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CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H849i
Ho-yeon, Kim
A inconveniente loja de conveniência [recurso eletrônico] / Kim Ho-Yeon; tradução Jae
Hyung Woo. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2023.
recurso digital
1. Ficção coreana – Coreia (Sul). 2. Livros eletrônicos. I. Woo, Jae Hyung. II. Título.
Edição em língua portuguesa publicada mediante acordo com Nambu Bench através da KL
Management em associação com Patricia Seibel.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pela:
EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA.
Rua Argentina, 171 — 3º andar — São Cristóvão
20921-380 — Rio de Janeiro — RJ
Tel.: (21) 2585-2000,
que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Produzido no Brasil
Always
Agradecimentos
Marmita com iguarias de terra e mar
T m r n i e i a b r !
A u r nst n .
É
— É por isso que estou te dando este trabalho como
escritora.
— Estou falando sério. Tenho trabalhado nesse meu
último projeto há quatro meses.
— Então você conseguiu escrever algo bom? Não me diga
que está perdendo tempo só pensando em baboseiras.
Como assim, baboseiras? Depois de tomar numa golada
só o chá de cabelo de milho que estava no parapeito da
janela, ela subiu o tom:
— Eu tenho a ideia! Tudo que eu preciso fazer é escrevê-
la.
— É mesmo? Então me conta.
— Não sabe que contar antes dá azar? Deixa pra lá.
— Deve estar mesmo com uma ideia boa, hein? Autora
Jeong, me conte. Se for boa, vamos fazer isso primeiro, antes
da adaptação.
Contou que estava trabalhando nesse projeto, mas ainda
não tinha nada certo. Ela só estava entrevistando um homem
estranho na loja de conveniência. Enquanto In-gyeong
ponderava sobre como enrolar, olhou para a loja de
conveniência pela janela.
— Pelo visto, você não tem nada de mais. Então vamos
adiar isso e fazer essa adaptação. Já temos o investimento e a
produção. Eu te dou um dinheiro adiantado e...
— Loja de conveniência. É uma história sobre uma loja de
conveniência.
— Loja de conveniência?
— O palco é uma loja de conveniência. Uma loja de
conveniência onde gente de todo tipo entra e sai. O
protagonista é um funcionário misterioso do turno da noite.
— Humm...
— Ele é um homem de meia-idade, mas ele não se lembra
de nada do seu passado. O álcool lhe causou demência. Os
clientes dão palpites entre si sobre a identidade do homem.
Ladrão, ex-presidiário, desertor norte-coreano, aposentado
voluntário, um alienígena quem sabe?... Mas aí o homem
recomenda produtos para os clientes de forma quase
aleatória e, por algum motivo, quando as pessoas seguem a
sua recomendação, o problema delas se resolve.
— Isso não é... Midnight Diner?
— Midnight Diner? Não! É uma série boa, mas essa é uma
loja de conveniência! E esse homem não cozinha. Midnight
Diner não aborda o passado do protagonista. O enredo
principal da minha história é descobrir a identidade do
protagonista, um funcionário de meio período do turno da
noite. O passado do homem será contado em cenas de
flashback, e o público saberá por que ele tem que trabalhar
naquela loja de conveniência. E ele passa todas as noites lá,
esperando por algo.
— Esperando a mercadoria chegar, talvez.
— Ei, não se mete! Como em Esperando Godot, gostaria de
usar o mesmo tom e forma. Como Vladimir e Estragon, esse
funcionário do turno da noite e fregueses que vão lá beber
conversam todas as noites. Haverá muito diálogo. E vai ter
Cham Cham Cham no meio também.
— Cham Cham Cham? Isso é um jogo?
— É tipo um combo. Ramyeon de gergelim, gimbap de
atum e soju Chamisul.
— Gostei, hein? Posso obter licença de propaganda
indireta. Até poderíamos deixar os espectadores virem comer.
— Sim. Incentive o público a participar, dê a eles pacotes
de presentes, poste no Instagram e você poderá obter a
licença de propaganda indireta. Mas voltando, é um kit que o
funcionário recomenda ao seu cliente, e o cliente come no
fim do dia. Esses dois se encarregam do diálogo na peça.
Além disso, há uma escritora briguenta no bairro, e ela é uma
cliente muito chata. Como é escritora, trabalha à noite. É por
isso que ela vê esse funcionário do turno da noite várias
vezes, e eles acabam se falando várias vezes...
— Tipo você.
— Não. A escritora odeia a loja de conveniência. Ela acha
que o cara é um imprestável e a loja, inconveniente porque a
seleção de produtos é horrível. Mas é inverno, está frio, e ela
não pode ir longe comprar comida de madrugada, então tem
que continuar frequentando esse lugar mesmo que seja
inconveniente... É muito inconveniente.
— Escritora Jeong.
— Oi.
— Vamos fazer isso, juntos.
— Sério? Nem escrevi nada ainda.
— Você já escreveu tudo na sua cabeça. Estreamos a peça
no próximo ano. Posso garantir que esse não vai ser o seu
último trabalho. Se terminar esse trabalho, vai escrever outro.
— Você acha mesmo?
— Acho.
— Mas por quê? Estou tão desmotivada... E estranhei você
ter aceitado tão fácil. Quer dizer, eu nem escrevi ainda.
— Escreva apenas o título e traga amanhã. Normalmente,
o manuscrito só anda quando o contrato já está assinado.
— CEO Kim.
— Diga.
— Obrigada. De verdade.
— Eu não sou burro. O material está ok. Consigo sentir a
seriedade na sua voz também. Acho que vai fazer um bom
trabalho.
— Sempre fiz um bom trabalho.
— Não vou te elogiar e cantar vitória. A propósito, qual é o
título?
— Título?
— O título da peça.
— Hum... É uma loja de conveniência, é muito
inconveniente... Então... a inconveniente loja de
conveniência.
Assim que o CEO Kim desligou, In-gyeong abriu o
processador de texto no seu laptop e começou a digitar
rapidamente. Depois de escrever o título em duas linhas,
começou a escrever a peça que poderia ser a última. Ela
digitou sem parar. Em algumas linhas ela nem pensava.
Agora que já tinha planejado, matutado sobre a ideia por
muito tempo e desenvolvido pensamentos que lhe vinham à
tona naturalmente, só precisava incorporar uma datilógrafa e
digitar com vontade. Quando seus dedos não conseguem
acompanhar a velocidade de seus pensamentos, é porque
está indo bem. In-gyeong pronunciava as falas como se
estivesse atuando e digitando ao mesmo tempo. Suas mãos
esquerda e direita pareciam conversar uma com a outra.
Como se sua habilidade de escrita, até então selada, tivesse
sido libertada, ela continuou escrevendo a história. Tinha
começado à noitinha, mas já passava da meia-noite, e a
escrita foi ficando mais intensa à medida que o céu noturno
de inverno ficava mais escuro.
Naquela madrugada, as únicas luzes acesas no bairro
eram a da loja de conveniência de Dok-go e a do seu
apartamento.
Quatro latas por dez mil wons
Assim que passei pela bilheteria, não olhei para trás e andei
sem parar até a plataforma. Quando entrei no trem e sentei
no meu assento, as lágrimas começaram a escorrer. Eu
esperava que o trem partisse logo. Esperava que ele fosse tão
rápido que as minhas lágrimas voassem, e que eu chegasse a
Daegu de uma vez. Como se estivesse ciente do meu desejo,
o trem começou a se mover. Assim que saí da Estação Seul,
pude ver o caminho para a loja de conveniência pela janela.
Parecia que eu podia ver Cheongpa-dong, conhecida como
Colina Verde, e a inconveniente loja de conveniência.
O trem subiu a ponte ferroviária do rio Han. O sol da
manhã refletido na superfície da água tremeluzia, brilhante.
Eu dizia que, desde que tinha me tornado um sem-teto,
não havia deixado a Estação Seul e seus arredores. Mas, na
verdade, eu tinha estado no rio Han uma vez. Eu tentei pular
da ponte e me jogar. Eu falhei. Na verdade, após passar o
inverno na loja de conveniência, pretendia pular da ponte
Mapo ou da ponte Wonhyo. Mas agora eu sabia.
O rio não era um lugar para se cair, mas para se
atravessar.
Uma ponte era um caminho por onde passar, não um
lugar de onde pular.
As lágrimas não paravam. Era constrangedor, mas decidi
viver. Resolvi suportar minha culpa. Eu ajudaria quem
pudesse, compartilharia o que fosse possível e não seria
consumido pelos meus próprios desejos. Usaria as minhas
habilidades, que antes usava apenas para meu próprio
benefício, a fim de tentar salvar os outros. Eu procuraria
minha família para pedir perdão. Se não quisessem me
encontrar, eu me afastaria, com o coração contrito. Eu
lembraria que a vida, de um jeito ou de outro, continua, e que
sempre tem algum propósito. Continuaria vivendo.
O trem atravessou o rio. As lágrimas pararam.
Agradecimentos
Pyung-seok Oh, que me inspirou, e Yu-ri Jeong, que
supervisionou o trabalho.
GS25 Moon Ragland, Yong-gyun Byun e Jeong-wan Yoo,
que colaboraram com ideias.
Hyeon-cheol Jung, que compartilhou seus conhecimentos
sobre cerveja artesanal.
Também gostaria de expressar minha mais profunda
gratidão ao CEO da Namu Ot-eui Ja, Sr. Soo-cheol Lee, e à
equipe da revista semanal Haji-sun.
Banzisu, que desenhou a ilustração da capa.
Yeo-ul Jung, que escreveu uma carta de recomendação.
E a Se-hee Kim, diretora do Centro Cultural Terra, que
forneceu a sala de escrita criativa, e todos os envolvidos.
A todos vocês, a minha mais profunda gratidão.
Este e-book foi desenvolvido em formato ePub pela Distribuidora Record de
Serviços de Imprensa S.A.
A inconveniente loja de conveniência