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7 ira a nen TNC NTT OAR Vee: | De Newton ate i ia dos quanta Este classico da divulgacdo cien- tifica, divulgac&o que os «puristas» tém vindo, ao longo do tempo, a con- siderar como supérflua ou, até, im- possivel, foi, e continua a ser, um livro basico para a compreensio — a nivel do grande pthlico, evidente- mente —da fisica moderna e, em particular, da teoria da relatividade. O admiravel trabalho de colaboragio entre Leopold Infeld e Albert Eins- tein, no qual a modéstia dos verda- deiros sébios nao desempenha menor lugar que o seu imenso saber, veio, com efeito, abrir a muita gente pers- pectivas de maravilha sobre o livro cifrado que a Natureza incessante- mente nos vai dando a ler! por ALBERT EINSTEIN e LEOPOLD INFELD «O esforgo para ler o grande ro mance policial da Natureza é velho como o préprio pensamento humano. Mas ha apenas uns trés séculos que os estudiosos comecaram a com- preender a Ifngua em que o livro est4 escrito. E a partir desse tempo —a época de Galileu e Newton— a leitura passou a fazer-se com ra- pidez. Foram-se desenvolvendo téc- nicas de investigagao, métodos sis- tematicos de descobrir e seguir pistas, Alguns dos enigmas recebe- ram solucéo —embora muitas solu- Ges fossem precdrias e acabassem abandonadas em consequéncia de posteriores pesquisas. Um problema fundamental, e por milhares de anos completamente obsourecido pelas suas préprias com- plicagées, € o do movimento. Todos os movimentos observdveis na Na- tureza—o da pedra lancada para 0 ar, o do navio que sulca as dguas, o do automdével que roda pela es- trada — sZo na realidade muito com- plicados. Para compreendé-los temos que comec¢ar pelos casos mais sim- ples e gradualmente irmos subindo. Consideremos um corpo em repouso, no qual nao haja nenhum movi- mento. Para mudar a posic¢ao desse corpo € necessdério que sobre ele exercamos alguma influéncia -- em- purré-lo, ergué-lo ou deixar que outros corpos, como os cavalos ou os motores, o fagam. A nossa ideia intuitiva do movimento correlacio- nao a actos de puxar, empurrar, le- vantar. Experiéncias muito repetidas fazem-nos arriscar a ideia de que temos de empurrar com mais fora, se queremos que 0 Corpo se mova mais depressa. Parece natural con- cluir que, quanto maior for a accao exercida sobre um corpo, tanto maior ser4 a sua velocidade, A in- tuicgdo diz-nos que a velocidade esta essencialmente ligada a ac¢ao.» COLECGAO VIDA E CULTURA ALBERT EINSTEIN LEOPOLD INFELD A EVOLUGAO DA FISICA O desenvolvimento das ideias desde os primitives conceitos até @ Relatividade e aos Quanta a EDICAO «LIVROS DO BRASIL» LISBOA Rua dos Caetanos, 22 Theo da edigao original: ‘THE EVOLUTION OF PHYSICS ‘The arowth of ideas trom enzly concepts to relativity and quanta Teadueio de MONTEIRO LOBATO Cape de A. PEDRO ‘Reservadee 00 direton pela leallogto om vigor digs Portugues felte por acorde com © Companhia Eaitern Nacional —8, Paulo —- Brasil VENDA INTERDITA NA REPOBLICA FEDERATIVA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL A EvOLUGRO DA FISICA INDICE Agradecimentos Prelécio ... SURTO DA INTERPRETAGAO MECANICISTA. © grande romance policial, 11—A primeira pista, 13— ‘Vectores, 18—O enigma do movimento, 25-~Uma pista que permanece, 37—€ o calor uma substinciar, 41 —A miontanha- usa, 48—A taxa de cimbio, 5¢—O fundo filoséfico, 54— Teoria cinética da matéria, 58 DECLINIO DA CONCEPGAO MECANICISTA. .. Os dois Muidos eléctricas, 6—Os fluidos magnéticas, 78 — Primeira dificuldade séria, 82 —A velocidade da luz, 87 —Luz como substancia, 89—O enigma da cor, 92—Que ¢ uma onda, 95—A teoria ondulatéria da luz, 100—Ondas lumi. noms Jongitudingis ou transversais, 19—O éter e a teoria mecanicista, t11 CAMPO, RELATIVIDADE 6 se cos sess ee soso eee © campo como representagd0, 117 —Os dots pilares da teoria de campo, 128—A realidade do campo, 133—Campo € Ger, 159 —O andaime mecfinico, 142— Eter € movimento, 151 —Tempo, distincia, relatividade, 162—Relatividade © me- cfnica, 175—0 continuo espacotempo, 180 —Relatividade geral, 188— Dentro e fora do elevador, 192—Geometria € experiancia, 199 —Relatividade geral e sua verificagio, 210— Campo e matéria, 214 QUANTAs os Continuidadedescontinuidade, 223—-Os «quanta» elementares de matéria e de electricidade, 225—-Os equantar de luz, 250 —Espectro da luz, 236—Ondas de matéria, 241—Probabi- lidades-ondulatérias, 247—Fisica © realidade, 258 o ns AGRADECIMENTOS Desejamos expressar os nossos sinceros agrade cimentes a quantos to amavelmente nos. auxilia- ram na preparacio deste livro, particularmente: Aos Profs.: A. G. Shenstone, de Princetown, Nova Jersey, e St, Loria, de Lwow, Polénia, pelas fotogra- fias da pagina 219. Ao Sr. 1. N. Steinberg, pelos seus desenhos. A Dr M, Phillips, pela revisio do manusctito ¢ pela sua valiasa cooperacio. ABe Lk PREFACIO Quem pega neste livro tem 0 direito de indagar da sua razio de ser e de perguntar a que puiblico se dirige, No comego da obra mito é fécil a resposta; torna-se Facil no fim—mas é j4 supérflua. Bem mais simples seré dizer © que 0 Mvro ndo é. Nao & por exemplo, um compéndio dé fisica—nada de um curso efementar de teorias e tactos isicos. A nossa intengdo pende mais para um largo esboco das tentativas do espirito humano no apreender as conexdes entre 0 mundo das ideias ¢ 0 dos fenémenos. Para isso pro- curaremos ver as forgas activas que compelem a ciéncia a inyentar ideias em correspondéncia com a realidade do nosso mundo. Mas a representago tem que ser simples. No amon- toado de factos e conceitos temos de escolher uma estrada que nos parega a mais caracteristica ¢ significativa. Factos e teorias no alcangados por esta estrada serdo omitidos. © fim que visamos obriganos a fazer uma escolha bem defi- nida de factos ¢ ideias. A importéncia de um problema ndo depende do nimero de paginas a ele consagradas. Deixdmos de lado algumas linhas essenciais de pensamento; ndo que as considerdssemos sem importéncia, mas porque no se achavam 4 beira do caminho. {71 Durante a feitura do livro, longos debates tivemos a pro- pésito das caracteristicas do leitor idealizado, ponto que muito nos preocupou. Imaginémos um leitor de grandes qualidades, mas por completo desconhecedor da fisica e des mateméticas; interessado, entretanto, em ideias fisicas e filos6ticas — e muito admiramos a paciéncia desse leitor nas passagens menos interessantes ¢ mais penosas. Imagindmos um leitor que sabe que, para entender qualquer pégina do livro, tem de ler cuida- dosamente as precedentes, Um leitor que sabe que um livro de citncia, embora popular, ndo pode ser lido como se !éem os romances. Trata-se de uma simples conversa entre nés, de um lado € esse leitor imagindrio, do outro. Poderd ele achar a obra interessante ou magadora, excitante ou sonolenta — mas © nosso objective terd sido atingido, se Ihe dermos uma ideia da luta sem fim em que o espfrito humano se empenhou para @ compreensao das leis que regem os fenémenos fisicos. [s] SURTO DA INTERPRETAGKO. MECANICISTA © GRANDE ROMANCE. POLICTAL romance policial perfeito existe na femaginagdo. Esse 1o- mance mostra todos os fios da meada ou pistas essenciais, ¢ compelenos a formular 2 nossa teoria pessoal sobre 0 caso, Se seguirmos cuidadosamente o enredo, por nés prdprios descobriremos 2 solugio, antes que o autor nola desvende no fim do livro. E, além de nos aparecer no momento exacto ‘em que a esperames, nZo nos desaponta— 20 contririo do que se d& nos mistérios vulgares. ‘Ser-nos4 possivel comparar 0 leitor de tal ramance aos crentistas que através de sucessivas geragdes continuam a procurar a chave dos mistérios do livro da Natuneza? A com- paragio é falsa; teré mais tarde de ser abandonada; mas possui uma parcela de justificago que pode ser alargada e modificada com proveito para o esforco da ciéncia no decifrar dos mistérios do Universo. © grande romance policial do Universo est4 ainda sem solugio, E nem sequer podemos afirmar que comporte solu- Go. A sua leitura j4 nos dew muito; ensinou-nos os rudimen- tos da lingua da Natureza; habilnou-nos a apreender nume- vosos fios da meatla, ¢ tem sido uma fonte de excitacao ¢ deleite na penosa marcha da ciéncia. Percebemos, entretanto, que, apesar de todos os volumes lidos © compreendidos, [11] ‘estamos ainda muito longe da solucio completa—se & que ‘existe. Em cada estdgio procuramos encontrar explicagio que harmonize os pontos j4 descobertos, Teorias hipotéticas tém explicado muitos factos, mas nenhuma solucio geral, que retina todos os fios, apaneceu ainda. Frequentemente uma teoria na aparéncia perfeita mostrase falha logo que a leitura do grande livro prossegue. Novos factos surgem que a contra- dizem ou nfo so por ela explicados. Quanto mais lemos 3 Natureza, mais Ihe apreendemos a perfeicio —embora a solu- ‘cio do enigma se afaste com essa. maior leitura. Em todos os romances policiais, desde os primorasos de Conan Doyle, momento chege em que o detective retine todas 0s elementos de que necessita para resolver pelo menos parte do problema, Esses elementos podem parecer muito estranhos centre si, € incoerentes, O arguto detective, entretanto, sente ‘que bastam, e que apenas pela forga do pensamento poders ligé-los todos num conjunto solucionador. E vem entio a hora ‘em que os Sherlocks pegam do violino ou se estiram na cadeira preguicosa, de cachimbo na boca, até que... Santo Dens! Heureka, heureka! Nio sé encontram a explicagio para 06 factos jé coligides. como deduzem que umas tantas coisas devem ter ocorrido, E como sabem agora para onde se dirigir, podem, se querem, coligir mais factos comprovativos das suas teorias, Mas o cientista que 1@ 0 livro da Natureza tem’que achar a solugo por si mesmo; no pode, como o impaciente leitor de novelas, saltar péginas para ver o desfecho, Para obter uma solugio, ainda que parcial, o cientista sendo 20 mesmo tempo leitor e pesquisador tem de reunir factos ¢ A forca de pensa- mento légico coordené-los, coerente extensivamente. © nosso objectivo, nas paginas que se seguem, & descrever cem largos tacos a obra dos fisicas, que corresponde As con- jecturas, as «dedugdes: do detective. Preocuparnosemos, sobretudo, com © papel do pensamento € das ideias na aven- ‘turosa caga de solugées dentro do mundo fisico. [ray A PRIMEIRA PISTA O esforco para ler o grande romance policial da Natureza & velho como o préprio pensamento humano. Mas h4 apenas uns trés séculos que os estudiosas comegaram a compreender a lingua em que o livro esté escrito. E a partir desse tempo — a época de Galileu e Newton —a leitura passou a fazer.se com rapidez. Foram-se desenvolvendo técnicas de investigacio, métodos sisteméticos de descobrir e seguir pistas. Alguns dos enigmas receberam soluyo—embora muitas solugdes fossem precérias ¢ acabassem abandonadas em consequéncia de pos- toriores pesquisas, Um problema fundamental, ¢ por milhares de anos com- pletamente obscurecido pelas suas préprias complicagdes, € 0 do movimento. Todos os movimentos observiveis na Natureza—o da pedra langada para o ar, 0 do navio que sulea as aguas, 0 do automével que roda pela estrada — so na realidade muito complicados. Para compreendé-los temas que comecar pelos casos mais simples ¢ gradualmente irmos subingo. Consideremos um corpo em repouso, no qual no haja nenhum movimento, Para mudar a posic3o desse corpo & necessério que sobre ele exergamos alguma influéncia — empurrélo, erguélo ou deixar que outros corpos, como os cavalos ou 05 motores, 0 fagam. A nossa ideia intuitiva do movimento correlacionao a actos de puxar, empurrar, levan- tar. Experiéncias muito repetidas fazem-nos arriscar a ideia de que temos de empurrar com mais forca, se queremos que © corpo se mova mais depressa, Parece natural concluir que, quanto maior for a acco exercida sobre um corpo, tanto maior serd a sua yelocidade, Um caero de quatro cavalos vai mais depressa que um de dois. A intuicio diz-nos que a veloci- dade esta essencialmente ligada & accdo. Qs leitores de novelas sherlockianas sabem como as pistas falsas perturbam a histéria e atrasam 2 solucio, © método de raciocinar ditado pela intuigao era uma pista errada que levou [13] 2 ideias falsas sobre o movimento, as quais perduraram por séculos. A grande autoridade de Aristételes foi talvez a causa principal da longa f& no intuit, Na Mecdnica, que h4 dois mil anos € atribuida a esse filésofo, lemos © seguinte: © corpo em movimento estaciona quando a forga que © impele cessa de agir. ‘A descoberta € 0 emprego do raciocinio cientifico, que devemos a Galileu, foi um dos mais importantes triunfos regis tados na histéria do pensamento humano—e marcam 0 verda- deiro comego da ciéncia fisica. Ensina-nos essa descoberta que as conclusées intuitivas baseadas na observacio imediata nem sempre merecem f, porque muitas vezes levam a pistas erradas, Mas como erra a intuigio? Poder ser erro dizer que um carro de quatro animais deve rodar mais depressa que um de apenas dois? Examinemos mais de perto os factos fundamentais do movimento, tomando como ponto de partida simples experién- cias de todos.os dias, familiares a0 homem desde os comecos da Civilizagio ¢ adquiridas na drdua luta pela existéncia. Suponhamos que alguém vai por uma estrada plana a empurrar um carrinho e subitamente pare de empurrilo. Antes de imobilizar-se, o carrinho ainda se mover$ até curta distincia. Surge 2 pergunta: como seré possivel aumentar essa distincia? H4 vérios metos: azeitar 0 eixo, tomar a estrada mats lisa. Quanto mais lisa for a estrada e mais maciamente girarem as rodas, maior seri a distincia. per- corrida, E que aconteceu em consequéncia do azeitamento do eixo e do alisamento da estrada? Apenas isto: diminuigio das influéncias extemas. O efeito do que chamamos atrito dimi- nuju, tanto no contacto do eixo com as rodas, como no das todas com 0 chao, Isto jé € uma. interpretagio tedrica da evidéncia observivel—uma interpretagio, na realidade, arbi- trdria. Se dermos mais um passo 3 frente, entraremos 2a pista certa, Imaginemos uma estrada perfeitamente lisa e um sis- [14] tema de eixo e rodas em que no haja nenhum atrito, Neste caso, nada, interferiria no carrinho, o quat rodaria perpetua- mente, Formulamos esta conclusio unicamente por forca do pensamento, idealizando uma experiéncia que nio pode ter realidade, visto ser impossivel eliminar todas as influéncias externas. Mas esta experiéncia idealizada dé-nos a base me- nica do movimento. ‘A comparacio dos dois métodos de abordar o problema permitenos dizer: a ideia intuitiva € que quanto maior for acco, tanto maior serd a velocidade. Assim, a velocidade indica se h4 ow nfo forcas extemas actuando sobre o corpo. Galileu mostrou mais correctamente que, se um corpo nio é puxado ou impelido, nem influenciado de qualquer maneira (ou, mais sinteticamente, se menhuma forga externa actua sobre ele), esse corpo se move uniformemente, isto é, sempre com a mesma yelocidade e em linha recta, Sendo assim. a velocidade no indica que forcas extemas estejam ou nio aginde sobre o corpo. A conclusio de Galileu foi mais tarde formulada por Isaac Newton nos termos da lei da inércia. ‘Tomou-se uma das primeiras coisas que de ffsica castumamos decorar na escola: Todos os corpos se conservam em estado de repouso, ou em movimento uniforme em linha recta, salvo se forem com- pelidos a sair desse estado por acgéo de forcas exercidas sobre ele. i vimos que esta lei da inércia no pode ser directamente deduzida de qualquer experiéncia; decorre do pensamento especulativo baseado na observagao. A experiéncia ideal que © caso exigia, conquanto nfo possa ser realizada, leva-nos a uma profunda compreensio das experitncias realizdveis. Da varledade de movimentos complexos que nos cerca ‘vamos tomar, para nosso primeiro exemplo, o «movimento 113] uniformen, E 0 mais simples, porque esti livre de forcas extemas actuantes. Mas o movimento uniforme nio pode ser realizado; a pedra que cai de uma torre ow o carrinho empur- rada na estrada no podem, nunca, moverse de modo absolu- tamente uniforme, porque ¢ impossivel eliminarmos a influén- cia das forcas externas, Nos romances policiais, as pistas mais Sbvias frequente- mente levam-nos a suspeitas injustas. Nas nossas tentativas para apreender as leis da Natureza, igualmente verificamos que as explicagdes mais intuitivamente Sbvias nos levam também, muitas vezes, a erros. © pensamento do homem cria do Universo um quadro em perpétua mudanga, A contribuicio de Galileu destruiu'a inter- pretagio intuitiva para entronizar uma interpretagio nova. E essa a grande significagio da sua descoberta. Uma pergunta relativa a0 movimento surge imediatamente. Se a velocidade nao é resultante das forgas externas actuantes sobre um corpo, que é entio? A resposta a esta questio funda- mental foi dada por Galileu e, de modo ainda mais conciso, por Newton — advindo daf mais uma pista para a nossa inves- tigagdo. Para conseguirmos a resposta correcta, temos de pen- sar um pouco mais 2 fundo no caso do carrinho a todar na estrada perfeitamente lisa. Na nossa experiéncia ideal a uni- formidade do movimento € devida 4 auséncia de forcas exter- nas, Imaginemos agora que @ esse carrinho em movimento uniforme damos um impulso no sentido deste movimento. Que acontece? Claro que a velocidade aumenta, Se déssemos um impulso no sentido contrério, 2 velocidade decresceria No primeiro caso, 0 carrinho acelera o movimento gracas 20 impulso, e no segundo retarda-o. Conclusio: a acco de uma forca externa muda a velocidade. Assim, a velocidade pro- priamente dita nao é consequéncta do impulso dado ao carri- ho, mas as variagdes da velocidade ow as aceleragées do movimento é que o sio. A forga interferente aumenta ou [16] -diminui a velocidade conforme actua no sentido do movimento ou no sentido contrério, Galileu percebeuo ¢ com clareza 9 disse em Duas Ciencias Novas: «qualquer velocidade comunicada a um corpo cm movi- mento seré mantida enquanto as causas externas de acele- ragdo ou retardamento estiverem ausentes, condigdo que 36 é encontrada em planos horizontais; se os planos forem inclina- dos para baixo, estard sempre presente uma causa de acelera- 0; e se inclinados para cima, um retardamento; disto se conchti que 0 movimento ao longo de um plano horizontal & perpétuo; pois se a velocidade for uniforme no poderé ser iminuida, e muito menos ser destrufda, Seguindo a boa pista chegamos a uma compreensio mais profunda do problema do movimento, A conexio entre a forca ¢ variagdo de velocidade (e nfo entre a forga ¢ velocidade, como pareceria intuitive) constitui o alicerce da mecanica Aldssica formulada por Newton. Estamos a fazer uso de dois conceitos muito importantes ‘na mecinica de Newton: o de forca ¢ 0 de variacio de veloci- dade. No ulterior desenvolvimento da citncia serdo ambos alargados e generalizados. Por esse motivo temos de examind-los mais de perto. Que é forga? Intuitivamente sentimos que € 0 que a prd- pria palavra significa. © conceito intuitivo de forga advém do esforgo de empurrar, puxar ou lancar; advém da sensa¢ao muscular que acompanha esses actos. Mas, se generalizarmos, iremos muito além desses simples exemplos. Podemos pensar em forca sem figurarmos um animal que puxa um carro. Falamos da fora de atraccdo entre o Sol ¢ a Terra, entre a Terra e a Lua, como também falamos das forcas que causam as marés, Falamos da forca por meio da qual a Terra com- pele tudo quanto sobre ela existe a permanecer sob a sua 2-2. rica {171 esfera de influéncia; falamos da forga dos ventos a ondear a gua dos oceanos ou a agitar a folhagem das drvores. Sempre ‘que observamos uma variagdo de velocidade, temos de admitir uma forca externa responsével. Diz Newton nos seus Principios: Uma forga actuante é uma acgdo exercida sobre um corpo. de modo a mudarthe 0 estado, seja de repouso, seja de movi- mento uniforme e em linha recta. Esta forea consiste apenas na acedo; ¢ ndo permanece no corpo depois que a acgdo passa. Porque 0 corpo mantém cada novo estado adquirido em razdo da «vis inertiaes —da forca da inércia. As forgas actuantes sio de diferentes origens, como as que vém da percussio, da pressio, da atracgdo centripeta. Se uma peda € largada do alto de uma torre, 0 seu movi- mento de nenhum modo & uniforme: a velocidade aumenta a medida que a pecra cai. Podemos concluir que uma forca externa est§ actuando na direccfo do movimento. Por outras palavras; a terra atrai a pedra, Vejamos outro exemplo, Que acontece com a pedra langada para cima? A velocidade vai decrescendo até que a pedra chega a um ponto mais alto € comega a cair. Este decréscimo da velocidade € causado pela mesma forca que acelera a queda de um corpo, Num caso ‘a forca actua no sentido do movimento ¢ no outro actua em sentido contrario, A forca é a mesma, mas determina acele- ragio ou diminuigfo da velocidade, conforme o sentido do movimento da pedra for para cima ou para baixo, VECTORES Todos 0s movimentos que vimos considerando sio recti- Tineos, isto é, em linha recta. Temos agora de dar um passo adiante, Com analisar os casos mais simples ganh4mos com- 118] Preenséo das leis da Natureza; nestas primeiras tentativas, tinhamos de fugir dos casos maiss intrincados. A linha recta é mais simples que a curva, mas no podemos satisfazer-nos apenas com a compreensio do movimento recti- lineo, Os movimentos da Lua, da Terra ¢ dos planetas, justa- mente 0s corpos aos quais os principios da mecanica foram apticados com maior brilhantismo, so movimentos curvos— € a passagem do movimento rectilineo para 0 movimento curvilineo . traznos novas dificuldades. Precisamos ter a coragem de enfrentélas, caso queiramos compreender os principios da velha mecanica que nos deram as primeiras pistas ¢ assim formaram 0 ponto de partida do desenvolvi- mento da ciéncia. Consideremos outra experiéncia ideal, em que uma esfera perfeita rola uniformemente sobre uma mesa perfeitamente lisa, JA sabemos que se dermos impulso a esfera, isto €, se uma forga externa actuar sobre ela, a sua velocidade muda. Suponhames agora que a direcco do impulso ndo é, camo ne exemplo do carrinho, na direccio do movimento, mas sim perpendicular 4 linha do movimento. Que sucede & esfera? ‘Trés estédios do movimento podem ser distinguidos: 0 movi- mento inicial, a acgG0, da forga e 0 movimento final depois que a forca cessa de agir. De acordo com a lei da inércia, as velocidades de antes e de depois da accio da forca sic ambas perfeitamente uniformes. Mas h4 uma diferenca entre © movimento uniforme de antes e 0 de depois da acgio da forga: a direcg3o mudou, © rumo inicial da esfera e a direc- do da forca sio perpendiculares entre si, O movimento final ndo sera na direcc3o de nenhuma dessas linhas, mas entre clas, mais perto da direccio da forga, se impulso for forte ¢ a velockdade inicial pequena. mais perto da linha original do movimento, se o impulso for fraco e a velocidade inicial grande. A nossa conclusio, baseada na lei da inércia, & que, em geral, a accio de uma fora externa muda nio [19] 36 a velocidade como ainda pode mudar a direccio do movimento, A compreenso deste facto prepara-nos para a generalizagdo introduzida na fisica pelo conceito de vector. Prossigamos no nosso rudimentar modo de raciocinae. © ponto de partida continua sendo a lei da inércia de Galileu, Ainda estamos longe de esgotar as consequéncias desta pre- ciosa pista do enigma do movimento, Consideremos duas esferas que sobre a mesa lisa se movem em direcges diferentes. Para termos uma representacio mental definida, vamos admitir que as duas direccdes sio perpendiculares entre si, Desde que ndo hd forcas externas actuantes, temos movimentos perfcitamente uniformes. Supo- nnhamos ainda que as velocidades sio iguais, ou que as esferas percorrem a mesma distancia no mesmo espago de tempo. Poderemos dizer que as duas esferas tém a mesma velocidade? A resposta seré sim ou nao! Se as marcadores de velocidade de dois carros mostram igualmente quarenta quilmetros por hora, o usual é dizer-se que os carros tém a mesma velocidade. Mas a cincia precisa de criar lingua ¢ conceites préprios para uuso préprio. Os conceitos cientificos em regra comecam com os usados na linguagem comum e ganham em preciso, de modo a serem aplicdveis a0 pensamento cientifico. Do ponto de vista fisico ¢ vantajoso dizer que as veloci- dades das duas esferas a moverem-se em direccdes diferentes sio também diferentes. Por mera conven¢3o, 0 mais conve- niente é dizer que quatro carros que se afastam de um mesmo ponto por diferentes estradas ndo tm a mesma velocidade, embora os respectivos velocimetros registem a de quarenta quilémetros por hora, Esta diferenciag3o entre a velocidade € a rapider ilustra o modo pelo qual a fisica, partindo de con- ceitos em uso na vida comum, os transforma de um modo itil ao desenvolvimento cientifico. Se uma distincia é medida, o resultado exprime-se por um certo niimero de unidades. O comprimento de uma vara pode ser de trés metros e sete centimetros; 0 peso de um objecto [20] pode ser de dois quilos ¢ trés gramas; um intervalo de tempo pode ser de tantos minutos ou segundos. Em cada caso a medide exprimese por um niimero, Mas um niimero apenas nem sempre € bastante para exprimir os conceitos fisicos. © reconhecimento deste facto assinalou um sério avango na investigagio cientifica. Assim, uma direc¢fo, tanto quante um mimero, & essencial para a caracterizagio da, velocidade. \ Toda a quantidade possuindo simultaneamente grandeza ¢ direcgio € representada pelo que se chama vector. Podemos adequadamente simbolizé-lo por uma flecha, A velocidade serd representada por uma flecha, ou, segundo a nossa convengio, por um vector cujo comprimento, em qual- quer escala de unidades que escolhamos, & a medida da veloci dade ¢ cuja direccdo € a direcgio do movimento. Se quatro carros partem com a mesma velocidade do mesmo ponto afastando-se em direccdes divergentes, as suas respectivas yelocidades podem ser representadas por quatro vectores do mesmo comprimento, como se vé no grafico. Na escala usada, cada centimetro representa quarenta quilé- [a1] metros por hora. Deste modo qualquer velocidade pode ser ‘expressa por tum vector; ¢, inversamente, st a escala é conhe- cida, podemos conhecer a velocidade por meio de um vector. Se dois carros se cruzam numa estrada € os seus veloct- metros marcam quarenta quilémetros por hera, caracterizamos essas velocidades por meio de dois diferentes vectores cujas flechas apontam para direccdes opostas, Nos metropolitanos de Nova Iorque vemos flechas em direc¢6es opostas indicando _ <————— uptown» ¢ «downtown». Mas todos os comboios que, com a mesma rapidez, se movem «uptown» tém a mesma veloci- dade, a qual pode ser representada por um vector tinico. Nada h4 no vector que indique as estagées pelas quais © comboio passa, ou em qual das linhas paralelas ele corre. Por outras palavras: todos os vectores, como os figurados logo abaixo, podem ser convencionalmente olhados como iguais; estiram-se a0 longo da mesma linha ou de linhas para elas, sio de igual comprimento e as suas flechas apontam na mesma direccdo. O grifico seguinte mostra vectores diferentes, porque variam de comprimento ou ditec¢&o, ou de comprimento © direcgio, / Esses quatro vectores podem ser tracados todos = divergi- rem de um mesmo ponto: Desde que 0 ponto de partida nio importa, tais vectores podem representar as velocidades de quatro carros que se afastam de um mesmo ponto, ou as velocidades de quatro varros que correm em diferentes partes do pais, viajando nas direcoes indicadas, com a rapidez indicada. Esta representago por meio de vectores pode ser usada para descrever os factos jd discutidos antetiormente e rela- cionados com 0 movimento linear. Falmos do carrinho a mover-se uniformemente em linha recta e a receber um impulso na direccdo do movimento, impulso que the aumenta [23] a velocidade. Graficamente isto pode ser figurado por dois Yectores, um mais curto, representando a velocidade antes do impulso ¢ um mais longo, na mesma direcg3o, representando a velockdade depois do impulso. A significago do vector em Jinha pontuada é clara: representa a mudanga de velocidade causada pelo impulso. E no caso em que a forca do impulse se dirige em sentido contrério do movimento do carrinho. fazendo-o diminuir de velocidade, o diagrama varia assim: — Novamente a linha pontuada corresponde a uma mudanca de velocidade; mas neste caso em direcgio diferente. Tornase aro que nfo sb as préprias velocidades, como também as suas variagées, séo vectores. Mas cada variagio de velocidade € devida 4 acgo de uma forca externa; assim, essa forca também pode ser representada por um vector. Para caracte- rizar uma forga néo basta conhecer 0 esforgo com que empur- ramos © carrinho; temos ainda de dizer em que direccfo ‘© empurramos, A forga, do mesmo modo que a velocidade ou a sua variagio, deve ser representada por um vector ¢ nio por um ntimero apenas. Por isso: a forga exterior € também um vector e h4de ter a mesma direcc3o da mudanga de velo- cidade. Nas duas iiltimas figuras os vectores de linhas pon- tuadas mostram com igual correccio a direc¢ao da forga e da mudanga de velocidade. [24] Neste ponto, o céptico observard que nao vé vantagem na introdugio dos vectores, j4 que tudo néo passa do translado de factores previamente admitidos para uma linguagem pouco familiar e complicada. De momento é dificil convencer © céptico de que esté errado. Quem tem razio de momento € qealmente ele. A seguir, entretanto, veremos que esta lin- guagem estranha nos leva a importante generalizagio na qual ‘08 yectores aparecem como essenciais. 0 ENIGMA DO MOVIMENTO Enquanto lidamos apenas com o movimento em linha recta toma-se-nos impossivel compreender os movimentos ohser- vados na Natureza. Temos que atentar nos movimentos em curva e determinar as leis que os governam. Nao é fécil a tarefa. No caso do movimento rectilineo, os nossos conceitos de velocidade, variagio de velocidade ¢ forca, mostramse muito titeis. Mas no vemos como aplicé-los aos movimentos ‘em curva ¢ somos levados a imaginar que os velhos conceitos so inadequados & descrigdo do movimento em geral, e que novos conceitos tém que ser criados. Que fazer? Seguir 0 velho trilho ou procurar caminho novo? A generalizacao de um conceito é processo frequentemente usado pela cincia. E nfo existe apenas um método de gene- ralizar, mas sim varios, Um requisito, porém, é rigorosamente exigido de todos: qualquer conceito generalizado deve poder reduzirse ao conceito original quando as condigdes originais se cealizam. Explicaremos melhor, recorrendo 20 exemplo jé empregado. Podemos generalizar os velhas conceitos de velocidade, varia- so de velocidade © forsa, estendendo-os ao movimento em linka curva. Tecnicamente, quando falamos em curva, in- cluimos a linha recta, A linha recta ndo passa de um especial © trivial exemplo de linha curva. Portanto, se velocidade, [25] variagdo de velocidade e forga so introduzidas no movimento em curva, claro que também sio introduzidas no movimento em linha recta. Mas este resultado nio deve contradizer 0s resultados previamente obtidos. Se a curva se toma linha recta, todos os conceitos generalizados devem ser redutiveis aos conceitos familiares sobre movimento rectilineo. Esta restrico, porém, ndo basta para autorizar a generalizagio. Deixa muitas possibilidades em aberto, A histéria da ciéncia mostra que as mais simples generalizagées sio As veres correctas e outras vezes no. Temos primejramente de conjecturar. No caso pre- sente é coisa simples conjecturar sobre o método certo de gene- rlizagio. Os novos conceitos provam o seu préprio valor ajudando-nos a compreender © movimento tanto da pedra langada a0 ar como dos planetas, ‘Vejamos, pois, que significam a velocidade, a variaglo de velocidade ¢ a forca no caso do movimento em linha curva. Comecemos pela velocklade. Ao longo da curva desta figura temas um pequeno corpo a moverse da esquerda para a direita, Tal corpo € com frequéncia chamado particula. © ponto negro na figura mostra a posicio da particula num dado momento, Qual a velocidade correspondente a essa posicfo € a esse tempo? De novo Galileu nos ajuda a achar ‘© meio de estudar a velocidade. Precisamos, uma vez mais, tirar partido da imaginago ¢ prefigurar uma experiéncia idealizada. A particula movese ao longo da curva, da esquerda para a direita, influenciada por forgas extemas. Suponhamos que, em dado momento, no lugar indicado pelo ponto negro, 126] todas as forgas subitamente cessam de agir. Nesse momento, de acordo com a lei da inércia, © movimento deve ser uniforme. Isto na experiéncia idealizada, porque na pritica no hd corpos libertas de influéncias externas, Podemos apenas con- jecturar 0 «que sucederia se....» ¢ julgar do adequado da nossa conjectura por meio das conclustes dela tiradas ¢ da confirmagio dessas conclusies pela experiéncia. O vector abaixo indica a direcgio conjectural desse movimento uni- forme, no caso da supressio de todas as forcas externas. # a direcgfo da tangente, Examinando 20 microscépio a par- ticula em movimento, vemios uma parte da curva, a qual aparece como pequeno segmento. A tangente & o prolonga- mento desse segmento, Deste modo, o vector da figura repre- senta a velocidade num dado momento. O vector da velocidade est4 na tangente. O comprimento desse vector representa 2 grandeza da velocidade, ou a rapidez, como a indica, por exemplo, 0 velocimetro do carro. ‘A nossa experiéncia idealizada, da supressio das influén- cias externas do movimento para o encontro do vector da velocidade, no deve ser tomada muito a rigor. Apenas nos ajuda a compreender o que poderiamos chamar vector da velocidade e nos habilita a determindlo num dado ‘ponto enum dado momento. Esta outra figura mostra os vectores de velocidade de trés diferentes posigdes de uma particula a moverse em linha [27] curva, Neste caso, nJo 96 a direcgio como a grandeza da velocidade, indicada pelo comprimento do vector, variam durante 0 movimento. — 5 Satisfard este novo conceito de velocidade a todos os requi- sitos necessrios 3s generalizagées? Isto €: poderd reduzir-se 0 conceito anterior, se a curva se tomar linha recta? Claro ‘que poderé. A tangente a uma linha recta € essa prépria linha. O vector da velocidade tem a direcgio da linha do movimento, ‘exactamente como no caso do carrinho ¢ das esferas. © passo imediato consiste no estudo da variago de velo- cidade de uma particula a moverse ao longo de uma linha curva, Isto também pode ser feito de vérias maneiras, das quais vamos escolher a mais simples ¢ conveniente. A figura anterior mostrou diversos vectores de velocidade represen- tando 0 movimento em vérias pontos do percurso. Os vectores ni. 1 @ 2 podem ser novamente desenhados com um ponto de partida comum, coisa que sabemos possivel para todos os vectores. [28] © vector de linha pontuada é chamado o vector da varia- <0 da velocidade, O seu ponto de partida est no fim do Primeiro vector € o seu término aponta para o fim do segundo vector. Esta definigio da variaglo da velocidade pode, & pri- meira vista, parecer artificial e sem significagio. Tornase muito mais clara no caso especial em que os vectores (1) € (2) tém a mesma direcgio, Isto naturalmente significa volver ao caso do movimento em linha recta. Se ambos os vectores partem do mesmo ponto, o vector de linha pontuada liga de novo os sous extremos. E a figura tomase idéntica 3 da pdgina 24, ficando © conceito primitive reduzido a um aso especial do novo conceito, wn nanny + ‘Cumpre observar que na figura separdmos as duas linhas, para que no coincidam e dese modo possam ser distinguidas. Vamos agora dar 0 limo passo no nasso proceso de generalizaco — formulando a mais importante das suposig®es que até aqui fizemos. A conexio entre a forga e variagio de velocidade tem que ser estabelecida de modo que possamos entrar no caminho da compreenséo do problema geral do movimento. A pista para a explanacio do movimento em linha recta era simples: a forga extema responde pela variagio de velo cidade; 0 vector da forga tem a mesma direcc4o do vector da variago de velocidade. Agora, porém, qual a explicagdo do movimento em curva? Exactamente o mesmo! A iinica dife- renga est em que agora a variacio de velocidade tem uma significaco mais larga do que antes. Uma vista de olhos aos vectores de linhas pontuadas das duas Ultimas figuras escla- recerd, Se a velocidade em todos os pontos da curva é [20] conhecida, a direccio da forga em qualquer dos pontos pode ser deduzida imediatamente. Podemos tracar os vectores da velocidade para dois instantes separados por um curto inter- valo de tempo ¢ portanto correspondentes a posigées muito préximas entre si. © vector que vai do ponto terminal do Primeiro a0 ponto terminal do segundo indica a direcgio da forga actuante, Mas € essencial que os dois vectores da velo- cidade sejam separados por um intervalo de tempo «muito curton, A andlise rigofosa de tais expressées, «muito pré- ximo» € «muito curto», nfo é simples, e foi o que levou Newton ¢ Leibnitz & descoberta do célculo diferencial, Muito penoso é 0 caminho que leva A generalizagio de Galileu, e no podemos mostrar aqui como fot abundante ¢ fecundo em consequéncias, A sua aplicagio conduznos a simples € convincentes explanagées de muitos factos até entio sem nexo e incompreensiveis. Da grande variedade de movimentos vamos tomar 0 mais simples para a demonstracio da lei acima formulada, ‘Uma bala que parte da carabina, uma pedra langada a dis- tancia, um jacto de agua: todos estes corpos em movimento descrevem uma curva que nos é familiar, a pardbola, Imagi- rnemos um velocimetro ligado, por exemplo, & pedra, de modo que © vector da velocidade possa ser tragado a qualquer momento, 0 resultado pode muito bem ser representado nesta figura. A direcgio da forga actuante na pedra é a mesma que a da [50] © vector de linha pontuada & chamado o vector da varia- slo da velocidade. © seu ponto de partida est4 no fim do primeiro vector e 0 seu término aponta para o fim do segundo vector. Esta definicio da variag3o da velocidade ‘pode, & pri- meira vista, parecer artificial e sem significacio. Torna-se muito mais clara no caso especial em que os vectores (1) © (2) tém a mesma dircegao, Isto naturalmente significa volver ao caso do movimento em linha recta. Se ambos os vectores partem do mesmo ponto, o vector de linha pontuada liga de novo os seus extremos. E a figura tomase idéntica 3 da pigina 24, ficando 0 conceito primitivo redwzido a um «aso especial do novo conceito. Cumpre observar que na figura separémos as duas linhas, Para que nao coincidam e desse modo possam ser distinguidas. Vamos agora dar 0 Ultimo passo no nosso processo de generalizaco — formulando a mais importante das suposigbes que até aqui fizemos. A conex3o entre a forca € variagio de velocidade tem que ser estabelecida de modo que possamos entrar no camino da compreensio do problema geral do movimento. A pista para a explanagio do movimento em linha recta cera simples: a forga extema responde pela variagio de velo- cidade: 0 vector da forca tem a mesma direcg3o do vector da variagio de velocidade. Agora, porém, qual a explicagio do movimento em curva? Exactamente 0 mesmo! A tinica dife- renga esté em que agora a variagio de velocidade tem uma significagdo mais larga do que antes. Uma vista de olhos aos vectores de linhas pontuadas das duas ltimas figuras escla- recerd, Se a velocidade em todos os pontos da curva é [29] conhecida, a direcgo da forga em qualquer dos pontos pode ser deduzida imediatamente. Podemos tracar os vectores da Yelocidade para dois instantes separados por um curto inter- valo de tempo ¢ portanto correspondentes a posigdes muito proximas entre si, vector que vai do ponto terminal do primeiro ao ponto terminal do segundo indica a direcgio da forga actuante. Mas ¢ essencial que os dois vectores da velo- cidade sejam separados por um intervalo de tempo «muito curto», A anélise rigorosa de tais expresses, «muito pré- ximo» e «muito curto», nfo & simples, € foi o que levou Newton e Leibnitz & descoberta do céleulo diferencial. Muito penoso & 0 caminho que leva & generalizagio de Galileu, ¢ ndo podemos mostrar aqui como fot abundante e fecundo em consequéncias. A sua aplicagio conduznos a simples ¢ convincentes explanagies de muitos factos até entéo sem nexo € incompreensiveis. Da grande variedade de movimentos vamos tomar 0 mais simples para a demonstragio da lei acima formulada. Uma bala que parte da carabina, uma pedra langada a dis- tancia, um jacto de Agua: todos estes corpos em movimento descrevem uma curva que nos é familiar, a parabola, Imagi- nemos um velocimetzo ligado, por exemplo, & pedra, de modo que 0 vector da velocidade possa ser tragado a qualquer momento, © resultado pode muito bem ser representado nesta figura. ‘A direcsio da forga actuante na pedra é a mesma que a da [30] variagio de velocidade, ¢ j& vimos como pode ser determinada. ‘A figura seguinte mostra que a forga € vertical e dirigida ara baixo. Exactamente o-mesmo que se dé quando a pedra cai de uma torre, As trajectérias sio diferentes, como tam- bém so diferentes as velocidades, mas a variagio da veloci- dade, isto é, a acelerag3o do movimento tem a mesma direcco —o centro da Terra, ‘Uma pedra ligada a um corde! ¢ girada em plano horizon- tal descreve uma trajectéria circular. Todos os vectores do diagrama anterior, representande este movimento, possem 0 mesmo comprimento, quando a velocidade for uniforme. {31] Nio obstante, a velocidade no & uniforme, porque o caminho n3o ¢ em linka recta. Unicamente a0 movimento uniforme rectilineo ndo hi forgas interferentes, Aqui, no entanto, id tais forgas, ¢ a velocidade muda, néo em grandeza, mas em direc¢o. De acordo com a Jei do movimento deve existir alguma forga responsive! por esta mudanca, uma forga ‘que aparece entre a pedra ¢ 2 mio que segura o cordel. Surge entio a pergunta: em que direcsio age essa forga? De novo © diagrama vectorial nos d4 a resposta. Tragades os vectores da velocidade de dois pontos muito préximos, 0 da variagio da velocidade, ou aceleragio do movimento estaré encontrado. Este thimo vector dirigese a0 longo do cordel para 0 centro do circulo e é sempre perpendicular ao vector da velo- cidade, que tem a direceZo da tangente. Por outras palavras: por taeio do cordel a mio exerce sobre a pedra uma forca. Muito semelhante a isto € 0 caso da revolucio da Lua em redor da Terra, que pode ser representada como um movie ‘mento uniforme circular. A forga dirigese para a Terra pela mesma raz%0 que no titimo exemplo se dirigia para a mio, Nio hé cordel ligando a Terra & Lua, mas podemos imaginar uma linha entre os centros dos dois corpos; a forga conserva-se a0 Tongo desta linha, tendo a sua direcgio para 0 centro da Terra, justamente como a forga no caso de uma pedra Jangada para cima ou a cair de uma torre, Tudo quanto dissemos a respeito do movimento pode resumirse numa 96 sentenga. Forga actuante variagdo de [32]

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