Você está na página 1de 44

Fatores de Formação dos Solos

Prof. Pablo Miguel


Departamento de Solos/UFSM

Disciplina: Solos e Produção Animal


Zootecnia
Organização da aula

• Introdução
• Teorias dos fatores de formação
• Fatores de formação dos solos:
- Material de origem
- Clima
- Organismos
- Relevo
- Tempo
• Considerações finais
• Bibliografia sugerida
- Aspectos iniciais
Relação dos fatores de
formação dos solos com a
pedologia
A Teoria dos Fatores de Formação do Solo

• Dokuchaev (década de 70, século XIX) → os


solos desenvolve-se em função da interação
do clima, organismos, relevo, material de
origem e tempo.

• Dokuchaev, Glinka, Joffe e Marbut


→ fatores de formação do solo = causas
→ propriedades do solo = efeitos
A Teoria dos Fatores de Formação do Solo

• Jenny (1941) definiu que toda propriedade do


solo pode ser tanto causa quanto efeito.

• Os fatores de formação do solo são na


verdade variáveis independentes, com forte
interdependência.

S = ƒ(cl, o, t, r, mo ...)
• Quando somente um fator apresenta variação:

S = ƒ(t) o, r, mo, cl fator variável = tempo

• Isso significa que qualquer propriedade do solo é


função do tempo, onde os demais fatores
permanecem constantes.

• Abordagem de estudos de seqüências que são


denominadas de acordo com o fator variante.

Exemplos:
climosseqüência – diferença de clima;
toposseqüência – diferença de drenagem;
cronosseqüência – diferença de tempo (idade);
biosseqüência – diferença de organismos.
Ação dos fatores de formação e pedogênese

Fonte: Prof. Azevedo, ESALQ


Fator Material de Origem

• Material do qual o perfil do solo foi derivado

• Representa o estado inicial do sistema solo  tempo


zero Jenny (1941)

Exemplos:
• Rochas alteradas “in situ”;
• Sedimentos coluviais ou aluviais;
• Material orgânico;
• Solo de pedogênese anterior.
Fotos: Arquivo Pessoal
Características do material de origem
importantes na formação dos solos

• Grau de consolidação
• Granulação ou textura
• Composição química ou mineralógica
• Estrutura
Tipos de rochas Fotos: Arquivo Pessoal
Estabilidade dos minerais
Seqüência de formação dos minerais a partir da
composição e do resfriamento do magma

Aumento
da
estabilidade
Geologia
do RS Rochas vulcânicas

Rochas sedimentares

Rochas plutônicas e
Sedimentos
metamórficas
recentes
Influência da composição da rocha na composição de
solos do RS

Composição Rocha Composição do solo


Rocha Química Argila Fe
mineralogia -1 K ppm mineralogia
Ca K Fe g kg (%)
Arenito Quartzo Kt, Qz
0,1 0,5 2,0 20 1 2.030
PVA feldspato Gt, Hm
Mica
Granito Kt, Qz, Mi
1,6 3,6 3,0 Feldspato-K 50 3 10.750
PVA Gt, Hm
quartzo
Piroxênios
Basalto
4,6 1,2 9,0 Anfibólios 40 14 2.100 Kt, Gt, Hm
Nitossolo
Plagioclásios

Fonte: Kämpf (1997)


Fator Clima

É o fator que, isoladamente, mais afeta o intemperismo.


• Parâmetros climáticos: precipitação e temperatura →
determinam a velocidade de reação química e sua
natureza.
• A temperatura potencializa as reações químicas, ao
mesmo tempo que aumenta a evaporação, diminuindo o
volume de água disponível para a lixiviação dos produtos
solúveis.
• Climas quentes e úmidos favorecem o intemperismo dos
solos porque fornecem mais água e estimulam uma maior
atividade microbiana.
O clima afeta:
→ teor de matéria orgânica
→ reações químicas e saturação por bases
→ profundidade do perfil
→ tipo de argilomineral formado
Precipitação
anual do RS
Temperatura
média do RS
Temperatura e umidade x matéria orgânica

Fonte: Kämpf & Schwertmann (1983)


Solos bicrômicos
Solos com horizonte
superficial amarelo e
subsuperficial vermelho
Devido à:
- Efeito inibidor da MO;
- Dissolução seletiva da hematita por
compostos orgânicos redutores e
microorganismos;
- Transformação hematita  goethita
após mudança ambiental para clima
mais frio favorecendo acúmulo de
MO (xantização).

Foto: Streck et al. (2008)


Efeito do clima na mineralogia de solos no RS

Plagioclásio → gibbsita

Plagioclásio → caulinita

Fonte: Truffi & Clemente (2002)


Influência do clima (P – ET) nas características de solos basálticos no RS

Região Água
V
fisiográfica excedente Solo pH S Al 3+ CTC Mineralogia
%
RS mm/ano
Campos
Caulinita
Cima da 1850 Cambissolo 4,8 1,1 5,4 10,1 10
Serra goethita

Campanha 350 Vertissolo 6,7 55 0 56,6 97 esmectita

Fonte: Kämpf (1997)


Fator Organismo
• Dentre os organismos destacam-se:
→ Plantas
→ Bactérias
→ Fungos
→ Líquens
→ Algas
→ Animais (inclusive o homem)
→ Matéria orgânica em decomposição.
• Estes organismos agem em processos físicos e
químicos no solo, promovendo alterações que se
refletem na morfologia e mineralogia dos solos.
Principais processos físicos e químicos

• Ciclagem da MO – mineralização/imobilização
• Processos de oxi-redução
• Associação simbiônticas com vegetais (micorriza e
rhizobium)
• Movimentação e particionamento de partículas no solo
• Acidificação do meio (ex: nitrificação e liberação de CO2)
• Complexação de cátions metálicos
• Absorção de água e manutenção da umidade do solo
→ Ação biológica no intemperismo e pedogênese

Thiobacillus Ferrooxidans

Fonte:http://arch.ced.berkeley.
edu/kap2/php/Hidden_Ecologi
es/?p=320

Fonte: http://inema.com.br/mat/idmat026052.htm
Fonte: Arquivo pessoal
• Líquens (ác. oxálico e fenólico
- agentes de quelação)

• Redução de compostos
→ processos de gleização

Fotos: Arquivo pessoal


• Ação humana sobre a formação de solos

Cortes e
aterros

Deposição resíduos
Queimadas
Erosões

Sistematização de
terrenos
Fotos: Arquivo pessoal
Fator Relevo
• Assim como o material de origem, pode ser
considerado um estado inicial estabelecido antes
do início da pedogênese (Fanning & Fanning,
1989).
• Dentre os efeitos do relevo na formação dos solos
destacam-se:
a. distribuição da umidade na paisagem;
b. erosão e sedimentação;
c. distribuição da radiação solar nas faces do terreno.

Relevo
distribuição de água no terreno
alteração pedogenética
• Configuração do relevo

Fonte: Prof. Azevedo, ESALQ


• Efeito do relevo na lixiviação de bases em uma catena

Relevo característico da região da Campanha do RS


Fonte: Reinert et al. (2007)
• Efeito do relevo na movimentação de massa e pedogênese

Relevo de ocorrência dos areais na Campanha do RS.


Fonte: Reinert et al. (2007)
Argissolo

Fonte: Streck et al. (2008)


• Relevo x clima x solos no RS

Planalto gaúcho
Planalto gaúcho

Latossolo Vermelho Distrófico típico


Fator Tempo
• Refere-se ao tempo em que o material ficou exposto
a ação dos agentes de intemperismo.
• É um fator que depende dos demais, principalmente,
da natureza das rochas e das condições climáticas.

• Conceito de tempo zero


- É o tempo que inicia o desenvolvimento do solo,
após um evento catastrófico, tal como:
→ retração de glaciações
→ fluxos de lavas
→ depósitos espessos de cinzas vulcânicas
→ área de solo cortada
→ etc.
Fator Tempo

• Afirmar que um perfil bem desenvolvido, como um


Latossolo é mais velho que um perfil de Neossolo ou
Cambissolo é puramente hipotético e especulativo
(Jenny, 1941).

• Porém, esta distinção de idade entre classes de


solos é importante para os sistemas de classificação.

• Exemplo do grau de dessilicação primário e


secundário (Melfi & Pedro, 1977) → Neossolos e
Latossolos dos Campos de Cima da Serra (Ker &
Resende, 1990 – Pedron, 2007).
Fator Tempo

Lava Kobeyama, Japão (1.800 anos)


Yokoyama & Nakashima (2005)

Sem sinal de
intemperismo
Fator Tempo
Lava Ohsawa, Japão (26.000 anos)
Yokoyama & Nakashima (2005)

Produtos do
intemperismo
Fator Tempo
Lava Awanomikoto, Japão (52.000 anos)
Yokoyama & Nakashima (2005)

Produtos do
intemperismo
Fator Tempo
Efeito do tempo no desenvolvimento do solo:
cronosequência

A A A

AB

Bi BA
R

C B
Jovem Maduro Muito maduro
Considerações finais
Bibliografia consultada
JENNY, H. Factors of soil formation. New York: McGraw-Hill, 1941.
KÄMPF, N. Material da disciplina de Gênese e morfologia do solo - UFRGS. 1997.
KÄMPF, N.; SCHWERTMANN, U. Goethite and hematite in a climossequence in southern
Brazil and their application in classification of kaolinitic soils. Geoderma, v. 29, p. 27-39,
1983.
KER, J. C. & RESENDE, M. Caracterização química e mineralógica de solos brunos
subtropicais do Brasil. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.14, p.215-225, 1990.
MELFI, A. J.; PEDRO, G. Estudo geoquímico dos solos e formações superficiais do Brasil.
Parte 1: Caracterização e repartição dos principais tipos de evolução pedogeoquímica.
Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v.7, p.271-286, 1977.
PEDRON, F. de A. Mineralogia, morfologia e classificação de saprolitos e Neossolos
derivados de rochas vulcânicas no Rio Grande do Sul. Santa Maria, Universidade
Federal de Santa Maria, 2007. 160p. (Tese de Doutorado)
REINERT et al. Principais Solos da Depressão Central e Campanha do Rio Grande
do Sul: guia de excursão. Santa Maria: Dept. de Solos, 2007.
STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. 2 ed. Porto Alegre: Emater/RS, 2008.
TRUFFI, S. A.; CLEMENTE, C. A. Alteração de plagioclásios dos riodacitos da Formação
Serra Geral (JKsg) da região de Piraju – SP. Scientia Agrícola, v.59, p.383-388, 2002.
YOKOYAMA, T.; NAKASHIMA, S. Color development od iron oxides during rhyolite
weathering during 52.000 years. Chemical geology, v.219, p.309-320, 2005.
Bibliografia sugerida
REICHERT, J. M. et al. Apostila da disciplina de Fundamentos da Ciência do Solo.
Santa Maria: Dept. de Solos/UFSM, 2007.
PEDRON, F. De A.; DALMOLIN, R. S. D. Reflexões sobre a formação dos solos e o
seu estudo. Santa Maria: MSRS, 2008.
STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. 2 ed. Porto Alegre: Emater/RS, 2008.
REINERT et al. Principais Solos da Depressão Central e Campanha do Rio Grande
do Sul: guia de excursão. Santa Maria: Dept. de Solos/UFSM, 2007.
DALMOLIN, R. S. D. et al. Principais solos do Planalto do Rio Grande do Sul : guia de
excursão. Santa Maria: Dept. de Solos/UFSM, 2007.
PEDRON, F. de A. et al. Principais solos da região da Quarta Colônia, Rio Grande do
Sul: Guia de excursão. Santa Maria: Dept. de Solos/UFSM, 2007.
JENNY, H. Factors of soil formation. New York: McGraw-Hill, 1941.
FANNING, D. S.; FANNING, M. C. B. Soil Morphology, genesis and classification. New
York: John Wiley & Sons. 1989.
BUOL, S. W. et al. Soil genesis and classification. Iowa State University Press, 1997.

Você também pode gostar