Você está na página 1de 5

Sobre Corromper a Palavra de Deus

John Wesley

'Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes
falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus'.
(II Corintios 2:17)-

I. Os métodos daqueles que corrompem a Palavra de Deus;

II. As marcas dos pregadores sinceros;

III. Os resultados e benefícios da sinceridade.

[1.] Muitos têm observado, que nada contribui mais para o sucesso de um
pregador, com aqueles que o ouvem, do que uma opinião geral boa de sua sinceridade.
Nada dá a ele maior força de persuasão do que isto; nada cria tanto uma maior atenção
nos ouvintes, quanto uma maior disposição para melhorar. Quando eles realmente
acreditam que ele não tem uma conclusão no discurso, mas que ele razoavelmente tem
um objetivo, e que ele está desejoso que eles possam ver todos os passos que toma
para a consecução daquele final, -- isto dá a eles uma forte presunção de que seja
bom, tanto o que ele pretende, quanto o método que ele usa.

[2.] Mas como convencê-los com esta convicção, é a questão. Como podemos
fazer com que eles tomem conhecimento de nossa sinceridade, se eles não atentam
para ela em si mesmos? Um bom caminho, por mais que seja simples, é, francamente
a abertamente declará-la. Existe alguma coisa nessas declarações, quando elas vêm do
coração; fortemente insinuando-se dentro dos corações de outros. As pessoas de
alguma generosidade que as ouvem, se acham quase que forçadas, a crerem nelas; e,
mesmo estes que acreditam nelas, não são obrigados, na prudência, a não deixar
transparecer sua incredulidade, uma vez que é uma regra conhecida que, quanto mais
honesto um homem é, menos ele está apto a suspeitar de outro. A conseqüência disto
é clara: quem quer que, sem prova, suspeita da sinceridade de seu próximo, dá uma
prova provável de que ele julga o coração do outro, da falsidade de seu próprio
coração.

[3.] Algum homem estaria tentado a suspeitar da integridade daquele que, sem
prova, suspeitou da falta de integridade, em outro, que havia, razoavelmente e
abertamente, professado os princípios nos quais ele agiu? Seguramente ninguém, a
não ser aquele que corrompeu a Palavra de Deus, ou desejou que ela fosse
corrompida, poderia suspeitar levemente tanto de Paulo ter feito isto, quanto de
qualquer um que depois dele pôde usar sua declaração generosa: 'Porque nós não
somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com
sinceridade, como de Deus na presença de Deus'.

[4.] Não que o Apóstolo desejou, não mais do que seus seguidores ao
pregarem o Evangelho, que eles pudessem confiar totalmente em suas palavras; pelo
que, mais tarde, ele apelou para suas ações, com o objetivo de confirmá-las. E estes
que, nisto puderam imitar a Ele, não precisaram suplicar aos homens para acreditarem
na sinceridade deles. Se nossas palavras levarem o selo dela, assim como nossas
obras, ambas falarão em voz alta, e claramente, de modo que toda pessoa, sem
preconceito, deverá entender o que nós falamos em Cristo, como na sinceridade, e
que, em assim fazendo, nós estamos na presença de Deus, cuja procuração nós
carregamos.

[5.] Aqueles a quem o Apóstolo acusa de prática contrária; de corromper a


Palavra de Deus, parece terem sido os judeus que, reconhecendo que Jesus era o
Cristo, e seu Evangelho era divino, ainda assim, o adulteraram, entremesclando-o com
a lei de Moisés, e suas próprias tradições. E, ao fazerem isto, o principal objetivo
deles foi conseguir um benefício de Cristo; o que, conseqüentemente, os coloca
debaixo da necessidade de esconderem a finalidade que eles propuseram, assim como
os meios que eles usaram para obtê-la. Por outro lado, aqueles que pretenderam o bem
da humanidade, estão, de modo algum, preocupados em esconder suas intenções. Se o
benefício, que nós propomos ao falar, for para nós mesmos, será sempre nosso
interesse mantê-lo privado. Se o benefício que nós propomos for para outros, sempre
será nosso interesse torná-lo público; e, é de nosso interesse e de outros, tornarmos
públicas aquelas marcas da distinção, por meio das quais podemos claramente saber
quem corrompe a Palavra de Deus, e quem a prega na sinceridade.

[1.] A Primeira e grande marca de alguém que corrompe a Palavra de Deus, é


introduzir nela as misturas humanas; tanto de erros [heresias] de outros, quanto de
fantasias de sua própria imaginação. Fazer isto, é corrompê-la, no mais alto grau; é
misturar com os oráculos de Deus, fantasias impuras, adequadas apenas para a boca
do diabo! E ainda assim, isto foi feito, tão freqüentemente, que sempre raramente
alguma opinião errônea [herética] foi, tanto inventada, quanto recebida, a não ser que
as Escrituras fossem citadas para defendê-la.

[2.] E quando a impostura foi muito audaciosa, e o texto citado para ela
pareceu muito claramente, tanto para ser desfavorável ao propósito ou não ter nada
com ele, então, o recurso tem usualmente tido um Segundo método para corrompê-lo,
misturando-o com falsas interpretações. E isto é feito, algumas vezes, repetindo as
palavras erradamente; e, algumas vezes por repeti-las corretamente, mas colocando
um sentido errado sobre elas; um que é tanto exagerado e artificial, quando estranho à
intenção do escritor, no lugar de onde elas foram tiradas; talvez, contrário à sua
intenção, naquele mesmo lugar, assim como ao que ele diz, em alguma outra parte de
seus escritos. E isto é facilmente efetuado: qualquer passagem é facilmente pervertida,
sendo recitada simplesmente, sem qualquer dos versos precedentes e seguintes. Por
esses meios, ele pode parecer ter freqüentemente um único sentido, quando está claro
que, observando o que vem antes e o que se segue depois, que ele realmente tem uma
direção contrária. Por necessidade de observar que as almas descuidadas estão sujeitas
a serem sacudidas com todo vento de doutrina, quando quer que eles caiam nas mãos
daqueles que têm suficiente maldade e astúcia, assim, para adulterar o que eles
pregam, e para acrescentar, aqui e ali, um comentário plausível com o objetivo de
fazê-la sucumbir mais facilmente.

[3.] A terceira espécie desses que corrompem a Palavra de Deus, embora em


um grau menor, do que os anteriores, são daqueles que assim procedem, não
acrescentando a ela, mas tirando dela; dos que tiram tanto o espírito, quanto a
substância dela fora, enquanto eles planejam profetizar apenas as coisas agradáveis, e
portanto, disfarçam e dissimulam o que eles pregam para reconciliá-la ao gosto dos
ouvintes. E para que eles façam da melhor maneira, eles comumente permitem que
aquelas partes que não darão margem a disfarce algum continuem. Eles lavam suas
mãos daqueles textos resolutos que não se submeterão aos seus propósitos, ou que,
muito claramente, tocam nos vícios reinantes do lugar onde eles estão. Estes eles
trocam por aqueles mais leves e tratáveis, que não estão tão aptos a causarem ofensa.
Nenhuma palavra deve ser dita da tribulação e angústia denunciadas contra os
pecadores em geral; muito menos do fogo inextinguível, que, se Deus for verdadeiro,
aguarda diversas dessas ofensas particulares que têm caído dentro de sua própria
observação. Mas eles seguramente podem ressoar contra aqueles que estão fora do seu
alcance, e contra aqueles pecados que eles supõem nenhum dos que os ouvem são
culpados. Ninguém os leva ao coração, para ouvirem aquelas práticas declaradas, com
as quais ele não está preocupado em si mesmo. Mas, quando o golpe chega em casa,
quando ele alcança seu próprio caso, então, ele se acha, se não convencido,
insatisfeito, ou irado, e exasperado.

Estes são os métodos daqueles corruptores da Palavra, que agem, à vista dos
homens, e não de Deus. Eles testam os corações, e não irão receber o serviço no qual
apenas os lábios estão preocupados. Mas suas palavras não têm intercurso com seus
pensamentos. Nem é apropriado para eles que elas possam. Porque, se a real intenção
deles aparecer, uma vez, deverá ser um fracasso. Eles se propõem, é verdade, fazer o
bem, através do Evangelho de Cristo; mas isto para si mesmos, e não para os outros.
Ao passo que eles que usam da sinceridade na pregação do Evangelho, no bem de
outros, buscam seu próprio bem. E que eles são sinceros e falam como oficiais
autorizados, aos olhos Dele cuja autorização eles carregam, aparece plenamente da
contrariedade direta entre a prática deles, e aquela dos dissimuladores acima descritos.

II
[1.] Primeiro, eles consideram que não é a própria palavra deles, que eles
pregam, mas a Palavra Dele que os enviou. Eles a pregam genuína e sem mistura.
Como eles, não apenas professam, mas realmente acreditam que 'se algum homem
acrescentar à Palavra de Deus, ele irá acrescentar a ele todas as calamidades que
estão escritas nela', eles temem fazer isto, de qualquer forma. Você tem o Evangelho
deles, se, na maneira menos elegante, ainda assim, fiel ao que ele é; sem qualquer
mistura de erros [heresia] para poluí-lo, ou mal entendido para causar-lhe
perplexidade.

[2.] E explicada da maneira mais natural e óbvia, pelo que precede e pelo que
se segue ao ponto em questão; e comentada a respeito, da maneira mais correta, a fim
de que não esteja sujeita ao equívoco e corrupção, o resultado daqueles pontos
paralelos que expressam a mesma coisa o mais claramente.

[3.] Eles também são tão cautelosos de subtrair dela, assim como, de
acrescentar à Palavra que eles pregam. Eles não mais ousam, considerando sob cujos
olhos eles se situam, dizer menos, ou mais, do que Ele tem designado a eles. Eles
devem difundir, como as ocasiões próprias ofereçam, tudo o que está contido nos
oráculos de Deus; quer agradável, ou ao contrário, não importa em nada, desde que
seja inquestionavelmente verdadeiro e útil também: 'Porque todas as Escrituras são
dadas pela inspiração de Deus, e elas são úteis, para a doutrina, reprovação,
correção, ou instrução na retidão', -- tanto para nos ensinar no que devemos crer, ou
o que devemos praticar, quanto para a convicção do erro, e reforma dos vícios. Eles
sabem que não existe nada supérfluo nela, relativo à fé, assim como à prática; e,
portanto, eles pregam todas as partes dela, embora aquelas mais freqüentemente e
mais particularmente, que são mais particularmente necessárias onde eles se
encontram.

Eles estão tão longe de se absterem de falar contra alguma maldade, só porque
ela é moderna e acreditada onde a Providência os tem destinado; mas, por esta mesma
razão, eles são mais zelosos ao testificarem contra ela. Eles estão tão longe de se
absterem de falar de alguma virtude, só porque ela é antiquada e desacreditada onde
eles estão situados, que eles, por conseguinte, mais vigorosamente a recomenda.

[4.] Por fim, eles que falam na sinceridade, e sob as vistas Dele, que lhes
confia poderes, mostram que eles fazem exatamente da maneira como eles falam. Eles
falam com clareza e audácia, e não estão preocupados em dissimular a doutrina deles,
para reconciliá-la aos gostos dos homens. Eles se esforçam para colocá-la sempre na
luz verdadeira, quer seja agradável ou não. Eles não irão, não ousarão, suavizar uma
ameaça, como a subestimar sua força, nem representar o pecado, em tais cores suaves,
como que para enfraquecer sua negridão nata. Não que eles não escolham suavidade,
quando ela é igualmente efetiva. Embora eles conheçam 'os terrores do Senhor', eles
desejam antes 'persuadir aos homens'. Este método eles usam, e amam usá-lo, como
algo capaz de persuasão. Como algo que eles não estão obrigados, se eles forem fiéis
para tomarem o curso mais severo. Que os difamadores olhem para isto; ele não causa
dano a eles: e, se eles são culpados ou estão injuriados por assim fazerem, que os
difamadores olhem para isto: permita que os ouvintes se adaptem à Palavra; a Palavra
não deve, neste sentido, ser adaptada aos ouvintes. O pregador dela não estaria menos
em falta, em uma subserviência escrava de um lado, do que em uma austeridade
inflexível do outro.

III

[1.] Se nós, então, temos falado a Palavra de Deus; a Palavra de Deus genuína
e não misturada, e isto tão somente; se nós não temos colocado interpretação artificial
sobre ela, mas [temos] tomado as frases conhecidas em seu sentido comum e óbvio, --
e, quando elas foram menos conhecidas, explicado Escritura por Escritura; se nós
temos falado a Palavra toda, como a ocasião oferece, embora preferivelmente as
partes que pareceram mais apropriadas para coibir alguns vícios modernos, ou para
encorajar a prática de algumas virtudes ultrapassadas; e se nós temos feito isto,
claramente e corajosamente, embora com toda a brandura e gentileza que a natureza
do tema irá suportar; -- então, acredite em nossas obras; se não, em nossas palavras;
ou preferivelmente; acreditem nelas juntas. Aqui está tudo o que um pregador pode
fazer; toda a evidência que ele tanto pode quanto precisa dar de suas boas intenções.
Não existe caminho, a não ser este para mostrar que ele fala, sempre na sinceridade,
como que autorizado pelo Senhor, e como que sob Seus olhos. Se existe alguém que,
depois de tudo isto, não irá acreditar que é por seu interesse, não nosso, que nós
trabalhamos; que nossa primeira intenção ao falar é indicarmos a ele o caminho da
felicidade, e desobrigá-lo da grande estrada que conduz à miséria; nós estaremos
limpos do sangue daquele homem; -- ele repousa sobre sua própria cabeça. Porque
assim diz o Senhor que tem nos colocado como vigias sobre as almas de nossos
compatriotas e irmãos: 'Se tu advertes o mau de seu caminho para fazeres com que ele
o mude'; -- muito mais, se nós usamos todos os métodos possíveis de convencê-lo de
que a advertência é de Deus; -- 'se ele não mudar seu caminho', -- o que certamente
ele não fará; se ele não acreditar que nós estamos na sinceridade, -- 'ele deverá morrer
na sua iniqüidade, mas tu terás livrado tua própria alma'.

[Números secionados (e outras inserções em colchete de variantes textuais de maior


significado) segue a Edição Bicentenária]

[Editado por George Lyons na Northwest Nazarene College (Nampa, ID), para a Wesley
Center for Applied Theology.]

Você também pode gostar