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Obras Editadas

estão
pensamento de Nise da Silveira
A experiência e
expostos nos livros que ela escreveu e publicou. O pri-
meiro desses livros, intitulado Terapêutica Ocupacional,
teoria e prätica, é na verdade o extrato do relatório pu-
blicado no 12 volume da Revista Brasileira de Saúde
Mental, em 1966, sob o título 20 Anos de Terapêutica
Ocupacional (1946-1966). Nele, faz o estudo cientifico
dos princiípios e fundamentos da Terapêutica Ocupacio-
nal, suas técnicas e teorias, ao mesmo tempo que conta a
experiência realizada no Centro Psiquiátrico Nacional ao
longo daqueles anos.
A obra mais
difundida de Nise da Silveira é Jung, vida
e
obra, cuja primeira ediço data de 1968
encontra
e que já se
em 10 edição. Embora a autora advirta, no
prefácio, que não teve a
resumo da
pretensão de apresentar ali um
obra de C. G.
Jung mas apenas traçar um
itinerário de estudo, o livro
resulta uma admirável síntese
da
psicologia junguiana. Se naturalmente não
aprofunda as complexas esgota nem
mento de questões implícitas no pensa-
Jung, oferece um caminho acessível à
dagem e compreensão. sua abor-

55
desenvoBvimento
Imagens do principno de Hornus rege todo o
segundo livro-
Em 1981, publica um
"O
Inconsciente-em que, por assim dizer, faz o balanço de tão forte, na sua fracqueza, que
psicológico do hormem e é
tudo o que experimentou, estudou e
pensOu acerca da
se mantém vivo mesmo dentro do tumuito da psicue
esquizofrenia, seus diferentes estados e manifestações.
cindida, por mais grave que seja sua dissociação.
com o propósito de "penetrar, pouco que fosse, o mundo
"Esta afirmação resume toda a minha experiëncia no
interno do esquizofrênico".
hospital psiquiátrico."
Afirma que os ateliês de pintura e modelagem foram a
O livro seguinte escrito por Nise da Silveira O
escola que diariamente freqüentava, onde os
problemas Mundo das Imagens- foi publicado em 1992, pela edi
surgidos conduziam a estudos apaixonantes e muitas ve-
tora Ática. Ele começa com uma critica do modelo médi
zes a obrigavam a buscar ajuda fora do campo da
psiquia- co tradicional, de base cartesiana, que busca causas orga
tria, na arte, nos mitos, religiões e literatura, "onde sem-
pre encontraram formas de expressão as mais profundas nicas para as doenças mentais, em lugar de causas

emoções humanas". psicológicas, conforme a opinião de C. G. Jung. Adiante,


Nise faz o estudo comparativo entre a demëncia orgânica
Nele, admite que o fato mais importante ocorrido nas
e "demência" esquizofrênica, valendo-se de
a
suas buscas através da psique foi o encontro com a
psi colhidos na Seção de Terapêutica
exemplos
cologia junguiana, que Ihe ofereceu "novos instrumentos Ocupacional do Centro
de trabalho, chaves, rotas, para distantes circunavega-
Psiquiátrico Nacional (CPN), como o caso de Lúcio, sub-
metido a choque de cardiazol e
ções". O livro se divide em dez capítulos, através dos eletrochoque, sem maio-
res
resultados, e que melhorou visivelmente
quais expõe as linhas básicas que conduzem ao entendi- se
depois que
entregou às atividades expressivas na
mento do universo da esquizofrenia, as idéias de Jung em Mais tarde, o submetem à modelagem.
de discu- lobotomia, com desastrosas
que fundamenta seu método terapêutico, além conseqüências: desordem
espaço subvertido, o
afeto profunda e
fuga, tentativas de
tir questòes essenciais como o perda de capacidade criadora. Estuda ainda
como elemento catalisador e os meios de penetração
no
Raphael, Isaac e Emygdio, que não sofreram
os casos
de
mundo interno do doente. Outra do livro é dedica-
parte violência. No primeiro esse tipo
elas se cia do exemplo, demonstra a importän
imagens arquetípicas tal apoio afetivo para a
como
da estudo das
ao
tra- com a reaproximação
realidade; io segundo, a questão das do paciente
manifestaram na expressão dos esquizofrênicos que
balharam nos ateliès da STOR.
espaço na alterações do
esquizofrenia (o espaço subvertido)
"Através de todo
esse ceiro, as relações entre o
e no
ter
Ao final do volume, ela escreve:
interno. Os demais espaço externo e o
espaço
fio con
do inconsciente, como um
estudo da
capítulos do
livros são dedicados ao
na escuridão
percurso
partido e ter imagem interna que "nãoé um simples
dutor, fio tènue que
às vezes parece ter
se
ae merado de conteúdos do conglo-
o principio inconsciente" mas, na verdade,
está presente "constitui uma unidade e contém
Sklo tragado pelo abismo, das trevas
originais um sentido particular:
para emergir expressão da situação do consciente do
Honus, isto é, o impulso inconsciente,
cons e
tomada dedo constelados por experiências vividas
essencial
atc alcançar a
experiência pelo indivíduo", Por
57
isso mesmo, não há diferenças essenciais entre as formas
Dados biográficos e bibliográficos
de expressão do louco e as formas de expressão dos

normais.
Finalmente, ela estuda as relações das imagens com os
rituais (imagem e ação) e os diversos simbolismos que se
manifestam, por exemplo, na imagem do gato, da cruz,
bem como as metamorfoses e transformações por que
passam as imagens na experiència psíquica.
Num de seus últimos livros Cartas a Spinoza
Nise não trata diretamente de questões psiquiátricas mas
busca conciliar a visão de Spinoza com a de Jung, ou seja,
busca a unidade de seu próprio pensamento. Mas isso
não ocorre sem que ela ponha à mostra as divergências
filósofo que tanto respeita, particularmente no que Nasce em Maceió, em 1906, Nise da
com o Silveira.
se refere ao amor aos animais. Spinoza considera que os Forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em
homens têm o direito de imolar os animais, desde que 1926.
isso se torne necessário. Nesse particular, ele a decepcio- Obtém aprovação no concurso para médico
na; em compensação, noutros pontos desperta-lhe a ad-
tra da antiga Assistência psiquia-
1933.
a
Psicopatas e Profilaxia em
miração, como ao se antecipar à psicanálise, afirmando Presa como
que "os homensignoram as causas de seus apetites" e
de 1936
comunista, é afastada do serviço
Freud, reconhece a autonomia
contrário de 1944, por motivos
a
público,
quando, ao
Funda, em 1946, a políticos.
do imaginário com respeito à sua tradução em linguagem no Seção Terapêutica
de
antigo Centro Ocupacional
racional. Mas não só nesses casos. De fato, o próprio
Em 1952 Psiquátrico Nacional.
reúne o
gene pintura e moldagem damaterial produzido
firmeza e
exemplo ético de Spinoza, sua coerência, nos ateliès de
rosidade, ela os exalta com entusiasmo, e mostra-se do Inconsciente. STOR e cria o
Museu de
pressionada com o fato de que ele não
estabeleça limites
sera
Em 1956, com
Imagens
a
Cntre a vida e a nmorte: "O que importa na sua visão funda a Casa das colaboração de colegas e
a amplitude da eternidade conquistada
e com ela o goz0
Em Palmeiras
1957/58 realiza amigos,
da heatitude", escreve Nise. Zurique, com bolsa do estudos no Instituto C. G.
Conselho Nacional de Jung, de
Participa, em 1957, do
Psiquiatria, reunido II
Congresso Pesquisa.
rience dart
em
Zurique,
spontané chez com Internacional
o
trabalho de
service de des
schtizophrênes Epe-
com o therapeutique occupationelle
dr. Pierre Le darns u
Gallais). (emn colaboração
9
Em 1960, membro fundador da Societé
nternacional
de Psychopatologie de l'Expression, com sede em Paris.
Em 1961/62, estudos no Instituto C. G. Jung, de Zuri-
que.
Em 1964, pesquisas referentes às imagens do incons-
ciente, no Instituto C. G. Jung.
Em 1965, promove a publicação da revista Quaterno,
editada pela Grupo de Estudos C. G. Jung.
Em 1968, funda o Grupo de Estudos do Museu de
Imagens do Inconsciente, que realiza cursos, simpósios e
conferências.
Em janeiro de 1969, funda o Grupo de Estudos C. G.
Jung, que já se vinha reunindo informalmente desde
1954.
Em 14 de julho de 1975, aposenta-se, deixando assim
suas funções na Divisão Nacional de Saúde Mental, do
Ministério da Saúde.
Em junho/julho de 1975 organiza as comemorações
Museu de Arte Moderna
do centenário de C. G. Jung no

do
do Rio de Janeiro, com exposição de pinturas
acervo

de um audiovi
do MIl, ciclo de conferências e produção
colaboração
sual sobre a obra de Jung. Profere então,
em

conferência intitulada "C. G.


com Luiz Carlos Mello, a
em transição".
de uma civilização
Jung na vanguarda da Associação
Em outubro de 1976, sob patrocínio
o
curso de um
ministra
Médica do Estado do Rio de Janeiro,
do Ministério da Fazenda,
no auditório
seis conferências,
Inconsciente.

Rio, sobre o temaImagens do cien-


no
de supervisora
De 1979 a 1981, e x e r c e a função Manutenção
e
Treinamento Terapêutico
tifica do propeto do Incons-
de Imagens
realizado no Museu
co Musu, Nise e Caralâmpia
cente foto arquto Nise da Sthvetra)

60 61
CERiTos
(Arquivo Museu de Imagens do Inconsclente)

Fernando Diniz

S t l v e i r a )

da
Nise
a r q u i o

foo 63
Carlos Pertuis e o cào
Foto arquivo Nise dea
Sertanejo
Stlveira)

Aelna iOmes (foso arquuo Nise d Silhetra)

65
Bule e futas de Raphael Domingues

Nise e Raphael Domingues


fato arguao Mse da Skeira)
A barca do sol de Carlos Pertuis
otas arqutuo Museu de Inagens do Feconscion)

67
66
Publicações

"Considerações teóricas
e prática sobre ocupação terapêutica".
Revista Medictna e Cirurgia, n.194, 1952.
"L'Expérience d'art spontané
chez les schizofrènes dans un service
de terapeutique occupationelle" (em colaboração com o dr.
Pierre Le Gallais). Revista Brasileira de Saide Mental, vol. III,
dezembro de 1957.
"C.G. Jung e a psiquiatria". Revista Brasileira de Saúde Mental,
vol.VII, 1962-63.
"20 anos de terapêutica ocupacional em Engenho de Dentro (1946-
1966)". Reyista Brasileira de Satide Mental, vol. XII, 1966.
Jung, vida e obra. José Álvaro Editor, 1968.
"Perspectiva da psicologia de C.G.Jung". Revista TempoBrastleiro,
n.21/22, 1970.
Terapêutica ocupacional- teoria e prática. Edição Casa das Pal
meiras, 1979.
"O Museu de
Imagens do Inconsciente", in Museu de Imagens do
Inconsciente, Funarte, 1980.
A
emoção de lidar, coordenação e prefácio de uma experiência em
psiquiatria na Casa das Palmeiras. Editora Alhambra, 1986.
lmagens do Inconsciente, Editora Alhambra, 1987.
Os inumnerávets
(Folo Lwcia Helena Zaremba, arquivo Nise da Sivetra) estados doo s e r - prefácio para o catálogo
exposição do MII no Paço Imperial, 1987.
da
A Jarra do boi, Editora Numen, 1989.
Artaud, a
nostalgia do mas. Editora Numen, 1989

69
68
Cartas a
Spinoza, Editora Numen, 1990.
2 cdigao, 1995. Edlitor.a
FranctscO Alves
Omundo das imnagens. Editora
Atica, 1992.
Imagensof the unconscius trom
siçao homônima em Brazil, in Catálogo
Frankfurt, 1994. para expo-

Instituiçôcs criadas partir do


a
trabalho de Nise da
Silveira
Association Nise da Silveira- Imagens de
Museo Attivo delle Forme l'lnconscient-Paris.
Inconsapevoli, Gênova
Centro de Estudos Nise da (comitato nore).
Museu Nise da Silveira- Juiz de Fora- Minasd'oGerais.
Silveira-Colônia Juliano Moreira- Rio de Janeiro.
Anexo

Tres textos de
Nise da Silveira
estados do ser
inumeráveis
Os

Hámuitos anos, folheando ao acaso numa livraria revis-


tas de arte deparei, numa delas (Cahiers d Art 1951)
comentários sobre a pintura do surrealista Victor Brauner
com a citação destas palavras de Antonin Artrud: "O ser
tem estados inumeráveis e cada vez mais perigosos.
Pareceu-me que Artrud se referia a certos acontecimentos
terriveis que podem ocorrer na profundeza da psique.
avassalando o ser inteiro. Descarrilhamentos da direçao
logica do pensar; desmembramentos e metamortoses do
Corpo; perda dos limites da própria personalidade: estrei
tamentoS angustiantes ou ampliaçòes ddo espaço: CIOS

vazio; e muitas mais condições subjetivamente vividis


que a pintura dos internados de Engenho de Dentro

tornavam visiveis.
Decerto aquelas imagens revelavam perigosOs CSTil0s
lo ser, que não se deixavam apreender dentro do modelo

medico adotado pela psiquiatria vigente.


de detiniçio tio
A psiquiatria descritiva não dispoe
dramaticid.ade desS.is estr.a
exata transmitir toda a
para sinto-
enumeraçao de
fazer a
nhas vivências. Limita-se a
COmO u m
"acessórios" da esquizotreni.,
mas "basicos" o u

73
rol de fenômenos mais ou menos antes preferia
ou

traçada por Bleuler, seguiu aindiferentes. A partir da


convite,
seu
trilha aceitava
dando
Mas ninguém espécie de porta
tiva com adends mais recentes psiquiatria interpreta- a
existência
de qualquer
realidade em planos des-
escolas
e
confusos de
negar
tormas de
psicanalíticas não bastante profundos diversas abertura para
outras

abre para
O mundo intrapsiqui-
çar o
âmago do ser. Ao
contrário, Artrud conhece
para alcan- conhecidos.
Esta porta se

A saida de
rico de signiticaçoes.
Cxperiencia própria essas vivencias e
por co,
mundo intenso e
diticil devido à não aceita-
las com uma
claridade incrível, consegue exprimi- volta será difícil
e tanto mais

que tais "sintomas" nao


levando-nos a concluir mundo interno e m sua protundeza, nào só
compóem uma doença, uma en- cão desse maioria
tidade patológica definida, mas se tradicionais, mas também pela
manifesta como esta- pelos psiquiatras outros sao
dos Laing e poucos
múltiplos de desmembramentos e de daqueles que se contestam.

do ser. transformação exceções.


Creio que antes de Artrud onde esteve internado
nunca Os psiquiatras dos hospitais
alguém conseguiu,
por meio da palavra, com exprimir tanta força essas dila- durante longos anos mantinham-se distantes de Artrud. A
cerantes vivências. Pela imagem, sim, incompreensão daqueles de quem era natural que espe
que é a direta for-
ma de expressão dos rasse ajuda foi atroz para ele. Seu revide está gravado na
processos inconscientes profundos,
muitos o
fizeram, e fazem todos irrespondivel Carta aos médicos chefes dos asilos de lou-
os dias, usando
lápis e
pinceis. Pela palavra, não. Pois a linguagem verbal é, COs. E um documento veemente, concentrado e de eX-
por
CXCeleneia, o instrumento do pensamento lógico, das traordinária dignidade. Nenhum técnico ai encontraraa
elaboraçOcs do raciocinio. E essas mais leve fissura do pensamento. Artrud
Artrud da torma
experiências, às quais pergunta: "Para
por meio de palavras, passam-se a mil quantos dentre vós, por exemplo, o sonho do demente
leguas da esfera racional. precoce
Uma coisa
(esquizofrênico), as
imagens das quais ele e a

observador situado do lado de fora,


é o presa são coisas diferentes de uma salada de palavras?E
TCgistrar clementos que Continuando com a mesma lucidez, escreve
emergem aqui e acolá, origina- nas ultimas
TIOS de uma trama cm linhas: "Possais
desdobramento na escuridio d0 lembrar-vos amanhà na hora da visita,
inconscicnte. Outra coisa completamente diferente sera quando tentardes, sem
IVeneir ess.a
possuirdes vocabulário adequa
propria trama. Densa objetividade par do, conversar com estes homens sobre quem, c
ucn as
cXpeimenta, que precis
essas estranhas vivências internas o
reconheçais, não tendes outra
vanagem a nao ser
DTesent.anm-se aqueles que estão a da força."
do outro lado do muro
Omo nconscientes tantasias.
ESta carta soa
como o zunir de un chicote de tios de
Diticil fosse, Artrud insistia, tinha necessiatuc
ceomo o. deja por omissão ou ação, nenhum de nos,
pStquia
remente dde comunicaçào. "Eu desejaria fazer um iivi ras, merecera
escapar com a tace ilesa.
eturbe
ue
homens, que seja uma porta aberta e quc
os
Atraves das
imagens espontäneas
duza aonde eles
que pos S:Am emergir
na
jamais haveriam consenticdo it pintura de pessoas que vivem estados perigosos do
T
porf.a simplesmente contigua Ser, o trabalho do Museu de Imagens do Inconsciente
com a realidade.
5
consistc,
frestas principalmente, em penetrar, ainda
estreitas, Que é
a
Casa
das
Paimeiras

lado do mundo regióes misteriosas que


real. que ficam do por
outro

in
Catálogo da
Os
inumeráveis estados doexposição
ser, 1987.

o fato de serem tão


Desde muitos anos nos preocupava
hospitais
nos n o s s o s do Cen-
numerosas as reinternações
tro Psiquiátrico. Basta dizer que dentre os 25 doentes
internados nesses hospitais por dia, em média, 17 eram

a situação em 1986 é quase a


reinternações. Infelizmente
mesma: para 28 internações, 16 dão reinternações (pelo
menos segundo nossas precárias estatísticas).
Mas voltemos à década dos anos 50. Parecia-me que
tantasreinternações davam testemunho de que algo esta-
va errado no
tratamento psiquiátrico. Um desses poSSI-
veis erros (entre outros) estaria na
saída do hospital, sem
nenhum preparo
adequado do indivíduo, quando ape-
nas cessavam os
sintomas mais impressionantes do surto
psicótico. Não era tomada em consideraçào que a VIven-
Ca da experiência psicótica abala as próprias bases da
VIda
psiquica. Depois de um impacto tào violento o
egresso dificilmente se encontraria em condições de
reas-
Sumir seu anterior trabalho
profissional e de restabelecer
OS contatos interpessoais exigidos na vid.a
Social
Durante vários anos pensei quanto seria útil um setor
do hospital, ou uma instituição, que funcionasse como
especie de ponte entre o hospital e a vida na sociedade

77
Naturalmente seriam necessarioS tamilia La Fayette Cortes
dos quais eu não recursos largr praito, a

riencia desse dispunha para que fosse financeiros nos


concedeyse
lhe perternca

gènero. Conversei sobre tentada expe- pediu-nOs


o predio que
vários casa situada à rua D Delfina
colegas que, entretanto,
o
assunto com Transferimo-nos para
a

inCia
pelo projeto. nao
mostraram interesse MEC. gracas i
n39, Tijuca,
cedida pela CADEME
ocaSiao o
Mas aconteceu Adriana Coutinho, jue na Ocupava
que no inicio do tiva da Sra
quiatra Maria Stela ano de
1956, Diretora Administrativa A ajuisiç.io dessa
de
Braga, recente
colaboradora da Seção
a
psi- cargode nossa
decdida atuaçio da Presi-
Terapêutica Ocupacional que estava casa completou-Se devido a

logo participou entusiasticamente dlessa meu cargo, a


dente da Casa das Palmeiras,
Sra. Maria Antonieta Frank
quem me apresentou å ilustre idéia. Foi ela lin Leal, em dezembro de 1968.Permanecemo nesse

(viúva do Professor educadora Alzira Cortes local durante longo periodo


La-Fayette Cortes) que, aprazivel
breve depois de
conversaço, sentiue Anos mais tarde, a Sra. Maria Antonieta Franklin Lea.
projeto. Alzira já havia compreendeu utilidade do
a
D. com notável tino administrativo, permutou a casa dia rua
cedido à APAE o
pavimento casarão onde
do primeiro D. Delfina, que se achava em más condicoes de conser
nado o Colégio anteriormente havia funcio
La-Fayette, rua Haddock Lobo. E
na vação, por uma outra Sorocaba n ' 800, Bot
casa à rua
ra, num fogo, onde desde setembro de 1981 está instalada i (Casa
gesto de confiança generosidade, pôs à
e
ago-
disposição, sem
qualquer nossa das Palmeiras.
formalidade, o
mento
daquele prédio. Logo começamossegundo a elaborar
pavi- A Casa das Palmeiras é reconhecida de utilidade pu
blica
normas da nova
instituiçào: Maria Stela Braga,
as
pela lei n* 376 de 16 de outubhro de 19o3
ia; Belah Paes
Leme, artista plástica; psiquia-
sistente social, Nise da
e
Lígia Loureiro, as- O
principal método de tratamento
Silveira, psiquiatra. Para isso nos das empregado n.i . s . i
Teunamos no atelier Palnmeiras é
de Belah,
foi ela quem encontrou
e
tica
a
terapêutica ocupacional. mas
teapeu-
titulo: CASA DAS
PALMERAS, visto que o ocupacional num largo sentido,
mesnos pre não os

Haddock Lobo casarão da rua cedimentos praticados


correntemente sob esta
possuia em seu jardim de denoii
de belas frente um grupo
palmeiras. Assim evitávamos dar à renovadora
nação. Desde minha
experiència iniciada em Engenho de
Dentro com o método
nstituiçio um nome que de ocupacional, no ano de
alguma maneira aludisse as Primeira
preocupação foi de l98. a

doenças mentais, tào discriminadas natureza teorwa, 1sto e.


Com a
socialmente. busca de fundamentação
cientifica onde firm.ar a estrutu
presença de
alguns psiquiatras e de numerosos ra do
trabalho que estava sendo
inici.ldo
migos, toi inaugurada a Casa das
Palmeiras no dia 23 de Como a
terapêutica ocupacional poderi.l Lstuci.ime
dezembro de 1956. A Casa, dos
diterentes pontos
scr
enteni
instituição sem fins lucrativos, de vista
psiquiitricos (segundo
Começou funcionar
a
sraepelin, Bleuder,
imediatamente. I1. Simon,
C. Schneider. neojicks
Pemanecemos no prédio do nanos, P. Sivadon, psicanalise, psicologil artistica cte
antigo Colégio La-Fayet O ).
te ate objetivo era utilizar terapeutica ocupacional,
1968. pois, após falecimento de D. Alzira, embora
o
Corretamente conduzida,
a se

conno
legitimo metodo te.apëu
79
subalterna, se-
tIco e não apenas uma prática auxiliar e
madores que o
gundo acontece habitualmente.
aproximem cada vez mais do nivel cons
ciente.
este método ampliava- A tarefa
Agora, na Casa das Palmeiras, principal da equipe técnica da Casa das Pal-
a esta institui- meiras será permanecer atenta 2o
se e adquiria novas conotações
adequadas
desdobramento fugi
ao tratamento e à reabilitação de egressos dio dos processos
psíquicos que acontecem
ção destinada interno do cliente através de
no
mundo
estabelecimentos psiquiátricos. Representava a Casa inumeráveis mcodalidades de
de
intermediário entre a rotina do sistema hospi- expressão. E não menos atento às pontes
que ele lança
um degrau
vida na sociedade e na famí- em direção mundo externo, a fim de dar a estas
ao
talar, desindividualizada, e a pontes
onde apoio no momento oportuno.
lia, com seus inevitáveis e múltiplos problemas, a

dificuldades.
Convivendo com o cliente durante várias horas
egresso não se faz sem po
aceitação do dia, vendo-o exprimir-se verbal ou não-verbalmente
de significação em
Rótulos diagnósticos são, para nós, ocasioes diferentes, seja no exercício de
costumamos fazer esforços para estabelecê- viduais ou de grupo, a equipe logo
atividades indi
menor, e não chegará a um conhe-
los de acordo com classificações clássicas. N o pensa- cimento bastante profundo de seu cliente. E a
mas e m função de indiví-
ção que nasce entre eles, tão importante no
aproxima-
mos em termos
de doenças, tratamento, é
no caminho
de volta à realidade muito mais genuína que a habitual
duos que tropeçam relação de consultório
entre médico cliente. A
cotidiana.
e
experiência demonstra que a
olho e volta à realidade
Nesse sentido visamos
coordenar i n t i m a m e n t e depende em primeiro lugar de relacio-
namento confiante com
e psique, primeiro alguém, relacionamento que se
pensamento, corpo
mão, sentimento e deverá vir estenderá aos poucos a contatos com outras
a realização
do todo específico que com o ambiente. O
pessoas e
passo para Na busca ambiente que reina na casa é, por
indivíduo sadio. si
de cada
a ser a personalidade ativida-
apelo às
proprio, assim pensamos, um importante
coordenação,
fazemos
tico. agente terapêu-
de conseguir esta existente
mais ou
criadora
envolvam a função A Casa das Palmeiras é
des que
dentro de todo
indivíduo.
onde não
um
pequeno território livre,
m e n o s adormecida,
excelência
das apro- há pressões geradoras de angústia, nem exi-
gencias
é o
catalisador por
sensaçoes, superiores às possibilidades de resposta de
A criatividade
seus
ximações de opostos.
Por seu
intermédio,
reconhecerem-se frequentadores.
são levados a
Nunca procurou a
emoções,
pensamentos,

e
mesmo
tumultos
internos ad pobreza e a liberdade. coleira de convênios. Optou pela
associarem-se,
a As
entre si, relações interpessoais
anea entre uns e outros. formam-se
quirem forma. que
nossod
de maneira es
está claro,
pretensão, (o que logos, Distinguir médicos, pSico
grata Amonitores, estagiários, clientes, rna-se tarefa in-
teremos a artística
Jamais qualidade
obras de alta mais importa
clientes
realizem o en autoridade da equi
maneira natural, uipe técnica
pela atitude serena de estabelece-se de
T e r a p e u t i c a m e n t e ,

forma
e
acontece!). tome
vezes
as dissociado

mundo
interno
de
símbolos
transror compreensão face
te e que o através
expressão
nmeias de
COntre 81

80
admi-
p s i c o t r ó p i c o s

peloS
à problemática do prirncipalmente, indivíduo
numa

cliente, pela evidência do coagirem


o

ajudá-lo e
por um
profundo respeito à pessoadesejo de rurgia,
e agora,

doses
brutais
ate
que
utiliza,
como

indivíduo. em método
de cada nistrados
quimica?
Um traba-
música,
modelagem,

Portas e
janelas estão
camisa-de-força

pintura,
vigente, jul-
Palmeiras. Os médicos nãosempre abertas na Casa das terapéuticos,
seria, na
epoca,
agentes

enfermeiras e os demais membros jaleco


usam logicamente
muito,
branco, não há Ihos
artesanais,
inócuo.
Valeria, quando
da equipe técnica e quase psiquiá-
portam uniformes ou crachás. Todos não gado ingênuo clientes o u , em
certas
instituições

dos clientes, das atividades participam lado


ao
para
distrairos
em relação a sua
economia.

tando-os ocupacionais, apenas


orien- tricas,
torná-los produtivos desca do
quando necessário. E
também todos fazem em várias linhas de p e n s a m e n t o
que, apesar
Há teórica
conjunto o lanche, que é servido no meio da fundamentação

tarde, sem so reinante,


insistem e m p r o c u r a r
várias deno-
discriminação de lugares especiais. o método Ocupacional. E
E utilizado, quando necessário, e para interpretar praxiterapia,
isso é raro, o uso de designá-los laborterapia.
psicotrópicos em doses reduzidas e individualizadas. minações para reeducativo, ergoterapia e,
método hiperativo, método
Essas inusuais existem desde a fundação da
normas termo preferido por
Casa, em 1956. Não contribuíram para fomentar desor- finalmente, terapêutica ocupacional,
ocupa-
dem. Pelo contrário, seus efeitos criaram um favorável ingleses e americanos. A expressão terapëutica
cional generalizou-se, embora seja pesada pa-
como um
ambiente terapêutico para pessoas que já sofreram humi-
ralelepípedo. Preferimos dizer emoção de idar. palavras
Ihantes discriminações em instituições psiquiátricase até
mesmo no âmbito de suas famílias; isso sem citar, por usadas por um dos clientes da Casa das Palmeiras, pois
meio sugere logo à emoção provocada pela manipulação dos
demais óbvias, as dificuldades que se erguem no

social para recebê-los de volta. materiais de trabalho, uma das condições essenciais para
freqüência de 30-35
a eficácia do tratamento.
A Casa das Palmeiras comporta a
de externato nos dias As teorias e seus nomes
clientes funcionando em regime importam pouco. Todas po-
cliente não desliga se de dem úteis quando convém a cada
ser
úteis, das 13 às 17:30h. Assim o caso em
apreço.
sua família e do meio social com seus inevitáveis proble- Desde que o cliente em esteja condiçòes psicologicas
aos enri
poucos a superar graças capazes para realizar esforço necessário à produço de
mas, que aprende aos o
através das atividades praticadas um trabalho utilitário, será
adquiridos
diz Freud: "Nenhuma outraperfeitamente
quecimentos
que aí se aceitável o que
Casa dos laços de convivência amiga
na e técnica vital ligao indivíduo
tão fortemente à
formam realidade como a
que, pelo menos, realização do trabalho
não é aceita até da realidade, à incorpora-o solidamente a uma parte
Certamente a terapêutica ocupacional comunidade humana.
legitimo método terapêutico. Pois qual deslocar para o
trabalho
A
possibilidade de
hoje como um

do arsenal
constituído pelos cho humanas a estes profissional e
para as
relações
seria seu lugar no meio vinculadas grande
convulsões; pela psicoci- nentes
narcisistas, parte das
compo-
ques
elétricos que
determinam
agressivas e
mesmo eróticas da libido,
82 83
o indivi
a
oportunidade que
confere àquelas atividades um valor que nao Fromm
Reichinann,

ex
Fricda d e s c o b r i r a s atividades
rclegado segundo plano" (El malestar en la pode ser doente, de
a
teve, quando a
duo acessiveis

Entretanto, se ego está muito


o
cultura) e
criadoras, de ordinario tão pouco

do trabalho com fins atingido, utilização a


ressivas
p r e s

abrir-lhes novas perspectivas de aceita-

terapêuticos torna-se maioria, poderá


que envolvem as característicasinaplicável,
As atividades artistica o u sinplesmente
através da expressão
do traba cão social
Iho só convêm indivíduos a muito) muni-lo de um meio ao qual pode
capazes de manter corajo- (o que será
sas
persistentes relações com o mundo externo. Tere-
e

rá recorrer
sozinho para manter seu equilibrio psiquico
mos de ir ao encontro do doente mental dLsorder)
nos
pontos instáveis (Remarks on the philosophy of
onde cle se acha ainda, a fim de
ajudá-lo a fortalecer Estas afirmações não signiticam que deixem de ser

o
ego de modo gradativo. Embora, no dizer
de Frieda Casa das Palmeiras atividades de caráter
Fromm Reichmann, nem praticadas na

sempre o objetivo do tratamen- mais pragmaticO, tais como tecelagem.


marcenaria et.,
to "será necessariamente
aprender a levar uma vida con- ou atividades de grupo, do tipo de jogos recreativo,
vencional dentro dos padröes de
ajustamento usados festas, passeios, conjuntos musicais, grupo cultural, res-
pela média dos chamados cidadãos sadios na nossa cul-
tura" (Remarks on the peitadas sempre, emm todas estas atividades, as condiçöes
philosophy of mental disorder) de cada cliente para maior ou menor relacionamento
Muitos indivíduos estão
apenas aptos para atividades
nas
quais cada ato tenha valor interpessoal.
e próprio proporcione A equipe da Casa das Palmeiras está sempre atenta
prazer inmediato. Por esse motivo damos tanta ênfase às
atividades expressivas e lúdicas. para ler sem impertinência, ou melhor, apreender, o que
Certamente todas as atividades são transparece na face, mãos, gestos do cliente. Essa obser
expressivas desde
que se saiba observar com0
são executadas vação, seja nas atividades individuais ou de grupo, nos
a manei- (seja
ra de
empunhar um serrote ou até o
bater de um martelo). parece indispensável para que o cliente seja conhecido
Masdenominam especialmente atividades
se em maior
profundeza e torne-se
expressivas uma aborcda- possível
Aquelas que melhor permitem a espontânea expressão gem terapêutica mais segura. A emoçio de ldar tavorece
das emoões, mil
que dão mais larga oportunidade para os oportunidades para essas
observaçöes.
atetos tomarem forma e se
manifestarem, seja na lingua-
gem dos movimentos, dos sons, das formas e cores etc. Além do que foi dito, há ainda muitas coisas a estudar
E através dessas atividades que se no
pode conseguir exercicio das atividades concernentes a mesmo tem-
maior
penetração no mundo íntimo do psicótico. Assim, po à psicologia profunda e ao tratamento dos distúrbios
atribuimos especial
importância às atividades expressivas emocionais.
individuais- pintura, xilogravura,
tloral Essas atividades
modelagem, arranjo Um dos temas teóricos preferidos por nós e o da

permitem a expressão de vivèn- natureza dos materiis usados nas atividades e as varia-
cias muitas vezes não verbalizáveis, fora do alcance das oes de adaptação e de preferência dos clientes pela
laboraçòes da razão e do manipulação desses materiais.
pensamento. No conceito de
85
84
E curioso ou
que haja sido um misturadas a

lard, quem abriu caminho filósofo, Gaston Bache levemente


apertados
e que.
maleá-
para a pesquisa da de tubos o barro, o gesso,

psicológica dos materiais de trabalho. Ele importância tras


produzem
cores
diferentes,

endurecem fixando
atração preferente da
imaginação criadora, eminvestigou a veis quando
úmidos, mas que depoIS
e
poetas, pelos elementos da natureza escritores
aos formas.
se achavam quais aqueles
originariamente filiados; ou seja, que a ima-
ginação procura uma substäncia de Outra forma
de ver a terapeutica ocupacional que
vestir-se: fogo, água, ar ou terra. preferência para re- aprotundamentos
teóricos terá como

dos íntimos" (La terre et Assim, revelam "segre- poderá conduzir a

les rêvéries de la a psicologia junguiana


volonté). ponto de partida
Bachelard, baseado nessas idéias, criou n u n c a explana diretamente qual
um novo
Jung, ele próprio,
grande repercussão, sobretudo natipo
crítica literária de de
Fran- quer teoria sobre este método terapeutico. Mas sua psico-
ça. Mas transbordou da área da
filosofia e da literatura está impregnada de atividade e foi a partir de suas

para demonstrar a significação dos elementos da logia


nature idéias que, principalmente, nos inspiramos
za na vida, no trabalho do
homem normal e mesmo seu
valor curativo par:a os distúrbios Jung estuda a correlação entre imagens arquetipicas e
emocionais. "A saúde de instintos, pois, diz ele, n o há instintos amorfos, cada
nosso
espirito está em nossas mãos", escreveu Bachelard
(La terre et les instinto desenvolvendo sua ação de acordo com a ima-
rêvéries de la volonté); isto é, na
manipula- gem tipica que lhe corresponde. Por que então deixar de
ão dos elementos da natureza
que convêm à nossa con-
dição psicológica. utilizar a observação dos impulsos arcaicos que, não raro,
O
irrompem nas psicoses e assim apreender as imagens as
psiquiatra Paul Sivadon teve o mérito de trazer para quais se acham interpenetrados,
O
campo da psiquiatria as idéias de Bachelard e de apli- imagens essas que cons-
tituem a chave da
cá-las à
terapèutica ocupacional. situação psicótica de cada doente?
Escutando o doente, estudando suas
Estudando as condições de adaptação do doente às pinturas e outras
diferentes atividades, Paul Sivadon foi levado a estabele- produçoes, o
observador verificará que a
cer nelas uma hierarquia dos materiais utilizados, basea-
de seus delírios é constituída de idéias e matéria-prima
arquetipicas, soltas ou agrupadas em imaginacoes
da principalmente na sua maleabilidade ou resistência e
mas
míisticos. Se o observador sofre fragmentos de te-
na sua mutabilidade, ou seja, nas suas possibilidades da deformaçio
fissional caracteristica do pro-
maiores ou menores de transformação. Ele observou que médico, inclinar-se-á a ver nas
cTiaçoes da imaginação coisas
Osmateriais såo tanto melhor aceitos
quanto mais próxi- case rotulará inconsistentes ou patologi-
mos estejam da natureza: plantas, animais; quanto mais e
açoes como
apressadamente essas
idéias, imagin.içoes
doceis: barro, fibras, madeira tenra; mais fecundos-de material
produzido pela
LOmar doença. Mas see
pOsição fora de dogmas
pequenas coisas sem valor construirem outras agradáveis rontar com
processos psiquicos
preestabelecidos, irá de-
à visão e mesmo úteis; mais mágicos-materiais que se umbrar a estrutura
mesma da
surpreendentes. Ira vis-
transtornmam facilmente tais como as tintas que saltam mentos no seue
psique, nos seus funda-
dinamismo.
86
87
exteriorizarem-se
desa-
Foi o
que fez arcaicos

Jung nos seus


estudos dos impulsos espécie
terapêutica ocupacional psiquiátricos, A
muito lucrará em
Em vez

Ihe
forneceremos
o declive que a

dança,
estudos em profundeza aplicar esses
hridamente,
durante
milenios para exprini-los:
e
estende-los no seu humana
sulcou
música.
trabalho campo de mimicas, pintura, modelagem,
representaçoes
Ainda outros dados. A e o nais eficaz.
meta não só
psicoterapia junguiana tem por Será o mais simples

dissolução de conflitos
a

problemas interpessoais, mas intrapsíquicos de


favorece também o
e

volvimento de "sementes criativas" desen- in Que éa Casa das Palmeiras


duo e que o ajudam a crescer.
inerentes ao indiví-
Acontece que é
em atividades feitas com as mãos justamente
que, muitas vezes, se
revela a vitalidade dessas "sementes
presenciamos na Casa das Palmeiras.
criativas", segundo
Nos neuróticos esse fenômeno se
apresenta freqüen-
temente. Jung escreve: "Se houver alto grau de
do consciente, muitas vezes só as mäos são
crispação
de capazes
fantasia." Quandoo ego no se acha muito
teoria das quatro
atingido, a
funções de orientação da consciência
no mundo interior-
pensamento, sentimento, sensação,
intuição, se bem utilizadas em atividades que as mobi-
lizem de acordo
deficiências, poderá ajudar
com suas

bastante individuo a obter melhor


o
equilibrio psíquico.
Parece-me que a psicoterapia concede ainda muito
pouco valor à açào orientada com
objetivo terapêutico.
Despreza um belo campo de pesquisa.
Aplicando à terapèutica ocupacional as descobertas
de
Jung abrem-se novas
perspectivas para este metodo,
tanto para neurOticos como
O
para psicóticos.
exercicio de atividades
poderá enriquecer-se de
importante significação psicológica. Compreender-se-a,
por exenplo, valor terapèutico que virá adquirir a pro-
o

posta ao doente mais regredido de atividades vivenciadas


eutlizadas pelo homem
primitivo para exprimir suas
VIolentas emoços

89
88
Dentro
de
artistas
de E n g e n h o
9

O diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo visitou


o estúdio de pintura eescultura do Centro Psiquiátrico do
Rio e dúvida em atribuir valor artístico verdadei-
não teve
ro a muitas das obras
realizadas por homens e mulheres
aí internados. Talvez esta
opinião de um conhecedor de
arte deixe muita
os
gente
loucos são considerados
surpreendida
e
perturbada.
E que
comumente seres embruteci-
dos e absurdos.
Custará admitir que indivíduos assim
rotuladosem
hospícios sejam capazes de realizar alguma
coisa comparável às criações de
Se
afirmem legítimos
artistas que
justamente no domínio da arte, a mais alta
atividade humana.
EXaminemos de perto se de fato loucos e normas
undamentalmente diferentes. sao

Todos temos
nstantes
a
experiència do sonho. Nos seus breves
podem ser vividos os mais recônditose
SIveis
desejos, encontram meio de impos
aencias mais expressão nossas ten-
Se o
profundas. Através do sonho manitesta-
inconsciente, usando velha lingua das
a
tao mais imagens
antiga que das palavras. Fundem-se estas
a
im
91
de mascara a o
gens em estranhas figuras, umas servem entram em conflito cotn
Outros seres igualmente
os mes-
outras, representam muitas de maneira constante evadem para reinos inaginarios Mas
mundo exterior e se

m o s pensamentos c o m o n o s hieróglifos.
Mas apenas se da fantasia tornam-se

subterrâ-
ai perdem. Neles, as produções
se
abrem olhos, voltam todas para s e u mundo
Os mais vivas, mais poderosas que as cOisas objetivas Inva
são de
neo. Os delirios, s e os estudamos atentamente, dem a esfera da consciència com tanta força que o indi
pela vigîlia. Na sua
certo modo sonhos prolongando-se Pertur.
já não as distingue das experincias
reais
viduo
ilógicas,
de idéias ponto de vista do
encaradas do soCial-
bam-se assim s u a s relações com meio
trama o pussiatn
adulto civilizado desperto, descobriremos o sentido da a ser chamados loucos.
sob o disfarce
realização de desejos tal qual n o sonho, Outra prova de que apenas questào de grau, de per
dos mesmos mecanismos psicológicos. transitoriedade estados semelhantes di-
manência ou em

de certas religiões do Oriente costumamm


Os adeptos ferenciam normais de psicóticos é esta própria exposi
concentrar-se em longas meditações durante as quais
ção. Por que vos emocionais contemplando estes
pensamentos se tornem visí-
acontece não raroque Os
desenhos, estas pinturas e esculturas? Decerto entre os

forma e cor.Se estes fenômenos se for- motivos de vossa emoção está que eles despertam resso-
veis, adquiram
distin-
massem numa condição permanente seria difícil nâncias, que fazem vibrar em cada um cordas afins. Este
los de sintomas psicóticos. Entretanto o adepto foi é um dos caminhos pelos quais as obras de arte nos
gui
formas e cores são vazias ainda atingem. Se Hamlet continua através dos séculos abalan-
instruido de que essas

representem deuses
ou ancestrais. Após as inten- do profundamente os públicos do mundo inteiro, explica
quando
retoma suas
de meditação ele a psicanálise, é que o forte sopro poetico dessa tragédiu
s.as Cxperiencias das horas
os segre- toca em cheio
CupaçOCs
diarias sem que ninguém
conheça o
complexo de incesto comum a todOs Os

faz é um
humanos. Os poetas ouvem as vozes abafadas do
vida interior. Por tudo quanto diz ou seres
dos de sua
inconsciente e exprimem para os demais seus
homenm s e n s a t o e
sabio. oprinidos
extraordinário.
Seus desejos. Parece mesmo haverem herdado de Homero o
e certamente um ser
Oartista
amoldam ao principio privilégio de descer aos infernos e voltar à luz do sol
instintivos não se
fortes impulsos mundoda contando aos mortais o
rebelde foge para o que viram naquelas regioes tene
da realidade.
Insatisfeito e
livremente. brosas. Assim Fausto, ansioso de
evocar HHelena, mergu-
onde lhe dado viver suas desejos ha no mais
1antasia
é
necessidade de
comuni- profundo dos abismos onde habitam as figu
de amor, exigente ras
primigenas das m es. E
de nov aonosso estremecimento
Vnculos
MAS
atraem
o de medo
semelhantes o que sente ante essas deusas
a a o Com ses
trazendo-nos a
dádiva de suas
Se movem
poderosas ao redor de
quem
TLuno E ele retorna,
o r a quase nuas
oia
as
imagens da vida comunica-se
leitor do ao
apresenta drama inmortal. Esses
mesmos
entur.as
subjetivas que
Parece
mesmo
encontrar pra ciente coletivo arquétipos que do incons-
ailamente
veladas. entendenn
c
emergem como relâmpagos nas visóes de
72li quando outros
o poetas, de pintores, vêm
exihr las alegra-se "caminhode dor de constituir o conteúdo avassala-
pois neuroses e
T artistica seria psicoses.
NAde11m
A atividade (Freud).
realidade"
c n u u z
da
fant.asia à
93
paredes ou em juakquer pequeno peaço de papel que
Talvez muitas das obras aqui apresentadas causem a inacessiveis, ce c o n
Ihes caia nas màos. Mesmo os mais
impressäo de estranheza inquietante que acompanha a dificil, raro deixam de desenhar se lhes entrega-
tato mais
manifestação de coisas conhecidas no passado porém material necessárico. Este fato curioso explica-se
mos o

que jaziam ocultas (conceito do sinistro segundo Schel- quando nos colocamos no ponto de vista da psicopatoo
ling e Freud). Presumimos obscuramente possuir no fun- gia genética,
admitindo o c o r r e r e m nas psicoses proces-

do de nós mesmos imagens semelhantes. Exemplos deste reconduzem o individuo a fases an-
sos regressivos que
tipo são os desenhos evocadores de figuras míticas que
teriores do seu próprio desenvolvimento o u mesmo da
acreditávamos superadas que representam desdo- ou os
evolução da humanidade. O pensamento abstrato, aqui-
bramentos da personalidade, reveladores de épocas psí mais recente, cede lugar na doença ao pensamento
sição
quicas primitivas quais ego ainda não se havia
nas o
concreto, isto é, as ideias passam a apresentar-se sob a
nitidamente delimitado em relação ao mundo exterior. Se forma de imagens (aliás o mesmo acontece no sonho
a beleza de outras formas fasci- nos estados intermediários entre sono e vigilia). Uma vez
certas figuras angustiam,
ou anéis
estruturas concèntricas, círculos cindido e submerso o pensamento lógico, fica sinulta-
na. Ressaltam
e m sânscrito mandalas, imagens neamente prejudicada a linguagerm verbal que é o
mágicos, denominados hindus e chi-
seu
totalidade psíquica. Místicos instrumento de expressão. Desde que seu pensamentob
primordiais da artístico como
mandalas de rico valor flui agora em imagens, o indivíduo muito naturalmente
n e s e s utilizam
de idêntica con-

instrumento de contemplação. Imagens usará exprimir-se reproduzindo-as. Pode projetá-las


en-
de jovens e sadias
n a s mind pictures tretanto sem nenhum intento de comunicar-se com
figuração surgem n u m estado
de ou-
vêem de olhos fechados, trem, impulsionado por mera tendência
inglesas que as
e m experièn- fisiológica à ex-
que precede
o sono,
teriorização. Neste caso os desenhos nascem
repouso próximo
ao

de u m a escola
secundária
um só jato,
inteiros de
cias feitas nas aulas de pintura
eternos da humani
cores são
multiplicam-se em número espantoso e suas
Símbolos
Head). mentais quase sempre muito vivas. Mas
feminina (Herbert apenas
também pintados
por
doentes
começa a
lançar frágeis
o ego
modelos interiores vêm pontes para
com-

dade aparecem
esquizofrênicos
brasileiros mundo real, aas
o

europeus
(Jung) e por
do s í m b o l o
religioso
orien-
riOr
recordados
juntar-se objetos do mundo exte-
sempre ou vistos no
presente,
d e s c o n h e c e d o r e s

pletamente
debruçam
sobre si
próprios
estar o

depositárias
nui
se
faz-se através
e a
trabalho mais demorado,produção dimi
tal. Os que
se
imagens
dessa
categoria,
de
milênios. enriquece de nuanças. Esses o colorido
e n c o n t r a r
através
Começam sinais indicam
sujeitos a individuais

dos
artistas
a ser
dados no caminho que passos
vivências
pintura desenho ou de volta à
pintura realidade,
i n u m e r á v e i s

a fantasia
de entre
da cional. A estão
tornando
inevitáveis

sonho e se
sentido de atividade artística linguagem
analogias do
Daí as
do r e i n o
pelosdestila
del- emo-
poderá mesmo adquirir o
modelos
os
um
que
preferem desgarraram

verdadeiro processo
Compreende-se
se
d a q u e l e s que
ea pintura mentais
que bus estúdios de pois a imp curativo.
os de tais
mundos.

de
doentes
sobre
a5
pintura e de esc nportîncia da instalação de
número

scultura
d e s e n h a r e m

o
nos
Surpreende

e x p r e s s ã o
gráfica.
E
freqüente

hospitais psi
siquiá
Cam
95
94
mecanis-
tricos, tanto para meio de estudo de obscuros dos. Nas
mos psicopatológicos que se tornam patentes nas produ- melhores dessas
de colchas muito brancas
casas vêem-se leitos forrados
ções plásticas, quanto pela função terapêutica
de que a corredores de soalho
e

se reveste.
síssimo. procure saber como correrm ftustro
Mas que
se

própria atividade artística muitas vezes habitantes as longas horas dos dias, durante para seus
Levantar-se-á talvez a pergunta: Se nascem no in-
a fio. Venha-se ve-los
meses e anos
louco é vagando nos pátios amurados, tais
consciente as fontes de toda a inspiração e o
fantasmas. Pois a verdade é que as tentativas
torrentes subterrâneas,
de psicote
aquele que foi invadido pelas rapia e ocupação terapeutica feitas nos
nossos hospitais
em condições de
então estaria ele mais que ninguém têm apenas o valor de amostras do que
basta sonhar acordado,
poderá ser reali-
criar obras de arte? Decerto não zado, não chegando ainda a adquirir significação dadoo
falar a lin-
ter contato íntimo com imagens primígenas, reduzido número de beneficiados em face da
dos símbolos, sofrer a tensão de inten-
imensa
guagem arcaica maioria desatendida.
Trate-se de artistas sadios ou de artistas
conflitos. Esta situação decorre
de se haver admitido
sos
misterioso o dom de captar as qua-
arbitraria
doentes permanece mente que nos doentes mentais se tenham
dos modelos extinguido as
lidades essencialmente significativas seja múltiplas necessidades humanas além de dormir, comer
mundo exterior. Haverá
interiores seja dos modelos do e
quando muito trabalhar em oficios rudimentares. Entre
indi- entre os
doentes artistas enão-artistas, assim como tanto só os
poderes da inércia favorecem a aceitação
fronteiras
mantêm dentro das imprecisas conformista desse estado de coisas.
víduos que se de criar for- Ninguém ignora a
possuem a força extraordinária renovação da
da normalidade só alguns psiquiatria realizada por
de suscitar emoções naqueles que Freud e Bleuler desde
mas dotadas do poder primeiros anos do século. Até
os
então se aceitava que
demência a
as contemplam.
fato fundamental, os
mais estra- nia)conduzisse inexoravelmente à precoce (esquizofre-
Voltemos a acentuar o
em mento da demência e ao apaga-
encontrados nas doenças do espírito afetividade. Hoje está demonstrado
nhos fenômenos mecanismos que tam após longos anos de que mesmo
qualitativamente
de doença a inteligência pode
nada diferem
na vida
psíquica
normal. var-se intacta
para prova os
e
sensibilidade
a conser-
vivíssimas. E aqui
ser surpreendidos
bém podem estrutura
psíquica que nossos artistas: estão
Nessas doenças
såo mudanças na
emergem im
e anos.
Raphael doente Emygdio internado há 25
desde
corem.
Estados pretéritos
da evolução
de sentir,
percener diagnóstico
Os
de esquizofrenia. os 15 anos, ambos sob o

suas
maneiras
correspondentes

tornam-se
inap"
raizes em
hospitais, porém,
pxm atingidos
continuam
já superadas, seguindo rotina
gre-
assim
isso são Seg Ccultura atualconcepções
individuos
cpensar.
Os
e por
de
vida social dos médicos. muito distantes
nosso tipo de entend&-los concluiu
Seja a da
tos para o
se
procurasse
entendë-
inteligënca c
em

de exposição agora Cumpre reformá-los.


8adas. Antes que e a
c
e d i f i -

apelo neste apresentada uma mensagem


sentido, dirigida
embotada
e

que
tinham a
afetividade

muito
bem
habilitando

alu
enta-

participaram intimamente todos que aqui


a
Estariam
portanto
abrigados
e
do vieram
Nunas.

prisdes
chamados
hospitais,
encantamento de formas
C 97
96
c de cores criadas por seres humanos encerrados nos

tistes lugares quc são os hospitais para alienados.

in Catálogo da exposição
9 atistas de Engenho de Dentro
Rio de Janeiro, dezembro de 1949

Este livro foi cidade


impresso na
do Rio
de Janeiro, em julho de 199%,
por
Markgraph, para Relume-Dumará Editores.
ipo 454do no textoéo
papel do miolo é
Garamond ITC no corpo 1014.
o Pölen Bold 90
Cartao
Supremo 250 grumas'm2,
gramas/mé e da cafpa
\iomcuda
Maryues
pela Cla. Suzano ambs fabricados
de Papel e Celulose
de e fornectdos
rohl por Papéis Mile Um.

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