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A última vez que estive aqui foi há quase três anos. No mesmo ano
que comecei a trabalhar para Aspen, e quase carregada, vim para Fergus Falls
passar o natal com a família. O que não aconteceu como o esperado e retornei
mais cedo para casa do que o imaginado.
Mas agora, tudo parecia diferente. Eu sabia a programação, ou
pensava que sabia. Bom, isso não importa. O importante era que eu estava ali
como prometido, com um falso noivo e uma futura carta de demissão.
Pois é, as coisas não eram fáceis para mim.
Duas horas.
Esse foi o tempo em que levei para ganhar o coração de cada mulher
daquela casa e o respeito dos homens. Exceto pelo projetil que Mia um dia
chamou de namorado.
Para aquele lá, eu reservei o meu olhar assassino e imaginei milhares
de maneiras de mata-lo a cada vez que seu olhar pairava sobre o corpo de
Mia.
Babaca!
Com certeza foi uma noite cheia de surpresas, principalmente a prima
de Mia, Jade, que mais parecia uma sósia de Tiffany do que uma parenta da
Mia.
Por um instante pensei que iria ficar louco. Senti-me
momentaneamente claustrofóbico e todas aquelas pessoas me confundiam
com seus nomes e interesses na minha vida pessoal.
Por Deus, quem é que pergunta o número do calçado que um homem
usa? Ou a marca da cueca? Fala sério!
Foi então que encontrei o meu pequeno refúgio, na varanda da casa,
onde todo o barulho era bloqueado pela porta de entrada e pelo som do vento.
Respiro fundo, sentindo-me aliviado. Quando combinei com Elena
sobre a festa surpresa de Mia, não imaginei que a mulher fosse convidar
metade da cidade para a sua casa. Merda! Eram pessoas demais para mim, e
olha que lido constantemente com várias pessoas, de todos os tipos de
preferencia.
Mas naquele lugar, naquela cidade, eu não conseguia pensar em nada
em ficar sozinho (a preferencia era com Mia, mas ela está ocupada demais
sendo paparicada pelo ex-pau no rabo) e esperar todas aquelas pessoas irem
embora.
Meu dia foi cheio, cansativo e repleto de surpresas. Para ajudar,
aquela Jade é uma mulher grudenta que parece que não pode ver um homem
que já quer sentar no colo dele e Mia está me ignorando.
Que ótimo!
Olho para o céu, em busca de uma ajudinha de Deus. Tá legal, eu não
fui um menino levado esse ano. Não tanto quanto os anos anteriores. Era
pedir demais ficar a sós com a minha assistente?
Parece que era. Acho que fiz alguma merda das grandes e não estou
me lembrando no momento. Bem, fico devendo desculpas por essa.
— O que faz aqui fora sozinho?
Assusto-me com o som doce e preocupado da voz da Mia. Viro para
trás, a tempo de vê-la encolhida sob a fina blusa de frio.
Olho para o céu e agradeço silenciosamente a Deus por atender o
mais desesperado pedido que já fiz, e então volto a observar a linda mulher
parada na minha frente.
— Precisava ficar um pouco sozinho — confesso sob um suspiro.
— Ah, Aspen, me desculpa — Mia diz, aproximando-se de mim. —
Te deixei completamente de lado! Sou uma péssima pessoa.
Sorrio de sua constatação.
— Não, Mia, você não é uma péssima pessoa, apenas estava
encantadinha por seu ex pau no rabo.
— Ex o que? — ela repete rindo.
— Você entendeu, Sanders.
— Aspen! — Ela ri. — Você está com ciúmes do Pietro?
Nego com a cabeça, mas isso só faz Mia sorrir.
Eu não queria demonstrar o quanto o fato de ela estar dando atenção
para aquele babaca me incomodou. Não depois de tudo o que ela me disse.
Não entrava na minha cabeça que ela estava sendo todo sorriso para ele.
Eu queria a sua atenção.
Seus sorrisos.
Eu queria mia. Ponto.
Chame-me de mimado se quiser, mas nunca contrarie um homem com
necessidades de ter uma mulher especifica ao seu lado.
— Acho que você deveria voltar lá para dentro. O pau no rabo deve
estar esperando por você para balançar o rabo e pegar a bolinha — murmuro
contrariado. Mas a verdade era que eu desejava, não, necessitava que ela
ficasse ali comigo, longe de todos aqueles olhares sobre nós.
Nunca pensei que ser o centro das atenções era tão cansativo e
enjoativo. Parece que o dia de descobrir isso chegou.
— Aspen, pare de frescura — Mia exclama passando a mão no rosto,
parecendo frustrada. — Eu não quero Pietro. Será que você não percebeu isso
desde o inicio?
— Não era o que parecia há poucos minutos atrás — murmuro
emburrado.
— Aspen... — Ela solta um longo suspiro. — Não fique assim. Olha,
eu só estava sendo educada.
— Educada com o cara que te expos para a sua família, e que por
coincidência, te trocou pela prima plastificada.
— Eu não acredito nisso! — Mia ri. Ou melhor, solta uma gargalhada
alta e gostosa, fazendo-me relaxar por um instante. — Você chamou uma
mulher de plastificada? Quem é você e o que fez com o meu Aspen?
Encaro Mia paralisado, minha boca provavelmente está aberta e eu só
consigo encarar aqueles olhos castanhos que me observam divertidos.
Puta merda!
Ela não pode simplesmente falar meu Aspen e sair dessa impune. Não
mesmo.
Suas palavras são tão naturais e verdadeiras, que quando dou por
mim, estou rindo sem parar da situação.
— Qual a graça, Aspen?
Ela parece preocupada, mas seu tom ainda carrega um pouco de
humor.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, tentando recuperar a
compostura e encará-la sem rir.
O que vem se tornando uma missão impossível, pois tudo em Mia
fazia-me sorrir igual a um bobo apaixonado.
O pensamento me paralisa.
Seria eu capaz de me apaixonar? Não, claro que não.
Mas por que eu não conseguia me manter afastado de Mia? E por que
eu sentia tanta necessidade de tê-la por perto a todo o momento?
Caralho! Será que estou mesmo me apaixonando? E ainda por cima
pela minha assistente?
Sim, é provável que sim.
É possível que eu tenha me apaixonado por Mia. Mas o sentimento
não vem de agora, e sim de muito tempo atrás, quando olhei pela primeira
vez em seus olhos castanhos intensos.
Ah, a realidade. Ela vem como um soco no estomago e que ri quando
você está deitado no chão em posição fetal chorando. É um soco no ego de
um homem como eu, que vive os dias conforme as suas regras e sem amarras.
— Terra chamando Aspen! — Eu ouço a voz suave e doce de Mia ao
longe, e é provável que eu esteja encarando o nada como um idiota
apaixonado.
Pois era isso o que eu estava me tornando.
Ou o que eu penso que é.
— Desculpe — digo envergonhado.
Mia arregala os olhos e coloca a mão sobre a boca, abafando um grito.
— Puta merda! — ela exclama.
Imediatamente fico em alerta. Ela parece assustada e muito, muito
surpresa.
Mas o que diabos...
— Você acabou de me pedir desculpas?
Encaro-a confuso.
O que diabos ela quis dizer com isso?
— Acho que sim. — Franzo o cenho. — Não é isso o que as pessoas
pedem quando faz algo de errado?
— Normalmente sim — ela responde, e juntando as sobrancelhas bem
cuidadas, caminha até ficar próxima suficiente de mim. Posso sentir o seu
perfume delicioso tocar a minha pele. Inalo profundamente, apreciando o seu
cheiro. — Você está se sentindo bem? Alguma vertigem? Falta de ar? Sei lá!
Algum indicio de que esteja passando mal?
Ela fala enquanto suas pequenas e macias mãos tocam o meu rosto. O
contato me faz fechar os olhos, sentindo o toque da sua pele contra a minha,
as mãos pequeninas e macias. Tão deliciosa e delicada.
— Eu estou bem — garanto-lhe ainda de olhos fechados. — Muito
bem, alias. Só precisava respirar um pouco e ficar sozinho, sem ter ninguém
perguntando sobre a maldita cor da minha cueca.
— Ah!
Ela parece compreender o que digo.
— Sim, bruxinha. Ah!
Abro os meus olhos, apenas para me perder em seu olhar.
A coisinha irritante dentro de mim que ganhou vida desde o dia
anterior parece ficar maior com o contato da sua mão contra o meu rosto. O
anjinho no meu ombro abre um sorriso gigantesco e faz um soquinho
imaginário.
É, amigão, eu sei.
— Vamos voltar lá para dentro. Minha mãe deve estar dando falta de
nós — Mia diz baixinho, sob um suspiro.
Ela parece tão reticente em voltar para dentro quanto eu.
É então que uma ideia fenomenal surge na minha cabeça.
— Você não parece muito a fim de voltar lá para dentro — constato, e
acabo ganhando um sorriso genuíno de Mia.
— Confesso que não é uma das melhores opções.
— Não, não é. — Sorrio. — Mas acho que tenho uma proposta
melhor para lhe fazer — digo e ela alça a sobrancelha.
— Que seria... ?
Sorrio com o possível não que vou receber. Mas como dizem: sonhar
não paga imposto. E provavelmente vou receber uma bola de neve na cara,
mas quem se importa?
Sorrio e aproximo meu rosto do seu, meus lábios roçando os de Mia e
eu assisto deliciado o momento em que seu corpo treme — não pelo frio que
faz — mas por eu estar tão próximo.
— Podemos ficar aqui fora, sozinhos, na companhia um do outro e
deixar todos lá dentro pensando que fugimos para namorar... — Hesito em
continuar com a linha de raciocínio que criei, porque uma vez com Mia em
meus braços, não vou querer soltá-la tão cedo.
— Ou? — Ela pergunta quando fico em silencio.
Tomo uma longa respiração. Meus lábios tão próximos dos dela...
apenas uma inclinada e meus problemas estariam resolvidos... por hora.
Afasto-me de Mia para finalizar a minha proposta. Era tentação
demais tê-la ali e não poder beijá-la, não sem antes confirmar que ela me
deseja tanto quanto eu a desejo.
— Ou podemos voltar lá pra dentro, você vai me ver interagir com a
cobra que você chama de prima enquanto eu a vejo conversar alegremente
com o seu ex pau no rabo.
Mia semicerra os olhos para mim, abre e fecha a boca várias vezes.
Assisto paciente enquanto ela parece colocar de um lado para o outro em uma
listinha os prós e contras de ficar comigo aqui fora, no frio congelante, ou lá
dentro cheio de pessoas que mais parecem estar interessados na cor da nossa
roupa intima do que se temos cérebro ou não.
— Isso parece uma proposta tentadora de um cara que está se
comendo de ciúmes, Aspen — ela diz por fim, abrindo aquele bendito sorriso
lindo para mim e dando um passo à frente, colando os nossos corpos. —
Confesso que gosto de vê-lo assim, fora do controle.
Sorrio.
Ah, bruxinha, você não faz ideia de como eu gosto de perder o
controle...
Balanço a cabeça tentando espantar esses pensamentos.
Não com Mia. Pelo menos não ali.
— Vamos lá, bruxinha, eu trabalho com respostas rápidas. É sim ou
não?
Estou ficando impaciente com a sua relutância. Tenho vontade de
pegá-la pelos cabelos e arrastar para qualquer lugar do qual ninguém vá nos
perturbar.
— Não seja impaciente, Aspen.
— Não sou impaciente, Sanders.
Mia percebe meu tom de voz contrariado e me lança um olhar
duvidoso.
— Seu sobrenome deveria ser impaciente, Aspen. Pare de mentir.
— Não sou o único mentiroso aqui, Mia.
Faço uma careta e penso em tentar outra manobra para fazê-la ficar.
Aproximo meu corpo do seu e enlaço a sua cintura com meus braços,
como eu comecei a imaginar, Mia cora e apoia as duas mãos pequenas contra
o meu peito. Um tremor percorre o seu corpo e sorrio.
Como o esperado, ela está deixando de ser tão durona comigo.
— Por favor, bruxinha — Tento usar o meu tom suave e sedutor. Mia
pisca e então desce seu olhar para os meus lábios a centímetros dos seus. —
Fique aqui comigo. Podemos voltar quando quase todos tiverem indo
embora. Isso é muito normal, afinal de contas somos um casal, não é mesmo?
Para a minha surpresa e deleite, Mia envolve seus braços em meu
pescoço, levando o meu rosto em direção ao meu.
Mas como sou um menino levado e não recebo a minha gratificação
de natal, quando ela está prestes a me beijar, viro o rosto e sua boca acaba
acertando a minha bochecha.
O grunhido que sai de seus lábios é delicioso e divertido. Ela se afasta
de mim, como um raio e me olha de cara feia.
Eu começo a rir da sua carranca e tento puxá-la de volta para os meus
braços, mas ela começa a se de debater, relutando em voltar para mim.
— Vamos lá, bruxinha. Diga que aceita e terá o que tanto quer —
digo com um sorriso gigantesco no rosto. — É muito fácil, só dizer as
palavras mágicas e vai me ter. Admita que me quer.
— Ah, Aspen! Você é tão ridículo! — ela esbraveja em meus braços,
batendo o pé no chão com a frustração. Por pouco não me acerta. — Admita
você que está com ciúmes do Pietro. E eu nem sequer quero você!
Fico impressionado em como Mia se irrita fácil, e amo ainda mais
fazê-la ficar desta forma.
Quando está brava, Mia fica vermelha, as bochechas adquirem um
tom avermelhado adorável, seu lábio inferior é esmagado pelos dentes
brancos e perfeitos, e para piorar, seus olhos adquirem uma cor mais escura e
felina.
Uma gatinha furiosa.
— Tá — digo. — Se eu admitir que estou com ciúmes do seu ex...
— Pelo amor de Deus, não o chame mais disso! — ela praticamente
grita comigo.
Faço biquinho e Mia paralisa.
É, parece que Mia Sanders não é tão imune a mim quanto pintava
toda hora.
— Tudo bem. — Respiro fundo. — Eu estava sim me sentindo i-n-c-
o-m-o-d-a-d-o — soletro a palavra, já que não quero dar o braço a torcer. —
Por conta do tal de Pietro. Desculpe, mas ele é um grande idiota por tentar
dar em cima de você na minha frente. E para piorar, você estava bem à
vontade na presença dele.
— Eu não estava à vontade, Aspen. Ao contrário disso. Estava muito
a fim de meter a mão na cara daquele idiota por agir como se nada tivesse
acontecido. Mas em respeito a minha família, preferi agir de forma educada a
jogar o champanhe na cara dele.
Mia Sanders, minhas senhoras. Não basta ser boa em quase tudo o
que faz na vida e ainda precisa pisar em mim com seu monólogo em forma de
esporro pra cima de mim.
— Desculpe-me, Mia. Eu não estava me tocando do fato de que a sua
família não iria gostar de assistir eu ou você quebrando o nariz do pau no...
— Você nunca vai parar de chama-lo assim? — Ela me corta rindo.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Jamais. Nunca vou me esquecer do modo como ele largou a
mulher dele para ficar balançando o rabo para você.
Sorrio com a lembrança.
O tal Pietro não parava de encarar Mia um segundo sequer. Para
aonde quer que ela fosse, ele estava lá a observando. Até que seus olhos
passaram a segui-la de perto e eu quase perdi a paciência.
Um homem não pode nem ir ao banheiro tirar a água do joelho e o
resto da cachorrada cai matando. É incrível!
— E eu nunca vou me esquecer do fora que você deu na Jade. Na
verdade, a cara dela vai ficar marcada para sempre na minha cabeça. O dia
em que ela levou um fora de um homem — ela diz e então ri.
— Ela nunca recebeu um não na vida dela? — pergunto curioso.
Mia balança a cabeça, e parecendo aceitar o meu convite, se
aconchega ainda mais em meus braços, encostando a cabeça no meu ombro.
— Não. Na verdade, Jade sempre foi acostumada a ter o que quer, e
quando digo tudo, é tudo mesmo. Quando comecei a namorar com Pietro,
bem, ela decidiu que o queria. E não é que a cobra consegui?
Gargalho alto e sou acompanhado de Mia.
Ela já tinha me contado parcialmente a história que a afastou da
família por dois anos, mas mesmo assim, eu me via curioso para tentar
entender o motivo que levou o babaca a trocar uma mulher como Mia por sua
prima que não chega nem aos pés da minha assistente.
Até Afrodite ficaria com ciúmes de uma mulher como Mia.
— Isso a incomoda? — indago.
— Ser trocada pela minha prima? — ela retruca.
— Também, mas o fato do pau no rabo tê-la exposto para a família, e
sua prima te humilhar...
Minha voz diminuiu gradativamente quando sinto o corpo de Mia
ficar tenso. Droga! Eu realmente não queria deixa-la triste.
Ela não me responde de imediato, continua com a cabeça encostada
em meu ombro sem me encarar. Espero sem pressioná-la para saber se isso a
incomoda ou não. Mas sei que se a resposta for um sim o incomodado serei
eu.
— Não. — ela sussurra. — Pensei que incomodasse, talvez um dia no
passado. Mas agora, eu tenho é pena dos dois. Eu pensei que era apaixonada
por Pietro, mas na verdade eu não sabia o que era o amor de verdade.
Fico estático com sua resposta. Ela me encara, eu a encaro de volta.
Nós dois não dizemos nada, apenas ficamos nessa bendita troca de olhares,
com as palavras dela ainda jogadas no tempo.
Engulo em seco, sentindo o meu coração se apertar com o
pensamento de que ela está apaixonada, não por mim, mas por outra pessoa.
Eu preciso perguntar. Preciso saber quem é o felizardo que não está
aqui com ela em seus braços.
— E agora você o que é esse tal amor? — pergunto tomando uma
longa respiração.
Naquele segundo nada mais importa do que a resposta de Mia. Se ela
disser sim, serei obrigado a perguntar quem e onde ele está. Se a reposta for
não, bom, azar de quem gostar dela porque vou lutar para tê-la para sempre
em meus braços.
Que se dane a política que coloquei na empresa.
Que se dane as mentiras sobre estarmos noivos.
Que se dane a porra toda!
Eu preciso de Mia ao meu lado. Percebo que um dia sem ela eu estaria
perdido. Pensar na possibilidade de vê-la nos braços de outro, no nosso andar,
seria como levar um tiro no peito.
E acredite, eu desejaria morrer a ter que assisti-la sair com outro
homem que não fosse eu.
Ah, amor. Então é isso o que você é? Uma confusão de sentimentos.
Medo de possibilidades e de um futuro sem a pessoa amada. Um ciúme
irracional e amedrontador. Uma insônia do caralho e coragem o suficiente
para passar por cima de tudo e de todos par alcançar o amado?
É, acho que é isso o que é o tal de amor.
— Não conheço, Aspen. Mas acredito estar começando a conhecer e a
entender os sentimentos que venho sentindo. São estranhos e confusos. Mas
acho que um dia tudo vai se encaixar.
— Você acha? — pergunto, não só me referindo aos sentimentos dela,
mas aos meus também.
Sinto seu olhar sobre mim, e quando olho para baixo, deparo-me com
Mia encarando-me sorridente.
— Claro que sim, chefinho. — Ouço sua risada gostosa. — Nem tudo
continua da mesma forma para sempre. Nem mesmo o amor. Ele...
— Ele transforma. — completo sua frase, ganhado em troca um olhar
surpreso. — Acho que também estou sentindo umas coisas estranhas, Mia. —
Confesso. — Sabe, não é dor de barriga, mas são estranhos, confusos e
necessitados. Você sabe o que poderiam significar?
A pergunta deve tê-la pego de guarda.
Mia me encara sem dizer m=nada. Pisca várias vezes e abre e fecha
boca em seguida, sem ter o que dizer. Provavelmente pensando que é uma de
minhas brincadeiras.
Ah, como eu gostaria que fosse!
— Me conta! — Exige.
— Te contar o que? — retruco rindo.
— Quem é a azarada que por quem você está se apaixonado!
Mia diz isso com tanta incredulidade, de olhos arregalados, que quase
acredito ser um péssimo partido para uma mulher.
Fala sério! Até alguns minutos atrás a família dela inteira estava me
paparicando, e agora, ela quase cospe na minha cara que sou um péssimo
partido.
Faço uma careta para ela.
— Não é azarada. E me admira que você não tenha descoberto ainda
— murmuro emburrado.
Seus olhos parecem brilhar ainda mais depois da minha resposta. O
sorriso de Mia vai de orelha a orelha e quase posso ver as engrenagens do seu
cérebro trabalhar.
Eu gostaria saber o que se passava na cabeça daquela bruxinha
naquele exato momento. Mas provavelmente eu jamais saberia.
Capítulo 13 – Mia
Puta merda!
Eu nunca imaginei que chegaria o dia em que Aspen Russell — meu
chefe e o cara mais cretino e safado que conheço — iria se apaixonar por
alguém.
Quer dizer, o problema não é se apaixonar. Todo mundo tem o direito
de conhecer o amor. Na realidade, eu acredito que as pessoas tem mais
compaixão pelo próximo quando estão em uma relação reciproca e feliz.
Mas o problema era que uma parte minha — uma que nunca dei
ouvidos — estava em um estado de alerta gritando com uma possibilidade
assustadora.
Seria possível Aspen se apaixonar por mim?
O pensamento me faz tremer. Sinto um vento frio percorrer o meu
corpo, e a vozinha aumentar gradativamente dentro de mim.
Não, não poderia ser por mim. Tiffany era a minha aposta mais alta,
afinal, os dois tiveram um tipo de estranho relacionamento por um bom
tempo.
Mas por que eu me sentia tão estranha e irritada ao imaginar Tiffany e
Aspen juntos? Ou melhor, sempre me senti irritada ao vê-la rebolar seu
traseiro magro para dentro da sala do meu chefe. No entanto, o sentimento
vem ganhado força desde o ultimo dia.
Que merda!
Olho para Aspen por um momento, me perdendo em seu belo rosto
adormecido.
Ele parece tão tranquilo agora, sem a ruga que se forma entre as suas
sobrancelhas sempre que alguém faz uma pergunta ridícula e Aspen, idiota
do jeito que é, tenta segurar uma resposta à altura. Ou quando seu rosto se
fecha quando em uma expressão séria quando algo dá errado.
Na verdade, ele parece tão tranquilo e relaxado dormindo, parecendo
se esquecer do mundo a nossa volta, do lugar que estamos.
Passamos as ultimas horas jogando conversa fora. Não dos demos
conta de quanto tempo passou, apenas continuamos a nos conhecer melhor e
esquecemos o resto.
E agora estamos aqui, ainda na varanda da casa dos meus pais, com
Aspen sentado em uma cadeira de balanço, me mantendo aquecida em seus
braços fortes.
Deito minha cabeça em seu ombro, aproveitando-me para inalar seu
perfume delicioso.
Aspen tem um cheiro amadeirado, cítrico e de... Aspen. É tão viciante.
Sinto-me como uma abelha viciada no perfume de uma flor. Ele me guia a
direção de Aspen, tornando ainda mais difícil a minha situação.
Por um momento, Aspen resmunga algo dormindo. É desconexo e
incompreensível. Seu rosto se contorce em uma careta, mas ele não acorda.
Seus braços me apertam ainda mais forte, e ele enterra o nariz em meus
cabelos.
Fico paralisada, sentindo as tais borboletas no estomago dançarem
felizes dentro de mim. Um suspiro escapa dos meus lábios, e quando dou por
mim, estou o observando encantada, possivelmente com uma carinha de
idiota de olhos brilhosos e um sorriso bobo nos lábios.
Pergunto-me o motivo que me levou a nunca observar Aspen além da
fachada de chefe cretino. Talvez nossa relação profissional tenha sido mais
fácil, e assim, eu jamais teria derrubado café em suas calças.
E provavelmente não estaríamos aqui hoje. Penso com pesar, pois a
ideia de não ter Aspen naquele momento comigo era dolorosa.
Ninguém poderia se comparar a ele. Ninguém saberia lidar com a
minha família como Aspen Russell fez.
Respiro fundo e volto a encarar Aspen. Tenho vontade de tocar seu
rosto bonito, minha mão coça para fazê-lo. Meus lábios de repente ficam
secos e um arrepio percorre o meu corpo. As borboletas fazem uns rasantes
felizes no meu estomago, e minhas mãos soam.
De repente paro de respirar. Uma estranha coincidência cruza a linha
dos meus pensamentos. Meu estomago parece dar uma volta, não pelas
borboletas imaginárias, mas por reconhecerem aquelas sensações.
Desta vez, mais intensas e confusas.
Por um instinto novo e estranho, minha mão faz seu caminho até o
rosto adormecido de Aspen, tocando sua bochecha delicadamente. A barba
por fazer faz cocegas e tenho que me segurar para não rir. Uma corrente
elétrica percorre a palma da minha mão, indo pelo meu braço e
correspondendo em todas as partes do meu corpo. As conhecidas e
desconhecidas.
Arfo surpresa. Minha respiração se acelera, meu corpo se arrepia por
inteiro e sinto a necessidade de ter seus lábios colados aos meus, como ele fez
várias vezes ao longo do dia.
Levanto meu olhar para cima, e me perco na escuridão que são seus
olhos.
Meu coração dispara no peito, Tento imaginar várias formas de me
explicar, mas as palavras simplesmente somem, deixando apenas uma certeza
em seu lugar.
Eu estava me apaixonando pelo meu chefe.
— Você ia me beijar, bruxinha? — pergunta ele, agora totalmente
desperto.
— O-o-que? N-não... C-claro que não! — gaguejo arrancando de
Aspen um sorriso gigantesco.
— Não foi isso que vi em seu rosto, Mia.
Franzo o cenho.
— E o que você viu? Por um acaso você é mestre em ler as feições
alheias?
Aspen gargalha alto, sua risada reverberando pelo meu corpo.
Assustando-me, Aspen me levanta em seus braços e se ajeita melhor
na cadeira, ele volta a me sentar em seu colo, nossos rostos a centímetros um
do outro.
— Vamos dizer que você é uma pessoa fácil de ler — ele diz
seriamente. — E também pelo fato de você estar hesitando e esmagando seu
lábio em uma mordida, que eu achei extremamente sexy.
— Aspen! — exclamo envergonhada. Sinto minhas bochechas
pegarem fogo.
— Vai negar bruxinha? — pergunta alçando uma sobrancelha.
Suspiro frustrada. Não tem como negar que estava pensando em beijá-
lo, e também, porque eu realmente quero beijá-lo.
— Não.
— Ótimo — ele diz sorrindo safado. — Porque eu também quero
beijá-la.
Seus lábios buscam os meus em um beijo necessitado. Sua língua
pede passagem, devorando-me lentamente. Um gemido escapa dos meus
lábios quando a minha língua toca a sua. Aspen faz o mesmo. Sua mão desce
até a base da minha coluna, onde minha blusa deixa um pedaço da minha pele
exposta. Seus dedos abeis tocam a minha pele, subindo pelas minhas costas,
traçando delicadamente a minha coluna.
A outra mão de Aspen vai de encontro a minha nuca, aprofundando o
beijo, enquanto as minhas próprias estão em seus cabelos, amassando os fios
macios entre meus dedos.
Suspiro contra a sua boca. Um arrepio desce pelo meu corpo
correspondendo lá embaixo.
— Não me canso de beijá-la, bruxinha — murmura contra a minha
boca. — Quanto mais a beijo, mais a quero. Você é doce e viciante, Mia. Um
perigo para a minha sanidade.
Sorrio.
— Então não pare, Aspen.
Seus lábios se contorcem em um meio sorriso, e atendendo ao meu
pedido, Aspen torna a me beijar apaixonadamente.
Por um longo tempo nos tornamos apenas gemidos, lingas e mãos.
Esquecemos-nos do mundo a nossa volta, do motivo que nos levou até ali e
todo o resto.
Bem, que se dane!
Adormeci tão rápido como há muito tempo não fazia. Não tive
sonhos, nem sequer senti nada além das cobertas grossas sobre o meu corpo.
Nunca vi Mia tão vulnerável quanto agora. Sua mascara de durona foi
completamente destruída pela cobra da prima, e isso parte o meu coração.
Não gosto de vê-la assim.
Quero apenas os seus sorrisos. Suas risadas e suas travessuras. Se
tiver lágrimas, que seja de cólica para que eu possa a embalar em um cobertor
e enche-la de sorvete e chocolate.
Que seja algo que eu possa estar ao meu alcance.
— Mia, não pense tão pouco sobre si mesma. Você não imagina a
força que tem. Da mulher maravilhosa que é. Eu posso dizer com toda a
convicção que você é a definição de mulherão da porra! Nunca a vi se abalar
por alguma ameaça de Tiffany, ou ficar constrangida por uma das minhas
cantadas, que convenhamos, são ridículas — falo e acabo recebendo um
sorriso em troca. — Sobre relacionamentos, você ainda não encontrou o cara
certo. Na verdade, precisamos conversar sobre isso. Mas agora, enfia na sua
cabeça que você é uma mulher, e que não precisa de homem algum para fazê-
la feliz, porque Mia, você é que faz os outros felizes.
Deixo que Mia absorva o meu vomito de palavras, encarando aqueles
olhos castanhos lindos que me deixam completamente bobo. Não demora
muito e sou retribuído com o seu sorriso lindo.
Não me importo se estamos fingindo ou não. Que se foda! Essa farsa
nunca iria dar certo mesmo. Mia avisou que iria dar merda. Eu não acreditei,
mas ela com certeza via apenas dois futuros para isso:
Um seria comigo morto e o outro, bem... esse ainda tenho duvidas.
Mas por hora elas continuarão assim.
— Obrigada, Aspen. Por estar aqui e dizer tudo isso.
Sorrio para ela.
— Noivos servem para isso, bruxinha — digo piscando um olho para
ela.
Mia ri e balança a cabeça em negativa. Aproveito-me e aproximo meu
rosto do seu, distribuindo beijos por sua pele macia. Indo de encontro aos
seus lábios carnudos. Sua boca busca a minha e eu a beijo como se não
houvesse amanhã. Como se fosse a nossa ultima vez, e provavelmente seria.
Mas por hora, eu não queria que o amanhã chegasse. Queria apenas
beijar Mia e demonstrar todo o amor que eu estava descobrindo sentir por ela
naquele beijo.
Capítulo 15 – Mia
Sempre ouvi dizer que o amor era um sentimento estranho. Que nos
consumia de dentro para fora. Que se tornava uma necessidade da outra
pessoa. Que queimava, machucava e dava insônia. Ouvi muitas coisas sobre
o amor, mas nunca soube identificar tal sentimento por alguém.
No entanto, agora eu sei que de onde quer que eu tenha ouvido isso,
tenho certeza que a pessoa estava coberta de razão. O amor era um
sentimento tão simples e puro, que chega de mansinho e te dá uma rasteira
para cair na real.
Sorrio sozinha ao pensar nisso.
Aspen poderia facilmente ter deixado de lado o assunto que Jade
resolveu tocar. Seria mais fácil e melhor para mim. Ela tocou em uma ferida,
só que nem ela e nem eu imaginávamos que essa ferida estava curando-se. E
tudo isso era graças ao meu chefe.
Após a confusão na mesa de jantar, Aspen não insistiu para voltarmos
para dentro e continuar como se nada tivesse acontecido. Na verdade, ele foi
um anjo e me chamou para subi para o quarto.
Eu relutei por um momento, imaginando todas as possibilidades que
deveriam estar se passando na cabeça do cretino. E ao perceber a minha
expressão, Aspen soltou uma gargalhada gostosa e bateu com a mão na testa,
exclamando que não acreditava que eu tinha uma mente tão poluída.
Após juramentos e apertos de mãos, ele me levou para cima, descendo
logo em seguida para surrupiar pedaços da deliciosa torta de nozes da mamãe
e avisar a mesma que estávamos no quarto. Ele deve ter usado todo o seu
charme para convencê-la de que eu estava bem e que não precisava de nada.
O que para mim foi ótimo. Não queria ninguém por perto. Ninguém
além do meu chefe.
Passamos o resto da noite embaixo das cobertas, assistindo filmes de
natal na tv e comendo porcarias. Conversamos sobre tudo e nada ao mesmo
tempo, esquecendo completamente o assunto passado.
À meia noite, o relógio indicou a virada e Aspen e eu nos abraçamos
comemorando o natal. É claro que o safado se aproveitou da situação e me
puxou para os seus braços, selando a nossa noite com um beijo intenso e de
tirar o folego.
Adormeci em algum momento após vários beijos e pedaços de torta,
Quando acordei novamente, ainda estava escuro e a televisão
desligada. Aspen dormia tranquilamente ao meu lado, agarrado a mim.
Sorrio com a visão do seu rosto adormecido contra o meu travesseiro,
enquanto uma de suas pernas está entrelaçada com a minha e seus braços me
abraçam protetoramente.
Tento-me desvencilhar dos seus braços, mas Aspen geme e se mexe
na cama. Prendo a respiração e paraliso. Como ele não dá sinal de que está
acordando, tento mais uma vez sair dos seus braços confortáveis, e desta vez
consigo.
A primeira parada que faço é no banheiro. Minhas necessidades
fisiológicas falando mais alto que o normal. Depois desço as escadas
lentamente, nas pontas dos pés. No caminho não vejo ninguém o que me faz
suspirar aliviada.
Nunca em três anos pensei que iria sentir tanta a falta do meu chefe.
Eu queria ir com Aspen, na verdade, durante todo o momento em que
o assisti arrumar as suas malas enquanto eu tentava mudar o dia da sua
passagem, eu insisti para acompanha-lo.
Só que ele conseguiu me fazer mudar de ideia em questão de
segundos. A palavra sogra e família foram o suficiente para mim.
Foi fácil vê-lo se despedir da minha família e prometendo voltar para
o próximo natal, ou até mesmo para as férias de verão. Meu pai confirmou
mais uma reunião com ele para depois das festas de fim de ano, e eu marquei
mentalmente o recado.
Depois era só passar para a agenda de Aspen e ele estaria ciente da
visita do meu pai.
A parte engraçada da sua despedida foi ver Aspen tirar uma com a
cara de Pietro, e fazer uma cara de nojo para Jade, que fez uma expressão
chocada e gritou com a minha mãe.
Nós dois saímos de lá correndo antes que ela começasse a fazer
barraco.
Então a parte difícil chegou.
A despedida foi estranha e difícil. Aspen não queria me soltar, e nem
eu a ele. Abraçamo-nos como um casal apaixonado enquanto a voz entediada
chamava pelo seu voo.
Aspen reforçou as suas palavras de hoje mais cedo, e informou que eu
estava de férias. Pelo menos até o dia dois do mês que vem.
E então ele se foi, arrastando a sua mala e hora ou outra virando para
trás.
Ao chegar a casa, fui recebida por Chad e Anne, que brincavam com a
minha sobrinha pequena na sala. Meu irmão deve ter notado a minha cara
vermelha de choro, pois não perdeu a oportunidade de me zoar.
— Você está parecendo a rena de nariz vermelho do papai noel! —
diz ele.
Sem animo algum, me sento ao seu lado e mostro o dedo do meio.
Não iria responder aquilo. Pelo menos não agora, quem sabe amanhã.
— Não fica assim, Mia. Logo vocês estão juntos novamente — Anne
diz docemente.
Pelo menos alguém nessa casa é capaz de dizer algumas palavras de
conforto para a minha pessoa!
— Obrigada, Anne. Mas vocês terão que me aturar até o dia um —
informo e meu irmão faz um som de desagrado.
— Ah, não! Puta merda! Aspen não fez isso conosco!
Chad começa a gargalhar e é acompanhado por Anne.
É, eu pensei que tinha uma amiga.
— Parem de rir os dois! Talvez eu me demita até lá! — falo sem
pensar, mas então volto atrás.
Aspen não iria me demitir, ele jamais faria isso. E eu não quero
chegar à empresa após o ano novo e receber os olhares curiosos e de repudio
dos meus colegas.
Então, a melhor solução era me demitir, e assim, eu e Aspen
poderíamos ficar juntos sem que ninguém ficasse espalhando fofocas.
Essa era a melhor ideia que já tive!
— O que você está aprontando, Mia? — Chad pergunta, tirando-me
dos meus devaneios sobre o futuro.
Encaro o meu irmão e sorrio. Ele sacou a minha e a de Aspen logo de
cara, e acredito que irá concordar com a minha linha de raciocínio.
— É sobre o meu trabalho — digo. — Acho que vou me demitir.
Fecho os meus olhos, já imaginando a chuva de palavrões e entre
outras coisas que irei ouvir.
Por um segundo, os dois ficam em silencio. Até que Chad resolve
abrir a boca.
— Por quê?
Oi?
— Porque o que?
— Porque você vai se demitir? Pensei que gostasse do seu emprego.
— Eu amo o meu emprego — Afirmo. — Mas a politica da empresa é
bem clara, e se Aspen não fizer, bem, alguém tem que ser o responsável e dar
o bom exemplo, não?
Chad balança a cabeça em negativa, provavelmente pensando que
fiquei louca. Mas não, eu não fiquei.
— Acho que você está se precipitando — diz ele. — Politicas de
empresas sempre mudam. Nada é irrefutável. E Mia, regras foram feitas para
serem quebradas.
Sorrio.
— Eu sei, maninho. Mas isso é apenas uma ideia, e tenho ainda
alguns dias para me decidir.
Respiro fundo e massageio o ponto acima dos meus olhos. Minha
cabeça está levemente dolorida, e provavelmente isso é culpa do chororo no
aeroporto.
Chad e Anne não dizem mais nada, ficamos os três em silencio,
apenas escutando os sonos de bebê que minha sobrinha faz.
Ora ou outra escuto passos apressados pela casa, mas ninguém desce.
Não depois da ceia de almoço que tivemos hoje, mais o frio que está fazendo,
metade da família deve estar dormindo à uma hora dessas.
Dormir. Isso era uma coisa boa, afinal de contas, meu sono foi
cortado várias vezes na noite passada.
— Acho que já vou ir nessa. O dia foi longo e a noite passada também
— falo me levantando. — Boa noite para vocês dois.
Jogo beijinhos para a pequena família e me viro em direção ao
corredor que dá para a escada. Apenas para dar de cara com a última pessoa
que eu gostaria de ver durante os meus dias em Fergus Falls: Jade.
— Oi prima — diz a cínica. — Aspen já foi? Pensei que os dois iriam
continuar com o teatro até o ano novo.
Gelo.
— O que você quer dizer com isso, Jade? — pergunto. Ela abre o seu
sorriso falso e dá um passo na minha direção.
Atrás de mim, sinto Chad se levantar e parar ao meu lado.
— Eu ouvi tudinho, Mia — ela praticamente grita. Provavelmente
querendo palco para o seu show. — Você não conheceu Aspen porque
trabalha para um amigo dele. Ele é o seu chefe! Eu o ouvi dizer ontem à noite
para você, e hoje, quando ele estava lá fora falando com a tal amante dele, eu
o ouvi confirmar tudo! Além de corna, é a assistente mal comida.
Meu mundo literalmente para.
O ar falta em meus pulmões e sinto as minhas pernas falharem. Ouço
Jade dizer os absurdos dela, mas não é o fato de ela dizer que Aspen estava
falando com a amante que me deixa sem chão, porque eu sei que não era.
O espanta o diabo para fora de mim são as suas palavras sobre a
minha verdadeira relação com o Aspen.
A vadia sabe de tudo!
— Jade, eu não vou admitir que você fale assim da minha irmã! —
Chad sai em minha defesa.
— Ou o que? Vai fazer o que para me impedir, Chadizinho? Você
sabe que sua irmãzinha perfeita está errada, e mesmo assim quer protege-la?
Corajoso, você.
Chad dá um passo à frente, quase me derrubando.
Saio do meu estado de torpor e seguro o braço do meu irmão com
força. Ele me encara furioso e sei que mais uma palavra de Jade, ele irá voar
no pescoço dela.
— Não — Meu tom é firme e rouco. Ele balança a cabeça e faz
biquinho. — Chad, não. O papai e a mamãe ficarão furiosos. E eu não voltei
para brigar. — falo e meu irmão parece recuar. Viro para encarar Jade, que
sorri malévola. — E você tem razão, eu sou a assistente. Mas não mal comida
como você pra sair infernizando a vida dos outros. Graças a Deus eu fui uma
menina boazinha e recebi um homem maravilhoso de natal. E você, Jade? O
que você fez de bom para as outras pessoas?
Jade engole em seco, por um segundo a vejo perder a postura, que
rapidamente ela recupera, jogando o cabelo para trás do ombro e me lançando
um olhar sínico.
— Eu sempre estou tentando ajuda-la, prima. E olha só como você me
retribui! Estou tentando te avisar que seu chefe não vale nada, e é assim que
me agradece?
Ela pisca os cílios falsos para mim, enfatizando o seu drama com a
mão sobre o peito e com uma cara triste. Mas quem a conhece, que a compre!
E eu sei que ela não quer nada além de me ver chorando como há dois natais
atrás.
Só que eu não sou mais a menininha que saiu de casa para se virar na
cidade grande.
— Eu te conheço, Jade. E sei o que está tentando fazer, mas não vai
funcionar. Não desta vez. — Me aproximo dela e a mesma se encolhe. — Eu
não sou mais a menina que você humilhou e roubou o namorado. Há uma
grande diferença entre mim e a pessoa que fui. Então não venha destilar o seu
veneno para cima de mim, não vai funcionar. Não mais.
Cansada, me viro para sair dali o quanto antes. Não vou dar palco
para as maluquices da minha prima. Já deu! São anos fugindo e sentindo que
eu não era absolutamente nada. Mas agora as coisas são diferentes, eu não
sou mais a Mia de antes. Sei que errei ao trazer Aspen para cá, mas no fim,
nós dois descobrimos que somos dois idiotas perfeitos um para o outro.
Eu confio nele, e por um milagre de Deus, ele também confia em
mim.
Continuo o meu caminho em direção as escadas. Até que a menção do
nome daquela mulher me paralisa.
É então que meu mundo desmorona.
— Tiffany Devons!
Viro-me lentamente para encarar Jade.
— O que você disse? — indago entre dentes.
Agora ela tem a minha completa e total atenção.
— Tiffany Devons, a mulher que seu noivinho te trai. — Ela ri. —
Tiffany a mulher que sempre está ao lado de Aspen. Em quase todos os
lugares. Tem certeza que é você mesmo que ele quer? Porque ao que tudo
indica, Mia, você é só o passatempo de Aspen. Quem te garante que ele não
está agora mesmo voltando para os braços da sua amada Tiffany enquanto
você está aqui, presa em Fergus Falls chorando?
Ouvir suas palavras é como levar um soco no estomago. Sinto-me
tonta e uma vertigem me ataca. Jade continua o seu ataque. Respiro e inspiro
fundo, tentando me manter calma. Mas a filha da mãe conseguiu! Ela de
alguma forma conseguiu me atingir.
— Chega, Jade! — Alguém grita mais alto que o protesto da maluca.
— Eu não quero ouvir mais nada vindo de você! E, Mia, vá para o seu quarto.
Eu já vou falar com você.
Identifico a voz como a da minha mãe. Olho na direção da sua voz e
encontro o seu olhar preocupado. Ela balança a cabeça para mim, indicando
as escadas, e antes que eu possa retrucar e dizer que não, Chad me arrasta
para longe dali.
Subimos os degraus pulando dois de cada vez, e ao entrar no meu
quarto digo ao meu irmão:
— A mamãe e o papai devem estar decepcionados comigo.
Meu tom é apenas um sussurro. Minha tristeza tomando proporções
estratosféricas.
— Não acredite nela, Mia. Não deixe que Jade transforme o seu natal
em uma droga — meu irmão diz me segurando pelos ombros.
— Chad, ela já entregou tudo. Eu deveria ter contado a verdade para a
mamãe, pelo menos teria me poupado dessa vergonha.
Abaixo a minha cabeça em sinal de vergonha.
— Não, Mia. Não pense assim! Se não fosse por isso, você e o
Russell não teriam descoberto os sentimentos que um tem pelo o outro.
— O que você quer dizer com isso, Chad?
Levanto o meu olhar para ele.
Meu irmão tem um sorriso convencido no rosto, nem parece que até a
poucos minutos ele estava preparado para a guerra.
— Não é obvio Mia? Se não fosse por sua mentira, você e Aspen não
teriam vindo para cá. Você talvez não tivesse enfrentado a Jade e descobrir
que é possível encontrar o amor mesmo depois de quebrar a cara.
Sorrio. É, ele tem razão. Mas...
— E se Jade estiver certa? E se ele foi atrás da Tiffany?
— Não acho que ela esteja — responde ele. — Aspen não queria ir e
te deixar sozinha. Ele me fez prometer que cuidaria de você até o dia do seu
retorno. — Chad revira os olhos ao se lembrar de algo. — Como se eu não
fosse proteger a minha irmãzinha!
Rimos e da cara de pau de Aspen. Só ele pra dizer uma coisa assim
para o meu irmão.
Chad respira e resmunga sobre ter que voltar lá para baixo e verificar
se todo mundo ainda está vivo e me beija na testa, antes de sair fechando a
porta atrás de si.
Sento-me na cama e espero pela a minha mãe. Ela provavelmente vai
me xingar até a minha última geração.
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