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p Estratégia Aula 01 - Prof. Antonio Daud CNU (Bloco 4 - Trabalho e Satide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pés-Edital) Autor: Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa 20 de Janeiro de 2024 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Indice 4) Conceito, caracteriticas, divs, neturaza, fungtiea @ aulonomia do Dirita do Trabalho... ee 2) Principios do Dieito do Trabalho coe ce eT 3) Fontes do Direito do Trabalho. 4) Direitos Constitucionais dos Trabalhadores 5) Questées Comentadas - Principios do Direito do Trabalho - Cesgranrio 60 6) Questées Comentadas - Principios do Direito do Trabalho - Cebraspe sommeiae sisson OB 7) Questées Comentadas - Fontes do Direito do Trabalho - Cebraspe 8) Questoes Comentadas - Direitos Constitucionais dos Trabalhadores - Cebraspe 9) Lista de Questées - Principios do Direito do Trabalho - Cesgranrio. . . sve 02, 10) Lista de Quest6es - Princ{pios do Direito do Trabalho - Cebraspe ssn sve 104, 11) Lista de Questoes - Fontes do Dirsito do Trabalho - Cebraspe 110 12) Lista de Questoes - Direitos Constitucionais dos Trabalhadores - Cebraspe 112 GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico one 2 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud CONCEITO, CARACTERISTICAS, DIVISAO, NATUREZA, FUNGOES E AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO Inicialmente veremos o tépico “Conceito, caracteristicas, divisdo, natureza, fungdes e autonomia do Direito do Trabalho", em que abordaremos os fundamentos do Direito do Trabalho, sua formagao histérica, as tendncias atuais, incluindo flexibilizagdo e desregulamentacao, e ainda o valor do trabalho e a dignidade nas relacdes de trabalho. Conceito, caracteristicas, divisdo, natureza, fungdes e autonomia do Direito do Trabalho Ao longo do nosso curso, vocé perceberé que o Direito do Trabalho tem uma forte caracteristica: proteger o trabalhador. E é dai que extraimos o fundamento deste ramo do Direito: ao pressupor que o trabalhador é hipossuficiente, ante a desigualdade existente entre o detentor do capital (empregador) e o detentor da forca de trabalho (empregado), conclui-se que o empregado nao poderia negociar livremente sua forga de trabalho. E come dizia o francés Abade Lacordaire: “entre 0 patrao e 0 operatio, é a liberdade que oprime e alei que liberta”. Tomando emprestadas as palavras de Ricardo Resende’, pode-se conceituar Direito do Trabalho como sendo 0 ramo da ciéncia juridica que estuda as relagdes juridicas entre os trabalhadores e 0s tomadores de seus servicos, em especial as relacdes entre empregados e empregadores. Atualmente, nao mais restam diividas acerca da autonomia do Direito do trabalho, na medida em que este constitui um ramo auténomo da ciéncia juri De forma geral, 0 Direito material do Trabalho é subdividide em: a) Direito Coletivo do Trabalho, que trata das relacées de determinado grupo, classe ou categoria, em geral reunidos em um sindicato;e b) Direito Individual do Trabalho, que trata das relages entre empregado e empregador. " RESENDE, Ricardo. Diteito do Trabalho Esquematizado. 7 ed. Método, 2012, p. 1. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 3 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Em relacSo a natureza do Direito do Trabalho, a despeito da infindavel discussio a respeito de ser parte do Direito Publico ou do Direito Privado, a doutrina’ tem entendido que a substancia central do Direito do Trabalho (relagao de emprego), levaria & conclusao de que o Direito do Trabalho tem natureza de Direito Privado, haja vista que a relagio se daria entre particulares. Além disso, mesmo que o Estado esteja em um dos polos desta relacio, trata-se de uma relago de direito privado. Entre suas principais fungdes, estaria a de impedir a exploragao do trabalho humano como fonte de riqueza dos detentores do capital, de modo que, originalmente, teria sido concebido como verdadeiro instrumento de protegao do polo mais fraco da relacao de trabalho (trabalhador). Nesse sentido, lembramos que o desenvolvimento do Direito do Trabalho se deu a partir do século XIX, ensejado pela primeira Revolucao Industrial, a partir dos movimentos dos operérios que buscavam melhoria das condicdes de trabalho, em especial a limitaco da jornada. Em decorréncia da pressdo desse movimento operario, iniciou-se uma intervencao do Estado no sentido de regulamentar alguns desses direitos, o que teria coincidido com o reconhecimento dos direitos fundamentais de segunda dimensao (direitos sociais) e com o Estado de Bem-Estar Social. Atualmente, entende-se que a protecdo do trabalhador relaciona-se ao principio da dignidade humana, de sede constitucional. A seguir, uma questo a respeito destes primeiros assuntos: © Direito do Trabalho deve ser considerado produto cultural do século XIX e das transformagoes condigées sociais, econdmicas e politicas que colocam a relagio de trabalho subordinada como \icleo do processo produtivo caracteristico daquela sociedade e que tornaram possivel 0 parecimento deste ramo novo da ciéncia juridica, com caracteristicas préprias e autonomia loutrinaria. jabarito (correta). Avancando, salienta-se que a CF, apesar de ter reforcado a protecao e garantido direitos minimos ao trabalhador, autorizou a flexibilizagao dos direitos trabalhistas que sejam de indisponibilidade relativa, como sendo aqueles de caréter privado, nao previstos em lei ou na prépria CF como tal (por exemplo, direitos estipulados em acordo ou convengie coletiva de trabalho ou no regulamento da empresa). * DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. Sao Paulo: LTr, 2073, p. 66-67. NU (Bloco 4 - Trabalho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos -Eixo Temético 5-Direit6do 4 ho-20 www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mar Aula 01 - Prof. Antonio Daud Por outro lado, profbe-se a flexibilizagao dos direitos de indisponibilidade absoluta, pois estariam ligados ao principio da dignidade humana Além disso, entende-se incompativel com o Direito do Trabalho a desregulamentagao das relacées trabalhistas. Notem que a desregulamentagao (diferentemente da “flexibilizagdo”) pressupde a auséncia de intervengao estatal, de modo que as partes poderiam estipular livremente os ireito do Trabalho. contratos de trabalho. Tal situacao nao é admitida no ambito do Portanto, distinguindo flexibilizac3o e desrequlamentac4o, podemos dizer que, na flexibilizagao, 0 Estado mantém sua intervengao nas relacdes de trabalho. O que acontece quando se autorizam regras menos rigidas, mas mantém-se o chamado “minimo existencial”. Ja quando se fala em desregulamentacao, observa-se um fenémeno mais radical, em que o Estado deixa de intervir nas relag6es de trabalho, deixando que as partes negociem livremente. Em termos de caracteristicas do Direito do Trabalho, a doutrina* aponta: a) a tendéncia (...) & ampliagdo crescente; b) 0 fato de ser um direito (...) de reivindicacao de classe; c) de cunho intervencionista; ) 0 carter cosmopolita, isto 6, influenciado pelas normas internacionais; @) 0 fato de os seus institutos juridicos mais tipicos serem de ordem coletiva ou socializante; ) 0 fato de ser um direito em transicao. Evoluc¢&o histdrica do Direito do Trabalho O desenvolvimento do Direito do Trabalho se deu a partir do século XIX, em decorréncia dos movimentos operdrios surgidos a partir da revolugae industrial, os quais buscavam a limitacdo da jornada de trabalho e melhoria das condigées de trabalho, de modo geral * BARROS, Alice Monteiro de, Curso de Direito do Trabalho. Sao Paulo: Ltr, 2005. p. 87. NU (Bloco 4 - Trabalho e Satide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico 5 - Dis www.estrategiaconcursos.com.br Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mar Aula 01 - Prof. Antonio Daud Tal movimento ganhou forcas com 0 reconhecimento dos direitos fundamentais de segunda dimensao, j4 no inicio do século XX, abrindo caminhos para a regulamentacéo de normas trabalhistas. No Brasil, vale destacar a promulgaco da Constituicao Federal de 1988, que garantiu direitos fundamentais ao trabalhador, assegurando-lhe* 0 “minimo existencial”, a partir do principio da dignidade da pessoa humana. + RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 7 ed. Método, 2012, p. 23 GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico winwestrateglaconcursos.com.br Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud ICONSIDERAGOES INICIAIS Oi amigos(s), Iniciaremos agora nosso curso de Direito do Trabalho. O tema da aula de hoje é bastante cobrado, de uma forma geral. Portanto, fiquemos todos atentos! DESENVOLVIMENTO Inicialmente veremos 0 topico “Conceito, caracteristicas, diviséo, natureza, funcdes e autonomia do Direito do Trabalho”, em que abordaremos os fundamentos do Direito do Trabalho, sua formago histérica, as tendéncias atuais, incluindo flexibilizaco e desregulamentacao, e ainda o valor do trabalho e a dignidade nas relacdes de trabalho. Na sequéncia, veremos o tdpico “Principios do direito do trabalho”, no qual iremas discorrer acerca dos principais itens que surgem em provas. Apés isto iremos estudar sobre as “Fontes do Direito do Trabalho", os “Direitos constitucionais dos trabalhadores” e, por fim, veremos Rentincia e Transacao. Quanto a este peniltimo tdpico, é importante frisar que, na Constituicdo Federal de 1988 (CF/88), sio elencados direitos que se relacionam aos mais diversos assuntos deste curso. Desta forma, comentaremos nesta aula sobre todos os direitos constantes da CF/88, mas, por questées didaticas, o aprofundamento das regras pertinentes sera realizado nas aulas respectivas. Exemplo: comentaremos brevemente nesta aula sobre os incisos que tratam de limitago de jornada, mas o aprofundamento do assunto seré feito na aula especifica sobre “jornada de trabalho”. Sendo assim, aproveitem este topico da aula para decorar a literalidade dos direitos constitucionais (que cai bastante em prova) e depois, nas demais aulas, aprofundaremos os temas incluindo a jurisprudéncia do TST e a legislacao especifica. Por fim, estudaremos brevemente a Hermenéutica, estudando métodos de interpretac3o, integracio e aplicagao do Direito do Trabalho. Conceito, caracteristicas, diviséo, natureza, fungdes e autonomia do Direito do Trabalho [NeRENGNN WET mi SSN Ao longo do nosso curso, vocé perceberd que 0 Direito do Trabalho tem uma forte caracteristica: proteger 0 trabalhador. NU (Bloco 4 - Trabalho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos -Eixo Temético 5-Direit6do 7 ho-20 www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud a0 pressupor que o trabalhador é E é dai que extraimos o fundamento deste ramo do Direit hipossuficiente, ante a desigualdade existente entre o detentor do capital (empregador) e 0 detentor da forca de trabalho (empregado), conclui-se que o empregado nao poderia negociar livremente sua forca de trabalho, E como dizia o francés Abade Lacordaire: “entre 0 patrao e 0 operério, é a liberdade que oprime e a lei que liberta”. Tomando emprestadas as palavras de Ricardo Resende’, pode-se conceituar Direite do Trabalho como sendo 0 ramo da ciéncia juridica que estuda as relacdes juridicas entre os trabalhadores e os tomadores de seus servicos, em especial as relacdes entre empregados e empregadores. Atualmente, ndo mais restam duvidas acerca da autonomia do Direito do trabalho, na medida em que este constitui um ramo auténomo da ciéncia juridica. De forma geral, 0 Direito material do Trabalho é subdividido em: a) Direito Coletivo do Trabalho, que trata das relagées de determinado grupo, classe ou categoria, em geral reunidos em um sindicato;e b) Direito Individual do Trabalho, que trata das relagées entre empregado e empregador. Em relagdo a natureza do Direito do Trabalho, a despeito da infindavel discussio a respeito de ser parte do Direito Publico ou do Direito Privado, a doutrina? tem entendido que a substancia central do Direito do Trabalho (relaco de emprego), levaria 4 conclusdo de que 0 Direito do Trabalho tem natureza de Direito Privado, haja vista que a relac3o se daria entre particulares. Além disso, mesmo que 0 Estado esteja em um dos polos desta relaco, trata-se de uma relacio de direito privado. Entre suas principais funges, estaria a de impedir a exploracao do trabalho humano como fonte de riqueza dos detentores do capital, de modo que, originalmente, teria sido concebido como verdadeiro instrumento de protecao do polo mais fraco da relacao de trabalho (trabalhador). Nesse sentido, lembramos que 0 desenvolvimento do Direito do Trabalho se deu a partir do século XIK, ensejado pela primeira Revolucao Industrial, a partir dos movimentos dos operarios que buscavam melhoria das condigées de trabalho, em especial a limitagao da jornada. Em decorréncia da pressio desse movimento operatio, iniciou-se uma intervengao do Estado no sentido de regulamentar alguns desses direitos, o que teria coincidido com o reconhecimento dos direitos fundamentais de segunda dimensio (direitos sociais) e com 0 Estado de Bem-Estar Social. " RESENDE, Ricardo, Direito do Trabalho Esquematizado. 7 ed. Método, 2012, p. 1 * DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. Sao Paulo: LTr, 2013, p. 66-67. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 8 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Atualmente, entende-se que a protecao do trabalhador relaciona-se ao principio da dignidade humana, de sede constitucional. A seguir, uma questo a respeito destes primeiros assuntos, gabarito (correta): FCC/Juiz do Trabalho ~ 1 Concurso Nacional ~ 2017 (adaptada) 0 Direito do Trabalho deve ser considerado produto cultural do século XIX e das transformagées e condicées sociais, econdmicas e politicas que colocam a relacdo de trabalho subordinada como niicleo do proceso iento deste ramo novo da produtivo caracteristico daquela sociedade e que tornaram possivel o apar iéncia juridica, com caracteristicas préprias e autonomia doutrinéria. Avangando, salienta-se que a CF, apesar de ter reforcado a protec3o e gerantido direitos minimos 20 trabalhador, autorizou a flexibilizacao dos direitos trabalhistas que sejam de indisponibilidade relativa, como sendo aqueles de carter privado, nao previstos em lei ou na propria CF como tal (por exemplo, direitos estipulados em acordo ou convencio coletiva de trabalho ou no regulamento da empresa). Por outro lado, proibe-se a flexibilizacao dos direitos de indisponibilidade absoluta, pois estariam ligados ao principio da dignidade humana. Além disso, entende-se incompativel com o Direito do Trabalho a desregulamentacao das relacées trabalhistas. Notem que a desregulamentaciio (diferentemente da “flexibilizaco”) pressupde a auséncia de tervencao estatal, de modo que as partes poderiam estipular livremente os contratos de trabalho. Tal situago ndo é admitida no ambito do Direito do Trabalho. Portanto, distinguindo flexibilizacdo e desregulamentacio, podemos dizer que, na flexibilizagao, o Estado mantém sua intervencdo nas relacdes de trabalho. O que acontece quando se autorizam regras menos rigidas, mas mantém-se o chamado “minimo existencial”. 14 quando se fala em desregulamentago, observa-se um fendmeno mais radical, em que o Estado deixa de Intervir nas relagées de trabalho, deixando que as partes negociem livremente. Em termos de caracteristicas do Direito do Trabalho, a doutrina? aponta: a) a tendéncia (..) 8 ampliagao crescente; b) 0 fato de ser um direito (...) de reivindicacao de classe; ¢) de cunho intervencionista; d) 0 carater cosmopolita, isto é, influenciado pelas normas internacionais; €) 0 fato de os seus institutos juridicos mais tipicos serem de ordem coletiva ou socializante; * BARROS, Alice Monteiro de, Curso de Direito do Trabalho. Sao Paulo: Ltr, 2005. p. 87. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 9 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud 4) 0 fato de ser um direito em transicao, Principios do Direito do Trabalho ‘Ao estudar Direito do Trabalho deparamo-nos com diversos principios. Na se¢ao abaixo, falaremos sobre os, ‘mais importantes principios do direito individual do trabalho para fins de concurso. Principio protetor Nas relacdes empregaticias sempre existe o conflito entre o detentor do capital (0 empregador) e o detentor da mao de obra, que é 0 empregado, e essa relacdo entre as partes, naturalmente, é desequilibrada em fun¢do do poder econdmico dos detentores de capital. Informalmente podemos dizer que € a regra de ouro: quem tem o ouro faz as regras Para atenuar esse desequilibrio existente entre o capital e 0 trabalho criou-se o direito do trabalho, que é alicercado no principio protetor (ou principio da protecao). E preciso destacar que, nos Ultimos tempos, tal principio tem sofridos tentativas de esvaziamento, como na reforma trabalhista (Lei 13.467/2017) e na “lei da terceirizagdo” (Lei 13.429/2017), com a ampliago das hipdteses admitidas. Conforme disposto na doutrina, capitaneada pelo jurista Américo Pld Rodriguez, o principio protetor pode ser subdividido nos principios da norma mais favordvel, da condi¢o mais benéfica e in dubio pro operario. Principio da condi¢o mais benehice Principio in dibio pro operério Principio da norma mais favorével Segundo este principio se deve aplicar ao caso concreto, havendo mais de uma norma em vigor regendo 0 ‘mesmo assunto, a que seja mais favordvel ao empregado. Pela aplicacao deste principio, portanto, respeitadas as regras de Hermenéutica Juri aplicacao da norma mais favoravel ao obreiro. ica, deve-se buscar a GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 10 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud E interessante notar que o principio aplica-se mesmo antes que as normas trabalhistas entrem em vigor, ou seja, durante a elaboracao das mesmas. Como ensina o Ministro Mauricio Godinho Delgado*: O presente principio [da norma mais favordvel] dispde que 0 operador do Direito do : Trabalho deve optar pela regra mais favordvel ao obreiro em trés situacdes ou dimensdes distintas: no instante da elaboracdo da regra (principio orientador da elaboracdo legislativa, portanto) ou no contexto de confronto de regras concorrentes (principio orientador do processo de hierarquizaco de normas trabalhistas) ou, por fim, no contexto de interpretacao das regras juridicas (principio orientador do proceso de revelacdo do sentido da regra trabalhista), A visdo mais ampla do principio entende que atua, desse modo, em triplice dimenséo no Direito do Trabalho: informadora, interpretativa/normativa e hierarquizante.” Para visualizar estes desdobramentos vamos analisar 0 seguinte quadro: ‘O principio auxilia a politica legislativa, para que as futuras yy | Elsboragdo dasmormas | >» | is assegurem ou ampliem 0 rol de direitos trabalhistas. ‘Aqui cabe a hierarquizaco das normas, onde teriam lugar a teoria da acumulaco (onde o intérprete seleciona, nas Conironto de regras normas comparadas, os dispositives de cada uma mais Principio da | »»» acer >» | favoraveis ao obreiro) e a teoria do conglobamento (pela norma mais, ‘qual o operador juridico seleciona a regra mais favoravel ao favoravel trabalhador enfacando globalmente seu conjunto. normativo). Respeitada a hermenéutica juridica e o carster logico- a Interpretacio das | |_| sistemstico do cireto, o intérprete, diante de mais de um regras juridicas resultado vélido, optara pela norma mais favordvel a0 trabalhador. Excegées ao principio da norma mais favordvel: 1) Os chamados “preceitos de ordem piiblica” (também conhecidos* como “normas proibitivas estatais"). Vamos tratar desse assunto tomando um exemplo. A prescricdo é um desses temas de ordem publica. O prazo previsto na CF é, como serd estudado mais adiante, de 2 € 5 anos. Se um Acordo Coletivo do Trabalho (ACT) previsse, por exemplo, prazo prescricional de 30 anos, este nao iria prevalecer em relacdo ao prazo constitucional. Abaixo uma questo, correta, que se relaciona ao principio em estudo: ESPE/TRT17 - ANALISTA JUDICIARIO - AREA ADMINISTRATIVA - 2009 § DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 12 ed. Sao Paulo: Tr, 2013, p. 191. * RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizaco. 5a ed, 2015, p. 24. GB cnv Bloco 4 -Trabatho e Saiide do Trabathador) Conhecimentos Especificos -Eixo Tematico 5 -Dieit6do 11 ho-20 wunw.estrateglaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud principio da norma mais favordvel ao trabalhador nao deve ser entendido como absoluto, néo sendo aplicado, por exemplo, quando existirem leis de ordem publica a respeito da mat ‘Além deste caso, com a mudanca promovida pela Lei 13.467/2017 (reforma trabalhista) houve uma nitida tentativa de flexibilizacdo deste principio, passando a se falar em pelo menos outras duas excecées, comentadas a seguir: 2) Para as matérias listadas no art. 611-A da CLT, uma regra prevista em um Acordo Coletivo do trabalho, por exemplo, poderd prevalecer sobre disposi¢o existente no texto de uma lei, ainda que a regra legal seja mais favoravel ao empregado. Portanto, para tais assuntos, houve uma inegavel tentativa de esvaziamento do principio da norma mais favoravel. 3) Segundo as regras da Lei da Reforma Trabalhista, as condicdes previstas em Acordos Coletivos (ACT—que € 0 instrumento celebrado entre sindicato de empregados e empresa) “sempre prevalecerao” sobre aquelas previstas mediante Convengao Coletiva (CCT ~ celebrada entre dois sindicatos), segundo o art. 620 da CLT: CLT, art. 620. As condicées estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre Portanto, podemos dizer que o principio da norma mais favoravel é ofuscado quando estiverem presentes normas de acordos ou convencées coletivas do trabalho. No que tange a hierarquizacdo das normas, existem duas teorias que buscam definir qual seria a norma mais favoravel a ser aplicada ao empregado: teorias da acumulacao e do conglobamento. De modo breve, a teoria da acumulacao diz que se deve utilizar, no caso concreto, mais de um texto normativo, fragmentando seus dispositivos, e selecionando os mais favordveis a0 empregado. Por outro lado, a teoria do conglobamento, dominante na doutrina, propde que as disposicées sobre 2 matéria em questo devem ser analisadas globalmente dentro de cada texto normative e sera aplicavel 20 caso 0 conjunto mais benéfico ao empregado. Nesse sentido, trago abaixo interessante ligo de Mauri conglobamento como a mais adequada: Godinho Delgado%, que sinaliza pela teoria do “No tocante ao processo de hierarquizacdo de normas, néo podera o operador juridico permitir que 0 uso do principio da norma mais favorével comprometa o carter sistematico da ordem juridica, elidindo-se o patamar de cientificidade a que se deve submeter todo processo de interpretacdo e aplicagio do Direito. Assim, o encontro da regra mais favoravel no se pode fazer mediante uma separacao tépica e casuistica de regras, acumulando-se preceitos favordveis ao empregado e praticamente criando-se ordens juridicas préprias e ! * DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 192. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 12 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud provisérias em face de cada caso concreto ~ como resulta do enfoque proposto pela teoria da acumulacao. Ao contrério, 0 operador juridico deve buscar a regra mais favordvel enfocando globalmente o conjunto de regras componentes do sistema, discriminando, no maximo, os preceitos em fungdo da matéria, de modo a no perder, ao longo desse proceso, o carter sistemdtico da ordem juridica e os sentidos ldgico e teleoldgico bésicos de do conglobamento’. Principio da condigao0 mais benéfica O principio da condigdo mais benéfica esté relacionado as cléusulas contratuais (constantes do contrato de trabalho ou regulamento da empresa), que, sendo mais vantajosas ao trabalhador, devem ser preservadas durante a vigéncia do vinculo empregaticio. Assim, pela aplicaco deste principio, é invalida a supressdo de cldusula de contrato de trabalho que prejudique o empregado. Nesta linha 0 artigo 468 da CLT: CLT, art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho so é¢ licita a alteracao das respectivas condices por mittuo consentimento, e ainda assim desde que ndo resultem, direta ou indiretamente, prejuizos a0 empregado, sob pena de nulidade da clausula infringente desta Outro exemplo de manifestacio do principio da condic#o mais benéfica ¢ o seguinte excerto da Simula 51 do TST: SUM-51 NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPCAO PELO NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT I~ As cléusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, sé atingirio os trabalhadores admitidos apés a revogacio ou alteragio do egulam: A seguinte passagem da obra de Sérgio Pinto Martins” nos permite enxergar 0 principio em estudo: “A condicdo mais benéfica ao trabalhador deve ser entendida como o fato de que vantagens j conquistadas, que s3o mais benéficas ao trabalhador, no podem ser modificadas para pior. € a aplicacdo da regra do direito adquirido (art. 52, XXXVI, da Constituigio), do fato de o trabalhador jé ter conquistado certo direito, que ndo pode ser indigo dest: . * MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 27 ed. Sao Paulo: Atlas, 2011, p. 70. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 13 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Principio in dubio pro operario Segundo 0 principio in dubio pro operario, diante de duas opcdes igualmente validas, o intérprete do direito do trabalho deve aplicar a opco mais vantajosa ao trabalhador. que entraria em conflito com o principio do juiz natural (CF/88, art. 52, XXXVII € LI"), segundo o qual o intérprete deve atuar imparcialmente nas questdes postas em juizo. Segundo 0 Ministro Godinho®, P(e) havendo divida do juiz em face do conjunto probatério existente e das presuncdes aplicévels, ele deverd decidir em desfavor da parte que tenha o énus da prova naquele t6pico duvidoso, e nao segundo a diretriz genérica in dubio pro operario’ O principio em estudo fundamenta-se na necessidade de equilibrar a relacdo entre capital e trabalho também no aspecto processual, o que, atualmente, atrita com a teoria do Gnus da prova. Sobre isto, Sérgio Pinto Martins explica que “O in dubio pro operario nao se aplica integralmente ao processo do trabalho, pois, havendo duvida, 4 primeira vista, nao se poderia decidir a favor do trabalhador, mas verificar quem tem o énus da prova no caso concreto, de acordo com as especificagées dos arts, 333 do CPC", e 818, da CLT! principio in dubio pro operario também é conhecido como principio in dubio pro misero. Antes de avancarmos, segue um esquema com as diferencas sutis entre esses princ{pios: ‘Norma mals favoravel Condigao mais benéfica In dubio pro operério ‘As cldusulas contratuals (previstas no contrato de trabalho ou no regulamento da empresa) mais__benéficas. deve. prevalecer diante de alteragées de normas que diminuam a pratecio ao trabalhador Havendo mais de_uma norma em vigor regendo © mesmo assunto, deve-se aplicar 2 que seja mais favoravel a0 empregado Diante de duas ou mais interpretagées sobre a mesma norma, escolhe-se a que seja favardvel a0 empregado * CF/8B, art. 5°, Lill -ninguém sera processado nem sentenciado sendo pela autoridade competente. ° DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 205. ® MARTINS, Sérgio Pinto. Op. cit, p. 69. 1 Cédigo de Proceso Civil (CPC), at. 373. O énus da prova incumbe: | a0 autor, quanto ao fato constitutive do seu diteito; l-a0 réu, quanto 3 existencia de fato impeditivo, madificative ou extintivo do diveito do autor. CLT, art. 818, O énus da prova incumbe: |- a0 reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito; I-20 reclamado, quanto 3 existéncia de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do diteito do reclamante: GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 14 ho-20 www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Escolhe-se uma norma, dentre duas | cliusulas mais benéficas aderem ao | Escolhe-se 1 _interpretacZo, ‘ou mais contrato (direito adquirido) dentre 2 ou mais (mesma norma) Diretriz para interpretago do Ligado 8 ideia do ireito adquirido Direito do Trabalho de modo amplo Possivel inverso da _piramide rnormativa tradicional Principio da inalterabilidade contratual lesiva Assim como comentamos em relacao ao principio da condi¢ao mais benéfica, o principio da inalterabilidade contratual lesiva também est expresso no artigo 468 da CLT: CLT, art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho s6 € licita a alteraco das respectivas condicées por mutuo consentimento, € ainda assim desde que nao resultem, direta ou \diretamente, prejuizos ao empregado, sob pena de nulidade da cldusula infringente desta garantia. Este principio tem origem no | da inalterabilidade dos contratos (pacta sunt servanda). cipio geral do direito Percebam que este principio nao impede alteragdes contratuais trabalhistas, que so comuns na pratica. 0 que se restringe séo as alteracdes lesivas onde o empregado ¢ prejudicado. E sabido que o empregador, nesta condic3o, possui poder diretivo para gerenciar seu negdcio — é 0 chamado jus variandi do empregador. Quanto a este aspecto € importante salientar que pequenas alteracées efetuadas pelo empregador, que nao frustrem direitos trabalhistas podem ser implementadas, devendo-se analisar 0 caso concreto para verificar se houve au nao afronta ao principio da inalterabilidade contratual lesiva. Além disso, ressalte-se que algumas cléusulas contratuals podem ser negociadas com intermediacio da representacSo sindical obreira, através de negociacio coletiva. E possivel, entdo, por meio de negociaciio coletiva, que certas cldusulas sejam flexibilizadas com vistas a evitar mal maior. Falaremos sobre isto nos comentarios do artigo 72 da CF/88. ‘A respeito do principio da inalterabilidade contratual lesiva, é oportuno comentarmos entendimento do TST, no sentido de que a fixagdo de base de célculo de adicional de insalubridade mais vantajosa 20 empregado, por mera liberalidade do empregador, caracteriza direito adquirido, nao podendo ser posteriormente reduzida: "8 TST-EARR-11693-79 2015 ,5.18.0017, SEDI, rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 7/6/2018 GB cnv Bloco 4 -Trabatho e Saiide do Trabathador) Conhecimentos Especificos -Eixo Tematico 5 -Direit6do 15. ho-20 wunw.estrateglaconcursos.com.br 20 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud ‘Aestipulacdo, por mera liberalidade da empresa, de base de calcul mais vantajosa que 0 saldrio minimo para o pagamento do adicional de insalubridade configura direito adquirido dos empregados. Assim, no pode a empregadora, a pretexto de ajustar-se 20 entendimento fixado pelo Supremo Tribunal Federal na Stimula Vinculante 4, passar a utilizar 0 salério minimo como base de célculo do adicional de insalubridade, em detrimento do salario basico anteriormente adotado, sob pena de haver alteracao contratual lesiva, a que se refere o art. 468 da CLT, e afronta ao principio da irredutibil salarial. Principio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas Este principio, também chamado de principio da imperatividade das normas trabalhistas, é uma limitag3o & autonomia das partes no direito do trabalho. No direito civil, as partes tem autonomia para negociar clausulas contratuais, o que, no direito do trabalho, poderia vir a fazer com que 0 trabalhador abrisse mao de direitos para conquistar ou manter seu emprego. Assim, tendo em vista o ja comentado desequilibrio entre capital e trabalho, no ambito trabalhista as partes nao podem negociar livremente clausulas trabalhistas. Este principio também é conhecido como principio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas e principio da imperatividade das normas trabalhistas. linho™* as odefin “prevalece a restri¢ao 4 autonomia da vontade no contrato trabalhista, em contraponto & diretriz civil de soberania das partes no ajuste das condicées contratuais. Esta restriclo & tida como instrumento assecuratorio eficaz das garantias fundamentais ao trabalhador, Lem face do desequilibrio de poderes inerentes ao contrato de emprego”. O principio em estudo esta relacionado a impossibilidade, em regra, da rentincia"® no Direito do Trabalho {ato pelo qual o empregado, por simples vontade, abriria mao de direitos que Ihe so assegurados pela legislacao). Sobre a nomenclatura de “principio da irrenunciabilidade”, Mauricio Godinho Delgado" adverte que ‘Ecomum a doutrina valer-se da expresso irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas para enunciar o presente principio. Seu contetido é 0 mesmo jé exposto, apenas adotando-se diferente epiteto, Contudo, a expresso irrenunciabilidade nao parece adequada a revelar a amplitude do principio enfocado. Rentincia ¢ ato unilateral, como se sabe. Ora, o principio examinado vai além do simples ato unilateral, interferindo também nos atos bilaterais de " DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Diteito do Trabalho. 12 ed. Sao Paulo: LTr, 2013, p. 196. + Os assuntos “Rendncia e Transagao” serao tratados em outro t6pico, "DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 194. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 16 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud disposicao de direitos (transaco, portanto). Para a ordem justrabalhista, no sero validas que a rentincia, quer a transacSo que importe objetivamente em prejuizo 0 trabalhador.” Por outro lado, com a aprovacao da Lei 13.467 (reforma trabalhista), 0 principio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas foi apequenado, a exemplo daquelas situacSes em que o negociado pode prevalecer sobre o legislado: CLT, art. 611-A. A convencdo coletiva e 0 acordo coletivo de trabalho tém prevaléncia sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: Além disso, os chamados “altos empregados”, que so aqueles com nivel superior e que recebem salarios superiores 2 duas vezes 0 teto do RGPS, poderdo negociar diretamente com seus empregadores, sem intermediaco pelo sindicato profissional (CLT, art. 444, parégrafo Unico). Assim, no caso destes empregados, eles préprios poderao transacionar direitos, de modo que, para eles, houve redugo na incidéncia do principio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas. Principio da primazia da realidade Por meio deste principio, busca-se, no direito do trabalho, prior ‘Assim, nos casos em que haja, por exemplo, tipica relacao de emprego mascarada por contrato de estagio (veremos que estagiario nao ¢ empregado), por aplicacdo deste principio a relacio empregaticia dever’ ser reconhecida. Outro exemplo: determinada empresa contrata um “prestador de servicos” que, na realidade, é um auténtico empregado, pois na relacdo existem todos os elementos que configuram a relacdo de emprego: neste caso, por aplicaco do principio em estudo, ser desconstituida a relaco contratual de direito civil e reconhecida a relacio de emprego. O Principio da primazia da realidade também é chamado de principio do contrato realidade, Como no Direito do Trabalho os fatos so mais importantes que os ajustes formais (vide exemplos citados cima), a CLT prevé a nulidade dos atos praticados com objetivo de fraudé-la: CLT, art. 92 - Serdo nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplica¢ao dos preceitos contidos na presente Consolida¢ao. Outro ponto importante é a possibilidade de o principio da primazia da realidade ser aplicado também em beneficio do empregador, como ocorreu no julgado a seguir, no qual se dispensou o empregador de recolher OFGTS: “PEDIDO DE RECOLHIMENTO DO FGTS. EMPREGADA AFASTADA, RECEBENDO AUXILIO- DOENCA ACIDENTARIO. NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A DOENGA E O TRABALHO NA GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 17 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud EMPRESA NAO RECONHECIDO EM JUIZO. (...) 3. No caso dos autos, a interpretacao literal da Lei conduziria a um resultado irrazodvel, ndo consent3neo com a primazia da realidade, que também pode ser usado em favor do empregador, por exaltar a justica da decisao. (...)” (E-RR-21696-44.2015.5.04.0030, Subsecdo | Especializada em Dissidios Individuais, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani ra, DEST 29/10/2020). Principio da continuidade da relacdo de emprego Este principio valoriza a permanéncia do empregado no mesmo vinculo empregaticio, dadas as vantagens que isso representa. Com 0 passar do tempo no mesmo emprego, o trabalhador recebe capacitacio, realiza cursos, recebe aumentos salariais, vantagens remuneratérias como anuénios, quinquénios etc. ‘A Stmula 212 do TST é um exemplo de jurisprudéncia relacionada ao principio da continuidade da relac3o de emprego: ‘SUM-212 DESPEDIMENTO. ONUS DA PROVA O dnus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestacdo de servigo e o despedimento, 6 do empregador, pois 0 principio da continuidade da relacéo de emprego constitui presun¢ao favoravel ao empregado.. Estudaremos ao longo do curso os contratos de trabalho, e neste tépico é relevante frisar que, com base no principio da continuidade da relaco de emprego, a regra é que os contratos trabalhistas sejam firmados com prazo indeterminado. Assim, tendo em vista o principio em estudo, contratos de trabalho com prazo determinado representam excecdo, e 56 terdo lugar nos casos legalmente definidos. A regra é que o contrato seja indeterminado. Também se relaciona ao principio em estudo o artigo 448 da CLT, segundo o qual os contratos de trabalho continuam vigentes mesmo que haja mudanca na propriedade na empresa (sucesso de empregadores): CLT, art. 448 - A mudanca na propriedade ou na estrutura juridica da empresa nao afetara 0s contratos de trabalho dos respectivos empregados, Ainda sobre o principio em estudo, ¢ muito interessante a liclo do Ministro Godinho™” sobre as trés fepercussdes favordveis a0 empregado que a permanéncia do contrato de trabalho gera, que sintetizei no quadro a seguir: wince Tendencaraagio”] [Quanto mals tempo dirs © coat, nares beneiios © ee desdretcs |p] empezao tenes aeana (aumeto esi, ganko de See trabalhistas anuénios, progressio no quadro de carreira etc). *" DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 200-201. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 18 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Tavestimento © empregador tende a investir mais na educagio © ‘educacional e aperfeigoamento dos empregados que permanecem mais profissional tempo na empresa, ‘A maioria das pessoas depende de salério para sobreviver, € ‘um empregado com contrato de trabalho de longa durac3o ‘AfirmagSo social do tem maiores possibilidades de se afirmar socialmente (a0 individuo contrario dos que possuem contratos de curta duragio, temporarios, desempregados etc, que ficam fragilizados ecom ‘menos condigBes financeiras de se manter). Principio da intangibilidade salarial Este principio confere ao salario diversas garantias juridicas, visto que este possui natureza alimentar. Assim, a intangibilidade salarial abrange nao apenas a irredutibilidade nominal do seu valor, mas também vedaciio a descontos indevidos, tempestividade no pagamento, etc. ‘Seguem dispositivos da CF/88 e da CLT que materializam o principio da intangi CF/88, art. 7° Sao direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem melhoria de sua condi¢So social: (...) vie i io, salvo 0 disposto em convencao ou acordo coletivo; CLT, art. 459 - O pagamento do salario, qualquer que seja a modalidade do trabalho, no deve ser estipulado por periodo superior a 1 (um) més, salvo no que concerne a comissées, percentagens e gratificacées. CLT, art. 462 - Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos saldrios do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo. CLT, art. 465. © pagamento dos salérios seré efetuado em dia Util e no local do trabalho, dentro do horario do servico ou imediatamente apés o encerramento deste, salvo quando efetuado por depésito em conta bancaria, observado o disposto no artigo anterior. Os dispositivos constitucionais e celetistas mencionados, que se relacionam ao principio em estudo, serio detalhados na aula sobre o assunto “Remuneracao e Salério”. GB cnv Bloco 4 -Trabatho e Saiide do Trabathador) Conhecimentos Especificos -Eixo Tematico 5 -Direit6do 19 ho-20 wunw.estrateglaconcursos.com.br 20 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mar Aula 01 - Prof. Antonio Daud FONTES DO DIREITO DO TRABALHO IE Ean As fontes do direito do trabalho so divididas em formais e materiais, e também entre heterénomas e auténomas. > Fontes formais e materiais O conceito de fonte material se relaciona a um momento pré-juridico, onde fatores sociais, econémicos e politicos influenciam na positivacdo de normas juridicas. € 0 caso, por exemplo, do movimento sindical operario. Em outras palavras, fontes materiais so fatores que influenciam na criagio e altera¢io das normas juridicas {por isso se relacionam ao momento pré-juridico).. As fontes formais do direito do trabalho se enquadram como tal em vista de sua exteriorizacio na ordem luridica, na forma de Constituico, emenda a Constituicao, lei, decreto, etc. Assim, fontes formais sao’ “os mecanismos exteriores e estilizados pelos quais as normas ingressam, instauram-se e cristalizam-se na ordem juridica”. > Fontes heterénomas e auténomas As fontes formais se dividem em fontes heterénomas e fontes auténomas. Fontes heterénomas do direito do trabalho (leis, decretos, etc) so normas elaboradas pelo Estado, nao havendo participago direta dos destinatérios da mesma em sua produgio. Fontes auténomas so elaboradas pelos prdprios destinatérios, ou seja, os destinatdrios da norma regulamentam suas condicdes de trabalho, diretamente ou por meio de suas entidades representativas (sindicatos). Este € 0 caso das negociacées coletivas de trabalho. ‘Segue um esquema para visualizarmos a relacdo entre os conceitos estudados: * DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 139. BB cw sioco 4 -Trabaino e Saide do Trabathacor) Conhecimentos Especificos -Eixo Tematico §-Dipeit6Go 20 o-20 wunw.estrateglaconcursos.com.br 20 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud wy Y y y ‘Movimento sindical Fontes Fontes Auténomas Heterénomas Movimento politico dos operarios y wy Constituigio Convengio Coletiva de Trabalho (CCT) Lets ‘corde Coltivo de Trabalho Decretos (act Veremos agora as fontes formais do direito do trabalho, di auténomas. Fontes heterénomas Constituigéo Federal A Constitui¢éo da Republica Federativa do Brasil de 1988 é fonte heterénoma do direito do trabalho, ocupando o pice na hierarquia das normas juridicas. Leis As leis (regras juridicas abstratas, impessoais e obrigatérias), emanadas do Poder Legislativo e promulgadas pelo Poder Executivo, séo fonte formal do direito do trabalho. ‘As Medidas Provisérias (MP), emitidas pelo Presidente da Republica em caso de relevancia e urgéncia, nos termos do artigo 62 da CF/88, também sao fontes heterénomas do direito do trabalho. Tratados e Convengées Internacionais Os Tratados e Convengées Internacionais so fontes heterdnomas do direito do trabalho quando ratificados pelo Brasil. ‘As Convenges da Organizacdo Internacional do Trabalho (OIT) que sejam ratificadas pelo Brasil, portanto, so fontes formais do direito do trabalho. J que falamos em OIT, lembremos que aquele organismo internacional também expede as Recomendacdes, que so diplomas nao obrigatérios e nao ratificados pelos paises membros; dessa forma, as Recomendacdes nao so fonte formal do direito do trabalho. NU (Bloco 4 - Trabalho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos -Eixo Temético 5-Direitdo 21 ho -20 www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Decretos 0 Decreto é expedido pelo Presidente da Republica, nos termos do art. 84 da CF/88, e é considerado fonte formal do direito: CF/88, art. 84. Compete privativamente ao Presidente da Republic: () IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execuco; Portarias, Instrugdes Normativas e outros atos Como ensina Mauricio Godinho Delgado”, “Os diplomas dessa natureza, em principio, ndo constituem fontes formais do direito, dado que obrigam apenas os funcionarios a que se dirigem e nos limites da obediéncia hierarquica”. Entretanto, como esclarece o jurista, em alguns casos a propria lei atribui a estes normativos a tarefa de regulamentar determinados preceitos, como o seguinte artigo da CLT: CLT, art. 192 - O exercicio de trabalho em condigGes insalubres, acima dos limites de tolerdncia estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepcao de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salério-minimo da regio, segundo se classifiquem nos graus maximo, médio e minimo. Com base na determinago acima exposta, o Ministério do Trabalho expediu a Portaria 3.217/78, que inclui a Norma Regulamentadora n° 15, em cujos Anexos podemos encontrar limites de tolerancia para ruido, calor e agentes quimicos. Com base neste entendimento, portanto, podemos considerar as Normas Regulamentadoras (NR) de Seguranca e Satide do Trabalho do MTb - aprovadas mediante Portaria - como fonte formal do direito do trabalho. Sentengas Normativas AAs sentencas normativas sao proferidas pela Justica do Trabalho em processos de dissidio coletivo: CF/88, art. 114, § 22 Recusando-se qualquer das partes 4 negociacio coletiva ou a } arbitragem, é facultado as mesmas, de comum acordo, ajuizar diss{dio coletivo de natureza ! * DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 151. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 22 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud econémica, podendo a Justiga do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposices minimas legais de protecao ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. Laudo Arbitral © Iaudo arbitral é 0 instrumento resultante de um processo de arbitragem, no qual um terceiro {normalmente chamado de arbitro) é chamado a solucionar um conflito de forma permanente. Via de regra, quando a negociacao coletiva é frustrada, ha casos em que as partes (sindicatos) elegem um. arbitro, a quem incumbira proferir decisao (laudo arbitral) que solucione o impasse: CF/a8, art. 114, § 1° - Frustrada a negociacao coletiva, as partes poderao eleger arbitros. Além disso, com a reforma trabalhista, passou a existir no Direito do Trabalho a possibilidade de arbitragem em dissidios individuais, mas apenas naqueles casos em que o empregado percebe remuneracao superior a 2vezes 0 teto da previdéncia: CLT, art. 507-A. Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneragao seja superior a duas vezeso ite maximo estabelecido para os beneficios do Regime Geral de Previdéncia Social, poderd ser pactuada cléusula compromisséria de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante a sua concordancia expressa, nos termos previstos [Ra Lei n® 9.307, de 23 de setembro de 1996. Ha consenso doutrinario de que o laudo arbitral é fonte formal do direito do trabalho, mas ha controvérsias, sobre esta figura enquadrar-se como fonte heterénoma ou auténoma. Fontes auténomas Fontes auténomas do direito do trabalho representam as negociacées coletivas de trabalho (convencéo coletiva de trabalho e acordo coletivo de trabalho). Tals negociagées tém validade Juridica e sio elaboradas pelos empregadores e empregados com a participaco das entidades representativas (sindicatos). Segue abaixo um esquema representativo da relacdo entre negociacdo, convencio e acordo coletivos de trabalho, com os agentes envolvidos em sua elaboracao: Reed we | tw u salads ievgateoeieanatands ee en © sindicato dos empregados ‘empresa(s) ¢ 0 sindicato dos empregados GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 23 ho-20 www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud ‘Agora vamos tratar separadamente de algumas regras atinentes a cada uma das espécies de negociacao coletiva. O assunto serd abordado de forma completa durante o curso. >» Convengao Coletiva de Trabalho A definigao celetista de convencdo coletiva de trabalho é a seguinte: CLT, art. 611 - Convencao Coletiva de Trabalho é o acordo de carater normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econdmicas e profissionais estipulam condigées de trabalho aplicdveis, no ambito das respectivas representacdes, as relacdes individuais de trabalho. Assim, a convencéo coletiva abrange toda a categoria profissional (comercidrios, trabalhadores da industria da construcio, professores, etc.) na base territorial do sindicato. & ESCLARECENDO! (Os empregados nao sio obrigados a filiar-se ao sindicato de sua categoria, mas mesmo os no filiados so abrangidos pelas disposigdes da convencio ou acordo coletivos de trabalho. Nesta linha, por exemplo, mesmo o empregado nio filiado ao sindicato representativo de sua categoria faz jus ao piso salarial porventura estabelecido na convengio coletiva. >» Acordo Coletivo de Trabalho Vejamos a disposicao celetista sobre os acordos coletivos de trabalh CLT, art. 611, § 1° E facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econdmica, que estipulem condicdes de trabalho, aplicaveis no ambito da empresa ou das acordantes respectivas relagdes de trabalho. Como se verifica no esquema anterior € na leitura da CLT, 0 ACT é celebrado entre o sindicato obreiro e a(s) empresa(s), nao havendo participacao ativa do sindicato patronal. Acerca da hierarquia nas fontes do Direito do Trabalho, a partir da reforma trabalhista da Lei 13.467, as condigdes do Acordo, que so mais especificas do que aquelas da Convenco, sempre prevalecerdo sobre GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 24 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud as condigées da Convengao Coletiva de Trabalho. Portanto, prevalecem aquelas condigées oriundas do instrumento celebrado com a(s) empresa(s).. Veja abaixo como foi a alterag3o: Ar —620—As—condictes—astabelecidas—em | Art. 620. As condigbes _estabelecidas Convengie-quande-maisfavoriveis-prevatecersie | em acordo coletivode trabalho sempre sébraacestipuladssomAcsede— prevalecer3o sobre. as._—estipuladas. em convengéo coletiva de trabalho. Falaremos mais sobre 0 Direito Coletivo do Trabalho em aula especifica deste curso. > Usos e Costumes Para finalizar 0 assunto, destaco que parte majoritdria da doutrina enquadra os usos e costumes como fonte formal do direito do trabalho, com fundamento no artigo 8? da CLT: CLT, art. 88 - As autoridades administrativas e a Justica do Trabalho, na falta de disposicdes legais ou contratuais, decidir’, conforme 0 caso, pela jurisprudéncia, por analogia, por eqilidade e outros principios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleca sobre o interesse [ publico. Outras fontes Bom pessoal, falamos ento das fontes materiais do direito do trabalho e das formais, divididas em fontes heterénomas e auténomas. Precisamos comentar sobre outros institutos que, dada a controvérsia doutrinaria sobre sua classificao, resolvi intitular de “outras fontes”. > Jurisprudéncia Jurisprudéncia € a reiterada interpretacdo conferida pelos tribunais as normas juridicas, a partir do julgamento das demandas concretas levadas & aprecia¢io judicial. £ 0 caso, por exemplo, das Simulas do ‘Tribunal Superior do Trabalho (TST). Hé controvérsia sobre a classificacao da jurisprudéncia como fonte formal ou nao. Alguns autores entendem que nao ¢ fonte formal, pois nao tém valor de regra geral, de cumprimento obrigatério. Outros autores entendem que a jurisprudéncia exerce o papel de criador do direito, como ensina o Ministro Godinho®: * DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit, p. 165. GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 25 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud .) as posic&es judiciais adotadas similar e reiteradamente pelos tribunais ganhariam autoridade de atos-regra no 4mbito da ordem juridica, por se afirmarem, ao longo da dinamica juridica, como preceitos gerais, impessoais, abstratos, validos ad futurum —fontes Contrariando tal posicionamento, a reforma trabalhista criou 0 §28 do art. 8° da CLT, buscando restringir 0 chamado “ativismo da justi¢a do trabalho”. Assim, 0 §22 prevé que os enunciados da jurisprudéncia trabalhista, como por exemplo, siimulas e Ols, no poderSo extrapolar as obrigacdes previstas em lei: CLT, art. 82, § 2° Stimulas e outros enunciados de jurisprudéncia editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho nao poderio restringir Por exemplo: uma simula do TST dizia que 0 empregador nao deveria retirar a gratificacdo do empregado que perdesse 0 cargo em comissdo apés 10 anos. Tal obrigacao imposta ao empregador nao se encontra prevista em lei, Portanto, segundo a reforma promovida, o TST (e os demais tribunais do trabalho) nio poderia criar obrigacdes como esta, jd que nao esto previstas em lei. Finalizando o assunto jurisprudéncia, é importante falarmos sobre as Siimulas Vinculantes. Com a Emenda Constitucional 45/2004 o Supremo Tribunal Federal (STF) tem o poder de aprovar simulas que vinculam a Administracdo Publica, ou seja, dotadas de generalidade, impessoalidade e abstracao e que, por isso, podem ser consideradas como fontes formais: CF/88, art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderd, de oficio ou por provocacao, mediante decisdo de dois tercos dos seus membros, apds reiteradas decisdes sobre matéria constitucional, aprovar stimula que, a partir de sua publicacéo na imprensa oficial, terd efeito vinculante em relac3o aos demais érgSos do Poder Judiciério e & administraco pilblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder & sua reviso ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. Ha controvérsias doutrinarias sobre os principios gerais de direito serem ou nao fontes formais de direito, e por isso deixei-os nesta seco da aula, © Ministro Godinho entende que a doutrina recente confere aos principios funao normativa, a que ele se refere como sendo “funcdo normativa concorrente”, e que nesta dptica os principios seriam fonte formal de direito. > Regulamento Empresarial GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 28 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud Como adiantamos acima, hé grande controvérsia doutrindria sobre a classificacio do regulamento empresarial. O regulamento empresarial nao é aceito por parte da doutrina‘ como fonte formal, visto que, apesar de possuir generalidade, abstraco e impessoalidade, é elaborado pela empresa, de forma unilateral. Outra parte da doutrina, como Amauri Mascaro® e Sérgio Pinto Martins®, j4 0 incluem. Para concursos pUiblicos, contudo, a classificacao do regulamento empresarial est longe de se tornar pacifica. A banca FCC, na questo abaixo, considerou o regulamento empresarial unilateral da empresa como fonte formal heterénoma (jd que foi estabelecido unilateralmente pela empresa), dando como correta a assertiva FCC/TRT15 — Técnico Judi A sentenca normativa é uma fonte heterénoma do Direito do Trabalho, assim como regulamento unilateral ide empresa. ‘Por fim, destaco que o regulamento empresarial é um dos temas em que o negociado legislado (CLT, art. 611-A, VI). se sobrepor 20 Hierarquia das fontes Em relacdo tanto as convencGes e aos acordos coletivos, apés a reforma trabalhista, para determinados assuntos (previstos no art. 611-A da CLT — listados no diagrama abaixo) o “negociado prevalecerd sobre 0 legislado”. Sendo assim, a respeito de tais temas, as regras previstas nessas fontes auténomas (ACT e CCT) poderao se sobrepor a regras de fontes heterénomas (estatais). Veja abaixo quais so os assuntos em que isto poder ocorrer: * DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, So Paulo: LTr, p. 163 5 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 15 ed. Sio Paulo: Saraiva. P. 226. * CARRON, Valentin. Comentarios & Consolidacao das Leis do Trabalho. 26 ed. Sao Paulo: Saraiva. P. 275 GB cnv Bl0c0 4 -Trabatho e Saiide do Trabalhador) Conhecimentos Especificos - Eixo Tematico oe 27 ho-20 \www.estrategiaconcursos.com.br 120 Antonio Daud, Mara Quelroga Camisassa de Assis, Equipe Mi Aula 01 - Prof. Antonio Daud 1 | (ebservados os limites constitucionais) | || sent ntaseracs| {i lpERES arenes | | | | i ‘modalidade de registro de jornada de| / Sraoaino” | i | | i Rese an pera areaaa Fumes eer ernaene fsietbatho {[reaime &e sobreaviso] PASSIVEL DE NEGocrAcAo | aa] ‘emuneracso por produtividade, incluindo| Por derempentno individual, © gorsetae || [beBimies de incentive om bens ou services| | | (plano de cargos « entificacso dos cargos ‘ue se ensasram como fanson de Além disso, como jé destacado acima, a partir da reforma trabalhista da Lei 13.467, as condigdes do Acordo sempre prevalecerao sobre as condicées da Convengao Coletiva de Trabalho’. € o critério da especialidade da norma coletiva, j4 que o acordo (celebrado diretamente com uma ou mais empresas) é mais especifico que a convengao. E importante destacar, ainda, que, por expressa disposicdo do art. 8° da CLT, ha algumas espécies que séo consideradas fontes supletivas ou subsididrias do Direito do Trabalho (utilizadas na auséncia das fontes primérias): CLT, Art. 82: legais ou contratuais, decidirao, conforme o caso, pela jurisprudéncia, por analogia, por equidade e outros principios e normas gerais de direito, principalmente do direito do | trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, 0 direito comparado, mas sempre | ‘As autoridades administrativas e a Justica do Trabalho, na falta de disposicbes * CLT, art. 620, As condigGes estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerdo sobre as estipuladas em ‘convengao coletiva de trabalho, BB cnv loco 4 -Trabatho e Saiide do Trabathador) Conhecimentos Especiticos -Eixo Tematico 5 fo 28 ho-2 wunw.estrateglaconcursos.com.br 20

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