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Português-Nheengatu
Nheengatu-Português
Revisão
Geraldo Gerson de Souza
Ateliê Editorial
Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.2.1998.
É proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização, por escrito, da editora.
Stradelli, E.
Vocabulário Português-Nheengatu,
Nheengatu-Português J E. Stradelli; revisão
Geraldo Gerson de Souza. - Cotia, SP: Ateliê
Editorial, 2014.
14-02153 CDD-498.38293
Direitos reservados à
ATELIÊ EDITORIAL
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Nota Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Esboço de Gramática Nheengatu .............................. 49
ALFABETO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Vogais - Valor Fonético ................................... 49
Consoantes - Valor Fonético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Acento .................................................. 56
PARTES DO DISCURSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Substantivo .............................................. 57
Substantivos de Formação Secundária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
................................................... 62
NÚMERO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
CASO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
.............................................. 67
DIMINUTIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
AUMENTATIVO SUPERLATIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
ADJETIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Formação do Adjetivo ..................................... 70
Adjetivo Qualificativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Adjetivo Demonstrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Caso .................................................... 77
PRONOME . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
VERBO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Tempo e Modo ........................................... 79
Subprefixos e Reiteração do Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
f.legação. Interrogação ..................................... 85
Formação dos Verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
ADVÉRBIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
POSPOSIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
CONJUNÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
............................................... 94
CONSTRUÇÃO DA ORAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Do Selvagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . io3
do Dr. Couto de Magalhães
IAUTI TAPYIRA CAAIUARA / O JABUTI E A ANTA DO MATO . . . . . . . . 103
IAUTI / O JABUTI E A ONÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Da .............................................. 115
de D. Frederico Costa
~"""~'"''" TAXYUA !RUMO (Marandua) /A CIGARRA COM
A FORMIGA (Conto) ..................................... 115
119
MaxJ.
121
KUKUHY 121
PORONOMINARE 133
EREN 141
p -NHEENGATU . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
NHEtNGATU-NHEtNGASANHANASAUA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
Peixes, Constelações e Jurupari:
A Pequena Enciclopédia Amazônica de Stradelli
* Hoje, entretanto, admite-se que tenha morrido em 21 ou 24 de março de 1926. Cf. E. Stradelli,
"Introdução': Lendas e Notas de Viagem - A Amazônia de Ermanno Stradelli, São Paulo,
Martins Fontes, p. 42.
de seus
por Maximiano e ,_,~·vu·-~~·~
del f urupary) e o Vocabulário, saiu das
mais uma vez, por "'"""""H'~ª'J'
..,ª"""-'"'"" mais tarde com o nome de Amorim.
Para o de esses trabalhos
""'L'-U.L'-" mitos da história brasileira: o
por
3. Ver Bethania Mariani, ''Llnstitutionalisation de la Langue ...", e Eni Puccinelli Orlandi, "La
Langue Brésilienne .. .''.
ser amplamente utilizado em certas áreas da Amazônia até princípios do século
xx, como testemunham os trabalhos de Barbosa Rodrigues, Stradelli e Brandão
do Amorim. Na verdade, em algumas dessas regiões o nheengatu ainda hoje é fa-
como língua franca, embora em menor escala do que há um século.
Dessas três obras, o Vocabulário de Stradelli se destaca como a mais am -
O por um lado, é enganoso, pois, mais que um simples vo-
cabulário, o volume pode ser sem exagero, como uma enciclopédia
amazônica. Por outro a modéstia do tem a vantagem de colocar o
para a cultura
O mesmo ocorre com outras '-ª''-l'-'Jl
5. José Veríssimo também descreve todas essas técnicas de pesca, num livro que certamente
serviu como fonte para o Vocabulário de Stradelli (ver bibliografia).
dia a dia das mulheres na maioria das tribos brasileiras, que não tendiam a ver
famílias numerosas com bons olhos. Na farmacopeia pode-se ainda incluir as
drogas alucinógenas, os venenos - área na qual a Amazônia indígena alcançou
um desenvolvimento talvez único no mundo - e os vernizes, corantes, colas e
impermeabilizantes, importantíssimos naqueles anos anteriores à fabricação
de tintas e resinas artificiais.
No todo, é notável o respeito de Stradelli pelo saber indígena amazônico, um
saber que ele aprendeu de fontes escritas (Gonçalves Dias, Couto de Magalhães,
Spix e Martius, Barbosa Rodrigues, Brandão do Amorim e José Veríssimo, entre
outros), de suas conversas com Maximiano José Roberto, e também dos longos
anos em que viveu na região e conviveu com índios e caboclos, muitos deles
amigos do próprio Maximiano. É verdade que esse respeito não se estende a to-
dos os aspectos da sabedoria local: certas técnicas de pajelança, como o sopro
e a sucção, são vistas como charlatanismo pelo conde, que não esteve imune ao
positivismo que dominava o pensamento daqueles tempos. São várias as refe-
rências ao "primitivismo" das sociedades indígenas, por exemplo, e, na "Nota
Preliminar", Stradelli chega a citar, sem traço de crítica, a observação paradoxal
(para não dizer absurda) de que os indígenas "pudessem [ ... ] conceber sinais
representativos de ideias com capacidade de abranger objetos, de que eles não
tiveram conhecimento [... ] . Que não tendo eles ideia alguma de religião, exceto
a da Natureza, na sua própria linguagem tiveram sinais para representar toda a
sublimidade da Religião da Graçà' [cf. p. 46] 6 .
É o conhecimento indígena sobre o meio ambiente que merece a admira-
ção incondicional do conde. Mesmo quando esse conhecimento lhe parece
estranho, como no verbete dedicado à IAKYRANA-MBOIA, "um pobre inseto
caluniado como muito perigoso por ser a sua ferroada venenosíssima, quan-
do não é senão uma inócua cigarrà', Stradelli acaba por concluir que "apesar
disso, e porque tenho sempre encontrado no indígena um exímio observador
da natureza, se foi ele que lhe deu o nome e lhe fez a fama de que goza, algu-
ma razão deve haver''. Essa admiração, lembremos, não era comum, pois as
já mencionadas ideias positivistas que defendiam a existência de raças atrasa-
das e adiantadas haviam impregnado também o pensamento científico sobre
a Amazônia. Na verdade, até a década de i980 acreditava-se que o precário
"desenvolvimento" da região se devia à falta de conhecimentos e de disposi-
ção por parte da população local. Vários megaprojetos tentaram implantar
deixa larva de inseto, constituindo, por via disso mesmo, uma esplên-
dida defesa, até contra as próprias saúvas, embora muito mais fortes e maiores do que
ela. [ ... ] Quando na localidade não há taracuás é preciso trazê-las.
ao do o se lamenta da
caça e pesca indiscriminadas que, na sua
zônicos. Não se trata de tentar
-se de ser um
já que o
U.'-"""''"'uv para
o comum às numerosas
de térmites que Já me têm -...vuuu.v
mais da metade da minha escassa livrarià'. Está aí o humor, que não caberia em
muitos "Vocabulários''. mas que aparece respingado aqui e ali no de Stradelli,
como em outro exemplo, do verbete IUCUACU:
Jejuado. O indígena, pode-se dizer, passa uma grande parte da vida a jejuar.
Começa a jejuar quando chega a puberdade, jejua na véspera de festas instituídas por
Jurupari, o Legislador indígena; jejua antes de casar; o casado jejua todas as vezes que
a própria mulher é menstruada, quando esta pare e durante o resguardo a que ele fica
submetido, quando os filhos estão doentes e não sei mais em que outras circunstân -
cias. Se aos jejuns rituais[ ... ] juntarmos os forçados, que também não são poucos, pre-
cisa convir que eu não exagero dizendo que passa a vida a jejuar. Disso, pois, talvez, a
razão por que, quando tem, come a tripa forra. É para refazer o tempo perdido [p. 387].
LENDA DO JURUPARI
9. Para uma visão abrangente do fenômeno do Jurupari no Alto Rio Negro ver os trabalhos de
Reichel-Dolmatoff, Hugh-Jones, e Neves.
rias do herói cujo nome é Jurupari em nheengatu. Supre as notas lacônicas que
Stradelli adicionou ao seu texto sobretudo as que traduzem ao nheen-
gatu palavras das grandes famílias linguísticas da região, tucano e aruaque,
incluindo os nomes de Jurupari nestas outras línguas. Sublinha a coerência e
a interconexão de certas para a leitura das antes do
Vocabulário e da espaço-tempo (ARA), da con-
RUPITA), taxonomia
vitais e de suas metamorfoses e nomes E nos
a entender a estrutura e as estratégias do texto da "Lendà', traduzida dos
por Maximiano.
confirma a sua autoridade enu-
mera as "lei") e os sagrados instrumentos mu-
sicais. Este eram
os
tanto com
outras .._,,.,,..... H.
instrumentos
nasce de uma
ou
rer seu corpo o suco de uma fruta: cucuRA no rio
rio Amazonas . Esse modo de conceber é
No caso
às
que inicia o tuxui
yacy (sangue de lua) ou menstruação. A lua pode ser igualmente a origem
(mãe) da fruta, YA-CY. Também está envolvido no assunto um macaco mas-
turbador, e tudo acontece durante a coleta da fruta de uma árvore sul, na
direção do rio Amazonas.
A outra origem, da pesca, é mais concentrada nos rios da Amazônia, nos
artefatos e costumes inspirados por aquele denso sistema fluvial durante
nios. Esta etimologia é preferida por um "tapuio" de Stradelli, que a pro-
pôs (em nheengatu) nestes termos: "Nada disso, o nome de Jurupari quer dizer
fez o nossa boca". Numa a éa
tura da grade que atrapa peixes (PARY): levado pela correnteza do rio na narra-
da coleção de Amorim (mas não no nosso Vocabulário ) 10
•
lhe
como o "quarto" CACURI e o PARY. Este por sua vez, a
apropriada para a discrição que devem manter os fiéis acerca dos mistérios
centrais culto
Para esse efeito, as duas etimologias, como gran -
H.<.Uv.,ViiUiH
seu nome
o
e da luz que
xe,
é terra,
dia ou IUACA RUPITÁ, a raiz ou tronco do céu.
do Amazonas e na geografia da
céu [nos
Na
io. Na coleção de Amorim há duas narrativas distintas que têm o título "Poronaminare''. Apenas
a primeira delas foi reproduzida por Stradelli.
terra, o avô de Jurupari elabora no chão o complexo desenho numérico "do
cepo do céu": o momento do sol no equador vira o centro tropical de onde se
vai povoar a terra, quando ele obriga todos a irem ensinar por "todas as terras
do Sol" a sua visão do mundo.
Por isso, faz sentido, a princípio, pensar (com Stradelli) em Jurupari
como uma figura solar, quando inventa a sua "lei", o sistema federativo im -
posto à força a várias tribos e línguas da região do rio Negro. A ambição da
lei (ou melhor, do modo de viver, c1cu) é dominar rito e dogma, liturgia e
crença, e impor regras, decidir quando e como se deveriam celebrar festas
(PURACY) relevantes a todos os momentos da sociedade, jejuar (rucuAcu),
proteger-se contra os MAYUA noturnos, eleger o TUIXAUA (tuxaua), casar
etc. O veneno destinado a matar as pessoas que descobrem os segredos do
culto é o COARACY-TAIÁ, a planta do sol, ou o ardor que dela sai. Para esse
efeito, as luas que dão nome aos meses se adaptam ao ano do sol, aos seus
solstícios e equinócios. Em termos calendáricos, o sol sujeita a lua ao seu
ciclo de estações. Falando da lua, YACY, Stradelli confirma essa ideia: "A Lua
completa a obra do Sol. Este fecunda as plantas e lhes faz produzir as frutas,
a Lua as amadurece".
Porém, a relação entre o sol e a lua não exige necessariamente subordi-
nação ou a ordem de diferença sexual que é inevitável na gramática das lín-
guas latinas. Primeiro, a lua é o lua, e não menos homem que o sol. Ao causar
o tuxui yacy, deflora, penetra, pode engendrar. As suas fases, nova (PYSASU),
crescente (IUMUNHÁ), cheia (ICAUA), minguante (IERASUCA) etc., ainda que se
conformem como "meses" com o ano do sol, exigem respeito por si mesmas,
na coordenação das grandes festas e danças (PURACY), como o CARIAMÃ (cujo
nome vem de uma casta de CAXIRY), que celebra as jovens defloradas por YACY,
isto é, o primeiro catamênio. Purificados pela bebida feita da planta CEUCY-
-CIPÓ, os tocadores do instrumentos sagrados nas festas olhavam para o céu
noturno, não o sol.
No céu noturno, Iaci se move em mais de um ritmo. O ciclo sinódico
de suas fases (de 29,54 noites) se conjuga com o sideral da sua viagem pelas
constelações zodiacais (de 27,32 noites). A primeira coincidência entre os
dois ciclos equipara as nove luas (sinódicas) da gestação humana em geral
com as dez (siderais) da gestação de Jurupari e de sua mãe Ceuci (um dos
pais, de cada um deles, era estrela). Mais, o ritmo de Iaci coincide com o de
YACY TATÁ, o seu "fogo'', o planeta Vênus, a identidade celestial que assumiu
a mãe Ceuci. Com o sol (Coaraci), Iaci e YACY TATÁ viajam como um trio
pelo caminho zodiacal, pois são os três corpos mais brilhantes do céuª. Nesta
perspectiva, o sol no céu é um só entre três CY - uma de tantas palavras para
"mãe", no sentido de princípio e origem: como observa Stradelli neste verbe-
te, para o indígena nada existe sem mãe.
A "Lenda" descreve a Ceuci-Vênus, mãe de Jurupari, como o retrato de
outra de nome idêntico, a sua tia Ceuci-Meenspuin, irmã de seu pai Pinon. É
esta Ceuci genealogicamente prévia que o Vocabulário ratifica como "o grupo
de estrelas das Plêiades''. Ela e o seu irmão Pinon (a cobra que corresponde a
Scorpius), definem, então, o caminho das constelações zodiacais entre leste e
oeste, perto das suas margens (trópicos) ao norte e sul. No Vocabulário, são es-
tas que servem para regular e "conhecer as horas da noite", num tempo-espaço
noturno próprio que se diferencia categoricamente do dia, do ano e do ACAIÚ,
e necessariamente do Jurupari-Coaraci, e não admite ser subordinado a ele. Ao
planejar as suas expedições, Jurupari insiste na noite e na hora divisória entre
PITUNA e PITUNA Pucu (noite, noite longa/lenta), a meia-noite PYSAIÉ (palavra
não composta em nheengatú) que, para Cauará, na narrativa "Kukuhy'', mede
tanto os ritmos do céu como os pulsos do seu coração.
Ao definir o zodíaco, Ceuci e Pinon ocupam nele as posições mais privi-
legiadas, dos dois cruzamentos com a Via Láctea, "uma senda ['vià no ita-
liano J quase branca, semeada de pequenas estrelas" ("Lendà', p. 274), que ela
puxa atrás de si saindo do lago Muipa e que corre norte-sul no céu. Para o
povoamento desta outra via ou senda que une os dois lados do céu contribui
o próprio Jurupari. Segundo o Vocabulário, acima e no centro mora IUARA-
CACA, a lontra do Órion, que vai para o lado sul roubar os peixes no CACURI
ou ARAPARI (o Cruzeiro do Sul, que comemora o seu nome). Também ficou
no centro o ARARA-PARY, o ornamento de dança perdido pelo TAPYIRA (anta),
quando este, jogado ao céu por Jurupari, foi parar no lado oposto, como Ursa
Maior, o Sete Estrelo setentrião. Ao percorrer o caminho para o norte, é a anta
que dá à Via Láctea seu nome em tupi (TAPYIRAPE).
Desenhado assim, o mapa do céu de Jurupari concorda com outros daquela
região tropical. O dos barasanas, por exemplo, faz um jogo semelhante entre as
luas sinódicas e siderais. O Vocabulário nos informa também sobre o pequeno
lagarto TAMACOARÉ (Cassiopeia) lembrado nas inscrições ITACOATIARA; so-
IL A relação numérica entre os anos de Vênus e do sol, 5:8, existe no desenho do cepo do
mundo; o pai e a tia da Ceuci, filhos de aves, amadurecem em dezoito meses (duas gesta-
ções) e não dezoito anos.
bre o IAUTI (jabuti) que ocupa posições múltiplas, entrando e saindo dos rios
céu; o peixe-boi IUARAUÁ que é a mancha magalânica; e o par alpha e beta
Centauri que se alternam entre jovem e velho e pescam nas ricas águas do sul
Cacuri ou do Cruzeiro. Na "Lendà; a mãe de Pinon,
é transformada na constelação PIRARARA, peixe-arara.
Na nota de rodapé à "Lendà; inspirada provavelmente por Maximiano,
o desenho do "cepo do mundo" que Pinon fez inicialmente
para organizar a procura de sua e que serviu para povoar a terra. É assim:
círculo, no são diâmetros inclinados sucessivamente
entre com ângulo de 45 graus''. Quer dizer, o desenho corresponde não ape-
nas ao espaço dos que iam povoar o ou ao tempo numérico do sol e
1ernvo-1=sr>aco. ou ARA, com movimento sucessivo interno.
"'u""·'ª"·"'-'-V este e outros dados legados por Maximiano, é possível pensar
nos ciclos enormes que, no ano solar, descrevem as constelações do céu noturno
(a precessão dos equinócios): o ARA, proporções imensas mas mensuráveis
e e pela astronomia dos americanos.
ancestrais e das grandes metamorfoses da criação contada por
de Dinari em ao discurso astronô-
na categoria dos PIRÁ-urnÁ, os ovíparos
distinta da dos (soó) e mamíferos. Antes, casada com
capaz os ovos que ele tinha fertilizado
Os filhos têm características ofídicas, mas (como
UH>rD~nn entender a sua natureza, o
A U'-j"o~ . . . ~~,
p.
mento dele
terra, na maloca
de antecedentes
vitória sobre Ualri, o TAMANDOÁ baníua. Companheiro de Jurupari, Ualri foi
encarregado da missão de fundar uma casa de culto no ocidente, mas se deixa
seduzir e revela os segredos a não iniciados, sobretudo às mulheres locais. O
destino dos que traem a lei assim é tema, no Vocabulário, do verbete TAMAN-
DOÁ e de outros inter-relacionados.
Velhinho e desdentado, o tamanduá Ualri se caracteriza pela língua "ver-
miforme e viscosà', o que lhe permite (se supõe) desfrutar da companhia das
mulheres a quem comunicou o segredo. Das cinzas do seu corpo queimado,
saem os MAYUAS, os espíritos de mau agouro, venenosos, que podem estragar o
adolescente (daí os ritos preventivos). Da sua unha, a única e forte arma de de-
fesa e ataque que esse animal possui, Jurupari faz o amuleto potentíssimo que
presenteia ao amigo Carida e que o transporta a qualquer lugar. Também vem
dele o contraveneno, isto é, a água usada na lavagem das pudendas de uma
pessoa de sexo contrário ao da vítima, comparável em potência ao antídoto
derivado do veneno da cobra suRucucu.
A história cósmica de Dinari, que Jurupari conta no momento da vitória,
ratifica então a sua supremacia política, permitindo-lhe impor a sua lei, as re-
gras de comportamento, o calendário das festas, e celebrar este poder num
concerto/conserto onde estreia os instrumentos de sopro (MEMi, MEMBY) fa-
bricados dos restos do traidor derrotado Ualri. É o grande momento de câm-
bio, culminante na narração da "Lenda'', o momento em que tudo se concentra,
onde passamos do ARA da cosmogonia ao de uma geo-história local. No corpo
das cosmogonias americanas a que pertence, a "Lendà' é justamente este tipo
de mudança entre níveis de tempo-espaço que o sincronismo estruturalista (e
da linguística) tende a ofuscar ou eliminar.
Como Nachtmusik ou noturno, o concerto começa com o pôr do sol e os
instrumentos soam noite adentro, a princípio sem serem tocados. A músi-
ca exerce uma poderosa atração e vêm ouvi-la não só os vizinhos humanos,
como também representantes dos seres ancestrais, onças, serpentes, e até mes-
mo os peixes. O momento encantado da meia-noite é marcado pelos gritos dos
animais, e Jurupari sai, comentando: "Até os animais ouvem a nossa músicà'
("Lenda", p. 312). Manda então guardar os poderosos instrumentos num quar-
to fechado, invisíveis aos não iniciados.
No plano social, das festas que Jurupari autoriza no momento da mudan-
ça, as cinco primeiras pertencem ao sistema de luas que regula as atividades
tradicionais de pesca e coleta de frutas, ambas consagradas nas etimologias do
nome do herói. As outras festas, descritas em mais detalhe, têm a ver com a
hospitalidade, o comportamento sexual e o serviço comunitário (AIURY), atra-
vés, sobretudo, da roça CUPIXAUA, a queima e o machado (NDYI) que preparam
o solo para ser plantado ("Lendà', p. 279). Em um nível, então, a lei de Jurupari
representaria a transição à agricultura, a passagem da coleta à colheita, e, na
versão de Barbosa Rodrigues, este é efetivamente o papel mais importante do
herói. Na "Lendà', o relato de como fez os instrumentos e deu nomes a eles vem
como para confirmar esta leitura.
O primeiro instrumento ou MEMi recebe o nome do próprio Ualri. É feito
de um osso seu (segundo o costume também romano, como anota Stradelli no
Vocabulário), mas é obtido como se fosse de uma árvore queimada e cortada
na roça. Outros instrumentos recebem os nomes de personagens que exem-
plarmente também não se adaptaram ao novo sistema. São os que, não queren-
do plantar por razões inaceitáveis (preocupação excessiva com possíveis catás-
trofes futuras etc.), tiveram de viver do trabalho dos outros e foram transfor-
mados em aves e insetos: Arandi, a filha de pajé, que quis continuar comendo
só fruta de árvore silvestre, e os velhinhos Bue e Canaroarra, que se recusaram
a plantar a própria comida e tentaram viver da roça alheia. Bem espalhadas na
região, tais narrativas podem invocar como agente transformador o espírito,
ou mãe, da mandioca; aqui Bue é transformada pelo "macaco da noite", possí-
vel referência, como vimos, ao luRUPARY-MACACA.
Este ato de batizar os instrumentos, quinze no total pertence também ao
12
,
12. Quinze na versão em italiano (dezesseis segundo Barbosa Rodrigues, mas não enumerados
um por um). O número quinze é o produto cumulativo do fator básico da aritmética des-
crita no Vocabulário, a mão (pô) ou cinco (1+2+3+4+5=15). O decimal é duas mãos, e o vi-
gesimal é duas mãos e dois pés (py), como nos sistemas do Caribe e da Mesoamérica. Ainda
assim, cem é uma conta (papasaua), como no sistema decimal dos Andes, e quinze é o meio
mês de trabalho imposto por Jurupari (no episódio de Ualri) que existe no calendário inca.
mes que pertencem respectivamente às duas grandes famílias linguísticas do rio
Negro, tucano e aruaque, ele batiza os quinze instrumentos com sons e sílabas
que se transformam noutro concerto/ conserto de outras tantas falas e dialetos.
Pode-se imaginar que, com sua herança tariana, Maximiano se encontrava no
meio das duas grandes famílias e por isso teria escolhido, para contar a sua histó-
ria, o nheengatu que compartilhava com Amorim e Stradelli. De fato, só faz sen-
tido contar este momento climático da história na língua "geral'; neutra, ubíqua,
federal. Assim, o próprio Jurupari poderia ser reconhecido, como é o caso até
hoje, por nomes próprios dessas outras línguas (como o Buscan, "coração duro';
tucano, preferido por Barbosa Rodrigues e mencionado na "Lendà; p. 283).
Em correspondentes notas de rodapé na "Lenda" (e comentários no
Vocabulário), Stradelli, graças a Max, se mostra bastante consciente das impli-
cações políticas e culturais do culto do Jurupari no rio Negro. Essa consciên-
cia se estende até o Vocabulário, na clareza com que vê a importância decisiva
que esse culto tinha para a sucessão do TUIXAUA, para a autoridade herdada
e confirmada pelo conselho MOACARETÁ, para a coerência política dos povos
que (com Ajuricaba) resistiram à invasão dos portugueses e dos bandeirantes,
e que ainda resistiam ao Estado-nação Brasil. Foi por isso que lhe foi dado ver
a lei de uma perspectiva que a propunha como comensurável com o cristianis-
mo, o culto invasor que importava outro TuPANA e que reduzia Jurupari a um
simples "diabo" (como quiseram alguns reduzir o nheengatu a uma invenção
dos jesuítas). Nos seus melhores momentos, Stradelli defendeu, como filoso-
fia e como cosmogonia, os testemunhos em nheengatu que o cristianismo (e a
ciência da época) desprezava como "superstição primitivà'.
Isso lhe terá instigado a enfatizar a escrita como validação e garantia inte-
lectual, na forma da ITACOATIARA, conceito que elabora num artigo à parte.
No comentário ao verbete, a comparabilidade da itaquatiara com a escrita al-
fabética é defendida por Quenomomo, um amigo cubeo da região Cuduiari.
i3. Ver a esse respeito Sá ("A Lenda do Jurupari" e Rain Forest Literatures).
neto de um Cauará prévio e arquetípico; a de Jurupari se deduz da explicação
que ele mesmo dá depois de vencer Ualri ("Lendà'). Ambos têm por avô um
velho pajé (Cauará, Pinon), marido de uma mulher anônima, pescador ou en-
gendrador ao estilo (sem coito) do peixe, aparentado com aves da tribo ou da
serra dos jacamins que fazem barulho à noite; este avô pode ter corpo de san-
gue frio de sáurio-ofídio, forte como rocha, e tem uma filha de natureza ter-
restre e celeste. Nos dois casos, a filha concebe milagrosamente num lugar ao
sul, rio abaixo, onde está a árvore dos macacos, sofre de secura nos peitos, que
é remediada, outra vez milagrosamente, dá à luz um bebê radiante, e termina
subindo ao céu, olhando para o Leste.
Tudo isso acontece num mundo de sonhos e de sono, de sondar sombras
(SAÃN, ANGA), de prever, provar e adivinhar, de conversas e intuições delica-
díssimas. É uma atmosfera intensamente permeada pelo esforço de fazer exis-
tir imaginando, atmosfera que caracteriza outras gêneses do rio Negro (como
Antes o Mundo não Existia, dos desano), além do Ayvu rapyta tupi-guarani, e
a antiga tradição xamânica tropical da América, o PAJÉSAURA.
A belíssima narrativa da concepção de Poronaminare consiste num diálogo
etéreo entre pai e filha. Cauará está pescando quando, na noite, a filha se ex-
põe à fria luz da lua; ao voltar à casa de onde ela saíra, ele intui, precisamente
à meia-noite (PYSAIÉ), o que teria acontecido entre ela e o homem-lua que, em
sonho, vê subindo de novo ao céu. Rio abaixo, ela sonha com o futuro bebê,
ameaçada por uma enchente que a obriga a nadar até uma ilha flutuante (CA-
NA- RANA). Na água, durante a travessia, seu feto (fruto da lua fria) é abocanha-
do por um peixe e, ao chegar à ilha, ela própria se metamorfoseia em macaca,
graças ao feitiço da ave caripira. Foi neste momento que Cauará viu que o seu
neto já estava "na terrà; embora na forma de um homem-ave: vai a seu encon-
tro, transforma-se por pouco tempo no lagarto teiú (da história "Kukuhy"), e
os dois vão à procura da filha/mãe na ilha. Em cima da árvore, como macaca,
ela desce envolvendo a forma-ideia do filho/feto e, grávida, transcende a for-
ma simiesca.
Perto de novo do pai, a filha conta-lhe o sonho sobre o nascimento futuro,
e sobre as borboletas e os beija-flores que sustentam o filho melhor que as suas
mamas secas. As borboletas também suspendem o filho no alto. À meia-noite,
os animais acordam e cantam (como no concerto de Jurupari) contando o nas-
cimento na serra dos jacamins. Cauará quer subir mas não pode e metamorfo-
seia-se em IACURUARU, grande sáurio "comedor de ovos" (como o confessa ser
o próprio Stradelli no verbete), cuja "figurà' permanece na rocha. Cantando
no Oeste, a filha é levada pelas borboletas à origem do céu.
O papel das borboletas e dos beija-flores (PANAPANÁ, IAMBY), voadores de
cores brilhantes, recorda-nos do improvável poder físico que lhes é dado pelos
seus metabolismos; e aquelas tipificam o próprio conceito de metamorfose. Os
beija-flores têm o mesmo papel de suplementar o peito humano na narrativa
guarani Ayvu rapyta. Reciprocamente, o Vocabulário nos fala do rouxinol TEN
TEN, que as mulheres do Uaupés criam com o leite do próprio seio, e que em-
BIBLIOGRAFIA
PRECEDIDOS DE UM ESBOÇO DE
GRAMÁTICA NHEENGA-UMBUESAUA MIRI
E DE CONTOS EM LÍNGUA GERAL NHEENGATU
PORANDUUA
o NHEENGATU, ou LÍNGUA GERAL, é dialeto da língua que, ao tempo da
Descoberta, se encontrou falada do Amazonas ao Prata pela maioria das tri-
bos litorâneas, com que os invasores se acharam em contato. Os outros diale-
tos da mesma língua, deixando de lado os intermediários, que, com nuanças
infinitas, como que reúnem os dois dialetos extremos, são o tupi e o guarani.
O guarani, já quase policiado, é ainda hoje falado no Paraguai. O tupi, ou
língua brasílica, como o designaram Anchieta e Figueira, já falado ao longo
da costa atlântica, não cremos se fale em parte alguma por povo civilizado, e
isso embora os numerosos dialetos tupis vivos ainda e falados por numerosas
tribos mais ou menos refratárias à civilização. O nheengatu, ao contrário, em-
bora muito menos policiado do que o guarani, é ainda hoje a língua do povo
em muitos lugares dos dois Estados do extremo norte do país, e é a língua com
que os civilizados se comunicaram e se comunicam com muitas das tribos in-
dígenas em via de civilizar-se.
Nheengatu e guarani, como elos extremos de uma mesma língua, têm de
comum não só uma infinidade de palavras e raízes, mas a construção e feição
da frase. A asserção não é minha. Simpson, no prefácio à sua Gramática de
Língua Geral (1867), acentua o fato de que, ao tempo da Guerra do Paraguai,
os caboclos do Pará e os tapuios do Amazonas se entendiam com relativa
facilidade com os paraguaios. A mesma coisa me relata o meu finado ami-
go, general Dionysio de Castro Cerqueira, então membro da Comissão de
Limites entre Brasil e Venezuela, que gostava de entreter as longas horas de
acampamento relatando fatos e episódios da guerra em que tinha tido a sua
primeira promoção.
Nheengatu, boa língua, é o nome que lhe dão tanto no Pará como no
Amazonas os que a falam tradicionalmente como língua dos seus maiores,
aprendida dos lábios maternos. Língua geral é o nome que lhe é dado por po-
vos civilizados, que não a falam ou a aprenderam por necessidade, como o
meio mais cômodo de entender e ser entendido pelos filhos do lugar ou com
os semicivilizados, a cujo contato se veem obrigados na labuta diária da vida.
Abstração feita de algumas tribos indígenas, que se conservam meio arre-
dias da nossa civilização e que falam a língua geral, como a língua que apren-
deram para entrar em relação com os filhos do lugar, donde saem para comu-
nicar com o branco, hoje em dia, tanto no Pará como no Amazonas, como
não há ninguém que, embora de uma instrução rudimentar, ignore o portu-
guês e não o fale mais ou menos corretamente. Em muitos lugares, todavia,
deste imenso interior amazônico, além de que pelas tribos que se vêm aproxi-
mando com maior ou menor relutância à civilização o nheengatu é ainda hoje
falado, como língua preferida, por ser a dos avós, da porta da sala para dentro,
e do uso corrente entre os filhos do lugar. O português é ainda para muitos a
caryua nheenga, a língua do branco. E, se já não é a língua do inimigo con-
quistador, é a língua do estrangeiro, ou, quando menos, a língua do patrão, a
língua alheia. Falar o nheengatu, pois, em muitos casos, é uma vantagem para
granjear a confiança, e em muitos outros se torna uma necessidade para todos
quantos, comerciantes ou não, pelo seu gênero de ocupação, se encontram
em contato direto com o elemento indígena, que é ainda preponderante em
muitos lugares do nosso interior. Eu pessoalmente, se fosse necessário, posso
atestar isso mesmo.
Falar a alguém a língua que aprendeu dos lábios maternos, aqui como em
todas as partes, é o meio mais certeiro e fácil de lhe granjear a confiança, e
isso tanto mais facilmente, quanto uma requintada civilização ainda não em-
botou a emotividade instintiva peculiar às raças primitivas, substituindo-a
por uma muito civilizada desconfiança que (preciso confessar) nem sem -
pre é despida da sua razão de ser. Bem pode acontecer, como já a mim acon-
teceu, que um ou outro figurão, cheio de empáfia, por ter guardado na mala
uma patente de Guarda Nacional, finja não entender e até se mostre agas-
tado, por entender que, se lhe falando a língua dos seus maiores, se põe em
dúvida ou se faz pouco da sua importância. O comum do povo, todavia, que
não tem destas caraminholas na cabeça, não só não se agasta, mas agradece
que se lhe fale a sua língua, e nos trata logo como velhos amigos e conheci-
dos. No seu grosso bom senso pensa, e pensa bem, que isso de raças superio-
res ou inferiores não impede que os homens sejam julgados pelo que fazem
e sejam tratados em consequência.
O nheengatu parece que foi chamado língua geral pelo fato de ter sido a lín-
gua que originariamente serviu no Maranhão, Pará e Amazonas - então tudo
Maranhão, como intermediária para estreitar relações com as tribos, que se
vinham a achar em contato com a civilização. Na sua origem, todavia, o nome
não parece que fosse, como o é hoje, limitado ao nheengatu, mas no nome de
língua geral se compreendia o conjunto dos dialetos tupis então falados, com
nuanças que os ligavam como elos da mesma corrente, das Guianas ao Prata.
O nome que então lhe deram de língua geral revela o grande pasmo dos des-
cobridores por encontrar em toda a parte, apesar das alterações locais, a mes-
ma língua.
A opinião de que a língua geral é criação dos jesuítas, embora quando
cheguei no Amazonas, uns quarenta anos atrás, fosse opinião corrente, basta
enunciá-la, para confutá-la. Não se carece ser gramático nem filólogo parasa-
ber que as línguas são manifestações vivas e naturais, que surgem necessária
e espontaneamente onde há homens reunidos em sociedade. Criação incons-
ciente da multidão anônima, não se inventa e menos se impõe. Produto es-
pontâneo de afinidades étnicas, de aptidões psíquicas e morais dos grupos que
as falam, influenciadas pelo meio, os usos, os costumes, as condições de lugar
como pelo grau de civilização alcançado, as línguas são organismos vivos que,
como outro vivente qualquer, nascem, crescem e se desenvolvem para culmi-
nar numa florescência rigolhosa ou estiolar e morrer, seguindo as fases por
1
O nheengatu, todavia, como é hoje falado e escrito, pode-se afirmar sem susto
de ser desmentido, nunca foi falado por tribo selvagem nenhuma. Embora não
seja língua escrita, ao menos no significado que se atribui a esta expressão, e
talvez por causa disso mesmo, é uma língua que já traz os sinais dos contatos,
a que foi obrigada, e se estes não são maiores o deve, muito provavelmente, ao
fato de não ter passado a ser língua culta.
O não ser língua escrita, mas língua falada, não impede que já haja em
nheengatu lendas, fábulas, vocabulários, gramáticas e até mesmo versos re-
colhidos e publicados por estudiosos da envergadura de um Gonçalves Dias,
Couto de Magalhães, Martius, Barbosa Rodrigues, para somente citar nomes
laureados de escritores conhecidos. A estes pode-se aditar, além dos traba-
dos primeiros dois bispos do Amazonas e do Reverendo Padre Tastevin
do Espírito Santo - que estão impressos - a coleção de Lendas Indígenas
recolhidas amoravelmente pelo meu antigo companheiro de jornada na mi-
nha viagem ao rio Uaupés, Max. J. coordenadas, revistas e
em grande parte traduzidas por um profundo conhecedor do nheengatu, o
sr. Antônio a quem aquele saudoso amigo em boa as deixou,
e inéditas.
Língua falada e não escrita, sem ortografia assente, recolhida, além do mais,
em e cada mais e menos, se
achou com direito de inovar, alterar, a grafia do seu antecessor, com
a boa está claro, de torná-la mais consentânea, fácil e representativa
eo a Se muitas vezes diametral-
mente oposto, a culpa não é da falta vontade de acertar. Pelo é
excesso de zelo. Acresce a isto o não ter sido a língua
mas sim por brasileiros, por-
etc., e se facil-
mente o caos que é a
Apesar de a boa vontade de aceitar para uma das for-
mas de já aceita e usada por dos meus antecessores, ainda assim
não me a de ninguém. Isso não quer
que os tenha desprezado. Se antes de que em trabalhos impressos e perten -
centes aos meus antecessores eu fui recolher a língua na boca dos que a fa-
lam, como língua dos seus maiores, aprendida dos lábios maternos, e se bem
a minha colheita tenha sido efetuada um pouco por todas as partes nestes
quarenta anos de vida amazonense, nem por isso deixei de utilizar, e utilizar
largamente, tudo o que foi publicado até hoje e me foi possível consultar e
obter. Quando todavia vim a utilizar os trabalhos alheios, foi quando já me
achava com um amplo material colhido diretamente, e então me encontrei
na circunstância de ter involuntária e inconscientemente criado um modo de
escrevê-la, em muitos casos, inteiramente diverso dos que me precederam, e
isso embora a base da minha fonética seja o português, tal como é escrito e
pronunciado no Brasil.
Para conservar e não alterar o meu modo de escrever concorreram quatro
ponderações. Primeiramente, cada um dos meus antecessores tem um modo
especial e seu próprio para escrever; a minha escolha, pois, pouco adiantava
para a unificação da grafia do nheengatu. - Segundo, um pouco de amor-pró-
prio, que me faz pensar que a forma por mim escolhida não é a pior. Terceiro,
porque esta mesma forma é a que me parece afastar-se menos da forma cor-
rente de se escrever foneticamente o nheengatu aqui no Amazonas. - Em
quarto lugar, finalmente, por preguiça, por me parecer custoso refundir todo
o trabalho feito.
A maior diferença consiste em haver eu abolido o uso do ç, sempre subs-
tituído por s, e suprimido o uso do q, substituído por k, quando representa o
som duro, nisso escudado no exemplo de Cândido de Figueiredo, que o em-
prega para figurar esta mesma pronúncia, e por e, u, quando representa o som
liquescente.
Mas tudo isso é dito com maior individuação e minúcia no "Esboço de
Gramáticà'. Aqui apenas acrescentaremos que a grafia da palavra nheengatu
procura afastar-se o menos possível da grafia do português-brasileiro, e que é
de conformidade com a fonética deste alfabeto que se deve ler e pronunciar o
nheengatu tanto nos "Vocabulários", como nos trechos que seguem o "Esboço".
Há uma exceção - é para o y, que é reservado a representar a pronúncia do
i tapuio. Escolhi este sinal em lugar de outro mais exótico, porque, apesar dos
inconvenientes que apresenta e ser letra com som já mais ou menos definido
na linguagem corrente, especialmente nas transcrições de palavras tupi-gua-
ranis, qualquer outro sinal escolhido teria a mesma arbitrariedade, e porque
praticamente no momento da impressão não representa pequena vantagem ter
usado de uma letra de uso comum em lugar de outra qualquer letra mais exó-
tica e não existente nos alfabetos correntes.
"/J 43 <.:/~
a alteração seja simplesmente da inicial, a palavra se encontra registrada em
todas as diversas suas formas. Sem embargo de correr o perigo de ser acu-
sado de superfluidade, a isso me levaram duas reflexões. A primeira é que a
preferência, qualquer que dia fosse, não deixaria de ser sempre sujeita a ser
acoimada de arbitrária, apresentando o mesmo inconveniente para os que
fossem pouco familiarizados com a língua geral. A segunda é que em mui-
tos casos falta uma das A palavra, embora começando por uma das
variáveis - c=s, t, r todavia não sofre variação alguma, ou a sofre in -
completa. É o caso de raua (cauda, cabelo, pelo), que faz saua e não tem taua.
É o caso de taua (povoado, aldeia, taba), que fica inalterada em qualquer re-
que se encontre.
Quando se trata do invariável iu, que torna o verbo, ou mu,
que lhe dá urna significação toda ao nheengatu, a palavra é registrada
ao prefixo, e isso porque muitas vezes estes prefixos dão à palavra
da Pela mesma razão, registro, atendendo ao
'""·u""ªº raras palavras que, assumindo-o,""'-·"--"·
não a pretensão de tê-las
começadas em i e que não se encontrem
na letra que se lhe segue.
e contestá-
se na
e dá-
pondente ao infinito, de conformidade com a rotina e escudado nela, não
havendo interesse algum em alterá-la.
Esta facilidade de modificar a ideia, expressa por qualquer palavra - ou
quase - por meio de prefixos e sufixos, com a de poder formar novas palavras
com a aglutinação de duas ou mais palavras dá à língua geral uma vitalidade e
adaptabilidade de que mal a suspeitam os profanos. Dela pode-se dizer o que
já se disse do tupi, do qual aliás o repito, não é senão um dialeto.
"É admirável que tendo os povos, que a falaram, limitadas as suas ideias
a um pequeno número de coisas, as que julgaram necessárias ao seu gênero
de vida, pudessem contudo conceber sinais representativos de ideias com ca-
pacidade de abranger objetos, de que eles não tiveram conhecimento; e isso
não de qualquer modo, mas com propriedade, energia e elegância"; e o autor
que assim se expressa e do qual não encontro de momento o nome, conclui:
"Por toda prova bastará dizer: Que não tendo eles ideia alguma de religião,
exceto a da Natureza, na sua própria linguagem tiveram sinais para represen-
tar toda a sublimidade da Religião da Graça, sem lhes ser preciso mendigá-
-los de outras línguas".
Disso não se infira, porém, que, pelo amor de demonstrar praticamente
toda a adaptabilidade do nheengatu, me tenha deixado levar a formar palavras
novas e novos modos de dizer; nada disso. Muito pelo contrário. Posso afir-
mar que me tenho limitado a registar sempre palavras ouvidas de viva voz ou
encontradas escritas em algum dos que me precederam, sendo que uma larga
messe colhi nas lendas, ainda inéditas, amoravelmente recolhidas por Max. J.
Roberto, às quais já me referi e que espero ver brevemente publicadas pelo seu
atual possuidor, o sr. Antônio de Amorim, um dos poucos apaixonados culto-
res das coisas amazônicas, e cuja competência é apenas igualada pela sua ex-
trema modéstia.
As últimas três lendas que vêm com outras, logo em seguida ao Esboço grama-
tical são desta proveniência.
Dizendo "Esboço" vê-se que não pretendi escrever uma gramática, traba-
lho certamente superior às minhas forças e para o qual não tenho, seja dito
sem falsa modéstia, o necessário preparo.
Antes de que um trabalho sistemático, são notas tomadas durante a revisão
final dos "Vocabulários" e a transcrição das "Lendas", e coordenadas mais ou
menos de acordo com os índices de todas as gramáticas com o único intuito de
justificar em muitos casos o meu modo de escrever e de facilitar o emprego dos
"Vocabulários" a quem queira exercitar-se no estudo do nheengatu.
Estou, todavia, convicto de que a melhor gramática é a prática. A gramática
sem a prática nada é. Nesta convicção, faço seguir ao "Esboço de Gramática"
uma espécie de antologia formada com excertos tirados de diversos autores,
acompanhados da tradução literal, sem outra preocupação senão de mostrar
praticamente a construção da frase nheengatu, e como as frases se ligam e se
completam.
A pequena antologia, apesar disso, vem demonstrar, e mais praticamente,
que, embora as diversidades locais e a grafia diversa usada por cada um, as di-
ferenças são muito menores do que se podia prever, atendendo à extensão da
área em que elas foram recolhidas. Para melhor demonstrá-lo, reduzi todos os
excertos a uma mesma grafia, e isso como meio prático de demonstrar melhor
a homogeneidade da língua, desde que alguns são colhidos no rio Negro, ou-
tros no Solimões, outros no Pará, mas nenhum intuito de corrigir ou mesmo
de criticar a grafia alheia - que autoridade me falta para tanto.
Não me decidi a isso sem certa hesitação. A primeira ideia foi reproduzir
cada excerto com a grafia adotada pelo seu autor. Havia a vantagem do pro-
porcionar ao estudioso o meio de julgar melhor da grafia adotada por mim.
Desisti disso porém por duas razões. Primeira: a dificuldade de encontrar
uns tantos sinais mais ou menos exóticos excogitados e usados por alguns de-
les. Segunda: porque é exatamente por causa destes sinais que parece haver di-
ferenças, que na realidade não existem.
É quanto queria dizer com referência ao meu trabalho.
ALFABETO
§ O nheengatu ou língua
i. se escreve foneticamente com dezenove le-
tras, a saber:
ABCDEGHIKMNOPRSTUXY
- Valor Fonético
<:,."\ 49 1,'/,~
§ 4. O som do a é equivalente ao do a português e pode ser mudo, aberto ou
nasal. É aberto quando sobre ele cai o acento, nasal em muitas finais e quando
precede o n. Ex.: Paiangaua, em que o primeiro e o último a são mudos, o se-
gundo é nasal, e o terceiro aberto.
Quando o a é duplo, é o segundo que deve ser pronunciado aberto, e o pri-
meiro e o terceiro quando triplo. Ex.: caá (mato), cáaá (defecado); mas, neste
caso, entre a pronúncia do primeiro e a do terceiro, há uma diferença sensível,
sendo mais aberto o último.
No fim das palavras, o a pode ser: acentuado: pirá (peixe); mudo: pyra (sar-
na); nasal: munhã (feito).
§ 7. O o tem o som aberto, mudo e nasal, e tem mais um som grave, que po-
deríamos chamar fechado e que não nos foi dado perceber nas outras vogais.
O som aberto corresponde em geral com a tônica e com ela se confunde.
Ex.: caipora (desditado), tauató (casta de gavião),posó (andais).
O som grave ou fechado ô tem como inicial da terceira pessoa do plural ou
singular dos verbos e no final de algumas palavras, sem embargo de nele cair
o acento. Ex.: ô-icô (está), ô-recô (tem); daí, talvez, pronunciar-se em muitos
lugares este o como u e se dizer u-icu, u-recu.
Tem o som nasal tanto no corpo como no fim das palavras diante de n. Ex.:
nherõn (enfurecido), nherõngaua (ferocidade).
É mudo quando faz parte de sílaba que precede uma sílaba acentuada, ou
se precede uma vogal acentuada ou se encontra entre duas vogais, tornando-se
como que consoante. Ex.: coá (este), coaracy (sol= mãe deste dia), sooasu (bi-
cho grande). Nestes casos, pois, é também muito facilmente substituído pelo
u; por isto se ouve dizer e se encontra escrito cuá, cuaracy, souasu. Igualmente
é mudo no fim das palavras, sempre que sobre ele não cair o acento ou não
seja nasal.
a
há regra nenhuma para isso. Ex.: mbau (acabado), mbaú (comido).
§ 12.
tes, é sempre
iauaété ia-uaé-té
ao
Pará se diz francamente caamundu (caçado), mundé
se fala caamunu, muné, e no baixo Amazonas caamunnu, munné.
O d puro não é embora se encontre em muitas
rio Negro correm como se o fossem, e são ,m.,.,,,.,.,_.,
ou manao, línguas hoje vivas na
cininga
Todas as vezes que se encontra
diante de uma
que
respectivamente a apyaua, yara,
§ iS. O h, como no
e apenas serve para indicar que o n, ao deixa de ter o seu som
natural e um som bem conhecido como característico do por-
tuguês e que corresponde muito aproximadamente ao do fl espanhol, do gn
italiano ou francês.
§ 22. O som do n equivale ao som que tem em vernáculo. Ex.: acenai (cha-
ma), naná (ananás). Ouve-se raramente duplicado, e quando tal acontecer po-
de-se afirmar que estamos diante de um antigo dn, de conformidade com o
que já foi dito(§ 16).
O n final torna sempre nasal a ultima vogal - matin (casta de pássaro) -
como a torna quando forma o grupo ng, o que também já foi dito (§ 17). Na es-
crita, todavia, muitas vezes se encontra esta nasalização apenas indicada pelo til,
e nós também usamos dele sempre que a nasalização não é muito pronunciada.
§ 25. O som dos é sempre doce, embora no início da palavra seja pronun-
ciado em algumas localidades levemente sibilado, e no meio da palavra al-
gumas vezes se ouça levemente arrastado. Nunca é duplicado ou duro, e isso
embora os nossos predecessores o tenham duplicado profusamente e escrito
uassay, taiassu, uassu onde nós escrevemos uasaí, taiasu, uasu, e tenham usado
do ç para indicar o som duro e escrito iaçuca e ceçá, por iasuca e cesá.
Diante de outra consoante tem o som que se lhe dá no vernáculo, mas ain-
da assim o indígena tende a abrandar-lhe o som.
§ 28. Fala-se muitas vezes da facilidade que tem a nossa boa língua de per-
mutar entre si as consoantes, sem por via disso alterar o sentido geral da pala-
vra. Se não se trata porém da possibilidade de se permutarem entre si quando
iniciais, c=s, r, t que não são substituições fonéticas, mas gramaticais e se trata
de verdadeiros prefixos pessoais, esta facilidade - abstração feita da permuta-
bilidade de m por p (permutabilidade devida ao grupo mp de que já dissemos
(§ 21) na realidade não existe.
Cita-se caititu e taititu, pituna e pixuna, e não sabemos quais outros; mas
o primeiro é um caso isolado que não pode fazer lei, e no segundo se trata de
duas palavras de significação diferente: noite e preto, o que explica a diferença
de flexão.
Em geral, pois, as pretendidas substituições são diferenças locais pro-
núncia, senão individuais, as quais, não sendo suficientes para mudar de sig-
"'"'~''"~~ a palavra, à boa vontade de quem ouve entender o que o
outro dizer.
Acento
§ 30. As palavras compostas, porque por via de regra se formam como por
simples justaposição, por isso mesmo ter mais de um acento tônico.
Ex.: itámaracá (sino), manípuéra (caldo de mandioca), razão podem
ser também escritas itá-maracá, mani-puera.
§ 31. Nas palavras que acabam por ditongo o acento é sempre sobre este.
Ex.: iuráu (solto), miasúa (servo), cuá (este), iuceí (ralo).
o acento é também sempre este. Ex.:
cuairasáua canhemotéua (fujão).
sílaba a pa-
é
'""'"u-..uv escrevemos a
a nasalização é tênue escre-
com o til. Ex.: munhãn (feito), iupirun (começa-
§ 34. Deixamos de assinalar tanto a pronúncia aberta como a fechada não
só para não sobrecarregar de sinais a escrita, mas também pela grande varia-
bilidade da pronúncia que geralmente existe, não só de região a região, mas de
localidade a localidade, e mesmo de pessoa a pessoa, o que nos deixa incerto
sobre qual seja a verdadeira pronúncia.
Acresce que, embora a diferença da pronúncia possa, na hipótese, ser re-
levada como inexata pelos que têm hábito de falar o nheengatu, nem por via
disso deixaram de compreender.
PARTES DO DISCURSO
Substantivo
~·/~ 58 ~·r.i
2º. Os de formação regular, que se formam naturalmente da adição de um
sufixo, cujo ofício é tornar substantivo a palavra a que for aditado.
§ 46. Algumas vezes parece que haja exceção às regras acima enunciadas e
que, na junção de duas palavras preexistentes para formar uma nova, a elimi-
nação não se limite a uma vogal, mas haja eliminação de uma sílaba e alguma
vez de duas.
A exceção não é senão aparente, e provém de que na formação da nova pa-
lavra as componentes são utilizadas na sua forma absoluta e alguma vez ob-
soleta, em que a sílaba ou sílabas que parecem desaparecer por eliminação, na
realidade não existem. Ex.: tupaca e tupaoca, duas formas que querem ambas
dizer casa de Deus, não provêm de tupana e roca, e sim de tupã e oca, dando-se
pois em um caso o desaparecimento da vogal menos esculpida; yarapé - iga-
rapé não provém de yara (canoa) e rapé (caminho), mas decorre de yara e pé,
com o mesmo significado, pelo que se dá apenas uma simples justaposição; pi-
ranha (casta de peixe de dente temível) da mesma forma não provém de pirá
(peixe) e sanha (dente), mas da forma obsoleta anha, que deu tianha (forqui-
lha, isto é, dente da ponta), de ti (focinho, nariz, bico, ponta); miranha (dente
de gente, gente voraz) de mira (gente).
§ 47- Pelo contrário, algumas vezes entre a vogal com que acaba a primeira
e começa a segunda das palavras componentes do novo substantivo se insinua
uma consoante, que parece eufônica. Ex.: tuixaua - tuxaua, de tuí (sangue) e
áua, isto é, aquele do sangue; yuycuy (areia), de yuy (terra) e uy (farinha).
§ 49. Com -saua, que dá -ngaua, quando sufixo de uma terminação nasal,
se formam os substantivos que exprimem ação, modo de ser, qualidade, con-
dição e outros de análoga significação. Ex.: de nupana (batido) se faz nupana-
saua (batedura), de ceki (espichado) se faz cekisaua (espichamento), de catu
(bom) se faz catusaua (bondade), de munhãn (feito) se faz munhangaua (fei-
tura), de iupirün (começado) se faz iupirungaua (começo).
§ 50. -sara, que se torna -ngara, se for sufixo de uma nasal, dá um substan-
tivo com o significado de agente, o que exerce profissão, ofício e outros aná-
logos. Ex.: iupanasara (marceneiro), de iupana (lavrar a madeira); nheengara
(falador), de nheên (dito); manhanasara (vigia), de manhana (vigiado).
§ 5i. -pora, cuja significação tanto importa ser enchido como encher e por
via de extensão habitar, morar, dá na primeira acepção: caipora (cheio de aper-
tos), de caí (apertado); e, na segunda, caapora (matuto, que habita o mato), de
caá (mato); paranapora (marinheiro, que habita o rio), de paranã (rio).
§ 52. -taua, -tyua, -tama dão todos eles lugar a nomes de localidades, em-
bora com leves diferenças na extensão da significação.
-taua é a forma mais genérica, equivale a rendaua e dá a significação do lugar
em que a coisa se encontra, ou que é próprio ou lhe é destinado: mocaentaua
(lugar do moquém), de mocaên (moqueado).
-tyua exprime mais propriamente a ideia de lugar, onde há abundância
de uma certa coisa e especialmente onde crescem plantas. Ex.: auatityua
(milharal), de auati (milho); uasa'ityua (açaizal), de uasa'i (açaí, casta de pal-
meira). Pode, porém, indicar simplesmente o lugar onde a coisa se encontra
ou o lugar onde o fato se dá, e então é uma questão de preferência escolher
uma forma ou outra; diz-se igualmente eiketyua como eiketaua (lugar de
entrada, fenda), de eiké (entrado).
-tama, forma absoluta de tetama, retama, cetama, que significa mais espe-
cialmente o lugar de origem com o sentido de pátria, indica também localida-
de, mas com a acepção que lhe é peculiar. Ex.: Urumutama (terra de urubus),
que pode também fazer Urumuretama, com a mesma significação.
§ 53. O sufixo -yua tem uma significação muito variável e serve para formar
nomes de árvores, aditado ao da madeira ou ao da fruta que elas produzem, e
isso de acordo com a sua acepção mais comum. Ex.: uaraiayua (guajarazeiro),
de uaiará (casta de abiu); tocariyua (castanheira), de tocari (a castanha conheci-
da com o nome de castanha-do-pará), objeto de larga exportação do Amazonas.
-yua, todavia, pode também trazer a ideia de origem, uso, destinação da coi-
sa. Ex.: iapotiyua (suspensório, atilho para suspender), de iapoti (suspenso); ia-
cumãyua (timoneiro, piloto, e também a cana do leme), de iacumã (leme).
§ 54. O sufixo -aua, que se adita sem alteração quando a palavra, geralmen-
te uma daquelas que se dão como adjetivo ou particípio passado do verbo, ter-
mina por consoante ou vogal acentuada, faz -ua, quando esta acaba em vogal
muda, e -nga, quando sufixo de uma palavra que acaba em nasal, e forma um
substantivo, dando como que ar de substantivo à palavra assim modificada.
Ex.: catuaua (catuaba), de catu (bom, o bom); Purangaua (Porangaba), de pu-
ranga (bonito, o bonito); nheenga, de nheen (dizer, o dito, a palavra); iamiuá,
de iami (espremido, o espremido).
Tornado como que um substantivo, quando continua a qualificar um subs-
tantivo, em lugar de posposto deve ser preposto a este, de acordo com a regra
geral mais uma vez enunciada. Ex.: turusu-uá iacaré yarapaua-uara omano-ana
cuecé (aquele grande jacaré que morava no porto morreu ontem); turusu-pire-uá
tapyira amu caapora-etá suí (a anta maior entre os outros moradores do mato, id
est, a anta é a maior dos outros moradores do mato).
GÊNERO
§ 55. O nheengatu não tem formas especiais para indicar o gênero. Todas as
palavras, exceção feita de um limitado número de substantivos, que em virtude
da sua significação são somente aplicáveis a um gênero, com exclusão do outro,
são indiferentemente masculinas e femininas, são comuns a ambos os sexos.
§ 59. A estes é necessário aditar uns tantos substantivos que são exclusiva-
mente aplicáveis a um sexo, com exclusão do outro, mas não se atendendo ao
sexo da pessoa de quem se fala, e sim ao sexo da pessoa que fala, ou em cuja
referência se fala. Ex.: rayra (filho ou filha com referência ao pai) e embyra,
membyra (com referência à mãe); daí pois os derivados: rayrangaua (afilhado e
afilhada com referência ao padrinho) e membyrangaua (com referência à ma-
drinha); rayranungara (enteado, enteada com referência ao padrasto) e mem-
byranungara (com referência à madrasta); temianinô (neto, neta com referên-
cia ao avô) e temiariru (com referência à avó); tatyua (sogro do homem) e taixu
(sogra do homem); mendyua (sogro da mulher) e mendy (sogra da mulher).
NÚMERO
§ 6i. Tanto -etá como -itá é aditado, sem alteração, quando o substantivo
acaba em vogal acentuada. Ex.: yuáetá (frutas), yacyetá (meses).
Quando acaba por vogal muda, pode haver queda desta, mas ainda isso é
uma questão de preferência de localidade a localidade, e até parece do sufixo es-
colhido. Ex.: apyauaitá e apyauetá (homens), iauaraitá e iauaretá (cachorros).
Quando acaba por nasal, esta se atenua e quase desaparece. Ex.: cunhãetá
(mulheres), curumiitá (meninos).
§ 62. O sufixo que indica o plural, ainda assim, somente é usado, se de outra
forma não resulta a condição do substantivo, e não se repete na mesma
frase e até mesmo no correr de um mesmo conto, senão no caso de se tornar isso
absolutamente necessário para a boa inteligência do que se está relatando.
Quando fica claro que se trata do plural, usa-se sempre do singular. Ex.:
mocoin apyaua (dois homens), apyaua ceía (muitos homens).
§ 63. Note-se que, ainda no caso de ter sido posto no plural o substantivo,
isso não importa na necessidade de pôr também no plural o adjetivo; este por
via de regra, enquanto se conserva adjetivo, nunca recebe o sinal do plural,
embora esteja no plural o substantivo a que se refere. Ex.: apyauaitá catu (ho-
mens bons), cunhãetá puranga (mulheres bonitas).
§ 64. O substantivo leva o sinal do plural quando rege o verbo e isso com
tanto maior necessidade, se se trata de terceira pessoa do plural e pela presença
do substantivo ficou suprimido o pronome, que, como veremos adian-
te, é o pronome que distingue a terceira pessoa do singular da terceira pessoa
da Ex.: tuixauaetá ocenoicári (os tuxauas convocam), suainhanaitá osa-
sauana paranã (os passaram o rio).
CASO
§ 6? O substantivo na nossa se
Ex.: oca itá suí (casa
de em casa), osó oca recô
mais e
seu emprego; notaremos apenas
ao nominativo.
§ 70. Uma é
a e
que
~~,"~'~'
§ 71. São sujeitos à tríplice substituição: samunha (avô), que faz tamunha, ra-
munha, e, como ele, sanha (dente), sainha (caroço), sacua (febre), sacuá (pente-
lho), samatiá (pudendas da mulher), sacunha (pudendas do homem), sapixaua
(vassoura), satyua (sogro do homem), saisu (sogra da homem), saca (extre-
midade), sacapira (ponta), cemiareru (neto da avó), cemianinô (neto do avô),
cendaua (lugar), cetama (pátria), cendyra (irmã), cepoti (excremento), cepoci
(sono), cecu (costume, lei), saymena (genro), sapiá (testículo), cembyua (mar-
gem), cemimi (flauta), ceté (corpo), cyuera (suor), saitl (ninho), cenyua (barba).
§ 72. São sujeitos a substituir c=s por r com exclusão do t: sapu (raiz), suá
(cara), cera (nome), suaia (rabo), supiá (ovo), soocuera (carne), cesá (olho),
supitá (base), cecuiara (troco), sacanga (galho), sapé (caminho), cemiricô (es-
posa), cetimã (perna), cenepiá (joelho), sayca (nervo), satipi (bochecha), suai-
nhana (inimigo), suaiara (companheiro), suãn (grelo), cembaua (xerimbabo).
§ 73. Substituem c=s por t, com exclusão do r: cembé (lábio) e seus com-
postos cembetá e cembetara (ornamento dos lábios), sacana (freixeira), sacoca
(caruncho).
§ 74. Substituem r por t, excluindo c e s: rayra, que faz tayra quando se re-
fere a terceira pessoa, e como este, tuí (sangue), rayera (rebento morto), roma-
saua (foz), rapixara (próximo).
§ 75. Começam por vogal e tomam r ou s: aua (cabelo, pelo, pluma), que faz
saua e raua, e, como este: angaua (figura), uyua e uéyua (flecha), okena (porta).
A estes se pode aditar oca (casa), a qual todavia, além de roca e soca, faz
também toca, embora já com a significação especial de casa de bicho, covil,
esconderijo.
COMPARATIVO
§ 82. A ideia contida no substantivo pode ser diminuída, além de que pelos
mesmos adjetivos que vimos aditar-se a pire, ou outros com significação aná-
loga, por meio do sufixo f.
§ 85. -miri em muitos casos faz o mesmo ofício, tornando-se sufixo, e é usa-
do todas as vezes que o ser pequeno é como que um caso excepcional, embora
no uso corrente nem sempre se atenda a isso para empregá-lo. Ex.: tacuara-
miri quer dizer cana pequena tanto quanto tacuarf, mas tacuara-miri pode ser
um galho pequeno de uma tacuara grande, enquanto o tacuari não. Paranal é
um rio pequeno, mas não ainda um igarapé, paranã-mirl é um braço do rio, o
braço menor que forma ilha, ou qualquer canal que se destaque do curso prin-
cipal da mãe do rio (paranã manha suf).
AUMENTATIVO SUPERLATIVO
§ 86. O aumentativo, além de que com os adjetivos que vimos servir para a
comparação de superioridade(§ 78), se forma com o sufixo -asu ou -uasu, que dei-
xa de ser adjetivo para se tornar sufixo e parte integrante do nome a que vai aditado.
§ 90. O superlativo se forma com -eté, que alguma rara vez se torna -reté
em seguida a uma vogal acentuada, sendo que, quando encontra uma muda,
esta de ordinário se elide e somente por exceção persiste sem exigir a interpo-
sição do r fonético. Ex.: cunhãeté, apyaueté, iauareté, itareté (mulher, homem,
cachorro [onça], pedra a valer, de verdade).
§ 90A. -eté, pelo fato mesmo de ser um superlativo, pode ser aditado tam-
bém a um substantivo aumentado com -asu, ou diminuído com -miri. Ex.:
miramirieté (gente pequeníssima), mirauasueté (gente grandíssima).
ADJETIVO
§ 9i. O adjetivo, que, como indica a palavra, é aquela parte do discurso, que,
aditada ao substantivo, lhe precisa o modo de ser, e descreve, lhe especifica as
qualidades e determina melhor, pode também em nheengatu dividir-se em ad-
jetivo qualificativo ou descritivo e adjetivo demonstrativo.
Em qualquer hipótese, é invariável, isso é, serve sem nenhuma alteração
tanto para o masculino como para o feminino, e embora no plural o substan-
tivo a que se refere, nunca recebe o sinal relativo (§ 63).
§ 92. As exceções que parecem existir a esta regra são devidas a palavras com-
postas de um substantivo e um adjetivo que ficou desnaturado, tornando-se su-
fixo, e que apesar disso os seus componentes são escritos ou pronunciados como
se fossem separados e independentes, sem atender a que não se trata de um subs-
tantivo seguido de um adjetivo, mas de um novo substantivo. Ex.: pirauasuetá,
paranamirietá, que erradamente são escritos e pronunciados pirá uasuetá, paranã
mirietá, pelo que parece que é o adjetivo que recebe o sinal do plural.
Formação do Adjetivo
§ 95. Os sufixos que servem para formar adjetivos são: -para, -uara, -uera,
-téua, -yma.
§ 96. -para, quando como sufixo forma adjetivo, traz consigo a ideia de en-
cher, estar, habitar, embora momentânea e passageiramente. Ex.: ocapora (o
habitante da casa), mas não é nem o ocaiara (o dono) nem o ocauara (o habi-
tante fixo da casa).
Outras vezes pode trazer consigo a significação passiva de ser enchido, de
ser cheio. Ex.: sacypora (cheio de dores), maitépora (cheio de ideias).
§ 99. -téua, que se podia tomar facilmente por uma forma de -tyua, tem
o mesmo significado de -uera, quanto à ideia pejorativa, frequentativa, mas
não parece corresponder igualmente aos adjetivos que indicam probabilida-
de, e em muitos lugares na primeira acepção se prefere -téua a -uera. É o que
parece acontecer no Pará e no baixo Amazonas, onde chamavam os escravos
fujões de canhemotéua; no rio Negro chamam caútéua ao bêbedo habitual, e
que pode não estar bêbedo no momento, e de caúuera o bêbedo habitual e no
momento bêbedo.
Adjetivo Qualificativo
§ 106. Os à compa-
(§ 77 e
nito assim
Adjetivo Demonstrativo
§ 116. A estes devem-se aditar os compostos cuá amu (este outro), nhã amu
(aquele outro), auá amu (qual outro); cuá teen (este mesmo), nhã teen (aque-
le mesmo), auá tenhen (quem mesmo); e cuá iepé (este um), nhã iepé (aquele
um), auá iepé (qual um).
§ 117- Cuá, nhã, teen nunca podem sozinhos tomar o lugar do pronome, como
podem os seus correspondentes portugueses. Podem-no os seus compostos e
auá. Ex.: cuá cunhã puranga, nhã amu puranga xinga pire, cé cunhã teen puranga
pire apanhe suí (esta mulher é linda, aquela outra é um pouco mais linda, minha
mulher é mais linda que todas); cuá iepé onheen intimaa, nhã amu onheen supi
(este nega, aquele outro afirma); nhã teen osó cury (aquele mesmo irá).
Os compostos de teen com um substantivo desdobram-se. Ex.: cuá iauara
tenhe osuu putare ixé (este mesmo cachorro me quis morder).
§ 118. Os partitivos distributivos mais usados são: amu (outro), iepé (um,
qual), iepé iepé (cada um), opaua, apanhe (todos), inti iepé, inti auá (ninguém),
inti amu (nenhum outro), pisáuera (parte) etc. Ex.: iepé opuraki amu opicica
recuiara (um trabalha, outro recebe a recompensa), oiké-ana iepé iepé oca kiti
(entraram um a um em casa), mira pisáuera osó putare aé irumo (parte da gen-
te quer ir com ele), iepé opinaityca, iepé osó ocaamundu, amu apitá omunhã
mitasaua arama (uns pescam, uns vão caçar, outros ficam para preparar o lu-
gar de descanso).
§ 119. O adjetivo conjuntivo nheengatu é uá, uaá, maá (aquele que, o qual,
cujo, que); a primeira forma, quando a conjuntiva se refere a uma pessoa; a se-
gunda, no caso contrário.
Tanto uá como uaá, contrariamente ao que acontece em português, não
se colocam logo em seguida do primeiro membro e antes do segundo mem-
bro da oração que ligam, e sim depois do verbo do segundo membro ou dos
complementos deste. Ex.: iané tuixaua omanoana, mira amusuaxarauara oci-
kié tenhen uá (morreu o nosso tuxaua, que era temido deveras pela gente da
outra banda), ce paia mira oputare uá ixé i auaca (a gente de meu pai que me
queria por amásia dele), iepé curamiasu oicô ué amu suaixara cembyua kiti (um
moço que estava na margem do outro lado).
§ i20. Maá (que) constrói-se como em português. Ex.: xaputare maá repu-
tare catu pire (quero o que queres melhor).
§ i25. Ixé iara (meu), indé iara (teu), aé ou i iara (seu), iané iara (nosso),pe-
nhe) iara (vosso), aetá iara (deles), são os adjetivos possessivos por ""''-""~u'-"''
que podem ser ainda mais afirmativos com a forma enfática ixé iara
tenhên mesmo, ou o dono mesmo).
Nem por isso de ser adjetivos possessivos: cé (meu), né (teu), aé, i
(seu), iané (nosso),penhê (vosso), aetá (deles).
A para a afirmação ou constatação da proprie-
dade ea para tal é
como que menos absoluta. Ex.: À pergunta: auá iara? (quem o dono?)
de-se: ixé iara (eu sou o dono), ou Fulano iara (o dono é Direi pelo
contrário: cé piá (o meu coração), né roca (a tua casa), i putyra (a sua flor), se
apenas enuncio de quem é a coisa.
Caso
PRONOME
VERBO
§ 131. O verbo, que serve de nexo entre o atributo e o sujeito da oração, afir-
mando ou negando a sua existência, as qualidades, o modo de ser, a ação que
desenvolve ou sofre, é talvez a parte mais original da nossa boa língua, e isso
tanto com referência à morfologia como à sua relativa simplicidade.
§ 133· Além de faltar-lhe o verbo ser, lhe falta um verdadeiro e próprio ver-
bo auxiliar.
Alguma vez dá-se como tal o verbo icô (estar); mas não só não o é, como em
idênticas circunstâncias se poderia considerar auxiliar qualquer outro verbo.
§ i35. Como acontece com as línguas neolatinas, sem exceção para o por-
tuguês, o verbo nheengatu tem três pessoas no singular e três pessoas no plu-
ral, com formas diferentes para se acomodar à pessoa e ao número do sujeito.
A semelhança acaba aí.
Tempo e Modo
Todos eles, se podem algumas raríssimas vezes ser omitidos, ficam invariá-
veis para todos os tempos e todos os modos.
§ 139. O imperfeito se obtém com os advérbios iepé ou ramé. Ex.: ixé xare-
cô iepé (eu em um mais ou
num sentido como que mais concreto, que se mo-
mento de que se fala. Mas são nuanças que nem sempre são ª''·'""ª'"ª'"
-se ou se não é
§ O aoristo forma-se com ana ou cuera. Ex.: ixé xarecôana (eu tive ou
140.
§ 144· o se
vez). Ex.: ixé xarecô ipu ixé
xarecô cury ipu venha a ter).
'~'""·"U' dando
acabamos
O correntemente
éo e as
formas do """"cv,
veniente, salvo na terceira pessoa do plural, quando ele é necessário para evi-
tar a ambiguidade que pode haver, sempre que o sujeito plural não decorra do
contexto. Geralmente, porém, especialmente o da primeira pessoa singular, o
pronome é raramente omitido na oração com que se inicia qualquer relação
de fatos acontecidos mais ou menos remotamente, embora não seja repetido
senão muito raramente no resto do discurso.
Pelo contrário, o prefixo pessoal nunca pode ser omitido, como parte inte-
gral que é do verbo. O dizer-se que não se precisa de prefixo em alguns verbos
que começam por u é a consagração irrefletida de um erro de pronúncia, pro-
veniente de pronunciarem u o prefixo o e de fundirem depois os dois uu em
um único u.
§ 151. Os advérbios que servem para caracterizar o tempo e o modo são so-
mente usados, sobretudo na conversa familiar, quando há absoluta necessida-
de de indicar uma coisa ou outra.
Em qualquer hipótese, porém, são sempre usados muito parcimoniosamente,
de modo que o seu uso pode escapar facilmente a quem não está ainda familia-
rizado com a língua e com o modo de falar do indígena. Na prática dispensa-se
toda indicação sempre que o tempo e o modo resultam do contexto, e, uma vez
indicado o tempo, geralmente na oração inicial, continua-se no presente. Já nos
tem acontecido ouvir a relação de um fato, feita toda no presente, como se fora
da atualidade, e no fim ouvirmos dizer: cuá pau cociymauara (tudo isso é antigo).
§ i58. O nheengatu não tem a forma passiva, nem especial para ver-
ter a ideia passiva, como é expressa nas neolatinas. Nada perde com a
além de ter um ou outro verbo de significação passiva, é sempre ver-
ter para o ativo uma frase passiva.
Ex.: "A terra foi criada por Deus" só pode ser traduzida pela equivalente
ativa: Tupana omunhãna yuy (Deus criou a terra).
Negação. Interrogação
§ i65. O verbo, como se vê, não sofre alteração; todavia, quando se torne
necessário usar de qualquer advérbio para indicar o tempo da ação, estes de-
vem ser postos sempre antes do verbo e não em seguida, como acontece regu -
larmente nas orações positivas(§ i38 e ss.). Ex.: makiti cuera reiumime será aé?
(onde tu o escondestes?), auá cury oiucá aé? (quem o matará?)
§ 167- Cumpre aqui falar de outro modo, que, embora não seja suscetível da
generalização daqueles, todavia, ao mesmo tempo que serve para melhor fazer
compreender a morfologia da nossa boa língua, vai mostrar com que simplici-
dade se consegue formar novas palavras.
Para isso, em muitíssimos casos, é suficiente aditar ao tema verbal já exis-
tente um substantivo, e mais raramente outra qualquer parte do discurso, de
significação determinada e que exprima uma relação que precise, modifique,
determine a ação expressa pela ideia contida no tema oríginal; notando-se que
o novo verbo assim obtido é ainda suscetível de novo significado com a adição
de iu e mu, e muitas vezes até com a duplicação do tema. Ex.:
caánupá (brocar o mato), de caá (mato) e nupá (bater).
caápepena (assinalar o mato), de caá (mato) e pepena (dobrar, ir quebrando).
cambyiuuca (ordenhar), de camby (leite) e iuuca (tirar).
cambyiuci (mamar), de camby (leite) e iuci (limpar).
embyrári (parir), de embyra (filho) e ári (cair).
itacuatiare (gravar, esculpir), deitá (pedra) e cuatiare (riscar).
maramunhã (pelejar), de mara (guerra, rapina) e munhã (fazer).
mbeúpau (pormenorizar), de mbeú (contar) e mpau (tudo).
mbeúpuxi (maldizer), de mbeú (contar), e puxi (mal, mau).
pôiauyca (submeter), depô (mão) e iauyca (abaixar).
pôiucá (matar à mão), depô (mão) e iucá (matar).
sóecé (arremeter), de só (ir) e recé (contra).
suápoké (disfarçar-se), de suá (cara) e poké (embrulhada).
suápupeca (dissimular), de suá (cara) e pupeca (fechar).
ADVÉRBIO
§ i69. Os principais advérbios de tempo são: cuíre (agora), raln, raen (ain-
da), oiy (hoje), coemana (cedo), tenondé (antes), cuecé (ontem), amu cuecé
(antes de ontem), cueceyma, cociyma (antigamente), cuera (muito antes), ui-
randé (amanhã), cury (logo), curymiri (logo mais), cury-eté (logo já), ramé,
aramé (quando, então), araiaué (sempre), arayma (nunca), coaruca (tarde),
cuíre ramé (no entretempo) etc. etc.
§ 170. Os de lugar: arupé, ar'pe (em cima), yuyrupé, yuyr'pe (embaixo), asuí
(aquém), akiti (além), dape, ape (lá), suindape (acolá, em face), ocar'pe, ocá-
rupé (fora), iuaté (arriba), iké (aqui), ikente (aqui mesmo), mími (aí), tenondé
em cusucuí (eis aqui), misucuí (eis aí), mími-catu (aí mesmo),
apecatu (longe), ruake (perto), easakire, sacakire (atrás), pité-rupé, piter'pe
mími-rupí (por aí) etc. etc.
§ 171. Os de modo: maié (assim), iaué (como), cuaiaué (deste modo), curete
curumü (diversamente), teente (inutilmente) etc.
A estes ser aditadas as formas adverbiais compostas de rupi e um
e mais raramente um substantivo, e que correspondem aos advérbios
em -mente. Ex.: com vagar), xaisu-
cikié-rupi (medrosamente), cipi-rupi (vingativamente),
piá-catu-rupi (bondosamente), piá-puxi-rupi
seus numerosos
conseguintemente), cuá-iaué-suí (nessa
ariré (depois), e outros que foram incluí-
assim para a sua gente); Cauará, omaan arama isupi ramé Cucui ombaú mira,
omundu omixira nhaã acanga (Cauará, para ver se era verdade Cucui comer
gente, mandou assar aquela cabeça); mucuin riré (dois meses
§ 177A. Os advérbios de tempo, que não são empregados para determinar espe-
cialmente o tempo do verbo, precedem sempre a este e ao próprio sujeito, quando
expresso. Ex.: mairamé ocyca apecatu-xinga apitá chega um pouco lon-
ge para), aramé-ana, paá, iepé caripira ure suake iepé yua recé (já então,
contam, um caripira veio sentar-se sobre uma árvore próxima), uirandé,
iané paia coaracy opuamo renundé (amanhã, antes de nosso pai o sol se levantar).
POSPOSIÇÃO
§ i79. As posposições são: opé (em), suí (de), cecé e recé (para, a, contra),
rupi (por, pelo), arama (para), supé (para), irumo (com), kiti (para, a, verso
de), píri (para, perto de), pupé (em, dentro de), arupe (sobre, em cima de),
yuyrupe (debaixo), tenondé (ante), pitérupe (entre), iuanti (contra, verso de),
kasakire (atrás de), ramé (durante), ruake (perto de).
Algumas destas vozes já foram notadas como advérbios e tais se tornam
pelo emprego que delas se faz, e algumas outras parecem supérfluas, desde que
têm o mesmo sentido. Apesar da significação quase igual, não são sinônimas
no estrito sentido da palavra; entre elas há nuanças de significação, que rara-
mente permitem que sejam usadas indiferentemente uma pela outra. Vejamos,
embora rapidamente, o emprego delas.
§ i82. Suí (de, do, da, dentre) indica mais especialmente o lugar de onde se
chega, se sai, se tira, assim como serve para as relações que, por via de regra,
correspondem ao genitivo dos latinos, e que se costuma de preferência indicar
prepondo o nome da matéria de que a coisa é feita ao nome da coisa, e o nome
do possuidor ao da coisa possuída etc. etc. (§ 69). Ex.: Jasica cuecé mairi suí
(chegamos ontem da cidade); auá penhe suí mena putaua? (qual é dentre vós
a noiva?); patuá itá suí (caixa de ferro); cé memi iauareté cãuera suí (a minha
flauta é de osso de onça).
§ i83. Recé, arama, supé, kiti, todas podem ser traduzidas por para, a, mas
muito raramente poderão ser usadas indiferentemente uma pela outra.
Cecé, recé (em, a, a respeito de, com referência a, para) com a acepção de
dirigir-se contra alguém que está presente. Ex.: Opurandu ce recé (Pergunta
a mim); Tepocy uasu oiupicica aé cecé (Um sono grande pegou-se nele);
Opurunguetá mendaresaua recé (Falou acerca do casamento); Pexiare uri tai-
nhaetá ce recé (Deixai vir a mim ou para mim as crianças). Iasó i recé (Vamos
a ele, para ele, aonde está ele); daí, pois, sorecé e soecé, com a significação de
atacar, arremeter, investir.
§ 184. Arama (para, a), supé (para, a, por) são as que mais analogia têm
entre si, embora nem sempre elas possam substituir-se indiferentemente. Ex.:
Iauacaca oyapíri yarapé oiuuca pirá cacuri suí arama (Lontra sobe o igarapé
para tirar o peixe do cacuri); Omunhã nhã mpau ocica mamé oputare arama
(Faz tudo aquilo para chegar onde quer). Em qualquer destas frases não se pode
usar supé. Ao contrário, na frase: Omungaturu uyua i paia arama (Prepara as
flechas para seu pai), arama pode ser substituído por supé st.m inconveniente.
Tupana arama e Tupana supé não querem dizer a mesma coisa; o primeiro
diz: para Deus, e o segundo: por Deus.
Supé pode alguma vez substituir recé. Ex.: Pexiare uri tainhaetá ce supé equi-
vale a outra Pexiare uri tainhaetá ce recé (Deixai vir a mim as crianças).
§ i85. Kiti (a, para), que se ouve pronunciado keti e keté, indica movimento
de um lugar para outro, aonde se vai ou se chega. Ex.: Xasó oca kiti (Vou à casa
ou para a casa). Nesta acepção não pode ser substituída com propriedade por
nenhuma outra posposição.
Pode alguma vez substituir opé. Ex.: Xasaru indé ce oca kiti (Espero-te em
minha casa), frase em que kiti pode ser substituído por opé.
§ i88. Píri tem também o sentido de "em" e "à'. Ex.: Opitá oca píri quer dizer
tanto quanto Opitá oca opé (Fica em casa), com a diferença, todavia, de que píri
é muito menos preciso de que opé.
Igualmente, Osó oca píri e Osó oca kiti querem ambos dizer "Vá à casà', com
a única diferença de kiti indicar, com mais precisão, que a casa é o lugar da
chegada, no entanto que píri não tem esta exatidão; indica, apenas, uma apro-
ximação, "ao pé da casà'.
§ i89. Neste sentido, píri como que equivale a ruake (perto, ao pé de, próxi-
mo). Ex.: Osasauana ce píri e Ososauana ce ruake querem ambas dizer "Passou
ao pé de mim''.
Ruake e píri indicam antes proximidade, e como tais são ambos imprecisos
e nesta significação podem ambos alguma vez ser usados em lugar de recé. Ex.:
Ure ce ruake, Ure ce píri, Ure ce recé significam todas "Vem a mim''.
CONJUNÇÃO
INTERJEIÇÃO
§ 206[196]. São expletivas das orações interrogativas paá, taá, será. Embora
nenhuma tenha uma significação qualquer que possa ser traduzida, nem sem-
pre podem ser usadas uma pela outra. Se entre paá e taá, a equivalência é ab-
soluta, apenas sendo uma questão de preferência local ou individual o empre-
go desta ou daquela, com referência a será parece que o seu emprego é mais
especialmente reservado para as interrogações que visam ao interesse direto
da pessoa a quem se fala, no entanto que as primeiras se empregam quando o
interesse é indireto e a interrogação versa sobre negócio alheio.
Quanto à colocação, se não existe o verbo, a expletiva é posta logo depois
do sujeito e antes do seu complemento. Ex.: Cuaetá, cerá, ne maramunhan-
gara? (São estes os teus guerreiros?); Nhaetá, paá, i anama? (São aqueles
os seus parentes?). Embora a oração nheengatu seja traduzida com o verbo
ser, que, aliás, não contém ( § i32), nem por isso nem cerá nem paá têm esta
significação.
Quando a interrogação contém o verbo com o sujeito expresso, ou o verbo
é precedido de algum advérbio interrogativo, haja ou não o sujeito, a expletiva
é posta entre estes e o verbo. Ex.: Tupana tee n, cerá, omundu indé reiuapica
iané piterupe? (O próprio Deus, será, te mandou estabelecer no meio de nós?);
Maiaué, paá, ocica? (Como chega?); Marecé aé, taá, inti osó suainhana recé?
(Porque ele não foi contra o inimigo?).
Quando não há sujeito expresso, a expletiva vem logo depois do verbo. Ex.:
Resó putare, cerá, cé irumo? (Queres ir comigo?); Osó cuau, taá, i mira irumo?
(Pode ir com a sua gente?).
§ 207(197). Paá é também expletiva usada nas orações narrativas e nas afir-
mativas de fatos contados por terceiros, e traz consigo como que uma pequena
dúvida. Encontra-se sempre usada como que a diminuir a responsabilidade de
quem relata ou afirma alguma coisa, que não afirma ou relata de ciência pró-
pria. Ex.: Uayú, paá, oyapire Cunuiary paranã ramé, omuatire mira uacemo uá
pé rupi (Uayú, dizem, quando subiu o rio Cunuiary, ajuntou a gente que en-
controu no caminho).
A expletiva, na hipótese, é sempre preposta ao verbo, mas não se pode co-
meçar a oração por ela, devendo, quando não existe expresso o sujeito ou não
há outra parte do discurso que preceda o verbo, ser ela, pelo menos, precedida
pelo pronome pessoal do verbo. Ex.: Iepé ara, paá, ocenduana, masuí coaracy
ocemo kiti, teapu uasu (Um dia, contam, ouviram do lado de onde o sol sai um
grande barulho). E é inserida sempre quebrando a oração. Ex.: Iepé ara nhunto
uatare, paá, yacy omanô arama (Só faltava um dia, contam, para a lua morrer
[para o eclipse]).
CONSTRUÇÃO DA ORAÇÃO
as diversas vimos
a uma delas, a sua colocação com
com
Como complemento, vamos agora ver rapidamente
a da oração nheengatu. Costuma-se que a construção da ora-
construção da oração portuguesa e em
mor
O que
é-nos
o su-
do membro para o i soca,
tuixaua omuatire i mira oiuírí arama acabou a sua casa, o tuxaua reu-
niu sua para
O que não seria sem pa-
nos diversos mas isso não seria
§ 211[201]. A como é
por é prepor o este do atributo.
O que é exato em português o é em nheengatu, como o demonstra a oração
acima transcrita.
Se de ordinário a ordem da oração não pode ser invertida, pode-o, todavia,
sempre que a inversão não mude o sentido ou não traga ambiguidade. Não
saberíamos dar outra regra: o usar ou não de orações invertidas depende do
senso de conveniência ou inconveniência, que se adquire falando e ouvindo fa-
lar a língua. Ex.: Mira ceiía ocica yarapape (Muita gente chega ao porto) pode
perfeitamente inverter-se para: Yarapape ocica mira ceiía; e mesmo: Ocica ya-
rapape mira ceiía, que sempre vem a dizer a mesma coisa, embora no segundo
caso se diga "Ao porto chega muita gente': e no terceiro "Chega ao porto muita
gente''.
§ 218[208]. Por costume dos que falam a nossa boa língua, senão por índole
dela, o discurso se desenvolve por pequenas orações, como que soltas e destaca-
das, que podem ser separadas, quando reduzidas a escrito, por ponto-e-vírgula
e muitas vezes por ponto final. Isso explica o pouco uso, que correntemente se
faz das conjunções.
Ex.: Aramé Iauacaca oiupiro oiumu; curauí ouéuéana maracaimbara-ma-
nha-etá recé; inti iepé ocanhemo; apanhe oiucá; inti-iepé oiauau cuau. Curaul
otucá ruakeuara, apecatuara, osaentiuara, iauauara, oiumimeuara iuíre, apa-
nhe omanô-ána (Então Lontra começou a flechar; os curabis voavam para
os feiticeiros; nenhum se perdia; todos matavam; ninguém pode escapar. Os
curabis alcançam os de perto, os de longe, os que vêm, os que vão e os que se
escondem, todos morrem).
Tefé, 1 de 1920.
Do Selvagem
Iauti mira catu, intimaã mira puxi. Oicó O jabuti é gente boa e não gente má.
itapereyuá uyrpe, osanhana i temiú. Estava debaixo do taperibá juntando a
sua comida.
Tapyira caaiuara ocyca ape, onheen ixu- Chega aí a anta do mato, diz para ele:
pé: "Retyryca iauti ki xii". "Retira-te de aí, jabuti".
Iauti osuaxara ixupé: "Jxé ki xii inti xa- O jabuti respondeu para ela: "Eu daqui
tyryca mãá recé xaicó co yuá yua uyrpe". não me retiro, porque estou debaixo da
minha árvore de fruta''.
"Retyryca, iuati, curumu xá piru indé." "Retira-te, jabuti, senão te piso:'
"Repiru remãen arama, inhé nhu cerá "Pisa, para tu veres se tu só és homem!"
apyaua!"
Tapyira, yurupari, opiru iauti teté. A anta, diabo, pisou o coitado do jabuti.
Tapyira osoana; iauti cuaí onheen: "Te- A anta foi-se embora; o jabuti disse as-
nupá, yurupari, amana ara ramé cury xa- sim: "Deixa estar, diabo, sairei no tempo
cemo, xasó ne racacuera mamé catu xaua- da chuva e vou ao teu encalço até encon-
cemo ndé; xameen cury indé arama reiu- trar-te; te darei o troco de me teres en-
tyma recuiara ixé". terrado".
Amana ara ocycana iauti ocemo arama. Chegou o tempo da chuva para o jabu-
ti sair.
Iauti ocemo osoana yurupari uasu raca- O jabuti saiu, foi logo atrás do diabo
cuera. grande.
Oíuiuanti tapyira pypora irumo. Iautí Encontrou-se com o rastro da anta. O
opuranu íxupé: ''Muirí ara ana ne iara jabuti perguntou a ele: "Quanto tempo é
oxíare índé?" que teu dono te deixou?"
Pypora osuaxara: "Cuciíma ana ce O rastro respondeu: "Há muito já que
oxiare". me deixou".
Iauti ocema axii, iepé iacy riri oiuiuanti O jabuti saiu daí, um mês depois en-
amu pypora irumo. controu-se com outro rastro.
Iauti opurandu: "Apecatu rafn será ne O jabuti perguntou: "Está ainda longe
iara oikó?" o teu dono?"
Pypora osuaxara: "Reuatá ramé mocof O rastro respondeu: "Se andares dois
ara resuanti curi aé irumo". dias te encontrarás com ele''.
Iautí onhee ixupé: "Ce cuerana xacicári; O jabuti disse para ele: "Estou aborreci-
aé ipó osó reteana". do de procurar, ela talvez já se foi".
Pypora opurandu: ''Mãá recé, taá, cuité O rastro perguntou: "Por que razão
recicári reté aé?" agora procuras tanto ela?"
Iauti osuaxara: "Intimaã maã arama; O jabuti respondeu: "Para nada, quero
xapurunguetá putare aé irumo". conversar com ela".
Pypora onheen: "Aramé resoana paranã Disse o rastro: "Então vá ao paraná mi-
mirf keté, aape cury reuacemo ce rubá tu- rim, lá tu acharás meu pai grande".
rusu".
Iauti cuai onheen: "Aramé xasó raf". O jabuti disse: "Então ainda vou''.
Ocyca paranã mirf pupé, cuai opuran- Chega ao paraná mirim, pergunta deste
du: "Paranã maá paá no iara?" modo: "Paraná, cadê teu dono?"
Paranã osuaxara: "Taucuau!" O paraná responde: "Não sei!"
Iauti onheen paraná supé: ''Maárecé taá O jabuti disse para o paraná: "Por que
iaué catu renhee ixé?" razão me falas assim?"
Paranã osuaxara: 'Xa nhee iné arama O paraná respondeu: "Eu falo para ti
nhaã iaué catu, maárecé xacuau maá ce assim, porque sei o que meu pai te fez".
rubá omunhã ne arama".
Iauti onhee: "Tenupá oicó, ixé cury xa O jabuti disse: "Deixa estar o que é, eu
uacemo aé. Aramé cuíre, paranã, xasó ne o acharei logo. Então, paraná, agora saio
suí; remaen ramé cury ixé ne paia reyuera de ti; quando me vires já eu estarei com o
irumoana". cadáver do teu pai".
Paraná onhee: "Ten reiauky ce rubá iru- O paraná disse: "Não bulas com meu
mo! Tenupá okyri". pai! Deixa dormir''.
Iauti onhee: "Cuíre supi ce ruri catu; pa- O jabuti disse: "Agora certo me alegro
ranã xasó ral''. bem; paraná, já vou:'
Paranã osuaxara: '!\.! iauti iné ipó reiu- O paraná respondeu: "Ah! jabuti, tu
iutyma putare mocof ué!" queres fazer-te enterrar outra vez!"
Iauti onhee: "Jntimaã xa-icó ara uyrpe O jabuti disse: "Não estou no mundo
itá arama; cuíre xasó xamaõ kirimbaua para pedra; agora vou ver se é valente
pire uaá ce suí; eré paranã, xasó rai". mais do que eu''.
Iauti osóana; paranã mirf remeyua rupi O jabuti foi pela vara do paraná mirim,
ouacemo tapyira. encontrou a anta.
Iauti onhee cuáa iaué: "Xauacemo indé O jabuti disse deste modo: "Encontrei-te
o intimaã? Cuíre remae ce irumo. Ixé, paá, ou não? Agora te hás de avir comigo. Eu,
apyaua". dizem, sou macho!"
Opuri tonondé tapyira rapiá opé. Pulou adiante nos escrotos da anta.
Cuaí onhee: "Tatá, paá, osapy opaf Disse assim: "O fogo, dizem, queima
rupi". por toda a parte".
Iauti opúri kirimbasaua irumo tapyira O jabuti pulou com valentia sobre os
rapiá recé. escrotos da anta.
Tapyira iacanhemo opaca. A anta assustada acordou.
Tapyira cuaí onhee: "Tupana recé catu, A anta assim disse: "Pelo bom Deus, ja-
iauti, rexári ne rapiá". buti, larga os meus escrotos".
Iauti osuaxara: "Ixé intimaã xaxári, O jabuti respondeu: "Eu não deixo,
maãrecé xamae putári no kirima-uasaua". porque quero ver a tua valentià'.
Tapyira onhee: "Aramé aicó xasó". A tapiira disse: "Então estou indo".
Tapyira opuama, unhana paranã mirf A anta levantou-se, correu para opa-
rupi; mocof ara pauasape tapyira oma- raná mirim; no fim de dois dias a anta
noana. morreu.
Iauti cuaí onhee: "Xaiucá indé ô inti- O jabuti assim disse: "Te matei ou não?
maã? Cuíre xasó xacícári ce anama-itá ou Agora vou procurar os meus parentes
arama ndé". para te comer".
IAUTI IAUARETÉ O JABUTI E A ONÇA
Iauti osacemo: "Ce anama-itá! Ce ana- O jabuti gritou: "Meus parentes! Meus
ma-itá iúre!" parentes venham!"
Iaureté cenõ, osó aketé, opuranu: "Maá- A onça ouviu, foi para lá, perguntou:
ta resacemo reikó iauti?" "Que estás gritando, jabuti?"
Iauti osuaxara: ''Xacenoin xa icó ce ana- O jabuti respondeu: "Estou chamando
ma-itá ou arama ceremiara uasu tapyira". os meus parentes para comer a minha
caça grande, a antà'.
Iaureté onhee: "Reputári xamuf tapyira A onça disse: "Queres que eu parta a
indé arama?" anta para ti?"
Iauti onhee: ''Xaputári; remunuca iepé O jabuti disse: "Quero; corta uma ban-
suaxara iné arama; amu ixé arama". da para ti, outra para mim''.
Iauareté onhee: "Aramé resó reiuca A onça disse: "Então vá a tirar lenha''.
iepeá".
Iauti osó, pucusaua iauareté osupíri ixi- O jabuti foi; no entanto a onça carregou
miara, oiauau. com a caça dele, fugiu.
Iauti ocica ramé uacemo nhunto-ana Quando o jabuti chegou, só encon-
tiputi, oiacau iauareté irumo onhee: trou as fezes, ralhou com a onça e disse:
"Tenupá! Amu ara xaiuiuanti cury ne "Deixa estar; algum dia hei de encon-
irumo". trar-me contigo".
Da "La Langue Tapihiya Dite Tupi ou Nheêngatu"
DO R. PADRE TASTEVIN
Iauti mira catu, timaã puxi. Uicu tape- O jabuti é boa gente, não gente má. Es-
reuá euirpe usaan arama citimiú. tava debaixo do taperibá saboreando a
sua comida.
Tapi usyca aape unhee isupé: "Retirica, A anta chega aí o diz para ele: "Retira-te,
iauti, retirica iké suí". jabuti, retira-te de aí''.
Iauti osuaxara isupé: "Ixé iké sui nti xa- O jabuti respondeu-lhe: "Eu de cá não
retirica, marecé xa icu ce yua euirpe". me retiro, porque estou debaixo da mi-
nha árvore".
"Retirica, iauti, curumu xapiru iné." "Retira-te, jabuti, do contrário te piso:'
"Repiru, remaã arama iné nhü será "Pisa, para ver se tu só és macho:'
apyaua."
Tapiira iurupari upiru iauti teté. O diabo da anta pisou o pobre do jabuti.
Tapiira usuana. A anta foi-se.
Yauti cuaí unhee: "Tenupá, iurupari, O jabuti assim disse: "Deixa estar, dia-
amana ara ramé cury xacamo, xasu ne bo, com o tempo da chuva sairei, irei no
racacuera upé, mamé catu xauacema iné; teu encalço até onde te encontre; darei
xamee cury ne arama, reiutyma ixé recé então para ti o troco de me teres enter-
ne recuiara". rado".
Amana ara ucycana ramé iauti uce- Quando chegou o tempo da chuva, o
mana. jabuti saiu.
Iauti usuana iurpari uasu racacuera O jabuti foi no encalço do grande dia-
upé. Uiuiuanti tapiira pepora irumo. bo. Encontra-se com o rastro da anta.
Iauti upuranu isupé: "Muíri ara ana ne O jabuti pergunta: "Quanto tempo é
iara uxiári indé?" que teu dono te deixou?"
Pepora osuaxara: "Cuciy-mana ce O rastro respondeu: "Me deixou desde
uxiári". muitíssimo tempo''.
Iauti ucema asuí. Iepé yacy riré oiuiuan- O jabuti saiu daí. Um mês depois en-
ti amu pepora irumo, iauti upuranu isupé: controu-se com outro rastro, o jabuti
"Muíri ara ana ne iara uxiári indé?" perguntou para ele: "Desde que tempo
teu dono te deixou?"
Pepora usuaxara: "Cuciy-mana ce O rastro respondeu: "Me deixou desde
uxiári". muitíssimo tempo."
Iauti ucema asuí. O jabuti saiu daí.
Iepé yacy riri oiuiuanti amu pepora iru- Um mês depois encontrou-se com ou-
mo, iauti upuranu: "Apecatu rain será ma- tro rastro, o jabuti perguntou: "Está ainda
mé no iara uicu?" longe o lugar onde se acha o teu dono?"
Pepora usuaxara: "Apecatu". O rastro respondeu: "Longe''.
"Muíri?" "Quanto?"
"Reuatá ramé mucoin ara resuanti cury "Se andares dois dias te encontrarás
aé irumo." com ele."
Iauti unhee isupé: "Ce coir-ana xacicári; O jabuti disse para ele: "Estou enfada-
aé ipu usu reté-ana". do de procurar tanto, quem sabe ele foi
de vez''.
Pepora opuranu: "Marecé taá coité reci- O rastro perguntou: "Por que agora
cári retê aé?" mesmo o procuras tanto?"
Iauti usuaxara: "Timaã maã arama. O jabuti respondeu: "Para nada. Quero
Xapurunguetá putári aé irumo". conversar com ele".
Pepora unhee: "Aramé resu-ana paranã O rastro disse: "Então vai já no paraná
miri kiti aape reuacema ce paia turusu". miri, lá tu encontrarás o meu grande pai:'
Iauti cuaí onhee: "Aramé xasu rain". O jabuti disse assim: "Então vou já''.
Ucyca paranã miri pupe, cuai upuranu: Chegando ao paranã miri, assim per-
"Paranã maã, paá, ne iara?" guntou: "Paraná, onde está teu dono?"
Paranã usuaxara: "Tacuau!" O paraná respondeu: "Quem sabe!"
Iauti unhee paranã supé: "Marecé, taá O jabuti disse para o paraná: "Porque
iaué catu renhee ce arama?" dizes assim para mim?"
Paranã usuaxara: 'Xanhee iné arama O paraná respondeu: "Falo-te deste
nhaá iaué catu, xa-cuauana recé ma ce modo, porque sei o que meu pai fez para
.,,
paia umunhana iné arama". t l.
Iauti onhee: "Tenupá uicu: ixé cury O jabuti disse: "Deixa estar: eu o en-
xauacema aé. Aramé cuiri, paranã, xasu contro já. Então agora, paraná, vou de ti
iné suí; remaã ramé cury ixé ne paia (deixo-te); quando me vires, estarei com
reãuera irumoana". o cadáver de teu pai".
Paraná onhee: "Timaã reiuaky ce paia O paraná disse: "Não bulas com meu
irumo! Tenupá ukiri". pai! Deixa-o dormir".
Iauty unhee: "Cuiri supy ce ruri catu O jabuti disse: "Agora na verdade sou
(xa-rury catu), paranã, xasu rain". bem contente, paraná, já vou".
Paranã osuaxara: 'J:\.! iauti, iné ipu O paraná respondeu: "Ah! jabuti, tu es-
reiuiutyma putári mucuen f". tás talvez com vontade de ser enterrado
segunda vez".
Iauti unhee: "Timaã xaicu ara uírpe itá O jabuti disse: "Eu não estou sobre a
arama; cuiri xasu xamaã kyrimau píri terra para ser pedra; agora eu vou ver se
uaá ixé suí. Eré paranã xasu rain". é mais forte de que eu. Está bom, paraná,
já vou''.
Iauti osuana paranã mirl remeyua rupi, O jabuti foi pela margem do paraná
uuacema tapiira. miri, encontrou a anta.
Iauti unhee cuá iaué: "Xauacema iné O jabuti disse: "Te encontrei ou não?
timaã? Cuiri remãã cury se arama ixé Agora é para me ver logo, se eu também
apyaua ramé". sou macho".
Upúri renoné tapiira rapza upé, cuaí Pulou diante dos escrotos da anta di-
unhee: "Tatá, paá, usapi upain rupi". zendo assim: "O fogo, dizem, queima
tudo".
Aéuana upuri kyrimasaua irumo tapii- Em seguida pulou com força nos escro-
ra rapiá recé. tos da anta.
Tapiira iacuayma upaca. A anta espantada acordou.
Tapiira cuaí unhee: "Tupana recé, iauti A anta disse assim: "Por Deus, jabuti,
rexiári ce rapiá". deixa meus escrotos:'
Iauti usuaxara: "Jxé timaã xaxiári, ma- O jabuti respondeu: "Eu não largo, por-
recé xamaã putári ne kyrimasaua". que quero ver a tua valentia".
Tapiira unhee: 'J:\.ramé xasu xaicu". A anta disse: "Então estou andando".
Tapiira opuama unhama paranã mirl A anta levantou-se, correu para o para-
rupi; mucuin ara pausape tapiira umanu- ná miri; no fim de dois dias, a anta mor-
ana. reu.
Iautí cuaí onhee: 'Xaiucaana iné timaã? O jabuti disse assim: "Matei-te ou não?
Cuiri xasu xacicári ce anamaitá uu ara- Agora vou procurar os meus parentes
ma iné". para comer-te".
IAUTI IAUARATÉ IRUMO O JABUTI COM A ONÇA
Iauti usacema uicu: "Ce anamaitá, ce O jabuti estava gritando: "Meus paren-
anamaitá, peiúri!" tes, meus parentes, vindes!"
Iauaraté ucenu usu akiti, upuranu: A onça ouviu, andou a ele, perguntou:
''Maá taá resacema reicu, iauti?" "O que estás a gritar, jabuti?"
Iauti usuaxara: 'Xacenoi xaicu ce ana- O jabuti respondeu: "Estou chamando
maitá uu arama ce remiara uasu tapiira". os meus parentes para comerem a anta, a
minha caça grande''.
Iauaraté unhee: "Reputári será xamuí A onça disse: "Queres que parta a anta
tapiira iné arama?" para ti?"
Iauti unhee: 'Xaputári. Remunuca iepé O jabuti disse: "Quero. Corta uma ban-
suaxara iné arama, amu ixé arama". da para ti e a outra para mim".
Iauaraté onhee: "Aramé resu reiuuca ia- A onça disse: "Então vá tirar lenhà'.
peyua".
Iauti usu, pucusaua iauaraté usupíri ci- O jabuti foi, no entanto a onça carregou
miara uiauau. com a caça e fugiu.
Iauti ucyca ramé uacema nhunto tipu- Quando o jabuti chegou somente en-
ti, uiacau iauaraté irumo unhee: "Tenupá, controu os excrementos, zangou -se com
amu ara xa iuiuanti cury iné irumo". a onça e disse: "Deixa! um qualquer dia
me encontrarei contigo''.
Da Doutrina Cristã - Chrístu Muesaua
Tupana unhinhin iuíri: "Jumunhãn san- Deus disse ainda: "Faça-se o firmamen-
tasaua y aitá pyterupe; umufn y aitá ikiti to no meio das águas; divida as águas da-
amuitá suí". qui das outras''.
Cuá iaué iumunhãn. Assim se fez.
Tupana umucera santasaua supé iuaca, Deus chamou ao firmamento céu, o
puranga sukyra iaxipiá uá. belo azul que vemos.
Caruca coema iuíri suí iumunhãn ara Da tarde e da manhã se fez o segundo
mucuin. dia.
Tupana unhinhin iuíri: "Aicué y suíuára Deus disse ainda: "Haja das águas pei-
piraitá y-pé, uiraitá ueué uaayuy arpe, iua- xes n'água e pássaros que voem sobre a
ca santasaua iurpe". terra debaixo do firmamento do céu".
Cuá iaué iumunhãn. Assim se fez.
Tupana uxipiá maá catu uaá. Deus viu que a coisa era boa.
Umeen aitá supé bençam, umunu aitá Deu-lhes a bênção, ordenou-lhes que
supé iumuturusu arama, iumunhãn cetá crescessem e se multiplicassem.
arama.
Caruca coema iuíri suí iumunhãn ara Da tarde e da manhã se fez o quinto dia.
pu.
Tupana unhinhin iuíri yuy supé: "Re- Deus também disse para a terra:
mucema ne suí maá cecueaitá, suuaitá "Produze seres viventes, animais que an-
uatá uaá, iuceky uaá yuy rupi, suú'upain dem, que se arrastem sobre a terra, ani-
catu". mais de todas as espécies".
Cua iaué iumunhãn. Assim se fez.
Tupana uxipiá maá catá uaá. Deus viu que as coisas eram boas.
Tupana u-inhin: "Ja-munhã mira iané Deus disse: "Façamos o homem à ima-
rangaua iaué uaá; iara curi arama para- gem e semelhança nossa; para ser o dono
nã piraitá, iuaca uiraitá, suu upain catu dos peixes do rio, dos pássaros do céu, e de
u-icu yuype". todos os animais que estão sobre a terra''.
Tupana omunhã mira i-rangaua iaué Tupana fez a gente à sua imagem, à sua
uaá, i-rangaua iaué uaá Tupana u-mu- semelhança Tupana a fez; os fez homem
nhã aé; apgaua i cunhan u-munhãn aitá. e mulher.
Tupana u-meen aitá supé bençam, u- Deus deu para eles a bênção, depois
-inhin ariri: "Penhen pé-muturusu, disse: "Vos crescei, vos multiplicai, vos
penhen pe-iu-munhãn cetá, penhen pe- povoai a terra, vos possuí-a conforme a
-puracári yuy, penhen pe-ricu aé, pe-re- vossa vontade, fazei-vos donos dos pei-
mutara iaué uaá, penhen pe-iumunhãn xes, dos pássaros, de todos os animais
piraitá iara, uiraitá, upain suu cataca uaá também que andam por cima da terra".
yuy arpe yuíri".
Tupana u-inhin aitá supé: "Aicué xa Tupana disse para eles: "Eis que tenho
meen uaá supé upain maã, u-icu uaá yuy dado para vocês todas as coisas, que estão
arpe, penhen timiú arama". sobre a terra para vos servirem de comida''.
Tupana u-xipiá upain maã umunhãn Tupana viu que tudo estava muito
uaá catu reté. bom.
Caaruca coema yuíri suí iumunhãn ara Da tarde e da manhã se fez o sexto dia.
pu-iepé.
Cuá iaué iu-pauana iuaca yuy yuíri mu- Assim acabou-se a criação do céu e da
nhangaua, i purangaitá irumo. terra com todas as suas belezas.
Tupana u-pauana i munhangaua u-mu- Deus acabou a criação de tudo que fez
nhãn uaá ara pu-mucuin upé. no sétimo dia.
U-pytyú nhã ara rapaté upé upain maã Naquele dia descansou de todas as coi-
suí u-munhãn uaá. sas feitas.
U-muité aé, maarecé uxiare upain í mu- Santificou-o(?), porque deixou de todo
nhangaua suí. a sua obra.
Cuá iaué iuaca, yuy u-iupirungaua. Assim foi o começo do céu e da terra.
Da Carta PaStoral
DE D. FREDERICO COSTA
Daridarí u-nhengári reté curaci ara pu- A cigarra cantou muito durante o ve-
cusaua. rão.
U-munhana murace ara iaué iaué. Dançou todo o tempo.
U-mbaú-ana, u-u pau-ana irumaraitá Comeu tudo, bebeu tudo com as com-
irumo. panheiras.
U-puracé ara pucusaua, pituna pucu- Dançou todo o dia e toda a noite.
saua.
U-mbaú-ana upainhen uricú uaá. Comeu tudo o que tinha.
Nemanungara u-mungaturu ariré uara. Não guardou nada para depois.
U-cica amana ara supi rupiara irusan- Chega o tempo da chuva verdadeiro,
ga reté. por isso muito frio.
Amana uaári muíri ara, nharecé ti auá A chuva cai muitos dias, pelo que nin-
umunhãn cuau muraiki. guém pode trabalhar.
Aramé Daridarí u-iumaci, ti uricu ma- Então Daridari tem fome, não tem
nungara u-mbaú arama. nada para comer.
Utim receuara u-iurureu, kiririnto u- Com vergonha de pedir, suportou cala-
-purará uicupucu rupi. da por muito tempo.
Umanu putári ramé ana, ucamiricá Quando já estava para querer morrer,
imarica unheên: "Tiana apitasuca cuau apertando a barriga, disse: "Já não posso
iumaci". suportar a fome".
Ti apuraiki putári curaci ara ramé, ti- Não quis trabalhar no tempo do sol,
maan pusanga cuiri aiurureu ti arama agora não há remédio senão pedir para
ama nu. não morrer.
Auá suí, taá, maá? A quem mais recorrer?
Ce anamaitá upainhen umunhãn ce Os meus parentes todos fizeram como
ia ué. eu.
"Upainhen u-nhengári curaci pucusaua, "Todos cantaram durante o verão, ago-
cuiri u-purará u-icu irusanga, u-riri pau ra estão suportando o frio, todos estão
aitá u-icu." tremendo:'
Ukiriri umanduári, upucu xinga riré Calou-se, pensou, depois de pouco
onheen: disse:
"Timaan pusanga! Cuiri a-su atucatu- "Não há remédio! Agora eu vou bater
cá ce comadre taxyua okena. A-cuau catu à porta da minha comadre formiga. Não
curi puxi usuainti ixé". sei se me receberá bem ou mal".
''Mã maita maá u-munhãn? Ce pirasua- "Mas que fazer? A minha desgraça as-
saua iaué u-mundu." sim o manda:'
Cuaié u-nheen pau riré u-iu-munha- Acabou de dizer assim, depois ataviou-
mundeu; u-suana satambica taxyua ruca -se; foi direito para casa da formiga, que
kiti apecatu xinga uicu uaá asuí. morava um pouco longe daí.
U-tucatucá okeiua ucikié-saua rupi. Ta- Bateu na porta com medo. A formiga
xyua uri u-pirári okena onheen: vindo abrir a porta disse:
"Maié taá, comadre Daridari? Maá ma- "Que é isso, comadre Daridari? Que
randua urúri indé ce roca kiti?" novidade traz você à minha casa?"
Daridari utinsaua rupi u suaxara: Daridari com vergonha respondeu:
"Ah comadre! A-muaci reté anheen indé "Ah comadre! Eu sofro muito, o digo
arama, ixé amanu aicu iumaci rupi". para ti, eu estou a morrer de fome".
"A-iúri a-puru ne suí maã miri ixé ara- "Venho emprestar de ti qualquer pe-
ma família irumo. Tupana recé catu! agosto quena coisa para mim e minha família.
iaci tenendé xa-pagári curi upainhen." Se Deus quiser! Com a lua de agosto eu
poderei pagar tudo:'
Taxyua catu reté, ma supi tiupuruera. A formiga é muito boa, na verdade não
U-cendu riré Daridari nheenga u-muxiri- é emprestadeira. Depois de ter ouvido a
ca suá, u-purandu: conversa de Daridari fechou a cara e per-
guntou:
''Marama rericu iumaci? Maataá remu- "Por que tu estás faminta? Que fizeste
nhãn curaci ara pucusaua?" durante o tempo do sol?"
Daridari u-suaxara: ''Maataá ma u-su- Daridari respondeu: "O que hei de res-
axara indé, comadre? A-nhengári, a-pu- ponder-te, comadre? Cantei e dancei du-
racé iuyri nhaan ara pucusaua". rante todo este tempo''.
"Aramé", usuaxara taxyua, "cuiri, co- "Então'; respondeu a formiga, "agora,
madre, anhunten u-munhan cuau, re-iu- comadre, o que somente podes fazer é re-
piru re-puracé iuyri, marecé auá ti u-pu- começar a dançar, porque quem não tra -
raiki ti u-mbaú." balha não come:'
Da Poranduba Amazonense
DE BARBOSA RODRIGUES
Cuchi yma, paá, yepé yurará u iucá ui- Antigamente, contam, uma tartaruga
rauasu. matou o gavião.
U chiare chemericó yepé taíra meri. Deixou mulher e um filho pequeno.
Taíra u su u caamunu cenemue iauaué u O filho ia caçar cameleões, sempre en-
acema uirá pepó. U ceca oca opé u puran- contrava penas de pássaro. Chegando em
du i manha supé: 'Auá pepó cha u acema casa perguntou à sua mãe: "De quem são
caá pé cha su iauaué cha caamunu?" as penas que acho no mato cada vez que
vou caçar?"
"Cembira, ne paia u manu uaá." "Meu filho, são de teu pai que morreu'.'
U kiriri, iunto u mucaturu peá pé. I u Calou-se, somente guardou no cora-
munhan u su, icó u petá curumí uasu. ção. Ele foi ficando grande, estava a ficar
moço.
Yepé ara u su caamunu i uanti yuraray- Um dia em que foi caçar encontrou-se
-etá irumo. Ariri yuraray-etá u nheeng com as tartaruguinhas. Depois as tarta-
ichupé: "Ya su u iasoca iandé irumo". ruguinhas disseram para ele: "Vamos ba-
nhar-nos juntos".
Aé uana ué in: ''Ya su". Ele logo disse: "Vamos".
Aé uana, paá, aitá u iasoca, u iasoca opé, Ele, logo, contam, e elas banharam-se,
u pececa putare aitá i poampé irumo. ele quis pegar a elas com sua unha.
Aetá ué in ichupé: 'Arecé ce ariá oiucá Elas disseram para ele: "Por isso minha
ne paia". avó matou teu pai''.
"Cuere supi cha cuau ana auá u iucá ce "Agora deveras eu sei já quem matou
paia." pai:'
I u munhan, turusu ana aé uana u nhenhe: Já tinha-se feito grande, ele disse: "Eu
"Cha su cha saan ce kerembaua saua". vou experimentar as minhas forças''.
Aé uana, paá, u su u saan kerembaua Logo, contam, foi experimentar a for-
saua mirity ruan recé. U cêca, mundeua i ça no grelo do miriti. Chegou, meteu suas
poampé u musaca arama, u saan, u cekei, unhas para arrancar, experimentou, pu-
ne u musaca, u nhenhe: "Ne rain ce kerim- xou, não arrancou; falou: "Não sou ainda
baua''. forte''.
Ariri amé ei u su iuere u saan kerem- Depois, outra vez, voltou a provar sua
baua saua, aé uana u musaca, u nhenhe: força, ele já arrancou, disse: "Agora já es-
"Cuere kerembaua uana. Cuere supi cha tou forte. Agora sim que vou vingar meu
su cha i u peca ce paia ambyre; cuere cha defunto pai, agora espero que a avó das
saru mairamé i ariá yurará u cerna''. tartarugas saià'.
Yepé ara, paá, yurará ariá u musain Um dia, contam, a avó das tartarugas
tupé arpe parica; ariri o ricu amana uitu espalhou o paricá em cima do tupé, de-
irumo, aé uana ué in che mariareru etá pois houve chuva com vento, ela já dis-
supé: "Pe coin pumatere, pe mungui ara- se para as suas netas: "Ides recolher para
ma amana chii''. resguardar da chuvà'.
Yurará etá inti u su pire cuau i pucé, are- As tartarugas não puderam carregá-
cé aé uana aitá cenoe: "Ce ariá iure upe- -lo de pesado, por isso já elas chamaram:
tumu yandé''. "Minha avó, vem nos ajudar''.
Aetá ariá u cerna ure arama u petu- A sua avó saiu para vir ajudar suas ne-
mu che meriareru, uirá uasu u maiana u tas, o gavião que estava à espreita a viu
maan u cerna, aé uana u pure i arpe, supi- sair, e logo pulou em cima dela, o gavião
re uirá uasu pekia racanga keté. a carregou para um galho de piquiá.
Aé uana yurará uaimi ué in uirá uasu: Então a velha tartaruga disse para o ga-
"Cuere cha su cha manu, re cenõe care ne vião: "Agora vou morrer, manda chamar
anama etá ure arama u maan cha manu''. teus parentes para virem ver-me morrer''.
Aé uana uirá uasu etá anama ure opian, Então os parentes do gavião vieram to-
muere uirá etá u ceca, aé uana aetá u pe- dos, quantos pássaros chegaram então
tumu u iucá yurará uiami. eles ajudaram a matar a tartaruga velha.
Muere uirá etá u iucá uaá u petá nheen Quantos pássaros que mataram a tar-
imparauá, amo u petá piranga; nhaan u taruga ficaram pintados de várias cores;
cutuca uaá i pirera recé u petá i tin irumo aqueles que bateram na pele ficaram com
pichuna; amo u cutuca uaa i peá piara o bico preto; os outros, que bicaram o fí-
u petá sukire, iaué paua yurará iucasara gado, ficaram azuis, assim todos os mata -
etá yaué paua ana aitá upetá cochi yma dores de tartarugas, assim todos eles logo
ara etá. ficaram antigamente para sempre.
Das Lendas Indígenas
Max Roberto, Transcritas
KUKUHY
Lenda Baré
Iepé ara, paá, upãe mira osendu uasuhi Um dia, contam, toda a gente ouviu, da
Kuarasy os em o kyty tyapu uasu omunhan banda onde sai o Sol, um estrondo gran -
uaá yuy oryry. de, que fez tremer a terra.
Iepé paié tuiué, oiku uaá ape, opuká sé, Um pajé velho, que estava aí, riu gos-
ariré onheen: 'iluá ocuau uirandé aná te- toso, depois disse: "Quem sabe, amanhã
nhé osyka iké mira-usareté, oiupinima mesmo já chegam os comedores de gente
uaá se anga pype". que se pintam na minha imaginação''.
Sumuaraetá oiku suake, osendu aé, Os companheiros estavam perto, ouvi-
opurandu ieperesé uaá marandua aé ram isso, perguntaram logo que novida-
omaan. des ele via.
Aé osuaixara: "Mokue iasy ana ahicué Ele respondeu: "Há duas luas já que eu
ixé xamaan se anga rupi mira oreku uaá vejo na minha mente gente que tem cos-
sekusaua puxy oiupire oiku kuá paraná". tumes feios subir este rio''.
'iletá ombau mira iauareté iaué." "Eles comem gente como onça'.'
Ieperesé, paa, sumuaraetá opurandu aé Logo, dizem, os companheiros pergun-
suhi maa ikatu aetá omunhan nhaa mira taram o que era bom fazer adiante desta
renondé. gente.
Paié osuaixara: "Pekytyka catu uirári O pajé respondeu: "Vocês esfreguem
kuranietá resé nty arama aetá oseare bem o curare nos kurabis para eles não
sekué ana resé oiatyca. Apigaua kunhãetá, deixarem vivo quem eles espetarem.
upãe omaramunha kuri". Homens e mulheres, todos hão de brigar''.
"Nty kuri auá onhana suainhana re- "Ninguém há de correr em face do
nundé, iaiuká kuri aeté opãe. Iandé paia inimigo, havemos de matar todos eles.
Kuarasy, iandé maia Iasy okuau ana ian- Nosso pai o Sol, nossa mãe a Lua, conhe-
dé kyrymbasaua." cem já a nossa valentia:'
"Uirandé iané paia Kuaracy opuamo re- "Amanhã, antes de nosso pai o Sol le-
nundé, iandé tuhixaua rayra osu kuri Teiu vantar-se, o filho do nosso tuxaua deve ir
Yuytyra ara kyty, asuhi omanhana arama em cima da Serra do Teju, para de lá vi-
maeramé nhaa mira osyka." giar quando esta gente chega:'
Paié onheen kuá nhunto. O pajé só disse assim.
Nhaa tyapu uasu omunhan uaa yuy Aquele estrondo grande que fez a Terra
oryry, paá, nhaa paié tuiué tenhé ana tremer, dizem, foi este mesmo pajé velho
omunhan aé omukameen arama i kyrym- que o fez para mostrar a toda a gente o
basaua opãe mira supé. seu poder.
Musapire ara riré tuhixaua rayra Três dias depois o filho do tuxaua viu
omaan mira seyia oiupire paraná, iepere- uma porção de gente subindo o rio, veio
sé ure ombeú. logo contar.
Paié onheen aramé tuhixaua xupé: "Tu- O pajé então disse para o tuxaua: "Tu-
hixaua, remuatire ana iandé mira, iasu xaua, junta já a nossa gente, vamos espe-
iasaru nhaa mira puxy caxiuerupé. rar esta gente ruim na cachoeira.
Aetá oiuaky ramé iandé, iandé iama- Se eles bulirem conosco havemos de
ramunha kuri aetá resé, aetá osyka ramé brigar com eles; se chegarem como gente
mira katu iaué, mira katu iaué iandé kuri boa, como gente boa havemos de encon-
iasuaiti aetá. trá-los.
Iandé kurabi sakapyra manusaua, A ponta das nossas flechas é a morte,
peiuma katu." flechem direito."
Tuhixaua, paá, opurunguetá coiaué: O tuxaua, dizem, falou desta forma:
"Enen, iaué iasu iamunhan. "Sim, vamos fazer assim.
Iandé Tasyua-Tata Mira nty raen iasua- Nós, Gente Formiga de Fogo, ainda não
iti anã opuamo iandé renundé omaramu- encontramos quem se levante antes de
nha arama." nós para brigar:'
Kaaruca ramé ana, paá, upãe osendu Já de tarde, contam, todos ouviram to-
mimby muapusaua sury nhaa mira puxy que alegre de flauta para as bandas da-
kyty. quela gente ruim.
Tuhixaua rayra ieperesé osaan i piá A filha do tuxaua sentiu logo alegre o
sury maeramé osendu nhaa mimby mu- coração quando ouviu o toque dessa flau-
apusaua puranga, opurandu i paia supé: ta, perguntou a seu pai: "Paizinho, é certo
"Paika, isupi será koa mira oreku seku- que esta gente tem costumes ruins?
saua puxy?
Ixé xamaeté ntymaan, remaan maiaué Eu penso que não, repara como o seu
ipuranga aetá muapusaua omunhan sury toque é bonito, faz alegrar o coração da
mira piá." gente:'
I paia osuaixara: "Nudá, maeramé ku- Seu pai respondeu: "Nudá, quando era
rumiuasu raen ixé seyia kunhãmuku xa- ainda moço, muitas moças endoideci
muakangayua se mimby muapusaua resé. com o toque da minha flauta.
Iaué kuyre nde, resendu nhaa mira Assim agora és tu, ouviste o toque da
mimby muapusaua, sih! Ieperesé ne flauta daquela gente, zih! fez logo teu co-
pyá omunhan remaeté ana poité paié ração, já pensas que é mentira a fala do
nheenga. Remaan kuri maaiaué upãe pajé. Verás logo como tudo sai certo de
osemo satambyka maa paié oniteen nhaa quanto o pajé disse desta gente:'
mira resé."
Amu ara, koema puranga nemundé, No dia seguinte antes da madrugada,
paá, iepé kurumiuasu puranga osica tape, contam, um moço bonito chegou na ci-
oiurureu tuhixaua. dade, perguntou pelo tuxaua.
Kauará, Nudá paia, osuaixara: "Tuhi- Kauuará, pai de Nudá, respondeu: "O
xaua ixé, renheen maa reputare uaá, xa- tuxaua sou eu, dize o que queres, estou
sendu xaiku ndé". a ouvir-te".
Kurumiuasu aramé opurunguetá ko- O moço então falou assim: "Eu sou
iaué: "Ixé Kuseetá, tuixaua rayra, ae oiu- Kusseetá, filho do tuxaua, ele pede de ti
rereu ndé suhi researe iandé iasasau koa que nos deixes passar para montante des-
paraná apyra kyty. te rio.
Iandé iauatá iasekare oiku sendaua pu- Nós andamos procurando um lugar
ranga iamuapyka arama iandé taua". bonito para sentarmos a nossa cidade''.
Kauará onheen: "Renheen raen ne paia Kauará disse: "Diz ainda o nome do teu
rera xamundu arama aé supé se nheenga pai para eu mandar-lhe minha boa pala-
puranga". vra'.'
'l\.é Kukuhi." "Ele é KukuhY:'
"Reiuyre, renheen Kukuhi xupé ixé, "Volta, diz a Kukuhy que eu, Kauará,
Kauará xa nheen kare i xupé aé osasau mando dizer a ele que pode passar quan-
kuau maeramé oputare. Maiaué oiehi do quiser. Como hoje a Lua faz o rosto
pytuna ramé Iasy omunhan suá uasu, grande, diz a ele que venha comer comi-
renheen i xupé ure ombau ixé irumo iapu- go para conversarmos:'
runguetá arama.
Ieperesé kurumiuasu oiuyre orasu Nu- Logo o moço voltou levando consigo o
dá pyá. coração de Nudá.
Nha ara tenhé osyca Kauará marãmu- Nesse mesmo dia chegaram de guer-
nhangara-etá omaramunha suhi, aetá rear os guerreiros de Kauará, trazendo a
orure suainhana-etá tuhixaua acanga. cabeça do tuxaua dos inimigos.
Kauará omaan arama isupi ramé Kukuhi Kauará para ver se era certo que Kukuhy
ombau mira omundu mixyra nhaa acanga. comia gente, mandou assar aquela cabeça.
Pytuna irumo osyca Kukuhi, onheen Com a noite chegou Kukuhy, disse a
Kauará xupé: "Kauará ixé xamaeté nty Kauará: "Kauará, eu pensava que ainda
raen aicué mira ixé renundé kyty koa pa- não tinha gente neste rio adiante de mim,
raname tymasaua suhi xamuapyka xaiúre desde baixo eu venho assentando porção
xaiku taua ceyia. de aldeias.
Maaiaué ndé reiku iké iandé rumuara Como tu já estás aqui, serás nosso par-
kuri ndé". cial".
Kauará opurunguetá koiaué: "Kukuhi, Kauará falou assim: "Kukuhy, já tem
aikue ana mira setá koá paraná apyra muita gente a montante deste rio, será
kyty, iuasu kuri reuasemo tendaua puran- custoso achares um lugar bom para a tua
ga ne taua arama. aldeia.
Iasu ana iambaú, Iasy oiku ana suá Vamos comer, a Lua já está de rosto
uasu, oiypyru ana ombaú oiku iuyre. grande, já está começando também a co-
Nty arama iandé kiriri iaiku, rembeú ne mer. Para não estar calados, conta teus
iypyrugaua xambeú arama iuyre se mira princípios, para eu também contá-los à
xupé". minha gente".
Kukuhi aramé ombeú koiaué: "Iandé, Kukuhy então contou assim: "Nós, con-
paá, iaiúre pirá raen paraná uasu amu tam, viemos, ainda peixes, do outro lado
suaixara suhi iepé mboia iusenue Makará do rio grande, nas costas de uma cobra
cupé pé. que se chama Makará.
Maeramé Makará osyka koa paraná Quando Makará chegou neste rio, nos
type oseare iandé iepé itapeua áripe, ape deixou em cima de uma laje, aí enxuga-
iatykanga. Iandé Kuseetá tuhixaua-etá mos. Nós, Kusses, destinados a sermos
arama iaiúre Makará cupepe, Hineeretá tuxauas viemos na costa da Makará, os
iandé uhiuaetá arama ure i marika rupi. Hineres, destinados a serem nossos vas-
salos, vieram na sua barriga.
Iaué, paá, iandé iaiypiru." Assim, contam, nós começamos".
Aramé ana, paa, Kukuhi omaan mira Foi então, dizem, que Kukuhy viu no
akanga darapi pipé, opytá sury, onheen: prato a cabeça de gente, ficou alegre e
disse:
"Kauará, xamaan ndé iuyre rembaú "Kauará, vejo que tu também comes
tembiú xambaú tyua uaá". comida que costumo comer".
Ape teen ao osuky akanga suhi sesaetá, Aí mesmo arrancou os olhos da cabeça
ombaú sé. e comeu gostoso.
Kauará omuanga ombaú mira akanga Kauará fingia comer da cabeça, de re-
suhi, i pyá ieperesé omunhan sih! i pira pente o seu coração fez zih! seu corpo co-
oiypyru oryry iuarusaua resé. meçou a tremer de nojo.
Kukuhi purunguetasaua pyterupe opu- Kukuhy, no meio da conversa, pergun-
randu: "Kauará, maaiaué, taá rupi reiuká tou: "Kauará, de que modo matas esta es-
koá suu nungara?" pécie de caça?"
"Kurabi sasy rupi." "De curabi envenenado:'
"Mame, taá, reuasemo nha sasy?" "Onde achas este veneno?"
"Kaá rupi, mboia iutima paié oiuuka "No mato, é planta de cobra que o pajé
uaa iaiuká arama iandé ruainhana-etá." tira para matar os nossos inimigos:'
Pytuma pyterupe ana, paá, Kukuhi osu i Já no meio da noite, contam, Kukuhy
mira pytera kyty ape ombeú maaiaué osa- foi para o meio de sua gente, aí contou o
sau Kauará irumo. que se passou com Kauará.
Amu ara rupi arupé aé osasau Kauará No outro dia, ele passou a cidade
taua, suaindape oseare tuhixaua Kurukuhi de Kauará, deixou de frente o tuxaua
omuapyka arama ape iepé taua. Kurukuhi para aí sentar uma cidade.
Ntyauá okuau Kukuhi-miri osasau Ninguém soube que Kukuhy-miry pas-
Nudá pire nhaa pytuna i paia ombaú uaá sou junto de Nudá aquela noite que o pai
Kauará irumo pukusaua. dele passou toda com Kauará.
Aetá oiumunguetá aramé mendaro Eles então se apalavraram para casa-
arama. rem.
Kukuhi oiupire paraná, maeramé osyka Kukuhy subiu o rio, quando chegou a
Nubedá yuyterupé ape omuapyca i taua. serra de Nubedá, sentou aí a sua cidade.
Ape ana tenhé, paá, aé oiypyru Aí mesmo já, dizem, começou a mos-
omukameên sekusaua puxy. trar costumes feios.
Muuyre iasy nhunto ana ouatare Iasy Já faltavam alguns tantos meses somente
omanu arama maerame aé osu omara- para a Lua morrer quando ele foi guerrear
munhan Ukaiari mira-etá resé. contra as gentes do Caiary (Uaupés).
Maeramé aé oyure asuhi orure kunha- Quando ele voltou, trouxe moças vir-
mucu pysasu ceyia, orasu aetá soka kyty, gens, porção, as levou para casa, entrou
oiké aetá resé. nelas.
Musapire iasy riré, paá, nhaa nty uaá Três luas depois, contam, as que não fi-
opytá ipuruan aé oiupué muxiua omukyrá caram prenhes ele deu a comer muxiba
aetá arama. para engordarem.
Nhaa amuetá, opytá uaá ipuruan, aé Aquelas outras, que ficaram prenhes,
omeên i marãmunhangara-etá xupé remi- ele deu aos seus guerreiros para mulher.
riku arama.
Iepé pu papasaua ara nhunto ana ou- A conta de uma mão de dia somen-
atare Iasy omanu arama opãe Kuseetá te faltava para morrer a Lua, todos os
oiumuatyre ape ombaú arama Iasy tem- Kusés juntaram-se aí para comer a co-
biú. mida da Lua.
Iepé ara nhunto ouatare, paá, Iasy Já faltava somente um dia, dizem, para
omanu arama, Kukuhi omupuamo kare a Lua morrer, Kukuhy mandou levantar
ndauaru oiuká Iasy putaua arama. o dabaru para matar o quinhão da Lua.
Maeramé osyka nhaa Karuka Iasy oma- Quando chegou aquela tarde em que
nu arama nhaa kunhamuku-etá nty opytá a Lua morre, aquelas moças que não ti-
uaá ipuruan oiasuka, ariré ure ndauaru nham ficado prenhes foram banhar-se,
ruakê kyty ape Kukuhi oiuká opãe aetá. depois vieram para junto do dabaru, aí
Kukuhy matou todas elas.
Oiumupytuna ramé Kukuhi Nubedá Quando se fez noite, Kukuhy foi para
yuytyra ara kyty upãe i tuhixauaetá irumo cima da serra do Nubedá com todos os tu -
omaramunhan arama Iasy suainhana-etá. xauas para combater os inimigos da Lua.
Upãe Kukuhi uhiuaetá opytá yuytyra Todos os vassalos de Kukuhy ficaram
rupytá-pe. no tronco na serra.
Maeramé Iasy ruainhana-etá anga oiy- Quando a sombra dos inimigos da Lua
pyru osekendau suá Kukuhi i anama-etá começava tapando o seu rosto, Kukuhy
irumo oiumu satambyka aé kyty. com os seus parentes começou a flechar
para ela.
Aetá ruyua ouiy, oare Hinere-etá aripe As flechas deles desciam, caíam em cima
oiuká seyia aetá suhiuara. dos Hineres, matavam porção dentre eles.
Maeramé Iasy ruainhana-etá anga nty Quando a sombra dos inimigos da Lua
ana omupyxuna suá, Kukuhi ouiy yuytyra não pretejava mais seu rosto, Kukuhy des-
suhi ure ombaú Iasy tembiú. ceu da serra, veio comer a comida da Lua.
Upãe Kusé-etá ombaú aé irumo nhaa Todos os Kusés comeram com ele a car-
kunhamuku-etá kuera suukuera. ne daquelas moças mortas.
Kukuhi, sekusaua rupi, nty oseare Kukuhy, conforme o costume, não dei-
Hinere-etá ombaú mira suukuera, teité xava os Hineres comer carne de gente
auá omunhan iaué, ieperesé Kukuhi iouká triste; quem tal fizesse, Kukuhy o matava
aé upãe i anama-etá. logo com todos os seus parentes.
Nhaa-etá omanu-ana uaá Iasy manu- Aqueles que morriam na noite da mor-
saua pytuna pukusaua, Kukuhi omundu te da Lua, Kukuhy mandava pendurar
omuiatyku myra-etá rupi opãe omaan pi- pelos paus, para todos verem neles a ima -
tua rangaua. gem de mofinos.
Iaué, paá, Kukuhi ombaú arama kunha- Assim, dizem, era para Kukuhy comer
mucu pysasu suukuera upãe akaiú. todos os anos de carne de virgem.
Iepé ara, musapyre akaiu riré, Kukuhi- Um dia, três anos depois, Kukuhi pe-
miri onheen i paia supé: queno disse a seu pai:
"Pahi, xamendare putare Nudá irumo". "Pai, eu quero casar com Nudá''.
Kukuhi opurandu: "Rekuau será Nudá Kukuhi perguntou: "Sabes se Nudá
omendare putare ndé irumo?" quer casar contigo?"
Kukuhi-miri osuaixara: ''Xakuau, nhaa Kukuhy pequeno respondeu: "Sei, na-
pytuna maeramé ndé rembaú Nudá paia quela noite em que tu comeste com o pai
irumo, ixé xarecu Nudá se iyuaetá pypé, de Nudá, eu tinha Nudá nos meus bra-
apeaé onheen eré ixé arama. ços, aí ela disse que sim para mim.
Xasaan raen se iuru i iuru seensaua". Sinto ainda nos meus lábios a doçura
dos seus lábios".
Kukuhi onheen aramé: "Iaué ramé uirandé Kukuhy disse então: "Se assim é, amanhã
tenhé ndé resu renheen Kauará supé remen- mesmo tu vais falar com Kauará para teca-
dare arama koa Iasy ure uaá osyca ramé. sares quando chegar esta lua que vem.
Iandé pau kuri iasu iapurase ne mem- Nós todos iremos dançar no teu casa-
daresape". mento''.
Maeramé Kukuhi-miri ocyka Kauará Quando Kukuhy pequeno chegou na
tape, Kauará omunha putare uaku ndau- cidade de Kauará, Kauará estava para fa-
-ukuri Kurukuhi xupé. zer dabucuri para Kurukuhi.
Maiaué Kukuhi-miri osyca Kauará Quando Kukuhy pequeno chegou na
tape, Kauará omunhan iepé ocapy cidade de Kauará, Kauará fez um quar-
oka uasu pypé, ape oiumime Iurupary to dentro da casa grande, aí escondeu os
mimby-etá. instrumentos do Jurupary.
Kukuhi-miri omendare riré murase Kukuhy pequeno, depois de casar, co-
oiypyru ieperesé opau arama nhunto koa meçou logo a festa para acabar no fim da-
iasy pausape. quela lua.
Seyia ana ara-etá opurase opurase Já porção de dias eles dançavam quan-
maeramé yuytu ayua uasu ure omuare do uma trovoada grande veio derrubar o
nhaa okapy mamé oiko Iurupary mimby- quarto em que estavam os instrumentos
-etá. do Jurupary.
Upãe kunhã-etá, oiku uaá, omaan nhaa Todas as mulheres que estavam, viram
mimby-etá, aresé Kukuhi oiuká kare iepe- aqueles instrumentos, pelo que Kukuhy
resé aetá opãe. mandou logo matar todas elas.
Kauará nty oiuká putare kunhã-etá, Kauará não quis matar as mulheres, fu-
oiauiau aetá irumo kaá kyty, Kukuhi api- giu com elas para o mato, Kukuhy ficou
tá suainhana, omaramunhã resé. seu inimigo, brigou com ele.
Kauará oiauau kunhã-etá irumo Teiú Kauará fugiu com as mulheres para o
yuytyra rupytá rupi, ape omunhã iepé tronco da serra do Teiú, aí fez uma forta-
nduiamene oiupysyru Kukuhi resé. leza para se defender de Kukuhy.
Kukuhi osu yuytyra anga rupi, opysyka Kukuhy foi pela sombra da serra, agar-
Kauará upãe kunhã-etá irumo, oiuká rou Kauará com todas as mulheres, ma-
cunhã-etá, orasu i taua kyty Kauará. tou as mulheres, levou consigo Kauará.
Kauará kuyre Kukuhi tape omaen upãe Agora Kauará, na terra de Kukuhy, via
maá aé omunhã uaá. tudo que ele fazia.
Aé oreku supisape sekusaua puxy. Ele tinha de verdade costumes feios.
Maeramé aé nty oreku kunhan mem- Quando ele não tinha moças sem filhos
byra-yma amu mira-etá-uara ombaú ara- de outras nações para comer comida da
ma Iasy putaua aé oiuká semi-reku-etá Lua, ele a tirava dentre as suas mulheres,
suhi-uara, maresé iané secusaua. porque assim era a Lei.
Iepé hy Kukuhi nty oreku Iasy putaua, Uma vez Kukuhy não tinha quinhão da
omundu i mira omaramunhã Uerikena, Lua, mandou sua gente guerrear contra
Kueuana etá resé asuhí orure arama aé. os Uarikenas e os Kueuanas, para de aí
trazê-lo.
Musapyre íasy riré, paá, i mira osyca, Três luas depois, contam, a sua gente
orure kunhãmuku cetá, ae omunhan iepe- chegou, trouxe moça porção, ele fez ime-
resé aetá irumo maa omunhan tyna uaá diatamente a elas o que costumava fazer
amuetá xupé. às outras.
Iepé hy ntyauá okuau maiaué ndauaru Uma vez, ninguém sabe como, o daba-
oiauy iepé kunhãmuku, ieperesé Kukuhi i ru errou uma moça, logo Kukuhy com os
anama-etá irumo orasu nha kunhãmuku seus parentes levaram a moça para a casa,
oka kyty, maeresé ae oreku Iasy tuhy. porque ela tinha sangue da Lua.
Nhaa ara senundé kyty upãe maá aé Daquele dia em diante, tudo que essa
oputare uaá Kukuhi omunhãn ieperesé, moça queria Kukuhy fazia logo, porque
maeresé aé oreku i pirupé Iasy tuhy, koá ela tinha no corpo o sangue da Lua, fei-
maracambara irumo aé omuayua kuau tiço com o qual ela podia fazer mal a ele.
aé xupé.
Pupunha Iasy puasape Taria-etá, paá, No fim da lua das pupunhas, os
onheên kare Kukuhi xupé aetá ombaú pu- Tarianas, dizem, mandaram dizer a
tare iumixyra i acanga. Kukuhy que eles queriam comer a sua
testa assada.
Amu Iasy iypyrungapé aetá osyca arama No começo da outra lua, era para che-
i tapé. garem na terra dele.
Kukuhi osaan puxy i piá, opurandu Kauará Kukuhy sentiu logo feio o seu cora -
xupé: "Kauará, ndé ramé kuyre ixé, maá taá ção, perguntou a Kauará: "Kauará, se tu
maá remunhan Taria-etá xupé?" agora fosses eu, o que tu farias para os
Tarianas?"
Kauará osuaixara: "Ixé xaiupirü iepe- Kauará respondeu: "Eu começava logo
resé xambaú muxiua xaiumukyra arama a comer muxiba para engordar adiante
aetá renundé". deles".
Reruiare ndé upãe ne miraetá irumo nty Acredita que tu com toda tua gente não
repytasuka Taria-etá sasysaua renundé. podes suportar o ímpeto dos Tarianas.
Aetá uyua oreku uirari, aetá oiapy kuau As flechas deles têm uirary, sabem ati-
itá, aetá nhunto nty oiuká auá aetá nty rar de pedra, só não matam quando não
oiuká putare. querem matar.
Ndé reiuaky aetá suaiara-etá, kuyre re- Tu buliste com seus cunhados, agora
saaru remaan arama maaiaué ipuranga espera para ver como é bonita uma vin-
iepé iupykasaua. gança.
Amu ara ramé Kukuhi oiypyru opycue i No outro dia Kukuhy começou cavan-
taua sembyua rupi. do pela beira da cidade.
Kauará opuká ara pocusaua Kukuhi suhi, Kauará ria o dia todo de Kukuhy, por-
maeresé kuyre Kukuhi nty omaenduare om- que agora Kukuhy não se lembrava de co-
baú resé mira suukuera, omunhan nduaime- mer carne de gente, fazia valas para es-
ne oiumime arama i akanga. conder a sua cabeça.
Iasy pyasasu irumo Taria-etá osyka Ku- Com a lua, nova os Tarianas chegaram
kuhi taua ygarapape, ieperesé mira osen- no porto da cidade de Kukuhy, logo a gen-
du pito omumbeú maramunhangaua. te ouviu o tambor dar aviso da batalha.
Kukuhi osuaiti aetá suyua-etá irumo, Kukuhy os encontrou com suas flechas,
Taria-etá oiuká osu oiku iepé iepé i marã- os Tarianas foram matando um por um
-munhangara-etá. os guerreiros dele.
Pytuna pytéripe Kukuhi oiauau semi- No meio da noite Kukuhyfugiu com suas
reku-etá irumo tymasaua kyty osu opytá mulheres águas abaixo, foi ficar em outra
amu i tape, mamé tuhixaua Kurukuhi. cidade dele onde Kurukuhi era tuxaua.
Ape Kukuhi omundu i taiyra uaimisaua Aí Kukuhy mandou sua filha mais ve-
oiusenue uá Adana, iepé kapuamo kyty, lha, que se chamava Adana, para uma
ape osaaru Taria-etá omunhan arama ilha esperar os Tarianas, para aí fazer pu -
pusanga ayua kaxiri aetá renundé-uara çanga feia no caxiri adiante (da chegada)
pypé. deles.
Musapyre ara riré Taria-etá osyka Kauará Três dias depois, os Tarianas chegavam
taua-kuerupé, asuhi, paá, omaan mira, às ruínas da cidade de Kauará, de aí, di-
mira Kurukuhy tape. zem, viram gente na cidade de Kurukuhy.
Adana ieperesé oiypyru kaapuamo Adana logo começou da sua ilha a can-
suhi onheengare koiaué: tar desta forma:
Peiure iké, mira puranga, Vinde cá, gente bonita,
peú se kaxiri, bebeis meu caxiri,
aé seen irá iaué, ele é doce como mel,
kapi iaué omuaku. como capy embebeda.
Peiure-ana xaiku nhuera. Venham já, estou sozinha.
Ixé Adana Nubedauara, Eu sou Adana de Nubedá,
Kukuhi rayra, filha de Kukuhy,
se paia omanu kuesé. meu pai morreu ontem.
Peiure peú ixé irumo, Vinde beber comigo,
ixé cunhamucu mena-yma eu sou moça solteira,
Kurukuhi ruainhana, inimiga de Kurukuhy,
aé, ipu, uirandé ele, talvez, amanhã
oiuká kare ixé. mande matar a mim.
Peiure ana, Venham já,
peiure ana peú se caxiri, venham já beber meu caxiri
aé seen irá iaué, ele é doce como mel,
kapi iaué omukaú. como capy embebeda.
Kari, Taria marãmunhangara-etá akan- Kari, chefe dos guerreiros Tarianas que
ga oiku uaá Adana kapuamo suaindape estava defronte da ilha de Adana, ria-se,
opuká-puká, paá, i nheengaresaua resé. dizem, da cantiga dela.
Iepé itayra, oiku uaá suake, opurandu: Um seu filho, que estava a seu lado,
"Se paia, iandé sekusaua omundu iandé perguntou: "Meu pai, os nossos costumes
iamaan teité kunhã-etá xupé, maarecé taá mandam nós olharmos com dó para as
nty iasu iaiuuka nhaa puriasuera?" mulheres, por que não vamos tirar aquela
pobrezinha?"
I paia osuaixara: "Ndé tayna reté raen, O pai respondeu: "Tu és ainda muito
remaan upãe puranga, nty remaeté puxy novo, vês tudo bonito, não pensas feio de
maanungara resé, aresé reiuiare kuyre isu- nada, por isso acreditas agora que é certo
pi maá nhaa cunhã onheen uaá oiku. o que aquela mulher está dizendo.
I nheengaresaua uaraúna, i kaapuamu- A sua cantiga é agouro, na sua ilha está
pe oiku manusaua auá osu akyty arama". a morte para quem lá vai''.
Koema piranga irumo Taria-etá oiku Com a madrugada, os Tarianas esta-
Kurukuhi taua pypé, oiuká mira. vam dentro da cidade de Kurukuhy ma-
tando gente.
Maeramé Kuarasy osyka iuaka pyterupe Quando o sol chegava no meio do céu,
nty uana auá osekué nhaa taua pypé. já ninguém mais vivia naquela cidade.
Kukuhi oiauau iepé ygarapé Kurukuhi Kukuhy fugiu por um igarapé nos fun-
taua kupeuara rupi, osu omunhãn iepé dos da cidade de Kurukuhy, onde foi fa-
nduaimene osuaiti arama Taria-etá. zer uma vala para enfrentar os Tarianas.
Kuyre isupi! Adana i kaapuamupé nty Agora sim! Adana na sua ilha já não
uana onheengare puranga, aé kuyre oiaxiú cantava mais bonito, agora chorava forte,
kyrymbau mira osendu suhi catu iuakupé. da gente ouvi-la bem no céu.
Amu ara Taria-etá oiuyre aetá retama No outro dia, os Tarianas voltavam à
kyty, orasu Adana aetá irumo. sua terra, levavam consigo Adana.
Mukue iasy riré, paá, Kukuhi osyca i Dois meses depois, contam, Kukuhy
tape semirikuyma, rayrayma. chegou à sua cidade sem mulher e sem
filha.
Kauará opurandu aramé aé xupé: "Ku- Kauará perguntou então para ele: "Ku-
kuhi, mamé, taá, researe ne remireku-etá, kuhy, onde, diz, deixaste tuas mulheres,
mamé, taá, opitã ne rayra Adana, rereku onde, diz, ficou tua filha Adana, que des-
uaá Kuarasy remireku arama?" tinavas para mulher do Sol?"
Kukuhi, paá, osuaixara: "Se remireku- Kukuhy, dizem, respondeu: "Minhas
-etá omanu ana maramunhangaua puku- mulheres morreram durante a batalha,
sapé, Adana Taria-etá orasu". os Tarianas carregaram Adana''.
Kauará, paá, onheên: "Kukuhi ixé xa- Kauará, contam, disse: "Kukuhy, eu
maan ipuxy ndé reiaxiu kuyre. acho feio tu chorares agora.
"Nty ana remaanduare será maiaué "Já não te lembras, talvez, como rias
resé repuká sé nhaa kunhã-età renundé, gostoso perante aquelas mulheres quan-
maeramé aetá oiurureu nty arama reiuká do elas pediam para não as matares?
aetá?"
"Mami, taá, oiku aramé koá sesá iyky- ''Aonde, diz, estavam estas lágrimas que
seyetá osemo uaa kuyre ne resá suhi? agora saem de teus olhos?"
"Nty remaandoara, será, maeramé resé "Não lembras, talvez, quando mataste
reiuká se rayra Nudá? minha filha Nudá?
"Se sesá suhi nty osemo, taá, sesa iy- "Dos meus olhos não saíram, diz, lágri-
kysy?" 1nas?"
Kauará opuamo oyumu Kukuhi iyua Kauará levantou-se, flechou Kukuhy no
pé. braço.
Kukuhi onhana taua kyty, Kauará ouiy Kukuhy fugiu para a cidade, Kauará
paranã. desceu o rio.
Iepé iasy riré Kukuhi, paá, omanu Kauará Um mês depois, Kukuhy, dizem, mor-
uyua resé pereua seyia irumo. reu da flecha de Kauará, cheio de chagas.
PORONOMINARE
Lenda Baré - inédita
Iepé ara, paá, Cauará tuiué osó opinai- Um dia, contam, o velho Cauará foi
tica Mbumuri caxiuera inti ombeú ocopé pescar na cachoeira do Buburi e não dis-
makiti osó. se em casa para onde ia.
Ara opau putare ana, aé inti rain ocyca, O dia já queria acabar, ele ainda não ti-
i tayra arecé iuacanhemo onheen: nha chegado, sua filha, então, espantada,
disse:
''Mamé oicô, será, paíca? Inti-auá ocuau "Aonde estará paizinho? Ninguém sabe
makiti aé osô, xasô xacicare aé paranã aonde ele foi, vou procurá-lo pela beira
rembyua rupi". do rio''.
Ieperecé, paá, aé osô, inti iuíre ombeú Logo, contam, ela foi, também não dis-
auá xupé makiti osô. se a ninguém para onde foi.
Mairamé aé oicô ana paranã rembyua Quando ela já estava na margem do rio,
opé, Iacy ocemo uarici iuaca opé. a Lua saiu faceira no céu.
Irusanga cendi, cesacanga ara iaué. Fria luzia, clara como o dia.
Aramé ana, paá, aé oiuapica yuy pé, Quando, dizem, já ela se sentava, olhou
omaãn satambica i supé, aé pitera suí oma- direito para ela, viu sair do meio dela um
ãn ocemo iepé anga. vulto.
Cuá anga oueíy ure oicô yuy kiti. Aquele vulto foi vindo descendo para a
terra.
Ape ana tenhe, paá, tepocy uasu omu- Aí já mesmo, dizem, um sono grande a
kyre aé. fez dormir.
Mairamé aé opaca coema eté, Iacy oiu- Quando ela acordou de manhã cedo,
canhemo ana amu iuaca suaixara opé, a Lua já se perdia do outro lado do céu,
ipiranga cuíre cendi. vermelha, agora resplendia.
Oxiú putare maarecé sacysara piá Quis chorar porque o seu coração ficou
oicô. triste.
I paia, paá, ocyca oca opé pysaié, ocica- Seu pai, dizem, quando chegou em
re aé, íntí osuaiti, íeperecé i piá omunhan casa, à meia-noite, a procurou, não a en-
- tiké! controu e seu coração fez - tiké!
Maíaué aé paié, osaãn ieperecé omaãn Porque ele era pajé, logo sondou para
arama mamé oicô taíra. ver onde estava sua filha.
Oíucuau nhunto i supé arama anga ce- Aparecia-lhe só porção de sombras que
fia oiumuapatuca opãnhe uá. se atropelavam todas.
Aé ocetuna catu paricá, omundica amu Ele cheirou bem o paricá, acendeu ou-
pytyma, osaãn iuíre. tro cigarro, voltou a sondar.
Cuíre oiucuau i supé arama iepé apyaua Agora apareceu-lhe uma sombra de ho-
anga oiupire uaá yuy suí iuaca kiti. mem subindo da terra para o céu.
Aé picica putare i anga, ápe ana tenhe, Ele quis pegar a sombra, já aí mesmo,
paá, ocikindau cesá-etá okyre. dizem, fechou os olhos e adormeceu.
Mairamé opaca, paá, omaãn iacuayma Quando acordou, dizem, olhou, tolo,
apanhe rupi, ariré onheen: por todos os lados, depois disse:
"Makiti osô será ce raíra? "Onde terá ido minha filha?"
"Ixé xasaãn, xamaãn arama mamé aé "Eu sondo, para ver aonde ela está,
oicô, anga cetá oiumupatuca ce anga re- sombras porção se atropelam na minha
nundé. imaginação:'
"Tenupá, xasuaiti curi aé iké, inti curi "Deixa, hei de encontrá-la aqui, se não
ramé iké iuaca opé curi." for aqui, será no céu."
Nhaá ara suíuára, paá, apanhe ara Desde aquele dia, dizem, todos os dias
Cauará ocicare i taíra i paiesaua rupi. Cauará procurava sua filha com a sua pa -
jeçagem.
I taíra, paá, oueiy osô oicô paranã Sua filha, contam, foi descendo o rio de
coema eté. madrugada.
Nhaá ara aé apitá iepé yuytera arupé Naquele dia ela ficou em cima de uma
Iacy ocemo puranga pire i supé arama, serra, a Lua saiu mais bonita para ela,
cuíre i cendy opuracy cesá opé. agora a sua luz dançava nos olhos.
Maaiaué aé maraare oicô, paá, okyre ie- Porque ela estava cansada, dizem, dor-
perecé. miu logo.
Pysaié ramé okyrupe omembyrári iepé Quando foi meia-noite, sonhou que pa-
taína apyaua apanhe maá iara. ria um menino macho, dono de todas as
coisas.
I pira cesacanga, ara anga oiucuau cecé O seu corpo era transparente, a sombra
iepé suaixara suí amu kiti. do dia nele aparecia de um para outro lado.
Mairamé opaca, paá, ara piranga ana Quando acordou, dizem, já vinha ver-
ure oicô, y omutiapu. melho o dia, a água fazia barulho.
Aé omaãn, paá, apanhe kiti ocuau y Ela olhou, dizem, por todos os lados,
oiumunhan oicô, aé tenhe osô putare conheceu que a água estava crescendo,
ana y pype. ela mesma já estava para ir para o fundo.
Tomasaua kiti omaan iepé capoama, Vendo rio abaixo uma ilha, para lá na-
akiti oytá. dou.
Mairamé ocyca putare cecé iepé pirá Quando estava para chegar, um peixe
osuu i marica, oiuuca aé suí maá nun- mordeu a sua barriga, tirou dela alguma
gara. cousa.
Yuy-pe ana, paá, aé osaãn i marica iusu- Já em terra, dizem, ela sentiu a sua bar-
ruca, omundéu i pô ipype, inti osuaiti maá riga rasgada, meteu dentro a sua mão,
nungara. não encontrou nada.
Maaiaué y oiumunhan osô oicô capua- Porque a água estava continuando a cres-
ma oiapúmi osô oicô iuíre, aé oiupire pu- cer e a ilha estava para ir no fundo, ela quis
tare iepé yua recé, inti ocuau. trepar em cima de uma árvore, não pôde.
Aramé ana, paá, iepé caripira ure oaupy- Já então, dizem, um caripira veio sen-
ca suake iepé yua recé, aé onheen i supé: tar-se perto sobre uma árvore próxima,
ela disse para ele:
"Caripira, remaãn ce puriasuerasaua, "Caripira, olha a minha miséria, leva -
rerasô ixé indé irumo cuá yua-etá ara -me contigo por cima destas árvores''.
kiti".
Caripíra, paá, osuaixara: "Eré, xasô xa- O Caripira, dizem, respondeu: "Está
meen indé arama iepé pusanga, aé irumo bom, vou dar-te feitiço, com ele esfrega o
rekytyca ne pira, semirera remucuna''. teu corpo, engole o que sobrar''.
Iaué, paá, aé omunhan, mairamé omu- Assim, dizem, ela fez, quando engoliu o
cuna Caripira pusanga oiuiereo uaríua, feitiço do Caripira virou-se em guariba, lo-
ieperecé oiupire yua-etá ara kiti. go começou a trepar em cima das árvores.
I paia omaãn ana i taíra membyra oicô Seu pai já tinha visto que o filho de sua
yuy-pe. filha estava na terra.
Aé oiucuacu, osaãn iepé osuafti arama Ele jejuava, sondava para encontrar seu
cemiareru. neto.
Iepé ara, paá, omaãn, i anga rupi, iepé Um dia, contam, viu pela sua sombra
mira uirá acanga irumo, mutinga aé ama- uma gente com cabeça de pássaro, bran-
niu iaué. co como algodão.
I piá omunguetá ieperecé aé osô nhaá O seu coração lhe disse logo de ir naque-
ara caá kiti ocicare cemiareru. le dia para o mato procurar seu neto.
Coaiaué, paá, aé omunhan, ara piranga Assim, contam, ele fez, o dia já vinha
ana ure oicô mairamé aé opicica sueyua-etá vermelhando quando ele pegou em suas
osô caá kiti. flechas e foi para o mato.
Opanhe soá aé osuafti uaá osô oicô pé Todo o animal que vinha encontrando
rupi omaité cemiareru. pelo caminho pensava fosse seu neto.
Iepé yarapé rembyua opé ana, paá, Já na margem de um igarapé, contam,
osuaiti nhaá mira orecô uirá acanga. encontrou aquela gente que tinha cabeça
de pássaro.
Aé onheengare uacaco iaué, omaãn sa- Ela cantava como bacaco, olhava direi-
tambyca coaracy kiti. to para o sol.
Tuiué, samunha, ocyca suake oxiare O velho avô chegou perto, deixou as
sueyua-etá, onheen: "Cemiareri, ixé iu- flechas, disse: "Meu neto, eu estou famin-
macy xaicô, cusucúi ce myrapara, ce to, eis aqui meu arco, minhas flechas, vá
rueyua, resó recaamendi iandé iambaú caçar para nós comermos".
arama".
Aé, paá, onheen cuá iaué nhunto, ariré Ele, contam, disse tão somente assim,
oiuyre pé ure uaá rupi. depois voltou pelo caminho por onde veio.
Mairamé ocyca apecatu xinga apitá, Quando chegou um pouco longe, pa-
onheen: "Taucó ce temiareru tenhe nhaá, rou dizendo: "Quem sabe se este é mes-
xasó xamaãn aé supi'teen será". mo meu neto, vou ver se é verdadeira-
mente ele".
Ape ana teen, paá, oiuiereo teiú, oiuyre Aí mesmo, contam, virou teiú, voltou
pé rupi. pelo caminho.
Mairamé mira orecô uaá uirá acanga Quando a gente que tinha cabeça de
oxipiá teiú osasau suake oiuiereo mira pássaro enxergou o teiú passar perto,
eté, omuantá myrapara, oiumi teiú recé i virou-se em verdadeira gente, entesou o
acanga opé catu. arco e flechou o teiú bem na cabeça.
Teiú onhana oxiare ueyua ape tenhe, O teiú fugiu, deixando aí mesmo a fle-
mairamé ocyca apecatu oieréu iuíre mira cha; quando chegou longe, virou-se outra
arama, onheen: vez gente, disse:
''Aé cemiareru teen, mirf nhunto oiucá "É mesmo meu neto, por pouco que
ixé". não me mata".
Tuiué remiareru, paá, oiucá osó oicô O neto do velho, contam, foi matando o
maá osuaiti senundé. que encontrou diante de si.
Pituna irumo ana aé ocyca tuiué pire, Já com a noite, chegou ao pé do velho,
orure soó ceíia onheen: trazia porção de caça, disse:
"Ce ramunha cusucúi ce remiara, ne "Meu avô, eis aqui a minha caça, as
ueyua-etá catu oiauau nhunto ixé suí tuas flechas são boas, fugiu de mim so-
iepé teié, marecé ueyua ocemo i pira mente um teiú, porque a flecha lhe saiu
suí". de corpo:'
Ieperecé tuiué, paá, omimof sembiara ari- Logo o velho, contam, ferveu a caça,
ré onheen: "Ce remiareru, iasô iambaú, ixé depois disse: "Meu neto, vamos comer,
maraare xaicô, xakyre putare ana". eu estou cansado, quero dormir".
Aetá oiupiru ombaú oicô, armé ana Eles estavam começando a comer quan-
curumi-uasu omaãn peréua turusu samu- do já o moço, vendo a ferida grande da ca-
nha acanga opé, opurandu: beça do avô, perguntou:
"Maa, taá, coité omunhãn cuá peréua ne "O que, diz, fez então esta ferida na tua
acanga opé?" cabeça?"
Aé osuaixara: "Iepé ndarinári otucá uaá Ele respondeu: 'Uma cigarra que bateu
ixé recé. Coaracy osapy i cesá, cuire ouatá contra mim. O sol lhe queimou os olhos,
teinhunto". agora vá atoa''.
Mairamé ombaú pau curumi-uasu oce- Quando acabaram de comer, o moço
mo ocara kiti oiumbué oiumu catu, tuiué saiu no terreiro para aprender a flechar, o
oiké ocapy kiti osaãn arama. velho ficou em casa para sondar.
Nhaá pituna apanhe oiucuau puranga i Nesta noite, tudo aparecia bonito na
anga opé. sua imaginação.
Aé omaãn i taíra uariua ana capuama Ele viu sua filha, já guariba, na ilha,
kiti, omané putare ana iumasype. querendo morrer de fome.
Coema-oté ana, paá, aé onheen cemia- Já de madrugada, dizem, ele disse para
reru supé: "Ce remiareru, iasô ana ia- o neto: "Meu neto, vamos já livrar das
picyrun y-etá suí soá cetá osé putare uaá águas uma porção de bichos que estão
y pype". para ir ao fundo''.
Ieperecé, paá, aetá oiurare yara pype, Logo, contam, eles embarcaram na ca -
oueiy paranã. noa e desceram o rio.
Mairamé ocyca capuama y oicô ana yua Quando chegaram à ilha, a água estava
pytera kiti. já à meia árvore.
Uariua, tuiué raíra, angaí-uara oicô, A guariba, filha do velho, estava magra,
can-uera-etá oiucuau. seus ossos apareciam.
Aitá opicyca putare aé, aé apure amu Eles querem pegá-la, ela pula em outra
yua kiti. árvore.
Iaué aitá ouatá sacakyra, tuiué maraare Assim, depois de eles terem ido atrás, o
ana oicô, onheen: velho, já estando cansado, disse:
"Cuá uariua inti oxiare iandé iacy- "Esta guariba não nos deixa chegar
ca cecé, xasó xaiapi aé iepé itá-pe, indé nela, vou jogar nela uma pedra, tu rece-
resuaftí aé ne iyuaetá pype inti arama aé be-a nos teus braços, para ela não se bater
otucá yara recé". contra a canoa.
Iaué, paá, aitá omunhãn. Assim, contam, eles fizeram.
Curumi-uaso osó apitá uaríua uirepe, O moço foi ficar embaixo da guariba, o
tuiué oiapi aé recé iepé itá. velho atirou nela uma pedra.
Mairamé aé oari ure oicô oiupirare pa- Quando ela vinha caindo, se foi abrin-
nacarica iaué, oiumime curumi-uasu, ape do como tolda, escondeu o moço, aí já
ana teen oiuioréu mira. mesmo virou-se em gente.
Tuiué oueyí curute, mairamé ocyca yara O velho desceu logo; quando chegou
pype osuaití ana mira i raíra, i marica tu- na canoa, encontrou, já gente, sua filha, a
rusu ana, ipype oicô ana i membyra. barriga dela já era grande, estava já den-
tro dela seu filho.
Ieperecé tuiué oiapucui oca kiti, mai- Logo o Velho remou para casa, quando
ramé ocyca yarapape onheen i xupé: "Ce chegou no porto disse para ela: "Minha
raíra iasó ana soca kiti, aicué ape tembiú filha, vamos já para casa, tem lá comida
rembaú arama". para tu comeres".
Mairamé cunhãmucu ombaú pau, te- Quando a moça acabou de comer, um
pocy uasu oiupicyca cecé, opaca nhunto grande sono a pegou, somente acordou o
amu ara coaracy-pé, onheen: outro dia com o sol, disse:
"Paíca, xakérepi ceíia maá puranga, "Paizinho, sonhei muitas coisas boni-
ipuranga aetá tenhe, xasó xambeú aetá tas, bonitas são elas mesmo, vou contar
indé arama". elas para ti.
"Xakérepi cuá ce membyra, oicô uaá ixé "Sonhei este meu filho, que está em
pype, xamembyrare aé iepé yuytera uasu mim, eu o pari em cima de uma grande
aripe." serra.
"J pira cesacanga, i aua pixuna, aé opu- "O seu corpo era transparente, seu ca-
runguetá uri oicô. belo preto, ele vinha falando.
"Mairamé xamembyrári aé soó-etá úri "Quando eu o paria, os animais vinham
suake kiti omury aé. perto alegrá-lo.
"Oiumupituna, ce membyra iumacy "Se fez a noite, meu filho estava com
oicô, ce cambyetá oicô ticanga aé oxiú. fome, minhas mamas estavam secas, ele
chorava.
"Aramé ana iepé uainamby ceíia, amu "Então bandos de beija-flores e bandos
panapaná ceíia irumo orure iurú-pé pu- de borboletas trouxeram nos lábios mel
tyra ira, omeen i xupé. de flores e o deram a ele.
"Ieperecé aé okiriri, suá omusury, soó-etá "Logo ele calou-se, seu rosto se fez ale-
ocereo aé surysaua recé. gre, os animais o lambiam de alegria.
"Nairecé ixé maraare xaicô iepé xaienô "Como eu estava cansada, logo deitei
ce membyra ruake, xakíri ana. meu filho perto, adormeci.
"Mairamé xapaca amu arupé, ce mem- "Quando acordei no outro dia, meu fi-
byra oicô apecatu ixé suí iepé ueyua pu- lho estava longe de mim o comprimento
cusaua. de uma flecha.
"Xasó putári suake kiti, soó-etá inty "Quero ir perto, os animais não deixam
oxiári ixé xasasau, xasacemo ce mem- eu passar, eu grito para meu filho.
byra recé.
''Ape ana tenhe xamaãn panapaná ceíia "Já aí mesmo vi um bando de borboletas
osupire aé yuaté opé, oure ixé kiti. suspendê-lo em alto, virem para mim.
"Mairamé aitá ocyca ixé ruake xapicyca "Quando ele chega perto de mim, eu o
cecé, ixé árepe panapaná-etá oiapyca. pego, sobre mim pousam as borboletas.
''Ape ana soó-etá omamana ixé, opuamo "Aí, já os animais me circundaram, pu-
iuiare ixé recé oceréu arama aé. seram-se em pé encostados em mim.
"Jxé suirõn xasaãn ce membyra recé, xa- "Eu senti ciúme de meu filho, o levantei
supire aé ce acanga iuaté-sape, soó-etá pu- acima da minha cabeça, dos animais, o
cesaua omuári ixé, ce membyra iaticu api- peso me fez cair, meu filho ficou suspen-
tá panapaná-etá pepu pé. so nas asas das borboletas.
"Jké xapaca, xamaité rain ce kérepi, "Aqui acordei, pensava ainda meu so-
xamaãn apanhe rupi xacicári arama ce nho (sonhar), olhei para todos os lados
membyra." para procurar meu filho.
''Ariré ana oiucataca ixé pypé, aramé xa- "Já depois buliu dentro de mim, então
mendoári pau." me lembrei de tudo:'
Tuiué ocendu kiriri uasu pyterepe i taíra O velho ouviu no meio de um gran-
kérepe, onheen pausape: '1puranga tenhe de silêncio o sonho da filha, disse no
ne kérepe, ce taíra. fim: "É mesmo bonito teu sonho, mi-
nha filha.
"Inti remenduári, será, yuytera mamé "Não te lembras, será, aonde está a ser-
reicô ua recé?" ra onde estiveste?"
Aé osuaixara: "Intimaã, paíca, maá Ela respondeu: "Não, paizinho, só o que
nhunto xacuau yuytera py oiumunhãn sei é que o pé da serra começa na margem
iepé paranã rembyua". de um rio".
Tuiué ocendu riré i taíra kérepe osó O velho, depois de ter ouvido o sonho
osaãn i paiesáua rupi. da filha, foi sondar pela sua pajeçagem.
Aé omaãn nhaã cemiareru, oicô uá rain Ele viu que aquele seu neto, que estava
i taíra pypé yuy iara. Nhaã pituna omem- ainda dentro de sua filha, era o dono de
byrári arama aé. terra. Esta noite era para pari-lo.
Osaãn riré, tuiué oiuíre oca kiti; pituna Depois do sondar, o velho voltou à casa;
oiumimi yuy; tepocy uasu oiupicyca cecé; a noite escondeu a terra; um sono grande
aé okíri. agarrou-se nele; dormiu.
Pituna pytera rupi, paá, apanhe soá No meio da noite, contam, todos os
yuyuara opaca sury, aitá surysape animais da terra acordaram alegres, na
onheengári puranga. sua alegria cantavam bonito.
Tiapu iuytu iaué, mira ocendu iuaca Barulho, como de vento, a gente ouvia
rupi. do céu.
Aé, paá, uirá-etá ocycare ouatá oicô Ele era, contam, os pássaros que esta-
nhaã ocemo uá. vam andando à procura de quem tinha
nascido.
Coema eté ana, paá, tuiué opaca iuacua- Já de madrugada, contam, o velho acor-
yma ocendu recé teapu uasu, opurandu dou espantado por ouvir barulho grande,
soó-etá supé. perguntou aos animais:
"Maá, taá, coité oiusasau iandé pytera "O que então se passou no meio de vo-
. . ?))
opé?" ces.
Upanhe osuaixara: ''Aicué oari Porona- Todos responderam: "Eis nascido Poro-
minári yuy iara, iuaca iara". naminári, dono da terra, dono do céu:'
"Mamé, taá?" "Onde pois?"
"Iacami yuytera áripe." "Na serra do Jacamim."
Ieperecé tuiué osá iacami yuytera kiti, Logo o velho foi para a serra do
mairamé aé ocyca rupitá opé inti oiupire Jacamim; quando lhe chegou ao pé, não
cuau, marecé soá ceíia oicô iuíre arupi. pôde subir porque tinha porção de ani-
mais também lá.
Aé, paá, oiuieréu iacuruaru oiupire. Ele, dizem, virou jacuruaru, subiu.
Poronaminári oiuapica oicô yuytera sa- Poronaminári estava sentado no cume
capira opé, iepé carauatana i pá'pé. da serra, com uma zarabatana na sua mão.
Aé omusanga oicô yuy, omucameen soá Ele estava dividindo a terra, mostrava a
iaué supé sendaua. cada animal o seu lugar.
Iaué, paá, oiumupituna, mairamé amu Assim, contam, veio a noite, quando o
ara oiucuau upanhe kiriri oicô Iacami outro dia apareceu, tudo estava calado na
yuytera opé, aé nhü iepé iacuruaru uasu serra do Jacami, somente a figura de um
sangaua iuiári oicô itá recé. jacuruaru grande estava na pedra.
Apecatu, makiti coaracy oienôe mira Longe, para o lado onde e sol se deita
ocendu Poronaminári manha nheenga- a gente ouvia a cantiga da mãe de Poro-
risaua. naminári.
Aé, paá, nheengári uaá, panapaná-etá Era ela, dizem, que cantava enquanto as
osupire oicô aé iuaca rupitá kiti pucusaua. borboletas a estavam levando pelo tron-
co do céu.
EREN
Lenda Cubeo
Caciyma, paá, Uayu, Iurupary irumua- Antigamente, contam, Uaiú, que foi
ra cuera uaá, ayapire Cunuiary amuatire companheiro de Jurupari, subiu o Cudu-
mira uacema ana uaá pé rupi. iari juntando a gente que encontrava ao
longo do caminho.
Cuá mira iruma amunhãn iepé taua Com esta gente, fundou uma povoação
Omunkeráncu árepe, a suí asó ambeú na serra do Japó, de lá foi ensinando a lei
Iurupary cicu amu taua-etá mira supé. de Jurupari à gente das outras povoações.
Uayú maramunhangara-etá acicári-ana Os guerreiros de Uaiú procuravam em
apanhe rendaua rupi mira inti apuusu pu- todos os lugares gente que não quises-
tare Iurupary cicu amaramunha aé iruma se observar a lei de Jurupari para brigar
arama. com ela.
Opanhe mira apicicana Iurupary cicu, Toda a gente aceitava logo as leis de
maramunhangara-etá amuncaturu cuau Jurupari, os guerreiros só tinham que
nhunta i uéyua-etá. guardar suas flechas.
Omunkeráncu mira pitérupe aicué, paá, Entre a gente da serra de Japó havia,
iepé cunhãn apyaua ieuíre acenai uaá dizem, uma mulher-homem, cujo nome
Bacintinhari. era Acutipuru.
Bacintinhari ambyrare taína cunhã Acutipuru paria crianças fêmeas, bo-
etá, puaranga iacy tatá iuacapara iaué, nitas como as estrelas do céu, quando
amupuruã iuere cunhã-etá ambyrare emprenhava as mulheres, as mulheres
nhunta taína apyaua, ipuranga Caaracy pariam crianças machos, bonitas como
iaué. o Sol.
Iepé ara, paá, Uayú aiumuaricy putare Um dia, contam, Uaiú se quis enfacei-
Eren iruma, Bacintinhari membyra, Uayú rar com Eren, filha de Acutipuru, filha do
raíre tenhen. próprio Uaiú.
Eren inti amunhãn putare i paia piá, Eren não quis fazer o desejo de seu pai,
aiauau, inti-auá acuau makiti catu. fugiu, ninguém soube para onde.
Uayú apitá piá ayua, acenaicári mara- Uaiú ficou zangado, chamou os guer-
munhangara-etá amundu acicáre Eren reiros, mandou procurassem Eren di-
arama, anheen: "Iepé iacy xa meen pe zendo: "Vos dou uma lua para trazer
supé perure Eren cicué". Eren viva".
Eren aiauau paranã yapira kiti. Mai- Eren tinha fugido rio acima. Quando
ramé acica Cunuiary racapira kiti acendu chegou nas cabeceiras do Cuduiari, ou-
apecatu suí iepé membi, ieperecé osaãn i viu ao longe uma flauta e logo ficou de
piá sury. coração alegre.
Ara pucu ramé osó satambica membi Durante todo o dia foi direito pelo som
peusaua rupi, ocicana teen suake ocendu da flauta, quando chega já perto ouviu
mira teapu, omaramunha iaué. barulho de gente, como brigando.
Eren omaité ieperecé aicué i suainhana- Eren pensou logo que aí estivessem
-etá, oiumundeu y pype i putiá catu-pé. seus inimigos, escondeu-se dentro d'água
Ape apitá opain pituna omanhana. até bem no peito. Aí ficou toda a noite es-
piando.
Mairamé ara uarixysaua uri iuaca Quando o dia vinha enfaceirando-se
sapu rupi, aé ocemo yuy árepe ocicare pelas raízes do céu, ela saiu sobre a terra
arama iepé icuara itá-etá pitérupe oiu- para procurar um buraco entre as pedras
mimi cecé. e nele ocultar-se.
Iepé curumi-uasu, oicó uaá amusuaixa- Um moço, que estava do outro lado
ra sembiua kiti, omaãn-ana Eren oiumimi na margem do rio, viu quando Eren se
ramé. ocultava.
Curumi uasu ouitá, oiusasau paranã, O moço nadou, atravessou o rio, quan-
ocica ramé mamé Eren oicoana, opuran- do chegou onde estava Eren, perguntou
du cuá iaué: deste modo:
"Cunhamucu puranga indé, será, cuá "Moça bonita, és tu a mãe deste rio de
paranã manha masuí recerno, indé será onde sais, ou tu és gente como eu sou?"
iuere mira ixé iaué?"
Eren, paá, osuaixara: "Jxé supi mira Eren, dizem, respondeu: "Eu sou verda-
indé iaué, xaiauau ce suainhana-etá suí, deira gente como tu, fugi dos meus ini-
ouri curi ce casakire uaá". migos, que estão vindo atrás de mim''.
'iluá, taá, ne suainhana-etá?" "Quais são, diz, os teus inimigos?"
"Ce paia mira, oputári uaá ixé i auaca "A gente do meu pai, o qual me quer
arama." por sua amásia:'
"Mamé oicô-ana ne suainhana-etá?" "Aonde estão os teus inimigos?"
"Ouri curi Omunkeráncu pé rupi." "Estão vindo pelo caminho da serra do
Japó:'
Aramé curumi uasu, paá, opurandu: Então o moço, contam, perguntou: "Tu
"Jndé remendári putare, será, ce irumo?" queres casar comigo?"
Eren osuaixara: "Curi nhunto ixé Eren respondeu: "Somente daqui a
xameen indé eré. Tenondé renheen ce pouco eu te darei sim. Antes me dizes de
supé masuí recica, ma arama reuatá uatá onde chegas, para que estás passeando
cuá rupi". por estas bandas:'
Curumi uasu aramé onheen: "Ce O moço então falou: "O meu nome é
cera, Cancelri ixé mira kyrimbaua-etá Cancelri, eu sou chefe de gente valente.
acanga. Ce mira irumo xasasau paranã Com a minha gente tenho transposto um
uasu, iuaca turusu pire. Ixé teen xasó xa- rio, maior do que o céu. Eu mesmo vou
cicare suainhana maramunha arama. Ixé a procurar inimigos para brigar. Eu tam-
iuere kyrimbaua. bém sou um valente.
"Cuire indé recuau catu ma mira ixé, re- "Agora que sabes bem que gente eu sou,
mendare putare será ce irumo?" queres casar comigo?"
"Eré, íxé xaputare." "Está bom, eu quero:'
"Maiaué reputare catu?" "Como queres seja?"
"Iaicó iepé uasu arama ara pucu rupi, "Para ficarmos juntos por todo o tem -
Coaracy oputare catu iaué." po, como o Sol bem quer:'
"Nhunto? Inti reiurureu ce supé, ixé inhe- "Somente? Não me pedes de eu não fi-
ru-yma curi ne paia i mira irumo recé?" car zangado contra teu pai e a gente dele?"
"Intimaãn. Ixé xaiurureu ne recé iaia- "Não. Eu te peço para nos fugir logo
uau cuá suí ieperecé, inti iamané putare de cá, se não queremos morrer todos na
opaua curi ce paia maramunhangara-etá ponta das flechas dos guerreiros de meu
ueyua racapira." pai."
Curumi uasu, paá, opucá, ariré onheen: O moço, contam, riu-se, depois disse:
"Remaité, será, ce mira, paranã uasu "Pensas, talvez, que a minha gente, do
amusuaixara-uara, inti oiauau uaá iuaca outro lado do rio grande, que não fu-
tatá suí, oiauau cuíre cuá tatamauara te- giu perante os raios do céu, fuja agora
nondé? Inti resaru ixé xamucameen puta- diante dos moradores desta terra? Não
re curi ce cupé ce suainhana supé, nhunto espera que eu queira mostrar as costas
indé rembeú aitá kyrimbaua". ao inimigo somente porque tu dizes que
é valente".
"Ixé inti xaputare indé recikié. Cuire "Eu não quero que tu tenhas medo.
ixé xamendare putare ne irumo nhunto Agora eu não quero casar contigo se-
xasaan ne paia mira kyrimbasaua riré. não depois de ter provado a valentia da
Ixé xaputare ne piá oiumusury, xapu- gente de teu pai. Eu quero o teu coração
tare renheen cuau curi: 'Ixé supi mira ser alegre, eu quero que tu possas dizer
kyrimbaua remiricó, ce mena inti cikié logo: 'Eu na verdade sou mulher de gen-
manha'." te valente. Meu marido não é a mãe do
medo'.
"Iasó cuire ce mira piterupé. Uirandé, "Vamos agora entre a minha gente.
Coaracy omutury yuy renundé, xasó xa- Amanhã, antes do sol alumiar a terra,
cicare putare ne paia mira, xasaãn arama quero ir procurar a gente de teu pai para
i kyrimbasaua." provar a sua valentia:'
Cancelri opurunguetá cuá iaué, aríré Cancelri falou deste modo, depois com
Eren irumo osasau iuere paranã oiuíre i Eren passou outra vez o rio, voltou no
mira pitérupe. meio da sua gente.
Nota:
Uaiú, palavra cubeo, quer dizer Uirá Pajé [alma-de-gato].
Cancelri, palavra baníva (?),[quer dizer] o triste, o pesaroso.
Vocabulário Português-Nheengatu
NOTA DA REVISÃO
Remutimuca i makyra. Já a abalei, não quer ABERRAR (do que se faz) Inti munhã amui-
acordar: Xaiapusaca aé inti, opaca putári. A tá iaué; (do caminho) Inti só catu pé rupi.
autoridade do chefe ficou abalada: Tuixaua ABERTA Piraresaua, Mpucasaua, Mupuca-
munucarisaua oearucana. saua. Aberta na mata (se é natural): Caá-
ABALÁVEL Mutimucauera. -mpucasaua; (se é artificial) Caá-mu-
ABALO Iapusacaua. pucasaua.
ABALROAÇÃO Iupetecasaua. ABERTO Pirare, Mpuca, Oianga.
ABALROADOR Iupetecasara. ABERTOR [abridor] Piraresara, Mpucasara.
ABALROANTE Iupetecauara. ABERTURA V. Aberta.
ABALROAR Iupeteca. ABIEIRAL Uaiaratyua.
ABANADO Tapecua. ABIEIRO Uaiarayua.
ABANAR Tapecu. ABIO Aiará, Uaiará; (uma espécie mais peque-
ABANDONADO Xiare. na) Cutiriti.
ABANDONADOR Xiaresara. ABISMO Tupy-piá.
ABANDONANTE Xiareuara. ABJEÇÃO Iaxisaua.
ABANDONAR Xiári, Xiare, Mbúri i suí. Não ABJETO Iaxi.
quer abandonar a sua casa: Inti oxiare pu- ABNEGAR Putareyma.
tare i oca. Abandona tudo para fugir mais ABÓBORA (cheia de protuberâncias) Curúua.
ligeiro: Ombúri i suí opanhe-itá oiauau ABOCADOR (do peixe que pega no anzol)
curutepire arama. Pindá-usara.
ABARCADOR Popicicasara. ABOCANHAR Suú-suú.
ABARCAMENTO Popicicasaua. ABOCAR (do peixe) Pindau.
ABARCANTE Popicicauara. ABOLORECER Saué. Fazer abolorecer: Mu-
ABARCAR Popicica. saué.
ABARRACAMENTO Teiupátáua. ABOLORECIDO Isaué, Isaueana.
ABARRACAR Munhã-teiupá. ABORRECER Coeré. Aborrecer-se: Iucoeré.
ABARROTADOR Muterecemosara. ABORRECIMENTO Coerésáua.
ABARROTAMENTO Muterecemosaua. ABORTADO Iakyrareana.
ABARROTAR Muterecemo. ABORTADOR (quem aborta) Iakyrareuara;
ABARROTÁVEL Muterecemotéua. (quem faz abortar) Iakyraresara. Abutua
ABASTADO Ceía-iara, Maá-ceía-iara. abortadora: Abotua iakyraresara.
ABASTANÇA Ceía-iarasaua. ABORTAMENTO Iakyraresaua.
ABASTECER Muterecemo. V. Abarrotar. ABORTANTE Iakyrareuera.
ABATEDOR Muapysara. ABORTAR Iakyrare. Fazer abortar: Muia-
ABATENTE Muapyuara. kyrare. Fazer-se abortar: Iumuiakyrare.
ABATER Muapy. Abater-se: iumuapy. ABORTÁVEL Iakyraretéua.
ABATIDO Muapyuá. ABRAÇADOR Iumanasara.
ABATIMENTO Muapysaua. ABRAÇANTE Iumanauara.
ABATÍVEL Muapyuera. ABRAÇAR Iumana. Abraçar-se: Iuiumana.
ABDOME Marica. ABRAÇO Iumanasaua.
ABDOMINAL Maricauara. ABRASADOR Sakisara.
ABEIRAR Só-cembyua-rupi; (subindo )yapyre- ABRASADOURO Sakityua.
-cembyua-rupi; (descendo) eyei-cembyua- ABRASAMENTO Sakisaua.
-rupi. ABRASANTE Sakiuara.
ABELHA Iracy (mãe do mel), Caua (as es- ABRASAR Saki. Abrasar-se: Iusaki.
pécies armadas de ferrão): Iramanha; ABRASÁVEL Sakiuera.
Eiremin, Eirenã, Eisu. ABREVIAÇÃO Muiatucasaua.
ABELHUDO Iucuacuao-opaua; (o que mexe ABREVIADO Muiatucauá.
com tudo) Isaãsaã-opaua. ABREVIADOR Muiatucasara.
ABENÇOAR Mutupana. ABREVIADOURO Muiatucatyua.
ACEITADOR
ALARVE [comilão] Tyarausu. ALÉM Suai. O que está além: Suaia. Que é de
ALAVANCA Itapecu. além: Suaiauara. Além disso: Iarpe.
ALBACORA (casta de peixe) Caraoatá. ALENTADAMENTE Kyrimbaua-rupi.
ALBURNO (das plantas) Yapity. ALENTADO Kyrimbau, Kyrimbá.
ALÇADO Muticu, Eatire. ALENTADOR Mukyrimbausara.
ALÇADOR Muticusara, Eatiresara. ALENTAMENTO Mukyrimbaua, Mukyrimbá-
ALÇAMENTO Muticusaua, Eatiresaua. -saua.
ALCANÇADO Pocusó. ALENTANTE Mukyrimbauara.
ALCANÇADOR Pocusosara. ALENTAR Mukyrimbau.
ALCANÇAMENTO Pocusosaua. ALENTÁVEL Mukyrimbauera.
ALCANÇANTE Pocusouara. ALENTO (hálito) Mpeú; (entusiasmo) Kyri-
ALCANÇAR Pocusó. mbaua.
ALCANÇÁVEL Pocusouera. ALERTA! Manhana!
ALÇANTE Muticuara, Eatireuara. ALESTAR [tornar lento] Mungaturu.
ALCANTILADO Iauaté-eté. ALFEIRE Taiasu, Caisara.
ALÇAPÃO (para apanhar pássaros) Uirapuca; ALFINETE Auy.
(para animais em geral) Arapuca. ALGAZARRA Sacé-sacemosaua.
ALÇAR (pendurando) Muticu; (elevando) ALGENTE (álgido) Irusanga-eté.
Eatire. ALGODÃO Amaniú.
ALÇÁVEL Muticuuera, Eatireuera. ALGODOAL Amaniutyua.
ÁLCOOL Cauy-reté. ALGODOARIA Amaniú-munhangaua.
ALCOÓLICO Cauy-reté-uara. ALGODOEIRO Amaniuyua. Quem trabalha o
ALCOOLISMO Cauy-reté-saua. algodão: Amaniú-munhangara.
ALCOVA Ocapy. ALGUÉM Iepé, Auá, Mira, Iepemira, Auaé.
ALCOVITEIRA Amanaié. ALGUIDAR Nhaen, Nhaembé.
ALDEADO Tauauara. ALGUM Amu-amu.
ALDEADOR Mutauasara. ALGUMA COISA Iepé maá, Maanhungara.
ALDEAMENTO Taua. ALGURES Iepé-rendaua-kiti.
ALDEANTE Mutauauara. ALHAL Yuá-cematyua.
ALDEÃO Tauapora. ALHANADO Mupema.
ALDEAR Mutaua; Aldear-se: Iumutaua. ALHANAR Mupema.
ALDEÁVEL Mutauauera. ALHO Yuá-cema.
ALDEIA Taua. ALI Mime. Ali mesmo: Mimecatu.
ALDEOLA Tauamiri. ALIADO Camarara (corrup. de camarada).
ALEGRADO Musory. ALIANÇA Camararasaua.
ALEGRADOR Musorysara. ALIAR Mucamarara.
ALEGRÃO Sorysaua-uasu. ALICERCE Epy.
ALEGRAR Musory; Alegrar-se: Iumusory. ALICORNE Camitaú, Inhumã.
ALEGRE Sory. ALIENADO Acangayma.
ALEGRIA Sorysaua. ALIMENTAÇÃO Umbaúsáua, Uiupuysaua.
ALEIJADO Apara; (do braço) Iyua-apara; (da ALIMENTADOR Uiupuysara.
mão) Pô-apara; (do pé) Py-apara; (da per- ALIMENTANTE Uiupuyuara.
na) Retimã-apara. ALIMENTAR Uiupuy.
ALEIJADOR Muaparasara. ALIMENTÁVEL Uiupuyuera.
ALEIJAMENTO Aparasaua. ALIMENTO Tembiú, Temiú.
ALEIJANTE Muaparauara. ALIMPAR Iuci. V Limpar e comp.
ALEIJAR Muapara. Aleijar-se: Iumuapara. ALINDADO Mupuranga.
ALEIJÁVEL Muaparauera. ALINDADOR Mupurangasara.
ALEIVE Marandyua. Puité-saua. ALINDAMENTO Mupurangasaua.
ALEIVOSO Marandyuauara, Puité-uara. ALINDANTE Mupurangauara.
AMADURECIDO
BASTA! Aiona, Aiana, Aioanba (G. Dias). BEBIDA Usaua, Y-usaua. Bebida de beiju fermen-
BASTANTE Oxicana, Uetepé. tado: Caxiry (rio Negro), Carimã (Solimões).
BASTÃO Posocasaua, Pocicaua. Bebida destilada: Tykyra, Tycuara. Bebida de
BASTAR Xica. beiju queimado: Paiauru. Bebida de qualquer
BASTARDO Paiayma. outra qualidade, espécie de sumo de frutas:
BATALHA Marãmunhã, Marãmunhãsaua. Caisuma. Bebida não fermentada, de farinha
BATALHADOR Marãmunhãsara. dagua e água: Cimbé, Cimé, Cibé. Bebida com
BATALHANTE Marãmunhãuara, Marãmunhã- adição de mel de abelhas: Carimbã, Carimã.
uera. Bebida em alguns lugares com adição de ovos
BATATA Iutyca. de tracajá ou tartaruga: Carimbé, Carimé,
BATATA-DOCE Cará, Inhame, Piracará etc. Caribé.
BATATAL Iutycatyua, Iutyca-rendaua. BEDELHO [pequena tranca] Sacunha, Okena-
BATEDOURO Nupá-tyua, Petecatyua. -cekindaua.
BATEDOR Nupá-sara, Petecasara. BEIÇO Cembé, Tembé, Rembé.
BATENTE Nupá-uara, Petecauara; (umbreira BEIJADO Pitéua.
[umbral]) Okena-rupitá. BEIJADOR Piteresara, Pitesara.
BATER Nupá, Peteca. Não me batas: Inti re- BEIJA-FLOR Inambi, Inami (rio Negro); Uai-
nupá ixé. Bater o rio (para pescar): Peteca- nambi, Uainumã (Solimões).
paranã. Bater (tecer) a rede: Titeá. Bater com BEIJANTE Pitereuara.
a ponta de alguma coisa contra outra: Cutuca. BEIJAR Pité, Pitera. Beijar na boca: Pitera-
Bater um objeto contra outro: Catacá. -iuru; (figuradamente) Muceen-iuru.
BATIÇÃO (classe de pescaria): Ceripaua; Paranã- BEIJO Piteresaua.
petecasaua (Solimões); Muponga, Mupunga BEIJOCA Pitepiteresaua.
(Pará). BEIJOCADOR Pitepiteresara.
BATIDA Nupá-saua, Petecasaua. BEIJOCAR Pitepitere.
BATIPUTÁ Uatiputá. BEIJÚ Mbeiú, Meiú. Beiju seco: Meiú-ticanga.
BATISMAL Mucerucauera. Beiju com tapioca: Meiucyca, Meiuicyca. Beiju
BATISMO Mucerucasaua. queimado para fazer o caxiri: Mbeiú-turua.
BATISTÉRIO Mucerucatyua. Beiju de tapioca: Typiaca, Curadá (rio Negro,
BATIZADO Mucerucaua. mas a palavra não é nheengatu, parece baré).
BATIZADOR Mucerucasara. BEIRA Cembyua, Cemyua, Rembyua, Remyua,
BATIZANTE Mucerucauera. Tembyua, Temyua.
BATIZAR Muceruca. Ser [batizado} ou fazer- BEIRA-MAR Paranã-cembyua; (se pode haver
-se batizar: Iumuceruca. dúvida) Paranã-uasu-cembyua.
BAUNILHA Ingá-sakena. BELDROEGA Caareru.
BÊBEDO Caúa. BELEZA Purangasaua.
BEBEDOURO Y-tyua. BEL-FALADOR Iuru-puranga.
BEBEDOR Usara, Yusara. BELIDA Cesá-tungu.
BEBENTE Uuara, Y-uara. BELISCADO Pixameua.
BEBER U, U-y. Em geral não se faz distinção BELISCADOR Pixamesara.
entre beber e comer, e U pode dizer tan- BELISCADURA Pixamesaua.
to uma coisa como outra; todavia, no Rio BELISCANTE Pixameuara.
Negro, reservam U exclusivamente para BELISCAR Pixame.
dizer beber, e então dizem Embaú: comer. BELISCÁVEL Pixameuera.
No Solimões, ao contrário, usando U com BELO Puranga. O belo: Purangaua.
o significado de comer, dizem U-y (beber), BEL-PRAZER Putare-pire. Começou a fazer e
quando se precisa especificar e evitar con- desfazer a seu bel-prazer: Oiupiru omunhã
fusões. iepé nungara, ariré anu nungara maiaué
BEBERICADOR Tyiucureuara. oputare pire.
BEBERICAR Tyiucure. BEM Catu, Icatu. O bem: Catuaua, Icatuaua.
BOITATÁ
CALDEIRÃO (remoinho entre cachopos) Para- Campo aberto: Nhu-paua. Campo belo: Nhu-
nã-uure, Paranã-uauoca. -puranga. Campo bom: Nhu-catu. Campo
CALDEIRINHA (da água benta) Tupana-y-ireru. duro, de terra firme: Nhu-antã. Campo ra-
CALDO Yukicé, Ty, Y-puy. so: Nhu-péua. Campo seco: Nhu-tininga.
CALMAR Pytuu. Campo semeado: Nhu-eaué.
CALMARIA Anagaipuua, Angopauá. CAMUNDONGO Uauiru.
CALMO Pytuua. CANA' Perl, Tacuara, Tacuari, Tauoca, Taca-
CALOR Sacusaua, Sacu. na, Muri.
CALOTE Periperi. CANA' (de pescar) Pindayua.
CALVO Acangapéua, Auayma (Solimões). CANA 3 (do leme) Iacumã-yua (hástea).
CAMA Ienotyua. CANA-DE-AÇÚCAR Muriceén, Tauocaceén,
CAMADA Miexisaua, Miexiaua. Periceén.
CAMALEÃO Cenimu, Cenemby. CANAL Paranã-miri.
CAMARADA Irumuara, Camarara. CANARANA Peri-ãntã.
CAMARÃO Muã, Poty. CANCRO (moléstia) Cunuru.
CAMARÃO-BRANCO Potytinga. CANDEEIRO Icaua-cendi-ireru.
CAMARÃO-CHATO Potykicé. CANDEIA Icaua-cendi, Candea (corruptela do
CAMARÃO-FACA Potypema. português).
CAMARÃO-GRANDE Potyuasu. CÂNDIDO Murutinga-eté.
CAMARÃO-LISO Potypéua. CANDIRU (peixe) Candiru, Caniru.
CAMBADA Apixama, Apitama. Cambada de CANDOR Murutingasaua.
peixes: Pirápixáma. CANELA (da perna) Retimã-pucua.
CAMBAIO Retimã-apara. CANGAPORA Acangapora.
CAMBARÁ Cambará, Camará. CANGUÇU Acangusu.
CAMBIADO Cenimua, Cenimuana. CANHOTO Taicuae, Pôuasúára.
CAMBIADOR Cenimusara. CANIBAL Mira-usara.
CAMBIAMENTO Cenimusaua. CANIÇO [para pescar] Pindayua; (para pesca
CAMBIANTE Cenimu-uara. do tucunaré) Pinauaca; Tacuara-puracysaua
CAMBIAR Cenimu, Cenimbu. Tornar cam- [= taquara da festa].
biante: Mucenimu. V Trocar e comp. CANIL Iauara-rendaua.
CÃMBIO Murecuiarasaua. CANINANA Caninana.
CAMINHADA Uatásáua. CANINDÉ Canindé, Caniné.
CAMINHADO Uataua. CANTAR Cenimu. V Cambiar e comp.
CAMINHADOR Uatására. CANO Tacuara, Tacuari, ou Tauoca e Tauocai
CAMINHANTE Uatáuára. (conforme o cano é feito de uma qualida-
CAMINHAR Uatá. de de cana ou da outra). Cano do cachim-
CAMINHÁVEL (que gosta de caminhar sem bo: Pytyuaú tacuari. Cano de pedra, de fer-
destino) Uatáuéra. ro ou outro qualquer metal; Itá-tacuara,
CAMINHO Pé, Sapé, Rapé. Caminho difícil: Itá-tauoca, Itararé.
Pé-iaueté. Caminho fácil, bom: Pé-icatu. CANOA Yara, Igara, Yngara. Canoa possante:
Caminho da canoa: Ygarapé. Caminho da Yngareté. Canoa de casco e falcas sobrepos-
serra: Yuytera-rapé. Caminho de pedra: Itá- tas: Tatupirera. Canoa cavada num só pau,
rapé, Itapé. sem falcas: Yuá (ubá).
CAMINHOZINHO DE PEDRA Itapé-miri. CANOEIRO Yngarapora; (o dono): Yngara-
CAMISA Tipoia, Camixá. -iara.
CAMISÃO Camixá-asu. CANORO Nheéngareuara.
CAMPAINHA Itamaracai, Itamaracá-miri. CANOZINHO Itá-tacuari.
CAMPAL Periuara. CANSAÇO Maraaresaua.
CAMPINA Caatinga-uasu. CANSADÍSSIMO Maraaretéua.
CAMPO Peri, Perityua, Nhu (pouco usado). CANSADO Maraareana.
CARPIDOURO
Apu. Cheio à cunha de água: Y-apô. O que é CHOCO (do ovo) Supiá-ayua, Supiá-ipora; (o
cheio à cunha: Y-apô. ato de chocar) Sapucaia-uapicasaua.
CHEIRADOR Cetunasara, Sakenauara. CHOQUE Cutucaua.
CHEIRAR (aplicar o olfato) Cetuna; (exa- CHOQUEIRO Sapucaia-uapica-rendaua.
lar cheiro) Sakena. Cheirar mal: Catinga, CHORADEIRA Xiú-uerayua.
Pixé, Inema. Gosta-se de cheirar flores que CHORADOR Xiusara.
cheiram bem: Mira ocetuna putare putyra CHORADOURO Xiú-rendaua.
osakena puranga uá. CHORANTE Xiú-uara.
CHEIRO Cetum, Sakena; Catinga; Pixé; CHORÃO Xiú-uera.
Inema. A mulata catinga, o peixe é pixé e CHORAR Xiú. Fazer ou ser feito chorar; Mu-
quando podre fede: Oiuratu cunhã ocatin - xiú.
ga, pirá opixé, oiucana ramé inema. Ce- CHORO Xiúsáua.
tum e Sakena trazem sempre a ideia de um CHOVER Amana oári. Quer chover: Amana-
cheiro agradável ou, pelo menos, suportá- oári-putári. Deixou de chover: Amana osa-
vel. Catinga, o cheiro especial que se des- sau.
prende dos seres animados e pode ser in- CHUMBO Itámembéca, Iáameméca.
diferentemente agradável ou desagradável. CHUPADO Petera, Petere, Pitera, Peterauá,
Pixé, nas mesmas condições, traz porém Ucy.
sempre a ideia de ser enjoativo e menos CHUPADOR Peterasara.
bom. Inema, o cheiro ruim, fedor. CHUPADOURO Peterataua.
CHIADA Xixycasaua. CHUPAMENTO Peterasaua.
CHIADOR Xixycasara. CHUPANTE Peterauara.
CHIANTE Xixyca, Xixycauara. CHUPAR Petera, Pitera.
CHIAR Xixyca. CHUPÁVEL Peterauera.
CHIBÉ [bebida] Cimé, Cimbé. CHUVA Amana.
CHICOTADA Muxingasaua, Nupá-yua-saua. CHUVADA Amana-uasu.
CHICOTE (de couro) Muxinga; (de galho de CHUVEIRO Amana-eté.
pau) Nupá-racanga, Nupá-yua; (de corda): CHUVISCO [pancada de chuva] Amana-
Nupá-xama. -opypyca, Amana-opypycasaua.
CHICOTEADOR Muxinga-uara, Nupá-yua-sara. CHUVOSO Amanauara, Amanauera.
CHIFRADA Uacatucasaua. CICATRIZ Caen, Caenga, Peréua-rendaua-
CHIFRADOR Uacatucasara. -cuera.
CHIFRE Uaca. CICICA (casta de mucura) Xixica.
CHIFRUDO Uacauara, Uacasara. [ CICONIÍDEO] Ciconia maguari: Iaburu. No
CHINELA Py-pupecasaua. litoral chamam de Mauari, nome que no
CHINELEIRO Py-pupecasara. Amazonas se dá a Ardea cinerea.
CHISPA Uciuá. CIDADÃO Mairyuara, Mairypora.
CHISPADOR Ucisara. CIDADE Mairy.
CHISPAMENTO Ucipaua, Ucisaua. CIGANA [ave] Aturiá.
CHISPANTE Uciuara, Ucipora. CIGARRA Aracy, Aramanha, Coaracy-cy,
CHISPAR Uci, Ucii. Coaracy-manha, Iakyrana; (no rio Negro)
CHITA Sutiro, Sutira. Chita branca: Sutiratinga. Daridari (palavra baré).
CHOCA [da galinha] Sapucaia-uapicasara. CILADA Mundéua. Marumbi.
CHOÇA Teiupã. CÍLIO Cesá-saua.
CHOCALHO Maracal. Chocalho das pernas: CINCO Iepé-pô, Cé-pô. Depois de cinco dias:
Aiapá. Qualquer outra coisa que sirva para Iepé-pô ara riré. Trouxe para ti cinco gali-
chocalho: Cininga, Catacá. nhas: Xarúri ne arama cé-pô sapucaia.
CHOCAR Uapica-supiá-arupé. A galinha es- CINÉREO Tuíra.
tá para chocar: Sapucaia ouapica putári su- CINGIDOR Cekycemosara.
piá arupé. CING!MENTO Cekycemosaua.
CINGIR
gena não liga a importância que deste mo- to para o ar: Iauacaca omuienô cunhãmucu
do se lhe atribui. yuype i putiá iuaca rupi. Deitou o cachorro
DEFORMAÇÃO Mbóisáua. fora de casa: Ombure iauara ocarpe.
DEFORMADO Mbói, Mbói-uá. DEIXADO Xiare.
DEFORMADOR Mbóisára. DEIXADOR Xiaresara.
DEFORMANTE Mbóiuára. DEIXAMENTO Xiaresaua.
DEFORMAR Mbói. Deformar-se: Iu-mbói. DEIXANTE Xiareuara. Que deixa ou é deixado
DEFORMÁVEL Mbóiuéra. jàcilmente: Xiareuera.
DEFORMIDADE Mbóisáua. DEIXAR Xiare, Xiári.
DEFRAUDAR Muãn. V Fingir e comp. DEJETAR Caáá. V Defecar e comp.
DEFRONTAR Iuanti. V Encontrar e comp. DELFIM-AMAZÔNICO [boto] Pirá-iauara; (o
DEFUMADO Muti-mbureua. róseo, mais pequeno e mais claro) Oyara; (o
DEFUMADOR Muti-mburesara. cinzento) Tucuxy.
DEFUMADOURO Muti-mbure-rendaua. DELGADO (se se trata de fio ou coisa seme-
DEFUMADURA Muti-mburesaua. lhante) Puy, Pui; (se de couro, casca, tela etc.)
DEFUMANTE Muti-mbureuara. Pireral.
DEFUMAR Muti-mbure; Mutatatinga (=fazer DELIBAR Tykyre. V Degustar e comp.
fumaça). DELIBERAÇÃO Piá-munguetásáua.
DEFUMÁVEL Muti-mbureuera. DELIBERADAMENTE Piá-munguetaua-rupi.
DEFUNÇÃO Manôsáua. DELIBERADO Piá-munguetaua.
DEFUNTO Ambyra, Amyra. Meu defunto pai: DELIBERANTE Piá-munguetáuára, Piá-mun-
Cé paia ambyra. O defunto que foi morto: guetására.
Iucambyra; Iaiura-munuca-yua. DELIBERAR Piá-munguetá, Piá-munguitá.
DEGLUTIÇÃO Mucunãngaua. DELICADO (ao gosto) Pytinga.
DEGLUTIR Mucunãn. V Engolir e comp. DELIDO Y-curuiuá.
DEGOLAÇÃO Iaiúra-munucasaua. DELIMITAÇÃO Murangauasaua.
DEGOLADOR Iaiúra-munucasara. DELIMITADO Murangaua.
DEGOLADOURO Iaiúra-munucataua. DELIMITADOR Murangauasara.
DEGOLANTE Iaiúra-munucauara, Iaiúra- DELIMITANTE Murangauauara.
-munuca-yua. DELIMITAR Murangaua.
DEGOLAR Munuca-iaiúra. DELINQUIR Mupuxi. V Danificar e comp.
DEGRADAÇÃO Tetama-suí-mpusaua. DELIR Y-curu!. Fazer delir: Mu-y-curul.
DEGRADADO Tetama-suí-mpua. DELIRAR Pitá-acanga-yma.
DEGRADADOR Tetama-suí-mpusara. DE LONGE Apecatu-suí. Gente de longe: Mira-
DEGRADAR [banir] Mpu-tetama-suí. -apecatu-uara. Gente que vem de longe:
DEGRAU Py-rendaua. Mira ocica apecatu-suí.
DEGUSTAÇÃO Pytingaua. DEMANDAR Cicári, Cicare. V Procurar e
DEGUSTADO Pytin, Pyti. comp.
DEGUSTADOR Pytingara. DEMENTE Acanga-ayua. V Doido e Endoi-
DEGUSTAR Pytin. decer.
DEÍPARA Tupana-manha. DEMOLIÇÃO Mucocuisaua.
DEÍSMO Tupanasaua. DEMOLIDO Mucocuiuá.
DEÍSTA Tupanauara. DEMOLIDOR Mucocuisara.
DEITADO Ienuuá. DEMOLIR Mucocui.
DEITADURA Ienôsáua. DEMOLITÓRIO Mucocuiuara, Mucocuiuera.
DEITANTE Ienôuára, Ienusara. DEMONÍACO Yuruparyuara.
DEITAR Ienô, Ienu. Deitar ou fazer deitar: DEMÔNIO Yurupary. É o nome que lhe de-
Muienô, Mbure (=jogar). A moça deita-se ram os Missionários, aplicando-lhe o no-
na rede: Cunhâmucu oienô makyra kiti. O me do Legislador indígena. V Yurupary na
Lontra fez deitar a moça no chão com o pei- 2' parte.
~ 201 ~·1.~
DESCABEÇAR
ESQUENTAR Muacu. Esquentar-se: Iumuacu. ESTEIO Okitá. O esteio mestre da casa: Oca-
ESQUERDA Pôasú. Mão esquerda: Pô-apara. pitasoca, Oca-acanga (Solimões).
ESQUERDO (quem está à esquerda) Pôasúsára; ESTEIRA Tupé, Miasaua.
(que é esquerdo) Pôasúára; (por desajeitado) ESTENDEDOR Musá-sara, Musaingara.
Iaparasara. Lado esquerdo: Pôasúsáua. ESTENDEDOURO Ierau (especialmente o que
ESQUILO Acutypuru. serve para estender ou guardar gêneros),
ESSE, ESSA, ESTE Cuá, Coá. Esses, Essas, Musátyua.
Estes: Cuá-aetá, Cuá-itá. Nhaã, Nhaã-etá, ESTENDER Musá, Musain. Estender abrindo:
Nhaã-itá. Pirare. Estender-se deitando: Iuienô.
ESTABELECEDOR Muapicasara. ESTERCO Tiputy.
ESTABELECER Muapica. ESTÉRIL Ciniyma, Embyra-yma.
ESTABELECIDO Muapicaua. ESTERILIDADE Ciniymasaua.
ESTABELECIMENTO Muapicasaua. ESTERILIZADOR Ciniymasara.
ESTABILIDADE Peiecemoyua, Peiecemosaua. ESTERILIZANTE Ciniymauara.
ESTÁBULO Caisara, Curara. ESTERILIZAR Ciniyma.
ESTACA Mará. ESTERILIZÁVEL Ciniymauera, Ciniymatéua.
ESTACADA Caisara, Kindara. ESTERQUEIRA Tiputy-rendaua.
ESTAÇÃO [lugar de parada] Mytasaua; (tem- ESTIAGEM Coaracy-ara.
po) Ara-catu. ESTICA (da vela) Myrá-pucu.
ESTACAR (cercar com estacas) Cai. V Cercar ESTICAR Ciky, Pirare. Esticar a vela: Pirare
e comp.; (jazer parar) Mupituú; (sustentar sutínga. O vento estica a vela: Iuiutu omu-
com estacas) Pitasoca. antá sutinga. A força da correnteza estica a
ESTAFAR Maraári, Maraare. V Cansar e espia: Paranã pirantasaua ociky ygara tupa-
comp. xama. V Abrir, Entesar, Puxar e comp.
ESTALADO Piapua. Xaisúsáua.
ESTALADOR Piapusara. ESTIMAR Xaisu. V Amar e comp.
ESTALANTE Piapuuara. ESTIOLADO Iakyuá, Iaky, Iakypora.
ESTALAR Piapu, Peapu. ESTIOLADOR Iakysára.
ESTALIDAR Piapoca. ESTIOLADOURO
ESTALIDO Piapocasaua. ESTIOLAMENTO IakyPáua.
ESTALO Piapusaua. ESTIOLANTE Iakyuára.
ESTAME [fio de tecer] Tupéxáma; (das flores) ESTIOLAR Iaky. Estiolar-se: Iuiaky.
Putyra-ipora-miritá. ESTIPULAR Nheên satambyca.
ESTAMPIDO Teapu, Teapu-uasu. ESTIRÃO Typucu. Estirão de rio: Paranã-
ESTANCAR Mupytuu. Estancar o sangue: -typucu. Estirão de rua: Pé-typucu.
Mupytuu-tuí. V Descansar e comp. ESTIRAR Ciky; (tornando mais comprido)
ESTANHAR Iucy-itá, Icyca-irumo.
ESTANHO Itaen, Itá-icyca. ESTOJO Iriru, Ireru. Estojo das tesouras:
ESTAR Icó, Pitá, Mytá. Está bom aí: Oicó mi- Piranha-irem.
me catu. Eu estou onde me encontro: Ixé xa- ESTÔMAGO Putiá (peito, se se refere à parte do
pitá xauacemo kiti. Onde está a tua gente?: corpo independentemente das suas funções);
Makiti oicó ne mira? (ou simplesmente, em Marica (no caso contrário).
forma elíptica): Makiti ne mira? [Esta cons- ESTORVAR Apatuca. V Atrapalhar e comp.
trução se dá] porque o verbo "estar", sinô- ESTOURADOR Mpucá-sara.
nimo de "ser", pode como este ser deixado ESTOURANTE Mpucá-uara.
de traduzir-se. "Estou bom" se diz, de prefe- ESTOURAR Mpucá.
rência, Ixé catu, em vez de Xaicô catu. ESTOURO Mpucá-saua.
ESTÁTUA Itá-mira-rangaua. ESTRÁBICO Cesá-apara.
ESTÁVEL Piapu-uera. ESTRABISMO Cesá-aparasaua.
ESTEAR Pitasoca. V Sustentar e comp. ESTRADA Pé, Rapé, Sapé. Estrada grande: Péasú.
ESTRADO
nada inócua ao fogo) Manicuera, Manipuera; mantimento: Tuxaua orecô cuao apanhe ara
(espessa para molho) Tucupy; (e quase pre- oca mira temiú terecemo. Na canoa já não
ta) Tucupy pixuna; (curada ao sol) Arumé, havia mantimento: Yara opé inti oicoana te-
Arumbé; (a raladura seca ao forno) Uy, Ui; (a miú.
raiz cortada em rodas e seca ao sol) Typiraity; MÃO Pô, Pu; (direita) Pocatu; (esquerda) Po-
(a farinha destas) Ui typiraity; (o bolo da raiz apara, Pouasu; (de pilão) Indoá mena; (de
comida e ralada fresca) Meiú, Mbeiú; (bo- gral) Indoá miri mena.
lo de farinha) Miapé; (a goma que se deposi- MÃO-CHEIA Parecemo.
ta do sumo da raiz) Typyaca; (depois de tor- MÃO-DE-PILÃO Indoá-mena, Indoai-mena.
nada inócua ao fogo) Tapyoca, Tapyiuuca; (o MÃO-FECHADA Popupeca.
bolo feito com esta goma) Tapyoca (Curadá, MAQUEIRA Makyra.
em muitos lugares do rio Negro, mas parece MAR Paranã; (quando precisa distinguir)
palavra Baré); (a folha preparada como legu- Paranã-uasu.
me) Manisaua (maniçoba); (a folha na plan- MARACÁ Maracá.
ta) Manicaá. Mandioca agrumada: Curuera, MARACAJÁ Maracaiá.
Cruera (crueira). MARACAJAÍ Maracaiai.
MANDIOCA-DOCE Aipi macaxera; (o caldo MARACANÃ Maracanã.
extraído desta) Manipuera. MARACANAÍ Maracanai.
MANDIOCAL Maniyua-tyua. MARACANATUBA Maracanãtaua, Maracanã-
MANDUBÉ Manduué. tyua.
MANDUBI Manduui. MARACUJÁ Maracuyá.
MANEJAR Popicyca. V Pegar e comp. MARACUJATUBA Maracuyatyua.
MANETA Ipuyma. MARACUJAZEIRO Maracuyayua.
MANGA' (roupa) Yyuá pupeca MARAJÁ Marayá.
MANGA 2 (árvore) Canapá. MARAJAÍ Marayahi.
MANGABA Mangaua. Resina de mangaba: MARAJAÍBA Marayayua.
Manga-icyca. MARAJÓ Maraió, Mará-iú (=espinho bravo).
MANGABEIRA Mangayua. MARAJOENSE (aí nascido) Maraió-uara; (que
MANGUE Paranã-typaua; (a planta) Xiriyua aí mora): Maraió-pora.
(siriúba). MARCA Sangaua, Rangaua.
MANGUE-BRANCO Xiriyuatinga. MARCAÇÃO Musangauasaua.
MANGUE-VERMELHO Xiriyua-piranga. MARCADO Musangauapora.
MANHÃ Coema, Coemaeté. MARCADOR Musangauasara.
MANHA Mundésáua. MARCADOURO (onde se marca) Musangaua-
MANHOSO Mundéuára, Mundé. tyua; (onde se imprime a marca) Musangaua-
MANICÁRIA Umbuasu, Umuasu. rendaua.
MANIFESTANTE Muiucuaosara. MARCANTE Musangauauara.
MANIFESTAR Muiucuao. MARCAR Musangaua.
MANIFESTO Muiucuaosaua. MARCÁVEL Musangauera.
MANINHA Embyra-yma. MARCENARIA Iupanasaua.
MANJERIOBA Maiereyua. MARCENEIRO Iupanasara.
MANO Kiuyra. MARÉ (montante) Paranã-eiké; (vazante)
MANSIDÃO Iupucuausaua. Paranã-ocarica; Paranã-typaua.
MANSO Iupucuau. MAREJADA Yapenu, Ycapenu; Paranã-uéué-
MANTEDOR Pitasocasara. ca-saua.
MANTER Pitasoca. Manter-se: Iupitasoca. MAREJAR Paranã-uéuéca; (se apenas encres-
Manténs a tua palavra?: Repitasoca será ne pa) Muciryryca.
nheenga? MARESIA [o movimento] V Marejada.
MANTIMENTO Temiú, Tembiú, Mira-temiú. MARGEAR Só-cembyua-rupi.
O tuxaua deve sempre ter a casa cheia de MARGEM Cembyua, Rembyua; (do rio) Para-
MARIA-GOMES
PAGAR Meen cecuiara, Murepi, Meen cepi. Pisaua, Pupunha, Tapauá, Tucii, Tucumã,
PAI Paia (corrupção de pai). A forma Tucumai, Uaiará, Uauású, Urucuri, Yacy-
nheengatu parece ter sido Tyua, Ryua, tara, Yuacaua, Yuacauai.
Cyua, de onde se teria formado o Tubá, PALMILHAR Só py rupi.
Rubá da pronúncia portuguesa do Tupi da PALMO Pô pucu; (medida) Pô rangaua.
costa. Há uns trinta e tantos anos, quando PALPADELA Popecicasaua. V. Apalpar e comp.
comecei estas notas, encontrei em fonte boa PÁLPEBRA Cesá pirera, Cesá pepu.
uma velha tradução do Padre Nosso, usa- PALPITAÇÃO Titicasaua, Tucá-tucásáua.
da correntemente, em que vinha Iané rubá, PALPITANTE Titicauara, Tucá-tucáuára.
e Couto de Magalhães dá Rubá. M. Costa PALPITAR (quando quase normal) Titica; (se
Aguiar, que publicou o que lhe deram em forte) Tucá-tucá.
São Paulo de Olivença (1898), traduz Iané PALPITE (jig.) Maitésáua.
paia. O mesmo fez M. Frederico Costa PALUSTRE Tyiucauara.
(1909), que escreveu no rio Negro. Tastevin PAMONHA Pamonha.
(1910) escreve Paya. PANACU Panacii. V. Paneiro.
PAIXÃO Sacísáua. PANARÍCIO Pôampé-pungá.
PAIZINHO Paíca (R. Negro). PANÇA Marica-uasu.
PAJÉ Paié. PANCADA Nupaua.
PAJESAGEM [pajelança] Paiésáua. PANCADARIA Nupá-nupásáua.
PAJAMARIOBA Paiémaryua. PANDULINUS CHRYSOCEFALUS [casta de rou-
PAJURÁ Paiurá. xinol] Tenten.
PALÁCIO Ocasu. PANEIRO Panacii, Uaturá, Urasucanga, Iama-
PALAMEDEA CORNUTA [alicorne] Camitaú, si. (para farinha) Ui-ireru; (com tampa em
Cauitaú. forma de baú) Pacará; (em forma de cone)
PALAVRA Nheenga, Yisaua (Martius). Coromondó; (bojudo e geralmente não mui-
PALAVREADO Iurucoeré, Nheen-nheenga- to grande) Uru; pequeno paneiro destinado a
rana. trazer os petrechos do pescador) Picuá; (o do
PALHA Pinaua, Sapé, Pindaua. caçador) Matiri (nome este que também se
PALHAÇADA Mupucá-saua. dá a qualquer sacola que o substitua).
PALHAÇO Mupucá-sara. PANELA (larga, baixa e bojuda) Iapepu; (lar-
PALHAL Pindaua-tyua. ga em forma de alguidar) Nhaeen, Nhaen;
PALHETA (para lançar a flecha: estole- (a que traz tampa) Nhaen pupu; (de ferro)
ca) Uéyua peteca. Itanhaen (mas já em muitos lugares, espe-
PALHOÇA Teiúpáua. cialmente se se trata de panela de ferro com-
PALIDEZ Suayua. prada na loja, se ouve dizer Panera).
PÁLIDO Suayu, Iyuá (amarelo). PANIEL [retrato; painel?] (em geral) Mbaé-
PALMA (da mão) Pô pytera. Bater palmas: rangaua; (se é de gente) Mirarangaua.
Pocema. PANEMA Panema.
PALMADA Popetécasáua. Dar palmadas: Po- PANO Sútiro, Pana; (de linho) Sútiro suaiaua-
peteca. Quem dá palmadas: Popetecasara. ra; (de algodão) Sútiro amaniu suaiuara,
Quem as recebe: Popetecatéua. Se são mui- Mericana; (grosso) Mericana uasu; (fino)
tas: Popetecapora. Aquilo com que se dá: Mericana pui; (retalho) Sútiro pysáuéra;
Popetecauara. (peça) Sútiro pecoara.
PALMEIRA Pindaua, Pindauayua (pindoba). PÃO Miapé (nome de um bolo de mandioca).
Ainda aqui se usa sempre o nome específi- PAPA (rala, de farinha cozida ou qualquer ou-
co e então se tem: Asaí, Caranã, Caranai, tra coisa como bananas, batatas) Mingaua,
Curuá, Iará, Iará-ucu, Iará-una, Iatá, lata, Mimoingaua; (de tapioca): Tacacá; (de mi-
Iauary, Ieriuá, Inaiá, lnaiai, Iu, Iupati, lho verde) Caangica; (espessa de farinha se-
!usara, Maraiá, Maraiá piranga, Mbusu, ca) Pirau.
Mumbaia, Murumuru, Myriti, Patauá, PAPA-ARROZ Pipira.
PASSEADO
SOL Coaracy (a mãe deste dia ou a mãe des- SONHAR Kerepi, Ker'pi.
te mundo). SONHÁVEL Kerepitéua.
SOLA Tapyira-pirera. SOPA Mingau.
SOLDA Muicycayua. SOPRADOR Peusara.
SOLDADA Recuiara, Muraky-cepysaua. SOPRAMENTO Peusaua.
SOLDADO' [militar] Surara (port. corromp.). SOPRANTE Peuara, Peuera.
SOLDADO' [de soldar] Muicycauá. SOPRAR Peu, Peiu.
SOLDADOR Muicycasara. SOPRO Peua, Angai.
SOLDAGEM Muicycasaua. SOQUETE Sosocayua.
SOLDANTE Muicycauara. SOROCOIM (Tamatiá?) Tamatiá-uirá.
SOLDAR Muicyca, Muecyca. SORVA Cumã, Cumã-uasu. Cumai.
SOLDÁVEL Muicycatéua. SORVEIRA Cumayua.
SOLEIRA Mytá; (da porta) Okena-mytá. SORVEDOR Pyterasara.
SOLÉRCIA Iacusaua. SORVEDOURO Iupypycatyua.
SOLERTE Iacu. SORVER Pytere. Sorver saboreando: Pytipy-
SOLIDEZ Antangaua, Santásáua. tinga. Sorver sofregamente: Mucuna.
SÓLIDO Antãn, Santá; (firme) Tyua. SOSSEGADO Pituua, Oicô-nhoten.
SOLICITAÇÃO Iururésáua. SOSSEGADOR Pituusara.
SOLICITADOR Iururésára. SOSSEGADOURO Pituutaua.
SOLICITANTE Iururéuára. SOSSEGAR Pituu. Fazer sossegar: Mupituu.
SOLICITAR Iururé. SOSSEGO Pituusaua.
SOLTADOR Iuraresara. SOTOPOR Popyca.
SOLTAMENTO Iuraresaua. SOTOPOSTO Popycauara.
SOLTANTE Iurareuara. SOVA Nupasauasu.
SOLTAR Iurare. Soltar-se: Iuiurare. SOVADOR Nupasarasu.
SOLTO Iuraua, Iurau, Apy. SOVAR Nupasu; (a massa) Cancyra. V Amassar.
SOLUÇADOR Iuiocasara. SOZINHO Nhuíra, Irumuarayma, I nhunto.
SOLUÇAR Iuioca, Ioioca. Fazer soluçar: Mu- Todos se foram, ficou sozinho: Mira opau
iuioca. osoana, opitá irumuarayma. Sozinho en-
SOLUÇO Iuiocasaua. frentou o inimigo: Nhuíra osoecé suainhana.
SOMA Papasaua. SPIZAETO TYRANNUS Iapacany.
SOMADO Papaua. STENO-TUCUXI (boto-cinzento) Tucuxy.
SOMADOR Papasara. Tábua de somar: Papa- SUA I. V Seu.
reuara. SUADA Ciaisaua, Tyaengaua.
SOMAR Papau, Papare. SUADOR Ciaisara, Tyaengara.
SOMBRA Irusanga. SUANTE Ciaiuara, Tyaengara.
SOMBREADOR Irusangara. SUAR Ciai, Tyaen.
SOMBREAMENTO Irusangaua. SUAVE Ceen.
SOMBREAR Muirusanga. SUAVEMENTE Ceen-rupi.
SOMENOS Cemirera, Mirinte, Mirinhoten. SUBIDA (em terra) Eatiresaua; (por água)
SOMENTE Nhun, Anhun, Anhoten, Nhunto. Yapiresaua; (figurado) Eupiresaua.
SOMÍTICO Sacatéyma. SUBIDOR Eatiresara, Yapiresara, Eupiresara.
SONÍFERO Repocy-munhangara. SUBINTE Eatireuara, Yapireuara, Eupireuara.
soNo Cepocy, Repocy, Tepocy, Pocy, Epoxy. SUBIR Eatire, Yapire, Eupire. Fazer subir:
SONOLENTO Epocyuara, Epocyuera. Mueatire, Muyapire, Mueupire. Subiu o rio e
SONHADO Kerepiuá. depois subiu a serra: Oiapireana paraná rupi
SONHADOR Kerepisara. ariré oeatire yuytera. Todos os dias sobem os
SONHADOURO Kerepityua. preços: Opain ara maaitá cepy oeupire.
SONHANTE Kerepiuara. Que sonha mal: SUBJUGAÇÃO Iyuycasaua.
Kerepiuera. SUBJUGADOR Iyuycasara.
SUBJUGANTE
= 297 ""'
TINTA-PRETA
TINTA-PRETA (casta de cipó) Tariri. TOLDA (da canoa) (fixa) Panicaryca; (move-
TINTUREIRO Mupinimasara. V Tingir. diça) Iapá; (no rio Negro) Decorera (corrup-
TINTURA Mupinimasaua. ção do português, de correr, isto é, tolda que
TIO Tutira. se corre quando preciso).
TIQUIRA Tykyra. TOLDADO Pitinga.
TIRADA Iuucasaua. TOLDADOR Mupitingasara.
TIRADOR Iuucasara. TOLDANTE Mupitingauara.
tear) Tucá, Cotuca; (com a mão) Potuca. Do TORMENTAR Porará. Tormentar-se: Iuporará.
TODO Opanhe, Opain, Opao, Opaua, Rain. a fazer: Munhã; Mu (como prefixo). V Fazer e
Todas as vezes: Opanhe-i. Em todos os tem- comp.
pos: Opanhe ara ramé. Por todos os mo- TORNOZELO Pyuoá, Retimã, Muapiresaua.
TRANSPARÊNCIA Sacacangaua, Cesacanga- TREPAR Iupire. Fazer ou ser feito trepar: Muiu-
saua. pire.
TRANSPARENTE Sacacanga, Cesacanga. TREPÁVEL Iupiretéua, Iupiruera.
TRANSPIRAÇÃO Riaycôsáua, Riay (suor). TRÊS Musapire.
TRANSPIRADOR Riaycôsára. TRESCALANTE Sakenauara.
TRANSPIRAR Riaycô. Fazer transpirar: Mu- TRESCALAR Sakena.
riaycô. TRESLOUCADO Acanga-ayua, Acanga-yma.
TRANSPORTADOR Rasôsára. TRÊS-POTES Saracura.
TRANSPORTANTE Rasôuára. TREVA Pituneté. Pitunasu.
TRANSPORTAR Rasô. Transportar-se: Iurasô. TRIGLA Pirá-ueué.
Fazer transportar: Murasô. Fazer-se transpor- TRILHO Pyrapé, Pypora, Caapepena.
tar: Iumurasô. TRINCHEIRA (consistente de um fosso e uma
TRAQUINO Iacuéyma (G. Dias). estacada de pau-a-pique) Nduaimene.
TRÁS Cupé, Casakire. TRIPA Ciyé, Tiputy ireru.
TRASEIRO Cupé, Cupéuára, Casakireuara. TRISTE Taeté, Saciara.
TRASLADAR Musasau. Trasladar-se: Iumu- TRISTEZA Saciaresaua.
sasau. V Transferir e comp. TRISTONHO Suacy.
TRASPASSADOR Sasasausara. TROADOR Tupanasara.
TRASPASSAMENTO Sasasausaua. TROANTE Tupanauara.
TRASPASSANTE Sasausauara. TROAR Tupana, Tupã.
TRASPASSAR Sasasau. TROCA Cecuiara, Recuiara.
TRASPASSÁVEL Sasasauera, Sasausautéua. TROÇA Musaraingaua.
TRATAR Porunguetá, Porunguetá satambyca. TROCADOR Recuiarauara.
TRATEADO Poraracári. TROÇADOR Musaraingara.
TRATEADOR Poraracárisára. TROCANO Trocano, Pytu.
TRATEAMENTO Poraracárisáua. TROCAR Murecuiara. Trocar-se: Iumureucu-
TRATEAR Poraracári. iara.
TRATO Porunguetásáua. TROÇAR Musarain.
TRAVE Oca-iyua. Trave mestra: Oca acanga, TROCO Cecuiara, Recuiara.
Oca acaing (Solimões). TROGONIDE Sorocoin, Surucuã, Tamatiá uirá.
TRAVESSEIRO Acangapaua. TROMBETA Toré, Memby, Memy.
TRAZEDOURO Ruretyua. TROMBETEIRO Memby iupisara, Memby
TRAZEDOR Ruresara. peusara.
TRAZENTE Rureuara, Ireru. TRONCAR Munuca. V Cortar e comp.
TRAZER Rure, Rúri. Pepena. V Quebrar e comp.
TRAZIDO Rure, Rurepora (o que é trazido). TRONCO Rupitá, Epy, Yua, Ruá. O tronco da
TREMEDAL Tyiucatyua, Tyiucapaua. minha gente: Ce mira epy. O tronco de ta-
TREMEDOR Ryrysara. peribá: Taueryuá rupitá. O tronco da flecha:
TREMEDOURO Ryrytyua. Ueyua yua. Tronco da árvore: Caá-ruá.
TREMELGA Puraké. TROPEL Teapu; (de gente) Mira-teapu.
TREMENDO Iauaeté. TROQUILÍDEO (no rio Negro) Inamby; (no
TREMENTE Ryryuara. Solimões) Uainamby, Uainumã.
TREMER Ryry. Fazer tremer: Muryry. TROVÃO Tupãua, Tupã. Iuaca cururuca,
TRÊMITO Ryrysaua. Iuaca inharusaua, Iuaca teapu.
TREMPE Itá-curua. TROVEJAR Cururuca, Curucuruca.
TREMULAR Tyrytyry. TROVEJANTE Curucurucasara, Cururuca-
TREPAÇÃO Iupiresaua. uara.
TREPADOURO Iupiretyua. TROVOADA Iuiutu ayua.
TREPADOR Iupiresara. TU Né, Indé.
TREPANTE Iupireuara. TUCANO Tucana.
TUTELAR
TUCUM Tucu (a palmeira e a fibra que dela se TUMOR Epéua, Ipungá, Imungá.
extrai, assim como o fio). TURVAÇÃO Iakysaua. De quem se turva: Mu-
TUCUMÃ Tucumã. canhemosaua.
TUCUPI (suco da mandioca preparado em TURVAÇÃO Mukiásáua, Tipytingasaua.
molho) Tucupi, Tucupy; (temperado com TURVADOR Iakysara. Que faz turvar: Muca-
formigas, Isá, e pimenta) Isátáia; (curado ao nhemosara.
sol) Tycupy; (apurado de forma a tornar-se TURVADOR Tipytingasara, Mukiására.
quase preto) Tucupy-pixuna. TURVADOURO Mukiátyua, Tipytingatyua.
TUDO Opaua, Paua, Paue. TURVANTE Iakyuara, Mucanhemouara.
TUFÃO Iuiutu ayueté. TURVANTE Mukiáuára, Tipytingauara.
TUMBA Mira iutimataua. TURVAR Mukiá, Mutipytinga. Turvar-se: Iu-
TUMEFAÇÃO Pungásáua. mukiá, Tipytinga.
TUMEFAZER Pungá. TURVAR Iaky. Turvar-se: Iuiaky, Mucanhemo.
TUMEFEITO Pungaua. TUTELAR Mungui. V. Resguardar.
UBÁ Yara, Yngara. ÚMIDO Yrusanga.
ÚBERE Camã. UMIRI Umiri.
UBIM Umy. UMIRIZAL Umirityua.
UBIM-AÇU Umy-uasu. UMIRIZEIRO Umiriyua.
UBUCUUBA Yuycuí-yua, Yuycuyua. UNÂNIME Iepé uasu.
UBUÇU Umusu. UNANIMEMENTE Iepé uasu rupi.
UCUUBA Ucuyua. UNANIMIDADE Iepéuasúsáua.
UIQUÉ Uiké. UNÇÃO Iandysaua, Pyxisaua. V Untar e
ÚLCERA Peréua puxy. comp.
ULCERADO Peréua pora. UNCINADO Ampé iaué.
ULCERADOR Muperéuasára. UNGULADO Ampé-uára.
ULCERAMENTO Peréuasáua. UNHA Ampé; (da mão) Pôampé; (do pé)
ULCERAR Muperéua. Pyampé.
ULCERÁVEL Muperéuatéua. UNHADA Ampésáua. Pixásáua. Carainsaua
ULTERIOR Ariré-uára. (especialmente se é de gavião ou ave seme-
ULTERIORIDADE Arirésáua. lhante).
ULTERIORMENTE Ariré rupi, Ariré ramé. UNHAR Pixá; (dilacerando) Carain.
ULTIMAÇÃO Pausaua. UNHEIRO (se é na mão) Pôampé-pungá; (se é
ÚLTIMO Casakireuara. Por último: Pausape. do pé) Pyampé-pungá.
UM Iepé. Como um: Iepé nungara. Um a um: UNIÃO Muacasaua.
Iepé iepé. Um com outro: Iepé amu irumo. ÚNICO Nhuira, Anhoten iepé.
Um só: Iepé nhü.n. Nhuira. Um de nós: Iepé UNIDADE Iepésáua.
iané suí. Uma vez: Iepé i. UNIDO Iepé uasu, Iepé iaué.
UMBROSO Yrusangauara. UNIDOR Muacasara.
UMEDECER Murusanga. UNIFICAÇÃO Muiepésáua.
UMEDECEDOR Murusangara. UNIFICADOR Muiepésára.
UMEDECIMENTO Murusangaua. UNIFICANTE Muiepé-uara.
UMIDADE Yrusangasaua. UNIFICAR Muiepé. Unificar-se: Iumuiepé.
UTILIDADE
VINGAR Cipi, Iupyca, Iopuca. Vingar-se: VISTA Cesá. Vista comprida: Cesá-pucu.
Iuiupyca. Vista curta: Cesá-iatuca.
VINGÁVEL Cipiuera, Iupycauera. VISTO Maãna, Xipiá, Xipiauá.
VINHO Caryua-cauin, Iukyri. Vinho de açaí: VIVEIRO Curara, Cacury.
Asay iukyri. VIVENTE Cicuésára, Cicué-uara. Árauára,
VIOLAÇÃO Mbuysaua. Arapora.
VIOLADOR Mbuysara. VIVER Cicué, Cecué.
VIOLANTE Mbuyuara. VIVO Cicué, Icicué.
VIOLAR Mbuy. VIZINHANÇA Ruakesaua, Suakesaua.
VIOLÃO Ararapéua. VIZINHO Ruakesara, Suakesara.
VIOLÊNCIA Maramutásáua. VOADOR Ueuésára.
VIOLENTADO Maramutáuá. VOANTE Ueué-uara.
VIOLENTADOR Maramutáuára. VOAR Ueué.
VIOLENTADOURO Maramutátyua. VIÚVA Remiricô-cuera. Recasada: Remiricô-
VIOLENTAR Maramutá. iuere.
VIOLENTÁVEL Maramutáuéra. viúvo Mena-cuera. Recasado: Mena-iuere.
VIOLENTO Maramutáuera, Maramutáyua. VOLTA Ieuíresaua. Volta do rio: Paranã-
VIR Iúri. -oiereu, Paranã-penasaua.
VIRADO Iereuá. voLTADOR Ieuíresára, Iuíresára.
VIRADOR Ieréusára. VOLTANTE Ieuíre-uara, Iuíreuára.
VIRAMENTO Ieréusáua. VOLTAR Ieuíre, Iuíre. Voltar-se: Iuiuíre, Iuí-
VIRAR Ieréu. Virar-se: Iureréu. Revirar-se: iuíre. Fazer ou ser feito voltar: Muiuíre.
Iureré-reréu. VOLUPTUOSIDADE Turysaua, Turyua.
VIRGEM Cunhãmucu-menayma, (ou melhor) VOLUPTUOSO Tury, Sury.
Cunhãmucu-mbuyyma. Cunhãmucu-pysá- VOMITAÇÃO Ueenasaua.
su, Cunhã-kyra. VOMITADOR Ueenasara.
VIRIL Apyaua. VOMITADOURO Ueenatyua.
VIRILHA Sacamby. VOMITANTE Ueenauara.
VIRILIDADE Apyauasaua, Apyauayua. VOMITAR Ueena.
VIRTUDE Tecô-catu. Tecô-puranga. Catusaua. VÔMITO Ueenambyra.
Virtude cristã: Tupana-tecô-purasaua. VOMITÓRIO Ueenayua.
VIRTUOSO Tecô-catupora, Tupana-tecôpóra. VONTADE Putaua, Mutara, Putaresaua. Plena
Quem se torna virtuoso: Tupana-tecô-ipora- vontade: Cepimutara, Cemimutara.
sara. voo Ueuésáua.
VISÃO Maãngaua, Xipiásáua. VORACIDADE Urumusaua.
VISADA Satambyca-maãngaua, Xipiacasaua. VORAGEM (no rio) Paranã-piá, Y-piá; (em
VISADOR Satambyca-maãngara, Xipiacasara. terra) Yuy-piá.
VISAGEM Anhãnga; (nos compostos) Anhãn. VORAZ Urumu.
Visagem velha, costumeira: Anhanguera, vós, vos Penhe, Pá; (como pronome reflexi-
Anhanga-cuera. vo, preposto ao tema verbal). Vós aumentais:
VISAR Maãn-satambyca, Xipiaca. Penhe pemuapire. Vós aumentai-vos: Penhe
VÍSCERA Tiputy-ireru, Ciyé. peiumuapire.
VISGO Tyuma, Tuuma, Icyca, Icyca-puy; (a -vosco Penhe-irumo.
planta) Uiramiri-caá. vosso Penhe. O vosso amor: Penhe xaisu-
VISGUENTO Tyuma-iaué. saua. Tudo isso é vosso: Cuá opaua penhe
VISIBILIDADE Iucucuausaua. iara.
VISITA Cepiresaua, Nepiresaua, Ipiresaua vovô Ramunha, Tamunha, Samunha, Ta-
etc. Fazer visita: Sô-nepire, Ianepire, Ipire. muia.
Receber visita: Iure-cepire. vovó Ariá.
VISITADOR Cepiresara, Nepiresara, Ipiresara. voz Teapu, Nheenga.
VOZERIA
je em muitos lugares já se torna raro e ten- ACARY' acari, macaco-inglês, Brachiurus ru-
de a afastar-se sempre mais dos lugares ha- bicundus, Vali. Casta de macaco quase pri-
bitados. A caça, que lhe é feita para se apos- vado de cauda, de tamanho regular, pelame
sarem daquelas poucas plumas que cons- geral fulvo-bruno, e a cara nua e avermelha-
tituem o seu valor comercial, é bárbara e da, ornada de raros pelos que lembram as
ininteligente. Espera-se o tempo da incu- suíças, de onde o nome vulgar, pela pare-
bação, quando se encontram reunidos em cença que assume com a caricatura lendá-
grandíssimo número nos garçais e, se é pos- ria do inglês.
sível, quando já há nidiáceos, para então ca- ACARY' cascudo, peixe-roncador, da famí-
çá-los. Nesta ocasião, embora o forte tiro- lia das Loricariae. Há várias espécies e al-
teio, os pássaros, por causa dos filhos, não gumas delas são revestidas de verdadeiras
abandonam o lugar e se deixam matar à couraças, duras, cobertas de asperezas. São
vontade. Além do extermínio dos adultos e geralmente fitófagos e vivem de preferên-
da perda de muitas penas inutilizadas pelos cia dentro de buracos que encontram nas
tiros, há o extermínio dos filhotes, que fi- margens dos pequenos cursos d'água que
cam desamparados nos ninhos e vêm fatal- habitam, ou no oco dos paus que nestes se
mente a morrer. acham caídos.
ACARÁ 2 acará, cará. Casta de peixe fluvial e ACARY-CUARA acariquara (buraco de acari).
marinho. Várias espécies de Lobotes, Heras, Árvore muito comum nas margens dos pe-
Sciaenoideos. quenos cursos d'água. O seu cerne é duro
ACARÁ-CUAYMA acará-bobo, casta de peixe. e resistente à umidade da terra, pelo que é
ACARÁ-PINIMA acará-pintado, casta de peixe. muito usado juntamente com o acapu para
ACARÁ-PARAOÁ acará-papagaio, casta de esteio nas construções de taipa. Para pou-
peixe. co mais serve, por causa das numerosas fa-
ACARÁ-PÉUA acará-chato, casta de peixe. lhas ou buracos que apresenta a madeira,
ACARÁ-PITOMBA acará-roliço, casta de peixe. que não é toda da mesma dureza e resistên-
ACARÁ-RANGAUA figura de acará, casta de cia. O nome lhe é dado exatamente porque,
peixe. por causa das falhas e buracos que apresen-
ACARASU acará-grande, casta de peixe. ta, quando caído n' água, onde, pelo seu pe-
ACARÁ-TIMBÓ acaratimbó, garça, Nycticorax so, senta no fundo, é morada preferida dos
pileata, casta de pássaro ribeirinho de cabe- acaris.
ça preta e cara azulada, não muito comum. ACARY-TYUA acarizal, acarituba (lugar de
Tenho-o sempre encontrado isolado ou em acaris).
casais, nunca em bando. ACAUÃN, CAU-CAU acauã. O segundo termo
ACARÁ-TINGA acará-branco, casta de peixe. é onomatopeia do grito de Herpetotheres ca-
ACARÁ-TYUA garça!, acaratuba (terra de chinans, casta de gavião, que vive em peque-
acarás). nos bandos e dá ativa caça às serpentes. É
ACARAÚNA acará-escuro, cinzento, casta de considerado pássaro agourento.
peixe. ACÃ-UERA, ACAN-UERA, ACANGA-CUURA,
ACARÁ UASU garça grande, garça-real. Ardea, CAIN-CUURA caveira. Mira acan-uera: ca-
pássaro muito comum no Amazonas, on- veira de gente.
de nidifica e vive, da família dos Pernaltas. ACAUERA antigamente, no passado.
Tem o mesmo hábitat e costumes do acará ACAUARA chifrante, que dá chifrada.
ou garça pequena. Ele também, embora as ACUTY aguti, cutia, Dasiprocta. Pequeno ma-
suas plumas tenham valor comercial infe- mífero da família dos Roedores, muito co-
rior às da garça pequena, é sujeito à mesma mum. No Amazonas há pelo menos três va-
perseguição bárbara e ininteligente. riedades, que se distinguem tanto pelo ta -
ACARÁ-YUA acaraúba. Casta de murta, de manho como pela cor do pelo. Boa caça e
que os peixes acarás comem a fruta. Cresce muito apreciada, embora a carne um pou-
nos igapós e margens baixas do rio. co seca precise de tempero. Para o indígena,
ACUTY-MBOIA
balho, que precisa fazer-se no menor tempo AMANA AYUA pé-d'água, chuva má.
possível, como seria derrubar o mato, bar- AMANA CURUCA chuva que ameaça, troveja
rear as paredes das casas de taipa etc. O do- a chuva.
no do serviço, que se prepara sempre com AMANACY mãe-da-chuva, casta de pássaro,
certa antecedência, pelo tempo em que dura cujo canto é prenúncio certo de próxima
o trabalho, trata os convidados largamente chuva.
tanto de comida como de bebida, e no fim AMANAIÁ casta de tecido de algodão, amanajá.
há geralmente ladainhas e danças. É práti- AMANA IARA dono-da-chuva, manda-chuva.
ca de boa vizinhança, e os que acodem ao AMANAIÉ alcoviteira.
convite adquirem, por sua vez, o direito de AMANA MANHA mãe-da-chuva, casta desa-
ver retribuído, quando for preciso, o auxí- po, que somente se ouve quando está para
lio que prestam. É o mesmo que no baixo chover.
Amazonas chamam putyrum. AMANA OÁRI chove, cai chuva.
AIURYCAUA ajuricaba, casta de abelha, que AMANA OÁRI PUTARE quer chover, ameaça
vive em grandes colmeias, muito irritável chuva.
e brava, de onde o nome de caba. É o no- AMANA OPIPYCA chuvisca.
me muito conhecido do chefe Manaus que AMANA RUAIARA cunhado-da-chuva, casta
opôs tenaz resistência ao estabelecimento de planta.
dos portugueses no rio Negro e foi vencido AMANASAY casta de abelha, que aparece nu-
por Belchior Mendes de Moraes e pelo ca- merosa nos últimos dias do tempo de chuva.
pitão Paes de Amaral, conforme a tradição, AMANA TYUA amanatuba (terra de chuva)
na proximidade do lago Ajanari, ao tempo AMANA UARA que traz chuva.
do xvu capitão-mor do Pará, José Velho de AMANA USARA traga-chuva, bebe-chuva.
Azevedo. AMANA Y água da chuva.
AIUUÁ ajubá, louro. Várias castas de Laurá- AMANIÚ algodão, as diferentes espécies de
ceas, que vivem nos meios mais diversos e Gossypium.
fornecem madeiras, salvo raras exceções, AMANIÚ APIY algodão esfiapado, em rama.
muito apreciadas e usadas especialmen- AMANIÚ PUMANA algodão fiado.
te para obras internas, pelo fato de serem a AMANIÚ TYUA algodoal.
mor parte isentas do ataque dos cupins e de AMANIÚ YUA algodoeiro.
se prestarem a ser trabalhadas e polidas. AMAPÁ amapá. Árvore da família das Apoci-
AIUUÁ-INEMA louro-merda, casta de louro, náceas, que dá uma fruta comestível, uma
de cheiro bem classificado pelo nome por- espécie de sorva. A sua madeira branca e le-
tuguês. ve é pouco usada. A casca amarga contém
AIUUÁ-TAUÁ louro-amarelo; várias espécies uma resina leitosa, que é extraída por meio
de louro, de madeira amarela, algumas de- de incisão e serve para usos medicinais, e
las de muita duração. mais especialmente para consolidar as liga-
AIUUÁ-TYUA ajubatuba (terra de louros). duras apostas sobre a parte ofendida, em ca-
AIXÉ tia. so de fratura de algum membro, utilizando-
AIXÓ sogra (em relação ao homem). -se a sua qualidade de endurecer facilmente,
AI-YUA ajizeiro, árvore-da-preguiça. exposta ao ar. As folhas têm efeito irritante.
AKITI para lá, lá, naquele lugar. Kasó akiti: AMBÉ, UAMBÉ casta de cipó parasito.
vou para lá. Rexiare aé akiti: deixa-o lá. AMBIÚCA, AMIÚCA assoado.
AKITI-TEEN lá mesmo. Rexiare alciti teen: AMBOÁ, AMBUÁ, AMOÁ minhoca, verme, larva.
deixa lá mesmo. AMBYRA, AMYRA defunto, finado. Cé paia
AKYRA, IAKYRA verde, não maduro. ambyra: meu finado pai.
AMÃ casta de erva. AMEIÚ ameju, casta de fruta, do formato de
AMANÃ casta de planta ribeirinha. uma pinha; a polpa branca é levemente ado-
AMANA chuva. cicada, comestível.
AMANA ARA tempo de chuva. AMISAUA casta de caba.
ANAMANGARA
gua geral, e a registro, embora a creia de ori- comprido como ponta de flecha. Encontra-
gem africana. -se de dia, geralmente isolado, ao longo dos
ANHAMA abraçado, envolvido, cercado. rios e igarapés, empoleirado, imóvel sobre
ANHAMASARA abraçador, envolvedor. algum galho seco, espiando a presa, sobre
ANHAMASAUA abraço, envolvimento. a qual se lança caindo de qualquer altura
ANHANGA, ANANGA espectro, fantasma, como uma pedra e perseguindo-a debaixo
duende, visagem. Há mira-anhanga, tatu- d'água, como bom mergulhador que é. A sua
-anhanga, suasu-anhanga, tapyira-anhan- comida preferida são camarões e pequenos
ga, isto é, visagem de gente, de tatu, de vea- peixes, que come inteiros. Não costuma di-
do, de boi. Em qualquer caso e qualquer que laniar a presa. Pouco arisco, não envergonha
seja, visto, ouvido ou pressentido, o anhan- o caçador. Ainda que não apanhe um único
ga traz para aquele que o vê, ouve ou pres- bago de chumbo, não foge voando, se deixa
sente certo prenúncio de desgraça, e os lu- cair n'água como um corpo morto, e oca-
gares que se conhecem como frequentados çador que não lhe sabe a manha espera inu-
por ele são mal-assombrados. Há também tilmente que o corpo venha à tona. Se olhar
pirarucu-anhanga, iurará-anhanga etc., isto porém em roda, vê a uns trinta ou quarenta
é, duendes de pirarucu e de tartaruga, que metros de distância aparecer um instante a
são o desespero dos pescadores, como os de cabecinha do exímio nadador, que desapa-
caça o são do caçador. rece logo mergulhando, para reaparecer um
ANHANGA-KIAUA pente de macaco, casta de pouco mais longe e por tempo menor, repe-
Bignonia da terra firme, que dá uma cápsu- tindo-se a manobra, até que em pouco fica
la hirta de espinhos, um ouriço comprido. fora de tiro. O pelo do peito pode dar uma
ANHANGA-RECUYUA pau-lacre, lacre. Ár- excelente peliça para manguito para senho-
vore que não atinge nunca grandes pro- ra, capaz de rivalizar com as mais estimadas.
porções e cresce de preferência nas capoei- A sua carne é boa e muito próxima à car-
ras e catingas. É pau preferido para cercas, ne de pato.
pela facilidade com que racha no sentido ANORY ver Anaiury.
do comprimento, durando na terra de três ANTÃ sólido, coalhado, endurecido.
a quatro anos. Dá uma resina amarela ou ANTANGARA solidificador, endurecedor.
avermelhada, segundo a espécie, levemente ANTANGAUA solidificação.
cáustica, quando fresca e não ainda coagu- ANTI, SANTi apontado, afiado, agudo.
lada, que pode servir para verniz. ANTIANTI gaivota, nome genérico, comum a
ANHANGUERA velha visagem, a visagem cos- varias espécies de Larus, que vivem ao lon-
tumeira. go das margens dos Amazonas e afluentes.
ANHOTEEN, ANHUTEN somente, unicamente. ANÜ, ANÜN anum. Casta de Cuculida do gê-
ANHUMÃ alicorne. V Camitaú. nero Crotophaga, muito comum e reconhe-
ANHUMÃ-PUCÁ alicorne que ri, casta de ali- cível pela forma esquisita do bico, levantado
corne. em forma de crista. Vive em bando na or-
ANHÜN, NHÜN SÓ. la da floresta, percorrendo-a e revistando-a
ANHÜN-IRA sozinho. Anhun-ira osó oiuiu- em todos os sentidos à cata de insetos, mas
-alnti aé: Sozinho vá a encontrá-la. não desprezando ovos e nidações, o que tor-
ANINGA' casta de arum, planta que cresce na os bandos de anuns, como os de maca-
nos lugares alagados e terras baixas, aonde cos, verdadeiras pragas para os lugares por
chega a água da preamar ao longo da costa; onde passam.
muito comum na baía de Marajá. ANÜ-COROCA casta de Crotophaga que vive
ANINGA' carará, Plotus aninga. Palmípede nos igapós. Tem os costumes do anum, do
muito comum em todo o Amazonas, do ta- qual é alguma coisa menor. Deve o nome
manho de um peru, bem reconhecível pe- ao apelo que costuma fazer ouvir, quando o
lo fino e comprido pescoço, pela cabeça pe- bando vai caçando, e soa um corô-corô gar-
quena e elegante, acabada por um bico fino e garejado à meia voz.
ANUIÁ
ANUIÁ anujá, casta de peixe de pele, que vive APIPONGA inchado, empachado.
de preferência nos igapós, morando nos bu- APIPONGASAUA inchaço, empachamento.
racos da margem, onde o indígena que lhe APIPONGAUARA que incha, empacha.
conhece os hábitos o pega à mão. APIRA, APIRE rio acima. Xasô apira kiti: VOU
AOAREPÕ cachimbo (G. Dias). subindo. Recica apira suí: Chegas de rio acima.
APA desmoronado, aluído, abatido. APIRPE para cima, contração de apira opé.
APACAMÃ casta de peixe. APITAMA enfiada, cambada.
APACANi apacanim, casta de gavião. V. APITUMA, APITOUMA miolo, medula dos
Iapacanl. ossos.
APACÉ curvo (?). APIXAI enrugado, arrepiado.
APAÍ casta de pato; o pato novo que ainda APIXAINGAUA enrugamento, arrepio.
não botou as penas das asas e não pode voar. APÔ, APÜ cheio.
APAPÁ casta de peixe extremamente voraz. É APUÃ novelo; o cheio.
pegado à pinauaca como o tucunaré. APUCUITÁ remo. V. Iapucuitá.
APARA torto, curvo, sinuoso. Paraná-apara-eté: APUÍ, APUY varias espécies de plantas parasi-
rio muito sinuoso. Myra-para: pau torto, arco. tas que vivem à custa das raízes aéreas, que
APARASAUA curva, curvatura, sinuosidade. descem em longos filamentos até o chão. V.
APARAUARA entortante, que entorta. Tamandoá.
APATUCA, IAPATUCA atrapalhado. APY, EPY base, alicerce.
APAUÁ desmoronado, aluído, abatido. APYAUA, APIGAUA, APGAUA, APIGABA ma-
APAUASAUA desmoronamento. cho, varão, homem. Tapyira-apyaua: touro,
APAUAUARA desmoronante. macho da anta. Em geral, todavia, quando
APAUATYUA lugar de desmoronamentos. se diz o nome de um animal sem outra espe-
APE aí, lá, lugar para onde se vá, ou onde ou- cificação, e salvo o caso em que o nome do
trem está. Xasó ape cury: logo vou aí, ou logo macho seja diverso do da fêmea, se entende
vou lá; auá oicó ape? quem está aí, ou quem sempre que se fala do macho. Pelo contrá-
está lá? rio, quando se fala da fêmea, e salvo a hipó-
APÉ casta de Nympheacea que cresce nos la- tese de vir o sexo claramente determinado
gos e lugares alagados. por todo o contexto, precisa sempre especi-
APECATU longe. Lit.: bem lá. Apecatu-kiti: ficá-lo, fazendo seguir o nome do animal de
para longe; apecatu-suí: de longe; apecatu- cunhã, fêmea.
-reté: muito longe. APYAUA-CATU homem bom.
APECATUARA morador de longe. APYAUA-KYRIMBAUA homem forte, valente.
APECATU-RETÉUÁRA que é morador de mui- APYAUA-PURANGA belo homem, homem às
to longe. direitas.
APECATU-SUÍUÁRA que vem de longe. APYAUA-RETÉ verdadeiro homem, homem
APECATU-XINGA pouco longe. sisudo.
APECATU-XINGAUARA que é de pouco longe. APYAUA-TURUSU homem grande no tama-
APECOIN língua. nho ou na grossura.
APECÜ língua e, por extensão, ponta, saliên- APYAUA-UASU, APYAUASU grande homem,
cia, promontório. V. Pecü. pelo ânimo e pela posição, sem atender ao
APECUMA língua, ponta, saliência. tamanho.
APENU, CAPENU onda. APYAUA-YMA homem sem ânimo, fraco.
APEREÁ preá. V. Pereá. APYAUA-YUA homem teso, haste de homem.
APEREMA casta de tartaruga muito achatada APYI desfiado, solto. Makira-apyl: o punho
e, no dizer de Martius, muito saborosa. da rede.
APEYUA apeíba, jangadeira [pau de jangada]. APYSÁ orelha, ouvido.
Planta que dá uma madeira muito leve, pró- APYSÁ-AYUA tem mau ouvido, não atende.
pria para jangada. APYSACA' ouvido da agulha (Solimões).
APII casta de erva muito fina, esfiapada. APYSACA' escutado, ouvido atentamente.
ARA PAPÁ
pode agarrá-los, os faz desaparecer numa no mais curto. É usado pelo tuxaua e seus
chinelada. companheiros, e acompanha a acangatara
ARAPARI' arapari, Macrolobium acaciae-fo- de chefe.
lium. Casta de árvore muito comum no ARARA-PARY' Na astronomia indígena das
Pará e baixo Amazonas. tribos nheengatus é o cinto de Órion, ou as
ARAPARI' o Cruzeiro do Sul, [no] Solimões Três Marias, como são conhecidas popu-
(Padre Tastevin). larmente as estrelas que o formam, e liga-
ARAPARI-RANA falso arapari. -se à lenda do Jurupari. Contam que uma
ARAPASÔ pica-pau, é nome genérico dos pi- noite de festa a anta saiu da casa da dan-
ca-paus que ostentam uma poupa que geral- ça sem despir os ornamentos, com perigo
mente se destaca, pela cor, do resto do corpo. de ser vista pelas mulheres. Jurupari, que a
ARAPAUACA lombrigueira. O fruto é usado tinha visto sair, saiu atrás dela e, para dar
como anti-helmíntico. um exemplo, a agarrou e jogou no céu, on-
ARAPÉ contração de ara opé, em cima, sobre. de ficou até hoje. A anta, porque era pesa-
ARAPECÔ restinga, língua de terra, morro. da, foi cair de um lado: é o Sete-Estrelo, ou
ARAPECUMA ponta de terra, promontório. Ursa Maior. O arara-pary, porque mais li-
ARAPOPÓ casta de ave ribeirinha. geiro, subiu direito e foi cair em cima do
ARAPORA, ARAPURA vivente, que enche o jirau do mocaentaua. Esta é a lenda; hoje,
tempo, que enche o mundo. porém, nem a acangatara grande nem o
ARAPUÃ casta de grande abelha preta. arara-pary são ornamentos cuja vista seja
ARAPUCA' casta de árvore da família das vedada às mulheres. Tenho assistido a mais
Rutáceas. de uma festa e tomado parte nelas, e o ara-
ARAPUCA' ratoeira. ra-pary era usado francamente na forma
ARARA' arara, Macrocereus macao, a ara- do costume na presença das mulheres: nem
ra-vermelha, bem conhecida em todo o me consta que haja um arara-pary especial
Amazonas. É das penas da cauda que são para os dias da dança do Jurupari de onde
feitos muitos dos enfeites usados pelos indí- são excluídas as mulheres.
genas em suas festas e danças. Por isso mes- ARARA-PÉUA arara chata, tábua de arara;
mo é rara a maloca de Uaupés onde não se o violão ou alguma coisa que se lhe pare-
encontrem araras domesticadas, criadas ex- ça. Um pedaço de madeira rudemente es-
pressamente para utilizar-lhes as plumas, cavado, sobre o qual são esticadas três cor-
mostrando-se assim mais adiantados do das: o embrião dos instrumentos de corda.
que os civilizados com as garças. Imitação ou original, não sei.
ARARA' casta de formiga, que tem a especia- ARARA-PUTAUA isca de arara, árvore da ter-
lidade de ter as asas brancas (Martius). ra firme.
ARARA-CAÁ casta de planta de largas folhas, ARARA-RUAIA cauda de arara. Planta anual,
largamente manchadas de vermelho. de folhas largas e escuras, cuja extremida-
ARARACÃN, ARARACANGA casta de arara. de floral com as folhas que lhe são próxi-
ARARA-CUARA buraco de arara, árvore de al- mas forma um lindo penacho vermelho-vi-
to porte da ordem das Leguminosas. vo, que produz um lindo contraste sobre o
ARARA-CUMÃ casta de sorva, sorva de arara. verde da mata circunstante.
ARARANÍ casta de árvore da terra firme. A ARARA-TEMBIÚ comida de arara, árvore da
cinza da casca é, segundo afirma Martius, terra firme, casta de Leguminosa, que for-
usada em poção contra a hidropisia. nece uma madeira muito apreciada para
ARARA-PARY' ornamento de dança. É a en- obras de marcenaria, tomando um lindo
xó indígena, o pururé: machadinha de pe- polimento.
dra polida, encabada no braço mais curto ARARA-TI bicudo, narigudo, bico de arara.
de um pau curvo em ângulo reto, orna- ARARA TUCUPI tucupi de arara, árvore da
do de plumas brancas de mutum em gru- terra firme, casta de Leguminosa, que dá
pos de três no braço mais comprido, e dois uma madeira de alguma duração, mas de
ARAUARA
ARAUARI araguari, casta de arraia. ARIUÁ o caído, o que cai e se estende em ci-
ARA-UASU dia alto, de manhã, antes do ma de alguma coisa, acaba, remata.
meio-dia; dia grande de festa; dia famoso. ARIUARA cainte [que cai], sainte [que sai].
ARAUATÁ casta de pássaro. ARIUÁ-SAUA acabamento, complemento.
ARAUATÓ casta de símio, Mycetes ursinus. ARIUÁ-UARA acabador, que completa. Oca
ARAUAY araguaí, casta de maracanã, Eunurus ariuá-uara: cumeeira da casa.
pavus guaianensis. AROAi casta de pequeno caranguejo.
ARAUÉ barata, Blatta, o inseto fedorento que ARU' casta de pequeno sapo, que vive de prefe-
todos conhecem. rência nas clareiras do mato e acode numero-
ARAUÉ-MBOIA cobra de barata, que, segun- so logo que se abre um roçado. Onde aru não
do Martius, dizem ser venenosa. aparece a roça não medra. Aru transforma-se
ARAUERA vivente, que é do mundo. oportunamente em moço bonito, empunha o
ARAUERI baratinha. remo e vai buscar a Mãe da Mandioca, que
ARAUIRi casta de sardinha, Chalseus. mora nas cabeceiras do rio, para que venha
ARECÉ por via disso, por esta causa. Indé indé visitar as roças e as faça prosperar com o seu
inti resó putare, arecé xapitá: Tu não queres benéfico olhar. Somente as roças bem planta-
ir, por via disso eu fico. Inti iarecõ tuichaua, das e que agradam à Mãe da Mandioca pros-
arecé apanhe omunhã oputare pire iaué: Não peram e têm a chuva oportunamente. Aru fo-
temos tuxaua, por esta causa todos fazem ge das que não são conservadas bem limpas,
como entendem melhor. e que são invadidas das ervas daninhas, e,
ARERÉ casta de marrequinha. quando desce com a Mãe da Mandioca, lhes
ARÉUO cada dia. passa na frente sem parar.
ARI caído. ARU' árvore que cresce nas terras firmes e
ARIÁ avô. vargens altas raramente inundadas; da casca
ARIÃ uma casta de araruta, que dá fécula se extrai uma tinta violácea designada com
muito boa e apreciada. o mesmo nome.
ARICURI casta de palmeira. ARU APUCUITÁ remo de aru. Assim chamam
ARIRAMBA ariramba, casta de Galbula. no rio Negro uns velhos remos, ou melhor,
Nome genérico de uma ave ribeirinha que uns restos de remos que, de tempo em tem-
se encontra em todos os rios, lagos e iga- po, se encontram nas suas margens, e que
rapés do vale do Amazonas, pousada ge- têm o aspecto de objetos longamente enter-
ralmente sobre um galho seco à espera da rados, só ficando ainda as partes mais du-
oportunidade de cair sobre a presa, que ras. Pelo feitio, tão diferente dos que ho-
aboca à superfície d' água, sem mergu- je se usam, dir-se-ia pertencerem a alguma
lhar. A ariramba torna-se facilmente reco- antiga tribo hoje extinta. A tradição os li-
nhecível pela desproporção do bico e ca- ga à lenda de Aru, e seriam os restos do re-
beça com o resto do corpo, especialmente mo de que ele se serve quando traz a Mãe da
as pernas e os pés, que são pequenos, cur- Mandioca. Afirmam que trazem prosperi-
tos e fracos e desproporcionados com to- dade a quem os encontra e que basta quei-
do o resto. mar um pedacinho do remo de Aru, quan-
ARIRÉ depois, em seguida. do se queima o roçado, para que nunca mais
ARIRÉUÁRA quem espera o dia depois. abandone a roça e para ela traga sempre a
ARISARA caidor, saidor, derramador. Y ari- Mãe da Mandioca. A forma do remo, que é
sara yuytera arecanga suí: água saidora do de madeira duríssima, é a de uma pá de for-
flanco da serra. neiro, da altura de um metro e pouco, sendo
ARISAUA queda, ato de cair. o comprimento da pá de mais de um terço.
ARITU, ALITU casta de louro, que cresce Do lado da empunhadura, muito cuidado-
nas várzeas altas e raramente inundadas. samente trabalhados, acabam em ponta, pa-
Madeira usada para falcas de canoa, banco e recendo indicar que eram ao mesmo tempo
obras semelhantes. Na terra apodrece logo. remos e armas de guerra. Que são objetos
ATURIÁ
muito antigos, o diz o estado em que se pouco de açúcar. É bebida muito apreciada
acham. As partes moles da madeira já não e substancial.
existem e em muitos casos são substituídas ASUAXARA do lado contrário, do outro lado.
por depósito silicoso. Dos remos atualmente ASUAXARA-UARA quem está do outro lado.
usados, os que se lhes aproximam, com a di- -ASO (sufixo) grande. V Uasu.
ferença de não serem apontados do lado da ASUÍ de lá, disso. Uri-asuí: vem de lá.
empunhadura, são os que usam os Apamaris. ASUÍUÁRA que vem de lá, que vem depois.
ARUCANGA costela, oitão, canto. Tupana ASUPÁ arbusto muito comum na margem do
omusaca cunhã apyaua arucanga suí: Deus Solimões.
fez sair a mulher da costela do homem. ASUPÉ para ele.
Ocapi arucanga: canto da sala. Yara urucan- ASYCU retalho, resto insignificante de qual-
ga: costelas da canoa. quer coisa.
ARUMBÉ, ARUMÉ arubé, massa de mandioca ASYCUERA que se retalha, despedaça.
puba curada ao sol com pimenta-malague- ATA fruta em forma de pinha (fruta do conde).
ta, usada como tempero da comida. ATA-TYUA atatuba, lugar de atas.
ARUPÉ, ARPÉ de ara opé, em cima, sobre. ATAUATÓ casta de gavião, alto, sobre pernas
ARUPÉUÁRA, ARPÉUÁRA o que está em cima, despidas de calças, e que caça não somente
que está sobre. caindo a voo sobre a presa, mas perseguin-
ARUPI por lá, por aquele lado. do-a a correr no chão. Parece um Astor.
ARUPIUARA que é de lá, daquele lado. ATERYUÁ ateribá, casta de árvore da vargem,
ASACU árvore de alto porte, que vive à mar- alta, das matas do Pará. Dá uma madeira
gem do rio, da família das Euforbiáceas, usada em marcenaria, especialmente para
Hura brasiliensis. O látex, a casca, as folhas forros.
têm propriedades benéficas. ATE-YMA preguiçoso. V Iate-yma e comp.
ASAMÔ espirrado. ATIANTI gaivota.
ASAMÔSÁRA espirrador, que faz espirrar. ATIAUASU casta de alma-de-gato, o maior
ASAMÔSÁUA espirro. que conheço, o duplo daquele que se conhe-
ASAMÔUÁRA espirrante. ce com o nome de uirá-pajé. Vive como es-
ASAMÔUÉRA que espirra facilmente, costu- te de insetos que caça entre a folhagem das
ma espirrar. árvores, correndo ao longo dos ramos com
ASAY açaí. A fruta de uma palmeira que cres- ademanes todos seus particulares, que lem-
ce em todos os lugares e hoje também muito bram o andar dos ratos. Tenho-o encontra-
cultivada tanto no Pará como no Amazonas, do vivendo em casais no alto Uaupés.
graças à bebida que dela se extrai, conhe- ATIMÃ, ATIMANA rodear, circundar. V Iati-
cida sob o nome de vinho de açaí. Da fru- mana ecomp.
ta extrai-se também um óleo muito fino, já ATIYUA ombro, espádua.
usado em perfumaria, e que é preconizado ATIYUA-UASU espadaúdo.
para cura da tísica e como sucedãneo do de ATUÁ nuca.
fígado de bacalhau. ATUASARA compadre, comadre, o que sus-
ASAYTYUA açaituba, açaizal, terra de açaís, tenta o menino, pegando-lhe na nuca quan-
onde cresce o açaizeiro. do o apresenta ao padre para batizar.
ASAY-YUA açaizeiro, palmeira do gênero Eu- ATUASAUA compadresco ou comadresco.
terpe, muito comum em todo o Amazonas; ATUCÁ batido, martelado.
é a juçara do Sul do país. V Asay. ATUCAUERA buliçoso, metediço.
ASAY YUKICÉ caldo de açaí e, como o cha- ATURÁ, UATURÁ paneiro dos roceiros para
mam, vinho de açaí. Bebida feita amassando carregar mandioca e frutas.
a fruta do açaizeiro, depois de ter amolecido ATURIÁ' casta de árvore de alto porte, co-
n' água quente, e diluindo a massa assim ob- mum na vargem ao longo de rios e igarapés
tida n' água fria. É servido depois de peneira- do baixo Amazonas, que fornece uma ma-
do e se toma geralmente com farinha e um deira clara e leve, de muito pouco uso.
ATURIÁ
marca como que o limite das areias lavadas. AUY lançadeira que serve para tecer a rede e,
Resiste às enchentes e passa sem morrer por extensão, agulha, alfinete.
mesmo mais de mês de baixo d' água. Não AUY APYSACA ouvido da agulha.
se encontra nos lagos. AUYCA costurado.
AUERANA 2 tísico. AUYCASARA costureira.
AUÍCA ouvido. AUYCASAUA costura.
AUIÉ ainda. Auié catu: ainda bem. AUYCAUARA costurante.
AUIO, AUIOYUA abio, abieiro, Lucuma caimito e AUYCAUERA costureira não muito hábil.
variedades. Fruta comestível e muito aprecia- AUYCA-YMA descosturado.
da quando em completa maturidade. Antes AUYCUARA buraco da agulha, ouvido.
disso a polpa, branca e adocicada, de gosto AUYRA forro, bainha, invólucro.
especial, é uma massa resinosa intragável. É AXUÁ arbusto da terra firme e das campinas.
planta cultivada nas roças. Dá com três anos. Várias espécies de Saccoglottes.
AUIURANA abiurana, falso abio, Lucuma la- AXUPÉ casta de abelha, que faz o ninho den-
siocarpa. Fruta quase insignificante, mas tro da terra.
dá boa madeira para marcenaria, e obras AXY! fora! apago! exclamação de repulsa.
internas. AY preguiça. V. AI.
AUKI bulido, incomodativo. AY IRA mel de preguiça.
AUKISARA bulidor, incomodador. AY IRA MANHA a abelha que faz o mel de pre-
AUKISAUA ato de bulir, mexer, incomodar. guiça, cuja colmeia se parece com uma pre-
AUKIUERA buliçoso, incômodo, insistente. guiça agarrada contra um galho de pau.
AUOTA, AUOTUA abutua, casta de cipó do gê- AYUA ruim, mau, estragado, roto, feio.
nero Cocculus. O látex de uma espécie de AYUANA já estragado, imprestável.
madeira amarela é usado externamente para AYUA ETÉ péssimo, feiíssimo.
curar a inflamação de olhos purulenta, e in- AYUA-RETÉ estragadíssimo.
ternamente para cura da diarreia. Outra es- AYUASARA estragador.
pécie fornece um potentíssimo abortivo. AYUASAUA estrago, estragamento.
e letra que tem um som duro de k perante a, CAÁÁ-UARA cagante.
o, u e um som doce de s perante e, i, y. CAAA - UERA cagão.
e prefixo pronominal. Indica a relação que a CAÁ-crcuÉ folha viva, sensitiva, casta de Mi-
palavra que o recebe tem com a pessoa que mosa.
fala, e mais raramente também com a pes- CAÁ-ETÉ mata verdadeira, mata virgem da
soa de quem se fala, quando a palavra em terra firme geral.
questão não recebe o prefixo t. Cetama - CAÁ-IARA dono do mato, mateiro. Tenho en-
que faz retama e tetama - se refere sempre contrado notado como usado no Pará caá-
à pessoa que fala. Cembyua - que somente iuara, que, se não é engano, é corrupção ou
tem tembyua - tanto pode referir-se à pes- da palavra notada ou de Caauara.
soa que fala como à pessoa de quem se fala. CAÁ-IERÍSÁUA pecíolo, haste da erva ou da
CÁ, CAÁ cá é contração de caá, usada de pre- folha.
ferência nos compostos, para indicar mata, CAÁ IURU boca da mata, começo da picada.
erva, planta e mais raramente folha. CAÁ-ICYCA folha resinosa, pegajosa como de
CAÁ (que se contrai em cá) folha e, por ex- alguma casta de Euforbiácea.
tensão, erva, planta, mata, embora nos com- CAÁ-IUSARA folha coceirenta.
postos se use nestes últimos casos de prefe- CAÁ-KYRA folha gorda, folha carnosa.
rência cá e se reserve caá para indicar folha, CAÁ-KYRE folha que dorme, mato que dor-
erva. Caá uasu: folha grande; cá uasu: mata me; anil-miúdo.
grande. Caá membeca: folha mole; cá mem- CAÁ-MANHA' mãe do mato, erva que invade
beca: mato novo. Mycura caá: erva de mu- as roças logo abandonadas, e que precede a
cura. Note-se que neste caso não seria pos- invasão da mata.
sível a substituição de caá por cá. CAÁ-MANHA' mãe do mato, ente fantástico
CAÁÁ sujado, cagado. que se supõe habitar a mata, e que parece
CAÁÁ-PAUA urinol, bacio, bispote. ser o próprio Curupira.
cAÁÁ-PIRANGA diarreia de sangue. CAÁ-MEMBECA mato mole, o mato novo das
cAÁÁ-PUXI disenteria. capoeiras e que invade as roças abando-
CAÁÁ-SAUA sujidade, cagada. nadas.
CAÁ-POROROCA
CAÁ-MIRI mato baixo, rasteiro, folha pe- indígenas da região do rio Negro e seus
quena. afluentes.
CAÁMÚMA paina. V Samaúma. CAÁPÍ a bebida extraída do cipó deste nome,
2
CAÁMUNDÉ armadilha no mato, que se arma isto é, a infusão da casca previamente seca-
no chão para apanhar mamíferos. da num pilão especial, mal diluída em um
CAÁMUNDÚ, CAÁMUNÚ caçado. pouco de água. É a bebida que usam no rio
CAÁMUNUÁ o caçado. Uaupés para completar a bebedeira do cari-
CAÁMUNUSÁRA caçador. ri, e que é tomada pelos velhos e homens
CAÁMUNUSÁUA caçada. feitos, com exclusão dos moços e das mulhe-
CAÁMUNUÁRA caçante, que pertence à caça. res. O seu gosto é um amargo, para mim re-
CAÁNTÁ (contração de caá-santá) folha for- pugnante e o único efeito que me produziu
te, resistente; a folha de ubim ou de arumã, foi náusea e vômito. Não tinha bebido antes a
já cortada e pronta para peneirar a farinha quantidade de caxiri suficiente, me explicou
de mandioca. o meu colega pajé, em cujo conceito eu devo
CAÁ-NUPÁ mato brocado, isto é, o mato limpo ter diminuído imensamente. Pelo que con-
e preparado para se proceder depois à derru - tam os que a usam, os seus efeitos são mui-
bada das árvores grandes para fazer a roça. to parecidos com os do ópio. Completando
CAÁ-NUPÁSÁRA brocador de mato. a bebedeira, deixa-os prostrados em uma
CAÁ-NUPÁSÁUA broca, ato de brocar. meia sonolência, durante a qual, dizem eles,
CAÁ-NUPÁUÁRA brocante. gozam de visões e de sonhos encantadores.
CAÁ-PANEMA mata de madeiras fracas, que Martins afirma que caapi é extraído da raiz.
pouca serventia têm. Eu tenho assistido mais de uma vez ao seu
CAÁPÁRA cartucho de folha verde, enrolado preparo e vi sempre usar-se a casca.
no momento, para beber água. CAÁPIÁ contraerva, casta de Dorstenia. Mar-
CAÁ-PAU, CAÁ-PAUA a orla do mato, onde o tius dá à palavra a significação de erva-tes-
mato acaba. tículos e contração de caá e supiá. Não ve-
CAAPE no mato, dentro do mato. É contração jo razão para isso. É palavra pura e simples-
de caá-opé. Cunhã ocanhemo putare caape: mente composta de caá e piá: erva-coração,
a mulher esteve para perder-se no mato. sem contração alguma. A forma das folhas
CAÁ-PEMA folha chata e larga. Nome dado a justifica o nome.
várias qualidades de plantas. CAÁ-PIRANGA mato vermelho, folha verme-
CAÁPÉMBA capeba, arbusto de raízes amar- lha, nome que é dado a muitas plantas das
gas usadas para a cura de doenças sifilíticas. mais diversas famílias, desde que apresen-
CAÁ-PEPENA mato quebrado para assinalar o tem nos rebentos ou nas folhas alguma ver-
lugar por onde o caçador passou em procu- melhidão.
ra de caça, para poder voltar pelo mesmo CAÁ-PIXUNA mato preto, nome dado mais
caminho. Ainda assim a assinalação é efe- especialmente a certas mirtáceas, em vir-
tuada de modo que quem não é prevenido tude das folhas escuras e sem brilho; uma
e não seja bom mateiro dificilmente se pode casta de tajá, que tem folhas largamente
dirigir por ela. manchadas de preto.
CAÁ-PEPÉNASÁRA assinalador. CAÁ-PÔ mãe do mato, capão, ilhas de mato
CAÁ-PEPÉNASÁUA assinalação. no descampado.
CAÁ-PEPÉNAUÁRA assinalante, que pertence CAÁ-PORA morador da mata, silvestre, sil-
à assinalação. vícola. Não se confunda, como fazem al-
CAÁ-PÉUA folha chata, pau chato. Nome co- guns, com o caipora, que tem uma signifi-
mum a muitas plantas, entre outras a um ci- cação muito diversa, como se pode ver no
pó de caule achatado e à língua-de-vaca, ou lugar próprio.
chicória-da-terra. CAÁ- POAMA ilha de mata.
CAÁPÍ' caapi, Banisteria caapi, casta de ci- CAÁ-POROROCA mato frágil, quebradiço;
pó da terra firme, e planta das roças dos casta de Myrisina.
CAAPUÍRA
CAAPUÍRA mata miúda, folha fina, capoeira. envolve, uma espécie de geleia muito apre-
V Capoera. ciada.
CAÁ-PUTYRÁUÁ (mato de flor amarga?) amor CACAO-TYUA cacaual, terra plantada de cacau.
dos homens ou, como dizem estes, amor das CACAO-YUA cacaueiro. Árvore de várias es-
mulheres, casta de flor que tem a especiali- pécies de Theobroma; cresce nas vargens e
dade de mudar de cor durante o curso do igapés, que ficam inundados todos os anos
dia. Amanhece branca e anoitece vermelha durante alguns dias, e amadurece os frutos
para murchar logo. nos primeiros dias da vazante.
CAÁ-RAUA rebento, galho. CACURY' armadilha para pegar peixes. Con-
CAÁ-RETÉ mata espessa, difícil de atravessar. siste numa barragem construída nos lugares
CAARERU beldroega, joão-gomes; casta de de maior correnteza, geralmente apoiada à
Portulaca, comestível; diversos bredos. margem, com a qual forma ângulo e desti-
CAÁ-RIMÁ polvilho, amido farináceo extraí- nada a obrigar o peixe que vem subindo, ar-
do da mandioca. rostando a correnteza, a entrar num curral,
CAÁ-RUÁ tronco da árvore. de que a barragem é um lado, onde fica pre-
CAARUCA tarde. Caaruca ramé: de tarde; so. O pari, ou a grade de que são feitas as
caarucana: já é tarde. paredes do curral, é armado sobre uma for-
CAARUCAUARA que vem tarde, que perten- te armação de paus fincados no leito do rio
ce à tarde. e, em terra, até onde chega a enchente. O
CAARYRU casta de Podostemácea. Cresce curral é uma espécie de quarto mais ou me-
nas pedras dos lugares de forte corrente- nos quadrangular, com a abertura virada a
za, e com especialidade nas das cachoeiras, jusante. Esta é formada por dois panos sol-
atingindo o seu máximo desenvolvimento tos de grade, que fecham o lugar, por on-
quando submersa pela enchente. No tempo de o peixe deve entrar simplesmente pela
da seca forma tapete, que murcha e secara- força da correnteza, coincidindo, apoiados
pidamente, e então os indígenas a recolhem sobre as travessas da armação, exatamente
para dele extrair o sal, de que se servem, no ponto onde a barragem faz ângulo. É fá-
apesar da sua inferior qualidade, no Uaupés cil compreender como a armadilha funcio-
e em outros lugares por este interior, quan- na. As extremidades dos panos da grade,
do lhes falta o sal dos brancos. que não são amarradas, cedem facilmente
CAATINGA mato branco, mata rala; a mata à pressão do peixe, que vem subindo com
rala e raquítica que cresce nas terras areno- força para vencer os obstáculos que se lhe
sas e fica como uma mancha clara no meio opõem, e é levado à entrada pela forma da
da mata circunstante. barragem, entra no curral e aí fica preso, ví-
CAATINGA-PORA catingueiro. Suasu caatin- tima inconsciente do instinto. O peixe as-
ga-para: veado-catingueiro. sim preso não pode mais sair, o ingresso fe-
CAATINGA-UARA que é da caatinga. cha-se automaticamente pela própria força
CAÁ-TININGA folha seca, árvore da capoeira. da correnteza; qualquer esforço para sair
CAÁ-TYA erva, casta de Euphorbia herbacea não só se torna improfícuo, mas tem o efei-
que, quebrada, dá um sumo leitoso. to de melhor vedar a saída. Do cacuri o peixe
CAÁ-TYUA matagal. pode ser retirado quando ao dono convém,
CAÁ-UARA que é, pertence ao mato, florestal. escolhendo o que prefere e não retirando
CAÁ- UERA matuto. senão a quantidade de que precisa.
CAAUASU, CAAUSU mata grossa, fechada; CACURY' constelação indígena que corres-
uma espécie de pacova-sororoca; casta de ponde mais ou menos ao Cruzeiro do Sul.
Urania. As quatro estrelas do Cruzeiro formam
CAÁ-mcuÉ casta de Mimosa. o quarto do cacuri, e as estrelas do centro
CAÁ-USARA comedor de folhas, herbívoro. são os peixes, que já nele caíram. A Mancha
CACAO a fruta do cacaueiro, de cujas pevi- Magalhães, ou como outros a chamam, o
des se extrai o chocolate, e da polpa que as Saco de Carvão, é um peixe-boi e as duas
CAMBARÁ, CAMARÁ
estrelas do Centauro, A e B, são os pesca- CAIRIRI arbusto da vargem, alta, de cujas fo-
dores que vêm para arpoá-lo. Antigamente, lhas extraem uma tinta arroxeada, que se
contam, o mais moço (B), que hoje está na torna preta e suficientemente resistente à
proa da canoa pronto para arpoar, estava ao lavagem, se é misturada com tujuco. Serve
jacumã, isto é, ao leme. O velho, porque o para tingir a roupa para luto.
arpão já lhe pesava, cedeu-lhe o lugar. CAISARA' apertador, cercador; era o nome
CAii sarado, cicatrizado; espécie de chagas e do cercado de pau-a-pique, que guarnecia a
feridas. margem interna da vala, com o qual algumas
CAÉ-CAÉ casta de periquito (onomatopeia). tribos, espécie da nação Baniua ou Baniba,
CAEN cicatriz. circundavam a própria taba, e de que tenho
CAENSARA cicatrizador. visto restos no rio Uaupés, onde os Tarianas,
CAETÉ então. tribo Baniua, o chamam biaridó.
CAi apertado, fechado, cercado. CAISARA2 o forte curral, onde as Companhias
CAÍ queimado, abrasado, incendiado. de Resgate conservavam provisoriamente
CAIÁ casta de Spondias, variedade de tape- os índios "resgatados" para serem distribuí-
ribá. dos ou vendidos. De onde, pois, o nome de
CAIAMÉ, CAIAMBÉ casta de palmeira anã da caisara que davam aos índios fugidios.
vargem. CAÍSÁRA queimador, abrasador.
CAIARARÁ ingênuo, sem todavia ser tolo. CAISAUA aperto, fecho, constrangimento.
CAIARARA casta de macaco, Cebus gracilis. CAÍSÁUA queimadura, abrasamento, incêndio.
Vive em bandos numerosos e se encontra CAÍTITÚ, CAITITU a variedade menor de
em todo o vale. É o mais comum em domes- porco-do-mato, Dicotyles. Vive em varas
ticidade e, apesar da sua sagacidade, muito numerosas na mata da terra firme. A sua
estimado. Há talvez mais de uma varieda- carne é muito apreciada.
de; nos numerosos exemplares vistos, a cor CAIÚ caju, a fruta do Anacardium occiden-
varia, indo do amarelo-louro sujo ao bru- tale.
no-fulvo. CAIUÍ cajuzinho; cajuí; o caju do mato, não
CAIARARA IANDU casta de aranha carangue- cultivado, que dá uma fruta muito pequena
jeira, Mygale. e quase insignificante, quando, pelo contrá-
CAIAREMA polvilho de tapioca. rio, o cajueiro do mato é uma das mais altas
CAIAUÉ casta de palmeira, Elaeis melanococ- e bonitas árvores das florestas amazônicas.
cus. De uma variedade de caiaué se extrai CAÍUÁRA queimante, incendiante, abrasante.
um azeite muito parecido com o azeite de CAIUIURÉ pequeno macaco todo branco,
dendê, e que serve também para usos culi- muito raro no baixo vale.
nários. CAIUTI cajutino, ponta do caju, nariz de caju;
CAIETÉ' casta de palmeira de pequeno tama- a castanha do caju.
nho que vive nas catingas. CAIUTYUA cajutuba, terra de cajus, cajual.
CAIETÉ casta de macaco, Cebus.
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CAIUYUA cajueiro, a árvore do caju.
CAIMBÉ, CAIMÉ arbusto que cresce nos iga- CAMA peitos, mama, seio de mulher.
pós. A fruta é comida de tartaruga. CAMACUÃ morro, coluna mais ou menos ín-
CAINANA casta de cobra da espécie Cons- greme. Mama ereta?
trictor; chamam cainana à mulher adoida- CAMAPUÃN morro, colina de forma arredon-
da atrás de homens. dada.
CAIPIRA enleado, enredado, matuto. CAMAPU casta de Solanácea, Psidalia edulis.
CAÍPORA infeliz, cheio de apertos, de cons- A fruta é uma baga avermelhada e comestí-
trangimentos. É erroneamente confundido vel quando madura.
com caapora. O caiporismo é contagioso. O CAMAXIRI casta de ave.
caipora não o é somente para si; a sua desdi- CAMBARÁ, CAMARÁ cambará, varias espé-
ta se comunica às pessoas que o aproximam cies de Lantanas. A infusão das folhas e flo-
e àquelas pelas quais se interessa. res, da variedade de flores amarelo-verme-
CAMURI' casta de cipó, que dá uma madeira na-de-açúcar, de onde o nome. As enxurra-
muito leve, de que se fazem boias das a destacam da margem e então desce em
CAMURI a bola feita com o cipó deste nome
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toiças, não raramente, de algumas centenas
e mesmo com outra qualquer madeira leve, de metros de extensão, seguindo pelo meio
que sirva para o caso, e que é especialmente do rio. São verdadeiras ilhas flutuantes, que
empregada para sustentar o espinel e mes- muitas vezes se encontram pejadas de co-
mo um anzol isolado, indicando onde está bras e outros bichos daninhos. Ainda assim
fundeado. são uma providência para as pequenas em-
CAMURi, CAMORi casta de peixe, do salgado. barcações, que em tempo de enchente des-
CAMUTI, CAMUSI pote, vasilha para água, cem o grande rio. Metidas nelas, desafiam a
de barro cozido, de boca larga e bojo gran- raiva das trovoadas e, se é de noite, permi-
de, munida de asas, facilmente removível e tem aos seus tripulantes dormir descansa-
transportável de um lugar para outro. Nas dos, certos de seguir rio abaixo seguindo o
casas indígenas o pote para água é sempre fio da correnteza.
obra da dona da casa, a cujo cargo está o CANASARi árvore que dá uma casta de goma
fornecimento de todo o vasilhame necessá- de inferior qualidade.
rio para o diário. CANCAN, ACAUAN, CAUCAU acauã, Herpeto-
CAMUTi-IRERU porta-potes, cantareira, ar- theres cachinnans.
mação onde se guardam os potes. CANCIRA amassado.
CAMUTI-MUNHANGARA fazedor de potes, CANCIRASARA amassador.
oleiro. CANCIRASAUA amassadura.
CAMUTI-MUNHANGAUA ato, arte de fazer CANCIRATYUA amassadouro.
potes. CANCIRAUARA amassante.
CAMUTI-MUNHÃ-RENDAUA olaria, lugar on- CANCIRAYUA o instrumento que serve para
de se fazem potes. amassar, árvore de amassar.
CAMUTI-NAMBY orelha do pote, asa. CANDIRU candiru, Calopsis candiru. Peque-
CAMUTI-PUPECA tampa do pote. no peixe muito voraz, bruno-vermelho, es-
CAMUTI-RENDAUA lugar do pote. triado de vermelho, que acode ao cheiro
CAMUTI-UARA Que é do pote. Y camutiuara: do sangue. Vão em cardumes, e desgraça-
água do pote. Tauá camuti-uara: terra pa- do o ferido, homem ou animal, que cair no
ra pote. meio deles. Em poucos momentos é devo-
CAMYTÁ, CAAMYTÁ restinga, ponte de mata; rado vivo, só ficando o esqueleto perfeita-
aquela parte do banhado que fica seca e dá mente limpo. Felizmente só atacam os feri-
passagem ou simplesmente serve de refúgio dos; se assim não fosse, em muitos lugares
aos animais em tempo de enchente. seria impossível banhar-se.
CANA cana-de-açúcar. CANDEIA vela. Palavra portuguesa invertida
CANANÃ casta de tartaruga terrestre. de sentido.
CANANGA, CAANGA casta de Myristica chei- CANDEIA-RIRU lamparina, candeeiro.
rosa. CANDEIA-YUA castiçal, árvore de candeia.
CANAPÁ manga (a fruta da). CANEÚ atribulado, cansado.
CANAPÁ-YUA mangueira, Mangifera indica e CANEUÁ o atribulado.
variedades. É árvore importada, mas larga- CANEÚPÓRA cheio de atribulações.
mente aclimada desde os primeiros tempos CANEÚSÁRA atribulador.
da ocupação portuguesa. É comum em to- CANEÚSÁUA atribulação.
do o vale, mas não a tenho encontrado nem CANEÚUÁRA atribulante.
nas malocas do Uaupés nem nas de qual- CANHEMBARA perdedor, perdido.
quer outro lugar. CANHEMBORA fujão, o que se perde.
CANA-RANA falsa-cana. Erva que cresce na CANHEMO perdido, transviado, desapare-
margem dos rios e lagos, estendendo-se so- cido, espantado, perturbado, desfalecido.
bre a sua superfície e tem o aspecto de ca - Cunhã o canhemo caá opé: a mulher se per-
CANHEMO-PORA
de no mato. Inti ocica cuao oca kiti, ocanhe- CAN-YCA canjica, papas de milho verde.
mo tenondé: não pode chegar à casa, desfa- Pronuncia-se fazendo sentir o n nasal bem
lece antes. Coaracy ocanhemo caaruca ara distinto e sem fazer sílaba com o y.
ramé: o sol desaparece à tarde. CAN-YCAUARA que serve para fazer canjica.
CANHEMO-PORA espantadíssimo, cheio de Auafi can-ycauara: milho para canjica.
espantos. CAN-YCAUSARA comedor de canjica.
CANHEMOSARA espantador, que faz perder, CAORÉ, CAURÉ Hypotriorchis algigularis (?)
desfalecer, extraviar etc. [Palco rufigularis], o mais pequeno e o mais
CANHEMOSAUA perturbação, espanto, perda, atrevido dos gaviões. Contam que não vaci-
descaminho etc. la em atacar os patos. Alcança-os facilmen-
CANHEMOUARA espantante, perdente, que se te e se lhes escancha nas costas, atacando-os
perde, desfalecente, perturbante etc. a bicadas até perfurar-lhes o abdome. O pa-
CANHEMOUERA espantável, perdível, desfa- to somente tem salvação se estiver perto da
lecível, desencaminhável etc. água e tem tempo para mergulhar, porque
CANHEMOYMA imperdido, imperturbado, então o incômodo passageiro é obrigado a
não desfalecido etc. deixar a presa. Comuníssimo: é raro não vê-
CANHEMOYUA espantalho, origem do espan- -lo à tarde nas praças das nossas vilas e cida-
to, da perturbação, da perda. des do interior; hoje no centro de Manaus já
CANICÁNI espécie de grega desenhada como não aparece, mas vi-o não há muito em S.
enfeite na borda das vasilhas de barro. Sebastião. Gosta, na penumbra, ao crepús-
CANICARU traidor, passado ao inimigo. culo de perseguir os morcegos, de que pare-
Nome que no rio Negro davam aos índios ce um fino apreciador, e então é o momento
que se tinham submetido e aceito o jugo de admirar-lhe o voo.
português. É talvez palavra manau ou baré; CAPARACI casta de peixe fluvial de pele, Pla-
todavia a tenho notado por ser palavra por tistoma coruscans. Atinge a metro e mais de
assim dizer histórica. tamanho.
CANINANA' casta de cobra não venenosa. CAPARARI casta de peixe de pele, próximo
Espécie de Constrictor, superiormente ful- afim do anterior, que também atinge boas
vo-amarelo, com um fino reticulado bruno- proporções.
-escuro, quase preto e o ventre branco, pas- CAPEMA erva de folhas largas e chatas, nome
sando do amarelo ao branco por nuanças. É dado a diversas espécies, que apresentam os
muito parecida com a que chamam papa- mesmos atributos.
-ovos e, se não me tivesse sido afirmado que CAPENU, YAPENU onda, vaga, maresia.
são duas espécies diversas, eu as teria dado CAPENUSARA quem faz, produz ondas.
como uma só. CAPENUSAUA undosidade.
CANINANA' casta de planta, a que se atribui a CAPENU-UARA undoso, ondejante.
propriedade de afugentar as cobras; Canio- CAPENU-YMA calmo, sem ondas.
cocca anguifuga. CAPÉUA capeba, nome comum a várias ervas
CANINAO cobra venenosa. Não a conheço. de folha larga e comprida.
Martius afirma que a chamam também CAPi erva. Nome genérico: capim.
caninana. A que conheço com este nome, já CAPI-MEMBECA erva mole, casta de pasta-
foi dito, é uma Constrictor, e por isso mes- gem, variedade de Graminácea.
mo não venenosa. CAPÍ-PÉUA capim-chato, casta de Graminácea.
CANINDÉ V Arari. CAPITARI o macho da tartaruga. V Jurará.
CAN-UERA osso, ossada. Pronuncie-se bem É pouco apreciado como carne e, por via
separada e distinta a primeira parte da se- disso mesmo, menos perseguido do que a
gunda, de modo que o n embora bem sen- fêmea.
sível não faça sílaba com ue, cã-uera. Mira CAPi-TYUA capintuba, capinzal.
can-uera: ossada de gente. Mira can-uera CAPIVARA morador do capim; capivara, Hy-
rendaua: cemitério. drochoerus. Mamífero da ordem dos Roe-
CARAMURU
grande: significando portanto: o muito po- CARAOATÁ albacora, casta de peixe, do sal-
deroso, o que muito manda. De onde pois gado.
o fato de ser o mesmo nome, como afirma CARAPANÃ nome genérico dado a várias
Cândido de Figueiredo, dado em alguns lu- espécies de mosquitos do gênero Cu/ex,
gares do Sul ao brancos. V. Caryua. Stegomya e afins. A praga maior de muitos
CARANÁ casta de palmeira que cresce em lugares de nosso interior.
touceiras nas terras firmes, e cujas folhas CARAPANÃ CETIMÃ PUCU pernilongo, cara-
servem para cobertura de casas. Há uma panã de pernas compridas.
variedade que cresce nas vargens e lugares CARAPANÃ-i carapanãzinho.
inundáveis, e cuja resistência ao tempo é CARAPANÃ-PINIMA carapanã pintado.
muito menor. CARAPANÃ-PORA cheio de carapanãs.
CARANAI casta de palmeira, variedade me- CARAPANÃ UASU carapanã grande.
nor de caraná e que serve para os mesmos CARAPANÃ-UUA carapanaúba, especialmen-
usos; cresce na terra firme. te as tábuas já lavradas e em obra.
CARANCARAEN entalhado. CARAPANÃ-TYUA carapanatuba, terra de ca-
CARANCARAÊNGÁ entalhe. rapanãs.
CARANCARAENGARA entalhador. CARAPANÃ-YUA carapanaúba, árvore dos ca-
CARANCARAENSAUA entalhamento. rapanãs. Casta de árvore de alto porte das
CARANHA' castadetambaqui,decormaisclara. vargens e igapós, de cuja casca se obtém
CARANHA 2 casta de Myrtacea da terra firme, uma infusão amarga usada para cura das
fartamente copada. Uma das bonitas árvo- sezões. A madeira é usada para obras de in-
res gigantescas da floresta, que rivaliza com terior.
a samaumeira. A fruta, que tem o mesmo CARAPU casta de peixe.
nome, é uma drupa seca, contendo um ca- CARARÁ V. Aninga.
roço duro, mais ou menos parecido com o CARAUARY carauari. Árvore corpulenta da
da oliveira, que, quando fica despido da pele terra firme, que tem raízes salientes como a
que o cobre, se apresenta finamente reticu- samaumeira. A madeira é pouco usada, mas
lado. Serve aos indígenas para colares e pa- muito compacta e relativamente leve, talvez
ra as tangas das mulheres. possa ter boa aplicação para caixa de instru-
CARANHA3 , XIPE a resina fornecida pela ár- mentos de corda, especialmente de pianos.
vore do mesmo nome. Serve para grude, CARAUASU cará grande, casta de Dioscorea
mas tem o defeito de se tornar quebradiça, comestível, de sabor adocicado, de polpa
e, por isso mesmo, só podendo ser utiliza- branca, que chega a atingir o tamanho da
da em condições especiais e quando não se coxa de uma criança de seis a sete anos.
carece de grande duração. O seu préstimo CARAUATÁ' gravatá. Nome comum a muitas
principal é como remédio para cura de feri- variedades de Bromélias, espécies que vi-
das de mau caráter. Para isso o seu efeito de- vem parasitas sobre as árvores.
tergente e exsicante é admirável e por mim CARAUATÁ' casta de pequeno peixe, que imi-
mais de uma vez verificado. No rio Negro ta na forma uma folha de caruatá.
se encontra em cabaças destinadas à venda CARAUATAi' (pequeno caravatá) pequeno
e em alguns lugares próximos a Venezuela peixe, sem outro préstimo senão o de ser-
a tenho ouvido chamar xipe. Os pajés lhe vir de isca.
conhecem o préstimo e a usam, misturada CARAUATAi' casta de pequena bromélia parasi-
com carajuru da lua, para sarar feridas; mas, ta, que chega a cobrir literalmente as árvores,
de mim para mim, penso que a adição do sobre as quais se desenvolve uma primeira se-
carajuru é pura pajelança. mente levada pelo vento ou pelos passarinhos,
CARAOÁ caroba. conseguindo matá-las em pouco tempo, qual-
CARAOASU carobaguaçu, casta de jacarandá quer que seja o seu tamanho.
do Pará. Madeira muito estimada para tra- CARAUATANA zarabatana. Arma indígena
balhos de marcenaria. especialmente consagrada à caça. É um
CARIAMÃ
naquele lugar uma palavra ayua, que serve taboca, um dentado e outro não, que o to-
de sufixo com a significação de mau. Com cador toca, fazendo passar mais ou menos
estes materiais, a palavra possível com a sig- rapidamente e com mais ou menos força o
nificação de dilaniador ruim seria carain- pedaço liso sobre o dentado. Apesar da ha-
ayua ou caral-ayua, se nos afigurando inex- bilidade do tocador, o efeito, está claro, não
plicável a queda de tantos a, sem deles fi- pode ser grande coisa; todavia, no meio dos
car vestígio, como devia ter intervindo para outros instrumentos primitivos, tocado por
obter-se caryua. Aqui todavia se nos afigura quem sabe marcar o tempo, nem sempre
ouvir interrogar: Não há carayba, carayua? destoa.
Exatamente, mas ainda assim a raiz da pala - CATACÁ rangido.
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CAUOCAYMA intonso, não depenado, não e, quando cozido, uma parte é desmancha-
raspado. da pura e simplesmente na água, outra é
CAUORÉ caboré, casta de pequena coruja, desmanchada nela depois de consciencio-
Strix. No Solimões dão o nome de caboré samente mascada. É um serviço em que se
ao menino de olhos grandes. empregam todos os que estão presentes na
CAURÉ CAÁ erva de cauré. Casta de erva de casa, sem distinção. A bebida fica pronta no
cheiro, muito usada em certos lugares do terceiro dia, é servida depois de cuidado-
Solimões pelas mulheres que a põem nos ca- samente escumada. A primeira vez que me
belos. foi oferecida a caysuma, o dono da casa ma
CAÚ RETÉ muito bêbedo. ofereceu dizendo: - Podes beber, foram as
CAÚ-SAUA bebedeira. meninas que mascaram. É preciso confes-
CAÚTÉUA, CAU-TYUA pau-d'água. sar que, apesar de as moças serem quatro
CAÚ-UERA borracho. lindas raparigas e eu não ter então ainda
CAUXIÚ mato que chora. Caucho, Syphonia trinta anos, não bebi a primeira cuia sem
elastica e afins. Cá oxiú: árvore chora. certa repugnância.
CAUY, CAUYN. água do bêbedo. Cachaça e em CAYURERÉ casta de macaco. Não conheço.
geral toda a bebida fermentada espirituosa. CÉ meu, minha, mim, me. Cé sangaua: o meu
CAUY-RETÉ álcool. retrato. Cé remiricô: minha mulher. Cé ara-
CAXINGU fruta da caxinguba. ma: para mim. Cé recé: a mim. Omeen cé su-
CAXINGUYUA caxinguba, figueira-brava, pé: me deu, ou deu a mim.
Pharmacosycea. Árvore parasitária, que em CÊ, CEÊ, CEEN doce, saboroso, gostoso, e, por
pouco mata a árvore sobre que se enraizou. antonomásia, açúcar.
Com mil pequenas raízes, se estende sobre a CEÃ, CEÃN, REÃN suor.
planta que a recebeu, lhe envolve o tronco e CEÃNGARA suador.
os ramos, se insinua na casca, apropriando- CEÃNGAUA suada.
-se da seiva da vítima, que em pouco se atro- CEARE, XIÁRI deixado. V. Xiári e comp.
fia e morre. Ao tempo, a caxinguba chega CECÉ, RECÉ em, nele, por, a, para, de, com re-
com as raízes ao chão e fica substituindo a ár- ferência, a respeito de. Cé cecé: em mim, pa-
vore que desapareceu. A caxinguba, por via ra mim. Opurandu né recé: perguntou por
disso mesmo, não se desenvolve senão sobre ti. Omandu omunha puraki amuitá recé:
plantas que se nutrem pela casca, e prefere as mandou fazer o trabalho por outros. Osó i
madeiras brancas e de pouca duração. recé: foi a ele, para ele. Opuranguetá mira te-
CAXIRY' bebida fermentada de qualquer es- cô recé: falou com referência aos costumes
pécie de fécula, mas, de preferência, de fa- da gente.
rinha de mandioca, cozida antes em beiju e CECÔ, CECU costume. V. Tecô e comp.
desmanchada em água fria. CECUÉ, CICUÉ vivido. V. Cicué e comp.
CAXIRY' festa indígena do nome da bebida, CECUÉIUÍRE revivido, ressurgido.
que nela largamente se bebe. É festa parti- CECUÉIUÍRE-SARA ressurgidor, quem faz res-
cular para a qual não há época prefixada, surgir, reviver.
nem há convites, embora seja sempre bem- CECUÉIUÍRE-SAUA ressurreição.
vindo qualquer estranho. CECUÉIUÍRE-UARA ressurgente, quem revive.
CAY queimoso, ardoroso, picante (especial- CECUIARA, RECUIARA troca, valor da troca,
mente das bebidas fermentadas e das comi- pagamento. Lit.: dono do costume, quase o
das apimentadas). que manda dar o costume.
CAYSUMA bebida fermentada de frutas, ge- CECUIARA -CUERA pagamento que foi. Dívida.
ralmente pupunhas, ou milho cozido e CECUIARAUARA que serve para troca.
mascado para facilitar a fermentação. O CECUIARA-MEEN paga, dado em troca.
milho, grosseiramente pilado, é empas- CECUIARA-MEENGARA pagador. Cecuiara-
tado com água morna e posto a cozinhar meengara catu: bom pagador.
em pupecas de folha de arumã ou pacova; CEEN, CEÊ, CE doce.
frente. Cé cenondé kiti: adiante de mim. Cé CERA! partícula expletiva, exclamativa, dubi-
cenondé: antes de mim. Ianá cenondé: antes tativa, sem significação determinada, senão
de nós. Osé iané cenondé: vai na nossa fren- de exprimir a incredulidade. Passou nos
te. V Tenondé e comp. modos de dizer do Pará e Amazonas, onde
CENUE, CENÓI apelidado, chamado. V Cenói quando se ouve um maranhão [mentira en-
e comp. genhosa] difícil de engolir se diz: Ora cera!
CEPI preço, valor. Mó cepi?: que preço? quan- CERA CATU bom nome.
to custa? Meen cepi: dar o preço: CERA EARUPÉ-UARA nome que está em ci-
CEPIACA enxergado. V. Xipiaca. ma. Sobrenome, apelido.
CEPIASU caro, preço grande, elevado. CERA-INEMA nome fedorento. Má fama.
CEPIASUARA careiro. CERA PURANGA nome bonito, no sentido
CEPIASUSAUA carestia. próprio.
CEPIASU-YMA barato, não caro. CERA PUXI nome feio, no sentido próprio.
CEPIASU-YMASARA barateiro. CERA SAKENA nome cheiroso. Boa fama.
CEPIASU-YMASAUA barateza. CERANÉ quase.
CEPI-CUERA preço que foi. Dívida. CERAYMA sem nome. Cuá curumz cerayma
CEPI-CUERA-PORA endividado. rain: este menino ainda está sem nome.
CEPI-MEENGARA pagador. CERÉU lambido. Iauara oceréu i peréua: o ca-
CEPI-MEENGAUA pagamento. chorro lambe a sua ferida. Réu xinga, receréu
CEPI-MUNHANGARA avaliador, fazedor de cury ne rombé: come um pouco, te lamberás
preço. os beiços.
CEPI-MUNHANGAUA avaliação. CERÉUA lambedouro, e que é lambido.
CEPI-NHEENGARISARA cantador do preço, CEREUSARA lambedor, que faz lamber.
pregoeiro. CEREUSAUA lambedura, ato de lamber.
CEPI-NHEENGARISAUA apregoamento do CEREUARA lambente.
preço. CERIMBAUA xerimbabo. V Cemimbau e
CEPIRECÉ o que é do preço, juros. comp.
CEPIREUARA visitante, que vem a mim. CERINEPIÃ frigideira.
CEPI-UARA que tem preço, vale. CERIPAUA casta de pescaria. Barram o rio ou
CEPIY salpicado, borrifado. o igarapé com canoas e obrigam o peixe que
CEPI-YMA sem preço. sobe em piracema a pular dentro delas, per-
CEPIY-SARA borrifador. seguindo-o em canoas mais ligeiras, baten-
CEPIY-SAUA borrifamento. do as águas com os remos e folhas de pal-
CEPIYUÁ borrifo, salpico. meira, subindo de jusante para montante.
CEPIYUARA borrifante, salpicante. Uma forma de batimento.
CEPIY -TYUA lugar de borrifo. Cepituba, se- CERUCA nomeado, chamado pelo nome.
petiba. Aquele ponto da cachoeira onde CERUCASARA nomeador.
o embate das águas, entre os maciços que CERUCASAUA nomeação.
a formam, produz como que uma nebli- CERUCAUA o nomeado.
na permanente, que molha a quem dela se CERURA calças (corrupção de ceroulas).
aproxima, e que temos também ouvido cha- CERURA-AUYRA cós das calças.
mar cepiysaua. CERURA-YMA sem calças.
CEPOCY, REPOCY, TEPOCY sono. V Pocy. CERYCA escorregado. V Ciryca.
CEPOTI, REPOTI, TIPOTI merda. V Tiputi. CESÁ olho, vista.
CERA nome. Mata né cera?: Cé cera João: co- CESÁ APARA olhos tortos, vesgos.
mo é teu nome? O meu nome é João. Parece CESACANGA transparente.
que da corrupção de cé cera vem o "meu CESÁ IATUCA vista curta, míope.
cheiro" do Norte do país e o xará, do Sul, CESÁ MUTUTINGA branco dos olhos.
para indicar a pessoa que traz nosso mesmo CESÁ PECANGA sobrancelhas.
nome, homônimo. CESÁ PEPU pálpebras, cílios.
CICAUARA
permitiu, inscrições, de que darei noticia COEMA-PORA que enche a manhã, madru-
adiante. V Itacoatiara. gador.
COATIARAYMA não escrito. COEMA PUCU manhã comprida, o tempo que
COATIARASARA escultor, escritor, gravador. passa entre o primeiro pasto, tomado logo
COATI MUNDÉ, COATI MUNNÉ quati manho- depois do banho, e o meio-dia. São as horas
so, Nasua solitaria. Ursino um pouco maior do trabalho para as mulheres na roça, e pa-
do que o quati, que vive geralmente em ca- ra os homens na caça ou pesca.
sais, só se encontrando em pequenos bandos COEMA RETÉ manhã muita, manhã feita.
no tempo da criação dos filhos. Estes vão em COEMA UASU grande manhã, já muito adian-
companhia dos velhos até que novos amores te na manhã.
dispersem a pequena família, que pode atin- COEMA YMA sem manhã.
gir a meia dúzia e mais de indivíduos. COERÉ aborrecido, apoquentado.
cocy antes, no tempo. Parece contração de COERÉ-PORA cheio de aborrecimento.
coacy (a mãe disto). COERÉ-PAUA aborrecimento, apoquentamen-
COCYSAUA anterioridade. to.
COCYUARA anterior. Tecô cocyuara: costume COERÉ-SARA aborrecedor, apoquentador.
anterior. COERÉ-UERA aborrecente, apoquentante.
cocY - YMA sem antes, em antigo, nos tempos COERÉ-YMA não aborrecido, não apoquen-
idos. tado.
COCY-YMASAUA antiguidade. COIAUÉ deste modo, assim. V Cuaiaué.
COCY-YMAUARA antigo, que é de outro coiN' latejado, pulsado.
tempo. COIN', RECOI vá, ande, imperativo irregular
COCY-YMAUERA antiqualhas. de sô, andado.
cocór caído, ruído, desmoronado. V Cucui COINGA pulso.
e comp. COINGARA latejador.
COCUERA, CÔ-CUERA roça ou campo que COINGAUA latejamento, pulsação.
foi. Distingue-se da capoera porque nesta já COIPÉ pulga.
o mato crescido invadiu o terreno abando- COIRANA enfadado, já enfadado. Xacoirana
nado; na cocuera a invasão é ainda somen- xaxicare né iara: já estou enfadado de pro-
te de ervas. curar o teu dono.
COÉIU, coÍEU o pedaço de casca de tururi, COÍRE, COÍRI enfadado, desgostado.
de tecido especial ou de fazenda qualquer, COÍRESÁRA enfadador, desgostador.
quando há já algum contato com a civiliza- coÍRESÁUA enfado, desgosto.
ção, com que em algumas tribos os homens coÍREUÁRA enfadante, desgostante.
envolvem as partes pudendas. O coelho, co- coÍREUÉRA enfadável, desgostável.
mo o tenho ouvido chamar pelos civiliza- COITÉ agora mesmo; contração de coire
dos, sem saber se a expressão é a tentativa de (agora) e eté (muito).
aportuguesar a palavra indígena, ou se, da- COKERA baliza.
do ser este o nome que lhe dão os civiliza- COKERAPAUA balizamento.
dos, coéiu é apenas a corrupção da palavra COKERAPORA balizado, cheio de balizas.
portuguesa, é sempre e antes de tudo um or- COKERAUARA balizante.
namento. Não raramente é tecido de tucum, COKERATYUA balizadouro, lugar do baliza-
com desenhos à grega e ornados de plumas mento.
de efeito vistoso, e é o único tecido da espé- COMBUCA V Cuiembuca.
cie que a tribo fabrica. COMITU casta de musgo que nasce nas
COEMA manhã, amanhecido. cachoeiras e nas margens do rio.
COEMANA já amanhece, já é amanhecido. CONDURU árvore de alto porte, das terras fir-
COEMA ETÉ cedíssimo. mes, da família das Urticáceas.
COEMA PIRANGA aurora, madrugada ver- CONEREUÉ árvore dos campos do rio Branco,
melha. de madeira amarela e fraca (Martius).
CUANUNGARA
CUAO sabido, podido, conhecido. Inti acuao deve ser conhecido senão pelos iniciados. A
catu: não sabe bem. Como auxiliar prescin- mulher que o vier a conhecer, morre.
de do prefixo. Inti xamunhã cuao: não pos- CUECATU agradecido, agradecimento, lem-
so fazer. brança.
CUAOPAUA sabedoria, discrição. CUECATU ETÉ grande agradecimento, boa
CUAOPORA sabedor, discreto. lembrança.
CUAOSAUA conhecimento, ciência, poder. CUECATU RETÉ muito agradecido, muita
CUAOUARA potente, que sabe e pode. lembrança.
CUAOYMA impotente, indiscreto, ignorante. CUECATU-PORA cheio de agradecimentos,
CUARA buraco, furo, abertura. de lembranças, mesureiro.
CUARAPORA esburacado. CUECATU-SARA gratificador.
CUARA-UARA que é do buraco, que pertence CUECATU-SAUA gratificação.
ao buraco, que mora no buraco. CUECATU-YMA não agradecido.
cuÁ RECÉ a este, para este. CUECÉ ontem.
CUÁ RENDAPE deste lado. CUECENTE desde pouco, somente ontem.
cuÁ RIRÉ depois disso. CUECÉUÁRA de ontem, que data de ontem.
CUARY', COARY pequeno buraco. CUECÉYMA, COCIYMA sem ontem, antiga-
CUARY' nome de uma povoação do Solimões. mente, no começo.
CUARY-UARA de Coary, morador de Coary. CUERA que foi e já não existe. Taua cuera:
CUATUCA calado, segredo. povoação destruída, que foi e já não existe.
CUATUCAPORA cheio de segredos, calado. Mira cuera: gente que foi. Posposto ao ver-
CUATUCAPAUA segredo, mistério. bo dá-lhe a significação de aoristo. Xapena
CUATUCAUERA misterioso, calado. cuera: quebrara. Torna-se conjuntivo com a
CUATUCAYMA não guarda segredo, tagarela. adição de maá ou amu. Xapena cuera amu:
CUCECUI, CUÇUCUI eis aqui. teria quebrado.
cucuAo reconhecido. CUERUPÉ, CUERA-OPÉ intraduzível como
CUCUAO-SARA reconhecedor. palavra isolada. Iauaremo iepéasú cuerupé:
cucuAO-SAUA reconhecimento. onde nos encontramos juntos. Opitá cueru-
cucuAO-UARA reconhecente. pé: ficou lá.
CUCUAO-UERA reconhecível. CUERÉUA enojado, aborrecido.
CUCUAO-YMA irreconhecido. cui preá, Cavia aperea. Casta de porquinho-
cucm ruído, desprendido, desmoronado. -da-índia.
cucm-PAUA desmoronamento. CUIA a casca da fruta da cuieira, a cuité re-
cucm-SARA desmoronador. cortada e limpa, espalmada, pelo menos na
cucm-uERA desmoronante. parte interior, de cumati, é própria para ser-
cucuI-YMA não desmoronado. vir de tigela. O cumati, que lhe dá uma es-
CUCURA (no Rio Negro), PURUMÃ (no Rio plêndida cor preta, que rivaliza com a laca
Solimões) casta de fruta de uma árvore, japonesa, fechando as porosidades da ma-
que se parece alguma coisa com uma em- deira, impede que se embeba dos líquidos
baúba. Dá em cachos uma drupa suculenta que sucessivamente possa vir a conter.
de sabor adocicado, e um único caroço, co- CUIA-MBUCA cumbuca, vaso destinado a
berta por uma pele geralmente dura e mais carregar água, feito de uma grossa fruta
ou menos coberta de pelos. Há várias qua- de uma espécie de coloquintes ou mesmo
lidades: umas cultivadas, outras do mato. A de cuité, com um pequeno orifício numa
cucura ou purumã silvestre figura na lenda das extremidades e um cordel passado em
de Jurupari como aquela que, com seu su- dois furozinhos ao pé deste para o carregar.
mo, impregnou a Coucy, que, descuidada, Parece que já se utilizou tal disposição para
a comeu sem reparar que, correndo pelos apanhar macacos vivos, pondo na cumbuca
seios abaixo, o sumo que lhe escorria dos as frutas de que gostam, espalmando ou não
lábios a molhava toda. É segredo que não o interior com uma matéria visguenta. O
CUMÃ
do como verniz, de mistura com matérias CUMAI-YUA sorveira pequena, Coumã utilis.
corantes para especialmente pintarem as É a espécie que fornece um leite de cuma-
cuias. V. Cuia-pinima. Secando, o cumã não na dos mais estimados, especialmente para
altera as cores com ele preparadas, torna-se trabalhos finos. É com este que, no alto rio
insolúvel e de uma resistência a toda a pro- Negro, se grudam as plumas que enfeitam
va, embora, como é o caso das cuias, dos re- as varandas das maqueiras finas de curauá
mos, das canoas, seja sujeito a contínuos es- ou tucum. A sua extração é feita por meio
fregamentos. Algumas espécies de cumã, de incisões no tronco, e é conservado líqui-
derretidas, fornecem uma espécie de breu do com a adição de um pouco de amoníaco,
também de boa duração, quando suficiente- e, na falta deste, com urina choca.
mente misturado com matérias gordurosas. CUMARU' fava-de-santo-inácio. É artigo de
Para a pintura, o cumã é usado a frio. Para exportação. No Amazonas é usada como
conservá-lo líquido e impedir que se coagu- preservativo contra uma infinidade de mo-
le rapidamente ao contato do ar, como tem léstias, como aromático para perfumar o ta-
a tendência, lhe adicionam um pouco de baco em pó e a roupa, atribuindo-se-lhe a
urina velha. Obtém-se o mesmo efeito com virtude de afugentar as termas [térmitas].
amoníaco. CUMARU' cumaru, Dipterix oddorata. Árvore
CUMACÁ casta de planta que fornece uma fé- que cresce na terra firme e fornece excelente
cula parecida com a da tapioca (Japurá). madeira para construções civis, além de dar
cuMACAi cumacá miúdo. uma qualidade de carvão superior, pelo que
CUMANDÁ, CUMANNÁ feijão. Nome que ho- é muito procurada pelos ferreiros. É a razão
je é reservado aos feijões comestíveis, mas pela qual, apesar do valor que tem a fruta e
que parece ter sido comum ao fruto de mui- de ser objeto de cotação no mercado, perto
tas Leguminosas, atendendo-se mais à for- das povoações onde existe ferreiro, não há
ma e aspecto exterior do que a outra coisa, planta de cumaru que vingue.
o que pelo menos ainda hoje se dá com os CUMARU-RANA falso cumaru, Dipterix oppo-
derivados. sitifolia.
CUMANDAI feijãozinho, feijão pequeno. CUMARU-YUA cumaruzeiro.
Nome dado a muitas variedades de Legu- CUMARY cumari, Capsicum frutescens, pi-
minosas, comestíveis ou não. menta-de-cheiro. Não é muito ardente e a
CUMANDÁ-Pucu feijão comprido, comestível. dizem indigesta.
CUMANDÁ-RANA falso cumandá, como em CUMATÁ casta de larga peneira para penei-
alguns lugares designam o feijão que não é rar a tapioca. É tecida de fasquias de jaci-
comestível. tara, mais raramente de arumã, e trançada,
CUMANDÁ-TUPAXAMA feijão-trepador. como os assentos de palhinha das cadei-
CUMANDÁ-YUA a planta que dá o feijão. ras austríacas, de modo a deixar aberturas
CUMANDAUASU, CUMANDASU feijão grande, iguais e de determinado tamanho.
fava. Nome dado a várias Leguminosas, so- CUMATY resina extraída de uma espécie de
mente atendendo-se à forma e tamanho do asclepiadácea, com que se envernizam em
fruto e independentemente da sua comesti- preto as cuias para torná-las impermeáveis
bilidade. De uma delas, que cresce nas ter- aos líquidos que são destinadas a conter.
ras altas à margem de rios e igarapés, de Para aplicá-la, depois de seca e bem limpa a
preferência nos lugares pedregosos, ser- cuia, se usa de um pincel feito de qualquer
vem-se para emplastro e loções para cura coisa. Logo que aplicado, o cumati é de cor
de impigens. A fava não é comestível, e tan- avermelhada e sem nenhum brilho. Para fi-
to no emplastro como na loção o que é uti- car preto-luzente, de um belo polimento,
lizado é a casca, no primeiro caso raspada e a cuia pintada de cumati deve ficar expos-
batida, no segundo em infusão. ta aos vapores de fermentação de uma for-
cuMÃi sorva pequena. Baga comestível, do te camada de folhas de mandioca, molhadas
tamanho de uma grossa ginja. com urina velha, repetindo a pintura e a ex-
posição quantas vezes forem necessárias pa- te nos poços que no verão se formam nos
ra obter uma superfície perfeitamente ho- igarapés. O peixe, especialmente os pacus,
mogênea e polida. as aboca sôfrego, mas, pouco depois de ter
CUMATY-YUA árvore do cumati, Asclepiadea ingerido a bola traiçoeira, vem à tona ator-
follicularia. Cresce nas capoeiras; por meio doado, ficando fácil presa do pescador, que,
de incisão dá um leite muito líquido, de cor depois de ter jogado n'água as bolinhas, fi-
castanho-escura, usado para pintar de pre- cou à espera do resultado. O peixe pode
to as cuias. A madeira, leve, é de pouca ser- ser comido impunemente; o cunambi não
ventia e duração. o torna nocivo para o homem. O seu efei-
CUMÃ-UASU sorva e sorveira grande, Apocy- to parece ser apenas estupefaciente, atordoa
nea fructescens; a planta e a fruta. Árvore de momentaneamente, tanto que, se este não
alto porte, que se abre em umbela elegante é agarrado logo, volta a si e vai-se embora.
e muito regular e cresce nos igapós e luga- CUNHÃ fêmea de qualquer animal, mulher.
res que alagam alguns dias do ano. A fruta, O aditamento de cunhã é essencial todas
muito apreciada, de gosto especial e muito as vezes que, falando-se de animais, se quer
delicado, é uma drupa arredondada, verde- designar a fêmea; somente dispensável na
-amarelada, que quando nova contém um hipótese de que o sexo tenha sido já decla-
leite branco facilmente coagulável, igual ao rado, conste do contexto, ou a designação
que se encontra em todas as outras partes seja feita por nome somente aplicável à fê-
da planta, e que desaparece com a matura- mea, naqueles raros casos em que esta tem
ção. A madeira não creio que tenha gran- nome próprio diverso do macho. Não se in-
de serventia. O leite da sorveira grande, co- dicando o sexo, entende-se sempre que se
mo em geral o das outras sorveiras, fornece fala do macho.
bom breu para calafetar canoas. Usado cru CUNHÃ-AMBYRA mulher morta.
é menos resistente do que o leite do cumati. CUNHÃ-CACOA mulher feita, madura, de
CUMBECA trepadeira cultivada no Pará como mais de quarenta anos.
ornamental em virtude de suas lindas flores. CUNHÃ-CAPIXARA-MEENGARA alcoviteira,
CUMBÉUA, CUMBÉPÉUA cumbeba, casta de mulher que dá namorado.
cacto. CUNHÃ-CUARA-YMA mulher sem buraco, mu-
CUMBIU, CUMIU cubio. Grosso fruto, do ta- lher virgem.
manho de uma maçã, de uma espécie de CUNHÃ-CUERA mulher que foi, mulher velha
Solanácea espinhosa, contendo sementes que já para nada serve.
envolvidas numa polpa levemente acidula- CUNHÃ-EMBYRA, CUNHÃ-MEMBYRA sobri-
da, comestível e usada como os tomates na nho, com referência ao homem.
comida. CUNHÃ-KYRA virgem (mulher que ainda
CUMBÓI-PÉUA sanguessuga. dorme?).
CUMICA diminutivo familiar de curumi, que é CUNHÃ-MBOCA' tartaruga nova.
usado nalguns lugares de Japurá e Solimões, CUNHÃ-MBOCA 2 moçoila.
mas o creio importado do Pará, onde já se CUNHÃ-MENAUARA parentes por afinidade,
usou muito. Corresponde a curumbá, do Sul. pelo lado do marido.
CUNAMI, CUNAPI, CUNAMBI cunambi, várias CUNHÃ-MENDASARA mulher casada.
espécies de Phyllanthus. Pequeno arbusto CUNHÃ-MENASARA-YMA, CUNHÃ-MENA-YMA
de folhas lanceoladas e irregularmente re- mulher solteira, não casada, sem marido.
talhadas, cultivado nas roças por causa das CUNHÃ-MIRA parentes por afinidade, com
suas qualidades benéficas, utilizadas para referência ao homem.
pescaria. Para isso envolvem as folhas ma- CUNHÃ-MUCU moça púbere.
chucadas em qualquer massa, mas de pre- CUNHÃMUCU-CAÁ planta aromática que as
ferência de tapioca, fazendo bolinhas que moças usam no cabelo. Dizem que chama
jogam n'água, nos lugares em que esta não os noivos e faz casar ligeiro.
corre, nos lagos, remansos e especialmen- CUNHÃ-MUCU-PISASU moça nova, virgem.
CUNHÃ-M UPUX IUERA
mesmo, são sempre trazidos com as pontas porque é encontrado muitas vezes em plena
resguardadas, numa pequena aljava, em floresta, longe de lagos e rios. É seu costume
geral muito artisticamente trabalhada, te- passar de um lago para outro ou de um la-
cida de fasquias de estipe de jacitara ou de go para um rio ou vice-versa, aproveitando-
outra palmeira, mais raramente de outras -se para isso de qualquer banhado ou simples
matérias. É arma essencialmente para ca- umidade, que apresente o caminho a per-
ça, como me têm sempre e repetidamente correr, sendo que em certas circunstâncias e
afirmado os indígenas. quando ficou empoçado, e presente uma seca
CURARA viveiro, curral. Corrupção da pala- maior, se arrisca até com uma simples chuva.
vra portuguesa, usada em lugar de caisará CURIMARI árvore da terra firme, casta de
ou outra análoga. Bignoniácea da vargem.
CURARE V. Uirári. CURIMBOCA casta de cipó da terra firme.
CURAUÁ, CURAUÁ-YUA casta de Bromeliácea CURU ruga, dobra.
que nasce espontaneamente no mato. Hoje CURUÁ' casta de palmeira que cresce na terra
já se acha cultivada em quase todas as ro- firme, Attalea spectabilis. A sua palma é usa-
ças em maior ou menor quantidade, e que da para cobertura de casas.
dá uma fibra muito fina, muito resistente e CURUÁ' cotinga-azul, pipira-azul, Catinga ce-
muito clara, com que se fazem no rio Negro rulea. Nas primeiras semanas da enchente,
maqueiras finíssimas, e é usada geralmen- aparece em pequenos bandos nos arredores
te em todo o Amazonas naqueles misteres de Manaus, onde a tenho observado mais de
em que se precisa de linha que ocupe pou- uma vez. No resto do ano se encontra isola-
co espaço e tenha grande resistência, como, da em casais ou pequenas famílias em todo
por exemplo, para amanho das flechas, cor- o vale, embora em nenhuma parte comum.
da de arco etc. O curauá cresce facilmente, CURUÁ3 casta de sapo.
sem necessidade de grandes cuidados, em CURUCA engelhado, enrugado, dobrado.
qualquer terra firme e vargem alta, e é uma CURUCAPAUA engelhamento.
indústria que merece ser explorada. CURUCAPORA cheio de rugas, dobras.
CURAUAUÍ curauabi. Casta de palmeira, que CURUCAUA dobra, goela, fauces, guelras.
Martius diz servir para cobertura de casas. CURUCÉ malha de renda, renda, variante de
Não a conheço. crecé, corrupção brasileira de crochet.
CURERA fragmento, migalha, resto, crueira. CURUCAUARA dobrante, goeludo.
CURÉUA casta de abelha. CURUCURUA cheio de nós, botões, protube-
CURI casta de terra vermelha; a cor que se râncias.
obtém com ela. CURUCURUCA tosco, áspero.
CURICA casta de papagaio, Androglossa ama- CURUCURUTEN continuamente, repetida-
zonica. É verde-claro, com a cabeça amarela mente, a cada passo.
e azul-celeste, e o espelho das asas e a man- CURUCUTURI gavião branco, Buteo pterocles.
cha da cauda vermelho-alaranjada. Muito Pouco comum. Encontrei-o uma única vez
comum, vive em bandos numerosíssimos, na região do Acre.
que geralmente não se dissolvem completa- CURUERA pedaço de massa que passa na pe-
mente nem no tempo da incubação. neira, sem ficar esmiuçada ou que se liga em
CURICACA curicaca, Gerontícus albicollis, cas- grumos por ser mal remexida quando leva-
ta de íbis. O seu nome indígena é onomato- da ao forno para cozinhar. Farinha em gru-
paico. É muito comum em todos os lugares mos, mal peneirada. Crueira.
de campos, e fora do tempo da incubação, se cuRui esmigalhado, esfiapado, desfeito, pul-
encontra em pequenos bandos à margem de verizado.
todos os banhados. cuRui-PAUA esmigalhamento, pulverização.
CURICUIARI casta de periquito. CURUMi menino, rapazinho ainda não che-
CURIMATÁ, CURIMBATÁ peixe do mato, Ane- gado à puberdade, mas que já deixou de ser
dus. O nome de peixe do mato lhe é dado tainha, isto é, criança.
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CURUMi-ASU
CURUMI-ASU moço, rapaz já chegado à pu- xa-se levar fora de caminho, onde o deixa
berdade e que ainda não é casado. miseramente perdido, com o rastro, por on-
CURUMU o contrário, de outro modo. Curu- de veio, desmanchado. Outras, o que é mui-
mu-rupi: contrariamente. to pior, o pobre do caçador alcança a caça,
CURUMY o remo que amarram na borda da até com relativa facilidade, e a flecha vai cer-
canoa que não tem quilha, para suprir a fal- teira embeber-se no flanco da vítima, que cai
ta desta. O curumi é amarrado à popa quan- pouco adiante com grande satisfação do in-
do o remeiro quer que sirva de leme e quer feliz. Quando chega a ela porém, e vai para a
poupar esforços, especialmente descendo colher, em lugar do animal que tinha julgado
quase de bubuia. É, pelo contrário, amarra- abater, encontra um amigo, o companheiro,
do pouco acima de meia nau, do lado exter- um filho, a sua própria mulher. Os contos de
no, quando sobem o rio puxando a embar- caçadores vítimas do curupira são contos de
cação à sirga, e deve servir para conservá-la todos os dias no meio indígena, dos mora-
convenientemente afastada da margem. dores tanto do rio Negro como do Solimões,
CURUNÃ casta de aranha caranguejeira, cas- Amazonas e seus afluentes.
ta de Mygale. CURUPIRA-IRÁ mel de curupira. É mel ve-
CURUPÉ casta de formiga de cabeça achata- nenoso, apesar do seu bom aspecto e sabor
da. No Japurá dizem que enfiam a cabeça convidativo.
desta formiga na ponta da flecha para não CURUPIRA - IRA - MANHA casta de abelha, que
errarem o alvo. dá um mel venenoso, fazendo o ninho nos
cuRUPICA casta de resina usada em pó para mesmos paus em que o fazem outras espé-
sarar feridas. cies, que dão mel inócuo e muito apreciado.
CURUPIRA corpo de menino, de curu (abre- CURUPU pulsado, palpitado.
viação de curuml), e pira (corpo), curupira. CURUPUA pulso, palpite.
O curupira é a mãe do mato, o gênio tute- CURUPU-RENDAUA Lugar da palpitação.
lar da floresta que se torna benéfico ou ma- CURUPUSAUA pulsação, palpitação.
léfico para os frequentadores desta, segundo CURUPUUARA pulsante, palpitante.
circunstâncias e o comportamento dos pró- CURUPU-YMA não pulsado, não palpitado.
prios frequentadores. Figuram-no como um CURURU' cururu, casta de sapo.
menino de cabelos vermelhos, muito peludo CURURU' casta de árvore Apocinácea de cas-
por todo o corpo e com a particularidade de ca muito rugosa.
ter os pés virados para trás e ser privado de CURURU 3 áspero, rugoso.
órgãos sexuais. A mata, e quantos nela habi- CURURUCA murmurado, roncado, berrado,
tam, está debaixo da sua vigilância. É por via resmungado.
disso que antes das grandes trovoadas se ou- CURURU-CAÁ erva de cururu.
ve bater nos troncos das árvores e raízes das CURURU-CIPÓ cipó de cururu. Da casca se
samaumeiras para certificar-se que podem fazem cataplasmas para pôr sobre os mem-
resistir ao furacão e prevenir os moradores bros desmentidos(?) [luxados].
da mata do próximo perigo. Sob a sua guar- CURURUCAMANHA murmurador, resmun-
da direta está a caça, e é sempre propício ao gador.
caçador que se limita a matar conforme as CURURUCAPAUA, CURURUCASAUA murmu-
próprias necessidades. Ai de quem mata por ração, berro.
gosto, fazendo estragos inúteis, de quem per- CURURUCAUERA murmurante, berrante, res-
segue e mata as fêmeas, especialmente quan- mungante.
do prenhes, quem estraga os pequenos ain- CURURUCAYMA não murmurado, berrado,
da novos! Para todos estes, o curupira é um resmungado.
inimigo terrível. Umas vezes vira-se em caça CURURUI casta de pequeno sapo.
que nunca pode ser alcançada, mas que nun- CURURU-MBOIA jiboia-cururu, casta de pe-
ca desaparece dos olhos sequiosos do caça- queno Constrictor que vive especialmente
dor, que, com a esperança de a alcançar, dei- de sapos e pequenos mamíferos.
CY
necessária para que haja vida; por via dis- o conceito tupi de Tupana, devo confessar
so, tudo tem mãe, e a cy, como verdadeira que nunca nenhum indígena mo explicou,
mãe que é, não abandona os seres que lhe nem mostrou pensá-lo. O que me têm re-
devem a vida, lhes vigia o desenvolvimen- petidamente afirmado é que todas as coisas,
to, os guia e os protege para que consigam os astros, as serras, os lagos, os rios, as plan-
o próprio destino, acompanhando-os e pro- tas, os animais e as próprias pedras têm al-
tegendo-os da nascença até à morte. A cria- ma, sentem; e que todas têm uma mãe que
ção é, pois, devida à fecundidade das mães vive, da mesma vida, têm as mesmas neces-
das coisas animadas e inanimadas, ou me- sidades, lutas, prazeres e instintos das coisas
lhor das coisas: porque, para o indígena que que lhes deram o ser; e são estas mães, co-
acredita na cy, não há coisas animadas e ina- meçando pelo sol e pela lua, e não Tupana,
nimadas, todas as coisas têm alma. A ela é que, quando precisam, se engenham de tor-
devida a sua conservação. Sem a mãe não nar propícias. Quem isto consegue vive na
há vida, nem a vida se conserva. A cy é in- abundância de tudo, é feliz em tudo. Ai!
dispensável para a conservação e perpetua- daquele que as ofende! que as desrespeita!
ção, como o foi para a primeira produção. Para ele só há desgostos e misérias. Como
De onde, porém, lhes provêm, e quem man- quer que seja, Tupana parece alheio aos ne-
tém a fecundidade das mães? Do sol não, da gócios desta baixa terra: as que tudo regu-
lua menos; o primeiro é a mãe do dia, e a lam são as mães.
segunda a mãe das frutas, mas, por via dis- CYCA, ICYCA resina. V Icyca.
so mesmo, nem esta nem aquele podem ser CYCANTÁ resina forte, breu.
o fecundador das mães das coisas, o princí- CYCANTÁ-YMA resina fraca.
pio masculino. Será este Tupana, o deus tu- CYCANTÁ-YUA árvore do breu.
pi? Talvez, se para eles Tupana é, como me CYPAUA maternidade.
parece poder asseverar, o ser indefinido, CYRICA V Xírica.
que paira acima de tudo no além, imaterial, CYRIRI V Xiriri.
informe, misterioso, como a causa que faz CYUA testa, frente, fronte.
nascer, desenvolver e morrer todas as coisas CYUARA maternal.
do universo, sendo ao mesmo tempo prin- CYUAUARA da frente, que é da testa.
cípio gerador e destruidor. Se este é todavia CYUAYMA sem testa, sem frente.
E letra que se permuta muito facilmente EAUECA semente.
com o i; muitas das palavras aqui inscritas EAUERA semeador, semeante.
se encontram com i, e geralmente esta pa- EAUÉUA semeação.
rece ser a forma mais correta. Eu noto am- EAUÉ-YMA não semeado.
bas as formas, especialmente quando se en- EAUKI combinado, acordado, entendido
contram usadas por alguém que escreveu acerca de alguma coisa com outrem.
na nossa boa língua, não tanto por amor EAUKIPORA combinante, acordante, enten-
de aumentar o número das palavras reco- dente.
lhidas, como para evitar o incômodo de EAUKISAUA acordo, combinação.
quem procura. EAUKIYMA sem acordo, combinação, enten-
EA- prefixo que algumas vezes se encontra usa- dimento.
do como equivalente ao prefixo reflexivo iu. EAUY errado, enganado. V Iauy.
EACANHEMO esmorecido. V Iucanhemo e EAUYCA inclinado, abaixado. Reauyca né ra-
comp. canga, resasau putare ramé: abaixa a tua ca-
EAM'i espremido. V Iami e comp. beça se queres passar.
EARUCA minguado, desinchado, emagreci- EAUYCASARA inclinador, abaixador.
do; se diz especialmente da lua. Iacy earuca: EAUYCASAUA Inclinação, abaixamento.
a lua minguante. V Iaruca. EAUYCAUA baixa.
EARUPÉ, EARPE em cima, sobre. Oxiare tai- EAUYCAUARA inclinante, abaixante.
nha tupé earupé: deixa a criança sobre o tupé. EAUYCAUERA inclinadiço, abaixadiço.
EATIRE, EATÍRI subido, elevado. EAUYCAYMA não inclinado, não abaixado.
EATIREPORA cheio de subidas, ascensões, ECOi vá, forma irregular do imperativo do
elevações. verbo ser, comum no baixo Amazonas.
EATIRESARA subidor, ascensor, elevador. ECOPÉ traição.
EATIRESAUA subida, ascensão, elevação. ECOPÉ-RUPI traiçoeiramente, por traição.
EATIREUARA elevante, ascendente. ECOPÉUÉRA traidor.
EATIRE-YMA não subido, não elevado. Ei'i sim; é sempre resposta à pergunta.
EAUÉ semeado. EE-ETÉ muito sim, afirmação absoluta. Osu-
EENGARA
aixara cé supé, ee-eté: me respondeu mui- trança progride, acabando por esticar for-
to sim. temente a corda assim trançada entre duas
EENGARA afirmador, concordante. estacas, com o fim do obter uma idêntica
EENGAUA afirmação, concordância. tensão em todas as suas partes. No segun-
EEUERA acomodadiço, que concorda facil- do caso, fixa a cabeça da corda pela forma
mente. acima indicada; os fios que serão as per-
EIECÉ alisado, polido. nas da corda são logo estendidos confor-
EIECÉPÓRA muito polido, muito alisado. me o comprimento desejado, e preso na
EIECÉSÁRA polidor, alisador. outra ponta a um pau que fica em mão
EIECÉSÁUA alisamento, polimento. do cordoeiro. Este pau serve de roda. O
EIECÉUÁRA alisante. cordoeiro, conservando tesos os fios, o faz
EIECÉUÉRA polível, alisável. girar rapidamente, obtendo assim a torção
EIECÉYMA não alisado, não polido. e tensão desejadas. Obtidas estas, a corda
EIECÉYUA o que serve para polir, alisar. é deixada esticada ao tempo, omutecô ara-
EIKI entrado. ma, para acostumar-se.
EIKIAUA entrada. EIRENi casta de abelha.
EIKIÉ enchido, cheio. EISU casta de abelha.
EIKIÉSÁRA enchedor. EITÁ nadar. V. Uitá.
EIKIÉSÁUA enchente, cheia. Paranã eikié- EMAPU porta-cigarro. Isto é, o porta-cigar-
sauasú: enchente grande do rio. ro, comercial usado nas festas indígenas no
EIKIÉTÁUA enchedouro. Uaupés e mais afluentes do alto rio Negro. É
EIKIÉUÁRA enchente. uma forquilha de madeira escolhida, capri-
EIKIÉYMA não cheio. chosamente trabalhada e esculpida, de uns
EIKI-TENDAUA lugar da entrada, entradouro. cinquenta a sessenta centímetros de alta,
EIKIUARA entrador. destinada a receber entre as suas duas per-
EIKIUERA entradiço. nas o cigarro cerimonial que gira, entre uma
EIKIYMA não entrado. figuração e outra, entre os homens que estão
EIMÃ fuso. É uma pequena haste de um pal- descansando, ouvindo as lendas e tradições
mo de comprido, enfiada numa rodela, de da tribo contadas pelos velhos. O emapu, do
cinco ou seis centímetros de diâmetro, re- lado onde se empunha, é apontado de mo-
cortada em casco de tartaruga ou jabuti, do a poder ser facilmente fincado no chão
muitas vezes ornada de elegantes dese- quando ninguém fuma.
nhos. O seu uso é idêntico ao do fuso eu- EMBÁ, NEMBÁ não. É forma muito usada no
ropeu. Apesar da forma original, parece rio Negro. Já tive dúvida sobre a sua origem,
instrumento trazido com a civilização. A mas ela desapareceu.
mulher tapuia não necessita de fuso para EMBAE nada, ninharia. Cunhã embae: ninha-
fiar tão fino e igual como a melhor fiandei- ria de mulher.
ra. Torce o fio sobre a coxa roliça, tirando EMBAEPORA cheio de nadas, de ninharias.
as fibras convenientemente preparadas de EMBAESAUA nulidade, inanidade.
um pequeno uru suspenso a qualquer coi- EMBAE-TATÁ fogo nada, fogo-fátuo. Disso
sa que lhe serve de roca. Para torcer cordas por corrupção procede boitatá, do baixo
para rede ou para a pescaria, serviço que Amazonas e Pará.
geralmente pertence aos homens, servem- EMBAEUARA inexistente, inane.
-se de fios já fiados e os trançam ou torcem. EMBAYUA, EMBAE-YUA embaúba, lit.: não
No primeiro caso, amarrada a ponta a uma árvore. Nome comum às diversas espé-
estaca ou coisa que o valha, e tendo tan- cies de Cecropiáceas. Planta de folha larga
tos bilros quantas pernas deve ter a trança e digitada, como a figueira, verde mais ou
e em cada bilro enovelado o fio, o cordoei- menos forte na face superior e mais claro
ro, para trançar a corda, vai-se afastando e na inferior, muito comum, especialmente
tecendo desenrolando o fio à medida que a a variedade que orla as praias dos rios, la-
ENONGATU, ENUNGATU
gos e igarapés de toda a região amazôni- certas espécies, em que o líber não se pres-
ca. Como o nome indica, a madeira nada ta para cordas ou outro mister semelhan-
vale, e para o tapuia nem merece o nome te. Esta então é utilizada a modo de tábua, e
de árvore. É, porém, uma clamorosa calú- para paredes, em alguma maloca indígena.
nia; se a madeira é fraca, nem por isso dei- EMBYRA-YUA a árvore que dá a embira.
xa de ter seu préstimo e dá um excelente EMOETÉ respeitado, reverenciado, adorado.
carvão para pólvora pirrica [pirotécnica?], V. Moeté e comp.
e também, segundo me foi afirmado, para EMONGUETÁ, MONGUETÁ aconselhado, pre-
as velas de carvão, para as lâmpadas de ar- venido.
co voltaico. A casca dá uma fibra forte e re- EMONGUETÁ CATU bem aconselhado.
sistente que, além de servir para cordoalha EMONGUETÁ PUXI mal aconselhado.
de inferior qualidade, poderia talvez servir EMONGUETARA aconselhador, conselheiro.
também para fazer papel, senão de primei- EMONGUETARA CATU, EMONGUETARA PU-
ra qualidade, pelo menos para embrulho. RANGA bom conselheiro,
Todas as embaúbas, finalmente, qual mais EMONGUETAU o aconselhado, o prevenido.
qual menos, podem ser usadas em chá pa- EMONGUETAUA conselho, prevenção.
ra uso interno como reguladoras das fun- EMONGUETAUA MANHA mãe dos conselhos.
ções do coração, embora para isso seja es- Quem dá conselhos, conselheiro público.
pecialmente indicada a embaúba-branca, EMONGUETÁ-YMA não aconselhado, sem
Cecropia argentea, que cresce nas capoei- conselho.
ras de terra firme. EMUMÉU derramado.
EMBAYUA PIRANGA embaúba-vermelha, EMUMEUARA o que derrama.
casta de Cecropia da vargem. EMUMEUPAUA derramamento.
EMBAYUA TINGA embaúba-branca, Cecropia EMUMEUPORA cheio de derramamento, der-
argentea. Cresce na terra firme. ramador.
EMBIARA o que se pegou na caça ou na pes- EMUMEUTAUA derramadouro.
ca e se trouxe para casa enfiado em embira. EMUMEUYMA não derramado.
O que é destinado para ser comido. Cé em- EMUMI, EMYMI escondido, ocultado.
biara: minha comida, e, por extensão, o que EMUMI-RENDAUA escondedouro, oculta-
me é destinado. douro.
EMBYRA, REMBYRA, CEMBYRA filho, filha, EMUMISARA escondedor, ocultador.
em relação à mãe; o parido. EMUMISAUA ocultação, escondimento.
EMBYRA envira, embira. Casca de árvore de EMUMIUARA ocultante, escondente.
longas fibras, mais ou menos resistentes, EMUMIUERA escondediço, ocultadiço.
que servem para atilho; o atilho feito com EMUMiYMA não escondido, não oculto.
qualquer casca de árvore que sirva para isto. ENEMBIÚ élitros de várias castas de coleóp-
EMBYRANGAUA afilhado, afilhada, figura de teros de cores vistosas e brilhantes, verdes,
filho, em relação à madrinha. verde-ouro, azuis, preparados para fazer co-
EMBYRARE parido. lares. Os colares feitos com os mesmos.
EMBYRARESARA parteira. ENEME, ENENE escarabeu, escaravelho.
EMBYRARESAUA parto. ENONGATU, ENUNGATU guardado, conserva-
EMBYRAREUARA parturiente. do, posto a bom recato para as necessida-
EMBYRAREUERA parideira. des. É o que dá previdência e hábito, a cau-
EMBYRARE-YMA estéril, sem filhos. sa mais difícil de encontrar no indígena,
EMBYRATi, EMBYRATINGA embira branca. acostumado como está a viver o dia-a-dia,
Casca branca, a entrecasca de que fazem no meio da fartura constante da portento-
cordas e atilhos mais ou menos resistentes, sa natureza amazônica; por isso mesmo não
segundo a qualidade. guarda ou conserva nada para os maus dias;
EMBYRASU embira grossa, a entrecasca gros- até considera quase um vício o guardar pro-
sa e muito resistente e a própria casca de visões; salvo algum raro moquém, e isto
ENONGATUSAUA
mesmo de peixe dos tempos das piracemas, EPY suí desde a base, desde a origem. Iané
pouco ou mesmo nada se encontra nas ma- uatasaua opiupiru puxi epy suí: a nossa via-
locas dos indígenas. gem começou mal desde o início.
ENONGATUSAUA conservação, agasalha- EPY-SUÍUÁRA originário, básico, que vem do
mento. começo.
ENONGATUTAUA conservatório, lugar onde ERASÓ leva, conduz, imperativo irregular de
se conserva, guarda, agasalha. rasó, em lugar de rerasó.
ENONGATUUARA conservador. ERÉ sim, está bom, de acordo. Forma afirma-
ENONGATUYMA não conservado. tiva aprobatória.
ENTE mesmo. Cuecente: ontem mesmo. ERÉ CATU está bom, está bom. Sus! Co-
ENÜ, ENÜN posto, metido, introduzido. A na- ragem! Forma de encorajamento sem sig-
salização do u varia muita de localidade a nificação definida. Eré catu! Iasoana curute
localidade a ponto de, em algum caso, espe- iasasau yara: Coragem! vamos já passar a
cialmente nos compostos, desaparecer. canoa.
ENÜ-ARUPÉ sobreposto, posto em cima. ERÉ CURY até logo. Eré cury-miri: até já.
ENÜNGARA poente, metente, introdutor. ERÉ SUPI na verdade. Eré supi teen: em toda
ENÜNGAUA postura, metida, introdução. a verdade.
ENÜ-SANGAUA marcado, assinalado. ERÉ TEEN assim mesmo, de pleno acordo.
ENÜ-SANGAUA-SARA marcador, assinalador. ERENTEYUA casta de resina; a árvore que a
ENÕ-SANGAUA-SAUA marcação, assinalação. fornece.
ENÜ-SARA poedor. ERERÉ casta de marrequinha.
ENÜ-SAUA postura. ERIMBAE antigamente.
ENÜTENONDÉ antepor. ERIMBÁETÉ antiquíssimamente.
ENÜ-UARA metente. ERIMBAEANA antiquado.
ENÜ-UERA metediço. ERIMBAUÉ antigo.
ENÜ-UIRUPÉ submetido, posto em baixo. ERIMBAEYMA não antigo, modernamente.
ENÜ-XIRURA postas as calças, vestido. ERURE traz, imperativo irregular de rure, em
EPECUCA apalpado. lugar de rerure.
EPECUCASARA apalpador. -ETÁ, -ITÁ sufixo plural de aetá, aitá. Miraetá:
EPECUCASAUA apalpamento, apalpação. as gentes. Yuaetá: as plantas. Tauaetá: as tabas.
EPECUCAUARA apalpante. ETÉ, RETÉ muito, porção, quantidade. Mira-
EPECUCAUERA apalpadiço. eté: muita gente. Oca reté: muitas casas.
EPECUCAYMA não apalpado. ETÉ verdadeiro, próprio, mesmo. Cuá in-
EPENE lebre, Dasyprocta leptura. Casta de ti embayua, myra eté: esta não é embaúba,
pequeno mamífero intermédio entre o coe- é mesmo pau. Ixé tapyia eté: eu sou cabo-
lho e a lebre. Não é animal da mata; habi- clo verdadeiro; traduziriam, no Pará e em
ta as macegas baixas no limite dos campos, Manaus, por "Eu sou baré da gema".
preferindo os lugares secos e pedregosos. EUAKERI brincalhão, buliçoso.
EPOASU, EPOSU tosco, rombo. EUAKY conformado, ajeitado.
EPURUÃ prenhe. Opitá epuruã: ficou prenhe. EUAKYSARA ajeitador.
EPURUÃNGARA emprenhador. EUAKYSAUA ajeitamento.
EPURUÃNGAUA, EPURUÃSAUA prenhez. EUAKYUARA ajeitante.
EPURUÃUARA emprenhador, emprenhante. EUAKY-YMA não ajeitado.
EPURUÃUA a prenhe. EUASU, IUASU alto, difícil, grande.
EPURUÃUERA que fica facilmente prenhe. EUASUSAUA altura, dificuldade, grandeza.
EPURUÃ-YMA não prenhe. EUAUECA marulhado, balançado, embalado.
EPY origem, princípio, base, alicerce. Cé epy: EUAUECAPAUA marulho, marulhada.
minha origem. Cé soca epy: os alicerces de EUAUECAPORA marulhante.
minha casa. Epy catu: boa base, bons alicer- EUAUECASARA marulhador.
ces. Iané epy catu: nossa boa origem. EUAUECAYMA que não marulha.
EUYCAYMA
que cresce espontânea nos campos pro- IANDAÍRA mel da abelha jandaia. Algumas
duz uma espécie de drupa ou figo comes- vezes se designa com este nome a própria
tível, que, embora tenha a fama de refrige- abelha e então para designar o mel dizem:
rante, é deixado aos papagaios e periquitos. Iandaíra-ira.
Tanto este como as espécies afins cultivadas !ANDARA meio-dia. Martius traduz jantar e
com o mesmo nome são muito usadas na dá a palavra como corrupção do português.
Medicina indígena para fazerem lambedo- A coincidência do jantar do meio-dia, cor-
res para cura das afecções dos órgãos res- rente ao tempo em que Martius esteve aqui,
piratórios. parece tê-lo feito acreditar nisso. Para mim
IAMARU jamaru, a fruta de uma casta de co- é apenas uma forma, com significação espe-
loquíntide; a cabaça feita desta mesma fruta cial e própria da saudação iané ara ou ian-
depois de limpa da polpa interna. dé ara, que exatamente substitui o iané coe-
IAMARUYUA jamaruzeiro, a coloquíntide que ma ao meio-dia.
dáo jamaru. IANDÉ, IANÉ nós, nosso, nossa. Iané iacica
IAMASI jamaxi, casta de paneiro própria pa- cury-mírl: nós chegamos já. lané ramunha-
ra ser levada às costas por meio de atilhos, e -itá: nossos avós.
em que o indígena carrega seus teres. IANDIÁ jandiá, várias espécies de peixes de
IAMBU jambu, planta da família das Com- pele, do gênero Platystoma e afins.
postas. A folha é usada na cozinha indígena IANDIATYUA terra de jandiás. Jandiatuba.
para misturar com a carne cozida em tucu- IANDIÁ-YUA jandiaúba, árvore que cresce
pi, como substitutivo da folha de mandioca. nas vargens altas dos rios e igarapés, e cuja
IAMBUASU casta de jambu de grandes folhas. fruta serve de isca aos jandiás. É árvore de
IAMBURANA falso jambu. Jamburana. alto porte, embora não muito copada. A sua
IAMBURANDI jaborandi, planta da mata vir- madeira, embora pareça própria para obras
gem. O azeite que dela se extrai é utilizado de marcenaria, não sei que seja usada.
para fricções na cura do reumatismo. IANDU aranha.
IAMi espremido. IANDUACY casta de grossa Mygale.
IAMi-IAMi espremidíssimo. IANDUi aranhazinha
IAMISARA espremedor. IANDU-MIRi aranha pequena.
IUMISAUA espremedura. IANDU-PÉUA aranha chata. Casta de lacrau.
IAMITYUA espremedouro. IANDU KYSAUA teia de aranha; lit.: rede de
IAMIUA o espremido. dormir da aranha.
IAMIUARA espremente. IANDU-SUPIÁ-KYSAUA rede dos ovos de ara-
IAMIUERA espremediço. nha. O saco em que se encontram envolvi-
IAMiYMA não espremido. dos os ovos de certas espécies de aranhas,
IAMUNERA mênstruo. que o inseto leva consigo, e mais raramente
IAMUNERARA, IAMUNDERARA menstruada. abandona seguro nalgum suporte.
IAMUTINGA entrudado. V. Iumutinga e comp. IANDY óleo, azeite vegetal; qualquer substân-
IANA corre, imperativo irregular de nhana. cia oleosa de proveniência vegetal.
IANAMÃ, ANAMÃ espesso, denso, grosso, fa- IANDY ASUÍUÁRA azeite-doce; lit. azeite da
lando de líquidos. outra banda.
IANÃMBÁ leite vegetal que se extrai de uma IANDY CARYUA santos óleos, crisma.
árvore da margem dos rios e que se afirma !ANDY CARYUA RERU âmbula dos santos
comestível. óleos.
IANAUÍ casta de pequeno quadrúpede. IANDYRAUA azeite amargo. Andiroba.
IANDAIA' jandaia, nome dado a um mara- IANDYRAUA-YUA andirobeira.
canã. IANÉ ARA nom dia; lit. nosso dia. Forma de
IANDAIA' nome dado a um anambé. saudação que se começa a dar do meio-dia
IANDAIA3 nome dado a casta de abelha, tam- em diante. De manhã se diz iané coema. De
bém chamada jandaíra. tarde, quando o sol já baixo está para deitar-
IAPÔ
-se, se usa iané caaruca. Depois do sol posto IAPARAPORA entortante, que se entorta.
e pela noite adiante, quando alguém se des- IAPARASARA entortador, que entorta.
pede, iané pituna. O saudado, em qualquer IAPARATAUA lugar esquerdo, de entorta-
caso, responde iandaué, forma contraída de mento.
indé (tu) e iaué (o mesmo); o que equivale IAPARAYMA não entortado, não esquerdo.
a boa-manhã, boa-tarde, boa-noite, a que se IAPATUCA embrulhado. V. Patuca e comp.
responde "o mesmo para ti''. IAPATUCA-YMA desembaraçado.
IANEMBAE o nosso, a nossa coisa. IAPATUCAYMA-SAUA desembaraço.
IANERA janela (corrup. do português). IAPÉCÁNGA japecanga. V. Ipecacuana.
IANGAISAUA magreza. IAPECUA' abano. V. Tapecua e comp.
IANGAIUARA magra. IAPECUA' casta de cacto.
IANTi frente, proa da canoa ou de outra qual- IAPEPU panela.
quer embarcação. IAPEYUA lenha cortada para queimar (Ja-
IANTIGARA proeiro, o que é da frente. purá).
IANTIGAUA o lugar da proa. IAPi japim, Cacicus. O mais comum no Ama-
IANTii zagaia, bidente farpado, que serve na zonas é o preto, com os encontros, as costas
pesca ao pajé para fisgar o peixe surpreendi- e o uropígio amarelo, e é este que se chama
do a dormir nos baixios de águas límpidas. correntemente japim sem outros adjetivos.
V. Paié ityca e Pirakyra. A outra espécie, iapi piranga, japim verme-
IANTii-YUA haste da zagaia, haste de madei- lho, Cacicus haemorrhous, com os encontros,
ra rija e elástica, do comprimento máximo dorso e uropígio vermelho-sangue, é muito
de dois metros, geralmente menos, da gros- mais raro. Muito sociável, vive em colônias,
sura de um dedo. pendurando os ninhos em forma de longas
IANTII-UARA zagaiador. bolsas arredondadas aos galhos das maiores
IANTIN-YUA proeiro, o remeiro que vem na árvores da floresta, preferindo os que têm ca-
proa e de cuja habilidade depende, tanto sa de caba, garantindo-se assim uma boa de-
quanto do piloto, a manobra nas cachoeiras. fesa. Má carne, é pouco molestado pelo ho-
IAPA ombro. mem. Por causa disso, o amarelo aqui no
IAPÁ toldo movediço feito de dois panos li- Norte não trepida em fazer seus ninhos em
geiramente tecidos de folhas de palmeira, árvores perto das casas e mesmo dentro das
entre os quais é posto um estrado de folha habitações. É suficiente para isso que encon-
de arumã, pacova soro roca ou mesmo paco- tre uma árvore que apresente a necessária
va cultivada, para abrigar a carga na canoa. distribuição de galhos, porque, na hipótese,
IAPACANI japacani, águia, gavião-real, Spi- dispensa as cabas.
zastur tyrannus. O mais bravo dos rapaces IAPICICANA o que foi preso, o prisioneiro de
amazonenses. guerra.
IAPACANY erva cheirosa usada para as mu- IAPINA cortar os cabelos rente, à escovinha.
lheres se lavarem depois do parto e para o IAPIXAI crespo, encarapinhado.
primeiro banho das donzelas chegadas à IAPI OCA casa de japim. Casta de cipó, de que
puberdade, e dado logo em seguida ao pri- o japim se serve para tecer seu ninho.
meiro mênstruo. Se lhe atribui a virtude de IAPÔ japu, casta de pássaro da família dos
regularizar os mênstruos e de tornar prolí- Ictéridas. Maior do que o japim, com que
fica a moça. muito se parece, tanto no seu todo como
IAPANA casta de erva de cheiro, muito usa- na distribuição das cores. Vive ele também
da no Solimões para as mulheres lavarem os em colônias, tecendo longas bolsas pendu-
cabelos e torná-los macios e lustrosos. radas aos ramos dos maiores gigantes da
IAPARA entortado, esquerdo. Pô iapara: mão floresta, mas nunca o tenho visto pôr seus
esquerda. Paranã oiapara: o rio se entorta. ninhos em árvores próximas das habita-
IAPARANDI casta de arbusto, das Mirtáceas. ções. O japu, logo acabada a incubação, sai
IAPARAPAUA entortamento. de manhã, em bando, em procura de co-
IAPOÃ, IAPUÃ, AIAPUÃ
dade da forneira, que deve saber moderar o bado do lado contrário da embocadura por
fogo para impedir que a fornada queime, e um alargamento em forma de trompa, feito
conservá-lo bastante ativo para, secando li- de um tecido de arumã, coberto de cerol.
geiro, evitar os grumos e conseguir uma fa- IAPURUCI casta de caracol.
rinha fina, dura e convenientemente torrada IAPUSACA abalado, sacudido. Inti xapaca ra-
para poder durar muito tempo empanei- mé, reiapusaca ce makira: se não acordar,
rada. Hoje o iapuna de barro é substituído sacode a minha rede.
em muitos lugares por fornos de ferro ou de IAPUSACASARA sacudidor, abalador.
cobre. As forneiras que já usaram dos for- IAPUSACASAUA sacudidela, abalamento.
nos de barro, todavia, não gostam da subs- IAPUSACAUÁ abalo.
tituição, porque além do maior incômodo IAPUSACAUARA abalante, sacudinte.
que lhes dá durante a torração o maior calor, IAPUSACAYMA não abalado, não sacudido.
acontece que nos fornos de ferro ou cobre IAPY lançado, jogado.
a menor desatenção pode fazer queimar a IAPY-IAPY arremessado; jogada rapidamente
fornada, e porque nunca dão, afirmam elas, uma coisa atrás da outra.
uma farinha tão bem torrada, solta e gosto- IAPY ITÁ apedrejado, lançado pedra.
sa como a que se obtém nos fornos de barro. IAPY-RECÉ lançado contra.
IAPUNA MUNHANGARA fazedor de fornos. IAPY-SARA lançador.
É trabalho de mulheres, como aliás o é a fa- IAPY-SAUA lançamento.
bricação de todo o vasilhame de uso. Os for- IAPY-TYUA lançadouro.
nos pequenos não apresentam nada de espe- IAPY-UARA lançante.
cial; são preparados e cozidos como todas as IAPY-UERA lançável.
outras espécies de vasilhas. Os fornos gran- IAPY-YMA não lançado.
des, para que não quebrem, são preparados IAPYSÁ' orelhudo.
e cozidos no mesmo lugar onde devem ser- IAPYSÁ escutado.
2
IARAKI jaraqui, Pacu nigricans, casta de IARU zangado, irritado. V. Inharu e comp.
peixe de escama, muito espinhento, que IARUCA diminuído, minguado, desinchado,
aparece em grandes cardumes procurando subtraído. Iacy iaruca: lua minguante. Cé
as cabeceiras dos rios no tempo da desova, papasaua reiaruca cuá uy ireru-itá: dimi-
nos últimos dias da enchente, prenúncio de nuis da minha conta estes paneiros de fari-
vazante; reaparece nos últimos dias dava- nha. Cé pó oiaruca xinga: a minha mão de-
zante, anunciando a enchente. sinchou um pouco.
IARAPA jalapa, Piptostegia Pisonis. É planta IARUCASARA diminuidor, subtrator.
de raiz purgativa assaz conhecida. IARUCASAUA diminuição, subtração.
JARARACA jararaca, Cophias atrox e afins, IARUCAUARA minguante, diminuinte.
casta de serpente venenosíssima. IARUCA-YMA não diminuído, não subtraído.
IARARAcusu jararaca grande. Jararacuçu, IARUCANGA costela.
casta de Cophias. IASAEN, IASAE que se espalhou. V. Saen e
IARARACA-PÉUA jararaca chata, casta de Co- comp.
phias. IASAI, IASAIN que se estendeu. V. Saln e
IARARACA-TAIÁ tajá de jararaca, casta de comp.
Caladium, cujo pecíolo imita a pele da ja- IASANÁ casta de Rallidas. Nome que no bai-
raraca, com uma espécie de reticulado es- xo Amazonas e no Pará dão à parra jaçanã,
camoso amarelo e preto, de um mimetismo que no Solimões chamam piasoca e, no rio
surpreendente e que não deixa de ser perigo- Negro, uaupé e uapé.
so, visto que se afirma que a jararaca gosta de IASAPi casta de capim dos campos de Marajá.
habitar as touças deste tajá. IASAUA vau, passagem.
IARARACA-TINGA jararaca-branca, casta de IASAUATAUA, IASAUPAUA ponte.
Cophias. IASUCAUA banheira.
IARAUÁ casta de planta que fornece uma fi- IATÁ jatá, casta de palmeira, coco.
bra têxtil. IATAi' jataí, casta de palmeira, variedade me-
IARÁ-UCU, IARÁ-URUCU jará vermelho, cas- nor do que a anterior.
ta de Leopoldínia (palmeira). IATÉ ligeiro, ativo, ladino.
IARÁ-UNA jará-preto, casta de Leopoldínia IATÉSÁRA que dá ligeireza, atividade.
(palmeira). IATÉSÁUA ligeireza, atividade.
IARA-YMA sem dono, que não tem dono. IATÉ-YMA não ligeiro, não ativo, pigro, es-
IARE recebido, aceito. túpido.
IAREPAUA recebimento. IATÉ-YMA-SAUA estupidez, lentidão.
IAREPORA recebente. IATICÜ pendurado, suspenso. Rerure cé my-
IARESARA recebedor. rapara oiaticü oicô auá oca itapoã kiti: traz
IAREYMA não recebido. o meu arco que está pendurado no prego da
IÁRI unido, juntado, encostado. casa.
IARICY faceiro. IATICÜ-SARA pendurador, suspensor.
IARICYPORA que se enfaceira ou faz enfa- IATICÜ-SAUA suspensão.
ceirar. IATICÜ-TYUA lugar de suspensão, onde se
IARICYSAUA faceirice. pendura.
IARICY-YMA severo, que não se enfaceira. IATICÜ-UARA suspendente.
IARISARA juntador, unidor, encostador; IATICÜ-YMA não suspenso, pendurado.
quem faz unir, juntar, encostar. IATIMÃ' volta, curva. Paraná iatimã: volta
IARISAUA junção, união. do rio.
IARITYUA juntadouro, lugar de encosto, de IATIMÃ rodeado.
2
IAUARA NAMI orelha de cachorro. Casta de tal e a que atribuem a propriedade de tornar
fruta do igapó. feliz nos amores.
IAUARA-PERI erva de cachorro; a que ele IAUARI javari, palmeira de espique espinho-
procura e come quando adoentado. so, que cresce à margem dos rios e lagos,
IAUARAPÉUA cão miúdo, rasteiro. Nome que preferindo os igapós e margens baixas,
é também dado em algum lugar à lontra; Astrocaryum javary. Das folhas se extrai
neste sentido, é tupi. uma fibra assaz resistente, de que os Ipurinas
IAUARA-PYPORA pegadas de cachorro. do rio Purus tecem suas redes de dormir.
IAUARASU lobo, Canis jubatus. A fruta, que amadurece com as primeiras
IAUARETÉ onça, Felix jaguar. Belo felino de águas da enchente, é comida muito procura-
pelo fulvo-amarelo-claro e ventre bran- da pelos tambaquis. Do espique se fazem es-
co, de manchas fulvo-escuras em forma tacas, mas de não muita duração.
de anel ou rosetas irregulares, muito co- IAUARUNA jaguaruna; cão preto, onça preta.
mum. O nome de onça lhe foi dado pe- IAUAU fugido.
los descobridores do país, pela parecença IAUAUÁ fuga.
que tem com um felino africano, o leopar- IAUAUARA fuginte.
do. Há numerosas variedades devidas aos IAUAUA -CUARA quilombo, buraco do fugido.
contínuos cruzamentos. No tempo em que IAUAUA-CUARA-PORA quilombeiro, que en-
as onças vão em calor, se veem as fêmeas che o quilombo.
acompanhadas de uma corja de machos IAUAUA-CUARA-IARA o chefe do quilombo.
de todos os tamanhos e de todas as pintas, IAUAUATÉUA fugidiço.
que se comportam absolutamente como o IAUAUERA fujão.
cão doméstico. Tão entretidos vão atrás da IAUAYRA lacrau.
fêmea, que, se não são inquietados, passam IAUÉ assim, assim mesmo, da mesma for-
ao pé da gente sem lhe fazer atenção. Ai! de ma, outro tanto. À saudação se responde
quem os moleste! todos caem em cima do Indé iaué: outro tanto para ti. Cuá iaué: des-
imprudente. Foi o que me afirmou um ve- te modo. Mira iaué: na forma de gente, co-
lho tapuio a primeira vez que encontrei a mo gente.
estranha procissão; depois de me ter impe- IAUÉ AUÁ semelhante a ele.
dido de fazer fogo, quase me tirou a espin- IAUÉ AYUA TENHE cada vez pior.
garda das mãos. IAUÉ CATU assim está bom, realmente assim.
IAUARETÉ APECU língua de onça. Casta de IAUÉ IAUÉ assim assim.
cipó. IAUÉ IPU talvez assim, pode ser.
IAUARETÉ CAÁ erva de onça. Casta de capim. IAUÉ NHUNTO só assim, simplesmente, só
IAUARETÉ CUNUARU casta de rã, à qual atri- isso.
buem a faculdade de mudar-se em onça e de IAUÉ RETÉ muito assim, concordo inteira-
produzir a resina, que se encontra no oco de mente.
certos paus. V Cunuaru. IAUÉ-SAUA conformidade.
IAUARETÉ PINIMA onça-pintada. A pinta é IAUETÉ está bom, perfeitamente.
miúda, sem formar anel, sobre fundo mui- IAUÉ TENHE assim mesmo, nem mais nem
to variável. menos.
IAUARETÉ PIXUNA onça-preta. Fulvo-escura, IAUÉUÉRA que se conforma facilmente.
com manchas da mesma cor, que em alguns IAUÉUYRA casta de arraia.
indivíduos chegam a não se divulgarem se- IAUÍ quebrado, falhado.
não contra a luz. IAUÍCA inclinado. V Sauíca e comp.
IAUARETÉ SOROROCA onça listrada. As man- IAUÍ-IAUÍ gaguejado.
chas fulvo-escuras sobre fundo mais claro IAUÍ-IAUISAUA gaguejo.
são em forma de estrias, como as do tigre. IAUÍ-IAUIUERA gago, gaguejante.
IAUARETÉ TAIÁ tajá de iauareté. Casta de IAUISARA quebrador.
Calladium cultivado como planta ornamen- IAUISAUA quebra, falha.
ICAUA
IAUÍ TECÔ infringida a lei, prevaricado. cie de árvore, só tem de esperar que apodre-
IAUIUARA falhante, quebrante. ça; com o taperebá esta esperança não exis-
IAUIUERA quebradiço, falhável. te. Onde cai, aí mesmo bota novas raízes, e o
IAUIYMA não falhado, não quebrado. que pode acontecer é que em lugar de uma
IAUIRU, IAUURU jaburu, Ciconia maguary. o árvore nascem dezenas, e o pobre do jabuti
nome sistemático lhe é dado pelo nome vul- fica enterrado para todo o sempre.
gar com que esta ave é conhecida no Sul do IAUTI CAUA gordura de jabuti. Jabuticaba,
país, onde a chamam maguari, nome que fruta de uma Mirtácea. Pequena drupa co-
aqui no Amazonas é dado à Ardea cinerea mestível.
ou Ardea cocai. No Amazonas encontra- IAUTI-MYTÁ-MYTÁ escada de jabuti. Cipó do
-se em bandos numerosos e nidifica na or- gênero das Bauhinias, muito comum, que
la das praias dos lagos pouco frequentados. cresce de preferência na terra firme e luga-
Os ovos, menores do que se poderia esperar res elevados, imitando fitas mais ou menos
pelo tamanho da ave, quando cozidos têm a largas e de curvas mais ou menos acentua-
gema azul-celeste e a clara azulada e, posso das. A casca de um deles é usada em infusão
afirmar, sem pitiú ou cheiro especial. e chá como sudorífico.
IAUKI disputado, brigado. IAUTI PUTAUA comida de jabuti. Várias espé-
IAUKISARA disputador, brigador. cies de árvores das mais diferentes famílias,
IAUKISAUA disputa, briga. em geral de frutas insignificantes, que são
IAUKITAUA lugar de briga, de disputa. comidas pelo jabuti, e em baixo das quais
IAUKIUARA brigante, disputante. encontra-se a comer.
IAUKIUERA que briga, disputa facilmente. IAUTIYUA jabutiúba, casta de palmeira, Ra-
IAUKIYMA indisputado. phia tardigera.
IAUORANDI jaborandi, nome comum a di- IAUYRA arraia, nome genérico comum a vá-
versas plantas herbáceas, usadas na farma- rias espécies que vivem nos rios e lagos do
copeia indígena como sudoríficos e diuréti- Amazonas. Há de todos os tamanhos, e to-
cos, em chás e decocções. das elas munidas de ferrão na cauda. Este
IAUTI jabuti, Testudo tubulata e afins. É uma em forma de estilete de dois gumes munido
tartaruga terrestre largamente espalhada em de uma miudíssima serra, que, penetrando,
todo o país, e no folclore indígena represen- dilacera as carnes e produz uma ferida, por
ta a astúcia aliada à perseverança. O jabuti via disso mesmo de difícil cicatrização. O
vence, sem correr, o veado na carreira, esca- ferrão já serviu ao indígena de ponta de fle-
lando os parentes ao longo do percurso, para cha, e ainda hoje o usam muitas tribos, para
que lhe respondam, e fazendo-se encon- as quais o ferro é luxo raro. A arraia prefere
trar lampeiro e descansado no ponto termi- os lugares não muito profundos e lamacen-
nal. Escapa ao homem que o tinha guarda- tos, e os remansos lodosos das praias, on-
do numa caixa para comê-lo, lisonjeando as de há perigo de a encontrar de manhã e de
crianças, que tinham ficado em casa. Chega tarde. Como comida, a sua carne é pouco
ao céu escondido no balaio de um dos con- apreciada.
vidados, com quem tinha apostado que lá IAUYRA CAÁ folha-de-arraia, casta de So-
o encontraria. Só com o macaco não se sai lanácea. Dizem-na um bom depurativo.
bem, que o deixa em cima de um galho de ICAMBY, ICAMY leite, mama. V Camby e comp.
pau, sem que possa descer; mas ainda assim ICAMBYSARA ama-seca, ama de leite.
sai airosamente do aperto, matando a onça ICAMBYUARA que tem mamas.
que lhe ampara a queda. Manha e paciência, ICATU o bom, o bem.
as duas virtudes fundamentais do indígena, ICAU gritado, falado áspero a alguém. V Iacau.
são os atributos do jabuti; o tempo que po- ICAUA i. gordo, gorduroso. 2. nome genérico
de gastar é indiferente e só perde a esperança de qualquer gordura, manteiga, azeite ani-
de sair-se do aperto quando enterrado pelo mal ou toucinho. Paranã icaua: rio gordo, is-
taperebá. Debaixo de outra qualquer espé- to é, o rio que, espraiado, se torna profun-
ICAUA CENDI
do e cheio, correndo entre margens altas, que ICYCA MUNHANGARA quem prepara o breu
deixam uma pequena passagem às águas, as para calafetar as embarcações.
quais logo abaixo voltam a espraiar-se. ICYCANTÃ breu, cerol, expressamente prepa-
ICAUA CENDI vela, lamparina; gordura acesa. rado para brear o tucum e o curauá, com
A lamparina indígena é um caco, raramente que preparam as flechas.
uma vasilha feita expressamente, em que é ICYCA-PORA cheio de resina, resinoso.
posto um pouco de gordura, geralmente de ICYCA-YUA pau-de-breu. Designação que tem
peixe-boi, e uma torcida qualquer. somente quando por acaso não conhecem a
ICAUASAUA gordura. árvore que o fornece, ou quando, encomen-
ICAUAUARA gorduroso. dando o breu, é indiferente a planta de que
ICENAU queixo, barba, a parte inferior do se tire.
rosto. ICYMA', ICYYMA liso, sem aspereza.
ICICUÉ vivido, vivo. ICYMA', ICYYMA casta de Malvácea que dá
ICICUÉ-PORA vivente. uma fibra muito fina e de aspecto seríceo.
ICICUÉ-SARA vivedor, que faz viver. ICYRÃ, ICYRÃN enfileirado.
ICICUÉ-SAUA vida. ICYRANGARA enfileirador.
ICICUÉ-YMA sem vida. ICYRANGAUA fileira.
ICIEÍ dormente, dolorido. Diz-se dos mem- IÉ machado. V Ndyi.
bros que ficam como entorpecidos por ter IEAUI baixado.
ficado em má postura. Xaicó cé py icieí: es- IEIÚ jeju, pequeno peixe de escama, que os
tou com o pé dormente. pescadores do baixo Amazonas dizem ser a
ICÔ sido, estado, residido, jazido, passado, melhor isca para pegar pirarucu de anzol.
ido. Mata reicô?: como passas? Makiti rei- Pelo que afirmam, tem épocas em que tem
cô cuire?: onde resides agora? Xaicô catu: es- mênstruos e em que para nada serve.
tou bom. IEIÚRE voltando-se. V Jure e comp.
ICÔ-AYUA sido, estado ruim, passado pessi- IEIUÍRE revirado.
mamente. IEIUIRESARA revirador.
ICÔ-CECÉ pretendido. IEIUIRESAUA reviramento.
ICOI ides, irregular. IEIUIRETAUA reviradouro. Paranã ieiuire-
ICÔ-NHUNTO, ICÔ-NHOTEM sossegado, esta- taua: remanso do rio, onde as águas viram
do tão somente. Ixé? Xaicô-nhunto: eu? es- sobre si mesmas.
tou sossegado. IEIUIREUARA revirante.
ICÔ-PECATU estado, residido longe. Cuá mi- IEIUIREYMA sem reviramento, sem remanso.
ra oicô pecatu: esta gente mora longe. IEKI aguilhoado, picado.
rcô-Pucu alongado, retardado, demorado. IEKI-MANHA aguilhoador.
Má arama reicô-pucu?: por que demoras? IEKIPAUA aguilhoada, picadura.
Cuá rupi iané rapé eicô-pucu: por cá o nosso IEKIPORA aguilhoado, picado.
caminho alonga. IEKITAIA ', IUKITAIA pimenta malagueta se-
ICÔ-PUXI afeado, feito feio, feito difícil. cada e moída muito fina, misturada com sal.
ICOSOCOPÉ hóspede. IEKITAIA', IUKITAIA casta de formiga miu-
rcouARA passante, estante, residente. díssima, avermelhada, e que, em contato
rcuÁ, cuÁ curva, cintura. com a pele, produz uma ardência muito in-
ICURÉ porco-doméstico. cômoda, como da pimenta.
ICY áspero, desigual, pegajoso. IEKIUARA aguilhoante, picante.
ICYCA resina, visgo, cola mais ou menos con- IEKIYMA que não aguilhoa, não pica.
sistente, sempre, todavia, sujeita a coagu- IEKY' jequi, casta de cofo.
lar-se, que exsudam naturalmente certas IEKY' uma armadilha para peixes, tecida
plantas. com talas em forma de paneiro alongado,
ICYCA IRERU vaso da resina, vasilha em que é em que o peixe entra por uma ou duas aber-
preparado o breu. turas, sendo obstado na saída pela ponta
IERÉUA
das talas, voltadas para dentro, que as for- IEPE-I uma vez. J iepeuara: a primeira vez.
mam. O jequi é iscado e conservado no fun- Amu f iaué: como da outra vez.
do da água por meio de uma pedra. IEPÉ-IANDÉ-suí um de nós. Iepé penhê suí:
IEKYTYUÁ jequitibá, árvore que produz uma um de vós.
fruta, com que iscam o jequi. IEPÉ IEPÉ um a um. Osoana iepé iepé: foram-
IEMBUCA enforcado. -se um a um.
IEMBUCAMBYRA morto, enforcado. IEPÉ-MAMANA amarrados juntos.
IEMBUCASARA enforcador. IEPÉ-NHUÍRA só um.
IEMBUCASAUA enforcamento. IEPÉ-NHUN SÓ.
IEMBUCATYUA enforcadouro. IEPÉ-NHUNTO somente.
IEMBUCAUARA enforcante. IEPÉ-NUNGARA como um. Uma coisa, uma
IEMBUCAYMA não enforcado. espécie, uma classe. Tapiya oú pupunha ta-
IEMBUCAYUA o pau da forca, a forca. puru iepé nungara: o tapuio come uma clas-
IEMBUCA-XAMA a corda de forca. se de bicho da pupunha. Tananã pixuna iepé
IENEPIÁ parte interna do joelho. nungara: uma espécie de gafanhoto preto.
IENIPAUA jenipapo. Grossa baga de sabor IEPÉ-PENHE-RUPI o primeiro entre vós.
adocicado e oleaginosa, de que se fazem re- IEPÉ-RECÉ logo, incontinente.
frescos, doces e um licor muito apreciado. IEPÉ-RECÉUÁRA afoito, de primeiro ímpeto.
IENIPAUATYUA lugar de jenipapos. IEPÉUA cada um.
IENIPAUAYUA jenipapeiro, Genipa brasilien- IEPÉUÁRA o primeiro.
sis. Árvore que cresce de preferência nas ter- IEPÉUASÚ unidos, juntos. Oiuíire iepéuasú
ras firmes, adquirindo grande altura e desen- oca kiti: voltam juntos à casa.
volvimento. A sua madeira, de fibras longas IEPIÚ jepiú. Pau-marfim. É árvore da terra
e elásticas, é própria para trabalhos de tor- firme, que fornece uma madeira de fibras
no e usada para remos; pode vantajosamen- muito fechadas e que toma bem o polimen-
te substituir a faia. Da maceração dos reno- to; serve para obras de marcenaria.
vos, extraem uma tinta arroxeada com que IEPOIN cevado, engordado.
as mulheres, com especialidade, pintam a ca- IEPOINGARA cevador, engordador.
ra e o colo, com o fim, dizem, de amaciar e IEPOINGAUA cevamento, engorda.
embranquecer a pele e livrá-la de doenças. IEPOIN-RENDAUA cevadouro, lugar de ceva.
Na maloca é usada juntamente com o cara- IEPOIN-YUA o que serve para cevar.
juru para pintar-se nas danças, e as moças, IERAMÉ desbotado.
mesmo diariamente, gostam de trazer pinta- IERAMÉSÁUA desbotamento.
do com jenipapo o dorso, o colo e os braços, IERAMÉUÁRA desbotante.
e, em alguma tribo, é sinal de moça solteira. IERARAUÁ mentido, falso.
IENÔ deitado. Oienô iembyra makyra kiti: IERARAUAIA mentira, falsidade.
deitou o filho na rede. IERASUCA definhado, minguado. Yacy iera-
IENOSAUA deitada. suca: lua minguada, minguante.
IENÔ-RENDAUA lugar de deitar-se. IERASUCASARA emagrecedor.
IENOTYUA cama. IERASUCASAUA emagrecimento.
IENOUARA deitante. IERASUCAUERA emagrecente.
IENOUERA deitadiço, que se deita facilmente. IERASUCAYMA não emagrecido.
IENOYMA não deitado. IERÉ-IERÉU estrebuchado.
IEPÉ' um. IEREU virado, girado, espojado.
IEPÉ' forma verbal que, posposta ao ver- IERÉUA corta-água, Rhynchops nigra. Casta
bo, lhe dá a significação de imperfeito [do] de gaivota facilmente reconhecível pelo bi-
indicativo. Xamunhã iepé: fazia. Tuixaua co achatado no sentido da largura, em for-
omunhã iepé: o tuxaua fazia. ma de faca, e com a especialidade de ser a
IEPEÁ lenha, madeira cortada própria para parte superior mais curta do que a inferior.
o fogo. Espalhada em todo o país, tem-se afirma-
do que não se encontra a mais de um dia da IKEUARA deste lugar, que é daqui.
costa. Aqui no Amazonas, a menos que não IKIÁ sujado, sujo. Iuaca ikiá: céu sujo, nubla-
se trate de uma variedade, o que não parece, do, nuvem.
tenho-a encontrado espalhada tanto no rio IKIÁSÁRA sujador.
Negro como no Solimões e seus afluentes. IKIÁSÁUA sujidade.
Desova nas praias em companhia de acu- IKIAUÁ o sujo.
rauas e gaivotas, deixando ao sol o cuidado IKIÁ-RENDAUA lugar onde se suja.
de chocar os ovos, postos na areia sem ou- IKISAUA entrada.
tro preparo. No Sul do país, ieréua, jereba, é IKIAUARA sujante.
o nome de uma espécie de urubu. IKIÁ-YMA não sujo, que não suja.
IEREUÁ o virado, o girado, o espojado. IKIUYRA a irmã com referência à irmã.
IEREUARA virante, girante. IKYERA, IKY!ERA gordura.
IEREUSARA virador, girador. IKYRA engordado, gordo.
!EREUSAUA viração, girada. IKYRASARA engordador.
IEREUTYUA viradouro, giradouro. IKYRASAUA engorda, engordamento.
IEREUYMA não virado, girado, espojado. IKYRATÉUA chiqueiro, lugar de engorda.
IERI sustentado, mantido em pé, mantido di- IKYRAUÁ engordado.
reito. IKYRAUARA engordante.
IERISARA sustentador. IKYRA-YMA não engordado.
IERISAUA sustentáculo, sustentação. A has- IMACY doente. V Macy e comp.
te das flores e das folhas. Potyra ierisaua: a IMACYUÁ o doente.
haste da flor. IMBÉ casta de filodendro.
IERIUÁ jeribá, casta de coco. IMBYRA, EMBYRA envira, casta de Bombácea
IERÕN perdoado. e espécies afins, cuja casca se destaca com
IERONGARA perdoador. facilidade, e cujo líber é mais ou menos re-
!ERONGAUA perdão. sistente.
IERÕN-YMA não perdoado. IMBYRASU embira grande.
IEUARU enojado, nojo. IMBYRATINGA envira branca. O líber dá
IEUARUSAUA nojo. umas fibras bastante resistentes e claras,
IEUARUUARA nojento. que poderiam servir para cordas.
IEUÍRE outra vez. IMBU fruta comestível, casta de Spondias.
rnurnr voltado, repetido, arribado. IMBURANA falso imbu.
IEUIRISARA repetidor, arribador, que faz IMEÚNA ralo, pouco espesso.
voltar. IMUÃN coado, passado na peneira.
IEUIRISAUA repetição, volta, arribação. !MUANGARA coador.
IEUIRITAUA lugar de arribação, da volta. IMUANGAUA coamento.
IEUIRIUARA arribante, voltante. IMUANTAUA coadouro.
IEUIRIUERA que arriba, volta, repete porcos- !MUI dividido, partido. V Mui e comp.
tume. IMUIYMA indivisível.
!EUIRIYMA não voltado, repetido, arribado. IN disse. Forma irregular de nheén, usada em
IEUIUÍRI revirado, alguns lugares do rio Negro e Solimões.
IKÉ, IKI entrado. V Eiki. INAIÁ inajá, Atalea compta. Casta de palmei-
IKÉ aqui, cá, ao pé. ra dos lugares úmidos.
IKÉ-CATU aqui mesmo, bem aqui. INAIAI inajaí, Atalea humilis. Casta de pal-
IKÉ-KITI para cá. meira, espécie menor do que a anterior.
lKÉ-NHUNTO até cá, só aqui. INAIATYUA inajatuba, lugar de inajás.
IKENTE INAIÉ, INAIÁ inajé, banana-ouro. Casta de
IKÉ-RUAKE aqui perto. pequena banana muito saborosa.
IKÉ-RUPI por cá. INAIÉ inajé, Nisus magnirostris. Casta de
IKÉ-suí de cá, daqui. gavião.
INTIMAÃ-MAÃ
IRAICYCA breu do mel, cera. ras lhes permitia fazê-lo, numerosos dese-
IRAITY cera, cerol, breu, o mel que se usa pa- nhos feitos, ao que parece, gastando a pe-
ra conservar úmido o tabaco em corda. dra com outra pedra. No lugar denomina-
IRAMANHA, IRAMAIA mãe do mel, abelha. do Lages, na confluência do Solimões com
Curioso amalgama de nheengatu e portu- o rio Negro, que passam a formar o verda-
guês estropiado. deiro Amazonas, por exemplo, as inscri-
IRAPÉ, YRAPÉ fibra da madeira, veios. Lit.: ções vêm misturadas com riscos mais ou
caminho da água. menos profundos, que não parecem ser ou-
IRAPOÃ casta de abelha, que faz o ninho re- tra coisa senão traços deixados pelos afia-
dondo. dores de machados; mas outros lugares há
IRARA papa-mel, Callitrix barbara. Lindo em que tal mistura não se observa, e, em-
mustelídeo, cor de café queimado-escuro, bora toscas, as figuras demonstram que fo-
quase preto em alguns indivíduos, e uma ram feitas com um fim determinado, o que
mancha branca embaixo da goela. é confirmado também pela repetição de
IRA-REPUTI cera. Lit.: excremento do mel. certos sinais e figuras. Quando as encon-
IRAUSARA amargor. trei da primeira vez - e foi em Mura, no rio
IRADA amargo, amargoso. Negro - duvidei logo que fossem, como se
IRA-AYUA mel ruim, amargoso e venenoso. pretendia, simples trabalhos de desocupa-
IRERU, IRIRU vasilha, paneiro, o que serve dos sem escopo nenhum. Mais tarde, no
para agasalhar e transportar qualquer coi- alto Uaupés, toda e qualquer dúvida a res-
sa. Uy ireru: paneiro de farinha de man- peito me foi tirada. Tais desenhos, embo-
dioca. ra toscos e de uma ingenuidade quase in-
IRITI casta de abelha, cujo mel é insignifi- fantil, especialmente quando comparados
cante. com o que se quis representar, são verdadei-
IRUMO junto, em companhia, com. Resó aé ros e próprios hieróglifos, sinais convencio-
irumo: vá com ele. Oiké oca kiti amuitá iru- nais com significação ainda hoje conhecida
mo: entra em casa com os outros. pelos nossos indígenas, que os veneram co-
IRUMUARA companheiro. mo monumentos deixados pelos seus maio-
IRUMUARASAUA camaradagem. res. De algumas delas me foi dado obter a
IRUMUARA-YMA sozinho, sem companheiro. significação e uma espécie de chave, que
IRUNDI quatro (Rio Negro). foi publicada com uma coleção de inscri-
IRURU molhado. ções pertencentes à região do rio Uaupés no
IRURUPAUA, IRURUSAUA molhadela. Bulettino della Societá Geographica Italiana
IRUSANGA sombra, frescor, umidade. (fase. V de 1900). Como a sua ubiqua-
rsÁ a fêmea de uma casta de saúva (Solimões). ção parecia dizê-lo, muitas delas são indi-
ISÁTÁIA molho de tucupi, pimenta-malague- cações de migrações, sinais deixados pelos
ta e abdômens de içá ovadas. troços que precedem, para guia dos que se-
ISAYUA saúva (o tronco, a mãe da içá?). V Isá guem, com a menção do modo de acolhi-
e Sayua. mento, recursos da localidade, tempo de
ISUSANGA sossego, calma, paz. demora, via seguida etc. etc. Outras se re-
ITÁ, ETÁ sufixo do plural. V Etá. ferem a lendas e tradições dos diversos po-
ITÁ pedra, ferro. vos que nele se seguiram ou à lei e aos ritos
ITÁ-AYUA pedra má, pedra ruim. do Jurupari. Em qualquer caso, tinha razão
ITÁ-CAMBIRA forcado, tenaz, compasso. o velho Quenomo, um cubeua do Cuduiari,
ITÁ-CEEN pedra doce, barreiro. quando dizia a Max J. Roberto, o meu com-
ITÁ-CEPI pedra cara, pedra preciosa. panheiro de jornada na minha última via-
ITACOATIARA pedra pintada ou esculpida. gem ao Uaupés: Penhe coatiara papera, iané
Os indígenas deixaram aqui e acolá, nos lu- iarecô itá itacoatiara arama: vocês escrevem
gares de passagem e demora forçadas, onde o papel, nós temos as pedras para escrever.
a existência de pedras mais ou menos du- As inscrições que fizeram dar a Serpa o no-
ITACUÃ
IUACA TINGA neblina. latas, cheios com a mesma gordura que ser-
IUÁCAUÁRA celeste, que é do céu. viu para fritá-los.
IUACEMA furunculose. Saída de fruta de es- IUARAUÁ-PYTYMA tabaco-de-peixe-boi, ar-
pinho. busto do igapó.
IUAENTI, IUANTI encontrado, topado. IUARU enjoado.
IUAENTISARA encontrador. IUARUSARA enjoador.
IUAENTISAUA encontro. IUARUSAUA enjoo.
IUAENTI RENDAVA encontradouro. IUARUUARA enjoante.
IUAENTI-UARA encontrante. IUARUUERA enjoativo.
IUAENTI-UERA encontradiço. IUARU-YMA não enjoativo.
IUAENTI-YMA não encontrado. IUASU difícil, grande.
IUAKI provocado, excitado, bulido. IUASUPAUA dificuldade, engrandecimento.
IUAKISARA provocador. IUASUPORA dificultante, engrandecedor.
IUAKISAUA provocação. IUASU-YMA não difícil, não grande.
IUAKIUARA provocante. IUATÉ alto, elevado.
IUAKIUERA provocadiço. IUATÉSÁRA elevador.
IUAKI-YMA não provocado. IUATÉSÁUA elevação, altura.
IUAMBIUCA se assoado. IUATÉTÁUA lugar elevado, alto.
IUANTi encontrado. V Iuaentí e comp. IUATÉUÁRA elevante.
IUAPICICA atento, preso a, sujeito. Opitana IUATÉUÉRA elevante mais de aparência que
oiuapicica i iuru sui: ficou preso aos seus lá- de fato.
bios. V Picica e comp. IUATÉ-YMA não alto, não elevado.
IUAPISAI salsa. V Iusapu. IUATINGA juá-branco.
IUAPIXÁ se acutilado. IUCA apodrecido.
IUAPIXÁ-PIXÁ se entreacutilado. rncÁ matado, morto por mão de alguém.
IUARANA falso juá. IUCAAÁ se cagado. V Caaá e comp.
IUARAUÁ' peixe-boi, Manatus americanus, IUCACY amofinado.
manantim. Sirênio eminentemente herbí- IUCACYPAUA amofinamento.
voro, que vive em todos os rios e lagos do IUCACYPORA amofinador.
Amazonas e se encontra até aos pés dos IUCACYUARA amofinante.
Andes. A sua carne lembra alguma coisa a IUCACYUERA amofinadiço.
carne de porco e, embora considerada pou- IUCACY-YMA não amofinado.
co sadia, é geralmente muito apreciada, pe- IUCAE se sarado. V Cae e comp.
lo que em toda a parte lhe é feita ativa ca- rncAi se apertado. V Caí e comp.
ça. No Solimões, o preparo da mixira de IUCAÍ se queimado. V: Caí e comp.
peixe-boi é um ramo de indústria local, e IUCAMBYRA morto, matado.
o seu produto é muito apreciado tanto em IUCAMEEN se oferecido.
Manaus como no Pará. IUCAMIRYCA se comprimido, se aproxima-
IUARAUÁ Peixe-boi. Na Astronomia indíge-
2
do, se apertado. V Camiryca e comp.
na é o nome que é dado à Macula magella- lUCANA podre.
nica [mancha de Magalhães], que está ao pé IUCANCIRA se amassado. V Cancira e comp.
do Cruzeiro, também conhecida como "sa- IUCANHEMO se perdido, se extraviado. V
co de carvão". V Cacuri. Canhemo.
IUARAUÁ-CAMY mamas-de-peixe-boi, fruta IUCANEU se atribulado. V Caneu e comp.
de um cipó do igapó. rncAPAUA podridão. Pereua iucapaua: po-
IUARAUÁ-MIXIRA fritura de peixe-boi. A car- dridão da chaga.
ne de peixe-boi recortada em pequenos pe- IUCAPIRA morto (corpo matado).
daços, frita em largos tachos na sua própria IUCAPORA apodrecedor, podre.
gordura e conservada em vasos apropriados, IUCARAIN se coçado. V Caraín e comp.
antigamente de barro, hoje geralmente em rncÁRI sedominado,quemandaemsi. V Cári.
IUÉIAÚ
IUIUTU-UASU vento forte, vento bravo. -claras, muito comum ao longo dos rios
IUIUYRA rápido, corredeira. Paranã iuiuyra: amazônicos.
corredeira do rio. IUKYRAYMA sem sal, insosso.
IUIUYRA-UASU cachoeira, corredeira grande. IUKYRA-YUKICÉ caldo de sal, salmoura.
IUKETUCA, IUCUTUCA esbarrado, batido con- IUKYRA-YUKICÉ-IRERU vasilha de salmoura.
tra. V. Cutuca e comp. IUKYRE, IUKYRI adormecido-se. V. Kyre e
IUKI casta de gavião que tem fama de forte e comp.
atrevido. Não o conheço. IUKYY esgotado-se, findado-se, exaurido-se.
IUKIÁ nassa tecida de talas ou cipó, de for- IUKYYPÁUA esgotamento.
ma alongada e aberta em ambas as extremi- IUKYYPÓRA esgotante, esgotador.
dades em forma de funil, por onde o peixe IUKYYUÁ esgoto [= esgotamento].
entra com algum esforço. Entrado, fica pre- IUMÃ torcido, dobrado.
so, sendo-lhe impedida a saída pelas pontas IUMAÃ enxergado-se, visto-se. V. Maã e
das talas que, viradas para dentro, se per- comp.; admirado.
mitem a entrada, impedem a saída. É arma- IUMACI faminto.
dilha mais especialmente usada para pescar IUMACÍPÓRA cheio de necessidade de comer.
nos igarapés. IUMACIUA o que tem muita fome.
IUKH cunhada. IUMACÍSÁUA fome.
IUKIRY pavãozinho, pavão-do-pará. Eury- IUMACÍYMA sem fome, satisfeito.
pyga helias. Elegante ave ribeirinha muito IUMACÍXÍNGA que tem apetite.
comum e apreciada em domesticidade pela IUMAIÃNA feito-se ao largo, deixar a costa.
sua mansidão, elegância e o hábito de apa- IUMAIÃNAPÁUA ato ou efeito de fazer-se ao
nhar moscas com uma graça e habilidade largo, deixar a costa.
extraordinárias. A cada instante faz a roda, IUMAIÃNASÁRA quem se faz ao largo, deixa
tufa todo, e abre em leque as asas e a cauda, a costa.
e balançando-se encolhe o pescoço, pron- IUMAIÃNAYMA que não se afasta, não se faz
to porém sempre a ferrar com o fino bico ao largo.
apontado. IUMAMANA enrolado-se, enovelado-se. V.
IUKITAIA V. Iekitaia. Mamana e comp.
IUKITYCA ralado. IUMANA, IUMANE envolvido, abraçado.
IUKITYCASÁRA ralador. IUMÁNAPÁUA envolvimento.
IUKITYCASÁUA ralação. IUMÁNASÁRA envolvedor, abraçador.
IUKITYCATÁUA raladouro. IUMÁNASÁUA abraço.
IUKITYCAUA raladura. IUMÁNAUÉRA abraçante.
IUKITYCAUÁRA ralante. IUMÁNAYMA não envolvido, não abraçado.
IUKITYCAUÉRA ralante, pouco hábil, pregui- IUMANGARA torcedor.
çoso. IUMANGAUA torcedura.
IUKITYCAYMA rão ralado. IUMANO finado-se, feito-se morto, morto.
IUKYRA sal. IUMÃYMA não torcido.
IUKYRAUÁ salgado. IUMÃXÍNGA apenas torcido.
IUKYRA MANHA salina. IUMBAU, IUMPAU acabado-se, findado-se,
IUKYRAPÁUA salgamento. completado-se. V. Mbau e comp.
IUKYRAPÓRA salgante, salgador. IUMBAÚ comido-se. V. Mbaú e comp.
IUKYRATYUA salgadouro. IUMBEÚ dirigido-se, voltado-se para falar ou
IUKY-IUKYRE dorminhoco; casta de Mi- ouvir. V. Mbeú e comp.
mosa. IUMBUÉ rezado, pedido. V. Mbué e comp.
IUKYRE-CAA folha que dorme, casta de sen- IUMBUÉUA reza, pedido.
sitiva, mata-pasto. IUMBUÉSÁUA ato de rezar ou pedir.
IUKYRi casta de sensitiva espinhosa das IUMBURE jogado fora, lançado de si. V. Mbure.
praias, elegante Mimosácea de flores rosa- IUMBURE REMIRICÔ I SUI divorciar.
IUMEÊ
= 393 =
IURARÁ ICAUA
00
394 ""
IURUPARY-TATÁ-PORA
rupta a palavra, qualquer das duas tradu- e, pode-se afirmar, influem ainda em mui-
ções está conforme a tradução indígena e, tos lugares do nosso interior sobre os usos e
no fundo, exprime a mesma ideia supers- costumes atuais; e o não conhecê-las tem de-
ticiosa dos selvagens, segundo a qual este certo produzido mais malentendidos, enga-
ente sobrenatural visita os homens em so- nos e atritos do que geralmente se pensa. Ao
nho e causa aflições tanto maiores, quan- mesmo tempo, porém, tem permitido, co-
to, trazendo-lhes imagens de perigos horrí- mo tenho tido mais de uma vez ocasião de
veis, os impede de gritar, isto é, tira-lhes a observar pessoalmente, que, ao lado das leis
faculdade da voz:' Esta concepção, que po- e costumes trazidos pelo Cristianismo e pe-
derá ser a que criaram as amas de leite amal- la civilização europeia, subsistam ainda uns
gamando as superstições indígenas com as tantos usos e costumes, que, embora mais
de além-mar, tanto vindas da África co- ou menos conscientemente praticados, in-
mo da Europa, não é a do nosso indígena. dicam quanto era forte a tradição indígena.
Para ele, Jurupari é o Legislador, o filho da Quanto à origem do nome, aceito a ex-
virgem, concebido sem cópula pela virtu- plicação que dela me foi dada por um ve-
de do sumo da cucura-do-mato e que veio lho tapuia, a quem objetava me ter sido afir-
mandado pelo Sol para reformar os costu- mado que o nome de Jurupari queria dizer
mes da Terra, a fim de poder encontrar ne- "o gerado da fruta''. Intimãã, Iurupary cera
la uma mulher perfeita, com que o Sol pos- onheen putare omunhã iané iuru pari uá:
sa casar. Jurupari, conforme contam, ainda Nada disso, o nome de Jurupari quer dizer
não a encontrou, e embora ninguém saiba que fez o fecho da nossa boca. Vindo por-
onde, continua a procurá-la e só voltará ao tanto de iuru, boca, e pary, aquela grade de
céu quando a tiver encontrado. Jurupari é, talas com que se fecham os igarapés e bocas
pois, o antenado lendário, o legislador divi- de lagos, para impedir que o peixe saia ou
nizado, que se encontra como base em todas entre. Explicação que me satisfaz, porque
as religiões e mitos primitivos. Quando ele de um lado caracteriza a parte mais salien -
apareceu, eram as mulheres que mandavam te do ensinamento de Jurupari, a instituição
e os homens obedeciam, o que era contrário do segredo, e do outro lado, sem esforço se
às leis do Sol. Ele tirou o poder das mãos das presta a mesma explicação nos vários dia-
mulheres e o restituiu aos homens, e, para letos tupi-guaranis, como se pode ver em
que estes aprendessem a ser independentes Montoia às vozes yuru e pary e às mesmas
daquelas, instituiu umas festas em que so- vozes em Baptista Caetano.
mente os homens podem tomar parte e uns IURUPARY-KIAUA pente de Jurupari, cento-
segredos que somente podem ser conheci- peia, Escolopendra.
dos por estes. As mulheres que os surpreen- IURUPARY-MACACA casta de macaco todo
dem devem morrer e em obediência desta preto e muito peludo, Cebus Satanas.
lei morreu Ceucy, a própria mãe de Jurupari. IURUPARY-PINDÁ anzol-do-diabo, casta de
Ainda assim, nem todos os homens conhe- arbusto muito espinhoso da margem do rio,
cem o segredo; só o conhecem os iniciados, e que parece gostar dos lugares de corredei-
os que chegados à puberdade derem prova ra, onde em tempo de enchente incomoda
de saber suportar a dor, serem segredos e os que vêm subindo os rios a gancho, ou
destemidos. Os usos, leis e preceitos ensina- macaqueando, isto é, agarrando-se com as
dos por Jurupari e conservados pela tradição mãos à vegetação da margem.
ainda hoje são professados e escrupulosa- IURUPARYI-PINDÁ-PUTAUA pequeno peixe
mente observados por numerosos indígenas geófago, espécie de cuiú-cuiú, que somen-
da bacia do Amazonas, e, embora tudo le- te presta para isca do anzol, de onde o nome
ve a pensar que o de Jurupari é mito tupi- de isca do anzol de Jurupari.
-guarani, todavia tenho visto praticadas suas IURUPARY-TATÁ fogo do diabo.
leis por tribos das mais diversas proveniên- IURUPARY-TATÁ-PORA morador do fogo do
cias, e em todo o caso largamente influíram diabo, demônio.
"' 395 =
IURUPAR Y-TATÁ-TETAMA
fruta é das melhores da sua classe[; jutaí- rnúcASÁUA extração, desentupimento, tirada.
pororoca]. IUÚCAUÁ o que se saca, tira, extrai, desem-
IUTAY-YUA jutaizeiro, nome de várias es- baraça.
pécies do Hymenoea, todas árvores de al- ruÚCAUÁRA tirante, sacante, extrainte.
to porte e que crescem de preferência nas IUÚCAYMA não tirado, não sacado, não de-
terras firmes. A sua madeira é utilizada em sembaraçado.
construções civis e obras de marcenaria. A IUÚNA, JUÚNA nome que alguma vez se ou-
árvore, especialmente se isolada nos des- ve dar à jurubeba. Casta de solanácea, de
campados, afirmam, que tem a propriedade que apregoam as propriedades depurativas
de atrair o raio, e se dá como imprudência do sangue.
estar-lhe ao pé quando ameaça trovoada. IUYCA envolvido, engasgado, enforcado.
IUTAXI casta de abelha, que costuma fazer IUYCÁ surgido, saído, esguichado, especial-
seu ninho nos jutaizeiros. mente dos líquidos.
IUTIMA plantada. IUYCÁMBYRA morto enforcado, engasgado,
IUTIMASARA plantador. envolvido.
IUTIMASAUA lugar de plantação, planta- IUYCAUA-PAUA esguichamento, ato de sair,
douro. surgir.
IUTIMAUÁ planta, o plantado. IUYCÁ-PORA esguichante, surginte, sainte.
IUTIMAUARA plantante. IUYCÁSÁRA enforcador, engasgador, envol-
IUTIMAUERA plantável. vedor.
IUTIMAYMA não plantado. IUYCÁSÁUA enforcamento, engasgamento, en-
IUTUCA ferido-se, golpeado-se, batido-se. volvimento.
IUTURAMA revolvido-se. V Turama e comp. IUYCÁTYUA, IUYCÁTENDÁUA enforcadouro,
IUTUÚMA lambuzado-se. V Tuúma e comp. engasgadouro.
IUTYCA batata; enterrado, afincado. IUYCAUÁ o engasgado, o enforcado.
IUTYCASARA enterrador, afincador. IUYCÁUÁRA enforcante, engasgante.
IUTYCASAUA enterramento, afincamento. IUYCÁUÉRA enforcável, engasgável.
IUTYCATAUA, IUTICATENDAUA afincadouro, IUYCÁYMA não enforcado, não engasgado.
enterradouro. IUYIUYRE precipitado na descida, revirado.
IUTYCAUARA enterrante, afincante. IUYRE descido, baixado, virado.
IUTYCAYMA não enterrado, não afincado. IUYRESARA descedor, baixador, virador.
IUTYCU desfeito-se, desmanchado-se, diluí- IUYRESAUA descimento, baixamento, viração.
do-se. V Tycu e comp. IUYRETAUA descida, baixada, virada, com re-
IUTYME acotovelado-se. ferência ao lugar.
IUTYMEPAUA acotovelamento. IUYREUÁ o descido, o baixado, o virado.
IUTYMEPORA acotovelador, acotovelante. IUYREUARA baixante, descente, virante.
IUTYMEYMA não acotovelado. IUYREUERA baixável, descível, virável.
IUTYUA jutuba, espinhal, lugar de espinhos. IUYREYMA não descido, não baixado, não vi-
IUUAY tamarindo, fruta do tamarindeiro, rado.
uma síliqua contendo pequenas sementes IUXIARA deixado-se, abandonado-se. V
envolvidas em polpa acidulada, de que se Xiári e comp.
fazem doces e o purgativo bem conhecido IUXIKI arrastado-se. V Xi/d e comp.
com o nome de "polpa de tamarindo''. IXAMA corda, enfiada, cambada; casta de pe-
IUUAY-YUA tamarindeiro. queno peixe.
ruúcA tirado, sacado, desentupido, desem- rxÉ eu, mim, me. Ixé xacuao putare, maerecé
baraçado, extraído. Reiuúca iú ce suí: ti- inti recenoicári ixé: eu quero saber, por que
ra o espinho do meu pé. Pé apitá oiuúca não me chamas.
myrá suí: o caminho ficou desembaraçado rxÉ IARA eu o dono, meu. Aua ixé iara?:
de paus. quem o dono? Cuá maaitá paua ixé iara: eu
IUÚCAUÁRA tirador, sacador, desentupidor. o dono de tudo isso.
co-íris, pelo que os sonhos mandados por contra em todas as malocas e casas indíge-
Tupana são os que se fazem de dia. Para os nas. É conservado ao lume numa panelinha
Tupis, pelo contrário, eram os da madruga- de barro, e, nas malocas, as mulheres, tan-
da, quando a velha descia nos últimos raios to no alto Rio Negro como no Orenoco e
das estrelas. nos afluentes de ambos, o vêm oferecer ao
KETECA ralado. V Kityca. hóspede conjuntamente com beiju e car-
KETUÁ casta de periquito, de cauda graduada. nes ou peixes moqueados. Queima que é
KÉUA pulga. um inferno, e nunca me pude acostumar a
KÉUA-RANA caspa. ele. Como, porém, do que oferecem é neces-
KEUÁUA ponte (Solimões). sário comer, desde que é o modo de mos-
KEUYRA primo-irmão. trar-se agradecido à recepção e confiante, e
KI, IKÉ aqui. V Iké. o não comer é tido como ato de desconfian-
KIÁ sujo. V Ikiá e comp. ça, senão de franca hostilidade, tanto mais
KIAUA pente, o sujo (Rio Negro). quando, em geral, os donos da casa comem
KICÉ faca ou outro qualquer objeto cortante. também junto com os hóspedes, eu fingia
Ui-kicé: faca para farinha, ralo, ou que te- mergulhar também meu pedaço de comida
nha a forma de faca. Arara-kicé: faca de ara- no maldito molho, mas guardava-me bem
ra, casta de Leguminosa. de o fazer realmente, embora a comida seja
KICÉ-ACICA faca que chega; pedaço de faca insossa por falta de sal.
que apesar de quebrada ainda chega para o KIRA gordo, cheio de seiva, vigoroso.
serviço. KIRANA falsa gordura, inchação.
KICÉ-APARA faca torta; foice. KIRARI casta de pequena rã arbórea.
KICÉ-PORA cheio de facas, faquista. KIRAUA gordura. Taiasu kiraua: !ardo.
KICÉ-UASU faca grande, facão, terçado. KIRICA cócega.
KICEUI espada. KIRICAUERA coceguento.
KIMBURU, KIMMURU planta herbácea de fo- KIRÓA espinha de peixe.
lhas reniformes, verde-escuras, levemente KIRUÁ casta de pássaro, que não conheço.
pilosas e opostas, pequenas flores amarelas, KISUCUI eis aqui.
dispostas em umbela na inserção das folhas, KITI a, em, na, para, onde. Akiti: para lá.
cujo leite é usado na cura das belidas e mais Coakiti: para cá. Makiti resó?: para onde?
doenças dos olhos. KITY serrado.
KINDÁ fechado. KITYCA ralado, esfregado.
KINDARA cerca de quintal, horta etc. KITYCASARA ralador.
KINDAU cercado. V Cekindau e comp. KITYCASAUA ralação.
KINHA pimenta. KITYCATYUA raladouro.
KINHA APUÁ casta de pimenta, Capsicum KITYCAUARA ralante.
baccatum, pimenta redonda. KITYCAYMA não ralado, esfregado.
KINHA CUMARI pimenta-cumari. KITYRANA fúrfura [?], caspa, película que se
KINHASU pimenta grande, Capsicum cordifor- amontoa ao pé dos cabelos, destacando-se
me. do couro cabeludo, e os torna quebradiços.
KINHAXI Pimenta-malagueta, Capsicum fruc- KITYSARA serrador.
tescens. KITYSAUA o ato de serrar.
KINHAUSÁ pimentão, pimenta-doce (pimen- KITY-SAUA-PORA serradura.
ta caranguejo), Capsicum annuum. KITY-TYUA, KITY-TENDAUA serraria.
KINHA-AUY pimenta-malagueta. KITYUARA serrante, que serra.
KINHA SUAIAUARA pimenta-do-reino, pi- KITYUOCA polido, brunido.
menta de além. KITYUOCA-SARA polidor, brunidor.
KINHA-PIRA molho feito de caldo muito re- KITYUOCA-SAUA polimento, brunidura.
duzido de carne ou peixe com pimenta em KITYUOCA-UARA polinte, bruninte.
magna quantidade. É o molho que se en- KITYUOCA-YMA não polido, não brunido.
00 402 00
MAIASAUA
molho de tucupi e uma pontinha de fome, foi gente ruim, e tudo que dela sair não po-
precisa convir que não é de todo mau; há de ser senão ruim, mau, imprestável. Na len-
coisas piores. da Mara é a filha de um pajé que, aprendida a
MANIYUA, MANIVA, MANIBA Manihot utilis- ciência paterna, dela se serve para fazer mal,
sima, e variedades todas cultivadas; a planta pelo que o pai a faz morrer para evitar que
que dá a raiz, de onde se extrai a farinha de empeste o mundo com a descendência dela.
mandioca, a tapioca, a manipueira, o tucupi O fazê-la morrer não é, porém, fácil tarefa.
etc. A maniva, ao tempo da Descoberta, foi Conhecendo Mara as intenções do pai, ilude
encontrada cultivada em todo o país, for- sempre todos os meios por este excogitados
mando como que a base da alimentação do para conseguir o seu fim, e só depois de mui-
indígena, como ainda hoje o é da alimenta- to lidar é que consegue fazê-la morrer afoga-
ção de todo o interior do Pará e Amazonas. da, mas não pode impedir que, nas ânsias da
O valor nutriente da mandioca é devido em morte, da baba dela se originem umas tantas
sua máxima parte ao princípio feculento ervas más, que servem para fazer maracaim-
que contém, à tapioca, e por via disso mes- bara, isto é, feitiços. Outra versão faz casar
mo os diversos produtos e as farinhas que Mara, e então é o marido que a mata.
dela se obtêm, valem na razão direta da ta- MARAAMA pontada.
pioca que contém. MARAARE cansado, desfalecido.
MANIXI, MANIXY fruta do igapé, do tamanho MARAÁRESÁRA desfalecedor, cansador.
de uma ginja, de cor alaranjado-viva, peri- MARAÁRESÁUA desfalecimento, cansaço.
carpo mole, de sabor adocicado. MARAÁRETÁUA cansadouro, desfalecedouro.
MANÓ morto. MARAÁREUÁRA cansante, desfalecente.
MANOANA já morto. MARAÁREUÉRA cansável, desfalecível.
MANÓ-AYUA má morte, morte súbita, apo- MARAÁREYMA não desfalecido.
plexia. MARACÁ maracá, chocalho feito de uma ca-
MANOPAUA mortandade. baça esvaziada, enfiada num pau e cheia de
MANORANA desmaiado, falso morto. pedrinhas ou de frutas duras. Os maracás
MANOSARA quem dá ou produz a morte. são feitos em geral de cuieté, mas há mara-
MANOSARA-RANA quem dá ou produz o cás feitos de um tecido de talas, e os dos pa-
desmaio. jés costumam ser feitos com uma espécie de
MANOSAUA morte. pequena coloquíntide silvestre, que cres-
MANOSAUA-RANA desmaio. ce nas serras. Os que servem para puxar a
MANOUARA morrente, moribundo. dança são pelo comum ornados de penas,
MANOUERA morredouro, mortal. que variam conforme a tribo, assim como
MANOUERA-YMA imortal. de desenhos elegantíssimos, incisos, e tor-
MANOYMA não morto. nados vistosos com tabatinga.
MANUNGARA nada, insignificância. MARACACHETA malacacheta, nome dado co-
MAPARÁ casta de peixe de pele. mumente à mica e algumas vezes a uma es-
MAPANI casta de erva. pécie de pirita. Registro a palavra, embora
MAPATI casta de árvore. tenha dúvidas sobre ser ela nheengatu.
MAPÉ? aonde? (interrogativo), contração de MARACÁ-EMBIARA comida de maracá; en-
ma e opé. feitiçado.
MAPIRE? que mais? (interrogativo). MARACAIÁ maracajá, Felis parda/is. Lindo
MARÁ vara, vergôntea. gato-do-mato, fulvo-claro, de manchas mais
MARÃ lutado, brigado, rapinado. ou menos regulares em forma de rosetas ou
MARA nos compostos traz consigo sempre a anel; chega quase ao triplo do tamanho do
ideia de algo de ruim, de mau, que não pres- nosso gato doméstico.
ta, sem dar lugar todavia na mor parte dos MARACAIAÍ maracajaí, Felis macrura. O me-
casos à tradução. Isto acontece, me dizia o nor dos gatos das florestas amazônicas, que
velho Quenomo, pajé Cubéua, porque Mara somente se distingue do maracajá pelo ta-
MARECÉ
manha, que ainda assim chega quase ao du- MARAKIRI casta de formiga.
plo do do gato doméstico. MARAMA? MA ARAMA? (interrog.) Para quê?
MARACAIÁ-UNA maracajá-preto. Lindo bicha- MARAMBA casta de árvore.
no, que não pode ser confundido com a on- MARÃMUNHÃ brigado, rixado, guerreado,
ça-preta, da qual é muitíssimo menor. De batalhado.
corpo alongado e baixo de pernas, o mara- MARÃMUNHANGARA guerreiro, batalhador,
cajá-preto é de um bruno-fulvo-escuro, bor- rixador.
ra de café, com malhas que variam de indiví- MARÃMUNHANGAUA guerra, rixa, briga, ba-
duo a indivíduo, e que em geral só são visíveis talha.
contra a luz. MARÃMUNHÃPAUA guerra, rixa, briga.
MARACAIMBARA feitiço, veneno preparado MARÃMUNHÃSARA guerreiro, rixador, bri-
pelos pajés. gador.
MARACAIMBARA-IARA feiticeiro. MARÃMUNHÃUARA rixante, brigante, guer-
MARACAIMBARA MANHA feiticeiro. reante.
MARACAIÚ, MARACAJU guizo. MARÃMUNHÃUERA brigão, rixador.
MARACAMBÁ casta de árvore das matas do MARÃMUNHAYMA pacífico, não briga, não
Pará. rixa.
MARACAMBOIA cascavel, Crotalus. cobra de MARANAN arrastado, rapinado.
maracá, cobra de chocalho. MARANANGARA arrastador, rapinador.
MARACANÃ Conurus, casta de papagaio, de MARANANGAUA arrastamento, rapina.
cauda comprida, como a das araras. MARANGARA lutador, brigador.
MARACANÃ-TYUA, MARACANATUBA terra de MARANGAUA luta, briga.
maracanãs. MARANDUUA contado, dado notícia.
MARACATi nariz de maracá, navio de guer- MARANDUUARA contador.
ra. O nome lhe vem do uso que, parece, ha- MARANDUUERA enredoso, contador de his-
via entre os indígenas de pôr na proa da ca- tórias.
noa, que saía armada para peleja, um maracá, MARANDYUA conto, notícia, história.
que, se não servia para sinais, soprado pelo MARANDYUA-PUXI má notícia.
pajé, devia levar o espanto às fileiras inimigas. MARANDUAYUA enredo.
MARACÁ- YUA haste do maracá. O pedaço de MARANDUAYUA MANHA enredoso.
pau, mais ou menos ornamentado, em que é MARANTÃ casta de arbusto.
enfiada a cuia que forma o maracá. MARAPÃ casta de planta, que dá uma fibra
MARACUIÁ maracujá, fruto de várias espé- têxtil.
cies de Passiflora, todas comestíveis e de MARAPATÁ' casta de peixe de pele.
gosto em geral muito agradável. MARAPATÁ beiju feito em folha de bananei-
2
MARAIÁ marajá, Bactris marajá, casta de pal- ra e que, por falta de forno apropriado, foi
meira. preciso assar na cinza quente.
MARAIAi marajaí, variedade de marajá. MARAPECECA formigão.
MARAIÁ PIRANGA marajá-vermelho, Bactris MARASU' comida mal preparada (Solimões).
piranga, casta de marajá. MARASU tiranizado, escravizado.
2
MARICA ventre. Corrupção do português e mesmo debaixo da terra, mas que lasca fa-
barriga? cilmente no sentido das fibras. Por isso mes-
MARICA IARA pançudo (dono de barriga). mo é pouco usada em obras de marcenaria;
MARICA MICO nome que, segundo Martius, mas, porque é muito resistente e duradoura,
é dado no alto Solimões ao barrigudo. V se fazem dela esteios e enchimentos para ca-
Aimoré. sas de taipa, que rivalizam com os de acapu e
MARICASU barriga grande, barrigudo. de itaúba preta.
MARIKI-TAIA mariquitaia, casta de árvore MASARICO várias espécies de totânidas [es-
dos arredores do Pará. colopacídeos?], que vivem geralmente em
MARIMARI marimari, fruta dos igapós e pequenos bandos ao longo das praias em
margens alagadiças, constante de uma lon- tempo de vazante, e no da enchente na mar-
ga síliqua achatada, multilocular, contendo gem dos lagos e charcos, onde nidificam.
sementes arredondadas e chatas, envoltas MASAROCA lançadeira, a que serve para tecer
em uma substância esverdeada, de perfume ao tear as redes de dormir.
agradável, adocicada e de efeitos purgativos. MASAROCA-PORA o fio que enche a maçaro-
MARIMARI-YUA marimarizeiro, Cassia brasi- ca, isto é, a lançadeira, com que se enche a
liensis, árvore leguminosa do igapó. trama, nas redes de dormir tecidas ao tear.
MARIRAPIÁ casta de cipó que cresce nos iga- MASAUACARI casta de palmeira.
pós. Dá uma fruta comestível que lembra o MASOCA, PASOCA mistura de farinha e car-
abricó-do-pará, contendo duas ou três se- nes moqueadas, passada ao forno, e a que
mentes reniformes, envolvidas numa polpa algumas vezes juntam malagueta também
vermelho-orange adocicada e de gosto mui- seca e em pó. Em qualquer caso não le-
to especial. va sal, que, umedecendo a mistura, a es-
MARITACA casta de pequena gaivota, Larus. tragaria em pouco tempo. É comida para
MAROCA, MARÁ-OCA maloca, casa de varas, viagem.
casa de estacas. A casa de residência fixa, MASUÍ? de onde? (interrogativa).
onde o indígena vive em comum, sob a égi- MASUIPÉ? de onde? (interrogativa), contra-
de do dono da casa, e que reúne sob o seu ção de ma suí opé?
teto mais de uma família. MATA? forma interrogativa sem significação
MARUMBI cilada, emboscada. especial, correspondendo ao que interroga-
MARUPÁ casta de madeira branca e leve, tivo (contração de ma taá). Mata rerecô: que
muito usada para caixas e baús. tens? Mata remunhã putári cuá myraitá iru-
MARUPAYUA marupaizeiro, simaruba, árvore mo?: que queres fazer desta madeira?
das capoeiras e terras altas. MATAMATÁ casta de tartaruga fluvial, cujo
MARUPAY arbusto do igapó, Simaruba offici- casco é cheio de bossas, Chelys fimbriata.
nalis. A raiz é usada em infusão como ads- Embora se encontre em toda a parte, não é
tringente nas diarreias e disenterias. em nenhuma muito numerosa. A sua car-
MARUPH por onde? ne não é muito apreciada; casta de cipó dos
MARUPIARA feliz na caça ou na pesca, bem- igapós. Uma fita espessa de quatro a seis de-
-sucedido, afortunado; que sabe onde? dos de largo, cheia de bossas, como as do
MASANSARÁ casta de graminácea. casco do matamatá.
MASAPÉ argila. MATAPI' pequeno peixe geófago, da família
MASARANDYUA maçaranduba, nome dado a dos Silúridas
diversas espécies de árvores de alto porte que MATAPI' armadilha para peixes, de forma
vivem no igapó. A mais comum, que é uma alongada e com uma única abertura afu-
Mimusops, além de fornecer um leite de elas- nilada, formada pelas fasquias viradas pa-
ticidade diversa, segundo a época da colhei- ra dentro, de modo a dar entrada ao peixe
ta, dá uma espécie de sorva comestível, e for- e impedir-lhe a saída. É armadilha que cos-
nece uma madeira vermelha, muito dura e tuma ser posta nos igarapés, com a boca vi-
resistente, ainda que exposta às intempéries rada para a correnteza. O peixe que vem su-
MBEIÚ-ASU
bindo entra nela, independente de qualquer parte das tribos indígenas. Segundo a lenda
espécie de isca, exatamente porque, queren- do Jurupari, as Mayuas nasceram da cinza
do vencer a correnteza, encontra facilidade de Uairi (tamanduá), o velho que não soube
à subida no funil. guardar o segredo.
MATARÁ casta de pássaro, variedade de for- MAXI casta de pequeno pássaro.
micarídeos. MAXÍXI maxixe, Anguria. A fruta que consta
MATI, MATI TAPERÉ matinta-pereira, no- de uma cápsula carnosa cheia de sementes;
me de uma pequena coruja que se con- é comida tanto cozida como crua, como le-
sidera agourenta. Quando, a horas mor- gume. A planta sarmentosa se estende mui-
tas da noite, ouvem cantar o matl taperé, to e pode servir para dar uma boa qualida-
quem o ouve e está dentro de casa diz lo- de de papel.
go: "Matinta amanhã podes vir buscar ta- MAXUAÍ casta de festa, em que até certa ho-
baco". Desgraçado, deixou escrito Max J. ra tomam parte as crianças, a quem tapam
Roberto, profundo conhecedor das coisas a cara com máscaras, atirando-as no círcu-
indígenas, quem na manhã seguinte chega lo da dança e marcando o tempo com gaitas
primeiro àquela casa, porque será ele con- de taboca. Quando as crianças vão dormir,
siderado como o matl. A razão é que, se- as mulheres tomam seu lugar (Solimões).
gundo a crença indígena, os feiticeiros e MBÁ, MBAE coisa.
pajés se transformam neste pássaro para MBÁ-AYUA coisa ruim, coisa má, veneno.
se transportarem de um lugar para outro e MBÁ-AYUA RUFIARA contraveneno; que está
exercer suas vinganças. Outros acreditam contra as coisas más.
que o matf é uma mayua, e então o que vai MBÁ-AYUETÉ coisa péssima.
à noite gritando agoureiramente é um ve- MBACAIÁ casta de palmeira.
lho ou uma velha de uma só perna, que an- MBACI doente. V. Maci e comp.
da aos pulos. MBAE nada. V. Embae e comp.
MATIRI matiri, pequeno saco de couro ou MBAE PUXI coisa feia, torpeza, adultério.
mesmo de tecido, em que o caçador leva os MBAERANA vil, baixo.
apetrechos de seu uso, e a sacola do pajé. MBAETÁ, MBAITÁ riqueza, muitas coisas.
MATUNA quinhão. MBAETÁ IARA rico, dono de muitas coisas.
MATUPÃ as touças de erva que cobrem os lagos MBAIA retalho, fiapo.
na enchente e no começo da vazante se aglo- MBAIACA casta de erva.
meram na boca, dificultando a navegação. MBATARÁ batará, casta de pássaro comedor
MATUPIRI casta de peixe de escama. de formigas.
MAUARI maguari, Ardea cocai, garça-cinzen- MBAÚ comido. É a forma usada no rio Negro.
ta. Muito comum em todo o Amazonas, vi- MBAÚPÁUA, EMBAÚSÁUA refeição.
ve isolada e nunca é encontrada em bando. MBAÚ RENDADA refeitório, lugar de comer,
MAÜ, MAÜN examinado, averiguado. sala de jantar.
MAÜNGARA examinador, averiguador. MBAÚSÁRA comedor.
MAÜNGAUA exame, averiguação, curiosi- MBAÚUÁRA comente.
dade. MBAÚUÉRA comilão.
MAÜN-UERA curioso, abelhudo, metediço. MBAÚYMA não comido.
MAY mãe (corrupção do português). V. Maia. MBEIÚ, MEIÚ bolo de farinha de mandioca,
MAYNUNGARA em lugar de mãe, madrasta. em forma de torta, deixado cozinhar até ter
MAYUA o ser misterioso de onde provém todo perdido o veneno, mas de forma a que não
o mal (contração de Maa ayua). É a Mayua fique torrado e duro. No rio Negro chamam
que pode estragar a criança que está para curadá ao beiju de tapioca, que no Solimões
chegar à puberdade, e basta a sua vista pa- chamam typyaca meiú. A palavra curadá
ra a inutilizar para todo o sempre, de onde não é de língua geral e parece ser baré.
o resguardo, o jejum e as cerimônias diver- MBEIÚ-Asu beiju grande, beiju muito alto
sas a que são sujeitos moços e moças na mor que usam para preparar o caxiri (Solimões).
MBEIÚ-CYCA
osso de veado ou de onça, mais raramen- MEOÃ-YMA sem mancha, sem mácula, pura.
te de macaco. MEONGAUA engano.
MEMY IUPISARA flautista. MEONGAUARA enganador.
MEMY-PEUASARA flautista. MEONGAYMA não enganado.
MEMY UIRÁ V Memu uirá. MERÉ baço.
MENA marido, e por extensão todo e qual- MERENDYUA merendiba, casta de planta, es-
quer instrumento que para funcionar tenha pécie de Termina/ia.
que se introduzir noutro. Indoá mena: mão MERÉUA, PERÉUA ferida, bouba.
de pilão. Itamaracá mena: badalo. MEREUAPORA ferido, cheio de boubas.
MENAPUTAUA noivo. MEREUASU ferida grande.
MENARAMA noivo. MERU mosca.
MENARE, MENDARE casado. Urumu e men- MERUÁ casta de vaga-lume.
dare putare Mboiasu membyra irumo: o MERUAIA casta de mosca.
urubu quer casar com a filha da Cobra- MERU-CAÁ casta de capim.
grande. MERUI, MERUIM mosca pequena; um tavão,
MENARESARA casamenteiro, que faz casar. quase microscópico, que na vazante infeta
MENASARA quem é casado ou casada. as praias dos rios.
MENASARAYMA quem não é casado ou casa- MERU-IAKIRA mosca verde.
da, solteiro( a). MERU-KIA casta de capim(= sujo de mosca).
MENASAUA casamento. MERU-RUPIARA varejeira, casta de mosca de
MENAUARA casante. forma alongada, do tamanho de uma vespa.
MENDY, MENY sogra da mulher. MERU-SUKIRA mosca azul.
MENDYUA, MENYUA sogro da mulher. MERUTYUA, MERUTIBA, MERUTUBA lugar de
MENO, MÊNU fornicado. moscas.
MENOARE, MENDOARE lembrado, recor- MERUXINGA mariposa (=quase mosca). Efe-
dado. mérida, que em tempo da enchente apare-
MENOARESARA lembrador, recordador. ce em quantidade realmente extraordinária,
MENOARESAUA lembrança, recordação. chegando a cobrir com seus cadáveres enor-
MENOARETAUA lembrete, recordativo. mes superfícies nos lagos, e formando uma
MENOAREUARA lembrante, recordante. linha ininterrupta de milhas e milhas no fio
MENOAREUERA lembrável, recordável. da corrente dos rios. Fraca voadora, viajan-
MENOAREYMA não lembrado, não recor- do em colunas compactas, a mais pequena
dado. aragem a derruba.
MENOPORA fornicador. MEÚ V Mbeú e comp.
MENOSARA fornicador. MEUÃ, MEUÃN estropiado, estragado.
MENOSAUA fornicação. MEUANGARA estropiador, estragador.
MENOTENDAUA fornicadouro. MEUANGAUA estropiamento, estrago.
MENOUARA fornicante. MEUÉ devagar, sem pressa.
MENOUERA fornicável. MEUÉ-MEUÉ aos poucos, devagarzinho.
MENOYMA não fornicada, virgem. MEUÉ RUPI lentamente.
MEÕ, MEÕN enganado. MEUESAUA lentidão.
MEOÃ maculado, manchado. MEUEUARA vagaroso, moroso, lento.
MEOANGA mascarado, disfarçado, fingido. MEUÉ-YMA sem vagar.
Neste último sentido, de preferência Moan. MIASAUA toalha, pequena esteira feita de fas-
MEOANGARA maculador, manchador. quias muito flexíveis, quando não de folhas
MEOANGASARA mascarado, disfarçado. de palmeira, e mesmo umas simples folhas
MEOANGASAUA máscara, disfarce. de bananeira distendidas no chão, que ser-
MEONGAUA mácula, mancha. ve de toalha.
MEOANGAUARA mascarante, disfarçante. MIASUA sujeito, embora geralmente se tra-
MEOANGA-YMA sem disfarce, franco, lhano. duza por escravo, vencido. O miasua se po-
MIRISARA
MUEICÉ feito limpo, desembaraçado, desobs- MUEUOCA feito desencovar, feito sair. V.
truído. V. Eicé e comp. Euoca e comp.
MUEIKI feito entrar, introduzido. V. Eiki e Mui, Pui fino, delgado, pequeno.
comp. MUIACU feito desconfiado, esperto, ladino.
MUEIKIÉ feito encher. V. Eikié e comp. MUIACÚSÁRA quem faz desconfiar, espertar.
MUEITÁ feito nadar. V. Uitá e comp. MUIACÚUÁRA quem é feito desconfiar, que é
MUEIUCA feito tirar, feito sair, diminuído. V. espertado.
Iuca e comp. MUIACÚ-YMA tornado desprevenido.
MUEMBAÚ dado de comer. V. Embaú e comp. MUIAKYRA enverdecido, feito verde.
MUEMBEÚ feito prevenir, advertido. V. Mbeú MUIAKYRARE feito abortar. V. Iakyrare e
e comp. comp.
MUEMBOI feito disforme, deformado. V. MUIAKYRAPAUA enverdecimento, rejuvenes-
Mboiecomp. cimento.
MUEMBUCA feito rachar. V. Mbuca e comp. MUIAKYRAPORA reverdecente.
MUEMBUÉ feito aprender. V. Mbué e comp. MUIAKYRASARA reverdecedor.
MUEMBURE jogado fora, expelido. V. Mbure MUIAKYRATAUA reverdecedouro.
e comp. MUIAKYRAUERA reverdecível.
MUENGUEPOPE encarregado. MUIAKYRA- YMA não reverdecido.
MUENGUEPÓPESÁRA quem encarrega. MUIAN empastado.
MUENGUEPÓPESÁUA o que é encarregado. MUIANGARA empastador.
MUENGUEPÓPEUÁRA encarregante. MUIANGAUA empasto.
MUENGUEPÓPEYMA não encarregado. MUIAN-UÉ, MUIANGUÉ o empastado; mujan-
MUERÉ concordado, aplaudido. guê, farinha seca de mandioca misturada
MUERÉPÁUA concordância. com ovos crus de tartaruga, e comida sem
MUERÉPÓRA concordante. ir ao fogo.
MUERÉSÁRA concordador. MUIAN-YMA não empastado.
MUERETÉ afirmado. MUIAOCA apartado. V. Muiauoca e comp.
MUERÉUÉRA afirmável. MUIAPIRE feito subir, aumentado.
MUERÉYMA não concordado. MUIAPIRESARA aumentador.
MUERURE feito levar, feito conduzir, feito tra- MUIAPIRESAUA aumento.
zer. V. Rure e comp. MUIAPIREUARA aumentante.
MUEÚ apagado soprando. MUIAPIREUERA aumentável.
MUEÚ-ANA apagado. MUIAPIRE-YMA não aumentado.
MUEÚ-PYTERA dividido, separado; lit.: apa- MUIAPIXAIN fazer encrespar, enrugar.
gado no meio. MUIPIXAINGARA quem faz encrespar, enrugar.
MUEÚ-PYTÉRASÁRA divisor, partidor. MUIPIXAINGAUA encrespamento, enruga-
MUEÚ-PYTÉRASÁUA divisão. mento.
MUEÚ-PYTÉRAÚARA dividente. MUIAPOÃ, MUIAPOÃN arredondado. V
MUEÚ-PYTÉRAUÉRA divisível, partível. Iapoãn e comp.
MUEÚ-PYTÉRAYMA não dividido, não partido. MUIARE, MUIÁRI fazer encostar, fazer unir,
MUEÚ-PYTÉRAPÁUA divisão, partição. juntar. V. Iári e comp.
MUEÚ-PYTÉRAPÓRA dividente. MUIASAi feito estender. V Sain e comp.
MUEÚ-SARA apagador. MUIASAEN feito espalhar. V. Saen e comp.
MUEÚ-SAUA apagamento. MUIASASAU fazer atravessar. V. Sasau e
MUEÚ-TEUA apagadiço. comp.
MUEÚ-TYUA apagadouro. MUIATICU feito pendurar, pendurado. V. Ia-
MUEÚ-UARA apagante. ticu e comp.
MUEÚ-UERA apagável. MUIATIMU embalançado, feito embalançar a
MUEUAKI feito conformar, acomodado. V. rede de dormir. V. Iatimu e comp.
Euaki e comp. MUIATUCA encurtado, feito curto.
MUIKÉ
MUNDÁIYMA não suspeitado, não descon- te que pode servir para a cozinha. Não sei
fiado. se se trata de uma planta aclimada, ou de
MUNDÁPÁUA ladroeira. planta indígena, sendo que no primeiro ca-
MUNDÁPÓRA ladrão. so é muito bem aclimada e já apresentava-
MUNDARA falso, mentiroso. riedades.
MUNDÁRI ter ciúme. MUNDURAUA casta de gafanhoto que ata-
MUNDARISARA quem tem ciúme. ca especialmente as plantações de tabaco
MUNDARISAUA ciúme, o ato de ter ciúme. (Tefé).
MUNDARIUERA ciumento à toa, sem razão. MUNDURU casta de grande nassa usada no
MUNDÁSÁRA negador. Pará para pegar peixe.
MUNDÁSÁUA negação, o objeto furtado. MUNDURucu uma variedade escura de quati,
MUNDAÚ ciúme. Nasua; nome de uma nação tupi estabeleci-
MUNDÁUA furto. da entre o Madeira e o Tapajós, inimiga dos
MUNDAUARA furtante. Muras, dos Parintintins e dos Apiacás, mui-
MUNDAUERA furtável. to numerosa e belicosa, ainda hoje existente,
MUNDAÚPORA ciumento. embora muito reduzida e em grande parte já
MUNDAUYMA não furtado. civilizada; casta de Cactus (?).
MUNDÉ metido, recolhido, suspeitado; ra- MUNDUSARA mandador, ordenador, reme-
toeira. tedor.
MUNDÉ-MUNDÉ intrometido. MUNDUSAUA mandado, ordem, remessa.
MUNDÉ-MUNDÉU manhoso, metido em dis- MUNDUUARA mandante, ordenante, reme-
farce. tente.
MUNDÉ-PORA que é preso na ratoeira. MUNDUUERA mandável, ordenável, remis-
MUNDÉSÁRA recolhedor, suspeitador. sível.
MUNDÉSÁUA recolhimento, suspeita. MUNDUYMA não mandado, não ordenado,
MUNDÉU vestido, ornado, enfiado, disfar- não remetido.
çado. MUNGÁ, PUNGÁ nascida, tumor, tumefação.
MUNDÉUSÁRA disfarçador, vestidor, enfia- MUNGATURU acabado, completado, ajustado.
dor. MUNGATURUPAUA, MUNGATURUSAUA acaba-
MUNDÉUSÁUA disfarce, veste, ornamentação. mento, remate, complemento.
MUNDÉUTYUA lugar do disfarce. MUNGATURUSARA acabador, completador,
MUNDÉUUÁRA disfarçante, ornante. rematador.
MUNDÉUUÉRA disfarçável, vestível, ornável. MUNGATURUTAUA, MUNGATURU TENDAUA
MUNDICA aceso. lugar de acabamento, remate, complemento.
MUNDICASARA acendedor. MUNGATURUUARA acabante, rematante.
MUNDICASAUA acendimento. MUNGATURUUERA acabável, rematável, com-
MUNDICATAUA acendedouro. pletável.
MUNDICAUARA acendente. MUNGATURUYMA não acabado, não remata-
MUNDICAUERA acendível. do, não completado.
MUNDICAYMA não aceso, apagado. MUNGUETÁ apalavrado, aconselhado.
MUNDU mandado, ordenado, remetido. MUNGUETÁ CATU aconselhado bem.
MUNDUCÁRI comandado, dado ordem com MUNGUETÁ PUXI aconselhado mal.
autoridade, determinado. MUNGUETÁ SUAXARA responder.
MUNDUCARISARA comandante, quem dá or- MUNGUETÁSÁRA apalavrador, conselheiro.
dem com autoridade para dá-la. MUNGUETÁSÁUA apalavramento, conselho.
MUNDUCARISAUA comando, ordem. MUNGUETÁTYUA lugar de conselho.
MUNDUCARIUARA, MUNDUCARIPORA co- MUNGUETÁUÁRA apalavrante, aconselhante.
mandado, quem recebe a ordem. MUNGUETÁUÉRA apalavrável, aconselhável.
MUNDUI, MUNDUBY amendoim, casta de MUNGUETÁYMA não apalavrado, não acon-
Arachis, oleosa, de que se extrai um azei- selhado.
MUPEMASARA
fosse uma imitação especial, dada a fácil acli- MUXYÚ grossa larva de um coleóptero, que
mação e cultivação da cana. Seja como for, vive no tronco das palmeiras, especialmen -
quando a panela é cheia de líquido em quan- te das pupunheiras, e que os índios comem.
tidade suficiente, é tampada com a tampa de MUXYÚA as larvas que se encontram em
madeira, mantida no lugar com atilhos de ci- grande quantidade sobre os cadáveres.
pó, sendo a fuga de vapores tolhida tanto na MUXYUÁ comida de tartaruga feita em pane-
tampa como ao longo do encanamento por la de barro e que se guarda de um dia para
meio de calafeto feito com argila, a mesma de outro e por muitos dias, aquentando-se de
que se servem para fazer a sua louça. A desti- novo cada vez que serve. É um guisado tem-
lada obtida nestes aparelhos, dizem os apre- perado com tucupi, alho, cebola, pimenta e
ciadores, tem um gosto todo especial que frutas de abiurana, quando há.
inutilmente se procura na melhor cachaça. MUXYUA é o nome com que se designa no rio
MUTYPAU, MUTIPÁ feito secar, escoado. V Negro a comida com que Cucui engordava
Typau e comp. as moças destinadas a ser comidas.
MUTYPY feito fundo, aprofundado. V Typy e MUXUXU, MBUXUXU, BUXUXU Casta de mur-
comp. ta da margem do rio, que dá uma pequena
MUTYPYPYCA feito afundar, submergida, drupa comestível.
posta no funda. V Pyca e comp. MUYASUCA feito imergir, banhar. V Yasuca e
MUTYUN embaciado. comp.
MUTYUNGARA embaciador. MUYÍCA mujica, peixe ou carnes esmiuçadas
MUTYUNGAUA embaciamento. e fervidas n' água engrossada com tapioca
MUUACA feito rachar, fendido. V Uaca e comp. ou farinha d' água; caldo engrossado com
MUUAIMY feita velha, envelhecida da mulher uma fécula qualquer; papas de milho.
e das fêmeas em geral. MUYPYPE metido no fundo, metido de mo-
MUUAIMYPORA envelhecente. lho.
MUUAIMYSARA envelhecedor. MUYPYPESARA quem mete no fundo, afun-
MUUAIMYSAUA envelhecimento. dador, quem põe de molho.
MUUAIMYTYUA lugar onde se envelhece. MUYPYPESAUA afundamento.
MUUAIMYUERA envelhecível. MUYPYPETYUA afundadouro.
MUUAIMYYMA não envelhecida. MUYPYPEUARA afundante.
MUUÍRI feita ficar à tona d'água. V Uíri e MUYPYPEUERA afundável
comp. MUYPYPEYMA não afundado.
MUUIUÁKI afrontado. V Uiuákí e camp. MUYRÁ, MYRÁ madeira. V Myrá e comp.
MUUOAU peneirado. MUYUA, MUUYUA muuba, árvore de alto por-
MUUOCA feito fender. V Uoca e comp. te, que cresce nas baixadas.
MUUOCAUOCA moído, da cana de açúcar que MUYUA TINGA muuba-branca, árvore de alto
passa na engenhoca. V Uoca e comp. porte, variedade da anterior, que cresce nas
MUUPIRÁ casta de peixe. vargens altas e terras firmes, embora nun-
MUXAMA encordado, postas as cordas na ca muito longe do lugar onde chegam anual-
maqueira, feito corda. mente as águas da enchente. A madeira leve
MUXICA o recolher ligeiro da linha a que é se- e resistente é usada para casco e falcas de ca-
guro o anzol, que o pescador faz, logo que noas, que, se não são de grande duração, em
abocou o peixe. V Xíca e comp.; fazer chegar. compensação são fáceis de trabalhar. A casca,
MUXINGA chicote de uma tira de couro do além de dar um leite usado na farmacologia
peixe-boi. indígena para sarar feridas de mau caráter, é
MUXIRICA feita encrespar. V Xíríca e comp. usada como estopa para calafeto das canoas.
MUXURi, MUXURY casta de árvore. MYCURA mucura, nome comum aos marsu-
MUXY larva vermiforme, gusano, especial- piais, embora com ele se designe, aqui no
mente o que se encontra nas frutas car- Amazonas, a espécie mais comum, isto é, a
nosas. Dídelphís cancrívora.
MYCURA CAÁ
bre fundo vermelho mais ou menos escuro, querda do Japurá e seus afluentes da mes-
utilizado para bengalas. ma margem, onde se afirma ser localizada a
MYRÁ-PIRANGA pau-vermelho, linda madei- sua área de crescimento. Fornece uma ma-
ra de fibras muito compactas e resistentes, deira muito apreciada para a construção de
pesada e dura como o ébano, provenien- canoas e que, tendo a duração e resistência
te de uma variedade de Cesalpinia. Pela sua da itaúba-preta, tem a vantagem de ser mui-
durabilidade e resistência, tanto enterrada to mais leve, pelo que as embarcações feitas
como no ar, é a madeira preferida em todo com pau-amarelo não vão ao fundo, embora
o Uaupés para esteios de maloca. se alaguem e emborquem.
MYRÁ-PIRERA pele de pau, casca; nome que MYRÁ-TINGA pau-branco, casta de Aspidos-
é dado a certas ligeiras embarcações feitas perma, que cresce na terra firme, e que dá
com a casca de envira preta da terra firme. uma madeira leve e clara, usada para o inte-
MYRÁ-PIRIRICA pau que se esfarela, em que rior das habitações e obras não expostas ao
dá a polilha. tempo. Da casca se extrai, por incisão, um
MYRÁ-PIROCA pau descascado, pau-mula- leite, usado para emplastrar as ataduras na
to, grande árvore que cresce nas margens ruptura ou luxação de algum membro.
dos rios, facilmente reconhecível pela cas- MYRÁ-TYCUERA árvore venenosa (Martius),
ca que se fende e acartucha, renovando-se pau morto, que teve sumo.
superficialmente. É a pau preferido para MYRÁ-TYUA roça aberta na mata virgem; ter-
fazer a lenha destinada aos piroscafos [bar- ra de paus.
co a vapor, gaiola] que sulcam o Amazonas MYRÁ-UACA cerne de árvore, cerne do pau;
e seus afluentes. Além de lascar facilmen- galho que se abre e distende alargando a co-
te, é madeira que queima bem e deixa pou- pa, pernada.
ca cinza. MYRÁ-UNA, MOYRÁ-UNA braúna, casta de
MYRÁ-PUAMA pau-levanta, arbusto que cres- madeira preta, e a árvore que a fornece.
ce nas terras firmes. A infusão das raízes, MYRÁ-UOUOCA, MYRÁ-UOCA roda de pau;
assim como a raspagem da madeira, tem a roda da fiadeira e, em geral, a roda que
virtudes afrodisíacas e é utilizada externa- serve para transmitir o movimento nas en-
mente para cura de reumatismo e de parali- genhocas e outros maquinismos, qualquer
sia, em fricções e banhos. que seja a matéria de que são feitas.
MYRÁ PUCU pau-comprido; a estica da vela MYRÁ-YARA pau-canoa, pau que serve para
das canoas. fazer canoas.
MYRÁ-RACANGA pau-de-caroço, pau-rainha, MYRAYUA casta de pau-brasil, que cresce nas
madeira muito comum no rio Branco. Cresce terras firmes da margem esquerda do rio
nas proximidades dos campos e é usada pa- Negro. Do cerne extraem, por infusão, uma
ra a construção de currais, e mesmo de ca- tinta roxa muito duradoura.
sas. Dizem que tem boa duração e resistência. MYRITY miriti, buriti, Maximiliana regia e
MYRÁ-RECOARA,MYRÁ-RECOUÁRA Meirinho. afins. Casta de palmeira que só por si é uma
MYRÁ-RECÔ ter a vara, mandado. providência. Dela nada se perde. As folhas,
MYRÁ-RECOUARA-ASU ouvidor, juiz. que a coroam em largos leques, dão exce-
MYRÁ-RYLU musgo, o que cresce sobre as lente cobertura de casa e uma cordoalha
cascas dos paus. que se presta até para fazer redes, sendo
MYRÁ-SANGA cacete. muito duradouras e muito frescas. Do espi-
MYRÁ-SANTÁ pau-forte, nome que em al- que, aberto e batido, se fazem soalhos e pa-
gum lugar dão ao myrá-puama. redes de barracas. Das folhas se fazem estei-
MYRÁ-TAIA pau que queima, tem o gosto de ras e tupés. Do miolo do tronco, formado
queimado, casta de Laurinea. por uma massa leve e esponjosa, se faz o ar-
MYRÁ-TAUÁ pau-amarelo, árvore da terra fir- rocho(?) para recolher o leite da seringuei-
me, da margem direita do rio Negro e seus ra e se fazem ainda hoje esteiras para fechar
afluentes da mesma margem, e margem es- portas e janelas, e rolhas.
MYRITI SARECUA
MYRITI SARECUA cacho de miriti; nome de MYTÜASU ave maior do que a anterior, com
um ponto de bordado. que aliás muito se parece, com a diferença
MYTÁ, MUTÁ estrado, degrau. V. Mutá. de ter o ventre lionato [leonado] (?)e a pon-
MYTÁ descansado, repousado, parado. ta da cauda branca; mutum-grande, mu-
MYTÁ-MYTÁ escada, subida por degraus. tum-cavalo, Crax globulosa.
MYTÁSÁRA descansador, parador. MYTÜ-PINIMA mutum-pintado, ave que tem
MYTÁSÁUA descanso, repouso, parada, myta- o porte geral das antecedentes, mas se dis-
saua; o lugar na margem do rio ou da mata tingue pelo bico, que é amarelo e menor,
adentro, onde quem por eles transita costu- Crax discors.
ma fazer alto para descansar ou refocilar-se. MYTÜ-PURANGA mutum-bonito, ave do por-
São geralmente lugares de todos conhecidos, te das antecedentes, negro-azul-ferrete com
e os que se encontram ao longo dos rios, por o abdome, o uropígio e as extremidades das
onde ainda a navegação é feita a remos, pres- retrizes brancas, Crax alector.
tam realmente grande serviço, especialmente MYTÜ-RUAIA cauda-de-mutum, abrigo pro-
em tempo de enchente, poupando o trabalho, visório, feito de folhas de palmeira enfin-
muitas vezes inútil, de procurar um lugar on- cadas no chão e apoiadas contra uma va-
de poder descansar e passar a noite. É por via ra, mantida à altura conveniente por duas
disso que é sempre conveniente atender o pi- forquilhas, de modo a dar guarida a pes-
loto que vos diz: Caryua, iapitá iké catu, amu soas de cócoras. O nome, conforme me foi
mytasaua apecatu retê: branco, ficamos bem explicado, lhe vem do costume que tem o
cá, a outra mitasaba é muito longe. mutum de recolher debaixo da cauda aber-
MYTÁUÁRA descansante. ta e elevada os filhos e assim ampará-los
MYTÁUÉRA descansável. da chuva.
MYTERA meio. V. Pytera e camp. MYTUU, PYTUU descansado. V. Pituu e comp.
MYTÜ, MYTÜM mutum, ave do tamanho de MYTUU domingo.
um peru, todo preto, o ventre branco e o bi- MYUÁ nome que em alguns lugares dão ao
co vermelho alaranjado, Crax rubrirostris. aninga, ou carará. V. Aninga.
N letra com que muitas vezes somente se re- rios, mas nunca substituem com elas os or-
presenta a nasalização da vogal a que é pos- namentos de costume.
posta, indicando sempre esta nasalização NAMI-SOROCA orelha-rasgada, casta de veado.
quando no fim da palavra. NAMI UASU orelhudo, orelha grande.
NAIÁ casta de palmeira. V Jnaiá. NAMUÍ óleo que queima como o melhor que-
NAMBÉ casta de pássaro. V Anambé. rosene e se extrai do nhambuizeiro.
NAMI, NAMBI orelha, asa. Camuti nambi: asa NAMUÍ-YUA nhambuizeiro, casta de Laurinea
do pote. Mira nambi: orelha de gente. que cresce nos igapós e se encontra com
NAMI-CUARA buraco das orelhas, furo pa- abundância nas ilhas alagadiças da baía de
ra levar os ornamentos que lhes são pró- Boiossú, no baixo rio Negro. O óleo se ex-
prios, e que em certas tribos chegam a de- trai por incisão da casca. A árvore dá uma
formá-las. madeira, que, embora de pouca duração, é
NAMIPORA arrecadas, brinco, o que enche, usada para falcas de canoas.
orna as orelhas. Muitas das tribos indígenas NANÁ ananás, a fruta de uma bromeliácea.
trazem os lóbulos das orelhas furadas para NANÁ-ARAPECUMA ponta do ananás.
neles introduzir em dias de festa os orna- NANÁ-ARARA ananás-arara; grande verme-
mentos tradicionais, tufos de penas de tu- lho.
cano, penas de arara, conchas etc. Não co- NANÁ IACUNDÁ ananás-jacundá.
mum, para que o buraco não se restrinja ou NANÁ IAUARETÉ-ACANGA ananás-cabeça-de-
feche, trazem nele enfiado ou um pedaço de -onça.
tacana para flecha, ou outro qualquer peda- NANÁ IAURU ananás-jaburu.
ço de madeira leve. NANÁ-TUÍRA ananás-cinzento.
NAMIPUÍRA contas das orelhas; arrecadas NANÁ-TYMBIRA ananás que produz uma
feitas de fios de contas. É ornamento pre- quantidade de gomos para ser replantado.
ferido das mulheres, que via de regra estão Ananás de filhos?
menos adstritas do que os homens aos or- NANÁ-TYUA ananatuba, terra de ananás.
namentos tradicionais. Os homens, quan- NÁRI-NÁRI, NDÁRI-NDÁRI cigarra, daridári.
do usam de contas, as usam como acessó- NASU-YUA a planta que dá a nasu.
00 439 i.:i~
NDÁRI NDÁRI
~~ 441 ~'/;J
NHEENGA-YMASAUA
PAKA-RATEPU casta de capim das margens pelos civilizados. Os tecidos indígenas não
do baixo Amazonas e Pará. têm, pelo geral, nome genérico.
PAMONHA quitute feito de massa de milho PÁNU AMANIÚ SECUIARA pano de algodão.
pilado, embrulhado em folhas de bananeira PÁNU MUNHANGARA fabricante de panos.
e cozido n' água, dando uma polenta gros- PÁNU MUNHANGAAUA fábrica de panos.
seira, que me tem muito vezes servido de PÁNU PACOARA peça, rolo de pano.
pão. Da pamonha, porém, em geral se ser- PÁNu PETECA bater pano, bater roupa.
vem para fazer o caxiri de milho. Depois de PÁNU PETECASARA lavadeira.
cozidas as desmancham n' água pura, e sim- PÁNU PETECATYUA lavanderia.
plesmente deixando fermentar o tempo ne- PÁNU PISAUERA retalho de pano.
cessário a mistura assim obtida. Em muitos PÁNu Pui pano fino, morim.
lugares, todavia, para facilitarem a fermen- PÁNu RANGARA medidor de pano, vara, me-
tação, antes de desmanchá-las n' água, cos- tro.
tumam mascar uma parte das pamonhas: PÁNU RANGAUA medição de pano.
operação em que se empregam todos os PÁNU SUAIAUARA pano de além, pano de li-
presentes. O caxiri de milho, isto é, a cay- nho.
suma, fica pronta no terceiro dia, e então é PÁNu UASU pano grosso.
servido, depois de cuidadosamente escu- PÁNu YUA rodilha de pano, usada para carre-
mado do bagaço que sobrenada. gar objetos pesados na testa.
PANA pano, tela, tecido. V Pánu e comp. PAPARE, PAPÁRI contado, somado.
PANACU grande paneiro, muitas vezes ele- PAPARESARA contador.
gantemente tecido, com tampa ou sem ela, PAPARESAUA contagem.
que serve para guardar e carregar objetos de PAPARETAUA lugar onde se conta, contado-
uso. ria.
PANAMÁ borboleta diurna. PAPAREUÁ conta.
PANAMBI pequena borboleta. PAPAREUARA contante.
PANAMÃ erva-santa, Chenopodium ambro- PAPAREUERA contável.
sioides. PAPAREYMA não contado.
PANÃPANÃ borboleta; nome genérico. PAPASÁUA conta.
PANÃPANÃ-Mucu casta de borboleta notur- PAPASAUA MYTERA meia conta.
na. PAPERA papel.
PANÃPANÃ-UASU borboleta grande; os gran- PAPERA COATIARE escrito no papel, escrito.
des Morphos, diurnos e vespertinos. PAPERA COATIARESARA escritor em papel,
PANCUÃN erva forragínea das baixas da ilha escrivão.
do Marajá. PAPERA COATIARESAUA escritura em papel,
PANEMA infeliz na caça ou na pesca, mofino, escritura.
imprestável, sem expediente. PAPERA COATIARETAUA lugar de escrever
PANEMO debalde, inutilmente. em papel, escritório, cartório.
PANICARICA toldo fixo da canoa; cobertura, PAPIÁ fígado.
em geral, da parte posterior da canoa, pa- PAPIARA fel.
ra debaixo dela agasalhar-se ou agasalhar PAPIRi, TAPIRÍ abrigo provisório, feito de
alguma carga, feita de folhas de palmeira uma ligeira cobertura de folhas de pal-
- ubim ou obussu presa entre uma arma- meira, armada sobre esteios que servem
ção de varas e um estreito pari de paquiú- de armaduras para as maqueiras, debai-
ba, mais ou menos resistente e forte, con- xo do qual podem agasalhar-se, ao repa-
forme o porte da embarcação, e que fica do ro da chuva, um número determinado de
lado externo. pessoas. Papiri é como dizem no rio Negro
PÁNU pano, tela, tecido. É o nome genérico e no baixo Amazonas; tapiri, no Solimões,
que é dado a toda e qualquer espécie de te- onde se ouve também taperi. O papiri, em-
cido que se encontra nas lojas e é trazido bora o seu caráter essencialmente provisó-
PARANÃ-PIACAUÁ
rio, pode servir de agasalho por dias, se- PARANÃ EIKÉ enchente; encher do rio, en-
manas e meses, e por esta mata afora há cher da maré.
indígenas, que a mor parte do ano só vi- PARANÃ KYRIMBAUA rio forte, correntoso.
vem em papirl, levantado à pressa no lugar PARANÃ KYRIMBASAUA força, corrente do
onde amadurece a fruta ou se encontra a rio.
caça de que gostam, sendo que muitas ve- PARANÃ IAUÁETÉ rio bravo, perigoso.
zes se utilizam por anos sucessivos da mes- PARANÃ IAUAETÉSÁUA cachoeira, corredei-
ma armação, só com o trabalho de cobri-la ra, bravura do rio.
de novo. PARANÃ ICAUA rio que estreita improvisa-
PARÁ' casta de árvore da capoeira. mente, sendo tanto a montante como a ju-
PARÁ', MARÁ vara, árvore, que se encontra sante de largura normal; lit.: rio caba, pe-
como parte integrante do nome de muitas la semelhança que há entre o estreitar-se do
madeiras. rio e o estreitamento que se observa no in-
PARÁ' manchado, mosqueado. seto, na junção do corsalete ao abdome.
PARÃ mar, e, mais raramente, com a signifi- PARANÃ !NHARU rio embravecido, que se
cação de rio, que no Amazonas chamam de torna perigoso, sendo indiferente que isto
preferência Paraná. se produza por dificuldades do leito, como
PARACARÁ casta de árvore das terras altas. por efeito do mau tempo, embora talvez seja
PARACARAYUA árvore de paracará. usado de preferência nesta última hipótese.
PARACARI árvore da terra firme. Da raiz pi- PARANÃ ITAPAUA, PARANÃ ITAPAU rio todo
sada se fazem emplastros preconizados co- pedra, rio pedregoso.
mo curativos das mordeduras de cobra. PARANÃ ITÁ-PANEMA laje, baixio de pedra
PARACAUXI casta de árvore Leguminosa da que se não vê, mas que incomoda a nave-
margem do rio. gação e pode ser perigoso para quem não
PARACAYUA, PRACAHIBA, PARACAÚBA ár- o conheça.
vore da terra firme, casta de Tecoma, que PARANÃ ITÁ-PEMA laje do rio.
fornece uma das madeiras mais rijas e fle- PARANÃ ITÁ-PÉUA laje do rio.
xíveis do país, muito apreciada ainda hoje PARANÃ IUÍRE rio revirado, remanso.
para se fazerem arcos e hastes de arpões e PARANÃ IUÍIUÍRE rio revirado, caldeirão.
jaticás. PARANÃ IYUA braço do rio.
PARACUÃ casta de Penelope, que vive em pe- PARANÃMBOIA cobra-d'água, paranaboia.
quenos bandos na mata, preferindo as cla- PARANÃ MANHA o veio principal, a mãe do
reiras e a margem dos campos. rio.
PARACUTACA arbusto que cresce nos iga- PARANÃ MANHA CUARA nascente, buraco da
pós e margens do rio, cuja folha é comida mãe do rio.
de tartaruga. PARANÃ MIRI canal, braço do rio; a parte
PARACUYUA, PARACUUBA casta de Legumi- menos volumosa do rio que se divide, sen-
nosa, cuja madeira rija e flexível serve para do a mãe do rio; qualquer braço ou canal,
arcos e hastes de arpões. que o rio deita para unir-se a outro rio ou
PARAI mar pequeno, enseada. para deitar-se no mar.
PARAI TI, PARAINTIN nariz de mar pequeno, PARANAME dentro do rio, no rio.
promontório. PARANAPE, PARANÁ OPÉ no rio.
PARÃ-IYUA, PARAHIBA braço de mar. PARANÃ PANEMA rio tolo, de pouca corren-
PARANÃ rio. teza e que nâo opõe dificuldade a quem o
PARANÃ ASU rio grande, mar. sobe.
PARANÃ AYUA rio mau, rio ruim, ou porque PARANÃ PENASAUA dobra, curva do rio.
encachoeirado e de trânsito difícil, ou por- PARANÃ PEPENA, PARANÃ PEPENASAUA rio
que doentio. torto, tortura do rio.
PARANÃ CARICA vazar do rio como efeito da PARANÃ-PIACAUÁ o rio, o mar visto; vista do
maré vazante. rio ou do mar; Paranã-piacaba.
PARANÃ PIRANTÁ
poltilha (?) de terra preta, rica de detritos trumento especial, feito de ossos de pernas
vegetais, que se acumula nas baixadas e ser- de ave, geralmente maguati, soldados com
ve, parece, para fixar a cor. cerol, feitos forquilha, ou para ser insuflado
PARA TININGA mar esbranquiçado. reciprocamente, quando tomado cerimo-
PARÁTU prato; corrupção da palavra portu- nialmente em suas festas, pelos Muras. Para
guesa. estes parece suprir o caápi, que não conhe-
PARATUCU casta de jasmim cultivado no cem ou não usam, atribuindo-lhe os mes-
Pará. mos efeitos estupefacientes e inebriantes.
PARAUÁ manchado de diversas cores, varie- Na farmacopeia indígena o paricá é aconse-
gado, veiado de cores diversas, mosqueado. lhado como reconstituinte e como remédio
PARAUACA penteado. contra a diabete.
PARAUACASARA penteador. PARICARANA falso paricá; mimosa que dá
PARAUACASAUA penteadura. uma madeira usada em obras de marcenaria.
PARAUACATYUA penteadouro, lugar de pen- PARICAYUA paricazeiro, árvore do paricá,
tear. Mimosa acacioides. É árvore de alto por-
PARAUACAUARA 'penteante. te, que cresce nas terras firmes e vargens al-
PARAUACAUÉRA penteável. tas. Dá boa madeira para obras internas e de
PARAUACAYMA não penteado. marcenaria.
PARAUACAXY casta de Mimosa de alto por- PARICATYUA paricatuba, terra de paricá.
te, que à noite fecha as folhas, Mimosa pa- PARINÁRI árvore da floresta paraense, que dá
rauacacifolia. uma madeira utilizada especialmente para
PARAUACU paravacu, Pithecia hirsuta; casta obras do interior.
de macaco de pêlo muito comprido e hís- PARIPARIN coxeado.
pido, que na cabeça e parte do dorso apa- PARIPARINGARA coxeador.
rece como dividido a pente. Muito comum, PARIPARINGAUA coxeamento.
especialmente nos pequenos afluentes do PARIPARIN-YMA não coxeado.
Solimões, mas espalhado em todo o vale. PARIR! enfiada de folhas de palmeira (geral-
PARAUARA manchante. mente ubim), limpas, abertas, escolhidas e
PARÁ-UARA paraense, do Pará. amarradas em fasquias de paxiúba ou de
PARAUARI casta de árvore de alto porte, que outra qualquer casca, pronta para ser utili-
cresce indiferentemente nas terras firmes zada em cobertura da casa ou para fazer as
como na vargem e dá madeira usada em paredes das casas de palha, ou outro serviço
marcenaria e para obras do interior, sendo análogo, como cobrir as toldas das canoas,
a da terra firme mais estimada pela maior forrar os paiois para guardar o pirarucu se-
duração. co ao sol etc.
PARAUASU paraguaçu; mar largo, mar grande. PARY gradeado feito de fasquias de madeira,
PARAYUA paraíba; nascente do mar, origem de preferência de espiques de palmeira pa-
do mar; e braço de mar, se se deve consi- xiúba, amarradas com cipó, com que bar-
derar como contração de Pará-iuya. Como, ram a boca dos lagos ou dos igarapés para
porém, é palavra que é ao mesmo tempo tu- impedir a saída do peixe, ou com que cons-
pi, pode também querer dizer mar ruim, M] troem os currais e cacuris.
mar mau, sendo então contração de pará- PARYTYCA, PARY ITYCA tapagem; pescaria
-ayua, contração que em nheengatu muito feita com o pari.
raramente se verifica, para não dizer nunca, PARYTYCASARA pescador de pari, quem pes-
porque o a de ayua é raiz característica que ca por meio de tapagem.
não se elide, e, no caso, o a final de pará é PARY MEMBECA pari mole; a grade de fas-
acentuado, razão por que persiste. quias de espique de palmeira, que serve pa-
PARI CÁ a fruta do paricazeiro e o pó extraído ra tapagem da boca dos lagos ou igarapés
da mesma fruta, torrada e socada para ser e disposta de modo a permitir que o peixe
aspirada pelas narinas por meio de um ins- entre, mas não possa sair; dão também es-
PASAUERA
te nome a uma fila de talas fincadas no leito -PAUA, -SAUA sufixo que, aditado ao tema, o
do rio, nos lugares onde o pescador se põe torna nome com a acepção de ato, fato, efei-
à espera do peixe-boi ou do pirarucu, pa- to relativo à ideia por ele expressa. Assim,
ra indicar-lhe a presença deste e permitir- de patuca, atrapalhado, se faz patucapaua:
-lhe fisgá- lo. atrapalhação. Em geral usa-se -paua e
PASAUERA meia porta. -saua, indiferentemente, embora esta últi-
PASOCA comida feita de uma mistura de fari- ma forma seja a mais corrente, e algumas
nha, de preferência seca, e carne moqueada, raras vezes seja impossível usar indiferente-
bem torrada, a ponto de tornar-se quebra- mente de uma e de outra sem alterar o sen-
diça, e pisada, apimentada com malagueta tido, o que somente se aprende com a prá-
em pó ou jukitaia. É comida de viagem. No tica, sendo impossível dar uma regra certa.
Solimões chamam pasoca também a uma PAUÉ junto, com, assim; pouco usado.
mistura de farinha e castanha - o fruto da PAUE complemento, remate.
Bertholetia excelsa - pisada juntamente. PAUOCA saído do porto.
PATACUERA prostituta. PAUOCASARA quem faz sair do porto.
PATACUERA MANHA dona do lupanar. PAUOCASAUA saída do porto.
PATACUERA-OCA lupanar, casa de prostituta. PAUOCAYMA não saído do porto.
PATAKERA casta de erva forragínea das bai- PAUSAPE no fim, onde acaba, orla. Caá pau-
xas da ilha de Marajó. sape: na orla do mato.
PATAUÁ casta de palmeira de terra firme e PAUSAPEUARA quem está no fim, na orla.
vargens altas. Da fruta se faz uma bebida PAUSADA ultimação, fim, acabamento.
muito gostosa, conhecida sob o nome de PAUXI mutum da vargem, Crax tuberosa, cas-
"vinho de patauá". Dos espinhos, que cres- ta de mutum. V Mytu. Nome dado a uma
cem em tufos ao pé das folhas, se fazem as nação indígena que habitou às margens do
melhores flechas para zarabatana. Amazonas, nas proximidades de Óbidos.
PATAUATYUA patauatuba, patauazal, lugar PAXICÁ guisado de fígado e carnes gorduro-
de patauá. O patauá cobre largas extensões sas do peito da tartaruga, preparado no pró-
na vargem alta e na terra firme, em que não prio casco.
permite que outra árvore vegete; as terras PAXIYUA, PASIUBA Iriartea exorrhiza e es-
em que ele domina passam por ser de pri- pécies afins, casta de palmeira muito co-
meira qualidade. Em tempo em que suas mum em todo o vale do Amazonas e que
frutas são maduras é muito frequentado pe- cresce tanto na terra firme como nos iga-
la caça do mato, que apesar de tudo se en- pós. O espique de todas elas, quando corta-
contra em relativa segurança, devida aos es- do em tempo conveniente, tem muita dura-
pinhos de que é rico. ção e resistência e é usado para cercas e, em
PATAUAYUA patauazeiro, casta de palmeira, muitos lugares, para assoalho, e mesmo pa-
Oenocarpus bataua. V Patauá. ra parede de barracas de seringueiro e bar-
PATUÁ caixa com tampa, baú. racões.
PATUCA atropelado, atrapalhado. PAY padre. V Paia.
PATUCA-MANHA atrapalhão. PAY UASU bispo.
PATUCAPAUA, PATUCASAUA atrapalhação. PE prefixo pessoal da segunda pessoa plural do
PATUCASARA atrapalhador. verbo. Só, Pesá: andais. Recô-perecô: tendes.
PATUCAUARA atrapalhante. PE posposição com o significado de em,
PATUCAUERA atrapalhável. no(a). Ypype: no fundo. Pausape: no fim.
PATUCA YMA não atrapalhado. PÉ, RAPÉ, SAPÉ caminho.
PATUPATUCA atrapalhadíssimo. PÊ haste, espique. Putyra pê: haste da flor.
PATURI casta de marrequinha. PECANGA pelos do corpo. Cesá pecanga: so-
PAU, MPAU acabado. V Mpau e comp. brancelhas.
PAUA tudo, por completo, o que completa, PECASU casta de pomba rola, Columba plum-
todo. bea.
PENGA
PENHÉ vós, vosso( a). Penhé mira: vossa gen- cresce de preferência na terra firme ou var-
te. Penhé arama: para vós. Penhé kiti: perto gens altas, muito comum no rio Negro e no
de vós. Penhé sacakire: atrás de vós. Penhé Uaupés. Servem-se da casca para tempero
suaixara: perante vós. em lugar de canela, e das folhas fazem chá.
PENHEMO, PENHÉ OPÉ a VÓS. Da tintura da entrecasca fazem uma espé-
PEPENA dobrado, quebrado; o assinalar que cie de biter.
se faz, quebrando aqui e ali uma rama, PERI MEMBECA erva-mole, casta de erva da
quando alguém se interna na floresta, fora margem do Amazonas.
do caminho batido. V. Pena e comp. PERIRISARA tigela.
PEPÉUA, MBOIA-PEPÉUA cobra-chata. PERIUACA casta de erva venenosa dos cam-
PEPU asa. pos.
PEPUi asa pequena, raquítico, mirrado, nani- PERUTÁ o pedaço de cuia ou o que a substi-
co. Sapucaia pepui: nanica, galinha nanica, tui, com que as oleiras indígenas desbastam
ou simplesmente pepui (Solimões). e alisam interna e externamente a louça, que
PEPU SAUA pena da asa. acabam dando-lhe a última demão com os
PEPUUARA alado. dedos molhados.
PEPUYMA sem asa. PESASU, PYSASU novo.
PERA vasilha, sacola trançada de folhas de PESAUERA, PYSAUERA pedaço, migalha,
palmeira, destinada ao transporte de frutas amostra. Pysauera pupé: em pedaços.
colhidas no mato. PETENDAUA rastro de gente, pisada, lugar do
PERÉ, MERÉ baço. pé.
PERERECA' pequena rã arbórea. PETÉ sorvido, degustado, delibado, beijado.
PERERECA' arrepio. PETECA batido, batido para lavar, lavado.
PERERECA', PERERICA frito, engelhado, res- PETECASARA batedor.
sequido. PETECASAUA batedura.
PERERICASARA frigidor. PETECATYUA batedouro.
PERERICASAUA frigimento, frigideira. PETECAUA batido.
PERERICATAUA frigidouro. PETECAUARA batente.
PERERICAUARA frigideira. PETECAUERA batível.
PERERICAUERA frigível. PETECAYMA não batido.
PERERICAYMA não frito. PETÉ-PETERE beijocado.
PERÉU ferido. PETERA beijo.
PERÉUA ferida, chaga. Pereua ayua: má ferida. PETERE beijado, delibado.
PEREUANA chaguento. PETEREPAUA, PETERESAUA beijamento.
PEREUASARA feridor, chagador. PETEREPORA muito beijado.
PEREUASAUA ferimento, chagamento. PETERESARA beijador.
PEREUAUARA chagante. PETEREUARA beijante.
PEREUAUERA chagável. PETEREUERA beijável.
PEREUARA que é do baço. PETEREYMA não beijada.
PERI erva, campo, descampado, onde cres- PETIUÃ saco.
cem ervas. PETUMA, PETOMA miolo.
PERIÃNTA erva-dura, casta de Gynerium dos PETUPAU indignado.
campos. Em alguns lugares do Amazonas é PETUPAUA indignação.
o nome com que se conhece a canarana, es- PETUPAUERA indignável.
pecialmente quando desce em toiças, tor- PETUPAUYMA não indignado.
nando-se um estorvo para a navegação do PEÚ tocado (diz-se dos instrumentos de so-
rio. pro). O peú memby: toca flauta.
PERI-CEEN erva doce, cana-de-açúcar. PÉUA chato.
PERIIURÁ, PEREIORÁ casca-preciosa, Nespi- PEUANA inteiramente chato.
lodaphne pretiosa. Árvore de alto porte, que PEÚSÁRA tocador.
PICUÍ CAVOCA
PICUÍ PEMA pomba-lisa, Columba cinerea. PINDAXAMASU linha grossa para anzol.
PICUÍ PINIMA pomba-pintada. Columba squa- PINDAXAPUi, PINDAXA-PUÍRA linha fina pa-
mosa. ra anzol.
P!CUÍ XIRICA pomba-chorona, pomba ge- P!NDAYUA pindaíba, a vara a cuja extremida-
mente, Columba strepitans. de se amarra a linha que segura o anzol e
PICUÍ UASU, PECASU pomba-grande. Colum- que serve para pescar. Quando o peixe car-
ba plumbea. rega com o anzol e o pescador fica com ava-
PICUMÃ fuligem, a que se forma toda por ra, fica desarmado, de onde a frase corrente:
igual sem saliências e cobre os objetos de ficar na pindaíba, para indicar que alguém
um estrado negro e lúcido. ficou na miséria, sem recursos.
PIICAN casta de fruta do mato. PINAITYCA pescar de anzol. V Ityca e comp.
PHRI varrido. PINAUACA dois e mesmo três anzóis amarra-
PURISARA varredor. dos, de modo a formar uma espécie de ga-
PURISAUA varrição. to, ornado de plumas anais de tucano e pre-
PHRITAUA varredouro. so a uma longa corda, que se deixa sair da
PURIUÁ varredura, o que é varrido. popa da canoa, para que, quando esta, im-
PIIRIUARA varrente. pelida pelos remos, adquira suficiente velo-
PHRIUERA varrível. cidade, venha resvalando aos pulos sobre a
PIIRI-YMA não varrido. superfície das águas. O peixe, especialmen-
PURI-YUA vassoura. te o tucunaré, acode na esteira das embar-
PIIGÁ piquiá, casta de fruta comestível cações e, atraído pelas plumas, arremete e
PIKIÁ-YUA piquiazeiro, Caryocar, árvore fru- fica fisgado.
tífera das vargens e igapós. PINIMA pintado, colorido.
PIN a ferroada dos insetos chupadores. PINIMASARA pintor.
PINDÁ, PINÁ anzol. PINIMASAUA pintura.
PINDÁ CIRYRYCA o anzol a cujo estorvo (?) PINIMATAUA lugar de pintar.
foram amarradas umas penas encarnadas PINIMAUARA pintante.
de tucano, de modo a ocultá-lo e simular PINIMAUERA pintável.
um pássaro ou um inseto, e que - preso PINIMA-YMA não pintado.
com poucos palmos de cordel a uma vara PINIMAYUA pincel.
longa e flexível a pindaíba, é destinado a PINHOÃ, PINHOAN bouba.
ser feito passar rapidamente, mal frisando a PINHOÃ PUXI peste bubônica.
superfície das águas, para que o peixe, en- PINHOÃ UASU bubão.
ganado pelo vistoso da cor, arremeta contra PINU depilado; pelado (o que sai sem pelo).
o anzol e fique fisgado. É o anzol que ser- PINUE pelado.
ve de preferência para a pesca de tucunaré PINUESARA pelador.
nas cachoeiras e nos poços dos rios secun- PINUESAUA pelamento.
dários em tempo de seca, quando são ainda PINU-PINU casta de urtiga muito comum em
demasiado fundos para emprego do xapu. todo o vale de Amazonas. No Uaupés se
PINDAMUNHANGARA fabricador de anzóis. servem das folhas de pinu-pinu para acal-
PINDAMUNHANGAUA pindamonhangaba, fá- mar as dores reumáticas, açoitando com
brica de anzóis. elas a parte doente, até ficar numa só bolha.
PINDÁ-PUTAUA isca do anzol. Naturalmente não é para curar; mas tenho
PINDAUA pindoba, qualquer folha de palmei- visto mais de uma vez quem dela usava e se
ra depois de cortada; folha de palmeira des- encontrava imobilizado num fundo de re-
tacada da árvore. de, levantar-se e poder atender às próprias
PINDAUÚ anzol comido, o abocar do peixe ocupações, como pessoa em perfeita saúde.
no anzol. PINUSARA depilador.
PINDAUUSARA engolidor de anzol. PINUSAUA depilação.
PINDAXAMA linha do anzol, linha de pescar. PINUTYUA depilatório, lugar de depilação.
PIRÁ-IAUARA
olhos, os dentes e o vergalho, coisas todas desgraçado o homem ou o animal ferido que
a que atribuem virtudes extraordinárias, ra- cair perto de um lugar frequentado por pira-
zão pela qual das três espécies é a mais per- nhas; em poucos momentos pode ser redu-
seguida. Note-se, pois, que se o nome de zido a esqueleto. É às piranhas que se deve
peixe-cachorro é a tradução literal de pirá- se muitos dos cadáveres de afogados não
-iauara, todavia, com o nome de peixe-ca- boiam, embora se ouçam acusar as piraíbas.
chorro se costuma designar o pirandira (lit.: PIRANHA UIRÁ ave-tesoura. Nome dado cer-
peixe-morcego). tamente por europeus, falando língua geral,
PIRÁ-IEPEÁ peixe-lenha, Platystoma plani- a um dos mais lindos gaviões e a um voador
ceps, peixe de pele, de carnes fiapentas, de primeira ordem, favorecido nisso, como
amareladas, muito pouco estimadas. nota Goeldi, pela forma e proporção das
PIRÁ IANDU peixe-aranha. asas com a cauda hirundiforme. Nauclerus
PIRÁ ICICA grude de peixe. furcatus. No Solimões o chamam tapera ui-
PIRÁ-IUKYRA-PORA peixe de salmoura. rá-uasu: gavião das taperas. É um gavião
PIRÁ-IYUÁ braço do peixe, barbatana. exatamente; pela forma da cauda não pode
PIRÁ MAIA mãe-do-peixe, casta de Murena. ser confundido com nenhum outro quando
PIRÁ MBEIÚ peixe-beiju. voa, e que visto de perto, apesar da forma
PIRÁ MENA peixe-marido, esturjão. do bico, mais que com um gavião, se parece
PIRÁ METARA casta de salmão. com uma andorinha, da qual, aliás, tem os
PIRÁ MIUNA dourado, um grosso peixe flu- costumes, vivendo como esta de insetos que
vial, pouco apreciado. apanha no voo.
PIRÁ MUTÁ Pirá bouton (?) [Piramutá, PIRANHAYUA piranhaúba, árvore dos igapós
Brachyplatystoma vaillanti]. e margem do rio, que, caindo n'água, como
PIRÁ MUTAUA pequena casta de peixe; isca que endurece, ficando no âmago, e dura in-
para peixe, piramutaba. definidamente, tornando-se um perigo para
PIRÁ NAMBU peixe-inambu, casta de peixe a navegação do Amazonas e seus afluentes.
de pele. PIRANTÃ correntoso, rápido, veloz, alentado.
PIRANDIRÁ peixe-cachorro (lit:. peixe-mor- PIRANTAIN correntoso.
cego ), casta de sardinha que deve o nome a PIRANTÃSAUA correnteza.
duas fortíssimas presas, que sobressaem na PIRANTÃUARA corrente.
mandíbula inferior. PIRÁ-OITYPY, PIRÁ-OETEPÉ cardume, abun-
PIRANGA vermelho. dância de peixes no mesmo lugar, sem a
PIRANGA IERANE ruivo. ideia da emigração que traz consigo a pira-
PIRANHA tesoura. O nome lhe foi dado evi- cema.
dentemente porque o indígena, que não PIRAPARÁ casta de peixe fluvial.
possuía tesoura, se servia, para cortar, PIRÁ-PEPU barbatana (lit.: asa do peixe).
da dentuça da piranha, como ainda ho- PIRÁ PÉUA peixe chato, peba; casta de peixe
je em muitos casos se serve; peixe-dente, de pele
Serrasalmo. PIRÁ PITINGA pirapitinga, tambaqui branco,
PIRANHA CAIÚ piranha-caju, piranha-verme- casta de peixe. Mais fino e delicado do que
lha. o próprio tambaqui, do qual tem a forma,
PIRANHA MYCURA piranha-mucura. mas geralmente menos apreciado, porque
PIRANHA PINIMA piranha-pintada. se afirma que sua carne é pouco saudável.
PIRANHA PIXUNA piranha-preta. Todas varie- PIRÁ PIXAMA, PIRÁ PITAMA cambada de
dades de Serrasalmo, e são indubitavelmente peixes, isto é, uns tantos peixes enfiados em
os mais ferozes dos peixes amazônicos, mu- um atilho, geralmente de cipó.
nidos todos de uma dentuça forte e afiada PIRÁ-PORA piscoso, cheio de peixes.
que lhes permite atacar as peles mais duras. PIRÁ PUCU peixe-comprido, casta de enguia.
Felizmente, raramente atacam os animais PIRARARA pirarara, peixe-arara, Phractoce-
que caem no rio, mas acodem ao sangue, e, phalus. Bonito peixe de escama, pouco
PIRE, PÍRI
apreciado como comida, porque se lhe PIRÁ TYPYACA peixe-tapioca, casta de pei-
atribui a propriedade de trazer muitas das xe de carne branca e saborosa, muito abun-
moléstias de pele a que são sujeitos os in- dante no alto rio Negro e no Uaupés.
dígenas. Não sei o que haja de exato nes- PIRATYUA piratuba, pesqueiro, lugar de pei-
tas acusações, mas o que é certo é que a xe. Nos tempos coloniais eram lugares re-
gordura da pirarara, assim como a sua servados para pescar para mantimento das
carne moqueada é dada a comer aos papa- localidades e com especialidade dos estabe-
gaios, aos diversos Androglossa, para que lecimentos reais.
mudem o verde em amarelo, e já vi algum PIRÁ-UACU casta de peixe largo e achatado.
exemplar completamente amarelo e outros PIRÁ UAUÁ peixe-cão, da casta, que não se
muitos em via de se tornarem amarelos e deve confundir com o piraiauara, como po-
manchados, da forma mais caprichosa. deria fazê-lo crer o nome, porque este é um
PIRÁ- RAUARI sardinha, Chaleeus nematurus Delphinus, no entanto que o pirauauá é uma
(?). Carcharias.
PIRARE, PIRÁRI aberto, franqueado, paten- PIRÁ UEUÉ peixe-voador, do gênero Trigla,
teado. também da costa atlântica.
PIRARESARA abridor. PIRAUÍ, PIRÁ AUÍ peixe-agulha.
PIRARESAUA abertura. PIRAYUA piraíba, Bagrus reticulatus. Peixe
PIRARE TENDAUA lugar aberto. de pele que atinge grande desenvolvi-
PIRAREUARA abrinte. mento, um dos maiores, senão o maior
PIRAREUERA abrível. dos habitantes do rio-mar e seus afluen-
PIRAREYMA não aberto. tes, que sobe até grande distância da foz.
PIRARUCU peixe-urucu, peixe-vermelho, Extremamente voraz, é acusado, quando
Sudis gigas. Um dos gigantes das águas lhe vem a jeito, de engolir crianças e até
amazônicas, a que se dá uma ativíssima homens, se lhe atribuindo a causa de não
caça para salgá-lo. A salga do pirarucu boiarem muitos dos cadáveres de afoga-
alimenta uma das melhores indústrias, dos, o que, a meu ver, deve ser posto a car-
tanto no Amazonas como no Solimões e go das piranhas e candirus. Dessa acusa-
em todos os lagos e canais que lhes acom- ção, e do fato de serem suas carnes pouco
panham o curso. Ainda há pouco tempo o estimadas, como carnes de peixe de pele, se
produto do fabrico, na sua quase totalidade, dá a etimologia do nome como provenien-
era consumido entre o Pará e o Amazonas. te de pirá e ayua, isto é, peixe ruim. Não é
Hoje, embora em pequena escala, já come- esta a etimologia que me deu como verda-
çou a sua exportação para o Sul do país. deira um velho morador do rio Negro, que
Quando bem preparado, o pirarucu salga- explicando-me que a piraíba é a mãe de to-
do, e antes de adquirir o ranço que lhe dá dos os peixes, lhe fazia vir o nome de pirá
facilmente a elevação da temperatura, espe- e yua: isto é, o tronco, a origem dos peixes.
cialmente se muito gordo, pode, ao dizer de Seja como for, se a carne das grandes piraí-
todos, estar ao par do melhor bacalhau e fa- bas é geralmente pouco apreciada, aos filho-
zer-lhe concorrência. tes não acontece outro tanto; especialmente
PIRARUCU-CAÁ erva-de-pírarucu, casta de no Pará, uma posta de piraíba nova é consi-
Malvácea empregada na farmacopeia indí- derada um manjar delicado.
gena, em emplastro, apenas pisada ou cozi- PIRE mais (termo comparativo). Puranga pi-
da, como emoliente nas nascidas e inchaços. re indé suí: mais bonito do que tu. Xarecô
PIRARucu CESÁ olhos-de-pirarucu, casta de maaitá ceiía ne suí pire: tenho mais rique-
pimenta, uma espécie de murupi. zas do que tu.
PIRÁ SANTÁ peixe-pau, peixe-duro, casta de PIRE, PÍRI a, ao pé, perto de, para, verso. Xasô
peixe de pele, Callichtys. ne píri: vou para ti, ao pé de ti. Ouacemo
PIRÁ SUPIÁ ova de peixe. cunhãmucu i soca píri: achou a moça perto
PIRÁ SUPIÁ IRIRU o ovário dos peixes. da casa dela. Repitá ce píri: fica ao pé de mim.
PIRE PANA
PISAIÉUA da meia-noite em diante, depois da tresanda, de onde o nome que lhe dão no
meia-noite. rio Negro. V Cambéua; o cheiro especial
PISAIN encrespado, enrugado. V Apixain e que tresandam os corpos e especialmente
comp. os peixes. O indígena afirma que o branco
PISASARA divisor, quem divide. opitiú: cheira a peixe; o preto ocatinga: fede,
PISASAUA divisão. e o tapuia osakena catu: cheira bem.
PISATYUA divisório, lugar da divisão. PITIUYMA que não tem cheiro.
PISAUÁ divisória, o que divide. PITOMA, PITOMBA casta de fruta do mato,
PISAUARA dividente, que pertence à divisão. que dá em cachos; uma drupa de forma ar-
PISAUERA divisível; pedaço, quinhão. redondada.
PISAYMA indiviso. PITUA mofino, covarde, fraco.
PITÁ ficado. PITUAPAUA covardia, fraqueza.
PITAIA queimoso, gosto queimoso. PITUAPORA amofinante, acovardante, enfra-
PITANGA casta de fruta do mato. quecente.
PITASARA ficador. PITUAUERA amofinável, acovardável, enfra-
PITASAUA ficada. quecível.
PITASOCA sustentado, aguentado, mantido. PITUAYMA não mofino, não covarde.
V Soca e comp. PITUMA cambada.
PITAUÁ o que fica. PITUNA noite, e mais propriamente o tempo
PITADA casta de bem-te-vi, Lanius sulfuratus. que corre entre o escurecer e a meia-noite.
PITAUARA ficante. PITUNA IAUÉ como se fora noite, como noite.
PITAUERA ficável. PITUNA IERAME quase noite.
PITAYMA não ficado. PITUNAPAUA anoitecimento, trevas.
PITERA chupado. PITUNA-PORA que enchem a noite, noturnos.
PITERAPAUA chupada. É uma das formas PITUNA Pucu noite comprida, noite longa;
com que os pajés curam em certos casos os as horas que transcorrem entre a meia-noi-
doentes; chupando, lhes extraem do cor- te e os primeiros sinais do dia.
po as coisas mais heterogêneas, literalmen- PITUNA RAMÉ quando noite, à noite.
te, cobras e lagartos, além de sapos, espi- PITUNA RUPI durante a noite.
nhos, arestas de peixe, pedaços de madeira, PITUNASARA escurecedor, quem faz noite.
pedras e quantas coisas há e que, segundo PITUNAUARA escurecente.
afirmam, foram introduzidas no corpo dos PITUNA uAsu alta noite, noite escura. Pituna
doentes pela arte dos pajés inimigos. A cura uasu rupi: pela alta noite, pela noite adentro.
é certa, se o pajé que chupa tem mais fôlego PITUNAYMA sem noite.
do que aquele que causou a doença. Se este PIÜN casta de pequeno moscardo que chu-
tem mais fôlego, a cura é impossível. O pajé pa, e, onde chupa, deixa uma manchazi-
que tem menos fôlego não pode opor-se de nha de sangue coalhado. É uma das pragas
modo nenhum ao querer do que tem mais. menos suportáveis e que torna um suplício
Só pode haver luta, e esta é toda em dano a estadia em certos lugares do Amazonas.
do doente, entre dois pajés de fôlegos iguais. Felizmente, além de ser limitada a área on-
PITERASARA chupador. de se encontra e não existir senão em certas
PITERA TENDAUA lugar onde se chupa. determinadas épocas do ano, variáveis de
PITERAUARA chupante. localidade a localidade, vai diminuindo, até
PITERAUERA chupável. desaparecer perante o povoamento e conco-
PITERAYMA não chupado. mitante saneamento das zonas que vão sen-
PITINGA' grosseiro, rude, tosco (rio Negro). do ocupadas.
PITINGA' doença da pele, em que esta seco- PIUÍ casta de rnutum que tem o ventre leo-
bre de manchas esbranquiçadas. nado claro, tanto no macho como na fêmea,
PITIÚ casta de pequena tartaruga fluvial, sendo esta apenas um pouco maior do que
pouco apreciada pelo cheiro especial que aquele, Mitua mitu.
PIURI
PIURI casta de fruta do mato que amadure- POAIA nome dado a várias espécies de ervas
ce entre abril e maio, consistente numa dru- de propriedades eméticas e purgativas, e es-
pa alongada, contendo sementes envolvidas pecialmente à Cephaelis ipecacuanha.
numa polpa comestível de sabor adocicado. POAMPÉ unha da mão.
PIURU arrebatado. POAMPÉ PUNGÁ unheiro da mão.
PIURUPAUA arrebatamento. POAPARA mão esquerda, mão torta.
PIURUPORA arrebatante. POAPARA-UARA quem tem a mão torta,
PIURUSARA arrebatador. quem é esquerdo, faz com a esquerda o que
PIURUUERA arrebatável. costumeiramente se faz com a direita.
PIURUYMA não arrebatado. POASU respeitado, obedecido, atendido; mão
PIXÁ unhado, enfiado. grande.
PIXAMA beliscão. POASUANA o atendido, obedecido, respeita-
PIXAME beliscado. do.
PIXAMESARA beliscador. POASUPAUA, POASUSAUA respeito, obediên-
PIXAMESAUA beliscamento. cia, atenção.
PIXAMETAUA beliscadouro, lugar do belis- POASUPORA respeitante, obedecente, aten-
cão. dente.
PIXAMEUARA beliscante. POASUUERA respeitável, atendível.
PIXAMEUERA beliscável. POASUYMA não respeitado, sem mão forte.
PIXAMEYMA não beliscável. POAYMA vazio, desprezado.
PIXANA, UAPIXANA gato; o que unhou, ou POAYMAPAUA desprezo.
unha. POAYMAPORA desprezante.
PIXAÍ encrespado. V Apixai e comp. POAYMAUERA desprezível.
PIXANDU, PISANDU, PISANDUBA casta de POCA aberto, roto, quebrado, arrebentado. V
palmeira. Mpuca e comp.
PIXASARA Unhador. POCÁ riso. V Pucá e comp.
PIXASAUA unhada. POCATU mão boa, mão direita.
PIXAUARA unhante. POCATUPORA que está à direita, na mão di-
PIXAUERA unhável. reita.
PIXAYMA não unhado. POCATUSAUA qualidade de estar à direita.
PIXÉ mau cheiro, ou mesmo cheiro especial POCATUUARA que é da mão direita.
das carnes que começam a passar. Os trens POCEMA bater palmas.
de cozinha que não estão bem enxaguados POCICAUA o bastão, o cabo ou asa de qual-
são pixé. quer coisa.
PIXEPORA mal cheirante. POCOSÓ colhido com a mão, alcançado. V Só
PIXERICA casta de planta. e comp.
PIXIMA casta de árvore, de cuja fruta se ex- POCY-CY mãe do sono, sonho.
trai uma cor usada para tingir a roupa. POCYPAUA sonolência.
Segundo a qualidade, há para tingir em pre- POCYPORA dorminhoco, sonolento.
to, vermelho e arroxeado. POCYRÕN libertado, salvado.
PIXUA casta de planta usada como purgativa. POCYRONGARA salvador.
PIXUNA preto, negro, especialmente da cor. POCYRONGÁUA salvação.
PIXUNA IERAME amulatado, bruno. POCYSARA adormecedor.
PIXUNAPAUA negridão, negrume. POCYTÁUA dormitório.
PIXUNAPORA enegrecente. POCYUARA dormente.
PIXUNAYMA não preto. POCYYMA não sonolento.
PIYN furado. POEN, POIN palpado, apalpado.
PIYNGARA furador. POENGARA apalpador.
PIYNGAUA furadela. POENGAUA apalpamento.
PÔ mão; cinco, isto é, a conta dos cinco dedos. POETICA acenado.
PORARÁ
PORARACÁRI martirizado, feito sofrer. que anualmente carrega e vão, parece, ater-
PORARAPAUA padecimento. rar o golfo do México, se lança no mar por
PORARAPORA padecente. um enorme degrau, conservado limpo pelas
PORARASARA quem faz padecer. correntes que laboram o fundo do mar, so-
PORARAUERA padecível. bre as quais ele passa para lançar-se na cor-
PORARACARISARA martirizado. rente do golfo.
PORARACARISAUA martírio. PORUÁ umbigo.
PORARAYMA não padecido. PORUÃ, PORUÃN emprenhado, enchido.
PORARAYUA raiz de sofrimento. PORUA cheia, prenhe.
PORAYMA vazio. PORUANGARA emprenhador.
PORE bêbedo. PORUANGAUA emprenhamento.
PORECEME a mão cheia. PORUCA deslocado, desconjuntado.
POREPI ganhado, pagado, recompensado. PORUCASARA deslocador.
POREPISARA ganhador. PORUCASAUA deslocamento.
POREPISAUA pagamento, recompensa. PORUCAUARA deslocante.
POREPIUÁ ganho, lucro. PORUCAUERA deslocável.
POREPIUARA ganhante, lucrante. PORUCAYMA não deslocado.
POREPIUERA pagável, recompensável. PORUMÃ fruta comestível da cucura.
POREPI-YMA não pagado, não ganho. PORUMÃYUA V. Cucura.
POREPUTARE todo querido. PORUNGUETÁ conversado, tratado, discutido.
POREPUTARESARA prepotente. PORUNGUETASARA conversador.
POREPUTARESAUA prepotência. PORUNGUETATYUA conversadouro.
PORIASUA pobre-diabo, miserável. PORUNGUETAUA conversa.
PORO enchido, observado, guardado. PORUNGUETAUARA conversante.
POROCA desabrochado, aberto. PORUNGUETAUERA conversável.
POROCASARA desabrochador. PORUNGUETAYMA não conversado.
POROCASAUA desabrochamento. POSACA tirada a pulso, sacado a mão. V. Saca
POROCATYUA desabrochadouro. e comp.
POROCAUA abertura. POSOCA quitute feito de farinha-seca empas-
POROCAUARA desabrochante. tada com castanha, o fruto da Bertholetia
POROCAUERA desabrochável. excelsa, ligeiramente socada. Em alguns lu-
POROCAYMA não aberto. gares a chamam pasoca, mas é engano. V.
POROROCA arrebentado. V. Poroca e comp.; Pasoca; empastado.
o fenômeno que, em certas épocas do ano, POSOCAPAUA, POSOCASAUA empastamento.
de acordo com as marés, apresentam alguns POSOCASARA empastador.
dos nossos grandes rios da costa atlântica, POSOCATYUA empastadouro.
especialmente o Amazonas, e que consiste POSOCAUARA empastante.
no rápido levantar-se de uma a três ondas, POSOCAYMA não empastado.
que entram rio adentro com extrema vio- POTEPI marrequinha, Anas brasiliensis, mui-
lência, atroando e alagando com fúria ir- to comum em todo o Amazonas. Nos rios
resistível as margens baixas, tudo levando do interior, e especialmente nos lagos pou-
adiante de si. A fúria da onda, que proce- co habitados, chegam em bandos, anuncian-
de com uma extraordinária rapidez, dizem do a vazante, para retirar-se com a enchente,
que chega a sentir-se até Óbidos. O fenôme- aumentados pelas novas crias.
no, ao que parece, é devido à forma com que POTI, POTY camarão, Palaemon e afins.
os rios se lançam neste por uma espécie de POTIKISÉ camarão-faca.
degrau, a terra acabando ex abrupto, corta- POTI-PEMA camarão-chato.
da a dique. É o que acontece com o nosso POTITINGA camarão-branco.
Amazonas, que, apesar dos milhões e mi- POTIUARA, POTIGUARA comedor de cama-
lhões de metros cúbicos de matérias fluviais rões.
PUÉ-MUÉ-MUECA
e nos do Japurá, os indígenas guardam ain- guia, que quando é tocado dá uma descarga
da severamente a lei, como aliás tenho po- elétrica capaz de aturdir e até derribar um
dido verificar eu mesmo. Onde o contato homem, embora a sua força dependa, es-
com a civilização já tolheu o cunho de obri- tá claro, do tamanho do animal, e precise,
gatoriedade aos antigos costumes, como para produzir todo o efeito de que é capaz,
em muitas partes do rio Negro, do Solimões que este seja excitado quando perfeitamen-
e baixo Amazonas e do próprio Pará, as ve- te descansado, porque a sua energia elétri-
lhas danças cerimoniais se encontram in- ca se esgota com as sucessivas descargas, e
conscientemente substituídas pelas ladai- o animal não readquire todo o seu vigor se-
nhas, seguidas de danças. não depois de muito descanso. O poraquê
PURACY dançado. se encontra em quase todos os rios e lagos
PURACY IARA diretor da dança, diretor de do vale do Amazonas, embora pareça pre-
sala, dono da festa. Nas danças indígenas o ferir as águas correntes e profundas, os ca-
diretor da festa, que dirige as danças e vi- nais pedregosos e o remanso das cachoei-
gia para que tudo proceda de conformida- ras. O choque é voluntário; não é suficiente
de com os velhos costumes tradicionais é, o simples contato. O animal bem nutrido e
quando há, o filho mais velho do tuxaua ou descansado pode ser tocado impunemente,
do dono da maloca, onde a festa é dada; e, sem se receber choque; se já acostumado,
na falta, é pessoa designada por este e geral- não se move. Para receber a descarga pre-
mente escolhida entre os parentes mais pró- cisa que o animal se mova, parecendo que
ximos. Ele se distingue dentre todos, não só é com o movimento que esta se produz. A
por levar uns enfeites mais simples e espe- carne do poraquê não é muito estimada co-
ciais, mas porque empunha o murucu e em- mo comida, e é cheia de espinhas longas e
braça o escudo elegantemente trançado de flexíveis, muito características.
cipó, o vaapi irerú pupeca, tampa do vaso PURAKÉ CUARA buraco dos poraquês.
do capi, de que se utilizará quando servir PURAKÉ-TYUA terra dos poraquês.
o capi. Como diretor da sala, dá o sinal do PURAKÉ-YUA poraqueíba, Puraqueiba guaya-
inicio e fim das danças, marca o momento nensis, árvore que cresce de preferência nos
em que as mulheres podem vir tomar par- lugares rochosos, à margem do rio, e dá uma
te nelas ou devem delas sair, dirige a distri- excelente madeira para construções civis.
buição das bebidas, determinando os mo- PURAKY trabalhado, lidado, trabalho.
ços que devem distribuir o caxiri, e serve ele PURAKYSARA trabalhador.
mesmo o capi, que somente pode ser bebi- PURAKYSAUA trabalho, lida.
do pelos iniciados, com exclusão dos moços PURAKY TENDAUA lugar de trabalho.
e das mulheres. PURAKYUARA trabalhante.
PURACY-OCA casa da dança, sala da dança. PURAKYUERA trabalhável.
PURACY -SARA quem faz dançar, quem dá a PURAKYYMA não trabalhado.
festa. PURAKY-YMASAUA vadiagem.
PURACY-PORA dançarino. PURANGA bonito, belo.
PURACY-TYUA lugar da dança. PURANGA-ETÉ muito belo, bonítissimo.
PURACY-UÁRA festejante, dançante. PURANGA-PIRE mais bonito, mais belo.
PURACY-YMA não dançado. PURANGA-PORA bonitão, cheio de boniteza.
PURACY-YUA o festejado, aquele a quem é PURANGASARA quem faz, torna bonito.
dedicada a festa. PURANGASAUA boniteza, beleza.
PURAIN necessitado, carecido, precisado. PURANGATYUA lugar de boniteza, de beleza.
PURAiNGARA carecedor, quem necessita, PURANGAUA o belo, o bonito, purangaba.
precisa. PURANGAYMA não belo, sem boniteza.
PURAINGAUA necessidade, precisão. PURARE suportado, aguentado, sofrido.
PURAKÉ poraquê, tremelga, Gymnotus ele- PURAREPORA suportante, aguentante, so-
tricus. Peixe-elétrico, do feitio de uma en- frente.
PURARESARA
PURARESARA suportador, aguentador, sofre- cilmente por contato. Dizem que se trans-
dor. mite também por meio da comida ou da
PURARESAUA sofrimento, aguentação. bebida, misturando a qualquer destas um
PORARETYUA lugar onde se sofre, suporta, pouco de raspagem da pele atacada pela
aguenta. doença, devendo notar-se que, para algu-
PORAREUARA sofrente, suportante, aguen- mas tribos, o ser foveiro é sinal de distin-
tante. ção, e as manchas são consideradas como
PORAREUERA sofrível, suportável, aguentá- as imagens das estrelas, com que são assi-
vel. nalados os escolhidos pelo Sol.
PURAREYMA não sofrido, não suportado. PURURÉ enxó, ferro para cavar canoas. O
PURAUACA escolhido, preferido. pururé, que por estes rios afora tenho ain-
PURAUACASARA escolhedor. da encontrado em uso, é um pequeno ma-
PURAUACASAUA escolhimento. chado de pedra, montado em cabo feito de
PURAUACATAUA escolhedouro. um galho de pau, naturalmente curvo em
PURAUACAUARA escolhente. ângulo mais ou menos reto, para assim dar
PURAUACAUERA escolhível. melhor jeito para escavar o fundo da ca-
PURAUACAYMA não escolhido. noa. O trabalho do pururé, como o do ma-
PURAUKI trabalhado (usado em alguns lu- chado de pedra, é auxiliar o trabalho do
gares em vez de Puraki). V Puraky e comp. fogo, desbastando a camada de madeira
PURE pulado, saltado. carbonizada, para aplicar outra vez o fogo
PUREPORA pulante. e obter outra camada para desbastar, repe-
PURESARA pulador. tindo a operação quantas vezes for neces-
PURESAUA pulação. sário, até obter a espessura conveniente. A
PURETYUA lugar do salto. habilidade de quem se serve do pururé es-
PUREUÁ pulo. tá, pois, antes em guiar e regular o fogo do
PUREUARA pulável. que no manejo do instrumento, e é admi-
PUREYMA não pulado. rável como isso se faz rápida e regularmen-
PURIASU pobre, desgraçado, desditoso. te, tanto que, muitas vezes, mesmo depois
PURIASUERA muito pobre, muito desgraça- de obtida uma enxó de ferro, continuam a
do, muito desditoso. servir-se do fogo.
PURIASUSAUA desgraça, desdita. PURUSARA emprestador, ornamentador.
PURU emprestado, ornado, enfeitado. PURUSAUA empréstimo, ornamentação.
PURUÃ embaraçada, prenhe. V Poruã e PURUTi' andorinhão.
comp. PURUTYUA lugar de empréstimo, de orna-
PURUARA morador do Purus. mentação.
PURUCA descarregado, tirado do lugar. PURUUARA emprestante, ornante.
PURUCASARA descarregador. PURUUERA ornável.
PURUCASAUA descarregamento. PURUYMA não ornado, não emprestado.
PURUCAUARA descarregante. PUSÁ rede para pescar. A rede que tenho en-
PURUCAUERA descarregável. contrado usada no alto Uaupés, além de ser
PURUCAYMA não descarregado. diferente pelo fio empregado, difere pela
PURU-PURU doença da pele, foveiro. É doen- malha. Nas pequenas redes, de que se ser-
ça muito comum entre os indígenas. A pe- vem para pescar nos poços em tempo de se-
le se mancha ora em branco ora em preto, ca, a malha é solta e formada pela simples
e muitas vezes os lugares assim mancha- torção do fio, torção que apresenta suficien-
dos se tornam escamosos e até chaguentos. te resistência para impedir a saída do pei-
Parece ser degenerescência do pigmento xe. Nas maiores, as malhas são feitas por
subcutâneo, devida ao abuso das comidas meio de nós, mas estes são simples. O fio,
de peixe, especialmente dos peixes de pele. pelo contrário, em todas elas é muito pouco
É doença contagiosa e que se transmite fa- torcido, e frouxo, e isto, dizem, para impe-
PYCASAUA
= 470 '"""
R prefixo pronominal da segunda pessoa, RAISU, RAIXU sogra, com referência ao genro.
substitui s, e e t, precedendo a vogal, com a RAMÉ quando, ao tempo em que. Aditado ao
qual começam as palavras que o admitem. indicativo presente, lhe dá uma significação
É prefixo da segunda e terceira pessoa nos muito próxima à do nosso imperfeito, sen-
nomes de coisas inanimadas e que não ad- do em muitos casos empregado em lugar de
mitem t. iepé. Aditado aos outros tempos, é em mui-
RACA, SACA, ACA ponta, corno; afinado, tos lugares usado de preferência a ipu para
adelgaçado, extremo, saído, tirado. formar o condicional.
RACANGA, SACANGA saído, ramo (de árvo- RAMÉÁRA dia marcado.
re), braço, afluente (de rio). Mirá racanga: RAMÉYMA sem dia, sem tempo fixo.
galho de pau. Paranã racanga: braço do rio, RAMUNHA, TAMUNHA, SAMUNHA avô.
afluente. RAMUNHATYUA terra dos avôs.
RACAPIRA, SACAPIRA ponta, fim, extremi- RAMUNHAYMA sem avós; sem passado.
dade. Paranã sacapira: cabeceira do rio. RAMUNHAYUA a origem dos avós.
RACUÁ, TACUÁ, TACUÁ pentelho, os pelos que RANA sufixo com a significação de espúrio,
crescem em volta das partes genitais, e com es- adulterado, falso, não verdadeiro, imita-
pecialidade da mulher e das fêmeas em geral. do. Timborana: falso timbó. Canarana: fal-
RACUENA vagem, síliqua. sa cana.
RACUNHA, SACUNHA, TACUNHA partes geni- RANGAUA, SANGAUA figura, tempo, hora,
tais do macho; o membro. medida. Mira rangaua: figura de gente, re-
RAÍCA, SAÍCA nervo, o que é flexível ao mes- trato. Ara rangaua: figura do dia, relógio.
mo tempo que é resistente, sajica. Pana rangaua: medida do pano. Embaú
RAIN, RAEN ainda. Inti rain: não ainda. rangaua: hora de comer.
Xamaa putare rain má catu pire: quero ain- RANHA, SANHA, TANHA dente. Sanha pusa-
da ver o que é melhor. nün era: dentista. Ranha saci: dor de dente.
RAINHA, SAINHA, TAINHA criança, caroço. RANHASU dente grande.
RAIERA, TAIERA filha, do homem e com re- RANHAYMA sem dentes.
ferência ao pai (Rio Negro). RANHAYUA raiz do dente.
RANHEN, RANHE
SACEMOYMA não gritado, não clamado, não rante a noite. É pássaro agoirante. Contam
ladrado. que é a alma de um pajé, que, não satisfeito
SACI dolorido, dor. Saci rupi: dolorosamente, de fazer mal quando deste mundo, muda-
asperamente, com dor. do em coruja, vai à noite agoirando aos que
SACIARA triste. Xaicô saciara: estou triste. lhe caem em desagrado, e que anuncia des-
Opitá saciara: ficou triste. graças a quantos o ouvem. O nome de sa-
SACIARA-PAUA tristeza. ci é espalhado do Amazonas ao Rio Grande
SACIARA-PORA contristador, contristante. do Sul. O mito, porém, já não é o mesmo.
SACIARA-YMA Nnão triste. No Rio Grande, é um menino de uma per-
SACIPORA cheio de dor. na só, que se diverte em atormentar à noi-
SACISARA atormentador. te os viajantes, procurando fazer-lhes per-
SACISAUA dor, tormento, paixão, sofrimento. der o caminho. Em S. Paulo, é um negrinho
SACISAUA-RUPI-MUNHÃ violentado. que traz um boné vermelho na cabeça e fre-
SACISAUA-RUPI-MUNHANGARA violentador. quenta os brejos, divertindo-se em fazer aos
SACISAUA-RUPI -MUNHANGAUA violência. cavaleiros que por aí andam toda a sorte de
SACITYUA lugar de dor, lugar de sofrimento. diabruras, até que, reconhecendo-o o cava-
SACIUARA tormentante, sofrente. leiro, não o enxota, chamando-o pelo nome,
SACIUARA tormentável. porque então foge dando uma grande gar-
SACIYMA não doído, não dolorido. galhada.
SACIYUA raiz da dor, causa do sofrimento, SAÊ espalhado.
veneno. SAENGA semente.
SACOCA, TACOCA caruncho. SAENGARA espalhador, semeador.
SACOCA sangrado. SAENGAUA semeação, espalhamento.
SACOCAPORA carunchoso. SAENTI encontrado.
SACOCASARA sangrador. SAENTISARA encontrador.
SACOCASAUA sangria. SAENTISAUA encontro.
SACOCATAUA sangradouro. SAENTITAUA lugar do encontro.
SACOCAUARA sangrante. SAENTIUARA encontrante.
SACOCAUERA sangrável. SAENTIUERA encontrável.
SACOCAYMA não sangrado, sem caruncho. SAENTIYMA não encontrado.
sACU quente. SAKENA, SACUENA ser cheirosa, ter bom
SACUA febre. cheiro.
SACUÃ pentelho. SAKENA, RAKENA uma casta de baunilha.
SACUARA coceira. SAKENAPORA cheirante, cheio de cheiro.
SACUENA cheiroso, que tem bom cheiro, boa SAKENASARA quem espalha bom cheiro.
fama. V Sakena e comp. SAKENASAUA espalhamento de bom cheiro.
SACUNHA as partes pudendas do homem. SAKENATAUA lugar onde se espalha bom
SACUPAUA quentura. cheiro.
SACUPIRE mais quente. SAKENAUARA que espalha bom cheiro.
SACUPORA esquentado. SAKENAYMA que não espalha cheiro bom.
SACURÁ casta de caracol. SAIU tostado, torrado, abrasado.
SACUSANGA ralo. SAKISARA tostador, abrasador.
SACUSARA esquentador. SAKISAUA tostamento, abrasamento.
SACUSAUA calor. SAKITYUA tostadouro, abrasadouro.
SACUTYUA esquentadouro. SAKIUA torrada, tosta.
SACUUARA· esquentante. SAKIUARA torrante, abrasante.
SACUUERA esquentável. SAKIUERA tostável, abrasável.
SACUYMA não quente. SAKIYMA não torrado, não tostado.
SACY casta de pequena coruja, que deve o no- SAI saí, lindo passarinho, cujo tipo é a Coe-
me ao grito que faz ouvir repetidamente du- rena cerulea, cuja cor dominante é o azul-
SAMAUMA
-celeste, e azul-cinéreo claro no peito, com pos de três nos pontos de intersecção, e de
algumas listras brancas e outras azuis nas fitas de várias cores, que pendem soltas, cujo
asas. numero é variável, visto como cada dona do
SAI-ASU sanhaço, casta de Coerena, alguma lugar ou devota tem o direito de pôr-lhe a
coisa maior do que a espécie anterior, ver- sua. O sairé, como geralmente se assevera,
de-cinzento mais claro no peito, onde tende representa o mistério da SS. Trindade e se-
ao amarelado, com umas listras mais escu- ria uma piedosa invenção dos Jesuítas, pa-
ras, quase pretas, nas asas. ra atrair os nossos silvícolas ao culto cris-
SAÍCA veia. tão. Sem garantir o fato, o uso do sairé em
SAIÉ riscado, gizado. certas e determinadas solenidades, uns qua-
SAIEPORA riscadíssimo. renta anos passados, era corrente em todo
SAIESARA riscador. o Amazonas, e lembro-me de tê-lo visto le-
SAIESAUA riscamento. var para a casa da festa nos próprios arre-
SAIETAUA riscadouro. dores de Manaus. Hoje só se usa o sairé no
SAIEUARA riscante, giz. interior, onde é ainda levado processional-
SAIEUERA riscável. mente da casa da festa para a capela, se há,
SAIEYMA não riscado. e desta para a casa da festa, por três velhas,
SAIMBÉ, CAAIMBÉ casta de planta que cresce uma das quais deve ser coxa, ou fazer de co-
caracteristicamente contorcida nos capões e xa. O sairé vai na frente, levado pela coxa,
caatingas, e cujas folhas largas, ásperas e re- que o empunha como um estandarte; duas
sistentes, especialmente quando secadas na outras velhas vão ao lado destas, segurando
sombra, servem de lixa. cada uma a fita que parte do pé da cruz que
SAIMBÉ alisado, afiado. está do seu lado. Depois vêm as mulheres,
SAIMBESARA afiador, alisador. segurando cada uma uma fita, das inúmeras
SAIMBESAUA afiamento, alisamento. que podem ser amarradas nos pontos de in-
SAIMBETAUA afiadouro, alisadouro. tersecção. Atrás vem a mó do povo. Velhas,
SAIMBÉUÁRA afiante, alisante. mulheres e povo procedem cantando e sara-
SAIMBÉUÉRA afiável, alisável. coteando, o que dá ao sairé um movimento
SAIMBÉYMA rombo, grosseiro, não afiado, de nau em tempestade, que somente acaba
não alisado. quando começam as danças; e o sairé, co-
SAIMBÓ agourado. mo um verdadeiro estandarte, é posto no al-
SAIMBÓSÁRA agourador. tar caseiro, acabadas as rezas e as ladainhas.
SAIMBÓSAUA agouro. O sairé tem cantos e rezas especiais em lín-
SAIMBÓUÁRA agourento. gua geral, mas, dos que tenho tido a ocasião
SAIMBÓYMA não agourado. de ver, me parece poder afirmar que são de
SAIN derramado. origem e procedência diversa, e que o que se
SAINGARA derramante, derramador. canta no rio Negro é diverso do que se canta
SAINGAUA derramamento. no Solimões, no baixo Amazonas, e no Pará.
SAINGAYMA não derramado. Se não afirmo terminantemente, é porque o
SAINHA, RAINHA caroço. Tainha: menino, canto do sairé é muito comprido ou parece
fruto da mulher. ser tal, e, pode muito bem ser, ter-se dado o
SAIRÉ sairé, semicírculo de cipó, formado de fato de me terem vindo às mãos e ter ouvido
três arcos concêntricos, que descansam so- pedaços diversos do mesmo canto.
bre o diâmetro, divididos em quatro reparti- SAMAMBAIA samambaia, pequenos Fetos da
mentos por três raios, que partindo do cen- terra firme.
tro reúnem os arcos. Os raios, maiores do SAMATIÁ, TAMATIÁ as partes genitais das fê-
que o semidiâmetro, acabam em três cruzes. meas; as partes genitais da mulher.
O arcabouço de cipó é todo revestido de fio SAMAUMA a paina que envolve a somente de
de algodão e ornado de borlas e plumas de uma das mais gigantescas árvores das flo-
cores vivas e espelhozinhos, postos em gru- restas amazônicas. É finíssima, sedosa e lú-
cida, mas até agora não parece que, em mão SANTÁRÁNA falso duro, que parece mas não
dos civilizados. tenha servido a outra coisa é duro, que apresenta pouca resistência.
senão encher almofadas, fazendo nisso con- SANTÁSÁRA endurecedor.
corrência à paina de monguba. Os indígenas SANTÁSÁUA endurecimento.
servem-se da paina da sumaúma, mesmo de SANTÁTÁUA lugar onde se endurece ou é en-
preferência à paina de monguba, para fazer a durecido.
bolinha obturadora nas flechas da zarabata- SANTÁUÁRA endurecente.
na. No Purus, porém, os Ipurinas me fizeram SANTÁ-YMA não endurecido, frouxo.
ver, e já tive em meu poder, uns enfeites teci- SANTiN, SANTi agudo, ponta, a proa da ca-
dos, que pretendiam ser de sumaúma fiada. noa.
SAMAUMAYUA samaumeira, a árvore que dá SANTINGARA, SANTIN-UARA proeiro.
a samaúma, Chorisia. SAÓ, SAÚ casta de macaco, Callithrix sp.
SANACURY vomitório (no rio Negro, segun- SAÓ-MIRi saú pequeno, Callithrix nigrifrons.
do Martius) SAÓ-TINGA saú branco, cinzento, Callithrix
SANGAUA, RANGAUA, ANGAUA figura, pare- cinerescens.
cença, imagem. SAPÉ, RAPÉ caminho. V Rapé e comp.
SANGAUASARA figurador. SAPECA chamuscado, sapecado.
SANGAUASAUA figuração. SAPECASARA chamuscador.
SANGAUAUARA figurante. SAPECASAUA chamuscamento.
SANGAUAYMA sem figura, sem forma, sem SAPECATAUA chamuscadouro.
sinal. SAPECAUA chamusco.
SANHA, RANHA, TANHA dente. SAPECAUARA chamuscante.
SANHA COCO! dente caído. SAPECAUERA chamuscável.
SANHA MPUCA dente saído. SAPECA-YMA não chamuscado.
SANHA MPUCASAUA dentição. SAPECUMA, RAPECUMA ponta, saliência.
SANHA MPUSANUNGARA dentista. SAPECUMAPORA que está, mora na ponta.
SANHANA colecionado, coligido, reunido, re- SAPECUMAUARA que é da ponta.
colhido. Dr. Couto de Magalhães osanha- SAPI queimado, escaldado, seco pelo efeito
na cuaá ombecusaua-etá: o Dr. Couto de do sol. Coaracy ara ramé pari osapi pau: no
Magalhães colecionou estas lendas. verão o campo seca todo.
SANHANASARA colecionador. SAPIÁ, RAPIÁ, TAPIÁ testículo. V Rapiá.
SANHANASAUA coleção. Nheengatu nheenga SAPIAPORA que está nos testículos.
sanhanasaua: coleção de palavras nheenga- SAPICA casta de caranguejo.
tu, dicionário de língua geral. SAPIETÉ, SAPIRETÉ abrasado.
SANHANATAUA lugar onde se reúne, colige, SAPIETESARA abrasador.
recolhe. SAPIETESAUA abrasamento.
SANHANAUARA recolhente. SAPI-SAPI afogueado.
SANHANA-YMA não colecionado, reunido, SAPISARA queimador.
recolhido. SAPISAUA queimação.
SANHA-YUÍRA, SAUÍRA gengiva. SAPI-TATÁ incendiado; lit.: escaldado a fogo.
SANHÊN apressado, com pressa. SAPITYUA queimadouro.
SANHENGARA apressador, quem está com SAPIUÁ queimada.
pressa. SAPIUARA queimante.
SANHÊNGAUA pressa. SAPIUERA queimável.
SANHÊN - YMA sem pressa. SAPIXARA homônimo. V Rapixara e comp.
SANTÁ duro, sólido, resistente, coalhado. SAPIYMA não queimado.
SANTÁCUÉRA que foi duro. SAPOMI, SAPUMI cochilado.
SANTÁKYRA a parte dura das raízes cozidas SAPOMIPORA cochilante.
comestíveis, a parte ainda não madura das SAPOMISARA cochilador.
frutas. SAPOMISAUA cochilamento.
SARARACA
a tocari, que é uma Bertholetia, no entan- queno caranguejo que se costuma encon-
to que a sapucaia é uma Lecythis. Embora trar nos igapós e igarapés.
sejam ambas gigantes das florestas ama- SARARACA flecha especial para tartaruga.
zonenses, têm áreas de habitação diver- Tem a ponta de ferro, de forma quadrangu-
sa. Além de não se encontrarem juntas na lar, emechada num espigão de paracuuba e
mesma mata, a tocari que abunda nas ma- presa à haste por uma linha comprida, fina
tas do Solimões e do baixo Amazonas é ra- e forte, que nela fica solidamente enrolada.
ra no Pará, onde abunda a sapucaia. O pescador não flecha diretamente a tarta-
SARASARA
ruga, a flecha resvalaria sobre o casco; fle- meninice dos filhos. É a influência que afir-
cha em parábola, isto é, calculando a olho, mam exercer a mulher grávida sobre as coi-
com a exatidão que lhe dá a prática, a dis- sas que a cercam, tornando-se capaz de tu-
tância em que se acha o alvo, solta a flecha do estragar com o simples olhar, podendo
de modo que, vinda do alto, caia perpendi- muitas até afrontar impunemente as cobras
cularmente sobre o animal e se afinque so- mais perigosas, que, pelo contrário, podem
lidamente no casco. Nisso os nossos indí- morrer, se olhadas ou tocadas por ela. É o
genas são habilíssimos e muito raramente que faz que, se na maloca onde ela se acha
erram o alvo. A tartaruga, ao sentir-se fle- deve ser moqueada alguma caça ou pesca,
chada, mergulha, a haste da flecha saca e fi- ou a mulher sai ou o moquém se arma fora,
ca de bubuia, desenrolando-se a linha que longe da vista dela. Mas não é só a mulher
a prende ao bico, rapidamente. O pescador, grávida que é saruá, saruá são todas as fê-
então, apanha a haste e, devagarzinho, sem meas grávidas, pelo que é obrigação estrita
puxões, recolhe a linha. A tartaruga obede- do caçador que as encontrar deixá-las ir em
ce facilmente e vem até o pé da canoa, se- paz, sob pena de se tornar panema e nunca
guindo a pressão da linha, feita com jeito e mais voltar a ser caçador afortunado. Os es-
vagar, e aí, para os que têm a prática neces- tranhos também podem fazer saruá, e é um
sária, não custa embarcá-la. dos poderes do pajé, embora haja pessoas
SARASARA enrolador. que o podem fazer sem sê-lo. Em qualquer
SARASAUA enrolamento. caso, porém, precisam de ter em seu poder
SARATAUA enroladouro. alguma coisa que pertença ou tenha perten-
SARAUÁ rolo. cido à pessoa contra quem se quer dirigir
SARAUARA enrolante. o saruá; e é suficiente um cabelo, um pe-
SARAUATANA zarabatana. V Carauatana. daço de unha, um pouco de raspagem da
SARAUERA enrolável. pele, qualquer "sujo" que venha do sujei-
SARAUIANA, SARABIANA casta de peixe, to: sem tê-lo, nada podem fazer. Isto posto,
Cichla temensis. o saruá, se tem alguma coisa do quebran-
SARAYMA não enrolado. to, e da jetatura e de outras superstições eu-
SARECUA, SARCUA cacho. ropeias, tem caracteres próprios que o tor-
SARIUÁ, SARIUÉ sariga [sariguê], casta de nam original.
pequena mucura do gênero Didelphys. SARUARA esperante.
SARU, SARUN esperado. SARUERA esperável.
SARUÁ o mal que alguém pode produzir, SARUNGARA esperador, quem espera.
mesmo de longe, e que é esperado como SARUNGAUA esperança.
consequência natural e necessária de um SARUYMA não esperado.
ato qualquer, voluntário ou não, em dano SARUYUA fé, fundamento da esperança.
das pessoas da própria família ou alheias, SARYUA pinha, cacho.
mas às quais é ligado de algum modo, ou SASASASAU passado e repassado. V Sasau e
sobre as quais pode ter uma influência comp.
qualquer, por possuir alguma coisa que lhes SASAU passado, atravessado.
pertenceu. É a influência que pode exercer SASAUA passe.
o pai sobre os próprios filhos logo depois de SASAUARA passante, transitante.
concebidos e durante toda a meninice, co- SASAUERA passável, transitável.
mendo, bebendo ou fazendo alguma coisa SASAUPORA cheio de passes. Yarapé sasaupo-
que, por isso mesmo, lhe é defendida. Daí ra: igarapé cheio de passagens, que se passa
vem o resguardo do marido pelo parto da em qualquer lugar.
mulher, ficando ele em descanso, com se fo- SASAU-PURE excedido, passado por cima. V
ra a parturiente, o cuidado de não comer Pure e comp.
certas caças ou certos peixes, especialmen- SASAUSARA atravessador.
te de pele, durante a gravidez da mulher e a SASAUSAUA passagem, travessia.
SERÁ?
gente? Omundu ocenoicári será ixé? man- sóó animal, melhor talvez quadrúpede,
dou-me chamar? Resó putári será cuá rupi?: compreendidos neste nome os quadrúma-
queres ir por cá? nos. Na realidade sóó não compreende nem
sô ido, andado. uirá nem pirá, e se sóó-miritá - bichinhos
SOAITI atalhado. - abrange todos os que se movem sobre a
SOAITISARA atalhador. terra, ainda assim exclui os peixes e as aves.
SOAITISAUA atalhação. só-OCARA-KITI saído para fora, viajado.
SOAITI TENDAUA lugar de atalho. SO-OCARA-KITISAUA viagem, ida para fora.
SOAITIUÁ atalho. SO-OCARA-KITI-UARA viajante.
SOAITIUARA atalhante. sóócuÉRA carne, a carne de qualquer ani-
SOAITIUERA atalhável. mal depois de morto, e, com especialidade,
SOAITIYMA não atalhado. a que é recortada e destinada a ser comida.
SOANTi, SOAENTi encontrado, ido ao encon- sÓÓKÍRA carne gorda, gordura.
tro. É ato voluntário, se encontra porque sooMIRi baixinho, inseto, tudo que não tem
se procura; no entanto, iuantl e iuaentl in- nome especial.
dicam antes um encontro fortuito. De só e SÓÓPAPÁU, sÓPAPÁU quinta feira, contração
anti, ir na ponta. V Iuaentl e comp. de Sóó opapau: a carne acabou.
SOATI ninho. SOPARE envolvido, empaneirado.
SOCA, ROCA, OCA casa. V Oca e comp. SOPARESARA empaneirador, envolvedor.
socA arrimado, apoiado. SOPARESAUA empaneiramento, envolvimen-
SOCANGA suportado. to.
SOCANGARA suportador. sOPARETYUA empaneiradouro, envolve-
SOCANGAUA suportação. douro.
SOCANGAYMA não suportado, insofrido. SOPAREUARA empaneirante, envolvente.
socASARA apoiador, arrimador. SOPAREUERA empaneirável, envolvível.
SOCASAUA arrimo, apoio. SOPAREYMA não empaneirado, não envol-
SOCATYUA lugar de arrimo, de apoio. vido.
SOCAUARA arrimante, apoiante. SOPAREYUA paneiro, invólucro.
SOCAUERA arrimável, apoiável. SOPIRERA, SÓÓPIRÉRA couro.
socAYMA sem arrimo, sem apoio, sem casa. SOROCA rasgado, roto.
socó nome genérico de uma casta de SOROCAPAUA rasgamento, rompimento.
Pernaltas, de pescoço muito comprido e SOROCAPORA rasgante, rompente.
desproporcionado com o corpo, e bico for- SOROCASARA rasgador, rompedor.
te e acerado, aves que estão entre as cego- soROCATYUA rasgadouro, rompedouro.
nhas e as árdeas. soROCAUÁ o rasgado, o roto.
socoi socozinho. SOROCAUERA rasgável, rompível.
soco!, TOCO! exclamação admirativa du- SOROCAYMA não rasgado, não roto.
bitativa, que se poderia traduzir: Possível! SOROROCA retalhado, recortado, esfiapado.
Ora, ora! V Soroca e comp.
socó-MBOIA casta de cobra que vive na pro- SORY alegre, satisfeito. Xaicô sory: estou satis-
ximidade d'água, pequena Constritor. feito. Tupana oxaisu mira sory: Deus gosta
socoRó fruta que cresce no igapó. da gente alegre.
SOECÉ acometido, arremetido. SORYARA alegrante.
SOECÉSÁRA acometedor. SORYSARA alegrador.
SOECÉSÁUA acometimento. SORY-YMA não alegre, insatisfeito.
SOECÉTYUA acometedouro. SORY-YUA alegria, satisfação.
soECÉUA acometida. SOSARA andador.
soECÉUÁRA acometente. SOSAUA andada.
SOECÉUERA acometível. SOTYUA lugar de ida, andadouro.
SOECÉYMA não acometido. SOUAIA, SUAIA terra de além. V Suaia.
SUAXARA
SUAXARA-NHEEN replicado. SUIUARA que é de, vem de, é feito de. Itaiuuá
SUAXARA-NHEENGA réplica. suíuára: feito de ouro. Iané suíuára: dentre
SUAXARA NHEENGARA replicador, replicante nós.
SUAXARASARA respondedor. surnõN, surnuN ciumado, implicado.
SUAXARASAUA resposta. surnuNGARA implicante, ciumento.
SUAXACATYUA lugar da resposta. SUIRUNGAUA implicância, ciúme.
SUAXARAUARA respondente. SUIRUN-UERA ciumento.
SUAXARAUERA respondível. surnuN-YMA não ciumado, não implicado.
SUAXARAYMA sem outro lado, não respon- SUK! azul. Pana amaniú suki suaiauara: pano
dido. de algodão azul da outra banda.
SUAYA coca boliviana (Japurá). SUKIRA azul-celeste.
SUAYU pálido, descorado. SUKIRA CERANE azulado.
SUAYUSAUA palidez. SUKIRA-ETÉ muito azul.
sucuAcu sexta-feira, dia de jejum; jejuado. SUKIRANA bem azul.
SUCUACUSARA jejuador. SUMARÉ casta de Orquidácea.
SUCUACUSAUA jejum. SUMBOI-PÉUA sanguessuga.
SUCUACU TENDAUA lugar de jejum. SUMBY bunda, nádegas.
SUCUACUARA jejuante. SUMBYCA, SUMYCA inchado, arredondado.
SUCUACUERA jejuável. SUMBYCASARA inchador.
SUCUACUYMA não jejuado. SUMBYCASAUA inchaço.
sucur eis. Misucui: eis aqui. SUMBYCA TENDAUA lugar do inchaço.
SUCUPYRA casta de Leguminosa, que cres- SUMBYCAUARA inchante.
ce nas termas firmes e fornece boa madeira SUMBYCAUERA inchável.
para marcenaria. SUMBYCA-YMA não inchado.
SUCURUIÚ, SUCURYIÚ, SUCURIJÚ Boa scin- SUMBYPORA nadegudo.
talis, grande Constritor, que atinge enor- SUMBY UASU bunda grande.
mes dimensões e vive de preferência nos SUMICA roxo-violeta-claro.
lugares banhados e mesmo nos rios e la- SUMUARA, IRUMUARA companheiro.
gos. Embora em nenhuma parte comum, SUMYTERA cerne, parte dura e central das
se encontra em todo o Amazonas e afluen- plantas.
tes, e ataca indiferentemente a presa tanto SUMYTERAPARA cheia de cerne.
dentro como fora d'água. SUMYTERAUARA que é de cerne.
SUCUYUA, SUCUUBA casta de árvore da tri- SUMYTERAYMA sem cerne.
bo das Plumerineas, que cresce nas campi- SUNDARI bolo de mandioca com ovos (rio
nas e dá uma paina somente utilizada pa- Solimões).
ra encher almofadas. Da casca, por meio suPÉ a, para. Remeen i supé: dá a ele. Rerure
de incisão, extraem um leite que serve pa- ce supé: traz para mim. Osuaxara aé supé:
ra emplastros. respondeu a ele ou para ele.
suí de, do, da. Indica o lugar de onde se sai SUPEPE ao próprio, para o próprio, para o
ou se vem, ou de onde a ação parte ou se mesmo. Xameen í supepe: dou ao próprio.
inicia. Mira ciupiru ocemo cé oca suí: a gen- SUPEUARA aquele para quem. Ma supeuara
te começa a sair de minha casa. Indica tam- cuaá maá-etá: para quem estas coisas?
bém a matéria de que uma coisa é feita: Kicé SUPI deveras, na verdade.
itá eté suí: faca de aço. Soca yuy suí: casa de SUPIÁ OVO.
terra. Do meio de: Repuruaca iepé apyaua SUPIÁ AYUA ovo estragado, choco.
iané suí: escolhe um homem dentre nós. SUPIÁ CATU ovo fresco, novo.
SUINDÁ aquele lado. SUPIÁ PIRERA casca de ovo.
SUINDÁ KITI para aquele lado. SUPIÁ-PORA ovada, cheia de ovos.
SUINDAPE naquele lado. SUPIARA envenenado; a quem se administra
surnnÁ suí de aquele lado. veneno.
SURURINA
TACUA RIRI tremente de febre. TAIÁ-UASU tajá grande, várias espécies de ta-
TACUNHA, SACUNHA, RACUNHA membro, já de folhas grandes, e entre elas a Co/ocasia
partes genitais do macho. esculenta, ou tajá-couve, e uma espécie de
TACUNHA CAUA casta de caba. Aroidea de folha gigantesca.
TACUNHA-YUA o pedaço de pano, casca ou TAIÁ-UNA tajá-preto, várias espécies de
qualquer outro adminículo que serve pa- Cal/adiuns com as folhas manchadas de
ra cobrir as partes pudendas do homem. V preto, e uma variedade de raiz esculenta,
Coeiú. mas que precisa saber distinguir das outras,
TAÍ queimoso, picante. que são geralmente venenosas.
TAIA ardente, o efeito da pimenta sobre a TAIÁ-YUA tajaba, tajaoba, nome que em al-
mucosa da boca. guns lugares dão à Colocasia esculenta.
TAIÁ tajá, nome comum a muitas plantas que TAICY casta de formiga-de-fogo; mãe quei-
se distinguem pelas largas folhas, forman- mosa, mãe do ardor.
do toiça, muitas vezes elegante e capricho- TAÍNA criança, nome que serve para os dois
samente manchadas; do gênero Calladium sexos durante os primeiros anos de vida, até
e afins. que comecem a andar e a falar, quando já
TAIACICA casta de peixe. tenham recebido um nome, e já comecem
TAIA-EMBÁ casta de Aroidea que toma o as- a especializar-se nos respectivos serviços,
pecto de tajá sem sê-lo; como, aliás, diz o porque então passa o menino a ser curumi' e
nome: não tajá. a menina, cunhantaf.
TAIÁ-PÉUA, TAJAMBEBUA, TAJAPEBA tajá de TAINAPURACASARA, TAINAPURASARA ama-
raiz chata. -seca, carregadora de criança.
TAIÁ-PINIMA tajá-pintado. TAINHA, RAINHA, SAINHA caroço. V Rainha.
TAIÁ-PIRANGA tajá-vermelho, tajá pintado TAINHA casta de peixe de escama.
de vermelho. É entre estes que, parece, es- TAIOCA, TACA casta de formiga.
tão as espécies mais venenosas. É um tajá de TAIPA ripado, o atravessar horizontalmente
largas manchas vermelhas cor de sangue, de a ripa, segurando-a nos esteios e mais ma-
cujas raízes os indígenas do Uaupés extraem deiras de enchimento das casas de taipa, pa-
o veneno que propinam às mulheres conde- ra poder levantar a parede de barro e rebo-
nadas à morte por terem surpreendido al- cá-la.
guns dos segredos do Turupari. V Iurupary. TAIPAPORA enchimento.
TAIÁ-PURUU tajapuru, tajá a cuja raiz se atri- TAIPARA ripa, a fasquia de madeira, a ver-
bui a propriedade de trazer a felicidade nos gôntea, a taquara ou qualquer outra coisa
amores e de tornar marupiara quem a traz análoga que serve para ripar.
consigo, pelo que se encontra muito cultiva- TAIPASARA ripador.
do, especialmente no baixo Amazonas. TAIPAUA ripagem, ripamento.
TAIARA queimante. TAIPA-YMA não ripado.
TAIASU, TANHASU queixada, porco-do-mato, TAISU, RAISU sogra.
dente-grande, Dicotyles labiatus. Nome que TAITATI, RAITATI nora.
hoje em dia é dado geralmente também ao TAITÉ coitado, infeliz, desgraçado, pobre; for-
porco doméstico. ma comiserativa. Taité ixé: pobre de mim, ai
TAIASUAIA porco de casa (contração de taia- de mim. Taité indé: pobre de ti. Ma osaru cuá
çu, porco, e suaia, de além). mira taité?: que espera esta pobre gente?
TAIASU urnÁ ave-porca, Nictirax. Ave ribei- TAITEÍRA pobrezinho.
rinha, cujo nome é devido ao barulho que TAITÉYUA infelicidade, desgraça.
faz com o bico forte e volumoso, baten- TAITÉUÁRA infelicitante.
do entre si os queixos, e que faz lembrar o TAITITU, CAITITU taititu, casta de porco-do-
barulho que faz ouvir o queixada, taiaçu, -mato, menor do que o queixada, embora
[que] quando andando bate os dentes; taki- com os mesmos hábitos, Dicotyles torqua-
ri (Solimões). tus.
TAMACOARÉ
gas pajés que o óleo extraído quando a planta do tamandoaf, seca e preparada, vale mui-
mete novos brotos, em lugar de curar, enve- to bom dinheiro, e é procurada pelos jo-
nena as chagas. É o que talvez explique ava- gadores como capaz de lhes trazer a sorte.
riabilidade dos efeitos que este produz, em- TAMARACÁ instrumento feito de um tron-
bora esta possa também ter por causa o vir co de pau oco, a que foi posta uma tampa
o verdadeiro óleo de tamaquaré misturado de pele qualquer, usado nas festas e em al-
com outros óleos, tirados por ignorância ou guns lugares em lugar do torocano; por ex-
mesmo por pouco escrúpulo, de plantas di- tensão, tambor.
versas, embora parecidas. TAMARACÁ, ITAMARACÁ sino. V Itamaracá.
TAMACOARÉ-YUA tamaquareúba, tamaqua- TAMARANA clava de pau duro e pesado,
rezeiro, casta de caraipa que cresce nas ter- achatada de um lado, e suficientemente lar-
ras firmes, e dá um óleo usado para cura de ga para poder servir tanto de arma de guer-
chagas e feridas. V Tamacoaré3 ra como de remo, e, do outro lado, com uma
TAMANDOÁ, TAMANOÁ tamanduá-bandeira, cômoda e boa empunhadura, permitindo
Myrmecophaga jubata, casta de grande Des- manejá-la com duas mãos.
dentado, facilmente reconhecível pelo foci- TAMARU casta de crustáceo da costa.
nho fino e comprido, a língua vermiforme e TAMATÁ, TAMOATÁ casta de peixe, que, pe-
visguenta, e sobretudo pela bela e rica cau- la disposição especial das guelras, pode su-
da, que, andando de um lugar para outro à portar, sem morrer, o ficar algum tempo fo-
cata de formigueiros, levanta em arco como ra d' água, o que lhe permite fazer pequenas
uma bandeira, de onde a adição feita pelos travessias por terra, não sendo raro encon-
Portugueses ao nome indígena. O tamanduá, trá-lo no mato passando de um rio, lago ou
apesar de não ter dentes, é um animal muito igarapé para outro, de onde o nome que em
respeitável e pode tornar-se perigoso, se che- muitos lugares lhe dão de peixe-do-mato,
ga a abraçar-se com o adversário, e consegue Cataphractus callichthys e afins.
cravar-lhe no corpo as fortes e afiadas unhas, TAMATIÁ, SAMATIÁ, RAMATIÁ as partes pu-
de que é fornecido. Me têm contado que até dendas da mulher e das fêmeas em geral.
a onça o respeita e guarda-se bem de atacá-lo TAMATIÁ CAUA casta de caba que faz o ninho
de frente. O povo chama tamanduás todos os de barro com uma única abertura para en-
negócios duvidosos e que, apesar das aparên- trada, e esta apresenta a forma de uma fen-
cias ou do que se apregoa, têm atrás de si ra- da de rebordos salientes, que lembra as par-
bos que se não acabam. tes pudendas das fêmeas.
TAMANDOAI tamanduazinho, tamanduá TAMATIÁ UIRÁ é o nome de duas espécies de
pequeno, Myrmecophaga didatyla. Lindo pássaros: um acuraua, casta de caprimulgo,
mamífero, pouco maior do que um gros- e um sorocofn, de peito cor-de-rosa, casta de
so rato, sem dentes, de focinho alongado capita, o tamatiá de Orbigny.
e língua vermiforme e viscosa, o pelo ma- TAMBA bebida fermentada de beijuaçu cozi-
cio como seda, comprido, fulvo-leonado- do e diluído n' água; casta de caxiri.
-claro, as mãos e os pés armados de fortes TAMBAKI tambaqui, peixe de escama, mui-
unhas, que não largam facilmente a presa to apreciado e suficientemente comum em
e se fazem respeitar. As unhas, assopradas todo o Amazonas, parente próximo dos
e preparadas com carjuru da lua por pajé Caracini, dos quais tem o aspecto geral e
são consideradas potentíssimos amuletos, o porte, embora chegue a tamanhos muito
e é uma unha de tamandoaf que Jurupari maiores do que aqueles. O tambaqui, muito
dá a Cárida quando partem em persegui- apreciado durante todo o ano, se torna in-
ção dos velhos traidores do segredo; e é tragável e quase repugnante no começo das
pondo-a no nariz que ele é transportado enchentes, quando come a fruta do louro.
aonde quer e se transforma no que mais TAMBÁ-TAIÁ casta de Calladium, de cujas fo-
lhe convém. Ainda hoje, tanto no Pará co- lhas se fazem emplastros para cura de in-
mo no Amazonas, a unha da mão esquerda chações.
TAOCA
TAPICui casta de capim. TAPYIA TETAMA terra dos tapuios, pátria ta-
TAPHRI, TAPIRI varrido. puia, pátria dos tapuios.
TAPIIRISARA varredor. TAPYIAUARA que é dos tapuios, pertence aos
TAPIIRISAUA ato de varrer. tapuios.
TAPHRITYUA varredouro. TAPYIAYUA indigenato, qualidade de indíge-
TAPHRIUÁ varredura, o que é varrido. na.
TAPURIUARA varrente. TAPYIRA anta, tapir, Tapirus americanus. O
TAPIIRIUERA varrível. maior dos mamíferos do vale do Amazonas.
TAPHRIYMA não varrido. Pertence à ordem dos Pachydermos ungu-
TAPIRI, TAPERI abrigo provisório. V Papiri. lados, parente próximo do porco. Hoje em
TAPIRI V Tapiiri. dia, todavia, o nome é dado muito mais fa-
TAPIÚ casta de pequena formiga arbórea. cilmente ao boi doméstico do que à anta,
TAPIÚ-CAUA casta de caba que faz o ninho de modo que, nos lugares onde se cria ga-
muito parecido com o da formiga do mes- do, para evitar dúvidas em indicar a anta,
mo nome. Se a formiga se faz respeitada pe- se costuma dizer Tapyira caapora, anta do
la comichão que produz ao contato com a mato. Disso, os que não conhecem a anta
pele, a caba se faz respeitar pelas valentes não devem inferir que entre esta e o boi ha-
ferroadas, que distribui quando perturbada. ja alguma semelhança. Nada disso, até na
TAPIXAUA vassoura. presença dos dois animais se fica pergun-
TAPOCA, TAUOCA V Tauoca e comp. tando como foi possível a aplicação do no-
TAPU, RAPU, SAPU raiz, a parte das plantas me da anta ao boi. Basta dizer que, ao pas-
que fica debaixo da terra. so que este tem chifres e os lábios carnudos
TAPURU lagarta, verme, gusano, larva. Tapuru e salientes, aquela não tem chifres e aca-
pana mboisara: traça, lagarta roedora de pa- ba o focinho numa espécie de probóscide,
no. Tapuru-reía: praga de lagartas muitas. muito característica, pelo que só pode ter
TAPYIA tapuia, tapuio, isto é, indígena. É es- havido uma única razão, o tamanho.
ta se me afigura a sua significação etimoló- TAPYIRA CAAPORA anta do mato, que mora
gica, se, como creio, tapyia é a contração de no mato. Usado quando há necessidade de
taua, taba, + epy, origem, princípio, + ia: distingui-la do boi.
fruta; e, por via disso mesmo, tem o sentido TAPYIRA CAUA caba-de-anta, casta de caba.
de fruto da origem da taba. O desapareci- TAPYIRA COANA casta de pássaro.
mento de sílabas não acentuadas na forma- TAPYIRA COINANA casta de leguminosa e
ção das palavras indígenas não tem nada casta de pássaro.
de extraordinário, é até corrente; v. Tape. TAPYIRA CUNHÃ anta fêmea, vaca.
Acresce que é esta a significação corrente. TAPYIRA ETÉ anta verdadeira, para distin-
Quem diz tapuio, entende dizer indígena, gui-la do boi, quando necessário.
sem distinção de tribo e nem sempre su- TAPYIRA-IAUARA anta-cachorro, anta-on-
bentendendo a restrição de indígena ainda ça, que aparece aos caçadores que violam as
não civilizado. Não obsta o fato dos Tupis leis da caça matando as fêmeas quando grá-
da costa darem, como parece, o nome de vidas. Contam que é uma onça com cabe-
Tapuias a todas as tribos indígenas que não ça de anta, que, quando o caçador, confiante
eram Tupi-guarani, pelo que [se] encontra porque a vê descuidada deixá-lo aproximar,
traduzido por "inimigos". A tradução, está pensa podê-la flechar a salvo, se levanta e
claro, foi feita, antes atendendo ao estado mostra o que é, investindo, mal lhe dando
de fato do que à etimologia da palavra. Esta tempo, na mor parte dos casos, a fugir sem
é, pelo contrário, confirmada pela circuns- olhar para atrás.
tância da generalização do nome a todas as TAPYIRA PECÔ língua-de-vaca, casta de erva.
tribos que tinham sido obrigadas a retirar- TAPYIRA SUAIANA anta-de-além, o boi. Usa-
-se para o sertão perante a invasão e que do no caso de ser necessário especificar e
eram realmente fruto de origem das tabas. distingui-lo da anta.
TARA
TARA ornamento, enfeite. Acanga-tara: orna- que a reconhecem e ficam prevenidas contra
mento da cabeça, coroa de plumas. ela, porque, mesmo estabelecidas na proxi-
TARÁ casta de íbis, Geronticus oxycercus, midade, custa fazê-las passar para ela.
que se encontra de preferência no baixo TARACUÁ CIPÓ casta de cipó que fede a ta-
Amazonas e no Pará. No Solimões e no rio racuá.
Negro quase não aparece, e ainda menos TARAÍ-MBOIA casta de cobra-d' água, de cor
aparece nos seus afluentes. Aparece espora- amarelada.
dicamente no rio Branco. TARAÍRA traíra, trarira, casta de peixe de esca-
TARACAIÁ tracajá, a fêmea da Emys tracaxa. ma, Erithrynus e afins, que, pela potência da
O macho chama-se anauiry, anory. Menor dentadura, vem logo depois da piranha, pelo
de que a jurará ou tartaruga, se encontra em que alguns indígenas se servem também des-
todo o Amazonas e seus afluentes. Desova, ta para serra e até a preferem. Embora mui-
no começo das vazantes, no alto das praias, to espinhenta, a sua carne é muito apreciada
ao longo das margens dos rios, preferindo e, seja na subida, quando vão desovar nas ca-
os lugares em que a terra se torna friável beceiras, seja quando descem prenunciando
por estar misturada com areia. Os peque- a vazante, as piracemas de taraíras são objeto
nos saem depois de uma incubação de uns de ativa perseguição.
vinte dias, geralmente à boca da noite e cor- TARAÍRAMBOIA casta de enguia, traíra-co-
rem logo para a água sem nenhuma hesita- bra.
ção. A carne da tracajá para muitos é prefe- TARAÍRA MYRÁ, TARAÍRA CIPÓ cipó-de-
rida à da tartaruga. traíra, casta de timbó, Cocculus.
TARACUÁ taracuá, casta de formiga que, ir- TARAPE, TARAPEMA, TARAPÉUA grossa for-
ritada, exsuda uma substância que empes- miga de cabeça chata. Os pescadores, espe-
ta com o seu mau cheiro tudo que toca e cialmente os do Solimões, enfiam na ponta
por onde passa. Faz o seu ninho em forma da flecha a cabeça dela, afirmando que des-
de negras estalactites aplicadas à face infe- te modo a pontaria é certeira e a flecha não
rior dos troncos das árvores em que mo- se desvia.
ra. Carnívora, onde se aninha não consente TARAPU lagarto, Lacerta.
que suba outra qualquer espécie de formiga, TARAPU-PÉUA osga, nome genérico dado a
nem deixa vingar qualquer larva de inseto, várias espécies de Ascalabotae. Lit.: lagarto
constituindo por via disso mesmo uma es- achatado.
plêndida defesa, até contra as próprias saú- TARAPU PINIMA lagarto-pintado, casta de
bas, embora muito mais fortes e maiores do Lacerta.
que ela. Para fazer passar e instalar a tara- TARAPU PITINGA lagarto esbranquiçado,
cuá na árvore que se deseja, é suficiente me- casta de Lacerta.
ter um cipó que una as duas árvores, isto é, a TARAUACA escolhido. V Purauaca e comp.
árvore em que se acha instalada e aquela em TAREREKI mata-pasto, Cassia sericea.
que se deseja que se instale. Quando na lo- TARI casta d' erva.
calidade não há taracuás, é preciso trazê-las. TARICA casta de pequena formiga averme-
Para isso é suficiente trazer bem fechado lhada.
dentro de um saco um pedaço de ninho com TAR!CEMA formiga dos mangais, que, ao di-
suas habitadoras e depositá-lo no chão, dei- zer de Martius, vive dos brotos da planta e
xando que elas próprias escolham a árvore e de animálculos marinhos.
se instalem nela. Instaladas, é fácil fazê-las TARI-PUCU tari-comprido, casta de erva.
passar onde se deseja. Querer que se insta- TARIRI casta de cipó, cujas folhas são utiliza-
lem aplicando o pedaço de ninho na árvore das para tingir de preto a roupa.
é tempo perdido. Quantas vezes o tenho ten- TARUMÃ casta de árvore de alto porte.
tado, tantas o tenho feito inutilmente. Não TARUPÁ' tarubá, beiju expressamente prepa-
só abandonam indefectivelmente a árvo- rado para fazer o caxiri, de onde se extrai a
re em que as quisermos instalar, mas parece tiquira ou cachaça de mandioca.
TARUPÁ
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tarubá, a pá que serve para remexer peu, e muito comum em todo o Amazonas,
a massa de mandioca ralada, enquanto se- com especialidade nos campos do rio
ca no forno, e impedir que se agrume, feita Branco e nos da ilha de Marajó.
geralmente em forma de um pequeno remo TATÉUA, TATYUA o sogro do marido.
de mão oblongo. TATICUMÃ fuligem, especialmente a que fica
TATÁ fogo. pegada nos esteios e nas palhas do telhado,
TATACA casta de rã arbórea. formando como festões.
TATÁ-IRA mel que arde, mel de fogo. TATU casta de mamífero, mais ou menos intei-
TATÁ-IRA-MANHA casta de abelha que pro- ramente defendido por uma espécie de cou-
duz mel que arde; mãe do mel de fogo. raça e que, apesar de ter uma esplêndida den-
TATÁ ITÁ pedra de fogo, que dá fogo, sílex. tadura rica de molares, embora privada de
TATÁ-ITYCA pescar com fogo, fachear. V incisivos e caninos, é considerado um des-
Ityca e comp. dentado e como tal classificado. Dasypus e
TATAIUUA tatajuba, casta de Maclura. suas variedades. Os indígenas têm pelas car-
TATÁ MANHA mãe do fogo, isca. nes de tatu uma concepção muito original,
TATÁ MANHA IRERU isqueiro, traz a mãe do afirmando que elas reúnem em si as virtudes
fogo. de todas as outras carnes, e que, por via disso
TATÁ PERIRICA faísca. mesmo, podem ser comidas sempre e impu-
TATÁ-PIRIRICA casta de árvore, Terebintha- nemente, sem perigo de infringir qualquer
cea, que dá uma pequena drupa comestível proibição de comer certa e determinada qua-
e uma madeira de pouco préstimo, mas que lidade de carne e sem perigo de fazer saruá.
queima deitando muitas fagulhas, de onde TATU APARA tatu-bola, Dasypus tricinctus.
o nome. TATU ASU tatu-grande, toró, Dasypus gigas.
TATÁ PUÍNA, TATÁ PUINHA brasa, carvão, TATU CAUA casta de caba cujo ninho se pare-
resto do fogo. ce com um tatu-bola, quando enrolado so-
TATÁ PUINHA IRERU fogareiro. bre si mesmo.
TATÁ PUTAUA isca para fogo e, com especia- TATÚ ETÉ tatu verdadeiro, Dasypus longicau-
lidade, a que é tirada da casa de uma formi- dis.
ga arbórea tatuzinho, pequeno crustáceo do gê-
TATÁ PUTAUA IRERU isqueiro. nero Hippa.
TATÁ PUTAUA MANHA casta de formiga ar- TATUI paquinha, Grylotalpa. Inseto que vi-
bórea, que faz seus ninhos de uma matéria ve de preferência nas praias e lugares areen-
que serve de isca para fogo. tos, onde escava longas galerias em procura
TATÁ RENDI aceso, luminária. de comida.
TATÁ TENDAUA lugar do fogo, lareira. TATUIRANA larva de inseto, em geral de bor-
TATATICUMA, TATATICUNA fuligem. boleta, mais ou menos felpuda, que, em
TATATICUERA tição. contato com a pele, produz uma sensação
TATATINGA de ardência incômoda e persistente. É no-
TATATINGA-RANA névoa, falsa fumaça. me genérico.
TATÁ UASU fogueira, fogo grande. TATU MUNDÉU tatu manhoso, casta de
TATÁ-UERÉUA chama. pus.
TATÁ UIRÁ casta de cotinga verme- TATU PACA casta de Dasypus.
lha. TAU casta de ribeirinho.
TATÁ-YUA o fogo que fica na lareira como TAUA taba, areal, povoado, terra, lugar.
que guardado debaixo da cinza; o cepo que TAUA, TENDAUA, TYUA sufixo; tem a mesma
o conserva. º'"•"'"~'"""'~de terra, lugar, e nun-
TATAYUA casta de árvore, moreira. ca tenho encontrado uma regra para saber
TATERA casta de pequeno pica-pau. quando deve usar-se um sufixo em lugar do
TATÉU Vanellus cayenensis, casta de ave ribei- outro, tendo-me sempre parecido que a es-
rinha, muito parecida com o Vanello euro- colha depende antes de tudo de predileção
TAUÁ
pessoal, embora algumas raras vezes possa TAUOCA CEEN taboca doce, cana-de-açúcar.
ser determinada pela eufonia. Teaputaua, TAUOCAI taboquinha.
teaputendaua, teaputyua, querem todos di- TAuocosu taboca grande, tabocão.
zer lugar de barulho. Taua, o que não acon- TAUUCURY, TAUA-OÚ-CURY dabucuri, ban-
tece com os outros, algumas raras vezes se quete, festa de convite, dada de tribo a tri-
ouve e se encontra usado em lugar de saua, bo em sinal de amizade e boa vizinhança.
mas é uma substituição que nada autoriza A tribo que resolveu obsequiar a outra pre-
e me tem parecido sempre ou vício de pro- vine-a da qualidade do dabucuri. A obse-
núncia ou erro. quiada prepara as bebidas, que variam con-
TAUÁ amarelo, cor de barro, cor de terra, barro. forme as comidas, que podem consistir em
TAUA-CUERA ruína do lugar povoado, terra, frutas, produtos da roça, carás, inhames, ou
lugar que foi. em caça ou peixe. Qualquer seja o dabucu-
TAUÁ-ETÉ tabaté; muito amarelo, muito barro. ri, é geralmente constituído de uma úni-
TAUA-IARA senhor da terra, senhor do lugar; ca espécie de comida, que é trazida com as
tabajara, nome de uma tribo tupi. solenidades da pragmática. No dia apraza-
TAUA-PESASU, TAUAPISASU terra nova, taba do a tribo que dá o dabucuri chega à tar-
nova, povoado fundado de fresco. dinha trazendo a comida, geralmente já
TAUÁ-PIRANGA terra vermelha. pronta e preparada para ser logo comida.
TAUAPORA morador do lugar, morador da No porto, se vêm por água, ou a uma cer-
taba, da povoação. ta distância da casa, se vêm por terra, se or-
TAUARI tavari, a entrecasca de uma espécie ganiza o cortejo. Os tocadores na frente,
de Curataria que serve para mortalha para puxando o préstito, em seguida os que tra-
cigarro, muito usada em todo o interior do zem o dabucuri, e atrás destes o resto do
Amazonas. Se extrai cortando a casca do ta- povo se dirigem para a casa onde deve ha-
varizeiro da largura desejada, batendo-a de- ver a festa. Quando cala a música, rompe o
pois com um macete ou coisa que o valha, canto em que se ouve sempre, como estri-
até separar a parte externa do líber, e conti- bilho, voltar o nome da fruta, caça ou peixe
nuando para depois separar as diversas fo- de que consta o dabucuri. Quando o prés-
lhas do líber entre si. tito chega à porta da casa, para, não entra
TAUARIYUA tavarizeiro, Curataria tavary, ár- em mó, mas um a um, o tuxaua em frente,
vore da terra firme e vargens altas, que for- depois os tocadores e o resto do povo, últi-
nece o tavari para mortalha de cigarro, cuja mos os que trazem o dabucuri; as mulhe-
finura e qualidade depende sobretudo da res dão a volta e vão à cozinha, onde estão
idade do tronco, de onde a casca foi tirada. as mulheres da casa. Dentro da maloca, to-
TAUATINGA tabatinga; barro branco, terra dos os homens estão em pé estendidos em
branca. linha que vai da porta até o fundo, à esquer-
TAUATÓ casta de gavião do tamanho de um da de quem entra. O tuxaua, o primeiro a
galo carioca, listrado de branco e cinzento entrar, para na frente do primeiro homem
ardósia escuro, tarsos amarelos, o bico for- e troca com ele os cumprimentos de estilo,
te e dentado, e a cauda larga e truncada, que e passa adiante trocando seus cumprimen-
parece ser um Harpagus. Embora em parte tos com o segundo homem, enquanto o se-
alguma se possa dizer comum, se encontra gundo que entrou troca os cumprimentos
em todo o Amazonas e é atrevidíssimo, per- com o primeiro, e assim sucessivamen -
seguindo, se preciso for, a presa sob a ma- te até que todos sejam entrados e todos te-
ta, a correr; já o tenho visto chegar em casa nham trocado os cumprimentos do estilo.
perseguindo galinhas. Os recém-chegados, quando têm acabado
TAUAUARA que pertence ou é da taba, do lugar. de cumprimentar todos os homens, que se
TAUOCA taboca, casta de Bambusia não espi- acham estendidos em linha, vêm um a um
nhenta, o que a distingue da taquara, embo- a alinhar-se à direita de quem entra de for-
ra alguns as confundam. ma que, quando é acabada a cerimônia do
TEIESARA
cumprimento, se encontram em duas li- TEAPU, TIAPU rumor, ruído, estrépito, es-
nhas, uma em frente da outra, e os que tra- trondo, barulho. Teapu-ira: mel de barulho.
zem o dabucuri vão deixá-lo no chão so- TEAPUPAUA rumorejamento.
bre umas esteiras, ou simplesmente folhas TEAPUPORA rumorejador.
de bananeira, aí dispostas para este fim. TEAPUUARA rumorejante.
Então vêm as mulheres da casa trazendo as TEAPUYMA sem rumor, sem barulho.
bebidas e, trocando com os recém-chega- TEARÕN amadurecido (das frutas principal-
dos também os cumprimentos de costume, mente).
logo começa o banquete. Este dura, inter- TEARÕNGARA amadurecedor.
polado de danças, enquanto há que comer TEARÕNGAUA amadurecimento.
e beber. A duração de um bom dabucuri é TECÔ, RECÔ, SECÔ costume, hábito, USO, lei.
de três dias. Acabada a festa, os que rece- TECÔ ANGAIPAUA mesquinhez de costume,
beram o dabucuri acompanham processio- pecado.
nalmente os que vieram dá-lo até o porto, TECÔ ANGAIPAUA ASU grande mesquinhez
ou a uma certa distância, se a viagem é por de costume, pecado mortal.
terra, e aí feitas as despedidas, cada um vol- TECÔ ANGAIPAUA ASU ETÉ verdadeiramen-
ta à sua casa. É o que tenho visto e observa- te grande mesquinhez de costume, sacri-
do mais de uma vez nas minhas viagens ao légio.
Uaupés, tendo assistido e tomado parte em TECÔ-AYUA crime, mau hábito, vicio.
dabucuri de todas as espécies e até em da- TECÔ-AYUA-PORA criminoso, condenado.
bucuri dado em nossa honra, isto é, do meu TECÔ-AYUA-UARA culpado, vicioso.
companheiro de jornada no Uaupés, Max J. TECÔ-CUAO lei conhecida.
Roberto, e minha. TECÔ-CUAOSAUA conhecimento da lei.
TAXI cavado, esburacado; casta de formiga TECÔ-CUAOUARA conhecedor da lei.
que cava a madeira das árvores, e cuja den- TECÔ-IAUÍ costume quebrado.
tada é muito dolorosa. TECÔ-IAU!SARA quebrador de costume.
TAXIÔ sogra. TECÔ-!AU!SAUA quebramento de costume.
TAXIPORA casta de formiga (não a conheço). TECÔ-MUNHÃ feito costume.
TAXIRA ferro de cova, cavadeira. TECÔ-MUNHANGARA implantador de costu-
TAXISARA cavador, esburacador. me, legislador.
TAXISAUA cavação, esburacamento. TECÔ-MUNHANGAUA implantação de costu-
TAXIUA casta de formiga. Lit.: má língua, me, legislação; lei, mandamento.
pessoa que diz mal do próximo. TECÔ-PURANGA bom costume.
TAXIUARA cavante. TECÔ-PUXI mau costume.
TAXIUERA cavável. TECÔ-RANA falso costume.
TAXIYUA taxizeiro, árvore da taxi, onde mora a TECOSARA costumeiro.
taxi; nome dado a muitas plantas de espécies TECOSAUA costumança.
diversas, que, apesar de cavadas mais ou me- TECÔ-TEMBÉ ansiado.
nos profundamente pela taxi, contudo não TECÔ-TEMBÉUA ansiedade.
parecem sofrer, continuam a vegetar, flores- TECÔ-TENHE hábito próprio, individual.
cer e dar fruto, como dantes, sendo que para TECOUÉ vida.
algumas o serem furadas é condição de vida. TECOUASAUA vitalidade.
TAYRA, RAYRA filho com referência ao pai. TECOYMA sem lei, sem uso, sem costume.
TAYRERA rebento abortado, gema morta. TEEN debalde.
TEAEN suado. TEEN-ETÉ, TEENTE inutilmente.
TEAENGARA suador. TEEN-NHUNTO, TEENHUNTO a capricho,
TEAENGAUA suada, suor. sem outra razão, só por isso.
TEANCUERA, TEAN-UERA cadáver de gente. TEICUARA ilhós.
TEAPIRA zunido, espécie de abelhas e mais TEIÉ espumado.
insetos análogos. TEIESARA espumador, quem faz espumar.
TEIETYUA
TEIETYUA espumadouro, remanso que se for- TEMIÚ MUCEEN comida temperada, salgada,
ma ao pé das cachoeiras, onde se reúne a es- saborosa. Lit.: feita doce.
puma. TEMIÚ MUCEENGARA cozinheiro(a); tempe-
TEIEUARA espumante. rador da comida.
TEIEYMA não espuma. TEMIÚ MUCEENGAUA tempero.
TEIEYUA espuma. TEMIÚ-MUNHANGARA cozinheiro.
TEIPAU inteiro. TENDI, TENI pulga.
TEIPAUSAPE inteiramente, por inteiro. TENÍl! até que enfim.
TEIPÓ afinal. TENHE, TEEN o mesmo, a mesma coisa.
rnrú teju, casta de lagarto do gênero Podi- TENHUNTO à-toa, tão somente, sem outra
nema e afins, que costuma habitar nas mar- razão.
gens dos rios e igarapés, de preferência nos TENL TENIN seco.
lugares encachoeirados. TENIN CERANE murcho.
TEIUASU teju grande, Teiu monitor. V Teiu. TENONDÉ, CENONDÉ, RENONDÉ adiante,
TEIÚ CAÁ erva de teju, casta de Euforbiácea. em frente.
TEIÚ CATACA teju escamoso. TENONDÉ AMBYRA pré-morto.
TEIÚ CYYMA teju liso. TENONDÉ crcA adiantado, chegado adiante.
TEIÚ PURU teju enfeitado, casta de cameleão. TENONDE CICASARA adiantador, quem che-
TEM, TEEN o mesmo, idêntico, próprio. ga antes.
TEMBÉ, CEMBÉ, REMBÉ lábios. TENONDÉ C!CASAUA adiantamento, chegada
TEIUYUA árvore de teju, arbusto, Adenoro- antes.
opipherum. TENONDÉ ENU anteposto. Xaenu tenondé:
TEMBESAUA, CEMBESAUA, REMBESAUA bi- anteponho.
barba, dos lábios. TENONDÉ MBEÚ prognosticado, dito antes.
TEMBESAUA-PORA que tem grande TENONDESARA adiantador.
TEMBESAUARA bigodudo, barbado. TENONDESAUA adiantamento.
TEMBESAUA-YMA sem barba. TENONDEUARA adiantante.
TEMBETÁ, TEMBÉ-ITÁ pedra dos lábios, or- TENTEN rouxinol do rio Pandulinus
namento labial, consistindo numa pedra chrysocephalus. Lindo ictérida, todo preto,
embutida no lábio inferior. com a cabeça e os encontros amarelos. É um
TEMBETARA ornamento dos lábios. excelente cantor. Criado desde novo, torna-
TEMBETARA-YUA, TEMBETÁ-YUA árvore de -se muito manso. As indígenas do o
tembetá, o que fornece a madeira para faze- criam com o leite do seio.
rem-se tembetás, Xanthoxylon Langsdorffii. TENUPÁ! deixa! espera!
Martius "lignum pro perfurandis la- TERAÍRA pequeno lagarto, Lacerta parvula.
biis et auriculis''. mas deve ser engano. O in- TERECEMO extracheio, cheiíssimo.
para isso, como tenho tido ocasião TERICA removido, retirado, mudado.
de observar, usa de preferência de ossos po- TERICASARA removedor, mudador.
lidos e para o uso. TERICASAUA remoção, mudança.
TEMBIÚ, TEMIÚ comida. TERICATYUA removedouro, lugar para onde
TEMBYUA, REMBYUA margem, la- se remove.
do, orla. TETAMA, CETAMA, RETAMA pátria, do
neto, nascimento.
ao TETAMAUARA da terra, do lugar. Ce tetama-
TEMIARERU, REMIARERU, CEMIARERU neto, uara: da minha terra, meu patrício.
neta (em relação à nmlher). TETÉ, CETÉ corpo.
flauta, assobio de osso. TETECAYUA feitiço.
TEMIÚ CURERA resto de comida, migalha. TÉU casta de cipó.
TEMIÚ IRERU prato, vasilha para trazer a co- TÉUA casta de abelha muito pequena, sem
mida, balaio. aguilhão.
TIMBÓ
TÉUA sufixo frequentativo para indicar o hábi- ncuÉ vivido. V Cicué e comp.
to, o costume, o uso bom ou mau de fazer al- TicUNA, TINCUNA nariz preto, nome de uma
guma coisa. Cunhamucu ocanhemotéua oca nação de indígenas que se estendia entre o
suí: moça que costuma fugir de casa, moça Javari e o Jutaí, que, conforme relata Ama-
fujona. Na pronúncia, muitas vezes téua con- zonas de Sá, criam na metempsicose e cir-
funde-se com tyua, mas os dois sufixos têm cuncidavam os filhos.
sentido inteiramente distinto. TIÊ, TIÊN cantado, gorjeado (diz-se das aves).
TEUTÉU casta de pássaro ribeirinho, Vanel- TIENGARA cantor.
lus. TIENGAUA canto.
TI não, abreviação de inti. Ticuao: não sei. TIENTÉ, TIETÉ casta de pássaro cantor, can-
Tirecó: não tenho, equivalentes a inti xacuao ta muito.
e a inti xarecô. TIMAÃ, TIMAÃN, INTIMAAN não, nada.
Ti, TIN nariz, focinho, vergonha. Inti perecô Timaã puranga: não é bonito, não está bem.
será tin, pomunha ramé cuá puxisaua?: não TIMAAN-MAÃN absolutamente não.
tendes vergonha quando estais fazendo esta TIMARÃMUNHANGARA não guerreiro, não
feiúra? Cunhã oicô tin pucu: a mulher tem o belicoso.
nariz comprido. TIMBIARE pesca de timbó.
TIANA, INTIANA não, nunca. TIMBIARESARA pescador de timbó.
TIANHA forquilha, tesoura, esteio que sus- TIMBÓ nome dado ao sumo de diversas
tenta o telhado. plantas - Paulinias, Cocculus e afins - que
TIANHA UIRÁ casta de Tyrannus, de cau- têm a propriedade de atordoar e matar os
da bífida formada por penas preto-ardó- peixes que o ingerem, embora em peque-
sia desiguais, atingindo as duas externas na quantidade, sem contudo ser nocivo a
quase o duplo do comprimento do corpo quem os come. A planta ou a parte dela
do passarinho, pouco maior do que uma utilizada, o que varia conforme a qualida-
andorinha. No vale do Amazonas parece de, é e misturada com tijuco. A mis-
pássaro de passagem. Se encontra em ban- tura assim obtida é jogada n' água no lu-
dos, nos meses de setembro e outubro e gar escolhido. O peixe, quando o timbó é
nos meses de abril e maio; nos outros me- de boa qualidade e bem preparado, não de-
ses raramente se vê um ou outro exemplar mora muito a vir à tona, onde é apanhado
sentado na ponta de um galho seco a espe- sem dificuldade. Nos lugares de correnteza,
rar a presa e precipitar-se abrindo a longa porém, para não perder muito peixe inutil-
cauda em forma de tesoura. mente, barrar o rio ou igarapé a
TIARA guloso, glutão. jusante, o que fazem geralmente com tapa-
TIARASAUA glutonice, inveja. gem de pari, e, somente quando se trata de
TIARAUARA invejoso. muito estreitos e pouco corrento-
TIASU não grande, vão difícil. sos, se contentam com atravessar as canoas
TIAUERA inexistente, não existente, impos- e esperar o peixe na passagem. Em geral, to-
sível. davia, os lugares são os de pouca
TICÃN secado. ou nenhuma correnteza, que só precisam
TICANGA seco. do trabalho de o timbó e recolher o
TICANGARA secador. peixe. O timbó é misturado com pa-
TICANGAUA secamento. ra que assente e mais facilmente se mistu-
TICARUCA esquentamento. re com a água. A pesca com timbó, que pa-
TICATU não bom, ruim. rece usada desde tempos
TICIKIÉ destemido. imemoriais, ao mesmo tempo que, quando
TICUARA, RICUARA, CICUARA ânus. o lugar é bem escolhido, por conhecedo-
TICUARANA casta de pássaro. res dos hábitos dos peixes, é sempre muito
TICUAU não sei. Ticuau catu: não sei bem. proveitosa, tem o defeito de estragar mui-
Ticuau-cuau: não posso saber. to peixe, especialmente miúdo. Na realida-
de, se o peixe graúdo, segundo se afirma, fi- a tiracolo, ficando com as mãos livres pa-
ca apenas atordoado e volta facilmente a si ra trabalhar.
logo que se encontra em águas limpas, ou- TIPOIA (é nheengatu?) rede para dormir,
tro tanto não acontece ao peixe miúdo; es- muito ordinária (Solimões); camisa de dor-
te morre em grandes quantidades, especial- mir.
mente se não se trata de tamanho, mas de TIPUTI, REPUTI, CEPUTI esterco.
peixe novo. TIPUTI RUARA ânus, buraco das fezes.
TIMBÓ CIPÓ cipó de timbó, Paulinia pinnata. TIPUTI IRERU tripas, intestino.
TIMBOITYCA tinguijado, pescado de timbó. TIPUTI TORAMA escarabeu.
V Ityca e comp. TIPUTI IUUCA destripado.
TIMBÓ-PÉUA timbó-chato, casta de Cocculus, TIPUTI IUUCASARA destripador.
que dá o timbó. TIPUTI IUUCASAUA destripamento.
TIMBORANA falso timbó, planta que se pare- TIRI luzido.
ce com as que dão o timbó, sem fornecê-lo. TIRICA afastado, retirado. V Terica e comp.
TIMBÓ SACACA timbó feitiço, casta de timbó. TIRIRICA (frequentativo de tirica), afasta-
TIMBÓ TITICA cipó cujo sumo serve para afasta, nome de uma casta de trepadeira de
calmar as palpitações do coração. folhas e caule finamente cortantes, que for-
TIMBÓ-YUA, TIMBÓ a planta de onde se ex- ma toiças e torna a mata quase impenetrá-
trai o timbó, nome genérico aplicado às que vel, parecendo mandar retirar a gente que
têm a mesma propriedade, independente- encontra. No baixo Amazonas defendem o
mente de outra preocupação, e que, por via gado dos vampiros, circundando os currais
disso mesmo, designa plantas muitas vezes em que à noite o recolhem com caules de ti-
diversas. ririca, renovados de tempo em tempo. Os
TIMEUN não há, não tenho (Manaus). morcegos que lhes batem de encontro caem
TIMOAUA barba, pelos do queixo. com as asas recortadas e, nos primeiros dias
TIMUAPU vedado, proibido. em que é posta a tiririca, muitas são as víti-
TIMUAPUNGARA vedador, proibidor. mas que amanhecem no chão, indo rarean-
TIMUAPUNGAUA proibição, vedação. do com o tempo até abandonarem o lugar.
TINCUÃN casta de Cuculus, ou, como é co- TIRIUÁ casta de periquito de cauda compri-
nhecido vulgarmente, casta de uirá-paié, da e graduada.
mais pequeno do que este, e cinzento-claro. TITICA latejado, pulsado, palpitado.
TINGA branco (usado geralmente como su- TITICAPORA latejante.
fixo). Tauatinga: terra branca. Sutinga: tela TITICASARA latejador, quem faz latejar.
branca, a vela, contração de sutiro e tinga. TITICASAUA latejamento.
TINHARÜ maduro. TITICAYMA não latejado.
TINHARUNGA amadurecido. TITINGA manchas esbranquiçadas que apa-
TINHARUNGARA amadurecedor. recem na pele do indígena, o que para al-
TINHARUNGAUA amadurecimento. gumas tribos é uma beleza muito estimada.
TINGUÉ tinguijado, pescado de timbó. TITINGA CATACA doença da pele em que esta
TINGUESARA tinguijador. se torna branco-amarelada e se destaca em
TINGUÉSÁUA tinguijada. escamas até formar chagas.
TINGUÉTYUA tinguijadouro. TITINUCA esfregado, friccionado. V Kitinuca
TINGUÉUÁRA tinguijante. e comp.
TININ secado. T!TIPURANGA casta de pipira.
TlNINGA seco. TITIPURUÍ casta de pequeno pássaro.
TININGARA secador. TIXIRICA piado, dos pintos e outros pássa-
TIPO! tira de tavari ou de envira, que serve ros.
para fazer o amarrilho do paveiro que se le- TIXIRICASARA piador.
va às costas, preso à frente; o atilho que ser- TIXIRICAUA pio, piada.
ve à mulher indígena para carregar o filho TIXIRICAUERA choramingão.
TOMBYRA, TOMYRA
Logo, porém, cresce, produzindo tumores mais largo do que o instrumento, porém
sempre incômodos e algumas vezes fatais. mais profundo do que um homem. O troca-
Para impedir a entrada de tão incômodo no é suspenso nos paus por tipoias de envi-
hóspede, é suficiente lavar as extremida- ra, que podem ser encurtadas ou alongadas
des inferiores com uma infusão de tabaco, à vontade, fazendo-o subir ou descer no bu-
cujo cheiro afugenta a tombira. Para que raco, conforme for conveniente. Quando se
tudo se limite ao incômodo de uma comi- trata de reunir a gente da maloca e, por is-
chão impertinente, é necessário extrair a so mesmo, não é necessário que seja ouvi-
tombira inteira, sem que quedem ovos ou do muito longe, as enviras são encurtadas e
parte do ovário, e sem que se rasgue a pe- o trocano fica mais ou menos fora do chão;
le e haja sangue: operação em que excelem quando o aviso deve ser ouvido ao longe,
as indígenas do Uaupés e as do rio Negro; as tipoias são alentadas e o trocano desci-
então, todo e qualquer perigo de tétano fi- do. Os sinais são dados batendo no trocano
ca afastado. com um macete de cabeça de goma elásti-
TOMUNHEÉN assobiado. ca, ou envolvido em tiras de couro de anta,
TOMUNHEÉNGA assobio, o ato de assobiar. entre os dois buracos extremos, obtendo-se,
TOMUNHEENGARA assobiador. segundo o lugar em que se bate, sons dife-
TOMONHEENGAUA assobio, o fato de asso- rentes, que, conjuntamente com o núme-
biar. ro de golpes e seu espaçamento, permitem
TOOMÃN, TUUMÃN atolado. a transmissão de notícias por meio de pe-
TOOMÃNGARA atolador. quenas frases, combinadas num código de
TOOMÃNGÁUA atolamento. sinais muito primitivo, mas suficiente para
TOOMÃYMA não atolado. as necessidades locais. O que é certo é que,
TORAMA, TURAMA revolvido. V Turama. nos distritos suficientemente povoados, on-
TORÉ' buzina. O toré é feito de casca de pau, de as malocas não são excessivamente afas-
de pele de jacaré, utilizando-se para isso a tadas uma da outra, qualquer notícia se pro-
pele da cauda extraída inteiriça, mais rara- paga com muita celeridade e segurança. O
mente de pau, e tem a forma de um porta- som, nas melhores condições, isto é, de ma-
-voz com boca de sino. Os Macus têm toré nhã e de noite, não creio que se ouça a mais
feito de barro. de dez ou doze quilômetros de distância; a
TORÉ' casta de inambu, Crypturus serratus. uma distância de seis a sete quilômetros o
TORI, SORI alegre, satisfeito. tenho ouvido eu, e ainda bastante distinto
TORICA as regras da mulher. para admitir que se ouça mais longe. Nestas
TORINA calças. condições, nenhuma dúvida há que o que se
TOÚMA ramela. ouve muitas vezes afirmar com certa ênfase,
TOUMAUERA ramelento. que o trocano é o telégrafo dos índios, tem
TORÓ larva do inseto que roi a madeira. seu viso de verdade, embora, tudo somado,
TOROCANA trocano, instrumento com que o seu ofício não passe do que tiveram os si-
os indígenas comunicam, de maloca em nos desde tempos imemoriais, e ainda hoje
maloca, e serve para chamar a gente e dar têm em muitos casos.
sinais. É um toro de madeira, inteiriço, es- TOROCARI, TOCARI a estopa extraída da cas-
cavado a fogo, de uns dois a três metros de tanheira, Bertholetia excelsa, que serve para
comprimento e, geralmente, mais de metro calafetar canoas e outros misteres análogos.
e meio de diâmetro (os tamanhos variam TUACA casta de pássaro, que não conheço.
muito), de madeira leve e sonora, com três TUAIARA cunhado.
buracos de uns dez centímetros de diâme- TUAKE, SUAKE, RUAKE perto, próximo, vizi-
tro, reunidos por uma estreita fenda, que fi- nho.
cam voltados para cima, quando está, como TUCÁ tecido, ao tear, batido, especialmente
costuma, suspenso entre quatro paus, num no trocano, torocana, com o pau apropriado.
buraco feito para este fim no chão, pouco TUCAIA galinheiro (Solimões).
TUIUIU
TUCASARA tecelão, tecedor, batedor. nhar insetos e até pequenos pássaros, que
TUCASAUA tecedura, batedura. passam rente à superfície da água, num cer-
TUCÁ-TUCÁ espicaçado, socado. V Tucá e teiro e rápido pulo.
comp. TUCUPÁ balde (rio Negro).
TUCATYUA lugar onde se tece. TUCUPI V Tycupi.
TUCAUÁ tecido. TUCURA locusta.
TUCAUARA tocante, batente. TUCURYUÁ, UIXIRANA falso uichi, árvore da
TUCAUERA tecível, batível. vargem alta e terras firmes, Couepia para-
TUCAYUA o pau, forrado de tiras de borracha ensis.
ou de couro de anta, que serve para bater no TUCUXI boto-cinzento, Steno tucuxi. Muito
torocana; a régua de pau que serve para o te- comum, como os seus congêneres, e espe-
celão sentar a trama. cialmente no Solimões, comuníssimo de
TUCÜ, TUCUM tucurn, casta de palmeira do preferência a qualquer outro; não parece
gênero Bactris e afins; a fibra extraída das que se interne muito. Eu nunca o tenho en-
folhas da palmeira do mesmo nome e que contrado acima das cachoeiras.
serve para tecer rnaqueiras, redes para pes- TUÉ, TUÍ cinzento.
car, tarrafas etc. etc. A mais clara e fina é a TUEÍ arrepio de febre.
extraída das folhas novas; a que é extraí- TUÍ cinzento; sangue.
da das folhas velhas, embora mais resisten- TUI casta de pequeno papagaio do gênero
te e duradoura, não é utilizada para ma- Pionia, roxo-cinzento, muito comum.
queira, porque fica sempre escura, não em- TUÍ CARUCA esquentamento, mijo de san-
branquece nem com uma prolongada ex- gue.
posição ao sol. TUÍ PUXI câmaras de sangue.
TUCUIÁ tucujá, pequena árvore comum nos TUÍRA roxo.
lugares arenosos e secos. TUÍRA CERANE arroxeado.
TUCUMÃ, TUCUMÃN tucurnã, fruta comes- TUÍ-RAPÉ veia.
tível de urna palmeira. Um coquinho ex- TUÍ-RAYICA artéria.
tremamente duro, coberto de uma massa TUÍ-UARA sanguinoso.
oleosa, adocicada, mais ou menos perfuma- TUÍ-URRA sanguinolento.
da, segundo as qualidades. A massa oleosa TUÍ-UASU regras da mulher, mas já excessi-
dá um excelente azeite, e no rio Negro, ao vas.
tempo da antiga capitania, a extração de TUIUÉ velho, antigo.
azeite de tucumã foi uma indústria flores- TUIUÉSÁRA envelhecedor.
cente; a quantidade era tal, que servia até TUIUÉSÁUA velhice.
para a iluminação pública e particular. TUIUÉUÁRA envelhecente.
TUCUMÃi' pequena variedade de tucumã. TUIUÉYMA não velho.
TUCUMÃYUA tucumazeiro, casta de palmei- TUIUIU jaburu-moleque, Mycteria ameri-
ra, Astrocaryum tucumã e afins. cana, o maior dos Pernaltas do vale do
TUCUNARÉ um dos melhores peixes dos nos- Amazonas, dito também, em alguns luga-
sos rios, comum em todo o vale, de carnes res, jaburu-soldado. O tenho sempre encon-
rijas e saborosas e limpas de espinhas, que trado nos rios e lagos do interior isolado, ou
se distingue por um olho de pavão na cau- aos casais, passeando sisudos e graves à cata
da e manchas transversais de cores alterna- de comida ao longo das margens e nas po-
das, variáveis de espécie a espécie, mas mui- ças e baixios. Muito ariscos, nunca me dei-
to regulares e decrescentes, da cabeça à cau- xavam aproximar. Subindo o rio Branco, en-
da; várias espécies de Erythrini, a que parece contrei um casal construindo o ninho numa
pertencem as espécies maiores, e de Cichlas alta samaumeira da margem. No ponto em
a que parecem pertencer as menores. O tu- que o tronco esgalhava, tinham, com uns ga-
cunaré é a vítima da pinauaca com que o lhos secos, construído uma espécie de estra-
pescador utiliza o instinto que tem de apa- do, muito parecido com o que costumam fa-
TUIXAUA, TUISAUA
TUPÉ tecido, trançado; esteira de fasquias, cido, e que por via disso mesmo é utili-
geralmente de arumã ou outro material zada pelos indígenas para fazer aventais,
análogo. Serve para, forrando o chão, fazer sacos, camisas etc. A entrecasca é tira-
de tapéte ou toalha, Há tupés que são ver- da em panos ou inteiriça, conforme con-
dadeiras obras de arte, trançados sobre de- vém. No primeiro caso, incidem pura e
senhos elegantíssimos e algumas vezes rele- simplesmente a casca, do tamanho deseja-
vado a cores. do, e a destacam batendo e machucando-
TUPEPORA que está no tupé. -a com um soquete. No segundo, precisa
TUPESARA trançador. que abatam a árvore e recortem conve-
TUPESAUA trançamento. nientemente o galho. Separada do tronco,
TUPÉ TENDAUA lugar do tupé. é fácil separar a casca da entrecasca e tirar,
TUPÉ TUPESARA tecedor de tupé. por meio de lavagens abundantes, a resina
TUPETYUA lugar onde se tece, trança. de que é impregnada.
TUPEUARA tecente, trançante. TURURI, TURURIYUA tururizeiro, várias es-
TUPEYMA sem tupé, não trançado, não teci- pécies de Manicariao, que crescem de pre-
do. ferência nas terras firmes, e de que os indí-
TUPI tupi, nome da nação e talvez, em ori- genas extraem o líber ou entrecasca, para,
gem, o nome de uma das tribos da mes- convenientemente preparada, fazer aven-
ma nacionalidade, que viviam ao tempo tais, sacos, camisas etc.
da descoberta ao longo da costa atlântica; TURUSU grosso, grande em largura e compri-
o nome da língua usada geralmente pelos mento, graúdo.
Portugueses para entrarem em contato com TURUSU-ETÉ grossíssimo.
as tribos da costa atlântica, e que não é se- TURUSUPIRE maior, mais grosso.
não um dialeto do grupo tupi-guarani, que TURUSUPORA parte maior.
era falado do Amazonas ao Prata. TURUSUSARA engrossador, que torna grosso.
TURAMA revolvido. TURUSUSAUA grossura.
TURAMASARA revolvedor. TURUSUXINGA grossozinho.
TURAMASAUA revolvimento. TURUSUYMA não grosso.
TURAMAUARA revolvente. TURY voluptuoso.
TURAMAYMA não revolvido. TURYUA voluptuosidade
TURI, TURY facho, tocha, lasca de madeira TUTIRA tio.
resinosa que traz o mesmo nome, que quei- TUTIRA RAYRA filho do tio, primo.
ma chamejando e serve aos indígenas para TUTUCA abatido, com vara ou outro instru-
fachear e iluminar suas malocas nos dias de mento análogo, especialmente frutas. V.
festa. Cotuca e comp.
TURI, TURIYUA turizeiro, árvore que se en- TUUMA polpa, miolo, carne de fruta madura,
contra em toda a parte, embora pareça prefe- gosma; gosmado, lambuzado.
rir as vargens altas. Da madeira um tanto re- TUUMA-PORA cheio de polpa, de miolo, de
sinosa, clara, leve e que lasca facilmente no carne madura.
sentido da fibra muito comprida, os indíge- TUUMASARA lambuzador, gosmador.
nas fazem seus fachos e tochas, e os civiliza- TUUMASAUA lambuzada, gosmada.
dos, ripas, que, pela resina que contêm, ficam TUUMAUARA lambuzante, gosmante.
indenes dos cupins. TY sumo, licor, molho.
TURIMÃ árvore do igapó. TYAi suado. V. Teaen e comp.
TURUNA' negro de importância, preto graú- TYAIA suor.
do, valentão (de turusu: grosso, e una: preto). TYAIYUA suador.
TURUNA árvore do igapó.
2
TYAPIRA favo de mel.
TURURI a entrecasca de algumas espécies TYARA guloso.
de árvores, que, pelo entrançado das fi- TYARASU comilão, alarve.
bras, têm alguma parecença com um te- TYARAYUA gulodice.
TYPIITY
pau, preso no esteio, árvore ou coisa que os TYRYTYRY MANHA mãe do terremoto; o ja-
valha, a que está apenso o tipiti e amarrado caré, o qual, segundo a crença das tribos
de modo que faça leve e permita esticar es- nheengatu, sustenta o mundo e que o faz
te. Então, a força e pressão necessária para tremer todas as vezes que se move para mu-
espremer a massa, nele contida, a forneira a dar de posição.
obtém apoiando-se e, se for necessário, sen- TYUA sufixo com a significação de lugar, sí-
tando-se sobre este segundo pau. tio, terra, de onde provém, abunda e [é]
TYPUTYTYUA lugar do tipiti, o pau em que se frequente alguma coisa. É este tyua que,
suspende por uma das casas o tipiti. aportuguesado, deu tiba e tuba conforme a
TYPIIUCA, TYPII-IUUCA tirar espremendo. localidade e de acordo talvez com a pronún-
V. Iuuca e comp. cia local indígena do y, isto é, a pronúncia
TYPUCA último leite que se tira da vaca pres- do i tapuio. Caiutyua: lugar de cajus, deu ca-
tes a parir ou que, por qualquer outra causa, jutiba e cajutuba. Itatyua: terra de pedras,
deixa de dar leite. deu Itatuba e Itatiba. Alguma vez se encon-
TYPY fundo, profundo. tra e se ouve confundir-se tyua com téua,
TYPYACA tapioca, a fécula que fica deposi- mas é erro e pouca atenção. Téua exprime
tada no fundo do vaso em que é recolhido sempre uma ideia frequentativa, e muitas
o sumo que sai da mandioca ralada sob a vezes pejorativa, que tyua não tem.
pressão do tipiti. TYUA sólido, firme, que não muda, é de cos-
TYPYETÉ muito fundo, fundíssimo. tume. Xamaan indé iuíre rembaú tembiú,
TYPYPIRE mais fundo. xambaú tyua uá: vejo que tu também comes
TYPYPIRESAUA maior fundura, fundo, poço a comida que costumo comer. Inti oiauau,
que se forma em tempo de vazante nos altos apitá tyua: não foge, fica firme.
rios e ao pé das cabeceiras, isto é, lugar fun- TYUASARA quem está firme no lugar, no há-
do em que a água fica como empoçada, se- bito, no costume.
guido e precedido de baixios. TYUASAUA firmeza.
TYPYPORA que mora no fundo. TYUY pé, poeira.
TYPYPYCA largo e fundo, rio ou lugar de na- TYUYPORA que está, que mora na poeira.
vegação franca. TYUYRA poeirento.
TYPYPYIA enterrado, que está no fundo, de- TYUYRUCA espanejado, limpado.
funto. TYUYRUCAPAUA espanejamento.
TYPYPYIA ARA dia dos defuntos. TYUYRUCASARA espanejador, quem espaneja.
TYPYSARA quem faz fundo. TYUYRUCAUARA espanejante.
TYPYSAUA fundura. TYUYURUCAUERA espanejável.
TYPYTINGA fundo branco, fundo esbranqui- TYUYRUCAYMA não espanejado.
çado. TYUYRUCAYUA espanador, aquilo com que
TYPYUARA que pertence ao fundo. se espaneja.
TYPYXINGA alguma coisa funda, fundozinho. TYYi pequenas bolhas, que sobem à flor
TYPYYMA sem fundo, raso. d'água, indicando o lugar onde sentou atar-
TYPYYUA abismo, o máximo da profundi- taruga.
dade. TYYITYUA lugar onde aparecem as bolhas que
TYRA conduto feito de tabocas emendadas indicam ao pescador onde deve jogar o ar-
com estopa e cerol, que dá saída à tiquira no pão para fisgar a tartaruga, que sentou no
alambique indígena. fundo do lago ou em outro lugar de águas
TYRYTYRY terremoto. mortas.
u letra muitas vezes trocada por o, especial- UACAUERA rachável.
mente na preposição verbal da terceira pes- UACAYMA não rachado.
soa singular. Assim, em lugar de dizerem, e UACÁcu bacaco, Xipholena pompadura, lindo
escrever, o-sé, o-recé, dizem u-sé, u-recé. pássaro do tamanho dum grosso bem-te-vi,
u equivalente a i, prefixo em função de artigo azul-celeste, finamente manchado de preto,
determinativo. com o colo, o peito e o ventre de um esplen-
u bebido, ingerido e, em muitos luga- dido roxo-pompadour.
res, especialmente no baixo Amazonas e UACARÁ V Acará.
Solimões, comido. No Rio Negro dizem de UACARI V Acari.
preferência embaú. UACEMO achado.
UA, UAA que, aquele que, cujo. Adjetivo con- UACEMOSARA achador.
juntivo, que se pospõe sempre ao verbo UACEMOSAUA achamento.
da oração, que rege. Omunhã putare cury UACEMOTÉUA achadiço.
onheen ceen uá?: quererá fazer o que pro- UACEMOTYUA lugar do achado.
meteu? Cé páia mira, oputare uá ixé i aua- UACEMOUARA achante.
ca arama: a gente de meu pai, que me quer UACEMOUERA achável.
por amásia dele. UACEMOYMA não achado.
UÁ, AUÁ sufixo. V Auá. UACEMOYUA o que faz achar.
UACA rachado. UACU fruta que, para ser comestível, precisa
UACAETÉ rachadíssimo. de ser assada.
UACAPORA cheio de rachas. UACURAUA bacurau, nome genérico comum
UACARICUARA casta de árvore. V Acaricuara. a várias espécies de Caprimulgus de hábitos
UACASARA rachador. crepusculares e noturnos.
UACASAUA rachamento. UACURAUA TIPUTI casta de erva miúda que
UACATÉUA rachadiço. cresce nas abertas arenosas da floresta; uma
UACATYUA lugar rachado. planta parasita que dá uma espécie de visgo.
UACAUA racha. UACURI bacuri, fruta comestível, drupa que
UACAUARA rachante. contém umas sementes envolvidas numa
UACURIPARI
polpa esbranquiçada, levemente acidulada ou menos na mesma época, são sujeitos à va-
e açucarada, com perfume especialíssimo. zante, porém isto é somente dos afluentes da
UACURIPARI bacuripari, fruta comestível, margem direita para os da esquerda ou vice-
drupa mais pequena e mais ácida do que a -versa.
do bacuri, com a qual aliás se parece. UANTi bico, ponta, extremidade.
UACURIPARIYUA bacuriparizeiro, árvore de UANTIPORA que está na ponta, na extremida-
pequena elevação, que cresce no igapó. de.
UACURIYUA bacurizeiro, Platonia insignis, UANTIUARA que é da ponta, da extremidade.
árvore que cresce nas vargens altas. UAPÃ casta de marreca.
UACUTUPÁ pescada. UAPAi guapaí, casta de marrequinha, Quer-
UACUYUA uacuzeiro, Monopterix uaucu, ár- quedula brasiliensis.
vore de alto porte, que cresce nas vargens UAPÉ uapé. V Piasoca.
altas e terras firmes. UAPÉ IAPUNA forno de uapé; vitória-régia. A
UAIARÁ casta de abiu. maior flor até hoje conhecida, que se abre à
UAIMY velha. flor d'água como um largo prato, lembran-
UAINAMBI beija-flor (rio Negro). do, por via disso mesmo, o forno indígena
UAINUMÃ beija-flor (Solimões). para fabricar a farinha de mandioca, de on-
UAIRÁ casta de inseto que não conheço. de o nome de uapé, porque onde ela floresce
UAIRI casta de tambaqui, alguma coisa mais abunda este lindo Rallida, que a esquadri-
esbranquiçado e pequeno do que o tamba- nha e percorre em todos os sentidos à cata
qui comum. de insetos. A vitória-régia durante o dia põe
UAMBÉ áspero; casta de cipó, cheio de rugo- uma mancha róseo-esbranquiçada no ver-
sidades e nós, espécie de Philodendrum, de de de suas largas folhas e no das Nympheas
muita duração e resistência, por isso mes- e Utricularias que crescem, cobrindo à por-
mo preferido para todos os misteres que de- fia a tranquila superfície dos lagos, e à noite
vem suportar as intempéries e durar algum se fecha, ficando toda fora d'água. Esta sua
tempo. Uma cerca amarrada com uambé propriedade é utilizada por uma quantida-
maduro pode durar mais de três anos e uma de de insetos, que, conforme afirmam os in-
decorrera(?) [tolda, 'de correr'] trançada de dígenas, a ela se acolhem para passar abri-
uambé, renovando-se as palhas, pode servir gados a noite.
por uns cinco a seis anos, e mais, se não for UAPICA sentado.
de uso diário. UAPICASARA sentador, quem assenta, faz sen-
UANA, ANA já. V Ana. tar.
UANAMÃ, ANAMÃ casta de marreca. UAPICASAUA sentada, assento, banco.
UANAMBÉ, ANAMBÉ V Anambé. UAPICATYUA banco, lugar de assento.
UANANA marrecão, Chenalopex jubatus. UAPICAUÁ o assentado, que está assentado.
Muito comum em todo o Amazonas, embo- UAPICAUARA sentante.
ra se vá refugiando cada dia mais no interior, UAPICAUERA sentável.
fugindo dos lugares habitados. UAPICAYMA não sentado.
UANANAi marrequinha. Orismatura domi- UAPIRE subido. V Yapire e comp.
nica(?). Também muito comum em todo o UAPIXÃ sedoso, macio, frouxo.
Amazonas. Chegam pelo começo da vazante UAPIXANA gato.
e se estabelecem nas praias pouco frequen- UAPONGA gaponga, adminículo para pes-
tadas, tratando logo da reprodução. Com a car o tambaqui, especialmente no baixo
enchente, desaparecem levando a nova gera- Amazonas e no Pará. Consiste numa vara
ção. Mas creio que tanto estas como os ou- e caniço flexível, em cuja extremidade está
tros pássaros ribeirinhos não deixam o nos- uma bola de pau que, caindo n' água, imi-
so vale para emigrar em países longínquos, ta o rumor de uma fruta que cai, atraindo o
mas apenas se mudam dos rios e lagos sujei- peixe que a engole sofregamente e fica pre-
tos à enchente para os rios e lagos que, mais so. Como a gaponga não leva anzol e o pei-
UARIXY
xe não fica fisgado, mas apenas preso por- ta, torrando as amêndoas, moendo-as e
que engole a isca, o pescador que não quer amassando-as convenientemente e, seco e
perder a presa deve ter paciência e não pu- sob forma de toletes ou de figuras de bi-
xar pela linha senão depois de ter dado tem- chos ou objetos diversos, é posto em co-
po ao peixe para engolir a bola. mércio. Ao guaraná se atribuem qualida-
UANANI casta de resina muito difícil e resis- des refrescantes, adstringentes e excitantes
tente, quando convenientemente prepara- análogas àquelas do café; é preconizado na
da com a quantidade de gordura necessária arteriosclerose em doses de uma colher de
para modificar a sua tendência a se tornar sopa de manhã e de tarde e como calman-
quebradiça e dura. Serve especialmente para te, adstringente e subtônico nas febres e di-
brear as canoas; tornada da consistência do senterias mesentéricas, em doses de 7 a 14
cerol, é utilizada para brear o fio da sarara- gramas diários.
ca e os diversos atilhos que seguram as pon - UARANAYUA guaranazeiro, Paulinia sorbilis.
tas e as guias das flechas e em outros miste- Sapindacea sarmentosa que fornece o gua-
res análogos. raná. É cipó de terra firme, cultivado pelos
UANANU, OANANU árvore da mata do Pará, Maués. V Uaraná.
Moronobea coccinea. UARANAPARA almofada.
UAPUI, GAPUY V Apuz. UARAPERI casta de pequena tartaruga, que se
UAPY espécie de tambor fabricado com um encontra no alto rio Negro e seus afluentes.
pedaço de tronco de embaúba e coberto, só UARAPERU instrumento de sopro. Um peda-
de um lado, com pele de cutia ou outro cou- ço de taboca do comprimento de um palmo,
ro análogo. com uma abertura retangular no meio, por
UARA que come (contração de u-uara, usado onde o tocador sopra, abrindo ou fechando
especialmente como sufixo). Capzuara: co- com os dedos as duas extremidades abertas,
medora de capim. conforme precisa. O som do araperu serve ao
UARA sufixo que dá à raiz a acepção de um pescador para chamar os peixes e tem o dom
particípio presente em ante, ente, inte, e de acordar e atrair as moças que dormem no
uma significação de proveniência, perti- fundo do rio.
nência e localização. Cikié-uara: temente. UARAÚNA agoiro, agoirado. V Maraúna e
Iké-uára: de cá. Oca-uara: que é da casa. comp.
UARÁ guará, Ibis rubra. Linda ave que, an- UARI caído. V Ari e comp.
tes de revestir a linda plumagem vermelha, UARICI brincado, gracejado, jogado.
à qual deve a sua designação científica, pas- UARICIPORA gracejante, brincante.
sa pelo branco e pelo bruno, não adquirin- UARICISARA gracejador, brincador, jogador.
do sua cor senão com a muda do segundo UARICISAUA gracejamento, brincadouro.
ano. É pássaro litorâneo, muito comum em UARICITEUA gracejador habitual, brincalhão.
Marajó e nas ilhas da foz do grande rio, mas UARICIUÁ brinquedo, jogo.
pouco se afasta da costa. Eu nunca o tenho UARICIYMA não brincado, não gracejado.
encontrado, nem me consta tenha sido en- UARINY guerreado, batalhado.
contrado, no estado do Amazonas. UARINYSARA guerreiro, guerreador.
UARACAPÁ rodela da canoa; ponto da UARINYSAUA guerra, batalha, assalto.
cumeeira, onde o madeiramento da telhada, UARINYTYUA lugar de guerra, de assalto.
formando ângulo, descansa sobre o esteio. UARINYUA o chefe, o comandante da guerra.
UARANA casta de impigem. UARINYUARA guerreante, batalhante.
UARANÁ guaraná, fruto de uma Sapindacea UARIRAUA guariroba, casta de Palmacea.
sarmentosa, cultivada especialmente no UARIRI ouriço-caxeiro, Cercolabes villosus.
distrito de Maués, e que consta de uma UARIUUA, UARIYUA guariuba, casta de Legu-
pequena amêndoa, contida numa cápsula minosa, de madeira amarelo-dara, que ser-
alaranjado-vivo, disposta em cachos mui- ve para construir embarcações.
to serrados. O preparado é obtido da fru- UARIXY' estúpido, tolo.
UARIXY
UARIXY' casta de pequena mucura arbórea, UATÁ UATÁ NHUNTO ir sem destino, só para
que se deixa pegar facilmente quando dor- andar. Makiti recé putare? Timaã xauatá ua-
me enrolada na ponta dos galhos. tá nhunto: onde queres ir? Em parte algu-
UARIXYUERA toleirão. ma, vou só para andar.
UARIXYUA toleima, estupidez. UATAPI búzio; a buzina feita do búzio.
UARUMÃ V. Arumã. UATAPU colares de conchas ou de pedaços
UARYUA guariba, Mycetes. macaco muito co- de conchas, usados pelos indígenas como
mum nas matas do Amazonas, mas que ornamentos em suas danças. É ornamento
pouco aparece em cativeiro, porque desgra- muito apreciado e exclusivo dos homens.
cioso, e porque morre muito facilmente de No rio Tikié, em Pari-cachoeira, na ma-
disenteria. Há várias espécies, mas o mais loca dos Barrigudo-tapuias-aimoré, me fi-
espalhado é o Mycetes ursinus. zeram ver um saco de tururi, cheio de co-
UARYUA-MBOIA casta de cobra, cobra-guariba. lares de conchas que pareciam de origem
UARYUA-RUAIA cauda-de-guariba, arbusto marinha e dos quais não me foi possível
de inflorescência em penachos com flores obter nenhum, embora oferecesse até uma
de cor castanha. espingarda de dois canos com pólvora e
UARYUA-YUA guariúba, árvore de guariba, chumbo.
casta de Leguminosa da terra firme, que UATARE faltado.
cresce muito alta, sobressaindo na floresta UATAREPORA pecador, cheio de faltas.
circunstante e, por via disso mesmo, é esco- UATARESARA faltador.
lhida pelas guaribas para dormida. UATARESAUA falta.
UASÁ concubina. V. Auasá. UATAREUARA faltante.
UASACU açacu. V. Asacú. UATAREYMA que não falta.
UASAÍ açaí. V. Asaí e comp. UATINUMA guatinhuma, casta de pequeno
UASU grande, alto, elevado. Nos compostos e pássaro.
como sufixo, asu, osu, usu, de conformida- UATIPUTÁ batiputá, casta de planta, de fruta
de com a eufonia local. oleaginosa comestível.
UASUETÉ grandíssimo, altíssimo, elevadíssi- UATUCUPÁ pescada.
mo. UATURÁ casta de paneiro mais alto que largo,
UASUPIRE maior, mais alto, mais elevado. feito de cipó uambé fortemente entrança-
UASUPORA engrandecente, enaltecedor. do, destinado ao transporte e para os miste-
UASUSAUA engrandecimento, tamanho, gran- res da roça, com três aselhas ou casas, uma
deza. no fundo e duas no alto, por onde passa a
UASUXINGA grandezinho, altozinho. tipoia que permite carregá-lo suspenso às
UASUXINGA-PIRE um pouco maior, um pou- costas, seja preso à testa como costumam as
co mais alto. mulheres, seja preso ao alto do peito, como
UASU-YMA não grande, não alto, não elevado. é costume dos homens.
UATÁ andado, passeado, viajado. UATURÁ CAUA caba de uaturá, casta de caba,
UATAPORA andarilho. que constroi o ninho em forma de uaturá.
UATASARA andador, viajar, passeador. UAUÁ casta de sapo.
UATASAUA andada, viagem, passeio. UAUACA redemoinhado.
UATATYUA lugar de passeio, da andada, da UAUACAPORA cheio de redemoinhos (dos
viagem. rios).
UATAUA o andado, o percorrido. UAUACASARA redemoinhador.
UATAUARA viajante, andante, passeante. UAUACASAUA redemoinho.
UATAUERA andadeiro, passeadeiro. UAUACATYUA lugar de redemoinho.
UATAYMA não andado. UAUACAUARA redemoinhante.
UATÁ UATÁ ir apressado. Xautá-uatá xacica UAUACAYMA não redemoinhado.
tenondé arama: vou apressado para chegar UAUASU babaçu, nome dado a várias espécies
antes. de palmeiras de folhas largas e resistentes.
UERAUARA
UERAUERAU relampeado. V Uerau e comp. ferida e tornar assim seguro o efeito do ve-
UERAUERAUA relâmpago. neno.
UERAUPORA raiador, vibrador, cheio de luz. UEYUA PUCU flecha comprida e que costuma
UERAUSAUA luzimento, vibração. ser lançada com a palheta.
UERERÉ sarapatel feito com os interiores do UEYUA RERU porta-flechas, carcaz, fáretra.
pirarucu. UEYUASU a flecha grande que serve para o
UERÉU alumiado. pescador flechar; e, se for necessário, utiliza
UERÉUA lume. como xapu para fisgar o peixe, que fica em-
UEREUARA alumiante. poçado nos meses de vazante.
UEREUEREU realmente. V Uereu e comp. UEYUA-YUA freicheira. V Sacana.
UEREUESARA alumiador. ui farinha-d'água, farinha de mandioca pu-
UEREUESAUA alumiamento. ba. Lit.: soa comer fino, comer miúdo, pe-
UETEPÉ muitas vezes. lo que o escrevo com i diminutivo em lugar
UETIPI bastante. do i tapuia, como aliás o tenho visto escri-
UEÚ apagado. to muitas vezes.
UEUÁ escama. ui ANTÃ farinha velha.
UEUÁPÓRA escamoso. UICOPUCU faz muito, está longe.
UEUÁYMA liso, sem escamas. Pírá ueuayma: meu uicu, fruta oleosa do uicuzeiro.
peixe sem escamas, liso. UICUYUA uicuzeiro, árvore que cresce na ter-
uÉuÉ voado. Pírá ueué: peixe que voa. ra firme.
UEUECA onda, maresia, o movimento com- UIÉ, OIEY descido, baixado.
passado das águas nos lugares de remanso, UIEI hoje.
especialmente a jusante das cachoeiras. UIESARA descedor, baixador.
UEUECAPORA undoso, remansoso. UIESAUA baixamento, descimento.
UEUECATYUA remanso, lugar beijado pe- UIETYUA descida, baixa, lugar de descida.
las ondas; a marca que, ao longo das praias, UIEUARA descente, baixante.
deixa o manso deslizar das águas. UIKÉ' enchido. V Eikié e comp.
UEUECAYMA sem ondas, sem maresia. UIKÉ uiqué, fruta do uiquezeiro.
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das tribos que tinham a dita de possuir, no que se encontra sentado nalgum galho seco
distrito por elas ocupado, alguma jazida de à margem de todos os lagos e lagoas do inte-
sílex. O ralo, por via disso mesmo, em mui- rior. Parece que seu principal alimento são
tos lugares deste interior, é uma riqueza que rãs, sapos, peixes que são rejeitados à mar-
se transmite de dona em dona de casa, co- gem, lagartos, pequenos mamíferos e quan-
mo uma verdadeira preciosidade que é. O to lhe vem a passar ao alcance das garras,
ralo de cobre trazido pelos cearenses é pou- sendo bastante destro, apesar do voo - que
co apreciado, e somente usado na última ex- é mais o de uma coruja do que o de um ga-
tremidade. A mulher indígena rala sentada vião - em se precipitar sobre a presa des-
no chão e tendo o ralo entre as pernas com cuidada.
a cabeça deste encostada ao ventre. urnÁ PIROCA pássaro despido, sem penas,
UIKIÊ fornicado. pinto.
UIKIEPORA fornicador. urnÁ-PITI andorinha.
UIRÁ MEUOAN mergulhão, Podoa surina- UIRAPONGA araponga, ave de crista, Chas-
mensis. morynchus.
UIRÁ ave, pássaro. Nome genérico. UIRÁ-PURU irapuru, pássaro ornado, pássa-
UIRÁ-ANGA alma de pássaro. ro emprestado. O uirapuru é a maravilha
UIRÁ-IAKIRA pássaro novo. da mata. Quando aparece e faz ouvir o seu
urnÁ-MEMBECA pássaro-mole, nome que canto, dizem que todos os pássaros da vi-
em alguns lugares dão ao pavãozinho. V zinhança acodem para ouvi-lo. O canto, eu
Iukiri. nunca o ouvi. Na mata tenho encontrado
UIRÁ-MEMBI, UIRÁ-MEMI o flautista, pássa- mais de uma vez reuniões de pássaros das
ro-flauta, lindo pássaro azul-escuro de lar- mais diferentes espécies, em ajuntamentos
ga poupa em forma de chapéu-de-sol e um muito parecidos com os que na Europa os
apêndice carnoso, também coberto de plu- passarinhos fazem em roda da coruja, mas
mas, que lhe desce do pescoço em forma de nunca pude ver o pássaro que servia de cha-
badalo, e que lhe serve para tornar mais so- mariz. O passarinho que me tem sido mos-
nora a nota aflautada que costuma emitir, trado como tal, é um Tyrannus, de cor acin-
Cefalopterus ornatus. zentada e preta, pouco vistosa, com uma
ui-Pu Farinha fresca. mancha branca nas costas, em forma de
UIRÁ-MIRÍ Passarinho, pássaro pequeno. estrela, que somente aparece quando abre
UIRANDÉ, UIRANÉ Amanhã. as asas, ficando coberta por elas quando
UIRANDEUÁRA o que há de vir, o que virá em descanso. Mais de uma vez o tenho ti-
amanhã. do, e uma vez já o matei em plena flores-
UIRANDÉYMA Sem amanhã, sem futuro. ta, mas era isolado e sem acompanhamento,
UIRÁ-PAIÉ alma-de-gato, uirá pajé, Piaya o que já me fez desconfiar da informa-
macrura. Ave do tamanho de uma pomba- ção, embora obtida de diversas pessoas e
-rola, mas que parece muito maior por cau- em lugares diversos. Seja como for, Goeldi
sa da cauda comprida e degradante do cen- dá com o nome de uirapuru duas Pipras e
tro para os lados, orlada de branco, com uma Chiroxiphia, que vem nas estampas
a cabeça e o dorso bruno-escuro e o pei- coloridas, sem que a eles se refira no tex-
to acinzentado, que se encontra sempre no to, pelo que não sei onde ouviu estes no-
mais espesso da floresta, revistando as moi- mes. Os quatro ou cinco uirapurus prepa-
tas mais intricadas à cata de insetos, apare- rados para amuleto que tenho tido ocasião
cendo e desaparecendo entre o verde da fo- de ver, somente tinham de comum o tama-
lhagem. É pássaro considerado agourento. nho, e embora dois fossem indubitavelmen-
UIRÁ-PANEMA pássaro-molangueirão, casta te Tyrannus, vinham tão deformados e su-
de gavião de corpo avantajado de um gros- jos de carajuru com resina de cunuaru, que
so galo, de cor fulvo-leonado-escura, mais era impossível saber de que cor tinha sido,
claro no peito e no ventre, muito comum, e e individualizá-los. Ao uirapuru preparado
UIRÁ RAUA
convenientemente por mão de pajé se atri- do assim torná-lo mais forte e ativo. Disso,
bui a virtude de tornar feliz e trazer a fortuna pois, resulta que, se em geral, o uirari do
a quem o possuir. A crença não se encontra comércio é sempre eficaz para matar, nem
tão somente espalhada entre os indígenas, sempre obedece ao contraveneno.
mas também entre o povo civilizado, e não UIRARI-CIPÓ cipó do uirari; várias espécies
há tendeiro aqui no Norte do país, e espe- de Strychnos que servem para a fabricação
cialmente no Pará e Amazonas, que, embo- do uirari, que variam de região, o que tam -
ra nascido em terras de além, não tenha pa- bém pode explicar o comportar-se diversa-
go, bem pago, um uirapuru ou não esteja mente dos diversos uiraris perante o sal de
pronto a pagá-lo (e se houver raridade) pa- cozinha usado como contraveneno.
ra tê-lo na gaveta ou na burra, ou enterrá-lo UIRÁ- RIRU gaiola.
na soleira da porta, com a firme convicção UIRÁ-TIPUTI erva-de-passarinho, visgo ou
de que é o meio mais seguro de atrair a fre- outra pequena parasita análoga, que cresce
guesia e a fortuna. Disso, pois, naturalmen - nos galhos das árvores, Loranthaceas e afins.
te, o multiplicar-se dos uirapurus e as fal- UIRÁ-UASU nome genérico dado aos gaviões
sificações, tornadas fáceis pelo modo como e alguma rara vez usado para designar a
são preparados os verdadeiros, e de aí a ra - harpia, Spizaetus tyrannus.
zão, diria o meu amigo pajé, de muitas vezes UIRI bagre, Bagrus reticulatus, casta de peixe
nenhum efeito produzirem. de pele, próximo da piraíba; guiri.
UIRÁ RAUA pena, pelo de pássaro. UIRI-TINGA guiri branco, casta de peixe de
UIRÃ- RUAIA cauda, rabo de pássaro. pele.
UIRÁ-UNA graúna, pássaro-preto, nome da- UIRIUÁ' biribá, fruta em forma de pinha,
do a diferentes espécies de pássaros pretos. cheia de pevides envolvidas em uma polpa
UIRARI, UIRARY o veneno com que os in- branca e açucarada, geralmente apreciada.
dígenas ervam suas flechas. É extraído por UIRIUÁ' pequeno pote de terra cozida, desti-
meio de decocção da planta toda, uma casta nado a servir de cofre e guardar os perten-
de Strychnos sarmentoso, previamente pisa- ces das costureiras.
da. Apurada ao fogo, a decocção, depois de UIRIYUA guiriúba, casta de peixe de pele.
passada à peneira até a consistência de um UIRUPE, UÍRPE embaixo.
mel muito espesso, está pronta para o uso. UIRUPESARA, UIRPESARA quem está embai-
Para envenenar a flecha é então suficiente xo.
molhar a ponta na decocção e deixá-la se- UIRUPEUARA, UIRPEUARA Que está embai-
car. O uirari do comércio é geralmente apu- xo.
rado até tornar-se sólido e, então, para ser- UITÁ nadado. V Eitá e comp.
vir-se dele, precisa umedecê-lo com água UITAUA natação.
morna e, se for muito velho, acordá-lo (é ui TIPIRITI farinha de rodas de mandioca se-
como dizem) com pimenta-malagueta. O ca ao sol.
contraveneno do uirary é o sal, usado inter- UIUÁ o homem que costuma acompanhar o
na e externamente, como já tive ocasião de tuxaua, o homem de confiança, o homem
observar mais de uma vez com barrigudos de escolta; por extensão (Solimões), sujei-
flechados por zarabatana pelos meus índios, to, fâmulo, criado.
em minhas viagens ao Uaupés. Na falta do UIUAKY reptado.
nosso sal de cozinha, que é o contraveneno UIUAKYSARA reptador.
mais ativo, usam também do sal extraído do UIUAKYSAUA repto.
cariru das cachoeiras, mas, se serve minis- UIUAKYUARA reptante.
trado imediatamente, já não serve quando UIUÁRI vaga-lume.
começou o coma. Do uirari se fazem muitas UIXI uixi, fruta comestível do uixizeiro.
falsificações, especialmente entre os meios UIXIYUA uixizeiro, Myristica platysperma,
civilizados, aditando-lhe o sumo de outras árvore de alto porte, que cresce nas terras
plantas e até tocandiras pisadas, pretendeu- firmes e vargens altas.
URASUCANGA
um lado, e que deve apoiar-se sobre as cos- moles, a modo de ouriço, cheia de pevides
tas; é munido de uma tipoia de envira que o envolvidas numa polpa corante, de sabor le-
abrange desde o fundo, passando por uma vemente acídulo, que fornece uma cor aver-
asa aí praticada e por duas outras asas pra- melhada do mesmo nome da fruta. O urucu
ticadas no alto, de modo a permitir carre- é usado na cozinha para dar cor às comi-
gá-lo, passando a tipoia sobre a testa ou no das, e algumas tribos indígenas com ele se
peito. O urasucanga tanto pode ser fecha- pintam.
do como aberto, o que é mais comum, do URUCURI fruta do urucurizeiro, espécie de
lado contrário àquele que apoia sobre as pequeno coco, de que em muitos lugares
costas, e serve especialmente para o indí- se servem para defumar a seringa, afir-
gena carregar a rede de dormir e os pou- mando-se que a que for defumada com ela
cos trens de uso diário, sendo que, quando adquire maior elasticidade, o que é mui-
é aberto, é munido de um cipó suplemen- to possível que se verifique pela adição de
tar, que serve para fechá-lo depois de cheio. partículas oleosas comunicadas à seringa
Tradicionalmente quem carrega o urasu- pela fumaça do urucuri.
canga é a mulher; este uso é ainda hoje vi- URUCURIÁ casta de Strix, do tamanho do
vo entre os silvícolas e veio da necessidade Strix flammea europeu, mas muito mais
de estarem os homens sempre prontos e de- claro, quase branco, que vive na espessura
sembaraçados de qualquer empecilho para da mata e passa o dia, conforme os indíge-
acudir à defesa, contra qualquer ataque. nas afirmam, no oco dos paus. No Uapés,
URPE embaixo. Forma incorreta, contração matei a fêmea de um casal encontrado em
de uirupé, que se encontra usada pelos civi- pleno dia empoleirado na semissombra
lizados que falam a nossa boa língua, e vem dos ramos baixos de uma árvore copada, à
ao par dos b, dos d e dos g, que em geral são margem do rio.
usados profusamente pelos mesmos. URUCURIYUA urucurizeiro, Attalea excelsa,
URU' pequeno cofo de forma arredondada, casta de palmeira que vive nas vargens e iga-
com tampa, e um pouco mais estreito na pós.
boca, em que o pescador traz guardados os URUCUYUA urucuzeiro, Bixa orellana, ar-
apetrechos miúdos necessários para o que busto, geralmente cultivado, que fornece o
der e vier durante a pescaria; chamado tam- urucu.
bém urutu. URUMÁ casta de pato selvagem.
URU nome comum a duas ou três variedades
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URUMBU, URUMU urubu, Cathartes fetens,
de Odontophorus, que vivem de preferência casta de Vulturida muito comum em toda a
nos lugares de serras e colinas e muito rara- América intertropical e que se encontra nu-
mente se encontram nas matas do vale. No meroso em todos os lugares onde há habi-
porte, se destacam dos inambus e se apro- tações. Vive das dejeções, cadáveres em pu-
ximam da codorniz europeia, embora mui- trefação e detritos de todo o gênero, sendo
to menores. em muitos lugares o único encarregado da
URUÁ' caramujo que abunda nos lagos. limpeza pública.
URUÁ fruta do uruazeiro.
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URUMU ACANGA cabeça-de-urubu, casta de
URUAi caracol. cacau silvestre.
URUATÁ carregado no uru, removido no uru. URUMU ACANGA PIRANGA urubu-de-cabe-
URUAYUA uruazeiro. ça-vermelha, Cathartes aurea. Não muito
URUCANGA costela, ilharga, lado. comum, no Amazonas é ave silvestre que
URUCARI mosquiteiro. não se mistura com o urubu-comum.
URUCATU lírio vermelho. URUMÚ-CAÁ erva-de-urubu, uma trepadeira.
URUCAUÍ casta de resina que algumas tribos URUMU MOCAEN moquém de urubu; os ovos
usam para pintar o corpo com carajuru. da tartaruga secos ao sol. É conserva que,
URUCU a fruta do urucuzeiro, que consta de quando seca a ponto, dura muito tempo
uma cápsula oblonga e coberta de espinhos sem gastar-se.
UYTAUARA
URUMU IERÉUA urubu-jereba, urubu novo, fi- je, conforme conta José Veríssimo, em mui-
lhote. Lit.: Urubu que revira, nome devido tos lugares do interior, varrem com as penas
aos trejeitos que faz em volta dos velhos pa- da cauda de urutauí sob a rede de dormir da
ra deles obter a comida, perseguindo·os, re- noiva o chão, que deve levar o tupé, como
virando-se, abrindo as asas e o bico, até que meio seguro de garantir a honestidade da fu-
um dos dois o satisfaça. É espetáculo alta- tura esposa.
mente cômico. URUTU cofo para pescaria. V Uru.
URUMU-RETAMA, URMUTAMA uruburetama, usÁ, osÁ caranguejo, câncer uçá, casta de ca-
terra de urubu, pátria de urubu. ranguejo de água doce.
URUMU TAUA aldeia de urubu. USARA bebedor, comedor, engolidor. Mira
URUMU-TINGA urubu-branco, urubu-rei, usara: comedor de gente, antropófago.
Sarcoramphus papa. Esplêndido Vulturida, USAÚNA caranguejo-preto.
parente próximo do condor; habita a ma- UTI-SARA, UTINSARA tímido, vergonhoso.
ta e o tenho visto sempre isolado, raramen- UTI-SAUA, UTINSAUA timidez, vergonha (rio
te em casais. É raro, todavia, que não apa- Negro).
reça onde há alguma carniça a apodrecer uuÁ bago.
na mata. Desde o momento em que apa- UURE regirado, girado em funil.
rece, os urubus se retiram, com medo do UUREPAUA regiramento.
bico possante do seu rei, que não tolera UUREPORA regirante.
compartilhar com a turba, e somente vol- UURESARA regirador.
tam quando, satisfeito, se retira. Não é is- UURETYUA, UURETAUA regiradouro.
so, talvez, porém, que lhe fez dar o apeli- UUREYMA não regirado.
do de rei; este lhe vem da espécie de coroa UURUPÃ paricá (Solimões).
amarela e vermelha que lhe fazem na cabe- UXI uxi, fruta consistente numa drupa in-
ça umas carúnculas carnosas, que se desta- deiscente revestida de um pericárpio co-
cam sobre a cor branca, isabela e negra do mestível, de sabor adocicado e de um aro-
resto do corpo. ma especial. A semente é administrada em
URUMU-TYUA urubutuba, lugar de urubus. pó como hemostático.
URUMYTU urumutum, mutum pintado como UXIYUA uxizeiro, Uxi umbrosissima, árvore
uru, Crax urumutum. Grande ave do tama- que adquire grande desenvolvimento e abre
nho de um peru. De costumes crepuscula- a copa espessa acima da mata circunstante.
res, passa o dia empoleirado na copa das ár- u-Y bebido. Nos casos em que é necessá-
vores mais altas da floresta. Vive de frutas, rio distinguir entre beber e comer, embo-
sem desprezar os insetos e qualquer outro ra, quando não se trate de água, o segundo
animálculo que lhe passe ao alcance. Pouco membro possa naturalmente sempre ser o
se vê em domesticidade. nome da bebida que a substituiu.
URUPÉ gurupé, cogumelo orelha-de-pau; no- UYCA afogado. V Oyca e comp.
me comum a várias espécies de Licania. UYRI guri, casta de peixe.
URUPEMA um-chato, peneira de malhas não UYRY revolvido.
muito largas, especialmente destinada para UYRYPAUA revolvimento.
passar a massa de mandioca antes de ir pa- UYRYPORA revolvente.
ra o forno. UYRYSARA revolvedor.
URUPÉUA casta de cogumelo achatado que UYRYYMA não revolvido.
cresce nos paus. UYTÁ nadado.
URUREMA casta de árvore, angelim-de-socó. UYTÁSÁRA nadador.
URUSU casta de abelha amarelada. UYTÁSÁUA natação.
URUTAU pássaro noturno, casta de Strix. UYTÁTYUA Lugar de natação, fundo onde se
URUTAUÍ casta de acuraua, Nycticibus. É cren- nada.
ça espalhada no Pará que o urutauí preserva UYTÁUÁ natação.
as donzelas das seduções e, por via disso, ho- UYTAUARA nadante.
UYTAYMA
XUNDARAUA mãe de peixe-boi. O pescador que proibido, todavia, matar maís de um, assim
tem a felicidade de possuí-lo é certo de não como matar o primeiro que se lhe apresente.
voltar da pescaria sem ter morto um; é-lhe xuxu casta de jerimum.
Y é o i tapuio, que, além de ser pronunciado YACY TATÁ estrela, fogo da lua.
guturalmente, fazendo-se em muitos casos YACY TATÁ UASU a estrela-d' alva ou a estrela
ouvir um som como de ig, é, segundo as lo- Vésper, Vênus.
calidades, substituído por e ou por u, em- YACYTARA jacitara, Desmoncus, adorno da
bora nestas pronúncias o som gutural fique Lua. Casta de Palmeira, de caule sarmen-
muito atenuado e quase desapareça. toso que se emaranha e trepa nas árvores
Y água. Pronunciado sempre muito gutural, circunstantes em largas volutas e passa de
razão pela qual nas palavras que passaram uma a outra, recortando o azul do céu com
para o português passou como i seguido de g. as folhas elegantemente recortadas, e que,
Igara, igaçaba etc., que são yara, yarasaba etc. se por qualquer circunstância se desenham
YÁ fruta. Contração de yuá, usada especial- no céu enquadrando a Lua, nos diz logo
mente nos compostos. quanto é poética e exata a sua nomenclatura
YACARUÁ nascente, olho d' água. indígena.
YACY lua, mãe da fruta. A Lua completa a YACYYUA jaci, casta de palmeira, Latania ru-
obra do Sol. Este fecunda as plantas e lhes bra e afins.
faz produzir as frutas, a Lua as amadurece. YANAMÃ, ANAMÃ espesso, denso, grosso
YACY ICAUA lua cheia, gorda. (dos líquidos).
YACY IERASUCA lua minguante, que mingua. YAPENU onda, maresia.
YACY IUMUNHÃ lua crescente, lua que se vai YAPEPU falca, as tábuas que se sobrepõem ao
fazendo (rio Negro). casco para formar o tatu pirera e, em geral e
YACY MUTURusu lua crescente, lua feita por extensão, qualquer gênero de falca. Lit.:
grande, engrossada. asas da água.
YACY PITUNÁ noite de lua, noite de luar. YAPINU onda.
YACY PYSASU lua nova. YAPINU-ASU maresia, onda grande.
YACY RANDI luar. Lit.: azeite da lua. YAPIRE subido, remontado (dos cursos d' água
YACY SUÁ UASU lua cheia, lua de cara grande. andando contra a correnteza (gapire).
YACY TAIÁ casta de Caladium, cuja raiz é ve- YAPIRESARA remontador, subidor.
nenosa. YAPIRESAUA subida.
Y-IARA, EIARA, OIARA
YAPITINGA a parte carnosa das frutas, polpa YARA-PORA que enche, que está dentro da ca-
e o que se torna comestível amadurecendo. noa.
YAPÓ igapó, mãe da água; lugares baixos ao YARA RAINHA o casco que forma o fundo da
longo dos rios e no interior das terras à canoa, e sobre que são pregadas as cavernas
margem dos lagos e igarapés, que em tem - que devem receber as falcas. Lit.: o caroço
po de enchente costumam ir ao fundo; flo- da canoa.
resta inundada ou sujeita a ser inundada pe- YARA RUPITÁ popa da canoa.
riodicamente. YARA-TAUA, YARA-PAUA porto, lugar da ca-
YAPÓ-AYUA igapó ruim. noa.
YAPO-IKIÁ igapó sujo, que entra na mata e YARAUARA pertencente à canoa.
não dá bom caminho para as canoas. YARETÉ, IGARITÉ verdadeira dona das águas.
YAPÓ-IUCA pojuca, pântano podre, estagna- Contração de y: água, iara: dona, eté: ver-
do. dadeira. Embarcação muito maior do que a
YAPUMI mergulhado. igara, com proporções de receber duas tol-
YAPUMISARA mergulhador. das e de exigir vela e remos de voga.
YAPUMISAUA mergulhamento. YAROSU canoa grande. Contração de y: água,
YAPUMITYUA mergulhadouro. iara: dona, uasu: grande: grande dona das
YAPUMIUÁ mergulho. águas. Embarcação maior do que a igara e
YAPUMIUARA mergulhante. menor do que a igarité.
YAPY orvalho. YASAUA, YATAUA igaçaba, grande vaso para
YAPYPORA orvalhado. água, geralmente em forma de ânfora e al-
YAPYUARA orvalhante. gumas vezes ornado de desenhos elegantís-
YÁRA igara, canoa, montaria. Contração de simos. Se têm encontrado em toda a parte,
Y: água, e iara: dona, dona da água. tanto no Pará como no Amazonas, vasos em
YARA ARUCANGA costela da canoa, caverna. forma de igaçabas com restos de ossos hu-
YARAPAPE, IGARAPAPE porto, onde está a ca- manos, a que também, por não se lhes saber
noa. o nome verdadeiro, se dá o nome de ygasa-
YARAPAUA, YARATAUA porto, lugar da canoa. bas. Estes, todavia, não devem nem podem
YARAPÉ, IGARAPÉ caminho de canoa; riacho ser confundidos com aqueles, porque a sua
navegável por pequenas embarcações todo ornamentação, que na mor parte dos ca-
o ano ou quase; mas, como tudo é relativo, sos indica também o sexo do defunto, mos-
na terra onde existe o maior rio do mundo tra que se trata de uma fabricação especial
há cursos d' água com o nome de igarapés, e não de utilização de vasos destinados pa-
que desafiam muitos cursos d' água pompo- ra outro fim.
samente batizados rios noutros países. YATY sumo da fruta.
YARAPÉ IATIMÃ-TIMÃ voltas do igarapé. YAUARUÁ nascente, espelho d' água, do fato
YARAPEMA fundo da canoa, o casco sobre de a nascente, antes de tomar seu rumo e
o qual são armadas as cavernas, arucanga, formar o igarapé ou o rio, fazer poço.
destinadas a receber as falcas. YCA lascado, aberto a força.
YARAPÉ-MIRi igarapezinho, regato, geral- Y-CEEMBYCA água salgada. Lit.: água adoci-
mente não navegável senão na enchente e cada, saborosa.
por pequenas embarcações. Y-IARA, EIARA, OIARA mãe d' água, que vi-
YARAPÉ-PORA morador, que habita o igarapé. ve no fundo do rio. A mãe d' água atrai os
YARAPÉ RACANGA afluente, braço do igarapé. moços, aparecendo a estes sob o aspecto de
YARAPÉ REMBYUA margem do igarapé. uma moça bonita, e às moças aparecendo-
YARAPÉ TOMASAUA foz do igarapé. Yarapé -lhes sob o aspecto de um moço, e os fas-
tomasaua kiti: a jusante do igarapé. cina com cantos, promessas e seduções de
YARA-PÉUA falca, a tábua que é pregada late- todo o gênero, convidando-os a se lhe en-
ralmente sobre as cavernas para aumentar tregarem e irem gozar com ela uma eterna
a capacidade do casco, ou a isso destinada. bem-aventurança no fundo das águas, on-
YIARA, OIARA
de ela tem seu palácio e a vida é um folgue- YPIRANTÃ água corrente, água forte.
do sem termo. Quem a viu uma vez nun- YPOIÚCA água estagnada, podre. Lit.: mãe
ca mais pode esquecê-la. Pode não se lhe podre d'água.
entregar logo, mas fatalmente, mais cedo YPOPOCA água que estronda, que arrebenta
ou mais tarde, acaba por se atirar ao rio e com estrondo.
nele afogar-se, levado pelo ardente dese- YPORA aquático, que está e mora n'água.
jo de se lhe unir. É crença ainda viva tanto YPOROROCA água que cresce estrondando e
no Pará como no Amazonas, e é como se fazendo estrago. V. Pororoca.
ouve explicar, ainda hoje pelos nossos ta- Y PURACYSAUA remanso, dança d' água.
puios, a morte de uns tantos bons nadado- y PURACYSAUA PUXI redemoinho.
res, que apesar disso morrem afogados. A YPU, Y MPU água saída, esguichada, olho
cobra grande. d' água.
YIARA, OIARA o boto vermelho, a que se atri- YPUASU olho d' água grande.
bui a facilidade de virar-se em homem para YPUCA água arrebentada.
seduzir as moças novas, que gosta de cacha- YPUCAPAUA arrebentação.
ça e de bailes como qualquer Tapuia e neles YPUCAUARA arrebentante.
aparece para levantar desordens. Embora o YPUCAUERA olho d' água que foi, olho seco.
nome e certa semelhança, não se trata da YPUÍPE na fonte, no olho d' água.
mãe d' água, porque esta é a cobra grande, YPUIPEUARA, YPUIPEIARA o que mora ou é
e o boto vermelho, apesar de tudo, se em- o dono da fonte. No Sul assim se chamava
prenha as moças que se lhes entregam, não uma espécie de mãe-d' água, que habitava as
as leva a afogar-se, nem ao menos, pelo co- fontes e que estragava por um tempo mais
mum, carrega com elas. O boto vermelho, o ou menos longo as pessoas a quem aparecia,
oiara, dos três delfins amazônicos, é aquele especialmente às lavadeiras. Aqui no Norte
que remonta mais longe por estes rios aden- não me parece que tenha igual significação.
tro, e o tenho encontrado no alto Uaupés YPUPUI, YPUPUÍRA olho d' água escasso, fio
acima de Ipanoré. d' água.
Y IAUÉ aquoso, como água. YPUSARA o que faz esguichar a água.
y IAUESAUA aquosidade. YPUSAUA a nascente, olho d' água.
Y IUCY sedento, sequioso. V. Iucy e comp. YPUTYUA lugar de nascentes.
Y rurnÍRA cachão d' água. YPUYMA sem olhos d' água.
Y MANHA nascente; casta de junco que nasce YPUYUA o que dá, a origem de olho d' água,
nos lugares alagados. da nascente.
YMA não. Sufixo negativo que serve para ne- YPY fundo, pé da água. Ypipe: No fundo da
gar a ideia, contida na raiz. Kyrimbá: valen- água.
te, Kyrimbá-yma: fraco, não valente. Santá: YPYPIPEPAUA revolvimento do fundo d'água.
duro; Santá-yma: fraco, mole, não duro. Y RAPÉ fibras da madeira; caminho da água.
Y MBOIA jiboia, casta de Constrictor, que se YRURU molhado.
domestica facilmente, e não é raro vê-lo nas YRURUPAUA malhação.
lojas do Pará e Amazonas, onde preenche as YRURUPORA malhador.
funções de gato, perseguindo os ratos com a YRURUTYUA molhadouro.
vantagem de chegar onde aquele não chega. YRURUUARA molhante.
YNHÃN, YNHÃNA enxurrada, águas da chuva YRUSÃ umedecido, refrescado.
que correm impetuosas, mas não têm du- YRUSANGA sombra, fresco, úmido.
ração. YRUSANGARA refrescante, umedecedor, um-
YPANEMA água morta, água imprestável. broso.
YPAU, YPAUA lago, aguada; lugar de certa ex- YRUSANGÁUA frescura, umidade, sombra.
tensão, onde a água persiste todo o ano. YRYPIPE revolvido o fundo d' água.
YPAUA-PY lago fundo, poço. YRYPIPEPORA revolvedor do fundo d' água.
YPIÁ voragem, funil. Lit.: coração da água. YRYRi ostra. V. Reri.
YUK!CÉ
YRYRY riçado; a superfície das águas pelo so- que já foi revelado vezes infinitas nas ter-
pro de vento. minações de árvores e lugares; e a ubá é,
YRYRYPAUA riçamento. num certo sentido, também a fruta da ár-
YRYRYPORA riçante. vore em que foi escavada.
YRYRYYMA não riçado. YUACAUA bacaba, fruta gordurenta. Da fruta
YTAN ostra, concha, nome genérico dado a da bacaba se extrai uma bebida, pisando-a,
várias espécies de bivalves fluviais. depois de amolecida em água quente; algu-
YTANGA a concha do mMolusco. ma coisa parecida com o açaí e que é geral-
Y TINGA água clara, transparente. mente chamada: vinho de bacaba, toman-
YTU, Y-TU água quebrada e por extensão, sal- do-se ela também com farinha e açúcar, ou
to, queda d' água, cachoeira. Pouco usado somente com uma destas cousas.
no Amazonas, onde se usa correntemente YUACAUA-YUA bacabeira, casta de palmeira,
de caxiuera mesmo por aqueles que falam Oenocarpus bacaba e afins, que dá uma fru-
língua geral; é contudo palavra nheengatu ta comestível, de que se faz o vinho de baca-
como prova a existência de nome Ytuci no ba; fornece um azeite quase tão fino como
Purus, pelo que noto também os seus com- o de açaí, inodoro e, por via disso mesmo,
postos e derivados. utilizável em perfumaria, com a vantagem
YTUÃETÉ Queda alta, elevada, cachoeira alta. de ser muito mais abundante do que este.
YTUASÚ queda grande, cachoeira grande. YUA CEEN cana-de-açúcar; salsaparrilha.
YTUi salto pequeno, cachoeirinha. YUACAPI os paus, de três a quatro, que, finca-
YTUIAUETÉ salto bravo, cachoeira perigosa. dos no chão, sustentam a altura convenien-
YTUCY mãe da queda, nome de um afluente te do fogo, o gradeamento sobre que é posta
do Purus, que se encontra mais comumente a caça ou o peixe destinado a ser moqueado.
escrito incorretamente Ituxy. YUACEMA alho.
YTU-PANEMA queda insignificante, à-toa. YUACEMASU cebola.
YTUPAUA encachoeiramento. YUAPÉUA fruta lisa.
YTUPÉUA corredeira, cachoeira chata, sal- YUAPUCA juapoca, casta de camapu, Physalis.
to liso. O sumo da planta pisada, introduzido aos
YTUPORA cheio de saltos, de queda d' água; pingos no canal auditivo, é remédio para as
que mora, que é da queda. dores de ouvido. O cozimento em banhos é
YTUPORANGA queda bonita, boa de passar. aconselhado como calmante nas dores reu-
YTUPUI queda delgada, chorro. máticas.
YTUPUÍRA queda miúda, desfeita. YUAPUY, GAPUY, APUY V. ApuÍ.
YTUPUXI queda feia, que não se passa. YUÁ RAINHA, YÁ RAINHA caroço da fruta.
y TYUYRA gota de água. YUASU, Y UASU água grande, maré viva.
YUÁ, YÁ fruta, nome genérico de todas as es- y UAUAIA rebojo.
pécies de frutificações. YUÁ-UASU COCO.
YUA planta, tronco, haste, origem, estirpe, YUÁ-UASU-YUA coqueiro.
causa. Mira yua: origem da gente. Xiringa- YUÁ-YUA fruteira, planta de fruta cultivada.
yua: seringueira, árvore da seringa. Puracy- Y UAYUA água má; mortandade de peixes
yua: causa de baile, aquele a quem é ofereci- que, em certas circunstâncias, especialmen-
do, em cuja honra se deu o baile. te em tempo de friagem, se verifica nos la-
YUÁ, UBÁ embarcação feita toda de um pe- gos e igarapés e, embora muito mais rara-
daço, escavada num tronco de pau, sem mente, mesmo nos rios, especialmente nos
emendas nem falcas. A ubá não é o casco, lugares baixos e pouco correntosos. No Pará
embora este seja geralmente uma ubá, que hoje se ouve dizer e escrever uayua, e com
se abriu e à qual se tirou o feitio, para se esta forma passou a português brasileiro.
lhe poder pôr as cavernas e aditar as foicas. YUECERA Quilha.
Ubá, que é como se ouve geralmente pro- YUKICÉ caldo, sumo, líquido, que entra ou
nunciar, é pronúncia portuguesa de yuá, o sai de alguma coisa. Uasaí yukicé: caldo de
YUKICEI
açaí. Yara yukicé: caldo da canoa. No pri- e outro em tempo de vazante, sem contudo
meiro caso, o vinho que se extrai de açaí; no formar ilha, mas apenas bacia.
segundo, a água que entra na canoa. YUYTERA Terra alta, serra.
YUKICEi caldo fino, lágrima. YUYTERA-ACANGA, YUYTERA-ACAN, YUYTE-
Y UMPUCA água arrebentada, revolta. RA-ACAIN cume da serra, cabeça da serra.
y UMPUCAPAUA arrebentação. YUYTERA-AETÉ serra altíssima.
Y UMPUCAPORA arrebentante, arrebentado- YUYTERA CEMBYUA encosta da serra; vereda
ra da água. da serra, margem da serra.
YUY terra, mundo, universo. Yuy iupirun- YUYTERA-CIRYCA serra nua, escorregadia.
gaua: no começo do mundo. YUYTERA-CUÁ serrania, cintura de serras.
YUY-Ã terra alta. YUYTERA-CUPÉ espinhaço, alto da serra.
YUY ÃETÉ terra altíssima. YUITERA-IURU bocaina, boca da serra.
YUY-APARA desmoronamento, terra torta, YUYTERA-IAUAETÉ serra brava, serra pavo-
que está para desmoronar. rosa.
YUY-APAUA ribanceira. YUYTERA - MIRI serra pequena.
YUYAPINA ibiapina, terra pelada, tosquiada. YUYTERA-PÉ-MIRI vereda, pequeno cami-
YUY-CUÁ enseada, baía, cintura de terra. nho da serra.
YUY-CUARA gruta, sepultura, buraco da terra. YUYTERAPOCA vulcão, serra que se fende.
YUY-CUCUI desmoronamento, terra caída. YUYTERA-PUCU serrania, serra comprida.
YUYCUI-YUA ubucuuba, planta. YUYTERA - py pé da serra.
YUY -CUY areia. YUYTERA-PORA Cheia de serras, morador
YUYMICUI-UARA praieiro, que frequenta as da serra. Yuyreté yuytera-pora: Terra firme,
praías. cheia de serras. Mira yuytera-pora: Gente
YUY-PEMA terra chata, lisa, planície. moradora da serra, serrano.
YUY-PÉUA terra lisa, planície. YUYTERASU serra grande.
YUY soROCA terra rasgada, terra fendida. YUYTERATi pico da serra, o ponto culminan-
YUY - IÁRI encostado à terra, aportado. V. Iari te da serra.
e comp. YUYTERA-TOMASAUA baixo da serra.
YUYMICUi coroa de areia, praia. YUYTERA-YMA sem serras, despida de serra,
YUYMICUI-PORA cheio de praias, morador como é o baixo vale amazônico. Ara yuyte-
da praia. Paranã yuymicuf-pora: rio cheio tera-yma: terra sem serras.
de coroas de areias. Tatuí yuymicui-pora: YUYTIMA enterrado, plantado.
paquinha moradora da praia. YUYTIMASARA enterrador, plantador.
YUYPE no chão, em terra. YUYTIMASAUA plantação, enterramento.
YUYPORA morador da terra, terrestre. YUYTIMATAUA lugar de plantação, de enter-
YUYPUi poeira, pó, terra fina. ramento.
YUYPUI-UARA poeirento. YUYTIMAUA o enterrado, planta.
YUY-PYTERA centro da terra. Yuy-pyterupe: YUYTIMAUARA plantante, enterrante.
no centro da terra. YUIYTIMAUERA plantável, enterrável.
YUYRA areia, pó. YUYTYCA jogado, lançado na terra. V. Ityca e
YUYRA-PAUA, YUYRA-TAUA areal. comp.
YUYRA-PORA morador da areia. YUYTYUA esplanada, lugar de terra.
YUYRETÉ terra firme, terra verdadeira. YUYTYUAIA vale.
YUYRETÉ UASU terra geral, terra firme, gran- YUYTYUAIA-PORA cheio de vales, morador
de, não recortada por cursos d' água. do vale.
YUY - RIRI tremido da terra. V. Riri e comp. YUYTYUAIA-UARA que é do vale, pertence ao
YUY - RIRISAUA tremor de terra. vale.
YUY-RUPIUARA peão, que vai por terra. YUY-UARA que pertence à terra, é da terra,
YUY-SANTÁ terra dura, torrão; a terra que fi- terrestre.
ca obstruindo o leito do rio entre um poço YUY-UÁRUPE sobre a terra.
YYUA
YUY-UÁRUPE-UARA que está sobre a terra. YUY-YMA sem terra. Paranã oiké ramé iapi-
YVUY-UIRUPÉ embaixo da terra. tana yuy-yma: quando o rio enche ficamos
YUY-UIRUPE-UARA que está embaixo da ter- sem terra.
ra, subterrâneo. Y-YCA fibra da madeira; por onde arreben-
YUY-UUARA comedor de terra. ta a água.
YUY-UUARAMBOIA cobra-come-terra. YYUA flecha. V Uéyua e comp.
Título Vocabulário Português-Nheengatu,
Nheengatu-Português
Autor E. Stradelli
Editor Plínio Martins Filho
Produção editorial Aline Sato
Revisão Geraldo Gerson de Souza
Revisão de provas Cristina Marques
Editoração eletrônica Tomás Martins
Mariana Real
Capa Fabiana Soares Vieira
Formato i6 x 23 cm
Tipologia Minion Pro
Papel Chambril Avena 80 gim' (miolo)
Cartão Supremo 250 gim' (capa)
Número de Páginas 536
Impressão e Acabamento Cromosete