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Janeiro-Fevereiro-Março de 2022
www.jbmede.com.br
Jornal Brasileiro de Medicina de Emergência
O Jornal Brasileiro de Medicina de Emergência (JBMEDE) inicia a sua história como mais um
marco na consolidação da jovem especialidade de Medicina de Emergência no Brasil e ratifica um dos
pilares da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE) como força motriz e difusora
do conhecimento da especialidade no país. O periódico nasce com periodicidade trimestral, um corpo
editorial fortemente associado à área e revisores comprometidos com a geração e prática baseada nas
melhores evidências científicas. Com orgulho, a ABRAMEDE constrói ações em prol do desenvolvimento
da educação médica permanente, fortalecimento da especialidade e contínua melhoria das práticas
assistenciais
COMITÊ EDITORIAL:
CONTATO:
Secretaria Executiva ABRAMEDE JBMEDE
Avenida Ipiranga, 40 – Sala 2002 International Standard Serial Number
Porto Alegre – Rio Grande do Sul- Brasil ISSN 2763-776X
secretaria@abramede.com.br
Telefone: +55 51 3094 2777
SUMÁRIO
JBMEDE 2022; 2(1)
Editorial
Mulheres e Medicina de Emergência: uma combinação divina ..................................................... e22001
Eloisa Bohnenstengel
Revisão de Tema
Contraindicações e complicações do uso da ventilação não invasiva no Departamento de
Emergência: Revisão da Literatura ............................................................................................................ e22002
Lucas Certain
Artigos Originais
Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise
em um serviço de emergência ...............................................................................................................…….. 22003
Mariana Cosmo Marques, Helena Caetano Gonçalves e Silva
Editorial
Eloisa Bohnenstengel1*
1 Médica do IMEDGROUP
*Autor correspondente. Endereço de e-mail: elo.bohnens@gmail.com
As mulheres estão envolvidas na medicina desde A maioria das coisas que vale a pena fazer exige
os tempos primitivos (Quando me refiro a mulheres, estou muito esforço. Equilíbrio entre vida profissional e pessoal
identificando o arquétipo feminino, não o gênero). requer constante atenção e dedicação. É preciso estabelecer
Muitos deuses míticos dos antigos gregos e prioridades, acionar cadeia de ajuda e contar com apoio dos
romanos foram mulheres. O próprio Esculápio, deus grego amigos e familiares, além de ter foco em suas conquistas.
da medicina perpetuou seu dom através de suas filhas, Reservar tempo para estar com pessoas queridas.
Higéia (preservação da saúde) e Panacéia (cura de todos os Renunciar a um dinheiro extra em plantão para dar atenção
males). Práticos médicos no Egito, China e Índia também a pessoa companheira (ou candidata a). Ter um bom senso
foram mulheres. Numa medicina rudimentar, misturando de humor ajuda bastante, também. Pensar sobre seus
religião, lendas e algum mínimo conhecimento científico, o próprios sonhos, seu propósito, sobre sua saúde. A Medicina
espaço ensejado a nós, mulheres, foi perdendo é belíssima e inebriante, mas ser médica não é tudo.
expressividade. Bem, foram muitas barreiras, fogueiras e E, por que ter tudo? Uma carreira de sucesso na
preconceitos para chegarmos até aqui. Apesar do início medicina dura muitas décadas. Ser mãe, ser filha, realizar
difícil, este cenário vem mudando. Nos últimos 20 anos, seus sonhos, ser boa amiga é para todo sempre. As
dobrou o número de mulheres médicas no Brasil e é responsabilidades de cada função são enormes e as
crescente a presença feminina na carreira médica. Na faixa recompensas são imensuráveis. Sob meu ponto de vista, é
etária mais jovem (até 34 anos), as mulheres já são maioria. uma dádiva poder experimentar as maravilhas de todos os
Em oito anos, as mulheres serão maioria entre todos os papéis a que nos propomos.
médicos e mais de 80% dessas profissionais, em 2030, terão 2. Desigualdades enfrentadas pelas mulheres no
entre 22 e 45 anos. É o que indica estudo que subsidia o departamento de emergência.
Plano Nacional de Fortalecimento das Residências em Pense em um diretor de hospital. Na tua imagem,
Saúde do Ministério da Saúde. era homem ou mulher? Pense num gestor liderando uma
E a carreira de emergencista, que tanto demorou a equipe de alta performance. Você pensou em homem ou
ser entendida, estabelecida e reconhecida, também foi difícil mulher? Pense em um profissional chorando escondido no
para nós mulheres. Afinal, é a primeira especialidade para hospital exausto por ter sido humilhado por um paciente ou
exigir a presença 24 horas de um médico assistente. Nós um chefe inescrupuloso. Esta pessoa fragilizada era uma
sacrificamos nossas vidas pessoais, famílias e nós mesmos mulher ou homem?
ao longo de nossa carreira para garantir cobertura 24 horas/7 Pelos últimos dados disponíveis da Pesquisa
dias por semana, 365 dias ao ano. É uma atividade com Demografia Médica no Brasil 2018, da Faculdade de
altíssima demanda física, emocional, mental. Medicina da USP (FMUSP) com apoio do Conselho Federal
Se por um lado, é uma carreira muito dura, existem de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do
muitas vantagens sobre ser uma médica emergencista. Estado de São Paulo (Cremesp), embora o público feminino
Nossas habilidades em estabelecer vínculos simbióticos que esteja em crescimento, o salário ainda é menor aos dos
vão além do trabalho e transbordam para a vida pessoal é homens que ocupam as mesmas posições. Temos menores
notável. E quem mais consegue manejar casa, família, probabilidades de sermos promovidas tão rapidamente na
amigos, resolver problemas do trabalho e ainda rir das liderança acadêmica e administrativa.
próprias mazelas? Outrossim, a flexibilidade em mudanças Atualmente, imagine uma mulher concorrendo a um
de cenários, a atenção a pequenos detalhes do paciente, do cargo de liderança ou entrevistando um novo emprego.
ambiente, do familiar, que muitas vezes escapam ao médico Durante suas entrevistas, ela afirma que está tentando
com olhar focado, com seus cones ávidos em precisão. ativamente começar uma família com seu parceiro. Quão
Quero refletir sobre 3 aspectos de uma mulher prejudicial isso é? Enquanto isso, um homem exatamente na
emergencista mesma posição não é visto negativamente. Uma das coisas
1. Equilíbrio vida pessoal e trabalho mais construtivas que um departamento pode fazer para
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Bohnenstengel Mulheres e Medicina de Emergência: uma combinação divina
ajudar todos os funcionários é oferecer políticas de apoio às flexibilidade (lidando com mudanças e gerenciando as
licenças materna e parental. À medida que nossas famílias possibilidades); visão holística (intuindo sobre situações
se tornam mais diversificadas, políticas como essa se tornam baseada em repertório e informações, utilizando suas
ainda mais importantes na criação de igualdade e capacidades sociais de relacionamento); comunicação
oportunidades para todos os membros de um departamento. (posicionando-se de forma franca, utilizando seu tom de voz
Finalmente, o papel da mulher em sua família não termina como arma de persuasão); confiança (liderando pelo
quando uma criança nasce ou deixa de amamentar. Estudos exemplo e inspirando todos ao seu redor).
nos mostram que as mulheres muitas vezes carregam muito Imbuída desta paixão e força de vontade, agradeço
mais do que 50% da carga de cuidado/corrente doméstica. por fazer parte da diretoria da ABRAMEDE, que confia a mim
Embora isso possa ter funcionado na década de 1950, não e a mais 3 mulheres em cargos de liderança, a
funciona para a médica moderna e continua a distorcer as responsabilidade de fazer a diferença.
regras do jogo. Sem reconhecimento e tentativa de
mitigação disso, as médicas estão continuamente em
desvantagem. Acrescento, que a desigualdade nem sempre
está relacionada a maternidade. Ás vezes é puro preconceito
mesmo.
Lutar por políticas inclusivas nos hospitais e preferir
trabalhar em locais que tenham este tipo de respeito, não
apenas as mulheres, mas a diversas outras condições que
causam preconceito parece um bom começo para
começarmos a mudar este cenário.
3. O pedregoso caminho da gestão
Certamente você já deve ter ouvido a frase: “não
nasci pra liderança”. Realmente, não é uma característica
inata, afinal, tudo pode ser aprendido. Habitualmente faço
uma pergunta para meus pupilos e mentorados: se todos os
médicos da escala fosse clones teus, o plantão seria melhor?
Os pacientes seriam melhor cuidados? Se a resposta for sim,
é possível que o teu caminho seja, sim, pela gestão.
Sabemos que uma das habilidades almejadas para o
emergencista é a liderança, não exercida por ocupar um
cargo, mas atuando de fato num papel de olhar sistêmico
sobre tudo o que está acontecendo simultaneamente num
departamento de emergência, estabelecendo prioridades,
otimizando recursos, mesmo em situações de crise.
E, dentro das desigualdades enfrentadas pelas
mulheres que já comentei, seguimos tirando as pedras do
caminho.
E como se desenha o pipeline da liderança?
Primeiramente entendo que é necessário um envolvimento
em tudo que envolve gestão, a busca por oportunidades.
Uma constante inquietação em perguntar-se como melhorar
cada processo.
Em segundo lugar, a capacitação. O médico, tendo
exercido seu papel assistencial, detendo o conhecimento de
um gestor, consegue aliar e alinhar os dois horizontes e criar
soluções com muito mais segurança ao paciente e a
assistência. Em terceiro lugar, tendo inspiração em líderes
que não apenas deem o exemplo, mas também possam
apoiá-lo em seus sonhos e dificuldades.
Entendo que é hora de mudar esse cenário de
desvalorização da mulher e ver cada vez mais mulheres
dando sua importante contribuição para a defesa dos
interesses da Medicina de Emergência, dos médicos, dos
pacientes e da população.
Assim poderão influenciar com suas melhores
características: a sensibilidade (com o poder de escuta e
observação empática, exercendo seu caráter solidário);
2 JBMEDE 2022;2(1):e22001
JBMEDE 2022;2(1):e22002
Revisão de Tema
Lucas Certain1*
¹ Médico do SAMU 192 Regional Bragança, São Paulo, Brazil.
* Autor correspondente. Endereço de e-mail: lucas_certain@hotmail.com
RESUMO
Introdução: A VNI consiste em se pressurizar as vias aéreas com o uso de uma interface paciente-
ventilador externa. Compreendendo que a VNI é uma importante estratégia de suporte ventilatório, torna-
se relevante identificar possíveis contraindicações e complicações dessa técnica. Método: Foram
considerados artigos científicos publicados nos últimos 10 anos, utilizando fontes nacionais e
internacionais, com a seguinte estratégia de busca: (NIV OR non-invasive OR noninvasive OR artificial)
AND (ventilation OR respiration OR breathing) AND positive AND pressure AND emergency AND
(contraindication OR complication), em inglês e português. Resultados: Foram identificados 22 artigos
que responderam à estratégia de busca. Destes, 13 foram eliminados, restando 9 artigos para revisão.
Conclusões: A VNI pode levar a um colapso do sistema cardiovascular quando não realizada
adequadamente. Pacientes com estado mental alterado são considerados contraindicação à VNI, e
recomenda-se que esta não seja realizada em pacientes com Escala de Coma de Glasgow inferior a
10,34. Outros problemas relacionados à VNI são redução da salivação, escape de ar, falta de sincronia
entre o paciente e o aparelho de ventilação artificial, formação de úlceras por pressão relacionadas à
própria interface respiratória, além de distensão e desconforto gástrico.
DOI: 10.54143/jbmede.v2i1.66
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Certain Contraindicações e complicações do uso da ventilação não invasiva no Departamento de Emergência: Revisão da Literatura
níveis pressóricos. Quando se utiliza dois níveis de ventilação invasiva. Neste cenário, estão agrupadas a
pressão, temos um nível de suporte na inspiração asma, a síndrome do desconforto respiratório agudo,
(IPAP – inspiratory positive airways pressure) e outro a pneumonia adquirida na comunidade, a falência
ao final da expiração (EPAP ou PEEP – expiratory respiratória pós extubação, o desmame ventilatório,
positive airways pressure). Quando se utiliza apenas os doentes sem indicação de intubação (paliativos),
um nível de pressão, é fornecida apenas a EPAP ou as bronquiectasias, a fibrose cística, as doenças
PEEP. Além de suporte pressórico, variadas frações intersticiais e as restritivas pulmonares1,2,4,5,7.
inspiradas de oxigênio (FiO2) são oferecidas para se Compreendendo que a VNI é uma
adequar a saturação arterial de oxigênio acima de importante estratégia de suporte ventilatório que deve
92%1,2. ser aprendida e difundida entre os médicos que
A escolha da interface é primordial para o seu atendem pacientes críticos no Departamento de
funcionamento, sendo que devem ser considerados o Emergência, torna-se relevante identificar possíveis
formato do rosto, o conforto do paciente e o tempo de contraindicações e complicações dessa técnica, pois
utilização do dispositivo. As interfaces disponíveis são assim será possível, por meio de evidências
a nasal, a oronasal, a total, além de peças bucais e científicas, orientar de forma mais assertiva a prática
capacetes, sendo a máscara oronasal a primeira médica.
escolha e mais comumente utilizada1, 2, 5. Este estudo tem como objetivo realizar uma
As indicações para o uso da VNI são revisão da literatura especializada, buscando
baseadas em critérios clínicos e laboratoriais, como a selecionar trabalhos nacionais e internacionais que
deterioração das trocas gasosas com saturação de abordem as contraindicações e complicações da VNI
oxigênio menor que 92%, a falência da bomba no Departamento de Emergência
respiratória com hipercapnia e acidose respiratória, a
dispneia com uso de musculatura acessória ou Método
respiração paradoxal, e a taquipneia com frequências
acima de 24 incursões por minuto1, 2, 4.
Trata-se de uma revisão narrativa de
Uma série de trabalhos demonstrou
literatura incluindo publicações científicas em
os benefícios do uso da VNI. Em termos de
periódicos. Foram considerados os artigos científicos
vantagens fisiopatológicas, destacam-se a abertura
publicados nos últimos 10 anos, compreendendo o
das vias aéreas e de alvéolos com redução de
período de 2010 a 2020, nos idiomas português e
atelectasias, a diminuição do esforço respiratório, a
inglês, utilizando como fontes de pesquisa as bases
melhora das trocas gasosas com correção da
de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval
hipoxemia e da hipercapnia, a redução do auto-
System Online (PUBMED / MEDLINE), Literatura
PEEP, a melhora da complacência pulmonar, e a
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde
redução da pré e pós carga do ventrículo esquerdo.
(LILACS) e biblioteca digital Scientific Eletronic
Esses mecanismos proporcionam efeitos diretos na
Library Online (SciELO).
redução de internações e custos hospitalares,
As estratégias de busca utilizadas
menores índices de infecções nosocomias, de lesões
foram as seguintes: (NIV OR non-invasive OR
de estruturas da via aérea, de necessidade de
noninvasive OR artificial) AND (ventilation OR
intubação orotraqueal, e principalmente, redução de
respiration OR breathing) AND positive AND pressure
mortalidade1,2,4,5,6.
AND emergency AND (contraindication OR
Edema agudo de pulmão
complication), em inglês, e (não-invasiva OR “não
cardiogênico, doença pulmonar obstrutiva crônica
invasiva” OR artificial) AND (ventilação OR
(DPOC) exacerbada e pacientes imunossuprimidos
respiração) AND pressão AND positiva AND
que se apresentam com dispneia e hipoxemia são as
emergência AND (contra-indicação OR
situações que mais se beneficiam do uso da VNI.
contraindicação OR complicação). Vale ressaltar que
Essas etiologias demonstraram em estudos uma
estes termos foram testados a priori na plataforma
redução da necessidade de intubação orotraqueal
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), para os
(46-56% no edema agudo de pulmão cardiogênico e
termos em português, e no Medical Subject Headings
60% no DPOC exacerbado) e de mortalidade (36%
(MeSH), para os termos em inglês.
no edema agudo de pulmão cardiogênico e 50% no
Após identificar os artigos científicos
DPOC exacerbado)1,2,4,5,6,7. Outras situações ainda
nas bases de dados mencionadas, foram avaliados
estão sendo pesquisadas, sendo que a VNI pode ter
os títulos e resumos dos trabalhos, de modo a
um papel desde que não postergue a indicação de
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Certain Contraindicações e complicações do uso da ventilação não invasiva no Departamento de Emergência: Revisão da Literatura
selecionar os artigos que farão parte da amostra. Em gástrica. A conclusão dos autores foi que, se uma
seguida, os artigos que atenderem ao objetivo do inspeção radiográfica prévia do tórax tivesse sido
estudo foram inseridos em biblioteca eletrônica e realizada, a VNI não teria sido iniciada.
resumidos, incluindo seus autores, objetivos, Segundo Bein, Francksen e Steinfath (2011) 9,
características metodológicas, resultados e os dispositivos supraglóticos utilizados em vias
conclusões. aéreas, em contraste com os dispositivos de primeira
geração, como o LMA “clássico” e o tubo de laringe,
Resultados ofereciam um tubo de drenagem esofágico e / ou uma
pressão de vazamento orofaríngea aprimorada
durante a ventilação com pressão positiva, incluindo
A busca pelos artigos ocorreu no dia 27 de
as versões descartáveis desses dispositivos. Porém,
fevereiro de 2020. Após a utilização da estratégia em
os autores ressaltaram que, embora a falta de
inglês na base de dados PUBMED / MEDLINE, foram
proteção contra a aspiração ainda fosse considerada
identificados 22 artigos que responderam à estratégia
uma grande limitação, o valor terapêutico dos
de busca. Destes, 13 foram eliminados por destoarem
dispositivos de vias aéreas com um tubo de
significativamente do foco central do trabalho, e não
drenagem esofágico permanecia, naquela época,
discutirem as complicações e contraindicações
como padrão-ouro na realização de VNI com pressão
associadas à VNI. Após a busca na Scielo e na
positiva.
Lilacs, apenas um mesmo artigo foi identificado em
Segundo Oto, Imanaka e Nishimura (2011)10,
ambas as bases. Porém, o trabalho não foi incluído
a falta de umidade na cavidade da boca se mostra
na amostra visto que sua versão em inglês já havia
como uma complicação comum durante a VNI. Sendo
sido recuperada na busca anterior. Sendo assim, esta
assim, os autores mensuraram o que chamaram de
revisão contou com 9 artigos, que são apresentados
“secura oral” dos pacientes, e realizaram um estudo
na seção a seguir em ordem cronológica de
experimental para investigar fatores relacionados à
publicação.
umidificação durante a VNI. No estudo, os pacientes
foram divididos aleatoriamente em 2 grupos:
Discussão configurações média (grupo Med) e máxima (grupo
Max) do umidificador aquecido (HH). A umidade oral
Siddiqui et al. (2010)8, descreveram o caso de foi avaliada com a utilização de um dispositivo de
uma mulher fumante de 70 anos de idade, com verificação de umidade oral, e a sensação de secura
doença pulmonar obstrutiva crônica conhecida, oral foi avaliada com uma escala de classificação
recebida no setor de emergência com dificuldades numérica de 0 a 10 (NRS) às 0, 12 e 24 horas desde
respiratórias. A gasometria arterial mostrou o início da VNI, e às 12 e 24 horas após a suspensão
insuficiência respiratória com prenunciada acidose. da VNI. Experimentos foram realizado para avaliar os
Foi iniciada Ventilação Não-Invasiva (VNI) e, após 2 efeitos da pressão expiratória final positiva (PEEP),
horas, a paciente sofreu parada cardíaca. Foram da fração de oxigênio inspirado (F (I) O (2)) e do
realizados quatro minutos de ressuscitação vazamento de ar na umidade absoluta. Foram
cardiopulmonar antes do retorno da circulação avaliadas três configurações de HH: sem HH, HH na
espontânea. A radiografia de tórax mostrou uma configuração média e HH na configuração máxima. A
massa grande e repleta de ar, ocupando a maior temperatura na câmara de saída foi de 31°C a 32°C
parte do hemitórax esquerdo. Imagens transversais para o ajuste médio de HH e 38°C a 41°C para o
posteriores confirmaram um grande defeito ajuste máximo de HH. No estudo clínico, 12 pacientes
diafragmático com hérnia de todo o estômago e cólon foram designados para o grupo Med e 11 para o
no tórax. A paciente foi ventilada durante a noite na grupo Max. Como resultados, no grupo Med, a
unidade de terapia intensiva, e o estômago foi umidade oral diminuiu e o NRS aumentou
descomprimido com uma sonda nasogástrica. A significativamente em 12 e 24 horas em comparação
hipótese dos autores sugeriu que a ventilação com com a avaliação basal. No grupo Max, nem a
pressão positiva hiperinflou o estômago, aumentou a umidade oral nem o NRS mudaram ao longo do
pressão intratorácica e reduziu o enchimento período do estudo, enquanto no estudo de bancada,
ventricular, levando ao colapso cardiorrespiratório. elevado F (I) O (2), elevado PEEP e escape de ar
Ainda, a ressuscitação cardiopulmonar pode ter diminuíram a umidade absoluta para as duas
comprimido o estômago, melhorando o débito configurações de HH. Porém, os autores afirmaram
cardíaco, mas aumentando o risco de ruptura que não está claro até que ponto esses fatores
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Certain Contraindicações e complicações do uso da ventilação não invasiva no Departamento de Emergência: Revisão da Literatura
afetaram a secura oral dos pacientes porque as faixas VNI, como demonstrado por uma taxa de sobrevida
de F (I) O (2) e PEEP eram estreitas. Por fim, de 83%. Por fim, afirmaram que o resultado positivo
concluíram que a secura oral era um problema foi confirmado por uma observação subsequente de
comum nos pacientes avaliados, e que a três anos, que demonstrou uma taxa de sobrevida
configuração HH afetou significativamente a global de 54%, e que esses achados sugeriam
umidificação e a secura oral durante a VNI. claramente o tratamento com VNI de pacientes idosos
Passarini et al. (2012)11, conduziram um mesmo na presença de uma ordem de não intubar.
estudo que analisou a insuficiência respiratória aguda Suzuki e Takasaki (2014)13, iniciaram o artigo
causada por edema agudo de pulmão, bem como a afirmando que a atelectasia pós-operatória deve ser
exacerbação da doença pulmonar obstrutiva crônica, evitada em pacientes cirúrgicos com função pulmonar
tratada com VNI, para identificar os fatores comprometida. Segundo os autores, a terapia de alto
associados ao sucesso ou falha desse procedimento fluxo nasal (NHF) é capaz de fornecer oxigênio
em urgência e emergência. No estudo foram incluídos aquecido e umidificado por uma cânula nasal. Com
pacientes de ambos os sexos, com idades maiores do base nestas informações, descreveram o caso de um
que 18 anos, que utilizavam VNI devido à homem de 67 anos de idade com perfuração do
insuficiência respiratória aguda secundária ao edema aparelho digestivo superior, que foi submetido a uma
pulmonar agudo ou exacerbação crônica da doença cirurgia laparoscópica de emergência. A cirurgia
pulmonar obstrutiva. Os autores utilizaram pressões proposta foi concluída sem intercorrências. Porém, no
expiratórias entre 5 e 8 cmH2O, e pressões pós-operatório, o paciente apresentou atelectasia
inspiratórias entre 10 e 12 cmH2O. Um total de 152 maciça do lobo inferior esquerdo com dessaturação
pacientes foram incluídos no estudo, e os resultados para níveis abaixo de 90%. Após a restauração da
demonstraram que o tempo médio de VNI foi de 6 oxigenação normal por sucção traqueal e drenagem
horas (intervalo de 1 a 32 horas) para pacientes com postural, foi realizada VNI com pressão positiva
doença pulmonar obstrutiva crônica (n = 60) e 5 horas contínua nas vias aéreas (CPAP) de 8 cm H2O, para
(intervalo de 2 a 32 horas) para pacientes com edema evitar atelectasias repetidas. Quinze horas após a
agudo de pulmão (n = 92). A maioria dos pacientes cessação da VNI, o paciente desenvolveu recorrência
progrediu com sucesso, no entanto, foram de atelectasias maciças. A sucção broncoscópica
observados escores reduzidos do APACHE II e removeu uma placa mucosa da árvore
menor saturação periférica de oxigênio. Com base traqueobrônquica e a terapia com NHF a 40 L / min
nestes e em outros resultados, os autores afirmaram foi realizada posteriormente, fornecendo um baixo
que a VNI pode ser utilizada em serviços de nível de CPAP, ao invés da VNI. A conclusão dos
emergência em casos de insuficiência respiratória autores foi que o suporte respiratório com a terapia
aguda causada por edema agudo de pulmão, e com NHF estabilizou melhor o paciente do que a VNI,
exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica, fazendo com que a sua reabilitação respiratória
mas pacientes com variáveis relacionadas a uma continuasse sem intercorrências. Além disso, a
porcentagem maior de intubação endotraqueal devem terapia com NHF forneceu gás umidificado ideal, o
ser monitorados especialmente. que melhorou a qualidade da secreção brônquica, em
Em seu estudo, Riario-Sforza e comparação à VNI.
colaboradores (2012)12 afirmaram que a eficácia da Mosier et al. (2015)14, buscaram avaliar as
VNI no tratamento de pacientes com insuficiência chances de uma complicação após falha na VNI em
respiratória aguda (IRA) já havia sido demonstrada comparação com pacientes intubados principalmente
por sua capacidade de diminuir a recorrência à na UTI. Tratou-se de um estudo de centro único que
intubação endotraqueal (ETI), a ocorrência de incluiu 235 pacientes, sendo 125 pacientes intubados
infecções pulmonares associadas à ETI e a após falha na VNI, contra 110 pacientes intubados
mortalidade relacionada. Todavia, os autores citaram sem VNI. Os dados relacionados à intubação foram
uma questão específica relacionada ao resultado da coletados prospectivamente por meio de um
VNI em pacientes encaminhados ao Departamento de programa de melhoria contínua da qualidade (CQI), e
Emergência devido à IRA que recebem uma ordem extraídos retrospectivamente do prontuário médico de
de não intubar (DNI) devido a condições muito críticas todos os pacientes intubados. Foi utilizado um ajuste
ou idade avançada. Segundo os pesquisadores, de propensão para os fatores que afetariam a decisão
dados recentes à época haviam demonstrado que de usar inicialmente a VNI, e a análise de regressão
pacientes idosos (idade média de 81 anos) com IRA multivariada ajustada foi realizada para avaliar as
sob DNI poderiam ser tratados com sucesso pela chances de uma complicação composta
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5 JBMEDE 2022;2(1):e22002
Certain Contraindicações e complicações do uso da ventilação não invasiva no Departamento de Emergência: Revisão da Literatura
relacionadas à própria interface respiratória, além de 10. OTO, J.; IMANAKA, H.; NISHIMURA, M.
distensão e desconforto gástrico. Clinical factors affecting inspired gas
Por fim, buscando preencher algumas falhas humidification and oral dryness during
em relação à VNI, sugere-se a realização de novos noninvasive ventilation. Journal of Critical
estudos, multicêntricos e controlados, no intuito de se Care, v. 26, n. 5, p. 535.e9-535.e15, 2011.
obter conhecimento adequado sobre a terapia VNI, 11. PASSARINI, J. N. DE S. et al. Use of non-
suas indicações e contraindicações, no sentido de se invasive ventilation in acute pulmonary edema
obter os melhores resultados para o paciente. and chronic obstructive pulmonary disease
exacerbation in emergency medicine:
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Terapia Intensiva, v. 24, n. 3, p. 278–283,
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princípios, análise gráfica e modalidades
hypercapnic respiratory failure. La Clinica
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607, 2011.
6 JBMEDE 2022;2(1):e22002
JBMEDE 2022;2(1):e22003
Artigo Original
RESUMO
Introdução: A hiperglicemia no infarto agudo do miocárdio (IAM) está relacionada a maiores taxas de
mortalidade e complicações intra-hospitalares. Ocorre em pacientes com diagnóstico de diabetes mellitus
(DM) e em pacientes com hiperglicemia de estresse (HE), que é a elevação transitória da glicemia em
situações agudas em indivíduos não diabéticos. Objetivo: Determinar a prevalência de DM e HE no IAM e
suas características em um serviço de emergência no sul de Santa Catariana. Metodologia: Estudo de
delineamento transversal. Dados coletados de prontuários eletrônicos de pacientes admitidos pelo Sistema
Único de Saúde por primeiro episódio de IAM no Hospital Nossa Senhora da Conceição, de 2018 a 2020.
Foram excluídos prontuários que não apresentavam registro de glicemia na admissão hospitalar.
Resultados: Foram analisados 132 prontuários. As comorbidades mais frequentes foram: HAS (62,9%),
tabagismo (36,4%) e DM (30,3%). A prevalência da hiperglicemia hospitalar foi de 40,1% e a da HE 19,7%.
A mortalidade de pacientes com hiperglicemia hospitalar foi de 20,8% e com HE de 23,1%. A associação
entre mortalidade intra-hospitalar e hiperglicemia hospitalar (p=0,021) foi estatisticamente significativo. A
prevalência de complicações foi estatisticamente maior entre indivíduos com DM, HE e hiperglicemia.
Conclusão: A hiperglicemia atinge grande parte dos indivíduos com IAM tanto em pacientes diabéticos,
como em pacientes não diabéticos. Ela se apresenta como importante preditor de morbimortalidade em
pacientes.
DOI: 10.54143/jbmede.v2i1.31
2763-776X © 2022 Associação Brasileira de Medicina de Emergencia (ABRAMEDE). This is an Open Acess
article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted
use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original article is properly cited (CC-BY).
Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
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Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
exposições foi avaliada por meio do teste de qui- estado civil as prevalências foram de, em ordem
quadrado. O nível de significância usado foi de 5% decrescente: casado/união estável (59,1%), viúvo
(p<0,05) e intervalo de confiança de 95%. As análises (15,2%), divorciado (12,9%), solteiro (8,3%) e não
foram realizadas no software SPSS 21.0. O programa informado (4,5%).
Excel foi utilizado para elaboração e organização do A ocupação mais identificada no estudo foi
banco de dados. aposentado/pensionista com percentual de 48,5%. No
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê que diz respeito a escolaridade da população
de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Sul estudada, 6,1% eram analfabetos, 58,3% cursaram o
de Santa Catarina (UNISUL) sob o parecer 4.173.112, ensino fundamental (incompleto ou completo), 18,2%
em 25 de julho de 2020. cursaram o ensino médio (incompleto ou completo) e
apenas 4,5% chegaram ao ensino superior
Resultados (incompleto ou completo). Observou-se que 91,7% dos
pacientes estudados residiam na Associação de
Municípios Região de Laguna (AMUREL). A Tabela 1
O presente estudo inclui prontuários
mostra as características da população estudada e a
eletrônicos de indivíduos com primeiro episódio de IAM
prevalência das comorbidades com destaque para:
admitidos no Hospital Nossa Senhora da Conceição
hipertensão arterial sistêmica (62,9%), tabagismo
pelo Sistema Único de Saúde entre 2018 e 2020. A
(36,4%) e diabetes mellitus (30,3%).
consulta resultou em 193 prontuários com CID 10-I21,
nos quais, após análise destes, 21 apresentavam
Variáveis n %
episódio de IAM prévio, os quais foram excluídos,
Sexo
totalizando 172 indivíduos. Destes, 40 prontuários
Masculino 92 69,7
foram excluídos do estudo, por não apresentarem
Feminino 40 30,3
nenhum registro de glicemia durante toda a internação. Faixa etária
Deste modo, foram estudados 132 prontuários 30-39 anos 4 3,0
eletrônicos levando em considerações os critérios de 40-49 anos 14 10,6
inclusão e exclusão. O fluxograma 1 ilustra a 50-59 anos 41 31,1
caracterização da amostra estudada. 60-69 anos 45 34,1
≥ 70 anos 28 21,2
Raça/cor
Branca 117 88,6
Parda 3 2,3
Preta 8 6,1
Não informada 4 3,0
Estado Civil
Solteiro 11 8,3
Casado/união estável 78 59,1
Viúvo 20 15,2
Divorciado 17 12,9
Não informada 6 4,5
Ocupação
Aposentados e pensionistas 64 48,5
Setor da saúde 1 0,8
Setor da construção 14 10,6
Comércio 3 2,3
Setor do transporte 5 3,8
Fluxograma 1. Caracterização da amostra estudada conforme os Setor alimentício 8 6,1
critérios de inclusão e de exclusão.
Outros 22 16,7
Não informado 15 11,4
Destes, 69,7% foram do sexo masculino. A Escolaridade
idade média da população estudada foi de 61,8 anos, Analfabeto 8 6,1
a idade mínima encontrada foi de 35 anos e a máxima Ensino fundamental incompleto 21 15,9
foi de 89 anos. As faixas etárias mais prevalentes Ensino fundamental completo 56 42,4
foram de 50-59 anos (31,1%) e 60-69 anos (34,1%). Ensino médio incompleto 5 3,8
Ensino médio completo 19 14,4
Em relação a raça/cor da população estudada,
Ensino superior incompleto 2 1,5
houve predomínio da branca (88,6%). Na variável Ensino superior completo 4 3,0
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Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
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Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
RR IC p RR IC p RR IC p
Mortalidade intra-hospitalar 1,44 0,24-8,56 0,687 3,77 0,73-19,38 0,095 9,33 1,03-84,08 0,021
Diagnóstico de diabetes
0,76 0,63-0,88 0,158 0 0 0 1,76 0,29-10,55 0,532
mellitus na internação
Classificação do infarto 1,4 1,17-1,81 0,013 1,86 0,52-6,58 0,328 0,32 0,088-1,21 0,087
Tabela 2. Avaliação do risco de características da internação e seus desfechos apresentadas durante a internação hospitalar segundo
presença de hiperglicemia e diabetes, em pacientes com primeiro episódio de IAM que deram entrada pelo SUS no HNSC entre os anos
2018 e 2020 (IC 95%).
RR IC p RR IC p RR IC p
Complicações 1,6 1,18-2,34 0,011 1,4 1,02-2,06 0,049 2,6 1,40-2,90 0,000
Cardiovasculares 2,9 1,83-4,70 0,000 0,9 0,51-1,69 0,830 2,8 1,60-5,08 0,000
Parada cardiorrespiratória 8,1 2,65-25,01 0,000 0,5 0,10-2,00 0,283 7,4 1,70-32,6 0,001
Pulmonares 2,1 1,18-3,85 0,017 1,6 0,86-2,86 0,146 2,4 1,32-4,64 0,003
Pneumonia 2,0 0,76-5,45 0,160 2,0 0,78-5,17 0,145 4,0 1,37-12,19 0,006
Edema agudo de pulmão 2,4 0,62-9,50 0,193 2,3 0,60-8,74 0,213 2,4 0,62-9,95 0,185
Renais 1,0 0,31-3,35 0,975 2,0 0,78-5,17 0,145 1,3 0,50-3,38 0,586
Neurológicas 0,8 0,19-3,49 0,783 3,2 1,08-9,53 0,027 4,4 1,26-15,75 0,010
Distúrbios hidroeletrolíticos 1,2 0,36-4,13 0,748 1,9 0,70-5,49 0,192 3,4 1,08-10,33 0,025
Anemia 0,6 0,08-5,40 0,712 1,7 0,40-7,36 0,459 1,1 0,26-4,79 0,881
Sepse 6,1 1,07-34,73 0,021 0,5 0,66-4,98 0,611 5,9 0,68-51,88 0,065
Tabela 3. Avaliação do risco de complicações apresentadas durante a internação hospitalar segundo presença de hiperglicemia e diabetes,
em pacientes com primeiro episódio de IAM que deram entrada pelo SUS no HNSC entre os anos 2018 e 2020 (IC 95%).
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Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
6 JBMEDE 2022;2(1):e22003
Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
elas, sabe-se que a hiperglicemia eleva ácidos graxos neurológicas (17,0%) e distúrbios hidroeletrolíticos
livres, o que aumenta o consumo de oxigênio e, assim, (17,0%).
piora a isquemia do músculo cardíaco. Ademais, a Um estudo de coorte intra-hospitalar
glicemia elevada está ligada a disfunção constituído por 152 pacientes com diagnóstico de IAM
microvascular, estado pró-trombótico, inflamação verificou que 35,5% dos pacientes hiperglicêmicos
vascular, disfunção endotelial, aumento da pressão desenvolveram alguma complicação na internação,
arterial e prolongamento do intervalo QT20. enquanto no grupo controle 12,9% tiveram alguma
Na presente pesquisa nenhum diagnóstico de complicação (p = 0001). Dentro do grupo dos
DM foi feito durante a internação. A SBD recomenda o hiperglicêmicos, as complicações mais prevalentes
exame de hemoglobina glicada em todos os pacientes foram a PCR (11,9% vs 2,4%, p 0,018) e processo
com DM ou com hiperglicemia detectada no ambiente infeccioso (17,9% vs 2,4%, p 0,001)23.
hospitalar1. No entanto, tal recomendação não é Também, outro estudo de coorte retrospectivo
adotada na instituição em estudo. No estudo de Lerario com 307 pacientes com diagnóstico de IAM com
et al.19, dos 2.262 pacientes infartados, 287 (12,1%) supradesnível do segmento ST constatou que a
tiveram diagnóstico de DM na internação, mostrando a hiperglicemia se mostrou como fator preditor
importância da pesquisa de diabetes, pois, como já independente de complicações pós infarto24. A SBD
visto nesse estudo, há relação entre essa patologia traz em sua diretriz que a hiperglicemia hospitalar está
com mortalidade e complicações intra-hospitalares. relacionada ao aumento de complicações
Quanto à classificação do IAM em relação da cardiovasculares, de distúrbios hidroeletrolíticos,
presença ou não de supradesnivelamento do distúrbios hemodinâmicos, processos infecciosos e
segmento ST, nos três grupos, HE, DM e hiperglicemia fenômenos trombóticos1,25.
hospitalar, houve predomínio de IAM com supra ST em Deste modo, a hiperglicemia, tanto em
relação ao IAM sem supra ST. Estudo que utilizou a diabéticos quanto não diabéticos, mostra-se como
ressonância magnética para determinar a extensão do importante preditor de morbimortalidade. Tal fato
IAM exibiu correlação significativa entre a glicemia de justifica-se por ela estar relacionada ao aumento de
admissão e o tamanho do infarto, independentemente ácidos graxos livres, que causam arritmias cardíacas e
da hemoglobina glicada ou marcadores de necrose do resistência insulínica, e por gerar estresse oxidativo,
paciente21. O mecanismo fisiopatológico preciso que uma vez que provoca a inativação química do oxido
justifique a relação entre hiperglicemia e extensão nítrico e aumenta a produção de espécies reativas de
ainda não foi completamente elucidado22. oxigênio. O estresse oxidativo induz a disfunção
Em relação ao tipo de tratamento instituído microvascular e endotelial, estado pró-trombótico e
prevaleceu a intervenção coronária percutânea em inflamação vascular23.
relação a cirurgia de revascularização miocárdica. O O presente estudo apresentou como limitação,
estudo de Pinheiro et al.23 relata que a presença de por se tratar de um estudo com delineamento
hiperglicemia na admissão hospitalar por IAM não transversal retrospectivo com análise de dados
interferiu no tipo de tratamento realizado. Em secundários, a falta de alguns dados importantes,
contrapartida, Lerario et al.19 encontrou em sua como a falta de glicemia nos prontuários eletrônicos de
pesquisa que o tratamento cirúrgico foi mais frequente pacientes admitidos por primeiro episódio de IAM
em pacientes não diabéticos normoglicêmicos quando assim sendo necessário excluir tais indivíduos e, deste
comparados aos diabéticos e com HE. modo, reduzindo a população estudada. Ademais, a
A prevalência de complicações na internação inexistência de um protocolo para avaliação da
foi estatisticamente maior entre indivíduos com glicemia na fase aguda do IAM na instituição não
diagnóstico de diabetes mellitus (60,0%), com permitiu a padronização dos pacientes avaliados.
hiperglicemia de estresse (69,2%) e com hiperglicemia Outra limitação da presente pesquisa é a não
hospitalar (67,9%) em comparação aos que não realização da hemoglobina glicada na internação para
apresentaram tais condições. Em pacientes que diagnóstico de DM prévia não conhecida, uma vez que
apresentam hiperglicemia de estresse as sem diagnóstico o paciente pode ser classificado como
complicações mais relevantes foram as: hiperglicemia de estresse erroneamente, ao invés de
cardiovasculares (61,5%) e pulmonares (42,3%). Em hiperglicemia hospitalar. Também, pelo delineamento
pacientes sabidamente com diabetes as complicações do estudo, não se pode estabelecer uma associação
neurológicas ocorreram em 17,5%. Indivíduos com definitiva entre a hiperglicemia e a ocorrência de
hiperglicemia hospitalar apresentaram as seguintes: complicações pós-IAM.
cardiovascular (47,2%), pulmonares (37,7%),
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Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
Conclusão 15/pdf/posicionamentos-acesso-
livre/posicionamento-3.pdf.
5. Handelsman Y, Grunberger G, Zimmerman RS,
O DM estava presente em 30,3% dos
Blonde L, Cohen AJ, Davidson JA, et al.
pacientes na amostra estudada, deste 20,4%
American Association of Clinical
apresentaram hiperglicemia na admissão. A
Endocrinologists and American College of
prevalência da HE foi de 19,7% e da hiperglicemia
Endocrinology - Clinical Practice Guidelines for
hospitalar de 40,1%.
Developing a Diabetes Mellitus Comprehensive
Em relação a associação mortalidade intra-
Care Plan-2015. Endocr Pract. 2015; 21
hospitalar versus HE, DM e hiperglicemia hospitalar, as
Suppl.1:1–87.
prevalências encontradas foram: 23,1% em HE,
6. Santos da Costa FA, Lima Parente F, Sinara
12,5% em DM e 20,8% em hiperglicemia hospitalar.
Farias M, Lima Parente F, Custódio Francelino
Tiveram associação significativa a HE e hiperglicemia
P, Linhares Bezerra LT. Perfil demográfico de
hospitalar.
pacientes com infarto agudo do miocárdio no
A prevalência de complicações na internação
Brasil: Revisão Integrativa. SANARE - Rev
foi maior entre indivíduos com diagnóstico de DM, com
Políticas Públicas. 2018; 17(2):66–73.
HE e com hiperglicemia hospitalar. As complicações
7. Haas A V., McDonnell ME. Pathogenesis of
ocorreram em 60,0% dos pacientes com diabetes,
Cardiovascular Disease in Diabetes. Endocrinol
69,2% dos indivíduos com HE e 67,9% dos pacientes
Metab Clin North Am [Internet]. 2018;47(1):51–
com hiperglicemia hospitalar.
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Deste modo, conclui-se que a alteração
https://doi.org/10.1016/j.ecl.2017.10.010.
glicêmica atinge significativa parte dos pacientes com
8. World Health Organization. World health
primeiro episódio de IAM e apresenta como importante
statistics 2019: monitoring health for the SDGs,
preditor de morbimortalidade tanto em pacientes com
sustainable development goals [Internet]. 2019
ou sem diagnóstico de diabetes. Ademais, os
[acesso em: 2020 Mar 25]. Disponível em:
pacientes com diagnóstico de DM apresentaram
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/1066
maiores complicações em relação a população geral,
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mesmo que normoglicêmicos na admissão por IAM.
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8 JBMEDE 2022;2(1):e22003
Cosmo Marques et al Prevalência do diabetes e da hiperglicemia de estresse no infarto agudo do miocárdio: análise em um serviço de emergência
9 JBMEDE 2022;2(1):e22003
Pearls from the Cochrane Library
for Emergency Physicians
Collaborating Centre for Global Women’s Health Research, University of Birmingham, Birmingham, UK
* Autor correspondente. Endereço de e-mail: oladapoo@who.int
JBMEDE 2022;2(1):e22004
Esta revisão é uma versão abreviada de uma Revisão Cochrane publicada anteriormente no Banco de Dados Cochrane de Revisões
Sistemáticas 2020, número 11. Art. No.: CD009332. DOI: 10.1002/14651858.CD009332.pub4. (ver www.cochranelibrary.com para
obter informações). As Revisões Cochrane são atualizadas regularmente à medida que novas evidências surgem e em resposta ao
feedback, e o Banco de Dados Cochrane de Avaliações Sistemáticas deve ser consultado para a versão mais recente da revisão.
Oladapo et al Ocitocina profilática intravenosa versus intramuscular para reduzir o sangramento no terceiro período do trabalho de parto: uma Revisão Cochrane
IC 95% 0,39 a 1,08; quatro ECRs; 6681 mulheres; Conclusão dos autores
evidência de qualidade moderada). Em todos os
estudos, exceto num, houve uma redução do risco de A administração intravenosa de ocitocina é
HPP ≥ 1000 mL com ocitocina intravenosa. O estudo mais eficaz que a administração intramuscular na
que encontrou um grande aumento (da HPP) com a prevenção da HPP no parto vaginal. A administração
administração intravenosa foi pequeno (apenas 256 de ocitocina intravenosa não está associada a
mulheres), e contribuiu com apenas 3% do total de preocupações adicionais de segurança e tem um
eventos. A exclusão deste pequeno estudo da perfil de efeitos secundários comparável com a
metanálise eliminou a heterogeneidade e o efeito do administração intramuscular. Estudos futuros devem
tratamento favoreceu a ocitocina intravenosa (RR avaliar a aceitabilidade, viabilidade e utilização de
0,61, IC 95% 0,42 a 0,88; três ECRs; 6425 mulheres; recursos do uso da ocitocina endovenosa
evidência de alta qualidade). Além disso, fizemos uma especialmente em locais com poucos recursos.
análise de sensibilidade para avaliar o efeito do risco
de viés restringindo a análise aos estudos com "baixo Informações da seção
risco de viés" para geração de sequência de
randomização e sigilo de alocação. Nessa Esta seção reproduz artigos publicados anteriormente
metanálise, a administração profilática de ocitocina pela Cochrane Database of Systematic Reviews e é
intravenosa versus intramuscular reduziu o risco de realizada em coordenação com Patricia Jabre,
HPP≥ 1000 mL(RR 0,64, IC 95% 0,43 a 0,94; dois Yannick Auffret, Sebastien Beroud, Julie Dumouchel,
ECRs; 1512 mulheres). Parece haver pouca ou Virginie-Eve Lvovschi, Kirk Magee, Daniel Meyran,
nenhuma diferença entre as duas vias de Patrick Miroux, Nordine Nekhili e Youri Yourdanov do
administração de ocitocina quanto à necessidade de grupo Cochrane Pre-hospital and Emergency Care.
usar outros uterotônicos (RR 0,78, IC 95% 0,49 a
1,25; seis ECRs; 7327 mulheres; evidência de baixa
qualidade). A injeção intravenosa de ocitocina,
comparada à intramuscular, provavelmente reduz o
risco de morbidade materna grave (como
histerectomia, falência de órgãos, coma, internação
em unidade de terapia intensiva). Porém o tamanho
do efeito é incerto pois o intervalo de confiança sugere
uma redução substancial, mas também toca a linha
de nulidade (RR 0,47, IC 95% 0,22 a 1,00, quatro
ECRs, 7028 mulheres, evidência de qualidade
moderada). A maioria dos eventos ocorreu em um
estudo da Irlanda que avaliou internação em unidade
de alta dependência. Nos outros três estudos houve
apenas um caso de edema uvular. Não foram
relatadas mortes maternas em nenhum dos estudos
incluídos (evidência de qualidade muito baixa).
Provavelmente há pouca ou nenhuma
diferença no risco de hipotensão com o uso
intravenoso versus intramuscular de ocitocina (RR
1,01, IC 95% 0,88 a 1,15; quatro ECRs; 6468
mulheres; evidência de qualidade moderada).
As análises de subgrupos baseadas no modo
de administração de ocitocina intravenosa (injeção ou
infusão de bolus) versus a ocitocina intramuscular não
mostraram evidência de diferenças substanciais nos
desfechos primários. Do mesmo modo, análises
adicionais de subgrupos baseadas na utilização da
ocitocina isoladamente ou como parte do manejo
ativo do terceiro período do trabalho (AMTSL) não
mostraram evidência de diferenças substanciais entre
as duas vias.
2 JBMEDE 2022;2(1):e22004
Pearls from the Cochrane Library
for Emergency Physicians
Bhagteshwar Singh1,2*, Hannah Ryan3, Tamara Kredo4, Tamara Kredo4, Marty Chaplin5, Tom Fletcher5
1 Tropicaland Infectious Diseases Unit, Royal Liverpool University Hospital, Liverpool, UK
2 Department of Infectious Diseases, Christian Medical College, Vellore, India
3 Department of Clinical Pharmacology, Royal Liverpool University Hospital, Liverpool, UK
4 Cochrane South Africa, South African Medical Research Council, Cape Town, South Africa
5 Department of Clinical Sciences, Liverpool School of Tropical Medicine, Liverpool, UK
JBMEDE 2022;2(1):e22005
Esta revisão é uma versão abreviada de uma Revisão Cochrane publicada anteriormente no Banco de Dados Cochrane de Revisões
Sistemáticas 2021, número 2. Art. No.: CD013587. DOI: 10.1002/14651858.CD013587.pub2. (ver www.cochranelibrary.com para obter
informações). As Revisões Cochrane são atualizadas regularmente à medida que novas evidências surgem e em resposta ao
feedback, e o Banco de Dados Cochrane de Avaliações Sistemáticas deve ser consultado para a versão mais recente da revisão.
Singh et al Cloroquina ou hidroxicloroquina para prevenção e tratamento da COVID‐19: uma Revisão Cochrane
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Singh et al Cloroquina ou hidroxicloroquina para prevenção e tratamento da COVID‐19: uma Revisão Cochrane
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