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Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 139-163, 2005-2006.

PROPOSTA DE AMOSTRAGEM PADRONIZADA PARA MACRO-


VESTÍGIOS BIOARQUEOLÓGICOS: ANTRACOLOGIA,
ARQUEOBOTÂNICA, ZOOARQUEOLOGIA

Rita Scheel-Ybert*
Daniela Klökler**
Maria Dulce Gaspar***
Levy Figuti****

SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposta de amostragem


padronizada para macro-vestígios bioarqueológicos: antracologia, arqueobotânica, zooarqueologia.
Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 139-163, 2005-2006.

RESUMO: Este artigo tem por objetivo alertar para a importância dos estudos de
macro-vestígios bioarqueológicos de origem vegetal e animal. Nele é estabelecido um
protocolo de amostragem que visa atender às necessidades da pesquisa arqueológica
no campo e conduzir a uma coleta sistematizada de restos vegetais, para estudos de
antracologia e arqueobotânica, e de restos faunísticos, para estudos de zooarquelogia.
Esta estratégia de amostragem visa construir coleções que conduzam à obtenção de
dados comparáveis, em sítios diferentes, no que se refere a paleoambiente, sistema de
subsistência, território de exploração e interação entre o domínio social e ambiental.

UNITERMOS: Arqueologia – Antracologia – Zooarqueologia – Amostragem –


Metodologia.

Introdução em análise. Da mesma forma opera a arqueolo-


gia. No entanto, estando a atenção dos estudio-
A ciência depende de amostragem, pois o sos muito mais voltada para as alterações
conhecimento científico é produzido mediante decorrentes dos processos naturais associados
investigações de porções limitadas do universo ao desenrolar do tempo (perda e ganho de
materiais), são raras as reflexões sobre amostragem
do universo conforme ele se apresenta no
momento de estudo e as reflexões sobre a
(*) Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de
representatividade da área escavada. Para
Janeiro-UFRJ. Departamento de Geologia e Paleontologia.
Setor de Paleobotânica e Paleopalinologia. muitos pesquisadores, os contornos dos sítios
scheelybert@mn.ufrj.br arqueológicos representam limites relacionados
(**) University of Arizona. Department of Anthropology. apenas com a área a ser escavada, sem uma
Tucson, Arizona. dklokler@email.arizona.edu reflexão mais detida sobre a articulação entre
(***) Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de
unidades sociológicas, que só fazem sentido
Janeiro-UFRJ. Departamento de Antropologia.
mgaspar@alternex.com.br integrando um conjunto maior. No estudo da
(****) Museu de Arqueologia e Etnologia, da Universida- ocupação pré-colonial do Brasil, pouca atenção
de de São Paulo. lfiguti@usp.br tem sido dada para a identificação de unidades

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SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposta de amostragem padronizada para macro-vestígios
bioarqueológicos: antracologia, arqueobotânica, zooarqueologia. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,
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que tenham significado sociológico e a identifica- humana (Popper & Hastorf 1988). Neste sentido,
ção da função de sítios arqueológicos. ela se diferencia da paleoetnobotânica, que se
A integração, ao trabalho arqueológico, das define como “a análise e interpretação de vestígios
chamadas “disciplinas associadas” é um fenômeno arqueobotânicos visando fornecer informações
cada vez mais freqüente e que tem trazido uma sobre as interações entre populações humanas e
série de informações importantes ao conhecimento plantas” (Popper & Hastorf 1988).
do processo de ocupação do que é hoje o território Muitos são os objetivos do estudo
brasileiro. À medida que os arqueólogos se arqueobotânico. Por exemplo, ecólogos podem
distanciam da arqueologia meramente descritiva, do buscar nos restos vegetais evidências para a
simples inventário, a escavação passa a fornecer reconstrução de ambientes passados; botânicos
informações não somente sobre artefatos, dieta podem estudar as mudanças morfológicas de certas
alimentar, habitação, economia doméstica, mas plantas ao longo do processo de domesticação;
também sobre sistemas socioculturais, ambiente, arqueólogos se interessam pela forma como
entre outros. Os trabalhos naturalistas e os estudos populações antigas utilizaram o ambiente para
paleoambientais não são mais apenas um adendo prover às suas necessidades básicas, em como as
ao conhecimento do sítio, mas auxiliam na constru- estratégias econômicas variaram ao longo do
ção de interpretações e fazem parte integrante do tempo, ou em como os restos vegetais encontrados
campo atual da arqueologia (Scheel et al. 1996). em contexto funerário poderiam indicar uma
Neste sentido, é muito importante que tais oferenda de significado simbólico, assinalando
estudos sejam levados em consideração desde o diferenças de status social.
planejamento da escavação arqueológica (Scheel- Muitas também são as disciplinas implicadas
Ybert et al., no prelo). Idealmente, os especialistas na análise arqueobotânica. Distinguem-se, particu-
devem ser contactados antes de sua realização, larmente, os estudos de macro-restos vegetais,
durante a fase de definição do projeto de pesquisa, como a antracologia (estudo dos restos de madeira
a fim de que, participando do trabalho de campo, carbonizada), a carpologia (estudo dos frutos e
eles possam contribuir para a definição de estratégias sementes), o estudo de tubérculos e raízes comestí-
metodológicas que conduzam a uma otimização da veis, de fibras, de folhas, de madeiras não carboni-
recuperação de macro e micro-vestígios de origem zadas, entre outros, dos estudos de micro-restos
vegetal e animal. No entanto, estes especialistas vegetais, especialmente fitólitos, grãos de pólen e
ainda são raros no Brasil e não podem atender à grãos de amido.
demanda de toda a comunidade arqueológica. Por Os métodos de coleta apresentados neste
isso, este artigo tem como objetivo estabelecer um artigo se limitam aos primeiros. Embora a maior
protocolo de amostragem que possa atender às parte das técnicas apresentadas tenham sido
necessidades da pesquisa arqueológica no campo e desenvolvidas para a coleta de amostras carboniza-
conduzir a uma coleta sistematizada de restos das, elas normalmente se aplicam também à coleta
botânicos e faunísticos. de vestígios não-carbonizados.
A padronização das coletas de restos vegetais, Cabe ressaltar, no entanto, que, em condições
para estudos em arqueobotânica e em antracologia, normais de preservação, a conservação de restos
e de restos animais, para estudos em zooarqueologia, vegetais não-carbonizados em sítios de regiões
visa essencialmente tornar disponíveis amostras que tropicais é incidental. Esta dificuldade de conserva-
conduzam à obtenção de dados comparáveis, em ção faz com que a recuperação de restos alimentares
sítios diferentes, no que se refere ao paleoambiente, carbonizados (frutos, sementes, tubérculos, raízes
à dieta alimentar, e a informações paleoetnológicas etc.) se revista da mais alta importância, podendo
de um modo geral. conduzir à obtenção de vestígios materiais concretos
Arqueobotânica é o estudo dos restos vegetais de atividades que muitas vezes continuam sendo
encontrados em contexto arqueológico (Ford inferidas simplesmente a partir de provas indiretas,
1979). Além de representar um termo geral que como é o caso do consumo de vegetais e do cultivo.
engloba o estudo de diferentes partes das plantas, Desde seu aparecimento, na França, na
com diversos objetivos, a arqueobotânica se refere década de 70, a antracologia tem contribuído com
especificamente aos métodos de coleta, análise e uma série de importantes inovações para a compre-
interpretação de dados que não envolvem a ação ensão do registro arqueológico. A primeira, que foi

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seu objetivo inicial e sua contribuição mais evidente, grupos humanos, e com base em experimentações,
se refere à reconstituição do meio ambiente no qual a autora demonstrou que não existe “seleção de
viviam as populações pré-históricas. A análise dos espécies”, pois as propriedades combustíveis da
fragmentos de carvão conservados no sedimento madeira são condicionadas por fatores diversos,
retrata a vegetação em torno do sítio durante o independentes da espécie, e que um grande número
período de ocupação e, por dedução, do clima. A de variáveis pode influenciar na decisão de coletar
partir da conjugação de critérios paleoecológicos e determinada planta para lenha (acesso, distância do
arqueológicos, é possível determinar a ocorrência sítio, facilidade de coleta, tamanho, calibre, taxa de
de mudanças climáticas, assim como de modifica- umidade, entre outros). Através de experimenta-
ções do meio-ambiente provocadas pela atividade ções em laboratório, ela estabeleceu que, ao
antrópica. contrário do que se acreditava anteriormente, os
Por exemplo, estudos de antracologia e ossos de animais ou a linhita não podem substituir
palinologia de oito sítios da região do Alto Ribatejo, inteiramente o uso de madeira para lenha, de um
em Portugal, mostraram que as comunidades lado porque eles dependem do uso de madeira
neolíticas exploravam diversos biomas e evidencia- seca para iniciar a combustão, de outro por serem
ram um aumento da importância de formações pouco apropriados para certas funções da fogueira,
vegetais abertas ao longo do tempo, em detrimento por exemplo a produção de brasas para cozimento
de florestas de galeria e de florestas de carvalho, o indireto (osso), a iluminação e a defumação
que foi atribuído a uma exploração muito intensiva (linhita). O uso destes materiais no sul da França
da paisagem (Allué 2000). durante o Paleolítico, dentro de um ambiente
Da mesma forma, estudos antracológicos florestado, se deveu a um processo de gestão dos
realizados em vários sítios às margens do Eufrates, combustíveis segundo suas propriedades e o
na Turquia e na Síria, indicaram que a paisagem do interesse de seu uso. O uso de ambos representa
Oriente Próximo, atualmente árida e inteiramente uma dupla vantagem funcional e econômica. No
desmatada, foi muito diferente durante a Idade do caso de ossos de animais, a de melhorar a produ-
Bronze, apresentando florestas de carvalhos e ção de chamas e de calor da fogueira, além de
florestas de estepe numa grande extensão, e a mais representar uma solução vantajosa para os
baixas altitudes do que estas ocorrem atualmente problemas de aquisição e estocagem da madeira e
(Willcox 2002). Embora uma influência climática de destruição das carcaças de animais consumidos.
sobre esta mudança de vegetação não possa ser No caso da linhita, a de aumentar a duração da
descartada, o autor atribui este processo principal- combustão e de diminuir a necessidade de atenção
mente a uma desertificação antrópica. O excesso de em relação ao fogo, permitindo que se reduza o
pastagens teria conduzido à destruição da vegetação estoque de madeira seca e que se conserve o fogo
e ao aumento da erosão, o que em conseqüência durante um longo tempo sem necessidade de
acarretou maior atividade eólica. Estas últimas, reacendê-lo com freqüência. Note-se que esta
associadas à atividade constante e continuada dos autora demonstrou a completa impossibilidade de
animais, continuariam impedindo, até os dias de hoje, se fazer uma fogueira usando somente ossos, ou
a regeneração da cobertura vegetal (Willcox 2002). somente linhita. As “fogueiras de ossos” encontra-
Interpretados de um ponto de vista das em alguns sítios paleolíticos não se devem a um
paleoetnológico, os fragmentos de carvão dispersos uso exclusivo do osso como combustível, mas sim
no sedimento podem, além da reconstituição ao fato de que este material, quando queimado
paleoambiental, fornecer informações importantes junto com a madeira, provoca uma carbonização
sobre a economia do combustível. completa desta última, deixando somente cinzas e
Na França, o estudo antracológico de sítios restos de ossos carbonizados ao final da combus-
paleolíticos conduziu a uma reflexão aprofundada tão (Théry-Parisot 2001).
sobre a gestão dos combustíveis a as motivações dos No Brasil, foi demonstrado que a coleta
grupos que utilizaram madeira, linhita, excrementos aleatória de madeira morta constituía a principal
ou ossos de animais em suas fogueiras (Théry- fonte de lenha para populações sambaquieiras
Parisot 2001). Argumentando que as práticas de (Scheel-Ybert 2000, 2001a, 2001b). Este mesmo
coleta de lenha são muito diversas, dependendo do trabalho revelou que a madeira de Condalia sp, um
sítio e das condições encontradas pelos diferentes arbusto da família Rhamnaceae, parece ter sido

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selecionada por razões econômicas ou cerimoniais conhecimento da pré-história, pois os carvões


(Scheel-Ybert 2001a). No entanto, uma análise constituem uma fonte inestimável de informações de
cuidadosa dos dados permitiu demonstrar que, se diversas ordens. No entanto, ainda é raro que os
a seleção de espécies concerne apenas a uma arqueólogos brasileiros coletem estes vestígios de
fração limitada do cortejo vegetal, ela não afeta a modo sistemático, pois restos carbonizados
validade das interpretações paleoambientais costumam ser recuperados exclusivamente visando
(Scheel-Ybert 1999). datações radiocronológicas.
Além disso, há outras aplicações da antracologia, Da mesma forma, a zooarqueologia, apesar de
que vão desde a identificação de restos de madeira conhecida por arqueólogos brasileiros desde seus
carbonizada associados a estruturas bem identificadas primórdios como disciplina, em meados do século
na escavação (estacas, estruturas de habitação, XIX, ainda é vista essencialmente como um meio
objetos queimados), o que pode indicar quais tipos de identificar e contabilizar as espécies animais
de madeira eram utilizados para aplicações encontradas em determinado sítio. Estudos
específicas (Bernard & Thibaudeau 2002; Durand zooarqueológicos no Brasil têm seu potencial sub-
2002), até a identificação de restos alimentares aproveitado, principalmente pelo desconhecimento
carbonizados, que se conservam junto com o da maioria dos pesquisadores da ampla e diversificada
material antracológico propriamente dito, e podem contribuição que a pesquisa dos restos faunísticos
fornecer importantes indicações sobre dieta, pode fornecer à arqueologia. Estudos faunísticos
consumo de vegetais, manejo ou cultivo. podem, e devem, extrapolar as meras listas de
No Brasil, o estudo de um grande número de espécies presentes nas amostras, geralmente
fragmentos de carvão de sambaquis conduziu à apresentadas em anexo ao final de relatórios de
recuperação de vários fragmentos de tubérculos, pesquisa. Para isso, o zooarqueólogo deve estar
em particular restos de carás (Dioscorea sp) envolvido no projeto de escavação, de maneira que
(Scheel-Ybert 2001a). A preservação de tubércu- possa desenvolver o melhor método de coleta, a
los no registro arqueológico sendo particularmente partir dos objetivos e hipóteses de pesquisa
difícil, sua conservação sugere que este alimento, (Klökler 2001). A estratégia de campo deve ser
muito rico em amido, contribuía substancialmente adaptada às características do sítio e aos objetivos
para a alimentação dos sambaquieiros, e que os e prioridades dos pesquisadores.
vegetais eram mais importantes em sua alimentação Por exemplo, a coleta sistemática apenas de
do que se considera usualmente. Este fato, corro- ossos de mamíferos, ou a seleção de alguns
borado por outros indícios de caráter etnobotânico, elementos maiores e melhor preservados, tende a
conduziu à hipótese da existência de manejo na falsear as informações sobre a importância dos
sociedade sambaquieira (Scheel-Ybert 2003). A restos animais no sítio e a representatividade de
associação destes resultados àqueles obtidos cada espécie no contexto geral. Da mesma forma, a
através de análises de patologia dental em coleta exclusivamente de restos de fogueiras, ou a
sambaquieiros (Wesolowski 2000), que indicaram seleção, para a antracologia, dos poucos fragmen-
que, pelo menos em alguns sítios, as freqüências de tos de carvão maiores e mais visíveis durante a
cáries são análogas às de horticultores, e mesmo escavação, impede a realização de um estudo
agricultores, permitiu levantar a questão de saber- paleoecológico visando à reconstituição paleoambiental
se se algum tipo de produção de alimentos já existia da área.
naquela época (Scheel-Ybert et al. 2003). Figuti (1989, 1992, 1993) foi o primeiro autor
Note-se que, neste caso, o estudo antracológico a ressaltar a necessidade de maior cuidado na
conduziu a uma mudança na percepção da dieta elaboração de metodologias de campo para
alimentar dos sambaquieiros, passando de uma amostras zooarqueológicas no Brasil. Sua influência
dependência exclusiva de recursos marinhos tem sido sentida nos trabalhos mais recentes em
(moluscos e peixes) para algo mais complexo. A zooarqueologia, porém estes esforços ainda são
inclusão de vegetais na dieta pode explicar a isolados na disciplina (Klökler 2001; Nishida
ocorrência de cáries, e permitir um melhor entendimento 2001).
da área de captação de recursos dos sambaquieiros. A adoção de um protocolo minucioso para
Os poucos exemplos apresentados ressaltam a guiar a coleta de amostras de vestígios faunísticos
contribuição significativa da antracologia ao contribuirá para a padronização dos estudos

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zooarqueológicos, permitindo a posterior compara- ções de elementos composicionais das camadas


ção entre sítios de diversas regiões do país. A falta dos sítios estudados. As amostras reservadas para
de padronização em estudos zooarqueológicos zooarqueologia no sítio Espinheiros-II (Figuti &
dificulta as interpretações sobre o uso e importância Klökler 1996) não possuíam volume padronizado,
de vestígios animais no passado, impedindo que o que impediu que os autores avaliassem mudanças
determinados temas sejam estudados em profundi- na técnica de pesca e que fosse estabelecida com
dade e que um conhecimento bem embasado sobre precisão a época da mesma.
o assunto seja construído. Dessa forma, uma A amostragem zooarqueológica em sambaquis
questão que poderia ser bem equacionada torna-se é onerosa em tempo e pessoal envolvido. Portanto,
uma preocupação constante entre os zooarqueólogos suas metas devem ser claras, e seus métodos os
brasileiros (Figuti 1992; Figuti & Klökler 1996; mais rentáveis em termos de tempo/resultados. Um
Klökler 2001). primeiro aspecto da pesquisa zooarqueológica em
Grande parte dos trabalhos em zooarqueologia sambaquis é o próprio estudo de suas camadas,
no Brasil é feita a partir de vestígios advindos de que nos remete obrigatoriamente à análise de sua
coletas seletivas. Entende-se por “coleta seletiva” a composição faunística. Porém, além dos índices
recuperação manual de ossos grandes e/ou tradicionais em zooarqueologia, NISP e MNI (ou
fragmentos que aparentam ter elementos para “Número de Peças Identificadas” e “Número
identificação (Wheeler & Jones 1989). No entanto, Mínimo de Indivíduos”), o estudo das camadas
raramente os pesquisadores esclarecem os critérios requer também índices que forneçam dados sobre a
de seleção de certos elementos em detrimento de fragmentação e a compactação dos vestígios, os
outros. Diferenças em termos de experiência em quais conduzem a informações sobre aspectos da
campo ou conhecimentos em biologia contribuem formação do sítio.
para uma descontinuidade em relação aos elemen- O grau de fragmentação de vestígios animais
tos coletados (ossos, dentes, conchas etc). Na fornece evidências sobre processo de formação do
grande maioria dos casos, ossos de mamíferos são sítio (Klökler 2001), localização de áreas de
mais facilmente reconhecidos, o que gera inferências atividade (Rouse, 2004) e função do sítio (Piana et
errôneas sobre a importância da caça entre grupos al. 1998), além de prover dados acerca do
pré-históricos. Nos trabalhos feitos em Cosipa processamento, consumo e descarte de produtos
(Figuti 1989, 1992) e no sítio Enseada-I (Bandeira animais.
1992), os pesquisadores somente tiveram acesso a Estudos de granulometria no sítio Jabuticabei-
amostras coletadas seletivamente, e em conseqüência, ra-II (Santa Catarina) revelaram-se muito interes-
apesar de seus esforços, o trabalho interpretativo santes. Os índices de fragmentação dos restos de
foi parcialmente comprometido, especialmente as bivalves, que foram a princípio calculados visando
análises relacionadas à dieta, subsistência, e o reconhecimento de áreas de circulação intra-sítio,
estratégias de pesca. se tornaram elementos básicos para a interpretação
Além de diminuir o potencial informativo do do processo de formação do sítio. Verificou-se que
material arqueológico, coletas seletivas também certas camadas contêm conchas com maior grau de
dificultam a padronização do volume da amostras. integridade, e que em muitos casos as valvas ainda
O controle do tamanho das amostras coletadas estavam unidas. Essas camadas, que formam
para a pesquisa (por peso ou volume) é fundamen- montículos recobrindo áreas funerárias, são
tal, pois ele influencia diretamente a quantidade de caracterizadas pela predominância de berbigões,
espécies animais recuperadas em um sítio (Grayson por um sedimento arenoso solto e pela integridade
1984). Quando os resultados de amostras de de seus componentes – mesmo mariscos, moluscos
diferentes tamanhos são comparados, as diferenças cujas valvas são finas e frágeis, encontram-se
em diversidade identificadas não serão necessaria- inteiros e fechados. Tais condições de preservação
mente relevantes para o estudo das sociedades pré- contradizem interpretações que consideravam o
históricas, mas sim conseqüência da metodologia sítio como espaço habitacional. Por outro lado, as
adotada em campo. camadas funerárias deste mesmo sítio contêm
A falta de padronização de amostras por maiores porcentagens de conchas quebradas e um
volume impede a verificação de diferenças sedimento mais compacto, indicando que foram
densimétricas e volumétricas e mascara as propor- submetidas a pisoteamento (Klökler 2001).

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Uma questão fundamental em arqueologia diz enegrecidas, forneceu subsídios para a caracteriza-
respeito à dieta, e para isso geralmente recorre-se a ção do sambaqui Jabuticabeira-II como sítio
estudos de zooarqueologia. Na literatura brasileira, funerário (Fish et al. 1998; Klökler 2001, 2003a,
há diversos exemplos de trabalhos que pretendem 2003b). A localização das estruturas em V, sempre
investigar a dieta de populações pré-históricas em estrita associação com fogueiras e sepultamen-
(Garcia 1970; Schoor 1975; Bandeira 1992; tos, muitas vezes circundando os mesmos, parece
Bonetti 1997; entre outros). No entanto, sem uma indicar que as marcas de estacas são vestígios de
amostragem padronizada de todos os níveis de estruturas funerárias construídas para proteção do
ocupação em diferentes áreas do sítio, coleta de espaço ritual.
todos os elementos faunísticos, e uso de peneiras Os ossos de peixes encontrados nas lentes
com malha de 2mm, qualquer análise de possíveis escuras e nas fogueiras, sempre associadas a
mudanças de dieta terá resultados inconclusivos. contextos funerários, são de maior porte e mais
Note-se que a mesma observação é válida no abundantes que os recuperados nas camadas de
que se refere a investigações em arqueobotânica e conchas, o que sugere a realização de banquetes
antracologia. Estas disciplinas são muito mais em homenagem aos mortos. De fato, esta grande
recentes no Brasil, e poucos estudos abordando quantidade de restos de peixes não pode ser
consumo de produtos vegetais já foram publicados explicada como o resultado de refeições comuns,
(e.g. Dias & Carvalho 1983; Tenório 1991; mas somente por eventos de grande magnitude.
Resende & Cardoso 1995-96; Scheel-Ybert 1999, Estudos preliminares indicam a presença de
2001a). No entanto, a raridade destes restos torna aproximadamente 300 peixes associados a apenas
ainda mais importante a amostragem padronizada, uma fogueira e uma média de 88 peixes em cada
coleta extensiva, flotação, uso de peneiras apropri- cova, acompanhando os corpos (Klökler 2003b).
adas e análise de um grande número de fragmentos, A análise zooarqueológica também permitiu
sem o que não se pode sequer avaliar a importância aos pesquisadores identificar a existência de
deste consumo para a dieta de populações pré- técnicas distintas de captação de recursos aquáti-
históricas. cos: a pesca rotineira de espécimes de pequeno
A análise zooarqueológica, porém, não se porte, que demanda o uso de algum tipo de rede de
restringe às investigações sobre a alimentação de arrasto, e a pesca de grandes peixes vinculada
povos pré-históricos, e pode ser utilizada com especificamente ao festim fúnebre (Klökler 2003a,
vantagem para a compreensão de processos de 2003b; Gaspar & Klökler 2004). Essa diferencia-
formação de sítios (Klökler 2001). A análise da ção confirma a importância dos banquetes fúnebres
composição faunística das diferentes estruturas e que demandariam a utilização de técnicas específi-
camadas do sambaqui Jabuticabeira-II contribuiu cas de pesca para obter os recursos necessários
para a redefinição de algumas noções sobre seu para eventos em memória aos ancestrais.
processo de formação, pondo em foco a importân- Outra importante contribuição da zooarqueologia
cia do ritual funerário no incremento do sítio. para o entendimento de processos de formação em
Estruturas cônicas no perfil (Fig. 1) chamaram a sítios conchíferos pode ser encontrada no estudo
atenção da equipe e foram primeiramente conside- do sambaqui Espinheiros-II. Neste sítio, a análise
radas evidências de superfícies de habitação, zooarqueológica dos sedimentos de duas áreas
representando a localização de cabanas. A coleta diferentes (uma sondagem e um perfil) permitiu
de amostras provenientes dessas marcas de estacas identificar duas fases distintas em sua formação
demonstrou que 90% do sedimento que as (Figuti & Klökler 1996). Em sua primeira fase, o
preenche é composto por restos de peixes, além de sítio é constituído quase exclusivamente por
seixos inteiros ou fragmentados. O aumento conchas de berbigão, resultado de coletas maciças
excepcional do número de peixes no sedimento de moluscos nos bancos lodosos localizados
contido nas marcas de estacas é inconsistente com próximos ao sambaqui, provavelmente com o
uma interpretação desses vestígios como restos de intuito de formar uma plataforma elevada, ou um
alimentação cotidiana. Ao contrário, a presença de aterro de conchas. Na segunda fase de sua
sepultamentos em diferentes áreas do sambaqui, formação e ocupação, a coleta de berbigões é
aliada à composição dos sedimentos recuperados acompanhada pela coleta de mariscos e ostras,
no interior das marcas de estacas e das lentes além de uma atividade pesqueira intensa, o que

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Fig. 1 – Seção de um perfil mostrando a estrutura estratigráfica do Sítio Jabuticabeira-II, estado de


Santa Catarina, Brasil (adaptado de Fish et al. 2000). Estruturas em forma de V no perfil representam
buracos de estaca (ver detalhe).

indica o desenvolvimento de um padrão mais no verão, e que esses grupos ocuparam áreas
complexo de captação de recursos. Esta diversida- costeiras o ano inteiro.
de de elementos faunísticos nos níveis superiores A zooarqueologia tem contribuído, também, para
está provavelmente associada à ocupação do sítio e estabelecer a função de áreas ou compartimentos no
à sua utilização como local de habitação. interior de sítios arqueológicos. A análise de vestígios
Estudos de zooarqueologia baseados na faunísticos não modificados (não transformados em
análise de sazonalidade, na Flórida (Russo & artefatos), foi utilizada para acessar a função de quartos
Quitmyer 1996), contribuíram para derrubar a e casas no Arizona, nos EUA. Neste caso, distinções
concepção de que os povos do Arcaico eram entre quantidade e distribuição de produtos comestíveis
nômades e exploravam a costa apenas no e não comestíveis, presença de ossos não modificados,
inverno, comprovando que a coleta de vieiras e grau de fragmentação e características da fauna
(Argopecten irradians) ocorria principalmente encontrada em diferentes contextos, permitiram

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diferenciar cômodos com função habitacional, estabelecimento de uma metodologia de coleta de


cerimonial e de armazenagem (Clark 1998). campo adaptada às condições tropicais se fez sentir
A análise dos contextos de sepultamentos de desde os primeiros trabalhos (Scheel-Ybert 1998,
animais no sudoeste americano (Hill 2000) indicou 1999, 2000). Por esta razão, já existem várias
que existem diferentes padrões de enterramento, publicações fornecendo informações sobre a
correspondentes a lixo cerimonial, oferendas metodologia antracológica e aspectos teóricos
dedicatórias e sepultamentos simples. O estudo é relacionados a esta disciplina (Scheel et al. 1996;
relevante por ressaltar a complexidade das Ybert et al. 1997; Scheel-Ybert 2004a, 2004b;
interações entre populações pré-históricas e 2005).
animais. As pesquisas descritas comprovam a Um estudo antracológico qualitativa e
importância da zooarqueologia para o estudo de quantitativamente confiável só é possível a partir da
vários domínios do comportamento humano. análise de um número razoável de carvões para
cada estrato. A superfície do sítio arqueológico
deve ser amostrada o mais amplamente possível,
Metodologia para cada nível estratigráfico, a fim de que se
obtenha a maior representatividade possível em
A representatividade de uma amostra é termos de diversidade taxonômica, e que se possa
condição essencial para a validade dos resultados avaliar a distribuição espacial dos carvões, o que
obtidos e sua posterior interpretação, por isso a pode conduzir a interpretações relacionadas a
escolha do método a ser empregado para a coleta diferentes áreas de atividade.
de material merece cuidadoso estudo. Para que o A comparação de curvas de saturação e de
trabalho faça sentido, é preciso que as amostras curvas de Gini-Lorenz (Scheel-Ybert 2002) indicou
sejam representativas dos sítios de origem (Cherry que 200 a 300 fragmentos de carvão por amostra,
1978; Popper 1988; Wheeler & Jones 1989). no mínimo, são necessários para uma boa interpre-
Como nem sempre é possível obter uma amostra tação paleoambiental. É fundamental distinguir, no
ideal, seja por motivos relacionados a tempo, verba, campo, as amostras provenientes de carvões
e/ou desenho do projeto, é procedente estabelecer concentrados das amostras de carvões dispersos,
procedimentos mínimos que viabilizem não só a pois uma reconstituição paleoecológica confiável
construção de interpretações bem embasadas como, deve ser baseada essencialmente nos carvões
também, futuras comparações entre sítios e regiões. dispersos.
Apesar de em alguns casos o volume de Embora a idéia de carvão reporte imediata-
material coletado ser aparentemente pequeno em mente àquela de fogueira, e efetivamente os
relação ao tamanho do sítio estudado, é sabido que carvões concentrados sejam os mais visíveis na
a coleta de quantidades enormes de material pode escavação, as camadas arqueológicas apresentam
fornecer dados redundantes, além de resultar em sempre carvões dispersos, que podem revelar-se
altos custos de transporte, análise e armazenamento abundantes por peneiragem do sedimento, os quais
(Waselkov 1987; Reitz & Wing 1999). O coletor provêm da limpeza sucessiva de fogões ou foguei-
precisa ter em mente que estratégias de amostragem ras ou do espalhamento dos restos de combustão
são uma forma de adequação entre a necessidade por processos pós-deposicionais (vento, atividade
de coletar o máximo possível e a realidade de que humana, atividades da fauna etc.). Os carvões
as amostras deverão ser processadas, identificadas concentrados, por sua vez, em geral se originam de
e interpretadas em tempo para publicação fogos ou fogueiras que tenham tido uma curta
(O’Connor 2000). A coleta da totalidade dos utilização no tempo, representando uma amostra
vestígios faunísticos e botânicos representa uma pouco significativa da vegetação como um todo;
situação ideal, entretanto, em alguns sítios e em eles podem também estar relacionados a uma
algumas situações isto é impossível. Por isso, o construção, um objeto ou uma atividade especi-
pesquisador deve definir o número mínimo de alizada, reconhecíveis no terreno a partir de
amostras e o tamanho das mesmas em relação à critérios arqueológicos, e cujo estudo oferece
especificidade de cada sítio e pesquisa. informações paleoetnológicas (Scheel et al. 1996).
A antracologia é uma disciplina relativamente Da mesma forma, estudos da fauna dependem
nova no Brasil, onde a preocupação com o de coletas em diferentes áreas de atividade, as

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bioarqueológicos: antracologia, arqueobotânica, zooarqueologia. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,
15-16: 139-163, 2005-2006.

quais são essenciais para que o arqueólogo tenha número, tamanho e preencher um formulário onde
acesso aos diversos usos de animais pelas popula- deve ser relacionada cada amostra, com descrição
ções pré-históricas. Vestígios faunísticos não se minuciosa do sedimento e, sempre que possível, um
restringem a regiões onde supostamente o grupo se croquis representativo (vide “Formulário de coleta”
reuniu para comer (em torno de fogueiras), porém na Fig. 2).
localizam-se também na periferia do sítio, em
acumulações resultantes da limpeza das áreas 1.2. Amostragem exaustiva
comunitárias, nos locais onde se manufaturam
instrumentos ósseos ou conchíferos, em contextos Aplica-se a sítios onde há pouca quantidade
rituais etc. Devido a essa diversidade espacial, de carvões ou de vestígios faunísticos, a casos nos
projetos de pesquisa devem incluir em sua metodologia quais a intervenção no sítio for muito pequena ou
amostragens distintas dependendo do sítio e das quando for decidida uma peneiragem de todo o
hipóteses do projeto. sedimento arqueológico durante a escavação.
A fim de maximizar a recuperação de Seguir protocolo de coleta (Fig. 5).
informações antracológicas, arqueobotânicas e
zooarqueológicas, e diminuir o investimento em 1.3. Amostragem sistemática (durante a
trabalhos de campo, foram desenvolvidos decapagem)
protocolos de amostragem que podem ser
utilizados em conjunto para as três disciplinas. Devido à necessidade de se levar em considera-
ção a variabilidade estratigráfica e a heterogeneidade
de depósitos inerentes aos sítios, é indispensável
1. Amostragem que se façam amostragens concomitantes à
escavação arqueológica. A coleta sistemática
Protocolos de amostragem abrangendo consiste em amostrar o material das diversas
diversos cenários de coleta para antracologia, quadras escavadas. Para isso, seguir protocolo de
arqueobotânica e zooarqueologia são propostos coleta (Fig. 6).
a seguir. Sugere-se que eles sejam fotocopia- A situação ideal é que seja coletada uma
dos, plastificados e utilizados, no campo, amostra em cada unidade de escavação (por
durante a escavação. Um modelo de formulário exemplo, em cada quadrícula), em cada
de coleta para antracologia e zooarqueologia é decapagem, mas este procedimento pode ser
igualmente proposto (Fig. 2). Cópias eletrônicas adaptado de acordo com a escavação (Fig. 7). A
do mesmo podem ser obtidas dos autores sob superfície da unidade a ser amostrada deve
demanda. perfazer entre ¼ e a totalidade de cada metro
Embora o formulário seja o mesmo para todas quadrado, em função da riqueza da camada em
as disciplinas, é importante preencher folhas carvões (Chabal 1988, 1997) ou em restos
separadas para cada tipo de material (restos faunísticos, e das contingências da escavação. O
vegetais carbonizados / restos vegetais não material deve ser coletado e peneirado de
carbonizados / fauna), já que sua análise geralmente acordo com uma das técnicas especificadas
é feita por especialistas diferentes. posteriormente. Não deixar de identificar o tipo
de coleta, sempre anexando etiquetas identificadoras.
1.1. Amostragem de estruturas Um formulário de coleta relacionando todas as
amostras, com informações detalhadas sobre
As amostras de estruturas (tais como fogueiras cada uma delas, deve ser sistematicamente
e depósitos associados, objetos queimados, preenchido (Fig. 2).
concentrações de ossos, buracos de estaca, silos, No caso da amostragem zooarqueológica, os
restos vegetais não carbonizados etc.) devem ser pesquisadores podem escolher entre utilizar como
coletadas separadamente e bem identificadas. padronização coletar o sedimento, em cada
Seguir o protocolo de coleta (Fig. 3) e o protocolo quadrícula, com (1) baldes, (2) colunas de
de conservação de material biológico (Fig. 4). 25x25x10cm ou (3) “caixinhas”. Neste último caso,
Não é necessária a padronização do tamanho os pesquisadores podem definir as dimensões da
da amostra. Sempre identificar o tipo de estrutura, amostra que querem retirar de cada quadrícula,

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Fig. 2 – Modelo de formulário de coleta para antracologia, arqueobotânica e zooarqueologia. Todas


as amostras coletadas devem ser relacionadas em formulários similares, fornecendo sempre o maior
número de informações possível sobre cada uma. Utilize folhas separadas para cada disciplina. Cópi-
as eletrônicas deste formulário podem ser obtidas dos autores sob demanda.

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Fig. 3 – Protocolo de amostragem (1). Roteiro para coleta de carvões concentrados e outros restos
vegetais (fogueiras, frutos, estacas etc.) e de vestígios faunísticos concentrados ou de caracterís-
ticas especiais.

Fig. 4 – Protocolo de conservação de material biológico. Roteiro para acondicionamento de


macro-restos vegetais e animais visando análises de antracologia, arqueobotânica e
zooarqueologia.

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Fig. 5 – Protocolo de amostragem (2). Roteiro para coleta de restos vegetais e faunísticos dispersos,
a ser utilizado em casos de amostragem exaustiva (todos os vestígios encontrados).

Fig. 6 – Protocolo de amostragem (3). Roteiro para coleta de restos vegetais e faunísticos dispersos,
a ser utilizado em casos de amostragem sistemática concomitante à escavação.

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construir uma caixa de madeira (Fig. 8) e utilizá-la mente a amostragem quando a preservação é muito
ao invés de baldes. Os dois métodos mantêm os boa (por exemplo sítios-abrigo, onde a preserva-
mesmos parâmetros de volume para todas as ção de restos vegetais pode ser muito grande, ou
amostras, porém o uso da caixinha facilita a coleta. sambaquis, onde há enorme quantidade de restos
Embora muito útil para a zooarqueologia, o faunísticos).
método da caixinha, isoladamente, não é aconse- Quando há necessidade de selecionar certas
lhado para a coleta de carvões, pois em geral a quadras para a amostragem, as áreas a serem
quantidade de sedimento coletada é insuficiente amostradas devem ser definidas antes do início
para a amostra antracológica. dos trabalhos, para que se evite a seleção de
Note que este protocolo se refere a sítios com zonas com maior concentração de material, o que
condições normais de preservação. Em sítios onde introduziria fatores de erro na posterior avaliação
as condições de preservação são excepcionais a dos resultados obtidos. Esta seleção pode ser
metodologia deve ser especialmente planejada, feita de modo aleatório (por exemplo, seleção de
coletando-se todos os vestígios em sítios onde a quadras através de números randômicos) ou
preservação é particularmente baixa (especialmen- sistemático (por exemplo, definição de coleta
te, no caso dos restos faunísticos, em sedimentos em quadras alternadas em cada linha do
ácidos) ou, ao contrário, diminuindo-se relativa- quadriculamento do sítio) (Fig. 7).

Fig. 7 – Exemplo de escavação do sítio Ilha da Boa Vista I (Tamoios, Cabo Frio,estado do Rio de Janeiro,
Brasil), mostrando o quadriculamento do mesmo. A elipse cinza-escuro representa a área do sambaqui; o
círculo claro, a área de maior concentração de vestígios (adaptado de Barbosa et al. 1994). A escavação
arqueológica foi feita no quarto noroeste do sítio. Os quadrados pretos representam a amostragem
antracológica durante a escavação (um balde de sedimento por decapagem, em quadrículas alternadas).
O retângulo preto indica a localização do perfil antracológico (de acordo com Scheel-Ybert 2004b).

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culturais de deposição de material.1 No entanto,


freqüentemente a coleta é facilitada pela definição de
níveis artificiais com espessura padrão. Neste caso,
recomenda-se sempre identificar as camadas
culturais e as feições que porventura ocorram em
cada camada artificial e fazer a coleta separadamen-
te. Nunca se deve misturar o material proveniente de
sedimentos, depósitos ou feições diferentes numa
mesma amostra. Seguir protocolo de coleta (Fig. 9).
É indispensável documentar com detalhes
todas as camadas coletadas, descrevendo diferen-
ças de cor, textura do sedimento, densidade da
camada, fragmentação e quantidade de material,
presença de bioturbação e outros, para que o
Fig. 8 – Modelo de caixa de madeira, medindo
analista no laboratório possa levar em consideração
25x25x10cm, que pode ser utilizado para cole- essas variáveis durante a interpretação dos
t a s z o o a rq u e o l ó g i c a s p e l o m é t o d o d a resultados. Todas estas informações devem constar
“caixinha”. no formulário de coleta (Fig. 2).
Ao contrário da amostragem sistemática, que
A coleta sistemática concomitante à contempla toda a superfície do sítio, no caso da
escavação é importante para evitar a seleção, amostragem em perfil é recomendável evitar amostrar
por parte do arqueólogo, de restos faunísticos áreas marginais dos sítios, dando sempre preferência a
ou de carvões de maior porte, mais concentra- zonas que possam ser associadas a algum tipo de
dos, ou a coleta preferencial de ossos mais atividade (habitação, ritual, descarte etc.) ou pelo
facilmente reconhecíveis pela equipe. A menos bastante ricas em material arqueológico.
seleção das peças maiores ou mais bem É interessante, sempre que possível, fazer uma
conservadas introduz um elemento de escolha amostragem em perfil, especialmente a fim de
subjetiva que acarretará posteriormente em facilitar a comparação dos resultados com outros
erros de interpretação. A amostragem sistemá- sítios já estudados para antracologia (Scheel-Ybert
tica, definida aleatoriamente, permite que 1999). Da mesma forma, a amostragem em colunas
sejam coletados todos os vestígios faunísticos é de grande valia para a zooarqueologia, e utilizada
e antracológicos contidos na área selecionada, previamente com resultados bastante satisfatórios
evitando assim distorções na amostragem. No (Figuti & Klökler 1996; Klökler 2001).
restante das quadras, somente coletar os Para antracologia, sugere-se amostrar um perfil
ossos, conchas ou outros vestígios que sejam “padrão” seguindo seções de 2m de largura por
particularmente distintivos, assim como os 50cm de profundidade, com decapagem de níveis
carvões concentrados. artificiais de 10cm de espessura. A fim de se manter
É muito importante, neste tipo de amostragem, constantes a horizontalidade e a espessura dos
sempre evitar “raspar” o sedimento com a colher níveis artificiais neste tipo de amostragem, pode-se
durante a escavação, especialmente no que se utilizar um “guia de amostragem” (Fig. 10), muito
refere ao sedimento que será coletado para simples de construção e de utilização, que facilita a
antracologia, a fim de não esmagar os carvões, realização de coletas em níveis regulares (Ybert et
impossibilitando sua análise. Preferencialmente, al. 1997). Este material será posteriormente
retirar pequenos blocos de sedimento e colocá-los peneirado ou flotado para separação dos carvões.
no balde.

(1) Distinguimos aqui níveis artificiais (para os quais é


1.4. Amostragem de perfil definida uma espessura padrão de 10cm, 20cm etc.) de
camadas culturais (que correspondem a pisos de
Idealmente, a amostragem em perfil deve ser ocupação, fundos de cabana, áreas funerárias etc.) e de
feita de acordo com as camadas naturais e/ou camadas naturais (depósitos sedimentares de composição
diferente).

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Fig. 9 – Protocolo de amostragem (4). Roteiro para coleta de restos vegetais e faunísticos, a ser
utilizado em casos de amostragem em perfil.

No caso de sambaquis, a amostra “caixinha” (Klökler 2001). Não se deve, entretan-


zooarqueológica produzida por esta coleta em to, em hipótese alguma, negligenciar a triagem das
perfis é excessivamente abundante, e desnecessá- amostras da caixinha também para a antracologia.
ria. Neste caso, sugere-se que uma fração de
apenas 25x25x10 do perfil seja reservada para 2. Concentração do material
estudos faunísticos, em cada nível estratigráfico.
Pela facilidade de manuseio, sugere-se que esta Coletar o sedimento de cada unidade amostral
fração seja coletada através do método de em baldes, e em seguida peneirá-lo (ou fazer

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Fig. 10 – Guia de amostragem de perfis sedimentares. Este equipamento pode ser usado a fim de se
manter constantes a horizontalidade e a espessura dos níveis artificiais para amostragem de perfil, faci-
litando a coleta em níveis regulares (adaptado de Ybert et al. 1997).

flotação) para recuperação dos carvões e do peso após peneiramento reflete o grau de fragmen-
material zooarqueológico. É importante verificar se tação, que pode ser mais bem discriminado com o
todos os baldes usados na escavação são iguais; uso de peneiras com malhas diferentes.
caso contrário, estabelecer um tamanho que será A conjunção destes índices permite que se
usado em todas as amostras. Sempre fazer uma comparem amostras diferentes com parâmetros
estimativa de volume dos baldes utilizados e anotar confiáveis, observando as semelhanças e diferen-
nos formulários de coleta (Fig. 2). ças, e considerando quais são realmente significa-
Sempre anotar a quantidade de baldes tivas. Deste modo, a análise pode definir se
retirada. Além disso, fazer a pesagem do sedimento camadas visualmente diferentes o são realmente
contido em cada balde, a fim de se ter uma em seus atributos de compactação, fragmentação
estimativa mais precisa da quantidade de sedimento e composição.
amostrada, permitindo inferir-se a densidade A malha das peneiras utilizadas deve ser
relativa do material em cada camada arqueológica definida rigorosamente. A malha para coleta
ou feição. antracológica nunca pode ser superior a 4mm. O
As amostras de sedimento para zooarqueologia uso de uma malha de 2mm é aconselhado quando
devem ser acompanhadas dos seguintes dados: os fragmentos são muito pequenos ou se as coletas
volume escavado, peso inicial, e peso após zooarqueológicas são feitas no mesmo material.
peneiramento. O volume escavado é mais adequa- Uma sugestão útil, que facilita muito o trabalho
do que o volume obtido pós-retirada (medido em de campo, é a de se pintar a margem das peneiras
baldes), pois duas amostras de mesmo volume, de em cores diferentes (p.ex. azul = 2 mm; amarelo =
camadas diferentes, podem apresentar diferentes 4 mm; vermelho = 6 mm).
graus de compactação. A partir das informações de De um modo geral, três métodos de recupera-
volume e peso, pode-se calcular a densidade da ção podem ser utilizados: coleta manual, peneiragem
camada, que indica o seu grau de compactação. O a seco ou com água do sedimento, ou flotação.

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2.1. Coleta manual Quando, por contingências do campo, se opta


pela peneiragem com água, é imprescindível abolir
A coleta manual dos carvões ou de vestígios a utilização de instrumentos para “ajudar” o
zooarqueológicos é mais indicada para os carvões sedimento a passar pela peneira, pois isto destrói
concentrados, os ossos ou conchas de maior porte os carvões e impossibilita sua análise. Mesmo no
e os restos animais estruturados. Ela é útil para caso de peneiragem a seco, deve-se evitar esmagar
identificação de estruturas no campo, por exemplo o sedimento contra a peneira, ainda que seja com
fogueiras ou estacas queimadas, para dar informa- as mãos, a fim de não destruir os carvões, princi-
ções sobre a associação de restos botânicos e palmente quando o sedimento está úmido.
zoológicos com outros tipos de vestígios, e também O maior problema envolvido na utilização de
para datação. No entanto, este método não deve peneiras para a amostragem antracológica
ser utilizado como única fonte de amostragem, pois decorre do enorme volume de material a ser
geralmente só leva em conta os fragmentos maiores triado, em particular para os níveis ricos em
ou os vestígios animais mais evidentes, resultando conchas (no caso de sambaquis) ou em cascalho,
inevitavelmente numa amostra distorcida em relação tornando este método, em geral, lento e pouco
à totalidade do sítio. produtivo. Para a zooarqueologia, entretanto, o
uso de peneiras é extremamente profícuo para a
2.2. Peneiragem a seco ou com água do sedi- recuperação de ossos e dentes de animais. As
mento peneiras facilitam a visualização de elementos de
pequeno porte e diminuem o efeito da seleção de
A utilização da peneira garante uma melhor ossos grandes.
amostragem, sendo importante para revelar os
carvões e ossos dispersos contidos no sedimento 2.3. Flotação
arqueológico. No entanto, é fundamental que todos
os fragmentos faunísticos e de carvão retidos pela Este é o método ideal para recuperação dos
peneira sejam coletados, pois, também neste caso, restos vegetais, pois implica em menor esforço e
a seleção das peças maiores introduziria um maior eficiência, além de ser o menos agressivo
elemento de escolha subjetiva que acarreta erros de para o material. A flotação permite a recuperação
interpretação. de material botânico de todas as classes de
A peneiragem a seco, relativamente fácil, pois tamanho preservadas no sedimento, tornando viável
normalmente faz parte da cadeia de atividades na a realização de análises quantitativas. Os fragmen-
escavação arqueológica, em geral é insuficiente tos de carvão e outros restos vegetais sendo de
para uma concentração eficaz da amostra pequenas dimensões e muito leves, sua capacidade
antracológica, e também dificulta a identificação de de flutuação pode ser aproveitada para separá-los
elementos ósseos de pequeno porte. Embora o do material mais pesado (restos faunísticos,
ideal seja peneirar o sedimento uma única vez, isto cerâmica etc.).
nem sempre é possível no campo, devido a Esta técnica é baseada na diferença de
limitações técnicas. Por isso pode-se, por exemplo, densidade dos resíduos orgânicos e inorgânicos.
peneirar o sedimento a seco no campo, com malha Fragmentos carbonizados de madeira, sementes ou
de 2mm (zooarqueologia) ou 4mm (antracologia), a tubérculos em geral flutuam, enquanto restos de
fim de diminuir a quantidade a ser transportada, e moluscos, ossos, líticos e cerâmica, são deposita-
fazer a flotação posteriormente. dos na peneira. Um protocolo de flotação é
A peneiragem com água pode ser feita por sugerido na Fig. 11.
imersão parcial das peneiras num tanque, cisterna Note-se que o processo de flotação é otimizado
ou equivalente, ou lavando-se o sedimento da pela utilização de sedimento seco. Quando a coleta
peneira com uma mangueira. A peneiragem com é feita previamente e o sedimento levado ao
mangueira, muito útil para a zooarqueologia, laboratório para flotar, é indispensável que os sacos
costuma ser inadequada para a recuperação dos plásticos sejam deixados abertos enquanto se
restos vegetais, que podem ser pulverizados pelo aguarda a flotação, pois o acúmulo de umidade no
jato de água ou pelos instrumentos utilizados para sedimento pode impregnar os carvões e impedir
revolver o material (pazinha, colher de pedreiro...). que eles flutuem.

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Fig. 11 – Protocolo de flotação. Roteiro para realização de flotação das amostras de sedimento.

Existem vários modelos de células de flotação, utilizados nos Estados Unidos e na Europa foram
desde o artesanal, baseado na imersão de um balde apresentados por Pearsall (2000).
numa cuba maior contendo água, até os mais Se existir uma fonte de água nas proximidades
elaborados, com assistência mecânica. O modelo do sítio, a flotação pode ser feita diretamente no
de uma célula de flotação desenvolvido no Brasil foi campo. Quando possível, deve-se esvaziar
apresentado por Ybert et al. (1997), e uma sistematicamente a cuba da célula de flotação após
adaptação do mesmo, com alguns aperfeiçoamen- o tratamento de cada amostra, a fim de evitar
tos, é apresentada aqui (Fig. 12). Vários modelos contaminação entre amostras diferentes, especial-

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Fig. 12 – Modelo de uma célula de flotação (adaptado de Ybert et al. 1997). A. Vista explodida. B. Vista
superior, sem as peneiras, para melhor visualização da instalação hidráulica. C. Vista do conjunto mon-
tado. Neste modelo, as peneiras e seus suportes são removíveis. O coador apresentado na parte superior
do desenho, à direita, tem por objetivo recolher os carvões flutuantes, a fim de agilizar a operação.

mente quando existe a possibilidade de se fazer importante sempre ter em mente que a flotação e a
uma datação radiocarbônica posterior. É muito análise antracológica não prejudicam a datação do

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mesmo fragmento (Vernet et al. 1979), o que é


especialmente útil em sítios onde a quantidade de
carvões disponível é pequena.
No campo ou no laboratório, o sedimento que
permanece sobre a peneira (refugo de peneira)
deve ser sistematicamente triado, a fim de recupe-
rar os fragmentos de carvão que não flutuaram.
Estes podem ser bastante freqüentes no caso de
impregnações calcárias, quando o sedimento está
molhado, ou simplesmente devido a diferenças de
densidade das madeiras (Scheel-Ybert 2004b).
Secar o material peneirado com água ou
submetido a flotação ao ar livre, longe de uma fonte
de calor intensa, para evitar sua fragmentação e
deterioração da estrutura anatômica. Os carvões e
outros restos vegetais podem ser secos em cones
de papel jornal (Fig. 13), mas isto deve ser evitado
quando se intenciona fazer uma datação posterior.
Eles podem também ser deixados para secar na
própria peneirinha de saída da flotação ou num
saco plástico aberto até que sequem completamen-
te. Neste caso, nunca encher demais o saco
plástico, pois um excessivo amontoamento dos
fragmentos impede a secagem e provoca perda de
material. Em qualquer caso, tomar sempre muito
cuidado para evitar contaminação por carvões de
outros níveis ou por outros tipos de matéria
orgânica atual. Após secagem completa, acondicio-
nar todos os vestígios em sacos plásticos fechados. Fig. 13 – Padrão de dobradura dos cones de jornal
Todo o material deve ser sempre bem etiquetado. para secagem de carvões e outros restos botânicos
Nunca manipular os carvões e outros restos após flotação. Seu tamanho depende do volume de
vegetais antes de estarem completamente secos, a material a ser secado. Normalmente, utiliza-se a
fim de evitar uma quebra acidental. Da mesma metade de uma página de jornal, ou ¼ da mesma.
forma, nunca fechar o saco plástico se o material
estiver molhado, ou mesmo um pouco úmido, pois apresentadas por outros pesquisadores (Waselkov
ele pode se desagregar, impedindo a análise. 1987), que julgam a malha de 2mm a que permite a
mais fina recuperação de materiais em condições
2.4. Tratamento das amostras de zooarqueologia de análise.
(no laboratório) Da mesma forma que no caso dos restos
vegetais, as amostras zooarqueológicas precisam
Após separação dos restos vegetais, pesar ser secas naturalmente, sem a utilização de estufas,
todas as amostras de material zooarqueológico, e a fim de evitar a perda súbita de água. Esta última
em seguida peneirá-las, a seco ou com água. provoca um aumento significativo no grau de
Recomenda-se a lavagem das amostras em água fragmentação do material, dificultando a análise.
corrente com a utilização de uma seqüência de
peneiras com malhas de 4 e 2mm. A utilização de
malha dupla facilita a triagem posterior. As diferen- Discussão
tes frações granulométricas poderão servir para
verificar o teor de fragmentação e compactação Um aspecto muito importante a se definir é a
dos ossos em cada camada, após pesagem. As escolha da peneira: quanto maior a malha, mais
malhas estão de acordo com as proposições elementos serão perdidos, tanto no que se refere a

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SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposta de amostragem padronizada para macro-vestígios
bioarqueológicos: antracologia, arqueobotânica, zooarqueologia. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,
15-16: 139-163, 2005-2006.

carvões, sementes e tubérculos, como também caso de coletas exclusivas para a antracologia,
restos ósseos, conchas e outros materiais. podem-se usar as peneiras de 4mm (p.ex. parte do
Diversos estudos experimentais alertam que o perfil que servirá apenas para a coleta antracológica).
uso de peneiras maiores que 4mm acarretam a Note-se que é indispensável, em todos os
perda de grande parte dos ossos de pequenos casos, sempre registrar a malha de peneiragem com
mamíferos, répteis, peixes e aves (Gordon 1993; que o material foi obtido.
Shaffer & Sanchez 1994), além de provocar uma
diminuição significativa na diversidade das amostras
vegetais (Chabal 1997). Stewart (1991) notou um Conclusão
aumento de mais de 66% na quantidade de
vestígios faunistícos recuperados com o uso de A obtenção de amostras de antracologia,
peneiras de 2mm e flotação, em comparação com arqueobotânica e zooarqueologia, além de fornecer
amostras peneiradas com malha de 5mm. Em sítios informações sobre os vegetais e a fauna utilizados pelo
com grande quantidade de animais de pequeno grupo que formou o sítio em estudo, produz conheci-
porte (como peixes e anfíbios), o índice de mentos significativos sobre temas tradicionais trata-
recuperação de elementos pode aumentar em até dos pela arqueologia brasileira. Artefatos, marcas de
97% em comparação com a peneiragem a seco estacas, áreas concrecionadas, depósitos de lixo, entre
(Lennox et al. 1986). O uso de peneiras de 2mm outras estruturas, podem ser identificados durante a
produzirá uma amostragem ideal para estudos de obtenção das amostras e apenas a identificação de
subsistência, paleoambiente, dieta e outros impor- tais estruturas já é uma contribuição importante para
tantes temas para a arqueologia. o entendimento do processo de formação do sítio.
A obtenção de informações a partir dos Dessa forma, recomenda-se que ao serem identificadas
dados zooarqueológicos será maximizada pela estruturas e artefatos sejam adotados os procedimen-
análise de todos os fragmentos retidos na peneira tos básicos característicos da pesquisa arqueológica,
de malha 2mm. A utilização de uma seqüência de a fim de que se possa construir uma interpretação
peneiras de diferentes malhas (por exemplo 6mm, que integre as diferentes análises.
4mm e 2mm) facilita a triagem e identificação do Por outro lado, os procedimentos sugeridos
material coletado. A utilização exclusiva de para a obtenção de amostras de antracologia e
peneiras com malha de 4mm deve ser evitada em zooarqueologia são uma excelente alternativa para
estudos faunísticos, pois grande porcentagem de se iniciar pesquisa em sítios em bom estado de
ossos de peixes e roedores são perdidos durante conservação, onde não existam perfis aparentes. A
o processamento, mascarando a realidade das associação de procedimentos arqueológicos,
atividades de subsistência das populações antracológicos e zooarqueológicos conduz a uma
estudadas. caracterização do sítio bastante completa.
No caso da antracologia, em regiões tropicais, O protocolo aqui desenhado parte do princípio
costuma-se analisar apenas os fragmentos maiores de que o testemunho arqueológico é um bem não
que 4mm, pois fragmentos menores em geral não renovável e que guarda importantes informações
reúnem um conjunto de caracteres anatômicos sobre o passado da humanidade. Nesse sentido,
suficientemente amplo para permitir sua identifica- visa realizar intervenções do menor porte possível e
ção (Scheel-Ybert 2000). Por isso, o uso de extrair o máximo de informação relacionado com
peneiras de 4mm é suficiente, o que diminuiria o cada intervenção. Muito embora as reflexões sobre
esforço de peneiragem (no campo) e triagem (no amostragem aqui apresentadas estejam primeira-
laboratório). mente voltadas para antracologia/arqueobotânica e
A fim de resolver este aparente conflito, zooarqueologia, as intervenções realizadas nos
aconselhamos que para todas as amostragens sítios permitem obter informações arqueológicas
conjuntas, utilizem-se peneiras de malha de 2mm, a importantes, tais como as dimensões do pacote
fim de que os vestígios coletados possam ser úteis a arqueológico, sua composição, parâmetros
diversas disciplinas (p.ex. amostragem sistemática temporais etc., etapa fundamental de toda pesquisa
do sítio, método de “caixinhas”, parte do perfil que arqueológica.
servirá para amostragem em antracologia e A sistematização das amostragens antracológicas/
zooarqueologia, todas as amostras de flotação). No arqueobotânicas e zooarqueológicas busca

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SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposta de amostragem padronizada para macro-vestígios
bioarqueológicos: antracologia, arqueobotânica, zooarqueologia. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,
15-16: 139-163, 2005-2006.

viabilizar a construção de interpretações bem Blasis & P.C. Giannini, com participação de todos
embasadas, através de um conhecimento mais os autores).
aprofundado das características de cada sítio, assim Agradecemos igualmente a todos os pesquisa-
como produzir um conjunto de dados que condu- dores que aplicaram este protocolo em coletas de
zam a comparações pertinentes entre diferentes campo, nos permitindo testá-lo e aprimorá-lo em
sítios e regiões, especialmente no que se refere à vários aspectos. Em particular, o protocolo
relação das populações pré-históricas com seu apresentado foi utilizado durante escavações
meio-ambiente e à dieta alimentar. realizadas no quadro das teses de doutorado de
Paula Nishida (“A coisa está preta”, programa de
pós-graduação do Museu de Arqueologia e
Agradecimentos Etnologia, USP, financiamento FAPESP) e de Suely
Gleyde Amancio da Silva (“Processo de formação
Os autores agradecem o apoio financeiro do do Sambaqui Ilha das Ostras, no litoral norte da
CNPq (Bolsa PROFIX de Scheel-Ybert; Auxílio- Bahia”, programa de pós-graduação do IGEO/
pesquisa de Gaspar), FAPERJ (“Cientista do UFBA, financiamento CNPq).
Nosso Estado”, Gaspar), CAPES (Bolsa de Os desenhos apresentados nas Figuras 1,
Doutorado no Exterior de Klökler) e FAPESP 8, 10, 12 e 13 foram realizados por William
(Projeto Temático coordenado por P.A.D. De Soares de Borba.

SCHEEL-YBERT, R.; KLÖKLER, D.; GASPAR, M.D.; FIGUTI, L. Proposed sampling standards for
bioarchaeological macro-remains: anthracology, archaeobotany, zooarchaeology. Rev. do
Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-6: 139-163, 2005-2006.

ABSTRACT: This paper calls the attention of Brazilian archaeologists to the


importance of bioarchaeological studies. We offer a sampling protocol that can be a
useful tool for fulfilling the needs of the bioarchaeological research in the field, leading
to a systematic sampling of charcoal, plant, and faunal remains. We propose a sampling
strategy that provides comparable data, from diverse sites, on paleoenvironmental
conditions, subsistence systems, and interactions between the social and the environmental
domains.

UNITERMOS: Archaeology – Anthracology – Zooarchaeology – Sampling –


Methodology.

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Recebido para publicação em 15 de agosto de 2005.

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