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28 de novembro de 2023
Quanto avançou a Fé desde aquele momento, um século atrás, quando ‘Abdu’l-Bahá partiu
deste mundo! Ao amanhecer daquele dia aflitivo, a notícia de Seu passamento se difundiu por toda a
cidade de Haifa, consumindo de tristeza os corações. Milhares se reuniram para o Seu funeral:
pessoas jovens e velhas, de alta e de baixa posição, funcionários ilustres e as massas — judeus e
muçulmanos, drusos e cristãos, bem como bahá’ís — uma reunião cujo igual a cidade jamais havia
testemunhado. Aos olhos do mundo, ‘Abdu’l-Bahá fora um campeão da paz universal e da unicidade
da humanidade, um defensor dos oprimidos e promotor de justiça. Para as pessoas de ‘Akká e Haifa
Ele era um pai e amigo amoroso, um conselheiro sábio e um refúgio para todos os necessitados. Em
Seu funeral veio delas uma torrente de fervorosas expressões de amor e de lamento.
Naturalmente, contudo, foram os bahá’ís que mais intensamente sentiram Sua perda. Ele era o
precioso presente concedido pela Manifestação de Deus para os guiar e proteger, o Centro e o Pivô da
incomparável e toda-abrangente Aliança de Bahá’u’lláh, o perfeito Exemplar de Seus ensinamentos,
o infalível Intérprete de Sua Palavra e a personificação de todos os ideais bahá’ís. Ao longo de Sua
vida, ‘Abdu’l-Bahá trabalhou incansavelmente em serviço a Bahá’u’lláh, e cumpriu, na sua inteireza,
a sagrada incumbência dada por Seu Pai. Ele fielmente nutriu e protegeu a preciosa semente que
havia sido plantada. Ele abrigou a Causa no berço de seu nascimento e, guiando sua difusão no
Ocidente, aí estabeleceu o berço de sua administração. Ele fez firmes os passos dos crentes e ergueu
uma coorte de campeões e santos. Com Suas próprias mãos Ele depôs os sagrados restos mortais do
Báb no mausoléu que erguera no Monte Carmelo, com devoção desenvolveu os Santuários Sagrados
gêmeos e assentou os alicerces do centro administrativo mundial da Fé. Ele salvaguardou a Fé de
seus inimigos declarados, internos e externos. Ele revelou a preciosa Carta Magna para a difusão dos
ensinamentos de Bahá’u’lláh entre todos os povos do globo, bem como a Carta Magna que trouxe à
existência e colocou em movimento os processos da Ordem Administrativa. Sua vida ocupou todo o
período da Idade Heroica inaugurada pela declaração do Báb; Sua ascensão inaugurou uma nova Era,
cujas características eram até então desconhecidas pelos crentes. O que havia de sobrevir a Seus
amados? Sem Ele, sem Sua incessante guia, o futuro parecia incerto e desalentador.
Devastado pela notícia do passamento de ‘Abdu’l-Bahá, Seu neto Shoghi Effendi apressou-se
da Inglaterra, onde estudava, para a Terra Santa, onde recebeu um segundo golpe colossal.
‘Abdu’l-Bahá o havia nomeado como Guardião e Dirigente da Fé, confiando o mundo bahá’í aos seus
cuidados. Em tristeza e agonia, mas sustentado pela infalível solicitude da amada filha de Bahá’u’lláh,
Bahíyyih Khánum, Shoghi Effendi vestiu o pesado manto de seu cargo e começou a avaliar as
condições e as perspectivas da incipiente comunidade.
O anúncio da nomeação de Shoghi Effendi como o Guardião foi recebido com alívio, gratidão
e declarações de lealdade pelo corpo de crentes. A angústia de sua separação do Mestre foi
amenizada pelas promessas de Sua Última Vontade e Testamento, de que Ele não os abandonara a si
próprios. Contudo, alguns poucos desleais desafiaram o herdeiro escolhido de ‘Abdu’l-Bahá e,
motivados por suas próprias ambições e ego, levantaram-se contra ele. Sua traição, naquele crítico
momento de transição, foi agravada pelas novas maquinações da parte dos oponentes declarados do
Mestre. No entanto, embora sobrecarregado por tais angústias e provações, e em face de outros
obstáculos descomunais, Shoghi Effendi começou a mobilizar os membros das muito dispersas
comunidades bahá’ís para começar a monumental tarefa de assentar os alicerces da Ordem
Administrativa. Pessoas anteriormente galvanizadas pela personalidade incomparável de
‘Abdu’l-Bahá gradualmente começaram a coordenar seus esforços em um empreendimento comum
sob a paciente e ao mesmo tempo resoluta guia do Guardião.
À medida que os bahá’ís começaram a assumir suas novas responsabilidades, Shoghi Effendi
demonstrou-lhes quão rudimentar era ainda a compreensão que tinham da sagrada Revelação que
tinham em mãos, e quão formidáveis eram os desafios diante deles. “Quão vasta é a Revelação de
Bahá’u’lláh! Quão grande a magnitude de Suas bênçãos derramadas sobre a humanidade neste dia!”
ele escreveu. “E, contudo, quão pobre, quão inadequada nossa concepção de seu significado e glória!
Esta geração encontra-se demasiadamente próxima a uma Revelação tão colossal para poder apreciar,
em sua plenitude, as possibilidades infinitas de Sua Fé, o caráter inaudito de Sua Causa e os
misteriosos ordenamentos de Sua Providência.” “O verdadeiro significado do Testamento do Mestre
excede de longe a compreensão da atual geração” escreveu o secretário do Guardião em seu nome.
“Ela precisa de pelo menos um século de trabalho efetivo antes que os tesouros de sabedoria nele
ocultos possam ser revelados”. A fim de compreendermos a natureza e as dimensões da visão de
Bahá’u’lláh para uma nova Ordem Mundial, explicou ele, “Devemos confiar ao tempo e à guia da
Casa Universal de Justiça de Deus para a obtenção de um entendimento mais claro e mais pleno de
suas provisões e implicações”.
O momento presente, por estar perfazendo de fato um século completo de “trabalho efetivo”,
oferece um ponto de observação propício do qual se pode obter novas percepções. Assim, escolhemos
a ocasião deste aniversário para fazer uma pausa e refletir com vocês sobre a sabedoria entesourada
nas provisões da Vontade e Testamento, para traçar o percurso de desenvolvimento da Fé e observar
a coerência dos estágios do seu desenvolvimento orgânico, para discernir as possibilidades inerentes
ao processo que guia seu progresso e para apreciar o que ela promete para as décadas vindouras, à
medida que seu poder para remodelar a sociedade se torna cada vez mais manifesto no mundo, por
meio do crescente impacto da estupenda Revelação de Bahá’u’lláh.
Desde o início de seu ministério, Shoghi Effendi guiou os bahá’ís em seus esforços para
adquirir um entendimento mais profundo da missão que têm, a qual definiria a identidade e o
propósito deles todos. Ele lhes explicou o significado da vinda de Bahá’u’lláh, Sua visão para a
humanidade, a história da Causa, os processos que estão remodelando a sociedade, e o papel que os
bahá’ís devem desempenhar para contribuir com o avanço do gênero humano. Ele delineou a natureza
do desenvolvimento da comunidade bahá’í de modo que os amigos percebessem que, no decorrer de
décadas e séculos, ela sofreria muitas transformações, frequentemente inesperadas. Ele descreveu
também a dialética de crise e vitória, preparando-os para o tortuoso caminho que precisam transpor.
Ele convocou os bahá’ís a refinar seu caráter e aguçar sua mente para superar os desafios da
construção de um novo mundo. Ele os instou a não perder a esperança diante dos problemas de uma
comunidade nascente e em rápido desenvolvimento, ou ante as privações e o deteriorante ambiente de
uma era tumultuada, fazendo-os recordar que a plena expressão da promessa de Bahá’u’lláh jaz no
futuro. Ele explicou que os bahá’ís hão de ser como fermento — uma influência que permeia e
vivifica — que inspire outros a se levantarem para sobrepujar arraigados padrões de divisionismo,
conflito e disputa de poder, de modo que as mais elevadas aspirações da humanidade sejam
finalmente concretizadas.
Hoje a comunidade bahá’í se distingue por um modo de operação caracterizado por estudo,
consulta, ação e reflexão. Ela está constantemente aumentando sua capacidade de aplicar os
Ensinamentos em uma variedade de espaços sociais e de colaborar com aqueles que, na sociedade
mais ampla, têm em comum o anseio de revitalizar o alicerce material e espiritual da ordem social. No
alambique transformador desses espaços, na medida do possível, indivíduos e comunidades se tornam
protagonistas de seu próprio desenvolvimento, um acolhimento da unicidade da humanidade elimina
preconceitos e alteridades, a dimensão espiritual da vida humana é promovida pela adesão a princípios
e pelo fortalecimento do caráter devocional da comunidade, e a capacidade de aprendizagem é
desenvolvida e direcionada à transformação pessoal e social. O esforço para compreender as
implicações do que Bahá’u’lláh revelou e para aplicar Seu remédio curador tornou-se agora mais
explícito, mais deliberado e uma parte indelével da cultura bahá’í. A compreensão consciente do
processo de aprendizagem e a sua difusão por todo o mundo, desde as bases da sociedade até a arena
internacional, estão entre os mais excelentes frutos do primeiro século da Idade Formativa. Este
processo haverá de orientar cada vez mais o trabalho de cada instituição, comunidade e indivíduo nos
anos vindouros, à medida que o mundo bahá’í se dedica a desafios cada vez maiores e libera em
medidas sempre crescentes o poder da Fé de construção de sociedade.
A perpetuação da Aliança
Para preservar a unidade de Sua Fé, manter a integridade e flexibilidade de Seus ensinamentos
e garantir o progresso de toda a humanidade, Bahá’u’lláh firmou com Seus seguidores uma Aliança
ímpar nos anais da história religiosa por sua autoridade e sua natureza explícita e abrangente. Em Seu
Livro Sacratíssimo e no Livro de Sua Aliança, bem como em outras Epístolas, Bahá’u’lláh instruiu
que após Seu passamento os amigos deveriam voltar-se a ‘Abdu’l-Bahá, o Centro dessa Aliança,
como guia dos assuntos da Fé. Em Sua Vontade e Testamento, ‘Abdu’l-Bahá perpetuou a Aliança,
assentando as provisões para a Ordem Administrativa ordenada nos Escritos de Bahá’u’lláh, assim
assegurando a continuação da autoridade e da liderança por meio das instituições gêmeas da
Guardiania e da Casa Universal de Justiça, bem como um relacionamento sadio entre indivíduos e
instituições dentro da Fé.
A história já tem claramente demonstrado que a religião pode servir tanto como um poderoso
instrumento de cooperação para impulsionar o avanço da civilização, quanto como fonte de conflito
que resulta em dano incalculável. O poder unificador e civilizatório da religião começa a declinar
quando os seguidores começam a discordar sobre o significado e a aplicação dos ensinamentos
divinos, e a comunidade dos fiéis eventualmente se divide em seitas e denominações em contenda. O
propósito da Revelação de Bahá’u’lláh é promulgar a unicidade da humanidade e unir todos os povos;
e não se pode conquistar este último e mais elevado estágio na evolução da sociedade se a Fé Bahá’í
sucumbir à enfermidade do sectarismo e à diluição da Mensagem divina testemunhados no passado.
Se os bahá’ís “não puderem se unir em torno de um ponto”, observa ‘Abdu’l-Bahá, “como serão
capazes de concretizar a unidade do gênero humano?” E afirma Ele: “Hoje o poder dinâmico do
mundo da existência é o poder da Aliança que, assim como uma artéria, pulsa no corpo do mundo
contingente e protege a unidade bahá’í”.
Entre as conquistas do século passado, a mais notável é a vitória da Aliança, a qual tanto
protegeu a Fé de divisão quanto a impulsionou a abarcar e contribuir para o empoderamento de todos
os povos e nações. A incisiva pergunta de Bahá’u’lláh que se encontra no cerne da religião — “Onde
irás prender a corda de tua fé e amarrar o laço da tua obediência?” — assume um significado novo e
vital para aqueles que O reconhecem como a Manifestação de Deus para este Dia. É um chamado para
firmeza na Aliança. A resposta da comunidade bahá’í tem sido a inabalável adesão às disposições da
Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá. Diferentemente das relações mundanas de poder, nas quais
uma entidade soberana compele à obediência, a relação entre a Manifestação de Deus e os crentes, e
entre a autoridade designada pela Aliança e a comunidade, é governada por conhecimento e amor
conscientes. Ao reconhecer Bahá’u’lláh, um crente ingressa voluntariamente em Sua Aliança como
um ato de livre consciência e, por amor a Ele, permanece firme na adesão aos seus requisitos. Ao
término do primeiro século da Idade Formativa, o mundo bahá’í passou a entender e agir mais
plenamente de acordo com as provisões da Aliança de Bahá’u’lláh, e entre os crentes se estabeleceu
um conjunto distintivo de relações que unificam e dirigem suas energias ao se empenharem em sua
sagrada missão. Esta conquista, como tantas outras, foi o fruto da superação de crises.
A existência da Aliança não significa que ninguém jamais tentará dividir a Fé, causar-lhe dano
ou retardar seu progresso. Porém, ela certamente garante que todas tais tentativas são fadadas ao
fracasso. Após o passamento de Bahá’u’lláh, alguns indivíduos ambiciosos, incluindo os irmãos de
‘Abdu’l-Bahá, tentaram usurpar a autoridade concedida por Bahá’u’lláh a ‘Abdu’l-Bahá e plantaram
as sementes da dúvida na comunidade, testando e algumas vezes desencaminhando os hesitantes.
Shoghi Effendi, durante seu próprio ministério, foi atacado não somente por aqueles que violaram a
Aliança e se opuseram a ‘Abdu’l-Bahá, mas também por alguns membros da comunidade que
rejeitaram a validade da Ordem Administrativa e questionaram a autoridade da Guardiania. Anos mais
tarde, quando Shoghi Effendi faleceu, houve um novo ataque à Aliança quando um indivíduo
profundamente desorientado, embora tivesse servido por muitos anos como uma Mão da Causa de
Deus, fez uma tentativa infundada e fútil de reivindicar a Guardiania para si, apesar das claras
condições estabelecidas na Vontade e Testamento. Após a eleição da Casa Universal de Justiça, ela
também se tornou alvo de oponentes ativos da Causa. Nas décadas mais recentes, alguns membros da
comunidade, apresentando-se como mais instruídos do que outros, procuraram em vão reinterpretar os
ensinamentos bahá’ís atinentes às provisões da Aliança a fim de lançar dúvida sobre a autoridade da
Casa de Justiça e reivindicar certas prerrogativas que, na ausência de um Guardião vivo, lhes
permitiria orientar os assuntos da Fé na direção que escolhessem.
Por mais de um século, portanto, a Aliança estabelecida por Bahá’u’lláh e perpetuada por
‘Abdu’l-Bahá foi atacada de diversas maneiras por oponentes internos e externos, mas em vão.
Embora em cada ocasião alguns indivíduos tenham sido desencaminhados ou se tornado desleais, os
ataques falharam em desviar ou redefinir a Causa, ou criar uma brecha permanente na comunidade.
Em cada uma das ocorrências, volvendo-se ao centro de autoridade designado em cada época —
‘Abdu’l-Bahá, o Guardião ou a Casa Universal de Justiça — questões foram respondidas e problemas
foram resolvidos. À medida que o corpo de crentes cresceu em entendimento e firmeza na Aliança, ele
aprendeu a se tornar impenetrável aos tipos de ataques e imposturas que, em época anterior, haviam
ameaçado a própria existência e propósito da Fé. A integridade da Causa de Bahá’u’lláh permanece
protegida sempre.
Cada geração de bahá’ís, não importa quão grande seja sua percepção espiritual,
inevitavelmente tem uma compreensão restrita das plenas implicações dos ensinamentos de
Bahá’u’lláh devido às limitações de suas próprias circunstâncias históricas e ao estágio específico do
desenvolvimento orgânico da Fé. Na Idade Heroica da Fé, por exemplo, os crentes tiveram de passar
por aquilo que por vezes lhes parecia uma série de transições desconcertantes e revolucionárias da
Dispensação do Báb à de Bahá’u’lláh, e em seguida ao ministério de ‘Abdu’l-Bahá — todas as quais,
com a percepção posterior e a iluminação dada por Shoghi Effendi, são agora facilmente
compreendidas como atos sequenciais no desenrolar de um único drama divino. Do mesmo modo,
hoje, após os incansáveis labores da comunidade durante um século inteiro, o primeiro da Idade
Formativa, é possível perceber mais completamente o significado, o propósito e a inviolabilidade da
Aliança — aquele inestimável legado de Bahá’u’lláh aos Seus seguidores. O entendimento da
natureza da Aliança, arduamente conquistado, e a firmeza que tal percepção engendra e sustenta
continuará a ser essencial para a unidade e o progresso no decorrer da Dispensação.
Agora está evidente e firmemente estabelecido que a Aliança de Bahá’u’lláh provê dois centros
de autoridade. O primeiro é o Livro: a Revelação de Bahá’u’lláh, juntamente com o corpo de obras de
‘Abdu’l-Bahá e Shoghi Effendi, que constituem a interpretação autorizada e as elucidações da Palavra
Criativa. Com o passamento de Shoghi Effendi, a duração de mais de um século daquele centro de
autoridade chegou ao fim. Contudo, a existência do Livro garante que a Revelação está disponível
para cada bahá’í, na verdade para toda a humanidade, não adulterada por interpretações equivocadas
ou acréscimos humanos.
Os poderes e deveres com os quais a Casa de Justiça foi investida abrangem tudo o que é
necessário para assegurar o cumprimento do propósito de Bahá’u’lláh para a humanidade. Por mais de
meio século, o mundo bahá’í testemunhou em primeira mão sua amplitude e expressão, incluindo a
promulgação da Lei de Deus, a conservação e disseminação dos Escritos Sagrados Bahá’ís, o
desenvolvimento da Ordem Administrativa e a criação de novas instituições, o projeto dos sucessivos
estágios do desenvolvimento do Plano Divino, e a proteção da Fé e a salvaguarda de sua unidade, bem
como esforços conducentes à preservação da honra humana, ao progresso do mundo e à iluminação de
seus povos. As elucidações da Casa de Justiça dissipam todos os problemas difíceis, todas as questões
obscuras, todos os problemas que causaram divergência, e todos os assuntos não expressamente
dispostos no Livro. A Casa de Justiça proverá guia por toda a Dispensação conforme as exigências do
tempo, assim assegurando que a Causa, tal como um organismo vivo, seja capaz de se adaptar às
necessidades e requisitos de uma sociedade em constante mudança. E ela garante que ninguém possa
alterar a natureza da mensagem de Bahá’u’lláh ou mudar as características essenciais da Causa.
No Kitáb-i-Íqán, Bahá’u’lláh pergunta: “Qual a ‘aflição’ mais penosa do que a de uma alma em
busca da verdade, desejosa de atingir o conhecimento de Deus, mas que não sabe onde ir ou de quem
buscá-lo?” Um mundo em grande parte desatento à luz da Revelação de Bahá’u’lláh acha-se cada vez
mais dividido e desorientado em questões relacionadas à verdade, moralidade, identidade e propósito,
e desnorteado pelos efeitos acelerados e corrosivos das forças de desintegração. Para a comunidade
bahá’í, contudo, a Aliança oferece uma fonte de clareza e refúgio, de liberdade e força. Cada crente é
livre para explorar o oceano da Revelação de Bahá’u’lláh, para chegar a conclusões pessoais, para
humildemente compartilhar percepções com outros, e para se esforçar em aplicar os Ensinamentos dia
após dia. O empreendimento coletivo obtém harmonia e foco por meio da consulta e da guia das
instituições, transformando laços entre indivíduos, dentro das famílias e entre comunidades, e
promovendo progresso social.
Por meio da Ordem Administrativa de Sua Fé, Bahá’u’lláh estabeleceu vínculos entre
indivíduos, comunidades e instituições como protagonistas em um sistema sem precedentes. De forma
condizente com as necessidades de uma era de maturidade humana, Ele ab-rogou a prática histórica na
qual os sacerdotes seguravam as rédeas da autoridade religiosa, instruindo a comunidade dos fiéis e
dirigindo os seus assuntos. A fim de impedir a disputa de ideologias conflitantes, Ele estabeleceu os
meios de cooperação na investigação da verdade e na busca do bem-estar humano. No lugar da busca
de poder sobre os outros, Ele estabeleceu arranjos para o cultivo dos poderes latentes do indivíduo e
para sua expressão no serviço ao bem comum. Fidedignidade, veracidade, retidão de conduta,
indulgência, amor e unidade estão entre as qualidades espirituais que formam a base de
relacionamento entre os três protagonistas de um novo modo de vida, enquanto os esforços para o
progresso social são todos moldados pela visão de Bahá’u’lláh da unicidade da humanidade.
Nos primeiros meses de seu ministério, Shoghi Effendi cogitou o imediato estabelecimento da
Casa de Justiça. No entanto, ao avaliar o estado da Fé em todo o mundo, ele rapidamente concluiu que
as condições necessárias para a formação da Casa de Justiça ainda não estavam assentadas. Em vez
disso, ele encorajou os bahá’ís em todas as partes a concentrar suas energias na formação de
Assembleias Espirituais Locais e Nacionais. “As Assembleias Espirituais Nacionais, assim como
pilares, serão gradual e firmemente estabelecidas em todos os países sobre os alicerces sólidos e
fortificados das Assembleias Locais”, ele afirmou. “Sobre esses pilares será erigido o poderoso
edifício, a Casa Universal de Justiça, erguendo elevadamente sua nobre estrutura por cima do mundo
da existência”.
Ao ajudar os amigos a entenderem o trabalho que lhes cabia para assentar os alicerces de sua
comunidade, Shoghi Effendi enfatizou que a Ordem Administrativa não era um fim em si mesma, mas
um instrumento para canalizar o espírito da Fé. Ele frisou seu caráter orgânico, explicando que a
administração bahá’í “é apenas a primeira modelagem daquilo que no futuro se tornará a vida social e
as leis da vivência comunitária” e que “os crentes estão apenas começando a apreendê-la e praticá-la
adequadamente”. Ele explicou também que a Ordem Administrativa é o “núcleo e o padrão” daquilo
que um dia se tornará uma nova ordem para organizar os afazeres da humanidade, conforme
visualizado por Bahá’u’lláh. E assim, quando os amigos começaram a erigir a administração, puderam
perceber que as relações entre os indivíduos, as comunidades e as instituições que estavam sendo
estabelecidas evoluiriam em complexidade, resultando em um aumento de capacidade ao longo do
tempo, à medida que a Fé se expandia e gerava um novo padrão de vida capaz de envolver cada vez
mais amplamente os povos do mundo.
Por meio de constante correspondência, Shoghi Effendi guiou os amigos passo a passo em seus
esforços por aprender a aplicar os ensinamentos pertinentes à administração, e para aprofundar o
entendimento de seu propósito, de sua necessidade, de seus métodos, sua forma, seus princípios, sua
flexibilidade e seu modo de operar, enquanto lhes confirmava as bases explícitas de tais assuntos nas
Escrituras bahá’ís. Ele os ajudou a desenvolver o processo das eleições bahá’ís, a estabelecer e
administrar o Fundo bahá’í, a organizar a Convenção Nacional, a construir a relação entre as
Assembleias Nacionais e Locais e uma série de outros assuntos. Ele dispersou as dúvidas e a hesitação
daqueles que se esforçavam por compreender a continuidade essencial entre a cultura e as práticas da
vida bahá’í no tempo de ‘Abdu’l-Bahá e as medidas que ele, como Guardião, estava tomando para
assentar os alicerces administrativos para o estágio seguinte do desenvolvimento da Fé. À medida que
os crentes conduziam seus assuntos administrativos, ele pacientemente lhes respondia as perguntas,
resolvia problemas e fomentava a vida coletiva da comunidade mundial bahá’í. Gradualmente, os
amigos aprenderam a trabalhar em harmonia, a defender as decisões de suas instituições e apoiar seu
progresso, e a perceber que tanto o entendimento quanto a capacidade de ação aumentariam com o
tempo. As Assembleias Locais começaram a funcionar de acordo com procedimentos uniformes para
eleições, consulta, assuntos financeiros e condução da vida comunitária. Assembleias Nacionais foram
inicialmente formadas nas Ilhas Britânicas, Alemanha e Áustria, Índia e Birmânia, Egito e Sudão,
Cáucaso, Turquistão, e Estados Unidos e Canadá. Em conformidade com a natureza orgânica da
Ordem Administrativa, as Assembleias Nacionais foram frequentemente estabelecidas primeiro em
âmbito regional, abrangendo mais de um país, e apenas mais tarde no âmbito de uma nação ou
território, à medida que o número de bahá’ís e de Assembleias Locais se multiplicava. Como
consequência, inúmeros e variados comitês foram constituídos, nomeados tanto em âmbito local
quanto nacional, para promover os esforços coletivos em uma diversidade de áreas, incluindo ensino,
tradução, publicação, educação, pioneirismo e organização de Festas de Dezenove Dias e Dias
Sagrados.
Este desenvolvimento dramático foi logo seguido, no final do mesmo ano, pela nomeação de
doze Mãos da Causa de Deus por Shoghi Effendi, de igual representação em três continentes e na
Terra Santa — o primeiro contingente de Mãos da Causa a ser estabelecido em conformidade com as
disposições da Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá. Estas pessoas notáveis foram nomeadas para
promover o trabalho de propagação e proteção da Fé. A existência de uma instituição que desempenha
um papel tão vital na promoção dos interesses da Causa, mas que não tem qualquer autoridade
legislativa, executiva ou judiciária, e é inteiramente isenta de funções eclesiásticas ou do direito de
interpretações autorizadas, é uma característica da Administração Bahá’í que não tem paralelo nas
religiões do passado. Depois de muitos anos nutrindo o sistema de Assembleias eleitas e agências
associadas, Shoghi Effendi começou a moldar esta instituição nomeada, e a guiar os amigos para
entender, acolher e apoiar suas funções ímpares. Em 1952, a nomeação de um segundo contingente de
Mãos aumentou seu número para dezenove. Os Corpos Auxiliares, cujos membros serviam como
representantes das Mãos em cada continente, foram estabelecidos em 1954. Até os últimos dias de sua
vida, o Guardião continuou a expandir esta instituição, nomeando um contingente final de Mãos
aumentando seu número para vinte e sete, e estabelecendo um Corpo Auxiliar para Proteção para
complementar o Corpo para Propagação.
Ao ponderar sobre os esforços dos crentes para construir a forma nascente da administração,
Shoghi Effendi explicou aos crentes que muito daquilo que fora instituído sob sua guia era temporário
e que era função da Casa Universal de Justiça “definir de modo mais permanente as linhas gerais que
devem guiar as futuras atividades e a administração” da Fé. Em outra ocasião ele escreveu que
“quando este Corpo Supremo for apropriadamente estabelecido, terá que avaliar novamente toda a
situação, e estipular os princípios que guiarão os assuntos da Causa por tanto tempo quanto considerar
aconselhável”.
Hoje, embora a administração ainda não tenha alcançado sua plena maturidade, o sistema
inaugurado por Bahá’u’lláh evidencia um novo padrão de interações e um dinamismo marcante nas
relações entre os três protagonistas ao se engajarem no propósito comum de trabalhar em prol do
desenvolvimento orgânico da Fé e da melhora do mundo. Na companhia de colaboradores de
pensamento semelhante e em diversos ambientes de estudo, de reflexão e de numerosas outras
interações sociais, as pessoas expressam seus pontos de vista e buscam a verdade por meio de um
processo de consulta, sem insistir que suas ideias estão certas. Juntos, elas leem a realidade de seu
entorno, exploram as profundezas das guias disponíveis, obtêm relevantes percepções a partir dos
Ensinamentos e da experiência acumulada, criam ambientes de cooperação e elevação espiritual,
desenvolvem capacidade e principiam ações que crescem em eficácia e complexidade ao longo do
tempo. Elas procuram distinguir as áreas de atividade nas quais o indivíduo pode melhor exercer
iniciativa daquelas que cabem exclusivamente às instituições, e de coração e alma acolhem de bom
grado a guia e a orientação de suas instituições. Em agrupamentos avançados e dentro de povoados e
vizinhanças que são centros de atividade intensa, uma comunidade emerge com um senso de
identidade, vontade e propósito compartilhados, o que provê um ambiente que nutre a capacidade de
cada pessoa e as une numa variedade de atividades que se complementam e reforçam mutuamente, e
que acolhem a todos e procuram enlevar cada um. Tais comunidades se distinguem cada vez mais pelo
senso de unidade entre seus membros, por estarem livres de preconceitos de todos os tipos, por seu
caráter devocional, dedicação à seu comprometimento com a igualdade entre mulheres e homens,
pelo serviço abnegado à humanidade, pelos processos educacionais e cultivo da virtude, e pela
capacidade de aprender e contribuir sistematicamente para o progresso material e espiritual da
sociedade. Os membros da comunidade chamados a servir em instituições se empenham em ser
conscientes do dever de deixar de lado os próprios gostos e desgostos, de nunca se considerarem os
ornamentos centrais da Causa ou superiores a outros, e de evitar qualquer tentativa de exercer controle
sobre o pensamento e a ação dos crentes. Ao cumprir suas responsabilidades, as instituições facilitam
trocas criativas e colaborativas entre todos os elementos da comunidade, e se esforçam em criar
consenso, superar desafios, promover a saúde e vitalidade espiritual, e determinar, por meio da
experiência, as maneiras mais eficazes de perseguir os objetivos e propósitos da comunidade. Através
de meios diversos, incluindo o estabelecimento de agências educacionais, elas ajudam a fomentar o
desenvolvimento espiritual e intelectual dos crentes.
Como resultado dessas novas relações e capacidades entre os três protagonistas, o círculo
daqueles que têm a habilidade de pensar e agir estrategicamente foi ampliado, enquanto assistência,
recursos, encorajamento e guia amorosa chegam onde são necessários. Experiência e percepções são
compartilhadas por todo o mundo, desde as bases até o nível internacional. O padrão de vida criado
por este envolvimento dinâmico abrange milhões de almas de todas as camadas da sociedade,
animadas pela visão de Bahá’u’lláh de um mundo unido. De país em país, o poder do Seu sistema
para lidar com as necessidades prementes do mundo tem chamado a atenção de pais, educadores,
líderes tradicionais, funcionários públicos e líderes do pensamento. Naturalmente, nem toda
comunidade mostra as características das mais avançadas; de fato, na história bahá’í isso sempre foi
assim. Contudo, o aparecimento de novas capacidades em um lugar qualquer assinala um evidente
avanço e serve como augúrio de que outros seguramente lhe seguirão os passos.
Nas eras e séculos vindouros, a Ordem Administrativa continuará sua evolução orgânica em
resposta ao crescimento da Fé e às exigências de uma sociedade em transformação. Shoghi Effendi
previu que quando “suas partes componentes, suas instituições orgânicas, começam a funcionar com
eficiência e vigor” a Ordem Administrativa irá “asseverar sua reivindicação e demonstrar sua
capacidade de ser considerada, não somente como o núcleo, mas o próprio padrão da Nova Ordem
Mundial, destinada a abarcar, na plenitude do tempo, toda a humanidade”. Assim, ao se cristalizar o
sistema de Bahá’u’lláh este oferecerá à humanidade novas e mais produtivas maneiras de organizar
seus afazeres. No decurso desta evolução orgânica, as relações entre indivíduos, comunidades e
instituições inevitavelmente se desdobrarão em novas direções e algumas vezes de maneiras
inesperadas. Ainda assim, a infalível proteção divina que envolve a Casa de Justiça garantirá que o
mundo bahá’í, ao navegar o tumulto de um período muito perigoso na evolução social da humanidade,
seguirá invariavelmente o curso estabelecido pela Providência.
Desde o seu nascimento, a comunidade erguida por Bahá’u’lláh, embora pequena em número e
geograficamente circunscrita, foi galvanizada por Seus ensinamentos sublimes, e levantou-se para
compartilhá-los generosamente com todos aqueles que buscavam um caminho espiritual para a
transformação pessoal e social. Com o tempo, os amigos aprenderam a trabalhar estreitamente com
pessoas e organizações de pensamento semelhante a fim de enlevar o espírito humano e contribuir
para a melhoria de famílias, comunidades e da sociedade como um todo. A receptividade à mensagem
de Bahá’u’lláh foi encontrada em todas as terras, e por meio de esforços dedicados e do sacrifício de
muitas gerações, comunidades bahá’ís surgiram ao redor do globo, em cidades e povoados
longínquos, até abarcar a diversidade da raça humana.
Por vinte anos após a revelação do Plano Divino pela pena de ‘Abdu’l-Bahá, sua
implementação foi mantida em suspenso até o tempo em que os amigos, guiados por Shoghi Effendi,
puderam criar a maquinaria administrativa da Fé e lhe promover o funcionamento apropriado.
Somente quando a estrutura administrativa inicial foi firmemente assentada é que o Guardião pôde
começar a enunciar a visão do desenvolvimento da Fé com base no Plano Divino de ‘Abdu’l-Bahá.
Assim como a administração evoluiu através de distintos estágios de crescente complexidade, também
o esforço para compartilhar e aplicar os ensinamentos de Bahá’u’lláh evoluíram organicamente, dando
origem a novos padrões de vida comunitária capazes de abarcar números cada vez maiores de pessoas
e que permitiam aos amigos assumir desafios maiores e contribuir para uma maior medida de
transformação pessoal e social.
Para dar início a este empreendimento sistemático, Shoghi Effendi convocou as comunidades
dos Estados Unidos e do Canadá — os destinatários escolhidos das Epístolas do Plano Divino, as
quais ele havia respectivamente designado como seus principais executores e seus aliados — para
elaborar um “plano sistemático, cuidadosamente concebido e bem embasado” que deveria ser
“vigorosamente perseguido e continuamente ampliado”. Este chamado resultou no lançamento do
primeiro Plano de Sete Anos em 1937, que levou os ensinamentos de Bahá’u’lláh para a América
Latina, seguido por um segundo Plano de Sete Anos, iniciando em 1946, o qual enfatizou o
desenvolvimento da Fé na Europa. De igual modo, Shoghi Effendi encorajou o trabalho de ensino em
outras comunidades nacionais, que subsequentemente adotaram planos nacionais sob seus olhos
vigilantes. A Assembleia Espiritual Nacional da Índia e Birmânia adotou seu primeiro plano em 1938;
a das Ilhas Britânicas em 1944; a da Pérsia em 1946; a da Austrália e Nova Zelândia em 1947; a do
Iraque em 1947; as do Canadá, Egito e Sudão, e Alemanha e Áustria em 1948; e a da América Central
em 1952. Cada um desses planos seguiu o mesmo padrão básico: ensino a indivíduos, estabelecimento
de uma Assembleia Local e desenvolvimento de uma comunidade, e abertura de localidades
adicionais na frente interna ou externa — e então a repetição continuada do mesmo padrão. Quando
um alicerce sólido fosse construído em um país ou território, uma nova Assembleia Nacional podia
ser estabelecida.
Durante esses anos, Shoghi Effendi constantemente encorajava os amigos a cumprirem sua
responsabilidade de ensinar a Fé dentro do contexto dos planos adotados pelas suas Assembleias
Nacionais. Com o tempo, métodos como pioneirismo, viagens de ensino, reuniões fireside, escolas de
verão e participação em atividades de organizações de pensamento semelhante mostraram-se eficazes
em certos lugares e ele instou os amigos de outras partes do mundo a os adotarem. Os esforços de
expansão eram acompanhados por uma ênfase no desenvolvimento interno necessário para consolidar
a identidade e o caráter da Fé Bahá’í como uma comunidade religiosa distinta. Este processo
transformador foi cuidadosamente cultivado pelo Guardião, que elucidou para os crentes a história da
Fé, facilitou o uso do calendário bahá’í, enfatizou a participação regular nas Festas e comemorações
de Dias Sagrados, e pacientemente os guiou a abraçar a obrigação de obediência às leis bahá’ís, tais
como as disposições do casamento bahá’í. Gradualmente, a Fé emergiu como uma religião mundial,
ocupando seu lugar entre religiões irmãs.
À medida que os amigos viajavam a muitos lugares para compartilhar sua preciosa Fé,
encontravam entre diversos povos uma grande receptividade aos seus princípios e ensinamentos.
Essas populações descobriram dentro da Revelação de Bahá’u’lláh um significado e um propósito
mais profundos para suas vidas, bem como novas percepções que permitiriam às suas comunidades
superar desafios e progredir espiritual, social e materialmente. Uma luz divina, no início disseminada
gradualmente de indivíduo a indivíduo, começou assim a ser rapidamente difundida entre as massas
da humanidade. O precursor do fenômeno de entrada em tropas predito por ‘Abdu’l-Bahá tornou-se
evidente com o ingresso de centenas de crentes em Uganda, Gâmbia e Ilhas Gilbert e Ellice, e
posteriormente na Indonésia e Camarões. Antes do término do Plano, o processo havia começado em
vários outros países, com o ingresso na Fé de dezenas de milhares de pessoas ou ainda mais.
Como resultado de todos estes esforços, nos anos 1990 a Fé se havia difundido para dezenas de
milhares de localidades e o número de Assembleias Nacionais mais do que triplicou, chegando a cerca
de 180. Durante esse tempo, o desenvolvimento de comunidades nacionais seguiu dois amplos
padrões em muito determinados pela reação à Fé por parte da população mais ampla. No primeiro, as
comunidades locais tendiam a ser de tamanho pequeno e somente algumas chegaram a cem ou mais
crentes. Essas comunidades frequentemente se caracterizavam por um vigoroso processo de
consolidação que permitia uma ampla variedade de atividades e a criação de um forte senso de
identidade bahá’í. Contudo, tornou-se cada vez mais evidente que, embora unida em crenças comuns,
caracterizada por ideais elevados e proficiente na gestão de seus assuntos e no atendimento às suas
necessidades, uma comunidade tão pequena — por mais que prosperasse ou tentasse servir os outros
por meio de esforços humanitários — jamais poderia esperar servir como modelo para reestruturar a
sociedade como um todo.
O segundo padrão tomou forma nos países onde se iniciou o processo de entrada em tropas,
resultando em crescimento exponencial no número de membros, de novas localidades e de novas
instituições. Em vários países, a comunidade bahá’í cresceu até chegar a mais de cem mil bahá’ís,
enquanto na Índia chegou a cerca de dois milhões. De fato, em um período de apenas dois anos no
final dos anos 1980, mais de um milhão de almas abraçaram a Fé em todo o mundo. Entretanto, em
tais lugares, apesar dos esforços feitos com criatividade e sacrifício, o processo de consolidação não
pôde seguir o mesmo ritmo da expansão. Muitos se tornaram bahá’ís, mas não havia meios para todos
esses novos crentes se tornar suficientemente aprofundados nas verdades fundamentais da Fé e para se
desenvolverem comunidades vibrantes. Não se podiam estabelecer um número suficiente de aulas de
educação bahá’í que servissem a um crescente número de crianças e jovens. Mais de trinta mil
Assembleias Locais foram formadas, mas somente uma fração delas começou a funcionar. A partir
dessa experiência, ficou claro que cursos educacionais ocasionais e atividades comunitárias informais,
embora importantes, não eram suficientes, pois resultavam no levantamento de apenas um grupo
relativamente pequeno de apoiadores ativos da Causa que, não importa quão dedicados fossem, não
poderiam satisfazer as necessidades de milhares e milhares de novos crentes.
Em 1996, o mundo bahá’í havia alcançado um ponto em que as muitas áreas de atividade que
anteriormente haviam contribuído para tanto progresso durante tanto tempo precisavam de reavaliação
e reorientação. Indivíduos, comunidades e instituições precisavam aprender não somente como iniciar
um modo de ação que pudesse alcançar um grande número de pessoas, mas também como aumentar
rapidamente o número pessoas que se envolvessem em atos de serviço a fim de que a consolidação
mantivesse o mesmo ritmo da acelerada expansão. O esforço para apresentar a Fé às muitas
populações do mundo tinha de se tornar mais sistemático. O chamado do Plano de Quatro Anos para
um “avanço significativo no processo de entrada em tropas” tinha o intuito de reconhecer que as
circunstâncias da Fé, bem como as condições da humanidade, permitiam, e até exigiam, um
crescimento sustentado da comunidade mundial bahá’í em larga escala. Somente então o poder dos
ensinamentos de Bahá’u’lláh para transformar o caráter do gênero humano poderia cada vez mais se
manifestar.
No início do Plano de Quatro Anos, os amigos de cada região foram encorajados a identificar
abordagens e métodos que se aplicassem às suas condições específicas e a colocar em movimento um
processo sistemático de desenvolvimento comunitário no qual revisariam seus sucessos e dificuldades,
para assim ajustar e melhorar seus métodos, aprender e seguir adiante sem hesitação. Quando o rumo
da ação não era claro, várias abordagens para lidar com os desafios específicos identificados no Plano
podiam ser testadas em diferentes lugares; quando uma iniciativa em uma área específica se
mostrasse, através da experiência, eficaz, suas características podiam ser compartilhadas com
instituições no nível nacional ou internacional e então ser disseminadas para outros lugares e até
mesmo se tornar componentes de Planos futuros.
Durante um quarto de século este processo de aprendizagem sobre crescimento deu origem a
diversos conceitos, instrumentos e abordagens que continuamente aprimoravam o evolutivo marco
conceitual para a ação da comunidade. Entre as mais notáveis características estava a criação de uma
rede de institutos de capacitação — oferecendo programas educacionais para crianças, pré-jovens,
jovens e adultos — para empoderar grande número de amigos e lhes possibilitar o fortalecimento das
capacidades para o serviço. Outra foi o conceito de agrupamentos, que facilitou a sistematização do
trabalho de ensino em áreas geográficas administráveis através da iniciação e fortalecimento gradual
de programas de crescimento, e que acelerou a difusão e desenvolvimento da Fé em cada país e em
todo o mundo. Dentro desses programas de crescimento, uma novo padrão de vida comunitária surgiu,
começando com a multiplicação de quatro atividades centrais que serviram como portais para a
entrada de grandes números, combinadas com uma variedade de outros esforços, incluindo ensino
individual e coletivo, visitas aos lares, realização de reuniões sociais, observância de Festas e Dias
Sagrados, administração de assuntos comunitários e promoção de atividades de desenvolvimento
social e econômico — todos os quais em conjunto ocasionariam uma mudança no caráter espiritual da
comunidade e fortaleceriam os laços sociais entre indivíduos e famílias.
À medida que organizações de inspiração bahá’í, bem como agências diretamente sob a
autoridade de instituições bahá’ís começaram a aparecer em um país após o outro, o impacto de seus
esforços dentro da comunidade e na sociedade mais ampla ficou cada vez mais evidente,
manifestando uma coerência dinâmica entre as dimensões material e espiritual da vida. Avanços
ocorreram não apenas no nível da ação, mas também no de pensamento. Os amigos vieram a
compreender um conjunto de conceitos fundamentais: O mundo não é dividido nas categorias de
desenvolvido e subdesenvolvido — todos têm carência de transformação e de um ambiente que lhes
ofereça as condições espirituais, sociais e materiais necessárias à sua segurança e prosperidade.
Desenvolvimento não é um processo realizado por uma população em favor de outra; em vez disso, a
própria população, onde quer que resida, é protagonista de seu próprio desenvolvimento. O acesso ao
conhecimento e a participação na sua geração, aplicação e difusão se encontra no cerne do
empreendimento. As iniciativas começam pequenas e aumentam em complexidade à medida que a
experiência se acumula. Programas cuja eficácia foi demonstrada em uma região podem ser
sistematicamente introduzidos em outras. À medida que esses princípios e conceitos são aplicados em
uma circunstância específica, os amigos se tornam cada vez mais aptos a analisar suas condições
sociais, obtendo percepções dos Escritos e dos vários campos pertinentes de conhecimento, e
iniciando atividades plenamente integradas com o trabalho de construção de comunidade.
Em 2018, a ampla difusão e a crescente complexidade das iniciativas bahá’ís de
desenvolvimento em todo o mundo levaram ao estabelecimento de uma nova instituição na Terra
Santa — a Organização Internacional Bahá’í de Desenvolvimento. Esta instituição global assumiu, e
amplia ainda mais, as funções e o mandato anteriormente conduzidos pelo Escritório de
Desenvolvimento Social e Econômico, reforçando as iniciativas de ação social de indivíduos,
comunidades, instituições e agências em toda parte. Assim como o Escritório que a precedeu, seu
propósito básico é facilitar o processo global de aprendizado sobre desenvolvimento que se desenrola
no mundo bahá’í, ao incentivar e apoiar ação e reflexão, coleta e sistematização da experiência,
conceituação e capacitação — tudo efetuado à luz dos ensinamentos da Fé. Em última instância, ela
procura promover uma abordagem claramente bahá’í para desenvolvimento.
Desde o início de seu ministério, Shoghi Effendi, sabedor da importância vital de levar ao
conhecimento dos povos e líderes do mundo as percepções e a sabedoria entesouradas nos
ensinamentos bahá’ís, promoveu iniciativas para este fim. Elas incluíam, entre outras, a abertura de
um escritório de informação bahá’í em Genebra em 1925, a publicação de volumes do The Bahá’í
World e o chamado a bahá’ís eruditos para correlacionarem os Ensinamentos com o pensamento
contemporâneo relativo aos múltiplos e prementes problemas do mundo. Após a fundação das Nações
Unidas, a Comunidade Internacional Bahá’í foi estabelecida em 1948 como uma organização
não-governamental representando as comunidades bahá’ís em todo o mundo, e tornou-se cada vez
mais envolvida nos aspectos do trabalho daquele corpo internacional. Isto abriu um novo capítulo no
contínuo relacionamento da Fé com governos, instituições globais e organizações da sociedade civil
na esfera internacional. Embora nunca deixasse que esta área de atividade eclipsasse a importância
fundamental do trabalho de ensino, o Guardião encorajava os amigos a familiarizar a sociedade mais
ampla com as implicações dos ensinamentos de Bahá’u’lláh. “Paralelamente a este processo de
reforço das estruturas da Ordem Administrativa e de ampliação de suas bases”, escreveu ele a uma
comunidade nacional, “deve-se fazer uma tentativa resoluta” para se estabelecer, entre outros, um
contato mais estreito com “os líderes do pensamento público”. Enfatizando a associação ao invés da
afiliação, e instando os crentes a permanecer alheios a qualquer participação em assuntos políticos, ele
os encorajou a se envolverem com organizações afins preocupadas com questões sociais, e a
familiarizá-las com os objetivos e propósitos da Fé e a natureza de seus ensinamentos sobre assuntos
como o estabelecimento da paz mundial.
Com o início do século vinte e um, o progresso orgânico da Causa havia criado condições para
um engajamento mais sistemático nos discursos da sociedade. Websites bahá’ís internacionais e
nacionais ampliaram dramaticamente a apresentação dos Ensinamentos, abarcando uma variedade de
tópicos. O Instituto de Estudos em Prosperidade Global foi estabelecido para realizar pesquisa sobre
as implicações dos ensinamentos de Bahá’u’lláh em questões sociais prementes; com o tempo ele
iniciou também uma série de seminários para promover entendimento e desenvolver capacidade entre
estudantes universitários bahá’ís. O trabalho da Comunidade Internacional Bahá’í, inicialmente
centrado em Nova Iorque e Genebra, foi ampliado para centros regionais em Adis Abeba, Bruxelas e
Jacarta. Em âmbito nacional, os escritórios de assuntos externos aprenderam como participar de
discursos nacionais específicos de um modo sistemático, representando suas respectivas comunidades.
Entre os tópicos intensivamente tratados em várias nações estavam o avanço da mulher, o papel da
religião na sociedade, o empoderamento espiritual e moral da juventude, a promoção da justiça e o
fortalecimento da coesão social. Hoje, um processo global de aprendizagem baseado na experiência
de contribuir para esses discursos nacionais é facilitado pelo Escritório de Discurso Público no Centro
Mundial Bahá’í. E nas bases da sociedade, em vizinhanças e povoados, em suas profissões e em
outros espaços sociais onde participam como indivíduos, os amigos estão aprendendo a oferecer
conceitos dos Escritos Bahá’ís como uma contribuição à evolução do pensamento e da ação entre seus
compatriotas, a qual é necessária para criar mudança construtiva.
O envolvimento em todos estes níveis da sociedade se torna mais premente à medida que o
processo de desintegração da velha ordem mundial se intensifica e o discurso se torna cada vez mais
áspero e polarizado, levando ao recrudescimento do conflito entre as facções e ideologias antagônicas
que dividem a humanidade. Por entenderem que a transformação concebida por Bahá’u’lláh pede a
participação de todos, os bahá’ís procuram trabalhar com os muitos indivíduos e organizações
solidários que perseguem objetivos comuns. Em tais esforços colaborativos, os amigos compartilham
percepções advindas dos ensinamentos de Bahá’u’lláh, bem como lições práticas aprendidas em seus
próprios esforços de construção de comunidade, ao mesmo tempo em que aprendem da experiência de
seus parceiros colaboradores. Ao trabalhar com indivíduos, comunidades e organizações, tanto civis
como governamentais, os amigos mantêm a consciência de que o discurso sobre muitas questões
sociais pode se tornar controverso ou emaranhado em ambições políticas. Em todos os ambientes em
que os bahá’ís se tornam mais profundamente envolvidos com a sociedade mais ampla, eles procuram
fomentar consenso e unidade de pensamento, e promover colaboração e a busca conjunta de soluções
para os problemas críticos da humanidade. Para eles, os meios pelos quais os fins são alcançados são
tão importantes quanto o fim em si mesmo.
À medida que o processo de se envolver cada vez mais na vida da sociedade mais ampla criou
raízes na comunidade bahá’í em todo o mundo, inicialmente ele se desdobrou lado a lado com o
trabalho de ensino e o desenvolvimento da administração. Nas décadas recentes, contudo, os esforços
em prol da ação social e do envolvimento nos discursos da sociedade alcançaram marcante coerência
com aqueles relacionados à expansão e consolidação, porquanto cada vez mais os amigos aplicaram
os elementos do marco conceitual de ação dos Planos globais. Os amigos, ao trabalhar em seus
agrupamentos, são inexoravelmente envolvidos na vida da sociedade à sua volta, e o processo de
aprendizagem que impele os esforços de crescimento e construção de comunidade se estende para
uma crescente gama de atividades. A vida comunitária se caracteriza cada vez mais por sua
contribuição ao progresso material, social e espiritual, na medida que os amigos cultivam sua
capacidade de compreender as condições da sociedade à sua volta, criam espaços onde exploram
conceitos da Revelação de Bahá’u’lláh e de campos relevantes do conhecimento humano, trazem
percepções para enfrentar problemas práticos, e desenvolvem a capacidade entre os crentes e na
comunidade mais ampla. Como resultado dessa crescente coerência entre as diversas áreas de atuação,
as atividades mais básicas para desenvolvimento social e econômico nas bases da sociedade
aumentaram de algumas centenas nos anos 1990 para vários milhares no ano 2000, e para dezenas de
milhares em 2021. O engajamento bahá’í no discurso social vem recebendo uma resposta
retumbantemente positiva em incontáveis ambientes, desde vizinhanças até nações, porquanto a
humanidade, perplexa e dividida pelos múltiplos problemas advindos da operação das forças da
desintegração, ansiosamente busca novas percepções. Em todos os níveis da sociedade, líderes do
pensamento cada vez mais associam a comunidade bahá’í a novas concepções e abordagens
extremamente necessárias a um mundo cada vez mais desunido e disfuncional. O poder da Fé para a
construção de sociedade, em grande parte latente no início do primeiro século da Idade Formativa,
está agora cada vez mais discernível em um país após o outro. A liberação deste poder de construção
de sociedade, resultante de uma nova consciência e uma nova capacidade de aprendizagem entre
indivíduos, comunidades e instituições em todo o mundo, está destinada a ser a característica do atual
e dos próximos estágios do desenvolvimento do Plano Divino.
No entanto, no término da Idade Heroica e por muitos anos depois, foi frágil o acesso dos
bahá’ís ao centro espiritual de sua Fé. Para ‘Abdu’l-Bahá quão difícil era, muitas vezes, até mesmo
oferecer preces no local de repouso de Seu Pai. Quão atroz era Sua situação, sendo falsamente
acusado de sedição por erigir a estrutura na qual, por determinação de Bahá’u’lláh, foram depositados
os restos mortais do Báb para repousar após a longa jornada desde o local de Seu martírio. A perigosa
e insegura condição do Centro Mundial avançou pelo ministério do Guardião adentro, conforme se
evidenciou quando as chaves do Santuário de Bahá’u’lláh foram tomadas pelos violadores da Aliança
logo depois de ele ter assumido suas responsabilidades. Assim, entre os primeiros e mais vitais
deveres de Shoghi Effendi, perseguidos durante todo o seu ministério, estava a proteção e
preservação, a ampliação e embelezamento dos Santuários Sagrados gêmeos e outros Lugares
Sagrados. Para alcançar este objetivo, ele teve de navegar por um período tumultuado de mudança na
Terra Santa — incluindo perturbações econômicas globais, guerra, repetidas transições políticas e
instabilidade social — enquanto mantinha, assim como ‘Abdu’l-Bahá antes dele, os imutáveis
princípios bahá’ís de solidariedade com todos os povos e respeito pela autoridade governamental
estabelecida. Houve tempo em que ele teve até de considerar a transferência dos restos de Bahá’u’lláh
a um local adequado no Monte Carmelo para assegurar a sua proteção. E ele permaneceu firmemente
em Haifa durante tempos de tumulto e conflito, mesmo quando ordenou que o pequeno número de
bahá’ís locais se dispersasse para outras partes do mundo. Esta pesada obrigação que lhe cabia ele
continuou a sustentar incansavelmente até seus últimos dias, quando o Santuário de Bahá’u’lláh foi
finalmente reconhecido pelas autoridades civis como um Lugar Sagrado Bahá’í, e o mundo bahá’í
finalmente viu-se livre para preservar e embelezar seu lugar mais sagrado.
No decurso de seus esforços para adquirir, restaurar e proteger os Lugares Sagrados, o Guardião
expandiu significativamente as propriedades circunvizinhas ao Santuário Sagrado e à Mansão de
Bahjí, e iniciou o que eventualmente seriam extensos jardins formais. Na Montanha de Deus, ele
levou à conclusão a longamente adiada finalização do Santuário do Báb, iniciado por ‘Abdu’l-Bahá,
adicionando mais três salas, criando sua colunata, erguendo seu domo dourado e circundando-o com
verdor. Ele traçou “o grandioso arco ao longo do qual os edifícios da Ordem Administrativa Mundial
Bahá’í” seriam edificados; erigiu em um dos extremos do arco sua primeira estrutura, o Edifício dos
Arquivos Internacionais; e estabeleceu no seu centro o lugar de descanso da Folha Mais Sagrada, de
seu irmão e da mãe de ambos. Os labores do Guardião para o desenvolvimento do Centro Mundial
continuaram sob a direção da Casa Universal de Justiça. Terrenos e Lugares Sagrados adicionais
foram adquiridos e embelezados, os edifícios do Arco foram erigidos e os patamares estendidos desde
o sopé até o cume do Monte Carmelo, conforme originalmente previsto por ‘Abdu’l-Bahá e iniciado
pelo Guardião. Antes do término do primeiro século da Idade Formativa, a propriedade ao redor do
Santuário do Báb cresceu para cerca de 170.000 metros quadrados, enquanto uma série de permutas e
aquisições de terras aumentaram a propriedade imediatamente adjacente ao Santuário de Bahá’u’lláh
de cerca de 4.000 para mais de 450.000 metros quadrados. E, em 2019, teve início a construção em
‘Akká, próximo ao Jardim do Riḍván, de um Santuário condigno para lugar de descanso final de
‘Abdu’l-Bahá.
Tal como as relações entre indivíduos, comunidades e instituições evoluíram com o passar do
tempo, edificando sobre as conquistas anteriores e levantando-se para enfrentar novos desafios, o
mesmo se pode dizer quanto às relações do Centro Mundial Bahá’í com os bahá’ís em todo o mundo.
A relação íntima e inseparável do centro espiritual e administrativo com o desenvolvimento do mundo
bahá’í foi expressada na mensagem de 24 de maio de 2001 que dirigimos aos bahá’ís reunidos para os
eventos que marcaram a conclusão dos projetos no Monte Carmelo: “As majestosas construções que
agora se erguem ao longo do Arco traçado para elas por Shoghi Effendi na encosta da Montanha de
Deus, juntamente com a magnífica sequência de jardins e patamares que envolvem o Santuário do
Báb, são uma expressão exterior do imenso poder que anima a Causa a que servimos. Eles oferecem
testemunho atemporal ao fato de que os seguidores de Bahá’u’lláh assentaram com sucesso os
alicerces de uma comunidade mundial que transcende todas as diferenças que dividem a raça humana,
e trouxeram à existência as principais instituições de uma Ordem Administrativa única e inexpugnável
que molda a vida desta comunidade. Com a transformação ocorrida no Monte Carmelo, a Causa
bahá’í emerge como uma realidade visível e cativante no cenário mundial, como o centro focal de
forças que, no tempo certo de Deus, provocarão a reconstrução da sociedade, e como uma fonte
mística de renovação espiritual para todos que a ele se volvem”.
Perspectiva
Algumas semanas antes de Seu passamento, ‘Abdu’l-Bahá estava em Sua casa com um dos
amigos. “Vem comigo”, disse Ele, “para admirarmos juntos a beleza do jardim”. Em seguida Ele
observou: “Vê o que o espírito de devoção é capaz de realizar! Este lugar vicejante foi, há alguns
anos, apenas um amontoado de pedras, e agora está verdejante com folhagens e flores. Meu desejo é
que após minha partida os amados se levantem e sirvam a divina Causa; e, se Deus permitir, assim
será”. “Em breve”, prometeu Ele, aparecerão aqueles “que trarão vida ao mundo”.
Este breve resumo dos últimos cem anos evidencia de que modo a comunidade bahá’í, ao se
empenhar sistematicamente na execução das três Divinas Cartas Magnas, tornou-se uma nova criação,
conforme antevisto por ‘Abdu’l-Bahá. Assim como o ser humano passa por vários estágios de
crescimento físico e intelectual até alcançar a maturidade, a comunidade bahá’í também se desenvolve
organicamente, em tamanho e estrutura, bem como em entendimento e visão, assumindo
responsabilidades e fortalecendo relações entre indivíduos, comunidades e instituições. Ao longo do
século, tanto no nível local quanto na escala global, a série de avanços vivenciados pela comunidade
bahá’í a capacitou a perseguir ações resolutas numa variedade cada vez mais ampla de atividades.
Nos anos finais do primeiro século da Idade Formativa, surgiu um marco conceitual para ação
compartilhado por todos, o qual se tornou central para o trabalho da comunidade e que orienta o
pensamento e dá forma a atividades cada vez mais complexas e eficazes. Este marco conceitual evolui
continuamente através do acúmulo de experiência e da guia da Casa de Justiça. Os elementos cruciais
deste marco conceitual são as verdades espirituais e os princípios cardeais da Revelação. Outros
elementos que também contribuem para o pensamento e a ação envolvem valores, atitudes, conceitos
e métodos. Ainda outros incluem o entendimento do mundo físico e social através de percepções
obtidas de vários ramos de conhecimento. Dentro deste marco conceitual em contínua evolução, os
bahá’ís estão aprendendo a sistematicamente traduzir em ação os ensinamentos de Bahá’u’lláh a fim
de concretizar Seus elevados propósitos para a melhora do mundo. Nunca é demais enfatizar a
importância desta capacidade aumentada para a aprendizagem, e suas implicações, para o progresso
da humanidade no seu atual estágio de desenvolvimento social.
Quanto o mundo bahá’í já alcançou! Quanto ainda falta por ser feito! O Plano de Nove Anos
delineia as tarefas que se apresentam imediatamente à frente. Entre as áreas de foco estão a
multiplicação e intensificação de programas de crescimento em agrupamentos de todo o mundo, e
coerência cada vez maior no trabalho de construção de comunidade, ação social e participação nos
discursos prevalecentes através dos esforços conjuntos dos três protagonistas do Plano. O instituto de
capacitação será ainda mais fortalecido e continuará a evoluir como uma organização educacional que
desenvolve competências para o serviço. As sementes que ele planta no coração de sucessivas
multidões de pessoas jovens serão nutridas por outras oportunidades educacionais para empoderar
cada alma a contribuir para o progresso e o bem-estar social. O movimento da juventude será
complementado em todo o mundo pelo inédito avanço das mulheres como parceiras plenas nos
assuntos comunitários. A capacidade das Instituições Bahá’ís avançará em todos os níveis, com
especial atenção para estabelecer e desenvolver Assembleias Locais, e para lhes aprimorar o
envolvimento com a sociedade mais ampla e seus líderes. A vida intelectual da comunidade será
cultivada para prover o rigor e a clareza de pensamento necessários para vindicar ante uma
humanidade cética a aplicabilidade do remédio curador dos ensinamentos de Bahá’u’lláh. E todos
estes esforços continuarão por uma série de Planos dotados de desafios, que se estende por não menos
de uma geração, e que levará o mundo bahá’í para além do limiar de seu terceiro século.
Os resolutos esforços para obter um entendimento mais pleno dos ensinamentos de Bahá’u’lláh
e para viver de acordo com eles se inserem dentro do contexto mais amplo dos processos duplos de
desintegração e integração descritos por Shoghi Effendi. Conquistar o objetivo da atual série de
Planos — a liberação de medidas sempre crescentes do poder da Fé para a construção de sociedade —
demanda uma habilidade de leitura da realidade social à medida que se reage a esses processos
gêmeos e se é moldado por eles.
As forças destrutivas que golpeiam o mundo não deixam a comunidade bahá’í incólume. De
fato, a história de cada comunidade nacional bahá’í carrega tal marca. Em consequência disso, em
vários lugares e em diversas épocas o progresso de uma comunidade específica foi retardado por
tendências sociais insidiosas, ou temporariamente restringido, ou mesmo extinto pela oposição. Crises
econômicas periódicas reduziram os já limitados recursos financeiros da Fé, obstruindo projetos de
crescimento e desenvolvimento. Os efeitos da guerra mundial paralisaram por algum tempo a
capacidade da maioria das comunidades de implementar planos sistemáticos. As convulsões que
remodelaram o mapa político do mundo criaram obstáculos para a plena participação de algumas
populações no trabalho da Causa. Preconceitos religiosos e culturais que se acreditava estar
diminuindo ressurgiram com nova veemência. Os bahá’ís se empenham em lidar com tais desafios
com perseverança e determinação. Contudo, no decurso do século passado não se testemunhou
nenhuma reação mais nobre às forças hostis liberadas para se opor ao avanço da Causa do que a dos
bahá’ís do Irã.
Desde os anos iniciais do ministério do Guardião, a perseguição suportada pelos bahá’ís do Irã
durante a Idade Heroica continuou à medida que ondas de violenta repressão recaíam sobre aquela
comunidade, com crescente intensidade nos ataques e na campanha sistemática de opressão ocorridos
na sequência da Revolução Iraniana, e que continua incessantemente até hoje. A despeito de tudo o
que suportaram, os bahá’ís do Irã reagiram com coragem inquebrantável e resiliência construtiva. Eles
conquistaram distinção imperecível através de realizações como o estabelecimento do Instituto Bahá’í
para Educação Superior para garantir a educação de sucessivas gerações, através de seus esforços para
transformar a visão daqueles de seus compatriotas dotados de equidade — seja dentro, seja fora do
país — e, acima de tudo, através da tenacidade ante incontáveis injustiças, indignidades e privações de
modo a proteger seus companheiros de crença, manter a integridade da Fé de Bahá’u’lláh em Sua
amada pátria e salvaguardar sua presença naquele país como um benefício para seus cidadãos. Em tais
expressões de fortaleza inabalável, de devoção consagrada e de apoio mútuo repousam lições
essenciais de como o mundo bahá’í precisa responder à aceleração das forças destrutivas que se pode
esperar nos anos vindouros.
Ninguém pode prever com precisão que rumo as forças da desintegração estão destinadas a
tomar, que convulsões violentas ainda assolarão a humanidade nesta era cheia de dores, ou que
obstáculos e oportunidades surgirão até que o processo culmine no aparecimento daquela Paz Maior,
que sinalizará a chegada do estágio em que, ao reconhecerem a unidade e a integralidade do gênero
humano, as nações irão “renunciar às armas de guerra e voltar-se aos instrumentos da reconstrução
universal”. Uma coisa, contudo, é certa: O processo de integração também se acelerará, entrelaçando
cada vez mais estreitamente os esforços dos que estão aprendendo a traduzir para a realidade os
ensinamentos de Bahá’u’lláh com aqueles que na sociedade mais ampla buscam justiça e paz. Em O
Advento da Justiça Divina, Shoghi Effendi explicou aos bahá’ís da América que, devido ao tamanho
restrito de sua comunidade e à limitada influência por ela exercida, naquele tempo eles deveriam se
concentrar no seu próprio crescimento e desenvolvimento enquanto aprendiam a aplicar os
Ensinamentos. Ele prometeu, contudo, que chegaria o tempo em que seriam chamados a envolver seus
concidadãos num processo de trabalhar pela cura e melhora de sua nação. Este tempo chegou agora. E
chegou não somente para os bahá’ís da América, mas para os bahá’ís do mundo, à medida que o poder
de construção da sociedade inerente à Fé é liberado em medidas cada vez maiores.
A liberação de tal poder tem implicações para as próximas décadas. Cada povo e cada nação
tem um papel a desempenhar no próximo estágio na reconstrução fundamental da sociedade humana.
Todos têm percepções e experiências singulares para oferecer para a construção de um mundo
unificado. E é responsabilidade dos amigos, como portadores da mensagem restauradora de
Bahá’u’lláh, ajudar as populações a liberar suas potencialidades latentes a fim de alcançar suas mais
elevadas aspirações. Neste esforço, os amigos compartilham esta preciosa mensagem com outras
pessoas, esforçam-se por demonstrar a eficácia do remédio divino na vida de indivíduos e
comunidades, e trabalham junto com todos os que apreciam e têm os mesmos valores e aspirações. Ao
assim procederem, a visão de Bahá’u’lláh de um mundo unificado oferecerá uma auspiciosa e clara
direção àqueles cuja percepção foi distorcida pela confusão predominante no mundo, e um caminho
construtivo de cooperação em busca de soluções para os males sociais de longa data. À medida que o
espírito da Fé permeia cada vez mais os corações para acender o amor e reforçar a identidade
compartilhada da humanidade como um só povo, ele instila um senso de responsabilidade cívica leal e
conscienciosa e, em vez de perseguir poder mundano, redireciona as energias em prol do serviço
desinteressado pelo bem comum. Populações cada vez mais adotam o método de consulta, ação e
reflexão para substituir a disputa e o conflito sem fim. Indivíduos, comunidades e instituições em
diversas sociedades harmonizam cada vez mais seus esforços em um propósito compartilhado para
superar rivalidades sectárias, e qualidades espirituais e morais, fundamentais para o progresso e
bem-estar da humanidade, criam raízes no caráter humano e na experiência social.
O mundo, deveras, segue para o seu destino. À medida que a Causa de Bahá’u’lláh avança para
o segundo século da Idade Formativa, que todos se inspirem nas palavras do amado Guardião, cuja
mão orientadora moldou imutavelmente o século passado. Ao escrever sobre a execução do primeiro
estágio do Plano Divino, em 1938, ele disse: “As potencialidades com as quais a Providência
todo-poderosa o dotou, sem dúvida capacitarão seus promotores a alcançar os objetivos que eles têm.
Muito, no entanto, dependerá do espírito e da maneira nos quais esta tarefa será conduzida. Através da
clareza e firmeza de sua visão, da vitalidade imaculada de sua crença, da incorruptibilidade de seu
caráter, da força adamantina de sua resolução, da superioridade incomparável de seus objetivos e
propósitos, e da amplitude insuperável de suas realizações, aqueles que [...] trabalham para a glória do
Nome Supremo podem melhor demonstrar, à sociedade cega, descrente e inquieta a que pertencem o
poder que eles possuem para oferecer um refúgio de paz aos seus membros na hora de sua evidente
ruína. Então, e somente então, é que este delicado rebento, plantado no fértil solo de uma Ordem
Administrativa Divinamente ordenada, e energizado pelos processos dinâmicos de suas instituições,
produzirá seu destinado e mais seleto fruto”.