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O REGIME DO SUPRIMENTO DOS ERROS E OMISSÕES SOB A PERSPETIVA

DA EVENTUAL RESPONSABILIZAÇÃO DOS PROJETISTAS

Solicitado pelo consórcio Ayesa-Quadrante que está a realizar o Projeto para a


Linha “Rubi” do Metro do Porto

Rui Andrade 1

Advogado

Junho de 2023

_____________________________
CONSULTA

Tendo por base que o Consórcio se encontra a desenvolver o projeto e a prestar


apoio na fase procedimental ao METRO DO PORTO, nomeadamente na
elaboração das respostas às reclamações de erros e omissões.

Considerando o atual regime de suprimento de erros e omissões, que estabelece


regras de responsabilização dos projetistas por incumprimento das obrigações de
conceção no desenvolvimento do projeto de execução e das restantes peças do
procedimento, em que se incluem as condições técnicas do caderno de encargos.

O Consórcio solicitou o esclarecimento do regime do suprimento dos erros e


omissões sob a perspectiva da eventual responsabilização dos projetistas, 2

formulando, nomeadamente, as seguintes questões:

1. Responsabilidades e riscos para a AYQ nestes processos de Erros e


Omissões (E&O);

2. Se devemos procurar, dentro do defensável e razoável, contestar


negativamente todos os pedidos.

3. Se nesta primeira fase de E&O os riscos são diferentes dos da segunda fase
de E&O (obra).

4. Tempos de resposta.
Tomando em conta os elementos que nos foram fornecidos, estamos em
condições de emitir o esclarecimento solicitado, que será sintético em razão do
prazo em que nos foi pedido.

I – ANTECEDENTES ........................................................................................................ 4
A. A LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
(“CCP”) ...................................................................................................................................... 4
B. A EVOLUÇÃO DA MATÉRIA NO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS ......... 4
II. QUADRO LEGAL ATUAL ...................................................................................... 10
A. A REDAÇÃO ATUAL DAS DISPOSIÇÕES RELEVANTES...................................... 10
B. O CONCEITO DE ERRO OU OMISSÃO ................................................................................. 15
NO CASO DE A CONCEÇÃO CABER AO EMPREITEIRO .......................................................................... 16
NO CASO DE A CONCEÇÃO CABER AO DONO DA OBRA....................................................... 17
Os erros e omissões cuja deteção é exigível na fase de formação do contrato, 3
que devem ser identificados no primeiro terço do prazo fixado para a
apresentação das propostas -........................................................................................ 21
Os erros e omissões cuja deteção é exigível aquando da consignação total ou
da primeira consignação parcial, com um prazo de 60 dias para o empreiteiro
deles reclamar – ................................................................................................................ 22
os erros e omissões cuja deteção é apenas exigível durante a execução da
obra, os quais devem ser reclamados no prazo de 30 dias - ................................. 23
Potenciais linhas de defesa do projetista.................................................................... 23
O limite de responsabilidade do projetista salvo negligência grosseira ou dolo
............................................................................................................................................... 26
C) CONCLUSÕES .......................................................................................................... 27
I – ANTECEDENTES

A. A LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS


(“CCP”)

1. Antes da publicação em 2008 do Código dos Contratos Públicos, o Dono


da Obra era responsabilizado pelos erros e omissões do projeto da sua
autoria, que fossem detetados nos 66 dias ou no que fosse estabelecido no
caderno de encargos não inferior a 15 dias, após a consignação pelo
empreiteiro ou, quando não fosse exigível antes a sua deteção, nos 11 dias
após isso ocorrer, já na fase de execução

2. Nesse caso, não estava prevista a possibilidade de responsabilização de


4
terceiros (projetistas) por esses erros.

B. A EVOLUÇÃO DA MATÉRIA NO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS

3. O CCP veio introduzir profundas alterações ao regime vigente,


consagrando uma corresponsabilização, sucessivamente, do empreiteiro,
assente no incumprimento de obrigações de cooperação, de informação e
de deteção de erros e omissões de projeto e, posteriormente, do projetista,
perante ambos, por eventuais incumprimentos ou cumprimento defeituosos
das obrigações de conceção.

4. Assim, vigora uma dita flexibilidade na possibilidade de modificação das


peças do procedimento já aprovadas, restringindo o anterior alcance do
princípio da estabilidade das peças procedimentais.

5. Essa flexibilidade justifica-se em razão da função central que é atribuída às


peças do procedimento, e sobretudo, ao caderno de encargos.

Ora se as peças condicionam definitivamente o objeto e a estrutura


contratual e, em especial, se o conteúdo do contrato corresponde
rigorosamente ao conteúdo do caderno de encargos previamente
aprovado, então urge a identificação de quaisquer erros, omissões ou
incongruências nas peças aprovadas, sob pena de também o futuro
contrato ficar contaminado por essas mesmas deficiências.

E por assim ser, a lei de 2008 julgou que, para a expurgação de todos os
erros iniciais das peças do procedimento, não seria suficiente a iniciativa da 5

entidade adjudicante e passou a requerer que também os particulares


interessados em contratar fossem chamados a colaborar com o dono do
procedimento, tomando, eles próprios, a iniciativa de identificar os erros e
omissões que detetem no caderno de encargos e de alertar a entidade
adjudicante para a sua existência.

6. Identificados os erros e omissões pelos interessados, a entidade


adjudicante aceita e corrige-os antes do termo do prazo de apresentação
das propostas.

Embora o caderno de encargos tenha sido viciado por uma deficiência, que
se assinalará, o objetivo prosseguido é a identificação e deteção dos erros
e omissões, a tempo de não contaminar as propostas e, em consequência,
de não contaminar o clausulado contratual final.

7. Quando os interessados não detetam os erros e omissões ou quando, a


entidade adjudicante detetando-os, não os aceita: em virtude da
qualificação do caderno de encargos como projeto de contrato (n.º 1 do
artigo 42º) e da sua integração nos documentos contratuais (n.º 3 do artigo
95º e alínea c) do n.º 2 do artigo 96º), as deficiências não corrigidas que
hajam sido reclamadas e se venham a confirmar posteriormente e aquelas
que só sejam detetadas posteriormente, acabarão por ter impacto no objeto
contratual.

8. Com a solução adotada no CCP, o Legislador pretendeu criar estímulos aos


interessados persuadindo-os a colaborar com a entidade adjudicante na
6
deteção desses erros e omissões, de forma a evitar a contaminação dos
contratos com as deficiências presentes nos cadernos de encargos.

9. Assim, na versão inicial de 2008, mais especificamente nos n.ºs 3 a 5 do


artigo 378º do CCP, o legislador determinou a repartição da
responsabilidade pelo custo dos trabalhos de suprimento de erros e
omissões na fase de execução do contrato, quando estes se viessem a
revelar efetivamente necessários.

Se os interessados em contratar (independentemente der o próprio


adjudicatário ou qualquer outro interessado) tivessem detetado
expressamente um erro ou omissão e a entidade adjudicante o não tivesse
aceitado, então o adjudicatário estaria isento de suportar quaisquer custos
com o suprimento desse erro ou omissão; tais custos impenderiam
exclusivamente sobre a entidade adjudicante (segunda parte do n.º 3 do
artigo 378º, na versão de 2008);

Se, pelo contrário, tal erro ou omissão, confirmado na execução do


contrato, não tivesse sido identificado por qualquer interessados na fase
pré-contratual, a responsabilidade pelo custo do seu suprimento seria
repartida a 50% pela entidade adjudicante e pelo adjudicatário (primeira
parte do n.º 3 e n.º 5 do artigo 378º): Isto porque, a lei considerava que
ambas as partes deveriam ser responsabilizadas, já que a entidade
adjudicante tinha a responsabilidade originária de ter aprovado uma peça
procedimental deficiente, enquanto o adjudicatário tinha a responsabilidade
de não ter detetado tal deficiência em tempo útil, o que justificaria essa
repartição de custos;

Além disso, nesse caso em que o adjudicatário era responsável por não ter
identificado atempadamente o erro ou omissão, a lei, no n.º 2 do artigo 377º,
não lhe reconhecia o direito ao preço, nem a obter a prorrogação do prazo
de execução do contrato.

Excetuava da obrigação de identificação dos erros e omissões na fase pré-


contratual aqueles que os interessados, à luz do disposto no n.º 2 do artigo
61º da versão original do CCP, aqueles que, “atuando com a diligência
objetivamente exigível em face das circunstâncias concretas, apenas
pudessem detetar na fase de execução do contrato”.
Pelo que, antes de se concluir que o adjudicatário seria responsável por
50% do custo de suprimento dos erros e omissões que não tivessem sido
previamente identificados (n.º 3 e n.º 5 do artigo 378º), seria necessário
proceder a uma avaliação da suscetibilidade de tais erros e omissões terem
sido detetados durante o prazo de apresentação das propostas.

Em síntese, resultava do quadro saído da versão original do CCP que:

 No que diz respeito a erros e omissões cuja deteção fosse exigível na fase
de formação do contrato e não tivesse sido realizada, a entidade
adjudicante e o adjudicatário repartiriam os custos das prestações
necessárias ao seu suprimento (n.º 3 e n.º 5 do artigo 378º);

 Quanto a erros e omissões cuja deteção não tivesse sido exigível na fase
de formação do contrato, o adjudicatário não poderia ser responsabilizado
pela sua não deteção, pelo que a entidade adjudicante ficaria integralmente
responsável pelos custos das prestações necessárias ao seu suprimento
(n.º 2 do artigo 61º e n.º 3 do artigo 378º);

 Somente seriam excecionados os erros e omissões que o adjudicatário


continuasse a não identificar perante a entidade adjudicante, já na fase de
execução do contrato, por um período superior a 30 dias desde o momento
em que deles devesse ter tido conhecimento: o adjudicatário seria
integralmente responsável por todos os custos do suprimento desse erro
ou omissão, não havendo lugar a qualquer repartição de responsabilidade
(n.º 4 do artigo 378º).
10. Nas revisões do CCP de 2015 e 2017 manteve-se a solução inicial e, salvo
algumas correções terminológicas (a mais relevante foi a de ter adotado o
termo de “trabalhos complementares” para englobar os vulgarmente
chamados “trabalhos a mais” e os “trabalhos para suprimento de erros e
omissões”, preservou-se o regime de repartição de responsabilidades no
suprimento de erros e omissões, mantendo, nos exatos termos o estipulado
no artigo 378º do CCP.

11. Sucede, porém, que, ao concluir-se a redação do artigo 50º, inscreveu-se


no n.º 4 uma remissão para as disposições do artigo 378º.

E, finalizada essa redação, surge uma proposta de alteração do artigo 378º


9
que conferiu ao empreiteiro um prazo adicional de 60 dias após a
consignação para apresentar reclamações sobre erros e omissões do
projeto.

Porém, ao se conceder este novo prazo não se deu conta de que constava
do projeto legislativo preparado para o artigo 50º, uma remissão, no seu n.º
4, determinando que a negligência dos interessados na fase pré-contratual
teria como consequências aquelas que fossem previstas nos n.ºs 4 e 5 do
artigo 378º.

Assim, da conjugação do n.º 3 do artigo 50º e do n.º 3 do artigo 378º


resultava, na prática, que: a negligência dos interessados na deteção de
erros e omissões na fase pré-contratual tem como consequência a
atribuição ao adjudicatário de um novo prazo de 60 dias após a consignação
da obra para identificar, sem qualquer resultado negativo para si, todos os
erros e omissões que já poderia ter detetado naquela fase pré-contratual e
não detetou.

Assim, só após ter perdido esse (segundo) prazo pode o adjudicatário ser
responsabilizado “por suportar metade do valor dos trabalhos
complementares e de suprimento desses erros e omissões”, nos termos da
parte final do n.º 3 do artigo 378º; ou adicionalmente, dos trabalhos de
suprimento daqueles erros ou omissões que não sejam sequer
identificados, na fase de execução do contrato, no prazo de 30 dias a contar
da data em que lhe fosse exigível a sua deteção (n.º 4 do artigo 378º).

10
II. QUADRO LEGAL ATUAL

A. A REDAÇÃO ATUAL DAS DISPOSIÇÕES RELEVANTES

12. O regime da responsabilidade por trabalhos complementares destinados


ao suprimento de erros e omissões foi também alterado pela Lei n.º
30/2021, de 21 de maio.

13. Assim, os artigos 50º e 378º passaram a ter a seguinte redação, que ainda
hoje se mantém em vigor:

Artigo 50ª – Esclarecimentos, retificação e alteração das peças


procedimentais
1 - No primeiro terço do prazo fixado para a apresentação das propostas,
os interessados podem solicitar os esclarecimentos necessários à boa
compreensão e interpretação das peças do procedimento e, no mesmo
prazo, devem apresentar uma lista na qual identifiquem, expressa e
inequivocamente, os erros e as omissões das peças do procedimento por
si detetados.

2 - Para efeitos do presente Código consideram-se erros e omissões das


peças do procedimento os que digam respeito a:

a) Aspetos ou dados que se revelem desconformes com a realidade;


b) Espécie ou quantidade de prestações estritamente necessárias à integral
execução do objeto do contrato a celebrar;

c) Condições técnicas de execução do objeto do contrato a celebrar que o


11
interessado não considere exequíveis;

d) Erros e omissões do projeto de execução que não se incluam nas alíneas


anteriores.

3 - A lista a apresentar ao órgão competente para a decisão de contratar


deve identificar, expressa e inequivocamente, os erros ou omissões
detetados, com exceção dos referidos na alínea d) do número anterior e
daqueles que por eles apenas pudessem ser detetados na fase de
execução do contrato, atuando com a diligência objetivamente exigível em
face das circunstâncias concretas.

4 - O incumprimento do dever de identificar erros e omissões a que se


referem os números anteriores tem a consequência prevista no n.º 3 do
artigo 378.º.
5 - Até ao termo do segundo terço do prazo fixado para a apresentação das
propostas, ou até ao prazo fixado no convite ou no programa de concurso:
a) O órgão competente para a decisão de contratar, ou o órgão para o efeito
indicado nas peças do procedimento, deve prestar os esclarecimentos
solicitados;
b) O órgão competente para a decisão de contratar pronuncia-se sobre os
erros e as omissões identificados pelos interessados, considerando-se
rejeitados todos os que, até ao final daquele prazo, não sejam por ele
expressamente aceites.

6 - O órgão competente para a decisão de contratar deve identificar os


termos do suprimento de cada um dos erros ou das omissões aceites nos
termos do disposto na alínea b) do número anterior. 12

7 - Independentemente do disposto nos números anteriores, o órgão


competente para a decisão de contratar pode, oficiosamente, proceder à
retificação de erros ou omissões das peças do procedimento, bem como
prestar esclarecimentos, no mesmo prazo referido no n.º 5, ou até ao final
do prazo de entrega de candidaturas ou propostas, devendo, neste caso,
atender-se ao disposto no artigo 64.º.

8 - Os esclarecimentos, as retificações e as listas com a identificação dos


erros e omissões detetados pelos interessados devem ser disponibilizados
na plataforma eletrónica utilizada pela entidade adjudicante e juntos às
peças do procedimento que se encontrem patentes para consulta, devendo
todos os interessados que as tenham obtido ser imediatamente notificados
desse facto.

9 - Os esclarecimentos e as retificações fazem parte integrante das peças


do procedimento a que dizem respeito e prevalecem sobre estas em caso
de divergência.

Art. 378º - Trabalhos Complementares

“1 - O dono da obra é responsável pelo pagamento dos trabalhos


complementares cuja execução ordene ao empreiteiro.

2 - Quando o empreiteiro tenha a obrigação de elaborar o projeto de


execução, é o mesmo responsável pelos trabalhos complementares que 13

tenham por finalidade o suprimento dos respetivos erros e omissões, exceto


quando estes sejam induzidos pelos elementos elaborados ou
disponibilizados pelo dono da obra.

3 - O empreiteiro suporta metade do valor dos trabalhos complementares


de suprimento de erros e omissões cuja deteção era exigível na fase de
formação do contrato, nos termos do artigo 50.º, exceto pelos que hajam
sido nessa fase identificados pelos interessados, mas não tenham sido
expressamente aceites pelo dono da obra.

4 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o empreiteiro deve, no


prazo de 60 dias contados da data da consignação total ou da primeira
consignação parcial, reclamar sobre a existência de erros ou omissões só
detetáveis nesse momento, sob pena de ser responsável por suportar
metade do valor dos trabalhos complementares de suprimento desses
erros e omissões.

5 - O empreiteiro suporta ainda metade do valor dos trabalhos


complementares de suprimento de erros e omissões que, não sendo
exigível que tivessem sido detetados nem na fase de formação do contrato
nem no prazo a que se refere o número anterior, também não tenham sido
por ele identificados no prazo de 30 dias a contar da data em que lhe fosse
exigível a sua deteção.

6 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, caso os erros ou


omissões decorram do incumprimento de obrigações de conceção
14
assumidas por terceiros perante o dono da obra:

a) Deve o dono da obra exercer obrigatoriamente o direito que lhe assista


de ser indemnizado por parte destes terceiros;

b) Fica o empreiteiro sub-rogado no direito de indemnização que assiste ao


dono da obra perante esses terceiros até ao limite do montante que deva
ser por si suportado em virtude do disposto nos n.os 3, 4 e 5.

7 - No caso previsto no número anterior, a responsabilidade dos terceiros


perante o dono da obra ou o empreiteiro, quando fundada em título
contratual, é limitada ao triplo dos honorários a que tenham direito ao abrigo
do respetivo contrato, salvo se a responsabilidade em causa tiver resultado
de dolo ou de negligência grosseira no cumprimento das suas obrigações.”

B. O CONCEITO DE ERRO OU OMISSÃO

14. Um erro é uma falsa representação da realidade.

15. Uma omissão é um trabalho indispensável à execução da empreitada, mas


que não consta do projeto ou não consta, para efeitos de remuneração do
empreiteiro, no mapa de medições.

16. Na legislação anterior à entrada em vigor do CCP, distinguiam-se:


15

 os erros e omissões de natureza qualitativa, que correspondiam


àqueles “relativos à natureza ou volume dos trabalhos, por se
verificarem diferenças entre as condições locais existentes e as
previstas ou entre os dados em que o projecto se baseia e a
realidade”

 os erros e omissões de natureza quantitativa, que correspondiam


aos “ erros de cálculo, erros materiais e outros erros ou omissões
das folhas de medições discriminadas e referenciadas e respectivos
mapas-resumo de quantidades de trabalhos, por se verificarem
divergências entre estas e o que resulta das restantes peças do
projecto”.

17. No CCP, enquadram-se no conceito de erros e omissões – cfr. o disposto


no art. 50º/2:

“a) Aspetos ou dados que se revelem desconformes com a realidade;


b) Espécie ou quantidade de prestações estritamente necessárias à integral
execução do objeto do contrato a celebrar;

c) Condições técnicas de execução do objeto do contrato a celebrar que o


interessado não considere exequíveis;

d) Erros e omissões do projeto de execução que não se incluam nas alíneas


anteriores.

C. A REPARTIÇÃO DE RESPONSABILIDADES ENTRE O DONO DA OBRA


E O EMPREITEIRO

16

NO CASO DE A CONCEÇÃO CABER AO EMPREITEIRO

18. No caso de a responsabilidade do projeto caber ao empreiteiro, regime que


durante algum tempo constituiu um regime excecional, entretanto, mais
aberto, o nº 2 do art. 378º do CCP estabelece que aquele “é (…)
responsável pelos trabalhos complementares que tenham por finalidade o
suprimento dos respetivos erros e omissões, exceto quando estes sejam
induzidos pelos elementos elaborados ou disponibilizados pelo dono da
obra”.

19. Nesta hipótese não está prevista expressamente qualquer possibilidade de


responsabilização do projetista.
NO CASO DE A CONCEÇÃO CABER AO DONO DA OBRA

20. Com as alterações introduzidas em 2021, os nºs 3 a 5 do artigo 378.º


passam a consagrar três categorias de erros e omissões, por referência ao
momento em que é exigível ao empreiteiro a sua deteção, a saber:

(i) os erros e omissões cuja deteção é exigível na fase de formação do


contrato, que devem ser identificados no primeiro terço do prazo fixado
para a apresentação das propostas;

(ii) os erros e omissões cuja deteção é exigível aquando da consignação


total ou da primeira consignação parcial, com um prazo de 60 dias para
o empreiteiro deles reclamar; e
17
(iii) os erros e omissões cuja deteção é apenas exigível durante a execução
da obra, os quais devem ser reclamados no prazo de 30 dias.

21. Apesar da formulação constante do n.º 4 ("só detetáveis"), os n.ºs 3 e 5 do


artigo 378.º esclarecem que o critério é o do momento a partir do qual é
exigível ao empreiteiro a deteção do erro e omissão e não o do momento
em que se mostra possível a sua deteção.

22. Na verdade, ainda que seja possível detetar um determinado erro na fase
de formação do contrato, uma coisa é o grau de exigência que recai sobre
um interessado, em que a obra é uma mera possibilidade a que concorre,
dispondo de um prazo muito reduzido para estudar o projeto e apresentar
uma lista de erros e omissões, outra bem diferente é o estudo, preparação
e planeamento exigível a um empreiteiro que, por ser o adjudicatário e ter
celebrado o contrato de empreitada, sabe que irá realizar a obra e até já
teve acesso aos prédios em que os trabalhos devem ser executados.

23. A outra grande novidade desta alteração ao regime da responsabilidade por


trabalhos complementares destinados ao suprimento de erros e omissões
é o da limitação da responsabilidade do empreiteiro a metade do valor dos
trabalhos, independentemente do momento em que Ihe era exigível a sua
deteção e em que a reclamação é realizada.

O empreiteiro deixa, assim, de suportar a totalidade do valor dos trabalhos


de suprimento de erros e omissões, cuja deteção apenas Ihe era exigível
durante a execução da obra, quando dos mesmos não tenha reclamado no
prazo de 30 dias. 18

Ora, esta solução fará com que o empreiteiro possa reclamar de erros e
omissões muito para além do momento em que, em sede de execução da
obra, lhe era exigível a sua deteção e até muito depois de se ter concluído
o trabalho necessário ao seu suprimento, tendo sempre direito a receber
metade do respetivo valor.

24. Este regime poderá ser aplicável a obras já em curso.

25. É que a alínea b) do n.º 2 do artigo 27º da Lei nº 30/2021 prevê que as
alterações à parte III do CCP relativas à modificação de contratos e
respetivas consequências se aplicam a contratos que se encontrem em
execução à data da entrada em vigor deste diploma, desde que o
fundamento da modificação decorra de facto ocorrido após essa data.

Perante as já descritas novidades em matéria de trabalhos


complementares, que poderão permitir a execução de trabalhos que, de
acordo com a anterior redação do artigo 370º do CCP, estariam vedados,
ou, pelo menos, pagamento de uma parte do preço de trabalhos que, de
outra forma, não seriam pagos ao empreiteiro, não é difícil de imaginar a
discussão (e os potenciais litígios) acerca do momento da ocorrência do
facto que fundamenta a modificação. Em particular, no que respeita aos
trabalhos necessários ao suprimento de erros e omissões do caderno de
encargos, será certamente discutido se esse momento é o da elaboração
do projeto que contém o erro ou omissão que se pretende suprir, ou o da
reclamação pelo empreiteiro, sobretudo no caso daqueles erros e omissões
19
cuja deteção é apenas exigível durante a execução da obra (posição para
a qual propendemos). A insegurança suscitada por esta norma
aconselharia, pois, que o legislador tivesse consagrado um regime de
aplicação no tempo mais prudente, semelhante ao previsto em 2017, de
acordo com o qual os contratos em execução à data da entrada em vigor
da Lei n.º 30/2021 continuariam a ser disciplinados pela anterior redação
do CCP.

26. Perante isto, a distribuição de responsabilidades entre o dono da obra e o


empreiteiro é a seguinte:
CCP Natureza Prazo Dono da Obra Empreiteiro Observações
O Dono da Obra deve responder no 2º
terço do prazo de entrega das
Se aceites, serão incorporadas
propostas; se aceitar, as peças devem
GROSSEIROS, ou seja, na proposta de preço do
1º terço do prazo de Se não cumprir o prazo de ser corrigidas e patenteados na
que seja exigível detetar no empreiteiro; se recusadas e na
art. 50º entrega das reclamação, responde por plataforma; se forem relevantes, pode
primeiro contacto com os fase de execução vier a ser
propostas 50% do preço haver necessidade de prorrogação do
documentos concursais detetada essa necessidade,
prazo de entrega das propostas;
responde por 100% do preço
prevalecem sobre as peças
procedimentais iniciais

Exigível detetar após a 60 dias a contar da Se cumprir o prazo de


Dono da Obra responde por
análise mais detalhada dos consignação total ou reclamação tem direito a
378º/3 100%, se o prazo de
documentos e a da primeira 100%; se não cumprir, tem
reclamação for cumprido
consignação da obra consignação parcial direito a 50%

30 dias a contar da Se cumprir o prazo de


OCULTOS - que só sejam Dono da Obra responde por
data em que seja reclamação tem direito a
378º/4 detetáveis na fase de 100%, se o prazo de
exigível a sua 100%; se não cumprir, tem
execução reclamação for cumprido
deteção direito a 50%

B. O OBJETO PRINCIPAL DA CONSULTA: OS ERROS E OMISSÕES SOB A


PERSPETIVA DA EVENTUAL RESPONSABILIZAÇÃO DO PROJETISTA

20

27. Nos termos previstos no n.º 6 do artigo 378º do Código dos Contratos
Públicos se dispõe que:

“(…) caso os erros ou omissões decorram do incumprimento de obrigações


de conceção assumidas por terceiros perante o dono da obra”.

a) “Deve o dono da obra exercer obrigatoriamente o direito


que lhe assista de ser indemnizado por parte destes
terceiros” – trata-se de uma obrigação do dono da obra.

b) “Fica o empreiteiro sub-rogado no direito de


indemnização que assista ao dono da obra perante esses
terceiros até ao limite do montante que deva ser por si
suportado em virtude do disposto nos n.ºs 3 e 4” – trata-
se agora de um poder potestativo do empreiteiro.
28. Assim, nas hipóteses previstas no art. 378º e só nessas, ou seja, quando a
situação só é exigível ser detetada nos 60 dias após a consignação, ou na
fase de execução, na parte em que sejam, em primeira linha,
responsabilizados, quer o dono da obra, quer o empreiteiro, têm o direito a
responsabilizar o projetista.

Com uma diferença: o dono da obra tem o dever de o responsabilizar,


enquanto o empreiteiro tem uma mera faculdade, não havendo histórico de
situações em que tal tenha ocorrido.

Sendo assim é sempre preferível imputar a responsabilidade ao empreiteiro


por uma deteção tardia, porque o acionamento do projetista é meramente
21
eventual, do que ao dono da obra, em que é obrigatório.

Os erros e omissões cuja deteção é exigível na fase de formação do


contrato, que devem ser identificados no primeiro terço do prazo
fixado para a apresentação das propostas -

29. A única hipótese em que o projetista pode ser responsabilizado por erros e
omissões grosseiros detetáveis no 1º terço do prazo de entrega das
propostas – aqui por aplicação da parte final do nº 3 do art. 378º do CCP, é
na situação em que o erros e omissão tendo sido reclamado nesse prazo,
não tenha sido aceite e, mais tarde venha a comprovar-se ser necessária a
sua execução.
30. Assim, desde que sejam razoáveis ou nos casos em que exista uma dúvida
fundada, na perspetiva do projetista, é sempre preferível a aceitação de
erros e omissões reclamados no 1º terço do prazo contratual, porque
evitam uma eventual reclamação futura a formular junto do projetista e, caso
se venha a revelar que tais trabalhos, afinal, não são indispensáveis à
realização da obra, o dono da obra sempre poderá pela sua supressão
durante a fase de execução, sem qualquer consequência desde que o saldo
de trabalhos complementares e a menos não venha a atingir os 20% do
preço contratual – cfr. art. 406, alínea b) do CCP.

31. Em todo o caso, se a reclamação na 1ª fase tiver sido feita por um


reclamante que não o empreiteiro, o projetista na sua defesa pode invocar
essa situação para sustentar a inaplicabilidade daquele preceito.
22

Os erros e omissões cuja deteção é exigível aquando da


consignação total ou da primeira consignação parcial, com um
prazo de 60 dias para o empreiteiro deles reclamar –

32. Relativamente aos trabalhos complementares para suprimento de erros e


omissões que são detetáveis nos 60 dias após a consignação, o dono da
obra é responsável pela totalidade, se o empreiteiro os reclamar nesse
prazo.

33. Não os reclamando tempestivamente, o dono da obra será responsável por


metade e o dono da obra pela outra metade.
os erros e omissões cuja deteção é apenas exigível durante a
execução da obra, os quais devem ser reclamados no prazo de 30
dias -

34. No que diz respeito aos trabalhos complementares para suprimento de


erros e omissões que só sejam detetáveis na fase de execução, o dono da
obra será responsável pela totalidade se o empreiteiro os reclamar no prazo
de 30 dias.

35. Caso a reclamação seja após os 30 dias em que deveriam ser detetados, o
dono da obra será responsável por metade e o empreiteiro pela outra
metade
23

Potenciais linhas de defesa do projetista

36. Um dos principais argumentos de defesa da posição dos projetistas perante


os empreiteiros, passa pela descaracterização, sempre que possível, dos
trabalhos que empreiteiro caracteriza como complementares de
suprimento de erros e omissões, mediante a alegação de que constituem
trabalhos contratuais que deveriam, por isso, ter sido previstos na proposta.

37. Para este efeito devem ser exaustivamente exploradas as cláusulas abertas
contidas nas disposições legais, no caderno de encargos e nas peças
escritas e desenhadas do projeto de execução, em especial, a dos trabalhos
preparatórios ou acessórios, a de responsabilidade do empreiteiro e as
resultantes das regras de medição.

38. Por outro lado, a alegação de que a reclamação é intempestiva e, portanto,


a responsabilidade é repartida de forma igualitária pelo dono da obra,
minimiza o risco de acionamento porque, como se disse, enquanto o
primeiro tem a obrigação legal de acionar o projetista, o segundo tem uma
mera faculdade que, a maioria das vezes, não usa.

39. Se, no final, o projetista vier a ser acionado, quer pelo dono, quer pelo
empreiteiro, podem usar outras linhas de defesa.

40. Uma contra uma eventual demanda do empreiteiro: é que assim como a
corresponsabilização do empreiteiro assenta na violação dos deveres de
colaboração, informação, diligência e boa-fé, estes deveres são igualmente 24

invocáveis pelo projetista.

41. Existindo concorrência de culpas e por aplicação subsidiaria do art. 570º


do C. Civil, aplicável ex vi art. 280º, nº 4 do CCP, a responsabilidade de
ambas as partes, deve ser apurada com base no grau de culpa de ambas
as partes e das consequências que deles resultaram.

42. Já contra o dono da obra, o projetista poderá sempre alegar, se aplicável:

a. Relativamente aos trabalhos para suprimento de erros e omissões


reclamados na primeira fase e indeferidos, que se veio a confirmar
serem necessário à execução da empreitada, que o indeferimento
foi resultante de decisão do dono da obra;
b. Que os erros e omissões foram induzidos pelos elementos
elaborados ou disponibilizados pelo dono da obra, sendo aplicável,
com as devidas adaptações o disposto na parte final do nº 2 do art.
378º do CCP;

c. Ou, finalmente, pode tentar caracterizar esses trabalhos


complementares não como trabalhos para suprimento de erros ou
omissões, mas como trabalhos complementares tout court, ou seja,
trabalhos adicionais enquadráveis no nº 1 do art. 370º, ou seja, que
constituem “trabalhos complementares cuja espécie ou quantidade
não esteja prevista no contrato e cuja realização se revele necessária
para a sua execução”.

43. Face ao exposto, passamos a apresentar o seguinte Quadro Resumo:

25
SOB A PERSPETIVA DE RESPONSABILIZAÇÃO DO PROJETISTA
Natureza Prazo Dono da Obra Empreiteiro Observações
Caso as reclamações sejam aceites no
segundo terço do prazo de entrega das
proposta (com ou sem prorrogação),
serão incorporadas no preço contratual,
pelo que não existe motivo para
responsabilização do projetista; nesta
Se aceites, serão incorporadas
situação, a eventual responsabilização
GROSSEIROS, ou seja, na proposta de preço do O empreiteiro terá direito a
1º terço do prazo de do projetista, neste caso perante o dono
que seja exigível detetar no empreiteiro; se recusadas e na receber a totalidade se os
entrega das da obra, só pode ocorrer se a
primeiro contacto com os fase de execução vier a ser reclamar nesse prazo, quer
propostas reclamação não for aceite e durante a
documentos concursais detetada essa necessidade, sejam aceites
fase de execução vier a confimrar-se a
responde por 100% do preço
necessidade da sua execução; se a
reclamação não tiver sido feita pelo
adjudicatário, o projetista poderá invocar
essa situação para sustentar a
inaplicabilidade da parte final do nº 3 do
art. 378º do CCP
A alegação de que a reclamação é
intempestiva e, portanto, a
responsabilidade é repartida de forma
Exigível detetar após a 60 dias a contar da Se cumprir o prazo de
Dono da Obra responde por igualitária pelo dono da obra, minimiza o
análise mais detalhada dos consignação total ou reclamação tem direito a
100%, se o prazo de risco de acionamento porque, como se
documentos e a da primeira 100%; se não cumprir, tem
reclamação for cumprido disse, enquanto o primeiro tem a
consignação da obra consignação parcial direito a 50%
obrigação legal de acionar o projetista, o
segundo tem uma mera faculdade que, a
maioria das vezes, não usa.
A alegação de que a reclamação é
intempestiva e, portanto, a
responsabilidade é repartida de
30 dias a contar da Se cumprir o prazo de forma igualitária pelo dono da obra,
OCULTOS - que só sejam Dono da Obra responde por
data em que seja reclamação tem direito a minimiza o risco de acionamento
detetáveis na fase de 100%, se o prazo de
exigível a sua 100%; se não cumprir, tem porque, como se disse, enquanto o
execução reclamação for cumprido
deteção direito a 50% primeiro tem a obrigação legal de 26
acionar o projetista, o segundo tem
uma mera faculdade que, a maior
das vezes, não usa.

O limite de responsabilidade do projetista salvo negligência


grosseira ou dolo

44. A responsabilidade que os terceiros assumem perante o dono da obra ou o


empreiteiro, quando fundada em título contratual, é, todavia, limitada pelo
n.º 7 do artigo 378º ao triplo dos honorários a que tenham direito ao abrigo
do respetivo contrato.

Esse limite apenas é inaplicável no caso de dolo ou de negligência grosseira


no cumprimento das suas obrigações, situação em que os terceiros são
integralmente responsáveis pelos danos provados na esfera jurídica do
dono da obra ou do empreiteiro.

C) CONCLUSÕES

Assim, e formulando as nossas conclusões:

I. Existem três momentos em que são suscetíveis de ocorrer


reclamações de trabalhos para suprimento de erros e omissões: (i)
os grosseiros, imediatamente detetáveis numa análise superficial das
peças concursais, até ao final do primeiro terço do prazo de entrega
das propostas, (ii) os detetáveis na fase de formação, através de um
27
estudo mais cuidado, nos 60 dias após a consignação total ou a
primeira consignação parcial ou (iii) aqueles que não se enquadrem
nas duas hipóteses anteriores, nos 30 dias após o momento em que
sejam detetáveis na fase de execução.

II. Nas hipóteses, a distribuição de responsabilidade entre o dono da


obra e o empreiteiro é a seguinte:
CCP Natureza Prazo Dono da Obra Empreiteiro Observações
O Dono da Obra deve responder no 2º
terço do prazo de entrega das
Se aceites, serão incorporadas
propostas; se aceitar, as peças devem
GROSSEIROS, ou seja, na proposta de preço do
1º terço do prazo de Se não cumprir o prazo de ser corrigidas e patenteados na
que seja exigível detetar no empreiteiro; se recusadas e na
art. 50º entrega das reclamação, responde por plataforma; se forem relevantes, pode
primeiro contacto com os fase de execução vier a ser
propostas 50% do preço haver necessidade de prorrogação do
documentos concursais detetada essa necessidade,
prazo de entrega das propostas;
responde por 100% do preço
prevalecem sobre as peças
procedimentais iniciais

Exigível detetar após a 60 dias a contar da Se cumprir o prazo de


Dono da Obra responde por
análise mais detalhada dos consignação total ou reclamação tem direito a
378º/3 100%, se o prazo de
documentos e a da primeira 100%; se não cumprir, tem
reclamação for cumprido
consignação da obra consignação parcial direito a 50%

30 dias a contar da Se cumprir o prazo de


OCULTOS - que só sejam Dono da Obra responde por
data em que seja reclamação tem direito a
378º/4 detetáveis na fase de 100%, se o prazo de
exigível a sua 100%; se não cumprir, tem
execução reclamação for cumprido
deteção direito a 50%

III. Nos termos previstos no n.º 6 do artigo 378º do Código dos


Contratos Públicos “(…) caso os erros ou omissões decorram do
incumprimento de obrigações de conceção assumidas por terceiros
perante o dono da obra”, deve “Deve o dono da obra exercer 28

obrigatoriamente o direito que lhe assista de ser indemnizado por


parte destes terceiros”, trata-se, portanto, de uma obrigação legal,
e/ou “fica o empreiteiro sub-rogado no direito de indemnização que
assista ao dono da obra perante esses terceiros até ao limite do
montante que deva ser por si suportado em virtude do disposto nos
n.ºs 3 e 4”.

IV. Nas hipóteses previstas no art. 378º e só nessas, ou seja, quando a


situação só é exigível ser detetada nos 60 dias após a consignação,
ou na fase de execução, na parte em que sejam, em primeira linha,
responsabilizados, quer o dono da obra, quer o empreiteiro, têm o
direito a responsabilizar o projetista. Com uma diferença: o dono da
obra tem o dever de o responsabilizar, enquanto o empreiteiro tem
uma mera faculdade, não havendo histórico de situações em que tal
tenha ocorrido.

V. Sendo assim é sempre preferível imputar a responsabilidade ao


empreiteiro por uma deteção tardia, porque o acionamento do
projetista é meramente eventual, do que ao dono da obra, em que é
obrigatório.

VI. A única hipótese em que o projetista pode ser responsabilizado por


erros e omissões grosseiros detetáveis no 1º terço do prazo de
entrega das propostas – aqui por aplicação da parte final do nº 3 do
art. 378º do CCP, é na situação em que o erros e omissão tendo sido
reclamado nesse prazo, não tenha sido aceite e, mais tarde venha a
29
comprovar-se ser necessária a sua execução.

VII. Assim, desde que sejam razoáveis ou nos casos em que exista uma
dúvida fundada, na perspetiva do projetista, é sempre preferível a
aceitação de erros e omissões reclamados no 1º terço do prazo
contratual, porque evitam uma eventual reclamação futura a formular
junto do projetista e, caso se venha a revelar que tais trabalhos,
afinal, não são indispensáveis à realização da obra, o dono da obra
sempre poderá pela sua supressão durante a fase de execução, sem
qualquer consequência desde que o saldo de trabalhos
complementares e a menos não venha a atingir os 20% do preço
contratual – cfr. art. 406, alínea b) do CCP.

VIII. Em todo o caso, se a reclamação na 1ª fase tiver sido feita por um


reclamante que não o empreiteiro, o projetista na sua defesa pode
invocar essa situação para sustentar a inaplicabilidade daquele
preceito.

IX. Relativamente às outras hipóteses, ou seja, nos erros e omissões que


sejam detetáveis nos 60 dias após a consignação ou na fase de de
execução, em que o projetista deve/pode ser acionado,
respetivamente, pelo dono da obra e pelo empreiteiro m dos
principais argumentos de defesa da posição dos projetistas perante
os empreiteiros, passa pela descaracterização, sempre que possível,
dos trabalhos que empreiteiro caracteriza como complementares de
suprimento de erros e omissões, mediante a alegação de que
constituem trabalhos contratuais que deveriam, por isso, ter sido
previstos na proposta.
30

X. Para este efeito devem ser exaustivamente exploradas as cláusulas


abertas contidas nas disposições legais, no caderno de encargos e
nas peças escritas e desenhadas do projeto de execução, em
especial, a dos trabalhos preparatórios ou acessórios, a de
responsabilidade do empreiteiro e as resultantes das regras de
medição.

XI. Por outro lado, a alegação de que a reclamação é intempestiva e,


portanto, a responsabilidade é repartida de forma igualitária pelo
dono da obra, minimiza o risco de acionamento porque, como se
disse, enquanto o primeiro tem a obrigação legal de acionar o
projetista, o segundo tem uma mera faculdade que, a maioria das
vezes, não usa.
XII. Se, no final, o projetista vier a ser acionado, quer pelo dono, quer
pelo empreiteiro, podem usar outras linhas de defesa.

XIII. Uma contra uma eventual demanda do empreiteiro: é que assim


como a corresponsabilização do empreiteiro assenta na violação dos
deveres de colaboração, informação, diligência e boa-fé, estes
deveres são igualmente invocáveis pelo projetista.

XIV. Existindo concorrência de culpas e por aplicação subsidiaria do art.


570º do C. Civil, aplicável ex vi art. 280º, nº 4 do Código Civil, a
responsabilidade de ambas as partes, deve ser apurada com base
no grau de culpa de ambas as partes e das consequências que deles
resultaram.
31

XV. Já contra o dono da obra, o projetista poderá sempre alegar, se


aplicável:

a. Relativamente aos trabalhos para suprimento de erros e


omissões reclamados na primeira fase e indeferidos, que se veio
a confirmar serem necessário à execução da empreitada, que o
indeferimento foi resultante de decisão do dono da obra;

b. Que os erros e omissões foram induzidos pelos elementos


elaborados ou disponibilizados pelo dono da obra, sendo
aplicável, com as devidas adaptações o disposto na parte final do
nº 2 do art. 378º do CCP;

c. Ou, finalmente, pode tentar caracterizar esses trabalhos


complementares não como trabalhos para suprimento de erros
ou omissões, mas como trabalhos complementares tout court, ou
seja, trabalhos adicionais enquadráveis no nº 1 do art. 370º, ou
seja, que constituem “trabalhos complementares cuja espécie ou
quantidade não esteja prevista no contrato e cuja realização se
revele necessária para a sua execução”.

XVI. A responsabilidade que os terceiros assumem perante o dono da


obra ou o empreiteiro, quando fundada em título contratual, é,
todavia, limitada pelo n.º 7 do artigo 378º ao triplo dos honorários a
que tenham direito ao abrigo do respetivo contrato.

XVII. Esse limite apenas é inaplicável no caso de dolo ou de negligência


32
grosseira no cumprimento das suas obrigações, situação em que os
terceiros são integralmente responsáveis pelos danos provados na
esfera jurídica do dono da obra ou do empreiteiro.

Este é, salvo melhor, a minha opinião,

Assinado de forma
Rui digital por Rui
Andrade
Andrade Dados: 2023.06.22
18:26:36 +01'00'

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