Você está na página 1de 40

Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

Área Departamental de Engenharia de Electrónica


e Telecomunicações e de Computadores

Mestrado em Engenharia Eletrónica e de Telecomunicações

Sistema Integrado de Redes de Emergência e


Segurança de Portugal (SIRESP)

Comunicações Móveis

Jelson Gonçalves A42384


Leonor Lobo A47587
Docente: Pedro Vieira

Semestre Inverno - Dezembro 2023


Projeto Final LEIRT

Resumo
A tecnologia Terrestrial Trunked Radio (TETRA), desenvolvida pelo ETSI
desde os anos 80, enfrentou desafios devido à popularidade do Global System
for Mobile Communications (GSM), mas emergiu como a principal tecnolo-
gia Private Mobile Radio (PMR), especialmente na segurança pública. Nos
anos 90, surge a necessidade de um sistema de comunicações móveis sem
fronteiras, resultando no crescimento significativo de projetos TETRA no
perı́odo de 2005 a 2006.
Portugal adotou o TETRA, implementando o Sistema Integrado de Redes
de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) em 2006, um serviço essen-
cial para comando, controlo e coordenação de comunicações de emergência em
todo o paı́s. Este relatório analisa a quantidade de estações base e estações
móveis, salas de despacho e a implementação progressiva em todo o ter-
ritório nacional. Apesar de ser um aliado crucial no combate aos incêndios,
o SIRESP não está isento de falhas e crı́ticas, especialmente evidenciadas
durante o incêndio em Pedrogão Grande. Este relatório aborda essas falhas,
além de destacar melhorias e inovações, como o serviço de geolocalização,
implementadas pela SIRESP S.A. Dada a base tecnológica do SIRESP no
TETRA, uma análise minuciosa desta tecnologia é essencial para compreen-
der as melhorias ao longo do tempo.

Palavras-chave: TETRA, SIRESP, segurança, emergência, European


Telecommunications Standards Institute (ETSI)

Página i
Projeto Final LEIRT

Abstract
TETRA technology, developed by ETSI since the 1980s, faced challenges
due to the popularity of GSM, but emerged as the leading PMR technology,
especially in public safety. In the 1990s, the need for a borderless mobile com-
munications system arose, resulting in significant growth in TETRA projects
in the period from 2005 to 2006.
Portugal adopted TETRA, implementing SIRESP in 2006, an essential
service for command, control and coordination of emergency communications
throughout the country. This report analyzes the number of base stations
and mobile stations, dispatch rooms and the progressive implementation th-
roughout the national territory. Despite being a crucial ally in the fight
against fires, SIRESP has its flaws and criticisms, especially highlighted du-
ring the Pedrogão Grande fire. This report addresses these shortcomings, as
well as highlighting improvements and innovations, such as the geolocation
service, implemented by SIRESP S.A. Given SIRESP’s technological basis
in TETRA, a thorough analysis of this technology is essential in order to
understand improvements over time.

Keywords: TETRA, SIRESP, security, emergency, ETSI

Página ii
Projeto Final LEIRT

Índice
Resumo i

Abstract ii

Lista de Figuras v

Lista de Tabelas vi

Lista de Abreviaturas e Acrónimos viii

1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Estrutura do relatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 História 3

3 Tecnologia TETRA 5
3.1 Arquitetura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3.2 Modos de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3.3 Interfaces . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.3.1 Air Interfaces . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.3.2 Intersystem Interface . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.3.3 Terminal Equipment Interface . . . . . . . . . . . . . . 15
3.3.4 Line Station (Dispatcher) Interface . . . . . . . . . . . 15
3.3.5 Network Management Interface . . . . . . . . . . . . . 16
3.3.6 PSTN, ISDN, PDN Interface . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 Serviços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.4.1 Serviços de Voz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.4.2 Serviços Suplementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.4.3 Serviços de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.5 ETSI standards . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4 Utilização em Situações de Emergência 20


4.1 Incêndio florestal em Pedrógão Grande . . . . . . . . . . . . . 21
4.1.1 Desempenho da rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

5 Desafios e Crı́ticas 23

Página iii
Projeto Final LEIRT

6 Atualizações e Inovações Futuras 24


6.1 SIRESP - GL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6.2 SIRESP - ST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6.3 SIRESP - Status . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6.4 Futuro do TETRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

7 Conclusões 26

A Standards Voice plus Data (V+D) 30

B Standards Direct Mode Operation (DMO) 31

Página iv
Projeto Final LEIRT

Lista de Figuras
1 Implementação faseada da rede SIRESP em Portugal. [5] . . . 4
2 Arquitetura de uma rede TETRA. [8] [9] . . . . . . . . . . . 6
3 Estrutura TETRA para voz, dados e controlo. [12] . . . . . . 8
4 Estrutura TETRA para o modo direto DMO. [12] . . . . . . 9
5 Estrutura das frames da tecnologia TETRA. [11] . . . . . . . 11
6 Rádio repetidor Motorola MTM5400 TETRA. [13] . . . . . . 13
7 Integração entre os modos Trunked Mode Operation (TMO) e
DMO por meio do equipamento terminal de rádio. [14] . . . . 14
8 Capacidade de dupla monitorização do equipamento terminal
de rádio. [14] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
9 Conetividade da rede TETRA a variadas redes. [10] . . . . . 17
10 Registos de atividade de uma estação-base SIRESP envolvidas
em incêndios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Página v
Projeto Final LEIRT

Lista de Tabelas
1 Parâmetros gerais da tecnologia Tetra. [7] . . . . . . . . . . . 10
2 Especificações do espetro usado pela tecnologia Tetra. [8] . . . 11
3 Documentos relacionados com V+D e DMO na norma TETRA.
[16] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4 Documentos relacionados com DMO na norma TETRA. [16] . 31

Página vi
Projeto Final LEIRT

Lista de Abreviaturas e Acrónimos


BSC Base Station Controller

BS Base station

CMIP Common Management Information Protocol

CTVS Comunicações Terrestres e Via Satélite

DMO Direct Mode Operation

DQPSK Differential Quadrature Phase Shift Keying

EADS European Aeronautic Defence and Space Company

ETSI European Telecommunications Standards Institute

GSM Global System for Mobile Communications

IP Internet Protocol

ISDN Integrated Services Digital Network

ISI Intersystem Interface

LS Line Station

MSC Mobile Switching Center

MS Mobile Station

NMS Network Management System

OTE Olympic Telecommunications S.A

PDO Packet Data Optimized

PAMR Public Access Mobile Radio

PDN Packet Data Network

PDS Packet data service

PMR Private Mobile Radio

Página vii
Projeto Final LEIRT

PSTN Public Switched Telephone Network

PT Portugal Telecom

RF Radiofrequency

SDS Short Data Service

SIRESP Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de


Portugal

SNMP Simple Network Management Protocol

SwMI Switching and Management Infrastructure

TDMA Time Division Multiple Access

TMO Trunked Mode Operation

TEI Terminal Equipment Interface

TETRA Terrestrial Trunked Radio

V+D Voice plus Data

VoIP Voice over Internet Protocol

Página viii
Projeto Final LEIRT

1 Introdução
A tecnologia TETRA, desenvolvida pelo ETSI, teve ı́nicio nos anos 80
como uma norma de rede móvel sem fios. Enfrentou desafios devido à popu-
laridade do GSM, mas obteve sucesso na segurança pública, tornando-se a
principal teconlogia PMR na área, proporcionando comunicação de voz fiável
e transmissão de dados digitais. Nos anos 90, surgiu a necessidade de um
”sistema de comunicações móveis sem fronteiras”. De acordo com o artigo
[1] no perı́odo de 2005 a 2006, o número de projectos TETRA ativos cres-
ceu 37%, para um total de 1076. O mercado TETRA expandiu-se para 88
paı́ses em todo o mundo, 53 dos quais fora da Europa. No entanto, a Europa
continua a dominar o mercado com 75% de todos os contratos.
Portugal foi um dos paı́ses a implementar um rede móvel de emergência e
segurança baseada em TETRA, dando origem em 2006 ao Serviço Integrado
de Redes de Emergência em Portugal. Um serviço responsável pelo comando,
controlo e coordenação de comunicações em situações de emergência em todo
o paı́s, sendo amplamente utilizado por entidades importantes como a Auto-
ridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, assim como forças de segu-
rança e militares portuguesas entre outras. Ao longo dos anos, o SIRESP tem
sido um tremendo aliado especialmente no socorro aos incêndios portugueses
que têm vindo a aumentar cada vez mais com as alterações climáticas. No
entanto, não é um sistema isento de falhas tendo sido registadas por vários
utilizadores tendo sido alvo de crı́ticas e polémicas desde a sua criação, muitas
vezes influenciadas por motivos polı́ticos.
No presente documento serão abordadas as falhas do SIRESP durante o
grande incêndio de Pedrogão Grande que devastou o Paı́s, destacando igual-
mente as melhorias e inovações implementadas pela SIRESP S.A. como o
serviço de geolocalização. Dado que o SIRESP é baseado na tecnologia
TETRA, uma análise detalhada desta tecnologia é crucial para uma com-
preensão abrangente do sistema e das suas melhorias ao longo do tempo.

1.1 Motivação
A motivação para escolher o tema do SIRESP surgiu durante a cadeira de
Comunicações Terrestres e Via Satélite (CTVS) lecionada pelo Engenheiro
António Serrador. Durante esta disciplina, despertou-se o interesse em apro-
fundar os conhecimentos na área das redes de comunicação de emergência.
O interesse por este tema nasceu da percepção da importância crucial

Página 1
Projeto Final LEIRT

das redes de comunicação em situações de emergência, abrangendo desastres


naturais, incidentes de segurança e eventos de grande escala. O incidente em
Pedrógão Grande, que foi particularmente marcante, despertou a atenção
para a necessidade de compreender melhor as comunicações de emergência.
Ao escolher este tema, pretende-se desvendar os detalhes técnicos da rede
SIRESP e compreender a tecnologia subjacente a essa infraestrutura, mas
também cultivar uma consciência sobre o papel crucial das comunicações de
emergência na preservação da segurança e bem-estar da sociedade.

1.2 Estrutura do relatório


O restante documento foi organizado segundo a seguinte estrutura:

• O Capı́tulo 2 oferece uma visão sucinta da evolução histórica do SIRESP,


destacando a sua implementação em território nacional.

• O Capı́tulo 3 fornece uma descrição detalhada da tecnologia TETRA


utilizada pelo SIRESP, abordando a arquitetura, modos de operação,
interfaces, serviços oferecidos e normas associadas.

• No Capı́tulo 4, analisa-se a aplicação da Rede SIRESP, com ênfase


especial nas situações de incêndio.

• O Capı́tulo 5 aborda os desafios e crı́ticas enfrentados pela rede.

• No Capı́tulo 6, são apresentadas melhorias e atualiazações implemen-


tadas na rede SIRESP, assim como algumas inovações futuras.

• No Capı́tulo 7, apresenta-se as conclusões da pesquisa efetuada.

No final, encontram-se dois Apêndices que contém informações técnicas


adicionais acerca das normas definidas pelo ETSI.

Página 2
Projeto Final LEIRT

2 História
A história do SIRESP começou em 1999, quando António Guterres era
primeiro-ministro. Em julho desse ano, Guterres assinou uma resolução para
estabelecer uma rede móvel de emergência e segurança baseada na tecno-
logia TETRA [3]. Em maio de 2003, cinco empresas, incluindo Siemens,
European Aeronautic Defence and Space Company (EADS), Olympic Tele-
communications S.A (OTE), Nokia e Motorola, foram convidadas a apresen-
tar propostas para o SIRESP. Apenas o consórcio Motorola/SLN/Portugal
Telecom (PT)/Esegur apresentou proposta, e em fevereiro de 2005, o contrato
foi-lhes adjudicado por Daniel Sanches, Ministro da Administração Interna
do governo de Santana Lopes [2]. No entanto, o novo ministro da Admi-
nistração Interna, António Costa, anulou a adjudicação em maio de 2005.
Em julho desse ano, as negociações foram reabertas, ocorrendo de agosto de
2005 a março de 2006. Um ano após a anulação, o contrato foi finalmente
adjudicado ao consórcio por 483 milhões de euros, com um contrato de 15
anos. Assinado a 4 julho de 2006, o contrato entrou em vigor em junho de
2006. [2] [3]
Desde 1 de Dezembro de 2019 pertence ao domı́nio integral do estado,
sendo a empresa SIRESP S.A. responsável pelo comando, controlo e coor-
denação de comunicações em todas as situações de emergência a nı́vel nacio-
nal. Para além disso, a SIRESP S.A. tem ainda a responsabilidade de planear,
gerir, manter, e modernizar a rede SIRESP, de modo a garantir o correto e
ótimo funcionamento da mesma, respondendo às necessidades operacionais
apresentadas. Deve ainda garantir a interoperabilidade entre os diferentes
orgãos/serviços de emergência, como polı́cia, bombeiros, ou serviços médicos
em situações de emergência como desastres naturais, incêndios, ou outros.
A implementação da rede SIRESP decorreu de forma faseada. O plano
estava definido para abranger o Continente e a Região Autónoma da Madeira
em 3,5 anos após a assinatura do contrato (janeiro de 2010) e a Região
Autónoma dos Açores em 7,5 anos após a assinatura do contrato (janeiro de
2014) de acordo com a Figura 1: [4]

Página 3
Projeto Final LEIRT

Figura 1: Implementação faseada da rede SIRESP em Portugal. [5]

• Fase A (Junho de 2007): Lisboa e Santarém.

• Fase B (Dezembro de 2007): Coimbra, Leiria e Portalegre.

• Fase C (Junho de 2008): Beja, Viseu, Metro de Lisboa e Évora.

• Fase D (Dezembro de 2008): Porto, Metro Porto, Setúbal, Madeira e


Aveiro.

• Fase E (Junho de 2009): Castelo Branco, Braga, Faro, Guarda e Viana


do Castelo.

• Fase F (Dezembro de 2009): Bragança, Vila Real e Viana do Castelo.

• Fase G (Dezembro de 2013): Açores.

Atualmente, a rede SIRESP encontra-se integralmente instalada, em todo


o território nacional à exceção do Metro do Porto.

Página 4
Projeto Final LEIRT

3 Tecnologia TETRA
A rede SIRESP é baseada na tecnologia TETRA (Terrestrial Trunked Ra-
dio), adotada como padrão em quase toda a Europa. A tecnologia TETRA é
uma norma de rádio móvel privada digital (PMR) desenvolvida pelo ETSI [6].
concebido para comunicações móveis crı́ticas de voz e dados em redes PMR ou
Public Access Mobile Radio (PAMR) avançadas.Neste capı́tulo serão descri-
tas as capacidades oferecidas por esta tecnologia como comunicação truncada
e direta móvel-móvel, serviços como voz (chamadas de grupo ou privadas),
dados comutados por circuitos, dados comutados por pacotes e Serviço de
Dados Curtos (Short Data Service (SDS)). As principais aplicações do sis-
tema TETRA abrangem serviços de utilidade pública, transportes públicos,
entidades de segurança pública (polı́cia, ambulância, bombeiros), bem como
outras aplicações como serviços de correio, segurança de edifı́cios, táxis e
operações militares. [7]
O TETRA destaca-se por oferecer um discurso digital nı́tido, uma vari-
edade de modos de chamada, tempos rápidos de configuração de chamadas,
roaming contı́nuo, interoperabilidade de equipamentos, flexibilidade opera-
cional e administrativa, gestão abrangente do sistema, privacidade, segu-
rança e eficiência espectral através da tecnologia Time Division Multiple Ac-
cess (TDMA). [8]

3.1 Arquitetura
A arquitetura da rede TETRA é composta por várias entidades do sistema
e interfaces. A principal entidade do sistema TETRA é a Infraestrutura de
Comutação e Gestão (Switching and Management Infrastructure (SwMI))
que engloba todos os equipamentos e subsistemas da rede TETRA, incluindo
estações base [7].
As SwMIs oferecem suporte a Estações Móveis (Mobile Station (MS)s) por
meio de interfaces aéreas (rádio) e a Estações Terrestres (Line Station (LS)s),
comumente conhecidas como dispatchers. Um centro de gestão de rede está
conectado a cada SwMI na rede para fornecer funções de administração e ma-
nutenção. Equipamentos terminais, principalmente computadores (portáteis
ou não) , podem ser conectados às estações móveis por meio de interfaces
com fio. Uma SwMI é composta por Estações Base (Base station (BS)s)
que suportam torres transceptoras de rádio, Controladores de Estação Base
(Base Station Controller (BSC)s), Centrais de Comutação Móvel (Mobile

Página 5
Projeto Final LEIRT

Switching Center (MSC)s) e um Sistema de Gestão de Rede (Network Ma-


nagement System (NMS)). A estação base reenvia informações de uma MS
para o recetor solicitado e várias BSs estão conectadas a um BSC. Alguns
BSCs estão conectados a uma MSC. Estas conexões hierárquicas e o número
de entidades conectadas variam significativamente dependendo do tamanho
da rede. A SwMI realiza a comutação e a transmissão de informações (voz,
dados) e a sinalização entre MSs e entre MSs e gateways. Uma SwMI inclui
funções de gateway para facilitar conexões com várias redes telefónicas exter-
nas ( Public Switched Telephone Network (PSTN), Integrated Services Digital
Network (ISDN), GSM, Voice over Internet Protocol (VoIP), etc.) e redes de
dados (Internet Protocol (IP)). O NMS está conectado a todas as entidades
de uma SwMI através de interfaces IP para fornecer aplicações de gestão de
rede. Uma SwMI pode ter alguns outros sistemas e servidores para fornecer
uma variedade de funções de suporte, como roaming, autenticação e gestão
de chaves [8]. Na Figura 2, é ilustrada a arquitetura de uma rede TETRA,
juntamente com os elementos mencionados anteriormente. Além disso, são
identificadas as várias interfaces utilizadas para comunicação dentro dessa
mesma arquitetura.

Figura 2: Arquitetura de uma rede TETRA. [8] [9]

As interfaces seguintes estão apresentadas na figura 2:

• (1a) Air (trunking) Interface: Utilizada entre a estação base TETRA


e os terminais do utilizador.

Página 6
Projeto Final LEIRT

• (1b) Direct Mode Interface: Utilizada para a comunicação direta nor-


malizada entre os terminais do utilizador [1] sem a participação da rede
de infraestrutura. [9]

• (2) Intersystem Interface (Intersystem Interface (ISI)): Permite a in-


terconexão de redes TETRA de diferentes fabricantes. [10]

• (3) Terminal Equipment Interface (Terminal Equipment Interface (TEI)):


Troca de dados entre uma estação móvel e um equipamento terminal.
[8]

• (4) Line Station (Dispatcher) Interface: Interface entre a infraestrutura


da rede TETRA e os dispatchers. [1]

• (5) Network Management Interface: Estabelece e mantém as comunicações


essenciais para o funcionamento do Sistema de Gestão da Rede TETRA,
conectando diretamente a estação de trabalho ao NMS. [1] [9]

• (6) PSTN, ISDN, PDN Interfaces: Facilita as ligações a uma variedade


de redes externas de telefonia e dados, tais como PSTN, ISDN e Packet
Data Network (PDN).

A rede SIRESP é constituı́da por 550 Estações de base, inclui ainda seis
comutadores de tráfego, 53 salas de despacho e 9 estações móveis, permitindo
assim a comunicação em todo o território bem como a interoperabilidade
entre os vários utilizadores quando tal se mostre necessário. [5]

3.2 Modos de operação


A tecnologia TETRA dispõe de vários modos de operação para respon-
der às diversas necessidades de comunicação. Neste contexto, iremos analisar
mais detalhadamente três modos principais: V+D, DMO e Packet Data Opti-
mized (PDO). Estas modalidades conferem flexibilidade ao sistema TETRA,
permitindo a sua adaptação a diferentes cenários e requisitos de comunicação.

• Voice plus Data V+D: Trata-se de um modo de funcionamento em que


o sistema TETRA fornece simultaneamente serviços de chamadas de
voz e de dados. O TETRA fornece três tipos de serviços de dados
no modo V+D. São eles SDS, dados em modo circuito e dados em
modo pacote. Este modo de funcionamento é o mais comummente

Página 7
Projeto Final LEIRT

utilizado nos sistemas TETRA. A estrutura do modo V+D em TETRA


é apresentada na Figura 3. [7]

Figura 3: Estrutura TETRA para voz, dados e controlo. [12]

A norma TETRA incide principalmente nas três camadas inferiores (ca-


mada fı́sica, camada de ligação de dados e camada de rede), as camadas
superiores podem ser diferentes com diferentes tipos de aplicações para
o utilizador final. Como indicado na Figura 3, O plano do utilizador
é para a voz e os dados em modo de circuito e o plano de controlo é
para os sinais de controlo, comunicações de dados por pacotes, SDS e
serviços suplementares.

• Direct Mode Operation (DMO): Neste modo de operação, as estações


móveis em TETRA comunicam diretamente, sem depender de infraes-
truturas.Neste modo, apenas estão disponı́veis chamadas de voz, SDS e
dados em modo circuito. O DMO também é suportado no modo V+D,
mantendo a mesma estrutura, mas sem o serviço de dados em pacotes
e a gestão da mobilidade como se ilustra na Figura 4.[7]

Página 8
Projeto Final LEIRT

Figura 4: Estrutura TETRA para o modo direto DMO. [12]

• Packet Date Optimized (PDO): Este modo destina-se exclusivamente


a dados de pacotes de débito mais elevado, em que é atribuı́da uma
portadora completa para comunicações de pacotes de dados. A voz
ou o SDS não são suportados neste tipo de modo de funcionamento.
Como este modo utiliza toda a portadora para a comunicação de pa-
cotes de dados, não é habitualmente utilizado na atual implementação
do TETRA porque maior prioridade é dada à comunicação vocal nos
sistemas TETRA atualmente implementados. [7]

3.3 Interfaces
Conforme ilustrado na Figura 2, a arquitetura TETRA integra diversas
interfaces aéreas e de rede padronizadas para aplicações TETRA, como será
detalhado nesta secção.

3.3.1 Air Interfaces


O TETRA especifica dois tipos de interfaces aéreas correspondentes às
duas operações fundamentais que envolvem as estações de base e as estações
móveis: TMO e DMO.

3.3.1.1 TMO- Trunked Mode Operation


No modo TMO, a interface aérea refere-se à interface de rádio entre uma

Página 9
Projeto Final LEIRT

estação de base e as estações móveis que se comunicam através dessa estação


de base.
O sistema utiliza as alocações de frequência disponı́veis através da tecno-
logia TDMA, com quatro canais de utilizador num único portador de rádio
e um espaçamento de 25 kHz entre os portadores [7]. Os parâmetros gerais
estão resumidos na Tabela 1.

Tabela 1: Parâmetros gerais da tecnologia Tetra. [7]

Parâmetros Valores
Portadora 25 KHz
Modulação π/4 DQPSK
Método de acesso TDMA (4 time slots/portadora)
Taxa de transmissão 36 Kbps
Speech coding ACELP-7.2 Kbps
870-876 e 915-921 MHz 45 MHZ

A unidade básica de recurso radio é um timeslot com duração de 14,167 ms


(85/6 ms), transmitindo informações a uma taxa de modulação de 36 kbit/s.
Isto significa que a duração do timeslot, incluindo tempos de guarda, é de
510 durações de bits. Quatro timeslots formam um frame TETRA ou TDMA
e 18 frames TDMA formam um multiframe. O 18º frame é sempre usado
para a comunicação do sinal de controlo. 60 multiframes são agrupados para
formar um hyper-frame. A Figura 5 mostra as estruturas de hyper-frame,
multiframe, frame e timeslots.

Página 10
Projeto Final LEIRT

Figura 5: Estrutura das frames da tecnologia TETRA. [11]

O TETRA é um sistema celular que requer frequências de uplink e down-


link, em que a alocação de frequências pode variar de paı́s para paı́s. Em
geral, o padrão TETRA foi desenvolvido para proporcionar um desempenho
ideal na faixa de frequência de 300 MHz a 1000 MHz [7]. No entanto, a
frequência real utilizada numa rede baseada em TETRA depende da atri-
buição de frequências para aquela região pelas autoridades reguladoras e da
disponibilidade de equipamentos que suportem essa faixa de frequência [8].
A reserva de frequências disponı́veis na tecnologia TETRA é destacada na
Tabela 2.

Tabela 2: Especificações do espetro usado pela tecnologia Tetra. [8]

Banda de frequência Espaço Duplex


350-370 MHz 10 MHz
380-400 MHz 10 MHz
410-430 MHz 10 MHz
450-470 MHz 10 MHz
806–824 e 851–869 MHz 45 MHz
870-876 e 915-921 MHz 45 MHZ

Página 11
Projeto Final LEIRT

3.3.1.2 DMO- Direct Mode Operation

No modo DMO, a interface aérea refere-se a a interface rádio entre duas


estações móveis que comunicam diretamente sem qualquer estação de base
envolvida. Este modo pode ser útil em cenários que, embora os utilizadores
estejam dentro da área de cobertura da rede, a comunicação é necessária
apenas localmente, sem exigir a utilização da rede global. Num cenário de
combate a incêndios, o modo DMO pode ser aplicado quando uma equipa de
bombeiros está a realizar operações numa área remota, afastada da infraestru-
tura da rede. Suponhamos que há uma necessidade urgente de comunicação
entre os membros da equipa para coordenar esforços, mas a cobertura da rede
TETRA é limitada naquela região especı́fica. Neste contexto, o modo DMO
permite que os bombeiros comuniquem diretamente entre si, sem depender
da infraestrutura central da rede TETRA.
O TETRA identifica os seguintes cenários para operações em modo direto:

• Back-to-Back São comunicações diretas de terminal a terminal. Este


cenário é valioso para comunicações na fronteira ou fora da área de co-
bertura, comunicações dentro da cobertura em alturas de limitação da
capacidade (por exemplo, incidentes graves) e comunicações dentro da
cobertura, se a ligação à infraestrutura não for necessária ou desejada
(atividades localizadas ou comunicações privadas)
O modo normal DMO permite 1 comunicação por portadora (ou seja,
1 por 4 timeslots, 2 utilizados + 2 livres) e o modo de eficiência de
frequência DMO permite 2 comunicações por portadora (ou seja, to-
das os 4 timeslots utilizadas, 2 timeslots utilizadas por cada chamada).
Relativamente à utilização do canal, o rádio emissor atua como ”Mas-
ter”num único canal DMO e o recetor é ”escravo”também num único
canal DMO. O timeslot 1 é utilizada como ”canal de tráfego”para a
transmissão de voz e dados pelo rádio mestre e o timeslot 3 é utilizado
para a transmissão de sinalização pelos rádios mestre, escravo e inativo.

• DM Repeater O equipamento terminal de rádio especial, denominado


repetidor DMO, permite alargar a cobertura do DMO quando ne-
cessário

Página 12
Projeto Final LEIRT

Figura 6: Rádio repetidor Motorola MTM5400 TETRA. [13]

Existem diferentes tipos de repetidores DM, cada um projetado para


atender a requisitos especı́ficos:

– Repetidor DM de portadora única (1A): Apenas suporta 1 cha-


mada por repetidor. Utiliza uma única frequência para trans-
missão (Tx) e receção (Rx) e apresenta maior eficiência do espetro.[14]
– Repetidor DM de Portadora Dupla (Tipo 1B): Apenas suporta 1
chamada por repetidor. Opera em duas frequências distintas:
DM1 para Rx e DM2 para Tx e reduz o potencial de interferência
de radiofrequência (Radiofrequency (RF)) no Modo TMO. [14]
– Repetidor DM Tipo 2: Capacidade para duas chamadas simultâneas
por repetidor. Baseia-se na estrutura padrão de 4 timeslots, em
que existem 2 timeslots alternadas por chamada em cada ligação
e opera no modo Master/Slave. Apresenta dupla portadora: 2
comunicações e opera em 2 frequências distintas (DM1 para Rx e
DM2 Tx). Requer uma plataforma RF full duplex, tornando-se
mais complexo e dispendioso em comparação com o Tipo 1. [14]

• DM Gateway
No contexto apresentado, o equipamento terminal de rádio desempe-
nha um papel crucial como uma interface versátil que conecta os modos

Página 13
Projeto Final LEIRT

TMO e DMO. Essa funcionalidade permite a comunicação bidirecio-


nal entre terminais DMO e o sistema TMO, promovendo uma inte-
gração eficiente entre esses modos distintos. O equipamento da Figura
6 também serve como gateway. Utiliza a interface aérea DMO normal
(chamada única), descrito no cenário back-to-back (1 comunicação por
portadora). A figura 7 ilustra esta dinâmica.

Figura 7: Integração entre os modos TMO e DMO por meio do equipamento


terminal de rádio. [14]

• Dual Watch O equipamento terminal de rádio pode entrar em contacto


com os mundos TMO e DMO simultaneamente. O rádio está operacio-
nal num dos modos e monitoriza simultaneamente o outro para detetar
comunicações de entrada. Em particular, a unidade de rádio enquanto
está inativa ou envolvida numa chamada no modo direto recebe cha-
madas TMO, mensagens de estado e mensagens curtas de utilizadores
TMO. O equipamento terminal de rádio tem a capacidade de operar
simultaneamente nos modos TMO e DMO. Enquanto o rádio está ativo
num dos modos, monitoriza simultaneamente o outro modo para dete-
tar comunicações de entrada. Em situações de inatividade ou durante
uma chamada no modo DMO, a unidade de rádio pode receber cha-
madas TMO, mensagens de estado e mensagens curtas de utilizadores
TMO.[14]

Página 14
Projeto Final LEIRT

Figura 8: Capacidade de dupla monitorização do equipamento terminal de


rádio. [14]

3.3.2 Intersystem Interface


Como o nome indica, esta Interface Intersistema (ISI) é utilizada para
interligar todas as SwMIs numa rede TETRA. A ISI suporta transmissões
de informação em modo circuito e em modo pacote, bem como a itinerância
transfronteiras. No que respeita aos serviços, a ISI suporta chamadas in-
dividuais, chamadas de grupo, serviços suplementares e serviços de dados,
bem como gestão da mobilidade e caracterı́sticas de segurança. Algumas das
funcionalidades de gestão da mobilidade incluem a migração, o cancelamento
do registo e a ligação/desligamento de grupos. [8]

3.3.3 Terminal Equipment Interface


A interface TEI é utilizada para trocar dados entre uma estação móvel
e um equipamento terminal. O equipamento terminal, também designado
por periférico em algumas publicações, é um dispositivo externo, como um
computador portátil que aloja uma ou mais aplicações que controlam diversos
parâmetros nas estações móveis. Para facilitar este processo, são oferecidos
vários ”serviços de acesso”nesta interface tais como pacotes de dados, dados
de circuito e serviços de dados curtos (SDS), consoante as capacidades do
equipamento terminal, bem como chamadas vocais.[8]

3.3.4 Line Station (Dispatcher) Interface


Esta interface é um componente essencial em sistemas de comunicação,
permitindo a interação centralizada entre os dispatchers e a infraestrtura
TETRA.

Página 15
Projeto Final LEIRT

O Dispatcher organiza eficazmente alarmes, controla e monitoriza efi-


cazmente os utilizadores móveis de rádio. Centraliza o tratamento de cha-
madas,mensagens curtas (SDS) e dados para utilizadores no terreno com
terminais TETRA.

3.3.5 Network Management Interface


A Interface de Gestão de Rede é responsável por administrar o sistema
completo da rede TETRA, gerindo tanto aspectos internos quanto externos
da rede.
A gestão interna da rede envolve a monitorização e controlo de uma
única rede TETRA, seja ela simples ou com múltiplos locais. Protocolos
como Simple Network Management Protocol (SNMP) e Common Manage-
ment Information Protocol (CMIP), são deixados à escolha dos fornecedores
e operadores.
Quanto à gestão externa da rede, refere-se ao controlo de várias redes
TETRA conectadas pela Inter System Interface (ISI). Um ou mais sistemas
de gestão externa desempenham um papel principal, oferecendo um conjunto
limitado de funções gerais, como configuração e gestão de falhas. Estes sis-
temas visam facilitar a interoperabilidade entre diferentes fornecedores.

3.3.6 PSTN, ISDN, PDN Interface


Como discutido brevemente na secção de arquitetura, um SwMI inclui
vários gateways para interagir com redes externas de telefonia e dados. As
redes TETRA facilitam uma vasta gama de ligações a redes externas. Uma
rede TETRA pode ser ligada, por exemplo, a redes telefónicas públicas e
privadas, a diferentes tipos de redes de dados, bem como a grandes sistemas
de comando e controlo, evidenciado na Figura 9. Todas estas redes podem
ser acedidas a partir do terminal móvel. [10]

Página 16
Projeto Final LEIRT

Figura 9: Conetividade da rede TETRA a variadas redes. [10]

3.4 Serviços
Nesta secção, serão examinados os principais serviços da tecnologia TETRA,
incluindo comunicações de voz, serviços suplementares essenciais e aplicações
de dados, desde chamadas individuais e em grupo até serviços especı́ficos,
como Short Data Service (SDS) e Packet Data Service (Packet data ser-
vice (PDS)).

3.4.1 Serviços de Voz


No âmbito dos serviços de voz, são oferecidos os seguintes recursos: [8]

• Chamadas indiduais - comunicações básicas ponto-a-ponto entre dois


utilizadores. A gestão da ligação (ou seja, estabelecimento de chama-
das, corte de chamadas, desconexão, etc.) é uma parte essencial deste
serviço. Tanto as comunicações full duplex como half duplex em modo
claro ou encriptado são suportadas.

• Chamadas em grupo - chamadas um-para-muitos (ponto-para-multiponto),


normalmente iniciadas por um utilizador para vários outros utilizado-
res do grupo. A chamada é estabelecida imediatamente sem esperar
por um aviso de receção dos outros utilizadores e é uma forma rápida e
fiável de partilhar informações entre um grupo de utilizadores. Existe
ainda outro tipo de chamadas de grupo em que a chamada só pode ser

Página 17
Projeto Final LEIRT

estabelecida se o utilizador que a efetua receber um número suficiente


de confirmações.

• Chamada Broadcast - semelhante ao serviço de chamada de grupo, ex-


ceto que a comunicação é unidirecional, apenas o utilizador que faz a
chamada pode falar e os outros só podem ouvir.

3.4.2 Serviços Suplementares


A tecnologia TETRA proporciona serviços suplementares para otimizar
as comunicações em situações crı́ticas de acordo com a seguinte lista:

• Chamada autorizada pelo dispatcher: O dispatcher verifica o pedido de


chamada antes de permitir que a chamada prossiga.

• Seleção de Área: Áreas de operação definidas para os utilizadores.

• Acesso Prioritário: Prioritização do acesso ao uplink da unidade de


rádio durante perı́odos de congestionamento.

• Chamada prioritária: O acesso aos recursos da rede pode ser priorizado.

• Entrada tardia: Os utilizadores que chegarem tarde podem juntar-se a


uma chamada em curso.

• Chamada Prioritária Preemptiva: Esta chamada tem a prioridade de


ligação ascendente mais elevada e a prioridade de acesso aos recursos
da rede mais elevada. Em caso de congestionamento, chamadas de
prioridade mais baixa podem ser abandonadas.

• Escuta discreta: A estação rádio autorizada pode monitorizar uma


comunicação sem ser identificada.

A tecnologia TETRA oferece uma ampla gama de serviços adicionais,


embora apenas alguns tenham sido destacados.

3.4.3 Serviços de Dados


Existem dois tipos diferentes de serviços de dados oferecidos:

Página 18
Projeto Final LEIRT

• Short data service (SDS): utiliza os intervalos de tempo TDMA no


canal de controlo para enviar, como o nome indica, mensagens de texto
curtas definidas pelo utilizador ou predefinidas, que podem ter 16, 32,
64 ou 2048 bits de comprimento. O serviço de dados curtos, por sua
vez, pode ser utilizado para o envio de mensagens individuais ou em
grupo. Com este serviço, a mensagem é transmitida imediatamente,
o que o torna muito valioso para aplicações de baixa latência, como a
transmissão de informações de estado e localização.

• Packet data service (PDS): Por outro lado, o PDS é utilizado para o
envio de mensagens com qualquer comprimento. Pode ser orientado
para a ligação ou sem ligação. No serviço orientado para a ligação,
estabelece-se uma conexão virtual antes de transmitir os pacotes, en-
quanto no serviço sem ligação, a transferência de dados inicia-se sem
criar uma conexão prévia entre a origem e o destino.

3.5 ETSI standards


A norma TETRA é, na prática, um conjunto de normas que abrange
diferentes aspectos tecnológicos, por exemplo, interfaces aéreas, interfaces de
rede e os seus serviços e recursos. Apresenta-se nos anexos A e B um breve
guia da numeração associada às partes especı́ficas da norma TETRA. [16]

Página 19
Projeto Final LEIRT

4 Utilização em Situações de Emergência


Como dito anteriormente, a rede SIRESP foi dimensionada de forma a
ser utilizada em situações de emergência, unificando a comunicação entre os
diferentes órgãos de forma a reduzir tempos de resposta, minimizar danos, e
restabelecer a normalidade o mais rapidamente possı́vel.
A rede SIRESP tem vindo a registar um aumento sustentado de utilizado-
res, prestando diariamente comunicações seguras a mais de 180 organismos.
A rede SIRESP suporta anualmente um número superior a 35 milhões de
chamadas de mais de 40.000 utilizadores. Entre os utilizadores destacam-se
entidades como a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Auto-
ridade de Segurança Alimentar e Económica, Autoridade Marı́tima Nacional,
Direção-Geral dos Serviços Prisionais, Estado-Maior-General das Forças Ar-
madas, Guarda Nacional Republicana, Polı́cia de Segurança Pública, Polı́cia
Judiciária, Instituto Nacional de Emergência Médica, 104 Câmaras Muni-
cipais, Banco de Portugal, Infraestruturas de Portugal e a Agência para a
Gestão Integrada de Fogos Rurais. [15]
Quanto á utilização da rede, diversos relatos de bombeiros e outros órgãos
dos serviços de emergência, dão conta de falhas na rede, reportando um
maior número de falhas nos perı́odos crı́ticos (primeiras horas do incidente),
havendo até relatos de terem sido utilizados meios alternativos para resta-
belecer a comunicação. A SIRESP S.A. nega a existência de falhas na rede,
mas reconhece que, em situações pontuais, um excesso de utilização da rede
pode conduzir à disrupção de serviços,como aconteceu no conhecido caso do
incêndio florestal de Pedrogão Grande.
Durante os incidentes na Madeira em 20 de fevereiro de 2010, algumas
estações enfrentaram interrupções na ligação ao comutador, mas ainda assim,
todas as estações conseguiram manter operações contı́nuas, mesmo com um
volume de tráfego 10 vezes superior ao normal. Durante a visita do Papa
de 11 a 14 de maio, a rede apresentou um desempenho excecional em locais
como Lisboa, Fátima e Porto, registando um número impressionante de 415
rádios afiliados por site e um site especı́fico chegando a lidar com 12,000
chamadas por dia, em comparação com a média diária de 400. Durante os
incêndios em agosto de 2010 em locais como S. Pedro do Sul, Gerês e Serra
da Estrela, a rede demonstrou uma cobertura excelente, mesmo em áreas
florestais, e o número de chamadas aumentou significativamente, chegando a
ser 15 vezes superior à média. Estes eventos destacam a resiliência e eficácia
da rede em situações desafiantes, consolidando a sua importância em cenários

Página 20
Projeto Final LEIRT

crı́ticos, como desastres naturais e eventos de grande escala, evidenciando a


capacidade de lidar com demandas intensas e manter a conectividade vital
para operações de emergência e segurança pública. [19]

4.1 Incêndio florestal em Pedrógão Grande


Deflagrou, a 17 de Junho de 2017, na região de Pedrogão Grande, aquele
que se viria a tornar num dos mais extensos e graves incêndios em ter-
ritório nacional, que duraria até ao dia 24. A utilização da rede SIRESP
era imprescindı́vel na ativação, coordenação e comunicação entre os serviços
de emergência, no entanto, de acordo com o corpo dos bombeiros, a rede
SIRESP teve diversas falhas, durante a duração do incêndio, dificultando a
comunicação entre os órgãos relevantes.

4.1.1 Desempenho da rede


De acordo com a SIRESP S.A., durante o perı́odo crı́tico (das 19:00 de
dia 17 às 09:00 de dia 18), foram efetuadas mais de 115 mil chamadas, de
1092 terminais nas 16 estações-base presentes na região, tendo sido registado
situação de saturação na rede em 8.3% das tentativas de chamadas. No que
respeita ao perı́odo total do incêndio, foram efetuadas mais de 1.1 milhões de
tentativas de chamadas, tendo sido registada situação de saturação em 15%
dessas tentativas. Danos causados pelo incêndio às infraestruturas da rede,
estiveram também na origem da disrupção de serviço e dificuldades técnicas
sentidas. [18]
O gráfico abaixo mostra os registos de atividade de estações base SIRESP
envolvidas em incêndios, e, é importante ressalvar os picos de utilização
existentes durante incêndios, que comparativamente à utilização normal da
estação-base, representa um acréscimo de cerca de cinco vezes mais tráfego.

Página 21
Projeto Final LEIRT

Figura 10: Registos de atividade de uma estação-base SIRESP envolvidas


em incêndios.

Página 22
Projeto Final LEIRT

5 Desafios e Crı́ticas
Desde a sua implementação, o SIRESP tem sido alvo de diversas crı́ticas,
desde logo pelo envolvimento do governo no mesmo, e ainda por algumas fa-
lhas ao seu desempenho em momentos crı́ticos conforme explicado no capı́tulo
6. O incêndio de Pedrogão Grande é, possivelmente, o caso mais mediático
de utilização do SIRESP, onde os relatos de utilizadores no terreno deram
conta de diversas falhas, e a explicação oferecida pela SIRESP S.A., sugere
a necessidade de otimizar a capacidade da rede. Algumas das principais
crı́ticas ao SIRESP estão relacionadas com:

• Falta de capacidade da rede

• Falta de redundância ou planos de contingência para casos de falha

• Pouca transparência a nı́vel de aplicação dos valores orçamentados para


a otimização da rede

Para além das crı́ticas acima mencionadas, outros desafios como a maxi-
mização da cobertura, modernização de equipamentos e tecnologia utilizada,
mostram-se como fatores de extrema importância no constante trabalho e in-
vestimento no melhoramento da rede que será descrito no próximo capı́tulo.

Página 23
Projeto Final LEIRT

6 Atualizações e Inovações Futuras


No âmbito do melhoramento contı́nuo, a SIRESP S.A. apresenta alguns
projetos que têm como objetivo otimizar a rede para cumprir com os requisi-
tos e necessidades dos utilizadores, assim como garantir a conformidade com
os últimos desenvolvimentos tecnológicos.

6.1 SIRESP - GL
O SIRESP - GL, cujo acrónimo significa geo-localização, foi um projeto
integralmente desenvolvido pela equipa da SIRESP S.A, que permitiu in-
troduzir na rede SIRESP a capacidade de localização de veı́culos e pessoas
possibilitando às entidades utilizadoras a gestão mais eficaz dos meios que
utilizam para cumprirem as suas missões. O SIRESP-GL permite, disponi-
biliza, em paralelo com as consolas de despacho, um conjunto de informação
geográfica para a localização de meios técnicos e humanos, garantindo deste
modo a redução do tempo de resposta, minimizando os riscos e as vulnera-
bilidades e potenciando a criação de planos de resposta eficazes às diferentes
situações do dia-a-dia. [17]

6.2 SIRESP - ST
O projeto SIRESP-ST, desenvolvido também pela equipa da SIRESP,
S.A., foi pensado para auxiliar as forças de segurança, sobretudo a GNR e
PSP, na georreferenciação de acidentes rodoviários, em particular nos aci-
dentes em que se registam vı́timas mortais e em que essa referenciação é
obrigatória. O objetivo deste projeto, é criar um processo expedito em que
os agentes possam, através de um simples toque no botão do terminal-rádio,
fazer o registo automático do local do acidente na base de dados da Autori-
dade Nacional de Segurança Rodoviária [17]

6.3 SIRESP - Status


O projeto SIRESP Status tem como objetivo auxiliar as forças de segu-
rança, inicialmente o INEM, na visualização do estado operacional dos seus
meios. Através de um pressionar simples de um botão do terminal rádio, os
estados previamente guardados neste são transmitidos para as consolas de
despacho e são enviados para as aplicações da entidade. A integração com o

Página 24
Projeto Final LEIRT

SIRESP-GL permite graficamente visualizar em que estado operacional está


o meio. [17]

6.4 Futuro do TETRA


A evolução contı́nua da tecnologia, particularmente com a introdução das
tecnologias 4G/5G, levanta a questão da durabilidade da TETRA como a tec-
nologia de referência para comunicações crı́ticas. Simultaneamente, desafia
a tecnologiaTETRA a ajustar-se aos requisitos operacionais em constante
mudança.
Alguns dos principais projetos para o futuro do TETRA são, a virtua-
lização dos seus equipamentos de rede, algo que permite a redução de custos
associados à aquisição de hardware, e aumentando ainda a disponibilidade da
rede uma vez que os serviços de nuvem oferecem grandes nı́veis de disponibi-
lidade. Outra melhoria será a transição para redes broadband. Exigirá uma
evolução gradual, pois não é viável desativar imediatamente o TETRA e mi-
grar para a broadband. Ambos coexistirão enquanto novos procedimentos fo-
rem desenvolvidos e aceites. O padrão TETRA, inicialmente para comutação
de circuitos, foi implementado em servidores virtualizados. A transição exi-
girá pelo menos três anos de sobreposição, sendo cuidadosamente planeada
e executada. [20]

Página 25
Projeto Final LEIRT

7 Conclusões
Ao concluir este projeto, conseguimos alcançar com êxito o objetivo ini-
cialmente definido de nos familiarizarmos com a rede SIRESP e algumas
das técnicas utilizadas na sua implementação, nomeadamente a arquitetura
TETRA.
Foram exploradas as complexidades do sistema, realçando a importância
da rede SIRESP para serviços de emergência e segurança, assim como os de-
safios associados. Ao analisar a estrutura da rede, assim como a sua resposta
em momentos crı́ticos, percebe-se a necessidade contı́nua de adaptação e oti-
mização para garantir uma resposta mais eficaz em situações crı́ticas. Isto
ressalta a importância de investimento contı́nuo e atualizações na infraestru-
tura do SIRESP para manter sua relevância e eficácia no apoio às operações
de socorro e segurança em Portugal.
Foram ainda identificadas alguns projetos inovadores com o objetivo de
manter a rede atualizada no que respeita aos avanços tecnológicos, tais como
implementação de geolocalização, ou a virtualização dos serviços TETRA e
a importância da Critical Broadband em missões crı́ticas e emergências. A
análise do roadmap da TCCA enfatizou a necessidade de pelo menos três
anos de sobreposição durante a transição. O estudo identificou desafios,
como a integração cuidadosa de novos procedimentos, enquanto destacava
as oportunidades para aprimorar a eficácia e fiabilidade das comunicações
de emergência, sublinhando a importância de investimentos contı́nuos na
infraestrutura do sistema.

Página 26
Projeto Final LEIRT

Referências
[1] M. Mikulic, B. Modlic, ”General system architecture of TETRA
network for public safety services”,
https://ieeexplore.ieee.org/document/4747472

[2] A. Machado, ”SIRESP: O contrato de todos”,


https://www.jornaldenegocios.pt/weekend/detalhe/siresp-o-
contrato-de-todos

[3] P.Pena, ”SIRESP, a história de uma parceria público-privada que


custou mais do que parece merecer.”,
https://www.publico.pt/2017/06/22/politica/noticia/siresp-
a-historia-de-uma-parceria-publica-privada-de-
transparencia-1776439

[4] P. Vitor, ”Rede SIRESP – Tecnologia de emergência e segurança do


futuro.”, https://www.bombeiros.pt/wp-
content/uploads/2013/07/SIRESP.pdf3

[5] SIRESP S.A, ”Caracterı́sticas da Rede”,


https://www.siresp.pt/rede-siresp/caracteristicas-da-rede/

[6] ETSI , www.etsi.org

[7] Kiros Weldemichael,”Integrating TETRA with Wireless Mesh


Networks.”, https://www.researchgate.net/publication/
45665645_Integrating_TETRA_with_Wireless_Mesh_Networks

[8] Mehmet Ulema, ”Terrestrial Trunked Radio (Tetra)”,


https://ieeexplore.ieee.org/document/8591934

[9] Petar Jovanoski,Sladan M. Svrzić, ”Description of the TETRA 1


technology and standard for modern digital trunking systems of
functional mobile radio communications.”, https://www.redalyc.
org/journal/6617/661771135009/661771135009.pdf

[10] Et industries,”Introduction to TETRA Technology”,


https://www.qsl.net/kb9mwr/projects/dv/tetra/tetra.pdf

Página 27
Projeto Final LEIRT

[11] ”Tutorial on TETRA Radio System Basics”,


https://www.rfwireless-world.com/Tutorials/TETRA-radio-
system.html

[12] Dr. M. Nouri,”TETRA ARCHITECTURE AND INTERFACES ”,


https://www.qsl.net/kb9mwr/projects/dv/tetra/Tetra%
20Architecture%20And%20Interfaces.pdf

[13] Rádio Motorola MTM5400 TETRA,


https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%
2Ftouchfire.pt%2Floja-online%2Fmtm5400-tetra-mobile-
radio%2F&psig=AOvVaw3PvfPbIfVco6k9ufhvymlC&ust=
1702331070482000&source=images&cd=vfe&opi=89978449&ved=
0CBQQjhxqFwoTCJi4iM7rhYMDFQAAAAAdAAAAABAZ

[14] Francesco Pasquali,”The power of TETRA - Direct Mode Operation”,


https://tetraforum.pl/wp-content/uploads/2010/11/The_power_
of_TETRA-Direct_Mode_Operation-
Selex_Communications_Francesco_Pasquali.ppt

[15] SIRESP S.A. ,”Utilizadores”,


https://www.siresp.pt/sobre-nos/utilizadores/

[16] ”ETSI Standards”, https://tcca.info/tetra/for-tetra-


specialist/etsi-standards/

[17] SIRESP S.A, ”Projetos”,


https://www.siresp.pt/rede-siresp/projetos/

[18] Jornal de Negócios, ”O que aconteceu com a rede SIRESP no incêndio


de Pedrógão?”, https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/
telecomunicacoes/detalhe/o-que-aconteceu-com-a-rede-
siresp-no-incendio-de-pedrogao

[19] Pedro Vı́tor,”SIRESP - Experiência de 10 anos e o futuro em


perspetiva”, https:
//www.anacom.pt/streaming/SIRESP_ApresentacaoURSI2016.pdf?
contentId=1400776&field=ATTACHED_FILE

Página 28
Projeto Final LEIRT

[20] TCCA, ”Evolution & Challenges for TETRA”,


https://tcca.info/tetra/tetra-in-future/evolution-
challenges-for-tetra/

Página 29
Projeto Final LEIRT

A Standards V+D

Tabela 3: Documentos relacionados com V+D e DMO na norma TETRA.


[16]

ETS standard Voice plus Data


300 392-1 General Design
300 392-2 Air Interface (AI)
300 392-3 Inter System Interface (ISI)
300 392-4 Gateways (PSTN and ISDN)
300 392-5 Peripheral Equipment Interface (PEI)
300 392-7 Security
300 392-9 Supplementary Services – General Design
300 392-10 Supplementary Services (SS) Stage 1
300 392-11 Supplementary Services (SS) Stage 2
300 392-12 Supplementary Services (SS) SS Stage 3
100 392-15 Frequency bands, duplex spacing
100 392-16 Network Performance Metrics
100 392-18 Location Information protocol (LIP)
300 394-x Conformance Testing
300 395-x Speech Codec
100 812 Subscriber Identity Module (SIM)
200 812 Subscriber Identity Module (SIM)
300 812 Subscriber Identity Module (SIM)

Página 30
Projeto Final LEIRT

B Standards DMO

Tabela 4: Documentos relacionados com DMO na norma TETRA. [16]

ETS standard Direct Mode (DMO)


300 396-1 General Network design
300 396-2 Radio Aspects
300 396-3 MS-MS Radio Air Interface
300 396-4 Type 1 Repeater Air Interface
300 396-5 Gateway Air Interface
300 396-6 Security
300 396-7 Type 2 Repeater Air Interface
300 396-10 Managed Direct Mode (MDMO)

Página 31

Você também pode gostar