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Tema 07 - Amostragem Padronizada Biovestigios - Scheel-Ybert Et Al
Tema 07 - Amostragem Padronizada Biovestigios - Scheel-Ybert Et Al
Rita Scheel-Ybert*
Daniela Klökler**
Maria Dulce Gaspar***
Levy Figuti****
RESUMO: Este artigo tem por objetivo alertar para a importância dos estudos de
macro-vestígios bioarqueológicos de origem vegetal e animal. Nele é estabelecido um
protocolo de amostragem que visa atender às necessidades da pesquisa arqueológica
no campo e conduzir a uma coleta sistematizada de restos vegetais, para estudos de
antracologia e arqueobotânica, e de restos faunísticos, para estudos de zooarquelogia.
Esta estratégia de amostragem visa construir coleções que conduzam à obtenção de
dados comparáveis, em sítios diferentes, no que se refere a paleoambiente, sistema de
subsistência, território de exploração e interação entre o domínio social e ambiental.
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SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposta de amostragem padronizada para macro-vestígios
bioarqueológicos: antracologia, arqueobotânica, zooarqueologia. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,
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que tenham significado sociológico e a identifica- humana (Popper & Hastorf 1988). Neste sentido,
ção da função de sítios arqueológicos. ela se diferencia da paleoetnobotânica, que se
A integração, ao trabalho arqueológico, das define como “a análise e interpretação de vestígios
chamadas “disciplinas associadas” é um fenômeno arqueobotânicos visando fornecer informações
cada vez mais freqüente e que tem trazido uma sobre as interações entre populações humanas e
série de informações importantes ao conhecimento plantas” (Popper & Hastorf 1988).
do processo de ocupação do que é hoje o território Muitos são os objetivos do estudo
brasileiro. À medida que os arqueólogos se arqueobotânico. Por exemplo, ecólogos podem
distanciam da arqueologia meramente descritiva, do buscar nos restos vegetais evidências para a
simples inventário, a escavação passa a fornecer reconstrução de ambientes passados; botânicos
informações não somente sobre artefatos, dieta podem estudar as mudanças morfológicas de certas
alimentar, habitação, economia doméstica, mas plantas ao longo do processo de domesticação;
também sobre sistemas socioculturais, ambiente, arqueólogos se interessam pela forma como
entre outros. Os trabalhos naturalistas e os estudos populações antigas utilizaram o ambiente para
paleoambientais não são mais apenas um adendo prover às suas necessidades básicas, em como as
ao conhecimento do sítio, mas auxiliam na constru- estratégias econômicas variaram ao longo do
ção de interpretações e fazem parte integrante do tempo, ou em como os restos vegetais encontrados
campo atual da arqueologia (Scheel et al. 1996). em contexto funerário poderiam indicar uma
Neste sentido, é muito importante que tais oferenda de significado simbólico, assinalando
estudos sejam levados em consideração desde o diferenças de status social.
planejamento da escavação arqueológica (Scheel- Muitas também são as disciplinas implicadas
Ybert et al., no prelo). Idealmente, os especialistas na análise arqueobotânica. Distinguem-se, particu-
devem ser contactados antes de sua realização, larmente, os estudos de macro-restos vegetais,
durante a fase de definição do projeto de pesquisa, como a antracologia (estudo dos restos de madeira
a fim de que, participando do trabalho de campo, carbonizada), a carpologia (estudo dos frutos e
eles possam contribuir para a definição de estratégias sementes), o estudo de tubérculos e raízes comestí-
metodológicas que conduzam a uma otimização da veis, de fibras, de folhas, de madeiras não carboni-
recuperação de macro e micro-vestígios de origem zadas, entre outros, dos estudos de micro-restos
vegetal e animal. No entanto, estes especialistas vegetais, especialmente fitólitos, grãos de pólen e
ainda são raros no Brasil e não podem atender à grãos de amido.
demanda de toda a comunidade arqueológica. Por Os métodos de coleta apresentados neste
isso, este artigo tem como objetivo estabelecer um artigo se limitam aos primeiros. Embora a maior
protocolo de amostragem que possa atender às parte das técnicas apresentadas tenham sido
necessidades da pesquisa arqueológica no campo e desenvolvidas para a coleta de amostras carboniza-
conduzir a uma coleta sistematizada de restos das, elas normalmente se aplicam também à coleta
botânicos e faunísticos. de vestígios não-carbonizados.
A padronização das coletas de restos vegetais, Cabe ressaltar, no entanto, que, em condições
para estudos em arqueobotânica e em antracologia, normais de preservação, a conservação de restos
e de restos animais, para estudos em zooarqueologia, vegetais não-carbonizados em sítios de regiões
visa essencialmente tornar disponíveis amostras que tropicais é incidental. Esta dificuldade de conserva-
conduzam à obtenção de dados comparáveis, em ção faz com que a recuperação de restos alimentares
sítios diferentes, no que se refere ao paleoambiente, carbonizados (frutos, sementes, tubérculos, raízes
à dieta alimentar, e a informações paleoetnológicas etc.) se revista da mais alta importância, podendo
de um modo geral. conduzir à obtenção de vestígios materiais concretos
Arqueobotânica é o estudo dos restos vegetais de atividades que muitas vezes continuam sendo
encontrados em contexto arqueológico (Ford inferidas simplesmente a partir de provas indiretas,
1979). Além de representar um termo geral que como é o caso do consumo de vegetais e do cultivo.
engloba o estudo de diferentes partes das plantas, Desde seu aparecimento, na França, na
com diversos objetivos, a arqueobotânica se refere década de 70, a antracologia tem contribuído com
especificamente aos métodos de coleta, análise e uma série de importantes inovações para a compre-
interpretação de dados que não envolvem a ação ensão do registro arqueológico. A primeira, que foi
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seu objetivo inicial e sua contribuição mais evidente, grupos humanos, e com base em experimentações,
se refere à reconstituição do meio ambiente no qual a autora demonstrou que não existe “seleção de
viviam as populações pré-históricas. A análise dos espécies”, pois as propriedades combustíveis da
fragmentos de carvão conservados no sedimento madeira são condicionadas por fatores diversos,
retrata a vegetação em torno do sítio durante o independentes da espécie, e que um grande número
período de ocupação e, por dedução, do clima. A de variáveis pode influenciar na decisão de coletar
partir da conjugação de critérios paleoecológicos e determinada planta para lenha (acesso, distância do
arqueológicos, é possível determinar a ocorrência sítio, facilidade de coleta, tamanho, calibre, taxa de
de mudanças climáticas, assim como de modifica- umidade, entre outros). Através de experimenta-
ções do meio-ambiente provocadas pela atividade ções em laboratório, ela estabeleceu que, ao
antrópica. contrário do que se acreditava anteriormente, os
Por exemplo, estudos de antracologia e ossos de animais ou a linhita não podem substituir
palinologia de oito sítios da região do Alto Ribatejo, inteiramente o uso de madeira para lenha, de um
em Portugal, mostraram que as comunidades lado porque eles dependem do uso de madeira
neolíticas exploravam diversos biomas e evidencia- seca para iniciar a combustão, de outro por serem
ram um aumento da importância de formações pouco apropriados para certas funções da fogueira,
vegetais abertas ao longo do tempo, em detrimento por exemplo a produção de brasas para cozimento
de florestas de galeria e de florestas de carvalho, o indireto (osso), a iluminação e a defumação
que foi atribuído a uma exploração muito intensiva (linhita). O uso destes materiais no sul da França
da paisagem (Allué 2000). durante o Paleolítico, dentro de um ambiente
Da mesma forma, estudos antracológicos florestado, se deveu a um processo de gestão dos
realizados em vários sítios às margens do Eufrates, combustíveis segundo suas propriedades e o
na Turquia e na Síria, indicaram que a paisagem do interesse de seu uso. O uso de ambos representa
Oriente Próximo, atualmente árida e inteiramente uma dupla vantagem funcional e econômica. No
desmatada, foi muito diferente durante a Idade do caso de ossos de animais, a de melhorar a produ-
Bronze, apresentando florestas de carvalhos e ção de chamas e de calor da fogueira, além de
florestas de estepe numa grande extensão, e a mais representar uma solução vantajosa para os
baixas altitudes do que estas ocorrem atualmente problemas de aquisição e estocagem da madeira e
(Willcox 2002). Embora uma influência climática de destruição das carcaças de animais consumidos.
sobre esta mudança de vegetação não possa ser No caso da linhita, a de aumentar a duração da
descartada, o autor atribui este processo principal- combustão e de diminuir a necessidade de atenção
mente a uma desertificação antrópica. O excesso de em relação ao fogo, permitindo que se reduza o
pastagens teria conduzido à destruição da vegetação estoque de madeira seca e que se conserve o fogo
e ao aumento da erosão, o que em conseqüência durante um longo tempo sem necessidade de
acarretou maior atividade eólica. Estas últimas, reacendê-lo com freqüência. Note-se que esta
associadas à atividade constante e continuada dos autora demonstrou a completa impossibilidade de
animais, continuariam impedindo, até os dias de hoje, se fazer uma fogueira usando somente ossos, ou
a regeneração da cobertura vegetal (Willcox 2002). somente linhita. As “fogueiras de ossos” encontra-
Interpretados de um ponto de vista das em alguns sítios paleolíticos não se devem a um
paleoetnológico, os fragmentos de carvão dispersos uso exclusivo do osso como combustível, mas sim
no sedimento podem, além da reconstituição ao fato de que este material, quando queimado
paleoambiental, fornecer informações importantes junto com a madeira, provoca uma carbonização
sobre a economia do combustível. completa desta última, deixando somente cinzas e
Na França, o estudo antracológico de sítios restos de ossos carbonizados ao final da combus-
paleolíticos conduziu a uma reflexão aprofundada tão (Théry-Parisot 2001).
sobre a gestão dos combustíveis a as motivações dos No Brasil, foi demonstrado que a coleta
grupos que utilizaram madeira, linhita, excrementos aleatória de madeira morta constituía a principal
ou ossos de animais em suas fogueiras (Théry- fonte de lenha para populações sambaquieiras
Parisot 2001). Argumentando que as práticas de (Scheel-Ybert 2000, 2001a, 2001b). Este mesmo
coleta de lenha são muito diversas, dependendo do trabalho revelou que a madeira de Condalia sp, um
sítio e das condições encontradas pelos diferentes arbusto da família Rhamnaceae, parece ter sido
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Uma questão fundamental em arqueologia diz enegrecidas, forneceu subsídios para a caracteriza-
respeito à dieta, e para isso geralmente recorre-se a ção do sambaqui Jabuticabeira-II como sítio
estudos de zooarqueologia. Na literatura brasileira, funerário (Fish et al. 1998; Klökler 2001, 2003a,
há diversos exemplos de trabalhos que pretendem 2003b). A localização das estruturas em V, sempre
investigar a dieta de populações pré-históricas em estrita associação com fogueiras e sepultamen-
(Garcia 1970; Schoor 1975; Bandeira 1992; tos, muitas vezes circundando os mesmos, parece
Bonetti 1997; entre outros). No entanto, sem uma indicar que as marcas de estacas são vestígios de
amostragem padronizada de todos os níveis de estruturas funerárias construídas para proteção do
ocupação em diferentes áreas do sítio, coleta de espaço ritual.
todos os elementos faunísticos, e uso de peneiras Os ossos de peixes encontrados nas lentes
com malha de 2mm, qualquer análise de possíveis escuras e nas fogueiras, sempre associadas a
mudanças de dieta terá resultados inconclusivos. contextos funerários, são de maior porte e mais
Note-se que a mesma observação é válida no abundantes que os recuperados nas camadas de
que se refere a investigações em arqueobotânica e conchas, o que sugere a realização de banquetes
antracologia. Estas disciplinas são muito mais em homenagem aos mortos. De fato, esta grande
recentes no Brasil, e poucos estudos abordando quantidade de restos de peixes não pode ser
consumo de produtos vegetais já foram publicados explicada como o resultado de refeições comuns,
(e.g. Dias & Carvalho 1983; Tenório 1991; mas somente por eventos de grande magnitude.
Resende & Cardoso 1995-96; Scheel-Ybert 1999, Estudos preliminares indicam a presença de
2001a). No entanto, a raridade destes restos torna aproximadamente 300 peixes associados a apenas
ainda mais importante a amostragem padronizada, uma fogueira e uma média de 88 peixes em cada
coleta extensiva, flotação, uso de peneiras apropri- cova, acompanhando os corpos (Klökler 2003b).
adas e análise de um grande número de fragmentos, A análise zooarqueológica também permitiu
sem o que não se pode sequer avaliar a importância aos pesquisadores identificar a existência de
deste consumo para a dieta de populações pré- técnicas distintas de captação de recursos aquáti-
históricas. cos: a pesca rotineira de espécimes de pequeno
A análise zooarqueológica, porém, não se porte, que demanda o uso de algum tipo de rede de
restringe às investigações sobre a alimentação de arrasto, e a pesca de grandes peixes vinculada
povos pré-históricos, e pode ser utilizada com especificamente ao festim fúnebre (Klökler 2003a,
vantagem para a compreensão de processos de 2003b; Gaspar & Klökler 2004). Essa diferencia-
formação de sítios (Klökler 2001). A análise da ção confirma a importância dos banquetes fúnebres
composição faunística das diferentes estruturas e que demandariam a utilização de técnicas específi-
camadas do sambaqui Jabuticabeira-II contribuiu cas de pesca para obter os recursos necessários
para a redefinição de algumas noções sobre seu para eventos em memória aos ancestrais.
processo de formação, pondo em foco a importân- Outra importante contribuição da zooarqueologia
cia do ritual funerário no incremento do sítio. para o entendimento de processos de formação em
Estruturas cônicas no perfil (Fig. 1) chamaram a sítios conchíferos pode ser encontrada no estudo
atenção da equipe e foram primeiramente conside- do sambaqui Espinheiros-II. Neste sítio, a análise
radas evidências de superfícies de habitação, zooarqueológica dos sedimentos de duas áreas
representando a localização de cabanas. A coleta diferentes (uma sondagem e um perfil) permitiu
de amostras provenientes dessas marcas de estacas identificar duas fases distintas em sua formação
demonstrou que 90% do sedimento que as (Figuti & Klökler 1996). Em sua primeira fase, o
preenche é composto por restos de peixes, além de sítio é constituído quase exclusivamente por
seixos inteiros ou fragmentados. O aumento conchas de berbigão, resultado de coletas maciças
excepcional do número de peixes no sedimento de moluscos nos bancos lodosos localizados
contido nas marcas de estacas é inconsistente com próximos ao sambaqui, provavelmente com o
uma interpretação desses vestígios como restos de intuito de formar uma plataforma elevada, ou um
alimentação cotidiana. Ao contrário, a presença de aterro de conchas. Na segunda fase de sua
sepultamentos em diferentes áreas do sambaqui, formação e ocupação, a coleta de berbigões é
aliada à composição dos sedimentos recuperados acompanhada pela coleta de mariscos e ostras,
no interior das marcas de estacas e das lentes além de uma atividade pesqueira intensa, o que
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indica o desenvolvimento de um padrão mais no verão, e que esses grupos ocuparam áreas
complexo de captação de recursos. Esta diversida- costeiras o ano inteiro.
de de elementos faunísticos nos níveis superiores A zooarqueologia tem contribuído, também, para
está provavelmente associada à ocupação do sítio e estabelecer a função de áreas ou compartimentos no
à sua utilização como local de habitação. interior de sítios arqueológicos. A análise de vestígios
Estudos de zooarqueologia baseados na faunísticos não modificados (não transformados em
análise de sazonalidade, na Flórida (Russo & artefatos), foi utilizada para acessar a função de quartos
Quitmyer 1996), contribuíram para derrubar a e casas no Arizona, nos EUA. Neste caso, distinções
concepção de que os povos do Arcaico eram entre quantidade e distribuição de produtos comestíveis
nômades e exploravam a costa apenas no e não comestíveis, presença de ossos não modificados,
inverno, comprovando que a coleta de vieiras e grau de fragmentação e características da fauna
(Argopecten irradians) ocorria principalmente encontrada em diferentes contextos, permitiram
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quais são essenciais para que o arqueólogo tenha número, tamanho e preencher um formulário onde
acesso aos diversos usos de animais pelas popula- deve ser relacionada cada amostra, com descrição
ções pré-históricas. Vestígios faunísticos não se minuciosa do sedimento e, sempre que possível, um
restringem a regiões onde supostamente o grupo se croquis representativo (vide “Formulário de coleta”
reuniu para comer (em torno de fogueiras), porém na Fig. 2).
localizam-se também na periferia do sítio, em
acumulações resultantes da limpeza das áreas 1.2. Amostragem exaustiva
comunitárias, nos locais onde se manufaturam
instrumentos ósseos ou conchíferos, em contextos Aplica-se a sítios onde há pouca quantidade
rituais etc. Devido a essa diversidade espacial, de carvões ou de vestígios faunísticos, a casos nos
projetos de pesquisa devem incluir em sua metodologia quais a intervenção no sítio for muito pequena ou
amostragens distintas dependendo do sítio e das quando for decidida uma peneiragem de todo o
hipóteses do projeto. sedimento arqueológico durante a escavação.
A fim de maximizar a recuperação de Seguir protocolo de coleta (Fig. 5).
informações antracológicas, arqueobotânicas e
zooarqueológicas, e diminuir o investimento em 1.3. Amostragem sistemática (durante a
trabalhos de campo, foram desenvolvidos decapagem)
protocolos de amostragem que podem ser
utilizados em conjunto para as três disciplinas. Devido à necessidade de se levar em considera-
ção a variabilidade estratigráfica e a heterogeneidade
de depósitos inerentes aos sítios, é indispensável
1. Amostragem que se façam amostragens concomitantes à
escavação arqueológica. A coleta sistemática
Protocolos de amostragem abrangendo consiste em amostrar o material das diversas
diversos cenários de coleta para antracologia, quadras escavadas. Para isso, seguir protocolo de
arqueobotânica e zooarqueologia são propostos coleta (Fig. 6).
a seguir. Sugere-se que eles sejam fotocopia- A situação ideal é que seja coletada uma
dos, plastificados e utilizados, no campo, amostra em cada unidade de escavação (por
durante a escavação. Um modelo de formulário exemplo, em cada quadrícula), em cada
de coleta para antracologia e zooarqueologia é decapagem, mas este procedimento pode ser
igualmente proposto (Fig. 2). Cópias eletrônicas adaptado de acordo com a escavação (Fig. 7). A
do mesmo podem ser obtidas dos autores sob superfície da unidade a ser amostrada deve
demanda. perfazer entre ¼ e a totalidade de cada metro
Embora o formulário seja o mesmo para todas quadrado, em função da riqueza da camada em
as disciplinas, é importante preencher folhas carvões (Chabal 1988, 1997) ou em restos
separadas para cada tipo de material (restos faunísticos, e das contingências da escavação. O
vegetais carbonizados / restos vegetais não material deve ser coletado e peneirado de
carbonizados / fauna), já que sua análise geralmente acordo com uma das técnicas especificadas
é feita por especialistas diferentes. posteriormente. Não deixar de identificar o tipo
de coleta, sempre anexando etiquetas identificadoras.
1.1. Amostragem de estruturas Um formulário de coleta relacionando todas as
amostras, com informações detalhadas sobre
As amostras de estruturas (tais como fogueiras cada uma delas, deve ser sistematicamente
e depósitos associados, objetos queimados, preenchido (Fig. 2).
concentrações de ossos, buracos de estaca, silos, No caso da amostragem zooarqueológica, os
restos vegetais não carbonizados etc.) devem ser pesquisadores podem escolher entre utilizar como
coletadas separadamente e bem identificadas. padronização coletar o sedimento, em cada
Seguir o protocolo de coleta (Fig. 3) e o protocolo quadrícula, com (1) baldes, (2) colunas de
de conservação de material biológico (Fig. 4). 25x25x10cm ou (3) “caixinhas”. Neste último caso,
Não é necessária a padronização do tamanho os pesquisadores podem definir as dimensões da
da amostra. Sempre identificar o tipo de estrutura, amostra que querem retirar de cada quadrícula,
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Fig. 3 – Protocolo de amostragem (1). Roteiro para coleta de carvões concentrados e outros restos
vegetais (fogueiras, frutos, estacas etc.) e de vestígios faunísticos concentrados ou de caracterís-
ticas especiais.
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Fig. 5 – Protocolo de amostragem (2). Roteiro para coleta de restos vegetais e faunísticos dispersos,
a ser utilizado em casos de amostragem exaustiva (todos os vestígios encontrados).
Fig. 6 – Protocolo de amostragem (3). Roteiro para coleta de restos vegetais e faunísticos dispersos,
a ser utilizado em casos de amostragem sistemática concomitante à escavação.
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construir uma caixa de madeira (Fig. 8) e utilizá-la mente a amostragem quando a preservação é muito
ao invés de baldes. Os dois métodos mantêm os boa (por exemplo sítios-abrigo, onde a preserva-
mesmos parâmetros de volume para todas as ção de restos vegetais pode ser muito grande, ou
amostras, porém o uso da caixinha facilita a coleta. sambaquis, onde há enorme quantidade de restos
Embora muito útil para a zooarqueologia, o faunísticos).
método da caixinha, isoladamente, não é aconse- Quando há necessidade de selecionar certas
lhado para a coleta de carvões, pois em geral a quadras para a amostragem, as áreas a serem
quantidade de sedimento coletada é insuficiente amostradas devem ser definidas antes do início
para a amostra antracológica. dos trabalhos, para que se evite a seleção de
Note que este protocolo se refere a sítios com zonas com maior concentração de material, o que
condições normais de preservação. Em sítios onde introduziria fatores de erro na posterior avaliação
as condições de preservação são excepcionais a dos resultados obtidos. Esta seleção pode ser
metodologia deve ser especialmente planejada, feita de modo aleatório (por exemplo, seleção de
coletando-se todos os vestígios em sítios onde a quadras através de números randômicos) ou
preservação é particularmente baixa (especialmen- sistemático (por exemplo, definição de coleta
te, no caso dos restos faunísticos, em sedimentos em quadras alternadas em cada linha do
ácidos) ou, ao contrário, diminuindo-se relativa- quadriculamento do sítio) (Fig. 7).
Fig. 7 – Exemplo de escavação do sítio Ilha da Boa Vista I (Tamoios, Cabo Frio,estado do Rio de Janeiro,
Brasil), mostrando o quadriculamento do mesmo. A elipse cinza-escuro representa a área do sambaqui; o
círculo claro, a área de maior concentração de vestígios (adaptado de Barbosa et al. 1994). A escavação
arqueológica foi feita no quarto noroeste do sítio. Os quadrados pretos representam a amostragem
antracológica durante a escavação (um balde de sedimento por decapagem, em quadrículas alternadas).
O retângulo preto indica a localização do perfil antracológico (de acordo com Scheel-Ybert 2004b).
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Fig. 9 – Protocolo de amostragem (4). Roteiro para coleta de restos vegetais e faunísticos, a ser
utilizado em casos de amostragem em perfil.
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Fig. 10 – Guia de amostragem de perfis sedimentares. Este equipamento pode ser usado a fim de se
manter constantes a horizontalidade e a espessura dos níveis artificiais para amostragem de perfil, faci-
litando a coleta em níveis regulares (adaptado de Ybert et al. 1997).
flotação) para recuperação dos carvões e do peso após peneiramento reflete o grau de fragmen-
material zooarqueológico. É importante verificar se tação, que pode ser mais bem discriminado com o
todos os baldes usados na escavação são iguais; uso de peneiras com malhas diferentes.
caso contrário, estabelecer um tamanho que será A conjunção destes índices permite que se
usado em todas as amostras. Sempre fazer uma comparem amostras diferentes com parâmetros
estimativa de volume dos baldes utilizados e anotar confiáveis, observando as semelhanças e diferen-
nos formulários de coleta (Fig. 2). ças, e considerando quais são realmente significa-
Sempre anotar a quantidade de baldes tivas. Deste modo, a análise pode definir se
retirada. Além disso, fazer a pesagem do sedimento camadas visualmente diferentes o são realmente
contido em cada balde, a fim de se ter uma em seus atributos de compactação, fragmentação
estimativa mais precisa da quantidade de sedimento e composição.
amostrada, permitindo inferir-se a densidade A malha das peneiras utilizadas deve ser
relativa do material em cada camada arqueológica definida rigorosamente. A malha para coleta
ou feição. antracológica nunca pode ser superior a 4mm. O
As amostras de sedimento para zooarqueologia uso de uma malha de 2mm é aconselhado quando
devem ser acompanhadas dos seguintes dados: os fragmentos são muito pequenos ou se as coletas
volume escavado, peso inicial, e peso após zooarqueológicas são feitas no mesmo material.
peneiramento. O volume escavado é mais adequa- Uma sugestão útil, que facilita muito o trabalho
do que o volume obtido pós-retirada (medido em de campo, é a de se pintar a margem das peneiras
baldes), pois duas amostras de mesmo volume, de em cores diferentes (p.ex. azul = 2 mm; amarelo =
camadas diferentes, podem apresentar diferentes 4 mm; vermelho = 6 mm).
graus de compactação. A partir das informações de De um modo geral, três métodos de recupera-
volume e peso, pode-se calcular a densidade da ção podem ser utilizados: coleta manual, peneiragem
camada, que indica o seu grau de compactação. O a seco ou com água do sedimento, ou flotação.
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15-16: 139-163, 2005-2006.
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Fig. 11 – Protocolo de flotação. Roteiro para realização de flotação das amostras de sedimento.
Existem vários modelos de células de flotação, utilizados nos Estados Unidos e na Europa foram
desde o artesanal, baseado na imersão de um balde apresentados por Pearsall (2000).
numa cuba maior contendo água, até os mais Se existir uma fonte de água nas proximidades
elaborados, com assistência mecânica. O modelo do sítio, a flotação pode ser feita diretamente no
de uma célula de flotação desenvolvido no Brasil foi campo. Quando possível, deve-se esvaziar
apresentado por Ybert et al. (1997), e uma sistematicamente a cuba da célula de flotação após
adaptação do mesmo, com alguns aperfeiçoamen- o tratamento de cada amostra, a fim de evitar
tos, é apresentada aqui (Fig. 12). Vários modelos contaminação entre amostras diferentes, especial-
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Fig. 12 – Modelo de uma célula de flotação (adaptado de Ybert et al. 1997). A. Vista explodida. B. Vista
superior, sem as peneiras, para melhor visualização da instalação hidráulica. C. Vista do conjunto mon-
tado. Neste modelo, as peneiras e seus suportes são removíveis. O coador apresentado na parte superior
do desenho, à direita, tem por objetivo recolher os carvões flutuantes, a fim de agilizar a operação.
mente quando existe a possibilidade de se fazer importante sempre ter em mente que a flotação e a
uma datação radiocarbônica posterior. É muito análise antracológica não prejudicam a datação do
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carvões, sementes e tubérculos, como também caso de coletas exclusivas para a antracologia,
restos ósseos, conchas e outros materiais. podem-se usar as peneiras de 4mm (p.ex. parte do
Diversos estudos experimentais alertam que o perfil que servirá apenas para a coleta antracológica).
uso de peneiras maiores que 4mm acarretam a Note-se que é indispensável, em todos os
perda de grande parte dos ossos de pequenos casos, sempre registrar a malha de peneiragem com
mamíferos, répteis, peixes e aves (Gordon 1993; que o material foi obtido.
Shaffer & Sanchez 1994), além de provocar uma
diminuição significativa na diversidade das amostras
vegetais (Chabal 1997). Stewart (1991) notou um Conclusão
aumento de mais de 66% na quantidade de
vestígios faunistícos recuperados com o uso de A obtenção de amostras de antracologia,
peneiras de 2mm e flotação, em comparação com arqueobotânica e zooarqueologia, além de fornecer
amostras peneiradas com malha de 5mm. Em sítios informações sobre os vegetais e a fauna utilizados pelo
com grande quantidade de animais de pequeno grupo que formou o sítio em estudo, produz conheci-
porte (como peixes e anfíbios), o índice de mentos significativos sobre temas tradicionais trata-
recuperação de elementos pode aumentar em até dos pela arqueologia brasileira. Artefatos, marcas de
97% em comparação com a peneiragem a seco estacas, áreas concrecionadas, depósitos de lixo, entre
(Lennox et al. 1986). O uso de peneiras de 2mm outras estruturas, podem ser identificados durante a
produzirá uma amostragem ideal para estudos de obtenção das amostras e apenas a identificação de
subsistência, paleoambiente, dieta e outros impor- tais estruturas já é uma contribuição importante para
tantes temas para a arqueologia. o entendimento do processo de formação do sítio.
A obtenção de informações a partir dos Dessa forma, recomenda-se que ao serem identificadas
dados zooarqueológicos será maximizada pela estruturas e artefatos sejam adotados os procedimen-
análise de todos os fragmentos retidos na peneira tos básicos característicos da pesquisa arqueológica,
de malha 2mm. A utilização de uma seqüência de a fim de que se possa construir uma interpretação
peneiras de diferentes malhas (por exemplo 6mm, que integre as diferentes análises.
4mm e 2mm) facilita a triagem e identificação do Por outro lado, os procedimentos sugeridos
material coletado. A utilização exclusiva de para a obtenção de amostras de antracologia e
peneiras com malha de 4mm deve ser evitada em zooarqueologia são uma excelente alternativa para
estudos faunísticos, pois grande porcentagem de se iniciar pesquisa em sítios em bom estado de
ossos de peixes e roedores são perdidos durante conservação, onde não existam perfis aparentes. A
o processamento, mascarando a realidade das associação de procedimentos arqueológicos,
atividades de subsistência das populações antracológicos e zooarqueológicos conduz a uma
estudadas. caracterização do sítio bastante completa.
No caso da antracologia, em regiões tropicais, O protocolo aqui desenhado parte do princípio
costuma-se analisar apenas os fragmentos maiores de que o testemunho arqueológico é um bem não
que 4mm, pois fragmentos menores em geral não renovável e que guarda importantes informações
reúnem um conjunto de caracteres anatômicos sobre o passado da humanidade. Nesse sentido,
suficientemente amplo para permitir sua identifica- visa realizar intervenções do menor porte possível e
ção (Scheel-Ybert 2000). Por isso, o uso de extrair o máximo de informação relacionado com
peneiras de 4mm é suficiente, o que diminuiria o cada intervenção. Muito embora as reflexões sobre
esforço de peneiragem (no campo) e triagem (no amostragem aqui apresentadas estejam primeira-
laboratório). mente voltadas para antracologia/arqueobotânica e
A fim de resolver este aparente conflito, zooarqueologia, as intervenções realizadas nos
aconselhamos que para todas as amostragens sítios permitem obter informações arqueológicas
conjuntas, utilizem-se peneiras de malha de 2mm, a importantes, tais como as dimensões do pacote
fim de que os vestígios coletados possam ser úteis a arqueológico, sua composição, parâmetros
diversas disciplinas (p.ex. amostragem sistemática temporais etc., etapa fundamental de toda pesquisa
do sítio, método de “caixinhas”, parte do perfil que arqueológica.
servirá para amostragem em antracologia e A sistematização das amostragens antracológicas/
zooarqueologia, todas as amostras de flotação). No arqueobotânicas e zooarqueológicas busca
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viabilizar a construção de interpretações bem Blasis & P.C. Giannini, com participação de todos
embasadas, através de um conhecimento mais os autores).
aprofundado das características de cada sítio, assim Agradecemos igualmente a todos os pesquisa-
como produzir um conjunto de dados que condu- dores que aplicaram este protocolo em coletas de
zam a comparações pertinentes entre diferentes campo, nos permitindo testá-lo e aprimorá-lo em
sítios e regiões, especialmente no que se refere à vários aspectos. Em particular, o protocolo
relação das populações pré-históricas com seu apresentado foi utilizado durante escavações
meio-ambiente e à dieta alimentar. realizadas no quadro das teses de doutorado de
Paula Nishida (“A coisa está preta”, programa de
pós-graduação do Museu de Arqueologia e
Agradecimentos Etnologia, USP, financiamento FAPESP) e de Suely
Gleyde Amancio da Silva (“Processo de formação
Os autores agradecem o apoio financeiro do do Sambaqui Ilha das Ostras, no litoral norte da
CNPq (Bolsa PROFIX de Scheel-Ybert; Auxílio- Bahia”, programa de pós-graduação do IGEO/
pesquisa de Gaspar), FAPERJ (“Cientista do UFBA, financiamento CNPq).
Nosso Estado”, Gaspar), CAPES (Bolsa de Os desenhos apresentados nas Figuras 1,
Doutorado no Exterior de Klökler) e FAPESP 8, 10, 12 e 13 foram realizados por William
(Projeto Temático coordenado por P.A.D. De Soares de Borba.
SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposed sampling standards for
bioarchaeological macro-remains: anthracology, archaeobotany, zooarchaeology. Rev. do
Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-6: 139-163, 2005-2006.
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