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pensamento de Nise da Silveira
A experiência e
expostos nos livros que ela escreveu e publicou. O pri-
meiro desses livros, intitulado Terapêutica Ocupacional,
teoria e prätica, é na verdade o extrato do relatório pu-
blicado no 12 volume da Revista Brasileira de Saúde
Mental, em 1966, sob o título 20 Anos de Terapêutica
Ocupacional (1946-1966). Nele, faz o estudo cientifico
dos princiípios e fundamentos da Terapêutica Ocupacio-
nal, suas técnicas e teorias, ao mesmo tempo que conta a
experiência realizada no Centro Psiquiátrico Nacional ao
longo daqueles anos.
A obra mais
difundida de Nise da Silveira é Jung, vida
e
obra, cuja primeira ediço data de 1968
encontra
e que já se
em 10 edição. Embora a autora advirta, no
prefácio, que não teve a
resumo da
pretensão de apresentar ali um
obra de C. G.
Jung mas apenas traçar um
itinerário de estudo, o livro
resulta uma admirável síntese
da
psicologia junguiana. Se naturalmente não
aprofunda as complexas esgota nem
mento de questões implícitas no pensa-
Jung, oferece um caminho acessível à
dagem e compreensão. sua abor-
55
desenvoBvimento
Imagens do principno de Hornus rege todo o
segundo livro-
Em 1981, publica um
"O
Inconsciente-em que, por assim dizer, faz o balanço de tão forte, na sua fracqueza, que
psicológico do hormem e é
tudo o que experimentou, estudou e
pensOu acerca da
se mantém vivo mesmo dentro do tumuito da psicue
esquizofrenia, seus diferentes estados e manifestações.
cindida, por mais grave que seja sua dissociação.
com o propósito de "penetrar, pouco que fosse, o mundo
"Esta afirmação resume toda a minha experiëncia no
interno do esquizofrênico".
hospital psiquiátrico."
Afirma que os ateliês de pintura e modelagem foram a
O livro seguinte escrito por Nise da Silveira O
escola que diariamente freqüentava, onde os
problemas Mundo das Imagens- foi publicado em 1992, pela edi
surgidos conduziam a estudos apaixonantes e muitas ve-
tora Ática. Ele começa com uma critica do modelo médi
zes a obrigavam a buscar ajuda fora do campo da
psiquia- co tradicional, de base cartesiana, que busca causas orga
tria, na arte, nos mitos, religiões e literatura, "onde sem-
pre encontraram formas de expressão as mais profundas nicas para as doenças mentais, em lugar de causas
normais.
Finalmente, ela estuda as relações das imagens com os
rituais (imagem e ação) e os diversos simbolismos que se
manifestam, por exemplo, na imagem do gato, da cruz,
bem como as metamorfoses e transformações por que
passam as imagens na experiència psíquica.
Num de seus últimos livros Cartas a Spinoza
Nise não trata diretamente de questões psiquiátricas mas
busca conciliar a visão de Spinoza com a de Jung, ou seja,
busca a unidade de seu próprio pensamento. Mas isso
não ocorre sem que ela ponha à mostra as divergências
filósofo que tanto respeita, particularmente no que Nasce em Maceió, em 1906, Nise da
com o Silveira.
se refere ao amor aos animais. Spinoza considera que os Forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em
homens têm o direito de imolar os animais, desde que 1926.
isso se torne necessário. Nesse particular, ele a decepcio- Obtém aprovação no concurso para médico
na; em compensação, noutros pontos desperta-lhe a ad-
tra da antiga Assistência psiquia-
1933.
a
Psicopatas e Profilaxia em
miração, como ao se antecipar à psicanálise, afirmando Presa como
que "os homensignoram as causas de seus apetites" e
de 1936
comunista, é afastada do serviço
Freud, reconhece a autonomia
contrário de 1944, por motivos
a
público,
quando, ao
Funda, em 1946, a políticos.
do imaginário com respeito à sua tradução em linguagem no Seção Terapêutica
de
antigo Centro Ocupacional
racional. Mas não só nesses casos. De fato, o próprio
Em 1952 Psiquátrico Nacional.
reúne o
gene pintura e moldagem damaterial produzido
firmeza e
exemplo ético de Spinoza, sua coerência, nos ateliès de
rosidade, ela os exalta com entusiasmo, e mostra-se do Inconsciente. STOR e cria o
Museu de
pressionada com o fato de que ele não
estabeleça limites
sera
Em 1956, com
Imagens
a
Cntre a vida e a nmorte: "O que importa na sua visão funda a Casa das colaboração de colegas e
a amplitude da eternidade conquistada
e com ela o goz0
Em Palmeiras
1957/58 realiza amigos,
da heatitude", escreve Nise. Zurique, com bolsa do estudos no Instituto C. G.
Conselho Nacional de Jung, de
Participa, em 1957, do
Psiquiatria, reunido II
Congresso Pesquisa.
rience dart
em
Zurique,
spontané chez com Internacional
o
trabalho de
service de des
schtizophrênes Epe-
com o therapeutique occupationelle
dr. Pierre Le darns u
Gallais). (emn colaboração
9
Em 1960, membro fundador da Societé
nternacional
de Psychopatologie de l'Expression, com sede em Paris.
Em 1961/62, estudos no Instituto C. G. Jung, de Zuri-
que.
Em 1964, pesquisas referentes às imagens do incons-
ciente, no Instituto C. G. Jung.
Em 1965, promove a publicação da revista Quaterno,
editada pela Grupo de Estudos C. G. Jung.
Em 1968, funda o Grupo de Estudos do Museu de
Imagens do Inconsciente, que realiza cursos, simpósios e
conferências.
Em janeiro de 1969, funda o Grupo de Estudos C. G.
Jung, que já se vinha reunindo informalmente desde
1954.
Em 14 de julho de 1975, aposenta-se, deixando assim
suas funções na Divisão Nacional de Saúde Mental, do
Ministério da Saúde.
Em junho/julho de 1975 organiza as comemorações
Museu de Arte Moderna
do centenário de C. G. Jung no
do
do Rio de Janeiro, com exposição de pinturas
acervo
de um audiovi
do MIl, ciclo de conferências e produção
colaboração
sual sobre a obra de Jung. Profere então,
em
60 61
CERiTos
(Arquivo Museu de Imagens do Inconsclente)
Fernando Diniz
S t l v e i r a )
da
Nise
a r q u i o
foo 63
Carlos Pertuis e o cào
Foto arquivo Nise dea
Sertanejo
Stlveira)
65
Bule e futas de Raphael Domingues
67
66
Publicações
"Considerações teóricas
e prática sobre ocupação terapêutica".
Revista Medictna e Cirurgia, n.194, 1952.
"L'Expérience d'art spontané
chez les schizofrènes dans un service
de terapeutique occupationelle" (em colaboração com o dr.
Pierre Le Gallais). Revista Brasileira de Saide Mental, vol. III,
dezembro de 1957.
"C.G. Jung e a psiquiatria". Revista Brasileira de Saúde Mental,
vol.VII, 1962-63.
"20 anos de terapêutica ocupacional em Engenho de Dentro (1946-
1966)". Reyista Brasileira de Satide Mental, vol. XII, 1966.
Jung, vida e obra. José Álvaro Editor, 1968.
"Perspectiva da psicologia de C.G.Jung". Revista TempoBrastleiro,
n.21/22, 1970.
Terapêutica ocupacional- teoria e prática. Edição Casa das Pal
meiras, 1979.
"O Museu de
Imagens do Inconsciente", in Museu de Imagens do
Inconsciente, Funarte, 1980.
A
emoção de lidar, coordenação e prefácio de uma experiência em
psiquiatria na Casa das Palmeiras. Editora Alhambra, 1986.
lmagens do Inconsciente, Editora Alhambra, 1987.
Os inumnerávets
(Folo Lwcia Helena Zaremba, arquivo Nise da Sivetra) estados doo s e r - prefácio para o catálogo
exposição do MII no Paço Imperial, 1987.
da
A Jarra do boi, Editora Numen, 1989.
Artaud, a
nostalgia do mas. Editora Numen, 1989
69
68
Cartas a
Spinoza, Editora Numen, 1990.
2 cdigao, 1995. Edlitor.a
FranctscO Alves
Omundo das imnagens. Editora
Atica, 1992.
Imagensof the unconscius trom
siçao homônima em Brazil, in Catálogo
Frankfurt, 1994. para expo-
Tres textos de
Nise da Silveira
estados do ser
inumeráveis
Os
tornavam visiveis.
Decerto aquelas imagens revelavam perigosOs CSTil0s
lo ser, que não se deixavam apreender dentro do modelo
73
rol de fenômenos mais ou menos antes preferia
ou
abre para
O mundo intrapsiqui-
çar o
âmago do ser. Ao
contrário, Artrud conhece
para alcan- conhecidos.
Esta porta se
A saida de
rico de signiticaçoes.
Cxperiencia própria essas vivencias e
por co,
mundo intenso e
diticil devido à não aceita-
las com uma
claridade incrível, consegue exprimi- volta será difícil
e tanto mais
in
Catálogo da
Os
inumeráveis estados doexposição
ser, 1987.
77
Naturalmente seriam necessarioS tamilia La Fayette Cortes
dos quais eu não recursos largr praito, a
inCia
pelo projeto. nao
mostraram interesse MEC. gracas i
n39, Tijuca,
cedida pela CADEME
ocaSiao o
Mas aconteceu Adriana Coutinho, jue na Ocupava
que no inicio do tiva da Sra
quiatra Maria Stela ano de
1956, Diretora Administrativa A ajuisiç.io dessa
de
Braga, recente
colaboradora da Seção
a
psi- cargode nossa
decdida atuaçio da Presi-
Terapêutica Ocupacional que estava casa completou-Se devido a
conno
legitimo metodo te.apëu
79
subalterna, se-
tIco e não apenas uma prática auxiliar e
madores que o
gundo acontece habitualmente.
aproximem cada vez mais do nivel cons
ciente.
este método ampliava- A tarefa
Agora, na Casa das Palmeiras, principal da equipe técnica da Casa das Pal-
a esta institui- meiras será permanecer atenta 2o
se e adquiria novas conotações
adequadas
desdobramento fugi
ao tratamento e à reabilitação de egressos dio dos processos
psíquicos que acontecem
ção destinada interno do cliente através de
no
mundo
estabelecimentos psiquiátricos. Representava a Casa inumeráveis mcodalidades de
de
intermediário entre a rotina do sistema hospi- expressão. E não menos atento às pontes
que ele lança
um degrau
vida na sociedade e na famí- em direção mundo externo, a fim de dar a estas
ao
talar, desindividualizada, e a pontes
onde apoio no momento oportuno.
lia, com seus inevitáveis e múltiplos problemas, a
dificuldades.
Convivendo com o cliente durante várias horas
egresso não se faz sem po
aceitação do dia, vendo-o exprimir-se verbal ou não-verbalmente
de significação em
Rótulos diagnósticos são, para nós, ocasioes diferentes, seja no exercício de
costumamos fazer esforços para estabelecê- viduais ou de grupo, a equipe logo
atividades indi
menor, e não chegará a um conhe-
los de acordo com classificações clássicas. N o pensa- cimento bastante profundo de seu cliente. E a
mas e m função de indiví-
ção que nasce entre eles, tão importante no
aproxima-
mos em termos
de doenças, tratamento, é
no caminho
de volta à realidade muito mais genuína que a habitual
duos que tropeçam relação de consultório
entre médico cliente. A
cotidiana.
e
experiência demonstra que a
olho e volta à realidade
Nesse sentido visamos
coordenar i n t i m a m e n t e depende em primeiro lugar de relacio-
namento confiante com
e psique, primeiro alguém, relacionamento que se
pensamento, corpo
mão, sentimento e deverá vir estenderá aos poucos a contatos com outras
a realização
do todo específico que com o ambiente. O
pessoas e
passo para Na busca ambiente que reina na casa é, por
indivíduo sadio. si
de cada
a ser a personalidade ativida-
apelo às
proprio, assim pensamos, um importante
coordenação,
fazemos
tico. agente terapêu-
de conseguir esta existente
mais ou
criadora
envolvam a função A Casa das Palmeiras é
des que
dentro de todo
indivíduo.
onde não
um
pequeno território livre,
m e n o s adormecida,
excelência
das apro- há pressões geradoras de angústia, nem exi-
gencias
é o
catalisador por
sensaçoes, superiores às possibilidades de resposta de
A criatividade
seus
ximações de opostos.
Por seu
intermédio,
reconhecerem-se frequentadores.
são levados a
Nunca procurou a
emoções,
pensamentos,
e
mesmo
tumultos
internos ad pobreza e a liberdade. coleira de convênios. Optou pela
associarem-se,
a As
entre si, relações interpessoais
anea entre uns e outros. formam-se
quirem forma. que
nossod
de maneira es
está claro,
pretensão, (o que logos, Distinguir médicos, pSico
grata Amonitores, estagiários, clientes, rna-se tarefa in-
teremos a artística
Jamais qualidade
obras de alta mais importa
clientes
realizem o en autoridade da equi
maneira natural, uipe técnica
pela atitude serena de estabelece-se de
T e r a p e u t i c a m e n t e ,
forma
e
acontece!). tome
vezes
as dissociado
mundo
interno
de
símbolos
transror compreensão face
te e que o através
expressão
nmeias de
COntre 81
80
admi-
p s i c o t r ó p i c o s
peloS
à problemática do prirncipalmente, indivíduo
numa
ajudá-lo e
por um
profundo respeito à pessoadesejo de rurgia,
e agora,
doses
brutais
ate
que
utiliza,
como
indivíduo. em método
de cada nistrados
quimica?
Um traba-
música,
modelagem,
Portas e
janelas estão
camisa-de-força
pintura,
vigente, jul-
Palmeiras. Os médicos nãosempre abertas na Casa das terapéuticos,
seria, na
epoca,
agentes
social para recebê-los de volta. materiais de trabalho, uma das condições essenciais para
freqüência de 30-35
a eficácia do tratamento.
A Casa das Palmeiras comporta a
de externato nos dias As teorias e seus nomes
clientes funcionando em regime importam pouco. Todas po-
cliente não desliga se de dem úteis quando convém a cada
ser
úteis, das 13 às 17:30h. Assim o caso em
apreço.
sua família e do meio social com seus inevitáveis proble- Desde que o cliente em esteja condiçòes psicologicas
aos enri
poucos a superar graças capazes para realizar esforço necessário à produço de
mas, que aprende aos o
através das atividades praticadas um trabalho utilitário, será
adquiridos
diz Freud: "Nenhuma outraperfeitamente
quecimentos
que aí se aceitável o que
Casa dos laços de convivência amiga
na e técnica vital ligao indivíduo
tão fortemente à
formam realidade como a
que, pelo menos, realização do trabalho
não é aceita até da realidade, à incorpora-o solidamente a uma parte
Certamente a terapêutica ocupacional comunidade humana.
legitimo método terapêutico. Pois qual deslocar para o
trabalho
A
possibilidade de
hoje como um
do arsenal
constituído pelos cho humanas a estes profissional e
para as
relações
seria seu lugar no meio vinculadas grande
convulsões; pela psicoci- nentes
narcisistas, parte das
compo-
ques
elétricos que
determinam
agressivas e
mesmo eróticas da libido,
82 83
o indivi
a
oportunidade que
confere àquelas atividades um valor que nao Fromm
Reichinann,
ex
Fricda d e s c o b r i r a s atividades
rclegado segundo plano" (El malestar en la pode ser doente, de
a
teve, quando a
duo acessiveis
rá recorrer
sozinho para manter seu equilibrio psiquico
mos de ir ao encontro do doente mental dLsorder)
nos
pontos instáveis (Remarks on the philosophy of
onde cle se acha ainda, a fim de
ajudá-lo a fortalecer Estas afirmações não signiticam que deixem de ser
o
ego de modo gradativo. Embora, no dizer
de Frieda Casa das Palmeiras atividades de caráter
Fromm Reichmann, nem praticadas na
permitem a expressão de vivèn- natureza dos materiis usados nas atividades e as varia-
cias muitas vezes não verbalizáveis, fora do alcance das oes de adaptação e de preferência dos clientes pela
laboraçòes da razão e do manipulação desses materiais.
pensamento. No conceito de
85
84
E curioso ou
que haja sido um misturadas a
endurecem fixando
atração preferente da
imaginação criadora, eminvestigou a veis quando
úmidos, mas que depoIS
e
poetas, pelos elementos da natureza escritores
aos formas.
se achavam quais aqueles
originariamente filiados; ou seja, que a ima-
ginação procura uma substäncia de Outra forma
de ver a terapeutica ocupacional que
vestir-se: fogo, água, ar ou terra. preferência para re- aprotundamentos
teóricos terá como
Ihe
forneceremos
o declive que a
dança,
estudos em profundeza aplicar esses
hridamente,
durante
milenios para exprini-los:
e
estende-los no seu humana
sulcou
música.
trabalho campo de mimicas, pintura, modelagem,
representaçoes
Ainda outros dados. A e o nais eficaz.
meta não só
psicoterapia junguiana tem por Será o mais simples
dissolução de conflitos
a
89
88
Dentro
de
artistas
de E n g e n h o
9
Todos temos
nstantes
a
experiència do sonho. Nos seus breves
podem ser vividos os mais recônditose
SIveis
desejos, encontram meio de impos
aencias mais expressão nossas ten-
Se o
profundas. Através do sonho manitesta-
inconsciente, usando velha lingua das
a
tao mais imagens
antiga que das palavras. Fundem-se estas
a
im
91
de mascara a o
gens em estranhas figuras, umas servem entram em conflito cotn
Outros seres igualmente
os mes-
outras, representam muitas de maneira constante evadem para reinos inaginarios Mas
mundo exterior e se
m o s pensamentos c o m o n o s hieróglifos.
Mas apenas se da fantasia tornam-se
subterrâ-
ai perdem. Neles, as produções
se
abrem olhos, voltam todas para s e u mundo
Os mais vivas, mais poderosas que as cOisas objetivas Inva
são de
neo. Os delirios, s e os estudamos atentamente, dem a esfera da consciència com tanta força que o indi
pela vigîlia. Na sua
certo modo sonhos prolongando-se Pertur.
já não as distingue das experincias
reais
viduo
ilógicas,
de idéias ponto de vista do
encaradas do soCial-
bam-se assim s u a s relações com meio
trama o pussiatn
adulto civilizado desperto, descobriremos o sentido da a ser chamados loucos.
sob o disfarce
realização de desejos tal qual n o sonho, Outra prova de que apenas questào de grau, de per
dos mesmos mecanismos psicológicos. transitoriedade estados semelhantes di-
manência ou em
forma e cor.Se estes fenômenos se for- motivos de vossa emoção está que eles despertam resso-
veis, adquiram
distin-
massem numa condição permanente seria difícil nâncias, que fazem vibrar em cada um cordas afins. Este
los de sintomas psicóticos. Entretanto o adepto foi é um dos caminhos pelos quais as obras de arte nos
gui
formas e cores são vazias ainda atingem. Se Hamlet continua através dos séculos abalan-
instruido de que essas
representem deuses
ou ancestrais. Após as inten- do profundamente os públicos do mundo inteiro, explica
quando
retoma suas
de meditação ele a psicanálise, é que o forte sopro poetico dessa tragédiu
s.as Cxperiencias das horas
os segre- toca em cheio
CupaçOCs
diarias sem que ninguém
conheça o
complexo de incesto comum a todOs Os
faz é um
humanos. Os poetas ouvem as vozes abafadas do
vida interior. Por tudo quanto diz ou seres
dos de sua
inconsciente e exprimem para os demais seus
homenm s e n s a t o e
sabio. oprinidos
extraordinário.
Seus desejos. Parece mesmo haverem herdado de Homero o
e certamente um ser
Oartista
amoldam ao principio privilégio de descer aos infernos e voltar à luz do sol
instintivos não se
fortes impulsos mundoda contando aos mortais o
rebelde foge para o que viram naquelas regioes tene
da realidade.
Insatisfeito e
livremente. brosas. Assim Fausto, ansioso de
evocar HHelena, mergu-
onde lhe dado viver suas desejos ha no mais
1antasia
é
necessidade de
comuni- profundo dos abismos onde habitam as figu
de amor, exigente ras
primigenas das m es. E
de nov aonosso estremecimento
Vnculos
MAS
atraem
o de medo
semelhantes o que sente ante essas deusas
a a o Com ses
trazendo-nos a
dádiva de suas
Se movem
poderosas ao redor de
quem
TLuno E ele retorna,
o r a quase nuas
oia
as
imagens da vida comunica-se
leitor do ao
apresenta drama inmortal. Esses
mesmos
entur.as
subjetivas que
Parece
mesmo
encontrar pra ciente coletivo arquétipos que do incons-
ailamente
veladas. entendenn
c
emergem como relâmpagos nas visóes de
72li quando outros
o poetas, de pintores, vêm
exihr las alegra-se "caminhode dor de constituir o conteúdo avassala-
pois neuroses e
T artistica seria psicoses.
NAde11m
A atividade (Freud).
realidade"
c n u u z
da
fant.asia à
93
paredes ou em juakquer pequeno peaço de papel que
Talvez muitas das obras aqui apresentadas causem a inacessiveis, ce c o n
Ihes caia nas màos. Mesmo os mais
impressäo de estranheza inquietante que acompanha a dificil, raro deixam de desenhar se lhes entrega-
tato mais
manifestação de coisas conhecidas no passado porém material necessárico. Este fato curioso explica-se
mos o
que jaziam ocultas (conceito do sinistro segundo Schel- quando nos colocamos no ponto de vista da psicopatoo
ling e Freud). Presumimos obscuramente possuir no fun- gia genética,
admitindo o c o r r e r e m nas psicoses proces-
do de nós mesmos imagens semelhantes. Exemplos deste reconduzem o individuo a fases an-
sos regressivos que
tipo são os desenhos evocadores de figuras míticas que
teriores do seu próprio desenvolvimento o u mesmo da
acreditávamos superadas que representam desdo- ou os
evolução da humanidade. O pensamento abstrato, aqui-
bramentos da personalidade, reveladores de épocas psí mais recente, cede lugar na doença ao pensamento
sição
quicas primitivas quais ego ainda não se havia
nas o
concreto, isto é, as ideias passam a apresentar-se sob a
nitidamente delimitado em relação ao mundo exterior. Se forma de imagens (aliás o mesmo acontece no sonho
a beleza de outras formas fasci- nos estados intermediários entre sono e vigilia). Uma vez
certas figuras angustiam,
ou anéis
estruturas concèntricas, círculos cindido e submerso o pensamento lógico, fica sinulta-
na. Ressaltam
e m sânscrito mandalas, imagens neamente prejudicada a linguagerm verbal que é o
mágicos, denominados hindus e chi-
seu
totalidade psíquica. Místicos instrumento de expressão. Desde que seu pensamentob
primordiais da artístico como
mandalas de rico valor flui agora em imagens, o indivíduo muito naturalmente
n e s e s utilizam
de idêntica con-
de u m a escola
secundária
um só jato,
inteiros de
cias feitas nas aulas de pintura
eternos da humani
cores são
multiplicam-se em número espantoso e suas
Símbolos
Head). mentais quase sempre muito vivas. Mas
feminina (Herbert apenas
também pintados
por
doentes
começa a
lançar frágeis
o ego
modelos interiores vêm pontes para
com-
dade aparecem
esquizofrênicos
brasileiros mundo real, aas
o
europeus
(Jung) e por
do s í m b o l o
religioso
orien-
riOr
recordados
juntar-se objetos do mundo exte-
sempre ou vistos no
presente,
d e s c o n h e c e d o r e s
pletamente
debruçam
sobre si
próprios
estar o
depositárias
nui
se
faz-se através
e a
trabalho mais demorado,produção dimi
tal. Os que
se
imagens
dessa
categoria,
de
milênios. enriquece de nuanças. Esses o colorido
e n c o n t r a r
através
Começam sinais indicam
sujeitos a individuais
dos
artistas
a ser
dados no caminho que passos
vivências
pintura desenho ou de volta à
pintura realidade,
i n u m e r á v e i s
a fantasia
de entre
da cional. A estão
tornando
inevitáveis
sonho e se
sentido de atividade artística linguagem
analogias do
Daí as
do r e i n o
pelosdestila
del- emo-
poderá mesmo adquirir o
modelos
os
um
que
preferem desgarraram
verdadeiro processo
Compreende-se
se
d a q u e l e s que
ea pintura mentais
que bus estúdios de pois a imp curativo.
os de tais
mundos.
de
doentes
sobre
a5
pintura e de esc nportîncia da instalação de
número
scultura
d e s e n h a r e m
o
nos
Surpreende
e x p r e s s ã o
gráfica.
E
freqüente
hospitais psi
siquiá
Cam
95
94
mecanis-
tricos, tanto para meio de estudo de obscuros dos. Nas
mos psicopatológicos que se tornam patentes nas produ- melhores dessas
de colchas muito brancas
casas vêem-se leitos forrados
ções plásticas, quanto pela função terapêutica
de que a corredores de soalho
e
se reveste.
síssimo. procure saber como correrm ftustro
Mas que
se
própria atividade artística muitas vezes habitantes as longas horas dos dias, durante para seus
Levantar-se-á talvez a pergunta: Se nascem no in-
a fio. Venha-se ve-los
meses e anos
louco é vagando nos pátios amurados, tais
consciente as fontes de toda a inspiração e o
fantasmas. Pois a verdade é que as tentativas
torrentes subterrâneas,
de psicote
aquele que foi invadido pelas rapia e ocupação terapeutica feitas nos
nossos hospitais
em condições de
então estaria ele mais que ninguém têm apenas o valor de amostras do que
basta sonhar acordado,
poderá ser reali-
criar obras de arte? Decerto não zado, não chegando ainda a adquirir significação dadoo
falar a lin-
ter contato íntimo com imagens primígenas, reduzido número de beneficiados em face da
dos símbolos, sofrer a tensão de inten-
imensa
guagem arcaica maioria desatendida.
Trate-se de artistas sadios ou de artistas
conflitos. Esta situação decorre
de se haver admitido
sos
misterioso o dom de captar as qua-
arbitraria
doentes permanece mente que nos doentes mentais se tenham
dos modelos extinguido as
lidades essencialmente significativas seja múltiplas necessidades humanas além de dormir, comer
mundo exterior. Haverá
interiores seja dos modelos do e
quando muito trabalhar em oficios rudimentares. Entre
indi- entre os
doentes artistas enão-artistas, assim como tanto só os
poderes da inércia favorecem a aceitação
fronteiras
mantêm dentro das imprecisas conformista desse estado de coisas.
víduos que se de criar for- Ninguém ignora a
possuem a força extraordinária renovação da
da normalidade só alguns psiquiatria realizada por
de suscitar emoções naqueles que Freud e Bleuler desde
mas dotadas do poder primeiros anos do século. Até
os
então se aceitava que
demência a
as contemplam.
fato fundamental, os
mais estra- nia)conduzisse inexoravelmente à precoce (esquizofre-
Voltemos a acentuar o
em mento da demência e ao apaga-
encontrados nas doenças do espírito afetividade. Hoje está demonstrado
nhos fenômenos mecanismos que tam após longos anos de que mesmo
qualitativamente
de doença a inteligência pode
nada diferem
na vida
psíquica
normal. var-se intacta
para prova os
e
sensibilidade
a conser-
vivíssimas. E aqui
ser surpreendidos
bém podem estrutura
psíquica que nossos artistas: estão
Nessas doenças
såo mudanças na
emergem im
e anos.
Raphael doente Emygdio internado há 25
desde
corem.
Estados pretéritos
da evolução
de sentir,
percener diagnóstico
Os
de esquizofrenia. os 15 anos, ambos sob o
suas
maneiras
correspondentes
tornam-se
inap"
raizes em
hospitais, porém,
pxm atingidos
continuam
já superadas, seguindo rotina
gre-
assim
isso são Seg Ccultura atualconcepções
individuos
cpensar.
Os
e por
de
vida social dos médicos. muito distantes
nosso tipo de entend&-los concluiu
Seja a da
tos para o
se
procurasse
entendë-
inteligënca c
em
que
tinham a
afetividade
muito
bem
habilitando
alu
enta-
prisdes
chamados
hospitais,
encantamento de formas
C 97
96
c de cores criadas por seres humanos encerrados nos
in Catálogo da exposição
9 atistas de Engenho de Dentro
Rio de Janeiro, dezembro de 1949