Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bizarro, 2023 - Prefácio & Cap. 1
Bizarro, 2023 - Prefácio & Cap. 1
( ( :laltclio Junior
( Villa i t uej
l(evtsao:
Lisiane
l)ivulgaçào da ciência e literacia psicológica / t.isiane Bizarro, Mailton
Vasconcelos, Maria Adélia Minghelli Piela, l, ed, SáOPaulo:
2023.
352 p. 23 cm.
Inclui índice
ISBN 978-65-89092-62-9
l. Comunicação na ciência. 2, Literacia científica Psicologia.
I. Vasconcelos, Mailton, II. Pieta, Maria Adélia Minghelli, III 'Vítulo.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzidaou transmitida por qualquer forma ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópias e gravaçào) ou arquivada
em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita.
ISBN:978-65-89092-629
Impresso no Brasil.
Sumário
Prefácio
28
2. Pensamento crítico, ciência e pseudociência na psicologia
Gustavo Gauer e Martina Hummes Bitencourt
48
3. Comunicando incerteza e complexidade
MariaAdelia Minghelli Pieta e Mailton Vasconcelos
Sobre os autores
339
índice
347
Prefácio
A chegada deste livro não poderia ocorrer em melhor hora. Ainda que
a necessária discussão sobre a literacia científica seja um tema tradicional,
com pesquisa científicamulti e transdisciplinar,o assunto se tornou agudo
em razão da pandemia da Covid-19.Minha esperança é que se torne um tema
crônico, conversadoe debatido anteriormente à entrada no ensino superior,
abordado sistematicamenteao longo de toda a formação universitária. Faço
esta análise em um panorama geral, considerando a necessária qualificação
do debate público a respeito de temas que exigem cooperação em muitos ní-
veis, como o combate a uma pandemia ou o enfrentamento do aquecimento
global, Tais assuntos escancaram a necessidade de o público compreender as
orientações científicas,o que requer um mínimo de literacia científica.
Analisando especificamente a profissão da psicologia, que apenas existe
em decorrência da ciência psicológica, a promoção da literacia psicológica
é urgente. Como apropriadamente nos lembram Bizarro e Oliveira no Ca-
pítulo 18, são mais de 400 mil psicólogos inscritos no sistema de conselhos
de psicologia do Brasil, aptos a exercer a atividade profissional. Milhares
de novos profissionais passam a fazer parte do sistema a cada ano, conside-
rando que atualmente existem no Brasil mais de 528 cursos de Psicologia,
o que totaliza mais de 40 mil concluintes anuais (https://download.inep.
gov.br/educacao_superior/enade/relatorio_sintese/2018/Psicologia.pdf).
A carreira de psicologia tem atraído milhares de jovens todos os anos, con-
siderandoque a profissão está em um momento de alta demanda social.
Todo esse cenário ressalta a importância da promoção da literacia psico-
lógica entre estudantes e profissionais da psicologia. Essa urgente necessi-
dade tanto se dá pela já reconhecida carência de formação científica nos
cursos, como descrito por Bizarro e Pieta no Capítulo 6, quanto pelo fato
de que o campo de atuação em psicologia, em suas diferentes áreas, ser
su-
jeito a práticas não científicas e, como muito bem nos alertam Gauer e
Bi-
tencourt no Capítulo 2, especialmente aquelas que se travestem como
cien-
tíficas,mas não sustentam esse predicado. Como enfatizam Bizarro
e Pieta
no Capítulo 6, a aplicação ética das atividades profissionais do
psicólogo
requer que elas sejam sustentadas cientificamente, de forma a
promover o
melhor possível, em determinado momento histórico do
desenvolvimento
da ciência psicológica. Para se alcançar esse imperativo ético,
a literacia é
condição necessária.
8 Divulgaçéo da ciência e literacia psicológica
Referência
Henrich,J., Heine, S. J., & Norenzayan, A. (2010). The weirdest people in the world?
Behavio-
ral and Braill Sciences, 33(2-3), 61-83. https://d0i.org/10.1017/S0140525X0999152X
Divulgação científica e literacia psicológica:
definições e aplicações
L ts:ane Bizarro
MailtonVasconcelos
Maria Adélia Minghelli Pieta
Introdução
No levantamento Percepção pública da no Brasil -- 2019, apenas cerca de
10%dos brasileiros sabem dizer o nome de um cientista brasileiro ou de alguma
instituiçãoque faça pesquisa (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2019).
Será que psicólogas e psicólogos saberiam dizer o nome de cientistas da psicob
gia no Brasil ou onde trabalham e o que investigam?Não são poucos! Segundo
o ScimagoJournal & Country Rank, a produção científicabrasileira na área da
psicologia está há anos em 110 lugar em uma lista de 186 países. Isso sugere que
o Brasilestá entre os 10% que mais produzem conhecimento em psicologia no
mundo. Muito desse conhecimento é sobre a realidade do Brasil, problemas bra-
sileiros.Esse conhecimento está disponívele tem sido regularmente produzido
e publicado,especialmente nos últimos 30 anos. Este livro tem como objetivos
difundir a literacia psicológica e incentivar a divulgação da ciência na psicologia.
Nesta obra, utilizamos as expressões divulgação da ciência e literacia psico-
lógica.De maneira geral, a divulgação da ciência é entendida como a dissemi-
nação, ao público não especializado, de informações relacionadas a temas de
ciência.De fato, essa já foi uma definição aceitável, mas atualmente é conside-
rada incompleta. Reconhece-se, hoje, a complexidade das relações envolvidas
na difusão desses conhecimentos. A divulgação científica foi se desdobrando
conformeo papel da ciência na sociedade foi se modificando. Adquiriram im-
portância o papel da audiência e a formação do divulgador,a percepção pú-
blica da ciência e a interface com a mídia, os usos do conhecimento científico
(econômicos,políticos, militares, educacionais, comerciais etc.), as limitações
no processo de produção desse conhecimento: riscos, controvérsias, questões
éticas, culturais, econômicas, sociais e políticas (Massarani & Moreira, 2004),
14 Divulgaçãoda ciência e literacia psicológica
Literacia psicológica
A literacia psicológica é a capacidade de um indivíduo utilizar os conceitos
da psicologiapara promover o bem-estar e o desenvolvimentopleno para si
mesmo,para seus relacionamentose para a sociedade em geral (Cranney &
Dunn, 2010). Ou seja, como observamos o conhecimento da psicologia no
dia a dia e o que fazemoscom ele. A expressãoteve origem na década de
1990, quando Alan Boneau compilou cem termos básicos da psicologia para
estudantes de psicologia. A origem da expressão literacia psicológica surgiu
no contexto da década de 1990, portanto com uma preocupação voltada para
o ensino da psicologiacomo ciência,em uma época em que a alfabetização
científica ou literacia científica significava ensinar o bê-á-bá, os princípios fun-
damentais da ciência.
Foi na década de 2010 (Cranney & Dunn, 2010) que a literacia psicológica
passou a definir a capacidade de estudantes de psicologia para observar e uti-
lizar os conceitos da psicologia na própria vida, pois a divulgação da ciência
passou a ser mais do que ensinar o bê-á-bá.Além da formação continuada so-
bre os temas da psicologia e o vocabulário adequado, saber localizar e avaliar
as informaçõescientíficas,utilizar habilidadesde resolução de problemas e
de pensamento crítico, um cidadão psicologicamente letrado age eticamente,
reconhece, compreende e acolhe o respeito à diversidade ao comunicar efeti-
vamente (Cranney & Dunn, 2010).
Nessa época, a divulgaçãocientíficapassou cada vez mais a ter a função
de democratizar o acesso ao conhecimento científico e estabelecer
condições
para incluir os cidadãos no debate sobre temas especializadosque
podem
impactar sua vida e seu trabalho (Bueno, 2010). Não podemos deixar
de con-
siderar a ampla influência da ciência da informação e da ciência
cognitiva na
compreensãodo que é informação e como processamos informações
para
melhorar a tomada de decisão tanto de indivíduos quanto de
sistemas sociais
mais complexos (Lima, 2003). A ciência passou a fazer parte
do dia a dia, e a
psicologia não ficou de fora.
A literacia psicológica influenciou currículos, especialmente
na Austrália
e no Reino Unido (Karandashev, 2011; Dunn et ala, 2011;
Taylor & Hulme,
2015), ainda que a avaliação da literacia psicológicacontinue
sendo um de-
(In cié1Wiae literacia psicrológica
16
Se você acha que ainda sabe pouco para divulgar a ciência e estimular a
literacia psicológica, explique isso às pessoas ao seu redor. Em nosso país,
temos 11 milhões de analfabetos e a média de anos de escolarização é 9,4
e com grandes diferenças regionais. Nesse contexto, uma pequena ação sua
pode fazer uma grande diferença.
Referências
American Psychological Association (2021 ). Role ofpsychology and APA in dismantling system-
ic racism against people of color in U. S. https://www.apa.org/about/policy/resolution-dis-
mantling-racism.pdf.
Banyard, P., & Hulme, J. A. (2015). Giving psychology away: How George Miller's vision is
being realised by psychological literacy. Psychology Teaching Review, 21 (2), 93-101.
Boneau, C. A. (1990). Psychological literacy: A first approximation. American Psychologist,
45(7), 891-900. https://doi.org/ 10.1037/0003-066X.45.7.891
Borghi A. M., & Fini C. (2019). Theories and explanations in psychology. Frontiers in Psychol-
ogy, IO, Article 958. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.00958
Bueno, W. C. (2010). Comunicação científica e divulgação científica: Aproxi-
mações e rupturas conceituais. Informação & Informação, 15, 1-12. https://doi.
org/10.5433/1981-8920.2010v15nesp.p1
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (2019). Percepçãopública da C&T no Brasil - 2019.
https://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/CGEE_resumoexecutivo_Percep-
cao_pub_CT.pdf
Cipresso, P., & Immekus, J. C. (2017). Back to the future of quantitative psychology and meas-
urement: Psychometrics in the twenty-first century. Frontiers in Psychology, 8, Article 2099.
https://d0i.org/lO.3389/fpsyg.2017.02099
Correa, J. C., Laverde-Rojas, H., Tejada, J., & MarmolejoRamos, F. (2022). The Sci-Hub ef-
fect on papcrs' citations. Scientometrics, 127, 99-126. https://doi.org/10.1007/s11192-020-
03806-w
Cranney, J., & Dunn, D. S. (2010). The psychologically literate citizen: Foundations and global
perspectives. Oxford University Press.
Dunn, D. S., Cautin, R, L., & Gurung, R. A. R. (2011 ). Curriculum matters: Structure,
content,
and psychological literacy. In J. Cranney & D. S. Dunn (Eds.), The psychologically
literate
citizen: Foundations and global perspectives (pp, 15-26). Oxford University Press.
https://
doi.org/lO.1093/acprof:oso/9780199794942.003.0017
Durant, J. (2005). O que é alfabetização científica? In L. Massarani, J.
Turney, & I. C. Moreira
(Eds.), Terra incógnita: A interface entre ciência c público (pp. 13-26). Vieira
& Lent, UFRJ,
Casa da Ciência, Fiocruz.
Gomes, W, B. (2021). Pluralidade de objeto versus pluralismo de
concepções em teorias
psicológicas. Memorandunt: Memória e História em Psicologia, 38, 1-19.
https://doi.
org/lO.35699/1676-1669.2021.25462
26 Divulgação da ciência e literacia psicológica
Newell, S. J,, ChutA lanscn, A., & Strelan, P. (2021 ). A construct validity analysis of the concept
of psychological literacy. Australian Journal of Psychology, 73(4), 462474. https://doi.org/
10.1080/00049530.2021.1922069
Packet%A. 1.„,Cop, N., Luccisano, A., Ramalho, A., & Spinak, E. (Eds.) (2014). SciELO - .15
anos de accsso abcrto: Um cstudo analitico sobre acesso aberto e comunicagäo cientifica.
Unesco. http://dx.doi.org/10.7476/9789237012376
Pedruzzi, L. O. Q, & Raicik, A. C. (2020). Sobre a natureza da ciéncia: Assergöes comentadas
para uma articulaq•äocom a hist6ria da ciéncia. Investigacöes em Ensino de Ciéncias, 25(2),
19 55. http://dx.doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2020v25n2p 19
Pilati, R. (2018). Ciéncia e pseudociéncia: Por que acreditamos naquilo em que queremos acreditar.
Contexto.
Porto. C. M. (2009). Difusüo e cultura cientifica: Alguns recortes. Edufba.
Rabelo, A. (2022). Ser hunmno: Manual do usuårio, Planeta.
Santos, B. S., & Meneses, M. P. (2010). Epistemologiasdo Sul. Cortez.
Sasseron, L. H., & Carvalho. A. M. P. de (2011). Alfabctizaqäo cientifica: Uma revisäo biblio-
griifica. Investigacöes em Ensino de Ciéncias, 1), 59-77.
Schiltz, M. (2018). Science without publication paywalls: cOAlition S for the realisation of
full and immediate Open Access. PLOSMed, 15(9), e1002663. https://doi.org/10.1371/
journal. pmed. 1002663
Stocking, S. H. (2005). Como os jornalistas Iidam com as incertezas cientificas. In L. Massara-
"l'urney, & l. C. Moreira (Eds.), Terra incögnita: A interface entre ciéncia e püblico (pp.
161A82).Vieira & Lent, UFRJ, Casa da Ciéncia, Fiocruz.
Taylor. J., & I lulnw, J, A. (2015), Psychological literacy: A compendium of practice. [Unpub-
lishedl. http://eprints.bournemouth.ac.uk/22906/
Teixeit•asF. M. (2013). Alfabetizagäo cientifica: Questöes para reflexäo. Ciéncia & Educacäo,
19(4). 795 809. https://d0i.org/lO.1590/S 1516-73132013000400002
Vilela. M. L., & Selles, S. E. (2020). É possfvel uma educaqäo em ciéncias critica em tempos de
cientifico? Cadcrno Brasileirode Ensino de Fisica, 37(3), 1722-1747.https://
doi.org/10, 5007/217 1722