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Capítulo 8 - Ebook - 8 - 1 - 24
Capítulo 8 - Ebook - 8 - 1 - 24
AS MIGRAÇÕES
Objetivos
Introdução
212
O termo migração remete para a mobilidade espacial da população implicando a
mudança do lugar de residência (Nazareth, 2004). Com efeito, migrar é mudar de país
ou de Estado, de região ou de domicílio e ai permanecer pelo período de pelo menos
um ano.
A migração é por isso o movimento de pessoas ou grupos de um lugar para outro, seja
dentro do mesmo país ou entre países diferentes, de forma temporária ou permanente
(Bandeira, 2004).
213
O vocabulário da migração é mais facilmente introduzido ao examinar o diagrama
esquemático de migração simplificado e mostrado na Figura 27.
100
Área A
Área B
(população =1000)
(população=500)
50
Observamos duas áreas, A e B, cada uma com uma população residencial especificada
no início de um ano. Durante aquele ano, um conjunto de pessoas cruza da área A
para a área B e outro conjunto atravessa da área B para a área A. Suponhamos que
essas passagens de fronteira signifiquem mudanças de residência - que são migrações.
O foco de interesse está nos fluxos de migração. Um fluxo de migração consiste nas
pessoas que migram de uma área especificada para outra num determinado período
de tempo. As setas na Figura 27 mostram dois fluxos. Os números dentro das setas
indicam de quantas pessoas se trata e o tamanho da seta representa o tamanho do
volume.
1
Deslocações que implicam o atravessar da fronteira com destino a outro país (Bandeira,
2004).
214
Os demógrafos devem ter o cuidado de especificar a que escala de migração se
referem. Por exemplo, distinguem universalmente entre migração internacional ou
externa e a migração interna. Uma mudança residencial permanente, local ou
jurisdicional, é geralmente definida como uma mudança de residência, com duração de
pelo menos um ano (Poston & Bouvier, 2017).
É possível que um migrante volte para a sua área de origem durante o curso da sua
vida, e esse regresso residencial é conhecido como migração de retorno. A migração
de retorno é por isso, o movimento de pessoas que retornam ao seu país ou região de
origem depois de terem vivido em outro lugar por um período de tempo.
Também existe a migração forçada2, quando as pessoas são obrigadas a sair da sua
região de origem devido a conflitos armados, desastres naturais, perseguições políticas
ou outras situações que colocam suas vidas em risco. No âmbito da migração forçada
inclui-se pois a migração de refugiados, quando as pessoas procuram, por motivos
como conflito armado ou perseguição politica, religiosa ou étnica, asilo noutro país
(Grupo Foz, 2021).
Embora haja uma certa variação na terminologia utilizada, o termo migração bruta
geralmente refere-se à soma dos fluxos de imigração e emigração (podendo envolver o
conjunto das migrações internas e externas), enquanto a migração líquida (saldo
2
Além da migração de refugiados, outro tipo de migração forçada é o tráfico humano moderno.
O tráfico de seres humanos é definido como recrutamento pela força ou engano para fins de
exploração sexual ou trabalho forçado.
215
migratório ou balança migratória) refere-se à diferença entre imigrantes e emigrantes
(Grupo Foz, 2021). O saldo líquido pode ser positivo, negativo ou zero.
Lee (1966) observou que a migração não é apenas seletiva, o seu grau de seletividade
também varia Onde a migração é influenciada principalmente pelas atrações para a
área de destino, então os migrantes provavelmente serão selecionados positivamente.
Ou seja, aqueles que têm maior probabilidade de vencer na competição por essas
qualidades atraentes (por exemplo, empregos) têm maior probabilidade de migrar. Por
outro lado, onde a migração é impulsionada principalmente por forças negativas na
área de origem (como turbulência política ou calamidade natural), então a emigração
tende a ser menos seletiva.
Alguns obstáculos entre a área de origem e destino tais como a distância, barreiras
legais, ameaças à sobrevivência, tendem a tornar a migração mais seletiva. Com o
tempo, há uma tendência à erosão da seletividade num fluxo migratório, como nas
migrações pioneiras, nas quais jovens adultos aventureiros iniciam o fluxo e,
posteriormente, mandam buscar as suas famílias e amigos.
216
8.2. DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO
Podemos ver que são inúmeras as razões que determinam a migração. Podem ir das
questões da segurança, direitos humanos, pobreza, alterações climáticas, ou como
consequência de desastres ambientais, guerras, perseguições políticas, étnicas ou
culturais, por motivos de estudos, entre outros, e que determinam a migração.
Ultimamente temos visto que a guerra é um determinante das migrações forçadas com
milhares de pessoas a deslocarem-se, neste caso são migrantes forçadas, refugiados
de guerra ou requerentes de asilo, como veremos adiante.
Fatores sociais: a migração pode ser impulsionada por fatores sociais, como a busca
por um ambiente mais inclusivo, melhores oportunidades educacionais ou a
possibilidade de reunir-se com familiares que já emigraram. As desigualdades sociais
que se manifestam ao nível de todo o tipo de fatores também podem levar à migração;
217
Fatores ambientais: As mudanças climáticas podem levar a migrações forçadas, pois
as pessoas são forçadas a deixarem suas casas devido a desastres naturais, como
enchentes, secas, furacões e terremotos.
Estes fatores são motivações de emergência e aplica-se na maioria dos casos aos
refugiados que se encontram numa situação total de privação de recursos que
assegurem a sua sobrevivência, vítimas de grandes catástrofes como guerras, fome,
terramotos, etc.;
Outras situações são os reformados que procuram Portugal como país de destino
denominados de Sunshine migration (imigrantes pelo sol), bem como os estudantes
internacionais e em mobilidade internacional.
218
esses resultados líquidos, e não os movimentos em si, que causam mais preocupação,
especialmente nos países de destino.
Uma vez que a estrutura etária de uma população também é influenciada pela entrada
e saída de pessoas, as migrações são um fator cada vez mais importante na
determinação da intensidade do envelhecimento das regiões europeias. O conceito de
migração de substituição surge, neste contexto, como forma de abordar o possível
papel da imigração para compensar os défices populacionais e o envelhecimento
populacional
219
Organização das Nações Unidas (ONU) (2000) intitulado Replacement Migration: Is It a
Solution to Declining and Ageing Populations? A publicação é considerada um marco
fundamental sobre o tópico. No entanto, desde o final dos anos 80 do século XX que é
possível identificar pesquisas baseadas no conceito de migração de substituição
(Peixoto et al., 2017).
220
menos qualificados, menos educados e com salários mais baixos no país de destino. Os
salários dos trabalhadores migrantes, por exemplo, são apenas cerca de três quartos
dos da população nativa na Alemanha e nos Estados Unidos, e menos da metade dos
da população nativa que trabalha em muitas das mesmas indústrias na Coreia do Sul
(Duleep & Dowhan, 2008; Nações Unidas, 1998a).
Os fluxos de remessas não são um simples caso de troca económica de países mais
desenvolvidos para países menos desenvolvidos. Como a maioria dos imigrantes
internacionais muda-se para países vizinhos nas suas regiões, e não para os países
mais desenvolvidos, a maioria das remessas são de países menos desenvolvidos
ligeiramente mais ricos para outros países menos desenvolvidos. Os países que
dependem fortemente dessas remessas tornam-se vulneráveis a mudanças nas
condições de emprego e/ou políticas de imigração no país de destino. Além disso, a
privação relativa e a desigualdade social na comunidade de origem podem ser
ampliadas pelo acesso desigual às remessas. (Lundquist et al., 2015).
221
8.3.3. Impacto na Composição Social
O estudo teórico da migração começou com observações de que nem todas as pessoas
têm a mesma probabilidade de se mover - na verdade, a grande maioria no mundo
não migra internacionalmente e que as pessoas que têm maior probabilidade de se
222
mover, pode-nos ajudar a entender as forças subjacentes à migração. A identificação
dos grupos com maior probabilidade de migrar fornece generalizações empíricas sobre
a migração que podem então contribuir para as explicações teóricas da migração
(Pressat, 1980).
Com fluxos contínuos e variáveis, escolhemos como ponto de partida para introduzir a
migração moderna o ano de 1965, embora a mudança dos padrões de migração pré-
modernos para os modernos na verdade tenha abrangido o período do final da
Segunda Guerra Mundial até então. Durante estas duas décadas, os padrões de
migração sofreram uma mudança fundamental de migrações amplamente influenciadas
pela expansão da população europeia e história política, para migrações cada vez mais
influenciadas pela globalização, a demografia dos países pós-transição soviética e
movimentos de refugiados de conflitos e guerra civil.
A migração pode ter diversas formas, desde migrações individuais até grandes
deslocações em massa de populações. Pode ser voluntária, quando a decisão de
migrar parte dos próprios indivíduos, ou forçada, quando as pessoas são obrigadas a
deixarem seus lares devido a desastres naturais, conflitos armados ou outras situações
que colocam suas vidas em risco.
223
América do Sul e do Norte, para latino-americanos para a América do Norte, com a
imigração a diminuir no período da Grande Recessão.
Embora as causas sejam bem diferentes, uma reversão semelhante nos padrões de
migração ocorreu na Federação Russa e na Comunidade de Estados Independentes.
Os fluxos de migração pré Segunda Guerra Mundial que fluíam das regiões mais
desenvolvidas para as menos desenvolvidas mudaram de direção.
A grande mudança dos padrões modernos de migração têm sido o aumento da força
de trabalho temporário em larga escala com deslocalizações das economias menos
desenvolvidas para as mais desenvolvidas. Isso é frequentemente conhecido como
migração "circular" realizada por "trabalhadores convidados". Os fluxos internacionais
deste tipo tornaram-se consideráveis no contexto moderno de globalização e sistemas
de transporte de alta velocidade. As mesmas condições que atraíram a imigração
voluntária para a Europa e América do Norte (ou seja, uma força de trabalho em
envelhecimento e prosperidade relativa), quando combinadas com as restrições de
imigração, incentivaram a importação de migrantes estrangeiros com estatuto não
permanente, trabalhador convidado ou indocumentado para atender às necessidades
da força de trabalho. Os fluxos de migração para esses países de regiões menos
desenvolvidas incluem migrações de mão-de-obra temporária substanciais. Nos países
ricos em petróleo do Golfo, grandes percentagens da população são compostas por
224
imigrantes trabalhadores convidados. Em alguns desses países, como Kuwait, Catar e
Emirados Árabes Unidos, os imigrantes são uma maioria. As primeiras ondas de
imigrantes foram recrutadas principalmente de países mais pobres do Médio Oriente,
como a Palestina, Iêmen e Jordânia, mas a maioria dos trabalhadores temporários nos
estados do Golfo, hoje é recrutada na Ásia (Kapiszewski, 2006). Duas correntes de
migração da Ásia consistem substancialmente em migrações de mão-de-obra
temporária. O primeiro desses fluxos foi do Centro-Sul da Ásia (por exemplo,
Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka) para outros países asiáticos e no exterior
para o Médio Oriente e Oceânia. Outro grande fluxo de migração é o do sudeste
asiático (por exemplo, Indonésia, Filipinas e Tailândia) e leste da Ásia (por exemplo,
China e Coreia) para a Ásia ocidental e no exterior.
Nos países de destino, a migração internacional pode ser usada como uma ferramenta
para resolver carências específicas do mercado de trabalho. No entanto, a migração
por si só quase certamente não reverterá a tendência atual de envelhecimento da
população em muitas partes do mundo e principalmente na UE.
3
https://ec.europa.eu/eurostat
225
UE. Além disso, 1,2 milhões de pessoas que residiam anteriormente em um membro
da UE Estado migrou para outro Estado-Membro. A título de comparação, em 2019
houve, respetivamente, cerca de 2,7 milhões de imigrantes para a UE de países não
pertencentes à UE e cerca de 1,2 milhões de pessoas emigraram da UE para um país
fora da UE; além disso, 1,4 milhão de pessoas que residiam anteriormente em um
Estado-Membro da UE migraram para outro Estado-Membro em 2019 (Migration and
migrant population statistics, Eurostat4). Mais dados e estatísticas europeias
atualizadas sobre migração internacional e asilo podem ser consultadas no site do
Eurostat5.
Se não existisse a imigração, a maioria dos países europeus teriam uma descida
abrupta da população. A melhor forma de um país lutar contra o decréscimo
demográfico é aumentar o seu fluxo e entrada de imigrantes. Sem migração, a
população europeia teria diminuído em meio milhão de habitantes em 2019, dado que
nasceram 4,2 milhões de crianças e morreram 4,7 milhões de pessoas na UE. Em
2020, a população da UE diminuiu em cerca de 100 mil pessoas (de 447,3 milhões em
1 de janeiro de 2020 para 447,2 milhões em 1 de janeiro de 2021), devido a uma
combinação de menos nascimentos, mais mortes e menos migração líquida.
4
https://ec.europa.eu/eurostat
5
Ver mais em https://ec.europa.eu/eurostat/web/migration-asylum.
226
autorizado é um migrante internacional que imigra para um país de acolhimento
“através de canais irregulares ou extralegais” e que não foi admitido pelo país de
acolhimento para residência permanente «e não está num conjunto de estatutos
temporários autorizados específicos que permitem residência de longo prazo e
trabalhar.» (Poston & Bouvier, 2017, p. 260).
227
segurança ou sobrevivência, muitas vezes devido a guerras ou desastres naturais. Ao
incluir o número de pessoas que também foram deslocadas internamente, o número
de refugiados sobe para cerca de 43 milhões em todo o mundo (Nações Unidas,
2013b).
228
o cenário para conflitos futuros na região. Conflitos e guerras civis dentro dos estados
africanos resultaram em migrações significativas de refugiados na Somália, Sudão,
República Democrática do Congo e Mali, entre outros. A invasão do Afeganistão e do
Iraque pelos EUA, o conflito árabe-israelita e o conflito na Síria geraram outros
movimentos de refugiados.
Os países asiáticos acolhem quase metade dos refugiados do mundo, muitos dos quais
são afegãos deslocados. Os países africanos também recebem uma proporção
substancial, mais de 30%, dos refugiados.
A relação de Portugal com a questão das migrações não tem sido homogénea.
Recentemente, passou de ser considerado um país de emigração na UE, do qual as
pessoas saem em busca de melhores oportunidades financeiras, para ser considerado
também um país de imigração, recebendo cada vez mais imigrantes e estrangeiros
para viver e trabalhar. Portugal foi considerado no último século como um país de
emigração, visto que mais pessoas emigravam de Portugal do que aquelas que
imigravam para o nosso país. Os saldos migratórios negativos entre 2011 e 2016 (mais
emigração e menos imigração) foi uma consequência da crise económica e financeira
que afetou Portugal, tendo levado ao abrandamento dos fluxos de entrada e ao
aumento dos fluxos de saída. No entanto, o saldo migratório inverteu-se de 2016 para
2017 ao tornar-se positivo pela primeira vez nesses últimos seis anos6. Em Portugal
existe o Observatório da emigração que acompanha este fenómeno na atualidade, com
dados sempre atualizados e inúmeras publicações7.
6
https://eurocid.mne.gov.pt/artigos/imigracao-e-emigracao-em-portugal
7
http://observatorioemigracao.pt/
229
das Migrações e das Relações Interculturais. A obra Sociologia das Migrações (Rocha-
Trindade et al. 1995) ainda hoje é utilizada por centenas de estudantes e
investigadores ligados às temáticas das migrações.
Maria Ioannis Baganha (1950-2009) foi também uma figura de maior destaque nos
estudos contemporâneos sobre migrações em Portugal, acompanhou a imigração
estrangeira para Portugal nas últimas décadas. Bem como as migrações na Europa
mediterrânica e no conjunto da União Europeia8.
Em Portugal, tal como nos outros países do Sul da Europa, a história da imigração é
relativamente recente, e prende-se com o processo de descolonização, com uma
primeira vaga oriunda das ex-colónias, nas décadas de 1970 e 1980, uma segunda
vaga ligada à entrada de Portugal na União Europeia e uma terceira vaga oriunda dos
países da Europa de Leste num fenómeno transversal a toda a Europa.
De acordo com Peixoto (2002, pp.1-3), «nas últimas décadas Portugal tornou-se num
país de imigração, com o número de imigrantes a crescer de forma exponencial e uma
maior diversidade de origens nacionais e étnicas. Em termos territoriais a sua
distribuição é cada vez mais vasta. A imigração tem contribuído de forma muito
significativa para as dinâmicas demográficas locais, regionais e nacionais, o que tem
tido efeitos muito positivos em vários sectores de atividade económicos».
8
Destacam-se algumas das suas publicações mais abrangentes sobre as migrações: "Migrações
internacionais de e para Portugal: o que sabemos e para onde vamos?" (Baganha & Góis,
1999); “Novas migrações, novos desafios: A imigração do Leste Europeu” (Baganha, Marques &
Góis, 2004) e “Política de imigração: A regulação dos fluxos” (Baganha, 2005).
230
um declínio e envelhecimento acelerado nas próximas décadas se a população
residente não for compensada por migrações, sendo a noção base de “migrações de
substituição” definidas neste estudo como o volume de migrantes necessário para
compensar o decréscimo do saldo natural da população (diferença entre nascimentos e
óbitos) e evitar a progressão do declínio e envelhecimento populacional (Peixoto et al.,
2017).
Rocha e Diogo (2020) fizeram um retrato dos Açores onde a dinâmica demográfica
esteve sempre dependente da mobilidade internacional, em especial da emigração e só
muito recentemente a imigração tomou maior expressão (Rocha & Diogo, 2020). O
volume da população estabilizou-se entre 1981 a 2011, apesar de uma alteração na
mobilidade com um decréscimo da emigração, e pela primeira vez de forma regular, a
uma entrada de estrangeiros, muitos deles enquadrados numa imigração de carácter
económico.
231
De acordo com o SEF (2022), as principais comunidades estrangeiras residentes em
Portugal são de cidadãos do Brasil (233.138), do Reino Unido (36.639), de Cabo Verde
(35.744), da Índia (34.232), de Itália (33.707), de Angola (30.417), de França
(27.614), Ucrânia (26.898), Roménia (23.967) e Nepal (23.441).
O Instituto Nacional de Estatística (INE) iniciou uma série temática “O que nos dizem
os Censos” e em 2022 apresentou a publicação “O que nos dizem os Censos sobre a
população de nacionalidade estrangeira residente em Portugal” (INE, 2022). Dos dados
apurados podemos em síntese salientar os principais resultados: Residiam em Portugal
542.165 pessoas de nacionalidade estrangeira, representando 5,2% do total da
população residente; a população de nacionalidade brasileira era a mais
232
representativa, totalizando 36,9% do total de estrangeiros, no entanto na última
década, alterou-se ligeiramente o grupo das nacionalidades mais representativas, com
o reforço dos nacionais de países asiáticos e da União Europeia e o decréscimo da
representatividade das nacionalidades dos PALOP e mais de 68% da população de
nacionalidade estrangeira (dos 15 aos 64 anos) era economicamente ativa e 60,5%
encontrava-se empregada.
Temos de ter em conta que os indicadores e os números das estatísticas oficiais sobre
imigrantes e requerentes de asilo não espelham toda a realidade pois cobrem todas as
9
Ver o Relatório Estatístico do Asilo 2022 disponível em
https://www.om.acm.gov.pt/publicacoes-om/colecao-imigracao-em-numeros/relatorios-asilo.
233
situações, deixando de fora destes números mais de 300.00 casos que ainda estão a
aguardar a regularização e estão pendentes, bem como os estrangeiros que,
entretanto, adquiriram a nacionalidade portuguesa, e que também deixam de contar
para estes números.
Embora a migração internacional seja geralmente vista como algo positivo tanto para
as nações emissoras quanto para as recetoras, um número crescente de países vê pelo
menos algumas consequências da imigração e da emigração como problemas
significativos (Nações Unidas, 2013a). Isso é notável numa tendência crescente dos
países de intervir politicamente nos fluxos de imigração e emigração; ou seja, uma
disposição em declínio de deixar a migração sem controlo.
234
desenvolvidos reconhecem cada vez mais a imigração como uma forma de compensar
as taxas de crescimento lento, enquanto os menos desenvolvidos podem ver menos
valor na imigração, desde que as suas próprias taxas de crescimento permaneçam
altas.
235
europeus, nomeadamente para uma melhor integração dos refugiados e migrantes
recém-chegados à Europa (Oliveira, 2021).
Em Portugal as principais leis que regem estes dois fenómenos são a Lei de
estrangeiros10 e a Lei de Asilo11. A lei de estrangeiros tem sido constantemente
alterada, tendo sido a última alteração em 2022, com a implementação do Acordo
sobre a Mobilidade entre os Estados -Membros da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP)12.
Relativamente à lei de asilo13, foi alterada pela Lei n.º 26/2014, de 5 de maio que
procede à primeira alteração à Lei n.º 27/2008, de 30 de junho, que estabelece as
condições e procedimentos de concessão de asilo ou proteção subsidiária e os
estatutos de requerente de asilo, de refugiado e de proteção subsidiária, transpondo as
Diretivas do Parlamento Europeu e do Conselho e pela Lei n.º 18/2022, de 25 de
agosto (altera o artigo 54.º)14.
10
https://dre.pt/dre/detalhe/decreto-regulamentar/9-2018-116382281
11
https://dre.pt/dre/detalhe/lei/15-1998-197754
12
Para ver a lei atual https://www.portugal.gov.pt/pt/gc21/comunicacao/noticia?i=novas-
regras-para-vistos-e-autorizacoes-de-residencia-a-1-de-outubro
e o que mudou em 2022 https://www.acm.gov.pt/documents/10181/0/Brochura-Lei-de-
Estrangeiros-O-Que-Mudou.pdf
13
https://sites.google.com/site/leximigratoria/lei-do-asilo
14
https://files.dre.pt/1s/2022/08/16400/0000200137.pdf
15
Ver mais em https://www.acm.gov.pt/acm
236
A este nível, têm contribuído a nível nacional, as intervenções do Estado, a nível local,
as autarquias, bem como as organizações da sociedade civil (exemplos como a
Solidariedade Imigrante, o Moinho da Juventude, os Unidos de Cabo Verde, que têm
vários programas sociais de apoio às comunidades imigrantes). e das próprias
comunidades imigrantes.
A atuação ao nível das políticas de acolhimento e integração dos imigrantes deve ser
feita através de um trabalho articulado entre todas as entidades envolvidas neste
processo que atuam nesta área, a nível nacional, através dos Planos Nacionais para a
Integração de Imigrantes, o Plano Nacional de Implementação do Pacto Global das
Migrações (PNIPGM)16, o Plano Estratégico para as Migrações (PEM)17, bem como a
nível local, os Planos Municipais para a Integração de Migrantes (ACM, 2022).
Desde 2015 chegaram a Portugal 2.806 pessoas refugiadas e foi o 6.º Estado-Membro
da EU que mais pessoas refugiadas acolheu ao nível do Programa de Recolocação,
entre 2015 e 2018. Posteriormente, executou o programa de reinstalação (do ACNUR),
e o acolhimento de requerentes de asilo. Em 2022, dada a situação de conflito na
Ucrânia, o Estado português disponibilizou vários serviços e meios de apoio para
cidadãos portugueses e cidadãos ucranianos que já se encontravam em Portugal ou
que se desejavam deslocar-se para o país. Foi criado um programa especial de
acolhimento, que inclui várias medidas no âmbito do regime de proteção temporária.
Este regime permite a atribuição automática de autorização de residência temporária e
um título de proteção temporária, entre outros benefícios18.
16
https://www.acm.gov.pt/-/plano-nacional-de-implementacao-do-pacto-global-das-migracoes-
pnipgm-
17
https://www.acm.gov.pt/-/plano-estrategico-para-as-migracoes-pem-
18
Ver em https://eportugal.gov.pt/migrantes-viver-e-trabalhar-em-portugal/ucrania-
informacoes-e-apoios-disponiveis-em-portugal
237
Em segundo lugar, as suas variações no tempo e no espaço dependem de fatores
socioeconômicos complexos internos e externos.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) faz parte do Sistema das Nações
Unidas (ONU) e é a principal organização intergovernamental na área da migração e
faz parte do Sistema das Nações Unidas como a principal organização
intergovernamental que promove desde 1951 a migração humana e ordenada para o
benefício de todas as pessoas, com 175 estados-membros e presença em mais de 100
países. A OIM está em Portugal desde 1976. A OIM trabalha para ajudar a garantir a
gestão ordenada e humana da migração, promover a cooperação internacional em
questões migratórias, auxiliar na procura de soluções práticas para os problemas
migratórios e fornecer assistência humanitária a migrantes que precisem de ajuda,
incluindo pessoas refugiadas e deslocadas internamente. A OIM trabalha nas quatro
grandes áreas de gestão da migração: migração e desenvolvimento, facilitar a
migração, regular a migração e migração forçada19.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR/ UNHCR) foi
criado em 1950 e é uma agência da ONU. Tem como compromisso proteger as
pessoas refugiadas, deslocadas e apátridas. Apoia milhões de pessoas que precisam de
ajuda para sobreviver e garantir a proteção dos seus direitos e trabalha em mais de
135 países para satisfazer as necessidades de todos aqueles que fugiram da guerra,
perseguição ou violações dos direitos humanos. Existem atualmente mais de 103
milhões de pessoas refugiadas, deslocadas e apátridas em todo o mundo. Em Portugal,
a Fundação Portugal com ACNUR, parceiro nacional da Agência das Nações Unidas
19
Ver mais em https://portugal.iom.int/pt-pt e https://portugal.iom.int/pt-pt/quem-somos
238
para os Refugiados, nasceu em 2021 e tem como objetivo sensibilizar e angariar
fundos para apoio aos programas de ajuda humanitária do ACNUR20.
Fazem também parte da ONU o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) cujo objetivo de erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades e aumentar a
resiliência e o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP/UNFPA) que é a
agência de saúde sexual e reprodutiva das Nações Unidas e cuja missão é a de
promover um mundo onde todas gravidezes são desejadas, todos os partos são
seguros e onde o potencial de cada jovem é alcançado21.
20
Ver mais em https://pacnur.org/pt
21
Ver mais em https://unric.org/pt/
22
https://knowledge4policy.ec.europa.eu/atlas-migration_en
23
Ver mais em https://knowledge4policy.ec.europa.eu/migration-demography_en
24
https://www.om.acm.gov.pt/
25
Saber mais em https://www.om.acm.gov.pt/
239
sociais e de integração desta população. Participa, desde 2007, no programa nacional
de reinstalação, bem como nos programas comunitários de recolocação e resgates de
barcos humanitários no Mediterrâneo e tem promovido uma política de asilo humanista
e solidária, no respeito pelas obrigações internacionais de Portugal26.
O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) criado em Portugal em 1992, tem atuado junto
dos refugiados, deslocados à força e todos os migrantes em situação de particular
vulnerabilidade, na área da integração de migrantes e requerentes e beneficiários de
proteção internacional dando diversos tipos de apoios: social, psicológico, médico e
medicamentoso, jurídico, encaminhamento e apoio à integração profissional,
alojamento de imigrantes sem-abrigo, em situação de particular vulnerabilidade social
acompanhamento a imigrantes detidos, Cursos de Língua Portuguesa e ações de
formação28.
A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) como uma entidade responsável pelo acolhimento
e integração de refugiados, tem vindo, desde 2015, a alojar cidadãos requerentes de
proteção internacional de várias nacionalidades, apoiando os seus processos de
integração. A Instituição recebeu, até ao momento, mais de 300 pessoas requerentes
de proteção internacional. Este serviço é prestado no âmbito do Grupo de Trabalho
para a Agenda Europeia da Migração, coordenado pelo Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras e Programas de Recolocação e Reinstalação de Refugiados29.
26
Saber mais em https://cpr.pt/
27
Saber mais em https://www.refugiados.pt/
28
Saber mais em https://www.jrsportugal.pt/
29
Saber mais em https://www.cruzvermelha.pt/ e https://www.cruzvermelha.pt/acolhimento-
de-refugiados.html
30
https://www.om.acm.gov.pt/
240
O Instituto Nacional de Estatística (INE) é o organismo oficial de Portugal responsável
por produzir e divulgar informação estatística oficial de qualidade, promovendo a
coordenação, o desenvolvimento e a divulgação da atividade estatística nacional. Dos
resultados dos Censos de 2021 o INE produziu uma publicação onde apresenta uma
análise exploratória da população de nacionalidade estrangeira residente em Portugal.
Procurou caracterizar este grupo populacional nas suas diversas dimensões,
nomeadamente ao nível demográfico, socioeconómico, mercado de trabalho, bem
como os aspetos relativos ao enquadramento familiar e condições habitacionais (INE,
2022).
31
Ver em:
https://www.om.acm.gov.pt/dados-estatisticos
https://www.om.acm.gov.pt/dados-estatisticos/informacao-estatistica
https://www.om.acm.gov.pt/publicacoes-om/publicacoes-estatisticas-om
https://www.om.acm.gov.pt/publicacoes-om/colecao-imigracao-em-numeros
32
https://sefstat.sef.pt/forms/Home.aspx
33
Consultar Relatórios Estatísticos Anuais, em https://sefstat.sef.pt/forms/relatorios.aspx.
34
O Relatório de imigração Fronteiras e Asilo 2021 pode ser consultado aqui
https://www.sef.pt/pt/Documents/RIFA2021%20vfin2.pdf
35
https://www.portugal.gov.pt/pt/gc23/comunicacao/noticia?i=aprovada-reforma-dos-servicos-
de-imigracao-e-fronteiras
36
https://www.pordata.pt/home
241
A Fundação Francisco Manuel dos Santos também disponibiliza muitos dados sobre
população e migrações38.
A informação que existe ao nível das migrações internas é muito pobre e há falta de
registos oficiais. Por vezes, recorre-se a métodos indiretos (por exemplo através dos
recenseamentos eleitorais). Ao nível interno, existem muitas assimetrias num mesmo
espaço e dicotomias entre os meios (rural/urbano). As pessoas não se deslocam ao
acaso: procuram trabalho num espaço específico.
Ao nível das migrações externas, por exemplo, na década de 80, 50 % dos emigrantes
eram clandestinos. Há falta de um maior controlo legal e muita gente escapa a esse
controlo.
37
em https://www.pordata.pt/subtema/portugal/migracoes-34 e
https://www.pordata.pt/subtema/portugal/movimento+da+populacao-30.
38
em https://www.ffms.pt/pt-pt/populacao e https://www.ffms.pt/pt-
pt/pesquisa?search=migra%C3%A7%C3%B5es
39
Para o cálculo de taxas de crescimento consultar Capítulo 5.
Consultar Bandeira (2004).
40
242
As mudanças de residência não são assimiladas a atos administrativos passíveis de
registo estatístico como são os nascimentos, os óbitos e os casamentos. Logo, com
base nas possíveis fontes de informação com pertinência para a análise das migrações
temos os métodos diretos e os métodos indiretos de análise dos movimentos
migratórios.
Tal como foi referido anteriormente41, a taxa de crescimento migratório (TCM) para um
determinado intervalo de tempo, normalmente um ano, calcula-se através do
quociente da diferença entre o número de imigrantes e o número de emigrantes pela
população média:
Este mesmo indicador também pode ser calculado recorrendo às taxas brutas: TCM =
TBI-TBE.
Consultar Capítulo 5.
41
42
A Balança Migratória é uma medida que, de forma indireta e com recurso a dados sobre
população em dois momentos censitários sucessivos e sobre o movimento natural (nados-vivos
e óbitos) ocorrido no período entre dois censos, permite estimar o saldo do movimento
migratório aí ocorrido e ultrapassar a limitação de informação habitualmente existente sobre as
migrações (consultar Capítulo 5).
243
ou
Exemplo:
244
Face ao resultado acima, observamos que não existe concordância entre os termos da
equação o que remete para a má qualidade dos dados. Ora partindo do princípio que
os recenseamentos são de qualidade razoável e que os dados sobre os nascimentos e
os óbitos são fidedignos, em causa estarão aqui os dados sobre as migrações43.
Recorrendo de novo à equação de concordância podemos calcular de forma indireta o
saldo migratório, sem considerar os dados fornecidos sobre imigração e emigração:
Esta diferença entre os saldos migratórios remete para a hipótese de estarmos perante
o caso de uma região cuja dinâmica populacional é marcada fortemente pela
emigração, sendo esta, em grande parte, clandestina.
43
Consultar Capítulo 5.
245
ATIVIDADE FORMATIVA
e) Nas próximas décadas, os “problemas” populacionais serão definidos cada vez mais
em torno da migração e menos em torno da fecundidade.
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