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Cinesiologia Psicologica — Integracio Fisiopsiquica ~ Sedes - 2007 CALATONIA E TOQUES SUTIS - 0 METODO Cap do livro Fundamentos da Calatonia e Integragao Fisiopsiquica de Femando Cortese A Calatonia ¢ essencialmente pratica ¢ vivéncia; assim, a finalidade deste capitulo é fomecer descrigao e caracteristicas do método como fonte bibliografica suplementar, sem substituir a aprendizagem pratica necesséria para aplicagio. Lembramos 0 antigo dito de Patanjali: "Yoga ensina Yoga". A Calatonia surgiu de necessidade pritica de atendimento a doentes em hospital de feridos de guerra sem recursos medicamentosos ¢ outros. O toque nos pés é uma continuag&o da conversa confortante do médico ao pé da cama do paciente. O tocar é aqui a recuperagdo de uma parte integrante da relaso terapeuta/paciente, infelizmente bastante perdida hoje. Desta vivéncia inicial, dr Sandor observou os efeitos que se produziam nos pacientes, com varios graus de alivio do desconforto ¢ dor, ¢ foi aprimorando seu método. Relacionow essa experiéncia com principios da medicina psicossomatica e com princ{pios filos6ficos nos quais pautava scu trabalho e sua vida, como sera apresentado nos capitulos seguintes. A Calatonia foi se desenvolvendo até constituir um método de terapia que compreende a técnica de trabalho corporal, a postura do terapeuta, e a visio de homem subjacente ao contato, avaliagéo ¢ tratamento do paciente. Por isso a preparagdo do terapeuta, primeiro com sua formago universitéria em curso preparatério de atendimento na drea da saiide e depois sua formagio especializada em algum dos diversos cursos € grupos mantidos por discfpulos do dr Séndor é considerada fundamental, para que o atendimento no seja uma mera reprodugdo da técnica, mas uma insergdo do terapeuta no método. Para a Calatonia, toca-se de forma muito leve ~ "como se quisesse segurar uma bolha de sabiio" — as falanges distais dos dedos dos pés, utilizando para isso os dedos correspondentes das miios do terapeuta. A seqiléncia médio/indicador/anular/minimo/hélux corresponde a hierarquia dos elementos terra/gua/fogo/ar ¢ sua sintese (ver capitulo sobre a Astrologia). Em seguida toca-se a sola dos pés em dois pontos — logo abaixo do arco plantar ¢ logo acima do osso calcdneo; o oitavo toque ocorre sustentando o calcanhar e 20 tedor dos maléolos , ¢ depois toca-se o inicio da "barriga da perma" na convergéncia do triceps sural O professor Sandor expés em seu livro “Técnicas de Relaxamento” a origem do termo Calatonia. Para Sandor, em grego o verbo “khalas” tem o significado de “relaxagio” e também de “alimentagio”, “afastar-se do estado de ira, furia, violéncia”, “abrir uma porta”, “desatar as amarras de um odre”, “deixar ir”, “perdoar aos pais”, “retirar todos os véus dos olhos”. E interessante notar como com essa observagao concisa, como era de seu feitio, Sandor apontava para a considerago da Calatonia como um método amplo relacionado a aspectos da psicologia profunda. Calatonia significa também, literalmente “t6nus adequado”, 0 que traduz concretamente os efeitos observados com esse relaxamento. Tal observagio e relato de resultados tem sido efetuada por um grupo de algumas centenas de terapeutas ao longo de mais de cinco décadas (ver bibliografia). A adequacao do tonus, também denominada por dr Sndor de “recondicionamento fisiopsiquico” pode ser descrita em trés niveis: ‘* Nivel fisico - relaxamento muscular, descontragdo muscular, regulagdo de diversas fiungdes vegetativas como: respirago, circulagao sanguinea ¢ linfética, batimentos cardiacos, funcionamento visceral, temperatura, presso arterial; Nivel emocional - correspondente relaxamento e regulagdo do "ténus afetivo", isto 6 reorganizagiio das emogées carregadas de forma desequilibrada por acontecimentos cotidianos e pelos diversos niveis de conflitos inconscientes; ‘* Nivel mental - regulagdo do "tonus mental", com eliminagdo dos diversos contewdos mentais espirios condicionados pela exposi¢ao didria a enorme quantidade de estimulos ¢, em nivel mais profundo, superago das categorias mentais, condicionadas pela educagao e cultura vigentes. Pode-se observar que esses trés niveis descritos da vivéncia humana incluem aspectos considerados “inconscientes”, desde o nivel fisico até o mental. A nivel fisico, as fungdes corporais descritas so fungdes do sistema nervoso vegetativo ou aut6nomo, isto é, independente do comando da consciéncia. Aqui pode-se constatar como a vivéncia do ser humano é , basicamente e essencialmente, inconsciente, por exemplo, se nao respirarmos logo morreremos, mas quem comanda esta primordial fangdo € 0 sistema nervoso auténomo, Paralelamente, nossas emogdes e sentimentos tém preponderantemente um componente inconsciente, isto € , no estamos conscientes de seus aspectos principais. © mesmo aplica-se ao nivel mental, acarretando que a regulagiio ¢ reequilibrio de todo nosso sistema fisiopsiquico realiza-se fundamentalmente a nivel inconsciente e , por isso, as técnicas corporais, de relaxamento ¢ toque tém seu efeito reorganizador, mesmo que 0 contato e a troca fiquem a nivel corporal, sem a participagao do verbal. Logicamente, quando o nivel verbal sintetizador e construtivo é possivel, ganha-se um grau a mais de consciéncia, {ator importante no desenvolvimento humano. Como ilustragio da troca entre terapeuta/paciente neste trabalho, lembremos a figura izada por Jung e por Guggenbuhl-Craig como esquema da relagfo, com os niveis consciente X consciente, consciente X inconsciente ¢ inconseiente X inconsciente, quando ambos participam e se movem naquele Organismo maior de que sfo parte. Pr 2 Le , EU CONSCIENTE TU \¢ cS mo EU INCONSCIENTE U Esta figura ilustra a relagdo terapeuta/paciente nesta visio, onde o nivel consciente é fundamental ~ por exemplo, hé que haver um adequado contato, contrato, ‘setting’. Mas 0 nivel ‘inconscicnte est sempre presente, e mesmo este enunciado demonstra nossa incorre¢ao de linguagem, oriunda de nossa inflago egéica. Isto porque nés é que estamos imersos sempre no inconsciente, ou seja nao é possfvel a nossa consciéncia limitada abarcar © todo de nossa experiéncia, nem fisica (lembremos da respirago) , nem psiquica. E interessante notar que o velho Freud ja apontou este fato em 1900, mas até hoje nossa consciéneia resiste a assimila-lo, distoreida por condicionamentos culturais que sustentam a iusto fantasiosa de que nossa pequenina porgdo consciente e racional pode entender e controlar nossa personalidade inteira. Essa é uma grave ilusio - 0 homem no pode controlar a Natureza, fisica ou psiquica ~ nem mesmo pode compreendé-la totalmente — ele € parte dela ¢ funciona de acordo com suas leis Como disse Jung, o inconsciente é que determina se vou conseguir pronunciar (ou escrever) a préxima palavra. Essa ilustio do homem atual tem sérias consequéncias — a Natureza fisica e psiquica ressente-se de sua acdo unilateral e predatoria, e mostra os desequilibrios resultantes, Por isso, a reintegragio do homem com a Natureza é uma das balizas de nosso tabalho.Essa reaproximagao do paciente com sua Natureza é propiciada por varios elementos. Deitar-se, despojar-se das roupas, fechar os olhos, jé configura simbélica e fisiologicamente uma alterago do ritmo de funcionamento corporco e psiquico, Entrepar- Se a0 toque proposto ¢ deixar as percepgées serem vivenciadas permite a experiéncia dos contedidos das camadas mais interiores. E 0 estimulo do toque, ao trazer descontragio muscular, reequilibrio das fungdes respiratérias, circulatéria e outras, complementa 2 criasdo do campo fisiopsiquico propiciador dessa experiéncia. Instrumento de diagnéstico: para 0 terapeuta, que também tem seus canais de percepgao (sensago e intuigao) ativados, em uma observagao diversificada de seu paciente. Este é um aspecto dificil de deserever teoricamente, necessitando ser vivenciado, para que o terapeuta pereeba como sua compreensio intuitiva do paciente pode ser dinamizadas através do trabalho corporal. Alunos iniciantes surpreendem-se com o retorno do paciente ao afirmar que o terapeuta tocou-o exatamente onde doia ou onde era necessario, ou que o terapeuta abordou apés 0 trabalho corporal exatamente a drea mais sigificativa naquele momento. Instrumento de interagao diferenciada ¢ profunda com 0 outro: a troca, na Calatonia, ¢ dialética; terapeuta ¢ paciente tocam-se, dentro de um campo que confronta, intercambia, integra ¢ transcende os dois, constelando aquela energia de sintese que Jung chamou de fungio transcendente, provinda do Eu inconsciente, e Sandor denominou de “terceiro Ponto". Com esse conceito, Séndor propunha que o terapeuta tentasse visualizar ou sentir da forma mais propicia para cada um, aquele “tertius”que transcende a dicotomia de dois seres humanos que se contatam e integra os dois num dinamismo mais global que os contem. Para a realizagio desse trabalho e seus objetivos, é necesséria uma atitude interna do terapeuta de entrega ao processo e soltura em relaco a idéias e intengdes preconcebidas. Depois de uma formagao adequada no método e com a devida supervisio, o terapeuta vai aprendendo vivencialmente a desligar nese momento seus canais de avaliagio (fungdes pensamento € sentimento), demais condicionados social e culturalmente. Funciona mais neste momento o eixo sensagao/intui¢do, ao observar o paciente, "ouvi-lo" com a ponta dos dedos, ¢ deixar que as impressdes e diregdes vindas do inconsciente através da fungéo intuitiva configurem o trabalho a ser realizado. Como conseqiiéncia dessa interagiio e dessa pritica, com 0 tempo foram sendo “consteladas" no trabalho de Sandor e seu grupo novas formas de trabalho corporal. Assim, surgiram os chamados "Toques Sutis", onde dentro dos mesmos principios e metodologia, uusam-se outras técnicas, para atingir objetivos andlogos. Ha 0 trabalho com outras formas de Calatonia (mios ¢ cabega); o trabalho com "descompresséo fracionada'; o trabalho com grandes ¢ pequenas articulagdes; 0 trabalho com opostos (membros superior/inferior, cintura escapular/pélvica, pés/cabega, lados direito/esquerdo); o trabalho com a coluna ¢ seus centros nervosos energéticos, ¢ muitos outros... O continuo desenvolvimento desses trabalhos © da consciéncia dos grupos em relago a nossa pritica e as grandes Idéias que fandamentam essa pritica demonstra o papel da Calatonia como geradora e produtora de conhecimento. ‘Nesse trabalho, a busca do descondicionamento é fundamental - por isso a procura de "desligar-se" das vivéncias dinamismos cotidianos, para perceber outra "camada" de contetidos da psique. O tipo de toque que utilizamos busca essa caracteristica néo condicionada, nfo habitual, mais arcaica — por exemplo, 0 toque nos pés ou na coluna, a intensidade sutil. Sao utilizadas também formas grupais, com configuragdes que evocam 0 arquétipo — 0 circulo, as miios dadas, a danga, a emisso de sons primordiais (como 0 "A"). Desta forma a Calatonia tem sido usada como método coadjuvante em Terapias Psicolégicas, Médicas, Fono e Fisioterdpicas, bem como Ocupacionais e Corporais. ‘Também é utilizada na Educagao Fisica, na Pdagogia e varias formas de trabalhos grupais, ‘Nao foram observadas contra-indicagSes, desde que a proposta, o "setting" e a preparagao do terapeuta sejam adequados. E possivel o trabalho com psicéticos (embora em alguns casos seja observada menor responsividade), bem como em pacientes sob medicagdo psiquidtrica. De qualquer forma, os resultados observados favorecem a tentativa, Em situagdes pré e pos-operatérias ¢ hospitalares em geral a Calatonia ¢ os Toques Sutis podem ser recursos de grande valia, Pode-se caracterizar 0 objetivo da Calatonia como geral ¢ inespecifico, em comparagio com trabalhos corporais que tém objetivos especificos ~ focados — como na Fisioterapia ou em outras abordagens de terapia corporal. Nao ha uma expectativa quanto a resultados predeterminados programéveis, mas a observaco de que a aplicagio do método em milhares de pacientes por mais de cinco décadas mostrou resultados andlogos aos expostos, dentro de um quadro de reequilibrio fisico e psiquico, favorecimento da consciéncia, autopercepgo e autodirecionamento no sentido de realizaglo adequada de potencialidades (individuagiio), BIBLIOGRAFIA: SANDOR, Petho . “Técnicas de Relaxamento”. Ed Vetor DELMANTO, Suzana. “Toques Sutis”. Ed Summus FARAH, Rosa, “Integragao Psicofisica”. Ed Robes

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