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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

CURSO DE LICENCIATURA NOTURNA EM MATEMÁTICA

GILBERTO CARLOS DE ANDRADE FILHO

O SURGIMENTO DOS LOGARITMOS

FORTALEZA- CE

2023

1
1
GILBERTO CARLOS DE ANDRADE FILHO

O SURGIMENTO DOS LOGARITMOS

Trabalho apresentado à disciplina de


História da Matemática, ministrada na
Universidade Federal do Ceará, como
parte dos requisitos para a obtenção de
aprovação na mesma.

Área de concentração: História da


matemática.

Orientador: Prof. Ciro Nogueira

FORTALEZA

2023

2
OFERECIMENTOS

Aos meus pais, amigos e colegas de curso,


os quais me ajudaram na caminhada
acadêmica.
Aos professores Ciro Nogueira e Alberto
Maia que sempre mostraram o brilho nos
olhos para a matemática

3
AGRADECIMENTOS

Ao meu colega de curso André que se prontificou a me ajudar na


formatação deste trabalho.

Ao professor Ciro Nogueira por suas orientações para a confecção do


trabalho.

À Universidade Federal do Ceará e seus funcionários.

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior) por me ajudar nos estudos com a Bolsa de Iniciação à docência do projeto
Residência Pedagógica.

4
“O rios correm, mas logo correrão secos...
Nós precisamos de sonhos novos esta
noite...”

(Tradução de trecho da música “In God’s


Country”, da banda irlandesa de rock U2)

5
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................8
2. OS LOGARITMOS DE JOHN NAPIER .................................................9
2.1 JOHN NAPIER .......................................................................................9
2.2 OS LOGARITMOS DE NAPIER ...........................................................11
2.3 CONCLUSÃO ......................................................................................13
3. OS LOGARITMOS DE HENRY BRIGGS ............................................13
3.1 HENRY BRIGGS ..................................................................................14
3.2 OS LOGARITMOS DE BRIGGS ..........................................................14
3.3 CONCLUSÃO ......................................................................................17
4. OS LOGARITMOS DE JOBST BÜRGI ...............................................17
4.1 JOBST BÜRGI .....................................................................................17
4.2 OS LOGARITMOS DE BÜRGI .............................................................18
4.3 CONCLUSÃO ......................................................................................20
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................21
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................22

6
RESUMO

Este trabalho vem mostrar como o expansionismo europeu do período de 1492 a 1700
tornou propício o surgimento do logaritmo como ferramenta para solucionar
problemas. É mostrado também que essa técnica pode substituir método da
prostaférese trigonométrica. É explanado brevemente sobre a história dos
matemáticos John Napier, Henry Briggs e Jobst Bürgi, sobre seus sistemas de
logaritmos e, não obstante, ressaltando a potencial utilidade de cada um.

Palavras-chave: expansionismo, ferramenta, matemáticos, logaritmos.

7
1. INTRODUÇÃO

Para introduzir nosso colóquio, convém explanar um pouco do panorama


histórico da Europa e do mundo no período de 1492 a 1700. Nesses tempos, a Europa
estava em processo de expansão, pois a emergência de estados nacionais durante a
Alta idade média propiciou o fundo monetário necessário para o custeio das
explorações e colonizações. Isso se mostrou no fato de, em meados de 1500, países
como França, Espanha, Inglaterra e Portugal presenciarem um processo de
centralização do poder dos monarcas, fazendo com que estes tivessem grande poder
político e econômico. Nesse contexto, ressalta-se o fenômeno do Renascimento dos
séculos XIV e XV, a diminuição da influência da igreja no poder do governo e o
advento do protestantismo. Assim, esses autocratas viram a possibilidade de
custearem as expedições ultramarinas.
Dessa forma, Espanha e Portugal energizaram a expansão rumo à Africa e
à Amèrica, e a Inglaterra já possuía colônias agrícolas na América do Norte, por
exemplo. Isso propiciou, na Era das explorações, um grande impacto sobre a Europa.
Houve um grande súbito de fluxo de capital, sobretudo na Espanha. Cidades
portuárias europeias se desenvolveram rapidamente. No mesmo período, grande
parte das riquezas exploradas nas colônias encaminhou-se para capitais como
Londres e Paris.
Um outro fenômeno interessante foi o fato de os exploradores trazerem
para a Europa informações sobre as novas terras. Isso implicou numa explosão de
dados científicos e no deslocamento de cientistas, filósofos e artistas para as capitais
e cidades portuárias, onde poderiam arranjar emprego mais facilmente. Ou seja, o que
houve na europa nesse período foi uma revolução cultural e científica, marcada por
interesse por ideias e lugares novos e por uma percepção de necessidade de novas
tecnologias, especialmente na navegação.
Nesse contexto, durante o fim do século XVI e início do século XVII, muitos
comerciantes, proprietários, cientistas e praticantes de matemática perceberam a
necessidade de meios que simplificassem cálculos aritméticos e de medidas
geométricas. Muito apropriadamente, destaca-se aqui o advento do logaritmo como
ferramenta útil em áreas como astronomia, matemática financeira e engenharia, por
conta de esse artifício permitir calcular, por exemplo, um produto trabalhoso de dois

8
números, com uma soma. Assim, temos nessa época o que se chama de “os primeiros
matemáticos modernos dedicados à resolução de problemas.”

Figura 1- Porto de Sevilha no séc. XVI

Fonte: Página do Prepara Enem1.


1
Disponível em: https://www.preparaenem.com/historia/a-funcao-casa-contratacao-sevilla.htm.
Acesso em: 1 mai. 2023

2. OS LOGARITMOS DE JOHN NAPIER

Nessa seção, falaremos sobre quem foi John Napier, sobre o


funcionamento do seu tipo de logaritmo e a potencial utilidade do seu artifício
matemático.

2.1 JOHN NAPIER

John Napier (1550-1617) foi um inglês que viveu a maior parte de sua vida
na propriedade da família, o castelo de Merchiston, na Escócia. Envolveu-se em
algumas controvérsias políticas e religiosas de seu tempo. Era notoriamente
anticatólico, defendendo o protestantismo.

9
Figura 2– John Napier

Fonte: Página do Britannica Math2.


2Disponível em: https://www.britannica.com/biography/John-Napier. Acesso em: 1 mai. 2023.

Sabe-se que Napier estava inteirado do método da prostaférese onde o


produto de dois números podia ser calculado como soma de outros dois números. A
fórmula trigonométrica seguinte

2 cos(𝐴) cos(𝐵) = cos(𝐴 + 𝐵) + cos(𝐴 − 𝐵)

permite que se calcule, por exemplo, o produto 437,64 por 27,327. Com o auxílio de
uma tábua de cossenos, e usando interpolação trigonométrica quando necessário,
podemos achar os números A e B tais que

(0,43764)
cos(𝐴) = = 0,21882 e cos(B) = 0,27327
2

Assim, usando novamente a tábua dos cossenos, pode-se encontrar cos(A +


B) e cos(A − B). Somando esses números e ajustando as casas decimais, obtém-se o
resultado desejado.
Tendo em vista a obtenção de uma técnica facilitadora de cálculos
trabalhosos, Napier trabalhou alguns anos no conceito de logaritmo e publicou seu
trabalho nesse viés, chamado Mirifici logarithmorum canonis descriptio (Uma
descrição da maravilhosa regra dos logaritmos).

10
2.2 OS LOGARITMOS DE NAPIER

A base da obra de Napier é explicada da seguinte forma. Ele associa aos


termos da P.G. b, b2 , b3 , b4 , … , bm , … , bn , … aos termos da P.A. 1, 2, 3, 4, … , m, … , n, … .
de modo que o produto bm bn = bm+n está associado à soma 𝑚 + 𝑛 dos termos da
P.A. Napier formulou essa P.G. de modo que seus termos ficassem bem próximos, e
engenhosamente tomou o número 𝑏 bem próximo de 1. O valor tomado então foi
1
(1 − 107 ) = 0,9999999. Com a finalidade de eliminar casas decimais, multiplicou cada

termo da P.G. por uma constante 107 . Dessa forma, se um número N qualquer for
escrito na forma N = 107 (1 − 1/107 )L , então L é o “logaritmo” de Napier do número N
ou abreviadamente, Nap log N.
A lógica inicial da construção da tábua é feita seguinte forma: para um certo
valor L do expoente de N = 107 (1 − 1/107 )L, calcula-se esse N, por fim se diz que Nap
log N é L. Um exemplo disso é o que mostra a tabela seguinte:

Figura 1- Excerto da tábua de logaritmo de Napier

Fonte: Renato Mucciacito- Logaritmos: história, aplicações e vídeos animados 3.


3
Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/Busca/Download?codigoArquivo=547550.
Acesso em 1 mai. 2023.

Um exemplo desse raciocínio é para Nap log a = 98. Sabe-se que o número
a será da forma 107 (1 − 1/107 )98 que é igual a 9.999.902. Assim podemos afirmar que

11
Nap log 9.999.902 é 98 e assim por diante. Veja que se N1 < N2, temos L1 > L2 pelo fato
1
de o fator (1 − 107 ) ser menor que um.

Um aspecto interessante a salientar é que Napier observou que números


que estão na razão 2 para 1, seus logaritmos diferem em 6.931.469,22. E números
que estão na razão 10 para 1, seus logaritmos diferem em 23.025.842,34. Nesse viés,
eu tive curiosidade de verificar essas propriedades com a ajuda de uma calculadora
científica para certos dois números, visto que a experimentação pode ajudar-nos a
aprender melhor as conclusões matemáticas. Ao observarmos a propriedade para N2
= 2N1, podemos tomar N1 = 4.999.999 e N2 = 9.999.998. Temos N2 > N1 e
consequentemente L2 < L1. Calculando Nap log 9.999.998 encontramos L2 = 2.
Adicionando 6.931469,22 ao número L2 encontrado temos 6.931.471,22, o qual
supomos ser L1. Para tirarmos a dúvida, ao calcular-se 107 (1 − 1/107 )6.931.471,22 temos
um valor muito aproximado para 4.999.999. Analogamente, tomei dois números na
proporção 10 : 1, sendo N1 = 999.999 e N2 = 9.999.990. Nesse caso, observamos que
L2 > L1. Calculamos Nap log 9.999.990 e temos L2 = 10. Assim, supomos que L1 seja
tal que L1 = L2 + 23.025.842.34. Logo, L1 = 10 + 23.025.842,34 = 23.025.852,34.
Fazemos o cálculo 107 (1 − 1/107 )23.025.852,34 encontramos justamente N2 ≈ 999.999.
Convém ressaltar também que o logaritmo de Napier em geral não obedece
a regra de o logaritmo do produto (ou quociente) ser igual à soma (ou diferença) dos
logaritmos. O que se tem certeza é que sendo L1 = Nap log N1 e L2 = Nap log N2, então
N1= 107 (1 − 1/107 )L1 e N2 = 107 (1 − 1/107 )L2 . Dessa forma, a expressão N1·N2/107
= 107 (1 − 1/107 )L1+L2 nos diz que a soma dos logaritmos de Napier será o logaritmo
de N1·N2/107 e não de N1·N2.
Mesmo assim, usando os artifícios mostrados acima, produtos de fatores
demasiados grandes (ou demasiados pequenos, usando ajuste das casas decimais)
eram simplificadas com ajuda de uma tabela, de modo que esse sistema tinha bom
proveito em cálculos de astrônomos, construtores e matemáticos em geral.
Napier na conclusão de seu trabalho, explicou em termos geométricos seu
sistema. Considere um segmento AB e uma semirreta DE com origem em D, conforme
a figura 3. Suponhamos também que os pontos C e F iniciem simultaneamente em
movimento, a partir de A e de D respectivamente, com a mesma velocidade inicial.
Admite-se que C se mova com uma velocidade em todo instante numericamente igual
à distância CB, e que F se move em velocidade constante. Napier então define o

12
comprimento DF como o logaritmo de CB, ou seja, colocando DF = x e CB = y, o que
se obtém é

x = Nap log y

Figura 4

Fonte: Simone Sotozono Alonso Ramos- Logaritmos: uma abordagem didática- artigo ProfMat4
4
Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/fevereiro2016/matematica_dissertacoes/dis
sertacao_simone_sotozono_alonso_ramos.pdf. Acesso em: 1 mai. 2023

2.3 CONCLUSÃO

Laplace certa feita afirmou que a invenção dos logaritmos diminuiu o


trabalho e dobrou a vida dos astrônomos, conotando a facilidade que esse artifício
matemático trouxe para a astronomia e, não obstante, para os navegadores. Nesse
viés, a ideia de Napier foi amplamente aceita na Europa, mostrando a matemática
como fornecedora de instrumentos de solução de problemas.

3. OS LOGARITMOS DE HENRY BRIGGS

Henry Briggs também foi um matemático do séc. XVI que trouxe


contribuições para o artifício do logaritmo. Segue abaixo um pouco de sua história e
sobre o funcionamento de seu sistema.

13
3.1 HENRY BRIGGS

Henry Briggs (1561-1631), também inglês, foi um professor de geometria


do Gresham College de Londres e posteriormente professor de Oxford. Em 1615,
Briggs visitou Napier em sua casa, na Escócia, tanto como forma de reconhecimento
do trabalho do amigo quanto para discussão de um novo tipo de logaritmo.

3.2 OS LOGARITMOS DE BRIGGS

Briggs propôs que, usando potências de 10 para a construção de tabelas,


surgiria um sistema também muito útil. Determinou então que log1 = 0 e log10 = 1.
Dessa forma, convém mostrar a engenhosidade que ele usou como ideia propulsora
para o desenvolvimento de sua tabela de logaritmos. Extraindo-se a raiz quadrada de
10, e posteriormente a raiz quadrada do resultado num processo iterativo, é possível
construir a seguinte tábua:

101/2 = 3,16228 101/256 = 1,00904

101/4 = 1,77828 101/512 = 1,00451

101/8 = 1,33352 101/1024 = 1,00225

101/16 = 1,15478 101/2048 = 1,00112

101/32 = 1,07461 101/4096 = 1,00056

101/64 = 1,03663 101/8192 = 1,00028

101/128 = 1,01815 ... 101/𝑝 n

Nessa tabela, se encontram 13 primeiras raízes sucessivas de 10 com uma


boa aproximação de 5 casas decimais. É notório que a obtenção desses resultados
pode requerer muito trabalho, mas depois de feitos e tabulados, podem ajudar em
produtos (ou divisões) trabalhosos.

14
Com esta tábua, por exemplo, pode-se calcular o logaritmo decimal de
qualquer número entre 1 e 10, e então, modelando a característica, conseguimos
calcular, com boa aproximação, de qualquer número positivo. Vejamos o algoritmo
que permite isso:

① Seja N tal que 1 < N <10;


② Divide-se N pelo maior número da tábua que não ultrapasse N;
③ Digamos que o divisor seja 101/𝑝 1 e o quociente seja N1;
④ Então N = (101/𝑝 1)N1; Repete-se o processo para N1;
⑤ Divide-se N1 pelo maior número da tabela que não exceda N1;
⑥ Digamos que o divisor seja 101/𝑝 2 e o quociente seja N2;
⑦ Logo N = (101/𝑝 1) (101/𝑝 2) N2;
⑧ Continuando o processo encontraremos N = (101/𝑝 1) (101/𝑝 2) ... (101/𝑝 n)Nn;
⑨ Paramos quando Nn diferir da unidade apenas na sexta casa decimal.

Dessa forma, temos uma boa aproximação para N em função das raízes
quadradas sucessivas de 10 e, consequentemente temos:

N = (101/𝑝 1) (101/𝑝 2) ... (101/𝑝 n) ⇒ log N = 1/p1 + 1/p2 + ... + 1/pn

Nesse contexto, logaritmo de Briggs pode ser definido da seguinte forma:

“log10 X = log X = L ⇒ 10L = X


ou seja, logaritmo briggsiano de X é o número L tal que 10L seja X”.

15
Como consequências da definição, temos várias propriedades, dentre elas
destacamos duas aqui:

① “O logaritmo do produto de dois fatores reais positivos é igual à soma dos


logaritmos dos fatores: log10 (b · c) = log10 b + log10 c”;
② “O logaritmo de uma potência de base real positiva e expoente real é igual ao
produto do expoente pelo logaritmo da base da potência: log10 bα = α·(log10 b)”.

Abaixo seguem a prova das propriedades.

Prova de ①: Fazendo log10 b = x, log10 c = y e log10 (b · c) = z, provemos que z = x+y.


De fato:

log10 b = x ⇒ 10x = b
log10 c = y ⇒ 10y = c
log10 (b · c) ⇒ 10z = b · c ⇒ 10z = 10x·10y ⇒ 10z = 10x +y ⇒ z=x+y

Prova de ②: Fazendo log10 b = x e log10 bα = y, Provemos que y = α·x.


De fato:

log10 b = x ⇒ 10x = b
log10 bα = y ⇒ 10y = bα ⇒ 10y = (10x)α ⇒ 10y =10α · x ⇒ y=α·x

Uma possível aplicação do logaritmo briggsiano surge quando se quer


calcular o tempo necessário para que se tenha um certo aumento no capital investido.
Podemos tomar como exemplo a seguinte situação:

“Investindo certo capital a juros mensais de 7% ao mês no regime de juro


composto, após quanto tempo, no mínimo, obteremos o triplo do capital investido“?

16
Dados: log 3 ≈ 0,4771 e log 1,07 ≈ 0,0294. Solução: Sendo C o capital investido e 3C o
montante que se quer, devemos achar o tempo t tal que 3C = C (1 + 0,07)t. Logo efetuamos
cálculo abaixo:

3C = C (1 + 0,07)t ⇒ 1,07t = 3 ⇒ log 1,07t = log 3 ⇒


t · log 1,07 = log 3 ⇒ t = (log 3)/(log 1,07) ⇒
t = 0,4771/0,0294 ⇒ t ≈ 16,23.

Ou seja, temos a certeza de que ao se passarem 17 meses da data do


investimento, o capital terá triplicado.

3.4 CONCLUSÃO

Como salientamos, o contexto do expansionismo europeu trouxe maior


efervescência comercial para os portos e para as capitais. Assim, os comerciantes,
com a ajuda de uma tabela de logaritmos briggsianos poderiam efetuar contas
envolvendo empréstimos, compras e vendas com mais facilidade.

4 OS LOGARITMOS DE JOBST BÜRGI

Nesta seção, iremos explanar sobre quem foi Jobst Bürgi e sobre o seu
trabalho na área dos logaritmos.

4.1 JOBST BÜRGI

Jobst Bürgi (1552-1632) foi um suíço, construtor de instrumentos


astronômicos e de relógios, que desenvolveu a ideia de logaritmo por volta do mesmo
período que Napier trabalhou na área. De forma independente, é possível que seus
trabalhos tenham começado por volta de 1588, ao passo seu livro sobre o assunto,
Arithmetische und geometrische Progress – Tabulen, foi publicado somente em 1620.

17
Figura 5: Jobst Bürgi

Fonte: Página do E-Cálculo da USP5.


5
Disponível em: http://ecalculo.if.usp.br/historia/burgi.htm Acesso em: 1 mai. 2023

4.2 OS LOGARITMOS DE BÜRGI

O trabalho de Bürgi tem semelhanças com o de Napier. A diferença está


nas terminologias e nos valores numéricos adotados. Bürgi pensou implicitamente na
associação entre os termos de uma P.G. com os termos de uma P.A. Para o 1º termo
da P.G. ele escolheu um número pouco maior que 1, sendo escolhido (1+10-4), e
multiplicou todos os termos por 108. Assim, num número N = 108 (1 + 10-4)L, Bürgi
chama 10L o número “vermelho” correspondente ao número “preto” N.
Nesse contexto, convém ressaltar que a ideia de Bürgi de associar os
termos de uma P.G. com os termos de uma P.A. para constituir um sistema de
logaritmos veio de Michael Stifel (1487-1567) matemático alemão.
Um dos fenômenos que Stifel percebeu nas suas pesquisas em aritmética,
1 1 1
foi que associando os termos da P.G. (8 , 4 , 2 , 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64) cuja razão é 2 aos

termos da P.A. (−3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6) cuja razão é 1, para fazer o produto (ou
quociente) de dois termos quaisquer da PG, buscamos os termos associados na PA
primeiro, calculamos sua soma (ou subtração), e o correspondente da soma (ou
subtração) na PG, é o produto (ou quociente) que se busca. Como exemplo dessa
propriedade para produto, tomemos os números 4 e 16 da P.G. Os associados na
P.A. são respectivamente 2 e 4, cuja soma é 6. Dessa forma, o número 6 na P.A. tem
como correspondente 64 na P.G, de modo que o produto de 4 por 16 seja 64.
O trabalho de Bürgi na área dos logaritmos então foi publicado em 1620 na
cidade de Praga, com o nome de Aritmetische und geometrische Progress – Tabulen,

18
como foi citado. Na tabela impressa de sua obra, os números vermelhos apareciam
nas primeiras linhas e primeiras colunas. Logo, podemos considerar que era uma
tábua de antilogaritmos, mas que com a observação adequada, servia como tábua de
logaritmos de Bürgi, dos quais temos alguns exemplos abaixo:

Número vermelho Número preto associado

0 108·(1+10-4)0 = 100.000.000
10 108·(1+10-4)1 = 100.010.000
20 108·(1+10-4)2 = 100.020.001
30 108·(1+10-4)3 = 100.030.003
... ...

10·L 108·(1+10-4)L = NL

Assim como no sistema de Napier, o logaritmo de Bürgi de um produto (ou


quociente) não é a soma (ou subtração) de logaritmos.
Como curiosidade, a partir do sistema de Bürgi, podemos obter um sistema
aproximado de logaritmos naturais. Quando dividimos os números pretos por 108 e os
números vermelhos por 10.000, obtemos o seguinte esquema:

Número vermelho modificado - Número preto associado modificado

0 [ (1+10-4)10.000 ]0 = 1
10-4 [ (1+10-4)10.000 ]1 ≈ 2,71815
2·10-4 [ (1+10-4)10.000 ]2 ≈ 7,38832
3·10-4 [ (1+10-4)10.000 ]3 ≈ 20,08252
4·10-4 [ (1+10-4)10.000 ]4 ≈ 54,58723
5·10-4 [ (1+10-4)10.000 ]5 ≈ 148,37606
... ...
L·10-4 [ (1+10-4)10.000 ]L = NL

19
Percebe-se que (1+10-4)10.000 ≈ 2,71815 é bem próximo da base dos
logaritmos naturais, que é aproximadamente 2,71818.
Finalizando esta seção, é mostrado aqui um excerto da tábua de Bürgi:

Figura 6: Excerto da tábua de Bürgi para logaritmos

Fonte: Denis Roegel: Bürgi’s “Progress Tabulen” (1620): logarithmic tables without logarithms6
Artigo. 6Disponível em:< https://locomat.loria.fr/buergi1620/buergi1620doc.pdf>
Acesso em: 1 mai. 2023

Percebemos que no cruzamento da 5ª linha com a 6ª coluna temos o


número preto N = 302.026.548, de forma que somando os números vermelhos
auxiliares 40 e 110.500 e dividindo o resultado por 10, obtemos 11.054 que é o
expoente de (1,0001), fator do número preto N, de Bürgi, associado. Assim N pode
ser escrito como 108·(1,0001)11.054.

4.3 CONCLUSÃO

No viés desse eficiente artifício que é o logaritmo, Bürgi mostrou-se proativo


e criativo na Suíça de sua época, criando um sistema que podia também ajudar em
cálculos trabalhosos. A publicação de sua obra e tábua também foi uma grande
contribuição para a matemática, além de, com certas manipulações, seu sistema ficar
parecido com o de logaritmos naturais.

20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Laplace certa feita afirmou que a invenção dos logaritmos diminuiu o


trabalho e dobrou a vida dos astrônomos, denotando um exemplo onde esse artifício
matemático vem servir como ferramenta. Ressalta-se também que entre os
navegadores, o uso de tábuas logarítimicas começou a ganhar espaço. Nesse viés, a
ideia de Napier foi amplamente aceita na Europa, mostrando a matemática como
fornecedora de instrumentos para solução de problemas.
Como salientamos, o contexto do expansionismo europeu trouxe maior
efervescência comercial para os portos e para as capitais. Assim, os comerciantes,
com a ajuda de uma tabela de logaritmos briggsianos poderiam efetuar contas
envolvendo empréstimos, compras e vendas com mais facilidade.
No viés desse eficiente artifício que é o logaritmo, Bürgi mostrou-se proativo
e criativo na Suíça de sua época, criando um sistema que podia também ajudar em
cálculos trabalhosos. A publicação de sua obra e tábua também foi uma grande
contribuição para a matemática, além de, com certas manipulações, seu sistema ficar
parecido com o de logaritmos naturais.

21
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOYER, Carl B.; MERZBACH, Uta C. História da Matemática. 3. ed. São Paulo:
Blücher, 2012.
EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. 2. ed. Campinas, SP:
Unicamp, 1997.
IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos de Matemática Elementar - 2 -
Logaritmos. 10 ed. São Paulo: Atual Editora, 2013.

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