Você está na página 1de 68

intere

de elevar
se
alegremente
Sobre os
da c o n
eresse Cufico
44

festa era uma


ocasião
ressaltar os laços que
uniam os membros

deduziu
Comu Agora, com esses dados, podemos debruçar nos sobre a ori
ego istas e fazer
divindade.'
Robertson
que meita pergunta e responder tambem as outras duas. nois
entre si e com a precederam ao culs a origem e a signiticaçao estao bem próximas e o poder de
nidade epocas que
totem, nas
absorcão do i m p o r t a n t íssim
morte e a c o n s t i t u iam
um
encantamento
Ihes é inerente.
divindades
antropomórficas,
descreve-nos, ilustrati As controvérsias existentes sobre a sua origem denunciam a
de A seguir,
elemento da religiäo totémica.Nilo. "I rata-se de um rito, Comm c impossibilidade de deriva-la diretamente de quaisquer outras nar.
rito contado por S. em final d
mente, o deserto de Sinai, tes do mundo contemporaneo e da sua genese dar-se por motivos
beduinos do
crificio, seguido pelos era colocada sobre culturais específicos."5
nossa era. A
vitima, um camelo, sociais e/ou
século IV de chefe da tribo, depois de fazer com Muitos folcloristas brasileiros, mesmo reconhecendo aqui e
um grosseiro
altar de pedra e o entoando canticos ri
trës voltas ao ara, ali influencias alienigenas, proclamam o bumba como coisa autóc
assistentes dessem
que os avidez o sangue que tone, nossa, com o que concordamos, em parte. Não há no bumba
e bebia com
inferia-Ihe a primeira ferida
tuais, inteira lançava-se sobre o ani. uma derivação resultante da transmissão oral ou escrita de um
a tribo
dela emanava. Em seguida, de carne ainda
mal e cada um cortava
com sua espada um pedaço povo para outro,
mas
a estimulação (pela visão do boi?) de uma
consumindo-a no ato.Tão rapidamente tudo
sucedia predisposicão psiquica* capaz de produzir imagens primordiais,
palpitante, matutina à
entre a saiída da estrela
arquetipicas, naturalmente com os recursos criativos e materiais
isso que, no breve intervalo
sacrifício, e o momento em que o dit astro de cada povo. Este conceito está bem clarificado em Jung, Vida
qual era oferecido o

a empalidecer ante os raios


do sol nascente, desaparecia e Obra": "A noção de arquétipo, postulando a existência de uma
começava
completo o animal sacrificado, até o ponto de não restar dele base psíquica comum a todos os humanos, permite compreender
por
ossos, nem pele e nem entranhas. Este ritobárba em lugares e épocas distantes aparecem temas idênticos
nem carne, nem porque
remonta-se a uma época nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas e ritos das religiões
ro, que segundo todas as possibilidades
muito antiga, não era, como parecem demonstrá-lo outras teste nas artes, na filosofia, nas produções do inconsciente de um modo
munhas, um costume isolado, senão uma forma primitiva geral do geral.47 E o folclore, como uma das múltiplas formas de
sacrificio totémico, submetida logo no curso dos tempos às mais manifestação da alma humana, também está aí incluído.
diversas atenuações." 4 Não nos excusamos de conceder importância ao ponto-de-vis
Deixemos a palavra ainda com Robertson, acerca do sacrifi ta sociológico que afirma ""servir o Bumba-meu-Boi para difundir e
cio e seus motivos: "0 motivo que ditava esses atos revela-nos 0 Impor amplamente os valores da sociedade tradicional" e
vamos

sentido mais profundo do sacrifício. Sabemos que em épocas pos mais além. O Bumba-meu-Boi é a manutenção, em nível simbóli-
teriores toda comida feita em comum e toda participação na mes co, de uma festa dos primórdios da humanidade*e, como tal, con-
ma substáncia criavam, penetrar ao corpos, laço sagrado
nos um serva, vivas, práticas essenciais ao desenvolvimento do
homem,
entre os comensais, mas em tempos mais remotos não era atribu
reproduzindo, ao mesmo tempo, modelos da "sociedade tradicio
da essa significação senão à consumição simbólica, os
em comum da carne do na, como em última instância e de forma
também,
animal sagrado. O mistério sagrado da morte do animal justifica modelos arquet ípicos.
se pelo fato de que somente com ele Primitiva e
pode estabelecer o laço que Freud toma a hipótese de Darwin sobre a Horda
une os
participes entre si e com seu deus. Este laço não é outro OS apontamentos acerca do totemismo, dos estudiosos citados aci
que a vida mesma do animal sacrificado, individual, numa

carne e em seu
vida que reside em su
a
ma, para fundamentar sua teoria da psicologia darwinidnd
sangue e se comunica
ficio a todos aqueles que nele
por meio da comida de sacr possivel fonte histórica, filogenética. Esta horda mitica
tomam absoluto, que monopo
continua constituindo a base de todos parte.
Esta representaça governada por um pai-déspota, senhor
os "pactos de
sangue d ava todas as fêmeas. Aqueles que se insurgissem contra Seu
épocas bastante recentes. A expulsos do grupo. Segundo
comunidade de sangue como concepção, eminentemente realista,00 eram castrados, mortos ou
PE tirano, sentimentos
uma identidade de
substância.expll mantinham, para com esse pai
Tilhos
porque se julgava necessário renovar de quando em a se opunna d
quando e Dvalentes: "odiavam o pai que tão violentamente mas, ao me>
Identidade, pelo procedimento puramente físico da comida dr
ud
necessidade de poder e às suas exigências sexuais,

48 49
reunidos, assace 1o
n 0
sonho
à
Sonho da Dra. Shaw- que, primeira vista, pare
EStes, Mitra e
e
admiravam.

e m
o
amavam
fim a horda paterna
fun Ceriam antagónicas.

do touro" significa "'a imolacão da


mo tempo, pondo
d e v o r a r a m seu
cadaver,
organização estaria o Mitra, "o
sacrificio
e nova Em
ram-no
ordem social.
Esta
incesto ne natureza animal", da "libido"55 visando "uma domesticação e
dando uma nova

"obediencia
retrospectiva:
tabu do e

originar.e
proi h o m e m instintivo 6. Neste sacriflcio, é preciso no-
numa retrospectiva
Se ciplina do
é, para o homem, abdicar dessa lei da espécie,
ficada obediencia
Esta
matar o pai. agora em forma de quão
dolor
bição de a0 pai que
ressurgia tar o
especiticamente humano, para o espiritual. Talvez
ia do
sentimento de amor
se para o

remorso e culpa. uma reproduçao deste ri


dirigir-
expresse
a primeira grand ambivalência do homem (animal/
festa totëmica
seria isso
pírito), mostrada pelo duplo aspecto da face de Mitra ao sacrifi-
a
Para Freud,
tual canibalistico. entre a testa totê extase e dor.
mostradas touro:
car o
pelas analogias freu da Dra. Shaw, o touro tem a significação de algo
E licito supor,
este tambem seria,
numa visão Já, no sonho
com o qual "precisamos en-
Bumba-meu-Boi,que
do pai ser destruido, de algo
mica e o de assassinato
desse ritual que não pode
disfarçada viver em harmonia com a natureza".5 Aqui,
diana, uma repetição o mecanismo
do deslo trar em contato para
totêmica prevaleceria todas as forças contra o sacrifício, dá-se
primitivo. Na festa sublimação. No auto, os sentimen a sonhadora
luta com
camento e, na do
Bumba, o da elemento imperecível, imprescind ível à vida que é a
na morte e ressurreição conta desse ència ao se fazer
estariam representados Atinge-se um grau maior de
cons
tos ambivalentes pai e a
a morte do instintividade.
do Boi. A morte (ódio) do Boi representaria reconhecimento e a aparente contradição é desfeita: as forças
simbolicamente ao retorno desse esse
ressurreição (amor) equivaleria ser extintas, mas sim, integradas ao cons-
social fundada pelos filhos, ressurge como instintivas não devem
ordem
pai que, na nova os tabus. ciente.
no totemismo, como conflito
consciência moral (super-ego), e, solução para resolver esse
-

sacrifício não teria significado un ívoco. No Bumba-meu-Boi, a


Em Jung, o tema do
matar o animal, ou seja, a instintividade, parece estar
do problema da arte e da reli matar/não
De forma diferente, também trata ressurreição. O Bumba-meu-Boi, como
ma-
contida na morte e na
gião coletiva, impessoal, integra
para Freud, a arte "energia sexual sublimada"
-

e are nifestação artística popular, criação


Se, em nível mais elevado. Aqui, o
-

por
necessidade de expiação motivada senti remorsos e aqueles dois impulsos antagônicos,
ligião sacrifício é simbólico, mas nem por isso deixa
de despertar em0
mentos de culpa - são derivados desse crime primitivo, para Jung,
naqueles que assistem a ele.
impossivel à psicologia determinar a origem dessas atividades hu
émanas. ções profundas
idënticas nos so
Somente "os fenómenos simbólicos e emocionais'"s e Ha temas que se repetem de formas quase
mitos folclore. O Boi é um deles. Jung deu a esses
"o processo psíquico de criação art ística""s podem ser acessíveis nhos, nos e no
temas o de arquétipos, "designação com a qual indico certas
ao estudo psicológico. Enfaticamente, ainda afirma: "se fosse pos formas e
nome

imagens de natureza coletiva que surgem por


toda parte
sível analisar a essência, então a religião e a arte poderiam ser trata mesmo temp0,
das como simples subdivisão da psicologia. "5 2 "A arte em si não Como elementos constitutivos dos mitos e, ao 'S 8

pode ser objeto de considerações psicológicas'".53 Como produtos autóctones individuais de origem inconsciente.
De outro modo, Nise da Silveira *
acentua que, para Jung O Bumba-meu-Boi é, portanto, uma festa arquetipica.
há condensação de sig-
"a religião é uma função natural, inerente à psique", "um instin Somos levados a pensar que no Bumba
to que não derivaria, conforme Freud afirmou, do complexo do Boi. O Boi- a instintividade, '"pecado",
niticados na morte
morre para dar vida
paterno, que não seria apenas "uma das sublimações divindade (Cristo numa visão ocidental)
-

a
possíveis do Humanidade. O Boi res-
instinto sexual". ao filho de Catirina libido integrada, a
-

filho de Catirina, vida


Tendo em conta essa impossibilidade de surreto, o totem-Deus, identifica-se com o
mente a arte e a
analisar psicologica grande êxtase que prov
Daf o
religião, limitamo-nos ao exame da simbologia OVada, transformação libidinal.
é denominador comum nos temas aqui estudados: o sacrifícioque ca quando de sua ressurreiçãoo.
touro, sua morte e d consciente, não
Essa libido transformada agora, integrada
no
ressurreição. que possi
Antes de abordarmos o
mais uma força autônoma, desenfreada, destruidora,
o
Bumba, seria
brevemente, a duas significações importante
bora que aludir, enm bilita à cultura.
" d O u ja é em si mesma, a condição para o
acesso
do sacrifício do tour

50
51
camadas populares do Nordeste e tem no poeta popular o seu
A lingua do Boi desejada por Catirina seria um símbolo tt oposição
ratura
à literatoral, recebe tal nome por ser
co libidinal da instintividade. Entretanto, é ao mesmo tempo Em
folhetos que, em geral, são ven-
um i n t é r p r e t e .

de comunicação impressa
simbolo que o ainda-não-humano buSca ao "matar esse instinte nto barbantes. Em inúmeros folhetos,
o Verbo.
via

feiras,
didos nas feir pendurads em
a o Boi, o lugar
de herói, atribuindo-lhe um alto
A ambivalência de querer/não querer matar o animal, que no oeta reserva, como adversário altivo, desafiador,
esse apresentan
Bumba se manifesta através da dor, na morte e na alegria da ressur de justiça,
destacando-lhe ainda forte sentimento
senso
de gratidão, além de nobre-
reição, expressa também a dificuldade do animal homem em desfa
sabedoria.
zer-se da parte instintiva sem a qual corre o risco de esteriliza. grande "Ciclo dos animais
za e Bradesco-Goudemand en
Yvonne
zar-se, de desligar-se de sua fonte primeira da vida. Lembra o "Boi é, de fato, o ani-
No Bumba, como uma necessidade psicológica, mantemos la na Literatura
Popular do Nordeste" que
o sertanejo tira a sua subsistência; é a fera,
çOs com o nosso mundo inconsciente do qual não podemos nos a. mal doméstico doo qual
monstro Violento e nobre, do qual
extrai a sua
fastar impunemente. selvagem e livre,
Pelo g l ó r i a " 60

que mostramos, a origem, a significação e o encanta valor desse animal doméstico foi tão profun-
mento, em última instância, estariam ligados a formas religiosas Assim é que o
ainda em 1792, surge o
dos primitivos. Formas estas que sobreviveram transformadas e dementeinteriorizado pelo sertanejo que
exaltando o Boi. Poema anônimo, "O
rabicho da
que se impõemcomo uma necessidade psicológica do homem primeiro poema
Alencar e publicado na Antologia
atual, localidades onde ainda hoje são praticadas.
nas Geralda"* coletado por José de inicia com
escrito na primeira pessoa e
O encantamento, particuiarmente, adviria da identidade dos
doFolclore Cearence, é
brincantes com o Boi (a divindade, o totem), na própria apresentação.
"repartição" (re- o Boi fazendo sua
feição totêmica).
Este trabalho constitui apenas uma primeira Sou o Boi liso, rabicho
abordagem deste
tema tão enigmático. Algo sempre nos escapa, apesar das interpre Boi de fama, conhecido
tações, e o Boi segue sendo uma incógnita. Nunca houve neste mundo
O Boi-incógnita surge ainda num dos raros momentos em Outro boi tão destemido
a poesia de Manuel Bandeira se obscurece:
que
maneira a nunca ser
escondido na caatinga, de
Esse Boi vivia de encontrá
"Boi morto, boi descomedido, a esperança
Boi espantosamente, boi visto. Sua dona, Geralda, tinha perdido visto por caboclinho que
e foi
Morto, sem forma ou sentido l0. Um dia, saiu o Boi para pastar lopes. O vaqueiro
seegue em
contou o fato ao Vaqueiro José mas ninguém
ou significado. O que foi ogo são chamados,
ninguém sabe. Agora é boi morto" Dusca do Rabicho. Outros vaqueiros
consegue pegá-lo.
O Boi na Literatura de Cordel
Senhores, o Boi eu vi,

o folclore, a literatura oral ea O mesmo foi que não ver,


a um mundo marginal, distanciado do
literatura de cordel pertencem Pois c o m o este
excomungado

uroano e do erudito. São Nunca vi um boi


correr
classificados, outras vezes, Com aisidrgaud conescendência. seu esconderijo
para beber
parte de um mundo "ingênuo", "pitoresco", "t/pico como
0
seca, o
Boi sai do
Durante uma
Na verdade, como muito bem lembra Cláudioanonimo".
provérbios, isto é, as expressões estéticas de sabedoria os água e é pegado.
constituem "árvores" da nossa cultura e não simplesdo povo, fama
Acabou-se o boi de
culturais", como gosta de definir a tradição mais reaeie "ra(zes
O corredor famanaz abicho
A literatura de cordel, portanto, é árvore de ralzes Outro boi
o R
como

profundas Não haverá


nunca
mais.

53
52
A partir deste, muitos outros poemas foram feitos,abordand.
estava
com muita freqüência, o tema da rapidez. Uma rapidez qo, José Lourenço que
Lá dentro da prisäão
desse Boi selvagem um ser fantástico, desaparecendo em
arreios
onde deixa, atrás de si, perplexos, os vaqueiros mais espertos. Di
esta Não tirou os seus
Yvonne-Bradesco "Trata-se de um boi selvagem, vivendo solt só usou o seu gibão
para forrar o joelho
no mato, que vaqueiro algum consegue derrubar e ferrar, símbola da terra áspera do chão
humilhante, por excelência. Esse boi não possuí nada de sobrena
ral no seu aspecto, salvo uma rapidez sem igual e,muitas vezes, um A estória termina com as homenagens ao Beato que "para o
sinal exterior de sua sorte; uma estrela branca na testa, chifres
com forma inusitada".2 seguia", tão santo e reverenciado quanto o Boi.
infindo
Não menos enfatizado é o alto senso de justiça revelado no
No Nordeste profundamente místico, o nordestino devotadh
folheto de Severino Cesário da Silva, "O Boi que Fugiu do Mata
atribui, ao Boi, caractení'sticas divinas. O Boi é santo no folheto de douro". O poeta conta a estória de um boi que, "carrancudo", ao
Abraão Batista "História de Beato José Lourenço e o Boi Mansinho
E a historia do Beato José
caminho do matadouro, recusa-se ao sacrifício, fugindo e causando
Lourenço que, ao pedir a bênção ao pa uma grande revolução na cidade. Importante notar que a fuga
dre Cícero recebe uma cruz e a ordem de ir viver em
penitência absolutamente não sugere a mais leve covardia. O Boi é tomado
Pra achar a luz". Recebe também a incumbência de tratar de
um por indignação profunda e consciência da injustiça que Ihe é im-
Boi que tinha sido dado ao Pe. Cícero pelo Cel. Delmiro
Dedica, desde início, a esse boi,um tratamento especial.
Gouveia posta
Os elementos incenso, cânticos,
bënções, seda e manto pas
sam a fazer parte do ambiente
sagrado que cerca o animal. Com a mesma mansidão
Quando viu o matadouro
Cantavam pra ele um canto O bicho deu em estouro
benzendo nas ladainhas Que rodou como pião.
cobrindo-o de sedae manto
O boi sai fazendo estragos pela cidade, arrebentando, derru-
No entanto, F loro Bartolomeu bando, quebrando. E laçado; mas, ao chegar novamente ao mata-
"que era um
sabendo da romaria, manda prender o Beato e chefe da cidade" douro, foge com violência ainda maior, para sumir na capoeira,
Boi Mansinho. No momento ordena a morte do
do sacrifi cio, O
poeta criando clima de magia que o poeta diz ser
extrema finura e harmoniza lirismo e rudeza popular usa de
nos versos
homem e o Boi se unem no mesmo em que o
Fenomeno da natureza
gesto: ajoelham-se,
Que a ciência realça
O boi mansinho do Padre O homem sabe de tudo
Dr. Floro mandou matar Mas depois de certo estudo
De um instrumento não passa.
com a pancada da morte
o boi fez se
ajoelhar a tiro, mas aparece uma dama
caindo lagrimas dos olhos O dono do Boi decide matá-lo
resolve comprä-lo. O Boi volta à sua
gemendo que fez chorar que, para salvar o animal,
conclui:
mansidão. E o poeta

Essa questão de
matar
Padre Cícero entregou
esse boi pro Zé Lourenço imperfeição
E da nossa
Certamente aquele boi
e ele em Baixa Danta
Estava dando
um sinal,
tratou o boi com incenso
Sabedoria Divina

54 55
orovém, agindo Como seu porta-voz. Constitui. a0
Apontando um grande mal, classe da
Retratando a injustiça a elite
elite de sua classe pelo tat0 de saber ler
tempo0, e escre-
Inspirado na Justiça mesmo

cO m o
um ser criador que é realmente
diferenciado;
é
Ordem da lei natural. ver, mas
do mundo agreste nordestino é capaz de atingir a mais
originário
refinada beleza.

Jung quem lisa essa dualidade do criador. '"Por


A gratidão é tema do folheto
ro Zé de Melo e o Boi
de JoséCosta Leite "O Vaquei E ainda éu m a personalidad humana e, por outro,um proces
Misterioso". Na Fazenda Santa Rosa do, ele r6 4
um Boi à meia-noite apareca so criador, impessoal." E é, com imensa riqueza deimagens que,
para interromper uma festa de véspera criador, o Boi étransposto ao nível do mágico,
S. João. Censura as de do processo
pessoas por se divertirem, desmancha a dentro
Realiza-se o artista popular no seu
ra com os chifres e desafia os foguei. sobrenatural,
do divin
vaqueiros: "só poderá me vencer/ um do etivo, portador e plasmador da al ma incons
vaqueiro corajoso. O fazendeiro decide, então,
"

estad de "homem

Travam uma luta durante a qual o perseguir o Boi e ativa


da humanidade."

fazendeiro cai do cavalo que, ciente


zangado, tenta atac-lo. Nesse momento, o Boi investe
cavalo, para proteger o fazendeiro: contra o

Porém o boi era "espeto"


para o cavalo avançou
meteu o chifre sem pena
Os dois animais lutam e o
fazendeiro ainda tenta matar o Boi
com um revólver. Erra a pontaria, mata o
torioso, não correspondido com a lealdadecavalo. Al está o Boi vi-
do fazendeiro e
pela incompetência do atirador. salvo
Num achado de ironia e
graça, expressando fino
destino, termina o poeta: humor nor
Quando o cavalo morreu
o fazendeiro coitado
Sentiu um choque medonho
eo boi desconfiado
olhou para o fazendeiro
e disse: Muito
obrigado
Em outra tentativa, o Boi leva todos
mina a corrida onde todos a um lamaçal
e
desaparecem. Correu, então onda ter tor.
de que o Boi era um vaqueiro
enfeitiçado. então, o boato
Em seu O Espírito na Arte e na Ciência' 3
cendo que a força imagística da poesia June
pertence ao eConhe-
Literatura e da Estética, faz considerações
nomeno poético. Considera que essa força psicológicacninio da
um
imagística ore o fe
fenomeno psíquico. Tal força flui na poesia
tos de cordel, nos quais o cordelista
popular dmbém
expressa as crencas folhe
superstições de seu povo. Sente-se profundamente solidá.edos e

56 57
cit. pág. 13.
NOTAS Neto, op. Brandão.
Almeida. in Théo
Azevedo

de Almeida
Américo de
Henato
seguintes.
18
de pag. 1 / e
Expressão
op. Cit. Ed. a Livraria Leite Ribeiro RJ 1923.
19 Meneses,

e o Mundo
20 Bruno de O Sertão
1 Juan Cirlot mostra-nos que o era "simbolo das forças cósmicas' e, na sim
Boi Gustavo Barroso,

o significado de "paciencia, trabalho, submissão%lica


medieval, era-lhe atribuido pág. 205. Oral.
Afirma tambem que na Grécia e em Rom 5p.
Literatura

rito de sacrifício, por razões óbvias"; Cascudo, cit.


e fecundação. "Dicionário de Símbolos", Edito anti.
Câmara Neto, op.
22
gas era atributo de agricultura itora Vo 23
Américo
Azevedo
Queirós op. cit.
zes, 1984, pág. 123. sabel de
2 Cámara Cascudo, em seu "Dicionário do Folclore Brasileiro", Edições de Ouro 24
Maria cit. p. 5
98 Carlos de Lima, op.Folclore Negro no Brasil, Rio de Janeiro, 1935, p. 275/276, Civili.
Frazer dos cultos agrári62
pág. 193., citando Angelo de Gubernatis e os estudos de 25 "O
tigos, relata-nos que o touro encontra-se firmemente enraizado "no domínio mit 26 Artur Ram os,
zação Brasileira.
da UFMA, 1975, pág. 8.
hinos védicos, lendas hindus, tradições bråmanes, iranianas, turianas, eslavônicas,a "Folclore
Mendes,op. curso de Geografia
..Sendo considerado Saara 27 Wellinghton Maciel cit., p.166.
manicas, escandinavas, franca5, celtas, gregas, latinas... ado Azevedo Neto, pois não é ao boi que se rende
no Egito, Caldéia, Fenicia,Creta e Cartago" 28 Américo de alguns estudiosos, Idolatria, caminho de
Um hibridismo. Do Congolés, bumba: pancada, golpe, batida. "Bate meu Boi", relai. 29 "Não existe, contrariando
mas atraves
dele a um santo. O boi
e apenas o caminho. O
vamente às chifradas e arremessos. Um incitamento ao ataque do Boi". Câmara Ca homenagens,
o devoto eo santo.Op.
cit. pág. 8.
as aproximação entre Romanceiro Tradicional", revista
cudo, Literatura Oral. em "o Boi no
30 Citado Jackson da Silva Lima,
por 5.
3 Em algumas regiões do país, o Boi comparece nas mais diversas atividades culturai
ais de Sergipe, n° 1, janeiro, 1977, pág.
como, por exemplo, nos sambas de roda: Gazeta
cultural da
cit., pág. 452.
Cascudo, Literatura Oral, op. Emantur pág. 7, julho
"Vadeia meu boi, boiãol 31 Camara Dramáticas",
Monteiro, "Folclore-Danças
Vadeia meu boi do sertão!" 32 Mário Ypiranga
1972, Série Turismo.
Nos refrões de cantigas populares: p.10.
"Boi, boi, boi 33 Gustavo Barroso, op. cit.,
8oi da care preta 34 Idem, bidem. mi
Sapiroca de Guaraciaba. Rev. Cultural Popular
na
Pega este menino 35 Taranto, Benito et Alli- O Boi
Que tem medo de careta" cro-região de Viçosa, 1978 n° 1 a 6.
cit. pág. 88.
E na conversação diária: 36 Maria Isaura Pereira de Queiroz, op.
Folclore Brasileiro", pág. 193.
"Vá amolar o boi" 37 Câmara Cascudo, "Dicionário do
"Isso é conversa pra boi dormir." 38 Idem, ibidem.
4 Camara
Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro 39 Camara Cascudo, Literatura Oral, pág. 452.
pág. 166. 40 Gustavo Barroso, "O Sertão e o Mundo", pág.
22.
5 Cámara Cascudo, Literatura Oral pág. 448. obras completas Editorial
Biblio-
6 Renato Almeida, Tablado Folclórico 41 W. Wundt, citado por S. Freud in 'Totem y Tabu",
pág. 91 Editora Recordi Brasileira,
Paulo. 1961,S. teca Nueva. Madrid, 1975, pág.1811
1832/1833.
7 Théo Brandão,
"Um
auto
8 Bruno de Meneses, "Boi Popular Brasileiro
nas Alagoas Recife, 1962, pág. 05
42 Robertson Smith citado por Freud op. cit, pág.
Bumbá", Belém do Pará,
9 Américo de Azevedo Neto, 1958, pág.
21. 43 Idem, pág.1836.
"Bumba-meu-Boi 44 Idem, pág.1885. deus,o
1983, pág. 51. no
Maranhão", Ed. Alcântara, São Lufs, outra parte que ofereciam,como beberagem
ao

10 Théo Robertson nos informa em logo em épocas posteriores pelo vinho.o


Brandão,
11 Carlos de Lima,
op. cit. pág. 07.
sangue do animal sacrificado, substitufdo esses aportes com a repartição
"Bumba-meu-Boi", Ed. S. Lurs, 1932, pág. 96. da vida". Correlacionar
Nas histórias fala-se de touro e boi qual se considerava "o sangue a distribuição do
vinho, tratado como o sangue do

animal castrado. indistintamente, sem se atentar para o caráter do do boi no Bumba, bem como com
animal, em algumas regiðes do país. ciclo
Em alguns Bumbas descarta a explicação pelo
Oral,
órgão o
desejado amara Cascudo, porserexemplo,
Literatura
Rio Grande do Sul,
Minas Gerais,
repartiçao do Boi: pode ser o fígado oudo uma outra parte do Boi.
em
Repartimento ou
o bumba
desconhecido no
ma humorística,
entre os participantesaivisao das partes mesmo, geralmente de
da brincadeira:
for
9d0, afirmando
Uruguai e Argentina. Símbolos de Transformação"
A lngua e o filé em
Arquétipo por Jung,
São do Josué ormente chamada
esse conceito com do o folclorista Artur Hamos, de
p. 91. Comparar vida do
indiferenciada que irrompe nafolclores
A chãe o
patim a. Vozes, 1986Folclórico: ". .antiga estrutura
são do seu sobrevivencias, valores pre-logicos,
Florival SeraineJoaquim".
.

clente
superstiçoes, GustavO Barroso.
emAntologia Izado sob a forma detambém O Sertão e o Mundo dePaz e Terra, 4a. ed. pág.
78.
adrade, "Danças Dramáticas
dorociore
do Cearense,Edições UFC, SUma." Op. cit p. Ver Obra" José
Álvaro Editor /
ra São Paulo, p.51. Brasil", 19 Tomo. pág. 170. A S da Silveira "Jung, Vide e
Uma das versões para este nome Livraria Martins, Edito Maria lsaura Pereira de Queiroz, op.
cit.. P. s
para fazer a cabeça do Boi. Ver éque, numa ocasião, foi
altar- "parte
49 Sigmund Freud, op. cit., pág.183assim, nem mesmo o sacriticio sobre o de Azevedo
*As pessoas Doralécio Soares
que participam ficam tão enleva 5 "C foi usado
usado um mamão verde nos leve a pensar Kobertson. Americo
rnos do d a l t a que c o m o nos afirma para o altar (as
auto. Uma brincante do
Maranhão, Eugenia Chan que desconhecemFolclore
o 27", 1978. Ssencial do ritual das
religiões",
do Boi", no
Bumba, diz: De
trente
colocado sot
sobre uma me
po de Estudos "batismo o
boi e
C.G.Jung.disse,
"Eu nem sabia respondendo à
u,
perountedando seu
o
que se passa no o , T a l a n d o sobre
o
junto ao
Santo (S. João, ASSIm que chegam os padri

14 Idem, ibidem.
que o Bol
13 Câmara Cascudo, Literatura morre, eu sb quero é brincar
Oral, pág. 454. morte do Boi: depoimento G sobre
geralmente
o altar mesmol,
envolto em lençóis
mesmo
ou na prôpria darra.
de chegarem
a
ladainha. Num latim
teu ncio hora a p r o x i m a d a m e n t e
antes por uma
15 Maria Isaura: nos algumas
vezes
boi e o santo, ela se arrasta cantes- no trio da madrugada
os brinca
Pereirade Queirós, O misturando o
de luz, batizados.'" Op.
cit
de
16 Théo Brandão, op. cit. pág. 11.Estudos Bumbameu-Boi
Brasileiros,S.. Manifestação de
ropiado,
)E quando o sol
limpar
Surge
a
numa
escuridao
ameaça

se
consideram, nim,

Ciência
Eaitora
z3. e a l g a o ,
Vozes, pág. 54.
17 Carlos de
Lima,repelindo a possível origem lino Paulo, 1967, Teatro Popu1 50
começa a
Jung "O Espírito
na Arte
e na

Bumba é nosso. pág. 88. .G


"Bumodmou50", Editora São 51 ldem, ibidem.
Iz categórico: "Con 52 Idem, ibidem.
53 Idem, ibidem.
58 59
Ed. Paz e erra, 1975, 4a. ed.., Dd
pág. 191
54 Nise da Silveira, "Jung Vida e Obra". pág. 407.
556 C.G.Jung "Simbolos da Transformação",
ldem, pág. 417.
57 Vide Capitulo IV, pág. 37.
Vide Capítulo lII
**Vide Capítulo IV.
58 Jung. C. G. Psicologia e Religião. Ed. Vozes, 2a. ed.
p. 55,56.
59 Folclore" in Manual de
Leitão, Cláudio, "Literatura Oral, Cordel, Teoria it
3a. ed., 1984, Editora Vozes Ltda., p.172. terária
60
Goudemand Yvonne Bradesco o Ciclo dos Animais na Literatura
deste, Fundação Casa Rui Barbosa, 1982, p.19.
Popular do
o Nor

Seraine, Florival, "Antologia do Folclore Cearense. Edições U.F.C. p. 15.


62 Goudemand"OYvonne Bradesco, op. cit. p.26. Editora
63 Jung, C.G. Espírito na Arte e na Ciéncia"
64 Jung. C.G., op. cit, p. 89.
Vozes, 2a. edição, 1987. n 74

"Rabicho, para José de Alencar, significava, no


linguajar sertanejo, cauda
possufa. Como brasileirismo, o arqueada
Por extensão, passa a designar um boi que a
gura nos léxicos com term fi
a acepção adjetival de: "que não tem pelo na
extremidaria
cauda ade da
(touro), e os sentidos figurados de
paixao, obcessao amorosa, forte
amorosa." inclinac

BIBLIOGRAFIA
JUNG, C.G. Símbolos da
polis, 1986 - pág. 17. Transformação -

Vozes Editora, Petró


SOUZENELLE, Annick de -

0 Simbolismo do
Ed. Pensamento, 1984. Corpo Humano
SILVEIRA, Nise da -

Jung, Vida e Obra


S.P. 1986. -

Editora Paz e
Terra
JAFFE, Aniela El
Ediciones. Madridsimbolismo
1969. en
las Artes Visuales -
Aguillar

SARAH- modelagem, 1982


PalmeirasS
das
Acervo da Casa
60 61
e isto será mais
agradável a Deus que um touro
novilho já com pontas e
ungulado. ou um
Salmo 50, atribuído a
Assaf
Porventura cono carne de touros
ou bebo
sangue dos cabritos?
o

Oferece a Deus sacrif ícios de louvor


e cumpre os votOs
que fizeste ao Alt íssimo.
Capitulo V
E Isaías, farol que aponta em
"Ouvi a palavra do Senhor:
direção ao 40 milènio, diz:
De que me serve a multidão dos vossos
sacrif icios?
Estou farto de holocaustos de carneiros e da
animais cevados; gordura de
o sangue de touros, de cordeiros
e de bodes não me
são
TRANSFORMAÇÕES.
agradáveis", 1, 11.
CIENCIA
CONSCI
SACRIFICIO E SUAS
DE E mais adiante:
O
SUBIDASE DESCIDASRITUAIS
E FESTAS
RITUAIS E
FESTAS
"Aquele que imola um boi, mata um homem". 66, 3.
ATRAVES DE H O M E M - T O U R O .

VISTOS RELAÇÃO
REVELADORAS
DA Referindo-se ao sacerdócio levítico, quanto aos rituais de
Nise da Silveira sacrifício, escreve o apóstolo Paulo, na Epístola aos
Luís Carlos Mello Hebreus
"pois é impossivel que sangue de touros e de bodes tire jamais
os pecados"', 10, 4. E
prossegue dizendo que não agradam a Deus
atitudes do sacrifícios e oblações, nem holocaustos e rituais
vista sobre as
diferentes
expiatórios, pre
cisamente as oferendas, segundo a lei antiga. Na nova lei, Nova Ali-
golpe de se ver
das rel igiðes, dá para
Lançando um
na história
sacrifício caminhando dos
sacri ança, há uma única vítima, Jesus Cristo, que ofereceu
homem face ao
tênue fio evolutivo que
vem
mente Seu corpo e sangue como
voluntaria
desde logo um
incruentos. Os
trabalhos reu-
oblação ao Pai. E um sacrifício
os sacrificios unico e eterno que revoga de
ficios sangrentos para significativo uma vez por todas os ritos sacrificiais
mostram de
maneira clara este
presente livro da Antiga Aliança.
nidos no
é postofoco um impres
em
movimento. Mas, já no sétimo estudo, constatação O único sacrifício celebrado na Nova Aliança, isto é, pelo
E precisamente esta
sionante fenómeno regressivo. cristianismo, é um sacrifício incruento. A vítima ofertada é o
que pretendemos examinar. po e o sangue de Jesus Cristo sob as espécies do pão e do vinho, o
cor
já estudadas, recordemos
das metamorfoses sacrificiais
Além mistério da transubstanciação.
desses processos transformativos em religiões muito pro E
ainda um proposto agora aos discípulos do Cristo, que desejem pra-
ximas de nós -
cristianismo,-
judaísmo e a fim de estabelecer ticar sacrifícios, faze-los interiormente. Por exemplo: realizando a
mos claramente a noção de sacrifício. dolorosa cirurgia de retirar a trave do próprio olho em vez de pro
Jeta-la sobre o olho do seu próximo. (Matheus 7, 35); ou se qui-
ASsim,no Antigo Testamento, encontramos, no livro canon e j u a r deverão seguir o ensinamento do Mestre:. .. "quan-
Co denominado Levítico, as normas relativas ao sacrificio de a do
jejuares perfuma teus cabelos e lava teu rosto a fim de que nao
mais em ritos religiosos que eram praticados regularmente dpareça aos homens que jejuas".. . (Matheus 6,17-18). é difícil
Havia, porém, homens que enxergavam mais longe. a s este processo transformativo de interiorização
de ser elaborado.
Salmo 68, de David:
Se o
Em
canticos celebrarei o nome de Deus e o exaltarer crist ianismo não realiza os antigos rituais sangrentos tão
com hinos de graças

62 63
muitos desses sistemas auto-re
criticados pelo apóstolo Paulo, e mesmo já recusados No salto
são perturbados
ne.
e desce, luta, perde e ganha, desestabi
presentantes do judaiísmo, o tato é que seus
adeptos, em.
2stáveis.

O
omem
sobe
mito do herói reflete seu enorme esforço
não conseguiram ainda muitos progressos no cum
mensagem, não só quanto às transtormações mprimento da noy njunto, guladores.
liza-se, angustia-se.
diversos conceitos de sacrifício são outros tan-
bém quanto ao comportamento no
inter iores E os
cípio de desenvolvimento. Assim, por
princ
ascencional

mundo externo. A prátie tam


torturas na Inquisição e as sangrentas lutas fratricidas tos
spelhos
do mesmo

lefine a
junguiana defir função do sacrifício
em non
ome do xemplo, a
psicologia
individuação.
do processo de
Cristo constituem evidente testemunho. fator
essencial
exigèncias egoís
penoso constatar a
atitude de indiferença
cristianism do
como
No ato do
sacrifício, ego o renunciará a suas
autoridade mais alta
em relação sofrimentos, às cruéis matanças dos animais.
aos ismo submetendo-se a uma

Parer de possessividade, é possível para


mesmo que o afastamento entre homens e proprio. E issO Só
ta$
animais acentuouse o dom de si
Sendo o Cristo a própria ele, ego. Faz não mais sendo jo
possui a sSi próprio,
que
perfeição,
sombra, para aproximar-se do Senhorespírito
de pura luz, luz
sem quem verdadeiramente se
Esta autoridade maior é o Self (Si
caberia ao homem o quete de paixões
contraditórias.
torna-se clara: é
ço de superar
sua própria natureza instintiva tão esfor profunda do sacrifício
a

instintiva do animal. Inútil tentativa. O próxima da vida mesmo)."A significação superior e a


de experienciar a presença
mais santos. aguilhão na carne fere os possibilidade para o ego
(Si-mesmo)".3
Eo animal torna-se a realidade do Self de indivi-
vítima desta retroceder dos altos níveis do processo
próprio homem,incompreensão,
vindo Mas vamos do
repercutir sobre o que acaba
degraus onde ainda
ocorre a festa-sacrificio
pleto que ele poderia vir a ser.
dissociando o ente com duação aos baixos
litoral de Santa Catarina.
Francisco
de Assis foi um caso
boi, no
"Farra do Boi", por
incrivel que pare
da natureza não singular. Sua visão unitária Esta "festa", ou seja, a
canas. logrou repercutir nem mesmo nas ordens ça, tem detensores.
Tran é uma tradiçâo cultural.onde? Os
Outras exceções são Argumentam:
trogloditas, de
bárbaros, de
muito escassas.
cente série de
poemas Criaturas Lembremos apenas a re Iradição oriunda de Ihes é freqüentemente

Irmãs negando o peso que


saldáliga, onde ele canta do
desde o canarinho bispo D. Pedro Ca
-

acorianoS protestam, famigerada


"farra".

gue de um atribuido de respo


nsáveis pela tradição da a busca
de raizes
mepino os olhos das vacas
até
nos "malditosatifúndios"1
morto pelo estilan*
dúvida, interessante tema
de pesquisa,
perguntar
se
que tristemente era, sem
logo se possa
Nos pastam embora desde difun-

falar na depaíses
tão cruel tradição, mantida, apoiada,
outroscristãos nunca se come tanta para necessariamente
ser

cões do nascimentoanimais) tradição deverá


da quanto no Natal, carne de bol (Sem aa das autori-

divina, aquecidajusto nas comemo


no estábulo onde criança dida. a este
argumento
'até o
Colagrossi
deu ível: "ate
nasceu em irrespond
Quanto ao caso Belém. pelo sopro d boi A Sra. Fernanda suscinta e
tradição no
Brasil
capítulo 7 as decla particular
resposta
da "Farra dades catarinenses u m a escravidão
era
uma
religioes, sempre
de do Boi', dia 12 de maio de 1888.a
nas
tem tratar-se de
ma sacerdotes veremos no vimos
mesmo
ansformações, à aboli-

nal", concordam com prática violenta


anteriores transi
que, no max
áximo, admi NOS
estudos tendência
a lentamente abrindo
lent.

autoridades estaduais,
mas, desde que uma

quer protesto. Nem qu "tradicio guardiães do tradicion a


renovações,
O mesmno
cio, a "Farra do Boi ainda conhecendo
consciência.

de
p r o c e d i m e n t o s ,

0 sem esboçar qual ção de antigos níveis


p o l í t i c aas.
Saímos a duras
era novos s.

Paixão, a Igreja praticada na que, pelo menos


meno de ini caminhos para acesso a
sociais e ando por for-
lutan
tigo de D. Marcoscrista rompeu seu silêncio noite instituições
c o n t i n u a m o s

te de Quinta-feira
s Quint da ocorre na área das mas ião seja definiti
4/88. Barbosa, publicado no Soou no penas das moni
narquias
absolutas,

todo tipo
de
servidão

da vida.
Jornal do deserto o ar
onde a unidade
social
"Somos salto da ma tensão entre es
no.2 naturez para a Brasil, de 19 mas de organiz
exclu ída,
onde seja
redescoberta
falar de
uma

formas fixas e está-


vam
" P o d e m o s

leva aa

Certamente, mas neste salto cultura", diz Hélio Pellegri


nente
Ernst Cassire
e s c r e v e :

t e n d ê n c i a
que

esses rigidosu m a
esquemas. O
A natureza funciona
dentro de muitas Pelleg tabilizar e evolui
entre
a
a
quebrar
que tendencias,
tendên que pro-
sistemas decoisas duas
t e n d ê n c i a

duas

auto-reg podem veis de vida e


outra essas

egulaçãoacontece
entre
d i s t e n d i d o

bastante homem está


65
64
enquanto outra se esforca Diante do lato tortura, discutir a
preservar
velhas formas,
inou adequacão de termos, deli
incessante luta entre tradição e conceitos, não passa de v
cura
mitação de
entre
duzir forçasnovo.
algo Há uma
repetitivas e forças criadoras. Este dualismo Sor,
en tagarelice.
l e importa e examinar se a "Farra do
vida cultural,."5 a da Crueldade soDre Boi", ou seja, a
os dominios da
um ser viv0, e ato
contrado em todos
capacidade de
prátic
aceitável do ponto de
nós se não
tivessemos a inovar Se vista ético.
Tristes de
sangrentos, na escravic F por que nao O Serla, que mal taz,
fincássemos pé nos repetitivos rituais
idão, responder
ian nesno al-
nos poderes arbitrários. nS Cristãos,
desde que o DO1, cono todos os
animais, não possui
Conrad Lorenz, prëmio
Nobel de medicina, pensa quo
na
na
alma. F por que näo O seria, responderiam cientistas de for
poderá contri
mação
nossa era de massificação "sóo individuo criativo eartesiana? Alias,quase todos o sao, ainda mesmo sem consciencia
buir para a sobrevivência das espécies e progress0 evolutivo'". dies. pois as universidades continuam ensinando há 300 anos as
Outro argumento dos partidários. da
"Farra do Boi' é
que inies de Descartes (1596-1650) concernentes aos seres vivos.
Op
úteis fenomenos de catarse. Lemos no Discours de la Méthode que o corpo do
essa prática proporciona homemeo
A palavra catarse nos vem da Grécia, Significando purgação, corpo dos animais sao maquinas muito semelhantes, emtbora dife
renças fundamentais as separem: 19- nunca a máquina animalpo
purificação. Aristóteles introduziu-a no vocabulârio da tragédia, deria usar de palavras ou de outros sinais, compondo-os como fa
atos carregados de forte teor
que é imitação, representação de
zem os homens para exprimir seus pensamentos e seus sentimen-
emocional. Os espectadores, identificados com intensas emoções tos: 20 - as máquinas animais n o agiriam com conhecimento,
Tigadas aos atospostos em cena, mediante temor"
"compaixão e
mas unicamente pela disposição de seus órgãos. Assim, para Descar-
liberar-se-iam dessas emoções. Aí residia função purificadora
a
nem razão, nem sentimentos. Se dão
catártica da tragédia grega. Note-se: imitação, representação, ja- tes, os animais não possuiriam
mais prática, pelos atores da tragédia, de reais ações violent as." gritos, se fazem gestos, são efeitos naturais de movimentos orgâni
cos que neles se produzem, é o que afirma aquele
filósofo em sua
Freud inspirou-se em Aristóteles quando deu, nos primórdios
Ma-
da psicanálise, a denominação de catarse à revivescência de aconte teoria do animal máquina. Conta-se que o famoso cartesiano
lebranche entrava, certo dia, nos jardins de sua residência, em com
cimentos traumatizantes, carregados de afeto, quando acompanha
do da descarga emocional correspondente. Mas Freud logo verifi panhia de um amigo, quando pequena cadela veio a seu en
uma

gesto de abanar a cauda. Malebranche


contro, festejando-o com o
cou
que a simples descarga dos afetos ligados a esses
tos não bastaria sem sua elaboração a nível consciente. As associa
acontecimen aplicou-lhe forte pontapé. A cadela afastou-se ganindo
e, para sur
cartesianamen-
presa do amigo que o acompanhava,
ele se explicou
ções livres e a tomada em consideraço de vários outros fatores vie o que representa o
ani
ram ocupar a primeira linha do método te: Isso mas não sente". "Isso" é
grita,
psicanalítico." influëncia estende-se até nos-
Jung fala também de catarse, cujo objetivo seria não apenasa mal na concepção de Descartes, cuja
apreensão intelectual de coisas até então ocultas, mas a liberaçao sos dias. Isso", mero objeto.
"

domina o pensamento contempo


de emoções a estas aderidas e cartesianismo, que ainda
que igual mente haviam ficado co modernas, poderá intl
uenciar
raneo, apesar de muitas contestações
geladas. Entretanto, para Jung, como já acontecera a Freud, a clima de opinião que torna
a defesa da "Farra do Boi", criando um
catarse mo stra-seinsuficiente. Ser indispensável esclarecer os não sente pau
uma vez que "isso
co
teúdos do inconsciente, emergentes na catarse, a começar pela permissível a tortura do animal, mutilações etc. Nem sequer
dos olhos,
sombra, o lado escuro da própria adas, pedradas, perfuração da possivel sensi
Nada disso,
personalidade." Os defensores dessa monstruosa recreação

evidentemente, ocorre
na "farra do boi"O
que
tam
E se por acaso
sofrer, que importa?Os
chamado de catarse, no
caso, não passa de purgação Idade à dor pelo animal. "arrogância"
estabeleceram entre
de atos cruis. Nem o mais incoerc
tênue raio de luz da consciëncia
sua
Omens bem instaladós na não existia para os povos primitivos
tra tais vic!ancias. E
cega tortura pelo prazer de torturar.
pe animal um abismo que Monoteismo.**

Mas os defensores
no
crianças, diz Freud em
"Moisés e o
interpretar
declarados ou dúbios da "Farra do boi'" n
para as
opinião não basta paraao
continuam falando em catarse e Mas este'clima de
elogiando seus até de descer inconsc
efeitos. POIs st Boi". Teremos
os farristas "surram menos Dcologicamente a "Farra do atravessando a cama
suas mulheres" depois da "farraa ar mais profundo,
gumentam: Oh, como deveria ser um doce num mergulho cada vez
mar de rosas a viuo
esposas dos torturadores do D0I Codi.
67

66
vislumbrarmos dif icil
Será difíci delimitar
da da sombra individual, para depois
o
negrume da O
sombra coletiva. acompanha todo homem,Componente sádico inerente
desvios, em suas àsombr.
que en seus bra
Sombra, na psicologia junguiana, é termo usado para des
lado escuro de cada personalidade. Todo corpo tem sua nar
sombra
veis e x p a n s õ e s .

Mesmo ferindo
imprevisí
o
onde se acham aglomeradas suas inferioridades e fraquezas.
mple. objeto o animal
a
"arrogancia
dismo
do
homem, o sadisno que tem
xos reprimidos, os chamados "defeitos de caráter", até forcas que toma por
ças ver humano movem-se indiscriminada mente objeto outro ser
dadeiramente maléficas. Entre essas estaria decerto incluido o sa Não será preciso procurar
dismo. A sombra, na acepção junguiana, corresponde, em Suas sa exemplos em livros
A agudeza super-sensível de medicina.
camadas mais superficiais, ao inconsciente pessoal de Freud. Machado de Assis
nuances desse fenomeno no seu conto apreendeu
"Causa Secreta", todas as
Se o sadismo aparece primeiro, na psicanálise, como per 1896,
versão que tem por caracteristica o prazer ligado ao sofrimento
Eis um resumo do conto.
Garcia, jovem médico,publicado
tem
contros Ocasionai com ortunato, en-
infligido ao parceiro na relação sexual, Freud cedo foi levado a mas não se
haviam ainda fala-
da. Certa vez, saindo de um teatro, onde também
ampliar este conceito, estendendo a nOção de sadismo para além
tnato e era representado um dramalhão com muitosse achava For
da perversão sexual propriamente dita. Seus estudos sobre os fen. dolo- lances
menos de sadismo e masoquismo conduziram-no a admitir na rosos, Garcia seguiu Fortunato e observou surpreso
que este parava
às vezes "para dar uma bengalada em
psique do homem a coexistência de dois grandes grupos de instin algum co que dormia; o
cão ficava ganindo e ele ia andando".
tos: os instintos de vida e os instintos de morte. Estes últimos ten
deriam à morte do ser vivo e, quando voltados para o exterior, to Algumas semanas depois, aconteceu que Garcia, à noite, ou
mariam o caráterde pulsões de agressão e de destruição!2 viu tumulto na escada do prédio onde residia. Descendo, encon
Lemos em "Chronos, Eros, Thanatos da psicanal ista Marie trou um indivíduo ensangüentado que era conduzido ao andar
Bonaparte que, quando os instintos de destruição e de agressão onde morava, acompanhado pelo homem do teatro e das bengala-
voltam-se para o exterior, o instinto vital da conservação do eu, das nos c¥es. Chamado um médico, foi feitoo Curativo, com a
não se sentindo ameaçado, vem aliar-se ao sadismo, ajuda daquele estranho homem, que declarou chamar-se Fortuna
que assim to e não conhecer o ferido. Para espanto de Garcia, então
poderá dominar e reinar. "E o sádico permite-se orgias
. .

sangren estudan
tas".. "Assim, o sádico, protegido na
.

integridade
de seu eu, na te de medicina, Fortunato pediu-lhe que permanecesse com ele
segurança de seu junto ao ferido para auxiliá-lo em qualquer emergência. Sentou-se
corpo, goza as dores que inflige a outrem, gozan
do por procuração, um tranquilamente e ficou a olhar o ferido que gemia. Os olhos de
pouco como se goza num espetáculo, sem
perigo para si próprio, as desgraças dos heróis do drama ou da Fortunato "eram claros, côr de chumbo, moviam-se devagar, e
tra
gédia. Mas, neste caso, a tragédia é real, a intensidade é maior, e 0 tinham a expressão dura, seca e fria". Garcia ficou intrigado com
triunfo,pessoal."13 aquele comportamento. Embora jovem, possuia "a faculdade de
decifrar os homens, de decompor os caracteres, tinha o amor da
Desde logo, vemos aqui nitidamente caracter izada a "Farra
do Boi'. que dizia ser supremo,
de penetrar muitas
, e sentia o regalo,
Mas examinemos a
questão ainda de outro ângulo. morais até apal par o segredo de um organismo. Por um
dInadas sobre Garcia,
Na visão
junguiana, o sadismo não éexpressamente nomed nento, o discret íssimo Machado de Assis lança idade.
do. Mas o prazer no de sua própria personal
sofrimento de outrem, as tendências a agre Mae espelho,
n réstias exatas
são e à destruição, o Mas prossigamos.
mal, em suma, constituem necessariamen
componentes da sombra. melhor Fortunato.
ficouse muito
drciabreve curioso de conhecer
A sombra é um A Ocasião resentou. Encontraram-se, e Fortunato con
problema moral o ego, pois
plica no confronto, no reconhecimentoquedo desafia
chamava-se
Ito, vidou-o para jantar em: ua casa. A esposa de Fortunatotranscendiam
da própria lado sombrio, Maria Luísa, era ! "uns modos que
personalidade, coisa que exige um enorme dovem, doce e tinha
Esforço que encontra
compensação, pois eto
nça luz sobre recante
O respeit r.
ESpeito e confinavam na resignação e no temor Casa de Saúde
escuros uma
no
inconsciente,
tendo como resultado o alargamer
da Ahaarcia e Fortunato acabaram por fundar dedicad issimo,
consciência.!4 a a casa, Fortunato mostrou-se
enfermeiro

moléstia aflitiva ourepelen


trabalhando dia e noite,"não conhecia

68 69
acompanhava as operaçoes, aplicava os poderia be
ser o epílogo de um
adultério. Mas
näo teve iúnes.
te". Fortunato estudava, rtunato, à porta, onde Ticara, saboreou tranquilo
cáusticos. "Tenho muita
fé nos cáusticos, dizia ele". Fortunato essa explosão
e fisiologia.
Para isso instalou em casa dor moral que foi longa, Muito longa, deliciosarnente
decidiu estudar anatomia
e n v e n e n a v a gatos e cães.
A citação extensa mostra o
impul so
longa"
um laboratório experimental
onde sádico movendo-se no
desesperadamente e isso tornou-se cau. Lamem que da bengaladas em caes que dormiam na rua, para o
Os animais gritavam prazer de templaro sofrimento de
Maria Luisa. A situação atingiu seu ponto enfer mos e aplicar-lhes cáus
sa de grande aflição para
Garcia havia ido jantar com o casal. For. icoS. "Tenho muita fe nos causticoS. Ao
mesmo tempo faz expe
mais alto quando um dia caes e
um rato. Garcia
viuO "sentado à mesa que havia riências em gatos, envenenando-os.
Apanha um rato e tor
tunato apanhara +Lra-0 Com requintes horrorizantes. Seu prazer com o
sobre o qual pusera um prato com sofrimento
no centro de seu gabinete e
Ihoionão encontra obstáculo em voltar-se do animal
espírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e o indica para o ser
um barbante, de cuja ponta pendia hmanO. A dor do possivel amante de sua mulher desperta nele
dor da mão esquerda segurava indizível delicia. Nao seria possivel ir mais longe nesse movimento
direita tinha uma tesoura. No momen-
o rato atado pela cauda. Na
Fortunato cortava ao rato uma das pa- sádico que resvala do objeto animal parao objeto homem. Grande
to em que Garcia entrou, mestre foi Machado de Assis! Esgotou o assunto.
desceu o infeliz até å chama, rápido, para não
tas; em seguida Mas a sombra, com seus múltiplos componentes, inclusive
e dispös-se a fazer o mesmo å terceira, pois já Ihe havia
matá-lo, osadismo, ultrapassa os Iimites do pessoal e alonga-se na sombra
cortado a primeira. Garcia estacou horrorizado:- Mate-o logo!
sorriso único, reflexo de al ma satis- coletiva..
disse-Ihe Já vai. E com um
A sombra coletiva manifesta-se externamente sob duas for
coisa traduzia a delícia intensa das sensações su-
feita, alguma que mas: personificada numa única figura humana execrada, por exem
ao rato e fez pela ter
premas, Fortunato cortou a terceira pata malhado no sábado da aleluia, líder político que encar-
movimento até a chama. O miserável estorcia- plo, Judas, in-
ceira vez o mesmo
mal coletivo do momento; ou como fenömeno de massa
na o
guinchando, ensanguentado, chamuscado e não acabava de
se
controlável, detonado em situações diversas, pela reativação da som
morrer. . Faltava cortar a última pata, Fortunato cortou-a muito
.

bra dos ind iv íduos que a constituem.


olhos; tesoura com os a pata caiu, e ele num ní
devagar, acompanhando a
Então, "o comportamento da massa desencadeia-se
ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta conduta individual dos pró
vel de consciëncia mais baixo que a
vez até a dhama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para se salvar, prios indivíduos que a compõem. Na multidão, o individuo não
. .

pudesse, alguns farrapos de vida. . . A chama ia morrendo, o rato Sente medo nem responsabilidade por seus atos".
podia ser que tivesse ainda um resíduo de vida, sombra de sombra. é arcaica no sentido
A sombra coletiva, diz Erich Neumann,
Fortunato aproveitouo para cortar-lhe o focinho e pela última vez avassalarão e tomarão compieta
diS negativo. Seus componentes feno-
chegar a carne ao fogo. Garcia conclui que Fortunato tem a ne manifestando-se em perigOsOs
cessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alhela Ihe
posse da psique consciente, coletivo aos mais
baixos
regressão,arrastando o homem
pode dar:éo segredo deste homem." enos de
niveis.7
Maria Luísa adoeceu. Tuberculose. O marido apelou parato a "Farra do Boi". Dai sua ta-
contexto que se insere da
dos os recursos médicos a fim de salvá-la. Mas, '"nos últimos dias, C.neste nas escuras profundezas
raízes mergulham
T o r ç a , cujas levantou em todo
o país
contra

em presença dos tormentos supremos da moça, a índole do marido Sombra coletiva. O amor que se
sadismo da
Farra
Sobrepujou qualquer outra afeição. No a deixou mais; fitou o o
tamanha crueldade foi inútil. "A pa e pedra, e s c r e v e u Rachel
olho baço e frio naquela decomposição lenta e dolorosa da vida, do Boi ontinua. Com eles, não há quem
possa,
1988.
março de
bebeu uma a uma as aflições da bela creatura, agora magra e trans de São Paulo de 29 de
parente, devorada de febre e minada de morte". . . "não Ihe per
Queiroz, OEstado de da psique
mais regressiVoS torna-se
fenômeno dos
Exemplo típico de circunscrita,
doou um só minuto de agonia".. área em de
pelo fato de outros exemplos
apresentar-se

No at ana, e
entre tantos
velório, Machado leva o leitor a extremos. Fortunato objeto de escolha para estudo,
Surpreende Garcia beijando na testa o cadáver de Maria Luísa, tempo. do Boi"
violência que se manifestam em nosso
a "Farra
ainda, outra vez inclinando-se para mais um beijo, irrompe invencibilidade,

e Acr
ECe ainda que, na sua
grimas. Fortunato observava tudo sem ser visto. PensOu: o
o
71
70
é aceita, defendida uitas
características especiais vezes apresentava-se
-

reveste-se de touro
identificado ao Deus. Osíris
lamentada pelas autoridades, sob cujo beneplácito são construid encarnava- no touro Apis: Zeus, Dioniso assurniam
a vitima fica encerrada a for-
"mangueirões", isto é, cercados, onde sem
ma de touros.
nenhuma possibilidade de escapar. São Coliseus toscos dos qua o homem estar la, pols, distendido entre
parece orgulhar-seo pequeno Cesar que governa Santa Catarina opostos -

o infra
buumano e o super-humano- ambos
estranhamente simbolizados
Ninguém será bastante ingênuo para aceitar_que esses "manguei pelo touro.
rões" visem proteger as vítimas torturadas. E evidente teremo Sem dúvida, a
imolação do touro ou do boi foi
objetivo impedir que sejam os quintais, as hortas e os jardins da ritual secularmente realizado em cerimônias e festas arraigado
população das cidades litorâneas pisoteados pela horda desenfrea religiosas. Esse
ritual, entretanto, vem-se apagando na medida em que as religiões
da em perseguição ao boi, possu fída pela sombra coletiva. Assim, a evoluem espirituamente. 0 sacrificio sangrernto persistente ainda
"farra" poderá realizar-se sem que haja motivo para apresentação de hoje é a tourada, que não ficou para trás do nível de civilização
queixas às autoridades tão preocupadas em proteger as proprieda atingido pela Espanha, provavelmente por encerrar raízes muito
des dos cidadãos. profundas que se evidenciam em comportamentos de caráter
Entretanto, valerá não esquecer que, tal co mo o sadismo de sexual e religioso pagão-cristão no decorrer do cruel espetáculo. *
Fortunato, personagem do conto de Machado de Assis,que na sa
impassibilidade buscava satisfação ora no animal, ora no ser huma
no, nada surpreenderá se os "farristas" torturadores do boi de Quanto à "Farra do Boi", deveria, de in ício, ter-se derivado
rem uma reviravolta súbita e dirigirem sua mira a seres humanos. de ritual religioso. Tanto assim que suas primeiras realizações acon
Sinais evidentes desse processo de transposição de violência teciam na Semana Santa. A tortura do boi, à semelhança da tortu-
do animal para o homem já foram dados. Aconteceu em Canto ra do Cristo, começava na noite de quinta-feira, justo quando, na
dos Ganchos que cerca de 200 farristas quase lincharam repórteres mesma data, uma vez aprisionado, o Cristo é trazido ao palácio de
do Jornal do Brasil que tentavam documentar o acontecimento. Caifás, onde começa a ser torturado, esbofeteado, flagelado, in-
Surgiram ameaças: "é melhor ir embora, antes que não consigam sultado, coroado de espinhos, para na sexta-feira ser conduzido,
sair mais"... "se encostar a máquina boi
fotográfica no olho, perde sempre sob torturas, até à crucificação. Os "Farristas" do
os dois". Carlos
Stagemann, JB, 22-3-88. conseguiram ser mais violentos que os algozes do Senhor. O
Não eram vs as ameaças. Os "farristas" poSsante animal morre na madrugada e logo, e sucesSivamente
how da perfuração dos olhos dos bois.
já possu íam o know se
mais outros bois são massacrados, a fim de que o divertimento
E mesm0 nos famosos mangueirões, existem, no lado
exter prolongue até o sábado.
no, degraus de tábuas,
de onde as crianças animal torturado com tanta
podem assistir ao cruel boi seria o próprio Deus? Ouo Satanás? Uma mulher
espetáculo. Assim, já
se acham instaladas escolas de
tortura. do Cristo,
rueldade representaria oposto um dos pesquisadores de nosso
o
O método das escolas de
tortura sobre animais, tendo por articipante da 'Farra" disse a
jetivo impermeabilização dos sentimentos e
a 0 tem parte com o
ativação de compo grupo de estudos: "todo animal de chifres
nentes sádicos, já era usado
por Hitler na formação de individuos demônio'" Ou as duas coisas, indiferenciadamente
destinados a praticar tortura sobre seres humanos. rastros que nos permitam ligar com segu
O fenomeno "Farra do
Nao dispomos de Os proprios
Boi" dá muito o que pensar "farra do boi" festas ritual ísticas religiosas. com
pontos de vista psicológico e social. d dnça a a
vinculação práti-
eximem-se. Entretanto, se já
teve
sacrifício sangrento do touro em acnos perdeu toda sua significação
Sido necessário ao homem religiðes antigas nav ia religiosas, como é provável, Tornou-se somente violencia,
arcaico, que precisava concretizar se 9inal. Seu simbolismo esvaziou-se.
esforços para domar o brutal touro de matar, caracte
existente dentro dele mes sofrimento, destruir,
de infligir
Mas, muito tempo antes de smo, prazer
sombra coletiva. Realiza-se
havia atingido outro nível deCristo, já uma corrente do mitrais tIcO fenômeno de possessão pela
E nunca faltam
bois comprados
enta do touro bastava
como
desenvolvimento. A imolação i mente quase todos os dias.
da representação simbólica do sacrit
parte animal inerente ao homem.
Ou
doados pelos políticos. interrogar imagens
discussão deste problema nos remete a
Acresce que, na
complexidade dos fenômenos
psíquico
72
73
dire
nte inspiradas por ernoções palpitantes
de configuração, no inconsciente
em busca
Amodelagem
C da artistaarah (ver frente deste
estudo)
touro
tra-nos um derrubado
sobre o
mos

lo. A autora escreveu ao


ravemente ferido. solo, como se estives-
lado do animal: "Eu
fiz tudo para matar vocë mas não pude". Sarah não consegue
natar o
touro. lizmente,
Feliz pois isso seria matar urma
mat
parte vital de
si m e s m a .

O aênio do cinema Eisenstein, também


extraordinário dese
hicta, desenha um touro crucificadoe um
homem também cru-
cificado, sofrendo Juntos; a interligação entre ho mem e animal
tão estreita que a imagem poderá ser olhada em dupla le
tura, de baixo para cima e de cima para baixo.
Octávio lgnácio desenha um touro crucificado que representa
o Cristo (ver capa). Quaisquer dúvidas ficam dissipadas, poiso au-
tor escreve no alto da cruz as letras INRI ("Jesus Nazareno Rei dos
( Judeus")- João, 19,19. O Teólogo cristão Tertuliano (160-220)
diz:"...o Cristo foi denominado o touro por causa de duas reali-
dades: ele é, de uma parte, duro (ferus) como um Juiz, e,de outra
parte, manso (mansuetus) como um salvador. Seus cornos so as
extremidades da cruz."
Mais curioso ainda é que Octávio Ignácio desenha na testa do
seu touro um terceiro olho, símbolo de penetrante percepção.
Nada escapa à sua ampla e profunda penetração na essëncia de
tudo quanto existe.
Se o indivíduo at ing ir nível de diferenciação de consciência
instintos,
Ihe permita recolher as projeções de seus próprios
que e for capaz de
desordenadamente lançados sobre animais externos,
mais, livre de arrogan
Confrontar repetidamente essas projeções, e

te presunção, conseguir integrá-las à sua próprias personalidade,


humano total.
eStará muito perto de realizar-se como um ser

TAA V4C

Um touro currado
na cruz.
Desenho de Einsenstein.

74
75
NOTAS

Antologia Retirante, 1978.


1.D.Pedro Casaldáliga-
Tortura Nunca Mais, pág. 102, Vozes, 1987.
2.Helio Pelegrino em

Franz C. G. Jung, his myth in our Time, P. 229, G. P. Putnam's


3.M.L von
Sons N. Y.

4.Documento contestatório da Casa


dos Açores, datado de 05/04/888.

5.E. Cassirer A n Essay on Man, Doubleday, 1956.

6.C. Lorenz -

Wanning of Humaneness Boston, 1987.

7.Antonio Freire A Catarse em Aristóteles, pá9. 51, Faculdade de F ilosofia, Brag8


1982.
8.S. Freud Esquema del Psicoanalisis v. I.

9.c. G. Jung-ow, 16, Problems of Modern Psychotherapy, 1931


10.Descartes- Discours de la Méthode, parte V.

11.S. Freud Moses and Monotheism, pág. 82, Hogarth Press, London, 1974.
12.S.Freud Nuevas aportaciones al Psicoanalisis 5) La angustia y la vida instintiva,
v. II.

13.Marie Bonaparte Chronos,Eros, Thanatos, pág. 148 PUF 1952

14.C. G. Jung-ow 9 I pág. 8.

15.Machado de Assis- Causa Secreta, em Várias Histórias, Jackson, 1952.


16.C. G. Jung cw 9,125.
17.E. Neumann The origins
1954.
and history of consciousness, pág. 439, Bollingen seriE
18.M. Delgado Ruiz De la muerte de um
Dios
-

Ed. Peninsula, 1986.


19.Citaçoes bíblicas:
Bíblia Sagrada Edições
Paulinas, 1969.
-

La Sainte Bible Traduction A. Crampon. Desclés, 1939.

OTAVIO IGNÁCIO -

desenho, 1972
Inconsciente
Acervo do Museu de Imagens do
77
76
Tentando compreender, a luz da psicologia, tão
titrbador fenômeno, o Grupo de Estudos, complexo e
após debates prelimi
perturbad

chegou à conclu de que não bastaria


nares,
do Boi. u ma análise isolada
dessa Farra
Antes de mais nada, evidernciou-se é o Boi, o Touro, o
al.uitima da violência. Um animal que
animal-vítim

historicamente ligadodosa
Capítulo VII
práticas religiosas de grande importância na vida economica
novos. Um animal enigmatico, sempre a exigir uma decifração.
Era necessário, portanto, investigar a participação dele na
His
tória e no nosso folclore, ao mesmo
tempo
que se fazia impe
em
riosa uma pesquisa de campo nos lugares onde se dá a Farra. Eis a

origem do nosso trabalho.

A Farra do Boi
A FARRA DO BOI CATARINENSE
Seguindo as descrições colhidas nos jornais, revistas eprogra
Agilberto Calaça mas de televisão, temos um quadro macabro dessa Farra do Boi.
Gilza Prado Senão vejamos.
Noêmia Varela Há alguns anos não se sabe precisar exatamente, porém em
anos recentes no litoral catarinense, na época da Semana Santa,
Introdução um boi, co mprado por moradores que se cotizam, é posto à mercë
uma turba. O animal é então sujeito a todo tipo de coação
e
de
O Grupo de Estudos C. G. Jung teve sua atenção voltada para violëncia. Na maioria das vezes, solto nas ruas, é vitima dos partici-
um fenômeno que sensibilizou grande parte da sociedade brasilei-
ra:a Farra do Boi Catarinense. pantes dessa "brincadeira". Agridem-no com paus e pedras. Espi-
correr e a reagir ås provo ca-
Durante as comemorações da Semana Santa, em 1987, foi caçam-no. Incitam-no de toda forma a
Coes. Enfim, é exigido à mais completa exaustão e lentamente tor
denunciado, pela imprensa e televisão, um ritual hediondo dois relatos abaixo:
do pelos habitantes do litoral de pratica Turado até a morte, como mostram os
Santa Catarina. Nesse ritual é le
vado a efeito, em clima resistiu mais
festivo, um massacre contra um animal. comprado na Quinta-Feira Santa não ou bebida,
Nos meses que se
seguiram à denúncia, centenas de cartas e . O boi sem comida
do que um dia às torturas: amarrado,
artigos surgiram nos jornais mais os ossos quebrados,
o rabo

indignação e repúdio importantes do país, externanao O animal teve os olhos furados,


de madeira.
a tal acontecimento. pedaços
por ferros e
De forma
esparsa, apareceram também cartas, artigos e Torcido, o corpo espetado
moradores da localidade adquiriram
uma

deos de defensores da Nao satisfeitos, os mes-


Farra, justificando-a como folclore, tradiçao Santa, depois de passar
pelo
vaca prenha. Na Sexta-Feira
Cultural, necessidade de catarse do povo Quando os moradores rasgaram

puro exercício de sadismo sobre


ou
simplesmente con noritual, o animal morreu.
então Domingo
de Páscoa".(Jornal "O
um animal. Sadismo este que u Oventre da vaca. Era
outro modo tenderia a se descarregar sobre os nossos semeina tes
Globo" 19/07/87).
(sic)
munici
"Se não
praticarem a Farra, os destes pequenoS
da população
mulher e seriam mais violentospescadores
iriam bater maisi urbas enfurecidas massa
espancam e
com os amigos' (Wilson ni sanha diabólica,
perseguem,
Apa vídeo sobre a Farra do Boi.) PIos, numa transformando-os numa.massa
ou bezerros, 0S
ram bois, vacas os churrascos para
OE carne e
irá constituir
sangue que

79
78
(Jornal O Estado de São Paulo"" o Estudo Bibliográfico
festejos da Páscoa." 26/
03/88).
Estranhamente, nao encontramos
nenhuma referência biblio-
juntamente com as comunida cobre um assunt0 tão espetacular como esse
O Governo de Santa Catarina da Farra do
des envolvidas chamados
criaram os mangueiroes para a prática da Boi.

Farra, como forma de


"organizá-la". Ealcloristas conceituados como Câmara Cascudo, Mário de
Esses mangueirões são
áreas cercadas, de diversos tamanhos Almeida, Théc Brandão e Edison
nato
entrada para o boi e com várias brechas em l
Andrade,
os da própria regiäo em foco, como
registram. Outros Carneiro nada
com uma porta de Doralécio Soa-
permitem a entrada e saída de farristas. Uma res e Walter Piazza, quedam-se mudos a esse respeito. Marcos Hol
gares estratégicos que
vez posto dentro desses mangueirões, o
b0I não pode fugir, ficando nder, mestrando de Historia, pesquisou jornais de época, de
inteiramente entregue à sanha daqueles que gostam desse "diverti. Santa Catarina, e
tambem
nada encontrou.
substituem um boi a cada 20 A que se deve essa lacuna, se os defensores da farra alegam
mento". Nessas arenas improvisadas,
mais do que quinze a vinte mi ser esta uma tradição de 200 anos? Seria a Farra do Boi um
minutos, pois, "0 boi não aguenta
Pantanal). fato folclórico de somenos importância, que não merecesse re
nutosno mangueirão..." (morador do não seria considerada como folclore?
gistro? Ou simplesmente
Contrariamente ao que foi divulgado pela imprensa, a Farra Estar famos diante de algum tipo de "silêncio obsequioso" como a
não está mais circunscrita à Semana Santa. Pode ocorrer agora a lgrejaCatólica muitas vezes a seus acólitos? Ou a Farra seria
impõe
qualquer momento. Tudo é pretexto para se fazer uma Farra. tão somente uma manifestação recente, uma degeneração de
outras "brincadeiras de bois'?
"Um candidato a vereador vai dar um boi na próxima sema- ePela idoneidade dos pesquisadores citados é inadmissível que
na pra gente fazer uma Farra. . " (Morador do Pantanal a Farra do Boi, em sendo um fato folclórico,
não fosse estudada.
Como também não acreditamos que cientistas de tal estirpe se dei
03/09/88). lidar com
xassem intimidar por qualquer motivo. Resta-nos, então,
"Farra agora é todo dia, toda hora. Hoje, parece que soltaram a a Farra como derivação de outros "folguedos".
última hipótese:
Efetivamente, estes estudiosos do folclore descrevem dos
uma
um boi pra farrear" (Farrista, em Pântano do Sul, 02/09/88).
descendentes
brincadeira" praticada na Semana Santa, pelos
atual Farra. Trata-se
E de se
ressaltar que a grande parte da população de lugares açorianos, ou seja, os mesmos que fazem a
ainda sem os
Boi na Vara. Uma brincadeira violenta,
mas
onde ocorre a farra é afavor da mesma e dela participa. do
Farra do Boi. Transcre-
requintes de crueldade praticados hoje na
de
de Apolinário Porto Alegre,
"E criança, é jovem, é mulher, é homem, velhos, todos parti vemos aqui uma descrição dela, pesquisadores:
cipam". (Padre Pedro,de Tijucas). 08/03/1937, adotada pela maioria daqueles
mas flexivel,
grosso,
comprido varejão forte
e
Em outro depoimento, o padre citado acima concorda maginem um
coma sete metros de altura
e talvez
enterrado quase
opinião da maioria dos farristas quanto à impossibilidade da tarrd tendo seis ou
mais cheia e robusta, para
ficar
acabar: extremidade
um metro pela outra extremidade
pende um laço bem ata-
irme no solo. Da boi escolhido,
guampas de
um
.Que vai acabar, nunca. Não acaba. Pode escrever no que vem prender-se àas uma figura
de ho
derno que
do luta. No meio do varejão há
dificilmente vai acabar isso. Acabaria se a geraca Omo capaz de de panos e trapos.
Quando o

nova 30 tivesse entusiasmo por isso. Começa pela crianga tamanho natural, feito a vara
nem tentando desprender-se,
7 anos, de 6 anos." estica o laço, e ameaçador
g e r o preso fica suspenso
c o m o que
rva-se e o boneco
vara
arremete
contra ele, e a
O boi,que o vê, Aquele
Dre sua cabeça. levando consigo
o boneco.

O t a à posição vertical,

81
80
ainda à segunda posição. E ro
dares desses lugares,
descendentes de açorianos,
de novo, este torna
recua
1ades pobres, fechadas,
tituem c o m u n i d a d
cons
assim as mesmas cenas,
enfurecendo por fim a alimá que vivem
se
ponto de às vezes rebentar as prisðes, atirar-se em todas ac
aria, nente da
p e s c a . Desconfiadose
temerosos à prepo nderant
rante
direcões, investindo contra o povo que cai até dentro dágua." mostram-se,
no entanto, cordiais, primeira abordagem,
bons do trato
e até
mesrno calo
Ihes ganha confiança. Traços estes de
se
osOs quando a

Piazza acrescenta outros dados a este quadro já, por si dade que ilustramoscom alguns exemplos. personali-
mo, impressionante. Em Araguari, prendiam-se laços ao Boi mes Ouando nos tomavam por reporteres, muitos deles
que este não se soltasse. E em São José, amarrava-se à caudapara vam-se a nos darentrevistas. recusa
do
animal uma lata, na qual os participant es, em semi-círculo, batiam "Os repórteres vem aqui e distorcem os fatos'".
para irritar animal.
o
(Morador de Ganchos)
Este "folguedo" se realizava ate o esgotamento completo do
boi, quando, então, o matavame repartiam sua carne entreos Dar. De outra feita, um morador de Ganchos do Meio,
ticipantes. nativa
após
inicial de falar sobre "festas de bois", concordou em
a ne
Além do Boi-na-Vara, são nomeadas outras dizer
"brincadeirasde
bois" sem que os autores deem maiores descrições, como o Boi
alqumas palavras sobre o
Boi de Mamão". Depois que discorreu
sobre este folguedo, disse rindo:
no-campo, Boi-no-mato e Boi-no-arame.
"Vocês perguntaram pelo Boi de Mamão pra ch egar no Boi
Pesquisa de Campo Verdadeiro. . ." E continuou animado: "Eu vou Ihe dizer o
que é a Farra do Boi'.
(Dois integrantes do Grupo de Estudos C. G.
Jung encarre
garam-se dessa pesquisa, que constou basicamente de entrevistas Sobre o que seria real mente a Farra do Boi, os depoimentos
gravadas com moradores do litoral de Santa Catarina e de fotos dos farristas e não farristas são contraditórios, principal mente no
dos mesmos e dos lugares
tica a Farra).
mangueirões, inclusive onde se pra -

que toca ao ponto crucial, a violência.


A tonica dos farristas está em negar essa violência e apresen-
Adotamos uma técnica de
abordagem a que comparável Re tar a Farra como algo lúdico:
nato
te".
Almeida
preconiza, sem contudo
seguir o conselho de Rossi-
ni Tavares, aceito por aquele, de se ser um "observador participan
"Uma brincadeira saudável. . . sem judeiar, sem machucar. .

Tínhamos O pessoal corre do boi. essa a Farra do Boi. (Moradora do


um assunto em foco Farra do Boi. Um plano
-

a Pântano do Sul)
pré-estabelecido -

visitar as comunidades onde existe a "folgança


entrevistar farristas, não farristas,
e
Iho Farra do Boi" membros do '"Grupo de Traba Brincadeira muito sadia e
a melhor é
engraçada. Quem leva
(criado especial mente pelo governo de Comissão da Farra do
Catarina para estudar esse
evento ), padres desses lugares sdi O Boi." (professora Stella Maris, da
ridades outras. E, por fim, hipóteses operantes a serem e auo Boi.)
éa farra
folclore, catarse ou sadismo? verificadas
Apresentávamo-nos Ou
como um ato de hero ísmo;
clore e
aos
depoentes
especialmente interessados
como estudiosos bOl
do
eventos ter coragem para entrar num mangueirão, entren
nos
vesse presente. aos quaiso E preciso
Selecinamos alguns bairros de Tar um boi brabo. " (Morador do Pantanal
da .

Florianópolis,
Conceição, Saco dos Limões, Pântano comoLagoa u
josno do Sul e
continente, como Tijucas Pantanal;e u Ninguém judeia do Boi, Quem sai machucado é o farrista
e
Governador Celso Santa Luzia, principalme
-

(Morador de Ganchos do Meio).


Ramos- Ganchos de Fora e Ganchos do
-

onde o evento ocorre com e


freqüência e intensidade. Um outro arrisca
uma descrição maior:

82
83
"Dez, oito, vinte pessoas se juntame compram um he boi Acrescenta, por fim um
Quinta-Feira Santa. Não tem hora da noit nem hora do
exacerbação da violência ex-farrista que deixou de sê-lo
boi. Um com cachaça, outro cerveia. com pela
com limão.. . sai uma raça atrás. Tudo ali é a Farra doOutro
Soltam o

Boi "Já existia violència.. .


pano, o boi vai em cimarde mas
hoje é demais."
Um vem em cima (do boi)
com
quele, outro cai lå, outro cai por cima do muro, da erca, (Morador de Sta. Luzia)
tudo é a Farra do Boi. As vezes o boi costuma pegar o cerca A opiniäo dos padres de
do de uma pessoa e aquela pessoa nao vai fazer queixa porau Ca Celso Ramos) está mais algumas dasdessas localidades
(Tijucas e
próxima declarações
a nossa delegacia aqui é estaca zero. dos farristas.
o boi, lava o boi, leva n
Depois que o boi cansa,amarra
mato, o boi come, bebe água, o boi não está machucado
Atualmente não é verdade tudo aquilo
que mostra uma
grande violëncia, como a imprensa divulgou"
tanto é verdade que o fazendeiro faz negócio com o boi. (Padre Jacob, de Celso Ramos)
Quando chega Sexta-feira à meia-noite cada turma mata seu
boi". "Serrar, quebrar a cola, tocar fogo, espetar. Isso houve,
também. Antigamente,
. .

dizem que era só assim"


Quando os farristas admitem violência contra o animal re
(Padre Pedro, de Tijucas
metem sempre a alguma outra localidade que não a sua ou a um Quanto aos outros aspectos dessa Farra, como seja, a sua ori
outro tempo: gem e o seu signiticado, encontramos opiniões mais concordantes.
Sobre a origem:
"Nos Ganchos usam pedra. .." (Morador do Pântano do Sul)
"Aqui há 80, 100 anos passados acontecia (violência) é "Nós encontramos a Farra do Boi com outros nomes, que
verdade, mas hoje não acontece mais." ainda hoje é praticada nas lIhas dos Açores. Seriam o Boi-na
(Morador de Gov. Celso Ramos) Vara, o Boi-no-Campo, o Boi Soto. . . São várias modalida-
des". (Prof. Stella Maris, da Comissão da Farra do Boi).
No entanto, alguns defensores da Farra admitem ser esta uma
festa violenta "E tradição de muitos anos. . ." (Morador de Sta. Luzia).

"E uma festa da comunidade de boa parte do litoral de


agressiva, mas tradicional": "E uma tradição
(entrevistado do vídeo sobre a Farra do Bo1 Santa Catarina" (Padre Jacob)
Já os dados
fornecidos pelos não farristas "E uma festa de mais de 200 anos"
reção oposta: extrema crueldade. apontam para a a (Morador de Ganchos do Meio)

Soltam o boi no mato e a


turma vai atrás. Ajudeiam do bol Quanto ao significado
Jogam pedras, dão com chego até a
chorar. Já basta que Jesus dão com tudo.
pau,
foi maltratado. ." (moradora
septuagenária de Sta. Luzia). não vê nenhuma conotaço rel
Padre Pedro, de Tijucas, na Semana
Santa. Já Padre
Farra, apesar de
a ela se dar
"O o Judas. Nenhum
boi chega a morrer simbolizar
estafado de Enquanto o an d aventa a possibilidade de o boi ritual pagdo. A 1grea,
mal tem
perna eles tão judia como um
tendo pra ver se o animalsempre atrás, eles cutucam,
ba alOIs, entretanto, admitem-na "vem tentando evitar a violen
dá er Cia proíbe a "festa'", porém,
se o animal
levanta. As vezes cabeçada. botam fogo.
pra.
ia
contrao animal' (Padre Jacob).
o boi norre afogad
na água, dentro do mar." (fugindo
(Morador de Santa Luzia)
84 85
Outros querem encontrar uma explicação para a
terreno da psicologia. mesma no
Projeção
Em Ganchos jogam pedras (no boi)"
(Morador do Pantanal)
"E uma catarse."
(Wilson Riu Apa, de um video
sobre a Farral
"Antigamente era com violência. .." (Padre Pedro)
Ambivalência:
e continua,
Eu gosto, gosto de uma Farra, mas no (ex-farrista)
"E o homem com seu sadismo, seu aspecto cruel não se judeia do animal."morador de Sta. mangueirão, onde
em realiza. Luzia)
ção. Todos somos sado-masoquistas.
. .

é preciso a
Esses mecanismos turvam,
. .

homem realize tais atos." e


alteram a percepção da realidade.
São mecanismos de deresa, ativados para alonjar do indivíduo
Este senhor termina recomendando a prática da Farra do quaisquer manchas que conspurquem sua imagem. Nesses casos
Boi falamais alto o narcisismo.
"mesmo que civilizadamente, com um pouco mais Entretanto, dado que não nos foi possível presenciar a Farra
de huma Boi
nidade. Assim se teria menos guerras e
perIgos. Haveria um
do mesmo
e
reconhecendo esses fatores de
distorção,
temos
reequilibrio paulatino. que levar em conta uma pratica da Farra, tal como
descrita pelos
farristas, ou seja, "uma brincadeira com panos", "uma tourada
Análise dos Dados brasileira", uma "brincadeira que consiste em incitar o animal a
correr atrás das pessoas (farristas).
E do conhecimento Em se adinitindo esse tipo de farra, temos de admitir
dos que lidam com que
que os depoentes, muitas pesquisa de campo mesmo a, sem sombra de dúvida, os farristas gozam em constran
vezes, omitem dados, distorcem de
ma inconsciente os fatos ou for ger o animal. E esse co nstrangimento já constitui por si só aquele
simplesmente mentem. do sadismo despertado, o poder sobre a vitima.
Tendo em conta esses fatores de
distorção, poderemos empre elemento primeiro
ender uma análise o mais
possível
E importante acentuar
isenta de prejuízos. Este fato muito perigoso e seus desdobramentos previsíveis e
é
incontroláveis.
que as pessoas que se dispuseram a nos
dar entrevistas tanto farristas, como não
- Sabe-se que a psicologia das massas é diferente da psicologia
farristas
com freqüência, inseguras e contraditórias nas suas mostraram
-

se, individual. Um indivíduo, muitas vezes incapaz de matar uma


principal mente no que concernia à afirmações, mosca, quando na multidão, tendo seus impulsos agressivos desper
existência ou não de violncia tados, é capaz de participar de um linchamento. Uma vez desperta
na prática da Farra.
Atribuímos isso não somente do, o sadismo nos indiv íduos vai ao paroxismo. E o que nos de
à falta de conhecimento mais
abalizado de tal assunto ou a um ato monstramo Marquês de Sade nos seus livros, os manuas de psico-
deliberado de se criar contu
são, seno, principal mente, à mobilização de
mecanismos psicolo
oga e os fenômenos de massa com o nazismo.
gicos profundos inerentes à pessoa humana. A análise do Relatório da Comissão de Estudos da Farra do
vêm à tona estimulados Mecanismos estes que
por esta prática nefasta. ajuda-nos a mostrar o quão difícil é para as pessoas lidarem
evidentes nos discursos dos Alguns deles sao aspecto violento dessa "brincadeira", mesmodaaquelas nao
entrevistados. Por exemplo:
IVovidas diretamente nela, como os membros Comissao.
(De) Negação que a Farra feita nos
mangueirðes perde
"Não, aqui não fazem violência" a nde provar lapsos
trair por de

(Morador de Tijucas) escei er violência, a Comissão deixa-se


contradições, quando não deturpa claramente nterpre
a
e
"Onde eu brinco, açao de conceitos lingüísticos e juridicos.
ninguém machuca o boi." erro gramatical
se nos
afigu-
(Outro morador de Tijucas 0de parecer um simples
nto incidir justamente sobre uma paiavia
ntomático
que
que venha a
está diretamente correlacionada à violencia
86
87
..onde o boi é solto nas ruas e logradouros. od
ão em dos, visando não dar chance
que sofre maltratos."
ao animal."
a
alguém usar para violências
Mais adiante, querendo-se dizer esperar (a aplicacão
diZ-Se, espancar, ao mesmo temnn
Ora. se não usam pedras, madeira ou
lei que protege os animais), galhos,
em vezes esses mangueiröes? para que varrer
lapso ao se enu merar várias
que se tropeça em outro erroneamente o de Ouanto aos conceitos juridicos citados
creto em questão:
feridos na Farra, salta aOS olhos a
pela comissão como
não evidente infração dos mes
"De pronto, entretanto, há que se espancar a eficácia e anl. mos:

cação do decreto ne 24.045/34 Artigo 132- Perigo a vida ou


para saúde de outrem.
Expor a vida ou a saude de outrem
nente.
a
perigo direto ou imi
Também não atentam para a etimologia ter mo recrude.
do
Pena: detenção de três meses a um ano,
cer, ao usarem-no para dizer do vulto que tomou a Farra, nos i. se o fato não cons-
titui crime mais grave.
timos tempos.
(Codigo Penal Brasileiro)
". nos momentosem que a Farra do Boi recrudesce... Agui, mais uma vez, o Relatório, no item Polícia Civil.contra-
Não esqueçamos que recrudescer vem do latim, ditoriamente aos seus objetivos, mostra que os promotores e par
recrudes ticipantes dessa "brincadeira" infringiram o artigo citado, ao des
cere, que quer dizer: voltar a ser cruel.
A própria comissão utiliza-se do conceito de crever o caso do menino de 13 anos, Roque Mozart, acidentado ao
crueldade do entrar no alojamento dos bois preparados para a Farra. Há, além
Prof. Aurélio Buarque para justificar a
prática nos mangueirðes desta, outras referëncias que apontam para risco de vida a outras
onde, presumivelmente, segundo os relatores, não haveria
cia violên pessoas, tanto farristas como não farristas.
Lembramos ainda outro artigo daramente violado, tanto pelo
"Crueldade, segundo Aurélio, é o ato de fazer mal, de
mentar." ator conceito de crueldade exposto acima, como por outras afirmações
do relatório:
"Lei das Contravençöes Penais:
Mas, supondo que apenas encurralassem o boi
para provoca
o, irrita-lo,
perguntamos: por acaso, não se faz mal ao animal, Artigo 64 Crueldade Contra Animais
-

nao
Pena prisão simples, de 10 dias a um mes, ou S 20) Apli-
-

se o
atormenta, ao
constrangê-lo animal é tratado
não é como se diz nesses mangueirões? Dizer que ca-se a pena com aumento de metade se o
no
declarar inocente".
budismo: "esconder o saque no bolso e se
exibição ou espetáculo público."
com crueldade, em

Entretanto, os próprios relatores afirmam se n0s aparenta


que o boi é subst conclusão desse relatório que
tuido por não resistir
mais que 20 minutos de Porém, uma
transformar a Farra nos man
terior dos
mangueirões. Ora, o forte animal, quebrincadeira
no
uma violência maior está em querer de se estimularem os fol
fio no trabalha gueirões num evento turístico, ao invés
campo, não agüenta "brincar" nota também pelo povo
de Santa
po. por tão curto espaço de uedos lúdicos e artísticos cultivados
tei Catarina, como o Boi de Mamão.
Por
nião dessetim,
para encerrar essa
série de lapsos, na ata da da violência, passemos
a ver a
esse tema
Grupo de Trabalho Farra do
são ao boi no 8* Antes de esgotarmos
da Farra.
mangueirão, lemos Boi, tentando negar agres* questão da origem e da significação e sua origem
que: tradição cultura
Invoca-se muito ser a Farra entrevis:
conforme vimos nasFrancisco
.não é
per mitido estar vinculada
as llhas dos Açores, O Sr.
cercado qualquer violência ao animal, tanto que
determinado.

limpam o tas. Na ealidade, isto não está bem nega,


em carta-

que não (mangueirão) várias vezes por noeha


fique qualquer para Machado Evangelho, Presidentec Casa dos Açores
da a
de 05/04/88, que
pedra, madeira, ou galhos Zoófila
à Sociedade
Educativa

6oP umento
88 89
Farra do Boi tenha lIhas. Relata-nos
origem la, naquelas siderarmos isso, voltamos ao tema da
neste
cumento que "as festas de bois que acontecem naquelas ilhas
«
dessefenómeno mórbido que é a Farra violência,
do ponto
O termo sadismo nevrálgico
são festas com umcortejo rel igioso, levando a coroar logos para definir
"a excitação primitivamente
foi
empregado pelos psicó
sexual associada
divino, acompanhado de varios bezerros que são enfeitado. imento, físico ou moral, ao a0
desejo de infli
foi alargadoobjeto da
ir
e serão, após seu oferecimento, no altar da
capela erigida ao riormente este conceit
Poste- excitação."
de qualquer Freud para designar "o
por
Divino Espírito Santo, mortos, como quaisquer exercício da violência, alér
outros he. satisfação sexual.
zerros (no matadouro) e depois a sua carne é
distribuiia O sadismo é para Freud um dos
junto com uma broa de trigo à população pobre." da pulsional e, como tal, componentes fundamentais
deveria ficar,
mento do indiv íduo, subordinado à no decorrer do desen
Se esta possibilidade d e ser a Farra oriunda dos
Açores autôno ma desse componente pulsionalfase genital. A manifesta
está descartada por este documento e como não
encontramos ne
constituiria, pois, uma
fixacão ou uma regressao a estagios anteriores
aios infantis do desenvolvimento. Mais adiante, naesta fase, a está
a
nhuma outra fonte segura acerca da Sua
origem, especulemos um
pouco a esse respeito. evolução de sLa
fearia, Freud associou o sadismo às pulsões de morte.
A Farra do Boi seria Em outras
a
persistëncia,
des agora 0alavras, o sadismo estaria serviço
daquela festa totëmica primitiva, que tratamos em propositada,
a das pulsões desintegradoras.
rior? Seria uma manifestação pag nesses capítulo ante Em Jung, estecomponente instintivo está associado à som-
tempos de cristianismo? bra, ao lado negr da personal idade. Esse princípio de morte, de
Seria, como no dizer de Freud, "que os povos cristãos estão destruição, existente em todos nós:
cristianizados, mal longe de ser negado e extinto,
e que sob a fina camada de verniz do que é impossível, deve ser integrado. Assim, o relacionamento
mantiveram-se tal qual seus ancestrais, barbaramente crist ianismo
o

Admitindo que sim, não deixamos de notar polite ístas?"6


consciente com esse lado negro é uma forma de evitar sermos, por
cantes. Enquanto na festa diferenças mar- ele, possuídos.
totêmica, o sacrifício do animal era "A invasão do inconsciente torna-e um perigo real paraa o
realizado com um fim determinado: uma
através da refeição totêmica.na comunhão com o Deus, Consciente quando este não é capaz de captar e integrar compreen
se Ihe
Farra, não encontramos nada que sivamente os conteúdos trazidos".
compare. Na maioria das Farras, parece De forma alguma poderíamos concordar com aquelas pes
morte do Boi é adiada que, regra geral, a
para que "a carne descanse", pois
"muito dura", imediatamente após a "brincadeira'."
esta soas que vêem, na Farra do Boi, uma
oportunidade para dar
mica serve ainda A festa tote vazao a esses impulsos cruéis, tendo "a necessidade de realizar tais
para reafirmar, manter ativos, certos principios os nossos
éticos à destruição do
animal, à liberação daquelas forças, que, no atos como forma de se purificar e conviver melhor com na
totemismo, também Emelhantes. Admitir isso seria fomentar a cultura da violëncia
nhuma final idade, senão
eram
requer idas; mas, agora, na Farra, sem ne Talsa crença de evitá-la. Violência, como é milenarmente sabido,
a da pura
crueldade. O boi, inconsciente, manl
Farra, como símbolo religioso, está esvaziado.
no caso a
erd Violencia. Esses conteddos sombrios do
facilmente voltar-se on
E duvidoso, por outro lado, Lddos nessa tortura ao animal, podemabismo entre este e aquele,
cultural. Se há aí, na enquadrar a Farra como tradiçao roprio homem. Não há nenhum
prática da Farra, 0o
quanto a essa não há nada quetradição,
da violencia, e uma é a tradiçao Como já o mostrou Freud. aspecto
não como um
mente. a justifique cultura vemos a Farra do Boi sintoma,
u r a parte, mais um
No que diz
respeito à
particular do povo de Santa Catarina, mas como
rasileiro: a
miséria
capitulo anterior, onde significação, remetemos o leitor a que ali explodiu, da oença de todo o povo
dela, a degradação
sadismo. Mas, desde esplanam
se os conceitos de catarse e decorrência

da logo, reafirmamos que nem do ponto de v ta


al, em amplo sentido. E,
de valores e a intensificação da violência.
como

ine-
representação dramática nem do ponto de ditadura,
com suas

poderemos afirmar que a Farra vista psicanaln pela institui-

venha a satisfazer necessidao ACarta Constitucional olapada obscurantismo,

de catarse das
comunidades do litoral catarinense. De vitáveis conse autoritarismo, te, o recrudescimento

não achamos demais outro mou ção da tortura - favoreceu, em grande brutal, nes
discorrer um pouco sobre com força
sadismo, Ao daquelaspulsoes que ainda hoje nos
atinger
SEs
90 "tempos de transição". 91
social tez-se acompanhar da regressão instint: NOTAS
A regressão
Regredido pela impossibilidade
ntiva,
como comumente acontece.
- eco

nòmica, politica, religiosa


de "seguir para a frente" o
Cascudo in Dicio do
dominio desses instintos de mort Camara Folclore Brasileiro
leiro vê-se acossado pelo As Edicão de Ouro, 1982,
-

1.Apud
6 9 e 170.
transformadora pelo esua,:
festas simbólicas perdem sua força pag.
Valter Piazza, ntribuição ao Folcore do Boi no Brasil p74
mento continuo dos símbolos,
lançando o homem na barhárrie.
3.Jdem, ibidem.

"A mocidade de hoje não quer saber do Boi de Mamão,"


(Morador de Pântano de Sul).
lneida, "A Inteligencia do Folclore", 2a. edição, Companhia Editora
MEC, 1974 p. 231.
Amn.
icana -

Agilberto Calaça, psiquiatra, e Gilza Prado, socióloga


A restauração de valores (éticos, sociais, morais, estéticos e
tantos outros), através do cumprimento da nova Constituicãn loracão de um farrista do Pantanal,
quando porventura matam um boi
pode ser um dos caminhos para se lidar construtivamente com este lao após a Farra, "o boi
na0
chega sequer a sangrar". A durezac arne e a impro-
ser atribu ídas à intoxicacão
oriedade para consumo devem
stress Cuasado ao animal, pelos maus Teat
enio e ácido lá
aspecto sombrio do homem.
d0
tico, provenientes
Santa Catarina possui um rico folcdore, como o atesta Doralé de Trabalho Farra do Boi.
5.Ver Relatorio do Grupo
Soares. Convivem no mesmo povo festas simbólicas, lúdi
n° 01/87, datada
cas e religiosas de alto nível, como o Boi de Crianças, as Festas de Portaria Intersetorial SE3/SSP/SSE/SCE/PE.J/PM, de 15 de setem-
1987- SC.
brode
Reis, a Festa do Divino, e manifestações bárbaras, cruentas como o
.Sigmund Freud, "Moses and Monotheism",
the Hogarth Press Ltda., London, 1974,
Boi-na-Vara e a to mal afamada Farra do Boi. Este fato expressa, pag. 91.
de forma singular, a existência da bipolaridade de sentimentos no
Decreto 24.645 de 10/06/34
Lei de Proteção aos Animais Artigo 39, paragrafo 29.
ser humano: amor e ódio. Ou instintos de desenvolvimento versus "Realizar ou
Combinado artigo 64 da Lei das Contravenções Penais, proíbe: touradas e
com o

instintos de destruição. A possibilidade de transfor mar esses últi animais da mesma especie ou de especie diferente,
promover lutas entre
simulacros de touradas, ainda mesmo em lugar privado."
mos através de revivescência de símbolos é a grande esperança da
humanidade. 7.Havelock Ellis, Psicologia do Sexo
-

Ed. Buguera, 1981, pag. 195


Conclusões Psicanalise 3 edição -

Ed. Martins For


8.J. Laplanche e J. B. Pontalis Vocabulário da
tes, pag. 605
1 A Farra do Boi é uma degeneração de outros "folguedos". 9.C. G. Jung- Símbolos de Transformação, 1986, Ed.
Vozes, p. 383.
nomeadamente o Boi-na-Vara.
tempo indo para
a frente". Leonardo, Amo de
e como uma viagem. Todo no Marannao.
Olclore Azevedo Neto..
Bumba-meu-8oi
anos, in Americo de
.

2- Não existe Farra do Boi sem violência. O ha vinte


td. Alcantara, S. Luiz do Maranhão, 1983.

Funarte.
"Folclore Brasileiro", SC, 1979-
3 - Não encontramos embasamento algum para enquadra-la . Doralécio Soares,
Comodo tradição cultural, nem como manifestação catártica,
seja ponto de vista aristotélico ou do ponto de vista freu
diano ou jungiano.

4 - 0 sadismo é mecanismo
o
psíquico essencial nessa mani
tação em que os
participantes estão tomados sombra
pela
coletiva.

5- Este fenômeno parece ser mais um dos sintomas da doença


que atualmente ataca o país: deterioração social, que a
a
largo caminho para a irrupção de fenômenos autönom
extremamente regressivos.
93
92
Capítulo VilI

DISSOCIAÇÃO ENTRE O HOMEM E O SEU COMPONENTE


ANIMAL - INTEGRAÇÃO HOMEM-ANIMAL.

Philippe Bandeira de Mello

Durante milhares de anos as antigas civilizações do Oriente


desenvolveram um vasto campo de conhecimentos da mente, en-
quanto, ainda hoje, nossa ci¿ncia psicológica engatinha. E de gran
de utilidade, não só para o historiador, mas também para o psicó
do século o estudo das psicologias de outrora.
Através da
logo XX, com
Investigação dos processos individuais e coletivos, juntamente
o conceito principal de
toda
elabora
a
Simbologia alquímica, Jung Baseado em extensa
Sua Psicologia: o processo de individuação. ou passa por
umentação, ele conclui que o inconsciente produz
dnstormações, tendo consciência
a participação no menos
essen
encontro com a
Alquimia, se
cial neste desdobrament No seu as
um processo e que
apresenta claramente que o inconsciente é
do inconsciente desencadeiam
does do ego com os conteúdos verdadeira
metamorfose da psique.
um
desenvol
volvimento ou uma simbolismo do animal à luz
Sim, nossa finalidade é o estudo do na série das Dez Figu
da individuação, este trajeto
acompanhando
ras do Apascent do Boi do Zen Budismo. constitui a
Mente", que
O caminho para "Liberação da
a na ico
Budista, aparece
meta central de toda harma) do Boi.
a Doutrina Apascentar
Voltando para casa montado boi. Sexta etapa do
do apascenta Figuras don í v e i s
mento do
no apa nografia Zen sob a lação das
de desenvolvi-

boi, segundo Kaku-an. Tas figuras ilustramo caminho intero da meditação


Zen. O Boi
e o
Heprodução de "Man and Transformation'" - Bollingen series estudantee as etapas
espiritual do humana
primordial,

XXX Pantheon Books. Simboliza a natureza Buda ou a


natureza

95
94
seu Pastoreio refere-se ao treinamento da mente no Zen.
bém fonte
de muitos males
Não se pretende aqui fazer um estudo especítico das Fiaura ciência foi Apesar de tudo, a cor
fruto
mais do que conquista da cons
do Apascentar do Boi, mas,sim, através delas (e seus comentáriel única arma mágicaprecioso da Árvore do
capaz de conferir aoConheci-
me

estabelecer um roteiro para estudo acerca das relações entre o h


uela que, segundo Buda, é a maior
em e oanimal existente em si proprio, e Simbolos de
os transfor mo. A cisão da alma se nos vitória, a vitória sobre homemem,
mações arquetipicas que estes opostos configuram na trajetória da moderna
afigura algo enfermiço,
si mes-
nossa
perspect
as assumindo, em
denominações de conflito,
individuação. icose. A crise, a neuros neurose
A série e os comentários que utilizaremos são atribufdos a
ou

no stra ao ndivíduo que representam um sinal de parada; elas


ele está
Kuoan, um mestre Zen chinês do século XII, embora nãotenha caminho num
do sinais de
induzem a procurar um falso, constituin
alarme que o
sido ele o primeiro a ilustrar por meio de figuras as sucessivas eta. calSe no indivíduo a diSSOCiação é vista processo de cura
pas da realização Zen. como doença ou per
urbacão, o mesmo acontece na vida dos povos.
revela outros horizontes nesta mesma
Jung também nos
questão: "Toda doença que
dissocia um mundo constitui
ao mesmo
tempo um processo de
cura, ou, por outras palavras, é como o ponto
gestação a anunciar as dores do parto".
culminante de uma
O processo de integração entre o consciente e o
inconsciente
por meio do qual o homem se torna um individuo
psicológico, isto
é. uma totalidade indivisível, constitui o eixo da psicologia jun-
guiana. Este processo pressupõe o reconhecimento de Si-Mesmo,
o centro inconsciente da
1. Procurando o Boi personalidade e o estabelecimento de
uma dialética entre ele e o
ego. "Ser inteiro", para Jung, não sig-
nifica a inexistência de feridas anímicas, mas uma condição onde
"O Boi nunca se extraviou realmente, então
por que pro a perso nalidade considera atent amente o fator iterno de orienta
curálo? Tendo voltado as costas à sua verdadeira
natureza, o ho- ção, o centro ordenador, o Si-Mesmo, fonte das imagens psíquicas
mem não pode vë-lo. Por causa de sua
corrupção, perdeu de vista o e que produz o desenvolvimento da personalidade. Disse Buda:
Boi. Repentinamente, defronta-se com um labirinto de caminhos
OEu é o mestre do eu, que outro mestre poderia existir Por
entrecruzados". (...) Desolado através das florestas e aterrorizado é
nas selvas, ele procura um Boi
ISSO fundamental na prática que o psicoterapeuta "entenda cor
que não encontra" retamente os símbolos que estão voltados para a totalidade
de
poderemos detectar e conhecer as Forças de Autocura
Veles e

Kuo-an nosso estudo consiste


relevância para
imento psíquico. Sua
que tais símbolos constituem o instrumento queà nos permite
"Como então poderá saber um homem quão necessária Ihe e proporcionando consciencia
ninar as dissociações neuróticas,
uma cura, se ele mesmo pensa que não há nada de que humanidade sempre sentu
curar-se ela atitude e aquele "espírito queea libertação". Sem dúvida as
Sendo portadores de redenção
C.G. Jung E desérie pictórica Octá
iguras
vio
do Apascent do Boi, bem como a
de pintura do Museu de
um freqüentador do atelier expressão de rela-
Encontramos na B íblia a narrativa da criação que nos sintética
senta, na visão do Paraíso, uma harmonia plena entre as
apre
0S
agens do Inconscien constituem e representam
símbolos
plantd es interação
animais, o homem e Deus. Esta cena, representando simbolca típicas entre Os opostos em
que
mente oinício de todo devir psíquico, apontam para a totalidade. consciente com
mo se
o Si-Mesmo
parece situar a ruptura Tao A
trajetória de armonização sofrimento e o cho-
no primeiro
esboço de consciência: "Sereis como deuses, O
cendo o Bem e o Mal". A no
inicia geralmente com uma ferida psíquica.
o ego
de seu estado de

dia do nascimento da
dissociação se abateu sobre o psia m- que decorrentes da
Entes crise visam despertar
sejam
reconhecidos

consciência. Ela éo bem supremo mas ta e


torpor nbora nem
sempre
e inconsciência,
97
96
como tal. O Si-Mesmo tenta despertar o homem
para o. uras e épocas. Na clínica pSicológica
do animal interiorpsicológica poderíamo dizer
s a s C u l t u r

Boi. E na crise que marca o amadurecimen ocura do


ento mais profundo inconsciëncia
éo que
personalidade que o indivíduo se arrisca e procura o oto da sintomas psicossomáticoe central
a central de rmuitos dos
impossível de achar ou a respeito do qual nada se saheealgo ais
descrição da
ossomáticos,
dissociação neuróticos psicóticos'. Prie
do ego interior do homem é
compat ível com esta situação é "voltar-se para aA atitude
morosa

se aproximam, sem nenhum preconceito com a vas que n o sc o m e n t á r i o s ávio lgnácio, autor de uma encontrada
e tentar descobrir qual o seu objetivo secreto e o
maior singe série pictórica profu lamente reveladora do impressionante
desdobramento
do indivíduo"
que vem solicie
citar ssos psíquicos sentados pelas relações entre o dos
omem. Diante do símbolo do homem animal e o
Ensina-nos Kuo-an que apesar de "cansado até os ao lado do
o "coração pesado"" o homem deve continuar a
ossos" e com
"buscar
mãos
didas para ele, alimentando-0, buscandoo animal, comas
entendimen-
não pode encontrar". "AO algo aup desenhado por távio, este comenta: "O homem
entardecer, escuta cigarras nunca pode
cigarra "senao a voz da própriagorgeando ais forte que cavalo, Não que o cavalo não seja domesti-
o
nas árvores". E que é a
cantando sua antiga canção natureza da
cado Mas, numa guerra ou batalha o cavalo mostra
tem sobre o homem. Então o homem tem que converforça
de alegria a
e
felicidade, de unidade e criareleo
sar eque
harmonia consigo mesma"? O sofrimento da
cigarra é
em seu canto, que exprime não apenas
percebido cavalo para que eles se tornem amigos, pois o homem tem senpre
desespero infinito mas tam- um cavalo". O caminho para curar a
bém a esperança e promessa do tão almejado
Encontro. dissociação, a integração da
sombra, é uma longuíssima via que se constitui na progressiva
aproximação å totalidade, um completar-se pela sua assimilação
quando "o homem como que assume 0 seu corpo, 0 que traz para
o foco da consciência toda a sua esfera animal dos instintos bem
como a psique primitiva ou arcaica (...).".
Nas Figuras do Apascentar do Boi e na série de Octávio as
imagens do homem parecem representar o egoe suas transforma
çoes durante o processo. Nosso ponto de partida é o de que a cons
ciência desenvolve-se passando por uma série de diferentes etapas
Ou relações típicas com o arquétipo do Animal, e o ego transfor
2. Encontrando os Rastros mado está sempre experienciando uma nova relação com ele. Tan-
a Emoção de Lidar
to a psicoterapia dentro do enfoque Junguiano,
cada qual no seu nível e al-
"Através dos sutras e dos ensinamentos, ele distingue os Niseana, bem como a meditação Zen,
tros do 3oi. Foi informado de que assim como vasos de ouro de
ras natural da dinmica incons curso
Cance, buscam acompanhar en
o
contrário de uma dissolução ou
feitios diferentes basicamente
são do mesmo ouro, também e
cada cente, proporcionando, mui ao
expansãoeo enriquec
é uma
toda ocoisa do manifestação do Eu. E, porém, incapaz de distin- rdquecimento, o fortalecimento do ego, a do inconsciente.
consciência através da integração
guir bem mal, a verdade da mentira. Não
pelo portão, mas tenta ver os rastros do Boi".
passou realmente mento da
dessa Figura 2, encontramos
ACerca
o seguinte comentário
de

na floresta e
à margem das
A relação com o animal exprime uma fundamental "Viu sem número
realidade Oan pegadas
a relva pisada?
Mesmo as gargantas
anímica do homem. Já nos primórdios da sua h istória, o anima águas. Em que distâncias vê ele montanhas não podem
esconder o
Ocupa um lugar proeminente e constante. Desde os mais antigos mais profundas das nais altas
o céu'". Em
meio a
um lao
Cultos conhecidos, nas Religiões, nos Mitos, Lendas, Contos de Fa desse Boi que toca diretamente inconsciente,
nno das águas do
rinto de pegadas na florest e à margem
ele está, são profun
das, no Folclore, nos Ritos, nas Festas, etc., até nos sonhOs, del as

rios e nas diversas irrupçôes do inconsciente no homem moderno, sem sabe ao certo a que distância do "Boi" esse Boi, o
Si-Mes-
revelam
encontramos reflexos deste íntimo relacionamento entre o anima díssima altitudes do consciente que
céu", isto é,
a
dimensão espi-
mo o
eo homem. Em uma perspectiva psicológica o homeme o an Cujo focinho "toca diretamente

do Boi
representa a
conscien
representam processos vitais que desde remotamente tëm con itual da psique. Encontrar os rastros c a m i n h o de indi

pistas para o
rado motivos básicos para a formação de símbolos nas mais divel tização da necessidade de uir as
Animal, ego e sombra,
ego e

viduação e união dos opostos, ego e


99
98
Si-Mesmo no homem. Encerraremos essa etapa de nosso trajeto que
se liga, num
eterminado ponto, aos grandes
dete
com um poema de Marvin Spielgeman, analista Junguiano
manidade".
problemas da hu
A
veneração ao animal e um significativo aspecto comum
"Ah! Bravo Touro você não fala ivíduos das mais iversas épocas, a

E porque você não fala, eu sou lento para compreender Nas religiðes e na arte religiOsa doslugarese nas diferentes cultu-
ras.
animais são relacionade diver sos povos, os atributos
aprios deuses são representadosprincipais
mais aos
E tão lento sou, que sou ainda tolo
E voce caminha, e eu caminho, e nenhum de nós sabe
deuses. Por vezes, os pró-
sob a forma
ambos". onte Os animais representantes de seus atributos animal, sendo exata-
O que aconteceu a ment
que mais pare
em querer em sacriffo As imagens de animais são
geralmente in
terpretadas na Psicologia profunda apenas como representantes da
narcela instintiva, sexual e até destrutiva, atribuindo projetivamen-
te a0 animal víciose descomedimentos peculiares ao homem. Já na
carta de Jung a Freud em 1912, ao comparar sua iterpretação do
incesto a do pai da Psicanálise, vemos uma distinção fundamental
para nosso estudo. Para ele a interdição do incesto não é explicável
pela redução à concreta possibilidade incestuosa assim como o
culto animal não pode ser explicado pela redução a uma primitiva
3. Primeiro Vislumbre do Boi instintividade. "O culto animal é explicado por um desenvolvimen
to psicológico infinitamente longo, que é de importância primor
"Se ele apenas escutar
atentamente cotid ianos,
os sons
chega- dial, e não por tendências bestiais primitivas estas nada mais são
r à compreensão e no mesmo instante verá a verdadeira Fonte. Os do que a pedreira que fornece o material para a construção do
seis sentidos não são diferentes dessa verdadeira fonte. Em qual- templo. Mas o templo e seu significado nada têma ver com a qua-
quer atividade, a Fonte está manifestadamente presente. E algo Eranos um es
lidade daspedras da construção". Ao apresentar em
análogo ao sal na água ou à liga na tinta. Quando a visão interior Contos de Fadas,
tudo sobre a fenomenologia do Espírito nos

está corretamente focalizada, chega-se à compreensão de que aqui- relaciona de os conteudos e fun-
forma animal com o fato
Jung a
ou sega, para
lo que é visto é idêntico à verdadeira Fonte". em questão estarem na esfera extra-humana,
oes do Espírito, encon
da consciência. Expressão do arquétipo
Kuo-an
E Colaboradores
motivo dos Animais
ramos nos Contos de Fadas falam
o
uma linguagem
humana e de
como humanos, do homem. A
ue agem sabedoria superiores
às
"Confrontar um
mostrar-he sua luz".
homem com sua sombra significa também ram uma sagacidade e
numa situação
de impasse é
TUndamental para a consciência
esta acima ou
idéias que milhões de ho- d um reino que
"Não esqueçam o fato de que essas
a t o com as forças
pertencentes a
simbolizam as
dimensões ins-
mens alimentaram de gerações e gerações são grandes e eternas ver aba ixo do human0, onde "os animais melhor e mais
direta
dades psicológicas'". tintiva e intuit ivas da psique", uma resposta atro-
ou deixou que
homem perdeu
das forças da natureza que o de crise, quan
Numa situação
C. G. Jung fiassem mas que é capaz de
resgatar. Colaboradores expri
os
Animais
do a cor
nsciencia
estanca ineficaz, rumo
descobrindo o
instinto,
objeto de que se ocupam tanto o psicoterapeuta quanto o mem esse atuando por dos atri-
instrutor Zen é o "homem psiquicamente doente e sofredor" Es conhecimento Jung
considera: "A posse
as
adequado. Em
somente

Jas memórias, não atingem


tendendo o problema da neurose desde o plano somátic0, butos teriomorfos,
deuses da
DIO indica que
os
também as
regiðes
sub-humanas

gico, da esfera perturbada dos instintos em conflito até as ques dos deuses,
ina is da cosmovisão no plano religioso ou espiritual, Jung mostra regioes sobre-humanaas, mas

de algum
modo a
sombra
Neste patamar
Vida. Os animais t representam iluminada".

gualmente que "sempre encontramos nos doentes um conTlo gue à a sua imagem
natureza acrescenta

101
100
é como se culto animal apresenta sse um ganh0 de consciência
o

novo degrau na
compreensão do carater arquetípico, anímico do
animal para o homem, e, seu simbolism0, a Via madura de acesso a
essas potências
tão úteis para a cura da cisão do homem moderno
maioria de nossas dificuldades provêm de
Se "em útima análise, a
contacto com noSsOs instintos, com a antiquíssima e
perdermos o em todos nós", a voz da na-
não esquecida sabedoria armazenada
uma posição fundamental
tureza, o culto animal, parece ocupar
nesta religação, conduzindo o indivíduo ao surgimento de formas 4. Agarrando o Boi
superiores de funcionamento psicológico assim transformadas por
meio dos símbolos. Por isso os animais nos ajudam a "verno "Hoje ele encontrou o Boi, que tinha estado
escuro", isto é, penetrar nas escuras profundezas do inconsciente cOveando campos agrestes e realmente o
nos longamente cor-
Consideraremos, como James Hillman, que os animais são "deuses, agarrou. Por tanto
tempo ele demonstrou nestes arredores, que não era fácil fazê-lo
poderes divinos, inteligentes e autócto nes que requerem respeito romper com os velhos hábitos. Continua a ansiar por
..) "O animal é uma "alma irm ou muda alma-médica" regido pastagens
cheiro sas, é ainda obstinado e indomável. Se o homem quiser do-
por "leis psíquicas diversas das do ego do mundo diurno". Este má-lo inteiramente, tem de usar seu chicote".
posicionamento nos descerra a compreensão do Mistério do Boi,
que penetra profundamente na Terra Santa do Inconsciente, mer
gulhando suas ra(zes no seio da própria divindade. Para Suzuki esta
Kuo-an
Figura 3 representa "o despertar de uma "nova" consciência, na Por mais amargo que seja o cálice, o confronto com a sombra
verdade antiga e adormecida, e ela constitui o encontro do "ani
não pode ser evitado. O reconhecimento e a aceitação de sua parti
mal" precioso que não é outro que o próprio Homem. O termo cipação na nossa estrutura psíquica proporcionam o aparecimento
chinês para boi ou vaca é NIU e USHIl
em japonês. USHI designa a
família dos bovinos em geral. Encontramos isso nas variantes das
de umaatitude ma is objetiva diante da própria personal idade, in-
dispensável no caminho da totalização. Quanto à questão da som-
Figuras que ora são traduzidas como referindo-se ao touro e ao boi
bra in icialmente aparecer projetada nos outros, é indispensável na
ora à vaca, novilho ou mesmo ao búfalo. Em todos eles encontra-
Via do autoconhecimento uma atitude egóica de incessante vigilän-
mos
asimbolização por meio do animal de uma dimensão funda-
mental da mente humana com a qual é ind Cia, aprendendo com um velho mestre Zen que dever íamos
seguir
ispensável
ao ego colo-
0 exemplo do pastor que vigia seu gado
"com um cajado à mão
car-se de acordo, Natureza
a Búdica. Aqui nos diz Kuo-an: "Um alheio". Como a sombra
também
rouxinol gorgeia num ramo, o sol brilha nos salgueiros ondulantes. para que não vá pastar em campo
positivas, Jung diagnostica: homem mo
mundo
"O
Ali está Contem forças vitais e
o Boi, onde poderia esconder-se? Essa esplêndida cabeça, crise. O moder
erno está dessacralizado, por isso está
em
esses cornos majestosos, que artista poderia retratá-los"? Ver o Boi
fonte mais profunda de sua própria vida
e não saber descrevëHo. Vislumbrar o Boi é descobri-lo para alem o deve redescobrir uma
lutar com o diabo, a
enfrentar
de toda representação visível no mundo, na vida e em todos os ritual Para tanto é obrigado a
o diabo". 0
fato de aquilo que
seres viventes. Assim se refere Marvin
Spiegelman, vislumbrando a propria sombra, a integrar uma qualidade demonia
numinosidade do arquétipo, em seu a consciência humana adquirir
Scende Boi-In
Terceira Figura: "Sim, eu tenho visto depoimento pessoal
sobre a esse
"agarrarmos"
o Boi, muitas e muitas vezes. divina nos abre mais um portal:ao da Psicologia
tanto através
Ele se mostrou a mim em
sua escuridão e em sua nos damos conta de que partida é a experiên-
vilha e glória, e em seu luz,
em sua
mara" nte,
lJungu iana o ponto de
avilatamento. Eutenho visto no sorriso como
o do Bud ismo Zen sendo menos
de minha mulher, na
o realidade psíquica,
risada de minhas crianças, eu o tenho VISto Cia direta Inconsciente, a sabemos se o

em minha própria compaixão,


com o
releevante o nome que se dá ao
Si-Mesmo. Não
Si-Mes
sombra ou o
Mas eu também o tenho visto apreciação dos outros.
meu amor e
em meu -Animal "person uma parte da
nossa

com a
sombra e suas
mente nos horrores do próprio horror e especia mo ou tempo". No
encontro
mundo. Sim, eu o tenho visto". ambos aa um só por vezes,
as aparentemen

dificuldad éticas, perceb


como,

103
102
te más ações e acontecimentos podem estar a serviço de achos.
doras e secretas do SiMesmo. Um dos maiores desafios do nroc
so de individuação consiste em adivinhar qual o aspecto do incoe
ciente que emerge no momento, se deficiência a ser corriaida
dimensão significativa da vida que deve ser aceita. ou
As Figuras do Apascentar do Boi também não conhecidas
como"As Figuras da mente Bor, ind icando assim que o Boi re.
presenta o conceito Zen de "mente" com um sentido bem diverso
de visão Ocidental da palavra. Jung conscio de diferenças entre as 5. Apascentando o Boi
concepçães Ocidental e Oriental de mente, sabe que no Oriente ela
designa o que ele chama de psique, que abarca os processos cons "AO Surg ir um
pensamento, outro
cientes e inconscientes. Tal conceito de mente é comparável ao lauminacão traz
e mais outro nasceram. A
a
compreensão de que esses
pensamentos não säo
conceito junguiano de psique total ou Si-Mesmo. As figuras expres irreais, já que brotam de nossa verdadeira natureza. E
sam sob forma artística a
experiência do "SATORI" ou ilumina e
que a ilusão ainda permanece que eles são considersomente por
ção Zen. As palavras "mente", "natureza" e "iluminação" são uti- Esse estado de ilusäo não tem ados irreais.
no "igem mundo objetivo, mas em
lizadas como expressando diferentes aspectos dessa mesma reali nossas próprias mentes"
dade: O SATORI. Mas o que entendem os mestres do Zen por
consciente? Para Hui-Neng é o fundamento do Budismo. O Incons
In
ciente do Budismo Zen é, em certos aspectos, similar ao da Psico Kuo-an
logia Analítica mas diferin do,na essência, em apresentar
notação metafísica. Dando a palavra aos Mestres do Zen: "Aquele
uma co "Quem descobre simultaneamente sua sombra e sua luz, se vê
pelos dois lados, e por conseguinte SE SITUA NO CENTRO."
que vê o lnco nsciente não é corrompido pelos seis sentidos, aquele
que ve o lInconsciente é capaz de voltar-se na direção do saber de C.G. Jung
Buda, aquele que vê o Inconsciente chama-se Realidade". A Natu-
reza-Buda é o Vazio. Esse Vazio porém "está constantemente ao O título da série Figuras do Apascentar do Boi nos aponta
nosso alcance, está sempre conosco e em nós, e condiciona todo o para o núcleo dessa temática e a importância da Figura 5 nosreme
nosso conhecimento, todas as nossas ações, Só quando tentamos te para a questão crucial na individuação: "o resgate a ser realizado
agarrá-lo e apresentá-Ho como se fosse uma coisa díante de nossos éo Pastoreio de nossa natureza perdida, isto é, do Inconsciente.
olhos, é que ele foge de nós, frusta todos os nossos esforços e desa- o título desta figura seja a
Doma do
Embora na série de Pu-Ming
pareee feito vapor". Segundo o Zen, não sendo esse Vazio o que sentido unilateral de subjugar, re
5O1, etapa não parece
esta ter o
as paixões na
parece ser, este agarrar deve ser não-agarrar, num paradoxo inexo- rear, reprimir, dominar, vencer os instintos ou
ravel. E necessário agarrar firmemente esse contacto com o inefá animal. Nesta série, em nenhum
vel Si-Mesmo, não deixá-lo escapar, pois "o Boi tem ainda tendên- mente, representados pelo robusto 0 Boi está preso por rédeas
ao

cias doentias", isto é, o ego ainda se relaciona neuroticamente com nomento,o homem monta no Boi. Da quinta figura em diante
o inconsciente, "ora se precipita para as montanhas, ora vagueia Omem da segunda até a quarta figuras.
Doma, desaparecem, o Boi está
antes utilizadas para a O
numa garganta nevoenta". A mente-Boi, o Insconsciente
ColetiVo, red eas, acompanhando-o
amigavelmente.
Solto junto com o homem
Kuo-an, parece mais
com sua força indômita pode compelir o ego a assumir extremadas sentido de apasc pastorear,
adotado por
tar, protegendo e
posicoes: ou ele busca unilateralmente os altos cumes do Espirto adequa a esta etapa da relação entre
os opostos:
este
ou erra pelos vales da instintividade inconsciente. Agarrar animal ao pasto
para que
o Bo zeland por ele, o homem leva o tanto
figurados
significa então, do ponto de vista psicológico, começar a relacio Os sentidos
nar-se criativamente com a caverna de tesouro da Natureza-Buda,
pOssa nutrir-se, deleitar entreter-se.

gund,gv
Pastorear, instruir, doutrinar, do processo
isto é, com o Si-Mesmo. centar como de a chave para
esta etapa
e, sob
narar, dirigir. talvez nos deem interpretá-la
como Doma,
nde, sob certo prisma, podemos
105
104
outro,como Pastoreio. Ensina Octávio quando finalmente seu cava relação com os animais é
nassa
psique, nossa
leiro consegue firmar-se em cima do cavalo: "E a
posição que deve realizado por objetivamente transforma
ria ser. 0 sujeito tem que dominar o animal pelo
espírito e As pessoas que estãoJung, encontramos o
pela força". No romance de Hesse, "O Lobo da Estepe"nãoa
mentário:

própria
mais ou menos seguinte co-
em bons
com sua ureza são termos
"Doma" é recíproca: Lobo e Homem se domam
mutuamenté, A fraternos, amigos dos animais,
animais sabem d isso e vão com eles" os
doma parece corresponder na realidade å conjunção dos
na qual ambos se transformam. A cada tentativa de
opostos. Encerramos esta etapa com o depoimeto
negar o animai Caieaelman acerca Oessa Tigura: "Apenas pessoal de Marvin
ele se torna mais voraz e mais exigente. apascente-me,ó
Desconhecë-lo, com as im. diz o Boi de minha alma, "apenas apascente-me" homem,
plicações que isto representa, pode nos acarretar doenças psíquicas Não me deixes vagar; não
e psicossomáticas. A Dra.
me deixes
escapar para
Von Franz, incomparável colaboradora ilusão e corrupção, nao me deixes sem rumo'"
o mundo de
de Jung, nos oferece algumas dicas acerca de como nos relacionar. E sou eu, ô boi, o vao, pequeno, confuso eu de
mos com a sombra, disso dependendo sua amizade ou preci-
que tu
inimizade caS. Pois tu és tão vão e contfuso quanto eu. Juntos precisamos
"(...)Ela se parece com qualquer ser humano ser
uma
com quem temos
relação algumas vezes cedendo, outras resistindo, outras,
anascentados, juntos precisamos ser domados, juntos precisamos
,
ser subjulgados como um só.
ainda, dando-lhe amor segundo as circunstäncias". Ela só se torna Mas porque tu te esquivas, ô boi, quando estivemos juntos
hostil quando ignorada ou incompreend ida. Não acreditando na Como um só?
supremacia absoluta do Espírito, Jung nos adverte de que é justa- Por que, conhecendo a unidade, tu andas perd ido?
mente nele que reside "o perigo do desenraizamento do homem, "Como tu, meu amigo", diz o boi, "Como tu, eu ando perdi-
de sua errad icação da terra onde recebe as asas de lcaro para em se- do e tu andas perdido e não há resposta par a pergunta: Por que?
guida afogar-se na privação de um solo". São compreensíveis tanto "A pergunta, ela mesma é sinal de desespero.
o temor do homem
ctônico que do Espírito se defende
mente, quanto o receio do homem espiritual contra a prisão im
instintiva E uma marca do cisma que tu sentes.
Um abraço, uma compreensão e um pedido sem palavras
posta pelo corpo e pela terra. Por isso, esta etapa do caminho Zen Levam minha alma ati pelo ar."
parece nos descortinar a mesma posição da psicologia junguiana na
questão. Esta não acred ita na supremacia de um ou de outro prin
cípio arquetípicos, Homem ou Boi, mas sim na sua conjunção: Diz
Jung: "Acredito somente no Verbo tornado carre, no corpo torna-
do espírito, onde YIN e YANG se entrelaçam numa forma cheia
de vida".
Nesta altura vale a pena recordarmos as palavras de Kuo-an
acerca dessa figura: "Ele deve segurar com firmeza o cabresto e
não permitir ao Boi vaguear, para que não se extravie por lugares
lamacentos. Devidamente cuidado, torna-se limpo e gentil. Solto, Boi
segue de bom grado a seu dono". A pérola do Si-Mesmo não deve 6. Voltando para Casa Montado no

afetam. Ele
extraviar-se no lamaçal primordial inconsciente, confundindo-se não mais o
ou "perda"
com ele. O animal sem cuidados fica feroz, mas, ao nos reconectar Cessou a luta, "ganho" e toca os cantos
Sim

ias rústicas dos lenhadores o ar, ele


mos e bem cuidarmos do animal interior, ele se transforma. Na fi melod livre com
arola as "Cavalgando
ples das criança aldeia. (...) de capa e
gura 5 de Kuo-an, como se representasse um entendimento reci ças da da bruma da tarde,
casa através
para
proco, o homem está confiante, de costas para o Boi, que o segue animadamente

de perto, e ambos vão na mesma direção, exprimindo simbolica amplo chapéu de palha." Kuo-an
mente o que acontece nesta etapa de integração e movimento har
mônico entre o Homem e o Animal. Na med ida em que descobr o que
éo Bu-
mos como "cuidar", isto é, dar atenção ao Si-Mesmo em noss mestre
pergundando
ao
Om buscador dirige-se
107

106
a focinho volta-se para cima em
diema Assim responde o mestre: "E como se você procurasse um
montado nele".
Minha flauta volta-se para baixo emdireção ao meu som.
Boi estando
com o poema, montado no animal ele encontra.
E meio-dia, com o sol lá em
cima?
direção a seu ritmno.
De acordo
seu caminho para "casa". Mas quem leva quem para casa? O ho- Ou noite, com a lua
ser ena?
Ah, Bo-Touro, o que importa?
mem conduz o Boi ou é o Bo que levao homem? E importante
série de Kuoan, só monta no Boi au Homem e Touro são Um"
observar que o homem,na
menso e potente animal. Sem as mãoc
do é ele o conduzido pelo
sem rédeas, ele apenas toca sua flauta enquanto o Boi o conduz de
volta para casa. Permanecendo em contato com o Animal em si,
com a vida instintiva, a fonte inconsciente da criatividade, ele a ex.
pressa em sua música
o melhor possível. Esta música resulta da
combinação entre a elaboração da consciência ea inspiração do in-
A
consciente. A diretriz agora é proveniente do Si-Mesmo, o Boi que
"não precisa nem de uma folha de relva", ou seja, a auto-suficiente
Natureza-Buda", nos guiando conforme um desconhecido desíg-
nio. Procurando seguir no dorso carinhoso do Boi Cósmico, nos
convencemos da necessidade de estar a consciência atenta para o 7.0 Boi foi Esquecido,ele está Só6
fato psicológico descrito por Jung: "Bem no fundo do inconscier.
te de cada um de nós, estão todas as tentativas do Grande Ancião "No Dharma não há dualidade. Boi é a Natureza-Primária:
para expressar suas experiências espirituais". A conexão criativa ele o reconheceu agura. Uma armadilha não é mais necessária
coelho, uma rede torna-e inútil quando se
com o inconsciente é a abertura para a experiência de sentido na quando se apanhou um
da escória, como a lua que
vida, Muito nos ensina Kuo-an em seus comentários acerca dessa pegou um peixe. Como o ouro separado
etapa da experiência Zen expressa pela fundamental figura: "Aon atravessa as nuvens, um raio de luz irrad iante
brilha eternamente".
de quer que vá, produz uma brisa fresca enquanto profunda tran- Kuo-an
quilidade domina em seu coração". Homem e Boi se movem em
harmonia e repleto de indescrit /vel felicidade está o homem. Com
Boi ele poderia
a
cabeçaincdinada para o céu, para o Homem que serenamente Aqui nos damos conta de que
somente nesse
uma tenebrosa
contempla do alto as nuvens, tão feliz quanto ele, o Boi se volta mente écomo, após
para a música que está tocando, chegar à "casa", A liberação da nosso mais
profundo EU. o
parecendo ouvir atentamente, ale- d scinante viagem, chegar à casa do em e sozinho Sua
gremente. Após um longo e inexorável caminho onde predomina a senta tranqüilo
bOIdesapareceu e o Homem se Boi? As Figuras do
dissociação, o Homem e o Animal em si próprio são integrados desaparecimento do
prosseguindo em harmonia de volta à casa. Xd.que significa o mostram um selvagem touro preto

pascentar do Boi de Pu-Ming branco com o passar das etapas,


re-
Para além das interpretações psicológicas, tudo sintetizando,
emais ue se torna gressivamente
pelo bran
eloqüente evocarmos poema de Marvin iluminação expressa
o
Spiegelman Entando a gradual
obtenção da correspondeàà
embranquecimento

isto é, dos
Oh! Boi-Touro, eu o queamento do Boi. O gradativo
Boi preto,
amo. do selvagem
Oh! Eu conheço você. e integração progressivo en-
spontecialização representando
o
Sentar docemente sobre
Sem rédeas. seu dorso aspepectos terríveis do
inconsciente

Tanto a série
aqui
descrita como

Im-
a

rique mento da onsciênc a. simbólico


inconsciente.

Tranqüilamente
Sem rédeas,
ir para casa arte em geral inam no processo
série de Pu-Ming
com as
metamorfo
por Pi-
pOss vel não a realizada

Ou temer com ses do Tou


compa bararmos

na série de Touros artesão litó-


descrição de
um
Sem rédeas.
você e
seguir Ouro que a p a r e c e m
elucidativa a
Casso. E profund ndamente (1945):
época
grafo que trabalhava para ele nesta

108 109
"Um dia, diz Celestin, ele começa o famoso touro. Um toun
erita GO
Oeus, que(Touro) é
deu GUDuma
soberbo, bem roliço. Pensei que estava pronto, não estava, Vein das
em
etimologias da palavra que significa
um segundo estágio, um terceiro, sempre bojudo. Picasso continta
GOD em inglês. Em lugar de escandinavo, deu GOTT em alermão e
trabalhando. O touro já não é o mesmo. Vai diminuindo, dimi. "Mactare deos bove",
Se diz "Mactare bove'". A filosofia
nuindo de peso. Henri Deschamps me disse que Picasso estava ti. abreviadamen-
ciais latinos nos revela: Mactare ao estudar os
termos sacrifi
rando em vez de pôr. Ao mesmo tempo ele ia decompondo o Emerge aí a significa
dimensão oculta do rito do "enriquecer, amplificar".
E
touro, outro touro apar eceu. cada
vez sobrava menos
última prova só restavam algumas linhas. Eu olhava o artista traba
touro, Na que o sacrifício se torna benef ício. sacriffcio, o momento em
cua prisäo invernal, e fecundada Redenção da terra liberta de
Ihar. Ele suprimia, suprimia. Pensei no primeiro Touro edisse co. pelos raios do Sol da Primavera.
Mithra sacrifica Touro de sua
o
migo: é curioso, ele terminou por onde normalmente deveria própria natureza e carrega uma
começar". Mas onde está o começo e o fim? Procurando seu Touro, cornucópia sobre Os ombros de maneira aparentermente diversa das
pinturas do Zen. Em nossa
ele chega ao Touro de um único traço, passando por todos os ou- tradição ocidental é mais freqüente a
tros, cada etapa apresentando sua carga de realidade. Interrogando Solução do que o "Rei deve morrer" e
a obra de Picasso, Jung destaca o fato de, vendo-se sua Touro deve morrer. Mas no que.portanto.também
Oriente o Touro vive, ele
o
obra em base denosso ser.
nos guia e é a
ordem cronológica, perceber-se "Um crescente afastamento do ob
jeto empírico e um aumento daqueles elementos que não corres- Nesta etapa o Boi está integrado dentro do homem,
pondem mais a nenhuma experiência externa (..... "O desenvolvi- mado no Sol vermelho ou na Lua, nascendo das nuvens,transfor
diante
mento da arte moderna com sua tendëncia dele, ajoelhado. Ensina-nos Jung: "A voz interior é a voz de uma
aparentemente niilista vida mais plena e de uma consciëncia mais ampla e
de dissolução deve ser entendido como sintoma e símbolo de reno- abrangente. Por
vação do nosso tempo". isso, dentro da mitologia, o nascimento de um herói ou seu renas-
Vimos no sonho anteriormente comentado por Jung cimento simbólico costumam coincidir com o nascer do Sol;é que
que o o formar-se da perso
Touro não deveria ser morto. Torna-se essencial encontrar outro nalidade equivale a um aumento de conscièn
caminho. Descrito pela Psicanálise como "complexo de
castração", cia. Pelo mesmo motivo, a maioria dos heróis é designada por atri-

misterio so símbolo central de muitas religiðes, o sacrifício deserm- butos do Sol, e o instante em que surge sua grande personalidade é
penha, segundo Jung, papel fundamental nas transformações da chamado de iluminação".
personalidade. Esta figura nos confronta com o simbolismo pro-
fundo do animal interior. O Boi foi
nando
esquecido, ele está só. llumi-
o Boi, esquecido de si
próprio, Jung revela que "um animal
selvagem é um ser santo que preenche a vontade de Deus da manei
ra mais
perfeita". Recordo de Hélio Pellegrino quando me dizia:
"Um boié mais puro e está mais
um de nós, não Ihe
perto de Deus do que qualquer
parece? "Portanto, matar o Boi,para nós,é uma
fatal inconsciência.
Significaria matar a coisa natural dentro de
nós, a coisa que naturalmente
serve a Deus'". "Não cometa o erro
de mataro
Touro, porque
ele é a única coisa aque pode
nos: precisamos voltar às conectar
no
estad abençoado dos
leis eternas e naturais, e entäo
estarenO &. Esquecido do Boi e de Si-Mesmo
animais, e isto unirá novamente tudo que
ilusórios pereceram e idéias de de
foi san-
separado antes", Jung nos ensina as

magistralmente.
Jå no século XII Kuo-an nos adverte de que o
Todos
tidade
os sentimentos
também se extinguiram. Ele
não permanece no
estado

Simbólico. Sabemos que desde os Boi é tecido " o estágio de "Agora me


rapidamente
ao sol da tempos mais remotos se conter
D Ouum Buda', e supera Buda". Mesmo
Primavera o símbolo do sentimento de que não sou
Touro, porque o Touro TIquei do orgulhoso podem discer
senta máxima força fecundadora. Por vezes associado à repr
a
e Patriarcas
não
olhos dos quinhentos Budas centenas de pássaros fossem
idéia de divindidade propria
suprema, de grande d ivindade, a palavra sana
n Se
m a qualidade específica. envergonhar-se
agor quarto, ele não poderia
a J u n c a r de flores o seu

110
111
uede wes o
opoj aas
'wau
anb ap seW
anj®s
n
seN uauuoy op sajue Ono
wes n ee J e s anbap
znj uPujabeIde A0adsa enou euun ap ojuauijoajaqeIsa jenjuane a
anb ap 'soyjo so O9 sse 3 JINeN ojuawjoseua
eneIsa Pl 1OS
ep saue ezapueib e Jan
apod wanD 10g o auOw ejsap ojpgujaju! iod 'a ouiAP Bpod op sajouaju!
Jo o 'znj ejuawo09
,ngo op -anbie saJope! peu sop ojuauioaiedo
sooid
oizeN 9 OpnnL.
auaweojaod U e o n y 2!P 2100S apepjea
e aj0oyo o,, sou e opejsn[e auawau juajadwoo Jjaa epeuaje
o 'eeppi 0inoijo Onou wn 'jeu os|e,
e wawoy JeJuape e e ajanbep 'jewuou o6
auau OD ORonjosS! p e °0J2no ap no opoul un ap ejaJJeoe
ais]xa a 'jeioJed
wn aidues a1uaujaneJox apepiues eiap
euooue
eJed 1og onou OusaN',JOyuaS o aoseu jenb PDJN e, 6uej "H opunbes PANSIOap ajuaujenB) 9 oßs
'ogðeu!unj! B op ogðeu
Bu! 'esen apJesade Bqaojad ap zaA ue 'eos
anb eqeo1ad
-JOISUeJ1e 'eJedap as eja and uoo , ap J8S soso6IJad sopejsa,, sou
wn anb op 9 ogu sieu a PL1enbIsJ eu ',apepioba ap osuas
op
Ou ojnqpisa no u n eJed 'is wa
p og oug
eOejuouuap enoJ p!J 0OIUn ofno,, 'LuOLJd e jnpujuje1apu!ojuawjoaJedesa
Pdoud ens ap ogðe|Ju!ajuaweAISnqe
asn uuawoy o anb ap obi ua ogóeuiojsuei ewnu a1
anb ouIAIp oajpnu op as a]uowajuaisu oou
SISu oo eab wa eidelaj0oisd ep O1alqo o owoo
euiajqoJd o eIoj09 wissV 'enjsnjOxa
pes 01e ouej 'osojB|j2J PIwOuOne p ajounuai oba o anb janpsuadsipu! 9 edena
:ousaw!S OP
OBe op ogóeb!je ep soosu a sepenu '
SIew ouenp., *apepjupuuny ens ap s ueju eIougpuadap ea sojuiisu! so eOIJIJOeS onpjaipu! o e]saN 'ossaooud
'buns opueinos3 op edeja eujaujd eunN Ogonjoss!P ens e w0o
4ssod se auqos sow!1a|jaJ Jodns e -opujadwo oße op
so apod ajuaweOIJOuInb
- JIpaifsuen o punjuoo opu epue jejuauepung 3oba o ,,JeoiJIJOes,, o13)|Joes
waj od!1enbie o sIod 'owsel-ic
O
wgqwe
obe o auqos ajueuojSIJde ojaja OLupssaoeu 9 oss! 1Od ouusa W-!S 1oS o si Pu o]uao o
sobiJad sOe sojuaJe uisse sowe jea euoo
o w o ofa op ogóeoJIJuap! ep wa eAa ogu 'ooinbjsd euaisis op oJJuao ou oba o opuod 'anb
as anb ogsnjuoo Jenyqey e 9 ousaW!S Oe eun
$3 o6a o a aja auqua zej sod ep soos sO eed auanpe sou bunr 'oßa oe
eJa| e opueedwoo
ezainjeu ep
auesajai ogsnj! aquanbaij sieuu V '(*) OusaW-!S op wawoy op ojuaw!eJedesap o Jepjonja eed aneup ewn je sow
e 'ogsn|! p aoe
ogbdaoad eun euoduoo '5un e ed ogoeu!unj! -eJuoou3',epng op ezainieu e .nssod anb owsan-!S ojad oßa op
eun
opuinysuoo 'ogÓeuiojsuei] ap
ejougiosuo0 ep ogóediouewa ogóinyisqns eun,, wa apep!jeuosiad ep apepIAeJb ep onuao o op
Osen op e9p! p apuodsaijoo 'soyuos sossou wa ouusaw a soo1sju
UeO0Isap oßa op epeju!| eougiosu oo ep wabessed a engdnu eun
's191sd sopesa sou soyuesap soue1 1od souaoayuoo anb 'ejep ouoo o
opueuasajdai 1HOlVS auaweoibojoojsd ezaJdiaqu! aj13
-ueu o wIsse anb 'esio0 eUsaw ewn ogs ooi19wJay oseA O a onoujo
epng un a6ins SIenb sou 'snjoj 'sI PJPU SeJnyonua a]uawjeau '0
o anb,, as-ez||ea-02ne ejed ousaW-is op
ensuowap sou 6un^ uaujoseu ap saJebnj ogs sejepuew so,, anb fun eujsua "ousaW-iS
eysug e ouw09 eDIpng ez0unjeu ep euasaid eua]a e,, 'sepequaseid
op jeiodueu! a eossadu! opunu o uoo oße op JeJoduwa] a
g 5 seinj zg sep ewn epes jenb op oJuap onoujo op sgneNe POSsad opunu op ogiun 'sosodo sop ogiun e essaudxa ooI69|00Isd
ezi|oquis ue-ony 'sowepnsa anb seinf sep os an eN P]3|d Ous!joquwis nas wg 'odwa1 op a oÓedsa op eJoy 'ajoAua opnie
wo SiPapep!jeuos.J9d ep oued opeqeoeu! a ajuauewad ou OD anb
op 0uauIseUa),, a
ajuapuaosue] o 'oizeA o 'apepiun p sojsodo so sopoi ap oujoj
-ne
,auow,, ap ossaooJd ajsau zeoija siu Ox 3 0IS wa eiuaoua aja 'wiy wau oidjouud was euioj owoo a euajd
wn'seossad s'ieiseud ap
op sepajan se Joyjauw
apep!!qissod e eoyubIS a]uaIsuoou ogoe]saj!ueu ouenbug '|HOLVS o 'ogóeujunj| e euasaidaj "uaz
wa a pe pin6iue
80aquo '0uPpawau! oJuawOuu Wno eIJebouoo
opepeua noo!j sew ep a ojuawesuad op jei1uao ojuauuaja
'ogójaiunssau a auow eisap oja|dwo0 O E
o nossaneije Bpsap'anb ojeijsqe onoujo ass3 o011J|03|ed oe opueuowai 'sob
ogu anb wanß\e,, owoo
ajsa 'jaseuai oppuaaiduoo e sP Sop 'epianp was '9 anb ooidy1anbue On1ow jeuawepuny
e qos no a p
auawebaujos eunooid a nauow anb wanbje onpJAPu e pueW 'a6ioua anb ojoqwjs ojad epep 9 sou eisid eljauud
',,0ujwe, euseuey, wn owoo
-adsasa
Ou
a M") Ja0anbnojua was na op opueßen 'op! piada op Eun io8 o uoo ajuawioi. JaJue ejaiuooo pl ouoo je1 'uwawoy opP
1gd sou wa laoaJedesa p a]sap ouu OuaujaJedesap o nbe eo14u6Is anD 'onoujo o :a1us ep e]Piisqe
wn
asisu0o aue e, Suen eJed
3oajo sou inbe o
"oJ1810u OLupU!p anb! eo!un a eJawjud e soweiu0oua Jebnj nas w3 "waoaedes
sadwa) se wajaouaneuaz enb ep'uisse wabeia eun 3P sape oB Opn] a
seossad se SIPOO
Ope uwawoy o seuw '10g o seuade ogu euoßy o1ze^
assaoajaqesa apepajoos e, anb Jepnfe ap apepjeu1 e u o 'osej o 'a100|4oo
opei1suouwep w e uas janplasap ognb E uejenßj weouauad wawoy oa jog o
'eujaA|!S
6ue a 6uns ap sesodoid ep
seiupuojon|ona
asIN ap sy
ng 'Jop!e
auaue uaq
u
euqo e owoo
ejs1Jnng ue-ony
Ogu a SPw
ouIAp op OnJas 'euoße
'aisa opuas 'o6a
op Ousau !s ap
o1uauueuo
bLL
GLL
nas anbes 'w
'osujweo ojudoid ueIueu! anbisd ep ouaju| op sazje se a ngo oe opueboyo edoo
sossed so inbos opueuaa ogu 'o:P1Juooue uuapod oP e wo 'apepuiA!p ep ogÓe]sajIueuw ap jeo 'ogóesauabey a1ueu
eweioued nas SOIg
naoaedesap jejueu ens ap oguod
Pyuiseo O. PwJad wa eoIusO) ep!A ep 'apepjeuouj ap 'apeppunoaj ap
a opeyoaj pisa
ps siew so o u s e w esOAIpeg opepioj8 -OqwjS ,apep!jeiA ens ap a ezanbjj ens apP jeqeo eAOJd ops eju9sis
ep sogw uoo epep!o BU opuenu3 'o ens ap obuoj oe aiong ep ojoquujs o nossed enb 1od opeojiuBis ap
sebuepnu sianpuou! se,, anb aLjanpe sOu buns auaLIO ou ojuenb
auapioo ou oue] aBiawa anb jejuaiepung Onj1ouw wn 9 aionuy V
aONP ep apeplneo eu ojnaijo ouanbad o woo as-enuooua odedsa
op o19w ou ojnoijo apueib O, 0JuawIOseuo ap ossao aud wn owoo
awIdxa o Bja ajsap jeu!pnybuoj eAji9adsiad ewn 'joua1u! ogs!A
ewn Inyisuoo ajonJye anb epjonja sou Bun 'ousaN!S op 'jessan
sue 8uoo wn'10|u8]xa ogsIA eun ajuauwjee6 enuasaidau ejepuew
o ouenbua '3 'sopIun ajuaenou ogisa sojsodo so apuo 'aJONP
e 'ezauneu ep wabeu! eun:S.ew py anb weiisow sonno a ue-ony
1Inbe opuazejsap 'ois! opuazej opednoo sew wy nas weoipu! apep!je]0] e no 'ogóeujwn| e 'ojzeA O:Je
auawaua.ad pisa,, aja 'uazijee as sajsa anb JeIIna eJed sianjs eujw8] OssaoOJd o apuo !og op Jeuaosed y op seLues soweju oou3
sod sopo1gu so sopoi opueinooid 'suauoy sojad sopesneo souep sope6ou! og1sa ousaW!S a oßa apuo 'ejepuew op wje 'onouj
so Jeiedau eJed as-opuessaidy "seueuuny sezanbeJy a seunonoj se op wgje sowepod owoo :seasid eoaajosou a0aed aua6iawa o
"e1oug/ou e aqos seuuôp| eweusap aja eJoße sew elauje eied
-oqujs o essa 9 a]uoj anD eunbiy e essaudxa auioguoo 'ua6LuO e
Py siew epeu ogóeujunj I e woo seyjauen aJuaujeinieu weyo 'auo e eJed ejon uawoy o uewjabejds uueW a1alja ',au0
OJqesap seyjausan saJoj se,, ouoo a ,souusew is Jod wejajuedias eun py 'znj ep wgje "jos op wgje 'oizeA op wje eued 3,
owoo 'aiouP eun aosauo ouoo epiAja Jas esioad uaz o
soyeu so,,
ejed epin V *ezainjeu ep sopaifes so a eppa ep soL191S|I so souejd
-weuoo esed eni1oadsad
enou ewn sowJinbpe e ejjou! sou uaz o0 ue-ony
nas 'sosoueued
a
OJjepepian
soJPpunas soðeiq wa
ass.uqoosap auaweuuada ',SesI 0o sep ajuessaou
assapjad as saue anb 'o1 un as Owoo ?,
e20) apeP!jeuos.sad ep edoo e a se woo
euepnue eAJesqo a1a 'ousaw obisu0o 9S sapJan'seyueu ow se
sazjei o6e op oju oouaal
o O sInze ogs senße sy esi oo eun6je Jod Jeanj ap apep1ssa0eu py ogua
'OusawIS eJed euauo as onpiAipu! op eoib9|00IS d apep!ee
e epoj anb wa
epipaw e
anb Jod auoj ep ogóeisajueu ewn wgiod 'ogsnI! no eusequey
eN ogÓenpIAI pu! lanaisap oe zue uoA
eJge ejsow sou ouwo,, ouawIsaJo ap Oe On!
Opu aosa1ap a aosa1o assa apepiua 8s janpqnLadu! ap opejsa
-algo no oJUSQdoid oJnno sanbjenb was J0|18JUI os|ndw! wnu jejoJedw! aoauewad ojuenbua opunu ou epia ep aosaj3epP
as-1ebanua ap a a1uaue Oa aosao o e
-uajeJIno ap zede0 1es anap oba,, o edeja eisaN'auo4,, e uo0 eAJasqo a3 'ezaing eoasujnu! Jenoew eed ejaod
OWIJu! o1eJU O0 op s9NeJ1e ap ogib un ouenb oue] annoy opu ojdjouid ound o apsaa.,
gn no anno gs aja 'owsaW-!S O "Puulv
ep auo e eed as-JeljOA Oy
san nas 0 anb 'an a anno anb Ano ogu iano nas o a jan og aquoj e opueyoa '6
as-anJosqe,, 'sop)juas sop oinbeu ousaw is ap opioanbsa og
o
0d 'opeuIwnj! sojalqo sou opeuoISIJde sIeu Jejsa ogu
wawoy Inbe 'uaz o
Sesi0 Se elawje opu opunbes ogisa an
1 1sa eobe as aSson
owoo
'euednoyo ens wa opeuas '.eio!a obao
'opuns
3., einbiy ejsap eoiaoe ue-ony ap
ojad sepep es oupquauu
sou-wava
sesid seno "jeinjeu ed wabuO/auo
suoo 'opunw ogóejanau ewn a essap ezaJnjeu ep e0Jd
op ouao ou aosaio anb 'je|id no oxa nes opu!n
1anb ogbeoubs eun auela pian aioN? eisa
a opuejuesaidy "eoIwJue
auoje'owsaWS 0 'J8AIA epin ep waDIO
zej a BAIA, anb
aJOuy
9 eja "s0e
semelha-se ao lotus, símbolo
dos antigos sábios. Carregando uma cabaça, passeia pelo mercado
esce da lama, desabrochando'
budista, de pureza e
apoiado em seu bordão, volta para casa". De um lado, para Jung, límpido, acima das águas, perfeição, que
do
"assim
na sociedade, libertando, como uma grande perso nalida-
Kuo-an oda mesma forma e salvando, modificando e curan-
surgimento da
sobre o próprio indivíduo. Porpersonalidade
tiva tem ação cura-
Esta Figura que encerra a série apresenta um ancião e um ho outro lado, ao
na
individu sua personalidade e empenhar-se
exemplo exercem um efeito
mem na praça do mercado. Vemos agora um homem velho, nos
dando conta de que este pro cesso das Dez Figuras é o longo ca-
antagiante sobre que o os cercam; ele não
precisa dizer nada, sua
simples presença e o bastante.
minho de toda uma existência. O processo de transformação da
personalidade que corresponde ao surgimento do princípio Espi Parece-nos, a esta altura, que o Boi se transformou no barri-
ritual a patir do princípio natural ou biológico, detectável desde gudo ancião minado. A tocamos no ponto crucial, o cimo
da
remotas épocas da história da humanidad e, encontra aqui um alto nossa jornada, o tema do sacrifício da divindade.
Assim descreve
grau de elaboração. O aparecimento do símbolo do velho sábio re. Jung a trajetória para a integração da personalidade: "O mundo é
presenta o desabrochar do Si-Mesmo que, no Zen, é projetado no o sofrimento de Deus, e todo indivíduo que deseja chegar à pró-
mestre como ideal do ego, isto é, o encontro do ego como Si-Mes- pria totalidade, ainda que apenas aproximadamente, sabe muito
mo emerge inicialmente projetado na
relação mestre-d iscípulo. bem que ela mais não é do que carregar o peso da cruz'". Em últi
Nesta figura, o homem que encontra o iluminado ancião ma análise o próprio Si-Mesmo é o sacrificadoreo sacrificado.
parece ser
o mesmo das figuras
iniciais, indicando a estreita conexão entre 0 sacriffcio é realizado no ponto de união onde se cruzam os ca
esta e a primeira figura da série. Esta cena indica minhos, onde o ancião encontra o jovem. Para Jung a cruz é uma
que o recomeço
não tem fim, descerrando sempre novas
etapas do crescimento psí- referência à ação curativa da totalidade psicológica, isto é, do
quico. Agora o ego,como d iscípulo bem preparado, encontrou
Mestre interior, o Si-Mesmo, com o qual está em incessante o Si-Mesmo.
apren- Nosso ancião é visto com as crianças, com os homens e mu-
dizado. Mas esforços de unificação
de um relacionamento
intraps(quica são inseparáveis Iheres, ele é visto com os pássaros e os animais, entre rochedos
e

extrapsíquico e objetivo, elaborado cons- montanhas. Temos muito a aprender com o Budismo no que se
cientemente, considerado por Jung condição indispensável sem a Terere a Sua atitude para com o animal. Os animais
também pos
qual não se produz a síntese da perso a alcançar a ilumina
de individuação nalidade. Assim, o processo Suem a natureza do Buda e estão destinados
apresenta duas dimensões fundamentais e como o homem,
tem de
plementares: "por um lado, é um processo interior e com ao. Sabendo o budista que o animal, amorosamente
integração; por outro, é um processo subjetivo de OTrer neste mundo, tudo faz para tratá-lo
o mais

outro, tão indispensável quanto o objetivo de relação com o Os animais, as plantas e todas as formas de vida possuem
primeiro". Enquanto a imagem POSSIvel. dele brotam em
Ocidental do homem iluminado é dnaturezado Buda e a miser icórdia e a compaixão
distante dos outros costumeiramente a de alguem viventes. Também no Crist ianismo, segun
homens, nosso oa todos os seres
com efeito que acriação inteira
cabaça de vinho, está no mundo, naancião, levando às costas uma d
apóstolo Paulo: "Sabemos
como um homem cidade, na praça do mercado,
aparentemente comum. Comenta Kuo-an: sofre do parto até o presente ..na
conjunto as dores libertadas da
"Com o peito descoberto e e em
"todas as
criaturas serão

ele entra na descalço, perança do dia emn que participarem da


liberdade
gloriosa
praça do mercado. escravatura e corrupção para
da
Enlameado e empoeirado, como sorri dos filhos de Deus". Boi é a de
mostrando os dentes! da Farra do
Sem recorrer Um das interpretações justificadoras o Zen e aPsico
a místicos
poderes, que sse
que cultural. Mas o que
faz árvores secas florescerem de tratari uma
de tradição
ogia Analítica pode "iam nos ensinar sobre o
isso?
do
Inicialmente,o

Mergulhando nas sombras do repente"'. contribui para


reconhecimento

moder
para trabalhar pela mundo que necessar nsamento junguia muito mundo

libertação dos homens sempre


dessacralizado

da tradição nas trevas de da tradição,


Sombra e pelo mal, sem
ser ele
de sua possessäo
peia velor nosso
e
destruição
constituirum
próprio, agora, manchado por estes,
no. Para Jung. essa perda de
consciência

dias, pode
gue cresced 3 s u s t a d o r a m e n t e
em
nossos

116
117
8LL
6LL
108-oyu!zoq oguu oy
oe -ofsau! ap 'ejougpunqe ap ojoqujs 'ejdgonuioo ewn ap ojueieii as
108-0uno snag oe':o8 1saW owoo selsoo seu eeJJeo aja anb o an oeóeiaideu! esino ewn
eJed
osjndw! jejouas
souieuJo1 sou 'sQu sop01 8p
ueweuajd sjew was epeJ]se eSsa Jod ein6 ',3ajenaId ajau soisodo
anb'u!J
assou
sop o1uauIuJOs op znJo euunyuaN,,
znpuo9 sou o aue]su!
sowejuo 'J0|J8]u !og o opuaajOAuasap
op ogdezeeu ossou 0g aw!!qns a opue6eju! 'ep!A eu 'eaj Pu
sou a oueuyueduoo owoo Jpe as-eug opeujwnjj o anb eoiju6Is
wenb ap ajanbe Opoj aiIsaW 'e6Jeq a]uauj ejad einbi eu
esi0 ewn6je souepuaude s o w e i u o o u a pnujej oN
waoOid opez1|oquIs 9 0uauIAjOAuaS
sowessod anb e ogóeuoxa ewn -ap
Sowefasap anb e
-uoy
ofno'obI qun op oJjuao o'seAjjuiisu! seóuoj sep ogóeiodicou!
ouixpui oe JeAB|a opueuasaJday 'oJbew ousau
no owoo
anssod ogÓjaLuad ap seuade sew 'oUJaLu oinsa opeejjai a1uawje
'3avdINVWOHe
ep a6 01s.4) a eBjuJeq ajuaujwaoJd ewn woo
'opuo6 asenb 9 ogioue
a aued sowazej jenb e ajqos Bueuny ejougisixa
ep ui! 0oJun ossou sew "weino anb a
wau ngo uwau ? ogu eie| weoóuaqe anb sesoAL pep wanssod
e S e wan apep!jeui! ens e sogw
euw!yp apep!euIg soqwy ojs!J) OP jeuapjoO OgSIA essou woo opeujwn| op
o apepuewns ep o anb o|!nby,, :ayI uaz
osonuIn a oiqPS wauoy euauo ogódaou0o e aijua OgóeJeduwoo eun nbe soweos|1Jy
anb onbe 'Jenb ens ap apnyuajd
0
Pu.Sua sou uiSsy *apep!ueuuny
opwaje oyosQ|1 o eJPd
01ayje waq oe a waq ossoA O awiojuoo JoJ anb ou 'janpoze
ossa00Jd assa opoj ap ejau e 'uauwoy sapa0eyuooai a sapiejuauIjadxa SOusaw son anb ou apaio 'aw
ep ogoezjea e g eun 9 sajuaAIA saJas so sop -exa spdV 'sa1opiaOeS a saiisaw sossOn e
Sepng so sopoj e epuajajo apueib ap apepozne eoun ajqos
e epuajajo apuejb euun 9 ogóeujun||
epeu wa siejajo O9N °noiIdsu! sOn
-01 JeAjPS Sepng so sopoj
ow
snag wn anb opuesuad
'sieu
e Jeoueoje ap olasap o awaw eu JeuadsapP Jexjaa, :0O11910s3 -6eu! enb ou siejai ogu opessed op soIqes sop 9j e auqos si PjaJ
S!png op eLJopeqps eu apepian ep oyujwe0 op ennS
op soy8I] opu ejau waguo sounu anbiod os esioo eunu siejao ogu 'sajefnj
sO Soweoona Sesioo |w zap,, seu aja|jai as owoo jej 'ejouaIOsu oo sonu wa a sagóesab seynu ap saneJJe 'seiueuoy a soJIW snEs
ep janjssod ojajduwo sIew ojuaujpanbiJua o wis sew 'opunu op welas anb
Janbsjenb 'sagipe1 sep 9j eu sjejajo ogN, :euns-ewejey
0uaweiseje o 9 ogu eoispq eibau e anb sowaqaojad apuo 'oße op o'Ouud ousI png op o]xa1 wn e sowajaucoa 'ogisanb eisa
ogdewogsuen e a ouauwosa1o o esn enb ogóeuubaiad eisa N sOuez|euiy eJed 'sagðuaNU OO Sep waiei as a wajaq!| ua
aueis!p S.eu ojaw op 'sez OuPuo oe 'seuu 'sagóuaAuoo S auawjeuoOIpu oU! as-waajau
an Sp'a ouuxoud siew ojaw nas ap sojesuas 81uawjenb! sonpjP gns we ni1sISuoo sieue! seouo1s|s sapepjeuos.ad sep ezapue6 e,
u!SOJnoejouaniJu! ap apep!|!qssod ep wagdsp sjenb so seejnß bun z "sopoigu a sagáojnuoo sjaj 'saouai seuojouaNuO sop
uIS SonpiNpu! sop ogóewJojsuen e 9 aoueoje ossou oe pisa anb o 89-0puefedesap oyujueo oudgud nas ayjoosa wn epeo e oupssaceu
eInepo
sOu anb
6un 9 '3 Jod Jepidej ejauew ap epejnuiOJ 9 ejni!1s0 3epioadioue a eo!inqe ogp!jnu ep ojueun op orpoje ap Jeôn wa
eOu eJadsa y 'sagóeu seu a sodniß6 sou 'onpjpu! u Jez epjnujuip apep!!qesuodsa ap ogóipuoo e,, () onpjypu! o
1Pe apod ooinbjsd ouawipaunpewe o 9s anb o Jazei] eied ajua 1znp uejua) anb seso 61 sagðinyisu! seynu ap oo0njnbe o en
-odu! awawenejau ogzei e opuas $Ou aja 'ojduaxa oudgud o woo 'jenpinipu! ogðeAjes eu aisisuoo
'apepiuewny ep (enyuidsa ogo
-euwogsueJ) e janjida0 Jadu! a euaj a anb opun op ogdeajes e, anb a aueuodu! 01ey ooun o ., onpJapu!
un
0114 OpIuas
sowaqes opeAaja seu
ap ouawIAjOAuasap O
-ad wa 'apuaaJd
apnyje essou seu
ojad Jeyjeqei1 'ojuod ouano anb opueapisuo0',soIqps sobIJuesop sossed so Jinßas opueua
'ousiuejis1u) ojad a uaz Oju gu 'oyuweo oudoud nes anb6es,, 'openpIApu! oße o'..opeujun!,,
sopibue ejouaiosuo0 ep a sas o Opioue ossoN *a0a1a10 sou ep!puaaiduoo weq ogoipei e anb
anbes oppod soweyua) anb op sopejsa sopenaja saisa Jejquunio
e opN 'apepjeuosad ep Seypqu/s sejouanA saJeInjes se woo epejedu0 s apod seue
e1Idoud ejed as ogóenpiAPu
-ny ep ogonjOna eu
eoyLJOes 'ouusan-!s o 'sou wa
snag apep!ue SOA!inuJsap opi ez!|!qou anb eiaj0o eo1pid eun sOn
so9|oFu
JeJoqejoo eJed eoiuOeS as 9ou soJDadse snas so 'aAssod ouIxpu o 'opueuuiojsuej a ejo
opeinuo auawjenuq 9 snag o
ap epezijeai ses 108 01s1u) opuenb 'ogxIej ep eja'opeuISSESSE
e9 eea es upisuoo poopue6aju! 'OaIna op!jpa 'uoq ap inssod odiianbie
0p eie e ep
o1ej o anb op opdezi |eeJ e u a d , , ajuaweisn! 9 eoiingdea) ejaw e anb
zNJo e OnJPO!J{ubIS
nobe.Jeo snsas owoo
o
01nuu 3 es
Ounoj eNebeueo anb sew
'sejsoo sens auqos jeio! zn eun .ogo1pei) eudoud ep jejouassa a uoq anb oe seuade,
ep opeuod owoo wpqwey 'sezanbju ap dS-81e O Oupssaoau 9 anb apauanpe sou aja 'opej aJjno 1od'.eA
woo
ejeyo
| 0 eJaiSIy e eJed wejedaid se a sessew se wez/10nau ogoIpeii
Opu
sowJeJedwooopeuasadau '|equapioo apepin6iJuY ejdgonu
janjssodu apepioja4 a eunuoj ep 'eju ewoo enjdnu e a ojuawezieluasap o,, sjod 'aupqjeq ap ojBAJau!
1
BIBLIOGRAFIA
Vaca a gratidão e reverência, compaixãoe dor solidária pela tua
desapiedada imolação, sofrendo com a dignidade de Jesus, crucifi. GONÇALVES, Ricardo
Cultrix, São Paulo.
M. Textos Budistas e Zen Budistas. Ed.
cado pela incompreensão dos homens; Deus, escutai a nossa pre
ce, que Vós possais, no decorrer do tempo que nos deter minais,
redimir as lágrimase os gemidos dos inocentes; por eles Vos pedi. HESSE, Hermann. O Lobo da
Estepe. Ed. Civilização Brasileira,
mos! Amém! RJ, 1968.

"Uma vez mais somos um, ó boi, HILLMAN, James. The Dreams and the Underworld. Perennial
uma vez mais de dois estamos unidos. Library, Harper and Row Publishers, New York.
Nenhuma corrente, nenhum açone,
nenhum julgamento deve-nos separar agora, JUNG, C.G. The Practice of Psychotherapy. Collected Works,
pois iremos juntos cheirando o vento. Volume 16, Bollingen Series XX, 1966.
Eu ouço o barulho de sua pata,
você ouve a melodia de minha flauta. The Archtypes and the Collective Unconscious.
para voce que eu toco, ó boi do meu ser, Collected Works, Volume 9.1, Bollingen Series XX, 1968.
é para você que eu canto minhas canções.
Nada mais precisa ser dito". .Freud and Psychoanalysis. Collected Works, Volu
me 4, Bollingen Series XX.

Arte Ciência. Obras Completas,


OEspirito na e na

NOTAS Volume XV, Ed. Vozes, Petrópolis, 1985.


Ocidental e Oriental. Obras
1
Para compreendermossãomelhor esta correlação, remetemo-nos a Jung, em Aion: "Sím- Psicologia da Religião
muito freqüentes nos sonhos e em outras manifestações do Ed. Vozes, Petrópolis, 1985.
bolos teriomórficos
inconsciente. E les expressam o estágio em que se acham os conteúdos designados por Completas, Volume XI,
eles,ou seja, um estado de inconsciéncia, tão distante da consciência humana quanto Oriental. Obras
Ocidental e
a psique,do animal. A este respeito, os vertebrados de sangue quente ou de sangue
frioe mesmo os invertebrados das mais diversas espécies revelam, por assim dizer, gra- Psicologia da Religião 1980.
Volume XI, Ed. Vozes, Petrópolis,
dacoes de estado de inconsciência." A relevância deste conhecimento para a Psicopa Completas,
tologiaé inestimável. pois estes diversos níveis psíquicos podem produzir sintomas
funcionais, nos permitindo, assim, situá-los adequadamente. Obras Com
da Personalidade.
Desenvolvimento
. O 1981.
Ed. Vozes, Petrópolis,
2 pletas, Volume XVII,
Aexpressão generalizada "terapéutica ocupacional" não faz jus às descobertas de
Nise da Silveira,no åmbito da Psiquiatria. Eia enfatiza e estabelece, de maneira cabal, Ed. Nova Fronteira,
Reflexöes.
a eficdcia das atividades expressivas como recurso fundamental da terapia das psico Memórias, Sonhos,
ses. Fiel a sua revolucionária
postura de dar voz e vez ao "doente", Nise adota a ter
minologia de um dos pacientes da Casa das Palmeiras, que nomeia a abordagem nise RJ, 1961.
na da terapéujtica
ocupacional de "Emoção de Lidar". Zurich, Novem-
Analysis,
Volume 1,
C. G. Dream
.

3a Edição, 1958.
ber 1928, June 1929,
Fron-
Simbolos. Ed. Nova
Homem e seus
et alli. O
teira, RJ. Ed.
Correspondência
Completa, lImago
FREUD, S.
JUNG, C. Ge
RJ, 1976.
121
120
LAING, R. D. A Política da Experiência ea Ave-do-Paraíso. Ed.
Vozes, Petrópolis, 1974.

MC GUIRE, William e HULL, R.F.C. C.G. JUNG: Entrevistas e


Encontros, Ed. Cultrix, S. Paulo.
Os Cavalos de Octávio Ignácio. Publicações da Sociedade de Ami.
Inconsciente.
g0s do Museu de Imagens do
POSFACIOo
SPIEGELMAN, I. Marvin e MIYUKI, Mokusen. Buddhism and
Jungian Psychology. Falcon Press, Phoenix, Arizona, USA,
1987.
SUZUKI, D.T. A Doutrina Zen da Não-Mente. Ed. Pensamento,
São Paulo, 1969.
Do ponto de vista científico, impunha se a nós, pesquisado
Awakening of a New Consciousness in Zen. Papers res, sobrepujando quaisquer sentimentos, presenciar tão insólito,
from the Eranos year books, 1954, Bollingen Series XXX-5, perigoso e brutal espetáculo. Nada substitui a observação direta,
em se tratando de um acontecimento dessa natureza, por penoso
Pantheon Books.
esclarecer a polêmica sobre a
que seja vë-lo. Fazia-se necessário
existência ou no de violência contra o animal e, ademais, era

sentir ambiente, as pessoas envolvidas, a cidade. Assim,


preciso o
Catarina na Semana
coube a mim tal tarefa: dirigi-me para Santa
mais exacerbada, indo
Santa, época em que a "brincadeira" é
de Governador Celso Ramos,
especificamente para o município
MTADOURU MDDEL da "farra", talvez o mais violento.
um dos focos
MCMXXVI Canto dos
Formado basicamente de três pequenos vilarejos,
Ganchos de Fora, Celso Ramos fica
Ganchos, Ganchos do Meio e
ficam
Essas três vilas de pescadores

A
a 45 Km de Florianópolis.
mar e as
montanhas. Da praça cen-
entre o
Como que incrustadas descortina é magnífica:
Ganchos do Meio, a visão que se
tral em de embarca-
de um lado, o grande mar verde, infinito, apinhado
lamber as
em ondas, como que humilde,
pequenas
morros verdes, pontuados
vem
Coes, de outro lado,
Drancas areias da praia; idílico, nada
as mais
diversas. E um cenário
aqui e ali por árvores
cometem.
atrocidades que aí se
as principalmente
proprio para
hotéis e os visitantes,
Essas vilas não têm desconfiança e até
mesmo

são olhados com é


nessa época do ano, carro prôprio
quem não
tem
hostilidade. O acesso para uma hora e qua-
com horários escassos que
levam
Teito por ònibus com
para cobrir todoo trajeto Floria
menos,
enta minutos, mais ou
nópolis- Celso Ramos. Ganchos do
desembarcar em
ao
Minha primeira
impressão

122 123
Meio, na Sexta-Feira Santa, foi a de que uma grande festa Zweig, AM AMOK. Amok é uma
espécie de embriagués entre
aconte. laios, que dei
cia. Um tipo de festa como a da independncia
das cidades do in ndivíduos, habitualmente os ma
terior do Brasil, ou, quiçá, uma festa de padroeiros. Só
faltavam olentos e
inários:eles saem pelas calmos, fora de si,
bandeirolas nas ruas, mas o clima era o da festa-mor de uma co. puni nal pessoas ou anim ruas,matando
defrontam. ..."Ecom
que se Ihe um
munidade. Eram nove e meia da manh, toda a vila estava
alvoro ambriaguês.. .é
que embr a
loucura, uma mais do
espécie de raiva humana,
çada. As ruas estavam tomadas por grupos de homens, de bermu ndo...uma crise de monomania
almente falano lite
das, sandálias, sem camisa e as varandas das casas dos
sobrados. cata, à qual nenhuma intoxicação pode sangüinária e insen
lotadas, com maior número de mulheres e crianças. Os bares
reple de Stefan Zweig). S6 que aqui, no caso comparar-se..." In AMOK,
tos. Um constante vaivém nas ruas de meninos e
adolescentes. Nos ão inteira acometida dessa espécie de da "farra'", é uma popula
rostos, euforia, excitação, jübilo0, expressäo que mudava à
vista de animal, contra o qual està dirigidaembriagues, cuja causa era
estranhos. a
agressividade,ou contra
qLLem se interponha entre ele e o povo. Uma
Mesmo despojado de embrulhos, bolsas e
sacolas, não deixei nazismo, enquanto fenomeno de massa, em que comparação com o
de ser alvo das desconfianças e das carrancas as pessoas estão
dos farristas. No dia como que hipnotizadas, não será descabida.
anterior, em Canto dos Ganchos, tinha sido ameaçado direta No centro da praça principal, abre-se a
indiretamente, porque, portando uma bolsa a
e
jaula e,para gáudio
tiracolo,fui tomado dos farristas, o animal, jå enfurecido, sai pinoteando e bufanfo.
por jornalista. Além de indiretas sobre o que faziam com jornalis- Cem, duzentas, trezentas pessoas saem gritando, algumas agitando
tas, um dos farristas
me
acercou-se de mime "amistosamente avisou-
de que, se eu tivesse uma as próprias camisas à guisa de toureiros; outros, com galhos de
"máquina fotográfica", no a expu- árvores, irritam o corpo do animal; outros, ainda, aproveitando a
sesse, pois correria um grande perigo. Continuou falando proteção das árvores, aproximam-se dele eoespicaçam no focinho,
repórteres játinham sido expulsos naquele mesmo dia. que dois
direto: eu não era bem-vindo, o Enfim, foi deixando-o furioso. O boi, atordoado com a gritaria e o grande
que estava patente na cara-de-pou- número de pessoas, torna-se impotente com o excesso de estímu
cos-amigos das pessoas, algo que eu há havia notado.
Dessa vez, como ia dizendo, mesmo los a que é submetido. Ora investe contra quem se aproxima mais,
"sem
mento", usando camisa polo e top-sider, não lenço nem docu- ora escoicea quem Ihe bate nas ancas ou quem Ihe puxa a cauda.
"maus olhares" dos habitantes consegui evitar os Na maioria das vezes, procura escapatória. Corre para a montanha
locais. Talvez
figura ou por outra razão qualquer que eu pela sisudez da minha
não seberia explicar.
Ou se embrenha no mato, ou, ainda, entra no mar quando não en
Esse fato deixou-me afastado Contra esses caminhos. Poucas vezes, porém, tem sucesso ao tentar
através de entrevistas, traçar o deles, frustrandc um prévio planode, a fuga. Seus perseguidores são teimosose inclementes. Aliás, é ao
perfil psicológico do farrista. ou aciden-
De
repente, o burburinho das ruas é substituído Tugir que sofre as maiores violências, direta, indireta
go clamor, uma correria, um estado em por um lon talmente.
sas de que as pessoas estão pre- lanhado e sangrando nas
grande excitação. E o boi que Presenciei um boi com escoriações,
Dir-se-ia que o maná descia chega. Diffcil de descrever. tinha sido farreado toda a
dos céus para
pessoas famintas no rgas e no pescoço, que, falavam, às 11 horas do dia seguinte.
deserto,
a cidade
ou que as tropas aliadas haviam
furado o bloqueio e noite da quinta-feira, tentar afogar-se puxando-o por uma corda
ocupada pelo inimigo, tal e euforia com salvo STarristas não o deixaram morrer, outro boi,
recebido. que o boi foi a seus chifres. Era preciso
continuar a farra. Um
A cidade inteira acorreu em adda perseguidores, em desabalada
encontro do gritando pelas ruas, ao
peso, d montanha, acossado por seus morta.
pick-up onde o boi era numa queda espetacular,
Iheres, jovens, adultos, trazido, enjaulado. Eram mu- orrida, caiu barranco 'abaixo,
vem mesmo assim deixaram-no em paz.
sado, todos na mesma crianças, bêbados, gente com o braço sendo deixados de lado, pelo
nada direção, com o humor exaltado. Parecia ge DOiS sangrando,
exaustos,
por outro,
diz
mais importava. Sobre o pequeno caminhão
que Surgimento de out bois. "O boi
amansa,
troca
impressão de que
vam
diversas
pessoas que se já encarapid
se tive anítida
com encarregavam de atormentar o Dol, rrista. Em Canto dos Ganchos, farristas
a
encerrassem

gritos e pancadas nas contribuiu para que


os
traves de madeira a minha foi colocado
estava preso.
Lembrei-me, ao presenciar isso, do cubículo em gue
farra
presençi extenuado. Esse
velmente
boi
da novela de
Steia com um boi já ser trocado
por outro.
"levado para
OVO no caminhão e
124
125
Fxcepcionalmente, este ano toi pródigo no número
de bois
para a farra, comentou um farrista. Talvez esse fato tenha evitado
bois Poema de Torquato Neto
maiores crueldades contra os
animais, pois, quando é ano.
boi para farrear durante toda a Semana Santa, como penas um Leve um homem e um boi
da Conceição, segundo acontece em
Lagoa
também estudando
uma
a Farra, O boi
socióloga
e
de
Florianópolis, ao matadouro
exigido da maneira o que berrar mais
ignóbil, até as últimas forças. mais
na hora do perigo é o homem
A Farra do Boi um espetáculo contundente e
é
pela mobiliza nem que seja o boi.
cão dos estratos mais profundos do inconsciente,
como já o mos.
tramos no capítuloVI, é tambem um espetáculo contagiante,
iovem estudante de Antropologia envolveu-se a tal ponto
Um
que pro.
vocou um ácido comentârio de sua amiga socióloga:
tornou um verdadeiro farrista", o que ele admitiu "Voce se
alegremente,
Ninguém fica indiferente ao acontecimento. Eu mesmo näo
fui um espectador frio. Estava emocionado, num
e
misto de revolta
indignação com tudo aquilo que ali Ocorria. Apesar de manter
certa distância do centro dos acontecimentos,
acontecia, às vezes,
do boi vir na direção em que eu estava, e ai havia
que tomar cuida
do com ele e cuidado para não ser
pisoteado pelos farristas.
Se Violência é ação brutal contra gente ou
animal,
afirmar, sem sombra de dúvida, que a Farra do Boi é umpodemos
culo extremamente violento. espetá
Não vi a farra nos
menos em Celso
mangueirões.
Eles foram preteridos, pelo
Ramos, onde não havia policiamento, pela forma
como os farristas mais se
Não
comprazem: o boi solto nas ruas.
poderia encerrar este depoimento sem dizer do meu
ceticismo acerca da extinção dessa
repressão policial pouco adiantou prática.
No ano passado a
"Nós fizemos a polícia de (Comentário dos farristas
palhaço. Eles estavam num lugar, nos
soltavamos o boi noutro.. .). Este ano, medida cautelar impetrada
por algumas associações protetoras dos animais do Rio de
Janeiro
nao foi acatada pelo Secretário de Segurança Pública, Dr. Rivaldo
Macari. Sem um trabalho sério
tudo será em vão. de conscientização junto às crianças,

AS pessoas das aldeias sabem que nenhuma força no


Pue aeter esse que se tornou presa desta mun
crise de loucurd sa
guinaria,e quando elas o
podem, a sinistra advertència:vêem vir, vociferam, o mais forte
"Amok, Amok''; e todos fogem
In: AMOK, de Stefan Zweig)

Rio, 27 de Março de 1989.


Agilberto Calaça

126 127
Estudos C. G.
O Grupo de
revista Qua
responsável pela
Jung é que vem divu
térnio, publicação Psicologia de
trabalhos em
gando ensejou a edi-
e que
linha junguiana partir de
a
presente livro,
ção do prática e teóri
minuciosa pesquisa, BOI/TOU
arquétipo do
sobre o
ca,
Formado por
psicólogos, ps
RO. se
o grup0
sociólog0s,
quiatras e coordenação
da Dra.
a
reúne, sob promovenda
debates,

Nise da Silveira outras


ativida-
e
projeções
de vídeos mente às
especial
interessa m
des que estão indife
ainda não
pessoas
que descaminhos

caminhose

aos
rentes
da própria existëncia.
O teólogo cristão Tertuliano (160-220) diz: "... o Cristo foi
denominado o touro por causa de duas realidades: ele é, de uma
duro (ferus) como um Juiz, e, de outra parte, manso (man.
parte,
suetus) como um Salvador. Seus cornos são a extremidade da
cruz.

Capftulo VI

O Boi simbólico, mítico, arquetípico. O Boi através dos tem


pos e da alma humana, como formidável marco onde se confron
tam consciente e inconsciente.
O Boi no Egito, o Touro de Mithra, o Boi no Zen Budismo.0
Boi no folcdore brasileiro. E o Boi em Sta. Catarina, vítima da
Farra, prática que evidencia a ação sempre perigosa do lado obs
curo da psique coletiva. O Boi expiatório... Alvo de uma insani-
dade pública que rebaixa o homem de sua condição de "animal
simbólico.
A FARRA DO BOI, mais do que uma brilhante coletânea de
trabalhos do Grupo de Estudos C. G. Jung, é um grito de alerta
aqueles que passivamente aceitam a tortura em pele alheia, pele de
animal que não pode lutar por seus direitos, pele de Boi.

NUMEN Editora/ Espaço Cultural

Você também pode gostar