertiga a coluna. Tiffany deve
pensar que isso me intimida. Engana-se ela!
— O que você viu naquela garota? Ela tem o cabelo seco, não usa
maquiagem e é completamente fora de moda. Diferente de mim, uma dama
elegante que sempre esteve ao seu dispor, Aspen.
— Você? Uma dama? — Rio ironicamente. — Você queria o meu
dinheiro, Tiffany. Sempre foi assim. Eu nunca te dei nada além de prazer por
uma noite e você se apaixonou. A culpa foi sua, não minha. Eu avisei a você
— começo a falar tudo o que guardei por quase três. — Diferente de você,
Mia não precisa de mim para ter dinheiro. Ela não é uma alpinista social. Na
verdade, ela é rica de família, e não se importa se está bem vestida para
agradar alguém. Minha Mia se veste para si mesma, e nunca se jogou para
cima de mim. Eu me apaixonei pelo o que Mia tem por dentro, ela me
mostrou o quanto superficiais pessoas como você pode ser.
Tiffany me lança um olhar mortal. Ela segura a bolsa com força e
morde o lábio. Seus olhos começam a lacrimejar e eu não sinto um pingo de
dó. Ela mesma que procurou essa situação ao invadir a minha sala sem ser
convidada.
— Eu não vou permitir que você fique com ela!
— Você não tem que permitir apenas suma da minha frente e deixe
Mia em paz.
— Ela não é boa para você, Aspen — exclama.
Sorrio.
Ela não deveria ter continuado com isso.
— E quem é boa para mim? Você? — indago.
— Sim — ela e vejo seus olhos brilharem excitados.
Ata!
— Engraçado, Tiffany. Porque se fosse boa o suficiente, estaria
usando um diamante em seu dedo, e não a Mia. — Abro o meu melhor
sorriso de “Vá para o inferno!” Mas Tiffany não recua. — Ela é a única
mulher que eu quero, Tiffany. Desista. Você já perdeu essa!
Tiffany abre a boca, chocada pelo modo como estou tratando-a. Não
me surpreenderia se ela e Jade fossem parentes. O veneno de cobra é
igualzinho!
Ela dá um passo à frente, e eu recuo um. O elevador apita e olho na
sua direção.
Um segundo de distração é o suficiente para Tiffany vir na minha
direção.
O elevador se abre no exato momento em que Tiffany envolve meu
pescoço com seus braços, viro a minha cabeça para o lado e então a vejo...
Parada diante a porta aberta da minha sala, está Mia.
Ela está mais linda do que me lembro, usando o vestido que lhe
confidenciei ser o meu favorito, saltos altos e cabelos soltos. Seu olhar cruza
com o meu e o que vejo me faz perder o chão.
Mia tem os olhos marejados. Sua expressão é decepcionada e isso me
arranca o coração. Assisto imponente enquanto uma lágrima rola livre por
sua bochecha e Mia se vira indo na direção da sua mesa.
Saio do meu estado de torpor e empurro de leve Tiffany, que protesta
por não conseguir alcançar o seu objetivo.
Corro na direção que Mia se foi. Paro no hall e não vejo ninguém, até
que o som dos seus saltos batendo contra o mármore chama a minha atenção.
Olho na direção do som e a vejo carregar duas caixas de papelão. Em
momento algum ela me olha, é como se eu nem estivesse ali.
Engulo em seco e tomo coragem de me aproximar. Provavelmente
sairei com alguma parte do meu corpo machucada, mas não posso arriscar
perder a minha bruxinha.
Não agora.
Não sem poder .
Eu preciso saber o que estava acontecendo. O motivo pelo qual ela
não atendeu as minhas ligações e nem respondeu às minhas mensagens.
— Mia — digo ao me aproximar dela. — Primeira coisa: não é nada
disso do que você está pensando!
— Todos dizem isso, Aspen. Muda o disco ou invente uma desculpa
melhor — ela retruca. Seu tom é frio e cortante.
Engulo em seco e não me deixo abater. Posso estar parecendo um
maricas, mas ninguém conhece Mia Sanders como eu.
— Tem razão. Uma desculpa melhor é o que eu daria a quatro
semanas atrás, Mia. Mas não somos os mesmos de quatro semanas atrás.
Tudo mudou. Você não vê isso também?
Mia continua sem me olhar. Ela joga algo dentro da caixa, respira
fundo e se vira para mim. Seu olhar encontra um ponto atrás de mim e sua
expressão torna-se furiosa. Quando seus olhos cruzam com os meus, perco
totalmente a fé.
— Claro. Muita coisa mudou, pelo menos para mim. Mas ao que tudo
indica nada mudou para você, Aspen. — Sinto como se ela tivesse jogado um
balde de água fria em mim. — Jade tinha razão. Você estava voltando por
causa dela. Sempre vai ser ela. Nunca será eu.
Paro de respirar. É como se eu tivesse levado um soco no estomago e
logo em seguida sendo jogado no lago congelado atrás da casa de Mia. Seu
olhar me machuca mais do que suas palavras. Eu poderia desistir, afinal, ela
me ignorou por dias. Dias!
Só que eu estou tão cansado disso e morrendo de saudade da minha
bruxinha, que paro de pensar racionalmente. Essa coisa de pensar não é
comigo. Nunca foi e nunca vai ser.
Decidido, dou a volta na mesa de Mia e tiro o telefone do gancho.
Disco o número da recepção e peço para que mandem os seguranças para cá.
Eu sei que o sonho da Mia era ver a Devon ser carregada daqui pelos
seguranças. Hora de realizar o seu sonho.
Não demora muito e o elevador anuncia a chegada dos seguranças.
Indico a minha sala e eles entram. Não olho para Mia, mas sinto seu olhar
sobre mim.
Se quiser me achar um louco, foda-se! Preciso garantir que Mia fique
na minha vida, e não vou conseguir fazer isso com a Devon no meu pé.
De repente a sala é preenchido pelos gritos femininos da Tiffany. Ela
grita, esperneia e se balança nos braços de um dos seguranças. Ela aponta um
dedo para mim, gritando ameaças, mas eu não estou nem ai!
Sai pra lá bicho feio!
Ando até um dos seguranças e peço para bloquearem a entrada da
louca na empresa. Eu não quero saber de vê-la aqui mais.
Eles partem no elevador sob os protestos de Tiffany e eu finalmente
suspiro aliviado.
Uma já foi.
Agora vem a parte mais difícil.
— Eu não posso permitir que você me abandone! — grito no hall.
Não há ninguém ali naquele momento, mas que se dane! Eu faço qualquer
coisa para que Mia fique.
— Isso não é uma decisão que cabe a você.
Prevejo que essa conversa não vai ser fácil!
— Eu sei. Mas não estou me referindo a sua carta de demissão. Quer
deixar o trabalho? Tudo bem. Eu assino! Mas não posso permitir que você
me deixe Mia, não para sempre.
Passo as duas mãos pelos meus cabelos. Estou cansado e a quase uma
semana sem dormir. Tudo o que eu quero neste momento é ter a certeza de
que Mia estará comigo durante o resto da minha vida, e que nada poderá nos
separar.
Porque eu preciso dela. Necessito de Mia ao meu lado sendo minha.
— Você fez a sua escolha, Aspen.
— Não, Mia. Não é essa a escolha que fiz. Quer saber a escolha que
fiz? Eu escolhi ir a uma viagem com a minha secretária e fingir ser o noivo de
mentira dela. Eu me apaixonei por ela, e a minha única escolha desde o
momento em que eu compreendi o que estava sentindo foi ficar ao lado dela e
de mais ninguém. — falo em um folego só. Mia me encara finalmente. Vejo
o espanto e a raiva brigarem dentro de si, e é nesse momento que eu sei que é
agora ou nunca. — Sabe o porquê disso? Mia? Porque eu amo você. Eu não
acreditava que o que eu sentia por você era amor. Mas agora eu sei, e não
posso ficar um dia sequer seu o seu sorriso ou suas ameaças ridículas e
inofensivas. Não consigo suportar a ideia de outro homem acordando ao seu
lado e tentando saber qual é o personagem da Disney da vez. E eu juro para
você que não me importo! Eu não ligo se você está vestida ou não.
Descabelada ou arrumada. Tudo o que mais desejo é ter você ao meu lado
para o resto da minha vida.
Ajoelho-me no chão, sem me importar se ela irá chutar a minha cara
ou chorar e se jogar nos meus braços.
Se as palavras não derem certo, eu vou partir para o plano B e viver
em uma ilha deserta com Mia. Quero ver se ela não vai resistir!
— Aspen... — ela para na minha frente, suas mãos mão de encontro
ao meu rosto. O contato da sua pele com a minha me faz suspirar, e quase
fecho os meus olhos em apreciação. — Que droga! Você deveria ser
advogado! Ninguém deveria ser tão bom com as palavras assim!
Sorrio em alívio, mas meu sorriso desaparece, e uma careta toma o
seu lugar.
— O que você quer dizer com isso? — indago confuso.
Isso era um sim ou um não?
— Quero dizer, Aspen, que você consegue convencer qualquer pessoa
no dialogo. Não é muito justo.
Franzo o cenho.
— Então você acredita em mim? — pergunto esperançoso.
— Mesmo se eu não quisesse uma parte minha acredita em você. E
também porque gostei de vê-lo chutar a bunda da Devon pra fora daqui — ela
diz para o meu deleite e sorri.
— Eu já deveria ter feito isso há muito tempo — digo e faço uma
careta.
— Com certeza, Aspen.
Olho para Mia de cima abaixo, uma parte minha não acredita que ela
está bem ali, na minha frente. Sorrio como um bobo e me levanto, puxando-a
para os meus braços. Senti-la ali, tão próxima ao meu corpo, reascendem os
desejos que guardei nos últimos dias. Enterro o meu rosto no seu cabelo,
inalando o seu cheiro delicioso. Mia estremece e suspira baixinho.
— Senti a sua falta, bruxinha — sussurro em seu ouvido.
— Eu também, chefinho. — ela sussurra de volta. — Tenho algo para
te dizer. — Mia se afasta o suficiente para me encarar, mas sai do circulo que
meus braços faze em volta da sua coluna. — Assim que cheguei do
aeroporto, depois de te deixar lá, Jade veio me confrontar. Acho que ela
estava esperando uma brecha para me pegar sozinha.
— Puta merda! E o que ela disse a você? — pergunto já temendo a
sua resposta.
— Ela entregou o nosso jogo. Parece que se digitar o seu nome do
Google, descobre coisas que nós dois nem paramos para pensar.
— Ai, merda! Mia, eu sinto muito! — Sinto-me culpado, mas se jade
entregou o jogo, Elena deve saber de tudo e... — Sua mãe? Como ela reagiu a
isso?
Mia sorri e inclina-se na minha direção. Seus lábios buscam o meu em
um selinho, e quando ela se afasta rapidamente, solto um gemido em
desagrado.
— Ela já sabia de tudo. Assim como Chad. Nós dois deveríamos ter
planejado essa coisa toda melhor.
Gargalho.
Sim, planejar. Mas se planejássemos não nos seriamos. O chefe
cretino e a assistente bruxinha.
— Você avisou — digo. Meu sorriso vai de orelha a orelha ao me
lembrar de como tudo começou. — Você me avisou que iria dar merda, Mia.
Ela sorri.
— Eu sempre tenho razão, chefinho.
— E eu fui cego demais para não enxergar o que estava na minha
frente.
— Não tem problema — diz ela, colando a sua boca na minha. —
Você sempre poderá ser o meu noivo de aluguel se der merda de novo.
Epilogo – Mia

É engraçado como muitas coisas podem acontecer em apenas um


ano.
O tempo nunca para e a vida está em uma constante mudança. De
repente, estamos pulando e estourando champanhe no ano novo, e em um
piscar de olhos, já é natal outra vez.
Um ano.
Um ano desde que eu peguei o meu ex-chefe falando no meu celular
com a minha mãe.
Há um ano eu aceitei a proposta mais maluca da minha vida.
E há um ano eu me apaixonei pelo cara da qual derrubei café por me
olhar mais do que deveria.
Sorrio sozinha ao me lembrar daquele dia, Faz tanto tempo, mas as
lembranças continuam frescas na minha memória.
Quem poderia imaginar que após dois anos, eu estaria aqui, em mais
um natal ao lado da minha família e do homem da minha vida?
A vida pode ser irônica às vezes.
— Do que está rindo, Senhora Russell?
Aspen surge atrás de mim, envolvendo os seus braços na minha
cintura. Seus distribuem beijos suaves na minha nuca, fazendo-me suspirar.
— Nada — minto. — Apenas recordando algumas coisas.
— Que seriam?
Sorrio. Viro-me para olhá-lo nos olhos.
Nesse ultimo um ano, Aspen ficou ainda mais bonito. Não sei como
isso era possível, mas o infeliz conseguia ser mais lindo a cada dia que passa.
— Lembra-se de quando joguei café nas suas calças? — pergunto.
Mordo o lábio para segurar a risada.
Aspen arregala os olhos e começa a rir.
— Como vou me esquecer disso, Mia? Você quase me deixou infértil
pelo resto da vida!
— Sorte a nossa que o café estava morno e não fez nenhum estrago
— sussurro. Meu tom é sensual e rouca.
Aspen abre o seu sorriso safado e beija os meus lábios de forma casta.
— Bota sorte nisso, bruxinha.
Sorrimos um para o outro.
Aspen me envolve em um abraço e deito a minha cabeça em seu
ombro. Ultimamente ando com um cansaço descomunal. Graças a Deus o
meu marido (sim marido) é compreensivo e me permite cochilar em seus
braços durante alguns minutos.
Depois de muita confusão, admissão da presidência da filial do meu
pai aqui em Los Angeles, finalmente pude focar em algo que Aspen vivia me
cobrando: o nosso casamento.
Nós casamos no inicio do verão, na propriedade dos Russell em
Beverly Hills. A cerimonia foi restrita a apenas familiares e amigos, o que
somou em quase quatrocentos convidados. Depois de uma festa deliciosa,
partimos de lua de mel para a Amsterdã, desfrutar o clima ameno de Holanda.
— Ei! Vocês dois! Chega de grude e venham aqui. Mamãe está
chamando vocês para comer. — Donna, a minha cunhada que descobri ter
um amor irracional por sapatos assim como eu, diz pulando ao nosso lado e
quebrando o nosso momento.
Olho para Aspen e ele me olha de volta. O meu estomago começa a
roncar e eu lambo os lábios ao ouvi-la mencionar a palavra comida.
Aspen ri e segura a minha mão, me levando na direção da sala de
jantar.
Olhar para a minha casa lotada e com gente saindo pelos latões, me
sinto feliz e realizada.
Meu querido marido fez questão de comprar uma propriedade grande
o suficiente para acomodar a família. O que no fim foi a segunda melhor
ideia que ele teve. A primeira, é obvio, foi se casar comigo.
Sento em uma cadeira que Aspen puxou para mim, e logo em seguida,
ele se senta ao meu lado. Nossa família está a nossa volta, as conversas
preenchendo o ambiente com risadas felizes.
Pela primeira vez na minha vida, me sento a mesa para a ceia de natal
tranquila, sem me importar se terei ou não que encarar Jade e Pietro. Por
sorte, os dois finalmente decidiram dar um tempo e ir fazer um mochilão pela
Europa.
O que agradeci imensamente a minha tia que deu a ideia.
— O que você vai querer? — Aspen pergunta com meu prato em
mãos.
Desde que descobrimos sobre o pequenino ser que habita dentro de
mim, Aspen tem redobrado os cuidados comigo. Ele prepara as minhas
comidas favoritas, faz massagens nos meus pés ao fim de um dia cansativo de
trabalho até contratou alguém para me levar lanchinhos de hora em hora.
Provavelmente estarei parecendo uma baleia ao fim dos nove meses
de espera.
— Hm... um pouco de purê, e peru. Ah! Salada também e... —
começo a falar sem parar e Aspen atende prontamente aos meus pedidos.
No fim, tenho um prato completo com todas as coisas que mais amo
comer nessa vida.
Começo a devorar a minha refeição, não me importo com o olhar
engraçado que Chad me lança, ou com a expressão assustada de Don para o
meu prato.
Por Deus! Eu sou mulher e estou comendo por dois!
— Os enjoos cessaram? — Aspen questiona em meu ouvido.
— Tomei o remédio que a doutora receitou. As vitaminas parecem
estar fazendo efeito — confidencio ao meu marido, e sou retribuída com seu
sorriso maravilhoso.
— Esse pequeno está te dando trabalho.
— Oh, amor. Nem me fale!
Pego a minha taça de água e beberico um pouco. Olho com pesar para
o meu copo, e então para a taça quase vazia de vinho de Aspen. Ele percebe o
que estou olhando e ri baixinho.
— Nem pensar! A doutora deixou bem claro. Nada de bebidas
alcoólicas.
Suspiro e dou de ombros.
Tudo bem. Eu posso ficar sem beber por um longo período. O que é
alguns meses, mesmo?
— O que vocês dois tanto cochicham ai? — É Anne quem pergunta.
Em meio a todo aquele barulho de vozes, a voz da minha cunhada se
sobressai dois demais, chamando para mim e Aspen.
Aspen e eu nos entreolhamos. Meu marido engole em seco e eu vejo a
duvida brilhar em seus olhos castanhos. Sorrio para ele e aquiesço.
Planejamos esse momento há quase um mês. Não há outra
oportunidade melhor do que esta.
Aspen arrasta a sua cadeira para trás, levantando-se. Ele estende a
mão para mim e me auxilia também. Seu braço automaticamente envolve a
minha cintura, e sua mão segura a minha. Ele a leva até os lábios e deixa um
beijo nas costas da minha mão. Sinto um arrepio percorrer o meu corpo e
mordo o lábio inferior, segurando um gemido.
Outro efeito colateral dos hormônios malucos.
— Bom — Aspen respira fundo, olha para cada rosto sentado naquela
mesa e então se volta para mim. Seu sorriso vai de orelha a orelha e é quase
impossível não sorrir com ele. — Mia e eu planejamos esse momento há
quase um mês. É uma descoberta que mudou a nossa vida do dia para a noite,
e nós não poderíamos estar mais felizes em compartilhar essa noticias a nossa
família.
Sorrio orgulhosa das palavras do meu marido. Aspen tem
amadurecido muito esse ultimo um ano. Foi um período de grandes
descobertas.
Tomo uma longa respiração e volto minha atenção para a minha
família. Encaro a minha mãe que me encara alçando uma sobrancelha e isso
me faz rir alto.
— Ok, vamos acabar com esse mistério. — digo recuperando o
folego. — Embaixo da cadeira de vocês tem um envelope lacrado. Peguem e
abra-o para descobrir a nossa surpresa.
Olho para Aspen que tem um olhar travesso enquanto assiste nossos
familiares lançarem olhares curiosos e se abaixarem para pegar o envelope.
O envelope surpresa era simples, de cor vermelha e enfeites
desenhados no estilo de natal. Vi essa ideia no Pinterest e resolvi testar. Com
Aspen as coisas foram um pouco diferentes, uma vez que ele estava ao meu
lado quando recebemos essa noticia.
— Ai meu Deus! — minha mãe grita colocando a mão sobre a boca.
Ela foi a primeira a conseguir abrir o envelope e desdobrar o papel
com a cópia de um exame que fiz.
Todos param para encarar a minha mãe, esquecendo-se
completamente do que estavam fazendo. Aspen me aperta contra si, e com
um sorriso, o encaro.
— Posso? — pergunta ele. Seu tom animado e ansioso.
— Vá em frente, chefinho.
Aspen faz uma careta, mas não se deixa abalar. Ele respira fundo,
abre o meu sorriso favorito e diz em alto e bom som:
— Mia e eu estamos grávidos!
E então a sala é preenchida pelos gritos comemorativos da nossa
família.
Fim.
Agradecimentos

Primeiro de tudo eu gostaria de agradecer a minha mãe, que me


ajudou ao longo desse livro com comentários hilários e ameaças fofas para
finalizá-lo logo. Obrigada, mãe. Você me ajudou em muito!
Gostaria de agradecer as minhas leitoras do wattpad, que estão sempre
me acompanhando e deixando comentários maravilhosos nas minhas obras.
Meninas, vocês são demais!
Agradeço as minhas maravilhosas parceiras. Vocês estão sempre ao
meu lado e eu não poderia ser mais grata. Obrigada de todo o meu coração.
E por fim, a minha família, que teve uma paciência gigantesca comigo
presa no quarto trabalhando. Obrigada, amo vocês!
Sobre a Autora

MGAmaro tem dezenove anos e vive em Sarandi, no interior do


Paraná. Leitora voraz e apaixonada pela literatura encontrou seu espaço na
plataforma online gratuita Wattpad, onde publicou seu primeiro romance
chamado Confissões do Primeiro Amor. Com uma rotina bem agitada, divide
seu tempo entre a família, trabalho e escrever. Autora do livro Um Amor de
Presente, seu primeiro romance publicado de forma independente na
Amazon, que ficou em primeiro lugar nos mais vendidos na sua categoria. É
também autora da Trilogia Ex-Amores, Série Gentlemen e Duologia Dark
Love, publicados gratuitamente no Wattpad.
Contatos

Instagram: https://www.instagram.com/mgamaro_/?hl=pt-br
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E-mail: autoramgamaro@gmail.com
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