solações. Sendo divina, é Sofia a Dispensadora das primei
ras irradiações da Espiritualidade e da Luz que alumia as almas. Naquela irradiação, ela envolve os que a ela recor rem, e é a assistência da Virgem do Mundo que os noviços da Ordem dos Magos não cessam de invocar, porque bem sa bem êles que a boa Mãe atende a tôdas as súplicas sinceras. Em certa manhã, achava-se Baltazar assentado no alpen dre da sua nova residência, quando o seu criado de confiança lhe veio anunciar que, para fazer-lhe comunicações importan tes, um visitante o estava esperando no salão. Foi imedia tamente ao seu encontro e achou-se frente a frente com um estrangeiro, cuja aura lhe produziu a mais agradável impres são, reconhecendo desde logo um caráter positivo, uma alma bela e nobre, mas perturbada por angústias que lhe pareciam provenientes de um pesar secreto. Esta impressão psíquica, como tôdas as que ele sentia quando encontrava pela primeira vez um desconhecido, nunca o enganava. Observou, em se guida, a aparência exterior do visitante. Era um homem de trinta e cinco anos, estatura alta, fronte larga que deixava adi vinhar seus hábitos de meditação. O aspecto era nobre e pró prio para mandar, não obstante exprimirem seus belos olhos a maior meiguice. Os cabelos eram negros como o ébano e o nariz aquilino denotava grande fôrça de caráter. Em suma, a expressão de sua fisionomia era, ao mesmo tempo, suave e firme, evelando a posse de si próprio, ao mesmo passo que uns toques de resignação e até de tristeza. Baltazar julgou que o rosto daquele estrangeiro, sob a influência da contemplação das coisas divinas, podia iluminar se até o ponto de tomar uma expressão de suavidade angélica. Não era, seguramente, um visitante ordinário. Sua rara dis tinção, a dignidade do seu porte e a inteligência que lhe bri lhava nos olhos, sobejamente o atestavam. Por outro lado, a impressão que o Mago produziu no es trangeiro foi igualmente profunda. Quando Baltazar apare ceu na porta do salão, vinha precedido de uma irradiação áu rica poderosíssima que testemunhava os atributos de uma es piritualidade elevada. Aquela irradiação foi agindo gradual 10 A. VAN DER NAIL L EN
mente no visitante e acabou por inspirar-lhe a mais profunda
admiração ao Mago. Convenceu-se de que a personagem que exercia sôbre ele uma ação tão intensa era realmente um ser superior aos outros homens e dotado de poderes divinos acima da concepção do comum dos mortais. Daí, concluiu o estran geiro, imediatamente, que os segredos e sentimento da natu reza mais delicada podiam ser confiados a um homem como aquele, na certeza de que seriam bem compreendidos e apre ciados. Sentiu que acharia nêle um acolhimento simpático, um guia esclarecido e o melhor dos conselheiros acerca das questões de grande importância moral e espiritual que pare ciam agitá-lo naquele mesmo instante. As impressões felizes que aqueles dois homens experimen taram um para com o outro, deram em resultado o inspirarem se uma inteira e mútua confiança, mesclada de viva simpatia. O visitante inclinou-se profundamente diante do Mago mas
êste sinal de respeito não excluía aquela distinção aristocrá
tica que é o apanágio ordinário dos que são oriundos de uma raça nobre. O Mago estendeu-lhe a mão, significante de afe tuosas boas vindas. Entrando em matéria, o visitante fez-lhe logo conhecer os motivos da sua presença ali. - “Senhor Mário começou êle - permita-me que lhe chame assim, porque é com este nome que a sociedade o co nhece eu soube que está investido das altas funções de Mago. Reconheço tôda a importância dêste fato e avalio a enorme soma de saber de que ele é o apanágio. Porisso, me determinei a vir conversar consigo e pedir-lhe conselhos. Quer me esclarecer nas minhas aspirações espirituais? Quer me prestar a assistência das suas luzes para dissipar a minha incerteza e as angústias que sinto?” Enquanto assim falava, ia o Mago impressionando-se pela suavidade inteiramente particular da sua voz, cujas entona ções musicais se harmonizavam com a expressão igualmente muito meiga dos seus olhos. As suas belas mãos de longos dedos afusados, os seus gestos sobrios e cheios de dignidade, o sorriso gracioso da sua boca guarnecida de belíssimos dentes,