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Literatura Infantil 3
Literatura Infantil 3
INFANTIL
INICIAR
introdução
Introdução
Olá, caro(a) aluno(a)! Mais uma vez, nos encontramos! Nesta parada, abordaremos as
produções literárias de autores brasileiros voltadas às crianças.
Iniciaremos com Monteiro Lobato, considerado por muitos críticos como o “pai da literatura
infantil do Brasil”. Esse autor construiu uma obra belíssima e extensa para as crianças, por
meio da criação de Sítio do Picapau Amarelo, lugar onde a magia misturava-se com o real,
sendo porta de entrada e saída para seres mágicos, imaginários e fantásticos. No sítio, tudo
podia acontecer, começando pelos seres que o habitavam. Em um segundo momento,
trataremos do realismo mágico presente nas obras de Monteiro Lobato voltadas à criança.
Por fim, veremos as contribuições de Cecília Meireles, poetisa brasileira que lutou por um
ensino de qualidade em seu período, chegando a assinar o Manifesto dos Pioneiros da
Educação em 1932 e fundando a primeira biblioteca infantil do país.
Esta unidade está imperdível! Conto com você nessa viagem pela trajetória da literatura
infantil do Brasil e seus desdobramentos. Vamos lá?
Monteiro Lobato: Vida e Obra
José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu na cidade de Taubaté, estado de São Paulo, no
ano de 1882. Tendo em vista os estudos, o prosador mudou-se para São Paulo, onde estudou
Direito. Concomitantemente, na Faculdade do Largo São Francisco, compôs o grupo literário
Minarete e iniciou algumas atividades ligadas à imprensa. Atuou, por um tempo, como
promotor em Areias, cidade interiorana do Vale do Paraíba. Após herdar uma fazenda de seu
avô, dedicou-se, também, à agricultura.
Em 1912, Monteiro Lobato publicou o artigo Velha Praga, no jornal O Estado de São Paulo, a
respeito das queimadas no campo, assunto que provocou grande polêmica e, ao mesmo
tempo, contribuiu para que o referido autor escrevesse outros artigos. Ainda neste ano, o
mesmo jornal lançou o conto Urupês, que trazia a personagem Jeca Tatu. Em 1918, morando
em São Paulo, Monteiro Lobato publicou seu primeiro livro (Urupês), comprou a Revista do
Brasil e fundou a primeira editora brasileira, a Monteiro Lobato & Cia. Em 1922, publicou
duras críticas à arte de Anita Malfatti, que se apresentou na Semana de Arte Moderna de São
Paulo.
No período de 1927 a 1931, Monteiro Lobato residiu em Nova Iorque. Ao regressar ao seu país
de origem, partiu para a exploração de recursos minerais e fundou o Sindicato do Ferro e a
Cia. de Petróleos do Brasil, provocando entraves com multinacionais e um certo mal-estar no
Governo. Nesse período, nasceu um livro-denúncia intitulado O Escândalo do Petróleo, que
culminou em alguns meses de prisão para o autor. Monteiro Lobato, por vontade própria,
exilou-se em Buenos Aires, por um tempo. Na cidade argentina, escreveu artigos para jornais.
No ano de 1948, morreu, abruptamente, em São Paulo.
Monteiro Lobato pode ser considerado um autor pré-modernista, pois, em sua obra,
aparecem temas que abordam o regionalismo, as mazelas e as desigualdades da sociedade
oligárquica da Primeira República. Na vertente regional, Monteiro Lobato apresenta o Brasil
rural do século XX, em especial da região do Vale do Paraíba, no interior do estado de São
Paulo. Em seus escritos, revela sátira, ironia e sentimentalismo em relação aos costumes e ao
povo da região.
No conto Urupês, por exemplo, Monteiro Lobato faz a caricatura do caboclo Jeca Tatu,
representante do homem interiorano. Jeca Tatu é o caipira que, marginalizado social e
historicamente, não tem direito à educação, vive mal e é passível de contrair doenças. Além de
denunciar a condição de alguns caipiras da região, o conto aborda, também, a situação do
negro após a abolição. Preocupando-se com o povo e com o seu desenvolvimento social e
mental, Monteiro Lobato passou a ser um grande divulgador da ciência e do progresso do
país.
Nas palavras de Zilberman (2005, p. 29-30), o escritor “[...] foi, desde os primeiros livros, como
Urupês, de 1918, um ferrenho crítico das mazelas nacionais; mas nunca deixou de colocar o
país no centro de seu pensamento, procurando verificar o que era melhor para a população”.
Sobre o estilo de sua prosa, pode-se afirmar que é moderno no que se refere à ideologia. Já
no que diz respeito à forma, a sua narrativa apresenta objetividade, além de um
"vernaculismo camiliano", semelhante aos moldes naturalista e parnasiano.
Além do exposto, nas obras de cunho infantojuvenil há uma fusão entre a fantasia e o
pedagógico, tendo por característica o caráter moralista e doutrinário, bem como o reflexo da
sua luta pelos interesses nacionais. Uma das obras mais significativas da Literatura
Infantojuvenil de Monteiro Lobato é Sítio do Picapau Amarelo, na qual o autor narra várias
aventuras, as quais ligam-se, metaforicamente, aos problemas do país.
É notório que Monteiro Lobato é um dos grandes autores de Literatura Infantil. Nas palavras
de Zilberman (2005, p. 26), o escritor pode ser considerado o “[...] primeiro grande autor para
a infância brasileira”, devido ao seu projeto literário. Em suas obras, é possível verificar a
retratação de aspectos do nosso país, de cunhos geográficos, sociais e culturais.
“Ao contrário dos clássicos estrangeiros, ele não recriou seus contos de outros; ele os criou. Embora
se utilizasse do rico acervo maravilhoso da Literatura Clássica Infantil de todo o mundo, a inspiração
maior e básica de Lobato foi a própria criança, os motivos e os ingredientes de sua vivência: suas
fantasias, suas aventuras, seus objetos de jogos e brinquedos, suas travessuras e tudo o que povoa a
sua imaginação... Reencontrou a criança, amealhou toda a riqueza e criatividade de seu mundo
maravilhoso e construiu um universo para ela, num cenário natural, enriquecido pelo Folclore de seu
povo, aspecto indispensável à obra infantil”.
CARVALHO, B. V. de. A Literatura Infantil: visão histórica e crítica. 2. ed. São Paulo: Edart, 1983, p.
133.
Considerando o excerto apresentado a respeito da literatura produzida por Monteiro Lobato, analise
as afirmativas a seguir:
I. Monteiro Lobato, além de escrever para as crianças, criou para elas um mundo repleto de fantasia,
personagens e histórias mágicas.
II. De modo geral, pode-se afirmar que Monteiro Lobato preocupava-se com a renovação literária do
país.
III. Por conter o fantástico, a criança está isenta de imaginar, visto que os livros de Monteiro Lobato já
apresentam essa característica.
a) I, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Monteiro Lobato e a Obra Sítio Do
Picapau Amarelo
Quando abordamos a história da Literatura Infantil no Brasil, o autor Monteiro Lobato é uma
grande referência, visto que é considerado o precursor da literatura para crianças e, até os
dias de hoje, suas narrativas encantam o público infantil, por meio dos livros e de suas
adaptações.
No ano de 1920, o autor lançou a obra A menina do narizinho arrebitado, o primeiro livro dos
17 voltados ao público infantil. Na época, o crítico Tristão de Athayde (pseudônimo de Alceu
Amoroso Lima) publicou n’O Jornal do Rio de Janeiro a seguinte nota:
Por ele a criança criará gosto pela leitura, sentirá que o livro não é apenas um
instrumento de disciplina, mas um campo maravilhoso para expansão de um
mundo interior, reprimindo ou apenas pressentindo. É um livro que estimula a
vida, que fecunda a imaginação, que desperta a curiosidade (ATHAYDE, 1921 apud
AZEVEDO; CAMARGO; SACCHETTA, 1997, p. 158).
Monteiro Lobato tinha em vista um didatismo inteligente e, por meio de suas narrativas,
educava e incentivava a imaginação e o gosto pela leitura de seus leitores. Por meio de suas
histórias, o leitor encontrava conforto e mensagens positivas e alegres, as quais eram
transmitidas por personagens icônicos e distintos.
Quadro 3.2 - Principais personagens da obra Sítio do Picapau Amarelo
Fonte: Elaborado pela autora.
As personagens criadas por Monteiro Lobato estão relacionadas ao folclore, aos mitos, e às
lendas que advêm da tradição oral. Com isso, o autor consegue aproximar o leitor de seu
universo fantástico, permitindo-lhe a formação de opinião e contribuindo para o
desenvolvimento psíquico e cognitivo do indivíduo.
Monteiro Lobato, considerando seu público-alvo, criou uma linguagem brasileira e popular,
tendo em vista as suas vivências residindo no interior de São Paulo. Além disso, suas histórias
são criativas, emocionante e irreverentes, pois trabalham com o imaginário infantil, visto que
há uma fusão entre o real e o imaginário.
No que diz respeito à obra Sítio do Picapau Amarelo, trata-se de um lugar independente e
autossuficiente que não pode ser localizado no mapa. Lá, tudo pode acontecer. O sítio é o
próprio Brasil, visto que Monteiro Lobato preocupava-se com as questões nacionais.
Nas palavras de Zilberman (2005, p. 29-30), o sítio “[...] é brasileiro, como se fosse uma
representação idealizada de nossa pátria. Em outras palavras, é o Brasil conforme o desejo de
Lobato, um Brasil sonhado, mas sempre um Brasil”.
A Menina do Narizinho Arrebitado, de 1921, é o primeiro livro voltado para crianças; e Os Doze
Trabalhos de Hércules, de 1944, é o último. Após a publicação de sua última obra, Monteiro
Lobato dedicou-se a organizá-las, falecendo em 1948.
[...] sua incursão pelo maravilhoso na obra infantil, não tem de ‘irracional’: ao
contrário, aproxima com habilidade insuperável o mágico e o real, fantasia e
realidade [...]. Em Lobato, a intertextualidade constante das formações discursivas
da história e da ficção anula as fronteiras entre o real e o sonho, o que aliás a
psicanálise freudiana pouco antes já enunciada.
De acordo com Coelho (2010, p. 249), os leitores de Monteiro Lobato “[...] sentiam identificados com
as situações narradas; sentiam-se à vontade dentro de uma situação familiar e afetiva, que era
subitamente penetrada pelo maravilhoso ou pelo mágico, com a mais absoluta naturalidade. Tal
como Lewis Carroll fizera com Alice no País das Maravilhas, na Inglaterra de cinquenta anos antes,
Monteiro Lobato o fazia no Brasil dos anos 20: fundia o Real e o Maravilhoso em uma única
realidade”.
I. Nas obras de Monteiro Lobato é por meio da fantasia que se instala o realismo, fantasia essa que se
une ao real.
II. Em suas obras, Monteiro Lobato utiliza o maravilhoso fantástico por meio da alegoria e o realismo
materialista por meio da objetividade.
III. A inserção do mágico no real pode ser visualizada em Sítio do Picapau Amarelo por meio das
personagens Boneca Emília e Visconde de Sabugosa.
IV. Utilizando a fórmula de Perrault e dos Irmãos Grimm, Monteiro Lobato criou suas histórias.
a) I, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
Clarice Lispector para as Crianças
Clarice Lispector (1920-1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia que se
naturalizou brasileira e pernambucana. Seu nome de batismo era Chaya Pinkhasovna
Lispector, e aqui ela adotou Clarice Lispector. A autora formou-se em Direito e colaborou em
jornais cariocas. Debruçou-se na escrita de diversos livros, e o primeiro deles foi Perto do
Coração Selvagem, publicado em 1944.
Clarice Lispector publicou mais de 20 livros de diferentes gêneros, dentre eles romances,
contos, crônicas etc. No que se refere à literatura voltada ao público infantil, publicou seu
primeiro livro em 1967, intitulado Mistério do coelho pensante. Seguindo a linha infantil,
publicou em 1969 o segundo livro, chamado A mulher que matou os peixes. Em 1974, lançou a
obra A vida íntima de Laura. Em 1978, publicou seu quarto livro infantil, intitulado Quase de
verdade. Por fim, publicou Como nascem as estrelas, em 1987.
A produção clariceana para crianças é composta por elementos de intertextualidades,
paródias e paráfrases; além disso, apresenta um aspecto inovador, uma vez que firmou uma
linguagem nova para esse gênero, que é voltado para um público específico.
Os livros infantis agradam a todos os leitores, visto que utilizam como narrador um adulto que
dialoga com as crianças, deixando clara a sua condição e abordando temas pertinentes a
todas as idades, como a liberdade, o direito de ser, a morte, a alienação, a inexorabilidade do
tempo etc.
As obras literárias infantis de Clarice Lispector, nas palavras de Araújo (2013, on-line), “[...]
sugerem que o adulto é que deve intrometer-se no mundo e nas sensações infantis para
compreendê-los, possibilitando, assim, novas propostas de relacionamento criança-adulto-
mundo”. Com isso, surge a presença de animais, os quais, muitas vezes, intitulam as histórias
e são livres para viver no mundo (remetendo-se àquela essência primitiva, ancestral e
inumana), livres da domesticação. Ao entrar na história, por meio da leitura, a criança, no
plano da alegoria, está lado a lado com os “bichos convidados” pela narradora.
Adentrando a obra A vida íntima de Laura, por exemplo, verificamos que a personagem galinha
reforça alguns questionamentos, os quais aparecem em outras obras, como “[...] a sinceridade
no tratamento com a criança, o questionamento do próprio gênero ‘literatura infantil’, o
equilíbrio entre a realidade e a fantasia, o papel da mulher, da dona de casa e o próprio
absurdo desse cotidiano” (ARAÚJO, 2011, on-line).
Temos que mencionar que a infância é uma temática que aparece com frequência na prosa de
Lispector, principalmente nos contos. Dentre as obras publicadas, as de literatura infantil não
são consideradas menores e estabelecem um diálogo com as obras destinados ao público
adulto. Podemos comparar e aproximar A vida íntima de Laura do conto clássico Uma galinha,
visto que ambos apresentam um tema semelhante: o ser feminino. Além disso, os dois contos
abordam a morte, porém de modo diferenciado, levando em consideração a linguagem e o
público leitor.
Em A vida íntima de Laura, a autora aborda as vivências e o dia a dia da galinha Laura, bem
como seus anseios e medos; por exemplo, tornar-se estéril e morrer. Essa temática aparece,
também, em Quase de verdade, quando a figueira passa a refletir acerca da maternidade, da
condição feminina etc. (ARAÚJO, 2013).
Há uma intertextualidade com Alice no país das Maravilhas, de Lewis Carroll, e, como paráfrase
de Alice, O mistério do coelho pensante reafirma valores da literatura infantojuvenil clássica,
aquela que teve sua origem nas fábulas, nos mitos, nos contos de fada, ou seja, histórias de
tradição oral, nas quais os mistérios e as magias são imprescindíveis para a sua existência.
Já a obra Como nasceram as estrelas trata-se de uma “coletânea” de histórias curtas, destinadas
à ilustração um calendário. Para cada mês do ano, há uma narrativa que resgata elementos da
cultura popular do Brasil, cujos protagonistas são: Saci-pererê, Uirapuru, Curupira, Iara,
Negrinho do pastoreio, curumins, animais (sapos, jabutis, onças, macacos, jacarés), dentre
outros, que lidam com as adversidades que colocam suas qualidades à prova. Nessas
narrativas, a autora, por meio da paródia, traz a metáfora da perplexidade humana e de seus
sentimentos diante dos fenômenos da natureza.
Quase de verdade, por sua vez, também traz alegorias de bichos, os quais apresentam tipos
humanos, por meio de sentimentos e ações. A temática existencialista é muito presente nessa
obra, uma vez que reflete sobre o medo, a morte, a existência, as diferenças sociais e
individuais etc. Nessa obra, Clarice entende Ulisses, o cachorro, e digita as suas histórias
No que se refere aos textos da autora voltados ao público infantil, é possível observar que há
algumas mudanças nos paradigmas sociológicos e culturais, uma vez que, por serem
razoavelmente curtos, apresentam um efeito único, causando impressões positivas no leitor,
como uma participação ativa na construção dos sentidos do texto.
As narrativas, no que diz respeito à forma textual, rompem com dogmas, valores e certas
temáticas comuns em sociedade. Nas palavras de Walter Benjamin (1985 apud CARVALHO,
2006, p. 19-20), “[...] as mudanças dos mecanismos de produção [afetam] de maneira decisiva
a arte de contar histórias”. Desse modo, os textos de Clarice Lispector requerem um leitor
ativo, ou seja, aquele que pensa, discorda, confronta e negocia os sentidos apresentados no
texto.
“Ao fazer o uso de histórias próximas à realidade do leitor, Lispector idealiza um leitor que se
coloque em diálogo com as dificuldades presentes no texto” (CARVALHO, 2006, p. 81). Assim
sendo, culturalmente, as narrativas possibilitam e colaboram para a formação de leitores
críticos e preocupados com os sentidos implícitos e explícitos nos textos, desde a tenra idade,
correspondente à infância.
Ainda nas palavras da estudiosa, “[...] Clarice Lispector revoluciona a literatura ao criar essa
nova conduta de leitura, responsável pela formação de um leitor profícuo, capaz de responder
às exigências do estilo dialógico permeado de elementos metalinguísticos” (CARVALHO, 2006,
p. 82).
Vale pontuar também que, para Lispector, não há uma diferença entre textos para crianças,
jovens e adultos, visto que o mesmo texto se direciona a todos os públicos (QUEVEDO;
AQUINO, 2010).
“[...] embora o universo das crianças esteja em jogo, não se trata, em absoluto, de histórias
protagonizadas por elas. As crianças representadas nas histórias de Clarice aqui consideradas,
estando, ou não, inscritas de forma singularizada nos textos, certamente não podem ser
consideradas personagens centrais dos acontecimentos narrados. Podem, às vezes, estar presentes
em comentários digressivos que convidam o leitor para a cena da escrita, embora fazendo parecer
que estão chamados para integrarem os acontecimentos da história”.
BARBOSA, S. M. Clarice Lispector e a literatura infantil. Cadernos de Letras da UFF - GLC, n. 27, p.
141-157, 2003, p. 143.
I. Nas narrativas clariceanas há a presença de animais, que são como irradiadores das tramas.
II. Nos textos de Clarice Lispector, é possível traçar pontos intertextuais entre as narrativas adultas e
as narrativas infantis.
III. Por escrever textos voltados à criança, Clarice opta por isentar reflexões sobre os problemas do
ser humanos, privilegiando a fantasia.
IV. Como nas fábulas, nos contos de Clarice Lispector há uma moral da história explícita.
A partir das afirmativas apresentadas anteriormente, podemos dizer que está correto o que se afirma
em:
a) IV, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
A Literatura de Cecília Meireles para
Crianças
Traçando uma linha do tempo, Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de
novembro de 1901. Perdeu o pai pouco tempo depois de nascimento e a mãe após completar
3 anos de idade, sendo criada por sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Cursou o
primário na Escola Estácio de Sá e recebeu das mãos de Olavo Bilac uma medalha do ouro,
por ter se destacado ao longo do curso.
No ano de 1917, formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro. Além disso,
dedicou-se à música, ao estudo de línguas e exerceu o magistério em escolas oficiais do
estado. Era uma educadora.
Cecília Meireles envolveu-se com a pedagogia moderna, assumindo também uma coluna
diária no jornal Diário de Notícias do Rio de Janeiro, intitulada Comentário. Posteriormente,
dedicou-se também à Página da Educação, no mesmo jornal, entre 1930-1933, comentando
em crônicas sobre a árdua tarefa de produzir literatura infantil, visto que tal estilo requer duas
coisas ímpares: ciência e arte.
Assim, escrever para crianças requer um artista, visto que é ele que tem a sensibilidade e a
intuição para criar e a capacidade de sugerir a beleza estética e, ao mesmo tempo, estimular a
imaginação. No entanto, a capacidade artística deve estar de “mãos dadas” com a ciência, ou
seja, deve-se conhecer os interesses e os gostos das crianças. Desse modo, o escritor saberá
escolher e distribuir as palavras, as construções textuais e os assuntos, para que possa
escolher, distribuir, graduar e apresentar os assuntos.
De acordo com a Pedagogia Moderna, o adulto deve conceder proteção e direção à criança, e
esta deve obedecer, visto que é concebida como um ser eticamente amoral, devido à
ingenuidade e à falta de consciência. Assim, há um contrato estabelecido: direcionamento em
troca de obediência.
Com a publicação do livro Criança, meu amor, no ano de 1924, Cecília Meireles deixa claro esse
contrato. Tal livro foi indicado como obra de leitura para as escolas públicas do Distrito
Federal. Nele, constam textos sob o título de Mandamento, os quais apresentam, de modo
acessível, os princípios de Jean-Jacques Rousseau. Por exemplo: “Mandamento II – Devo amar
e respeitar a professora como se fosse minha mãe. [...] Ela deseja ver-me instruído e bom; e
para isso trabalha [...]. A professora é a minha proteção e o meu guia [...]” (MEIRELES, 1977, p.
35).
A Pedagogia Moderna, da qual Cecília Meireles faz parte, postula que a boa educação é aquela
que estimula o amor pelo conhecimento, bem como a sua busca, por meio de métodos. Além
disso, devia-se formar um homem novo, por meio de um humanismo universal, e a literatura
infantil auxilia neste processo.
Um livro de literatura infantil é, antes de mais nada, uma obra literária. Nem se
deveria consentir que as crianças freqüentassem obras insignificantes, para não
perderem tempo e prejudicarem seu gosto. Se considerarmos que muitas
crianças, ainda hoje, têm na infância o melhor tempo disponível da sua vida; que
talvez nunca mais possam ter a liberdade de uma leitura desinteressada,
compreenderemos a importância de bem aproveitar essa oportunidade. Se a
criança, desde cedo fosse posta em contato com obras-primas, é possível que sua
formação se processasse de modo mais perfeito (MEIRELES, 1979, p. 96).
Conforme bem expõe Corrêa (s./d., on-line): “A função da literatura infantil é dar à criança o
acesso ao tempo da tradição, formando um humanismo básico e apontando para a direção
do homem de compreensão universal, base da fraternidade”. A literatura infantil, então, deve
trabalhar com o imaginário infantil, dar-lhe prazer espiritual e estético, além de apresentar-lhe
exemplos de moral.
Os poemas que compõem a obra Ou isto ou aquilo apresentam uma preocupação da autora
com a forma. Por isso, há ritmo, rimas adequadamente compostas, vocabulário seleto e a
presença de figuras de linguagem. Sua produção poética ultrapassa as fronteiras de espaço e
tempo, deixando um legado rico e significativo para a educação brasileira no que se refere à
educação e à literatura.
[...] fica claro que escrever para crianças nada tem em haver com simplificações
ou com algo que possa ser considerado como uma literatura que não mereça
prestígio e grande dedicação. Precisa-se, sim, de grandes poetas que, com a
sensibilidade que lhes é característica, escrevam para crianças, pois, por meio de
sua sensibilidade e de seu trabalho, conseguem captar a alma infantil.
Vale mencionar que a autora se dedicou a estudar o folclore. No período de 1920 até 1960,
aventurou-se em outros países, debruçou-se na escrita de crônicas e foi reconhecida pela
Academia de Letras, além de estar presente no rol dos grandes poetas do século XX. Nesse
intervalo de tempo, publicou obras voltadas à criança, como Giroflê, Giroflá e A festa das letras.
Após sua morte, foram publicadas as obras Olhinhos de Gato, Os pescadores e suas filhas e O
menino azul, apenas para citar alguns exemplos.
Cecília Meireles foi uma artista multifacetada, uma vez que articulou o literário ao pedagógico,
considerando o leitor e tendo em vista proporcionar uma apreciação estética concomitante à
experiência da imaginação e da ludicidade. Com isso, sua obra reforça que leitura e a
imaginação não devem perder o caráter educativo e devem estar presentes no trabalho
docente, em especial na educação infantil da contemporaneidade.
atividade
Atividade
Leia o seguinte trecho:
I. Cecília Meireles, ao longo de sua carreira profissional, preocupou-se com a formação do leitor e
com a leitura de qualidade.
II. A primeira biblioteca de literatura infantil foi implantada em decorrência de ações de Cecília
Meireles.
III. O escritor de literatura infantil, segundo Cecília Meireles, deveria dominar duas áreas: a ciência e a
arte.
IV. Cecília Meireles preocupava-se com a formação da criança na infância e pregava isso.
A partir das afirmativas apresentadas anteriormente, pode-se dizer que está correto o que se afirma
em:
a) I, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II, e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
in dica ções
Material Complementar
LIVRO
TRAILER
con clusã o
Conclusão
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade e de uma viagem pela história e os
desdobramentos da literatura infantil. Juntos, conhecemos um pouco da vida e da dedicação
literária de três autores muito importantes para o desenvolvimento da literatura feita para
crianças: Monteiro Lobato, Clarice Lispector e Cecília Meireles.
Por fim, conhecemos a trajetória de Cecília Meireles, que, além de poetisa, atuou como
educadora. Verificamos que foi uma autora preocupada com a formação do leitor e com os
rumos da educação, tanto que participou do Manifesto Escolanovista. Além disso, questionava
a questão da literatura feita para crianças. Desse modo, debruçou-se na criação de obras
voltadas ao universo infantil, com uma linguagem e temas pertinentes à criança.
Espero, caro(a) aluno(a), que a viagem pelo trajetória da literatura infantil brasileira tenha sido
proveitosa.
Até mais!
referên cias
Referências Bibliográficas
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ZILBERMAN, R. A Literatura Infantil na Escola. 11. ed. São Paulo: Global, 2005.
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