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Theodoro é um empresário rico e completamente safado.

Ele tem todas as


mulheres aos seus pés. Já Amandha é uma empresária rica fora dos
padrões de beleza, mas que não leva desaforo para casa. O destino resolve
brincar um pouco com a vida dos dois, e assim cruza os caminhos de
ambos, trazendo grandes brigas, competições e sentimentos que eles não
sabem explicar. A vida vai provar para ambos que realmente os opostos
se atraem.
PRÓLOGO– THEODORO

As pessoas querem a verdade, mas nunca estão prontas para escutá-la.


Se uma mulher perguntar se o... – prefiro não comentar com as palavras
corretas, mas é aquilo que todo homem gosta e adora; respeito vocês, gatas que
estão lendo, por isso ficarei caladinho sobre o nome dessa tal coisa — que ela te
fez foi bom, por favor, digam a verdade, rapazes, porque a culpa dessas loucas
estarem à solta por aí é de todo imbecil que diz que o “X” foi maravilhoso,
quando na verdade foi uma grande porcaria. Deveria existir prisão perpétua
para uma mulher que não sabe fazer isso corretamente.
Por que estou falando isso? Ah, porque acabo de levar um belo tapa na
cara por dizer a verdade.
Por causa dessa louca, terei de ficar o resto da noite com o rosto
avermelhado. Lembrem-me de permanecer longe dela ou até demiti-la, e antes
que fiquem horrorizadas, eu já vou dizendo que vou para a cama, mesa, sofá,
cadeira, os móveis todos com funcionárias da agência. E tem mais uma coisa, eu
apenas sou fofo com minha melhor amiga Heloísa e sou apenas mega-amoroso
como marido, isso mesmo, MARIDO. Minha querida esposa Janete tem sorte de
me ter ao seu lado. Calma, eu sei que querem me matar neste momento,
achando que sou um imbecil que trai a esposa, mas logo irão conhecer a Janete e
vão ver que não sou tão imbecil assim. Para ser sincero, eu não sou nem um
pouco imbecil.
Sou praticamente o dono desta agência. O principal dono é meu melhor
amigo Eduardo Medeiro, mas ele apenas cuida da agência no Brasil, país em que
ele vive com sua família, e essa em Nova York fica por minha conta.
Estou em minha sala com uma terrível ardência no lado direito do meu
rosto. É sábado à noite, a agência está vazia, todos já foram embora – bom,
quase todos, pois os seguranças ficam até o último sair. Espero que a louca já
tenha ido também.
Sabe o que é totalmente inconsolável? Saber que você está em uma
agência de modelos sem ter nenhuma neste exato momento com você. Inferno!
Amo trabalhar, sou viciado em trabalho, essa agência é tudo para mim, mas é
sábado, eu mereço um pouco de diversão e, por favor, não citem a louca do
péssimo “X”, pois não me diverti nada com ela.
Termino de organizar os contratos e pego minhas coisas para ir embora.
Chega, a louca destruiu minha noite, desanimei de ficar aqui para adiantar o
serviço.

***

Abro a porta do meu apartamento e sou recebido pela minha linda


esposa Janete. Agacho-me para acariciá-la; isso mesmo que acabaram de ver,
estou agachado.
— Olá, princesa. Como está, meu amor? Sentiu saudades do seu esposo?
Sentiu, minha gostosa!
Ela se empoleira em mim e começa a lamber meu rosto enquanto a
acaricio e ela balança o rabo.
Fechem a boca e desfaçam essa cara de espanto. Viram só, quebraram a
cara achando que eu era um imbecil. Minha querida esposa é minha linda
cachorra de raça Shih-Tzu. Sou casado com ela há quatro anos. Não me chamem
de louco, pois tenho uma bela explicação. Todos consideram seus animais de
estimação como filhos, já eu prefiro considerar minha cachorra como minha
esposa.
Fecho a porta e começo a desfazer o nó da gravata. A Janete está agora
deitada no tapete da sala me observando.
— Minha noite foi péssima, princesa, o melhor a se fazer agora é tomar
um banho e ficar assistindo a alguma coisa — digo a Janete e vou para o quarto.
1 – Amandha
Estou completamente exausta. A pior coisa é ter que aguentar clientes
insuportáveis durante uma reunião de duas horas. Puta merda, esses espanhóis
vão ser minha morte!
Ser dona de uma editora de livros não é fácil, e estou à beira da loucura,
ainda mais por ter que aguentar a equipe espanhola de uma escritora que
fechou contrato com a editora. Ela se considera a última Coca-Cola do mundo –
e os caras também –, quando na verdade não chega nem perto de ser o rótulo da
garrafa.
Eu tenho uma grande equipe para se estressar por mim, mas o que seria
de mim sem a minha maravilhosa equipe que não sabe resolver nada sem me
deixar louca antes? Nada.
Um conselho da titia para vocês, pimpolhos: se abrirem uma editora de
livros, nunca sejam a pessoa que aprova os livros e a que tem que estar
presente nas reuniões.
Escutem o conselho que dei e o carreguem para sempre com vocês,
porque depois não quero ouvir ninguém dizendo que o cérebro deu curto-
circuito e que foi preso por matar cliente.
Sabem o que é a melhor coisa depois de um longo dia de trabalho? Não é
isso que pensaram, safadinhas. A melhor coisa é um banho bem quente e depois
cair na cama e hibernar até o Natal, e só para deixar claro, falta bastante para o
Natal.
Às vezes acho que estou ficando muito preguiçosa, mas só acho, claro
que não estou. Não tem como ser empresária na cidade de Nova York e ser
preguiçosa, essa cidade anima qualquer um, ainda mais pelas delícias de fast-
food que são encontradas aqui. Se vocês ainda não vieram para cá, venham logo,
pois não sabem o que estão perdendo. Este lugar é o paraíso.

***

Abro a porta do meu apartamento e suspiro. Lar, doce lar, como amo
estar aqui. Tiro os sapatos na sala mesmo e me jogo no sofá junto com a minha
bolsa. Preciso de férias, ou vou fazer a passagem desta vida logo mais.
Fico deitada pensando na morte da bezerra. Minha vida está um tédio
ultimamente, apenas trabalho e não faço mais nada. Além disso, estou
começando a pirar, a ficar depressiva. Eu preciso sair, mas minha única amiga
não tem tempo para nada, igual a mim, e não confio em ninguém além dela. Sou
uma pessoa muito pé atrás, sempre acho que estão comigo por algum interesse,
ou apenas porque me acham uma coitada – a gordinha sem muitos amigos.
OK, estou pirando mesmo. Eu poderia comprar um cachorrinho, que tal?
Talvez eu tenha alergia. E que tal um gato? Tenho certeza de que tenho alergia a
esse.
Estou sensível, e o motivo tem nome, marca presença todo mês, dura uns
três dias e toda mulher conhece: TPM. Essa merda é chata demais, me deixa
bipolar, e sei que não sou a única que fica assim. Vocês aí que estão lendo, caso
sejam mulheres, também ficam bipolares, e se disserem que não ficam, estão
mentindo.
Preciso de muito, muito, muito sorvete, chocolate e pizza; esses são os
melhores companheiros para uma época de TPM e para uma gordinha triste
também.
Escuto barulhinho do meu celular e o procuro na bolsa. Encontro-o, e há
um e-mail com o original de um livro.
Essas pessoas acham que eu não mereço um descanso? É sábado, já tive
que trabalhar, e agora à noite me mandam um e-mail e ainda querem resposta
imediata. Nem se fosse um livro da rainha Elizabeth, eu o responderia agora.
Tudo o que preciso agora é de um banho e depois qualquer coisa para
comer, já que não tenho sorvete, pizza e nem chocolate e também não irei sair
para comprar e nem ligarei para pedir.
2 – Theodoro

Acordo com o som da porcaria da campainha. Levanto-me, olho no


celular a hora e vejo que são 8h30 da manhã. Eu apaguei ontem à noite. Mas
voltando ao assunto da campainha, para a portaria não ligar pedindo
autorização da subida de alguém, eu já sei quem é o bastardo que me acorda a
esta hora no domingo. Abro a porta já irritado.
— Acordou, Bela Adormecida?
— Vai à merda, Rodrigo, mas que demônios você quer aqui a esta hora?
Ele passa por mim, e tranco a porta.
— É muito bom te ver também — ele diz indo para cozinha, e eu o sigo.
Ele começa a preparar um café na máquina expressa. Pelo menos para
algo ele serve, que é me fazer café.
— O que quer aqui? — pergunto, e ele sorri.
— Primeiro coloque uma calça, porque eu não sou obrigado a ver você
apenas de cueca e com esse volume logo cedo.
Mostro o dedo do meio para ele.
— Qualquer homem de verdade acorda assim, mas se você não acorda,
deveria rever que tipo de sexo humano que você curte.
— Posso começar testando em você e assim descubro o que eu
realmente curto.
— Cai fora, coloque esse seu negócio aí bem longe de mim.
— Vai logo se trocar, idiota! — ele diz rindo.
O Rodrigo, mesmo me irritando, é um grande amigo. Ele é um dos sócios
da agência de modelos da qual sou vice-presidente e o irmão dele, o Eduardo, é
presidente e dono. Ele é um cara que acredita que um dia vai encontrar a pessoa
certa, mesmo já tendo sido casado com uma louca.

***

Faço minha higiene matinal, troco-me e vou para a cozinha. O Rodrigo


me serve uma xícara de café.
— Me fala logo, o que quer? — pergunto irritado.
Janete, que aparece não sei de onde, começa a pular na perna do Rodrigo.
— Gasparete! — Ele se inclina para ficar da altura dela e lhe faz carinho.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que é Janete?
Ele volta à postura correta.
— E quantas vezes vou ter que perguntar quem se considera marido de
uma cadela e ainda por cima coloca o nome de Janete nela? Acho que você usa
drogas nos dias de folga, só pode.
— Garanto que uso menos do que você.
— OK, parou com as ofensas. — Sorrio e tomo um gole do café. — Temos
que sair, cara, eu estou sentindo que hoje encontro o amor da minha vida.
Reviro os olhos e tomo outro gole de café.
— Igual você sentiu na semana retrasada, passada, posso continuar
falando...?
— Está bem, não estou tendo sorte, mas hoje é dia, tenho certeza. —
Começo a rir. — Vamos apostar? Se hoje for o dia, você vai ter que passar uma
semana sem ter mulher alguma, mas se hoje não for o dia, eu prometo desistir
disso para sempre e deixo acontecer quando tiver que acontecer.
— Fechado, mas duvido que, quando perder, vai cumprir com a
promessa. Eu vou “pra” cama com um homem no dia em que você desistir disso.
— Eu não ouvi isso! Theodoro Lancaster Junior, considere-se um gay,
porque se você ganhar esta aposta, eu juro que vou cumprir a minha promessa,
mas se eu ganhar e vou ganhar, você vai ter que cumprir com o que disse e
ainda por cima vai ter que gravar a cena.
— Espere deitado, porque sentado vai ficar com a bunda quadrada. Eu
nunca perco uma aposta.
— Sempre tem a primeira vez.
3 – Amandha

Hoje é domingo, e não vou ficar em casa moscando. De dia eu vou, mas de
noite, não! Eu irei à boate em que minha amiga trabalha como barwoman. A
boate fica naqueles lugares secretos que todo nova-iorquino conhece e que todo
turista é louco para conhecer. O local é em Manhattan, e quem olha nem sonha
que, por trás de uma simples porta que nem uma humilde placa tem, localiza-se
uma boate que bomba “pra caramba”... Bom, apenas percebe se passar tarde da
noite em frente.
Só preciso confirmar com ela se estará trabalhando hoje. Pego meu
celular e lhe envio uma mensagem:

VAI TRABALHAR HOJE?

Infelizmente. Ainda não fiquei rica HAHA

TE ENCONTRO LÁ! PRECISO SAIR OU VOU PIRAR!!!

Jogo o celular na cama, vou fazer minha higiene e depois tomar café da
manhã, porque estou morta de fome.

***

Estou organizando alguns arquivos no meu iMac, ou eu realmente vou


pirar de vez. O dia está longo e chato, típico de domingo. Recebi vários e-mails
com originais de livros, mas não irei ver nada hoje, só amanhã, e semana que
vem irei mandar nosso publicitário divulgar que a editora só receberá originais
a partir do final do mês, ou não vamos dar contar.
Recebo uma mensagem da minha amiga no Skype.

Judi diz:
Vc não faz ideia de quem acabou de mandar e-mail para a boate!
Mandy diz:
Odeio suspense, diz logo, criatura!!

Judi diz:
Kkkkk... OK! Fui olhar o e-mail da boate para ver se a casa iria encher e... TAN...
TAN...

Mandy diz:
Fala logo, merda!

Judi diz:
Theodoro Lancaster, seu arqui-inimigo, confirmou presença!!

Mandy diz:
Joguei chiclete na cruz, para receber esse carma chamado Theodoro. Mas agora
que vou mesmo. Bjssss

Judi diz:
Kkkkkkkkkkkk.... bjsss

Para vocês entenderem por que Theodoro Lancaster é meu arqui-


inimigo, vou fazer um resumo.
Uma vez ele deu uma entrevista ao vivo e disse maldades sobre donas de
editoras de livros e ainda disse que estava apenas brincando, mas eu sempre
acreditei que toda brincadeira tem um fundo de verdade e desde então não o
suporto. Uma vez ele me mandou um convite para um desfile de moda no Brasil.
Eu fiz questão de ir e dizer poucas e boas na cara dele. Depois que falei com ele,
o cara sumiu durante o desfile todo. Resumindo, ele é um cagão, e tenho raiva
dele.

***

Estou pronta para ir à boate. Optei por um vestido vermelho e sapatos de


saltos altos pretos. Meu cabelo está preso em um rabo de cavalo, e minha
maquiagem não é muito forte. Vou levar minha bolsa de mão da mesma cor dos
sapatos.
Pego a chave de casa e saio, irei de táxi, porque ainda quero voltar viva, e
sei que quando bebo um pouquinho só eu já fico vesga.

***

A boate como sempre está bem lotada, e a música é muito alta. As


pessoas estão muito animadas. Caminho com cuidado para não cair em cima de
alguém e vou até o bar.
Quando chego lá, sou atendida pela minha amiga Judith, que é
barwoman.
— Mandy! — ela grita, e tipo, grita mesmo.
— Não precisa gritar! — digo alto, e ela sorri.
— É que estou animada em ver que minha amiga resolveu sair da toca.
Estava começando a achar que tinha morrido.
Bato na madeira do bar.
— Credo, Judith!
Ela ri.
— Então, vai querer o quê?
— Surpreenda-me.
Ela dá um sorriso sacana.
— É “pra” já, gostosa! — Ela se afasta e vai para onde prepara as bebidas.
Vocês estão vendo essa mistura de bebidas que ela está fazendo? Acho
que ela está tentando me matar.
Ela volta com a bebida e me entrega.
— Isso é tomável?
Ela ri.
— Tiro e queda! — Olho-a assustada, e ela ri. — Bebe logo, tonta!
Tomo um gole da bebida, e é bem doce. Meus amores, quando beberem
algo com álcool que for doce, vão com calma, pois o doce disfarça a enorme
quantidade de álcool que a bebida tem, e digo isso por experiência própria.
— É bom, mas vou com calma.
Ela revira os olhos.
— Você é muito santinha, se joga! — Ela bebe um bom gole da minha
bebida e suspira. — Isso é muito bom.
— Não sabia que podia beber em horário de serviço.
— E quem bebeu alguma coisa? — Ela dá uma piscadela e se afasta para
atender um pessoal.
4 – Theodoro

Hoje mais cedo eu reservei duas entradas para uma boate. Estou indo
para essa boate agora com o Rodrigo e sem nenhuma mulher, isso prova que
estou no fim da minha vida.
Estamos indo de táxi, e espero muito que o lugar esteja cheio de
mulheres gostosas, ou terei que aguentar o Rodrigo bêbado falando em
encontrar o grande amor da vida dele.
— Por que não fez a barba? — pergunta o Rodrigo, e olho de rabo de
olho para ele.
— Por que você não cala a boca? E quer saber um segredo?
— Essa barba conquista muitas mulheres, essa frase já é antiga.
— E você nunca aprende.
Percebo que o taxista nos olha pelo espelho retrovisor ao invés de
prestar atenção ao trânsito.
— Pretendo chegar vivo ao meu destino! — digo, e o taxista olha
rapidamente para frente.

***

O lugar está muito lotado, e o som está muito alto. Passamos pelas
pessoas empurrando todo mundo, literalmente. Não sou mal-educado, mas
pedir licença não vai adianta nada aqui.
Subimos para a área VIP, e assim que digo nossos nomes para o
segurança, ele nos mostra a mesa que foi reservada.
Sentamo-nos e ficamos olhando o movimento.
— Está mais lotada que o normal — diz o Rodrigo apontando para a
parte de baixo da boate.
— Aqui também está. Vou pegar bebidas.
— “Pra” quê? Tem garçom na aérea VIP.
— Lotada do jeito que está, vai ser difícil ser atendido rápido. —
Levanto-me.
***

Chego ao bar e espero ser atendido. Assim que a barwoman me vê, vem
até mim sorrindo.
— Judith — digo a ela. Já nos conhecemos, venho muito aqui. Ela é amiga
da louca da Amandha, a mulher que mais me odeia na face da terra, e não estou
brincando quando digo isso.
— Sr. Lancas... Quer saber? Vou te chamar de Theodoro, e dane-se.
Sorrio.
— Dois Ice.
— Bebidas fracas hoje?
Sorrio.
— Por enquanto.
— Claro. — Ela revira os olhos e se afasta para pegar as bebidas. Volta e
as entrega a mim.
— Só isso? — ela me pergunta.
— Na verdade...
Alguém esbarra em mim.
— Desculpa!
Viro-me para ver quem é e não acredito quando vejo.
— Você? — falamos juntos.
— Acho melhor eu já avisar aos seguranças sobre uma possível luta livre
— diz Judith.
— Se eu soubesse que era você, eu nem pediria desculpa — fala
Amandha.
— Amandha, suas desculpas não mudam nada em minha vida. — Dou
uma piscadela para ela.
— Idiota! Agora sai da minha frente! — Ela me empurra para o lado e
tenho que me equilibrar para não cair com as bebidas.
— Esqueci que você precisa de muito espaço.
Ela vira a cabeça igual a menina de O exorcista.
— Você está me chamando de gorda, Theodoro?
— Não me lembro de ter chamado.
Saio de perto da Amandha enquanto ela diz algo que não escuto. Volto
para a aérea VIP e me sento irritado à mesa.
— Que foi? — indaga o Rodrigo abrindo a garrafa de Ice.
— Encontrei com uma pessoa nada agradável.
— Quem?
— Deixa quieto. — Abro minha bebida e dou um gole.
Sinto apertarem meu ombro, e o Rodrigo sorri.
— Theodoro.
Viro-me e encontro uma ruiva muito gostosa.
— Vick. — Espero ter acertado seu nome. Ela sorri e se senta no meu
colo. — É bom te ver. — Sorrio, e ela me dá um beijo na bochecha.
— Fui! — diz o Rodrigo saindo da mesa.
— Tchau, Rô — diz Vick, e ele dá um tchau com a mão. Bebo mais um
gole da minha bebida. — Você sumiu, não me ligou mais.
— Gata, estou sem tempo, mas agora estamos aqui. O que acha de
recuperar o tempo perdido?
Aprendam uma coisa sobre mim: sou direto.
— Adorei a ideia.
Puxo seu rosto e a beijo com voracidade. Ela puxa meu cabelo e começa a
se esfregar de leve no meu colo. Paro o beijo e sorrio.
— Acho melhor irmos com calma, não quero dar um show aqui.
— Eu estava com saudades de você — ela diz com a voz manhosa.
Nunca na vida falem com a voz manhosa para um cara, porque se ele for
homem mesmo, vai querer te dar um pé na bunda na mesma hora, e se o cara
for eu, irei fazer de conta que não notei na primeira vez, mas na segunda não vai
prestar.
— Vamos dançar!
Levantamo-nos.
5 – Amandha
Com a boate abarrotada de gente, eu tinha que esbarrar justo naquele
traste? Que ódio!
E com isso aprendi que não devo ir ao banheiro de local público, porque
traz azar.
— Eu devia ter enfiado aquelas garrafas na goela dele! — digo para a
Judith, que está preparando bebidas.
— Amandha, fala sério, ele não mexe nem um pouquinho com você?
Porque eu molho a calcinha só de ficar perto dele.
— Como pode dizer isso? Você é minha amiga ou inimiga?
— Ele é um gostoso, para de ser fresca, já faz tempo que ele disse aquela
idiotice.
Ela entrega as bebidas às pessoas e joga o seu charme para cima de um
cara que está ao meu lado.
— Vou embora, estou sem ânimo “pra” nada — digo a ela, que me olha
feio.
— Eu sabia! Era muito milagre você ter vindo aqui sem ser forçada por
mim.
— Eu vim porque estava me sentindo sozinha.
— Ai, meu deus, como ela sofre! — Ela faz gracinha. — Me poupe, para
de pensar em trabalho o tempo todo e sai mais comigo.
— Vira dona de editora de livros que vai ver o quanto é difícil ter um
tempo livre.
— Barwoman, faça o favor de me atender! Fica só de conversa ao invés
de trabalhar! — diz uma mulher ruiva.
— Me faz um favor? Se suicida e me deixa seu dinheiro? Ou vou pirar! —
Judith diz, e começo a rir. — Já vai, ruivinha! Segura a franga aí!
A ruiva olha feio para ela.
— Me liga depois, fui! — grito para ela, que está preparando a bebida da
ruiva.
— OK. Lembre-se: viva mais, Amandha!
Saio do bar e começo a caminhar para a saída da boate. Fala sério, essas
mulheres não têm roupas menos coladas? Olhem para isso, acho que nem
respiram.
Estou prestes a sair da boate, mas tropeço em alguém e tenho que me
equilibrar para não cair.
— Descu... Ah, não! Isso já é pessoal, acho que fiz algum mal em outra
vida! Theodoro, você de novo!
Ele sorri.
— Vai ficar me seguindo?
Gargalho.
— Eu seguindo você? Não se iluda, querido!
A mesma ruiva do balcão se aproxima e se pendura no pescoço dele.
Reviro os olhos.
— Ninguém merece!
— Inveja, amor? — ele questiona, e a ruiva me olha de cima a baixo.
— Nem em sonhos! — Afasto-me deles.

***

Chego a casa e vou direto para o quarto tomar um banho. Assim que
termino, vou para a cozinha e pego a caixa de cupcakes que está na geladeira e
vou para a sala.
Todo mundo tem defeito, certo? Então o meu é descontar o cansaço,
raiva, dor, preocupação, sofrimento e ansiedade na comida. Neste momento
estou cansada, e comer sempre alivia.
Ligo o notebook, que está no sofá, e acesso o e-mail da editora, que está
abarrotado de novos e-mails. Abro a primeira mensagem.

De: Susan Carter


Para: Editora Pluser
Assunto: Capa do meu livro

Boa noite,
No contrato diz que eu poderia fazer a capa com a editora, ou com uma
pessoa da minha preferência, e que se eu quisesse poderia escolher alguém
(modelo) para usar com exclusividade na capa, e a editora pagaria por isso. Eu
tenho uma amiga modelo, e o namorado dela também é, e eu os convidei para
serem modelos da minha capa, e eles toparam. Só que a imagem deles é de
propriedade de uma agência de modelos muito famosa.
Gostaria de saber como faço para usá-los? Preciso assinar algum
contrato ou falar com alguém especifico?

Largo meu cupcake na caixa e respiro fundo. Eu só compliquei minha


vida dando tantas opções para os escritores. Isso vai ser um rolo, mas farei o
possível para satisfazê-la. Normalmente eu nunca respondo a e-mails a esta
hora, mas vou ser uma boa pessoa e responder.

De: Editora Pluser


Para: Susan Carter
Assunto: Capa do seu livro

Boa noite,
Passe os dados da agência em que seus amigos trabalham e os dados
deles.
Isto não dependerá apenas de nós (editora), pois tudo depende da
agência também. Caso ela (agência) não autorize, não poderemos fazer mais
nada.
Tenha em mente que pagaremos tudo, e por conta disto NÃO poderá
mudar a capa depois.
Obs.: A agência de modelos de preferência deve entrar em contato com a
Editora e conversar com algum dos designers de capas, pois são eles quem
tratam disso, e a dona (no caso eu) apenas cuida da parte burocrática, como
assinar contratos e fazer negociações.

AMANDHA ACKER, EDITORA PLUSER, NYC.

Mulheres que estão lendo, sabem aquele sexto sentido que temos
quando alguma coisa vai dar merda? Pois então, o meu sexto sentindo está com
o alarme disparado, e dele ainda sai uma seta indicando vai dar merda.
6 – Theodoro
A Vick se enrosca no meu pescoço que nem um chiclete quando gruda no
sapato. Querem um conselho? Não? Mas vou dar assim mesmo: nunca se
enrosquem no meu pescoço, isso me irrita demais.
— Vamos dançar, gatinho? — ela pergunta com a voz manhosa
novamente!
Acho que alguma mulher deve ter feito algum tipo de magia negra para
mim, pois só estou atraindo mulheres loucas e insuportáveis.
Tiro os braços dela do meu pescoço e dou um sorriso forçado quando ela
me olha feio.
— Vou pegar algo para beber, já volto.
— Qual é, Theodoro? Foi só você ver aquela ridícula e agora está todo
estranho. Pode ficar aqui e dançar comigo! — ela diz num tom de autoridade.
Mundo, pode parar de girar agora! Ela mandou em mim? Foi isso que
essa louca fez? Não pode ser. Só posso estar sonhando.
— Vick, presta atenção no que vou te dizer. Eu fico onde eu quero,
quando eu quero, saio com quem eu quero e danço quando eu bem entender.
Agora vou pegar uma bebida, e não me enche as bolas, porque eu já estou com
elas bem cheias.
Ela fica com cara de bocó.

***

Chego ao bar e não é a Judith que me atende, é um cara, pois ela está
atendendo outros clientes. Peço uma vodca pura e me sento ao balcão. O
barman traz a bebida, que tomo num gole só.
— Vai com calma, garanhão.
Assusto-me com a Judith ao meu lado. De onde essa louca saiu? Ela
estava atrás do balcão.
— Vai com calma no quê? Só tomei uma vodca.
Ela ri e se senta no banco vizinho.
— Eu sei, estou apenas brincando. — Ela bate de leve no meu braço.
A Judith é uma pessoa doida, mas é legal. Divirto-me com o estilo dela.
Cada vez que venho aqui, ela está com uma cor de cabelo diferente – exagerei, é
uma vez por mês que ela muda a cor. Hoje a cor do seu cabelo é rosa. Ela é
jovem e muito bonita. E posso contar uma novidade? Já imaginam o que é, né? É
isso mesmo. Judith é gordinha. Acho que tenho o dom de atrair gordinhas.
Porém, eu não tenho nada contra, acho-as lindas, fofas e algumas até muito sexy.
Minha amiga de quem já falei para vocês, Heloísa, é gordinha e muito sexy,
melhor dizendo, muito gostosa, mas é melhor eu parar de pensar assim nela, ou
do jeito que meu amigo Eduardo, marido dela, é ciumento, o cara é capaz de ler
minha mente e vir do Brasil a Nova York cortar minhas bolas.
— Essa cara de derrotado tem motivo?
Olho-a e lhe mostro o dedo do meio, e ela ri.
— Estou tendo azar. Ando atraindo apenas mulheres loucas e irritantes.
Ela gargalha.
— Então minha praga funcionou! — Olho perplexo para ela. — Calma, é
brincadeira. Mas eu não acredito que um dos maiores conquistadores de Nova
York esteja tendo azar. Isso é completamente impossível de acreditar — ela diz
irônica.
Por que vocês mulheres adoram dizer as coisas com ironia? Caramba,
isso é irritante.
— Por que você não vai trabalhar?
— Daqui a meia... Meu Deus, que gostoso! — ela diz para alguém atrás de
mim. Viro-me para olhar e vejo o Rodrigo.
— Tendo sorte? — pergunto a ele.
— Não, mas pelo visto, você sim — ele responde, e percebo que está
falando da Judith.
Estou começando a achar que meu futuro é ser cupido, porque sempre
dei uma forcinha na relação dos meus amigos Heloisa e Eduardo. Bom, agora
vocês já podem imaginar o que vou fazer.
— Ela é só uma conhecida que trabalha aqui. Rodrigo, essa é a...
— Sou a Judith. Satisfação, porque o prazer só vem algumas horas depois
— ela se apresenta, e fico de boca aberta. Essa é das minhas.
O Rodrigo, informal como a maioria dos brasileiros, cumprimenta-a com
um beijo no rosto, e reviro os olhos para a cara de safada que ela faz.
— Incomoda se eu ficar aqui? — o Rodrigo pergunta.
— Claro que não. Tenho meia hora livre — responde Judith.
— OK. — O Rodrigo me empurra do banco, e por pouco eu não caio. Ele
se senta no banco e se vira para a Judith.
— Aqui tem satisfação, vem prazer depois, mas a educação ficou em falta
— comento.
— Fica com ciúmes não, Theodoro. E acho que já pode começar a
procurar algum homem por aqui — fala o Rodrigo, e a Judith me olha assustada.
— Quê?!
— Porra nenhuma, Judith. Não acredite em tudo que esse imbecil fala.
Tchau “pra” vocês. — Saio daqui.
Quer saber? Vou embora. Prefiro ficar na minha casa com a minha
princesa. Parem de me olhar assustadas, porque eu não estou doente e nem
virei gay, apenas estou irritado e não sei o motivo.
7 – Amandha
Acordo mortinha. Ninguém merece segundas-feiras. Estou com uma
baita dor de cabeça e não estou a fim de ir à editora hoje. Nessas horas sinto
falta da minha antiga carreira, porque eu tinha horário para trabalhar e para
parar de trabalhar. Ainda não contei no que eu trabalhava? Bom, eu sou
formada em psicologia. Trabalhei como psicóloga de casais, mas depois
descobri o que realmente amava e agora tenho uma das maiores editoras de
livros dos Estados Unidos.
Voltando ao assunto da dor de cabeça, eu acho que não vou para a
editora hoje. Vou ficar trabalhando em casa. Tomo um banho e coloco uma
roupa casual. Fico deitada no sofá respondendo aos e-mails da editora pelo
celular. Estou com muita preguiça. A noite de ontem foi um lixo, ainda não
acredito que aonde eu vá, encontre o infeliz do Theodoro.
O mais engraçado é que ele acha que a raiva que sinto dele é ligada
apenas ao que ele disse no programa de TV, mas não é, e nunca vou falar até que
ele descubra sozinho. E nem adianta ficarem curiosas aí, pois cumpro com o que
eu digo.
Bem que a Judith podia vir para cá, pelo menos eu teria alguém para
conversar.
Disco o seu número, mas ela não atende. Vaca!
Levanto-me e vou comer algo, porque saco vazio não para em pé. Se bem
que sou muito cheinha, mas que se dane, vou comer o que eu quiser e quando
eu quiser. Revolta da gordinha.
Preparo um lanche e encho um copo de Coca-Cola. Lancho sentada no
sofá e assistindo à TV.
Depois de lanchar, eu lavo o que sujei e volto a responder aos e-mails.
Termino de respondê-los em torno das 2h da tarde. Ligo para a editora e
verifico se está tudo bem por lá. Tiro o esmalte vermelho das unhas da mão e
passo uma base por cima.
Tento ligar novamente para a Judith. No terceiro toque ela atende.
— Nossa, pensei que tinha morrido! — Brinco.
— Estou bem viva. O que manda?
— Você podia vir “pra” cá hoje.
— Está em casa no tédio, acertei?
Rio.
— Sim, acertou!
— Bem que eu queria, loira, mas o meu chefe está puto da vida porque
ontem fiquei de papo com um gostosão, aí ele me fez vir para a boate cedo
“limpar ela” todinha, e agora estou aqui limpando junto com o pessoal, e não
estamos nem perto de acabar.
— Quem foi o fisgado desta vez?
— Então, amiga, eu tenho que...
— Judith, não me enrola, fala logo!
— Promete não surtar?
— Não prometo nada, fala logo!
— Rodrigo.
— Nem sei quem é, mas tudo bem! — Sorrio.
— Amigo do Theodoro.
Arregalo os olhos.
— Eu não acredito, Judith! Só o que me falta é ver minha amiga “pra”
cima e pra baixo com o Theodoro.
— Eu não vou ficar. Eu bati papo com o Rodrigo e não com o Theodoro.
— Amiga, aprenda uma coisa, dica da Mandy. Quando se tem um
relacionamento com um homem que tem um melhor amigo, você terá
relacionamento com duas pessoas, pois o melhor amigo vem de brinde.
— Mas eu não me importaria de ter caso com esses dois gostosões.
Reviro os olhos.
— Você é impossível!
Ela ri.
— Relaxa. Não vai rolar nada entre eu e o Rodrigo, somos de mundos
completamente diferentes. Ele é um cara legal, mas não é “pra” mim.
— Se você está dizendo. Amiga, só quero sua felicidade, mesmo que eu
tenha que te ver junto com o infeliz do Theodoro.
— Obrigada, Mandy! Vou desligar, pois meu chefe já está me olhando
feio. Beijos, te amo!
— Beijos, te amo também!
Deveria ter ido trabalhar, pelo menos não estaria no tédio em que estou.
8 – Theodoro
Acordo querendo matar meio mundo... Na verdade acordo querendo
matar o filho da mãe que emperrou o dedo na minha campainha. E sabem quem
é este ser endiabrado que está fazendo isso? Isso mesmo, acertaram, é o
Rodrigo!
Abro a porta irritado, e ele passa por mim.
— Cara, você está horrível!
— Rodrigo, não enche minhas bolas, porque elas já estão explodindo de
tanto que você enche.
Ele me mostra o dedo do meio e se senta no sofá. Imediatamente a Janete
vem correndo até ele, que a pega no colo. Tranco a porta.
— Traidora, pode esquecer os biscoitinhos — digo, e ela abaixa a cabeça.
— Sabe, cara, eu achava que você era louco, agora eu tenho certeza
absoluta de que você é!
Deito-me no outro sofá, que está livre, e fecho os olhos.
— Já escolheu o cara com quem vai transar?
— Rodrigo, vai se... — Meu celular toca e me levanto para atender, ou
melhor, seguir o som e tentar encontrá-lo dessa forma.
Encontro-o e o atendo.
— Sr. Lancaster, uma escritora solicitou dois de nossos modelos para
fazer a capa do livro dela, e é preciso que o senhor veja isto, ou o Sr. Medeiro,
mas já entrei em contato com ele, e a esposa dele, a Sra. Medeiro, informou que
ele já foi para Milão e volta em uma semana.
Mas que merda, o Eduardo só me lasca, e a Heloísa, esposa dele e minha
melhor amiga, não ajuda! Sabem que odeio tratar de negócios com escritoras,
essas mulheres são loucas e querem me enlouquecer junto. Nessas horas eu iria
amar cuidar dos negócios apenas da agência de Los Angeles, pois ela nunca me
dá trabalho, porque lá é apenas estúdio fotográfico.
— Em breve chegarei aí, Gabe. Agende um horário com ela na parte da
tarde.
— Sim, senhor. Mais alguma coisa?
— Não, obrigado! — Desligo.
Jogo o celular na cama e volto para a sala. O Rodrigo está brincando com
a Janete.
— Vou tomar um banho e me arrumar, porque alguém tem que
trabalhar!
— Theodoro e suas indiretas, você deveria ter um site ou uma página no
facebook.
Eu ainda vou ser preso por matar esse imbecil.

***

Estou na agência. Minha cabeça está explodindo, e parece que todo


mundo resolveu bancar o burro hoje, ou estão testando minha paciência, sem a
qual quase acordei, embora seja coisa que eu tenha para dar e vender.
— Sr. Lancaster? — indaga Gabe à porta.
— Hum?
— A escritora não pode vir à tarde, somente agora...
Paciência, meu amor, volte para mim.
— Mande-a vir agora.
Gabe se retira.
Meu dia não pode piorar, não tem como.
9 – Amandha
Lembram quando eu disse sobre o mau pressentimento em relação à
capa do livro daquela autora? Pois então... EU NÃO DEVERIA TER PERMITIDO.
A agência em que os amigos dela trabalham é a do Theodoro, ela acaba
de me dizer. Pior, ela marcou para se encontrar com ele, e eu tenho que ir junto,
porque é uma negociação. Dou uma mordida no sanduíche que fiz.
Estou comendo e me aprontando para ir ao inferno. Eu me odeio às vezes
por ser tão boazinha, porque sempre me lasco.

***

Chego à agência do paspalho e aguardo a Susan, que é a escritora. Assim


que ela chega, anunciamos nossa chegada, e nos pedem para subir. Para falar
com o Theodoro é pior do que em central de telemarketing. Te encaminham
para várias pessoas até chegar à pessoa correta.
— Susan, por favor, deixe eu negociar para que não haja nenhum
problema depois — digo a ela enquanto esperamos a liberação para entrarmos
na sala dele.
— Certo... Estou ansiosa, será que vamos conseguir?
Sorrio.
— Se tratando do Sr. Lancaster? Vai ser difícil, mas vamos conseguir,
sim!
Passam-se 30 minutos, e nada de sermos atendidas. Caminho até a
recepcionista dele.
— Por favor, marcamos de vir cedo, e já faz 30 minutos que estamos em
espera.
Ela me olha e sorri.
— Desculpa, mas o Sr. Lancaster está tendo uma reunião de última hora.
Aguarde um pouco mais, Srta. Acker.
Reviro os olhos.
— Está bem.
Ele acha que é a rainha da Inglaterra, só pode!
Fico parada ao lado da Susan, cansei de ficar sentada. Meu celular toca, e
é a Judith.
— Oi, amore — digo.
— De qual cor pinto meu cabelo, preto ou ruivo?
Rio.
— Eu não acredito que me ligou para isto, Judith!
— Diz logo, mulher!
— Preto.
— OK, vou pintar de ruivo.
— Para que pediu minha opinião, vaca?
— Não enche. Beijos. — Desliga.
— Srta. Acker e Srta. Carter, ele espera por vocês, podem entrar.
— Susan, vá na frente, vou beber água, porque esta conversa vai ser
longa.
Ela concorda e entra na sala.
10 – Theodoro
Depois de uma reunião com o Eduardo via Skype, eu peço a Gabe para
mandar a escritora e a dona da editora entrarem. Eu deveria ter feito ioga antes,
para ter mais tranquilidade e muita paciência. Pego a caneta e começo a bater
de leve na mesa.
A porta se abre e revela uma morena muito gostosa. Ferrou, quero ver eu
me concentrar nessa reunião... mas cadê a outra mulher?
— Sr. Lancaster — ela diz. Levanto-me elegantemente... E vocês parem
de babar. Caminho até ela e a cumprimento. — Sou a escritora, Susan... Susan
Carter.
Vou passar a ler livros, de preferência os dela.
— Sente-se, por favor. — Ela se senta, e meus olhos vão em direção a
suas pernas. Se concentra, porra! — A dona da editora?
— Foi beber água, já vem, senhor.
— OK. Esperamos por ela ou podemos iniciar?
— Vamos iniciar agora que eu cheguei!
Viro-me rapidamente para a porta e arregalo os olhos.
— Eu não acredito!
A Amandha sorri, pequena demônia!
— Não me olhe com esta cara de espanto, vamos logo tratar de negócios.
Ergo a sobrancelha e sorrio.
— Vocês se...
— Nem pergunte! — digo a Susan.
Todos nós depois de acomodados – e eu, claro, a metros longe da
Amandha para não apanhar – iniciamos a reunião.
— O que as trazem aqui especificamente?
— A Srta. Carter tem dois amigos modelos que são de sua agência e ela
os convidou para serem modelos da capa do livro dela, mas por serem de
exclusividade de vocês, queremos saber como funciona.
— Quais os nomes deles?
— Hector Benz e Alexandra Helder — diz Susan.
Acesso os dados de todos nossos modelos de Nova York pelo
computador. Procuro pelos nomes de ambos, mas vejo que a exclusividade da
imagem deles é totalmente nossa por seis meses, pois estão fazendo uma
propaganda de uma nova linha de roupas que a agência vai lançar em breve.
— Eu sinto muito, mas seus amigos deveriam ter informado a você que
eles não podem ser usados na capa, pois os mesmos estão com exclusividade
total por seis meses devido a um projeto.
A expressão de Susan se entristece. Odeio ser coração mole, droga!
— E não tem nada que possa ser feito? Pagamos o que for preciso — diz
Amandha, que olha para Susan e vê que ela ficou triste, pois noto que Amandha
força um sorriso.
— Amandha... Melhor dizendo, Srta. Acker, não posso fazer nada, sou
vice-presidente, mas não posso interferir em uma regra dada e aprovada pelo
conselho e por mim, isso seria antiprofissional.
— Susan, podemos ver outros modelos.
— É que queria tanto meus amigos, mas se não tem outro jeito...
— Do que fala seu livro? — pergunto.
— É um livro de romance misturado com autoajuda. Conta a história de
uma mulher loira, gordinha que engravida de um empresário após uma noite
em que estavam bêbados e quando ela vai atrás dele, ele a humilha, mas no fim
se acertam. O livro revela as humilhações que ela passa devido à sociedade não
a aprovar e mostra também como ela consegue se manter firme.
— Amandha, você é loira e...
— Nem pense em terminar esta frase! — ela diz, e levanto as mãos em
forma de rendição.
— Mas se a protagonista principal, ou personagem, sei lá como se diz, é
gordinha, por que escolheu sua amiga, que é bem magra e com um corpo muito
desejável, mas enfim, por que sua amiga modelo?
— Porque eu iria usar apenas o rosto dela.
— Entendo, infelizmente não será possível. Sinto por não poder ajudá-la.
— Então está bem. Obrigada por nos atender, Sr. Lancaster — diz
Amandha.
— Obrigada — fala Susan.
Cumprimento-as, e elas saem. Ufa! Escritoras e donas de editoras só
querem o impossível, credo!
A porta se abre novamente, e me assusto quando vejo que é a Amandha.
Só falta essa louca ter lido minha mente! Ela fecha a porta, e eu gelo.
— Podemos manter a porta aberta, acho muito mais seguro... Está calor
aqui, não está?
Ela revira os olhos.
— Theodoro, você pode dar um jeito na situação da Susan, sabemos que
você pode.
Retiro a gravata, e ela me olha assustada. Hoje não, baby, e nem depois,
morro de medo de você.
— OK, vou ver o que posso fazer, mas não tenho como dar uma resposta
hoje.
Ela concorda.
— Quando dará?
— Em breve... — Ela me olha feio. — Hoje à noite.
— OK, passar bem! — Ela sai da sala, e fico olhando para a porta. Qual o
problema das gordinhas? É sério! A Heloísa, quando fica brava comigo, é
igualzinha a essa loirinha louca.
Sento-me na minha cadeira, disco o número da sala do Rodrigo e peço
para ele vir até minha sala, e sabe o que o imbecil diz? Vem você até a minha.
Estou ficando mole mesmo! Pego o nome dos modelos e vou até a sala dele, na
qual entro, e ele ri.
— Não ria, estou louco para te matar desde o dia em que seu irmão
anunciou que você seria sócio e que viria para cá.
— Fala logo o que quer, Senhor Bom Humor!
— Preciso que dê um jeito de conseguir com que esses dois modelos aqui
possam sair na capa de um livro. — Entrego-lhe o papel, e ele olha.
— Theo, não dá, eles são de exclusividade total.
— Jura?! — inquiro com ironia.
— Somente o Eduardo pode resolver isto abrindo uma reunião para
analisarmos.
— Ou...
— Ou o quê? Theodoro, essa sua cara de quem vai aprontar não obtém
bons resultados!
Rio.
— Entra em contato com a Heloísa e fala que quero falar com ela via
Skype em 10 minutos.
— Theodoro, você vai arranjar jeito de o Eduardo te matar.
— Ele não me mata, ele me ama.

***

Entro no Skype na minha sala e espero a chamada da Heloísa. Dez


minutos certinhos, ela me chama. Atendo à chamada de vídeo.
— Oi, minha gordelícia.
Ela sorri, está mais linda do que nunca.
— Oi, meu amor. Vamos ter que conversar rapidinho antes do Lucas
acordar.
— Como ele está?
— Bem, chorando muito, mas bem, a Ana que está complicada, morrendo
de ciúmes. — Ela sorri. O bebê dela está com três meses e é lindo.
— Normal, logo passa. Helô, eu preciso que tente falar com o Eduardo,
preciso de uma reunião de negócios, mas pessoalmente.
— Theo, não sei se vai ser possível. Quando ele voltar de Milão,
prometemos que iríamos cancelar todos nossos compromissos e curtir mais a
família, porque desde que casamos não tivemos tempo um para o outro direito.
— Entendo, mas é muito importante.
— OK, vou tentar ver o que consigo.
Sorrio.
— Não, amor, eu resolvo, curtam a vida de casado e os filhos, e soque as
bolas do Eduardo por mim.
Ela ri.
— Você não muda mesmo! Vai fazer seu aniversário?
— Descobriu a data, eu não acredito!
— Menos a idade! — Ela ri.
— E não vai descobrir. — Rio.
— Vai fazer ou não sua festa?
— Não, odeio comemorar meu aniversário.
Ela ri.
— Eu mando um presente para você. Agora tenho que ir, estou
escutando um gatinho chamado Lucas miar.
Rio.
— Vai lá, dá um beijo na Ana e nele. Amo vocês.
— Beijos, e nós te amamos. — Ela desliga
Droga, como eu vou fazer para liberar esses modelos para Susan? Fiquei
realmente com dó dela e com muito medo da Amandha.
11 – Amandha
Já é noite, e nada do Theodoro entrar em contato. Eu não quero
desapontar a Susan, ela ficou triste pela resposta dele. Passei o dia inteiro
comendo, tenho esse problema, quando fico ansiosa eu como muito. Já acessei
meus e-mails várias vezes, e não há uma resposta dele. Não lhe passei meus
contatos, mas é fácil me encontrar. Era só ele ter entrado em contato com a
agência, ou ter pegado no site.
Nunca me deixem ansiosa, eu fico que nem louca comendo e andando
para lá e para cá. Meu celular toca, e corro para atender. É a Judith.
— Oi.
— Mandy, corre “pra” cá, o Theodoro está aqui na boate e precisa falar
com você.
— Hã?
— Também não entendi. Só estou com uma dúvida, devo chamar o
bombeiro ou a polícia, ou melhor, chamar os dois?
— Idiota! Ele vai falar sobre os modelos que uma escritora quer, só não
entendi por que marcou aí na boate.
— Vou deixar acionados os bombeiros e a polícia.
Rimos.
— Está cheia a casa?
— Quando não está? Vou falar com os seguranças para facilitar sua
entrada, hoje tem DJ novo, o povo está louquinho.
— Esse povo não trabalha, é impossível.
— Não mesmo. Tchau, gata!
Tanto lugar para tratar do assunto, mas ele escolhe justo lá, o inferno!
Tomo um banho rápido, deixo os cabelos soltos e coloco um vestido
pretinho básico, não muito curto, nem muito justo. Nos pés coloco sandálias
pretas com detalhes em dourado. Faço uma maquiagem leve nos olhos, e na
boca passo um batom vermelho. Passo perfume, pego a bolsa e chamo um táxi;
se a casa está cheia, não vai ter lugar para estacionar o carro.

***
Chego à boate, e ela está realmente muito lotada, até mais que o normal.
Passo com facilidade, sou xingada por passar na frente de todos na fila de
entrada, mas pouco me importo. Caminho por lá... Mentira, estou sendo
arrastada pela manada de gente. Saio tropeçando em tudo.
Dica da Mandy para vocês: não usem saltos em uma boate lotada se não
quiserem cair ou tropeçar.
Vou até o bar à procura da Judith. Encontro-a atendendo um pessoal.
Encosto-me ao bar à espera de ela ficar livre. Seu chefe vem me atender.
— O que queres, Amandha?
— Só pedir uma informação para Judith. — Sorrimos um para o outro.
— Vocês duas são terríveis, acham que me enrolam... Vou avisar para ela
vir falar com você assim que terminar de atender esse pessoal. Estamos com
poucos funcionários hoje.
— Está na hora de contratar mais funcionários.
Ele concorda e sorri.
— Vou chamá-la. — Ele se aproxima dela e cochicha em seu ouvido.
Aponta para onde estou, e ela me olha já sorrindo.
Uns dez minutos depois Judith vem até mim.
— Nossa... Está gata, hein? — ela diz, mas nem dou atenção.
— Onde ele está?
— Área VIP. Quando chegar lá...
— Querida, essa não foi a bebida que pedi! — uma mulher a interrompe.
— Claro que foi! — A Judith pega a bebida dela e dá um gole. — Toma
essa mesmo, está uma delícia! — Ela devolve a bebida à mulher. Olho incrédula
para Judith, e a mulher sai xingando.
— Judith! Sua porca louca!
Ela ri.
— Essa mulher é antiga aqui na casa, sempre me enche o saco. Mas
voltando ao assunto, o Theodoro está na área VIP. Quando chegar lá, diz seu
nome ao segurança que ele vai liberar sua entrada. Ele está na mesa do meio
que dá vista total aqui em baixo.
— Valeu, gata! — Afasto-me.
Subo para a área VIP e mais uma vez sou xingada por passar na frente de
algumas pessoas. Estourei minha cota de ser ofendida hoje. Avisto o Theodoro
sentado de lado olhando para a multidão lá em baixo. Ele é irritante, mas é
bonito demais, puta merda!
Aproximo-me dele, que me olha.
— Nossa, pensei que estava vindo de camelo.
Sento-me ao seu lado sem dar importância ao seu comentário idiota.
— Diz logo o que quer, porque quero ir embora.
— À meia-noite o encanto acaba? — questiona zombeteiro.
— Não, à meia-noite eu mato pessoas que me incomodam.
Ele ri.
— Consegui liberar os dois para Susan, mas o livro dela só poderá ser
lançado ou ter a capa divulgada daqui a 5 meses, quando iniciaremos a
divulgação do projeto da agência.
— Sem problemas. Porém, quero adiantar as fotos, se possível, mesmo
que demore para a capa ser publicada. Darei uma capa provisória a ela. Mas eu
não acredito que você fez eu vir até aqui para me dizer isto!
— Será possível, sim, contanto que realmente não revele antes do tempo.
Bem, eu estava aqui e com preguiça de pegar o celular no meu bolso.
— Me dá o dinheiro.
— Dinheiro de quê? — Ele olha sem entender.
Um garçom se aproxima e deixa duas bebidas na mesa.
— Do táxi. Fez-me vir até aqui para dizer isto, que poderia dizer pelo
telefone. Não vim de carro porque não iria ter onde estacionar. Anda, pode dar o
dinheiro do táxi.
Ele me oferece a outra bebida e toma um gole da dele.
— Qual o seu problema comigo? Eu tenho a leve impressão de que não é
apenas por eu ter falado mal de donas de editora ao vivo. — Sorrio e dou um
gole na bebida.
— Quando vai fazer as fotos?
— Vai mudar de assunto? Que clichê, Amandha!
— Se não quer algo clichê, é só dar o dinheiro do táxi, não estou
brincando, você vai pagar.
Ele tira a chave do carro do bolso e a coloca em cima da mesa junto com
a carteira.
— Vamos logo, eu te levo! — Olho para ele e começo a rir. — Você é
louca ou quer dez dólares?
— Você me levar? — pergunto rindo.
— “Pra” você ver, estou arriscando minha vida. Vamos logo!
— Você bebeu, não vou andar com você!
— Amandha, eu tomei um gole da bebida, essa porra fez nem cócegas,
vamos logo!
— E quem me garante que não estava bebendo antes de eu chegar?
Ele dá um sorriso sacana.
— Seu cabelo está lindo.
— Jura mesmo que vai mudar de assunto? E depois eu sou a clichê.
Vamos, mas se eu morrer, eu juro que irei te atormentar até no outro plano!
— Melhor ir de táxi — ele diz rindo e se levanta.
— Não vai pagar a bebida, caloteiro?
— Já está paga, idiota!
— Você me chamou de quê? — Ele se afasta. — Volta aqui! — grito indo
atrás dele.
12 – Theodoro
Estamos indo ao estacionamento da boate. A Amandha se mantém
calada, e eu me mantenho afastado, não sei do que esta louca é capaz. Chegamos
ao estacionamento, que está lotado. Quero ver tirar meu carro daqui. Agora que
estamos próximo a ele, não tem como não andar quase colado à louca, só que
ela está andando à minha frente; eu não seria louco de andar à frente dela.
Olho para o lado e avisto duas garotas com que já dormi. Porra! As duas
juntas ainda por cima, se me virem, vai dar merda, prometi ligar e não liguei...
Droga! Pensa, Theodoro, pensa logo antes que te vejam e você seja um cara
morto. Chego ao meu carro, e a Amandha continua andando. Tenho vontade de
rir, mas me controlo. Puxo-a para que as duas garotas não escutem minha voz.
— O que é isso, Theodo...
Encosto-a ao meu carro a prensando com meu corpo e faço sinal para ela
ficar muda.
— Não fala meu nome.
— O que foi, seu louco?
Olho de rabo de olho para as duas garotas, que agora começam a
caminhar em nossa direção.
— Já sei, dormiu com as duas e falou que ia ligar, mas não ligou e agora,
se as duas te virem, vai dar...
— Conhece beijo técnico? — interrompo-a
— Hã? Conheço, mas duvido que seja técnico. Não tem como ter beijo
técnico, a língua vai ter que escapar, tenho certeza.
— Vamos descobrir agora se tem como!
As meninas se aproximam, e eu beijo a Amandha. Ela me bate, tentando
afastar-me, mas logo desiste.
Beijo técnico? Porra nenhuma! Isso definitivamente não existe, pelo
menos não no meu beijo com a Amandha. Coloco minhas mãos em sua cintura.
Com uma das mãos, ela puxa meu cabelo, e com a outra aperta meu braço. Fico
completamente excitado. Ela beija muito bem, merda!
Ela se afasta me empurrando. Sua boca está borrada pelo batom. Seu
olhar não é nada bom. Estou morto, pelo que vejo em seus olhos.
— Você é louco? Por que fez isso? Era só ter fingindo estar me beijando,
eu até seria compreensiva, agora me beijar de verdade? Você é um idiota! — Ela
está muito irritada.
— Amandha...
— Cala a boca! — Ela se desencosta do carro, e dou um passo para trás.
Sou cagão mesmo, vai que ela enfia as unhas na minha linda pele. Ela se vira e
começa a andar.
— Volta aqui, qual é?! Desculpa, vai, te dou uma carona. Você vai mofar à
espera de um táxi agora.
Ela não me dá ouvidos. Mulheres, qual o problema de vocês? Cedem ao
beijo e depois ficam irritadinhas. Vão se tratar, são loucas!
Entro no carro irritado. Olho no retrovisor e vejo que estou com a boca
toda suja de batom. Limpo-a e ligo o carro. Após muito custo, consigo sair. Sorte
que os donos dos carros que impediam minha saída estavam no
estacionamento. Odeio o estacionamento desta boate, você é obrigado a ver o
que não quer enquanto sai com o carro ou chega com ele, como cenas de sexo ao
vivo e em cores.
Dirijo devagar para ver se vejo a louca em algum lugar. Viro a segunda
esquina da boate e a encontro parada... Espera, ela parece estar chorando!
13 – Amandha
Ele não devia ter feito isso, que raiva! Só de lembrar o que ele disse uma
vez e seu beijo de agora me dá uma raiva tremenda. Como esse idiota pode não
se lembrar da merda que ele me fez, ou esse imbecil acha mesmo que minha
maior raiva é por ele ter falado mal das donas de editoras de livros? É um
paspalho mesmo!
Ando até a segunda esquina depois da boate para tentar pegar um táxi,
porque em dia que lota a casa, os táxis não passam perto dela. Só não sei o
porquê e esqueci meu celular para ligar e pedir um. Agora eu tenho que esperar
passar um bendito amarelinho.
Encosto-me ao poste e fico ali mongando e chorando de raiva. Eu não
devia ter cedido ao beijo, que merda!
Um carro para e o Theodoro sai dele. Merda, fiz a macarena nua em
1830. Enxugo rapidamente as lágrimas. Ele para na minha frente.
— Carona? De graça, só hoje, hein? — ele brinca. Não vou ser orgulhosa,
vou aceitar.
Aproximo-me do carro e abro a porta. Sento-me, coloco o cinto de
segurança e fecho a porta. Logo em seguida ele entra no carro, coloca o cinto e
em seguida dá partida.
— Desculpa, loira. Só estava tentando me salvar.
Não respondo. Olho no espelho retrovisor e começo a limpar meu batom
com a mão mesmo.
— Só vou desculpar porque não guardo mágoas... Ops, eu guardo, sim,
não vou desculpar!
Passo meu endereço a ele. Vamos o caminho todo em silêncio. Estou
morta de raiva dele. O pior de tudo é que o energúmeno tem uma pegada
terrivelmente gostosa. Deveriam sentir o quão deliciosa é.
Ele para o carro em frente a onde moro.
— Obrigada! — Tiro o cinto.
— Espera. Vai me dizer por que realmente tem raiva de mim e por que
estava chorando quando te encontrei?
— Tchau, Theodoro.
Ele segura minha mão e sinto um choque. Afasto-a rapidamente.
— Isso já está ficando ridículo, fala logo por que tem tanta raiva de mim.
— Tenta forçar um pouco a mente. Assim que descobrir, pode me
procurar, que prometo te dizer o que senti naquele dia. — Saio do carro.

***

Entro em casa e tiro as sandálias... É uma maravilha ficar sem elas!


Deito-me no sofá e suspiro. Vêm lembranças do beijo, e sinto um
friozinho na barriga. Oh, delícia de homem. Mesmo ele já tendo feito merda, é
um pedaço de mau caminho.
14 – Theodoro
O que ela quis dizer com: tenta forçar um pouco a mente. Assim que
descobrir, pode me procurar, que prometo te dizer o que senti naquele dia?
O que eu tinha que lembrar? Ai, que porra, odeio ficar confuso e curioso!
Chego a casa e sou recebido pela minha princesinha Janete.
— Oi, meu amor! — Pego-a no colo, e quando ela começa a lamber meu
rosto, sorrio. — Calma, princesa!
Passo a chave na porta e me sento no sofá com Janete. Fico brincando
com ela e dando a atenção que ela merece, pois ultimamente quase não tenho
feito isso. Quando ela se cansa, sai do meu colo e vai brincar com os seus
brinquedinhos, que estão espalhados pelo chão da sala.
A diarista não vai gostar nada quando encontrar essa bagunça. Rio,
olhando-a tentar pegar vários brinquedos ao mesmo tempo com a boca.
Vou para o quarto e me deito na cama. Estou um porre, puta merda!
Mulheres, por que complicam as nossas vidas com seus códigos Morse? Eu não
desvendo nem os problemas da minha vida, quem dirá as insinuações de vocês.
Jogo a carteira e o celular na cama e cubro os olhos com o braço.
— Ai, que inferno! Theodoro, tenta se lembrar de que merda fez para
aquela loirinha louca! — brigo comigo mesmo. Não estou bem, não mesmo!
Aquela louca da amiga dela deve saber o motivo de ela ter raiva de mim,
mas o que vai adiantar eu perguntar? Mulheres, quando querem foder com a
vida de um homem, unem-se em uma gangue. Quem passar por elas é revistado
pela Interpol. Resumindo, ela não vai me falar... mas pode me ajudar sem saber
que está me ajudando. Porra, sou um gênio.
Pego a carteira e o celular e saio rapidamente do quarto. A Janete, assim
que nota que vou sair, fica rodeando-me.
— Já volto, esposa, se comporte! — Saio de casa. Peço um táxi enquanto
desço, não vou passar pelo inferno do estacionamento daquela boate de novo.

***

Chego à boate, e a entrada está vazia. O que houve aqui? Aproximo-me


do segurança, que já me conhece, e pergunto:
— O que houve?
— Briga feia, Sr. Lancaster, deu até polícia. Parece que uma mulher
encontrou o marido com uma amante, não deu para entender direito. Sei que
voou mesa, copo... foi aquela porradaria.
Arregalo os olhos.
— Nossa, alguém saiu ferido?
— Algumas pessoas, sim, mas nada grave.
Fico aliviado.
— Eu queria muito falar com a Judith, será que posso?
— Claro!
— Obrigado, cara! — Passo por ele.
O lugar está com a luz acesa, e os funcionários limpam a bagunça toda. É
estranho ver isso aqui vazio e todo bagunçado. Avisto a Judith na área VIP. Ela
está agachada com luvas, recolhendo algo do chão. Subo até a área, e ela não vê,
pois está de costas. Paro atrás dela e grito:
— Judith!
Ela dá um pulo.
— Meu Deus! Quer me matar, infeliz? — ela indaga com a mão no peito, e
rio.
— Foi mal.
Ela solta o ar com força.
— Não estamos funcionando, como pode ver, então chispa!
— Credo! Você e sua amiga têm um humor que puta merda!
Ela revira os olhos.
— Fala logo o que quer de uma vez. — Ela volta a recolher do chão o que
descubro serem cacos de vidros, que está jogando dentro de uma sacola.
— Não é mais fácil retirar com a pá e a vassoura? — Péssima ideia
perguntar, vocês estão vendo a cara dela? Pois é, estou com medo também.
— Não queira ensinar o meu serviço, playboyzinho. Anda, Theodoro, diga
logo o que quer, tenho muito que fazer.
Encosto-me à grade e coloco as mãos nos bolsos.
— Judith, eu estava pensando sobre por que sua amiga me odeia tanto e
notei que não é apenas por aquela maldita entrevista. Acredito que tem algo a
mais, então eu pensei...
— É, realmente tem algo a mais, e não, eu não vou te contar!
Merda!
— Não quero que me conte, só acho justo que me ajude a lembrar...
— É a mesma coisa que contar! — Ela se levanta e me olha com um olhar
desafiador.
— Porra, eu não aguento mais viver nesse inferno. Eu tenho o direito de
saber por que sua amiga me odeia tanto! — grito.
— Primeiro, segura a franga. Estou cansada dessa putaria toda de vocês.
Não vou contar, mas darei um empurrãozinho para você se lembrar. Mas você
vai me ajudar a arrumar essa parte inteira aqui... — Olho-a feio. — Ou não tem
ajuda.
— OK!
Ela sorri.
— Sente-se aqui e relaxe, titia Judith vai te ajudar a se lembrar. — Ela
puxa uma cadeira, e me sento nela. Ela se senta em uma cadeira de frente para
mim.
— Eu só me lembro da entrevista e de que ela ficou puta da vida porque
eu disse maldades sobre donas de editoras, e foi então a primeira vez que ela
entrou em contato comigo.
Ela ri.
— Homens, nunca se lembram de suas burradas! — Reviro os olhos.
— Theo — ela ironiza —, quando saiu daquela bendita entrevista, para onde
foi? Consegue se lembrar?
Franzo o cenho tentando me lembrar. Ah, claro, foi a primeira vez em
que vim aqui...
— Sim, foi a primeira vez em que vim aqui. Saí da entrevista e vim para
cá com alguns colegas, mas eu fiquei bebendo no bar apenas. Naquele dia eu
lembro que estava querendo encher a cara... Era meu aniversário.
Ela sorri.
— Ótimo, se lembrou de quase tudo... Naquele dia foi quando nos
conhecemos. Eu te mandei ir à merda porque você ficou irritado por eu ter...
— Ter me falado muito sobre o que eu disse na entrevista. Disse que
tinha uma amiga dona de editora e que ela não era nada do que eu disse. Acabo
de me lembrar disso, mas o que tem a ver?
Ela suspira.
— A casa estava lotada, e eu e você ficamos discutindo. Você estava
enchendo a cara, mas não estava bêbado. Eu disse que você era preconceituoso,
e nesse momento chegaram duas mulheres. Elas se sentaram cada uma a um
lado seu ao balcão, e foi aí que a merda aconteceu.
— Merda? Como assim? Eu lembraria se tivesse feito merda!
Ela se levanta e ri.
— Agora é com você. Enquanto me ajuda a limpar aqui, talvez se lembre.
— Ela ri.
Começo a ajudá-la com o pesado, como colocar uma mesa em cima da
outra, amontoar as cadeiras em um canto só, descer os sacos de lixo.
Estou descendo o último saco enquanto Judith está na parte de baixo,
rindo.
— Vamos lá, Senhor Riquinho, força na peruca! — ela grita, e os outros
funcionários riem.
— A única peruca que tenho fica localizada em uma zona muito firme e...
— não termino de falar, pois ela arregala os olhos.
— Ai, seu nojento! — ela grita fazendo cara de nojo, e rimos.
Depois de ajudá-la com sua parte, eu ganho uma bebida que ela me
prepara... Mentira, eu tenho que pagar!
Estou encostado ao balcão, bebendo, enquanto ela chuta algumas caixas
de bebidas para os fundos. Minha mente está focada nas tais das duas mulheres,
só não sei o que isso tem... Porra!
— Puta merda! — grito batendo o copo no balcão e fazendo a Judith se
assustar.
— Cara, se você não gosta de mim, é só falar, não precisa me matar do
coração! É a segunda vez só hoje!
— Judith, eu me lembrei, agora sei por que ela tem raiva de mim. Não é
apenas pela entrevista, a primeira vez em que vi a Amandha foi naquele dia
aqui!
— O que se lembra?! — pergunta animada.
— Você disse que eu era preconceituoso, eu fiquei puto da vida com isso,
então olhei para as duas mulheres ao meu lado e disse que não era, pois pegaria
a gorda loira à minha esquerda, mas não passaria de um beijo qualquer, pois era
gorda, e depois transaria com a loira magra e muito gostosa à minha direita. Eu
falei essa porra, e a loira à minha esquerda era a Amandha. Ela me olhou
chocada e me xingou, disse que eu era realmente um imbecil e que o ódio que
sentia por mim só havia aumentado. — Esfrego o rosto com raiva. — Eu não
estava tão bêbado, mas estava alterado, era meu aniversário. Eu odeio meu
aniversário e falei merdas e nem sei por que falei, talvez por estar ficando mais
velho e mais babaca! A primeira vez em que vi sua amiga foi aqui e disse
asneiras, droga!
— ALELUIA, ALELUIA, ALELUIA! — Ela canta e dança.
— Judith, pare! Porra, isso é sério. Eu odeio agir como um babaca,
mesmo sabendo que às vezes sou um.
— Agora entende por que ela tem mágoa de você? A Mandy não fala, mas
ela se faz de durona, ela é... a melhor amiga que alguém pode ter. Mesmo
passando por várias humilhações por causa do preconceito da sociedade, ela
nunca deixa com que as mágoas interfiram no seu jeito carinhoso de tratar as
pessoas. Theodoro, você foi um idiota, pois eu sou gorda, eu sei o que é ser
humilhada, e aquilo que fez, foi o mesmo que humilhá-la.
Fico comovido com as palavras da Judith.
— Doidinha, você não é gorda, você é linda. Não deveria ligar para o que
dizem.
Seus olhos se enchem de lágrimas. Pela primeira vez desde que a
conheço, vejo-a desmanchar a pose de durona. Acho que em outra encarnação –
não que eu acredite nisso – eu era um psicólogo. Atravesso o balcão e a abraço.
— Odeio ver mulheres chorarem!
Ela esconde o rosto com as mãos e se encolhe nos meus braços.
— Não estou chorando.
— Por fora, não, mas por dentro, sei que está — foi eu dizer isto e
escutar seu soluço.
Os funcionários nos olham, mas pouco me importo com o que devem
estar pensando.
Ela se afasta e enxuga os olhos.
— Valeu... Se contar para alguém sobre me ver chorar, eu corto suas
bolas! — ela diz apontando o dedo para a minha cara, e rio.
Sabe qual a pior coisa do mundo fora as guerras, o preconceito e o
câncer? É fazer merda e não saber como consertá-la!
— Obrigado por me ajudar, fico te devendo essa!
— Fica mesmo!
— Vou indo nessa!
— Eu também, vou recolher minhas coisas, estou morta, já fiz hora extra
demais!
— Vai embora com o quê?
— Com as pernas, já ouviu falar?
— Se eu te bater, vou ser preso?
— Tenta a sorte! — Ela ri. — Vou de metrô. — Olho incrédulo para ela.
— Aquilo grande que anda nos trilhos, é muito conhecido...
— Idiota, eu sei o que é, só estou espantado que você vá pegar isso a esta
hora. Estou sem carro, mas divido um táxi com você. — Ela me olha com cara de
tô sem grana. Se não existe essa cara, ela acaba de inventar! — Eu pago!
— Vi vantagem agora. Já volto! — Ela entra por uma porta e some.

***

O taxista para o carro em frente a uma humilde casa, muito humilde


mesmo. A Judith se despede e me faz prometer que não vou contar a Amandha
que eu a abracei. Sai do carro, e passo meu endereço ao taxista, e ele segue o
caminho.
15 – Amandha
Estou na editora, e com aquele humor que só Deus na causa. Onde olho,
eu vejo problemas atrás de problemas. Fico um dia sem vir, e colocam a editora
abaixo. A rata mãe sai, e os ratos filhotes fazem a festa, porque a situação está
um caos, e sei que vem mais problema, pois a Abigail não iria estar agora à
minha porta com essa cara de quem comeu e não gostou.
— Solta logo a bomba! — digo a ela.
Abigail é a crítica em tradução. Todos os livros traduzidos passam por
ela, e assim ela confere com olhar bem critico onde tem erros. O pessoal não
gosta muito dela, pois a doida é enjoada, fica com o original e o traduzido e
passando o canetão vermelho em tudo. Tem a Sabrina também, e ela é tão ótima
quanto a Abigail, mas é mais calma.
— Amandha, as traduções desses seis livros que estão em pré-venda
estão uma droga, e pior, são todos da mesma autora. É da série que ela quis
lançar toda de uma vez, é a edição especial para o boxe. — Ele me entrega um
papel.
Vejo o papel e leio os dados da autora e quais são os livros.
— Eu não acredito! Você não olhou a tradução antes de ir para a pré-
venda? Em uma semana eles saem da pré-venda! — digo alterada.
— Eu olhei e marquei onde estavam todos os erros, que eram quase nos
livros todos, e mandei para a tradutora que está com eles. Se ela não mudou, eu
não tenho culpa! Fui ver agora as amostras que chegaram da gráfica.
— São latinos, sabem que esta tradução para o inglês tinha que ter sido
feita com muita atenção. E agora? Estamos ferrados! — Apoio o rosto nas mãos
e conto até 10.
— Prorroga a pré-venda e manda brindes para compensar o tempo. Fala
com a agente literária dela e com a equipe de publicidade da editora, bola
alguma desculpa, porque esses livros vão levar mais um bom tempinho para
sair da pré-venda.
— Inferno! Os traduz para mim? Te pago a mais, pois eles viraram
prioridade agora.
— Claro, mas vou iniciar do original, pois essas traduções estão
uma cagada. Quando olhei o original e a tradução, quase enfartei. Não foi por
falta de aviso, tenho provas de que mandei e-mail para a tradutora deles e avisei
onde estavam os erros. Ela disse que iria corrigir, mas não corrigiu, e ainda por
cima mandou em PDF lacrado para as meninas que cuidam de encaminhar para
a gráfica, ou seja, elas acreditaram que estava correto. E outra, era para terem
voltado para mim novamente, para eu tornar a analisar.
— Quem os traduziu?
— A Claire.
— Nem me lembrava mais quem era. Vou chamá-la agora aqui à minha
sala.
— E eu vou indo nessa, minha mesa esta abarrotada de textos para
avaliar. Fui!
Vou ser dona de editora, não quero ser mais psicóloga... Agora enfarta,
gordinha. Chamo a Claire à minha sala, e em menos de 10 minutos ela chega.
— Claire, você recebeu a análise crítica da série de seis livros da autora
Dulce?
— Sim.
— E por que não corrigiu a tradução? — Isso, Amandha, está indo muito
bem, manter a calma é o melhor a ser feito.
— Porque a Abigail fica de birra com tudo que é feito pelas tradutoras,
nunca nada agrada a ela. Minha tradução está correta. Eu sou boa no que eu
faço.
— A Abigail é uma das mais requisitadas tradutoras do mundo, ela fala
quatro idiomas fluentemente. Se ela disse que os livros têm erros, é porque têm,
pois ela é crítica nisto, e um crítico tem um olhar muito mais correto. Todos
dentro desta editora recebem muito bem... Você sabia que o pagamento de
muitas tradutoras ao redor do mundo não chega aos pés do que pago a vocês?
— Ela nega. — Pois então, vocês recebem muito bem, todos aqui têm
reconhecimento pelos seus trabalhos e são muito bem tratados, ninguém aqui é
melhor do que ninguém. Se a Abigail aponta erros, é porque ela quer que vocês
cresçam cada vez mais como profissionais. E outra coisa, o nome de vocês
estará nos livros em que trabalharam, e com isso qualquer pessoa conseguirá
descobrir quem foi o culpado por determinado erro, e a Abigail não quer isso.
Eu também não quero. Agora, se você acha que a Abigail é crítica demais,
comece a aprender com seus erros para ela parar de criticar. Se sua tradução
estivesse correta, não teria que voltar a ser traduzido.
— Amandha, eu acho isso injusto. Tem tradutoras aqui muito melhores
do que ela e do que a Sabrina! E outra, é sempre comigo que elas mais implicam,
principalmente a Abigail.
Sorrio.
— Tipo você? — Ergo a sobrancelha. — Se quer chegar onde a Abigail e a
Sabrina estão, comece a mostrar que é capaz disso começando por aceitar
críticas construtivas e abaixar um pouco seu ego. Agora sai daqui, vai beber uma
água, dar uma volta pela editora, e quando seu orgulho diminuir, você volta
para sua salinha e comece a pensar no porquê é com você que elas mais
implicam.
Ela sai irritada da minha sala, e eu estou pouco me importando.
Paciência tem limite, e aqui ninguém é melhor que ninguém.
Abro meu e-mail e me assusto quando vejo um e-mail do Theodoro.

De: Theodoro Lancaster Junior


Para: Amandha Acker
Assunto: URGENTE!

Amandha, eu preciso falar urgente com você. Podemos nos encontrar?

CEO, THEODORO LANCASTER JUNIOR, AGÊNCIA LIZEER, NYC

De: Amandha Acker


Para: Theodoro Lancaster Junior
Assunto: (ODEIO COLOCAR ISSO)

O que quer falar comigo? Dá para adiantar? E sim, podemos nos


encontrar, mas vá com colete à prova de balas, sei atirar!

EDITORA PLUSER, AMANDHA ACKER, NYC


De: Theodoro Lancaster Junior
Para: Amandha Acker
Assunto: (ODEIO COLOCAR ISSO 2)

Não dá para adiantar. Pode ser no meu apartamento? Pelo menos lá


conheço os vizinhos e tenho como pedir socorro.

CEO, THEODORO LANCASTER JUNIOR, AGÊNCIA LIZEER, NYC

Apartamento dele? Que seja alto o bastante para eu jogá-lo da sacada!

De: Amandha Acker


Para: Theodoro Lancaster Junior
Assunto: (ODEIO COLOCAR ISSO – PAGA PAU, NÃO TEM CRIATIVIDADE
E COPIA!)

OK, me manda o endereço e a hora. E saiba que assisto CSI, sei fazer um
crime parecer suicídio!

EDITORA PLUSER, AMANDHA ACKER, NYC

Desligo a tela do computador e respiro fundo. O que esse retardado quer


comigo? Com certeza é para me encher o saco!
16 – Theodoro
Não consegui pregar o olho a noite toda! Estou um lixo hoje, e sim,
podem acreditar que o gato aqui consegue ficar um lixo. Não me concentro em
nada. Eu preciso pedir desculpas para a loirinha, ou vou pirar. Mandei e-mail
com meu endereço e a hora em que ela tem que estar no meu apartamento. Eu
espero que ela vá.
— ...O que acha, Theodoro?
Olho para as pessoas ao redor da mesa de reuniões e nem sei o que elas
estão falando. Minha cara deve estar muito cômica, porque o imbecil do Rodrigo
está rindo.
— É bacana... Gente, nem estou prestando atenção para falar a verdade.
Continuem sem mim, depois eu pego tudo com o Rodrigo. Com licença. — Saio
da sala de reuniões sentindo olhares às minhas costas igual a filmes de terror, o
que é estranho, porque eu não assisto a filmes de terror por medo.
Passo pela mesa da Gabe, e ela avisa que recebi ligações, mas nem escuto
de quem foram. Se tem uma coisa que odeio é me sentir mal por algo que fiz.

***

O dia passa que nem tartaruga, só que tartaruga aleijada. Odeio quando o
dia passa devagar, parece que perco 100 anos da minha vida só nele.
Saio da empresa que nem um louco, nem espero pelo Rodrigo. Chego a
casa e tomo um banho rápido. Alimento minha esposa Janete. Olho para o
relógio, e já é quase a hora à qual pedi para a Amandha chegar. Se ela não vier,
eu vou atrás dela até o fim do mundo para pedir desculpas. Não vou aguentar
ficar nessa agonia em que estou! Ligo para a portaria e deixo avisado que pode
mandá-la subir direto.
Meu celular toca, e é uma mensagem do meu grude, o Rodrigo:

Gazela, tá fugindo? O que tá pegando? Sofrendo por amor, é? Ou está na


correria para ir à lua de mel com sua querida esposa Omelete?
Respondo:

Vai à merda, e para de inventar nomes para a Janete!

Guardo o celular no bolso a tempo de a campainha tocar. Abro a porta e


encontro uma loira baixinha com cara de poucos amigos. Eu deveria ter
colocado colete à prova de balas!
— Entre. — Dou passagem a ela e tranco a porta.
Imediatamente a Janete vem correndo e começa a pular nela. Com
certeza Amandha deve estar se borrando de medo e vai pedir para eu tirar a
Janete.
— Oi, meu amor! — Ela se abaixa e acaricia a cadela. Fico que nem um
idiota olhando.
OK, podem parar de rir de mim!
Ela se levanta, mas a Janete continua querendo a sua atenção.
— Janete, vai “pra” lá. — A Amandha começa a rir. Pergunto a ela: — Que
foi?
— O nome da cachorra é engraçado. — Reviro os olhos. Mais uma sem
classe que não entende a pura riqueza do nome da minha esposa. — Uau,
que AP lindo. Bem masculino, mas lindo. — Ela fica olhando tudo.
— Obrigado. Aceita uma bebida?
— Não. Vamos direto ao assunto?
Indico o sofá, e ela se senta. Sento-me no sofá em frente, e a Janete logo
se enrosca no meu pé, ficando deitada.
— Amandha, eu descobri por que você tem tanta raiva de mim — vou
direto ao ponto. Ela me olha assustada, e vejo seu rosto perder um pouco a cor.
— Me perdoa por ter sido um idiota com você. Eu estava um pouco alterado
naquele maldito dia na boate. Eu falei aquilo sem pensar direito. Era meu
aniversário, e geralmente sou um babaca nessa data.
— Você é babaca em todos os dias.
Sorrio.
— Eu não devia ter feito aquilo... Na verdade, eu não devia ter esquecido.
Você tem todo direito de ter ficado com raiva. Agora entendo por que, quando te
beijei, você ficou com raiva. Eu nunca te chamaria de gorda, nem você e nem a
ninguém, eu fui um completo idiota naquele dia. Sou um cara que odeio pessoas
preconceituosas e acabei sendo com você. Me perdoa, por favor?
Ela me olha e suspira.
— Eu me senti um lixo naquele dia. Estava acostumada com comentários
bestas, mas aquilo foi diferente. Me senti humilhada mesmo. Já estava com raiva
de você pelo que disse na TV, mas quando disse aquilo para mim, minha
vontade foi de te matar. Naquele dia eu saí da boate e fui para casa chorando
que nem uma louca de tanta raiva e humilhação que eu sentia.
Sinto um nó na garganta e me levanto. Coloco as mãos nos bolsos e
caminho até a porta de vidro da sacada. Olho para fora e depois me viro para
ela, que me olha atentamente.
— Amandha, você é linda. Eu fui um idiota por ter dito que era gorda.
— Fico feliz que tenha reconhecido seu erro, mas saiba que me
acostumei a implicar com você e isso não vai mudar.
Sorrimos.
— Eu também me acostumei.
— Você disse que era seu aniversário e que é babaca nessa data. Por
quê? — Sorrio. — Já sei, tem a ver com sua idade. Eu sempre fui curiosa para
saber quantos anos você tem.
— Você me deu 26 uma vez, lembra? Quando foi ao evento em que
minha amiga Heloísa desfilou como modelo, no Brasil.
Ela ri.
— Mas eu disse que aquilo foi um teste e eu peguei você, porque ficou
todo feliz quando dei essa idade. Eu tenho certeza de que já saiu da casa dos 20
há um bom tempo.
Coloco a mão no coração.
— Essa doeu!
Ela ri. A campainha toca, e a Janete corre para a porta e começa a pular
nela e a latir. Para ela ficar assim, só pode ser minha sombra chamada Rodrigo!
— É o meu amigo. — Caminho até a porta e a abro.
— Fala, Danonete! — Ele se abaixa e brinca com a Janete.
— É Janete, mas que porra! O que quer, Rodrigo?
— Vim trocar sua fralda, amor! — Escuto a Amandha rir. — Ele estica o
pescoço e arregala os olhos. — Vim em péssima ou boa hora? Devo chamar a
polícia?
— Péssima hora, e a polícia só vai me levar preso por eu te matar. Vai
atrás do seu grande amor, Rodrigo!
— E você atrás de um cara, não me esqueci da aposta.
— Eu ganhei, porque não rolou nada com você sabe quem.
Ele revira os olhos, e eu rio.
— Vou indo nessa. Tchau, loira! — Ele dá tchau para a Amandha, que
retorna rindo. Tranco a porta
Olho para a Amandha, e ela se levanta.
— Vou indo também.
— Desculpe-me pelo idiota do Rodrigo.
Ela sorri.
— Ah, este é o tal Rodrigo.
— Sim, por quê?... Ah, sim, Judith.
Ela concorda.
— Obrigada pelo pedido de desculpas.
Sorrio.

***

Sinto-me muito melhor agora que pedi desculpas para ela. Posso ser um
cara gostoso, lindo para caramba, mas odeio quando o erro é meu e não me
desculpo.
Acesso meu e-mail e tem um convite para um evento.

De: Gormet
Para: Theodoro Lancaster Junior
Assunto: Festa de inauguração

Convidamos você para a inauguração da Joalheria Gormet.


O evento ocorrerá amanhã, na própria joalheria, que se encontra na 5ª
avenida.
Horário: 20h00min
Esperamos por você.

Como sou um cara desocupado em determinados dias como amanhã, eu


vou.
— Ai, Janete, sem morder! Você precisa de um banho, amanhã vou te
deixar na pet shop. — Coloco-a no chão.
17 – Amandha

Chego a casa animada. É bom ver homem te pedindo desculpa, se


redimindo pelo seu erro, e quando digo homem, eu digo em geral, toda a
humanidade. Deito-me no sofá e fico sorrindo. A Judith e o Rodrigo vão se dar
bem, ele parece ser um cara bom, e ela merece isso. O Theodoro é legal até, mas
só de vez em quando, como hoje e no dia em que me trouxe à casa.
Levanto-me e vou atrás de algo para comer, estou morta de fome.

***

Estou bela e diva dentro do meu pijama e muito cheirosa. Deitada na


cama, eu fico vendo meus e-mails pelo celular.

De: Gormet
Para: Amandha Acker
Assunto: Festa de inauguração

Convidamos você para a inauguração da Joalheria Gormet.


O evento ocorrerá amanhã, na própria joalheria, que se encontra na 5ª
avenida.
Horário: 20h00min
Mulher pode levar mais um acompanhante.
Esperamos por você.

Amo festas de inauguração! Vou chamar a Judith para ir comigo. Envio


uma mensagem para ela, que diz que está de folga amanhã e que vai.

***

O dia na editora foi corrido mais que o normal por causa da confusão
com a tradução da série da autora Dulce. Meu almoço foi apressado, minha vida
hoje está acelerada. A Judith já está em casa, ela tem a chave reserva. Imagino a
zona que ela já fez.

***

Chego a casa e me deparo com a Judith deitada no chão da sala comendo


e assistindo a um filme.
— Que milagre, não colocou fogo na casa! — brinco, e ela me mostra o
dedo do meio.
— São 19h40, Mandy!
— Eu sei, atrasou na editora. E é ótimo chegar atrasada, porque as
pessoas ficam se perguntando: será que ela vem?
Ela ri.
— Depois eu sou a idiota!
Arrumamo-nos. A Judith trouxe tudo o que ela irá precisar e se arruma
bem mais rápido que eu. Ficamos prontas às 20h30.
— Vamos de carro ou táxi?
— Carro. Você volta dirigindo.
Ela concorda.
— Sorte que eu trouxe minha carteira de motorista.
— Você sempre traz, porque sabe que te deixo dirigir.
— Fato!

***

O evento está lotado. A joalheria é linda, toda branca e com alguns


detalhes em marrom.
— Sabe que não sei falar chique, então não me deixe sozinha falando
com alguém — a Judith cochicha ao meu ouvido.
— Nunca deixaria.
Ela sorri.
Um garçom passa e nos oferece champanhe, que nós aceitamos.
— Amandha Acker! Fico muito feliz que tenha vindo. Eu sou uma
adoradora de sua editora e seus autores! — diz uma moça jovem, morena e de
óculos.
— Fico muito honrada sabendo disso. — Sorrio.
— Sou Eliza Gormet, a dona daqui. — Ela cumprimenta a mim e a Judith
com um aperto de mãos.
— Prazer, Eliza. Linda joalheria!
— Obrigada! É uma honra ter você aqui.
— Adorei ser convidada! Esta aqui é minha amiga, Judith.
— Espero que tenha gostado, Judith! — diz ela sorrindo.
— Adorei! — Judith fala.
Chamam a Eliza, e ela se afasta, indo ao encontro da pessoa que a
chamou.
— Nossa, ela parece ser bem jovem. É linda! — comenta Judith.
— Verdade. Vem, vamos ver as joias.
Ficamos vendo as joias e babando por elas. Os preços não são muito
agradáveis, mas as joias são lindas.
— Olha que linda essa corrente com a letra A — falo para a Judith.
É de prata a corrente, e o pingente é diamantado.
— Linda mesmo, Mandy. Fechem a joalheria, não tem a letra J.
Sorrio.
— Deve ter por encomenda, sua tonta. — Sorrimos. — Quero essa
corrente, estou babando nela.
— Mandy, eu vou até o banheiro, já volto.
Concordo, e ela se afasta. Fico olhando a vitrine onde está a corrente e
vendo vários tipos dela, mas a diamantada é a mais bonita.
— Amandha!
Viro-me rapidamente.
— Theodoro!
Ele está ao meu lado e com a expressão surpresa.
— É meio psicopatia sua ficar seguindo as pessoas — ele comenta, e
sorrio.
— Digo o mesmo! — Volto a atenção para a vitrine e fico olhando a
corrente. Eu não vou dar 300 dólares nela! Prefiro pagar caro em coisas úteis.
— Vai quebrar a vitrine desse jeito! — ele fala, e olho para ele.
— Estou admirando a corrente. — Aponto para ela, e ele olha.
— Um absurdo o preço, porém é linda.
Concordo.
— Me deixa ver se a Judith encontrou o banheiro.
— Ela veio?
— Sim, eu podia trazer um acompanhante.
— E o bullying começa quando o homem não pode trazer acompanhante,
mas a mulher pode!
Rio.
— Mulheres são divas e merecem tudo! — Dou uma piscadela e me
afasto.
Eu me afastei não por causa da Judith, mas por causa dele. Sei lá, sinto
coisas loucas perto dele desde o dia da boate, quando ele me beijou. Parem, não
sou clichê, certo? Eu assumo, estou interessada no babaca de quem mais tenho
raiva no mundo!
18 – Theodoro
Não sou idiota, a Amandha está fugindo de mim. Desde o dia em que a
beijei, eu venho notando a distância dela. Ela me provoca normalmente, mas
anda me evitando muito mais que o normal.
Olho a vitrine e fico chocado com os preços. Só um louco para comprar
qualquer coisa aqui!
— Theodoro! — diz Judith.
— Me ama mesmo. Não vou à boate e você vem atrás de mim. — Rio.
— É... O amor faz esse tipo de coisas, como perseguições! — ela fala com
uma voz grossa.
— Idiota!
Rimos.
— Viu a Amandha?
— Ela foi “pra” lá — aponto na direção em que ela foi —, atrás de você.
— Eu, hein... Ela viu que não fui naquela direção para o banheiro.
Theodoro, o que você aprontou?!
Coloco as mãos nos bolsos e ergo a sobrancelha. Por que o homem é
sempre o culpado? Mulheres, vocês são loucas!
— Eu não fiz nada.
— Sei... — ela diz com desconfiança.
— Eu “tô” falando sério.
Ela revira os olhos e se afasta.
Eu mereço! Duas loucas em um único dia, eu devo estar pagando meus
pecados. Afasto-me e vou até um grupo de conhecidos.
— Olá, Theodoro, sumiu! — diz Gregory.
— Sem tempo, cara! — Cumprimento todos eles.
— Casou? — pergunta o Brady. — Só assim “pra” você usar a desculpa
do sem tempo.
— Que nada! Estou trabalhando muito.
— Precisa sair mais com a gente. Domingo vamos jogar basquete, topa?
— Jamie pergunta.
— Ótimo, só falar a hora.
— 15h30, leva o Rodrigo — diz Brady.
— Levo sim.
— Com licença, rapazes. Sr. Lancaster, eu fico feliz que tenha vindo —
fala uma moça jovem, linda e de óculos. — Posso dar uma palavrinha com o
senhor?
Concordo. Afastamo-nos do pessoal e vamos até um lugar mais
reservado da joalheria.
— Sou Eliza Gormet, dona daqui.
Sorrio.
— Obrigado por ter me convidado, o lugar é lindo.
Sorrimos.
— Sou apaixonada por sua agência de modelos e gostaria muito de saber
como funcionaria para contratar alguns modelos de mãos e pescoço.
Coloco uma mão no bolso.
— Dê uma passada amanhã na agência e conversaremos sobre isso.
— Maravilha! Eu vou montar um desfile com uma coleção de joias que
não está aqui, aí preciso de modelos de mãos e pescoço.
— Sem problemas... — Vejo a Amandha conversando com a Judith, e elas
olham para onde estou. — Passe lá antes das 5h da tarde.
— Estarei lá. O senhor é muito mais bonito pessoalmente do que nas
fotos.
Sorrio.
— Obrigado. Agora, se me der licença, eu tenho que falar com uma
pessoa.
— Claro. — Ela sorri e se afasta.
Olho para a Amandha, que está me olhando, aponto o dedo em sua
direção e indico para ela vir até mim. Ela faz que não com a cabeça, mas a Judith
a empurra.
Ela se aproxima de mim e ergue a sobrancelha.
— O que você quer? Você é um pé no saco!
— Por que está fugindo de mim? Está com medo de alguma coisa? —
Pela primeira vez, vejo a Amandha ficar de boca aberta sem ter o que dizer. —
Anda, fiz uma pergunta, Amandha.
Ela olha o celular e sorri
— Tenho que atender.
Rio.
— Nem tocou, Amandha!
— Estava vibrando.
Puxo o celular da mão dela e o olho.
— Não, não estava vibrando. — Coloco o celular dela no meu bolso. —
Qual sua desculpa agora?
— Theodoro, me devolve meu celular e para de encher meu saco.
— Vamos dar umas voltas, topa?
Ela ri.
— Só que não!
— Só que sim.
— Mesmo que eu quisesse ir, não posso, a Judith está comigo.
— Ela sabe dirigir? — Ela concorda. — Vieram de carro? — Ela concorda
novamente.
— Nem pense, eu não vou a lugar algum com você!
— Judith! — Chamo-a, e todos olham. Ela abaixa a cabeça envergonhada
e vem até a mim.
— Gente, eu estava escutando vocês de lá! Que mico!
— Vou sair com a Amandha. Fica com o carro dela.
— Eu vou te matar! — diz Amandha. Ela retira da bolsa a chave do carro
e a entrega para Judith, que coloca na bolsa.
— Em qual sinal eu devo chamar a polícia? — pergunta Judith.
— No meu sinal. Sua amiga é perigosa.
Ela ri, e a Amandha dá um beliscão nela.
— Só 20 minutos do meu tempo você vai ter, e nada mais! — fala
Amandha andando à frente.
— Oh, mulherzinha birrenta!
— Você não viu nada! — fala Judith indo em direção à saída para o
estacionamento.
Por que estou querendo sair com ela? Simples, sou um cara direto e sem
frescuras; o beijo que dei nela mexeu comigo, e outra coisa, ela é gata, estou
atraído por ela. Foda-se o que vocês devem estar pensando. Riam mesmo, hoje
sou eu correndo atrás de uma mulher, amanhã pode ser vocês correndo atrás de
alguém.
Chego ao estacionamento, e a Amandha já está lá. A Judith sai com o
carro e buzina para mim, que estou me aproximando do meu carro, onde está a
Amandha.
— Olha só, já sabe qual é o meu carro!
— Sou boa em decorar placas de carros — comenta com ironia. — Ou
porque seu nome esteja na vaga que reservaram!
— Você é sempre mal-humorada assim? — Destravo o carro.
— Não, só você tem esse privilégio de me ver assim! — Ela entra no
carro irritada.
Até para escolher mulher, eu escolho as complicadas. Entro no carro e a
olho. Ela está colocando o cinto de segurança.
— Pode pelo menos fingir que o passeio vai ser divertido e que sou um
cara gostoso e bacana.
— Passeio divertido, sim; bacana, não!
— E gostoso?
— Pode me dar meu celular?
Rio.
— Por que quando não quer falar de algo você muda de assunto? —
Coloco o cinto e ligo o carro.
— Por que você não dirige e cala a boca? E devolve meu celular!
Sorrio.
— Relaxa, mulher!
19 – Amandha
Theodoro entra com o carro no estacionamento do seu prédio. Ele disse
que daríamos umas voltas e não que me traria para cá.
— Tenho uma pergunta.
Ele estaciona o carro, desliga e tira o cinto de segurança.
— Imagino que tenha. — Ele me entrega o meu celular e desce do carro.
Será que, por eu ser mulher, se matá-lo pego menos tempo de cadeia?
Melhor eu começar a pesquisar!
A minha porta se abre, e ele se apoia nela.
— Então... eu tinha em mente de a gente subir, pedir algo para comer, eu
te irritar, você me xingar... É, eu não tinha em mente ficar aqui.
— Como eu disse: tenho uma pergunta!
— Diga.
— Por que estamos aqui?
— Porque você não saiu do carro para subirmos — ele responde com
ironia.
— Você entendeu o que eu disse, Theodoro.
— Eu já disse o que eu tinha em mente.
— E você tinha dito que daríamos umas voltas e não que viríamos para
seu apartamento.
— Tecnicamente, não estamos no meu apartamento, estamos no
estacionamento... — Olho feio, e ele revira os olhos. — Vamos subir, prometo
não tentar nada do tipo te matar!
— Quem me garante?
— Vamos subir logo. “Pra” uma ex-psicóloga, você é muito irritadinha,
eu, hein?!
— Não me provoca!
— Longe de mim. — Desço do carro e bato a porta com força. — Pode
arrancar, ela é inútil!
Passo por ele e o escuto bufar.

***
Entramos em seu apartamento, e ele acende a luz. Tira o paletó e o
coloca no sofá. Fico olhando para os músculos marcados pela camisa.
— Você está com uma babinha... — Dou um tapa no braço dele. —
Agressiva!
— Cadê a Janete? — Sorrio.
— Vou fingir que não percebi a ironia. Ela está na pet shop.
— E não vai buscá-la? — pergunto incrédula.
— Não, só amanhã. Lá tem um SPA “pra” cachorros. — Reviro os olhos.
— Eu cuido bem da minha esposa. — Começo a rir.
— Esposa? — Ele concorda. — Agora sei por que não namora.
— Ah, é? E por quê?
— Porque ninguém iria querer namorar um cara que tem a cachorra
como amante.
Ele ri.
— Faz sentindo.
Por que ele tinha que ser tão perfeito?

***

Ele pediu pizza, e ficamos comendo e conversando, e claro que nos


provocando também, isso nunca vai mudar.
Meu celular toca, e é uma mensagem da Judith:

Quanto é a tintura do teu carro?

Respondo:

Se vc arranhou meu carro, eu te mato!

Bato o celular na mesinha de centro da sala e bufo.


— Algum problema? — pergunta o Theodoro.
— Provavelmente, e Judith fez alguma merda no meu carro.
— Ela tem cara de pessoa que traz problema.
— Você não sabe como! — Sorrio.
— Posso imaginar. — Ele sorri.
— Eu tenho que ir e ver o que essa doida aprontou. — Levanto-me do
sofá, e ele faz o mesmo.
— Eu te levo.
— Não precisa, peço um táxi, e outra, você bebeu.
Ele ri.
— Você tem sérios problemas com a bebida e com os carros, não é?
— Claro! Não se deve beber e dirigir!
— Claro que não se deve, mas eu não tomei nem a metade do vinho,
digamos que comi muito mais.
— Eu vou de táxi!
Ele revira os olhos. Pego minha bolsa e meu celular, mas para meu azar,
quando vou contornar a mesa para ir até a porta, eu tropeço, e daí já podem
imaginar nos braços de quem eu estou. Azar... sorte, eu não sei, mas que meu
corpo está formigando, isso eu posso ter certeza.
— É o que dá, tentar fugir de mim — ele diz ainda me segurando junto ao
seu corpo.
— Eu não estava fugindo. — Empino o queixo e o desafio.
— Será mesmo? — Ele pressiona ainda mais meu corpo ao dele.
— Acho que já pode me soltar.
— E se eu não fizer? — Ele sorri com malícia.
— Por que não faria? — indago tão baixo que duvido que ele tenha
entendido.
— Você é linda, mas calada e com a boca na minha é muito mais! — Ele
invade minha boca com a sua língua.
Suas mãos me mantêm firme ao seu corpo. Meu celular e minha bolsa
caem no chão, causando um barulho não muito alto. Meus braços vão ao redor
de seu pescoço. Minhas mãos puxam seus cabelos, e um gemido escapa de sua
boca. Meu corpo inteiro está arrepiado, e meu coração, acelerado.
Ele caminha comigo até o sofá, mas sem parar o beijo. Deita-me e fica por
cima. Nosso beijo é intenso, e duvido que algum dos dois entenda o que está
havendo.
— Por que estamos fazendo isso? — pergunto durante o beijo. Ele para-o
e sorri.
— Não sei, só não quero parar.
— Nem eu, babaca.
— Irritadinha.
Sorrimos e voltamos a nos beijar. Somos adultos, ninguém aqui está
fazendo nada que não queira, e nenhum dos dois é adolescente que fica se
evitando quando um deseja o outro. Muitas pessoas perdem seus amores por
isso, porque ficam se fazendo de difíceis quando não têm que ser assim.
Não fiquem bobas não, eu sei que o odiava, xingava e queria matá-lo, mas
sabe aquele papo de os opostos se atraem? Pois então, é verdade! Somos de
mundos diferentes, mas parece que sempre tem algo para nos aproximar.
20 – Theodoro
Estamos em minha cama agora. Leu certinho! Um lençol fino nos cobre.
Sua cabeça está deitada em meu peito. Meus braços estão ao seu redor, e nossas
pernas, entrelaçadas.
— Merda. O que fizemos, babaca?
— Então, nós estávamos nus...
— Theodoro! — Sorrio. — Estou falando sério! — Ela se afasta, deitando
a cabeça no travesseiro.
— Amandha, não vai se afastar agora, vai? — Viro-me para ela, apoiando
a cabeça em meu braço.
— O problema não é esse... caramba!
— O que foi?
— Theodoro, eu tenho um grave problema. Acho que, devido ao meu
peso, às humilhações, eu tenho um grande defeito!
— Está proibida de falar sobre peso. Você é linda. Todo mundo tem
defeitos.
— Sim, todo mundo, mas eu acumulei tantas mágoas que, quando fico
próxima demais de alguém que me faz sentir especial, eu... eu me apego fácil. —
Ela me olha.
— E qual o problema nisso? Você só quer atenção, carinho. Amandha,
todo mundo se sente sozinho no mundo às vezes, uns se sentem mais que
outros, e é por isso que você se apega fácil. Talvez tenha passado por tantas
coisas que, quando alguém te dá o valor que merece, você vê nessa pessoa seu
mundo, você passa a se sentir especial.
— Merda, vai bancar o psicólogo agora? Argh, por que você tem que ser
tão fofo poucas vezes e irritante quase sempre?
— É um dom meu, sinta inveja!
Rimos.
— Theo, você não entende...
— Posso morrer feliz! Me chamou de Theo pela primeira vez.
Ela sorri.
— Para de gracinhas, é sério o assunto.
— OK, eu parei.
— Você é um galinha, caramba! E eu fui me apegar justo a você!
— Tirando a parte do galinha, porque eu prefiro belo dote, mas enfim,
adorei a última parte.
— Claro que gostou! Você está acostumado a usar as mulheres e jogá-las
fora depois.
— Sim, não vou mentir. Mas não tenho intenção de fazer isso com você.
— Sério? — pergunta com ironia. — Para quantas já disse isso?
— Uma... Duas... Três... — Ela ergue a sobrancelha, e eu rio. — Eu disse
apenas para você. Amandha, você jura que não percebeu que estou
completamente louco por você? — Inclino-me sobre ela.
— Quê?!
— Não vou repetir!
Rimos.
— Não ouvi direito.
— Ouviu e muito bem.
— Você vai me magoar, eu sei disso.
— E você a mim, e vamos juntos superando tudo.
— Eu te odeio, sabia?
— E eu sinto que esse sentimento é recíproco. — Beijo-a.
OK, podem rir da minha cara e dizer: EU DISSE QUE VOCÊ CAIRIA NOS
ENCANTOS DA AMANDHA!
Eu caí nos encantos dela, afinal, até o pior homem do mundo um dia já se
apaixonou, mesmo que ele negue isso. Tenho um coração, gente, qual é?! E ela é
linda demais, brava, porém uma brava completamente sexy.
— Tenho que ir, amanhã acordo cedo e tenho que matar a Judith por
qualquer coisa que ela tenha feito no meu carro.
— Não pode “matar ela” depois? — ela faz que não. — OK, então eu te
levo.
A campainha toca, e já sei muito bem quem é!
— Esperando alguém?
— Quando estou esperando esta pessoa que está na porta, ela some, mas
quando não estou esperando, ele aparece num passe de mágica e a qualquer
hora do dia.
— Rodrigo?
— Olha, já aprendeu e decifrar meus códigos. — Dou um beijo rápido em
seus lábios. — Vou ver o que ele quer.
Levanto-me, coloco minha cueca e me viro para sair do quarto.
— Você vai assim?
— Prefere pelado?
— Preferia com roupa.
— Isso aqui — puxo o elástico da cueca — é roupa. — Saio rindo do
quarto.
Chego à sala e abro a porta. Encontro o Rodrigo e a Judith.
— Acho que confundiram meu apartamento com outra coisa.
Eles me olham de cima a baixo.
— Cara, sério, cadê suas roupas?! É complicado vir aqui e sempre te
encontrar neste estado.
— Eu estava ocupado, você veio me atrapalhar. Agora fala logo o que
quer. E o que faz aqui, Judith? — Eles entram. A Judith está pálida. — Mulher,
que foi?
— Theodoro, o Rodrigo disse que você tem um amigo que conserta
carros a qualquer hora e faz para pagar aos poucos quando o estrago é grande.
Eu preciso dele! Eu meio que arranhei o carro da Amandha, e o arranhão foi
feio. Liguei “pro” Rodrigo já que ele era o único que poderia me salvar, e ele me
trouxe até aqui.
Rio.
— E o estrago foi tão grande assim?
— Você não tem noção! A pintura do carro dela custa 600 dólares, e esse
foi o preço mais barato que encontrei.
Arregalo os olhos.
— Uau, o carro dela é pintado a ouro?!
— Ela tem um xodó pelo carro dela, me ajuda, Theodoro! — Ela
chacoalha meu ombro.
— Primeiro me solta. E segundo...
— Segundo eu vou te matar, Judith!
Todos nos viramos para a Amandha.
— Amandha?! — Rodrigo e Judith dizem.
Isso vai ser bom. Sento-me no sofá.
— Não, é um fantasma dela. Claro que sou eu! Que merda você fez?
— Amiga, seu cabelo está meio...Você está descalça, sem maquiagem,
Theodoro está de cueca... Ai, meu Deus!
— Eita, que a noite foi boa! — diz o Rodrigo, e me seguro para não rir.
— NÃO MUDA DE ASSUNTO! O QUE FEZ PARA ARRANHAR A PINTURA
DO MEU CARRO QUE NÃO FAZ NEM UM MÊS QUE RETOQUEI?!
— Foi na sua garagem, eu, idiota, ao invés de tirar os saltos, continuei
com eles. Na hora de descer no estacionamento, meu pé escorregou e acelerei
muito o carro, perdendo um pouco do controle. Para eu não morrer e nem
“bater ele”, eu tive que dar uma de Velozes e Furiosos e manobrar aquele troço, e
acabou que arranhei seu carro raspando na pilastra e arranhei um pouquinho
do carro que estava estacionando ao lado da pilastra. O homem quer falar com
você, já que o carro que arranhou o dele era seu.
Sério, estou um pouco apavorado com a cara da Amandha. Olho para o
Rodrigo, e ele se aproxima da Judith, talvez para puxá-la caso a Amandha tente
atacá-la.
— OK, sou uma mulher calma... — diz a Amandha fechando os olhos.
— Eu não seria, “mataria ela”. Porra, além de quase se matar, ainda
arranha o carro e de brinde arranha o de outra pessoa! — Todos me olham.
Acho que falei demais! — Foi mal.
— EU VOU TE MATAR, JUDITH!
Levanto-me rapidamente e agarro a Amandha por trás.
— Mandy, foi sem querer, eu juro. Fui errada, desculpa!
— Eu vou ficar viúva de amiga, sua atentada!
— CALMA, AMANDHA, AQUI NÃO É UFC! — digo. — Rodrigo, leva a
Judith “pra” casa dela, que vou acalmar a fera aqui. Hoje ninguém vai resolver
nada, já é tarde.
— Vou resolver, sim, “matando ela”!
— Pode parar, Senhora Assassina.
— Amandha, ela não fez por mal — fala o Rodrigo.
— Ah, sério? O soco que vou dar na sua cara por defendê-la e os tapas
que vou dar nela também não serão por mal! Ela foi irresponsável, quase
comete um acidente!
— Vai, Rodrigo, leva a Judith.
Eles saem com a Judith resmungando.
— Eu já disse que tenho medo de você? — indago para Amandha.
— Meu Deus, a Judith tem que começar a ser mais responsável, que
inferno!
Ela se senta no sofá e apoia a cabeça nas mãos. Aproximo-me dela,
sentando-me ao seu lado.
— OK, ela foi irresponsável, mas ficar irritada não vai resolver.
— Eu sei. Vamos, se troca “pra” você me levar embora.
— Só depois disso. — Beijo-a, deitando-a no sofá.
21 – Amandha
Faz dois dias que estou sem carro. Estou pensando em matar a Judith,
mas não quero ser presa, não agora. Depois de um longo dia na editora, eu
resolvi vir comer em uma lanchonete a qual sempre venho. O dono daqui é um
senhor muito amoroso. Escandaloso, mas amoroso. Quando cheguei aqui ainda
estava vazio, mas agora começou a encher. É o horário em que todos saem do
serviço mortos de fome como eu. A Judith me enviou uma mensagem dizendo
que vai para minha casa hoje, e seria um belo momento para enforcá-la, mas
como sou uma amiga muito boa, não irei fazer isso.
Estou ainda confusa sobre tudo o que houve entre mim e o Theodoro.
Esse cara tem o poder de me deixar louca.
— Senhorita, seu pedido. — O garçom traz meu lanche.
— Obrigada.
Olho para minha esfiha aberta e minha Coca-Cola, e meus olhos até
brilham. Como tranquilamente e tento relaxar um pouco.
— Theodoro e William, vocês são idiotas, e isso não vai mudar nunca,
pelo visto.
É a voz do Rodrigo! Largo meu garfo no prato e fico imóvel. Eu não
acredito. A voz está próxima, provavelmente estão atrás de mim. Não olho para
o lado e não me mexo. Sou ridícula, eu sei, mas estou realmente querendo evitar
o Theodoro, pelo menos hoje. Alguém fala algo para o Rodrigo, provavelmente o
tal do William, mas não entendo o que ele falou.
— Para de ser idiota, Theodoro. Domingo é seu aniversário, a Heloísa
descobriu e me disse, então vamos sair e comemorar — diz o Rodrigo.
— Não, não e não! Assunto encerrado, e vou matar a Helô por abrir a
boca — fala o Theodoro.
Que droga, com tantas lanchonetes, ele tinha que vir justo nesta?! Estou
pagando meus pecados!
— Mandy, gostou da esfiha?!
Mas só pode ser brincadeira. Sinto olhares sobre mim.
— Oh, Senhor Felix. Eu gostei, sim — respondo a ele, que é o dono da
lanchonete. Ele diz mais alguma coisa a qual nem presto atenção e então sai.
Chão, se você se abrir neste momento e me engolir, eu juro que vou te
amar eternamente. Fico como uma estátua.
22 – Theodoro
Quando o William, fotógrafo da agência, eu e o Rodrigo terminamos
nossos afazeres, resolvemos ir comer em uma lanchonete, e a única vazia foi
justo a na qual a Amandha está. Isso mesmo, eu estou vendo-a dura, nem
respirando, talvez, e aposto que ela ficou assim depois que escutou a voz do
Rodrigo. Eu só quero ver quanto tempo vai levar para ela fingir que não estou
aqui.
— Para de ser idiota, Theodoro. Domingo é seu aniversário, a Heloísa
descobriu e me disse, então vamos sair e comemorar — o Rodrigo fala.
— Não, não e não! Assunto encerrado, e vou matar a Helô por abrir a
boca.
Ele e o William me olham de cara feia.
Fico olhando para a Amandha, de costas para nós. O Rodrigo não deve
ter visto, senão estaria fazendo graça.
— Mandy, gostou da esfiha?! — Um senhor praticamente grita, levando
os olhares de todos, inclusive de Rodrigo e William para ela.
Tenho que me lembrar de agradecer a esse senhor. Quero só ver se ela
ainda vai fingir que não estou aqui, porque é impossível ela não escutar a voz do
Rodrigo, já que estamos a pouquíssima distância dela.
Ela parece concordar com o senhor, então ele lhe diz algo a qual nem
presto atenção e se afasta.
— Foi mal de cama mesmo, Theodoro. A mulher está aqui e fingiu nem
ouvir nossa chegada. Estamos praticamente grudados na mesa dela.
— Olha, Rodrigo, tenho que concordar. Acho que fui mal de cama. Afinal,
nossa chegada foi tão linda que parecíamos os heróis da Marvel entrando em
ação — digo em alto e bom som. Ela se afunda um pouco na cadeira. As pessoas
olham para mim, mas depois voltam a atenção ao que faziam.
— OK, eu devo me preocupar com o estado mental de vocês dois? —
pergunta o William, e sorrio.
— Não, pelo menos não agora, com licença.
Levanto-me da minha cadeira e me aproximo da mesa da Amandha. Ela
sabe que sou eu, pois bufa e xinga baixinho. Encosto a boca em sua orelha e
sussurro:
— Vai continuar fingindo que não estou aqui?
Ela fecha os olhos. Puxo uma cadeira ao seu lado – muito ao seu lado.
Sento-me, e ela me olha.
— Você, Rodrigo e seja quem for esse tal de William nunca vão ser heróis
da Marvel, então nunca se comparem a eles.
Sorrio.
— Verdade, nós não devemos nos comparar, ou melhor, eu não devo me
comparar. Eu sou realidade. Os heróis, você só pode vê-los, e tudo ali não passa
de ficção, já a mim, você pode tocar, e você já fez isso e muito bem. Eu sou
realidade, princesa.
Ela cora.
— Está certo, já vi que tem resposta para tudo o que eu disser. Sabe,
estamos em Nova York, um lugar cheio de restaurantes e lanchonetes. Então
por que raios você tinha que vir justo onde eu estava?
— Era a mais vazia que tinha por perto. Acho que na verdade meu faro
masculino está bem apurado e acabou me enviando para cá.
Ela revira os olhos e ri.
— Você é definitivamente um idiota, Theodoro.
Sorrio.
— Engraçado, todo mundo me diz isso, acho que devo começar a
acreditar.
— O papo esta superbom, mas tenho que ir. Estou cansada.
— Eu te levo.
— Não precisa, e outra, você veio com eles.
— Errado. Eles vieram comigo. Viemos no meu carro, então eles que
voltem de táxi.
— Muito amigo, você!
— Eu sei, estou até pensando em fazer palestras sobre amizade.
Rimos.
— Está bem, eu aceito sua carona.
— Fala sério, não resiste ao gostosão aqui.
— Não abusa!
Sorrio.
— Vou avisar a eles. Ah, no caminho vou ter que pegar a Janete na... —
Ela começa a rir. — O que foi?
— Foi mal. Ainda não me acostumei com esse nome, sabe...? — Ela
morde o lábio inferior.
— Como eu ia dizendo, eu vou ter que pegar a Janete na pet shop. — Ela
começa a rir de novo. — Certo, eu vou te colocar na traseira do carro amarrada
com uma corda.
— OK, não está mais aqui quem riu. — Ergo a sobrancelha, e dessa vez
ela gargalha. — Cara, Janete. Isso é nome de cachorra?
— Sério, você me irrita às vezes. Vou falar com eles, e cuidado para não
morrer de tanto rir. — Levanto-me rindo e vou falar com os meninos.
Falo com os caras, e é claro que eles ficam me zoando, isso é fato. Eu ligo?
Óbvio que não.
Vamos o caminho inteiro um provocando o outro. Quando pego a Janete
na pet shop, a Amandha tem outra crise de riso quando ouve a mulher dizer o
nome da minha amada esposa. Qual o problema no nome da minha pequena?
Não respondam!
Deixo a Janete em casa e dou graças a Deus por a diarista ter estado lá,
ou eu estaria perdido, porque a casa estava uma zona. Depois levo a Amandha
para sua casa.
— Theodoro, quando podemos fazer as fotos para a capa do livro da
Susan? — ela pergunta quando estamos próximo de chegar à sua casa.
— Quando quiser. Só marcar o dia e hora.
— Ótimo, amanhã peço para o pessoal que lida com isso ligar para a sua
agência. E o contrato?
— Amanhã a gente vê isso.
— Seu aniversário é domingo. Por que não vai comemorar? — Olho para
ela e volto a olhar para o trânsito. — Eu escutei, não pense em negar que é seu
aniversário.
— Não gosto de comemorar meu aniversário.
— Theodoro, para com isso. Eu tenho certeza de que você não comemora
porque tem relação ao medo da sua idade. Todo mundo envelhece! Você não vai
mesmo me falar sua idade? — Não respondo. — Tenho 30 anos. Foi difícil olhar
no espelho e ver que eu já tinha passado da casa dos 20. Às vezes procuro uma
ruguinha ou outra, ou fios brancos, principalmente fios brancos. — Ela ri. —
Para uma mulher é difícil envelhecer, pois começam a dificultar as chances de
ter filho. Vem a menopausa, as pelancas começam a cair. — Sorrio. — Mas para
o homem também é difícil, porque eles dizem que não são vaidosos, mais
muitos são mais que a maioria das mulheres.
— Eu sei que sou vaidoso, não precisava me dizer. — Rio e estaciono o
carro em frente ao seu prédio.
Viro-me para ela, que se volta para mim.
— Theo, eu só quero dizer que não precisa ter medo da sua idade. Não
deixe de comemorar seu aniversário, porque muitas pessoas desejam ter mais
um dia vida, mas sabem que não vão conseguir. Eu não ligo mais para minha
idade, todo mundo fica velho, e quem sabe eu fique uma velha sexy? —
Sorrimos. — Não deixe de festejar um dia a mais que Deus te dá, porque você
está tendo a chance que muitos não têm e queriam muito ter.
— Amandha... — Tiro o cinto de segurança e coloco a mão em seu rosto.
Ela sorri e solta seu cinto. Eu não resisto e a beijo com carinho.
Quando nos afastamos, ela fica me olhando e sorri.
— Tenho que ir — ela diz. — Pensa no que eu falei.
— Vou pensar. — Sorrio, e ela desce do carro. Droga, o que essa mulher
está fazendo comigo?!
23 – Amandha
A semana passou muito rápido, e hoje já é domingo. Minha missão é tirar
o Theodoro de casa para comemorarmos o seu aniversário. Na verdade, essa
definitivamente não era minha missão, mas o Rodrigo tentou e não conseguiu,
então restou para mim. O Rodrigo e a Judith querem que a comemoração seja na
boate. A Judith, nem sei por que quer, afinal ela trabalha hoje, mas aprendi a não
a questionar. Assim não piro.
Hoje à tarde ele foi jogar basquete, assim o Rodrigo me informou, pois foi
junto. Todavia, depois disso ele se trancou no apartamento e não recebe
ninguém. Quando o Rodrigo ligou, ele não aceitou ir comemorar o aniversário.
Só não sei por que o Rodrigo acha que vou convencer o cabeça dura do
Theodoro a sair de casa.
— Mandy, vai lá agora, já são 20h — diz o Rodrigo.
Estou no seu apartamento, que por sinal é lindo. Preciso começar a rever
a decoração do meu, porque o Theodoro e o Rodrigo estão pisando em mim com
chuteira profissional.
— Olha, você sabe que não vai resolver, não é?
— Se a minha cunhada estivesse aqui, a Helô, eu tenho certeza de que ela
conseguiria, mas ela não está, e a única além dela que convence o Theodoro a
fazer algo é você. Ele não pode ficar trancado no dia do aniversário dele.
— Sério, eu adorei a Heloísa quando fui ao desfile dela no Brasil, mas
esse papo de ela fazer e acontecer com o Theodoro me dá um pouquinho de
raiva, afinal, ela não está aqui, eu estou.
Ele sorri.
— Você e o Eduardo, que é meu irmão, seriam grandes amigos, porque
ele odeia o assunto que envolve minha cunhada e o Theodoro. Para de ser tonta,
entre ela e o Theodoro só existe uma grande amizade, nada mais.
— Nossa, como isso é super-reconfortante — ironizo.
— O Theodoro quer você, e eu quero que você vá salvar meu amigo
desse buraco em que ele todo ano se enfia.
— Eu não sou Deus, não faço milagres, mas vou lá tentar.
— Loira, eu sei que vai conseguir.
— Que homem otimista, eu gostei. — Rio e pego minha bolsa e então saio
do apartamento dele.

***

Paro à porta do apartamento do Theodoro. Respiro fundo. Aperto a


campainha e espero. Nenhum sinal dele. Aperto a campainha novamente e
escuto a Janete latir agora.
— RODRIGO, VAI CAÇAR O QUE FAZER, POR FAVOR! — O Theodoro
grita.
— Assim você me ofende! — digo alto para que ele possa ouvir.
Escuto ele girar a chave, e em segundos a porta se abre.
— Amandha, o que faz aqui?
— Isso é jeito de receber uma mulher que aparece no domingo à noite à
sua porta?
— Desculpa, entra.
Passo por ele, e a Janete vem até mim e fica pulando nos meus pés.
— Oi, princesinha. — Abaixo-me e brinco um pouco com ela.
— Veio ver apenas ela? Se for, era só ter dito, que eu “tinha deixado ela”
com você hoje. — Ele se joga no sofá, deitando-se e volta a atenção para o que
passa na TV.
— Na verdade, eu vim ver você, o aniversariante do dia.
— Corta o papo de aniversariante. Amor, se veio aqui para tentar me
convencer a sair de casa, perdeu seu tempo.
— Você me chamou do quê? — Sorrio, apoiando-me no encosto do sofá
em que ele está deitado.
— De amor.
— Acho que está ficando muito velhinho hoje, hein? — Sorrio de novo, e
ele não consegue evitar e sorri.
— Estou ocupado. — Ele volta a olhar para a TV.
— Assistindo ao filme do Pateta? Sério? Poupe-me!
— Deveria saber que é feio menosprezar o gosto das pessoas.
— Theo, eu te imploro, vamos sair hoje. Vamos à boate em que a Judith
trabalha, por favor.
— Não e não.
— Quer saber? Eu disse para o Rodrigo que eu vir aqui não iria resolver.
Judith se preocupa com você e quer passar esse dia com você. O Rodrigo se
importa muito com você e está preocupado. Theodoro, olha para mim. — Ele
me olha. — Eu me importo com você e estou aqui por isso. Mas se você não está
nem aí para essas pessoas que querem sua felicidade, por mim tudo bem, fique
aí nesse sofá, mas quando você estiver afundado na loucura por ter medo de
envelhecer, não diga que ninguém se importou, porque todos se importaram. Eu
me importei, mas você não deu valor. — Viro-me para sair.
— Amandha — eu paro e me viro para olhá-lo —, desculpa. Me dá um
tempo para me arrumar?
Sorrio.
— Claro. Eu comprei uma coisa para você. — Retiro da bolsa a caixinha e
a entrego a ele.
— O que é? — Ele pega a caixinha e fica olhando-a.
— Abre.
Ele abre a caixinha e retira a pulseira de ouro que tem dentro dela.
— É linda. Tem meu nome gravado nela. — Ele sorri enquanto a segura.
— Tem mais, onde está gravado seu nome, na parte de baixo tem algo
mais.
Ele abre a pulseira e lê o que está escrito em baixo.
— Não se importe. Está escrito em português. É realmente um belo
presente, obrigado. — Ele me abraça.
— Toda vez que o medo de envelhecer aparecer, lembre-se do que está
escrito aí. — Aponto para a pulseira — Não se importe, você continuará sendo o
mesmo de sempre.
— Muito obrigado. — Ele coloca a pulseira com a minha ajuda.
24 – Theodoro
A boate como sempre está lotada. O Rodrigo já havia reservado uma
mesa na área VIP para nós.
— Loira, merece um prêmio por ter conseguido tirar esse babaca de casa
— o Rodrigo diz rindo.
— Também acho — a Amandha concorda.
— Gente, obrigado, vocês realmente são importantes “pra” mim.
— Assim eu choro, gato. — A Judith aparece com as bebidas e as coloca
na mesa. — Parabéns, Theodoro.
— Obrigado, camaleão.
— Hã? — todos dizem ao mesmo tempo.
— Ela sempre muda a cor do cabelo, gente, nada mais justo que um
apelido. E por sinal, amei o azul.
Ela mexe no cabelo, e todos riem.
— Pessoal, vou indo, depois volto, senão meu chefe corta meu pescoço.
Olho para o Rodrigo, que fica olhando para Judith e babando. OK, vocês
com toda certeza sabem que ele tem uma queda por ela.
— Rodrigo, a Judith não é para você — diz Amandha.
— Amandha! — exclamo.
— Não é por mal, mas você, Rodrigo, é um cara que quer a mulher certa
para casar, e a Judith não é essa mulher. Ela é muito jovem, sofreu e sofre muito
na vida. Ela não é a mulher que você precisa. Um só vai machucar o outro, e
gosto muito dos dois para isso.
— Não se preocupa, nem pensei nisso — ele fala, mas sei que está
mentindo.
— OK, vamos beber — digo para amenizar o clima.
— Certo, vamos! — concorda o Rodrigo.
Bebemos e ficamos conversando sobre bobagens como sempre.
— Theo, eu estava com saudade. — Alexis, que apareceu não sei de onde,
senta-se no meu colo.
— Primeiro, sai de cima de mim. — Empurro-a. A Amandha e o Rodrigo
me olham com um olhar nada bom. — Segundo, não me chama assim. E
terceiro, estou ocupado, se não está vendo.
— Nossa, Theo, o que foi? Nossa noite foi tão boa naquele dia, e agora me
trata assim.
Olho para a Amandha, que abaixa o olhar para seu copo.
— Aquela noite acabou e não vai mais se repetir. Por favor, sai daqui.
— Theodoro, não fala assim comigo. Nossa noite foi mágica — ela fala
com voz de criança e passa a mão no meu cabelo.
Eu já falei que odeio mulher que fala com voz de criança?
— Com licença. — A Amandha se levanta, mas seguro sua mão.
— Alexis, vai embora e me esquece.
— Não acredito que está me expulsando por causa dessa gorda! — Ela
altera a voz.
Solto a mão da Amandha e me levanto tão rápido que chego a derrubar a
cadeira.
— NUNCA MAIS DIGA ISSO DA MINHA NAMORADA! SOME DAQUI! —
grito com ela, e algumas pessoas nos olham.
O segurança me olha, mas faço sinal de que está tudo bem. Alexis se
afasta com raiva. O Rodrigo levanta a minha cadeira.
— Amor, desculpa...
— Está tudo bem, eu só vou dar um recado que eu esqueci para Judith. —
Ela se afasta.
— Que droga!
— Theo, vai atrás dela. Deu para ver a dor que as palavras da Alexis
causaram nela, principalmente a palavra gorda.
— Eu sei. Já volto.
Saio atrás da Amandha. Ela não está no bar. Procuro-a na boate, mas não
a encontro. Então resolvo ver se ela está no banheiro. Falo a uma mulher que
acabou de sair as características da Amandha, e ela diz que ela está dentro do
banheiro.
Fico esperando que ela saia. Quando Amandha sai, surpreende-se ao me
ver.
— Vem, vamos conversar um pouquinho. — Seguro sua mão.
Saímos da boate. Falo para o segurança, que já me conhece, que esqueci
o celular no carro e que a Amandha vai buscar comigo, mas que voltaremos
logo. Ele diz que, quando voltarmos, é para irmos direto até ele para entrarmos
sem pagar novamente.
Vou até a rua de trás com ela, pois a da boate está lotada. Encosto-me à
parede e a puxo para meus braços.
— Amor, não liga para o que ela disse.
— Não ligo.
— Não minta para si mesma. Eu sei que liga. Eu vejo seus olhos, eles
estão vermelhos, você esteve chorando. Desculpa te fazer passar por isso. —
Aperto-a em meus braços.
— Estou acostumada já. — Ela dá um sorriso nervoso.
— Não, não está. Você precisa se abrir com alguém, parar de tentar ser
forte o tempo inteiro. Isso não vai te fazer bem.
— Não tenho problemas, estou bem.
— Eu... Eu faço 35 anos hoje.
Ela se afasta e me olha.
— Eu não precisava saber. Você não precisava me contar.
— Eu precisava, sim. Contar isso a você é a mesma coisa que entregar
meu coração por inteiro em suas mãos. Dizer minha idade a alguém é como
levar uma facada, mas por você vale a pena. Eu confio em você, e é por isso que
você merece ouvir minha idade. Confia em mim, se abre comigo, pare de
guardar as coisas, por favor.
— Obrigada por confiar em mim. — Ela começa a chorar e me abraça. —
Você não é velho, para de sofrer com isso!
Olho a pulseira que ela me deu e sorrio.
— Vou tentar. Mas você tem que me prometer que vai se abrir com
alguém, comigo.
— Preciso de um tempo, só isso.
— Tudo bem. Agora vamos voltar, e coloca um sorriso nesse rostinho
lindo e não conta para o Rodrigo que revelei minha idade a você, ou ele é capaz
de se suicidar por achar que não confio nele, mas é que com você as coisas são
diferentes. E tem mais, você não é gorda, é gostosa, muito diferente! — Beijo-a.
— Vamos voltar, e obrigada por se importar comigo. Antes de sairmos...
você disse que eu era sua namorada.
— Eu sempre me importo. E eu realmente disse isso porque é o que você
é. Eu te amo, Amandha.
Ela sorri e seus olhos se enchem de lágrimas.
— Eu também te amo, Theodoro. — Acaricio seu rosto. — Não se
preocupa, não contarei a ninguém sua idade.
— Obrigado! — Ela fica nas pontas dos pés e me dá um beijo na
bochecha. — Agora vamos antes que o Rodrigo nos mate. Temos um aniversário
para comemorar. — Sorrio.
Seguro sua mão, e voltamos para a boate. O Rodrigo está sentado
mexendo distraído no copo.
— Rô, desculpa — diz Amandha.
— Certo, desculpo exatamente o quê? — Ele sorri.
— Lute pela Judith se “quer ela”. Não será fácil, mas pode contar comigo.
“Faça ela” feliz e seja feliz. — Ela aperta seu ombro.
— OK, é lindo o papo, amigo, mas sua mão está em um lugar em que não
deveria estar, Amandha. — Eles riem. — Sou lindo, não palhaço para vocês
rirem.
— Sim, você é palhaço! — afirma o Rodrigo.
— Ai, meu coração! — Franzo o cenho e coloco a mão no peito.
— Já disseram que você é retardado? — pergunta Amandha.
— Loira, é o que mais me dizem. — Dou uma piscadela, e ela se senta na
cadeira revirando os olhos.
— Vou buscar bebidas — fala Rodrigo.
— Vai ver a Judith, você quer dizer, afinal tem garçom que vem aqui na
área VIP — digo.
— Não, eu vou buscar realmente as bebidas. — Rodrigo se levanta e se
afasta. Sento-me na cadeira e começo a rir.
— Você provoca! — diz Amandha.
— Você não viu nada.
25 – Amandha
Semanas se passaram desde o aniversário do Theodoro. Depois daquele
dia, eu sinto como se minha vida finalmente começasse a fazer um pouco mais
de sentido. Eu sei, parem de ficar boquiabertas. Eu, Amandha Acker, que tanto
odiava Theodoro Lancaster Junior, agora estou aqui morrendo de amores por
ele. Não me julguem, afinal cada um escolhe aquilo que considera melhor para si
mesmo. Eu poderia deixar meu orgulho falar mais alto e ficar sofrendo, mas não
sou dessas. Eu prefiro empurrar o orgulho para quilômetros longe de mim e ir
atrás da felicidade, porque é mentira aquele que diz: a felicidade se encontra em
qualquer esquina, basta procurar. Esqueça, não a encontramos em qualquer
esquina, nem qualquer pessoa. Tem que ser a pessoa certa, no lugar certo, no
momento mais do que certo.
Ontem foi perfeito. As fotos para a capa do livro da Susan foram feitas e
ficaram lindas. Fiquei mais do que contente em ver o sorriso emocionado
estampado no rosto dela. Depois das fotos resolvemos o problema dos livros da
Dulce e demos graças a Deus que os leitores dela não enlouqueceram de raiva
por termos prolongado o tempo da pré-venda.
Hoje vou até a casa da Judith porque ela não atende minhas ligações há
três dias e nem responde as minhas mensagens. Ontem tentei ir até a boate falar
com ela, mas avisaram que ela não foi trabalhar alegando ter um compromisso
muito sério, inadiável. Como conheço muito bem minha amiga, sei o que está
acontecendo, e isso me preocupa, porque não acontecia há tempos. Ela passou
por algo e está se trancafiando do mundo e de todos e provavelmente se
entupindo de comida até passar mal.
Batidas à porta me tiram de meus pensamentos.
— Entre.
Prince, uma das recepcionistas, entra sorrindo.
— Amandha, mandaram entregar isso aqui. A pessoa não quis subir, eu
insisti, juro.
— E quem seria a pessoa? Passarinho verde? Está sorrindo tanto. —
Sorrio, e ela fica corada.
— Descubra por si própria. — Ela me entrega um envelope branco. —
Agora tenho que ir, porque está uma loucura a entrega de livros hoje. Estou
pirando liberando tanta gente.
Rio.
— Obrigada.
Ela sorri e sai da sala. Abro o envelope e retiro o papel com a logomarca
da agência do Theodoro.

Às 21h espero você aqui na agência, tenho uma surpresa.


Não aceito “não” como resposta.
P.S.: Roubei esse envelope da sua agência, espero que não cobre! Não subi
porque não dava, com a surpresa no carro e eu correndo o risco de passar alguém
e me multarem por parar onde não devia e deixar no carro algo que não deveria
ficar trancado!
Te amo!

Rio ao terminar de ler. Agora entendo o sorriso no rosto da Prince.


Theodoro, sempre que vem aqui, deixa as meninas babando, e ele adora, fica se
sentindo, e eu tenho que aguentar ele se achando.
Envio uma mensagem para o celular dele.

Por que não enviou uma mensagem ou um e-mail? Também te amo!

A resposta é imediata.

Porque não seria eu se não gostasse de "causar"... Kkk

Guardo o celular rindo. O que esse louco aprontou? Eu juro que, se for a
ideia de sair pelado nas ruas de Nova York, eu vou interná-lo. Ele cismou com
essa bendita ideia, parece criança.
Vou até o estoque ver como está a loucura de entrega de livros. A gráfica
da própria editora não estava dando conta sozinha, então tive que contratar
uma de fora. A entrega de mais de 1000 livros ficou toda para hoje. Eu
realmente vou enlouquecer meus funcionários e a mim.
***

Às 19h saio da editora. Eu e meu pessoal ficamos uma hora a mais para
organizar tudo, e amanhã vamos cuidar de outras coisas. Estou a caminho da
casa da Judith.
Estaciono o carro em frente à casa dela. A luz está acesa. Pego minha
bolsa e saio do carro. Um homem estranho que passa por ali me olha de cima a
baixo. Empurro o pequeno portão e passo pelo curto caminho até a porta.
Aperto a campainha e aguardo um sinal de vida da minha amiga. Vejo-a mexer
na cortina disfarçadamente para ver quem é.
Ela abre a porta e me olha com pouco caso. Olho para ela e vejo que não
está bem. Está basicamente um lixo.
Entro na casa sem esperar por um convite. Sua sala esta abarrotada de
comida espalhada por todos os cantos. A TV está ligada no canal H&H, onde
passa um programa sobre peso. Droga, ela está mesmo mal.
Viro-me para ela, que fecha a porta. Ela me olha e suspira.
— O que faz aqui, Mandy?
— Vim ver você, não é óbvio? Judi, o que houve? — Deixo minha bolsa
em um canto vazio do sofá.
— Não me pergunta o que houve, por favor. Não banca a psicóloga
também.
— Não vou bancar a psicóloga, mas eu quero saber o que houve. Você é
minha amiga. É mais que uma amiga, é uma irmã! Eu tenho direito de saber o
que está havendo com você.
— Estou bem... Vou ficar bem — ela se contradiz.
— Judith, faz tempo que não vejo você assim...
— Derrotada — interrompe-me.
— Não! Faz tempo que não te vejo assim, abalada, se destruindo. Pelo
amor de Deus, o que houve com você?
— O problema é o que não houve. Eu fui idiota, esse é o problema. Droga,
Amandha, eu sempre sou tão imbecil! — Ela começa a chorar e me abraça.
— Judi, se abre comigo. Eu não posso te ajudar sem saber o que houve.
Ela se afasta e se senta no chão, encostando-se à parede.
— Como pude pensar que ele iria querer algo comigo quando pode ter
mulheres lindas, magras, modelos, ricas aos pés dele? Eu nunca me abri para o
amor, você sabe disso! Eu sempre detestei relacionamentos, sempre foi
curtição. Então eu, muito burra, resolvi dar uma chance para os sentimentos e o
tal do amor, e veja só. — Ela ri com ironia e abre os braços. — Me ferrei. Como
fui imbecil!
Não precisa ser uma especialista como eu para saber que ela está assim
por causa do Rodrigo.
— O que o Rodrigo fez? — pergunto com raiva.
— Aquele imbecil me deu um bolo. Eu fiquei que nem uma idiota
“esperando ele” no restaurante em que combinamos nos encontrar. Todos
ficaram me olhando, algumas mulheres até riam de mim ali, sozinha, olhando
para todos os lados à procura dele. E duas horas depois ele me envia uma
mensagem dizendo que teve que ir a um evento de última hora. Ele não podia
ter avisado duas horas antes de eu ficar passando vergonha? — Suas lágrimas
escorrem, e ela as limpa com o dorso da mão.
— E você vai ficar aqui trancada, sem dar sinal de vida, faltando ao
emprego tudo por causa de uma idiotice? Cadê aquela garota brincalhona, forte,
que passa por cima das barreiras sem se abalar?
— Até mesmo as pessoas mais fortes uma hora tendem a desmoronar.
— Minha linda, não fica assim, por favor. Isso me destrói. — Sento-me ao
seu lado e passo o braço ao seu redor.
— Nunca tomei um bolo em toda minha vida. Essa primeira vez acabou
comigo.
— O que nos destrói por dentro e por fora nos torna mais forte. Não se
abale por isso.
— Só não aguento o fato de ser dispensada de uma maneira tão idiota,
poxa! — Ela funga e soluça.
Olhar para minha amiga tão frágil assim me faz lembrar de uma
criancinha que se perde dos pais em um shopping ou supermercado. Ela está
assustada, apavorada. Sua autoestima baixa não ajuda. Eu já passei por isso e sei
o quanto dói.
***

Saio da casa dela às 20h30. Envio uma mensagem para o Theodoro


dizendo que vou me atrasar um pouco. A Judith ficou um pouco mais animada.
Quando saí de lá, ela estava arrumando a bagunça da casa.
Sigo em direção ao apartamento do Rodrigo. Preciso falar com ele e tem
que ser agora e pessoalmente.
Depois de ser anunciada pela portaria, subo para seu apartamento. Saio
do elevador impaciente.
Espero ele abrir a porta após eu ter apertado a campainha. Quando ele
abre, sorri e me cumprimenta.
— Entra.
Adentro e encontro uma sala com convidados.
— Gente, essa aqui é Amandha, namorada do Theodoro. — Todos
sorriem surpresos. — Amandha, esses são Eduardo, meu irmão, Heloísa, minha
cunhada, Ana Clara, sobrinha, e Lucas, sobrinho.
— Boa noite. É um prazer conhecê-los.
— A gente já se conhece, não? — pergunta Heloísa.
— Sim. Fui ao seu desfile no Brasil.
Sorrimos.
— Claro! A de quem o Theodoro tinha medo. — Ela ri.
— Theodoro com medo de mulher? Piada! — Eduardo diz.
— Você é muito bonita! — a Ana Clara diz em português sorrindo. Por
sorte falo português, mal, mas falo.
— Obrigada, linda. Você é muito bonita também.
Ela sorri.
— O tio Theo me mostrou sua foto. Ele disse que você pediu para
namorar ele.
Ergo a sobrancelha.
— Sério?! — pergunto ironicamente. Rodrigo e Heloísa riem.
— Ana! — Eduardo a repreende.
— Que foi, papai? Eu só disse a verdade.
— E isso é muito importante, linda. Sempre diga a verdade,
principalmente as que seu tio Theo fala.
Ela dá um olhar cúmplice para mim, e sorrimos.
— O que te trouxe aqui, Mandy? Theodoro aprontou algo?
— Não. Na verdade, eu queria muito falar com você, mas volto outra
hora. Não queria atrapalhar vocês. — Sorrio envergonhada.
— Que isso, Amandha! Não está atrapalhando em nada. Chegamos aqui
de surpresa. Ana queria porque queria ver o Theodoro e o Rodrigo — diz a
Heloísa chacoalhando um pequeno embrulhinho lindo que dorme em seus
braços.
— Ou seja, só vieram por causa da minha sobrinha, porque se não fosse
por isso, não viriam. É muito amor por mim e pelo Theo, sabe?
— A convivência com o Theodoro não está te fazendo bem, Rodrigo —
Eduardo diz, e todos nós rimos.
— Gente, eu vou indo. Depois falo com você, Rodrigo, tenho que
encontrar o Theodoro ainda.
— Espera. Se queria falar comigo, vamos até o escritório.
Concordo. Entramos no escritório dele, e espero que ele feche a porta
para só então começar a falar.
— Rodrigo, eu te pedi para fazê-la feliz, e você faz o contrário.
— Quê? Não estou compreendendo.
— Você deixou Judith plantada à sua espera por causa de um evento e só
lhe avisou que não iria mais de duas horas depois!
— Amandha, eu juro que não queria ter feito aquilo, mas o evento era
importante.
— E os sentimentos dela não? Por que não ligou tempos antes avisando?
Ou a convidasse para o evento.
— Eu tentei, mas fui pego de surpresa. Fiquei sem carga no celular. No
evento peguei o celular de um conhecido e enviei uma mensagem avisando. Eu
não podia deixar de ir ao evento, o Theodoro não iria, porque ele...
— Eu pedi para ele ir comigo a outro evento. — Solto um palavrão
baixinho. — A culpa foi minha. Se eu não tivesse insistido para ele ir comigo,
você não teria deixado a Judith de lado e ela não estaria magoada. A culpa foi
minha.
— Amandha, não pense assim. Eu também errei, devia ter ido até o
restaurante e a levado comigo para o evento, mas fiquei tão puto com o
Theodoro que não pensei direito e agi com raiva e fiz merda. O evento era
extremamente importante, e como o Theodoro não iria, eu tive que ir.
— Mas você fez merda por minha causa. O Theodoro, no dia, disse que
tinha um evento importante, mas eu pedi para ele ir comigo a um evento
também, só que importante para mim. Eu pensei apenas no que era importante
para mim e me esqueci de que, se ele não fosse ao evento dele, você teria que ir.
Eu estraguei seu jantar com a Judith — falo chateada.
— Amandha...
— Eu preciso ir. Desculpa, Rodrigo. Vou fazer a Judith te perdoar. — Saio
do escritório dele e escuto ele vir atrás de mim.
Paro na sala e me despeço de todos.
— Nos vemos amanhã? Vamos marcar de jantar todos juntos? — indaga
Heloísa.
— Claro. — Sorrio e saio.

***

Como pude ser tão tola desde o início? Eu devia ter notado que o evento
foi há três dias, o mesmo tempo em que a Judith sumiu. Ela está com raiva do
Rodrigo, mas eu tive culpa também. Vou ver o Theodoro e depois irei falar com
ela novamente. Preciso consertar essa situação.
A agência tem apenas os seguranças, e como me conhecem, não me
impedem de entrar. Subo até o andar do Theodoro e vou direto para sua sala, na
qual entro sem bater. Ele se assusta, mas logo sorri e vem ao meu encontro,
abraçando-me e me beijando.
— Demorou. Quase envelheci trezentos anos.
Sorrio.
— Tive que resolver uns problemas com a Judith, aí acabei tendo que ir
até o Rodrigo.
— Aconteceu alguma coisa grave? — pergunta preocupado.
— Depois te conto tudo.
Ele concorda e sorri.
— Vem, vou te mostrar a surpresa.
Saímos da sala dele e entramos na sala do Rodrigo, onde sou
surpreendida por uma cachorrinha com lacinhos rosa nas orelhinhas, correndo
de um lado para o outro, mas logo em seguida vindo pular em nós.
— Que linda! — Abaixo-me e a pego no colo. Entrego minha bolsa para o
Theodoro. — Como você é linda! Parece um ursinho.
Ela me lambe.
— Gostou?
— Adorei! — digo animada.
— Que bom, porque é sua.
Viro-me para ele, sorridente.
— Sério? — pergunto animada, e ele concorda. — Obrigada, Theo!
Ele sorri e me dá um selinho.
— A comprei quando fui comprar as coisas da Janete. É uma Spitz Alemã,
não cresce, vai ficar desse tamanho. Não tem nome ainda, mas se quiser, ajudo e
assim já registramos.
— NÃO! Quero dizer, não precisa ajudar com o nome. — Sorrio
apavorada enquanto a cadelinha brinca com meu cabelo.
— Seu medo de eu escolher o nome deveria ser menos aparente. — Ele
ri.
— É que você tem problemas em escolher nomes de cachorro.
— JANETE AMA O NOME DELA!
— Isso porque ela não fala — digo baixinho, torcendo para ele não ter
escutado.
— Eu escutei. Você e o Rodrigo fazem bullying com o nome da coitada.
Rio.
— Bullying vai ser o que o Rodrigo vai fazer com sua cara quando ele ver
a zona que ela fez aqui.
Ele ri.
— Rodrigo é um cara compreensivo... ou não.
— Falando no Rodrigo, encontrei Eduardo, Heloísa, Ana Clara e Lucas na
casa dele.
Ele arregala os olhos e sorri.
— Eles estão aqui! Não me avisaram que viriam. E que diabos você
estava fazendo na casa dele?
— Parece que a Ana insistiu em ver você e o Rodrigo. E respondendo a
sai pergunta, tive que resolver alguma coisa.
— Entendi. Estou morrendo de saudade da Ana Clara.
Sorrio. O amor em sua voz ao mencioná-la é lindo.
— Ela disse que eu te pedi em namoro, mas o engraçado é que não me
lembro disso.
Ele começa a tossir.
— Você bebeu muito no dia, não vai se lembrar.
Reviro os olhos.
— Como você é cara de pau, Theodoro. Vamos, lindinha, antes que você
se contagie com a doença cara de pau desse aí.
Ele ri enquanto saímos da sala do Rodrigo.
26 – Theodoro
Vamos para meu apartamento. Amandha tem coisas dela nele, então
dormirá comigo. Não vou insistir em saber o que aconteceu, quando ela quiser
me contar, estarei disposto a ouvir, mas está me preocupando ficar sem saber o
que houve.
Por sorte Janete se deu bem com a cadelinha que dei para a Amandha,
que por sinal ainda não tem nome, mas estou pensando em alguns. Eu poderia
ligar para a Heloísa ou para o Eduardo e saber se estão com o Rodrigo, mas
seria idiotice, porque com toda certeza se hospedaram em algum hotel para não
incomodar ninguém. Talvez apenas a Ana tenha ficado com o Rodrigo. Quero
curtir a noite com minha princesa, e não é a Janete, pois como sabe, ela é minha
esposa, e minha princesa é a Amandha.
Peço comida italiana enquanto a Amandha toma banho. Fico brincando
com as duas bagunceirinhas que correm pelo apartamento quando eu jogo as
bolinhas. A comida chega rápido, então coloco dentro do micro-ondas para não
esfriar. Assim que a Amandha sai do banheiro, separo minhas coisas e vou
tomar meu banho. Tomo um banho rápido, coloco minha cueca e uma calça de
moletom preta que fica caída sobre meus quadris.
Vou para a sala, onde encontro a Amandha brincando com a Janete e com
a... Sem Nominho.
— Vamos comer?
Ela concorda. Vamos para a cozinha colocar comida nos pratos. A Mandy
está calada. Sorri das minhas idiotices, mas seu sorriso não alcança os olhos.
Termino de me servir e fico observando ela se servir delicadamente. Caminho
até ela e a abraço por trás. Puxo seus cabelos para o lado e beijo seu pescoço.
— Minha linda, está me agoniando ver você assim. O que aconteceu?
— O Rodrigo e a Judith brigaram, quero dizer, nem chegaram a brigar,
porque não deu tempo. Eu não deixei dar tempo.
— Ei, o que você tem a ver com eles? — pergunto pacientemente.
— Tudo, Theo. — Ela se vira, ficando de frente para mim. — O Rodrigo
teve que dar um bolo na Judith por minha causa. Eu fiz você ir ao evento comigo,
e com isso ele teve que ir a outro evento no seu lugar, e deu tudo errado. Por
minha causa ele deixou a Judith plantada em um restaurante, e agora ela está
sofrendo, e a culpa é minha. Fui até brigar com o Rodrigo, mas não pude, porque
notei que a culpa foi minha. Você tem que ver como ela está. Coitadinha... Está
tão frágil, se odiando... Droga! — Seus olhos estão marejados.
— Meu amor, não pense assim. Não se culpe. O Rodrigo poderia tê-la
levado junto, ou explicado a ela o que houve. Você não sabia. Não tem culpa de
nada.
— Tenho culpa, claro que tenho. Eu tenho que falar com ela e fazer com
que ela perdoe o Rodrigo.
Abraço-a apertado e beijo o topo da sua cabeça.
— Amanhã com mais calma você resolve isso. Só pare de se culpar, por
favor.
— Está bem. Vamos comer.
Beijo-a com carinho. Comemos, e consigo distraí-la. Ficamos assistindo a
um filme enquanto as bagunceiras dormem praticamente uma em cima da outra
na caminha da Janete.
Vamos para o quarto quando o filme acaba. Apago as luzes, deixando
apenas as dos abajures acesas.
— Ainda está preocupada, não é?
Ela dá um sorriso fraco.
— Não tem como não ficar.
— Sim, não tem como, mas eu posso fazer você relaxar muito. — Inclino-
me sobre ela e a beijo levemente nos lábios.
— Gostaria de tentar? — Ela sorri maliciosamente.
— Adoraria, mas não me culpe se amanhã passar o dia inteiro com sono
por não dormir direito.
— Não vou, mas vou te cobrar pelo envelope que usou na minha editora,
e com juros.
Rio.
— Vou amar pagar com juros. — Beijo-a com intensidade, e ela
corresponde da mesma maneira.
As mulheres pensam que nós homens pensamos apenas em nós mesmos,
mas estão erradas, pelo menos a respeito de alguns homens, como eu no caso.
Quando amo alguém, eu faço de tudo para proteger e fazer com que as
preocupações, medos e tristezas não permaneçam na vida dessa pessoa. Eu amo
a Amandha, penso nela a cada segundo e não suporto a ideia de vê-la sofrendo.
Posso ser um retardado às vezes, mas quando se trata das pessoas que amo, eu
me torno um protetor voraz, e com minha menina não seria diferente.
27 – Amandha
Estamos indo até o restaurante para jantar com o pessoal. A Heloísa
ligou para o Theodoro e disse para irmos. Eu confesso que não estou muito
animada, porque não sei se o Rodrigo chamou a Judith como forma de se
desculpar e também porque – pode ser idiota – sinto ciúmes da Heloísa com o
Theodoro. Isso me dá um pouco de insegurança, afinal ele conviveu mais com
ela e tem um carinho enorme por ela.
Duvido que vocês nunca tenham ficado com ciúmes de alguma amiga dos
seus namorados!
O caminho todo é feito em silêncio, porque eu fico pensando em como
contar a Judith que eu sou a culpada pela sua briga com o Rodrigo.
Sequer percebo quando chegamos. Só noto porque o Theodoro sai do
carro e vem abrir a minha porta. O manobrista pega a chaves do carro e entrega
o ticket ao Theodoro, que o pega e guarda na carteira.
— Princesa, coloca um pouco de sorriso nesse rosto, por favor. — Ele
coloca a mão no meu rosto.
— Só estou preocupada...
— Ei... tenho uma coisa “pra” você quando formos embora, mas só irei te
dar se você prometer esquecer os problemas, pelo menos por hora. — Sorrio. —
Melhorou. — Beija-me rapidamente e pega minha mão.
Entramos no restaurante, e uma moça pede nossos nomes. Quando
dissemos, somos encaminhados para a mesa em que todos nos aguardam.
Assim que chegamos, meu olhar vai direto para a Judith, que está
sorrindo ao lado do Rodrigo. Sorrio e olho para o Theodoro, que faz o mesmo
enquanto olha para os dois.
A Ana nota nossa presença e sai correndo da cadeira para vir de
encontro ao Theodoro, e assim todos se levantam sorrindo.
— Tio Theo! — ela grita, fazendo algumas pessoas olharem. Ele a pega
no colo, e ela se segura no seu pescoço. Theo a enche de beijos, e ela ri.
— Que saudades, minha linda!
— Eu também estava, tio!
— Boa noite, gente! — digo a todos, que me respondem. O Rodrigo puxa
uma cadeira para mim, e me sento sorrindo para a Judith.
Todos voltam a se sentar.
— Estávamos ansiosos pela chegada de vocês — diz Judith.
O Theodoro coloca a Ana na cadeira e fica parado atrás do Eduardo, que
o olha bem sério.
— Cadê meu abraço, Edu?
Começamos a rir.
— Você ama abraços, credo! — O Eduardo se levanta e o abraça.
— Gordelícia!!! — A Heloísa se levanta, e o Theodoro a abraça e beija seu
rosto. — Deixa eu ver esse afilhado lindão igual a mim que está no carrinho.
Rimos. Ele brinca com o Lucas, mas o Eduardo briga com ele, porque o
neném está dormindo.
Olho para a Judith. Ela sabe que estou chateada com algo, pois franze o
cenho, mas mal sabe ela que estou chateada por ter sido a culpada da sua dor.
Preciso contar a verdade.
O Theodoro se senta ao meu lado e me olha. Dou um sorriso fraco para
ele, que me retribui com um igual.
Um garçom vem, e fazemos nossos pedidos. Enquanto esperamos,
engatamos em uma conversa.
— Então você é dona de uma editora de livros, Amandha? — Eduardo
pergunta.
— Sou, sim.
— Que bacana. Deve ter lido de tudo já — diz Heloísa.
— Não fazem ideia! — Judith fala, e rio.
— Até livro infantil — afirmo, e a Heloísa sorri.
— Como anda a carreira, Helô? — Theodoro pergunta.
— Afastei-me das passarelas, porque o Lucas ainda é muito pequeno.
Mas estou fazendo fotos para revistas e tenho dois comerciais agendados.
— Meus parabéns. Fico muito feliz por isso. O Eduardo não deixa a mim
e o Rodrigo sabermos de nada relacionado à sua carreira, tem medo de você
largá-lo, sabe... — Ele dá uma piscadela para ela. Todos riem, exceto eu.
Ela é apenas uma amiga, Amandha, deixa disso!
— Eduardo é paranoico! — Heloísa fala.
— Não sou paranoico, só cuido do que é meu e te afasto desses loucos,
principalmente do agarradinho.
— Cara, eu amo abraçar, e daí?! — diz o Theodoro rindo, e o Eduardo ri
também.
— Tia Amandha. — Viro-me para a Ana e sorrio.
— Eu!
Ela ri.
— Você faz livros? Papai falou de livros.
— Sim, linda. Bom... eu apenas... Como posso explicar de uma forma que
entenda...? — Penso um pouco e respondo: — Eu arrumo os livros de quem
escreve para poder vender.
— E você arruma livros de princesas?
Todos sorriem.
— Claro.
— Me dá de presente livros de princesa?
— Filha, não faça isso, é feio. O papai compra para você.
Heloísa concorda.
— Mas ela arruma livros para vender, papai, pode me dar de presente!
Todos riem.
— Essa é das minhas! — Rodrigo fala.
— Depois te dou um monte, “tá” bom?
Ela concorda. Ana é um amor. Mesmo eu tendo que falar em português
com ela, não perco o ânimo de conversar.
— Ela é linda, pena que não entendo nada do que ela fala — diz Judith,
fazendo-nos rir.
— Ela pediu livros para a Amandha, e o pai dela brigou com ela, mas a
Amandha disse que vai dar — o Rodrigo fala e sorri para Judith.
— Viu só? As aulas de português não foram tolas, como você disse —
digo a ela.
— Eu te mostraria o dedo do meio, mas tem criança e estamos em um
local público e temos outras pessoas ao redor da mesa.
— Eita, troca de amor — Rodrigo fala rindo.
O jantar chega. Comemos e conversamos ao mesmo tempo. A noite está
sendo agradável, mesmo com o ciúme me dominando ao ver o Theodoro com
tantas trocas de carinho com a Heloísa. Ele sequer fala comigo. Eu converso com
todos, mas também não fico sendo faladeira, como também a Judith. Converso
mais com a Ana Clara, que é um amor de menina.
— Amandha, o Theodoro falou que conseguiu fazer as fotos para a capa
do livro da Susan. Ficaram boas? — Rodrigo pergunta.
— Ficaram, sim. Ela amou, e tinha que amar, porque foi complicado
conseguir essas fotos. — Sorrio.
— Que bom. Depois quero vê-las.
Concordo.
— Amor, é melhor irmos, o Lucas acordou e está esfriando muito — diz o
Eduardo.
— Sim. Vou apenas trocar a fralda dele. Pega a fralda no carro, que eu
esqueci, por favor?
— Eu pego. Me dá a chave, Edu. — O Theodoro pega a chave e sai.
— Vou até o fraldário. Quando o Theodoro vier, pede para ele levar a
fralda? — pede Heloísa ao Eduardo, que concorda.
O Theodoro retorna e vai até o fraldário. Ficamos conversando até que
ele retorna rindo ao lado da Heloísa e com o Lucas no colo. Finjo não ficar
enciumada e sorrio fracamente.
— Vamos, Edu.
— Vou pedir a conta.
— Gente, para, né! Vocês vieram nos ver. O Rodrigo paga a conta — diz o
Theodoro, e o Rodrigo ergue sobrancelha. Rimos. — Brincadeira. Eu vou pagar.
Vão tranquilos.
Eles se despedem da gente. A Heloísa fica em um abraço apertado e
demorado com o Theodoro, e sinto a pior raiva que já senti dele.
— Dá um jeito nele, e espero que goste de abraços, porque ele ama
abraçar — Eduardo fala rindo.
— Pode deixar.
— Tia Amandha, não esquece meus livros!
Rio.
— Pode deixar!
Os meninos saem para acompanhá-los até a saída.
— Judi, eu preciso falar com você.
— Mandy, o Rodrigo já explicou tudo, foi apenas um mal-entendido, e ele
disse que você iria se culpar, mas que não teve culpa. — Sinto meus olhos
ficarem marejados. — Não chora, Mandy, você não fez de propósito.
— Me perdoa, Judi.
Ela sorri.
— Não tem o que perdoar. Eu e ele agora estamos bem, não precisa ficar
assim. E sei que não está assim apenas por mim. Você ficou enciumada com o
Theodoro e a Heloísa.
— Claro que não. Eles são amigos apenas.
— Você sabe que eles são amigos, mas isso não a impede de ficar
enciumada. A gente sabe que você é...
Assustamo-nos quando os meninos voltam. Eu sei o que ela iria dizer e
dou graças a Deus por ela não ter dito, evitando assim que eles escutassem,
principalmente o Theodoro, porque ele não precisa saber disso, ninguém
precisa.
— Tudo bem, princesa? — ele me pergunta.
— Agora eu existo — digo baixo.
— O que disse?
— Nada. Estou bem, sim. Vamos? Assim podemos deixar eles
aproveitarem o que estraguei há três dias.
A Judith revira os olhos, e o Rodrigo me olha feio.
— Vou pedir a conta — anuncia o Theodoro.
Ele paga a conta, e nos despedimos dos dois, que ficam porque a Judith
quer um negócio que viu no cardápio e que sempre quis comer.

***

Estamos voltando para o apartamento do Theodoro.


— Amandha, o que foi? Você está estranha.
— O que importa isso para você?
Ele me olha rapidamente e volta a atenção ao caminho.
— Sério mesmo que vai ficar brava sem me dar um motivo?
— Não estou brava, estou bem, Theodoro.
— Está de TPM? Só isso explica sua bipolaridade.
Reviro os olhos.
— Esse é o problema de vocês, homens. Fazem merda e culpam a TPM,
que sequer está presente!
— E eu fiz merda? — ele pergunta calmamente.
— Puta merda! Para o carro, que eu quero descer!
— Não, não vou parar. Estamos chegando, Amandha.
— Para o carro! — grito irritada.
— Eu já disse que não vou parar.
O farol fecha. Tiro o cinto de segurança rapidamente e destravo a porta.
Pego a bolsa e saio do carro, correndo para a calçada. Escuto ele gritar meu
nome, mas não dou atenção.
Começo a seguir a pé para a casa dele, que é perto daqui.
Eu não posso dizer por que estou com raiva, ele vai me achar ridícula,
mas eu tenho motivos para ser assim. Eu na verdade não tenho culpa de ser
desse jeito, ou tenho?
Chego rapidamente ao prédio torcendo para que ele não tenha chegado
ainda, afinal, de carro ele teria que dar a volta no quarteirão todo para entrar
aqui, e isso é um pouquinho demorado, mesmo estando de carro.
Quando saio do elevador, tomo um susto ao vê-lo de pé ao lado da porta
de seu apartamento. Está de braços cruzados e sério.
— Eu devo ter tomado milhões de multas por ter passado em sinais
vermelhos só para chegar aqui antes de você, então acho que mereço uma
explicação para sua raiva repentina.
Ele abre a porta e entramos. Nossas cachorrinhas correm para ter nossa
atenção, e a damos a elas.
— Vai me dizer o que houve?
— Nada, Theo, você não tem culpa, apenas descontei a raiva em você.
— Tenho culpa, sim, meu amor. — Ele se senta no sofá e me puxa para
sentar em seu colo. — Eu devia ter percebido que você estava ficando
enciumada em relação a mim e a Heloísa, mas, princesa, entenda que eu vejo
poucas vezes a Heloísa, e ela é apenas uma grande amiga, uma irmã. Eu sei que
você está aqui a todo instante, dormindo ao meu lado, e quando não, passando o
resto da noite comigo após o trabalho. Eu sei que vou ter você depois do
trabalho, ou depois de um compromisso, e que vou ter você em um domingo
qualquer como este. Porém, com ela eu fico poucas horas ou dias das
pouquíssimas vezes em que a vejo. Então para de ser boba, porque eu amo você.
Eu amo Heloísa, mas como amiga. Já você, eu amo como minha princesa, minha
namorada e minha mulher. — Ele segura meu rosto e me beija. Fico emocionada
por tudo o que ele me disse.
— Eu apenas fiquei enciumada porque eu não gosto de dividir você. Me
chame de egoísta, eu sei que sou.
— Sei que sou irresistível “pra” cacete, mas tem Theodoro “pra” todo
mundo.
Rio.
— Você consegue quebrar um clima.
— E como! — Ele me agarra e me beija novamente. — Hummm... — Para
o beijo, morde meu lábio inferior e me dá um selinho. — Deixa eu pegar o que
comprei hoje quando você foi na sua casa se arrumar. E espero que goste,
porque tive que convencer a dona da loja a abri-la hoje somente para te
comprar o presente.
— Então não posso dizer que não gostei?
— Não, não pode! Faça cara de contente se odiar.
— E se eu não quiser? Afinal, sou bem sincera.
— Se você disser que odiou, vou dar um nome para sua cachorrinha e
registrá-la.
— Não vi o presente, mas já amei!
Ele ri.
28 – Theodoro
Corro até o quarto para buscar o presente que comprei para ela. Pego a
caixa de veludo preta que coloquei dentro do criado-mudo. A Janete está
rodopiando atrás de mim.
— Janete, você anda ficando piradinha, hein?
Retorno para a sala, onde a Amandha brinca com a Sem Nominho. Sento-
me ao seu lado no sofá e lhe entrego a caixa de veludo. Ela a pega e sorri. Espero
que ela a abra.
— Sério mesmo que, se eu disser que não gostei, você vai registrar um
nome que escolher para minha cachorrinha?
Rio.
— Amandha!
— Brincadeira.
Ela abre a caixa e coloca a mão na boca. Sorrio da sua expressão.
— Eu não acredito! Theo, você é louco!
— Isso foi um eu amei? — pergunto confuso, e ela concorda. — Vocês,
mulheres, não sabem dizer as coisas sem ser em códigos... Aff.
— Eu fiquei apaixonada por essa corrente no dia do evento da joalheria.
Eu não sabia que você lembrava que eu queria.
— Claro que eu lembrava. Sempre lembro tudo o que me fala, ou faz.
Exceto pela merda que eu fiz no passado, mas isso não vem ao caso.
— Obrigada! — Ela me abraça e me beija.
— Droga, você gostou, não vou poder escolher o nome da cachorrinha!
Ela ri.
— Não, você não vai.
— Me deixa colocar em você.
Ela concorda. Coloco nela a corrente de prata com a letra A diamantada.
Ela tem bom gosto, e parece que a corrente foi feita para ela, porque combinou
muito.
Amandha coloca a mão no pingente e sorri. Ela olha a pulseira que me
deu em meu pulso e ri.
— Casais normais usam alianças, a gente, corrente e pulseira.
Rio e pergunto:
— E a gente é normal?
— Eu sou, agora você, eu já não posso garantir nada.
Erguemos nossas sobrancelhas esquerdas um para o outro. A
cachorrinha dela começa a correr atrás da Janete, que corre desesperada, e isso
nos faz rir.
— Já decidiu um nome para a coitada?
— Ainda não, mas vou pensar em um, porque é o que as pessoas normais
fazem, pensam bem no nome que vão dar aos seus filhos e animais de estimação
para que no futuro não sofram bullying, mas você deve saber disso, não? —
pergunta com ironia.
— Eu já disse que você é irritante quando fala com ironia?
Ela ri.
— Não lembro, mas já me disseram isso, sabe...? Meus ex-pacientes,
quando eu trabalhava como psicóloga.
— Claro que falaram! — Deito-me no sofá colocando as pernas em cima
dela.
— Theo, eu tenho que ir para casa hoje e vou levar a cachorrinha. Tenho
que cuidar das coisas lá, porque amanhã eu trabalho.
— Não pode ficar? Amanhã você vai.
— Não dá. — Ela sorri.
— Eu te levo, então, só deixa eu arrumar minhas coisas.
Ela franze o cenho.
— Oi?
— Vou dormir lá com você, e não adianta querer me impedir.
— Nem tentaria, porque você pode ser extremamente irritante quando
quer algo.
— Ainda bem que sabe! — Levanto-me e lhe dou uma piscadela.

***

Estou de bom humor como nunca estive. Está tranquilo o dia na agência
hoje. O Rodrigo ainda não chegou, deve ter tido uma boa noite com a Judith. Rio
do meu próprio pensamento.
— Senhor, tem uma reunião hoje em meia hora com o pessoal da agência
de fotografia em Los Angeles — diz Gabe.
— Claro. Lindo dia hoje, não é, Gabe?
Ela ri.
— Claro, senhor. — Sorri timidamente e se retira da sala.
Amo atormentá-la, na verdade amo atormentar o mundo.
A Gabe entra na minha sala novamente.
— Senhor, a Livy falou que o Sr. Medeiro quer falar com o senhor
imediatamente.
— Está bem.
Livy é a secretária do Rodrigo, e para ele mandá-la dar recado para
minha secretária é porque vem bomba, e acho que já sei o motivo. Vou até a sala
dele, mas antes dou um olhar de estou morto? a Livy, que concorda rindo.
Entro na sala, e ele se vira para mim. Está irritado, eu sei pela sua
expressão.
— Eu vou te matar, Theodoro! Você deixou aquela cachorra na minha
sala quando fui embora. Olha a zona! Ela fez xixi, virou o lixo, comeu o pé da
minha cadeira e espalhou papel para todo o lado. Cara, eu vou te matar! — ele
grita, e me controlo para não rir.
— É só chamar a faxineira. Para que esse estresse?
— Não venha com ironia. Você é uma criança crescida! Seu filho da mãe!
Que ódio!
Não me aguento mais e rio.
— Qual é, Rodrigo?! A noite não foi boa e vem descontar em mim?
— Olha aqui, seu imbecil, a noite foi maravilhosa, mas suas traquinagens
acabaram de estragar meu humor, e sou um cara de muito humor! E não ria,
Theodoro, porque quem ri por último ri melhor. Aquela aposta ainda “tá”
valendo, você vai transar com um cara e vai gravar um vídeo!
— Senta na sua cadeira toda comida e espera, porque isso nunca vai
acontecer. E chama a faxineira logo, porque essa sala “tá” fedendo.
Ele me lança um olhar de vou te matar, e eu saio rindo da sala dele. Fala
sério? Segunda-feira já é chata, por que deixá-la mais chata ainda? Que homem
mais sem humor. Rio enquanto entro na minha sala.
29 – Amandha
Semanas depois

Estou no meu apartamento. É sexta-feira à noite e estou na TPM, ou seja,


só quero meu sofá, minha cachorrinha sem nome ainda e muita besteira, muita
mesmo. O Theodoro saiu com o Rodrigo, foram para a boate onde a Judith
trabalha. Ele me chamou para ir, mas eu não quis, e é óbvio que eu não iria
impedi-lo.
Estou assistindo à TV e com um pote de sorvete na mão.
— Olha, princesa, seus parentes! — Passa uns cachorrinhos no
comercial. Ela olha para a TV e volta a atenção aos seus brinquedinhos que o
Theodoro trouxe ontem.
Levo uma colherada de sorvete à boca.
As mulheres são criaturas enjoadas. Na TPM, como já sabem, ficamos
pior, credo! Hoje nada me agrada. O cabelo está uma droga, estou com tédio
total, com fome a cada minuto, chorando por tudo e irritada comigo mesma.
Theodoro se livrou de ter que me aguentar hoje, sortudo. Eu queria poder me
livrar de mim mesma, porque sei que estou um saco.
Levo outra colherada de sorvete à boca. Levanto-me e o levo para a
cozinha. Deveria existir um Disk TPM, para onde ligaríamos, diríamos o nível da
TPM e eles enviariam uns kits de tudo o que precisamos. Isso iria facilitar tanto
a vida.
Viro-me para retornar para a sala, mas quase caio em cima da
cachorrinha, que apareceu do nada.
— Floquinha! Assim eu caio em cima de... É isso, eu vou te chamar de
Floquinha. — Pego-a no colo. — O que acha do seu nome? Se você responder, eu
tenho um ataque cardíaco. — Rio. Ela começa a lamber meu rosto. — Pelo visto
gostou do nome! Só falta a mamãe registrar agora.
Volto para a sala com ela e a coloco no chão. Pego meu celular e envio
uma mensagem para o Theodoro:

Decidi o nome da cachorrinha!


Rio imaginando a cara dele quando souber o nome. Deito-me no sofá e
volto a assistir à TV. Necessito comer algo que eu não sei o que é. Eu deveria ter
ido com o Theodoro, assim me distrairia, ou eu mataria as mulheres que dessem
em cima dele, e isso me animaria demais. Nossa, como me animaria matá-las, eu
deveria com toda certeza ter ido.
Não riam da minha situação, não, pois vocês também passam por isso
quando estão com a maldita TPM.
O controle-remoto cai e vai parar embaixo do sofá.
— Ah, vai ficar aí, porque eu não vou pegar! — Meu Deus, estou falando
com um controle! — Floquinha, na verdade você poderia falar, isso seria uma
companhia ainda melhor. — Ela sequer me dá atenção, está deitada quase
dormindo. — Obrigada pela sua maravilhosa atenção — ironizo.
Não tirei nem a maquiagem com a qual fui trabalhar, deve estar linda a
situação. Vou tomar um banho e quem sabe assim me animo mais para chegar
até o telefone e pedir uma pizza.
Tomo um banho e coloco um blusão do Mickey. Removo a maquiagem e
prendo o cabelo em um coque. Ligo para a pizzaria a qual sempre faço pedidos.
O banho me animou um pouco, mas somente um pouco, não foi carga total.
Um tempo depois a portaria liga avisando que a pizza chegou, e libero a
entrada do entregador. Recebo a pizza em poucos minutos e dou uma boa
gorjeta ao garoto, que teve que me ver nesse estado nada agradável, coitado.
30 – Theodoro
Estou na boate com o Rodrigo, e se acalmem, pois não estou fazendo
merda. Eu sei que estou namorando e amo minha namorada. Estamos jogando
conversa fora e rindo das oferecidas que estão dando em cima da gente, mas a
gente nem dá bola, e elas só faltam esfregar os seios nas nossas caras.
A Judith está aqui, trabalhando. Bom, vem mais aqui me provocar e falar
com o Rodrigo do que trabalha. Eu me pergunto como ela ainda mantém esse
emprego.
— Se a cada mulher que olhasse “pra” você, Theodoro, eu cobrasse cinco
dólares, estaria rica — a Judith comenta enquanto entrega uma bebida à mulher
ao meu lado.
— Você ficaria rica se trabalhasse mais. — Ela me mostra o dedo do
meio, e rio. — Mal-educada.
— Te adoro, amiguinho! — Ela ri e dá uma piscadela para o Rodrigo, que
está rindo. Afasta-se para atender aos outros clientes.
— Sua namorada me ama! — brinco com o Rodrigo.
— Ela não é minha namorada, apenas estamos saindo e nos conhecendo.
E o amor dela por você eu não queria ter. — Ele dá um gole na bebida, rindo.
— Fala sério, Rodrigo. Você já a considera sua namorada. Eu te conheço,
você está igualzinho quando conheceu a louca da sua ex-esposa.
— Não me lembre da Barbara, aquela louca! Naquele casamento eu fui
um completo cego. Você e a Ana Clara tinham razão de odiá-la, enquanto eu e o
Eduardo éramos dois cegos que a defendíamos.
— Heloísa fez bem em dar uma surra nela, porque só aí você e ele viram
quem era ela, e o Eduardo viu que ela ameaçava a Ana e que era louca por ele.
— Melhor coisa que fiz foi me separar dela. Mas aprendi muito com
aquele casamento, então agora quero fazer as coisas devagar.
— Nunca pensei que eu diria isso a você, mas pode contar comigo “pra”
tudo.
— Nossa, eu não sei se fico feliz ou com raiva.
Rimos. Pego meu celular e vejo que está descarregado.
— Droga, se a Amandha ligou ou mandou mensagem, não vou saber.
— Por que ela não veio?
— Está na TPM, não quis vir.
— Boa sorte com ela. — Ele ri.
— Toda sorte é bem-vinda. — Tomo um gole da minha bebida.
— Vou pedir mais uma bebida para a gente.
— Para mim já deu. — Olho no relógio, e é 1h da madrugada. — Eu já
vou indo. Vou para o apartamento da Amandha.
— Já tem até chave? Porque, se tiver, isso é casamento.
— Tenho, e não é casamento! Vai ficar?
— Hoje a Judith vai sair mais cedo, não vai ajudar a fechar. Vou esperar
ela.
— Certo. Vou indo.
— Até qualquer hora.
— Sai do meu pé! — Rio. — Paga minhas bebidas, fui!
— Seu filho da...
Levanto-me rindo e não escuto ele terminar o que ia dizer. Saio da boate
e caminho até onde os táxis costumam parar. Depois de eu ficar quase um ano
esperando, um táxi aparece e consigo felizmente pegar. Dou a ele o endereço da
Amandha, e ele segue até lá. Para minha alegria, já que estou cansado, o taxista é
um cara que gosta de conversar, e eu, como não sou um cara tão rude assim,
porque infelizmente mamãe e papai me fizeram perfeito – isso é efeito colateral
da bebida –, eu fico conversando com ele. Mentira, eu sou convencido mesmo.

***

Abro a porta do apartamento e encontro a Amandha assistindo ao filme


Uma linda mulher e chorando. Não riam, eu já assisti a esse filme milhões de
vezes.
— Amor?
Ela me olha e enxuga o rosto.
— Olha como é lindo o filme.
— Bem, essa é a parte mais divertida, quando ele vai com ela às compras
porque ela disse que...
— Não discorde! — ela grita, interrompendo-me.
— OK, não vou discordar! — Tranco a porta e tiro os tênis. Caminho até
o sofá e me sento ao seu lado.
Uma coisa a ser aprendida: homens, não discordem de uma mulher na
TPM!
— Sem Nominho!
Ela pula nas minhas pernas, e começo a brincar com ela.
— Ela tem nome!
— Tem? Que bom! Qual é?
— Você não vai poder rir.
Ela sempre ri do nome da Janete, é meio injusto não rir. Theodoro, ela
está na TPM, não discorde!
— Não vou rir.
— Ela se chama Floquinha, decidi hoje quando quase caí em cima dela.
Paro de brincar com a cachorrinha e olho para a Amandha, que está
sorrindo. Aperto os lábios para não rir.
— Pode rir! — Ela revira os olhos, e não aguento. Começo a gargalhar
tanto que minha barriga começa a doer.
— E você... fica zoando do nome da Janete! — Gargalho cada vez mais.
— O nome da minha cachorrinha é fofo, já o da sua é bullying.
Paro de gargalhar.
— Bullying, não! O nome dela é muito sofisticado.
Agora é a vez de a Amandha gargalhar.
— Quando tiver filhos, que eles tenham sorte de você nunca escolher o
nome.
— Sorte que não pretendo ter filhos. — Ela fica séria. — Não pira! Eu
tenho motivos para isso, mas não tem nada a ver com você, então não pira.
— Não vou pirar, só queria saber o porquê. Eu vi como trata a Ana Clara,
você leva jeito, é supercarinhoso.
— Filho dos outros é diferente. Eu sou muito palhaço, sou pior que
criança, talvez por isso me dê bem com elas, mas ser pai é algo sério, não é
brincadeira, exige uma responsabilidade que eu sei que não posso ter. Eu não
sirvo para ser pai. Pai tem que ser um herói para os filhos, e eu não posso ser
isso. Quando estou com uma criança, eu viro outra criança, e isso não pode ser
assim, porque alguém tem que ser o adulto da história. — Bufo, mas logo rio. —
Falei tanto que você não deve ter entendido nada.
— Na verdade, entendi. Se você prestasse atenção em tudo o que disse,
veria que serve para ser pai um dia, porque toda sua preocupação mostra o
quanto uma criança é importante para você. Ser pai não é ser perfeito, é se
preocupar, cuidar, criar e amar. — Ela sorri.
— Já tenho 35 anos, estou velho para pensar nisso.
— Você não é velho. Você se preocupa demais com a idade. Idade é só
um número, suas atitudes é quem faz de você maduro, ou não. E você ser
criança às vezes é bom, na verdade é lindo. Mostra que você não deixou a
criança que existe em você morrer, e é isso que faz com que as pessoas gostem
tanto de você.
— Obrigado, eu acho. — Sorrio. Dou um beijo nela com carinho.
— Agora vou voltar o filme ao início para você assistir comigo.
— Certo, mas então vamos ver na cama pelo notebook.
— OK. Vai tomar banho enquanto arrumo tudo. Espero que não tenha
vindo dirigindo, porque você bebeu, e não diga que não bebeu porque seu bafo
te entrega.
— Eu não vim dirigindo, você sabe que não dirijo quando bebo muito. E
sou um homem chique, não tenho bafo, tenho hálito de álcool.
Ela ri e joga a almofada em mim.
— Idiota. Nem quando bebe pouco deveria dirigir. — Ela se levanta.
— Eu sei, amor, eu abuso um pouco da lei e da minha segurança, não vou
fazer mais isso. Satisfeita?
— Acho bom! — Ela ajeita o coque do cabelo. — Vai logo “pro” banho,
Theo. Tem cueca sua na minha gaveta de calcinhas, e eu realmente não me
lembro de tê-la colocado lá.
— Sério? Estranho, eu também não — falo com ironia e rio.
31 – Amandha
— Vamos, Theo, pare de ser preguiçoso. É um evento importante. —
Cutuco-o na cama.
— Não. É sábado, quero dormir. — Ele afunda o rosto no travesseiro.
— Mas vai ser legal. É bem importante para a gente esse evento.
— Escutar babacas fazendo discursos e mulheres querendo ser uma
melhor que a outra está definitivamente fora da minha lista de importante e
legal.
Reviro os olhos.
— É um evento de caridade, para de ser ruim!
Ele estica a mão e a coloca na minha boca.
— Shiiiiiiu... Dorme, porque isso, sim, é legal e importante. — Empurro a
mão dele. Ele me repreende: — E você também só me avisa agora.
— Eu vi o e-mail só agora! OK, se não vai comigo, vou sozinha. —
Levanto-me da cama, e ele retira o rosto do travesseiro para me olhar.
— Mulher sabe como ser chata, puta merda!
Rio baixinho enquanto entro no meu banheiro. Ligo o chuveiro e retiro a
roupa. Entro no chuveiro e fecho a porta do boxe. Uma batida forte nela me
assusta e eu grito. Escuto o Theodoro rindo. Que filho da mãe!
— Não precisa me matar de susto para não me ver ir sozinha.
— Não tenho culpa por você ficar pensando em mim enquanto toma
banho e fica distraída.
— HA HA HA. Como você é engraçado.
— Eu sei, princesa.
Começo a lavar a cabeça.
— A que horas vai ser o evento?
— Ainda está aqui?
— Não, amor, é meu fantasminha falando — diz ele rindo, e começo a rir.
— O evento é às 16h. E o que ainda faz aqui?
— No momento, estou sentado em cima da tampa do vaso sanitário e
quase dormindo.
— Vai dormir na cama!
— Aqui é melhor, sabendo que tem uma... — Ele abre o boxe e coloca a
cabeça dentro dele. — Uma mulher muito... Quer saber? Acho que vou tomar
banho. — Rio e jogo água nele. — Bom, acho que isso foi um venha tomar banho
comigo, Theo.
Ele retira a cueca e entra no chuveiro, agarrando-me e me fazendo rir.

***

Estamos almoçando, e sim, eu que fiz. Qual é, pensaram que eu não sabia
cozinhar? Pois pensaram igual a mim, mas o que uma receitinha com passo a
passo bem detalhado na internet não faz? A internet é milagrosa.
— Theo, posso fazer uma pergunta?
— 100 dólares por minha resposta.
— É sério.
Ele coloca o garfo no prato e toma o suco.
— Pergunte.
— Por que você nunca fala da sua família, bom, sua história?
— Porque não há muito que falar.
— Mas nunca disse o nome da sua mãe, onde morava... Nunca me contou
nada.
— Morei na Carolina do Norte até a morte da minha mãe. Depois vim
para Nova York, e é isso aí.
— Não evita falar, Theo. Eu quero conhecer mais sobre você!
— OK. Minha mãe se chamava Anita Salazar, ela era espanhola. — Sorri.
— Veio para os Estados Unidos quando conheceu meu pai, que tirava férias na
Espanha, se apaixonaram, e ela o seguiu até aqui. Nós morávamos em uma casa
enorme na Carolina do Norte, e foi lá que fiz minha faculdade de administração.
Iniciei aos 18, mas no último ano de faculdade, minha mãe morreu, e eu a
tranquei e vim para Nova York. Vendi a casa e vim tentar recomeçar tudo aqui, e
de primeira dei sorte, conheci o Eduardo e comecei a trabalhar para ele. O
negócio foi ficando cada vez melhor, e ele me fez a proposta para ser seu sócio, e
essa é minha história.
— Eu sinto muito por sua mãe. Mas e seu pai?
— É complicado. Meu pai era um homem muito rico, eu imaginava que
ele era o meu herói. — Ele ri com ironia. — Fiz faculdade de administração por
causa dele. Eu queria ser igual ele. Mas quando fiz 18 anos e entrei para a
faculdade, eu vi quem era ele de verdade. Ele traía minha mãe havia anos com
uma estilista. Peguei os dois na empresa dele. Depois descobri que ela tinha um
filho dele, mas eu não quis saber da história, porque o ódio a meu pai foi grande.
Ele sempre dizia que o tempo era curto demais, que a idade uma hora batia na
porta e, quando víamos, éramos escravos dela, então tínhamos que curtir muito
a vida. Cresci ouvindo isso e acreditando que eu tinha que fazer tudo muito
rápido, curtir rápido a vida, tinha que ser o grande homem como ele era. Mas a
vida mostrou quem era ele de verdade. Não me orgulho até hoje de ter o mesmo
nome que aquele homem. Ele tinha problemas no coração e morreu dois anos
antes da minha mãe, que se entregou à morte de tanta depressão que tinha por
causa da morte dele. Eu nunca iria contar a ela quem era o amor da sua vida, e
ela morreu sem saber.
Levanto-me do meu lugar e vou até ele. Sento-me em seu colo.
— Theo, nossa, eu nunca imaginava isso. Agora entendo por que nunca
falou dele e o porquê do seu problema com envelhecimento. Ele te traumatizou.
Eu sinto muito mesmo por ter feito você ter que falar.
— Tudo bem. — Ele sorri.
— Você foi muito bom com sua mãe. Deixou-a partir acreditando que seu
pai era um príncipe, e isso é lindo. Ela morreu o amando.
— É, devo ter sido mesmo. Pelo menos é o que eu tenho que acreditar.
Mas vamos mudar de assunto? — Concordo. Ele me dá um beijo. — Agora sua
vez de me contar sobre sua família.
Sorrio.
— Minha história não é tão trágica igual à sua, mas é melhor rir dela para
não chorar. Por hoje basta de tanto dramas. Vamos aproveitar o dia, e em outro
momento prometo lhe contar tudo.
— Está bem. — Ele acaricia meu rosto e me beija.
32 – Theodoro
Eu disse que esse evento não seria interessante. Claro que a causa é, mas
o resto é insuportável. Porém, como negar um pedido a Amandha? OK, estou
ficando mole. Devem estar se perguntando: cadê o Theo safado que não se
importava com relacionamento? A roda-gigante gira.
Em outros tempos eu estaria transando com uma mulher qualquer, ou
em casa descansando para ir à boate, mas esse é meu passado, e se a Amandha
sonhar que estou pensando nisso me mata.
Em eventos chatos como este, a melhor coisa é sorrir e torcer que não
venham te perguntar algo quando alguém vem falar com você.
Uma coisa que percebo nesses eventos é que as mulheres não se
arrumam para seus companheiros ou para os homens, elas se arrumam para
outras mulheres. Dizendo melhor, é uma competição de quem está melhor.
E nós, homens, não podemos negar, arrumamo-nos para impressionar não
apenas as mulheres, mas para competir com os outros homens também. É a lei
da vida!
É tanto brilho nas roupas dessas mulheres que parecem a Times Square
toda iluminada.
— Theodoro!
Desligo-me dos meus pensamento e olho para a Amandha.
— Eu.
— Vai ficar babando pelas mulheres bem na minha frente?
Rio.
— Na verdade estou querendo saber para que tanto brilho nessas
roupas.
Ela ri.
— Sei lá. Talvez queiram que isso cegue você e assim pare de olhar para
elas.
Tomo um gole do champanhe e dou um beijo casto em seus lábios.
— Para de ser tonta. A única que me importa aqui é você. Vamos entrar
no salão principal, que já vão começar os discursos.
— Já sabe o que vai falar?
— Eu tenho certeza de que vou me arrepender de perguntar, mas lá vai.
Falar o quê?
— Quando a Judith me ligou, o Rodrigo estava com ela e ele mandou
perguntar se vínhamos, porque a agência de vocês recebeu o convite, e o
Eduardo mandou e-mail dizendo que doou uma quantia e que era para você ou
ele fazer o discurso. Resumindo, você vai ter que fazer um dos discursos. —
Fuzilo-a com o olhar. — Acho que eu deveria ter contado isso bem antes. Ah, e
antes de me matar, o Eduardo disse no e-mail que o presente do seu aniversário
chega semana que vem porque a Heloísa disse que atrasou a encomenda.
— Eu estou decidindo a quem matar primeiro, você, Rodrigo ou
Eduardo.
— Poderia começar pelo Eduardo, assim dá tempo para eu fugir.
— Vamos entrar logo, e torça para que eu não tenha que fazer discurso
algum.
— Pode deixar que eu serei a torcedora número um agora que vi que
minha vida está em risco.
Rimos e entramos.

***

Não posso negar que os discursos foram bonitos. Eu não tive que fazer
um, apenas levantar quando anunciaram o nome da agência e o valor doado. A
editora da Amandha fez uma doação de um valor alto também, e eu queria
muito que ela tivesse que fazer discurso só por ter me escondido o que o
Rodrigo disse.
Tanto eu quanto a Amandha encontramos alguns conhecidos de eventos,
e ficamos conversando, mas logo a Amandha já deu aquele olhar de preciso ir
embora, estou exausta. Se ela não deu, eu dei, pois ela entendeu e pediu para
irmos.
Ficamos bastante tempo no evento, as pessoas não podem nem reclamar,
porque saímos às 19h. Pegamos a Floquinha em seu apartamento e fomos para
o meu. A Janete ficou doidinha quando chegamos com a Floquinha. As duas
estão se dando bem, pelo visto.
Depois de um banho, estamos jogados no sofá assistindo a filmes. Alguns
minutos depois um infeliz chamado Rodrigo emperra o dedo na campainha, e
como sei que é ele? Porque apenas ele faz isso.
— JÁ VAI, IDIOTA!
A Amandha ri. Abro a porta e dou de cara com ele, a Judith e caixas de
pizza e refrigerantes.
— Chegamos para animar a noite de vocês — diz o Rodrigo entrando
junto com a Judith.
A Floquinha e a Janete correm para brincar com eles enquanto tranco a
porta.
— Danonete! — grita o Rodrigo.
— É JANETE, RODRIGO! — digo, e todos eles riem.
— Theo, vamos combinar que o nome dela gera muitos apelidos — fala
Judith.
— Camaleão, fica quietinha!
Ela me mostra o dedo do meio. Eles colocam o que trouxeram na
mesinha de centro.
— Ai, que lindinho esse branquinho — comenta Judith brincando com a
Floquinha.
— É ela. Floquinha — anuncia Amandha.
— Mas só pode ser piada. Você e a Amandha têm um dom para escolher
nomes de animais que tenho pavor se um dia tiverem filhos. Eu imploro, se
tiverem filhos, me deixem escolher os nomes? — pergunta o Rodrigo, e rimos.
— Amiga, conviver com esse carinha aí não está te fazendo bem. Cadê
sua criatividade? — indaga Judith.
— Para, gente, é fofo o nome dela. Melhor do que Janete — fala
Amandha.
— Woool! — exclama o Rodrigo.
— Agora você tocou na ferida, amor — digo.
— Foi mal — a Amandha fala rindo.
— Vamos comer antes que o Theodoro assassine a gente — a Judith
pede.
— Melhor ideia que você já teve! — digo.
— Vamos pegar copos, Judi — diz Amandha saindo rapidamente da sala
com a Judith seguindo-a.
O Rodrigo fica rindo e me olhando.
— Que é, palhaço?
Ele dá um tapinha nas minhas costas.
— Vocês dois foram realmente feitos um para o outro. Janete e
Floquinha.
Rio, afinal não tem como não rir.
Elas voltam rindo, e eu prefiro nem perguntar o motivo, porque eu sei
que vou me arrepender.
33 – Amandha
Um mês depois...

Minha vida com Theodoro Lancaster Junior está muito bem, tirando as
vezes que ele consegue me tirar do sério, mas eu estou superando. Conseguimos
adiantar o lançamento do livro da Susan com os modelos da agência do Theo, e
isso me deixou superaliviada.
O único problema que estou enfrentando, é que o Theodoro vive me
pressionando para contar sobre meu passado, e não quero, afinal, não sou um
museu para viver de passado. Como uma ex-psicóloga, eu deveria saber que é
sempre bom se abrir, então não precisam me julgar, mas não é fácil para mim.
Meu celular começa a tocar, e vejo a foto da Judith.
— Oi!
— Mandy, boate hoje? Sua folga, poxa, vem!
— Vou pensar, estou cansada.
— O seu namoradinho já reservou “pra” ele e “pro” Rodrigo.
Rio da sua ironia.
— Eu sei, ele já me avisou que ia e me chamou para ir junto, mas falei
que ia pensar.
— N-não... — Ela começa a rir.
— Judith?! — pergunto desconfiada.
— Nada não. Você vem e ponto final. Vou reservar seu nome também.
Agora deixa eu ir trabalhar. Beijos, até mais tarde.
O que fazer quando se tem uma amiga irritante e você não está com a
menor vontade de aguentá-la te torrando a paciência? Você dá na cara dela?
Não! Você faz o que ela quer e resolve logo o problema!
Minha Floquinha está no SPA para cachorros, e não foi eu quem levei,
vocês já devem imaginar quem foi o retardado!
Estou supermal hoje. Ontem comi um bolo e não vi que tinha nozes, e
elas nunca me fazem bem, me causam enjoos, fico parecendo mulher grávida,
mas já estou tomando remédio, espero que alivie. Para ajudar, estou naqueles
dias, ou seja, a TPM está firme aqui, e estou tão chata que estou irritada comigo
mesma!
— Ânimo, Amandha!
Levanto-me da cama. Preciso de um banho e de doce, muito doce!
34 – Theodoro
Estou na boate, nem passei na Amandha hoje. Para falar a verdade, nem
a vi. Estou evitando-a um pouco, mas é por uma ótima causa. Olho no relógio, e
são 22h. O Rodrigo foi ao banheiro, e estou no bar aguentando as loucuras da
Judith, o que me anima, pois assim vejo que sou normal perto dela. Convenci a
Judith a ligar para a Amandha e falar para ela vir para cá.
— Theo, fala logo o que vai aprontar? — ela pergunta enquanto prepara
a bebida de uma mulher que está ao meu lado.
— Vou fazer um strip-tease, quero dinheiro na minha cueca, hein? — Rio,
e ela me mostra o dedo do meio.
— Falo sério, caramba.
— E eu também, quem não quer ver esse corpinho lindo aqui? — Ergo a
sobrancelha esquerda e dou uma piscadela.
— Aff, é impossível falar sério com você!
— Fica quieta, chapeuzinho! — Ela pintou o cabelo de vermelho, e claro
que eu daria um apelido.
— Para de “importunar ela”, Theodoro! — Rodrigo encosta ao meu lado.
— Nossa, assim eu me apaixono, hein, Rodrigo? — Dou um tapa na sua
bunda e me levanto do banco.
— Filho da p...
— Olha a boquinha suja, bebê. — Saio rindo da cara dele.
Estou nervoso e com medo. Parece que a qualquer momento vou cair
durinho no chão. Bem, vocês entenderam o que eu quis dizer, é duro de morto, e
não duro de... Deixa para lá.
Sinto meu celular vibrar no bolso. Encosto-me à parede do outro lado da
pista de dança. É uma mensagem da Amandha dizendo que já está chegando.
É agora ou nunca. O máximo que ela pode dizer é não, e isso não vai me
matar!
Alguns minutos depois a Judith me envia uma mensagem falando que a
Amandha chegou e já foi para a sala VIP para onde mandei levá-la. Respiro
fundo e saio atropelando todos para chegar até lá. Entro na sala e tranco a
porta. Ela está sentada e, assim que me vê, sorri.
— Qual é a bomba para querer me trazer aqui? — pergunta rindo.
— Nenhuma, eu acho. — Sorrio e me aproximo. Beijo seus lábios.
— O que você aprontou, Theodoro? Lugar público para eu não te matar?
Rio.
— Na verdade, não. — Sento-me ao seu lado e torno a beijá-la. — Eu te
trouxe aqui porque foi onde você me odiou pela primeira vez, foi onde tudo
começou, e é aqui que eu quero que tudo se prolongue cada vez mais.
— Não estou entendo, e olha que entendo super-rápido as coisas!
Ajoelho-me como o lindo príncipe que sou na frente dela, que fica pálida.
Retiro do bolso a caixinha vermelha de veludo.
— Amandha, você, a pessoa mais bravinha desse mundo e a mais linda
para mim, aceita se casar com esse cara lindo, maravilhoso e superdivertido que
te ama mais que tudo e que não sabe fazer um pedido de casamento super-
romântico? — Ela começa a chorar — Ah, quase esqueci... Não aceito não como
resposta. — Abro a caixinha, e ela olha o anel de diamante.
— E-eu aceito! — ela diz chorando. Coloco o anel em seu dedo, e sim, eu
estou tremendo.
— Se você não aceitasse, eu iria ter um treco! — Levanto-me e a puxo ao
meu encontro. Beijo-a com necessidade, afinal, não a vi o dia todo.
— Eu te amo, seu convencido!
Rio.
— Sou realista, amor! Agora espera um minutinho!
Ela franze o cenho sem entender. Caminho lentamente até a porta, que
abro com tudo, e o Rodrigo cai trazendo a Judith junto. A Amandha começa a
gargalhar, e acabo fazendo o mesmo. Os dois se levantam como se nada tivesse
acontecido.
— Sim, somos curiosos, e daí?! — questiona Judith.
— Ai, meu joelho! Quero folga por uma semana depois dessa, Theodoro!
— Não sonha, Rodrigo! — Rio.
— Caí “pra” nada, essas portas não deixam escutar nada. O que é, gente?
— Judith pergunta, e a Amandha mostra o anel para ela. — AI, MEU DEUS!
O Rodrigo me olha com os olhos arregalados.
— Meu Deus, eu vivi para ver isso! Theodoro Lancaster Junior, você vai
se casar! — Ele me abraça.
— Calma, Rodrigo, já falei que com a gente não vai rolar nada.
— Cara, você é irritante!
Rimos. A Amandha me olha, e dou uma piscadela. Essa mulher é meu
mundo. Estou totalmente perdido!
35 – Amandha
Se passou uma semana desde que fiquei noiva do Theodoro, mas o que
me preocupa, é que os enjoos que acreditei serem devidos às nozes que comi
não passam, e já era para terem passado. Estou com medo, muito medo, afinal,
já estou pensando em uma provável possibilidade, já que o Theodoro não usou
camisinha em algumas vezes, e eu meio que não estava tomando o
anticoncepcional corretamente devido à correria e ao nervosismo na editora.
No entanto, não pode ser isso, afinal enjoos não querem dizer gravidez!
Vou trabalhar, que é o melhor a fazer.
Começo a conferir os e-mails que recebi há algumas horas, pois os
demais já conferi. Meu celular toca, e é o Theodoro.
— Oi, Theo.
— Oi, amor, tudo bem?
— Estou, sim. — Continuo respondendo a um e-mail.
— Estou preocupado com você, já faz dias que está mal e é teimosa, não
aceita ir ao médico.
Rio.
— Não é nada, mas irei amanhã cedo, vou marcar consulta daqui a
pouco.
— Até que enfim! Depois me fala a hora, que vou com você.
— Falo, sim.
— Agora tenho uma reunião. Beijos, te amo.
— Também te amo. — Desligo.
Retorno ao meu serviço, mas quase não consigo concluir, pois as náuseas
retornam e tenho que ficar parando para ir ao banheiro para vomitar. Peço para
que uma das funcionárias vá comprar algum remédio para enjoos, pelo menos
para eu aguentar o serviço hoje. Quando o remédio chega, eu já o tomo, e torço
para que faça efeito imediato. O Theodoro me envia uma mensagem dizendo
para eu deixar o carro hoje aqui na editora porque ele vem me buscar para
irmos jantar juntos. Eu não tenho coragem de recusar, embora seja minha
vontade, porque não estou bem para comer nada.
O remédio ajuda um pouco, e assim consigo seguir trabalhando sem
fazer pausas. Confesso que essa sessão de vômitos está me assustando, e não é
pouco.
36 – Theodoro
Acabo de chegar à editora da Amandha e estou à espera de ela terminar
de desligar tudo e pegar algumas coisas às quais só agora ela se lembrou de que
vai ter que levar para casa. Estou sentado em cima da sua mesa a observando.
Quando cheguei, ela me garantiu que estava bem, mas não acredito, pois está
muito pálida.
— Sabia que as cadeiras servem para se sentar nelas? — ela me
questiona sorrindo enquanto coloca algumas coisas nas bolsas.
— Eu gosto do proibido. — Dou-lhe uma piscadela, e ela revira os olhos.
— Pronto, terminei. Vamos?
Concordo, levantando-me da mesa. Subitamente ela larga a bolsa e se
apoia na cadeira que está a minha frente. Aproximo-me rapidamente.
— Amandha, o que foi?
Ela está mais pálida ainda. Virando-se para mim, coloca as mãos em meu
peito.
— Eu estou bem, é só uma tontura... — De repente ela fica mole e
escorrega, mas a seguro a tempo. Ela está desmaiada!
— Amandha! Meu amor, fala comigo! O que houve? Amandha! — Dou
leves batidas em seu rosto. Aos poucos ela vai abrindo os olhos.
— O que houve? Minha cabeça está girando. Por que têm cinco de você?
Ai, que ânsia de vômito... — murmura.
— Chega, vou te levar agora para o hospital, mas que inferno, você disse
que estava bem!
Ajudo Amandha a se levantar e pego suas coisas. De hoje não passa, ela
vai ao médico nem que eu tenha que arrastá-la para dentro do hospital.

***

Chegamos ao hospital mais próximo. Preencho a ficha da Amandha


enquanto ela fica sentada ainda muito mal. Devido ao estado em que ela está, é
atendida com urgência. O médico não me deixa entrar na sala, o que me deixa
muito puto da vida. O pior de tudo é que até exame de sangue já foi feito, e está
um entre e sai de enfermeiros na sala que está me deixando louco.
Meu celular toca, e é o Rodrigo.
— E aí, cadê você e a Amandha?
Ele e a Judith iriam jantar conosco.
— Não vamos. A Amandha desmaiou, está muito mal, e estou com ela no
hospital.
— O quê? Onde? Vou aí agora, me passa o endereço correndo.
— Não, nem adianta, o filho da puta do médico não me deixou entrar na
sala. Está há um bom tempo com ela. Estou em estado de nervos, vocês aqui só
seriam mais pessoas nervosas. Assim que eu tiver notícias, te ligo e qualquer
coisa peço para que venham para cá.
— Fica calmo, não deve ser nada demais. Qualquer coisa, liga!
— Pode deixar. Tchau.
O médico abre a porta da sala, e rapidamente vou até ele.
— Quer entrar? — ele me pergunta sorrindo.
— Não, eu estou aqui esse tempo todo esperando por notícias porque
sou um idiota!
Ele me olha feio, mas pouco me importo. Entro na sala e corro até a
Amandha, que está sentada me olhando assustada.
— O que houve? — pergunto tentando não soar muito nervoso.
— Theo, é melhor você se sentar.
Sento-me ao seu lado, e o médico se senta atrás da mesa. Olho para os
dois, e meu coração já está quase parando.
— O que houve? Está me assustando.
— Sua namorada...
— Minha noiva! — interrompo o médico, corrigindo-o, e ele dá de
ombros.
— Sua noiva está gravida.
Acho que dessa vez foi eu que fiquei pálido.
— Ela está gravida? Como?
— Theodoro, não me deixe mais nervosa tendo que explicar como uma
mulher fica gravida!
Levanto-me da cadeira tremendo e esfrego o rosto.
— Grávida? Ela está grávida? Tem certeza, doutor?
— Absoluta! Os sintomas e o exame que eu pedi comprovam. Quer ver?
— Ele estica o exame para mim, que o pego.
Leio mesmo sem entender nada, a única coisa que entendo é o POSITIVO
escrito em letras maiúsculas e em negrito.
— Pelo visto foram pegos de surpresa total. Eu vou pegar uns papeis que
vocês precisam assinar, enquanto isso conversem. — O médico pede licença e se
retira da sala.
Fico olhando para a Amandha, que se levanta e caminha até mim, mas eu
me afasto dela.
— Theo, por favor, não faz isso — ela diz chorando. — Eu estou
apavorada, não me deixe ainda mais. — Ela tenta se aproximar novamente, mas
me afasto.
— Não, Amandha, não chega perto.
— Theo, não faz isso comigo, eu te imploro.
— Chega, não se aproxima, é sério.
— Por que está fazendo isso? A culpa não foi apenas minha, caramba.
Para de me rejeitar agora. — Ela se aproxima, e a empurro para o lado.
— Fica longe, eu vou... — Não resisto e vomito no chão.
— THEODORO! — Ela se aproxima, mas virando o rosto para não ver.
Só falto colocar as tripas para fora.
— Você está melhor? — ela pergunta.
— Acho que sim. — Sento-me na cadeira. — Eu não estava te rejeitando,
apenas estava tentando controlar meus nervos e não vomitar em você.
— Você vomita quando fica nervoso?
— Acho que sim — digo olhando para a nojeira no chão.
— O que vamos fazer? Eu não sei cuidar de criança, nunca cuidei de uma,
e me inspirar nos meus pais não vai ser bom, porque eles nunca foram bons
pais para mim, apenas me humilhavam como todos os outros devido ao meu
peso, eles tinham vergonha de mim. E se eu fizer esse bebê passar vergonha? E
agora? Eu não sei o que fazer. Ai, estou tonta! — Ela se senta na cadeira ao meu
lado, e sorrio.
— Pelo menos não sou o único pirado aqui, tirando que vomitei, e você
não. — Ela sorri. Desço da cadeira, agachando-me à sua frente e segurando suas
mãos. — Toda vez que me falavam para ter filhos, eu sempre disse que não
queria essa responsabilidade porque nunca me via sendo pai. Imagine eu, o cara
que é pior que criança, sendo pai? — Ela sorri novamente — Mas agora, que eu
estou com você, eu não poderia querer coisa melhor do que construir uma
família com você. Eu também não sei ser pai, mas as crianças me adoram, vai
entender essa situação. Mas de uma coisa eu sei, você será uma mãe excelente e
vai dar muito amor ao nosso bebê, e eu serei o pai mais louco do mundo, um
que vai amar tanto essa criança que chegará a ser sufocante. Eu te amo, e vamos
juntos aprender a ser pais. Vamos errar, mas vamos aprender muito e sermos
muito felizes.
Ela começa a chorar e se inclina para me abraçar.
— Eu te amo, seu insuportável convencido! Obrigada por me confortar e
estar sempre comigo.
— Que bom que eu te confortei, porque eu ainda estou apavorado.
Ela ri. A porta se abre, e me levanto. O médico fita o chão e olha para a
Amandha.
— Passa bem? Se quiser, fazemos mais exames.
— Não será necessário, porque foi eu que vomitei. — O médico franze o
cenho. — Fiquei nervoso, “tá legal”? — Ele e a Amandha riem. — Acabou o show,
doutor, porque eu quero levá-la embora.
Ele entrega os papeis rindo, e a Amandha os assina.
Eu vou ser um bom pai, claro que vou. Com toda certeza o melhor pai do
mundo. Serei um pai divertido, amoroso, legal e também rígido quando for
preciso... Certo, não sei se serei esse pai, mas que eu serei um pai gato, isso, sim,
eu serei.
37 – Amandha
Meses depois

— Theodoro, eu não vou me casar enquanto estiver grávida, entenda,


homem!
— O que tem de mais nisso? Eu particularmente acho lindo noivas
grávidas.
— Que bom, mas eu não vou ficar parecendo um bolo ambulante!
Ele ri, e isso me deixa mais nervosa ainda.
— Meu amor, bolo é gostoso! — Atiro meu sapato, que está no chão, nele.
— Que agressiva! Seria lindo no futuro contar a nossa princesa Rebecca que
você se casou quando ela estava prestes a nascer.
— Esquece essa ideia, já disse que não milhões de vezes.
Ele revira os olhos e começa a fazer massagem no meu pé.
— Já que não quer casar enquanto nossa filha não nascer, que tal já
começarmos a ver um apartamento maior? E podemos manter esses nossos, sei
lá...
— Pode ser, isso eu aprovo... — Ele sorri, mas disfarça. — Theodoro,
onde fica o apartamento que você comprou?!
— Eu não comprei nada...
— Theodoro, eu te conheço muito bem!
— OK, no mesmo prédio que o meu. Eu comprei a cobertura.
Arregalo os olhos.
— Você comprou a cobertura? Você é louco? Para que um apartamento
tão grande?
— Agora sei por que você tem dinheiro, é mão de v...
— Nem pense em terminar de dizer. — Ele ri, e acabo rindo também. —
Você está ficando paranoico em relação a nós dois e nossa filha.
— Claro que não!
— Theodoro, você mandou fazer as roupas para o bebê com um estilista
famoso, deu o nome da nossa filha a um desfile de lançamentos da agência,
tatuou o nome dela no ombro, pagou uma fortuna para a Tiffany só para ter
uma correntinha exclusiva para ela e agora comprou uma cobertura que eu
tenho certeza que foi por ela.
— Não tenho culpa se sou um pai que gosta de dar presentes.
— Se ela for mimada e sair por aí como a filha esnobe da empresária
Amandha Acker e do empresário e modelo Theodoro Lancaster Junior, saiba
que a culpa será exclusivamente sua!
— Por ela eu assumo essa culpa.
Reviro os olhos. Ajeito-me no sofá, pois começo a ficar desconfortável.
— Já decidiu quem você vai colocar como padrinho dela? A Judith já está
na lista, mas você tem que escolher entre o Eduardo e o Rodrigo.
— Por que eu tinha que ficar com essa bomba?
Rio
— Pare de reclamar.
— Já sei, todos podem ser padrinhos por consideração, porém sem fazer
batizado e essas coisas, assim ninguém discute.
— Você quem sabe. A única coisa que eu sei, é que neste momento estou
morta de fome.
— Que novidade! — diz com ironia.
— HA HA HA!
Floquinha e Janete correm pelo meu apartamento brincando uma com a
outra.
— Sabia que você está linda? — Ele sobe com cuidado em cima de mim.
— Theo, não me atiça, sabe que não podemos...
Ele me beija de leve nos lábios.
— Na verdade podemos, é só sermos cuidadosos e calmos.
Sorrio.
— Você calmo? Cara, estou grávida de você, isso com toda certeza prova
que você não sabe ser calmo.
Ele sorri e beija meu pescoço.
— Na verdade, isso não prova nada.
Ele torna a me beijar, mas desta vez com muita intensidade.
Epílogo- Theodoro
Anos depois

Eu não poderia ter escolhido melhor mulher para mim. Ter a Amandha
como minha esposa é a melhor coisa da minha vida, e ainda ter uma filha com
ela é, sem dúvidas, uma grande alegria.
Estamos no Central Park, e a Rebecca está brincando com suas bonecas
na grama. A Amandha em breve vai chegar, pois saiu junto com a Judith para
resolverem as coisas do casamento. Sim, Judith e Rodrigo vão se casar.
— Papai! — Rebecca vem correndo até mim.
— O que houve, princesa?
Ela lembra muito a Amandha em cada detalhe, mas é brincalhona como
eu.
— A gente pode ir comprar sorvete?
— Claro, mas vamos esperar o tio Rodrigo e a tia Judith chegarem junto
com a mamãe, aí vamos todos, pode ser?
— Pode, sim. — Ela sorri e volta a brincar.
Minha filha é meu mundo. Eu largo e enfrento tudo por ela.
Recebo uma mensagem da Amandha avisando que chegou. Explico onde
estou, e ela diz que está perto e logo chega.
— Oi, está sozinho? — Uma loira por sinal muito bonita se senta ao meu
lado.
— Na verdade, não estou sozinho, estou esperando...
— Não se preocupe, te faço companhia até a pessoa chegar — ela me
interrompe.
Olho para a Rebecca, que, quando olha para o meu lado e vê a loira, olha
feio para a mulher, e me controlo para não rir.
— Então, você é solteiro?
Olho para ela para responder. No entanto, Rebecca corre até mim e se
joga no meu colo.
— Quem é você? — ela pergunta bem séria para a loira.
— Oi, lindinha. Eu estava conversando com seu irmão.
Rio.
— Ele é meu papai! — Rebecca diz com raiva.
— Sério?! — a loira pergunta.
Sinto um beijo na bochecha vindo de alguém por trás de mim e sei muito
bem quem é.
— Oi, meu amor! — A Amandha para à minha frente agora, olha bem
sério para a loira e me beija.
— Oi, amor — cumprimento, controlando-me para não rir.
— Ai, com licença. — A loira sai, e começo a rir.
— O que foi? Do que está rindo? Eu fico algumas horas longe, e essas
loucas surgem dando em cima de você, mesmo você tendo uma criança no colo
e uma aliança dourada no dedo!
— Estou rindo das duas ciumentas que eu tenho na minha vida. — Beijo
o rosto da Rebecca, que ri.
— Por que duas ciumentas? — Amandha se senta ao meu lado, sorrindo.
— Porque eu vim aqui para a mulher ir embora. O papai é só meu,
mamãe, de mais ninguém!
Rimos dela, que fica tão brava que até se torna vermelha.
— Nem comigo você “divide ele”, amor? — a Amandha pergunta.
— Um pouquinho só, mamãe. O papai é muito mais meu! — Ela me
abraça, e dou vários beijos nela.
— Acho que você tem uma fã número um! — comenta a Amandha rindo.
— Na verdade, tenho cinco. — Ela franze o cenho sem entender. —
Janete, você, eu mesmo, Rebecca e Ana Clara.
— Convencido! A Aninha e a Rebecca, eu até acredito, mas Janete não
fala, e eu não sou sua fã número um.
— É difícil confessar que é minha fã, eu sei, amor. — Ela revira os olhos.
— Mas mudando de assunto, cadê a Judith e o Rodrigo?
A Rebecca desce do meu colo e volta a brincar.
— Judith está uma pilha de nervos porque o vestido não quer mais
entrar, já que está comendo que nem louca pelo nervosismo, e o Rodrigo está
acalmando-a.
— Mulheres! — Sorrio. — Vamos, a Rebecca quer tomar sorvete.
— Nem pensar, essa noite ela teve febre e está rouca.
— OK, senhora chatanilda. Vamos levá-la para comer em outro lugar que
possa fazer ela esquecer o sorvete.
Ela concorda.
— Rebecca, pega suas bonecas, filha, vamos.
— Eba, sorvete, e não quero outra coisa!
Olho para a Amandha rindo, e ela me belisca.
— Resolvemos isso depois, princesa — digo a ela.
Ela corre até a mim e se joga no meu colo com a bonecas. Jogo-me para
trás, deitando na grama e puxando a Amandha conosco. Todos nós rimos.
— Querem saber de uma coisa? Eu amo demais vocês duas!
A Rebecca aperta minha bochecha.
— E nós amamos você, meu amor — a Amandha diz me dando um beijo
casto nos lábios.
É, eu definitivamente fiz uma linda família. Porra, até meus
espermatozoides são lindos, olha só o resultado, minha filha é linda. É claro que
eu, gato como sou, só poderia me casar com outra mulher mais gata ainda.
Parem de sentir inveja, princesas que estão lendo, pois essa noite
visitarei o sonho de todas, mas é um segredinho apenas nosso.
MENSAGEM AOS LEITORES

Nunca mudem por ninguém, eu imploro!


Vimos que a Amandha e a Judith, mesmo sendo gordinhas, conseguiram
encontrar a felicidade e os seus príncipes.
Não importa se vocês são magras, gordas, brancas, negras, têm cabelo
liso, cacheado, curto, longo, se são morenas, loiras, ruivas, ou qual seja a sua
religião ou preferência sexual, pois a única coisa que importa é serem felizes
consigo mesmas.
Não se aborreçam com comentários maldosos; eles machucam, eu sei,
mas se vocês lhes derem atenção, nunca conseguirão ser felizes. Ignorem os que
as tratam mal, porque ser ignorado doí e é o melhor remédio contra os
maldosos.
Eu quero que vocês sejam felizes sem se importarem com a porcaria do
padrão de beleza, que é algo totalmente sem nexo. Se querem engordar, ou
emagrecer, façam porque seus médicos disseram que é devido à sua saúde, ou
porque vocês não estão felizes assim, mas jamais por padrão de beleza. Não
deixem de usar short, biquíni ou um vestido por vergonha dos seus corpos,
porque isso significa que vocês se autojulgam.
Padrões de beleza não são tudo na vida, e quando morremos, nada disso
terá valido a pena, pois restarão apenas ossos, ou cinzas, e teremos perdido boa
parte da nossa vida tentando evitar celulite, estrias, pneuzinhos, enquanto
deveríamos estar nos amando e curtindo mais a vida.

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