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ÍNDICE Clique em um assunto, se quiser ir direto para a página.

1. Fundamentos da doutrina das últimas coisas..................03


9. Pós-tribulacionismo.......................................................31

2.Escatologia individual e estado intermediário...................06


10. Textos escatológicos na leitura pós-tribulacionista.......36

3. Pontos comuns sobre a segunda vinda de Cristo............10


11. Pré-ira...........................................................................43

4. Os pré-milenismos..........................................................12
12. Textos do Apocalipse na leitura pré-ira..........................48

5. Amilenismo e Pós-milenismo.........................................16
13. Preterismo....................................................................52

6. Pré-tribulacionismo.........................................................19
14. A ressurreição de justos e injustos................................55

7. O trono do julgamento e as bodas do


15. O juízo final e o grande trono branco............................57
cordeiro no pré-tribulacionismo......................................25

16. O estado eterno............................................................59


8. Meso-tribulacionismo....................................................28

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1. FUNDAMENTOS DA DOUTRINA DAS
ÚLTIMAS COISAS

A
gora vamos começar a lidar com um dos temas mais complexos da teologia Cristã: a doutrina das últimas coisas.
Escatologia é talvez a área da Teologia Sistemática que mais gera dúvidas, questionamentos, que mais desperta
curiosidade nos membros da igreja. O seu nome, escatologia, deriva do grego “escathos”, que significa “último” ou

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“final”. Portanto, escatologia é o estudo das últimas coisas vemos e vivemos o presente. Ela não é só uma doutrina
que acontecerão decorrente dos planos de Deus para a que serve para matar a nossa curiosidade. Pelo contrário,
história: quando Jesus voltará, quando acontecerá o Milênio, a expectativa da volta de Cristo deve moldar a forma como
o que é e quando acontecerá o arrebatamento, como Jesus nós vivemos o nosso presente. A escatologia nos consola.
lidará com a igreja e com Israel e várias outras questões A escatologia nos prepara para as dificuldades e nos faz
importantes para o estudo da escatologia. aguardar o reino da Glória do Senhor. É importante que todo
cristão que confessa a Bíblia como inerrante, infalível e
Cristãos têm divergido em suas respostas a essas inspirada creia em alguns pontos fundamentais acerca da
perguntas e muitos debates têm se aquecido ao escatologia. Por mais que haja os mais variados debates,
longo da história da igreja por causa disso. Existem existem pontos centrais e fundamentais na escatologia com
dispensacionalistas clássicos, revisados e progressivos. os quais todos os cristãos estão dispostos a concordar.
Existem aliancistas e teólogos da Nova Aliança e há o
aliancismo progressivo. Cristãos têm adotado posições pré- Primeiro, todos os cristãos concordam fundamentalmente
milenistas dispensacionalistas, pré-milenistas históricas, que haverá uma redenção individual futura para todos os
pós-milenistas, amilenistas, pré-tribulacionistas, meso- crentes. Todos os crentes receberão a redenção futura que há
tribulacionistas, pós-tribulacionistas, pré-ira e do preterismo em Cristo Jesus. Em segundo lugar, os crentes concordam,
parcial. Enfim, existem tantas variações e tantos debates de forma única, que haverá perdição, condenação, aos
dentro da escatologia, que as coisas podem acabar ficando impenitentes, e que aqueles que estão longe de Deus serão
um pouco confusas. É por isso que, neste módulo, faremos condenados da parte de Deus. Em terceiro lugar, todos
um grande panorama das posições acerca do fim dos cremos que Jesus voltará, em um corpo glorificado, a fim de
tempos, tentando passar a linguagem do debate, apresentar buscar o seu povo. E, em quarto lugar, esse povo reinará com
as principais posições, suas bases e então auxiliá-lo para Jesus para todo sempre em um reino de glória, sem dor, sem
entender como está o debate e ter um caminho para chegar a sofrimento, sem doença, sem morte.
suas próprias conclusões acerca do fim dos tempos.
Ainda que nós possamos divergir no “como”, divergir no
É importante dizermos, logo no início deste módulo, que a “quando”, divergir no “onde” e nos pormenores que surgem
escatologia é uma doutrina que molda a forma como nós dessas questões, cristãos verdadeiros podem se unir em

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uníssono cantando “Maranata, ora vem, Senhor Jesus”. mas como uma forma de mito, uma história que deve ser
Cristãos podem divergir quanto à estrutura, às figuras de entendida pelo que ela quer transmitir. Os autores do Novo
linguagem, às metáforas e às ilustrações apocalípticas, mas, Testamento, segundo Bultmann, teriam usado contextos e
sendo genuinamente cristãos, estaremos unidos na espera conceitos gnósticos, alguns mitos do Judaísmo e de outras
do nosso Senhor. fontes, a fim de expressar aquilo que havia acontecido com
eles. Segundo ele, o propósito do Novo Testamento não é
Qualquer um, então, que negue a ressurreição corpórea de trazer uma interpretação da história, mas apenas falar acerca
Jesus Cristo e dos seus santos, qualquer um que negue da existência. Não existem fatos, apenas significados. Para
que Jesus voltará em um corpo visível e físico para buscar ele, João, Paulo e outros autores não falam da escatologia
a todos os crentes, qualquer um que negue que, por toda como eventos futuros, mas como realidades que já são
a eternidade, Cristo será o nosso Deus e nós seremos o presentes e que comunicam hoje algo voltado à nossa
seu povo é alguém que absolutamente não possui uma existência. A escatologia não falaria de algum evento em
escatologia bíblica. Há a necessidade de termos uma boa particular, mas sim de verdades atemporais e existenciais.
teologia bíblica acerca do fim dos tempos justamente porque Com isso, Bultmann nega a historicidade, logo a verdade
são doutrinas que também unem os cristãos. Por mais que daquilo que é dito na Escritura. Ao negar os milagres como
ela nos separe bastante, existem pontos comuns, sobre as uma realidade histórica e a volta de Cristo como um fato que
quais, às vezes, nem falamos tanto, mas que são pontos de realmente virá sobre nós, ele se afasta da sã doutrina acerca
unidade muito importantes para todos nós. da escatologia e cai em erro, em uma heresia muito séria.

Pense na figura de Rudolf Bultmann, por exemplo. Bultmann Portanto, logo no início, temos de chegar à seguinte
propôs uma demitologização da Bíblia. Isso significa que conclusão: temos que ter prudência antes de julgar aqueles
os autores do Novo Testamento, segundo ele, escreveram que divergem de nós em pontos secundários da escatologia,
a Bíblia na linguagem que lhes era comum naquela época e mas precisamos realmente ser prudentes com aqueles que
que, portanto, nós não podemos entender o Novo Testamento negam os pontos centrais dessa questão. Com alguns,
como o relato objetivo, ou seja, o relato dos milagres e o podemos cear. Com outros, no entanto, estamos proibidos
relato da ressurreição de Cristo não devem ser entendidos pela Escritura.
como se realmente tivessem acontecido de forma objetiva,

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2. ESCATOLOGIA INDIVIDUAL E ESTADO
INTERMEDIÁRIO
​SONO DA ALMA

Já vimos no módulo de antropologia que, quando morremos,


nossa alma tem um destino. Agora, em escatologia, vamos
trabalhar melhor esse ponto. Já falamos de inferno eterno no
módulo de hamartiologia. A grande polêmica que se dá em
torno dessa escatologia individual diz respeito ao destino de
nossa alma logo após a nossa morte.

A doutrina que trata do período entre a nossa morte e a volta


de Cristo é chamada de estado intermediário. Ela recebe esse
nome porque, justamente, é um estado de transição entre
essa vida e o estado de plena santidade para sempre com
Cristo, a glorificação. Essa doutrina responde se estaremos
ou não conscientes após a morte e onde estaremos. Um
dos aspectos da morte é a separação da alma do corpo.
Por isso, precisamos averiguar o que a Bíblia diz acerca
disso para entendermos aonde nós vamos após a derradeira
morte dessa vida. Sabemos que morte é o salário do pecado.
Sabemos que aquele que crê em Cristo vive para sempre,
venceu a morte e agora tem a vida. Uma concepção que pode

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ser pensada é a do sono da alma. Esse entendimento postula deturpam essa passagem afirmando que Jesus quis dizer
que, na morte, a alma fica inconsciente, em uma espécie “Te digo hoje, estarás comigo no paraíso”. Porém, isso não
de sono, um coma. Essa doutrina é crida por Testemunhas respeita a linguagem da passagem. Não há qualquer indício
de Jeová e Adventistas do sétimo dia. Para a posição textual de uma vírgula que separe as orações. De fato,
adventista, porém, o “sono” é um eufemismo para extinção. Jesus disse: “Te digo que no dia de hoje estarás comigo
A alma seria extinta e refeita quando Jesus voltar. Essa ideia no paraíso”. Devemos simplesmente entender os termos
do sono da alma advém de passagens que falam que certa “adormeceu” e “os que dormem” como a figura de linguagem
pessoa “adormeceu” ou “os que dormem” (At 7.60; 13.36; 1 eufemismo significando morte. O objetivo é tanto atenuar
Co 15.6, 18, 20, 51). Para eles, isso indica que uma pessoa a linguagem da morte para aqueles que tiveram seus entes
está nesse tipo de sono. perdidos quanto chamar atenção para o fato de que aqueles
que morreram voltarão a viver. Por isso, não estavam mortos
Veja como essa compreensão escatológica está ligada a de fato, mas apenas dormindo. É o que Jesus diz acerca de
uma compreensão antropológica. Se o corpo deixa de existir pessoas que estavam mortas e que ele ressuscitou, porque
com a morte, a alma também deixaria. Isso serviria de estavam em um estado de consciência de morte, mas
argumento para dizer que, se o corpo morreu nesse estado voltariam a viver novamente. Essas referências não querem
intermediário, a alma também está morta e que, por isso, de fato dizer que a alma não esteja de fato dormindo em um
ela será refeita na nossa ressurreição, assim como o corpo estado de inconsciência depois da morte do ser humano.
será refeito. O problema com essa concepção são outras
passagens que relatam um estado de vida consciente após a PURGATÓRIO
morte. A passagem de Lázaro (Lc 23.43), quer seja entendida
como parábola ou relato histórico – as duas posições são Outra visão é a do purgatório. Essa posição, defendida
bem-vindas no meio cristão ortodoxo –, mostra um local pela Igreja Católica Romana, entende que a alma está
de consciência de alma tanto para salvação quanto para consciente após a morte. Quem morre em impiedade, vai
condenação. O rico e Lázaro não estão dormindo, mas diretamente para o inferno. Essa punição é proporcional ao
conscientes. Ao ladrão da cruz, Jesus disse que ainda mal que o indivíduo fez enquanto era vivo e será pior após
naquele dia ele estaria no paraíso. Para que isso pudesse a ressurreição. Aqueles que se encontram em um perfeito
acontecer, o ladrão deveria ter consciência disso. Adventistas estado de graça e penitência vão diretamente para o céu. Já

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que se alguém não se acertar com seu irmão, irá pagar a o purgatório é reservado para aqueles que ainda não estão
conta, podendo ser liberto do cárcere depois de quitada a espiritualmente perfeitos, aqueles que não alcançaram
dívida. O Concílio de Trento também ratificou essa doutrina. a devida penitência. Lá, eles iram purgar os pecados
O apoio mais fundamental é do livro apócrifo 2 Macabeus restantes, pagando a penitência que falta devido às suas
12.43-46, em que se lê: transgressões. Tomás de Aquino argumentou que, após
a morte, essa purificação ocorre por meio de sofrimentos
Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de penais. Enquanto vivemos, podemos pagar penitências por
dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos meio de obras que nos purificam dos pecados, mas depois
pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença da morte, não, sendo assim necessário o purgatório. Esses
na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos pecados chamados veniais podem ser perdoados de três
ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. maneiras: um perdão incondicional de Deus, sofrimento
Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda e realização de obras penitenciais e contrição. Deus pode
os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso perdoar incondicionalmente por realização e sofrimento de
pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório atos penitenciais e pela contrição. Deus poderia perdoar
para que os mortos fossem livres de suas faltas. incondicionalmente, mas escolheu agir por meio da contrição
e das obras. Sendo assim, a alma no purgatório, não podendo
realizar obras de penitência, terá que expiar seus pecados
O problema de usar esse texto como base para defender a por meio de um sofrimento passivo. As almas, no purgatório,
doutrina se dá por ele ser apócrifo. Portanto, não tem peso podem ser auxiliadas pelos que vivem, pelas orações,
de autoridade de inspiração para postulação de doutrinas missas e boas ações. Essas atitudes reduzem o tempo
bíblicas. Além disso, o conceito do purgatório entra em indeterminado que a alma passará no purgatório. Quando
choque com a doutrina da salvação somente pela fé e finalmente não há mais pecados a serem purgados, a alma
somente pela graça. Assim, dentro de uma perspectiva pode ascender aos céus.
protestante, a ideia de um purgatório é completamente
rejeitada.
A Igreja Católica Romana baseia essa doutrina na tradição do
magistério da Igreja, assim como na interpretação e leitura
RESSURREIÇÃO INSTANT NEA de alguns textos bíblicos, como em uma passagem que diz

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Essa é uma ideia recente que defende que após a morte POSIÇÃO BÍBLICA
o corpo é revestido instantaneamente pelo corpo de
ressurreição que foi prometido. W.D. Davies afirma que Paulo Com base nas informações bíblicas corretamente
tinha dois conceitos de ressurreição. Paulo pensa em uma interpretadas (Mt 10.28; 16.18-19; Mc 9.43-48; Lc 16.19-
ressurreição futura (1 Co 15) e num revestimento temporário 31; 23.43; At 2.31; 2 Co 5.1-10; Fp 1.19-26), concluímos
após a morte (2 Co 5). Não seremos almas desencarnadas, que após a morte o indivíduo irá em espírito para o céu, se
mas receberemos esse corpo celestial. Davies argumenta crer no nome de Cristo como salvador, ou para o inferno,
que, quando escreveu 2 Coríntios, Paulo já não cria em um se for descrente. Esse estado é intermediário justamente
estado intermediário desencarnado, assim como argumenta porque não é o estado final que aguarda todas as pessoas.
o judaísmo rabínico, entendendo que após a morte há uma Ainda haverá uma ressurreição tanto para crentes como
transição imediata para o nosso estágio final. para descrentes. Os crentes ressuscitarão, sairão dos céus
e habitarão na terra e os descrentes também ressuscitarão,
Novamente, a compreensão antropológica afeta a mas serão lançados junto com todo o inferno, os anjos
escatologia. Davies entendia que o homem é um ser que caídos e os demônios no Lago de Fogo, a segunda morte.
foi feito para ter corpo e alma unidos. Assim, após a morte,
não poderia haver vida se não houvesse um corpo. Logo,
um revestimento instantâneo foi proposto por ele para
solucionar isso. Porém, a antropologia paulina não é contra
uma vida desencarnada após a morte. Paulo fala de uma
transformação do nosso corpo em uma ressurreição futura
(Fp 3.20-21; 1 Ts 4.16-17), destaca que a segunda vinda
de Cristo é uma libertação e glorificação (Rm 2.3-16; 1 Co
4.5; 2 Ts 1.5-2.12; 2 Tm 4.8). Jesus mesmo enfatizou que
os mortos serão ressuscitados (Jo 5.25-29). Davies não faz
nada mais do que apresentar uma solução para um problema
que ele mesmo criou. A ideia de um novo corpo e uma
glorificação imediata não parece ter muito amparo no NT.

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3. PONTOS COMUNS SOBRE A
SEGUNDA VINDA DE CRISTO

​A
segunda vinda de Cristo é um elemento que deve
ser fundamentalmente confessado por todo cristão.
Conforme foi dito anteriormente, existem elementos
de divergência em escatologia, mas também existem
elementos de convergência que são confessados em
uníssono por todos os crentes em todas as igrejas. E esse é
um deles. Antes de adentrarmos propriamente no quando ela
ocorrerá, um ponto de divergência, precisamos falar de como
ela ocorrerá, o ponto de conformidade.

Primeiramente, vários textos bíblicos apontam para a volta


de Cristo de forma mais direta (Mt 24-25; 26.64; Jo 14.3;
At 1.11; Fp 3.20-21; 1 Ts 4. 15-16; 2 Ts 1.7, 10; Tt 2.13) e
indireta (1 Co 1.7; 15.23; 1 Ts 2.19; 3.13; 5.23; 2 Ts 2.1, 8;
1 Tm 6.14; 2 Tm 4.1, 8; Hb 9.28; Tg 5.7-8; 1 Pe 1.7, 13; 2 Pe
1.16; 3.4, 12 e 1 Jo 2.28). Assim, somos levados a ansiar a
sua volta em corpo tal qual subiu aos céus. Crer em qualquer
outra forma de volta de Cristo é contrário às Escrituras. Ele
não voltará de outra forma, senão em corpo vindo dos céus.
A Palavra do próprio Deus nos dá a certeza de como Jesus

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voltará. Isso não está ligado a uma linguagem meramente A natureza de sua vinda terá natureza pessoal, corpórea,
existencialista, como pensava Bultmann, mas será um visível, inesperada, triunfante e gloriosa. Ela é pessoal
evento histórico mundial. Ainda que esse evento venha porque A Bíblia nos mostra que ela será tão pessoal como
sendo anunciado há 2000 anos, esperamos a sua volta foi a sua partida (Jo 14.3; At 1.11). Ela será corpórea porque
ardentemente. Assim, podemos exercitar nossa paciência, é o cumprimento da promessa que ele deixou (Jo 14.23). É
pois ele voltará no tempo certo que está determinado. Nesse visível porque todo olho o verá. Não é algo que somente os
meio tempo, praticamos exercícios de santidade para nossa crentes verão nem é algo que acontece de maneira espiritual
purificação. Olhamos para Cristo e para o que seremos para internamente, mas é um testemunho mundial (Mt 24.30).
encontrar força, consolo e instrução para esses dias de agora Ainda que a Bíblia nos mostre os sinais de sua vinda, o
em que vivemos. Essa espera não é vã, pois como diz certa evento cataclísmico da sua volta será repentino, como foi o
música: “somos transformados enquanto esperamos”. dilúvio nos dias de Noé (Mt 24.37; 25.8-10). E será triunfante
e gloriosa porque ele voltará em poder. O Cristo que morreu
O segundo ponto é que, apesar de termos a certeza da como cordeiro voltará como leão. Ele julgará as nações em
sua volta, não podemos dizer o quando ela acontecerá seu trono de glória (Mt 25.31-46). Vamos discutir muitos
precisamente. Muitos já tentaram através de cálculos detalhes conflitantes sobre a volta de Jesus, mas aquilo
criativos, gematrias fabulosas e estipulações para tentar que há de mais importante é simples, é fácil e não há muita
prever o tempo da volta de Cristo. Porém, a Bíblia não dá polêmica envolvida. Isso acalenta os nossos corações.
elementos suficientes para esse tipo de comportamento. Alimenta a nossa fé a certeza de que, em breve, Cristo virá
Sabemos certamente que ele voltará, mas não quando para dar ordem a toda essa bagunça que criamos no mundo
especificamente isso ocorrerá (Mc 13.32, 33, 35; At 1.7). dele. Ele virá para nos transformar, para moldar o nosso
O próprio Cristo deixa claro que ninguém além do Pai sabe corpo para nos trazer para sempre para a sua presença. Isto
disso, nem mesmo os anjos nos céus. Temos que combater ansiamos e isto queremos profundamente.
a ansiedade de previsões com a certeza da esperança da
sua volta. Qualquer movimento que tente dar datas para a
volta de Cristo, é um movimento errado, falso e inimigo da
verdadeira escatologia bíblica.

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4. OS PRÉ - MILENISMOS

​Q
uando falamos de escatologia, geralmente falamos da
ordem em que os eventos escatológicos acontecem.
Uma das grandes polêmicas envolvendo escatologia
está relacionada ao Milênio. O arrebatamento, o momento
em que os cristãos serão levados para perto de Deus, e o
fim de todas as coisas, quando serão? Isso está associado
à questão de um Milênio. Existe um Milênio literal ou não? O
Milênio é descrito em Apocalipse 20 como um reino de 1000
anos de Cristo na terra, onde, depois disso, Satanás será
solto. Muitos cristãos são pré-milenistas. Eles acreditam que
o arrebatamento se dá antes desse período. Outros são pós-
milenistas e acreditam que o arrebatamento se dá depois do
Milênio. E há ainda os amilenistas, acreditando que o evento
do Milênio não é literal. O “a” de amilenismo vem como uma
partícula de negação. Então, não existiria literalmente, mas
seria uma referência à era da igreja. Uma parcela minoritária
acredita que o Milênio é uma referência ao próprio estado
eterno.

Assim, uma das primeiras questões que envolvem


divergências é a natureza do Milênio. Existem basicamente
quatro posições acerca desse tópico: O pre-milenismo

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histórico, o pré-milenismo dispensacionalista, o pós- adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam a sua
milenismo e o amilenismo. marca na testa e na mão; e viveram e reinaram com Cristo
durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram
O Pré-milenismo Histórico tem, como representantes até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira
teólogos, Wayne Grudem, Millard Erickson, George Eldon ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem
Ladd, Charles Wesley, Charles Spurgeon, Irineu de Lion, parte na primeira ressurreição. Sobre esses a segunda morte
Tertuliano entre outros. De acordo com essa corrente, a não tem poder; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de
ordem dos eventos é a seguinte: 1) Época atual da igreja, Cristo e reinarão com ele os mil anos.
expansão da proclamação do evangelho e a apostasia
do homem; 2) Grande tribulação de sete anos, ascensão Eles também observam que há duas ressurreições, ou
do anticristo e perseguição da igreja; 3) Volta de Cristo, uma ressurreição física em duas etapas: uma no começo
arrebatamento, primeira ressurreição e batalha do do milênio e uma no final dele. Ladd diz que “no começo
Armagedon; 4) Inauguração do Milênio e prisão de Satanás; dos mil anos alguns dos mortos tornam à vida; no final o
5) Fim do Milênio, soltura de Satanás e rebelião das nações; restante dos mortos torna à vida. Não há jogo de palavras
6) Derrota final de Satanás, ressurreição dos ímpios e evidente aqui. A passagem faz sentido perfeitamente quando
julgamento final e 7) Estado eterno. interpretada de forma literal”. Para o pré-milenista histórico,
a igreja passa pela tribulação e é arrebatada para, logo em
O pré-milenismo entende um milênio literal de 1000 anos em seguida, voltar com Cristo para instauração do seu reino.
que Cristo estará reinando fisicamente na terra. Ou seja, é Os crentes que tiverem morrido durante a grande tribulação
um evento que ocorrerá no futuro. A passagem central para o serão ressuscitados, recebendo um corpo glorificado,
pré-milenismo é Apocalipse 20.4-6, em que se lê: juntamente com todos os outros que viveram nos tempos
passados e os que estiverem vivos no presente. Estes
entrarão no Reino Milenar com corpo glorificado. O Milênio
Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais é um evento repentino instaurado por Jesus Cristo, o qual
foi dada autoridade para julgar. Vi ainda as almas dos que reinará desde o início eliminando praticamente todo o mal,
foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus de forma que até mesmo os animais viverão em harmonia
e proclamado a palavra de Deus. Estes são os que não (Is 11.6-7; 65.25). Muitos, mas não todos, dos incrédulos se

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converterão a Cristo. Então, Jesus reinará com paz durante históricos entendem a incorporação e salvação dos judeus
mil anos. na e através da igreja. Ela é o Israel espiritual (cf. Rm 4.11,
16; Cl 3.7, 29) porque Abraão seria o pai espiritual de todos
É somente no início do Milênio que Satanás é preso para os crentes. A Bíblia também fala da promessa da Nova
ser solto no final desse tempo para receber o golpe final Aliança (Jr 31.33-34 cf Hb 8.6-7) que foi prometida a Israel,
de derrota completa. Durante esse reinado milenar, haverá mas aplicada à Igreja. Paulo afirma que o endurecimento
paz, mas isso não significa extinção completa do pecado veio sobre Israel até que um número enorme de gentios
e de descrentes. Muitos dos que não se converteram e dos fosse salvo (Rm 11.26). Israel, os ramos naturais, seriam
que nasceram no Milênio se submeterão a Cristo e serão reenxertados na videira – figura utilizada por Paulo – no
sujeitos a ele simplesmente de uma forma externa. Ao final tempo da plenitude dos gentios e, dessa forma, ele seria
do Milênio, haverá uma revolta desses descrentes liderada salvo. Ladd considera a possibilidade de uma conversão em
por Satanás que será derrotada (Ap 20.7-10). Cristo então massa de Israel no Milênio para que se cumpra o que foi dito
ressuscitará todos os incrédulos que tiverem morrido ao por Paulo.
longo de toda a história e os julgará em seu trono branco (Ap
20.11-15). É preciso dizer o motivo de a igreja ser arrebatada. O
arrebatamento acontece para que os crentes estejam com
Para todo pré-milenista, Israel tem uma posição de destaque Cristo nas comemorações das bodas – a união de Cristo com
durante o Milênio. O pré-milenista histórico entende que a a Igreja. Apocalipse 19.6-10 fala do casamento do Cordeiro,
ênfase ao papel espiritual de Israel acontece por meio da ainda que não o descreva com detalhes. O tema é repetido
Igreja. Ou seja, o pré-milenista histórico entende que Israel é em Apocalipse 21.2, em que a Jerusalém espiritual é vista
incorporado de forma espiritual à igreja na medida em que se descendo do céu.
convertam. George Eldon Ladd comenta que “não vejo como
evitar a conclusão que o Novo testamento aplica profecias Finalmente, depois do Milênio, depois das bodas, depois do
do Antigo Testamento à igreja neotestamentária, e assim julgamento de Satanás, seus demônios, o anticristo, a besta
fazendo identifica a igreja com o Israel espiritual”. Mais à e os descrentes, a Igreja entrará no estado eterno para estar
frente, ele acrescenta que “a igreja, formada de judeus e para sempre junto ao Senhor de todo o Universo.
gentios, tornou-se o povo de Deus”. Assim, os pré-milenistas

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A imagem abaixo ilustra os eventos de acordo com o entendimento do pré-milenismo histórico (GRUDEM, 1999):

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5. AMILENISMO E PÓS - MILENISMO

A
posição amilenista acredita que não haverá um milênio literal e que esse evento deve ser interpretado de maneira
espiritual. Ela é defendia por homens como Anthony Hoekema, Augustus Nicodemus Lopes, Herman Bavinck e Louis
Berkhof. De fato, os amilenistas não gostam tanto desse nome, porque ele expressa uma negação do milênio, quando
na verdade eles afirmam que o milênio é o período entre a ressurreição e a volta de Cristo. Ou seja, o milênio é a atual fase da
igreja, um tempo muito longo entendido como o período de expansão do Evangelho, crescimento e perseguição da igreja e, por

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fim, a volta de Cristo. Para eles, os mil anos de Apocalipse não o aceitaram” (BERKHOF, 2012, p. 643). Outro evento
devem ser interpretados de forma simbólica, consistindo em é a conversão de Israel. O entendimento é que esse Israel
“sete secções paralelas entre si, cada uma delas descrevendo não é a nação, mas os judeus que são incorporados na
a igreja e o mundo desde a época da primeira vinda de Igreja ao se converterem a Cristo. Outro evento é a grande
Cristo até a da sua segunda vinda” (HOEKEMA, 1985). As apostasia e a grande tribulação. Berhkof entende que esses
seções são divididas da seguinte forma: Primeira seção eventos precedem a volta de Cristo, de acordo com o que
(1-3); segunda seção (4-7); terceira (8-11); quarta (12-14); a Bíblia ensina (Mt 24.9-12, 21-24; Mc 13.19 2 Ts 2.3; 1
quinta (15-16); sexta (17-19); e a sétima seção narra o fim Tm 4.1; Ap 6.9; 7.13-14). Essa apostasia já era sentida nos
do dragão, o juízo, o triunfo final de Cristo e da igreja e o tempos de Jesus, porém ela se intensificará. Assim como a
Novo Céu e Nova Terra. Apesar de serem paralelas, as seções perseguição que a Igreja sofrerá por meio dos que rejeitam a
mostram certa progressão. É por isso que se diz que o debate Cristo. Haverá também a revelação do anticristo. A natureza
entre pré-milenistas e amilemistas é um debate entre uma do anticristo é alvo de debate. Anticristo pode se referir a
leitura sequencial, histórico-progressiva, do Apocalipse e um princípio, a um ser pessoal ou a um grupo de pessoas.
uma leitura circular do Apocalipse, no caso dos amilenistas. No entanto, qualquer uma das interpretações destaca um
Jesus voltará para buscar os seus e julgar os incrédulos elemento de forte oposição à Igreja e a Jesus por parte dessa
depois dessa era atual. Depois disso, todos os que creram figura (2 Ts 2.3-4; 1 Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo 7). O Anticristo
em seu nome habitarão com ele para sempre na terra, com tentará se colocar no lugar de Jesus para enganar o mundo e,
corpos glorificados. de fato, enganará a muitos. Além disso, haverá muitos outros
sinais, como guerras e rumores, o surgimento de falsos
Alguns amilenistas, como Louis Berkhof, entendem que profetas e eventos que abalarão os céus e os estelares.
deve haver uma série de eventos antes da volta de Cristo, Apesar de tudo isso, não é possível asseverar a data precisa
o que indica que ela não é tão iminente assim. Através da da segunda vinda. Os eventos que a precedem apontam para
pregação do Evangelho, muitos gentios serão chamados e ela como uma forma de mostrar que ela se aproxima, mas
muitos se converterão (Mt 8.11; 13.31-32; Lc 2.32; At 15.14; não a determina com precisão
Ef 2.11-20). Berkhof afirma que “no final dos tempos será
possível dizer que a todas as nações foi dado conhecer o Na sua segunda vinda, Cristo julgará os incrédulos – os vivos
Evangelho, e o Evangelho testificará contra as nações que na época e todos os que já tiverem morrido – e os condenará

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à segunda morte, ao mesmo tempo em que reunirá todos os crentes – os vivos e os que tiverem morrido – para reinarem com
ele na vida eterna. Para amilenistas, Satanás já está preso desde a crucificação de Jesus. O poder de Satanás está limitado.
Na era que foi iniciada com a grande comissão, na qual os discípulos devem propagar o Evangelho, Satanás está “acorrentado”
para não mais enganar as nações como fizera com as nações no AT. Isso não significa que ele está impotente, mas limitado
a não poder impedir que as nações aprendam o Evangelho pregado. Ele será libertado por um curto período para enganar as
nações e se rebelar, mas quando Jesus voltar, Satanás será definitivamente derrotado, julgado e lançado também no lago de
fogo.

18
6. PRÉ - TRIBULACIONISMO

​O
pré-tribulacionismo é a ideia de que a Igreja é levada aos céus em um arrebatamento secreto antes da tribulação. A ideia
de que os crentes serão levados, desaparecendo da terra, em um período anterior à grande tribulação, a qual seria o
período em que se acirraria a perseguição do anticristo sobre o mundo.

O momento de tribulação, nos termos escatológicos, refere-se à 70ª semana descrita no livro de Daniel, quando o profeta diz:

19
Saiba e entenda isto: desde que foi dada a ordem para proporcionou a reconstrução de Jerusalém. A grande disputa
restaurar e para edificar Jerusalém até a vinda do Ungido, o é justamente acerca da última semana.
Príncipe, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas.
As ruas e as muralhas serão reconstruídas, mas será um A grande ênfase do pré-tribulacionismo é a natureza
tempo de muita angústia. Depois das sessenta e duas da tribulação que antecede a volta de Cristo. Será algo
semanas, o Ungido será morto e não terá nada. O povo de totalmente diferente de tudo que já ocorreu na história, por
um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário. O isso ela é chamada de Grande Tribulação. Esse período será
seu fim virá como uma inundação. Até o fim haverá guerra, e a conclusão do tratamento de Deus com os gentios e uma
desolações foram determinadas (Daniel 9:25,26). preparação para o Milênio e para os eventos posteriores.
Esse não é um período que deve ser entendido como um
O período até essa semana e os eventos que ocorrem tempo de purificação da igreja nem de disciplina, afinal a
nela são entendidos de forma diferente pelas correntes igreja será arrebatada aos céus.
teológicas. Cada uma terá uma particularidade na forma de
interpretar os textos apocalípticos. No Novo Testamento, o A ideia do arrebatamento ficou muito conhecida como um
discurso dado por Jesus no Monte das Oliveiras (Mt 24.4ss) desaparecimento instantâneo dos crentes que tiveram uma
é atribuído e interpretado como se referindo a esse período. vida santa de hora para hora, deixando para trás somente
suas roupas. Foi devido à série de livros Deixados para trás,
As posições acerca da tribulação visam a responder como os de Tim Lahaye. Porém, essa concepção está equivocada.
eventos que antecedem a vinda de Cristo acontecerão. Para Sim, haverá um arrebatamento, mas não nos moldes postos
isso, é fundamental que haja uma definição da relação entre por Lahaye.
Igreja e Israel, pois a forma como essa relação é vista está
diretamente relacionada a como interpretarão os eventos que O pré-tribulacionismo entende uma distinção entre Israel e
ocorrem a cada uma das partes. Igreja, em que Deus tem um plano para cada. Assim, o pré-
tribulacionismo está associado ao dispensacionalismo, pois
A maioria concorda que as primeiras 69 semanas descritas este entende que a igreja é um mistério que não fora revelado
por Daniel equivalem ao tempo entre o decreto de Ciro, que no AT. Deus está lidando agora com a Igreja em seu plano

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e voltará a lidar diretamente com Israel no futuro. Dwight governado por Cristo depende da interpretação literal das
Pentecost fala de alguns argumentos para o arrebatamento profecias. Assim, as profecias feitas a Israel no AT que não
pré-tribulacional, isto é, a Igreja (os gentios) sendo foram cumpridas aguardam um cumprimento escatológico
arrebatada para que Deus lide com Israel. que se dará neste Milênio.

• Um método de interpretação literal Várias palavras são usadas no AT e NT para descrever a 70ª
semana: (1) Ira (Ap 6.16-17; 11.18; 14.19; 15.1, 7; 16.1, 19;
• Natureza da 70ª semana 1 Ts 1.9-10; 5.9 Sf 1.15, 18), (2) Julgamento (Ap 14.7;15.4;
16.5-7; 19.2), (3) Indignação (Isaías 26.20-21; 34.1-3), (4)
Punição (Is 24.20-21), (5) Hora da provação (Ap 3.10), (6)
• O âmbito da 70ª semana Tempo da angústia (Jr 30.7), (7) Destruição (Hl 1.15) e (8)
dia de trevas e escuridão (Joel 2.2; Amós 5.18; Sf 1.14-18).
• Propósito da 70ª semana Essas palavras descrevem o período como um todo e não
somente uma parte dele.
• A unidade da 70ª semana
Ainda que a ira de Deus seja derramada sobre toda a terra
• A natureza da igreja nesse período, é Israel que será o seu foco. O profeta
Jeremias chama esse período de angústia de Jacó (Jr 30.7).
A Daniel, Deus diz que esse é um tempo determinado a seu
• Iminência de Cristo povo sobre a cidade santa, Jerusalém (Dn 9.24). A igreja não
poderia estar sendo mencionada aqui, porque não tinha sido
• O detentor de 2 Ts 2 revelada no AT, porque é um mistério (Ef 3.1-6; Cl 1.2-27). A
igreja só veio a existir depois da obra de morte, ressurreição
• Distinções entre o arrebatamento e a segunda-vinda e ascensão de Cristo (Rm 4.25; Ef 1.19-20; 5.25-26; Cl 3.1-
3), então essa profecia não poderia estar se referindo a ela.
Assim, conclui-se que, como toda passagem sobre esse
O entendimento da implantação de um Milênio na terra tempo se refere a Israel, não pode ser entendido que a Igreja

21
passará por ele. que somente professam, mas não seguem a Cristo
genuinamente. Esse segundo grupo passará pela tribulação,
Há dois propósitos maiores a serem cumpridos nesse visto que não é Igreja de fato, enquanto o primeiro não.
período. (1) Está relacionado a testar aqueles que habitam O segundo grupo, juntamente com Israel, passará pela
a Terra (Ap 3.10; 6.10; 11.10; 13.8, 12, 14; 14.6; 17.8). Henry tribulação. (2) Há uma diferença entre a igreja verdadeira e
Thiessen argumenta que o termo “habitantes da terra” se a igreja professante. A verdadeira igreja é composta pelas
refere a “aqueles que se estabeleceram na terra como sua pessoas que verdadeiramente creram em Cristo durante
real casa os quais se identificaram com o comércio e a essa era. A igreja professante é composta por aquelas
religião da terra”. Assim, não pode se referir à igreja, visto pessoas que só dizem seguir Cristo, mas não creem de fato.
que ela tem uma mentalidade de buscar a cidade celestial, É somente a igreja verdadeira que é arrebatada antes da
não estando presa às realidades terrenas. (2) É um tempo tribulação. (3) Há uma distinção entre a verdadeira igreja e
de preparar Israel para a volta do Senhor. Assim como o Israel espiritual. Antes do Pentecoste, havia pessoas que
Malaquias profetizou acerca de Elias, o qual prepararia o eram salvas dentro do Israel nacional – o grupo maior –
terreno para de Israel para Jesus, como Israel ainda precisa esse grupo é o Israel espiritual. Do período do Pentecoste
receber Jesus como salvador, a 70ª semana não pode ser até o arrebatamento, não há Israel espiritual, mas somente
para a Igreja, porque esta já recebeu Jesus como Senhor. a Igreja. Todos aqueles que creem passam a fazer parte da
Igreja. Depois do arrebatamento, não encontramos Igreja,
mas o verdadeiro Israel espiritual novamente.
Ainda que a Bíblia faça uma divisão entre as duas partes da
semana (Dn 9.27; Mt 24.15; Ap 13), existe uma inteireza nela
que não faz divisões acerca da sua natureza. Assim, a igreja É dito que Jesus pode voltar a qualquer momento. Os sinais
não poderia estar numa parte dela e na outra não. que as profecias bíblicas dão apontam para isso. Vários
sinais foram dados para que a nação de Israel possa vir
nessa expectativa da segunda vinda. É claro que não dá para
É preciso fazer algumas distinções. (1) Como já foi saber exatamente o dia da volta de Cristo, mas pode-se criar
formulado, o pré-tribulacionismo entende uma distinção uma expectativa de sua volta repentina. À igreja, os sinais
entre o Israel nacional e a igreja professante. A Igreja dados (Jo 14.2-3; At 1.11; 1 Co 15.51-52; Fp 3.20; Cl 3.4; 1
professante é composta por cristãos genuínos e cristãos Ts 1.10; 1 Tm 6.14; Tg 5.8; 1 Pe 3.3-4) visam advertir o crente

22
a ter zelo e estar no caminho do Senhor. A atenção do crente mas seu ministério de restrição, sim. Portanto, o ministério
não deve ser ficar olhando para os sinais, mas para Cristo, de restrição que o Espírito exerce no Homem do Pecado
porque ele pode voltar a qualquer momento. Pentecost permanece enquanto a igreja estiver na Terra. Quando ela
comenta: “O fato de que nenhum sinal é dado para a igreja, for arrebatada, esse ministério cessa e o Homem do Pecado
mas ela, em vez disso, é ordenada prestar atenção em Cristo, atua. Por isso que a igreja é arrebatada, para não estar
inviabiliza sua participação na 70ª semana” (PENTECOST, p. sujeita ao engano que virá.
204).
Arrebatamento Segunda Vinda
A temática de 2 Tessalonicenses era a de que os crentes de
lá estavam com medo de o arrebatamento já ter acontecido Remoção de todos os crentes Manifestação do Senhor
e eles estarem vivendo no Dia do Senhor. As perseguições
que estavam enfrentando levaram-nos a essa interpretação.
Paulo escreve que tal coisa é impossível, porque isso Os santos sobem aos céus Jesus volta à terra
não poderia acontecer até que houvesse um abandono,
quer fosse da fé quer fosse um abandono da terra pelos Jesus reivindica sua noiva, a Igreja Ele volta à terra com
crentes. Então, sendo eles crentes e ainda estando na sua noiva
terra, o arrebatamento ainda não aconteceu. O segundo
ponto que Paulo trabalha é o de que haveria a necessidade Implica no começo da tribulação Estabelecimento do
da manifestação do homem do pecado. O sistema de reino milenar
iniquidade que já estava em operação nos dias de Paulo e
ainda está hoje culminará na manifestação de uma Pessoa
de Iniquidade. Essa pessoa não pode se manifestar até o Iminente Precedida por vários sinais
detentor ser removido. Várias interpretações são dadas
para quem é esse detentor. A posição pré-tribulacionista Está relacionado com Relacionada com o programa
entende que é o Espírito Santo. Isso não significa que ele o programa para a Igreja para o mundo inteiro
vai parar de agir ou de ser onipresente. A remoção da Igreja
não implica que o Espírito Santo vai estar ausente da terra,

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Cristãos serão julgados O mundo inteiro
(não para condenação, será julgado
mas galardão)

A criação permanece intacta A criação é refeita

Promessas para Israel Todas as promessas


ainda não cumpridas serão cumpridas

Não traz juízo sobre Traz julgamento para


o mal no mundo o mal no mundo

Acontece antes da Procede a ira.


ira do Senhor

A Igreja tem a expectativa Israel tem a expectativa


de ser levada ao Senhor. de ser levado ao Reino.

24
7. O TRONO DO JULGAMENTO E AS BODAS
DO CORDEIRO NO PRÉ - TRIBULACIONISMO

O
que acontecerá com a Igreja depois do arrebatamento
até a segunda vinda de Cristo? Nesta seção,
estudaremos os eventos que ocorrerão com ela.
Lembre-se de que esses eventos estão ocorrendo enquanto
os sete anos de tribulação estão acontecendo na Terra. A
Igreja está sendo poupada da tribulação, mas não está só de
“stand by”.

O trono de julgamento de Cristo

• O SIGNIFICADO

Duas palavras são traduzidas como “trono de julgamento”:


criterion e bema. A primeira traz uma ideia de um
instrumento ou meios de testar ou julgar algo, a regra por
meio da qual alguém julga. Pode significar também o lugar
onde o julgamento é dado. Essa segunda possibilidade nos
remete à cadeira sobre a qual um juiz se senta para exercer

25
sua função. • O JUIZ

A segunda palavra, bema, é a tribuna ou o acento onde um A Bíblia deixa claro que isso é feito pelo Senhor Jesus Cristo
juiz fica. A palavra remete ao acento onde os imperadores (Jo 5.22; 2 Co 5.10). Por implicação, podemos concluir que o
ficavam durante espetáculos de teatro e os jogos. Portanto, Pai entregou nas mãos do Filho esse juízo (Rm 14.10) como
bema transmite um significado de recompensa em vez de uma parte de sua exaltação.
julgamento.
• OS SUJEITOS
• O TEMPO e O LOCAL
O bema é dirigido aos crentes, sem dúvida (2 Co 5.1-19).
O bema ocorrerá imediatamente após o arrebatamento da Paulo reitera isso várias vezes através de expressões como
Igreja. Há uma recompensa associada com a ressurreição (Lc “revestidos da habitação celestial”, “vivemos pela fé e não
24.14) que deve acontecer em algum momento no processo pelo que vemos”, “conhecemos o temor do Senhor”, “se
de ressurreição (1 Ts 4.13-17). Quando Jesus voltar com sua alguém está em Cristo, nova criatura é”. Essas expressões
noiva para reinar na Terra, ela já haverá sido recompensada só podem ser atribuídas a crentes, portanto são eles que
(Ap 19.8). Deve ser observado que esse estado de justiça dos comparecerão “perante o tribunal de Cristo para que cada
santos descrito é posterior à examinação e se torna a base um receba de acordo com as obras praticadas por meio do
para a recompensa. Tanto Paulo (1 Co 4.5; 2 Tm 4.8) como corpo, quer sejam boas quer sejam más”.
João (Ap 22.12) associam a recompensa com o dia em que
Jesus virá para os que são seus. Portanto, a recompensa • A BASE DO JULGAMENTO
para a Igreja deve acontecer em algum momento entre o
arrebatamento e a revelação de Cristo, juntamente com seus
santos à terra. Esse exame acontece nos lugares celestiais (1 Nesse julgamento não está em questão a salvação, mas uma
Ts 4.17; 2 Co 5.1-8) na presença do Senhor avaliação do que é aceitável ou não. O propósito do Senhor
é recompensar seus filhos pelo seu serviço por aquelas
coisas que foram feitas no nome do Senhor. O objetivo do
bema é fazer uma demonstração pública das motivações do

26
indivíduo quando executou suas obras. O ponto também não de Cristo, porque a Noiva já teria sido aprovada pelo Noivo.
é avaliar se o que ele fez é moralmente mau ou bom, mas Portanto, o julgamento é como um ritual em que a Noiva é
como Deus se agradará daquilo que foi feito para sua glória. preparada para receber o Noivo. Seria como a preparação
pela qual toda Noiva passa para entrar no altar. O casamento
• O RESULTADO DA EXAMINAÇÃO é diferente da Ceia do casamento. No primeiro, só a Igreja
participa. No segundo, a revelação dos ressuscitados de
Israel será posterior (Dn 12.1-3; Is 26.19-21). A Ceia envolve
Haverá uma recompensa recebida e uma recompensa todos e acontece na Terra. Até lá, Israel está esperando
perdida (1 Co 3.14-15). O que cada um receber ou perder será (Mt 22.1-14; Lc 14.16-24). A Ceia do Casamento é uma
testado pelo fogo (2 Co 5.10), o qual aprovará ou reprovará parábola que representa o Milênio. Israel será convidado
as motivações do coração diante das obras feitas. O fogo durante a tribulação que acontecerá na Terra. Nesse período,
testará os materiais que foram utilizados para a construção. muitos rejeitarão e muitos aceitarão o convite. Aqueles que
Se forem materiais de qualidade, passarão, mas se forem aceitarem esperarão a apresentação da Noiva.
materiais precários, serão queimados. Ou seja, essa analogia
significa que as obras feitas com as devidas intenções
de glorificar a Deus passarão. Aquelas coisas que forem Portanto, o julgamento e o casamento acontecem nos céus
aprovadas resultarão num ganho de recompensa (1 Co 3.15; durante esses sete anos de tribulação. Depois desse período,
9.27) e as que forem queimadas, numa perda de recompensa. a Igreja desce com Cristo para o Milênio.

O casamento do Cordeiro

A Igreja é descrita como Noiva e Jesus, o Noivo (Jo 3.29; Rm


7.4; 2 Co 11.2; Ef 5.25; Ap 19.7-8; 21.1-22.7). O casamento
da Igreja com Cristo ocorrerá numa realidade celestial. Ele
acontecerá entre o arrebatamento e a segunda vinda de
Cristo. Como a Noiva é apresentada em justiça (Ap 19.8), isso
indica que o casamento ocorre após o trono do julgamento

27
8. MESO - TRIBULACIONISMO

O
meso-tribulacionismo ensina que a igreja estará
presente na Terra durante uma parte da tribulação e,
assim, experimentará parte dela, mas será poupada da
pior parte. A Igreja passará pela primeira metade da chamada
grande tribulação. Essa posição não é tão defendida hoje
em dia, mas já teve como defensores Norman B. Harrison e
James O. Buswell. Ela apresenta algumas semelhanças com
o Pré-ira (será visto adiante), mas possui bases diferentes.

Para essa posição, os eleitos mencionados por Jesus no


Discurso das Oliveiras (Mt 24.22; Mc 13.20) não são judeus,
mas os santos que representam a Igreja. Buswell dá dois
argumentos para isso:

Mateus e Marcos são escritos depois que as cartas de Paulo


já estavam em circulação. Assim, as palavras usadas por
Paulo e o significado atrelado a elas já eram conhecidos
pelos crentes da época. Ou seja, Mateus e Marcos teriam
aproveitado o significado que Paulo deu a “eleitos”, porque,
se quisessem dar outro, teriam distinguido.

28
Jesus estaria respondendo questões não só para os Essa posição considera que a abominação da desolação vem
discípulos ali presentes, mas para toda a Igreja através no meio dos sete anos. A abominação é identificada com a
das eras, assim como em outras passagens (Mt 28.18-20; vinda (parousia) do homem da iniquidade (2 Ts 2.9). Essa
Jo 17.20). No Discurso das Oliveiras (Mt 24.15ss), Jesus vinda é identificada com a vinda do pequeno chifre de que
adverte da abominação da desolação, fazendo paralelo com Daniel fala (Dn 7.24-25), o qual tem a permissão de atuar por
Paulo (1 Ts 2.4), e Paulo escreveu a gentios, não a judeus. 3 anos e meio (Dn 7.25b).

Meso-tribulacionistas também diferenciam tribulação de ira. Para meso-tribulacionistas, o arrebatamento ocorre ao soar
Para eles, a primeira metade é a tribulação pela qual a igreja da sétima trombeta (Ap 11.15). O julgamento dos ímpios e
passará e a segunda metade é a ira de Deus da qual a igreja a recompensa dos justos que foram mortos é simultâneo. A
será a arrebatada. A tribulação será severa, mas breve. Jesus vinda de Cristo também acontece nesse momento.
disse que esses dias seriam encurtados (Mt 24.21-22; Mc
13.19-20). A tribulação não deve ser confundida com a ira de Norman B. Harrison defende que os selos e trombetas não
Deus. Jesus, depois de ter descrito a tribulação, descreveu são manifestações da ira de Deus. Os selos seriam restrições
uma série de eventos que a sucederiam (Mt 24.29; Mc 13.24- que Deus tinha colocado para o homem não experimentar
25; Lc 21.25-26). A ira de Deus não será derramada durante todas as consequências de seus atos pecaminosos. O
a grande tribulação, mas depois dela. Tribulações não estão remover desses selos não deve ser visto como um ativo
restritas aos últimos tempos, mas a igreja passa por várias julgamento divino, mas como uma restrição da recompensa
tribulações durante as eras. Entretanto, no fim das eras, a integral pelos atos pecaminosos. Tanto as trombetas quanto
tribulação será mais severa, ainda que não qualitativamente os selos devem ser entendidos como permissões de Deus
diferente. para que a retribuição pelos pecados seja total.

Por outro lado, a ira de Deus não é para a Igreja (Rm 5.9; 1 Ts Eles entendem os 144 mil como judeus que são salvos na
1.10). Deus não teria destinado a Igreja para a ira (1 Ts 5.9). Igreja. Além disso, as duas testemunhas de Apocalipse 11
Na opinião de Buswell, através dessas passagens podemos são representantes de dois grupos: os mortos e os vivos
inferir que a Igreja será poupada da ira, ainda que a Bíblia não no momento do arrebatamento; a nuvem representa a
afirme isso diretamente.

29
parousia, isto é, a presença de Deus; a grande voz é voz
de 1 Tessalonicenses 4.16 e a trombeta é a trombeta do
mesmo verso. Eles também entendem que a cronologia de
Apocalipse é dividida assim: Apocalipse 4 -11 (primeira
metade da semana); Apocalipse 12-19 (segunda metade
da semana). A sétima trombeta (Ap 11.15) é equivalente à
última trombeta de 1 Coríntios 15.52 e 1 Tessalonicenses
4.16.

30
9. PÓS - TRIBULACIONISMO

O
pós-tribulacionismo entende que a Igreja será arrebatada após o período de tribulação final, no momento do retorno
de Cristo em glória, a parousia. O pós-tribulacionismo entende que “arrebatamento” não é uma palavra do NT. Douglas
Moo, um pós-tribulacionista, afirma que “o aspecto mais importante do arrebatamento no Novo Testamento é a
transformação corporal. Teologicamente, o arrebatamento é melhor visto como um paralelo à ressurreição”. Quando o Senhor
retornar, os mortos serão ressuscitados e os santos serão arrebatados (1 Co 15.50-51). Moo também afirma que “a forma

31
completa do reino que Deus trará à existência no momento 2.14-21; 1 Co 10.11; Hb 1.1-2; 1 Jo 2.18). Por causa disso,
da volta de Cristo não pode ser vivido por pessoas em os escritores do NT entendiam que Jesus poderia voltar
corpos normais “mortais”. Então, todos nós devemos ser a qualquer momento. Eles não viam a volta de Cristo
“mudados”. Cristãos que já morreram serão “ressuscitados distanciada em eras do momento em que viviam. O contrário
imperecíveis”, mas o resto de nós, aqueles que ainda estão disso, já que entendiam que estavam nos últimos tempos e
vivos quando Jesus voltar, devem ser “transformados” – entendiam que os eventos proféticos já poderiam se realizar
isto é, “arrebatados”. Isso traz a implicação de que ainda em sua época e assim a volta “surpresa” de Jesus. Tiago
que um movimento físico esteja envolvido, o arrebatamento e Pedro, por exemplo, encorajavam seus leitores a verem a
não é um movimento para escapar de algo, mas “para estar volta do Senhor como próxima (Tg 5.8; 1 Pe 4.7).
junto de algo”. Para Moo, os cristãos são arrebatados, isto é,
transformados, para se encontrarem com o Senhor. Portanto, Dessa forma, não devemos entender os últimos dias ou o fim
para o pós-tribulacionismo, o arrebatamento não diz respeito dos tempos como algo reservado para o futuro, mas algo que
a escapar da tribulação, mas de encontrar-se, em corpos já estamos vivendo. Isso não quer dizer que os tempos finais
glorificados, com o Senhor. serão tais quais os que estamos passando agora, afinal o NT
afirma que haverá um intenso tempo de sofrimento para o
Moo faz uma ponderação importante. Esse momento de povo de Deus, de proporções inigualáveis. Esses eventos não
angústia inigualável deve ser chamado de “tribulação final”. são vistos como um novo período, mas como o clímax para
Geralmente, cristãos referem-se a esse período como uma era que já começou.
“tribulação”, mas ao longo da história bíblica e da história
da Igreja, o povo de Deus passou, e ainda passa, por vários A NATUREZA DA TRIBULAÇÃO
momentos de tribulação. Então, seria melhor chamar de
“tribulação final”, por causa de sua proporção diferenciada
(Mt 24.9, 21, 29; Mc 13.19, 24; Ap 2.10; 7.14). No AT, a situação é complicada pelo fato de se tentar
identificar se a descrição da tribulação se refere ao exílio ou
ao julgamento final. O problema se dá também pela falta de
Como as profecias dos “últimos dias” já começaram a se precisão nas descrições dos textos proféticos que envolvem
cumprir, a morte de Cristo, sua ressurreição e o derramar o termo “dia do Senhor”. Este é um termo apocalíptico, mas
do Espírito marcam a inauguração dos últimos dias (At

32
também fala de situações envolvendo o povo israelita. Moo apontam para um sofrimento pior do que alguns cristãos já
aponta que os textos de Daniel (7.7-8, 23 – 25; 8.9-12, passam hoje, mas um sofrimento em maior extensão. Isto é,
23 – 25; 9.26-27; 11.36-12.1) apresentam certo grau de não é tanto que sua intensidade é medida em grau, mas em
probabilidade de descrever esse evento, já outras passagens abrangência: mais cristãos sofrerão debaixo desse período
do AT também (Dt 4.29-30; Is 26.20-21; Jr 30.4-9; Jl – 2.30- de tribulação final.
31; Sf 1-2). Não obstante, os textos de Daniel apresentam
mais precisão e devem ser analisados com prioridade ainda O segundo ponto é entender como a ira de Deus afetará
que sejam difíceis de interpretar. os crentes, porque o NT afirma que eles não sofrerão a ira
de Deus (Rm 5.9; 1 Ts 1.10; 5.9). Quando olhamos para
O primeiro ponto que surge de Daniel é que os sofrimentos Apocalipse, vemos os eventos do final da história em vista
dos santos durante esse período são atribuídos àquele que dos quais João descreve a parousia – a volta de Cristo - e
quer usurpar o lugar de Deus (Dn 7.7-8, 20-25; 11.35-48). o julgamento final dos descrentes (Ap 6 – 16). Ele também
Ele é o pequeno chifre que trava guerra contra os santos (Dn descreve as taças que serão derramadas (15.1, 7; 16.1) para
7.21). Essas passagens podem se referir a Antioco Epifânio, completar a ira de Deus. Essa ira recai somente sobre os
um inimigo que se levantou contra Israel. Porém, em última descrentes. Apesar disso, tais julgamentos podem afetar
instância, referem-se ao Anticristo. Em segundo lugar, o indiretamente os crentes. É no sentido de não serem os alvos
profeta atesta a existência de uma ira divina durante esse diretos da ira de Deus que eles são protegidos dela. Moo usa
período (Dn 8.19; 11.36) que não apresenta precisão quanto o exemplo de Noé e Jeremias para exemplificar isso. Ainda
ao tempo. Já Isaías diz que o povo de Deus será protegido que o julgamento de Deus tenha vindo sobre toda a Terra
dessa ira (Is 26.20-21). Assim, haverá uma tribulação final com o dilúvio, a família de Noé sofreu indiretamente com o
trazida por um líder poderoso juntamente com a revelação da evento, mesmo tendo sido liberta dela. Jeremias foi isento da
ira divina. punição babilônica sobre Judá, mas sofreu perseguições de
várias formas.
No NT, a tribulação final é vista cerca de sete vezes (Mt
24.9, 21, 29; Mc 13.19, 24; Ap 2.10; 7.14) e todas estão Assim, não há nada que diga que a Igreja não passará por
relacionadas ao Discurso das Oliveiras ou ao livro de ela. A tribulação final não é uma descrição da ira de Deus
Apocalipse. Segundo Douglas Moo, esses textos não recaindo sobre os crentes e que ela não é diferente do que a

33
Igreja já passa hoje. por uma transformação – tanto os mortos quanto os vivos.
Essa transformação, Paulo a chama de “mistério”, porque
TRÊS PASSAGENS SOBRE ARREBATAMENTO não foi revelada anteriormente no AT. Quando cita Isaías 25.8
como uma referência à ressurreição dos santos, Paulo pode
estar indicando entender que os santos do AT participarão
João 14.1-4 dessa mudança. A trombeta mencionada por Paulo é uma
referência ao ato que os Israelitas praticavam quando a
Essa passagem faz parte do discurso de despedida de Jesus nação experimentava salvação e julgamento (Is 27.13; Jl
em que ele busca consolar os discípulos confirmando que 2.1; Sf 1.16; Zc 9.14). Assim, isso provavelmente mostra a
está indo para o Pai para preparar um lugar na casa dele (v.2) reunião de Israel se preparando para entrar no Milênio – e
e que ele voltaria para recebê-los (v.3). É da compreensão o milênio é pós-tribulacional, isto é, necessariamente ele
de Douglas Moo que essa passagem fala acerca do segundo acontece depois da tribulação. Moo também diz que essa é
advento e do arrebatamento. Ele argumenta que a promessa a mesma trombeta de Mateus 24.31. Essa última trombeta
de uma libertação depois de uma angústia na tribulação final descreve a transformação que o povo de Deus passará
poderia ser vista como um conforto para os discípulos. A depois da tribulação final.
promessa de estarem reunidos com o Senhor é um conforto,
não importando o que passaram antes. Para Moo, não há 1 Tessalonicenses 4.13-18
indicação no texto para o argumento pré-tribulacionista
de que essas moradas são para que a igreja arrebatada as
habite, a fim de ser isenta da tribulação. Esse argumento Nessa passagem, Paulo, claramente, está buscando consolar
seria assumido, porque o pré-tribulacionismo já foi tomado os irmãos tessalonicenses por causa da morte dos crentes.
como verdade. Moo argumenta aqui que os crentes deveriam estar com
receio de que os que morreram não fossem participantes da
ressurreição. Paulo então tranquiliza-os dizendo que tanto
1 Coríntios 15.51-52 vivos quanto mortos participarão da ressurreição. Paulo não
busca confortar os crentes dizendo que eles seriam isentos
Paulo argumenta aqui que “carne e sangue” não podem da tribulação, mas que todos passariam pela ressurreição.
habitar o reino dos céus, logo, os crentes precisam passar Para isso, Moo sugere quatro indicações a esse favor:

34
1) paralelo de 1 Ts 4 e a parousia descrita no Discurso das
Oliveiras. Ambos descrevem um evento com anjos, trombeta,
reunião dos crentes e a parousia do Discurso das Oliveiras
é pós-tribulacional. 2) Essa é a mesma trombeta de 1 Co
15.51-52. 3) Essa passagem tem elementos paralelos com
Dn 12.1-2: a descrição dos mortos como “os que dormem”;
a presença de Miguel; e a ressurreição do povo de Deus. 4)
A palavra usada por Paulo para descrever o “encontro” entre
os santos o Senhor nos ares ocorre em referências a visitas
de dignatários e geralmente implicam que a “delegação”
acompanha o dignitário de volta ao lugar de origem (cf Mt
25.6; At 28.15). Ou seja, os santos iriam até o Senhor, que
estaria vindo à terra e viria com ele para a terra.

35
10. TEXTOS ESCATOLÓGICOS NA LEITURA
PÓS - TRIBULACIONISTA

1 Tessalonicenses 5.1-11

Nessa passagem, Paulo fala do “Dia do Senhor”. Esse dia inclui uma destruição dos descrentes, então deve ser pós-
tribulacional. Nessa ocasião, os crentes estarão na terra. Três fatores parecem contribuir para isso: 1) a partícula dé no início

36
do capítulo 5 ocorre como uma partícula de transição, sem uma relação entre Mateus 24.32-44 (cf Lc 21.34-36) e 1
apresentar contraste. Ou seja, ela desenvolve o argumento Tessalonicenses 5.2-6. Ambas passagens falam sobre o Dia
anterior para um passo a mais no discurso. 2) Paulo não que virá de forma inesperada, sem escapatória e encorajam
estaria distinguindo dois eventos separados, mas os efeitos o crente a vigiar por esse dia. Uma vez que Lucas incentiva
do mesmo evento em dois grupos diferentes – crentes e estar atento para o dia à luz da vinda pós-tribulacional,
descrentes. 3) Paulo não especifica tempo algum para o Dia podemos concluir que 1 Tessalonicenses 5.2-6 também.
do Senhor acontecer, então isso indica que ele pode estar
falando do mesmo evento. 2 Tessalonicenses 1-2

O termo “Dia do Senhor” é frequentemente associado como Essa carta foi escrita brevemente após a primeira para
um dia de julgamento, mas também pode ser visto como dia corrigir algumas más compreensões acerca de escatologia.
de livramento (Is 27; Jr 30.8-9; Jl 2.32; 3.18; Ob 15-17). No Segundo Moo, 2 Tessalonicenses 1.5-7 apresenta
NT, geralmente ele está associado com o fim. Ainda que o argumentos de que os crentes não serão arrebatados até
julgamento final seja parte do dia do Senhor, a tribulação não a parousia de Cristo no final da tribulação. Nos versos 7
é. Primeiro, nenhuma referência ao “Dia” do NT inclui uma e 8, Paulo apresenta um descanso pelo qual os crentes
descrição da tribulação final. Segundo, Malaquias 4.5 e Joel passarão depois de terem passado pela libertação dos
2.3 estão de acordo ao colocar o que é tribulacional antes sofrimentos. O argumento geral de Paulo nessa passagem
do Dia. Terceiro, Paulo parece sugerir em 2 Tessalonicenses é que alguns eventos devem acontecer antes do encontro
2 que o Dia não pode chegar até que certos eventos com Cristo. Os crentes não devem se preocupar com isso,
tribulacionais claros aconteçam. Assim, o Dia do Senhor é porque, certamente, encontrarão descanso. Paulo só estaria
outro nome para a parousia (Jo 6.39, 40, 44, 54; 11.24; 1 Co tranquilizando os crentes quanto a esses eventos se de fato
1.8; Fp 1.6, 10; 2.16; 2 Tm 4.8). eles tivessem de passar pela tribulação. Se a Igreja fosse
ser arrebatada antes disso, não haveria motivo para ele os
O Dia do Senhor vem como um ladrão para os descrentes, adverte quanto a isso.
porque estes não estão esperando que ele ocorra. Isso
já não é uma realidade para os crentes que o aguardam
ansiosamente. Também pode-se argumentar que há

37
DISCURSO DAS OLIVEIRAS ele estava se referindo a uma pessoa; 3) a alegação de Jesus
de que essa abominação que causa tamanha desolação
Ao analisar essa passagem, Moo tenta responder a três incomparável desde a criação do mundo aponta para um
questões: 1) O que os discípulos perguntaram? 2) A evento do fim do mundo.
abominação da desolação e a tribulação mencionadas em
conjunção referem-se aos eventos do fim dos tempos? 3) Não obstante, há fatores que sugerem que Jesus associa a
A parousia do fim das eras de Jesus é descrita em Mateus “abominação da desolação” com os eventos que ocorreriam
24.29-31 e Marcos 13.24-27)? 4) Mateus 24.31 e Marcos no ano 70, quando os romanos pararam a rebelião dos judeus
13.27 referem-se ao arrebatamento? 5) A quem o discurso é e destruíram boa parte do santuário. A primeira é que eles
dirigido? perguntaram quando o templo que eles estavam olhando
seria destruído e isso ocorreu no ano 70. Em segundo lugar,
Geralmente muitos evangélicos têm visto o Discurso das a versão de Lucas do Discurso faz referência a “Jerusalém
Oliveiras como uma profecia acerca dos eventos que estar rodeada por exércitos” (21.20). Isso poderia falar
acontecerão no fim da história. Jesus descreve a tribulação tanto do ano 70 quanto dos eventos finais, mas ele fala
com referência à manifestação do Anticristo (a abominação dos judeus sendo espalhados entre os gentios (21.24).
da desolação) e a sua volta gloriosa no fim da história. Terceiro, os termos usados por Jesus parecem sugerir uma
Poucos teólogos têm interpretado o discurso como eventos situação local: “os que estiverem na Judeia fujam” (Mt
que ocorreram no primeiro século. A maioria, de acordo com 24.16; Mc 13.14); “orem para a fuga de vocês não acontecer
Moo, pensam numa combinação dessas duas abordagens. no inverno ou no sábado” (Mt 24.20). E, finalmente, essas
coisas acontecerem no ano 70 ajuda a entender que “esta
geração não passará até que todas essas coisas aconteçam”
Para Moo, quando ele cita os eventos descritos em Mateus (Mt 23.34). Aquela geração teria que presenciar os eventos
24.15 e Mc 13.14, só poderia acontecer na tribulação final, descritos por Jesus.
porque 1) a frase abominação da desolação claramente alude
às mesmas profecias em Daniel que Paulo já descreve com
ao Anticristo do fim dos tempos; 2) Marcos usa um particípio Esses argumentos também são utilizados para falar da
masculino depois do neutro “abominação” para mostrar que parousia de Cristo. Argumenta-se que parousia pode se
referir a qualquer “aparição” de Jesus. Alguns entendem

38
que a destruição do templo deveria ser vista como uma APOCALIPSE
vinda do Senhor para julgamento. Esses são chamados
de preteristas. Porém, Douglas Moo não entende assim. Já foi dito que os autores do NT estavam convencidos de que
Ele entende que os eventos descritos em Mateus 24.4-28 estavam vivendo os últimos dias e os eventos associados
(cf Mc 13.5- 23) descrevem a totalidade da era da Igreja, a a isso. É preciso analisar alguns textos de Apocalipse para
qual será marcada pela grande tribulação e pelo importante entender a situação. A igreja de Filadélfia é muito citada
evento da destruição de Jerusalém que ocorreu no ano 70. porque é dito que ela será guardada na hora da provação
Uma vez que os eventos do ano 70 aconteçam, a parousia (Ap 3.10), mas devemos olhar também para Apocalipse 2.10
estará próxima. Moo argumenta que “Jesus pode se referir quando é dito para Esmirna esperar por uma tribulação.
à maior angústia de todos os tempos nesse contexto (Mt Mesmo que não pareça estar se referindo à tribulação final,
24.21//Mc 13.19) como uma forma hiperbólica de enfatizar alguma tribulação é esperada. Assim também, aqueles que
o sofrimento que a destruição romana da cidade causaria. se alinham com Jezabel passarão por grande tribulação (Ap
Porém, é mais provável que ele se refira aos sofrimentos 2.22). Jesus exorta a igreja de Sardes a se arrepender, caso
do povo de Deus através da ‘era da Igreja’”. Portanto, Jesus contrário ele virá como um ladrão (note a similaridade com
apresenta a parousia como um evento que poderia acontecer 1 Ts 5 e Mt 22.42-44). Por causa disso, Moo conclui que a
em qualquer geração e isso é a forma como o NT trata do proteção que Filadélfia terá será espiritual. João já usou essa
assunto. Os doze são tomados como representativos para fraseologia no Evangelho (17.11,12,15). Então, Apocalipse
todos os discípulos, dessa forma, todos os discípulos devem 3.10 não oferece argumentos contrários nem a favor do pós-
estar preparados para a parousia. Moo dá algumas razões tribulacionismo.
para isso: 1) A descrição dos eventos finais em Mateus
24-25 fazem paralelo com as epístolas paulinas e elas são
dirigidas às igrejas (1 Ts 4.13-18; 2 Ts 2.1-12); 2) As mesmas Apocalipse 11.11-12
exortações dadas aos discípulos em Mateus 24 aparecem em
outros contextos dos Evangelhos, em que os discípulos são Esse texto fala de duas testemunhas que sobem às nuvens
representantes da igreja (cf Lc 12.39-46; 19.11-27) e isso parece indicar uma linguagem de ressurreição, pois
o arrebatamento é constantemente descrito como ir às
nuvens (Mt 24.30; At 1.9; 1 Ts 4.17; Ap 14.14). Moo diz que

39
há fortes indicações de que o final da tribulação é alcançado de Deus para seu Reino (Mt 13.30). Assim, os versos 17-
em Ap 11.11-19. O grande terremoto que acontece depois da 20 devem ser o julgamento dos descrentes. Não obstante,
ressurreição das testemunhas é mencionado somente duas essa imagem também não é clara. Porém, essa ceifa não
vezes em Apocalipse (Ap 6.12; 16.18) e ambos descrevem tem indícios de que a ira de Deus está sendo derramada.
o fim. Apocalipse 6.12 tem uma linguagem fortemente Portanto, pode significar o ajuntamento da Igreja.
veterotestamentária que indica o fim.
Apocalipse 20.4
Além do terremoto, dois outros fatores também apontam
para a tribulação final. As testemunhas profetizam por 42 Nesse capítulo, João descreve a ressurreição final. Ele
meses (Ap 11.2) e depois permanecem mortas por três dias apresenta duas ressurreições aqui. Todos que não participam
e meio (11.9). Se a primeira referência é à primeira metade da primeira são contados como o resto dos mortos e
da tribulação final, a segunda referência indica a segunda participam da segunda, e são os ímpios que fazem parte
metade. Mas não há muita certeza disso. desse grupo. Portanto, essa primeira ressurreição é para
o grupo dos justos, incluindo os santos da igreja. Uma vez
Quando a sétima trombeta ressoar, o Senhor começa a que o arrebatamento acontece simultaneamente a essa
reinar (11.17) e, assim, o tempo de seu juízo e recompensas ressurreição e ela é pós-tribulacional, o arrebatamento é
chega (11.18), abrindo, assim, o templo celestial. Se a pós-tribulacional.
sétima trombeta está cronologicamente relacionada com a
ressurreição das testemunhas, então essa ressurreição deve É preciso reconhecer a identidade dos santos que João vê
ser pós-tribulacional. Apesar disso, não é claro que essas passando pelos sofrimentos (Ap 6-16). Moo entende que
duas testemunhas são uma representação para a Igreja, esses sofrimentos representam não somente a tribulação
portanto, é preciso outros indícios para provar isso. final, mas toda a era da Igreja desde seu começo até a
culminação na parousia. Porém, certamente a parousia inclui
Uma das visões que João tem é daquele “como filho do esses sofrimentos. Geralmente, argumenta-se que esse
homem” que desceu para ceifar a Terra (Ap 14.14-16). Jesus grupo não é a Igreja porque a palavra ekklesia não ocorre no
usa a imagem da ceifa para descrever o ajuntamento do povo intervalo de Apocalipse 4 a 19, mas isso não parece ser um

40
argumento tão conclusivo. Pode-se argumentar também que Moo também diz que as bênçãos prometidas aos santos
João, nesse mesmo intervalo, não chama nenhum grupo nos da igreja em Apocalipse 2-3 aparecem nos capítulos 4-22,
céus de Igreja. sugerindo que o mesmo grupo está em vista. Por exemplo,
nas cartas às igrejas elas precisam ser vitoriosas e isso é
É comum entender Apocalipse como as coisas que vocês falado em Apocalipse 15.2. Outro exemplo é a perseverança,
viram (Ap 1), as coisas que são (Ap 2) e as coisas que que é destacada quatro vezes nas cartas e demandada dos
estão para acontecer (Ap 4-22), mas essa parece não ser a santos em tribulação (13.10; 14.12). Além disso, se a Igreja
intenção desse verso. Não obstante, podemos assumir que não vai ter parte nos eventos descritos nos capítulos 4 a
os eventos que João vê pertencem à era da igreja. Precisa-se 19, parece sem sentido que João descreva a parousia de
saber onde colocá-la. alívio e a direcione à igreja (1.4,7). Em Apocalipse 22.16,
Jesus diz que enviou o anjo para dar testemunho às igrejas,
portanto elas devem estar envolvidas. E, para finalizar, parece
Moo entende que os 24 anciãos (Ap 4.4) não são anjos, mas estranho que os eventos que tomam a maior parte do livro
seres humanos glorificados, ou algum tipo de figura celestial não falem acerca daqueles para quem o livro foi direcionado.
que representa as pessoas. Porém, não podemos dizer que
isso se refere só à Igreja, porque o mesmo grupo se refere
à Igreja na terceira pessoa do plural (Ap 5.10) e o uso das A parousia de Cristo seria o ponto focal de Apocalipse 6-20 e
coroas de ouro não está restrito somente à igreja (Ap 9.7) e o todos os eventos decorreriam disso.
uso dos robes brancos também é visto em Laodicéia (3.18),
não necessariamente sugerindo uma igreja arrebatada. IMINÊNCIA
Portanto, esses 24 anciãos parecem ser todo o povo de
Deus, Israel e Igreja. Moo vê que é provável que os 144 mil O pós-tribulacionismo é acusado de negar a iminência
se refiram à igreja, mas não vê uma identificação certa então porque estabelece uma série de eventos antes da parousia.
prefere não pontuar nada. Já a noiva (Ap 19.7-9) deve incluir Porém, a iminência pode ser entendida como um evento que
a Igreja, mas isso não indica que o arrebatamento deve está próximo e não pode ser evitado, mas não pode ocorrer
preceder a parousia (Ap 19.11-22), pois essas visões (Ap até que alguns eventos aconteçam. Moo argumenta que
17.1-19.10) de Apocalipse nem sempre são sequenciais. nenhuma das palavras usadas para descrever a iminência

41
traz a ideia de “a qualquer momento”. Por exemplo, esperar
o nosso Senhor (1 Co 1.7) pode se referir ao anseio da
criação ser libertada (Rm 8,19) e isso só acontece depois
da tribulação. Quando Tiago orienta a ser paciente (Tg
5,17), isso está aplicado à parousia, mas a analogia é feita
como um agricultor que espera a colheita e isso não vem a
qualquer momento. Aquele que espera o Dia do Senhor (Mt
24.50; Lc 12.46) é a mesma palavra usada por Pedro para
exortar para os crentes esperarem pelos Novos céus e Nova
Terra (2 Pe 3.12-14). Esses e outros termos não exigem
uma expectativa de acontecer “a qualquer momento”. É
melhor definir a iminência, segundo Douglas Moo, como
a possibilidade de Jesus vir a seu povo a qualquer tempo,
em que tempo é entendido de forma ampla como um curto
intervalo de tempo. Assim, o povo de Deus é chamado a ter
expectativa por esse momento. A iminência provocaria o
desejo de se encontrar com o Senhor.

42
11. PRÉ - IRA

A
posição pré-ira, basicamente, nasceu como uma dissidência do movimento pré-tribulacional. A posição do
arrebatamento pré-ira se fundamenta em dois pontos principais: “a igreja entrará na segunda metade da septuagésima
semana de Daniel e que, entre o arrebatamento da igreja e a volta de Cristo à Terra, ocorrerá um período significante
de extraordinária ira divina”. A ideia é que a tribulação e a ira não são confundidas dentro dessa perspectiva. Por isso, a Igreja
passará por parte da tribulação, a segunda metade da 70ª semana de Daniel. No entanto, quando a ira de Deus se manifestar

43
dentro desse período de tribulação, a igreja será arrebatada. Israel tem seu cumprimento em Jesus como Messias.

MATEUS 24 Jesus centra uma nova comunidade nos doze discípulos.

A resposta de Jesus à questão dos discípulos sobre A rejeição judaica leva a uma rejeição de Israel e o
quando o templo seria destruído é designada em parte para estabelecimento da Igreja.
distinguir a destruição do primeiro século do templo do fim
das eras quando o Filho do Homem se manifestasse. Os O propósito dos discursos de Mateus é treinar a Igreja em
discípulos veriam certos eventos catastróficos com respeito discipulado.
à destruição do templo, mas isso não sinalizaria o fim.
Esses eventos fazem parte do princípio das dores (Mt 24.8).
O primeiro sinal do fim será “a abominação da desolação” Jesus traz o AT ao seu cumprimento (Mt 5.17). Alguns vão
(v.15), a qual iniciará a grande tribulação de Daniel (Mt entender que Mateus retrata Jesus cumprindo o papel de
24.21; Dn 12.1). Tal tribulação findará com a vinda do Filho Israel em si mesmo. Ele é visitado por gentios (Mt 2.11; cf
do Homem, o qual aparecerá nos céus e com os anjos Is 60.1-6); ele é chamado do Egito (Mt 2.13; Os 11.1 cf Ex
ajuntando os eleitos (Mt 24.29-31). Os discípulos veriam um 4.22-23) e suporta a tentação por meio da obediência à lei
cumprimento profético com a destruição de Jerusalém, mas (Mt 4.1-11; Dt 6-8); ele é o servo sofredor (Mt 8.17; 12.17-21;
a vinda do Filho do homem seria futura. 20.28; Is 53). Segundo Alan Hultberg, para pertencer a Israel,
uma pessoa deveria pertencer ao Messias.

Como o Discurso das Oliveiras é inteiramente num contexto


judaico, muitos são levados a excluir a Igreja das coisas Em Mateus, Jesus diz que fundará a Igreja (Mt 16.18; 18.17).
que acontecerão aqui. Porém, Alan Hultberg entende a A linguagem parece indicar que essa nova comunidade é o
Igreja como herdeira do reino judaico em algum sentido. Os novo e verdadeiro Israel. Tal comunidade seria centrada nos
discípulos seriam o centro dessa comunidade messiânica. doze apóstolos. Essa comunidade é formada por causa da
Ele oferece alguns argumentos para isso: rejeição dos judeus descrentes.

44
Ainda que Jesus tenha pregado o reino dos céus a Israel acordo com 2 Tessalonicenses 2.3-4, onde Paulo identifica a
(Mt 2.20; 10.5-6; 15.24), é rejeitado pelo povo. Essa rejeição abominação da desolação como o principal sinal pelo qual a
culmina na sua crucificação. Jesus então conta uma série aproximação do arrebatamento pode ser conhecida, portanto,
de parábolas dentre as quais temos a parábola da vinha (Mt deve acontecer depois do meio da septuagésima semana de
21.33-45) em que é dito que o reino vai ser tirado deles e Daniel.
dado para um povo que dará fruto (v. 43). Segundo Hultberg,
isso mostra que Jesus está rejeitando Israel como um todo. 2 Tessalonicenses 2
Essas denúncias levam ao pronunciamento contra Jerusalém
(23.37-39), ao Discurso das Oliveiras (24-25) e à grande
comissão (28.18-20), a qual expandiria o evangelho para Aqueles que defendem a posição pré-ira apresentam
além de Israel a todas as nações. paralelos entre Mateus 24.30-31 e 1 Tessalonicenses 4.15-
17, falam da parousia de Jesus nas nuvens para reunir seus
santos acompanhados de uma trombeta e anjos. Esses
A única resposta adequada a Jesus é o discipulado. Ser um elementos também podem ser vistos em 2 Tessalonicenses:
membro da comunidade messiânica é ser um discípulo e ser a vinda de Jesus com anjos (2 Ts 1.7); ajuntamento dos
discípulo é obedecer ao ensino de Jesus (7.21-27; 28.19- santos (2 Ts 1.7;2.1,13).
20). Mateus é estruturado em torno de cinco discursos de
Jesus que sempre começam com a fórmula “seus discípulos
vieram a ele” (5.1; 10.1;13.10; 18.1; 24.1) e conclui com Em 2 Tessalonicenses 1.6-10, vemos a vingança de Jesus
variações de “quando Jesus terminou essas palavras” (7.28; sobre os inimigos e a glorificação dos santos. Assim,
11.1; 13.53; 19.1; 26.1). Assim, o Discurso das Oliveiras apesar de Mateus 24.31 não mencionar explicitamente
deve ser interpretado como destinado aos discípulos como o arrebatamento, era onde Paulo o situava. Assim como
representantes de todos aqueles que se tornariam discípulos. Mateus, Paulo também mostra alguns sinais relacionados ao
Anticristo que devem preceder a volta de Cristo para certificar
que o Dia do Senhor ainda não tinha chegado.
Hultberg infere desses quatro pontos que é esperado
que a Igreja veja a abominação da desolação e a grande
tribulação, então o arrebatamento deve ocorrer depois do Especificamente acerca da passagem de 2 Tessalonicenses
meio da septuagésima semana de Daniel. Esse fato está em 2.1-5, Paulo refere-se à parousia do Senhor e nosso

45
ajuntamento com ele de “Dia do Senhor” (cf. 24.31). Paulo Os crentes anseiam pelo Dia do Senhor e assim buscam se
diz que haverá alguns sinais antes da vinda do Senhor (2 Ts santificar (v. 6-8).
2.3-4). Isso também está implícito em 1 Tessalonicenses
5.1-11, em que Paulo continua a discussão sobre a parousia. Hultberg afirma que 1 Tessalonicenses 4.15-16 e parte
Enquanto em 1 Tessalonicenses 4.13-18 está preocupado do contexto mais amplo dos versos 5.1-12 sugere que a
com a relação da ressurreição com o arrebatamento na salvação que os crentes terão na parousia é o arrebatamento.
parousia, 1 Tessalonicenses 5.1-11 fala do tempo desses Jesus derramará sua ira sobre os descrentes e arrebatará
eventos e a necessidade de estar vigiando. Paulo refere-se a Igreja para livrá-los de sua ira. A partir disso, é muito
à parousia/arrebatamento como o Dia do Senhor. No AT, o provável que, ao escrever 2 Tessalonicenses, Paulo tenha
Dia do Senhor é o tempo reservado para o julgamento dos em mente o mesmo evento de 1 Tessalonicenses 4.13-5.12.
inimigos do Senhor e da vindicação do seu povo. O Dia do Paulo diz que esses sinais devem acontecer antes do Dia do
Senhor é quando as nações serão reunidas para julgamento e Senhor. É provável que os crentes de Tessalônica estivessem
Israel, para salvação (Is 2.12-21; 13.6-16; Ez 30.3; Ob 15; Sf pensando que eles estavam experimentando o Dia do Senhor
1.14-2.3). O Dia do Senhor é o tempo de destruição repentina na tribulação de Daniel por terem entendido errado essa
que cairá sobre os descrentes (v.3) e os crentes serão distinção. Paulo escreve para corrigir essa ideia. Ainda que
isentos da ira (v.9 cf 1.10). Paulo também diz que Jesus dará os crentes fossem passar pela tribulação de Daniel, não
descanso para sua Igreja e retribuirá o que os inimigos da sofreriam a parte negativa do Dia do Senhor, mas a positiva.
Igreja fizeram contra ela no dia que ele for revelado (2 Ts 1.6-
8 cf 2.8).
Com base na relação de 2 Tessalonicenses 2.1-15 com
tradição de Jesus, o primeiro sinal que deve preceder o Dia
Assim, isso confirma que o arrebatamento está associado do Senhor é a abominação da desolação. Paulo menciona
com a parousia (1 Ts 4.15-17). Para os descrentes, esse dois eventos que devem preceder o Dia do Senhor (2 Ts
dia será inesperado e destrutivo, mas, para os crentes, não, 2.3), a apostasia e a revelação do Homem da Iniquidade.
porque eles não estão em trevas, pois são filhos da luz. A apostasia seria uma fuga da verdade influenciada por
Os crentes devem observar os sinais da parousia, porque Satanás associada com o Homem da iniquidade. Os textos
a redenção está próxima. Assim, o mesmo dia que traz de Tessalonicenses, juntamente com Mateus 24.24, falam
destruição para os descrentes, traz salvação para os crentes. de um período de extremo engano com sinais e prodígios

46
associado com uma figura ou figuras representando religioso.
falso(s) cristo(s). Em Mateus, esse período é durante a
grande tribulação (v. 21, 23-24). A linguagem do Evangelho A melhor leitura é a de que Paulo entende a parousia de
corresponde à paulina quando ele fala do Homem da Cristo como sendo precedida pela abominação da desolação.
Iniquidade assumindo o lugar no templo de Deus. Assim, Isso, obviamente, implica que a Igreja entrará na segunda
Paulo estaria falando da abominação da desolação quando metade da septuagésima semana de Daniel. Mateus 24 e 2
fala do Homem da Iniquidade. Como Mateus aponta a Tessalonicenses confirmam um ao outro e a carta de Paulo
abominação da desolação (24.3-15) como o sinal primário da serve para provar que a seção do Evangelho é dirigida à
proximidade dos eventos finais, o Homem da Iniquidade no Igreja.
templo é o que Paulo quer dizer por o Iníquo ser revelado.

Esses sinais também não comprometem a iminência. Paulo


Paulo diz que o Homem da Iniquidade não pode ser revelado deixa claro que a parousia não é inesperada pelos crentes (1
até que “aquele que o detém” seja removido (v.6 e 8). Ts 5.4), mas não quer dizer que eles saberão “o dia e a hora”.
Porém, a identificação desse que detém é incerta. A vinda Os crentes estarão atentos para período da volta, porque
do iníquo é acompanhada por um grande engano satânico interpretarão os sinais. Jesus também misturou iminência
que é endossado por Deus, mas isso em si não é o que com sinais (Mt 24.32-33, 42-44 e os textos paralelos).
revela o iníquo. Assim, é o verso 4, que fala de um tipo de
manifestação dele.

A sintaxe de 2 Tessalonicenses 2.3-4 relaciona essa


passagem com a revelação. Os versos 3 e 4 na sentença
original em grego são, na verdade, uma sentença só, onde
Paulo identifica o Homem da Iniquidade pelas ações que ele
faz ao querer usurpar o lugar de Deus. Não obstante, todas
essas ações ocorrem dentro do plano de Deus (v.10). Isso
indica que ainda que o Anticristo seja uma figura imperial,
Paulo dá destaque em Tessalonicenses para seu papel

47
12. TEXTOS DO APOCALIPSE NA
LEITURA PRÉ - IRA

D
uas passagens são importantes para analisar
o arrebatamento depois da segunda metade da
septuagésima semana de Daniel: Apocalipse 7.9-
17 e Apocalipse 13.1-18. Em uma, a Igreja vem da grande
tribulação e, na outra, está na tribulação de Daniel.

Apocalipse 7 coloca a igreja na tribulação. Em Apocalipse 5, o


Cordeiro recebe um pergaminho com sete selos. Ele começa
a abrir os primeiros 6 selos sequencialmente. Com a abertura
do sexto selo, a chegada da ira de Deus e do Cordeiro foi
reconhecida. As alusões a Isaías (2.12-22; 13.6-16; 34.1-15);
Joel (2.1-11, 30-32; 3.9-17); Sofonias (1.14-18) e Malaquias
(3.2) deixam claro que o “dia da ira de Deus” é a linguagem
de João para o Dia do Senhor. Quando o sétimo selo é aberto,
há silêncio nos céus, sinalizando a calmaria antes da ira de
Deus. Entre o sexto selo (6.12-17) e o sétimo (8.1-5), há um
interlúdio. O processo de abertura dos selos é interrompido
em Apocalipse 7 para a proteção dos servos de Deus antes
de a ira ser derramada (7.1-3). Nesse interlúdio, João vê dois
grupos: o grupo dos 144 mil Israelitas (7.4-8). Depois, João

48
vê uma multidão de cada nação diante do trono de Deus (7.9- Apocalipse 12-16 forma uma unidade literária no livro. Ela
10). Esse grupo é o dos que vieram da grande tribulação. é estabelecida por três sinais (Ap 12.1, 3; 15.1). Os dois
Eles foram lavados no sangue do Cordeiro e experimentarão primeiros estabelecem o contexto cósmico dos eventos
bênçãos escatológicas. Então, podemos entender o segundo escatológicos descritos em Apocalipse 13-14. A guerra da
grupo como a Igreja. Essa multidão vem de toda nação, tribo, Besta de Daniel contra os santos (13.7 cf Dn 7.21; 12.1; Ap
povo e língua (Ap 7.9). Essa mesma linguagem de ter as 12.11-17) é parte da guerra maior da serpente diabólica
vestes lavadas no sangue do Cordeiro é usada em Apocalipse contra o povo de Deus (Ap 12.9). A guerra contra a Besta será
5.9. Apesar de alguns verem que esse grupo é um subgrupo concluída com o derramar da ira de Deus (Ap 14.17-20). No
da Igreja, os mártires que passaram pela tribulação, os quais meio dessa descrição, depois da retratação da dominação
sofreram e até morreram nela, Hultberg entende que a Igreja da Besta satânica do mundo e perseguição dos santos (Ap
em si é vista como composta inteiramente de mártires no 13.7 – 10 cf Dn 7.21) os 144 mil reaparecem no Monte Sião
livro de Apocalipse. Embora aos mártires sejam dadas vestes com o Cordeiro. Eles parecem ser a contraparte daqueles que
brancas no quinto selo (6.11), é comum cristãos usarem seguem a Besta.
vestes brancas em Apocalipse (3.5, 18; 19.8, 14).
Em Apocalipse 14.6-12, três anjos aparecem. O primeiro
Também é o caso com Apocalipse 12.11, em que há um anjo clama pelo arrependimento daqueles que habitam
aparente contexto de martírio de difícil comprovação. na Terra (14.7), pois a hora do julgamento do Senhor
Quando João diz que eles venceram o mundo pelo sangue chegou. O segundo e o terceiro anjos anunciam as graves
do Cordeiro, ele pretende relembrar Apocalipse 5.5, 9, em consequências daqueles que se alinham com a Besta: estes
que a vitória messiânica é a redenção conquistada na provarão da ira de Deus (14.10). João vê outra colheita que
cruz. A estrutura sintática de Ap 12.11 aponta que João aparentemente completa a “redenção” que começou com
deu duas razões para a vitória. Além de conquistarem pela os 144 mil (14.14-16). João também vê “aqueles que foram
morte do Cordeiro, eles também conquistam pela própria fé vitoriosos contra a besta” (Ap 15.2 cf 7.14) diante de seu
no evangelho, até a morte, quer seja pelo martírio ou não. trono cantando sua salvação (15.2-3). Estes devem ser os
Ter sido lavado no sangue do Cordeiro pode tanto ser uma que o Filho do Homem colheu (14.14-16), pois as taças de
alusão a Daniel 11.35 como a Isaías 1.18. Assim, o tema Deus são derramadas depois desse grupo aparecer no céu.
envolvido aqui seria redentivo e não de martírio.

49
Assim, Apocalipse 14-16 faz paralelo com Apocalipse 7-8. e sete taças). Assim, quando João escreve para sete igrejas,
Em ambos, encontramos a sequência dos 144 mil na Terra ele pretende que isso represente todas as igrejas. Segundo,
com o nome de Deus em suas testas, seguidos pela aparição as advertências dadas às igrejas individuais são direcionadas
de um grupo vitorioso no céu que vem da tribulação, seguido a todas as igrejas. Terceiro, as promessas escatológicas são
pelo derramar da ira. Assim o grupo de Apocalipse 15.9 é o cumpridas para todos os cristãos no estado final. Assim, as
mesmo da grande multidão de 7.9. O grupo de 15.2 chega sete igrejas do Apocalipse instruem todas as igrejas através
aos céus não porque morreu, mas porque foi colhido pelo dos séculos. Claramente há temas do primeiro século, mas
Filho do Homem. Ou seja, a multidão de Apocalipse 7.9-17 também há oráculos escatológicos de eventos do fim das
aparece nos céus devido ao arrebatamento. eras (Ap 2.8-11; 2.18-29). Apocalipse 13 descreve a ação
da besta que surge do mar. Isso faz uma alusão a Daniel
É possível ver um paralelo entre os seis selos e os eventos 7 e ao pequeno chifre (Dn 7.8, 20, 21, 25). Essa besta
descritos em Mateus 24.5-31. O primeiro selo (Ap 6.1-2) terá implicações históricas tanto em Daniel quanto em
representa o surgimento dos falsos cristos, ou mesmo do Apocalipse. Assim, João vê a guerra contra os santos tanto
Anticristo (Mt 24.5). O segundo selo, (Ap 6.3-4) corresponde de uma perspectiva histórica quanto escatológica. Por causa
às guerras e rumores de guerras (Mt 24.6-7). O terceiro disso, conclui-se que em Apocalipse 7.9-19 a igreja está
selo, fome (Apocalipse 6.5-6//Mt 24.7). O quinto selo (Ap vindo à grande tribulação. Essa tribulação de Apocalipse
6.9-11//Mt 24.9). O sexto selo (Ap 6.12-14//Mt 24.29-31). 13 é concluída no capítulo seguinte pela colheita do Filho
O cataclismo dos céus que ocorrem na parousia (Mt 24.31) do Homem e o derramar das taças de ira no reino da Besta
é representado em Apocalipse (14.14-16) e corresponde ao e da destruição da prostituta. A partir disso, concluímos
aparecimento do grupo de vitoriosos nos céus. Apocalipse que Mateus, Paulo e João veem a Igreja participando da
7.9-17, portanto, é uma imagem do arrebatamento da Igreja. grande tribulação, mas sendo arrebatada para ser isenta
Apocalipse 13 coloca a Igreja na tribulação. Ainda que as da ira de Deus, no Dia do Senhor, que recairá sobre os
sete igrejas do Apocalipse sejam literais, elas representam descrentes. Paulo diz que a Igreja não experimentará a ira
toda a Igreja. João indica isso de várias formas. Primeiro, de Deus em suas cartas (Rm 5.9; 1 Ts 1.10; 5.9). Por causa
o número 7 é significativo de várias formas em Apocalipse da expiação de Cristo, os crentes não serão expostos a sua
(sete espíritos de Deus, sete candelabros, sete estrelas, sete ira no julgamento final nem à sua ira divina na septuagésima
selos, sete olhos, sete chifres, sete trombetas, sete trovões semana de Daniel. A parousia, para Paulo, envolvia primeiro

50
o arrebatamento, depois a ira divina, depois o retorno à
terra. Ele não dá indicação da duração desses eventos. Isso
também acontece em Apocalipse (6-8; 14-16) quando João
apresenta o arrebatamento depois do derramar da ira de
Deus. É isso que a posição tribulacional Pré-ira entende que
acontecerá.

51
13. PRETERISMO

O
teólogo R.C. Sproul define preterismo como “Um ponto de vista escatológico que coloca muitos ou todos os eventos
escatológicos no passado, especialmente durante a destruição de Jerusalém em 70 d.C.”. (SPROUL, 228)

52
Ou seja, o preterismo considera que as profecias, em sua isso?
totalidade ou maioria, foram cumpridas no período da
geração que estava viva nos tempos de Jesus. Existe uma O preterismo radical falha em entender que tanto a
diferença entre preterismo radical e preterismo parcial. ressurreição dos crentes quanto a segunda vinda de Cristo
O preterismo parcial defende que somente algumas serão corporais. Eles propõem uma segunda vinda e uma
profecias foram cumpridas nos tempos de Jesus, ao passo ressurreição espirituais. Já o preterismo parcial diz que
que o preterismo radical defende que todas elas foram Cristo veio em julgamento contra Jerusalém durante a guerra
cumpridas nessa época. Assim, apara o preterismo radical, judaica 67-70 d.C., mas não veio corporalmente, pois essa é
a ressurreição, o arrebatamento, o Dia do Senhor e o Dia a segunda vinda (At 1.11). Jesus veio em Pentecoste como
do Juízo ocorreram no ano 70 d.C. Já o preterismo parcial Espírito de Jesus (Jo 14.16-18); veio em julgamento e ira
diz que o que aconteceu no ano 70 com Israel foi um dia do contra Jerusalém em 66-70 (Lc 21.23; Ap 6.16) e voltará
Senhor, não O Dia do Senhor. corporalmente em algum ponto do futuro em cujo tempo os
que morreram em Cristo também serão ressuscitados (At
O preterismo parcial entende que o julgamento no ano 70 1.11; 1 Ts 4.16).
foi o cumprimento importante de alguma profecia. Eles
ainda creem na vinda futura de Cristo e na ressurreição dos O preterismo parcial entende que a destruição de Jerusalém
mortos. A distinção está justamente na vinda do Senhor em no ano 70 é o cumprimento de profecias feitas por Jesus
julgamento contra Jerusalém e a vinda corporal e futura do (Mt 23.35-36; Lc 23.28). Jesus fez uma série de profecias
Senhor no fim da história. contra Jerusalém (Mt 24; Mc 13; Lc 21). À medida que Jesus
se aproxima de Jerusalém pela última vez, ele adverte sobre
Todd Dennis critica o preterismo radical por causa de seu um juízo que virá sobre a cidade (Lc 19.41-44) e, quando ele
posicionamento acerca da segunda vinda de Cristo e da estava a caminho da cruz, quando Simão carregou sua cruz,
ressurreição. A ressurreição dos crentes é corporal, segundo ele novamente adverte que virá um tempo de pranto sobre a
Paulo (1 Co 15.44), o que impediria do preterismo radical cidade (Lc 23.28-31). Jesus também diz que essa geração,
ser absorvido por outras tradições. Ele também ensina e não as subsequentes, sofrerá o juízo de Deus por causa
que se a segunda vinda de Cristo já ocorreu (sob forma de dos profetas que eles martirizaram (Mt 23.34-36; Lc 11.49-
julgamento) que outro sistema teológico poderia absolver 51). Jesus também se refere a esse juízo na parábola do

53
proprietário que plantou vinhas (Mt 21.33-45).

O preterismo parcial entende que a grande tribulação (Mt


24.21) se refere à destruição de Jerusalém no ano 70. Essa
posição verá que essa tribulação é local. Segundo a posição,
o relato de Lucas (21.20-24) mostra que Mateus 24.21 se
refere à queda no ano 70. Ela foi localizada especificamente
na Judeia (Mt 24.16; Mc 13.14; Lc 21.21). Jesus disse que
jamais haveria uma tribulação semelhante, portanto ela não
ocorreria no fim do mundo e, por fim, as referências a “esta
geração” (Mt 23.36; 24.34) indicam que Jesus localizou a
grande tribulação naquele período e não no futuro.

54
14. A RESSURREIÇÃO DE JUSTOS E
INJUSTOS

N
a segunda vinda de Cristo, os crentes serão
ressuscitados assim como os descrentes (1 Co 15).
Os crentes serão ressuscitados para a salvação,
enquanto os descrentes, para a perdição. Os crentes gozarão
de Cristo em corpo e os descrentes sofrerão longe de Cristo
em corpo. Já no AT, há declarações diretas acerca disso.
Isaías diz que “os teus mortos viverão, os seus corpos
ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó. O
teu orvalho de luz e a terra dará à luz os mortos” (Is 26.19).
O profeta Daniel também afirma a ressurreição dos crentes
e dos ímpios quando diz que “muitos dos que dormem no pó
da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para
vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2). Ezequiel também
afirma quando diz: “Vocês saberão que eu sou o Senhor,
quando eu abrir as sepulturas de vocês e os fizer sair delas,
ó povo meu. Porei em vocês o meu Espírito, e vocês viverão.
Eu os estabelecerei na sua própria terra, e vocês saberão
que eu sou o Senhor. Eu falei e eu o cumprirei, diz o Senhor”
(Ezequiel 37:13,14).

O NT afirma de maneira ainda mais clara a ressurreição.

55
Jesus responde aos saduceus, os quais não acreditavam outras pessoas que Jesus ressuscitou passaram, pois estas
na ressurreição (Mt 22.29-32; Mc 12.24-27; Lc 20. 34-38), pessoas eventualmente morreram. Essa ressurreição é com
dizendo que ela existiria. João também afirmou que “os corpo imperecível (1 Co 15.42). Ainda que não saibamos
mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que ouvirem as relações de continuidade e descontinuidade entre esse
viverão” e mais “não fiquem maravilhados com isso, porque corpo e o corpo ressurreto, é certo que alguns elementos
vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos são preservados. As cicatrizes de Jesus permaneceram
ouvirão a voz dele e sairão: os que tiverem feito o bem, para mesmo depois da ressurreição (Jo 20.27). Além disso, ele se
a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, alimentou (Lc 24.28-31). Em Apocalipse 21, povos de Deus
para a ressurreição do juízo” (João 5:28,29).O texto clássico se manifestam. Gente de todo povo, tribo, língua e nação
que trata disso é o de Paulo falando aos Coríntios: “Eis que adora ao Senhor, então características físicas e étnicas
vou lhes revelar um mistério: em todos dormiremos, mas continuam em algum nível. Ainda que 1 Coríntios 15 diga que
todos seremos transformados num momento, num abrir e a diferença desse corpo para o outro é a diferença da luz das
fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta estrelas para a luz do sol.
soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos
transformados” (1 Coríntios 15:51,52). Erickson diz que “haverá algum tipo de realidade corpórea
na ressurreição. Ela terá alguma ligação com nosso corpo
Todos os membros da Trindade estão envolvidos na original e dele se derivará, mas, ainda assim, haverá uma
ressurreição: O Pai ressuscita os crentes por meio do Espírito transformação ou metamorfose” (ERICKSON, 2015, p. 1143).
(Rm 8.11) e, porque Cristo foi ressuscitado, os crentes É dito que os ímpios também ressuscitarão, mas para a
também serão (1 Co 6.14). Essa ressurreição, tal qual a de sua condenação (Dn 12.2; Jo 5.28-29; At 24.14-15). Não
Cristo, é corpórea (Fp 3.20.21; 1 Co 15.44). A ressurreição é há nada que diga acerca de um corpo especial para ímpios.
um ponto central para a fé de tal forma que quem modifica Possivelmente, esses corpos serão como os terrenos, ainda
seu ensino é visto como herege (2 Tm 2.18). Ela também é a sujeitos à corrupção, dor e passarão a eternidade longe do
motivação para uma vida que evita a imoralidade hoje (1 Co Deus vivo.
6.13-14).

A ressurreição tratada aqui não é a mesma pela qual Lázaro e

56
15. O JUÍZO FINAL E O GRANDE
TRONO BRANCO

​​O
grande trono branco é um assunto importante para
a escatologia, mas não é muito debatido. A Bíblia
fala um pouco sobre ele e, por isso, é recomendável
falarmos a respeito, ainda que seja um tema curto, pois
é importante para nossos corações. Apesar de já termos
visto que imediatamente depois da morte os indivíduos já
vão para o céu ou para inferno, entendemos que isso é um
estado intermediário, pois todos ainda precisarão passar
pela ressurreição para ter seus corpos e adentrar o estado
definitivo. Dessa forma, o juízo final não mudará a sentença
de ninguém: quem foi salvo permanecerá assim, e quem
foi condenado permanecerá assim. Aqueles que estiverem
vivos na época do julgamento também serão julgados como
condenados ou como salvos. Portanto, o cristão não deve
temer estar diante do trono branco do Cordeiro, como é
dito em Apocalipse. Ele já tem a garantia da vida eterna. Ao
morrer, ele sabe que irá para o céu e, no julgamento, ele sabe
que sua vida eterna será efetivada. Os crentes entendem que
vão para o juízo final, diante do grande trono branco de Deus
para receber as suas recompensas, os galardões. O que se
entende é que existem níveis de perfeição no céu. Existem

57
gradações de glória que recebemos do Senhor. Agostinho haverá um dia de juízo que será feito pelo próprio Jesus (At
disse que os galardões significam Deus premiando o seu 10.42). Esse julgamento final dos ímpios é descrito como
povo pelo seus [de Deus] próprios dons. Deus vai devolver sendo o Grande Trono Branco (Ap 20.11-14). Para aqueles
em glória para cada um de nós de forma diferente de acordo que creem em um Milênio literal, esse evento ocorrerá depois
com o modo que vivemos nessa vida. O nosso julgamento dele. Para aqueles que entendem o Milênio como a atual
não é para nossa condenação. Nós não tememos o juízo de era da Igreja, esse evento ocorre quando essa era acabar.
Deus, porque Cristo terá o seu sangue derramado sobre nós. Independentemente disso, o Trono Branco é um ponto em
Por outro lado, o ímpio deve temer tal julgamento. Mesmo comum, não importa a forma como o Milênio seja entendido.
havendo uma condenação no momento da morte, nesse A descrição de João em Apocalipse nos mostra que o destino
julgamento haverá uma efetivação da condenação. A Bíblia final dos ímpios ressurretos é serem jogados no lago de
fala de um julgamento com mais rigor do que foi feito a fogo, a segunda morte, juntamente com o Diabo, a besta e
Sodoma e Gomorra (Jo 5.27-29). Paulo também fala desse o falso profeta (Ap 20.10 cf 20.14). Assim, a descrição do
julgamento quando pregou no Areópago (At 17.31), quando julgamento não é nenhum pouco boa para os descrentes.
falou com Félix (At 24.25). O autor de Hebreus também falou Há uma etapa final que é pior que o inferno, porque o inferno
disso ao abordar que o homem só tem uma vida e depois será lançado no Lago de Fogo. Além disso, vemos também
morreria (Hb 9.27). Sobre esse julgamento, é claramente que o próprio Satanás será julgado e condenado juntamente
ensinado que ocorrerá depois da segunda vinda de Cristo (Mt com seus demônios. Ele não é o senhor do inferno. Jesus é o
13.37-43; 16.27; 24.29-35; 25.31-46). O próprio Cristo será Senhor do inferno e ele condenará todos os descrentes e os
o juiz. Muitos cristãos imaginam Jesus somente como uma demônios por toda a eternidade.
figura que salva, mas ele também julgará. Alguns evocam
que “Cristo não veio para julgar o mundo, mas para salvar”
(Jo 12.47), mas isso se refere à sua primeira vinda. De fato,
ele precisava trazer juízo, pois todos já estavam condenados.
Porém, uma vez que ele veio exercer salvação, para tirar-nos
da condenação, na sua segunda vinda, porém, ele virá julgar
(Mt 25.31-33). Jesus também disse que o Pai lhe entregou
todo o julgamento (Jo 5.22,27). Paulo também disse que

58
16. O ESTADO ETERNO

​A
maneira mais comum de falar do destino dos justos
é afirmando que eles vão para o céu. Na Bíblia, tanto
no AT quanto no NT, “céu” pode ser entendido como a
dimensão física (Gn 1.1; Mt 5.18; Lc 16.17). O céu também
é visto como uma referência a Deus (Mt 21.25; Lc 15.18,
21). Existe também o uso da expressão “reino dos céus” por
Mateus de textos paralelos aos de Lucas, que usa “reino de
Deus”.

A terceira forma é usar “céu” como a habitação de Deus (Mt


5.16, 45; 6.1; 7.11; 18.14). Jesus é descrito como aquele de
veio do céu (Jo 3.13). Os anjos vêm do céu e voltam para lá
(Mt 28.2; Lc 22.43; Lc 2.15). Jesus será revelado dos céus (1
Ts 1.10; 4.16; 2 Ts 1.7). Ele também fala que o céu é a casa
de Deus e que foi para lá com o objetivo de preparar moradas
(Jo 14.2-3).

Lá é onde os crentes estarão com o Senhor para sempre (1


Ts 4.17). É para o céu que o crente deve se preparar (Mt 6.19-
20), pois lá ele tem uma herança (1 Pe 1.4-5) e esperança (Cl
1.5).

59
Na sua vinda, Jesus fará Novos Céus e Nova Terra para intermediário. O crente que morre no Senhor vai para os céus,
designar toda a dimensão criacional. A Bíblia nos diz que a no entanto ele habitará nessa Nova Terra onde Cristo reinará
criação aguarda ardentemente por sua redenção (Rm 8.19- para todo o sempre. Falamos muito que vamos morar no
21). Há uma discussão sobre como essa Nova Criação será céu, mas não estaremos lá para sempre. Moramos nos céus
feita: Se pela aniquilação da terra que há hoje e uma criação se morrermos agora em Cristo, assim como os descrentes
completamente nova sendo feita ou se pela restauração vão para o inferno se morrerem agora sem Cristo. Esse
da que hoje já existe. Preferimos concordar com Wayne inferno, porém, é o estado intermediário, pois até o inferno
Grudem quando ele diz que “é difícil imaginar que Deus será lançado no Lago de Fogo. Assim como o céu é o estado
aniquilaria totalmente sua criação original, causando assim a intermediário para os crentes que hoje estão lá e que vão
impressão de ceder ao diabo a última palavra e desfazendo- para uma nova terra habitar com Cristo. Essa nova criação
se da criação que originariamente era muito boa (Gn 1.31). não será simplesmente uma realidade espiritual, mas física.
As passagens acima que falam sobre abalar e remover a
Terra e sobre a primeira terra que passa podem referir-se A Bíblia fala que comeremos do fruto da árvore da vida (Ap
apenas à sua existência na forma atual, não à sua existência 22.2). Essa nova dimensão da vida será uma sucessão de
propriamente dita; e, mesmo 2 Pedro 3.10, que fala a respeito eventos tal qual é hoje, mas de forma totalmente glorificada.
dos elementos que se desfazem e da terra e as obras sobre Não será uma dimensão atemporal, mas uma que se
ela que são queimadas, pode não estar falando da terra como estenderá para todo sempre.
um planeta, mas sim das coisas sobre a superfície da terra
(ou seja, a maior parte da Terra e das coisas sobre a terra)”.
A ideia seria que Deus renovaria a criação. Não faria sentido É com vista a essa realidade que vivemos nossa vida
a criação atual estar ansiosa pela sua libertação se ela será de hoje. Pedro nos mostra que devemos viver como se
destruída. Portanto, a ideia parece ser de que haverá uma antecipássemos a volta de Cristo, não no sentido de
renovação da Terra dentro dessa redenção final. acelerarmos sua vida para mais cedo, mas que vivamos
na expectativa da sua volta (2 Pe 3.11-13). Nessa nova
realidade, haverá abundância ainda maior de beleza e
É para essa Nova Criação que o corpo ressurreto do crente estaremos na presença de Deus. O próprio Cristo brilhará
será preparado. A linguagem do Apocalipse é de uma “nova de forma que não precisaremos de Sol. Além disso, não
terra”. Ou seja, os céus, para onde iremos é nosso estado haverá noite. O capítulo final de Apocalipse nos faz ansiar

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ardentemente essa nova realidade.

No Antigo Testamento, quando a glória de Deus encheu o


templo, os sacerdotes não conseguiam permanecer ali e
ministrar (2Cr 5.14). No Novo Testamento, quando a glória
de Deus cercou os pastores no campo fora da cidade de
Belém, “ficaram tomados de grande temor” (Lc 2.9). Mas,
aqui na cidade celestial, seremos capazes de suportar o
poder e a santidade da presença da glória de Deus, pois
viveremos continuamente na atmosfera da glória de Deus. “A
cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem
claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a
sua lâmpada” (21.23). Esse será o cumprimento do propósito
de Deus em nos chamar “para a sua própria glória e virtude”
(2Pe 1.3): então habitaremos continuamente (com exultação,
imaculados diante da sua glória ” (Jd 24; cf. Rm 3.23; 8.18;
9.23; ICo 15.43; 2Co 3.18; 4.17; Cl 3.4; ITs 2.12; Hb 2.10; IPe
5.1, 4, 10). (GRUDEM, 2011, p. 993).

Lá veremos a face do nosso Senhor. Lá habitaremos para


sempre. Lá estarmos reunidos com todos aqueles que um
dia foram feitos irmãos através do sangue de Cristo. Lá é
nossa morada eterna e final, onde para sempre reinaremos
diante da glória do Senhor. Nós escaparemos de toda força
do pecado e eternamente seremos aquilo que em Cristo já
somos. Redimidos, santos, salvos, para sempre na presença
de Deus.

61
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
- BAVINCK, Herman. Dogmática reformada. São Paulo: - GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva.
Cultura Cristã, 2012 São Paulo: Vida Nova, 1999.

- BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura - FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática:
Cristã, 2007. uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.
- BLAISING, Craig A.; MOO, Douglas J. Three Views on
the Rapture: Pretribulation, Prewrath, or Posttribulation. - GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida
Zondervan Academic, 2018. Nova, 2011.

- CLOUSE. Robert G. (edit). Milênio: significado e - http://www.monergismo.com/textos/preterismo/


interpretações. Luz para o caminho: Campinas, 1985. introducao-preterismo_ross-taylor.pdf

- ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: - PENTECOST, Dwight. Things to come: A Study in biblical
Vida Nova, 2015. eschatology. Zondervan Academic, 1977

- FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática:


uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.

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