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Maiores_________________________________________________
Impresso no Brasil.
Presidente
Pr. Ozires Teixeira Pessoa
Direção e Coordenação
Pr. João Evangelista Vieira Júnior
Capa
Ernilson Melo
Design e Diagramação
Pr. João Evangelista Vieira Júnior
3 3
INTRODUÇÃO...........................................................................................05
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................151
GLOSSÁRIO.................................................................................................153
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................155
5 5
1
Sicre, José Luís. Profetismo em Israel: o profeta: os profetas: a mensagem. 3ª ed. Petrópolis, RJ. Ed
Vozes, 2008.
8 Profetas
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b) O Profeta Visionário. Gade, o profeta da corte do rei Davi, recebe uma
comunicação de Deus e é chamado de “o visionário de Davi” (2Sm 24.11). Três
outras vezes a expressão visionário de Davi é aplicada a Gade (Cr 21.9; 29.29;
2Cr 29.25). Além dele, Amós é denominado visionário pelo sacerdote Amasias
(Am 7.12). Visionário em hebraico se diz hozeh, termo este que aparece 16
vezes no Antigo Testamento.
A função do profeta visionário era ter visão ou contemplar. Como vimos
em relação a Gade, alguns visionários serviam ao rei com suas visões e palavras,
por isso eram conhecidos como visionários do rei, o que, por outro lado, não
deve levar-nos a afirmar que eles tivessem participação na corte. A visão e
contemplação faziam parte da atividade de profetas como Isaías, Amós,
Miquéias, Naum, Obadias e Habacuque.
Alguns visionários foram chamados de falsos profetas, pelo fato de suas
visões serem movidas por interesses (Mq 3.5-7). Por outro lado, em razão de
suas denúncias corajosas, eram considerados referências importantes para o
povo manter-se no caminho de Deus.
Os profetas visionários conclamavam o povo a converter-se da má
conduta e observar os seus mandamentos e estatutos, conforme toda Lei
prescrita aos pais (2Rs 17.13).
Da escassez de textos sobre esses personagens poderíamos deduzir que eram pouco
numerosos. Contudo, se o típico do “visionário” é contemplar ou ter visões, podemos
completar este quadro levando em conta as referências pertinentes ao verbo hazah e aos
diversos derivados desta raiz. A panorâmica amplia-se de maneira extraordinária. Quando
Samuel era menino, não abundavam as visões (1Sm 3.1), mas Deus as concede a ele. E,
desde então, como diz Deus através de Oséias, “eu falei pelos profetas, eu multipliquei as
visões (Os 12.11)2.
2
Op. cit.
9 9
Introdução
ausente destas tradições. Mas, basicamente, não é a palavraGeral e Isaías
que anuncia ParteouIexige
o futuro
uma mudança do presente, mas a palavra poderosa que torna inesgotáveis o cântaro de
farinha e o vaso de óleo, ressuscita mortos, desencadeia o raio3.
3
Sicre, José Luís. Profetismo em Israel: o profeta: os profetas: a mensagem. 3ª ed. Petrópolis, RJ. Ed
Vozes, 2008.
10 Profetas
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O profeta atua, na maioria das vezes, isolado. Alguns chegam a ter sua
escola ou formam uma comunidade de profetas (1Sm 19.18-24). No entanto, o
seu modo isolado de agir leva-o a uma profunda crise pessoal. É o caso de
Jeremias, que sofre por haver defendido o exílio na Babilônia para seu povo.
Por isso, ele é considerado um traidor da pátria e acaba exilado no Egito. 4
O profeta torna-se um desinstalado por Deus. Ele é, aparentemente, um
frustrado. Sente-se ameaçado constantemente no seu projeto. Na outra ponta da
linha, a sua simples presença é capaz de gerar uma crise pessoal e institucional.
Incomoda pessoas e instituições por dizer o que as pessoas não querem ouvir. O
reconhecimento dessas palavras é, quase sempre, muito posterior.
Os profetas de Israel e Judá pregavam a fé monoteísta ao Senhor e contra
qualquer tipo de idolatria. Na voz do profeta Isaías, Deus diz: “Eu sou o primeiro
e o último, fora de mim não há Deus” (Is 44.6b). Combater a idolatria e a
alienação religiosa do povo é a marca indelével da ação profética.
O profeta, presente no templo de Jerusalém, atua em sintonia com os
sacerdotes. Ele é uma pessoa de oração, que ora pela vida e seus acontecimentos.
É alguém que vive uma profunda experiência pessoal de Deus; é o seu
testemunho. O profeta é o guia espiritual do povo.
2 – PROFETA MAIOR E MENOR.
4
Ver Jeremias, capítulos 39; 41- 43.
11 11
1Sm 3.20). Por intermédio deles, Deus falou ao povo e estabeleceu suas alianças
Introdução
com a nação. Moisés foi uma espécie de protótipo dos Geral e Isaías
profetas, Parte I o
prenunciando
último grande profeta, o Messias, que se levantaria para falar palavras
poderosas, autenticadas por obras poderosas e desempenho brilhante (Dt 18.15-
22). Embora os cargos de sacerdote e rei fossem restritos a homens e
determinadas tribos, algumas profetisas foram vistas na história de Israel: Miriã,
Débora, e Hulda (Ex 15.20; Jz 4.4; 2 Rs 22.14).
Considera-se ter sido Samuel aquele que principiou a ordem profética, o
primeiro duma seqüência, durante a monarquia de Israel (1Sm 3.1; At 3.24).
Essa seqüência não era contínua. Prosseguia, porém, esporadicamente quando o
Senhor fazia a designação para esse cargo. Eram profetas da “palavra” e da
“escrita”.
b) Profetas da palavra.
a) Título.
O nome deste livro profético, Isaías quer dizer “O Senhor é a Salvação”,
um nome que bem expressa o tema do livro, bem como o assunto global dos
mensageiros de Deus. Como ocorre com todos os livros escritos por profetas,
Isaías é o nome do seu autor.
Provavelmente, os pais de Isaías lhe deram esse nome pra expressar a sua
gratidão pela bênção experimentada por ocasião do nascimento do seu filho.
Pode-se observar a providência de Deus no fato de eles lhe terem dado este
nome, pois ele se enquadra completa e perfeitamente com o caráter do trabalho
de Isaías: sua pregação foi governada pelo tema de que é só o Senhor que salva,
enquanto todos os esforços humanos se demonstram ser vãos.
Em Israel houve várias ocorrências do nome Isaías (1Cr 3.21; 25.3). Por
esta razão o profeta é distinguido com a adição da frase “filho de Amoz” (1.1)
em seguida a citação do seu nome.
A respeito da vida doméstica de Isaías, sabemos que ele era casado e teve
pelo menos dois filhos (7.3; 8.3; 18). Em contraste com o profeta Amós, que era
boiadeiro, Isaías era morador da cidade, vivia em Jerusalém (7.3; 22.15; 28.14;
37.2).
13 13
A tradição rabínica de que Amoz, pai de Isaías, era irmão do rei Amasias,
não tem confirmação adequada. Assim mesmo, alguns intérpretes crêem que
podemos inferir, da sua conduta, que ele era de nobre descendência, e como tal,
tinha influência na corte real. Introdução Geral e Isaías Parte I
O subscrito ou título (1.1) menciona que o ministério oficial de Isaías teve
lugar durante o reinado dos reis judeus Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. Além
disso, sabemos que ele foi chamado para o ministério no ano em que morreu o
rei Uzias (6.1), e que ele ainda estava ativo por ocasião da invasão de
Senaqueribe, durante o reinado de Ezequias, em 701 a.C.
De acordo com uma tradição rabínica, Isaías sofreu o martírio pela
espada, ou foi serrado em dois durante o reinado de Manassés. Contudo, estas
tradições tendem a não ser dignas de confiança. Da mesma forma, a referência
em Hebreus 11.37 ao martírio de pessoas que foram serradas ao meio não é
prova de que esta foi à sorte de Isaías.
Embora a descendência real de Isaías possa ser apenas uma conjectura,
ele tem sido chamado, com toda justiça, de rei dos profetas. Entre os profetas
ele é o maior. Exibe uma dignidade real mediante a intrepidez da sua ação
pública, a majestade da sua pregação, e a força nobre e a beleza poética das suas
palavras. Além disso, especialmente na segunda divisão principal, uma
compaixão sacerdotal marca sua pregação. Ele descreve o Cristo com clareza
meridiana, e por esta razão com justiça ele é chamado o evangelista do antigo
pacto.
Autoria.
O profeta Isaías é chamado o “o Príncipe dos Profetas do Antigo
Testamento”, devido ao enorme ímpeto, caráter majestoso, visão teológica e
conteúdo messiânico de sua profecia. O texto o descreve como “filho de Amoz”,
marido de uma profetiza e pai de dois filhos que deveriam ser sinais para a nação
(8.3, 18). As tradições judaicas indicam que ele era primo do rei Uzias e foi
serrado pelo iníquo rei Manassés.
O título ou subscrito do livro diz: “Visão de Isaías, filho de Amoz, que
ele teve a respeito de Judá e Jerusalém...”. Seja qual tenha sido o seu intento
original, este subscrito tem em vista todo o volume de profecias que foram
reunidas, sob a direção do Espírito, em um todo unificado.
O testemunho mais antigo a respeito da existência do livro de Isaías em
sua forma atual é uma referência encontrada no livro apócrifo de Jesus ben Sirac
(Eclesiástico 48.20-25), que alguns datam de 180 a.C, e outros de 280 a.C.. O
Novo Testamento cita vários pronunciamentos desse livro e os atribui a esse
profeta. (Mt 3.3; 8.17; Rm 10.16, 20).
A autoria de Isaías de partes significativas deste livro é negada por muitos
comentaristas recentes. Este julgamento aplica-se a toda a segunda divisão
(caps. 40-66), mas também a várias seções da primeira. Alguns dos críticos mais
14 Profetas
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moderados consideram 13.1 – 14.23 e os capítulos 21, 24 – 27, 34, 35, 36 – 39
como não tendo sido escritos por Isaías.
É necessário, mesmo que seja por amor a honestidade acadêmica, afirmar
que quanto à autoria me permitirei ser guiado pela crença de que as Escrituras
são inspiradas, fato que acarreta a sua confiabilidade histórica. Este ponto de
vista não exclui a priori a possibilidade de que algumas partes deste livro não
tenham derivado diretamente de Isaías. Isaías 38.9 declara expressamente que
os versículos imediatamente seguintes provêm de outro autor, e não há nenhuma
boa razão, pela qual isso também não possa ter acontecido com outras partes.
O subscrito de 1.1, por exemplo, exige no mínimo, que o que se segue
tenha derivado em sua maior parte, do próprio Isaías.
Alguns eruditos contemporâneos contestam a autoria de Isaías, o motivo
básico de tal atitude relaciona-se com as meticulosas profecias do livro, algumas
delas cumpridas em todos os detalhes 150 anos mais tarde, chegando mesmo a
dar o nome de Ciro, o rei persa que libertou os cativos (44.28; 45.1). Muitos tem
sido os argumentos citados para defender uma autoria dupla ou múltipla.
• Argumentos que negam ser Isaías o único autor.
(1) O cenário exílico de Isaías 1-39 difere dos cenários 40-66. Como os
capítulos 40-66 descrevem Jerusalém em ruínas e o povo afligido pela
Babilônia, eles devem ter sido escritos depois da destruição de
Jerusalém em 586 a.C.. Essa conclusão resulta da geralmente válida
premissa de que os profetas geralmente falam para a geração seguinte
com referência a assuntos contemporâneos. Porém, aplicar essa
premissa de um modo geral negaria, evidentemente, toda profecia de
longo alcance.
(2) O estilo literário de Isaías 1-39 difere dos capítulos 40-66. A suposição
é de que o autor não modificaria o seu estilo num período de 40 a 60
anos, mesmo escrevendo sobre uma variedade de assuntos.
(3) Dizem também que os pontos de vista teológicos das duas grandes
divisões são diferentes. Acham que a ênfase dada a eternidade de Deus
em 40-66 difere da ênfase dada a majestade de Deus em 1-39. Todavia,
negar a unidade de qualquer obra literária na base de uma concepção
mais avançada quanto ao seu objetivo é realmente tão simplista a ponto
de tornar-se um absurdo. As diferenças são apenas de progressão.
• Argumentos que afirmam ser Isaías o único autor.
15 15
(1) Isaías 1.1 coloca Isaías como o autor, e não há indício de interrupção
ou mudança de autoria em nenhuma de suas divisões em nenhum dos
antigos manuscritos (confirmadosIntrodução Geral
pelos rolos doe Isaías Parte I
mar Morto e pela
Septuaginta). Os autores dos livros proféticos identificaram-se no
primeiro versículo (exceto Daniel que se identifica diversas vezes
durante o decorrer do livro).
(3) As duas seções também tem uma simetria teológica nos seus pontos
de vista de Deus e do Messias. A expressão “o Santo de Israel”,
usada raramente pelos outros escritores, é encontrada vinte e cinco
vezes no livro, doze em 1-39, e treze em 40-66. Essa consistência de
teologia predomina em todo o livro.
5
Isaías 1.1; 6.1; 37.38.
17 17
I. Profecias de Condenação.........................................................................1-35.
A. Julgamento e Livramento Final de Sião...................................................1-12.
1. Rebelião atual e restauração futura..............................................................1-5
2. O Santo de Israel e o Chamado de Isaías........................................................6
3. Livramento final pela vinda o Messias......................................................7-12
“Ouvi ó céus, e dá ouvidos, tu ó terra; porque o Senhor tem falado: Criei filhos, e
engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim... Ai, nação pecaminosa, povo
carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao
Senhor, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.” vv. Is 1.1-4.
6
Provérbios 8.6; Juízes 20.16.
20 Profetas
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devida soberania de Deus sobre os seus corações, abandonaram-no totalmente
juntando-se ao inimigo, no que se refere à vida moral e comportamento. Embora
frequentassem o templo, por assim dizer, mantendo as aparências externas da
piedade, aos olhos de Deus, contudo, alienaram-se moralmente. Seria um
hipócrita igrejeiro que é uma das mais preciosas armas de Satanás.
7
2 Reis 15.1-7.
8
2 Cr 26.1-15.
Introdução Geral e Isaías Parte I
21 21
“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem
conceberá e dará a luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.” Is 7.14.
Deus disse a Isaías, antes mesmo que se casasse com sua noiva, que ela
lhe daria um filho, ordenando-lhe que inscrevesse o nome da criança em uma
tábua como se fosse um registro público diante de testemunhas. Esses nomes
eram proféticos daquilo que seria a sorte do povo de Deus. O primeiro filho
chamava-se “Um-resto-volverá” (Is 7.3), ou seja, o nome era uma afirmação de
que Deus preservaria um remanescente: “Porém ainda a décima parte ficará
nela, e tornará a ser pastada; e como o carvalho, e como a azinheira, que depois
Introdução Geral e Isaías Parte I23 23
Davi, Deus o declara aqui. Sua grandeza ultrapassa tanto os limites humanos
ordinários que, a semelhança do “Menino” de 9.6, não pode ser outro senão o
Messias.
Aqui o profeta pinta o futuro que espera pela casa de Davi, usando uma
imagem tirada do que ele repetidamente observava na natureza. Uma árvore
cortada aparentemente morta, ainda pode produzir nova vida 9, e este toco é a
esperança e o meio de rejuvenescimento de velhas árvores. Ao mesmo tempo, a
realidade ultrapassa a imagem em muito. A esperança do futuro não consiste de
coisas externas, nem se levanta da terra; é de natureza espiritual e origem divina.
No Antigo Testamento, o Espírito muitas vezes é derramado sobre os
líderes do povo, sobre Moisés e os anciãos (Nm 11.25), sobre os juízes (Jz 3.10;
6.34), os reis (1 Sm 11.6; 16.13), e os profetas (1 Sm 10.10; 2 Sm 23.2; 1 Rs
22.24). Pelo Espírito é-lhes permitido compartilharem de poderes mais elevados
não acessíveis a seres humanos comuns, poderes que vem de maneira especial
do próprio Deus, mas essas pessoas se tornam instrumentos pelos quais Deus
leva a efeito a Sua obra. Na era messiânica, o Espírito será dado em medida
generosa a todo o povo de Deus (Is 32.15; Jl 2.28). De maneira especial, todavia,
Ele será a porção do Messias.
A profecia messiânica teve seu cumprimento na Encarnação. Ele é o
divino Messias, isto é, o Ungido do Senhor, ungido pelo Espírito Santo como
Rei, como Sacerdote (Is 42.1), e como Profeta (Is 61.1).
A maneira pela qual o Rei Messias é dotado do Espírito, se expressa aqui
em primeiro lugar ao se dizer que o Espírito “repousará” sobre Ele, isto é, o
Espírito desceu sobre Ele na ação carismática, para nunca mais deixá-lo e, além
disso, pela adição dos dons espirituais que lhe são dados. O único Espírito é
visto de vários ângulos, de acordo com os dons que Ele comunica; desses, seis
são mencionados, a cada vez em pares. Todos os dons mencionados servem para
prepará-lo para o seu ofício real. Os primeiros a serem mencionados são de
“sabedoria” e “entendimento”. “Sabedoria” é dom que penetra a essência e o
propósito das coisas, e também descobre a maneira correta de se alcançar tal
propósito. “Entendimento” é a capacidade de discernir circunstâncias e
relacionamentos. Seguem-se então os dons complementares de “conselho” e
“fortaleza”. O primeiro é a capacidade de tomar decisões corretas, dom que está
intimamente relacionado com sabedoria e entendimento; e o segundo é a
capacidade de Executá-las. Em conclusão, há o Espírito de conhecimento e de
temor do Senhor. O conhecimento de Javé é o conhecimento experimental de
Quem e de que Ele é, de suas vontades e Seus caminhos. É um conhecimento
que tem origem em uma comunhão de amor e confiança com Ele. Refere-se
especialmente a maneira pela qual Ele quer que seu povo seja governado. Pelo
fato de este conhecimento ter a sua sede no coração, mais do que na cabeça, ele
9
Jó 14.7.
26 Profetas
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é acompanhado pelo temor de Javé, que inclina a pessoa a fazer a Sua vontade.
Este temor é o alicerce e o princípio da sabedoria mencionados inicialmente (Pv
1.7).
Nos versículos 3 – 5 estão em pauta a justiça, uma justiça que não se deixa
enganar, pois, o dinheiro e o poder podem criar aparências. Como a Lei exige
(Ex 23.6), Ele manterá o direito dos poderes (v. 4), outro contraste com a
situação atual (Is 3.14-15). O v. 4 parece se referir à vitória sobre o Anticristo
em Armagedom (2Ts 2.8; Ap 19.21). O “cinto” (v.5) é o princípio de ação, o
Messias sempre age com justiça e fidelidade.
Mediante esta atividade de juiz Ele dará ao seu povo o que este tem o
direito de esperar de um rei: proteção dos fracos contra a violência dos
poderosos. Esta proteção geralmente era a tarefa dos juízes, algumas vezes, eles
a negligenciavam em demasia (1.17). Era particularmente o rei, contudo, quem
os pobres e destituídos, os oprimidos e necessitados, procuravam e
frequentemente recebiam justiça (2Sm 12.5; 14.5; 2Rs 6.26; 8.1). Mas esta ajuda
muitas vezes se revelava defeituosa. Neste “Filho de Davi”, porém, esse ideal é
plenamente realizado (Sl 72.2)10.
e) Juízo Universal para o Pecado Universal (Is 24 – 27).
Tradicionalmente os capítulos 24-27 levam o título, O Apocalipse de
Isaías, porque dão mais ênfase a escatologia, e ao triunfo final de Deus sobre
todos os seus inimigos, sobre toda a terra. Esses capítulos retratam o fim da
história mundial. O capítulo 24 descreve o julgamento do mundo com os
horrores que o precedem imediatamente. Nenhuma linha aguda de demarcação
é traçada entre eles, uma conseqüência, em parte, do fato de que o julgamento
mundial é pintado em termos vétero-testamentários, como uma devastação que
está por vir sobre a terra, uma devastação de que algumas características são
emprestadas das cenas de guerra (13.5), mas que inclui outras características
também. O quadro do julgamento apresentado nos versículos 21 tem uma
afeição mais pessoal.
A terra é desolada (24.1-6). O profeta começou a partir de sua própria
realidade, considerando o fato do povo dele, Judá, estar ameaçado de invasão e
exílio devido ao pecado. Mas, sob a direção do Espírito Santo, Isaías conseguiu
extrapolar o conceito de uma destruição local de Judá e Jerusalém para incluir
todo o cosmos. Por vezes a palavra “terra” aparece nesse capítulo. Nessa altura
o Senhor está prestes a devastar Judá, e posteriormente, restaurará o seu
remanescente. E esses eventos retratam aquilo que será a sorte de toda a terra,
salvo o remanescente, o povo de Deus. Introdução Geral e Isaías Parte I
Todos sofrem sua ruína, não há preferência em virtude de posição ou
riqueza. A terra desnudada de seu esplendor será vestida de lamentação; tudo
10
Ridderbbos, J. Isaías. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. São Paulo, SP.
27 27
1 - COMENTÁRIO
redimidos refletirão, numa certa medida, a glória do Salvador que apareceu para
sua redenção.
Uma certeza confortadora aos desanimados e desalentados (Eis que o
vosso Deus... Ele vem 3,4) de que o Senhor intervirá no cenário mundial, para
fazer a sociedade se sujeitar às exigências da justiça e para livrar o seu povo dos
opressores, uma garantia de que a força divina substituirá a fraqueza do homem.
Os crentes serão capazes de ver a verdade de Deus e de ouvir a Sua voz, de andar
nos Seus caminhos desimpedidos e de cantar seu testemunho e louvor.
Refrigério rico e satisfatório será sua porção constante, em lugar do calor
cauterizante e da sede ressecante do seu passado não regenerado. Observe que
a terra seca (v.7) talvez fosse o termo hebraico “para miragem do deserto”, que
zomba do viajante sedento com uma visão enganosa de água no horizonte.
Nos versículos de 8-10 revela que o povo redimido andará pelo Caminho
Santo, da qual a corrupção moral ficará excluída, como também os leões vorazes
da malignidade satânica. Sobre aquele caminho até o viajante tolo e
desprevenido, uma vez redimido e regenerado, poderá viajar sem se perder,
como também aqueles que viajaram para a Cidade Santa por este caminho
vindos da Babilônia, a Cidade da Destruição. Caracterizar-se-ão por uma alegria
especial da qual o mundo nada sabe, e cantarão uma canção especial de ação de
graças que os não salvos não são capazes de enunciar.
ter ocorrido em 174, ou onze anos depois da morte de Acaz, o pai de Ezequias.
Senaqueribe começara seu reinado em 705, e gastou a maior parte do seu tempo
desde então sufocando rebeliões em diversas partes do seu império.
A política assíria era a de deportar populações rebeldes, exatamente como
acontecera no caso das dez tribos em 721. Observe que isto é uma oferta de
segurança econômica ao preço da liberdade, uma oferta feita pelos correlativos
da Assíria hoje em dia.
O rei assírio considerava a subjugação desses principados do norte da
Assíria como um triunfo sobre os deuses das diversas nações. Certamente ele
arrazoava, nenhum deus poderia ser maior e mais forte do que a nação que o
servia. A derrota de Israel poderia ser interpretada como a derrota do Deus de
Israel.
Isaías 37. Esta parte ocorre paralelamente a II Reis 19.1-7. Em seu pavor
Ezequias conhece só um lugar de refúgio. Ao ouvir o relatório, ele, a exemplo
de seus emissários (36.22), primeiro rasga as suas vestes; depois se veste de saco
em sinal de sua tristeza e humilhação, e assim vestido, dirige-se ao templo para
buscar a face do Senhor. Mas ele também sente a necessidade da intercessão de
Isaías, e por isso manda-lhe uma embaixada constituída de dois dos elevados
servidores públicos que havia enviado anteriormente ao comandante-chefe
(36.3) e vários dos principais sacerdotes, ou seja, um respeitável grupo de
emissários, tanto pra honrar o profeta em seu elevado ofício, como para
reconhecer a grande importância do problema que estava diante deles.
Ele sabia muito bem até que ponto era responsável pelo terrível golpe que
fora desferido contra o seu reino, pois ele ignorara as advertências divinas (Is
30-31) e assinara a desastrosa aliança com o Egito. Agora só podia retroceder
em penitência junto ao profeta cujas advertências tinha ignorado.
A situação de Judá assemelha-se ao impasse desesperado de uma
criancinha que se aloja na abertura do ventre e não consegue passar, a morte
ameaça tanto a mãe como a criança. “Este dia é dia de angústia, e de vitupério,
e de blasfêmias; porque chegados são os filhos ao parto, e força não há para
dá-los à luz” (v.3).
A mensagem que levam ao profeta descreve, em primeiro lugar, em tom
solene, o estado de coisas completamente desanimador. Esse dia é chamado dia
de angústia e dia em que o Senhor repreende Judá. Aqui está implícito um
elemento pecaminoso inerente à política de Ezequias.
Era tão profunda a preocupação do rei e sua tristeza diante do insulto feito
ao Senhor Deus que ele dispensou qualquer mediação profética e foi diretamente
a Deus. Sob as aparentemente desesperadas circunstâncias que Ezequias
enfrentava esta declaração direta da divindade única de Javé e da não existência
dos deuses dos pagãos comprovou uma fé resoluta. O rei fundamentou a sua
oração sobre a necessidade de vindicação da glória de Deus, não sobre suas
próprias necessidades pessoais ou ao seu povo, pois ele compreendeu que não
tinham direito nenhum ao favor divino.
A segunda resposta de Deus, dirigida a Senaqueribe pessoalmente desta
vez, como também a Ezequias. Muito significativo é o título “o Santo de Israel”,
pois era a esta altura que Javé demonstraria Sua imensurável superioridade obre
suas criaturas, e seu compromisso pessoal para com Israel, Sua possessão
preciosa.
Deus humilharia a Assíria tratando-a como besta fera subjugada por meio
de ganchos e freios, e compelindo-a a voltar para casa sem a realização dos seus
objetivos.
Deus assegurou que os refugiados presos por trás das muralhas de
Jerusalém se espalhariam e estabeleceriam suas cidades e vilas (durante o
intervalo antes da queda de Jerusalém para os caldeus).
11
Ridderbbos, J. Isaías. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. São Paulo, SP
35 35
Movido pela profunda dor causada pelo anúncio do fim abrupto da sua
vida, mas também, em particular, para buscar a Deus como único refúgio que
lhe restava, o rei volta a sua face para a parede. Ele menciona a fidelidade e a
total devoção em que andara diante de Deus. Mais uma vez, precisamos notar
aqui o caráter da antiga dispensação. Se compreendia que vida longa fazia parte
das bênçãos que Deus se agradava em dar aos piedosos, e entre as coisas que
marcavam tais pessoas, o fato de fazerem à vontade de Deus era ressaltado.
Assim mesmo, esta idéia não se interpõe no caminho da crença de que apegar-
se à aliança com Deus consistia primordialmente no exercício de fé. É desta
forma que se deve entender a oração de Ezequias. No seu anseio interno de
receber esta bênção da aliança e de participar do favor de Deus, não em sua ira,
ele refere-se a sua conduta fiel como sinal do fato de que participava da aliança
com Deus. Entretanto sua oração não significa ausência de pecado, vejamos o
que Ridderbbos diz a esse respeito:
12
Ridderbbos, J. Isaías. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. São Paulo, SP
36 Profetas
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O fato de Ezequias pedir um sinal não é prova de incredulidade; é, pelo
contrário, uma indicação de fraqueza humana (devido ao estado decaído) á qual
Deus tem prazer em favorecer (7.11).
O sinal dado ao rei aparece em conexão com o “relógio de Acaz”. Este
devia ser uma espécie de relógio de sol. Esses aparelhos eram usados já há muito
tempo pelos babilônios, é provável que Acaz, o qual manifestava interesse por
produtos de arte feitos em outros países (2Rs 16.10), houvesse copiado tal
relógio. O texto sugere uma encosta em que tivessem sido marcados degraus ou
graduações, enquanto uma coluna no seu topo indicasse as mediante a sombra
que lançava sobre essas graduações. Através do relógio do sol, o Deus de Judá
demonstrará o seu poder para dar ao rei, seu servo fiel, a certeza de que a sua
oração foi ouvida. O profeta falando em lugar do Senhor que o havia enviado
afirma que faria retroceder dez graus a sombra lançada. Naturalmente é o Senhor
quem o faz, mas Ele o faz em virtude da oração de Isaías (2 Rs 20.11), e a ação
é creditada ao profeta (Tg 6.16).
O sinal consiste de fazer a sombra, que descera os degraus, voltar dez
graus. Com uma pequena emenda, pode-se ler que o próprio sol voltou atrás (a
imagem dele no firmamento), porque sem dúvida à luz que produzia à sombra
subia ou descia com ela. Há diferenças de opinião com relação a esse fenômeno
do relógio de sol estar ou não baseada em uma mudança de relação entre a terra
e o céu. Os pais da igreja e Calvino pensavam que sim. Calvino fala, em seu
comentário, não apenas que a sombra voltou pelo caminho pelo qual progredira,
mas também que o sol “voltou”. É como se Deus dissesse: Da mesma forma
como está em meu poder mudar as horas do dia, ou fazer o sol voltar nos céus,
eu também posso prolongar a sua vida. A opinião de Ridderbbos difere:
As Escrituras não apresentam base para se esposar esta opinião. É claro que a
narrativa das Escrituras, tanto em II Reis 20 como aqui, fala apenas que a sombra
voltou. Na verdade, a última sentença da narrativa em foco refere-se à luz do sol
voltando para cima, todavia conclui falando nos “dez degraus que descera”. A
referência não é ao sol propriamente dito, só à luz do sol no mostrador do relógio.
A opinião mais aceitável é que o milagre consistiu no fato de, embora a posição
do sol ter permanecido a mesma, a sua sombra no mostrador do relógio ter
voltado para cima, o que pode ser descrito como um milagre de refração 13.
Isaías Parte II
A narrativa termina com o relato de que esse sinal aconteceu como fora
predito. Não se faz menção à recuperação de Ezequias (esta se encontra em 2Rs
20.7), mas facilmente isso pode ser subentendido.
13
Ridderbbos, J. Isaías. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. São Paulo, SP
37 37
14
Oséias 1.9; 2.1,23.
38 Profetas
Maiores_________________________________________________
Esse “serviço árduo” agora é findo, isto é, está cheia à medida que Deus
estabelecera para ele. A sua iniquidade está perdoada, literalmente foi expiada;
em dobro, provavelmente se refira a:
• O castigo temporal de setenta anos de cativeiro e;
• O castigo eterno colocado sobre a Pessoa de Cristo, o expiador dos
pecados no Calvário.
Vejamos o que Ridderbbos comenta:
A idéia de que Jerusalém pagou a sua dívida com a moeda de sofrimento que
experimentou se expressa mais plenamente nas palavras finais: “... já recebeu em
dobro da mão do Senhor, por todos os seus pecados”. Aqui se torna ainda mais
claro que as palavras do profeta não podem ser forçadas com o fim de serem
entendidas literalmente, pois então deveria se perguntar se não foi injusto Deus
ter infligido a Jerusalém uma porção dobrada de sofrimento pelo pecado que ela
havia cometido. Pelo contrário, o profeta retrata aqui com exagero poético a
paixão do amor de Javé, que agora é suscitado para com o seu povo, e que julga
o seu sofrimento como suficiente, e mais do que suficiente, de forma que agora
Ele quer apressar-se em dar-lhe fim15.
15
Ridderbbos, J. Isaías. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. São Paulo, SP
16
É necessário limpar o caminho para o Deus de Judá porque a sua rota passa pelo “deserto”. A questão do
que isto significa está relacionada com outra. O que significa a vinda do Senhor? Evidentemente a idéia toda
é figurada. O pensamento de que o Senhor vá literalmente marchar através do deserto, precedido de um
precursor que seja responsável por tornar a estrada transitável, exclui-se imediatamente. Mas os detalhes dessa
forma figurada de apresentar a realidade podem ser interpretadas de várias maneiras. Uma das opiniões é que
o Senhor se encaminha para o povo cativo na Babilônia, Ele deixa a sua residência, que é Sião, e vai visitá-lo.
O deserto que Ele precisa atravessar é, por conseguinte, é o deserto sírio, que fica entre a Palestina e a
Babilônia. A dificuldade com esta construção é que o profeta não pensa diretamente, aqui, nos cativos na
Babilônia, quanto na cidade deserta de Jerusalém, ou nas cidades arruinadas de Judá. Por essa razão parece
melhor pensar no Senhor chegando a Jerusalém. Pode-se também entendê-lo com a ideia de que, sem referir-
se a qualquer deserto em particular, o profeta está simplesmente comparando a vinda do Senhor a Jerusalém
com a viagem de um rei por um deserto onde não há caminho. Pode-se também pensar no deserto ao sul de
Judá: o Senhor seria retratado, desta forma, como vindo do Monte Sião, que desde tempos antigos era o monte
da auto-revelação divina (Hc 3.3).
39 39
revelada diante dos olhos de toda carne. Torna-se claro aqui que o tema básico
de toda esta profecia é redenção. Embora o arauto possa ter começado trazendo
uma ordem, ela é baseada e arraigada nas boas notícias da revelação iminente
da graça do Deus de Israel.
A glória do Senhor deveria ser revelada por meio de:
• Ciro libertando os exilados do cativeiro da Babilônia e a sua restauração
a terra da promessa;
• O Cristo libertando os escravos espirituais e sua adoção na família de
Deus.
Toda a humanidade deve testemunhar desta divina intervenção em
beneficio do povo redimido. Em si mesmo, o homem é tragicamente frágil e
transitório e a sua beleza se desvanece rapidamente. Sua vida é desprovida de
verdadeira dignidade ou significado. Mas a eterna e infalível Palavra de Deus
concede à humanidade crente um significado e uma glória imperecíveis.
17
Salmos 1.6.
18
Romanos 11.33.
Isaías Parte II41 41
19
Quando se atribui formas humanas a Deus.
42 Profetas
Maiores_________________________________________________
Em contraposição às trevas da angústia presente de Israel, e ao seu
pecado, o profeta novamente mostra o seu alegre futuro. A despeito do pecado
de Israel, o Senhor o remirá. As palavras “mas agora” introduzem a promessa
de iminente inversão das condições. Diz-se enfaticamente que esta é efetuada
pelo Senhor, Criador e Formador de Israel, que sabe que está preso àquele povo,
e não abandonará a obra de suas mãos. Precedendo tudo o mais, novamente
encontramos o imperativo “não temas”, pelo qual um povo desanimado é
conclamado a ter coragem. Segue-se imediatamente a base para o apelo; o
Senhor remirá o Seu povo. Ele o chamará pelo nome. O nome é mencionado
pelo profeta, a fim de ressaltar o fato de que o Senhor conhece Israel por causa
do relacionamento íntimo que tem com o Seu povo; e o objetivo de chamá-lo é
para tirá-lo do exílio, da servidão. As palavras culminantes são “tu és meu”.
Israel foi criado por Ele, portanto é Sua possessão, e Ele o guardará como uma
herança preciosa.
Isaías 43. 2-4. Sob a proteção do Senhor, Israel está sempre seguro, não
sendo atingido pela água ou pelo fogo20, não como acontecera na época da ira
(42.25). O profeta fala de Israel passando pela água e pelo fogo; evidentemente
está pensando primordialmente no perigo que pode assediar Israel em sua
viagem de volta da Babilônia para Jerusalém. Esta expressão, porém, é muito
genérica, e aplica-se a toda jornada que o povo do Senhor, e também da Igreja,
precisam empreender através do mundo21. Pois Ele, o SENHOR, é o Deus de
Israel (v.3). Ele, o Santo de Israel é seu “Salvador”, seu Redentor, isto é, tudo.
Agora se segue uma curiosa descrição de como o Senhor é ambicioso em
relação ao Seu povo. Ele oferece o Egito, Etiópia e Seba como resgate em lugar
de Israel. A Etiópia fica localizada no sul do Egito; Seba é considerada parte da
Etiópia, Gênesis 10.7. Essas terras agora são consideradas como “resgate” em
lugar de Israel; isto é, como compensação que o Senhor paga a Ciro em troca da
libertação de Israel. Deste modo, o profeta indica tanto a preciosidade de Israel
para com o Senhor, quanto o Seu poder e soberania, que o capacitam a tratar de
nações distantes como lhe apraz. Aqui não se subentende “resgate” literalmente.
Embora o resgate se refira aos países aqui mencionados nominalmente, há
razões para não considerarmos esta declaração de modo literal. Em outra
passagem se diz, a respeito desses mesmos países, que eles servirão a Israel
como escravos (45.13). A razão pela qual esses nomes são mencionados tanto
aqui como algures, é sem dúvida que eles se referem a terras importantes e
distantes. O império persa se elevou a uma posição de grande poderio sob o
governo de Ciro e seus sucessores, e embora Ciro não tenha conquistado o Egito
20
Salmos 66.12.
21
Lucas 10.19.
Isaías Parte II
43 43
22
Oséias 2.11; 3.4; 9.4.
44 Profetas
Maiores_________________________________________________
Toda obra de redenção procede, não de Israel, mas apenas de Deus. “Eu,
eu mesmo” é a maneira enfática de expressá-lo. A obra de redenção, portanto,
precisa ser antes de tudo um ato de “apagar”, de remover as transgressões de
Israel, e um ato de não lembrar, ou seja, de perdoar os seus pecados. Esta
passagem é um louvor a Graça de Deus.
dar poder a Ciro é a libertação de Israel. Desta forma, Ele não meramente o
chama pelo nome, mas dá-lhe um sobrenome “meu pastor” (título de honra) e
“meu ungido”. O Senhor faz isto, embora Ciro não O conheça; é um gentio a
quem o Deus de Israel chama para esta missão. Mais tarde Ciro veio a
reconhecer Deus, de certa forma (45.21), e até invocar-Lhe o nome.
É Ele o Senhor, e ninguém mais, o que faz estas coisas. O objetivo de
tudo isto, é que do oriente ao ocidente o povo, por toda parte, conheça que fora
do Senhor não há outro Deus. Como o único Deus, o Senhor é também o único
Criador de todas as coisas, da luz e das trevas, do bem e do mal. A conclusão
apoteótica, mais uma vez, é: “Eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 44.24).
Isaías 50.4. O Servo começa declarando que o Senhor Soberano Lhe deu
“língua de eruditos” (eruditos é a mesma palavra usada em 8.16 para designar
os discípulos de Isaías); isto é, a língua de alguém que foi instruído para falar a
palavra de Deus. O Servo fala, portanto, que está equipado para o ofício
profético, e enfatiza o fato, e enfatiza o fato de que é o Senhor quem O capacita
para executá-lo. É o Senhor quem O instruiu, e Ele, portanto, é uma pessoa que
está sendo iniciada ainda mais nos mistérios do Seu ofício divino. O objetivo de
Sua instrução, é que Ele saiba como “dizer boa palavra ao cansado”. Ele é o
Consolador dos que estão encurvados debaixo das tribulações e dores da vida
(42.3; Mt 11.28). Este grande Profeta é um Consolador tão maravilhoso porque
está em íntima comunhão com Deus, de Quem recebe tudo (Jo 8.26).
46 Profetas
Maiores_________________________________________________
Isaías 50. 5-6. Depois dessa instrução diária, o profeta-Servo lança os
Seus olhos sobre o que está por trás disso: Deus abriu os Seus ouvidos, ou seja,
quando Deus o chamou para ser profeta, fê-lo ouvir a voz divina, e tomou o
ouvido do Profeta sempre aberto para ela. E o Servo voluntariamente aceitou a
Sua vocação; Ele não resistiu, nem recuou dos fardos associados com esse
encargo, como até mesmo Elias e Moisés haviam feito durante um instante.
Assim, Ele se submetera voluntariamente à intensa hostilidade que
experimentou como pregador da Palavra de Deus aos Seus compatriotas
incrédulos (49.7; Je 20.7). Pelo amor do Senhor Ele voluntariamente aceitou os
golpes nas Suas costas, e tolerou os que arrancavam a Sua barba (Ne 13.25). Ele
suportou até o fato de ser escarnecido e cuspido (Nm 12.14; Dt 25.9; Mt 26.67),
e até de ser ferido na cabeça (Mt 27.30; Jo 18.22).
“nós” e “nos”. Do versículo 2 em diante fica ainda mais claro que no decorrer
deste capítulo o profeta fala como membro e representante de Israel, ou melhor,
apenas do verdadeiro Israel.
As palavras “nossa pregação” podem levar a mal entendido. Elas parecem
presumir que o profeta está falando em nome dos profetas ou outros pregadores,
mas evidentemente não é este o caso. A referência é ao que foi ouvido
(Shemuah) por nós; e esta “pregação” algumas vezes se refere ao que um profeta
ouve quando Deus lhe fala, daí um “oráculo” ou “revelação”, que é o significado
dela aqui. O fato de Isaías, considerando-se como parte do povo, falar do que
“nós” ouvimos, ou da nossa “pregação”, é possível, porque esta palavra, que lê
ouvira diretamente de Deus, agora é transmitida pelo seu ministério ao seu povo,
e também é ouvida por este; em outras palavras, não é uma revelação
comunicada exclusivamente a Isaías. A referência é à revelação que o profeta
está no processo de transmitir. Por esta razão ele sublinha o seu caráter
extraordinário. Esta revelação, que está para proclamar, é tão maravilhosa que
ele começa exclamando: “Quem crê nisto?”. A isto ele acrescenta, da maneira
como a ordem de palavras é apresentada no original: “e a quem o braço do
Senhor foi revelado?”. O “braço” do Senhor é uma metáfora que designa o seu
poder e onipotência. Para pessoa que julga pela aparência das coisas, esse braço
é invisível. Há apenas algumas pessoas a quem ele é “revelado”, ou a quem ele
se desvenda. A interrogação, assim, sublinha a suprema grandeza, e para mente
humana, o caráter inaceitável, do oráculo que agora se segue (Jo 12.37-38; Rm
10.16).
Senhor lhes oferece. Água, pão, vinho, etc, são figuras inclusivas da salvação
que o Senhor lhes dará. Depois ele será descrita como “aliança perpétua... fiéis
misericórdias prometidas a Davi” (v.3). No contexto da antiga dispensação as
bênçãos terrenas desempenham um papel proeminente. O profeta de fato, pensa
primordialmente no retorno a Canaã (v.12). Nesta abundância terrena está
incluída uma plenitude de bênçãos espirituais. Contudo, há muito mais que isso:
todas essas bênçãos terrenas têm verdadeiro valor apenas porque revelam o
favor e amor eternos do Senhor, que novamente são demonstradas para com
Israel (54.5-10). Assim, está incluída uma plenitude de bênçãos espirituais. Este
também é o verdadeiro conteúdo da “aliança perpétua” que está para ser
mencionada. Assim, é a soma destas bênçãos temporais e eternas que é
comparada com a água que refrigera o sedento (41.17) e com alimentos
nutritivos e bebidas refrescantes (25.6). Consequentemente, em sentido mais
amplo, esta palavra é um convite para todas as eras receberem os bens da
redenção ofertadas por Deus, intimamente relacionados em forma e em
conteúdo com textos como: Pv 9.1; Mt 22.24; Lc 14.17.
O profeta deliberadamente descreve a bênção do retorno como se já fosse
presente, e apresenta-a da maneira mais atraente para persuadir muitas pessoas
a se aproveitarem dela. Evidentemente ele acha que para muitos a tentação de
permanecer em um país pagão e esquecer Jerusalém será forte demais. E de fato
foi isso que aconteceu. O discurso aos convidados, chamando-os: “os que tendes
sede”, indica a situação terrível em que se encontram atualmente. O profeta,
embora tendo conhecimento também da opressão física que estão sofrendo,
devia está pensando na falta de satisfação interior que deviam sentir.
Isaías 66.5. Aqui temos uma palavra de julgamento contra os ímpios, mas
ela é revestida de forma de consolo para os fiéis. Esses são mencionados como
os “que tremem da minha palavra”. Em seguida faz-se menção dos seus irmãos
(judeus) que os odeiam e excluem por causa do nome do Senhor (Lc 6.22);
consequentemente, eles são odiados por sua fidelidade ao Senhor, e são expulsos
da comunhão deles. Então, é lhes dito: “Mostre o Senhor a sua glória para que
vejamos a vossa alegria!” A sua confiança no Senhor está sendo escarnecida
(5.19). Todavia, contra os zombadores o Senhor pronuncia juízo: “Esses serão
confundidos”.
O versículo 24 descreve o final horrendo dos ímpios. (Verão que implica
a idéia de satisfação, não sobre a condição terrível dos condenados, mas com o
triunfo da justiça de Deus.) O versículo 18 refere-se ao julgamento dos ímpios.
É para os seus cadáveres que os adoradores de Javé agora olham. Parece que na
visão do profeta esses corpos jazem em lugar próximo a Jerusalém, talvez o Vale
de Hinom. “O seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará”. Eles serão
sujeitos a tormento eterno; o profeta transcende novamente os limites da terra,
da qual nos outros casos ele faz derivar todas as suas imagens, e desvenda
diretamente algo da realidade eterna subentendida nestas figuras (Mc 9.44-48).
resto rebelde em 586, ali profetizou durante cinco anos talvez, condenando a
idolatria dos judeus (44.8) e anunciando a vinda próxima de Nabucodonosor
para conquistar o Egito (o que ocorreu em 568 a.C.). Jeremias Parte I
O objetivo dessa longa profecia foi registrar as admoestações de
undécima hora do Senhor ao país que se precipitava em desastre espiritual e
destruição nacional. O livro registra não apenas a rejeição da lei divina, como
também a recusa inflexível da correção dos profetas de Deus. Ao contrário do
apelo de Isaías para que confiassem na libertação do Senhor, a mensagem de
Jeremias era que a nação deveria se submeter ao julgamento do Senhor
aceitando o cativeiro da Babilônia, para que assim a cidade e a nação fossem
salvas da destruição total. O livro demonstra como esse solitário clamor da noite
foi quase totalmente desatendido.
c) Esboço do Livro
2 – COMENTÁRIO
v.8. Deus diz, a Jeremias: “Não temas”. O medo é uma das emoções que
mais paralisa o ser humano, e somente pelo amor de Cristo pode ser extraído
totalmente (1 Jo 4.18). Este versículo mostra que Deus sempre sustenta seus
servos nas missões que lhes confere (Ex 3.12). O profeta não estará livre de
63 63
vv. 11-13. A primeira visão faz uma associação positiva. Seu conteúdo é
uma vara de amendoeira, a primeira árvore a florir na primavera. Aqui há um
jogo de palavras “eu velo sobre”, que ilustra a prontidão com que Deus cumpre
as suas promessas. Assim como os primeiros botões da amendoeira anunciavam
a primavera, a Palavra anunciada apontava para seu rápido cumprimento.
A segunda visão tinha um tom mais sinistro, e pode ter seguido a primeira
depois de algumas semanas ou meses. A panela fervendo era um vaso grande
usado para cozinhar ou lavar, colocado sobre brasas que o vento soprava. Sua
boca se inclina do norte e estava inclinada para o sul. Logo estaria derramando
o seu conteúdo escaldante que escorreria sobre Judá. O mal viria do norte. Antes,
a calamidade, a palavra hebraica significa geralmente ‘miséria’, ‘desespero’,
‘problemas’, como também ‘mal’.
vv. 1-5. Jeremias não diz como a Palavra veio, mas deixa transparecer
que a mensagem profética é produto da comunhão espiritual íntima que ele tem
com Deus. Faz parte do plano de Deus para a salvação das pessoas que a Palavra
se torne carne, seja no Cristo encarnado (Jo 1.14) ou no crente que prega a
Palavra.
Contrastando com a apostasia atual, Israel um dia confiava em Deus,
quando era sua noiva. A figura é mesma usada por Oséias. Ela descreve
geralmente a bondade e a graça de Deus para com as pessoas. O relacionamento
do Sinai é retratado em termos de matrimônio em que a noiva segue seu marido
(Os 2.2-20).
A antiga Lei das primícias (Lv 23.9-21; Ex 23.19) destinava a Deus uma
porção da colheita que amadurecesse primeiro. E por isso eram sagradas, assim,
também Israel, as primícias de Deus entre às nações, era sagrado. As primícias
eram oferecidas a Deus e não podiam ser comidas pelos israelitas leigos. Do
mesmo modo aqui, aqueles que devoraram Israel serão considerados culpados
(Gn 12.3).
O sermão visa alcançar toda a nação hebreia. Os profetas frequentemente
ignoravam a divisão do reino e o exílio das tribos do norte e se dirigiam a “toda
a família que fiz subir da terra do Egito”.
A ingratidão e a estupidez da nação ficam evidentes. Israel tinha sido
dignificado de maneira única se tornando a noiva de Deus, e já tinha esquecido
seu primeiro amor. A pergunta “Que injustiça acharam vossos pais em mim?”
na verdade é uma negação enfática. Deus desafia Israel que mostre como ele
quebrou alguma promessa desde o tempo do deserto. Longe de ser infiel à sua
Palavra, ele os tinha guiado seguros por terreno desolado e perigoso, guardando-
os e trazendo-os à terra prometida. O profeta sublinha a confiabilidade e
permanência das promessas de Deus (2 Co 1.20), o que implica em que a única
causa da ingratidão nacional é o esquecimento dos israelitas.
A situação deplorável citada acima faz com que Deus apresente uma
denúncia formal contra o seu povo. A palavra usada ‘contenderei’ sugere a
instauração de um processo contra uma pessoa em um tribunal. O veredito, com
certeza, seria desfavorável a Israel, já que o povo repetidamente tinha violado
os imperativos de Deus.
vv. 10-13. O profeta pede ao povo que se lembre de que nenhuma nação
do mundo antigo jamais mudou seus deuses, muito menos por algum objeto de
veneração menos eficiente. Os céus são convocados como testemunhas do
comportamento desvirtuoso de Judá, e se horrorizaram, porque eles obedeciam
a todas as leis do Criador. Os pagãos são condenáveis por causa da idolatria,
porém o povo de Deus transgrediu em duas coisas graves: abandonar o Deus
vivo e escolheram servir aos ídolos. Deus era a glória de Israel (Sl 106.20), um
contraste vivo entre a água fresca de uma fonte perene e a de uma cisterna.
O Filho de Deus dá esta mesma “água viva” a todos que o recebem, para
que seja uma fonte que jorre de mãos humanas. A nação havia esculpido para si
ídolos sem valor (1.16), que no fundo eram incapazes de suprir suas profundas
necessidades espirituais, à semelhança de uma cisterna rachada, que deixava seu
conteúdo fugir, tinha pouco uso para manter a vida.
Com o destino do reino do norte em mente, Jeremias diz que os israelitas,
todos nascidos livres, em breve seriam escravos. Os escravos eram de dois tipos:
os adquiridos por compra e os nascidos na casa do senhor e, portanto, sua
propriedade permanente (Ex 21.2-4). O reino do norte já se encontrava nesse
estado por causa da apostasia do seu povo.
66 Profetas
Maiores_________________________________________________
vv. 15-20. O profeta na ameaça que os assírios foram à sobrevivência da
nação (Is 5.29), provocando incluindo a queda do reino do norte em 722 a.C.
Israel estava uma desolação, uma advertência do que aconteceria a Judá. Por
coincidência depois da queda de Samaria os leões daquela área se multiplicaram
muito, a ponto de ser perigo à vida (2 Rs 17.25). A intenção de Jeremias é
mostrar que Deus pode castigar um povo rebelde por vários meios que Ele
determinasse.
A causa de toda a aflição de Judá aparece no versículo 17 com toda a
franqueza. Deus não pode ser culpado pelos sofrimentos da nação, porque estes
são consequências da desobediência intencional. Mesmo quando tinha o Senhor
como guia da sua vida a nação preferiu se esquecer dEle e ir após outros deuses
sem nenhum valor. Aqui podemos ressaltar a lição que podemos aprender com
o profeta Jeremias, que é que devemos a maior parte do que sofremos na vida à
ignorância e ao nosso pecado. Por isso, a Bíblia é tão insistente ao nos exortar a
vivermos uma vida de retidão (1 Tm 6.11; 2Tm 2.22).
O profeta repete, no versículo 18, o que Isaías já dissera (Is 30.15), que é
inútil recorrer ao Egito. O crente deve confiar somente em Deus, mas o profeta
sabia que esta advertência não alcançava o coração das pessoas, elas se
mantinham insensíveis. Nem Egito nem Assíria (v.19) tinham palavra ativa
quanto ao desastre iminente, apesar de servirem de instrumentos de diversas
maneiras, pois a calamidade havia sido determinada por Deus como punição
pelo pecado do povo. O profeta Jeremias mostra que atitudes espirituais
implicam em consequências confirmadas pelos acontecimentos (Os 8.7). A
aliança com o Egito e Assíria somente traria problemas e não a segurança
esperada.
A arrogância e a teimosia do povo são expostas com clareza impiedosa.
Há muito a nação tinha abandonado os ideais morais e espirituais elevados da
aliança, para tolerar práticas panteístas. O povo de Judá estava tão seduzido pela
religião canaanita que se recusava a cumprir por mais tempo as obrigações da
aliança do Sinai, preferindo as coisas da carne à vida do Espírito. No Novo
testamento os crentes são exortados a decidirem por viver uma vida de oposição
aos desejos pecaminosos, pois isso significa ser amigo de Deus (Tg 4.4; Mt
7.14).
g) Causas da Catástrofe.
23
Habacuque 2.4; Romanos 1.17.
70 Profetas
Maiores_________________________________________________
caçador de aves. Como um caçador que volta furtivamente para casa com sua
caça, estes homens estão sempre acumulando ganho ilegal.
No oriente obesidade era sinal de riqueza (Dt 32.15; Sl 92.14). Essas
pessoas não tinham respeitado nada em seu modo de agir (Mq 7.18; Am 7.8),
deixando evidente que a corrupção social não tinha sido erradicada. Os ricos
continuavam oprimindo os pobres em Judá (v.28,29), e era impossível alguém
conseguir justiça nos tribunais. A Lei mosaica tinha uma tônica humanística,
exigindo do povo que zelassem pelo bem-estar dos necessitados. Os perversos
que tinham maculado estes princípios seriam punidos.
Os profetas de Baal profetizavam falsamente porque prognosticavam a
serviço da “mentira”. Dominam pode significar que os sacerdotes agem sobre a
orientação dos profetas. O resultado é uma tendência forte na vida religiosa em
direção a um elemento popular carnal. O versículo 31 resume o pecado da nação,
mostrando que profetas e sacerdotes se tornaram culpados de infidelidade, e que
o povo por sua vez aprovou.
Jeremias não é o único profeta que fala contra a idolatria. Ele usa a mesma
ironia para mostrar quão falha e insensata é a confiança nos ídolos. Pode ser
difícil hoje compreender como a idolatria exercia tanta fascinação sobre o povo
de Israel. Alguns estudiosos acham que o contexto aqui é povo já no exílio
babilônico, por causa destas expressões de “não aprendeis os caminhos dos
gentios” e os “sinais dos céus”. Mas isto foi um problema para Israel, desde que
entraram na terra de Canaã. E antes de Jeremias, Isaías tinha feito advertências
semelhantes.
O profeta Jeremias mostra quão insensato é fazer algo com suas próprias
mãos e depois adorar aquilo. A imagem nem se valoriza mais na sua capacidade
sendo enfeitada com prata ou ouro.
Precisa ser carregada, não podendo fazer nem bem nem mal. É
interessante como pessoas não reconhecem como isto fala contra as imagens que
tanto valorizam nos dias de hoje, enfeitando-as com jóias e carregando-as em
procissões. Estes deuses e suas imagens vão desaparecer, pois não são nada. Só
Deus, o criador de todas as coisas, dura para sempre. Em tempo o homem verá
que é ridículo adorar uma obra das suas próprias mãos.
26
1 Coríntios 1.31; 2 Coríntios 10.17.
27
1 Coríntios 6.20.
74 Profetas
Maiores_________________________________________________
Este capítulo é um poema, que denuncia sarcasticamente a idolatria, por
alguém que viu suas piores consequências em primeira mão. Foi sugerida que a
passagem é obra de Isaías28, devido à semelhança da construção.
28
Isaías 40.18-20; 44.9-20; 46.5-7.
75 75
29
Isaías 40.23.
30
Mateus 5.45.
77 77
Jeremiasdo
consequência inevitável da persistência voluntária Parte II (20-27).
pecado e Lamentações
c) Lamentação Réplica (Jr 15.15-21). Nesta passagem poética e de
grande beleza Jeremias expressa seu sentimento de total solidão no meio de
um povo rebelde. Muitas das suas tensões emocionais surgiram de um impulso
interior de estar do lado de Deus contra seus compatriotas. Todo verdadeiro
servo de Deus poderá experimentar tensões deste tipo, especialmente se, como
no caso de Jeremias, seus inimigos são da sua família 31. O grau de
sensibilidade do individuo determinará quanto sofrimento estará envolvido na
escolha entre o mundo e Deus. Quando a palavra de Deus veio a Jeremias ele
a recebeu com avidez, mas isto foi a causa de seu isolamento. O espírito
profético que estava nele o separou dos seus amigos e isolou das atividades
populares, por causa da indignação pelo pecado do povo. Em sua tristeza
Jeremias se recusa a crer que Deus é um ribeiro ilusório, com quem não se
pode contar quando se precisa de água no calor do verão por causa da
afirmação de 2.13. A réplica de Deus reafirma o principio básico de que
obediência e arrependimento verdadeiros garantem perdão e bênçãos.
Jeremias continuará a serviço de Deus, se ele separar o valioso do vil,
removendo o lixo que é a idolatria e apostasia. Com esta função Jeremias tem
de elevar o povo ao seu nível espiritual, na certeza que Deus o protegerá.
d) O Clamor do Profeta.
31
Mateus
78 Profetas
Maiores_________________________________________________
importante mais do eu o fim desejado. Não é mal ganhar riqueza. O que é
condenado é ganhá-lo ilicitamente.
O profeta clama a Deus para salvá-lo da perseguição que aumenta cada
vez mais. Jeremias tem sofrido afronta por pregar guerra e destruição que não
vem. Não tem pregado porque quis ver isto acontecer, mas porque é a
mensagem que Deus lhe deu. Agora o povo está debochando, dizendo que se
esta é realmente a Palavra de Deus, então, que se cumpra.
Deus, na sua misericórdia para com a nação, está colocando seu profeta
numa situação difícil. Em demorar no castigo, o povo considera o profeta
Jeremias um falso profeta, porque não acontece o que ele fala. É dentro deste
contexto que o profeta apela para Deus castigar os incrédulos. A oração de
Jeremias não está dentro do espírito do Novo Testamento, e não deveríamos
esperar que estivesse. Temos que lembrar, entretanto, que o profeta está
apelando para Deus castigar seus inimigos. O que Ele já disse que faria.
32
Amós 2.7; Miquéias 1.2-4.
Jeremias Parte II e Lamentações
79 79
comportamento o juízo divino virá. A oração do profeta indica que o povo não
muda e até reage contra o profeta.
Porém, fazer o que Deus quer não é coisa vã, sem critério e sem
propósito. O profeta quer mostrar que as ações de Deus são mais que uma
demonstração de poder absoluto. Deus é soberano, os seus propósitos não
podem ser frutados pelo homem, ou seja, pela desobediência humana33. Deus
pode desfazer e fazer de novo a nação.
33
Jó 42.2 “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.”.
80 Profetas
Maiores_________________________________________________
de pastor e ovelha facilmente transfere-se para representar a liderança da
nação e sua população. A condenação que o profeta Jeremias faz é da liderança
de Judá e mais, especificamente de Zedequias. Uma má liderança foi a causa
das dez tribos de Israel serem dispersas e agora a mesma coisa está
acontecendo com Judá. Parte da nação já foi levada para Babilônia. E, por
causa da fraqueza de Zedequias, o restante logo também irá para o exílio.
Nesta situação tão difícil Jeremias oferece uma palavra de esperança.
Este rei falha, mas Deus vai levantar um que não vai falhar.
Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo
justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a
justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este
é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.
Os vv. 5-8 são de fundamental importância para a cristologia, pois os
mesmos tem um caráter messiânico. Harrison diz o seguinte:
Esta profecia messiânica (5-8) está cheia de esperança para o futuro. A
fórmula introdutória, eis que vem dias, aparece dezesseis vezes no livro
iniciando mensagens de esperança. O Renovo é termo usado para o rei
messiânico (33.15; Zc 3.8; 6.12). Este personagem também aparece em Isaías
11.1. Renovo é o que brota das raízes de uma árvore caída. Há de brotar vida
nova na dinastia caída. Assim Jeremias pode proclamar que Deus fará surgir um
rei dravídico cujo o nome já indica qual é o seu caráter; uma expectativa
cumprida em Cristo, Filho de Davi. Diferente dos sucessores de Josias, ele
seguirá uma política sábia, observando os ideais da aliança como se fossem um
tesouro, e governando o povo com justiça e equidade (2 Sm 8.15). A expressão
Senhor Justiça Nossa significa “aquele que garante justiça para nós”.
Este rei não merece seu nome: Zedequias, que quer dizer “Justiça de
Yahweh”. Deus dará um rei com nome ainda mais exaltado: “Yahweh Justiça
Nossa”. Este rei, da linhagem de Davi, fará o que os outros não conseguiram, e
um novo dia chegará e o passado será esquecido. As manifestações da glória de
Deus vão superar tudo que houve no passado. A libertação do exílio será maior
que o êxodo do Egito.
34
Deuteronômio 4.29; Salmo 119.10; Mateus 7.7.
35
Jeremias 25.11.
83 83
Jeremias
restante de Israel, e voltar seria sofrer com eles. Parteé ficar
Melhor II eemLamentações
Babilônia.
Mas os profetas falsos no cativeiro querem silenciar Jeremias e escrevem às
autoridades em Jerusalém, pedindo providências. Ao invés de calar-se,
Jeremias anuncia o castigo que Deus enviará a um destes falsos profetas.
36
Romanos 9.6-8.
37
2 Coríntios 5.17.
84 Profetas
Maiores_________________________________________________
pedido é para Jeremias orar ao seu Deus e eles prometem obedecer ao que o
Senhor mandar. A resposta demora dez dias, que pode testar a sinceridade da
declaração do povo de aceitar a vontade divina. O povo espera.
A mensagem de Jeremias para o grupo é que Deus o protegerá e que
deve ficar na terra de Israel e não descer para o Egito. Porém, a hipocrisia do
povo transparece em recusar a mensagem do profeta. Apesar das advertências
de Jeremias de todo mal que virá sobre eles, fugindo ao Egito, vão, e levam o
profeta junto.
Entretanto, a palavra do profeta não para ali. Mesmo no Egito, continua
a denúncia. Condena o culto a Rainha dos Céus, e lembra práticas abomináveis
de Judá na terra prometida. O povo, todavia, vê tudo por um prisma diferente.
Eles consideram todo mal que sofreram como consequências de abandonar o
culto a rainha dos céus. Isto, que foi feito na reforma de Josias, na visão
popular, agora representa um passo para trás na vida religiosa do povo.
Na vida dos judeus que fugiram para o Egito, desobedecendo à voz de
Deus, o profeta pode ver apenas mais calamidade, talvez maior do que a que
sofreram na sua própria terra. Nabucodonosor, rei da Babilônia, chegará ao
Egito. Portanto, eles vão sofrer mais uma vez a guerra e todas as suas
consequências. Esta é a ultima palavra que Jeremias tem aos fugitivos
rebeldes. Como o profeta disse: “saberão se subsistirá a minha palavra ou a
sua”, podemos declarar que a palavra de Deus estava com o profeta, “como
hoje se vê”.
38
Eduard Young observa as seguintes semelhanças notáveis: Os olhos do profeta “se desfazem em águas”:
Lm 1.16; 2.11; Je 9.1, 18b; 13.17b. “Há terror por todos os lados”: Je 6.25; 20.10; Lm 2.22. “Veja eu a tua
vingança sobre eles”: Je 11.20; Lm 3.64-66, dentre muitas outras.
Jeremias Parte II e Lamentações
89 89
O fluxo de pesar expresso sugere uma época logo após a queda da cidade
santa, quando a lembrança ainda era recente. A redação bem elaborada e bela,
apresentada em formato de acróstico alfabético sugere, por outro lado, um longo
período de reflexão e construção literária. É possível que o profeta tenha escrito
o livro na esteira dos acontecimentos e que mais tarde tenha formado o texto
com os requintes de acróstico para melhor memorização. A redação inicial deve
ter sido no verão de 586 a.C., em meados de agosto.
c) A Teologia de Lamentações.
d) Esboço do livro.
Tema: A miséria humana e o significado divino da destruição de
Jerusalém.
Primeiro Lamento...................................................................................1.
Segundo Lamento...................................................................................2.
Terceiro Lamento..................................................................................3.
Quarto Lamento .....................................................................................4.
Quinto Lamento....................................................................................5.
39
Lm 2.17; 3.37-38.
91
Jeremias Parte II e Lamentações 91
40
compaixão . As alianças também continham promessas de restauração divina
pelo arrependimento.
3 – COMENTÁRIO DE LAMENTAÇÕES
40
Lm 3.22-23.
92 Profetas
Maiores_________________________________________________
feito por um Deus justo41.
Depois de suportar cerco e destruição, parece que Jerusalém
compreendera que se exigia dela uma maneira totalmente nova de encarar a
vida, já que sua rebelião anterior só lhe trouxera maldição em vez de bênção.
A filha pródiga afinal está começando a ter juízo.
A última parte do v.20 poderia ser entendido como se a morte na casa
provém da espada. A praga completou dentro da casa o que a espada fez nas
ruas.
No v. 21 encontramos a base da teologia do livro de Lamentações, com
a idéia de que a justiça de Deus, que exige que o pecado seja punido, também
tem de ser encarada como base para qualquer esperança que a nação tenha
para o futuro. Para que essa se materialize deve haver uma volta ou
“conversão” e uma submissão completa a vontade de Deus. O v.22 aborda os
assuntos morais que estão envolvidos em orações por vingança.
41
Gênesis 18.25.
42
Êxodo 19.6.
93 93
Jeremias Parte II e Lamentações
c) Terceiro Lamento (3).
Lembranças da Misericórdia Divina. Com uma magnífica expressão
de fé na misericórdia infalível de Deus o profeta olha para o futuro distante
com novas perspectivas. A palavra misericórdia usada aqui tem o sentido
básico de lealdade ou devoção, em particular em relação à aliança e a Deus
como seu Autor. Da fidelidade a uma ligação como esta surge a misericórdia
de Deus, de modo que podemos traduzir misericórdia por “lealdade a aliança”
ou “misericórdia da aliança”. O profeta está contrastando a ilimitação da
misericórdia divina e a conservação constante destes valores espirituais
supremos através da renovação. A natureza imutável de Deus forma uma base
firme para as tentativas de esperança para o futuro. Depois a expressão “não
seremos consumidos”, implica que isto é resultado da do amor constante de
Deus43 ao seu povo.
Esperar na vontade de Deus era tão importante na Antiga Aliança44,
como o é na Nova45. O crente tem uma esperança viva porque confia em um
Deus vivo, cujas as promessa são garantidas46.
Por causa do caráter restaurativo da misericórdia de Deus47os
sofrimentos pelos quais a nação passa, no fim passarão, porque não apresentar
o propósito definitivo de Deus para o seu povo. O pai não fere os seus filhos
de bom grado, v.33; uma disciplina periódica faz parte do desenvolvimento
espiritual do crente48, porém nunca se pode repetir o suficiente que os
desastres que afligem as pessoas geralmente têm muito a ver com suas atitudes
na vida. É possível atribuir os sofrimentos a Deus, no sentido de que Ele é à
base de qualquer tipo de existência.
O profeta relaciona, como Isaías 45.7, toda escala de valores morais
com a atuação do único Deus verdadeiro de Israel, que é a razão básica da
existência. Como nada pode acontecer a alguém sem o conhecimento de Deus,
cada pessoa deve suportar desgraças com paciência e sem murmurar,
confiando em que as misericórdias de Deus farão emergir o bem do mal49. Esta
atitude deve transparecer particularmente quando uma pessoa inocente sofre
injustamente50. Quando um transgressor é punido por sua má ação, ele não
tem nenhuma razão para se lamentar. Na verdade todas as ambiguidades da
vida são consequência do pecado.
Sendo a aliança com Israel de natureza eterna, o povo é exortado a
tomar uma posição espiritual e voltar-se para Deus em arrependimento. Assim
43 1 João 4.8,16.
44 Salmo 37.9; Oseias 12.6.
45 Romanos 8.25; Gl 5.5.
46 2 Coríntios 1.20.
47 Salmo 23.3.
48 Hebreus 12.6
49 Romanos 8.28.
50 1 Pedro 2.21-25.
94 Profetas
Maiores_________________________________________________
que isto acontecer os castigos justos que foram impostos pode ser tirado e o
povo restaurado a uma posição favorável diante de Deus.
O apelo à renovação espiritual requer motivação interna, não o tipo de
rituais externos tão praticados antes do exílio51. A purificação espiritual deve
se processar na consciência de que a nação ainda está sendo julgada por Deus
por sua impiedade. Quando ocorrer uma confissão plena e sincera do pecado,
Deus perdoará o seu povo52.
51 Joel 2.13.
52 1 João 1.9.
53 Jeremias 26.20-23.
54 Levítico 13.45.
55
Jeremias 52.7-11.
95 95
de sua natureza fraca e maldosa ele ainda era o ungido do Senhor, e é esta
posição que está sendo reconhecida aqui, e não sua liderança.
Jeremias Parte II e Lamentações
e) Quinto Lamento (5).
Harrison diz:
Este lamento também tem vinte e dois versículos, porém não seguindo o arranjo
acróstico alfabético dos quatro lamentos anteriores. O capítulo contém uma
confissão de pecado e um relacionamento da total soberania de Deus. Como ele
é mais uma oração que um lamento, seu caráter espontâneo e pessoal deve ter
contribuído para não deixar que ele s adaptasse a um arranjo acróstico estilizado.
56
Êxodo 20.4.
57
2 Timóteo 2.13
58
Romanos 11.1.
97 97
1 – INTRODUÇÃO GERAL
(1) O livro tem uma estrutura equilibrada, e este arranjo lógico se estende do
capítulo 1 até o capítulo 48. Não há interrupções na continuidade da profecia, a
não ser onde isto é feito para produzir um efeito deliberado. A única parte que
poderia facilmente separada do restante, a visão do novo templo (40-48), parece
formar um equilíbrio nítido com a visão de abertura dos capítulos 1-3, e é melhor
considerá-la uma conclusão apropriada para a totalidade, embora seja
manifestamente de data algo posterior (40.1).
(2) A mensagem do livro tem uma consistência interna que se encaixa com o
equilíbrio estrutural. O ponto central é a queda de Jerusalém e a destruição do
Ezequiel
templo. Esta é anunciada em 24.21, e é relatada em 33.21. Desde Parte I 1até
o capítulo
24, a mensagem de Ezequiel é de destruição e denúncia. É um atalaia convocado
para advertir povo de que esta é a consequência inevitável dos pecados da
nação. Mas desde o capítulo 33 até 48, embora ainda se considere um atalaia
com uma mensagem de retribuição e responsabilidade individuais, seu tom é de
encorajamento e de restauração. Antes de 587 a.C., seu tema era que a
deportação de 597 a.C., da qual ele mesmo foi uma das vítimas, certamente não
era um fim do castigo de Deus aplicado ao seu povo: coisa pior estava por vir,
e os exilados deviam estar prontos para enfrentá-la. Depois de vir esta coisa, e
o pior ter acontecido, Deus agiria para reedificar e restaurar seu povo Israel, uma
vez disciplinado.
(4) O livro tem uma clara sequência cronológica, com datas aparecendo em
1.1,2; 8.1; 20.1; 24.1; 26.1; 29.1; 30.20; 31.1; 32.1,17; 33.21; 40.1. Nenhum
outro profeta maior tem esta progressão lógica de datas, e somente Ageu e
Zacarias, entre os profetas menores, oferecem um padrão comparável.
100 Profetas
Maiores_________________________________________________
(5) Diferente de outros profetas, Ezequiel é escrito de maneira autobiográfica
do começo ao fim. A única exceção é a introdução dupla (1.2,3), que dá uma
impressão muito forte de ser a explicação, feita por um redator, do versículo de
abertura que certamente precisava de algum tipo de interpretação para seus
leitores.
59
Jeremias 22.13-19.
60
2 Reis 24.1.
102 Profetas
Maiores_________________________________________________
Referências Evento Descrito Data de Ezequiel Data p/ Cal. Juliano
Dia/ Mês/ Ano Dia/ Mês/ Ano
1.1 A chamada de Ezequiel 5/ 4/ 30 31 / Julho/ 593
1.2 A chamada de Ezequiel 5/ (4)/ 5 “““
b) Esboço do Livro.
2 - COMENTÁRIO PANORÂMICO.
3 – COMENTÁRIO
61
1 Sm 15.10; 1Rs 12.22; Is 38.4; Je 1.2.
105 105
modo decente. Além das asas, tinham mãos das quais fariam bom uso mais
tarde (10.7).
No meio do quadrado oco havia carvão em brasas, v.13, aspecto este
que Isaias também tinha na visão dele, só que o dele estava empilhado no altar.
Para o profeta, o fogo que simbolizava o julgamento estava no coração da
presença de Deus, e periodicamente resplandecia em relâmpagos. A totalidade
do carro-trono do qual faziam parte movimentava-se de modo uniforme, sob
o impulso do espírito.
A descrição de todos os aspectos desta visão prepara o caminho para
aquilo que há de seguir. A Deidade é levada para cima na plataforma,
sustentada pelos representantes da Sua criação. O homem apesar da sua
superioridade ao reino animal é igual a eles em agir como guarda e servidor
do seu Senhor. Cumpre, porém, seus deveres sem movimento e aparentemente
sem esforço. As rodas se movimentam, mas os seres viventes estão imóveis,
e, mesmo assim, o palanque inteiro viaja com rapidez e leveza acima da terra,
em qualquer direção que o impulso orientador dirige. E, como se fosse para
demonstrar que Deus não está preso a terra, o carro-trono pode se elevar para
os ares e voar. Móvel sem esforço algum é o Deus da visãoEzequiel Parte I
de Ezequiel.
Nos versículos 23 e 24 entende-se que o profeta viu algo “como uma
plataforma, brilhando horrivelmente como gelo, estendida por sobre as suas
cabeças”. Enquanto movimentava-se havia um barulho estranho, à medida que
os quatro pares de asas esticadas vibravam poderosamente. O barulho era
como de muitas águas ou como o ribombar do trovão (a voz do Onipotente)
ou como o som de um exército avançado.
vv.26-28.
Por fim, o profeta
Ezequiel pode
erguer mais os
seus olhos para
descrever o que
está acima da
plataforma. Então
descreve o trono
(como safira, uma
pedra altamente
estimada no
mundo antigo) e
Aquele que
sentava sobre ele.
Aqui os seus olhos
ou a sua coragem
lhe faltam. Embora os quatro seres viventes pudessem ser descritos com
106 Profetas
Maiores_________________________________________________
pormenores, tudo quanto podia dizer acerca de Deus era que tinha forma
humana e que era como fogo (v.27). Todavia, mesmo dizer isto, era
incrivelmente ousado, porque não era Javé invisível e, portanto, indescritível?
Era uma idéia profundamente embutida no pensamento israelita de que
nenhuma pessoa comum podia fixar os olhos em Deus e viver para descrever
a experiência! Em sua visão de Deus Ezequiel abre um pouco mais a porta,
para que Deus seja visto num contorno humano, porém com esplendor tão
ofuscante que nada mais poderia ser visto ou dito.
Será isto exemplo de outro antropomorfismo? Não indica que a imagem
e semelhança de Deus a qual o homem foi criado é a humanidade que há em
Deus. Entenda a humanidade em Deus não como os atributos físicos, mas
aquilo que compõe a sua personalidade, como as emoções, os sentimentos, a
volição e o intelecto, que é exatamente aquilo que nos constitui humanos.
O profeta não vê meramente um homem, sua radiância era cercada pela
glória de um arco-íris, e o profeta não podia mostrar seu temor de outra
maneira senão caindo com o rosto em terra diante do seu Deus.
a se converter dos seus caminhos, Deus disse: O seu sangue da tua mão o
requererei.
vv. 23-27. Sob o efeito de êxtase, o profeta sai para o vale. A palavra
significa literalmente “uma fenda”, é provável que se refira a uma localidade
específica que Ezequiel frequentava em seus períodos de solidão, e era, sem
dúvida, o lugar onde haveria de ter sua visão do vale dos ossos secos (37). A
expressão a glória do Senhor estava ali, resume não somente uma parte, mas,
sim, toda a visão que o profeta vira no capítulo 1. A lembrança que permanecia
não era dos equipamentos do carro-trono celestial, mas, sim, dAquele que
estava sentado sobre o trono. Não há evidência clara se esta visão adicional da
glória de Deus aconteceu quase imediatamente depois da sua comissão para
ser atalaia, ou se, entre os vv. 21 e 22, houve um período em que Ezequiel
profetizou de acordo com os termos que lhe foram dados. Quanto ao tempo,
parece preferível considerar 3.22-27 como o episódio final num período
prolongado de comissionamento que durou vários dias. Seria improvável que
um profeta, numa só teofania, obtivesse a compreensão, não só da sua
chamada, como também da sua mensagem e da terrível responsabilidade da
sua tarefa e da maneira em que deveria cumprí-la. Para o profeta, tudo isto
veio por etapas, e somente quando foi alcançada a última etapa é que foi
conclamado a fazer seu primeiro pronunciamento público no drama simbólico
das obras de cerco contra Jerusalém.
se refere ao Grande Dia do Senhor, de que Israel seria apenas um símbolo 62.
Para Ezequiel, a destruição de Jerusalém era um ato de intensidade quase
apocalíptica; era uma culminação trágica, porém necessária, de séculos de
pecado humano e de longanimidade divina. O fim virá.
Segundo Oráculo (5-11). Vem a tua sentença ó habitante da terra
(v.7). Que este oráculo é dirigido a todos os habitantes da terra não padece
dúvida, e refere-se ao dia do Senhor. O julgamento de Israel é então o pano de
fundo de uma terrível cena, que se há de realizar em um contexto escatológico.
Uma ação rítmica, consta nestes dois versos: Eis que vem, chegou o dia da
sentença, já floresceu a vara (v.10). Já tinha chegado à primavera, pois a vara
estava florida. Esta vara pode bem representar a soberba que já reverdeceu e
a violência que já cresceu. Tudo está pronto para a grande ceifa, que um dia
haverá chegar, o juízo divino sobre a impiedade.
Terceiro Oráculo (12-13). O que vende ou o que compra estão na
mesma posição. O que compra não se alegre, e o que vende não se entristeça.
Comprar e vender são uma demonstração de vitalidade social e econômica. O
vendedor que iria ficar sem a sua propriedade, ficaria triste, e o comprador que
ia aumentar o seu patrimônio, ficaria alegre. Ninguém fortalece a sua vida com
a sua própria iniquidade (v.13). Negócios devem ser feitos sob o temor de
Deus, e fora disso é impiedade. Os dois seriam envolvidos numa catástrofe
igual. Talvez o v. 13 faça uma alusão à lei do Jubileu, em que o vendedor
voltaria a possuir o que tinha vendido, e o comprador o que tinha comprado.
Talvez seja, mas parece que o assunto aqui é a grande desgraça que estava
para chegar a todos por igual63. A cidade festiva, das festas Ezequiel Parte Iiria
religiosas,
sofrer, por causa dos seus pecados, o ouro e a prata seriam como sujeiras (v.21)
e entregues aos estrangeiros como presa. Os caldeus de modo algum eram
melhores que os judeus, mas estavam a serviço de Deus para executar o juízo
sobre a cidade, e a eles caberiam as riquezas ajuntadas através de anos, o ouro
e a prata amontoados à custa de violência e sangue. Seria miséria sobre
miséria, e rumos sobre rumor, até fazer cessar a arrogância dos valentes
(v.24). Na angústia da hora os homens buscariam visões de profetas, mas estes
onde estavam? Os sacerdotes tinham perdido o senso de sua missão e os
anciãos tinham perdido o respeito (v.26).
62
Isaías 11.12; Joel 2.
63
Levítico 25.10.
112 Profetas
Maiores_________________________________________________
assunto, até mesmo talvez acerca da situação em Jerusalém, estavam
assentados diante dele esperando sua resposta. O que teria ocorrido em
Babilônia entre os exilados durante estes meses não se sabe com precisão, pois
o profeta nada diz, mas se admite eu havia a esperança falsa de um breve
retorno a Jerusalém estaria sendo desvanecida, pois já seis anos se tinham
passado e nenhum sintoma de alívio tinha chegado para os exilados.
64
2 Crônicas 33.7, 15.
113 113
65
Joel 2.17.
66
2 Reis 23.11.
67
Apocalipse 8.2,6.
114 Profetas
Maiores_________________________________________________
explicações pormenorizadas. Há, no entanto, relevância na descrição da glória
que se levantou do Querubim, o lugar nos Santos dos Santos onde se pensava
que Deus residia, porque este foi o movimento preliminar antes do Senhor
finalmente partir do seu Templo. Nesta nova posição, que dominava o cenário,
deu suas instruções, primeiramente para o anjo do registro (v.4) e depois para
os seis (5,6). Há certa semelhança entre estes sete personagens, os de Ezequiel
e os do Apocalipse. São os serventuários do grande Rei. Vemos sim, que
apesar da degeneração moral e espiritual em Judá, ainda havia um
remanescente suspirando por dias melhores.
Tal e qual aconteceu a entrada de Nabucodonosor na cidade, quando
velhos, moços, mulheres e crianças eram trucidados sem piedade assim os sete
receberam as suas ordens. Só os homens que tinham o sinal não foram tocados
(v.6). Assim, começando pelo santuário, encheriam a casa de cadáveres, uma
profanação inominável, pois o santuário ficaria para sempre imundo. Mas,
para que santuário, se o Deus ali adorado se havia retirado? Terminada a
matança o profeta verificou que só ele estava e perguntou ao Senhor: Ah
Senhor Deus! Destruirás todo o restante de Israel, derramando a tua
indignação sobre Jerusalém? (v.8). A resposta está nos versículos 9 e 10. Este
“restante” refere-se naturalmente a Judá, porque o Israel do norte já havia sido
levado em 722 a.C. Na resposta do Senhor há uma verdade que deve ser
destacada. A terra se encheu de sangue e a cidade de injustiça e eles diziam
que o Senhor tinha abandonado a cidade, e o Senhor não o vê (v.9). E eis que
o homem que estava vestido de linho, a cuja cintura estava o tinteiro, tornou
com a resposta, dizendo: Fiz como me ordenaste (v.11). Quem quer que se
proponha a escrever uma tragédia como esta, deve sentir as suas entranhas se
contorcerem de horror, pois o quadro era de uma cidade morta. Justamente o
que Jeremias havia profetizado.
vestido de linho, dizendo... As ordens foram dadas pelo Senhor Javé. Para as
brasas acesas, 1.13. Em Isaías 6.6 uma brasa viva foi usada para purificar o
pecado do profeta, e não como símbolo de julgamento. Na idéia de Ezequiel,
Jerusalém estava para ser tratada da mesma maneira que Sodoma e Gomorra68.
As quatro rodas junto aos querubins, uma roda para cada um deles, eram
como se estivessem uma dentro da outra. Quando os querubins andavam,
andavam as rodas, e quando paravam, paravam as rodas, pois eram
inseparáveis umas das outras (v.17).Depois desta visão, Então saiu a glória
do Senhor e parou sobre os querubins e quando estes levantaram as suas asas,
e se elevaram da terra... e quando saíram acompanhados pelas rodas, que lhes
eram inseparáveis, pararam à entrada da porta oriental da casa do Senhor, e
a glória do Deus de Israel estava no alto, sobre eles (v.19). Deus abandonou
o seu templo.
68
Gênesis 19.24.
69
Jeremias 38.17.
116 Profetas
Maiores_________________________________________________
morte, que foi vista na visão, realmente ocorreu longe em Jerusalém naquele
exato momento.
70
Tito 3.15.
117 117
objeções daqueles que dizem: “já ouvimos todas estas ameaçassem ocasiões
anteriores, mas sempre acabam em nada”. Ou dos falsos profetas que
reivindicam autoridade igual para oráculos que prometem a paz e a segurança,
ou daqueles que pensam que é impossível o Senhor rejeitar seu povo. O
profeta, no entanto, antes de tratar com todos estes variados pontos de
vista,tem a realizar mais alguns atos simbólicos.
71
Isaías 55.11.
118 Profetas
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condenação do profeta é baseada, no entanto, não em qualquer imoralidade ou
vilania da qual fossem culpados, mas, sim, na maneira em que compõem seus
pronunciamentos. Isto incidentalmente lança muita luz sobre a genuína
consciência profética em Israel. Estes profetas loucos profetizam o que lhes
vem do coração72. A frase paralela que seguem o seu próprio espírito sugere
um conflito entre o espírito humano e o espírito de Deus. Esses falsos profetas
eram enganadores do povo, falando de paz, quando não havia paz (v.10). Estes
profetas mentirosos não teriam o seu nome no registro da casa de Israel (na
volta, v.9), seriam, portanto, párias, sem terra e sem pátria.
72
Em hebraico o coração era o órgão do pensamento, e da vontade como também das emoções.
73
Gênesis 49.22
119 119
nascimento de uma menina enjeitada, que nem foi lavada, nem limpa, nem
enfaixada (v.4). Nessa comparação parabólica foi que Deus encontrou esta
menina e cuidou dela, a enfeitou, a engrandeceu e a fez cidade desejada que a
história conhece.
Da fundação histórica desta cidade, nada se sabe. A arqueologia não fez
investigações para encontrar as fundações da cidade. Na literatura bíblica ela
aparece nos dias de Abraão, quando surge um personagem Melquisedeque, rei
de Salém, em 2000 a.C. O nome Jerusalém é composto de Jebus e Salém. Os
jebuseus foram os primeiros moradores da cidade e só dominados nos dias de
Davi, quando seus homens conseguiram entrar pelo aqueduto que levava água
da fonte para a cidadela. Dali em diante passou a ser capital do reino de Davi,
e assim tornou-se a capital74.
E, passando eu por ti, estendi sobre ti as abas do meu manto (v.8). Este
era um costume muito afetuoso entre os judeus antigos, conforme Rute 3.9.
Alguns comentadores interpretam este verso como uma referência ao Sinai, o
que bem pode ser certo. Os versos 8-14 talvez se refiram à prosperidade dos
dias faustosos de Salomão. Todos os governos do mundo a cortejavam e a
desejavam como aliada. A sua fama corria entre as nações (v.14). E quem é
que não quereria ter boas relações com a cidade faustosa? Tudo isto é retratado
nesta profecia em forma amorosa e idílica, como seEzequiel Partemoça
fora uma I
grandemente cortejada por príncipes e reis da terra. Mas as próprias coisas que
Deus dera a Israel vieram a ser meios da sua ruína; sua beleza, seus vestidos,
suas jóias e seu alimento. Até os filhos da sua união com o Senhor foram
oferecidos em sacrifício pagão..
v. 23-25. O profeta depois de tratar do pecado da idolatria nos lugares
altos, se volta contra a prática de cultos pagãos na cidade de Jerusalém. A
linguagem sugere que santuários eram estabelecidos nas esquinas das ruas,
mais tendo em vista termos tais como “lugar eminente”, é provável que se trate
de santuários nos telhados.
v. 26-29. As prostituições específicas com os egípcios, os filisteus, os
assírios e os babilônios se referem tão somente à infidelidade religiosa como
também à intriga e às alianças políticas. A hostilidade dos profetas contra
semelhantes afiliações políticas era apenas parcial porque consideravam que
demonstravam uma falta de confiança no poder posterior de Javé. A razão
principal era que, em qualquer aliança deste tipo entre uma potência menor e
uma maior, era normal que a parte mais fraca adotasse ao seu sistema religioso
os deuses e o culto da parte mais forte, o sinal de que aceitava o seu patrocínio.
74
2 Samuel 5.6-10; Gênesis 14.18-25.
120 Profetas
Maiores_________________________________________________
inconfundível palavra de julgamento. Mantendo a linguagem da alegoria, Ele
promete que os próprios amantes de Israel serão os agentes da sua devastação.
Eles a cercarão e a desmascararão publicamente (v.37) e aplicarão a ela o
castigo devido à adúlteras e infanticidas. Somente depois de toda devastação
ter acontecido para que todos vissem, e depois de Israel ter se tornado incapaz
de se prostituir mais, é que a ira de Deus será aplacada e não mais se indignará
(v.42).
75
Jeremias 31.31-34.
76
“Dizeis, porém: O caminho do Senhor não é justo. Ouvi, pois, ó casa de Israel: Acaso não é justo o meu
caminho? Não são os vossos caminhos que são injustos?” Je 18.25.
121 121
1) COMENTÁRIO
77
2 Coríntios 5.21.
122 Profetas
Maiores_________________________________________________
nenhum ato de escolha pessoal, mas sim, uma exigência simbólica que Deus
lhe fez, que acentuou a amargura de sua perda.
Todos aqueles que são chamados por Deus, frequentemente tem de
pagar um alto preço por sua solicitude com as necessidades humanas e por sua
identificação com o propósito de Deus. Para o profeta Ezequiel, certamente,
haveria o fardo adicional de ser mal entendido e criticado por demonstrara
insensibilidade. Por detrás da frase, no v.18 “Assim falei ao povo pela manhã,
e à tarde morreu minha mulher; e fiz pela manhã como se me deu ordem”,
devem ter ocorrido longas horas de insônia e de angústia espiritual.
Sua esposa morreu às súbitas, isto não exige uma morte repentina,
porque “golpe” pode significar praga ou pestilência, ou qualquer coisa que
fosse um golpe mortal. Os costumes de luto refletidos nestes versos são
interessantes. Cinco aspectos podem ser observados:
78
Êxodo 28.17-20.
79
Js 4.2; Sl 81.3; Jl 2.15; Am 3.6.
124 Profetas
Maiores_________________________________________________
derramarei (6), reflete o conceito da culpa do sangue, que é comum em boa
parte do pensamento vetero-testamentário, segundo o qual o derramante do
sangue de um homem por outro propositadamente, acidentalmente, ou ainda
por falta de responsabilidade, envolvia aquele que derramou o sangue no
estado de culpa, e o parente do morto no dever de vingar sua morte.
80
2 Pedro 3.9.
125 125
81
Isaías 42.1; 44.3; 59.21; Jl 2.28-29.
126 Profetas
Maiores_________________________________________________
nas ocasiões posteriores. Para ele, portanto, a restauração de Israel era o inicio
dos últimos dias, a era do Messias.
82
Je 4.5-6; 26; Jl 2.20.
83
40.6-16; 20-27; .28-37; 38-47; 40.48-41.26.
128 Profetas
Maiores_________________________________________________
padrão de Ezequiel. Outro ponto de vista é o chamado de dispensacionalista.
Esta posição faz uma abordagem literal e futurista que se refere aos últimos
dias, quando se supõe que todas as profecias acerca do futuro glorioso de Israel
serão literalmente cumpridas numa nova dispensação. O quarto ponto de
vista é considerar estes capítulos, não como profecia, mas, sim como
apocalíptica, e interpretá-los de acordo com os cânones deste estilo de
literatura hebraica. Seus aspectos são o simbolismo, a simetria numérica, e o
futurismo. Já notamos como 38-39 foram expressos neste estilo, e 40-48,
embora seus conteúdos sejam bem diferentes, pendem na mesma direção. Esta
interpretação parece adotar o conceito mais realista do caráter literário dos
textos, a mensagem do profeta nestes capítulos pode ser resumida da seguinte
maneira:
• A perfeição do plano de Deus para o seu povo restaurado, expressa
simbolicamente na simetria imaculada do edifício do templo.
• A centralidade da adoração na nova era, sendo que sua importância
é expressa na atenção escrupulosa aos pormenores na observância
de todos os seus ritos.
• A presença permanente do Senhor no meio do Seu povo.
1 – INTRODUÇÃO GERAL
84
Daniel 1.1.
131 131
c) Esboço do Livro.
I. O Contexto Histórico........................................................................(1.1-21).
2 - COMENTÁRIO I (1-6).
85
2 Reis 24.10-25.21.
86
Jeremias 25.1,9; 46.2.
133 133
87
Isaías 43.2.
134 Profetas
Maiores_________________________________________________
teria interpretado o motivo como sendo traiçoeiro, considerando a Aspenaz
culpado de cumplicidade. Foi um oficial de status inferior que cooperou com
eles, o cozinheiro-chefe. Com a conivência dos chefes dos eunucos, ele
evidentemente trocava as iguarias reais destinadas a Daniel e seus
companheiros pela sua própria comida, beneficiando-se assim com a troca;
esse fator também representa uma garantia de que o segredo seria guardado.
O resultado da experiência de dez dias justificou a confiança de Daniel
de que a sua saúde não sofreria dano. Mesmo um pequeno ato de
autodisciplina, feito por lealdade como um principio, coloca os servos de
Deus sob a sua aprovação e bênção. A invisível mão de Deus dirige todo curso
dos acontecimentos (v. 2,9) e dá não somente saúde física mais também vigor
intelectual aos seus fiéis servos. O dom particular de Daniel de entender visões
e sonhos era apropriado à sua necessidade numa terra em que tal coisa era
esperada de homens sábios, e o Deus que é a fonte de todo o conhecimento
daria discernimento para distinguir o certo do errado.
Encantado com o desempenho deles (18-20), o rei os tinha em sua
presença, para servirem-no.
Em sua
dependência da
misericórdia de Deus
Daniel procura os seus
companheiros, que vêem
as coisas como ele, para
que se juntem a ele em
oração por uma revelação
do conteúdo dos sonhos, e
ao fim da sua oração de
gratidão reconhece a sua
ajuda.O que estava oculto
para os sábios da
Babilônia foram
reveladas a Daniel. Onde
os primeiros haviam sido
impotentes, o deus do céu
se mostrou capaz de
revelar aos seus servos o
que estes precisavam
saber. Numa visão de
noite Daniel viu o que o
rei tinha visto em seu sonho e ainda compreendeu do que se tratava.
A primeira preocupação de Daniel é mostrar não ter ele nenhum poder
ou qualificação especial; mas há um Deus nos céus que é não só
suficientemente grande, mas também disposto a fazer conhecido o sonho. A
atitude do profeta difere da de Arioque, o capitão da guarda,Daniel Parte
pois não I de
fala
si mesmo porque foi Deus quem havia revelado o sonho a Nabucodonosor, e
o que há de ser nos últimos dias. Esta expressão nos profetas é bastante geral,
não significa o fim do mundo, mas o que vai acontecer um dia.
O rei sonhara com uma grande estátua diante dele. Tinha forma
humana, feita de metal reluzente e de aparência terrível, com aquele tipo de
terror numinoso de que os sonhos às vezes são veículos. Da sua cabeça de
ouro aos frágeis pés de barro misturado com ferro, ele representava uma figura
desequilibrada, sujeita a cair e se quebrar. Para colaborar nesse processo, uma
pedra, movida por um poder sobre-humano, feriu a estátua nos pés, quebrando
em seguida todas as partes da estatua.
A Babilônia de Nabucodonosor é a Cabeça de Ouro, que substituída por
prata e a prata por bronze, sendo mesmo assim impérios mundiais, e não, na
interpretação de Daniel, sucessores do trono babilônico. O peito e os braços
de prata simbolizam o imprimo medo-persa. Como a figura já indica, os dois
braços ligados pelo peito representam um império que seria formado pela
136 Profetas
Maiores_________________________________________________
união de dois povos, os medos e os persas. Nesse reino o rei não estava acima
da lei, mas sob ela. Os quadris de bronze, que representam o império grego
estabelecido por Alexandre o Grande, em 333 a.C. Alexandre Magno dominou
mundo inteiro, mas seu reino desintegrou-se com sua morte. As pernas de
ferro e dos pés de ferro e barro (v. 33,40-43), trata-se do império romano. Era
o mais forte dos quatro. Mas, internamente, seu valor era inferior aos seus
predecessores, como o ferro é inferior a outros metais. Ao mesmo tempo, o
império romano era forte como o ferro, mas débil como o barro (baixo nível
moral). Finalmente explica a respeito da pedra que esmiúça a estátua, esta
pedra cortada... sem auxilio das mãos, divinamente preparada e atirada com o
objetivo de realizar o plano divino. Este desenvolvimento acima de todos os
eventos da historia está além do conhecimento humano; mas Nabucodonosor
achou favor da parte de um grande Deus, que mostrou o futuro a ele.
A pedra representa o Reino de Cristo que vem, e destrói todos os reinos
e enche toda a terra. O Reino de Cristo já veio na encarnação histórica do
Logos. Ele está em nós e dentro de nós. Mas, na segunda vinda de Cristo, os
reinos deste mundo serão destruídos, e o Reino de Cristo será estabelecido
totalmente. Então todo joelho se dobrará e toda a língua confessará que Jesus
é o Senhor, o grande Rei. Cristo colocará todos os seus inimigos debaixo dos
seus pés.
(v.19). Depois de mandar aquecer a fornalha sete vezes mais, o rei envia
Soldados de elite para amarrarem os três condenados, para evitar que
pudessem se debater e de alguma forma escapar à punição. O rei dando ordens,
impacientemente, viu seus criados se tornarem vítimas da fornalha, enquanto
cumpriam seu dever. Em vez de três homens amarrados, Nabucodonosor vê
quatro homens soltos. O quarto homem é semelhante ao filho dos deuses ou
semelhante a um deus, a despeito de sua aparente humanidade, e começa ficar
claro para o rei que há um Deus que pode livrar alguém da sua mão. Os três
homens estão livres para irem ao seu encontro quando os chama saindo da
fornalha.
O rei fica impressionado pela ausência de quaisquer sinais de
queimadura, Nabucodonosor foi compungido a reconhecer que o Deus deles
os havia livrado, reduzindo a nada o decreto de Nabucodonosor. O poder do
rei está longe de ser absoluto. Ele tinha deixado fora dos seus cálculos o Deus
Altíssimo (v.26), cujo poder passa a reconhecer no decreto do Daniel Parte
verso 29. I
d) Interpretação da Visão da Árvore de Nabucodonosor (4.1-27).
Um sonho misterioso que alarmara o rei e havia deixado confusos os seus
especialistas em interpretações fora relatado a Daniel (4-18), depois de alguma
hesitação, este contara o rei o seu significado (19-27). Um ano depois o rei foi
acometido de uma doença mental, que finalmente o abandonou, quando
“levantou os seus olhos para o céu”. A sua alegre resposta, então, foi dar
graças ao Deus Altíssimo e publicar suas experiências (28-37). Assim, não
apenas reinos, mas também reis individualmente são mostrados como estando
debaixo do controle do Deus de Israel, que havia afligido ao rei por desejar
mostrar-lhe misericórdia.
Mas ressaltando, o sonho perturbador, foi que o rei via uma árvore no
meio da terra, cuja altura chegava ao céu e era vista até os confins da terra.
Havia nela sustento para todos, e todos os seres viventes dependiam dela. Um
vigilante que descia do céu deu ordens para derribar a árvore e afugentar todos
os animais. Mas a cepa com as raízes devia ser deixada para ser molhada pelo
orvalho do céu até que passassem sobre ela sete tempos. O sonho do rei tem
uma aplicação pessoal clara.
138 Profetas
Maiores_________________________________________________
Daniel deu ao sonho uma interpretação corajosa. A árvore frondosa, que
cresceu, tornou-se notória, grande, poderosa e esplêndida, ela era o próprio rei
(v.22). A ordem para cortar a árvore vem do céu, como um decreto do Deus
Altíssimo. O significado é que o rei será expulso de entre os homens para
morar com os animais do campo como um bicho, até que reconheça que o
Altíssimo tem o domínio sobre o reino dos homens (v.25).
aquele reino que Belsazar perdeu, ele também perdeu o Reino de Deus. O rei
sobrepujou a linha divisória da paciência de Deus.
1 – COMENTÁRIO.
142 Profetas
Maiores_________________________________________________
a) Visão dos Quatro Animais e o Filho do Homem (7.1-28). A visão
trata de quatro grandes animais que vem subindo do mar; três deles apresentam
alguma semelhança com animais conhecidos, mas o quarto é grotesco, tendo
dez chifres, um dos quais é mencionado de forma especial. Neste ponto Daniel
vê a sala do trono do céu e o espantoso resplendor do “Ancião de Dias”,
assentado para executar o juízo contra os animais, cujo reino foi dado a “um
como o filho do homem”. “Um dos quais estavam perto” respondeu às perguntas
feitas por Daniel, mas os mistérios permanecem, e a visão que tão
profundamente perturbou a Daniel continua a nos ocupar hoje, nós “sobre quem
os fins dos séculos têm chegado”.
O capitulo 7 está dividido em duas grandes partes, os versos 1 a 14
retratam o sonho de Daniel; os versos 15 a 28, a interpretação do sonho. Este
capítulo trata do desenrolar da história humana até o fim do mundo. Se olharmos
apenas para os reinos deste mundo somos o povo menos favorecido da terra,
mas se olharmos para o trono de Deus somos o povo mais feliz da terra. Os
impérios do mundo surgem, prosperam e desaparecem, mas o reino de Cristo
permanece para sempre. Na convulsão terrível da história, Daniel olha e vê Deus
assentado no trono.
Os quatro ventos que agitam o mar vêm do céu. Esses quatro ventos
falam da universalidade e totalidade do mundo, o mundo todo está envolvido
nos acontecimentos. São fatos de alcance mundial. Como o mar é um símbolo
dos povos em sua convulsão histórica e o vento um símbolo da intervenção de
Deus na terra, podemos afirmar que o levantamento dos reinos do mundo é
um ato da soberania de Deus. Ele levanta reinos e abate reinos. Estes quatro
animais representam quatro reis, ou seja, quatro impérios (Dn 7.3-7,17)
superior, aqui anônimo. Ele não adquire o domínio por suas próprias
capacidades.
Se os outros animais já representavam o que há de mais poderoso e
selvagem para o homem, há algo pior por vir, um quarto animal, terrível,
espantoso e sobremodo forte. Seus grandes dentes de ferro podem ter
correspondência como estrato da imagem do capitulo 2; contudo, enquanto a
imagem é estática, aqui temos ação do tipo mais cruel. Tinha dez chifres: os
chifres de um animal representam a sua força, em autodefesa ou em ataque.
Seus olhos como o de homem dão a chave que indica que o pequeno chifre
simboliza um governante humano. Esse quarto animal é uma descrição do
império romano.
Embora a visão continue sem interrupção, é conveniente fazer uma
síntese deste capítulo até aqui, com o propósito de chegar a um denominador
comum, ainda que tentativo, com relação ao seu significado. Governantes
mundiais, vislumbrados por trás do fino véu das imagens, todos inspiram
terror, e mais ainda à medida que a história progride, pois o pior está reservado
para o fim. Além disso, a visão tem lugar de noite, quando a escuridão coopera
para deixar o temor e a imaginação excepcionalmente vividos. Se for correta
a hipótese de alguns comentadores, de interpretar o grande mar como uma
referência ao abismo mítico da literatura babilônica, lugar de toda espécie de
monstros, pouco se acrescenta à intensidade da reação emocional, embora a
afirmação de que estamos no âmbito de temores bem primitivos seja
reforçada.
(v. 8). O pequeno chifre é pequeno só no começo, mas cresce
progressivamente até distinguir-se como mais robusto que os outros chifres
Danielescatológica,
(v.20). O pequeno chifre simboliza o Anticristo, em perspectiva Parte II
e seu governo será a expressão de poder mais forte na terra até ser desarraigado
por Cristo.
O Ancião de dias é uma expressão rara. A deslumbrante brancura das
veste e dos cabelos sugeririam pureza, e à medida que ia percebendo o fogo
do trono e das rodas, a semelhança com a visão de Ezequiel o convencia que
estava contemplando o próprio céu (Ez 1.26-29), e a carruagem-trono do
Senhor, da qual manava um rio de fogo. O pensamento não é original de
Daniel. O fogo frequentemente representa a presença de Deus. É algo
apropriado que inumeráveis servos estejam diante do juiz supremo. A
descrição caminha para um clímax, o julgamento está para começar, o tribunal
está assentado, as provas apresentadas por escrito.
Quanto aos outros animais. Causa um pouco de surpresa que os três
reinos primeiramente mencionados ainda sobrevivam. Dois pontos, pelo
menos, são claros: a) seja quem for que os animais originais representem, seus
reinos continuam tendo uma identidade reconhecível; b) a história por esta
144 Profetas
Maiores_________________________________________________
altura, ainda não chegou aos seu fim, apesar da intervenção do juízo de Deus,
embora a expressão um prazo e um tempo indique um futuro limitado.
E dirigiu-se ao Ancião de dias (v.12). Agora se justifica o uso da letra
maiúscula, implicando assim na certeza da Sua identidade divina, o grande
Deus presidindo a cerimônia de investidura daquele que é semelhante a
homem, ao qual fizeram chegar até ele. A este homem foi dado domínio e
glória, e o reino. Esta segunda alusão a Gênesis 1 indica um status ainda maior
para a raça humana, maior do que recebeu anteriormente, e isso na pessoa do
“homem” representativo.
88
2 tessalonicenses 2.18.
89
Apocalipse 5.12,13.
147 147
90
Jeremias 25.8-11.
148 Profetas
Maiores_________________________________________________
das setenta semanas em seu primeiro período é a saída da ordem para restaurar
e para edificar Jerusalém. A septuagésima semana é dividida em três períodos:
91
Lucas 3.23.
149 149
lacuna profética. Não crê que a igreja é apenas um parêntese na história. Não
crê que o tempo dos gentios92 faça uma distinção entre Israel e a Igreja. Para
os amilenista Jesus morreu na septuagésima semana, fazendo a expiação dos
nossos pecados (Dn 9.26; Is 53.8). o amilenismo crê que a septuagésima
semana está ligada a primeira vinda, visto que fala da morte do Ungido.
Contudo, no verso 27b vemos que a septuagésima semana compreende a todo
o período da dispensação da graça, visto que vai da morte do Ungido até o
aparecimento do assolador, o anticristo.
92
Rm 11.25; Lc 21.24.
150 Profetas
Maiores_________________________________________________
certeza. Daniel fala de uma ressurreição corpórea, ele não fala do sono da
alma. É o corpo e não a alma que dorme no pó da terra.
(2) O segundo é o tempo da ressurreição. A ressurreição se dará
no tempo do fim, na segunda vinda de Cristo, na consumação dos séculos (Dn
12.2; Jo 5.28,29; 1 Co 15.51,52; Ap 20.12,13). Ate mesmo aqueles que o
traspassaram verão a Jesus em sua vinda.
(3) Terceiro os sujeitos da ressureição. A expressão muitos deve
ser entendida aqui por todos. É uma maneira hebraica de chamar a atenção
para a grandeza dos números envolvidos. Embora todos ressuscitem, nem
mesmo tem o mesmo destino. Daniel fala da ressurreição geral que se dará na
segunda vinda de Cristo para o grande julgamento.
(4) Quarto, os resultados da ressurreição. Daniel proclama duas
realidades após a morte: a bem-aventurança eterna e as penalidades eternas.
“Devemos ser fiéis a Deus, não apenas pelo que Deus faz, mas por
quem Deus é.” Hernandes Dias Lopes
151 151
Conjectura: Suposição.
154 Profetas
Maiores_________________________________________________
Exílio: O lugar onde reside o exilado, ou seja, aquele que foi banido.
Inexaurível: Inesgotável.
• Ridderbbos, J. Isaías. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. São Paulo, SP.