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Copyright © 2022 Deby Incour

Capa, Projeto Gráfico e Diagramação Digital: Deby Incour


Revisão e Preparação de texto: S.F. Revisão
Imagens de capa: Adobe Stock
Artes da diagramação: Canva Pro
Ilustração da capa: Luciana Souza

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá


ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios
eletrônicos ou mecânico sem a permissão por escrito da autora
e/ou editor.

(Lei 9.610 de 19/02/1998.)

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

1ª EDIÇÃO - 2022
Formato Digital – Brasil
ALERTAS DE GATILHOS
NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
EPÍLOGO
NOTAS FINAIS
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
ESCUTE A PLAYLIST DO LIVRO NO SPOTIFY
Essa é uma leitura com gatilhos como: suicídio, linguagem
obscena, sexo explícito, depressão, ansiedade, pânico, assédios,
machismo e luto. Se qualquer uma dessas coisas lhe causam
gatilhos, por favor, priorize sua saúde mental e não leia este livro.
SECONDS passou por leitura sensível em cenas específicas,
para responsabilidade em determinados assuntos abordados na
história. Nenhum dos temas são mostrados explicitamente,
entretanto, mesmo que falados, precisam ser responsáveis.
Nenhuma romantização deve ser feita e toda ajuda psicológica
e, se necessário, judicial, deve ser buscada quando depressão,
ansiedade, assédios, machismo, aconteça a você em qualquer
ambiente que seja, e tudo que lhe atinge de modo que te machuque
mental e fisicamente, existirem.
Esse livro é de jovens adultos, vivendo seus sonhos,
crescendo em suas carreiras, ou construindo-as. No decorrer de
nossas vidas, até nosso último suspiro, fazemos muitas merdas,
então não esperem que os personagens desse livro sejam perfeitos,
corretos e santos. Se espera encontrar por isso, pare por aqui
mesmo, pois vai se decepcionar.
O esporte apresentado nesse livro como World Golden Jump,
é inspirado no NBA, por conta disso, você poderá encontrar termos,
lugares, regras, e outras semelhanças entre ambos. A Golden é
UMA INSPIRAÇÃO NO NBA, não é ele, então não esperem que
tudo seja regrado da mesma forma. Em respeito a competição de
basquete, ele é usado como inspiração e não é citado dentro da
história, onde o universo é totalmente fictício. Aqui é a minha
história, onde a liberdade de ficção me permite criar, inventar tudo
do modo que eu imaginar. Tudo aqui vem do universo maluco
chamado minha mente, e é nesse universo que convido vocês a
entrarem.

Seconds é um romance onde mistura comédia com


pitadas de drama, sendo totalmente voltado para maiores de
dezoito anos de idade.
TITULARES DO TIME:

Tyron – Camisa 14 (Armador – Capitão)


Killian – Camisa 9 (Armador)
Tanner – Camisa 5 (Ala)
Zion – Camisa 19 (Ala)
Alfred – Camisa 29 (Pivô)

OUTROS MEMBROS DO TIME:

Drake Grant – Dono


Jimmy Cornell – Gerente Geral
Malcolm Bell – Treinador
Ashton Walsh – Personal
“Obstáculos não podem te parar. Se você topar com uma parede,
não vire e desista. Descubra como escalá-la, passe por ela, trabalhe
nisso.”
— Michael Jordan
Para você que escolheu essa história: Ei, algo de bom pode
estar a um segundo de distância, se permita viver as coisas boas
que a vida lhe oferecer. Coisas ruins não duram para sempre, a vida
é feita de equilíbrios, lembre-se disso.
M E S E S A N T E S...

As pessoas estão olhando para a mulher à nossa frente, de


cabelo impecável, roupas ainda mais e um olhar de poder. Jennifer
Mitchell, uma das maiores jornalistas esportivas do país, e a dona
do jornal onde trabalho desde que me formei em Comunicação na
Universidade de Stanford, aqui na Califórnia.
Meu coração parece uma bateria. Bate alto, forte, e não é
para menos. Foram meses me dedicando ao máximo para entregar
tudo de mim, e ter essa chance, só que agora estou apavorada, com
medo.
— Se continuar prendendo o ar assim, ficará roxa! Se
acalme, Kris! — Vicky, uma das minhas melhores amigas e colunista
do jornal, para ao meu lado e entrelaça o braço ao meu.
— Não tem como. Todos nós temos a chance de conseguir
essa oportunidade, são centenas de pessoas trabalhando nesse
jornal. Estou ansiosa.
Ela ri baixinho e olho para a garota de cabelos pretos, um
pouco mais alta que eu, que ergue a sobrancelha em ironia.
— Você vai ganhar essa chance. A matéria que fez sobre o
baseball foi a melhor. Nenhuma chegou perto da sua, inclusive a
minha, que foi um lixo, preciso admitir, mas também, logo futebol?
Eu nem gosto de futebol americano!
Balanço a cabeça, pois Vicky não tem jeito. Na verdade, ela
odeia qualquer esporte, pois significa se movimentar, exercitar. Não
sei como ainda trabalha em um jornal que fala somente disso.
— Bom, não vou enrolar muito. Reuni vocês aqui para
finalmente dizer quem será o jornalista que vai cobrir a temporada
da World Golden Jump desse ano, tendo exclusividade em tudo.
Antes de revelar, quero que fique claro que não foi um trabalho fácil,
muitos foram ótimos, já outros... — Olha na direção da Vicky, que ri.
— Enfim, meus parabéns, pessoal. E vamos a revelação! — Ela
aperta a pasta e meu coração acelera ainda mais. — Kristal Reed,
meus parabéns, garota. Você vai cobrir de perto os bastidores, mas
recebemos uma pequena mudança de última hora, que depois irei
conversar com vocês.
Arregalo os olhos, enquanto sou chacoalhada e apertada por
Vicky e por outros colegas que começam a me rodear,
cumprimentando, não todos, afinal, nem todo mundo ficou feliz, e
existe um motivo, e é exatamente por esse motivo que estou
tentando ao máximo fazer meu nome longe da fama que meu irmão
tem feito e do que minha família construiu.
— Sua vaca! Eu disse que conseguiria! A próxima vez que
duvidar de si mesmo, eu vou socar sua cara! — Vicky berra e
começo a rir.
— Obrigada, gente! — Me afasto dela e olho para a minha
chefe. — E obrigada por essa oportunidade, prometo não a
decepcionar.
— Assim espero, Kristal. Mas acredito no seu potencial! —
Jennifer diz e concordo emotiva. — Agora vamos ao trabalho,
pessoal, temos muita coisa para fazer. Reunião na sala 2 em dez
minutos, quero todos os editores e designers nessa reunião! —
avisa conforme vai passando por todos carregando a pasta. —
Kristal, me acompanhe!
— Claro! — falo e olho para a minha amiga, que pisca para
mim e sussurra um “vai, gostosa”.
Sigo-a em direção a sua sala, sem deixar de notar alguns
sussurros de outros, que não estão muito felizes com a novidade:
“Não sei por que pensaram que seria diferente, sendo filha e
irmã de quem é... Privilégios!”
Respiro fundo e finjo não ter ouvido, já que tenho lidado com
isso desde que entrei na Sport Universe há um ano. Demorei um
pouco para decidir em que curso iria me formar, até entender que
me comunicar, transmitir informações para as pessoas sempre foi
minha grande paixão, e quando me formei no ano retrasado, passei
alguns meses procurando um lugar onde pudesse trabalhar, e enviei
muitos e-mails, obtive respostas de todos, mas nenhum me queria
pelo meu ótimo currículo acadêmico, mas sim pelo meu sobrenome.
Então, quando mandei um e-mail para cá, foi diferente, nunca me
trataram diferente das outras pessoas, passei por testes, comecei
em uma coluna simples como muitos, falando sobre os resultados
dos esportes semanais, até essa oportunidade surgir, onde todos
tiveram a chance. Um ano depois, eu recebi uma chance para sair
da coluna onde estou, assim como qualquer outro aqui que entrou
agora ou antes de mim. Isso não foi um privilégio, e eles sabem
disso, mas parece que me atacar pelas costas é muito melhor.
Entro na sala de porta de vidro, e Jennifer indica a cadeira à
frente da sua mesa preta. Sento-me e ela se ajeita atrás da mesa,
estendendo a pasta na minha direção.
— Essa é uma oportunidade única. A matéria que fez sobre o
baseball foi a melhor que li aqui. Outros fizeram grandes feitos, mas
a riqueza de detalhes, a profundidade com que abordou o tema, foi
incrível. — Sorrio e ela retribui. — Porém, eu realmente quero saber
se está pronta para isso que vai viver daqui a alguns meses, assim
que a temporada de basquete iniciar!
Franzo o cenho.
— Como assim? Claro que estou. Jennifer, isso será perfeito!
— Sorrio animada.
— Você vai cobrir os bastidores de um único time, essa foi a
exigência da Golden Jump, para que um jornalista vivesse nos
bastidores, afinal, tem muitos outros jornais que querem cobrir, ter
exclusivas, existe um alto preço, e o dinheiro manda em muita coisa,
quanto mais, melhor para eles. E claro que não iria privar tudo
exclusivamente a nós, mesmo sendo um dos maiores jornais de
esporte dos Estados Unidos.
— Entendo perfeitamente, mas acho que ainda não
compreendi seu ponto...
— Simples! — Cruza as mãos sobre a mesa. — Você é irmã
de um dos melhores jogadores dos Tigers, os corredores aqui
dentro e as pessoas lá fora começarão a falar, a apontar os dedos,
porque nunca vão aceitar que uma jovem de apenas vinte e cinco
anos, basicamente recém-formada, tenha tido essa grande chance.
E é isso que preciso saber: Seu lado profissional é mais forte que o
emocional? Isso aqui — bate na pasta com os dedos em unhas
pintada de vermelho — envolve muito dinheiro. É uma oportunidade
anual que envolve muita burocracia, e que não pode ser feita de
qualquer jeito ou abandonada no meio do caminho. Uma falha, e o
processo e a multa serão imensos. Isso aqui envolve a maior
temporada de basquete do país, com o lugar onde todos que
praticam esse esporte querem estar. Isso para o país, e você sabe
disso. Então, está preparada para enfrentar isso, e não se deixar ser
intimidada?
Meu corpo se arrepia e engulo em seco. Eu não estudei
como uma louca para ter medo disso aqui.
— Sim. Estou! — respondo com firmeza.
Ela sorri e me entrega uma caneta, abrindo a pasta.
— Perfeito. Então assine esse contrato, e boa sorte. É uma
boa garota, Kristal, e sei que dará seu melhor.
Assino o contrato mais importante da minha vida.
— E qual time irei cobrir?
— Eles vão nos dizer próximo aos jogos, e informar alguns
limites que teremos que ter, e você será informada.
— Posso pedir um favor? — indago e ela assente pegando a
pasta e me olhando. — Se me colocarem nos bastidores dos Tigers,
recuse. Qualquer um, menos onde meu irmão joga. Será melhor.
Aceito qualquer time, mas o dele não. Primeiro, sou fã; segundo,
nunca levariam a sério nada do que eu falasse ou mostrasse às
pessoas. Eu quero fazer isso direito, e sem privilégios.
— Tudo bem. Verei o que posso fazer quanto a isso.
— Obrigada, Jennifer. — Levanto-me.
— Faça acontecer, Kristal Reed. Conto com você!
Assinto e saio de sua sala, soltando fortemente o ar e
sorrindo, enquanto caminho em direção a minha mesa, em que
Vicky está sentada com um saco de batatas em mãos.
— Ainda vai se matar! — Aponto para o pacote laminado e
ela ri.
— Batata é bom para a saúde!
— Não essa batata. Desde quando snacks são bons para a
saúde? — Ergo a sobrancelha e puxo o pacote da sua mão
colocando na mesa.
— Sem graça! Me diga, como foi? Vem aumento? Amiga,
precisamos de um aumento e, como não terei, conto com você! O
Stanford Shopping Center nunca mais nos viu! Ele parece tão triste
com isso. Simon Mall precisa do nosso dinheiro, sinto que irá falir
sem nós... — dramatiza e começo a rir.
— Jesus Cristo... Primeiro, que Simon Mall é a maior
proprietária de shoppings do país, não será o nosso dinheiro que
fará falta. Segundo... Ok, precisamos mesmo comemorar. Depois
que sairmos daqui, vamos gastar e, dessa vez, eu dirijo. Sempre
que inventamos de sair juntas e você dirige, ganha uma multa!
— Em minha defesa... Esquece, não tenho mais argumentos!
Agora vamos para essa reunião, porque até me animei em
trabalhar! E depois me conte tudo o que a chefe disse.
Concordo e ela se levanta da minha cadeira, conforme
seguimos para a sala de reuniões.
Sempre amei a temporada de basquete, mas dessa vez
estou muito mais ansiosa!
D I A S A T U A I S...

O sol está uma delícia. Palo Alto é um lugar que amo. Desde
que nos mudamos para cá quando entrei para o ensino médio,
nunca me senti mais em casa. O condado de Santa Clara me traz
paz, diferente de toda a agitação de Manhattan, onde vivia com
minha família e onde nasci.
Hoje é domingo, e chamei a Vicky e a Cherry para passarem
o dia comigo em casa, tomar banho de piscina, comer, relaxar, antes
que esses momentos se tornem bem raros, já que em poucos dias
irei acompanhar os Red Fire para baixo e para cima, cobrindo cada
coisa que oferecerem.
Vicky está sentada na beira da piscina, e Cherry se
besuntando de protetor. Cherry é a mais nova entre nós, vai
completar vinte e um anos em breve, e é prima da Vicky. Ambas são
minhas vizinhas e foi assim que nos conhecemos, e o destino é tão
maluco, que Vicky conseguiu emprego junto comigo, e isso só nos
conectou mais ainda. Já sua prima, nossa mascotezinha, veio do
Canadá para cá, onde vivia com os pais e avós materno, antes de,
infelizmente, seus pais sofrerem um acidente de carro quando ela
tinha quinze anos, e ser a única sobrevivente. Seus tios, os pais da
Vicky, trouxeram ela para cá, e cuidam dela como filha, é bonito de
se ver.
Fizemos nosso trio desde que nos conhecemos e não nos
separamos mais. Sempre uma cuidando da outra, e nós duas
cuidando da Cherry, que é bem diferente de nós, com seu jeito
tímido, quieto, mais certinho.
— Ai, vou sentir falta desses momentos. É uma boa
oportunidade, estou animada, mas é foda... — falo ajeitando-me na
espreguiçadeira.
— Estarei de férias da universidade no mês que vem, antes
das aulas voltarem, onde estiver posso dar um jeito de ir te ver! —
Cherry fala, com seu jeito doce e morro de amores.
— Nossa mascotezinha tem razão. Eu não estarei de férias
do trabalho, mas posso atormentar a Jennifer e falar que irei cobrir
alguma coisa na cidade onde estiver, afinal, minha coluna é sobre o
que os atletas estão fazendo e como costumam passar o tempo
livre, desculpa perfeita para ir te ver.
— Vocês são incríveis, sério! — Sorrio.
Elas sorriem, e respiro fundo preocupada apenas com uma
coisa.
Meu irmão passa pelas portas duplas, e vem sorrindo, todo
bobo como sempre é. 1,98m de altura, olhos conquistadores, e um
cretino nas horas vagas, mesmo sendo boa pessoa. Oliver é o ala
dos Tigers e um conquistador barato. Um irmão carinhoso, mas
irritante quando quer, afinal, o loiro sabe que é bonito e que essa
carinha safada consegue o que quer.
— Meninas... — cumprimenta e se senta aos pés da
espreguiçadeira da Cherry. — Última reunião das fofoqueiras?
Kristal não terá mais vida. Vai ver tudo que o irmão dela sofre
durante a temporada. Ela pensa que é apenas curtição e farra.
— Ela não mentiu, Oliver! Você e seus colegas adoram isso.
Toda semana estão estampados nas notícias e iludindo jovens
desavisadas — Vicky fala e começo a rir.
— Bem-feito, poderia ter ficado sem essa! — Pisco para ele,
que finge estar ofendido.
Cherry deixa o protetor de lado e noto suas bochechas
coradinhas. Sempre fica assim quando o meu irmão está por perto.
Quero me recusar a acreditar que logo ela, a mais inteligente de nós
três caiu no papo furado do Oliver, mas o garoto não ajuda, vive de
charme para cima dela e da Vicky, porém a morena não é fácil, ela
realmente apavora os homens. Já a loira tímida... É complicado.
— Certo, sem defesa quanto a isso. Mas é realmente puxado.
— Ela tem que se preocupar com outra coisa... — Cherry fala
e olhamos para ela. — Tyron Sparks, dos Red Fire... Não faça essa
cara, Kris... Você odeia o melhor amigo do seu irmão.
— A Cerejinha tem razão — Oliver a provoca com o apelido
relacionado ao seu nome que ele deu. — Vocês sempre se odiaram.
Crescemos juntos, e nem isso ajudou nessa rixa dos dois!
Reviro os olhos.
— Gente, somos adultos. Eu sei me portar muito bem! —
tento me defender das acusações.
— Gata, vocês se viram há algumas semanas, e quase se
mataram! — Vicky lembra.
Certo, Tyron e eu nunca nos demos bem. Éramos vizinhos
em Nova York, e meu irmão e ele nunca se desgrudaram, ainda
mais que o amor ao esporte os unia sem parar, até cada um seguir
seu time onde foram convocados: meu irmão, para a Califórnia; e
Tyron, onde nasceu e vive até hoje. Times rivais, mas a rivalidade
morre entre os dois, porque nunca existiu, sempre se respeitaram
muito, é uma linda amizade, nunca poderia dizer diferente.
Nós dois sempre implicávamos um com o outro, ele me tirava
do sério com as provocações e me dava apelidos idiotas que até
hoje odeio, sendo um deles “princesinha”, que é exatamente como a
maldita imprensa suja me chama. Eu realmente achei que anos sem
o ver pessoalmente, sendo adultos agora, seria diferente, mas
bastou sermos divergentes em nossas opiniões para o clima
esquentar do pior jeito.
Meus pais adoram o Tyron, são amigos dos pais dele
também, e meu irmão fica dividido, já que até evitar falar do melhor
amigo perto de mim teve que fazer por um tempo.
Não sei quando a minha rivalidade com Tyron Sparks
começou, e o porquê de sempre sermos assim, mas sei que nunca
terminou. E agora terei que cobrir os bastidores do time dele, onde é
armador e um dos mais respeitados do seu time, mesmo com tantas
polêmicas recentes. Ele é um jogador imbatível, faz jogadas
admiráveis, tem uma concentração em quadra que vi em poucos
jogadores, mas o meu problema é quando ele abre a boca para ser
um babaca, é aí que tenho vontade de acertar sua cabeça com uma
bola de basquete ou uma marreta.
— OK... Confesso que isso está me preocupando também.
Mas a Jennifer disse que apenas os Tigers e os Red Fire aceitaram
alguém de fora nos bastidores, e, ainda por cima, sendo jornalista.
Os Tigers eu alertei que não queria... Restou os Red.
Meu irmão franze o cenho e seus olhos azuis me encaram
firmes.
— Por que não quis estar nos Tigers? — Oliver questiona.
Sento-me direito, com os olhares dos três sobre mim agora.
— Para não ter que trocar suas fraldas sempre — provoco
um pouquinho, e ele sorri. Minhas amigas sabem o motivo, mas não
quero que o Oliver se culpe por isso, então prefiro me calar sobre
algumas coisas, não apenas com ele, mas com meus pais também.
— E nossos pais? — indago mudando de assunto.
— Estão cuidando do jantar que querem fazer para a sua
despedida. Eu não me lembro de ter ganhado isso! — Ergue a
sobrancelha.
— Claro, você ganhou os Tigers junto com uma multa por
excesso de velocidade!
— Que ótimo. O Oliver ganha um time e eu ganho xingos dos
meus pais! Eu deveria ser melhor tratada na minha família. Sou um
bom exemplo — Vicky se defende e sua prima e eu rimos.
— O senhor e a senhora Foster merecem um prêmio por
aguentar você. Vicky, você é o diablo! — Oliver diz e ela mostra o
dedo do meio a ele, que ri. — Tão educada! — ironiza.
Desde que ambas entraram na minha vida, meu irmão
sempre as tratou como parte da nossa família, assim como nossos
pais, e não posso dizer o contrário dos dela. Nossas famílias se dão
muito bem e isso só nos uniu mais ainda. Seus pais são donos de
uma empresa que fabrica os melhores equipamentos de academia e
esportes do país. Os produtos da marca Foster são incríveis, e eles
querem muito a chance de conseguir patrocinar a Golden, mas
parece ser uma tarefa bem difícil.
Já meus pais cada um segue uma função diferente, até
porque se amam, mas se matariam se trabalhassem juntos como o
senhor e a senhora Foster. Mamãe é dona de uma rede de clínica
de estética na Califórnia e em Nova York, e papai é dono de uma
rede de hotéis na Califórnia, Nova York e no Tennessee. A Reed
Beauty e a Reed's Hotels são um enorme sucesso no país, e tenho
muito orgulho de tudo que eles conquistaram, mesmo que isso seja
só mais um ponto que me afeta desde sempre e me faz sair nas
notícias da pior maneira, como a escorada da família, a que pega
fama na carona de todos. É como se eu estivesse apagada,
lembrada apenas por apelidos, ou como a irmã do astro do
basquete, ou a filha dos grandes empresários, e nada mais.
— Certo, vim aqui para avisar que chamei os caras para vir
aqui em casa amanhã, curtir um pouco antes da temporada e longe
dos holofotes. Estão convidadas.
— Eu moro aqui. Não teria como não me convidar — aviso.
— Eu sou como da família e minha casa é aqui do lado, dá
até para vir pelos fundos dela, esqueceu? Bem ali, tapado. — Vicky
aponta para a esquerda, onde apenas um muro de arbustos separa
nossas casas e que existe um buraco, feito por ela, onde ela passa
por ele para não ter que dar a volta e vir pelo portão. — Eu viria
mesmo que não me convidasse, gato.
— O que eu quero dizer, suas intrometidas, é que vocês
estão convidadas, e quando me refiro a isso, quero dizer que sem o
lado profissional. Se eu pegar as duas entrevistando de um modo
indireto meus colegas, mato vocês! — avisa sério.
— Quando fizemos isso? — indago.
— Não se faça de sonsa, Kris! A última vez basicamente
transformaram em uma coletiva de imprensa.
— Precisamos de matéria, estávamos atrasadas no trabalho!
— minha amiga nos defende.
Ele balança a cabeça negativamente com a resposta da
Vicky e sorrio.
— E você, não respondeu se vem, Cherry. Você é a única
que controla a língua dessas duas! — só falta se ajoelhar
implorando para ela vir e livrar o rabo dele de passar vexame. Poxa,
foram só umas dez perguntinhas da outra vez e eles responderam
porque queriam, não obrigamos.
— Sinto muito, mas terá que se virar com elas. Provas finais,
preciso estudar e amanhã passarei o dia jogada nos livros depois da
universidade. Boa sorte com elas! — Ela sorri.
— Estou fodido! — Se levanta e rio do desespero do gigante.
— Relaxa, vamos nos comportar, desde que eles se
comportem. Não é porque torço para o time, que defendo as
babaquices deles. O primeiro que der em cima de mim de novo, eu
afogo nessa piscina, Oliver! — aviso.
— Nossa, as cantadas deles então... péssimas. Oliver, como
tem garotas que ainda caem na de vocês?
— Temos nosso charme, Vicky. — Ele sorri todo cafajeste.
— Nojento! — Vicky fala e ele a empurra na piscina. — Seu
idiota! Oliver, você... inferno! Não posso nem xingar, pois seus pais
pensam que sou santa!
— Ninguém pensa, Vicky... — falo e ela me olha nervosa e
dou de ombros.
— Se comportem, crianças! — Oliver se afasta e noto o olhar
de Cherry, antes de desviar rapidamente e nos olhar.
Minha bebezinha... Se a Vicky sonhar com isso, afasta os
dois, e com razão. Oliver é um bom irmão, amigo, filho, atleta, mas
não presta. E eu no lugar da Vicky, sabendo tudo que a prima
passou e passa, a protegeria também, pois já faço do modo que
posso; se estivesse na posição da Vicky, seria mais protetora ainda.
Mas o pior, que realmente sei que ele tem carinho por ela, e cuida
bem dela, mas jamais seria quem ela precisaria, porque nunca se
prende a uma mulher só.
— Vamos dar um mergulho? — indago a Cherry, que nega.
— Por que não? — questiono já imaginando o motivo. — Vem de
short mesmo, se isso te faz se sentir mais confortável.
— Cherry, você tem um corpo lindo, não precisa ficar
escondendo, prima. Além disso, está com a parte de cima do
biquíni, qual a diferença de tirar o short? Estamos só nós aqui, e
mesmo que fosse o contrário, não tem que se envergonhar.
Seu rosto esquenta. Cherry é muito tímida, tem problemas de
autoconfiança e autoestima, e, segundo a Vicky, isso só piorou
depois que ela perdeu os pais. Ela se fechou em muitas coisas. Não
tem amigos além de nós duas e o Oliver. Não vai para as festas da
universidade, e nem mesmo nos diz o porquê. Ela tem seu
mundinho particular. Faz terapia, e, às vezes, parece que fica
melhor, mas são altos e baixos.
Coloco meu short e Vicky sorri com carinho para mim.
— Ficarei de short também. Vamos entrar na água? —
indago estendendo a mão para a pequena, literalmente, a menor de
nós duas.
Ela sorri sem jeito e segura minha mão, e então corremos
para a piscina e pulamos juntas. Sempre assim, uma cuidando da
outra nesse trio.
— Amo tanto essas duas loiras perfeitas! — Vicky nos agarra
e começamos a rir. — Agora me falem, quais os planos para hoje à
noite depois do jantar?
— Dormir? — Cherry indaga e começamos a rir.
— O que eu faço com você, Mascotezinha?! — Aperta a
bochecha da prima. — Vai fazer vinte e um anos, precisa se animar
mais.
— Tenho vinte e cinco e me sinto uma idosa, não posso julgá-
la — digo com sinceridade.
— Viu! A única animada demais é você, Vicky! — Cherry diz
e sua prima ri.
— Sou uma jovem indefesa, buscando divertimento nesse
mundo corrompido! — Muda a voz deixando mansinha, doce.
Reviro os olhos e Cherry ri. Não tem jeito, esse trio vai de mal
a pior. Uma é santa demais, a outra uma perdida, e eu toda errada e
bagunçada mentalmente... Tem como isso dar certo? Não, mas o
destino quis assim, e amamos essa escolha dele.
Mergulhamos juntas.
Paro o carro diante da mansão branca, na Forest Avenue,
próximo a Stanford. A casa está silenciosa, o que diz muito sobre o
tipo de comemoração que meu amigo faz. Oliver sempre respeitou o
lar onde divide com os pais e a irmã, suas farras fora de casa nunca
serão como as que ele tem aqui.
Estar voltando ao lar dos Reed me traz muitas lembranças do
passado. Desde que vieram morar na Califórnia há anos, meu
contato tornou-se limitado ao Oliver. Primeiro, pela correria com o
basquete; segundo, que todas as vezes que venho para cá, é a
trabalho, e meu tempo é limitado a isso.
Tenho um grande carinho pelo senhor e senhora Reed,
sempre foram como pais para mim, diferente da filha deles, Kristal,
que, desde criança, sempre foi insuportável. A garota era uma
peste, adorava me irritar quando éramos vizinhos em Nova York.
Seus pais diziam que era por ciúme em ver o irmão comigo, não
duvido, ela sempre pareceu gostar de ser o centro das atenções.
Nunca me dei bem com ela, e aparentemente, anos depois,
isso não mudou. Tive o desprazer em lidar com ela na rápida visita a
cidade que fiz esse ano, e foi como eu previa, bastou estarmos
perto para nada ter mudado, e automaticamente me vi sendo
transportado ao passado, onde isso era corriqueiro e Oliver
precisava intervir na maioria das vezes. Sou apenas três anos mais
velho que ela, e, ainda assim, parece que tenho muito mais idade, já
que minha mente parece mais madura do que a dela.
Estar aqui essa noite não foi algo que eu queria. Mas Oliver
se reuniu com os colegas de time dele e me chamou, não tive saída.
Pela primeira vez, eu estava na cidade com um dia livre. Gosto de
sair, beber, mas estar junto com os Tigers é um limite sendo
ultrapassado. O único ali que realmente suporto é meu melhor
amigo, e, porra, eu sempre odiei esse time, não seria diferente
agora. Oliver os salva; se ele sair, essa porra cai, afinal, ele é muito
bom no que faz, prova disso, é que sempre que ambos estamos na
quadra, o jogo se torna um vulcão prestes a entrar em erupção, e
ainda assim nos divertimos juntos. Sempre que estamos juntos em
quadra, todos vão à loucura, porque sabem que começamos isso
juntos, como irmãos, e que independente da distância, e o que
aconteceu nesse período, nunca deixamos de sermos importantes
um para o outro.
Desligo o carro alugado, e saio dele respirando fundo. Ajeito
a blusa de moletom preta, e sigo em direção à entrada da casa. O
gramado bem aparado, as flores muito bem cuidadas, e a entrada
extremamente limpa. A Senhora Reed, sempre sendo impecável
nos cuidados com a casa.
Aperto a campainha, e levo as mãos ao bolso do moletom.
Alguns minutos se passam, até que a porta é aberta, não por Oliver,
nem por Kristal, mas por uma jovem muito baixa, loira e de olhos
esverdeados. Parte de seus cabelos estão presos em um laço
vermelho. Veste uma camiseta branca e um short jeans. Suas
bochechas coram instantemente... Acho que já a vi em algum
lugar... Claro, uma das amigas de Kristal, a vi no dia que tive o
desprazer de lidar com a pequena demônio da família Reed.
— Oi... P-pode entrar. Oliver e o time estão nos fundos — fala
timidamente e assinto.
— Obrigado... Você é?
— Ah, sou a Cherry. Com licença, já estava de saída.
— Obrigado, Cherry — agradeço e a garota assente,
passando por mim como um pequeno furacão.
Balanço a cabeça e fecho a porta. O som está um pouco alto,
e os risos e conversas são ouvidos daqui.
Caminho em direção ao som, olhando os detalhes da casa.
Sempre elegante, tudo muito claro, meus pais e os de Oliver
possuem gostos semelhantes, casas enormes, rústicas demais ou
modernas ao extremo, tudo claro, e clean. Nesse caso, a mansão é
rústica, mas tendo a delicadeza da senhora Reed em cada detalhe.
Passo pelas portas duplas de vidro, e noto que não está todo
o time. Tem umas cinco pessoas contando com o Oliver. Estão
absortos, perdidos em suas risadas e conversas, enquanto bebem,
escutam música, comem e agem como os santos que todos sabem
que não são.
Passos atrás de mim me fazem olhar e me arrepender. Kristal
está aqui, olhando-me surpresa, assim como a morena um pouco
mais alta que ela, ao seu lado. A morena é a outra amiga que vi da
outra vez, e me olha com um sorriso debochado, antes de levar à
boca o copo vermelho de plástico.
— Tyron Sparks — Kristal fala e ergo a sobrancelha. — Oliver
não disse que viria.
— Ele precisava? — pergunto e sua amiga parece controlar o
riso.
— Claro que não. Não controlo as festas e os amigos dele.
Ele traz quem quiser. Me admira você ter vindo, afinal, tem o que...
dez anos que nunca mais se juntou a nossa família? Nunca
participou de nada aqui — rebate tentando me ler, descobrir coisas,
porque sempre foi uma intrometida metida a jornalista, o que parece
que se tornou.
Não preciso responder, seu irmão surge me puxando para um
abraço e escuto o bufar dela, passando com a amiga por nós que
diz perfeitamente sem se preocupar: “que ele é gostoso não pode
negar, Kris”.
Reviro os olhos e me afasto do meu amigo.
— Porra, deveria ter avisado que já estava vindo. Nem
escutei a campainha. — Oliver sorri.
— Cherry abriu para mim, antes de parecer fugir.
Ele ri e balança a cabeça.
— Ela é assim mesmo. Amiga da minha irmã. Vamos, os
caras vão gostar de saber que está aqui.
— Sério? Eles me odeiam, Oliver! Porra, por que me obrigou
a vir? — Acerto sua cabeça e ele ri mais ainda.
— Não coloquei uma arma na sua cabeça. E o único que
odeia alguém é você a eles, porque se tornou um velho rabugento
pra caralho.
Ele me empurra para fora, como um imbecil que sabe ser
quando deseja me tirar do sério. Oliver e eu conhecemos
exatamente um ao outro e isso sempre nos deu oportunidades
perfeitas para grandes provocações.
Seus colegas me olham e tento me lembrar de que preciso
controlar meu humor pelo meu amigo, ou estarei fodido. E é com
isso que coloco a porra da minha paciência para funcionar, ou ao
menos tentar, antes de aguentar horas de piadas idiotas,
provocações, e tudo piorar quando o álcool começar a ficar mais
forte dentro deles.

O pessoal do time foi embora, enquanto permaneço ajudando


Oliver com a bagunça deixada para trás, já que seus pais retornam
amanhã, foram para o hotel a trabalho.
Não vi Kristal depois do encontro mais cedo, e isso foi
perfeito, pois aturar os caras dos Tigers já foi testar minha paciência
além do limite desejado, preciso confessar.
— Ansioso para a temporada? Confesso que estou nervoso.
— Joga os copos em um saco de lixo.
Coloco as bebidas na mesa para serem levadas para dentro.
— Nem um pouco ansioso. Amo o basquete, mas estar nas
quadras significa que a Golden está acontecendo e isso significa
que a imprensa ficará ainda mais em cima de mim.
Ele para o que está fazendo e pega uma garrafa de cerveja
sentando-se na grama, e me chamando para sentar-se ao seu lado.
As luzes da piscina e do lado de fora é o que iluminam fortemente o
espaço livre.
Sento-me ao seu lado, e observo a noite.
— Isso é bom... — falo e ele me olha confuso. — O silêncio.
Não existe gritos, cobranças, e nem mesmo as vozes que me
consomem internamente. Faz tempo que não sinto esse silêncio me
tomar. — Solto uma lufada de ar.
Ele abre a cerveja e bebe um gole, acertando a tampinha no
cesto de lixo do outro lado.
— Cesta! — vibra e rimos.
Me deito na grama, colocando um braço atrás da cabeça e
olhando o céu escuro, não há estrelas, qualquer coisa que o ilumine,
além da lua que começa a ser coberta pelas nuvens.
— Como você realmente está, Ty? Ele completaria quinze
anos essa semana, né? — pergunta com cautela e apenas assinto,
sabendo que me olha. — Quando saímos de Nova York, Philip era
uma criança birrenta, mas divertida. Era admirável ver que ele se
dava bem com a Kristal.
Sorrio e assinto.
— Ele a adorava. Dizia que iriam se casar. O moleque tinha
cinco anos e já pensava nisso. Burro não era!
— Assumindo que minha irmã era uma boa escolha? — me
provoca e reviro os olhos.
— Nunca disse que Kristal não era boa, ou algo assim. Só é
extremamente irritante. — Ele acerta minha perna e ri.
— Acha que a distância dela, os problemas em fazer amizade
dele, tudo isso interferiu? — pergunta e me surpreendo, ele nunca
cogitou isso antes.
Nego e respiro fundo. É muito difícil falar disso ainda.
— Não! O único culpado nisso tudo é a família dele,
principalmente eu. Philip era só uma criança que precisava de mais
atenção. E eu com o basquete, com tudo...
— Ei... Não! Ele sentia orgulho de você. Tyron, não se culpe
por isso. Infelizmente a única pessoa que poderia nos dar respostas
era ele. Não pode se sobrecarregar assim... É por isso que tem se
metido em tantas polêmicas?
— Lendo fofocas, Oliver?
— Quando meu melhor amigo está envolvido nelas, me vejo
sendo obrigado. Não sou santo, cara, sabe disso. Mas suas orgias,
o álcool, a forma que tem tratado sua carreira, está te destruindo
aos poucos. Vai fazer dois anos, Tyron, e eu não imagino o quanto
isso deve te machucar, mas jogar sua carreira no lixo não é a
melhor escolha. Começamos isso juntos, e não quero jogar sabendo
que está apenas assistindo, porque foi expulso da Golden Jump.
Esfrego o rosto e me sento novamente.
— Nunca me expulsariam. Sou um troféu a eles, um troféu
muito caro. Encerrar meu contrato envolveria bilhões de dólares,
que jamais aceitariam perder — revido.
— Não te expulsariam se você não estivesse quebrando
regras! Somos como um produto, sabe disso. Quando você se suja,
está sujando a eles também, Tyron! — Bebe mais um pouco da
cerveja. — Na última temporada, você foi expulso de dois jogos,
porque perdeu o controle com o adversário. O principal ponto nisso
aqui é o controle, sem ele, não somos nada.
Olha para a frente e balanço a cabeça.
— Não quero falar sobre isso, Oliver.
Ele bufa e se levanta nervoso.
— Os caras te provocam exatamente no seu ponto fraco,
está todo fodido que cai na provocação e não quer falar sobre isso?
Tudo bem. Você quem sabe. É adulto, um jogador foda pra caralho,
mas se o seu jeito de enfrentar tudo isso é se afundar, e fingir que
está tudo bem, ótimo, faça como quiser. Só não diga no futuro que
ninguém tentou te ajudar. Você não o perdeu sozinho, nós também
o perdemos. Pode não doer como dói em você, mas não é justo
também estarmos perdendo você, é egoísmo demais você se fechar
na sua dor, e consequentemente se fechar para as pessoas que te
amam quando o assunto surge.
Levanto-me e pego meu celular na mesa.
— É melhor eu ir... — Trinco o maxilar.
Ele começa a rir.
— Vai, foge, Ty! Toda vez que tento conversar com você, te
ajudar, é assim. Foge, seja um covarde mesmo, porque sabe que
estou certo! — joga as palavras.
— Você bebeu demais, não vou entrar nessa com você,
Oliver!
— Acha que estou bêbado? Devo estar mesmo. Mas não
estou cego. Passou a noite toda sem falar com ninguém. Mal
interagiu comigo que sou seu melhor amigo. E agora, quando tento
entender o que está havendo, você foge! O álcool não tem nada a
ver com isso aqui, cara! — fala mais nervoso e joga a garrafa no
gramado.
Fecho os olhos por alguns segundos e, quando os abro, sei
que vou me arrepender amargamente de tudo que direi.
— E você? Esses caras não te suportam, colam em você
porque está grande, todos querem pegar um pouco da fama imensa
que não para de crescer. Quer falar das minhas orgias? E as suas?
Acha que não sei? Sua família sabe que pode ser pai? — Ele
arregala os olhos. — Achou que eu não saberia que a modelo está
grávida e te ameaçou se fosse o pai e não assumisse? A batida de
carro que limparam seu rabo recentemente, contou a todo mundo?
Espera, e o fato de que está deixando a fama subir a sua cabeça,
dando carteirada de jogador para ter benefícios nos lugares? Claro,
o bom garoto da família Reed tem que controlar isso, porque a maçã
podre sou apenas eu. Vai se foder! — Dou as costas para sair.
— Não sou santo, como eu disse. Faço merda pra caralho,
mas, ainda assim, estou tentando ajudar você, porque é isso que
amigos fazem. Realmente eles não são meus amigos, porque o
único que é está me dando as costas nesse momento, tentando me
atingir para eu me afastar. Não farei isso, nunca fiz, não será agora.
Volte para o hotel, esfrie a porra da cabeça e amanhã almoçaremos
juntos, daqui algumas semanas, estaremos juntos na maldita
quadra, querendo você ou não. E tem mais, se ela estivesse
grávida, eu teria assumido; e sobre a batida, sabe por que
abafaram? Porque eu estava tentando ir livrar teu rabo naquela
boate, e eles sabiam disso. Se isso fosse parar na imprensa,
também descobririam que estava loucão naquele lugar, mas não se
lembra que me ligou, né? Claro que não, estava bêbado, seu filho
da puta!
Sinto algo me acertar as costas e, pela dor do caralho, é uma
bola de basquete. Viro-me e olho para ele.
— Sério? Uma bola, porra?! — grito puto.
— Era a bola ou a cadeira. Achei a bola menos agressiva!
Sou da paz ainda! — Dá de ombros. — Volta esse rabo aqui e me
ajude a terminar essa merda. Estou puto com você, mas Kristal
nunca me ajudaria nessa bagunça.
— Por que somos assim? Parecemos um casal! Caralho... —
Jogo a bola nele, mas o filho da puta desvia. — Desculpe... Não tem
nada a ver com minhas merdas! Falei sem pensar...
— Tenho sim, suas merdas, minhas merdas. É assim que
isso funciona, Tyron!
— Era para ser uma declaração, Oliver? — Ergo a
sobrancelha. O foco de tudo foi desviado.
— Eu sei, sou péssimo nisso. Kristal tem razão quando diz
que não entende como as garotas caem no meu papo! — bufa.
Sorrio e o empurro, antes de tornar a ajudá-lo. Não tem jeito,
vamos brigar, ficar putos um com o outro, mas jamais nos distanciar,
porque não conseguimos, sempre terminamos nossas merdas rindo.
Termino de escrever minha última coluna desse ano sobre
resultados esportivos, pois, a partir de amanhã, começo a me
preparar para a World Golden Jump, e mal posso esperar por isso.
Ontem nem mesmo aproveitei a noite com meu irmão e os colegas
dele, pois preferi adiantar ao máximo o trabalho para hoje e a Vicky,
como uma amiga incrível, me ajudou muito nisso. Acabou que
caímos no sono sem perceber, e quando acordamos tudo já estava
em ordem, Oliver com certeza organizou tudo, ou nossos pais o
matariam.
— Filha, não vai tomar um café? Vicky saiu às pressas
também.
— Querida, já viu esses jovens se alimentarem direito? Vivem
na correria! — papai comenta ao passar por mim deixando um beijo
na minha cabeça.
— Prometo comprar alguma coisa no caminho. Não posso
chegar atrasada. Quero pegar a Jennifer no escritório para tirar
umas dúvidas com ela. — Fecho o laptop e coloco na bolsa.
A senhora Karen me olha bem séria, sabendo que “comprar
algo” significa um café em qualquer lugar para tapear o estômago.
Ela prende a franja loira e revira os olhos, comendo sua fruta.
Papai se senta ao seu lado e começa a se servir.
— Oliver limpou tudo, mas deixou os sacos de lixo jogados
no canto aos fundos. Ninguém vai tirar, porque ele fez a bagunça,
ele tem que ajeitar. Quer fazer as festas? Aprenda a limpar direito
tudo! — mamãe reclama.
Os funcionários ainda não chegaram, é bem cedo, e mamãe
não os mantém dormindo aqui, exceto nossa governanta que está
de férias, e finais de semana e feriados nunca trabalham conosco,
com isso tudo é bem-organizado, temos que preservar tudo que é
limpo, porque se tem alguém que gosta de organização é ela. Ou
seja, sempre nos ensinou que independentemente de termos a
chance de ter pessoas trabalhando para nós, isso não significa que
podemos ficar de braços cruzados, e esperar que alguém limpe
nossa bagunça.
— Ele já acordou? — papai indaga, enquanto calço meu
sapato.
— Steven, depois do tanto de bebida que vi sendo estocada
na garagem antes de sairmos e agora não tem nada, seu filho está
morto!
Começo a rir.
— Filha, eles aprontaram muito? — meu pai pergunta e
começo agora a fazer uma maquiagem rápida com o que tenho na
bolsa mesmo, para não enrolar muito.
— Sendo bem sincera, não sei. Eu desci por alguns minutos
e, em seguida, fiquei trancada com a Vicky no quarto trabalhando,
pegamos no sono, e não vi mais nada. Acordei e vocês já tinham
chegado. Mas se nenhum vizinho chamou a polícia, pensamos
positivo!
Mamãe bufa e sorrio.
— O Ty viria, segundo o seu irmão. Ele dormiu aqui? Espero
que não tenha pegado o carro após beber e saído por aí... Na
verdade, espero que nenhum dos que vieram tenham feito isso.
Olha, desse jeito eu não conseguirei me manter longe do botox por
muito tempo! Meus filhos me dão rugas!
Termino a maquiagem simples e jogo tudo na bolsa.
— Mãe, eles sabem se cuidar. E não sei se o Sparks dormiu
aqui. O que eu sei é que preciso ir. Amo vocês! — Jogo um beijo e
meu pai pisca, enquanto mamãe retribui. — Pintou o cabelo, pai? —
Franzo o cenho e ele pisca mais uma vez os olhos azuis.
— Os brancos denunciavam ao extremo minha idade!
— Jesus! Tchau!
Pego minhas coisas e saio de casa indo para o meu carro,
onde coloco tudo no banco ao lado. Saio com ele parando na casa
ao lado, onde buzino esperando a Vicky. A senhora Michelle e o
senhor Landon aparecem na porta junto da filha, e estão vestindo
roupas fitness, a rotina de corrida dos dois todos os dias cedo me
impressiona. Sério, a Vicky tem que ser adotada, é muito oposto da
família Foster.
Eles acenam para mim e retribuo sorrindo.
Vicky corre para o carro simplesmente jogando minhas coisas
e as dela no banco de trás.
— Qual o seu problema? Não sabe ser delicada? — indago e
ela coloca o cinto.
— Gata, eu sou delicada! Vamos, essa princesa aqui precisa
de um café gelado e um donut bem fofinho.
Começo a rir e dou partida no carro, antes que eu soque
minha amiga.
— A Cherry já foi para a universidade? Poderia pegar carona
com a gente.
— Segundo ela, a universidade é cinco minutos de carro,
quase uns dez com ela indo a pé. Prefere ir a pé, pois faz uma
caminhada. Minha prima é tão errada, não acha?
— Não! Ela é certa, errada é a gente que mal se exercita.
Ligo o som do carro e já vai automaticamente para a rádio do
nosso jornal: Sport Universe.
— Eu facilmente trabalharia na rádio. Jennifer poderia me dar
essa chance!
Vicky sempre amou o contato direto com o público, com as
pessoas. O sonho dela é ter uma vaga no podcast, na rádio ou
conseguir espaço como jornalista presencial nos jogos. Mas todas
essas vagas estão preenchidas, e ela segue escrevendo na coluna
onde conseguiu uma chance.
— Sua chance de estrear em algo que gosta ainda vai
chegar, acredite nisso.
Ela bufa, mas assente.
— Eu acredito nisso, só poderia ser um pouco mais rápido. —
Sorri e balanço a cabeça focando na direção. — E aí, preparada
para lidar com o Tyron todos os dias praticamente? Ontem, eu tive a
certeza de que vão se matar!
Reviro os olhos e viro à direita.
— Não! Tenho a certeza de que não estou pronta, e nem sei
se estarei um dia.
— Ele já sabe que vão trabalhar juntos?
— Só minha família, você e a Cherry sabem disso. Jennifer
pediu sigilo no jornal também, então... se ele soubesse já teria me
provocado com isso, com toda certeza!
— Qual o lance de vocês dois? Tipo, sempre se odiaram
gratuitamente? — indaga quando entro no drive-thru da Starbucks.
— Sempre foi assim. Não me lembro de um momento que
não tenhamos tentado nos matar. Ele sempre me provocou muito, e
tudo bem, eu não era fácil de lidar, mas ele muito menos!
— Ele é um gostoso, isso é inegável. Muito alto, aqueles
cabelos pretos despojados, a cara de invocado, os olhos mel... Meu
Deus! Gostoso demais. — Faz uma careta de safada.
Finjo uma ânsia de vômito e ela começa a rir.
Faço os nossos pedidos e não demora para pegarmos e
darmos o fora daqui, comigo pagando, porque, como sempre, ela
me dá o golpe.
Bebo meu café enquanto sigo para o jornal.
— Vai dizer que não acha ele ao menos bonito? Nunca teve
uma queda? Sério?
— Feio não é, mas sei lá... Ele me irrita tanto, que nunca
reparei nisso. Além disso, quando éramos vizinhos, eu era uma
criança e fui embora sendo adolescente, mas ainda bem infantil.
Nunca nem cogitei pensar nele diferente.
— E depois? Adultos, ele jogando... Nem assim?
— Nem assim. Sempre fui fã dos Tigers, ou seja, não
conseguia vê-lo como um gostoso, porque nunca assisti aos jogos
para ver a beleza dos jogadores, eu realmente gosto de esporte.
— Você é esquisita!
Começo a rir e bebo mais do meu café.
— Se você tivesse convivido com ele o tempo que eu convivi,
veria que Tyron Sparks... — paro de falar quando no rádio anunciam
algo.

“É isso mesmo, a nossa jornalista Kristal Reed estará


cobrindo os bastidores dos Red Fire, com alguns privilégios na
World Golden Jump nessa temporada, que promete acelerar muitos
corações!”

Olho para a Vicky, que me encara com os olhos arregalados,


e começamos a gritar e rir juntas! Isso é muito real, eu vou cobrir a
maior temporada de basquete do país!

Meus pais, a Cherry e meu irmão já enviaram mensagens


falando que ouviram o jornal e agora é mais do que oficial. Eles
estão felizes por mim e isso é muito importante, porque, por mais
que seja uma oportunidade única, não é fácil sair do lugar de
conforto para viver algo sem paradeiro, longe de casa e dos amigos
durante meses, e com uma enorme responsabilidade em mãos.
Conversei com minha chefe e tirei muitas dúvidas, mas ainda
estou receosa, com medo. É uma grande etapa na minha vida, e só
quero que dê tudo certo.
Oliver: Gatinha, amanhã os Tigers têm jogo em Stanford, para os olheiros
que começarão a fazer a peneira. Traz as meninas, já ajeitei a entrada de vocês.
Será um jogo fechado.

Junto com os jogos, começam a peneira para selecionar os


jogadores com potencial de fazer história na Golden, e claro que vou
assistir a esse jogo e arrastar as meninas.

Kristal: Te amo, já te disse hoje?! Obrigada, meu Tigers favorito!

Olho para a mesa atrás de mim e Vicky me encara.


— Amanhã temos compromisso — informo.
— Salto ou tênis? — indaga e sorrio dando uma piscadinha.
— Tênis... Esporte... E lá vamos nós... Iupi!
— Como se não gostasse de ver os jogadores! Você é uma
safada, Vicky Foster!
— Sou mesmo e, se for crime, me prenda! Onde é o jogo?
— Stanford. Cherry também vai, será fechado! Tigers, baby!
— Vou poder usar a camiseta nova que seu irmão nos deu,
me animei. Eu fiquei gostosa nela, até parece com aqueles filmes
clichê, sabe? A mocinha com a camiseta do cara que ela gosta...
Que fofinho! — Bate palmas.
— Sua ironia deveria ser encapsulada e mandada até Marte!
— Viro-me para a minha mesa e ela gargalha atrás de mim. —
Preciso de novas amizades!
— Eu te mato. Essa relação aqui é até que a morte nos
separe! Ouviu, sua loira safada?!
Meu Deus, o que eu arrumei para mim?
Saímos mais cedo hoje, porque adiantamos tudo na noite
passada, e foi bom. Estou estacionada na universidade, esperando
a Cherry, que ficou novamente até mais tarde estudando, para irmos
comer juntas.
A loira sai da universidade e fico a observando, enquanto sua
prima mexe atenta no celular. Quando estudei aqui, não era a mais
popular, mas tinha amigos. Cherry tem quase vinte e um anos e não
tem amigo algum, um colega sequer. Sai sozinha, como todas as
vezes que passamos aqui para pegá-la para algo, sempre com os
fones em seus ouvidos, e sem olhar para os lados.
Ela se aproxima do carro e entra atrás.
— Boa tarde, gata! Vamos comer, estou desmaiando de
fome! — Vicky diz, olhando para a prima agora, que retira os fones e
sorri.
— Nem me fale. Estou até com dor de cabeça. Está um terror
essa universidade hoje. Vai ter jogo de basquete amanhã contra os
Tigers e terá olheiros... só falam disso. Uma barulheira imensa!
— E nós estaremos nessa farra amanhã. Ser amiga de
jogador dá nisso, e ser amiga da irmã do jogador é pior ainda! —
Vicky me provoca e mostro a língua a ela, muito madura, claro.
— Eu não estarei não! Tenho prova na sexta-feira, preciso
estudar muito.
— Cherry, você será a melhor advogada do mundo, todos
sabem disso, mas precisa viver um pouco longe daqui, sabe! —
Vicky comenta enquanto dirijo quieta, não me intrometo em tudo no
papo das duas.
Cherry entrou para a universidade no ano passado, está
cursando Comunicação, assim como Vicky e eu, mas diferente de
nós duas, ela não vai seguir essa carreira, fará uma pós-graduação
em Direito, por mais três anos, após terminar o primeiro curso. Ela
precisa ter formação superior em algo, antes de ingressar no que
tanto deseja, e escolheu o que ajudaria ela aprender a se
comunicar, escrever, de um jeito bem melhor. Ela realmente precisa
estudar muito, mas o problema é se perder demais nos estudos, ao
ponto de esquecer de viver, isso é um pouco intenso demais. Pela
Cherry, ela nunca iria se divertir, eu e sua família que sempre
tentamos fazer ela viver um pouco mais, porque a vida está
passando e ela perdendo grandes oportunidades de vivê-la com
grandes memórias.
— Vicky, eu estou bem no meu mundinho. Além disso, não
entendo quase nada de basquete, seria um estorvo para vocês. Me
deixem fora disso, vai! — resmunga.
— Nem pensar! Oliver disse que já ajeitou a entrada das
duas, olha que belo privilégio! — falo animada.
— Esse privilégio a senhorita não reclama, né?! — Cherry diz
e começamos a rir.
— Não fiquei maluca! — rebato.
— Ok, eu vou assistir ao jogo, mas já vou avisando, terão que
ter paciência para me explicar!
— Sempre explicamos! No caso, eu sempre explico... Vicky, é
sério, como conseguiu esse emprego? — indago muito curiosa.
— Esse rostinho lindo consegue tudo. E para com isso, eu
entendo bastante até, só não gosto de futebol americano!
O riso é garantido no carro.
— Nunca vai superar que foi acertada pela bola no ensino
médio e foi parar na enfermaria, né? — Cherry questiona.
— Jamais! Eu acho um esporte violento. Prefiro qualquer
esporte mais tranquilo.
— Mentirosa! Você odeia tudo que tenha que se movimentar
e canse! — acuso-a.
— Claro que não. Eu gosto muito de sexo e me movimento
demais nele! Esse tipo de esporte, eu jamais reclamo — se defende.
Gargalho enquanto sua prima briga com ela para ela ter
modos.
Eu amo essas meninas.
Stanford University

Olho a universidade de símbolo vermelho e branco, e suas


cores beges, com seus verdes espalhados pelo chão, árvores...
Nunca me vi realmente em uma universidade, e isso porque eu
cresci amando o basquete e, durante o ensino médio, isso
intensificou em mim e acabou que passei a me dedicar cada vez
mais, até conseguir uma chance de ser profissional, através dos
olheiros da World Golden Jump. E automaticamente me vi sendo
treinado por grandes nomes, até terminar o ensino médio e me
preparar para a peneira que teria um ano depois e me faria entrar
para algum time, e os Red Fire me escolheram. Então nunca
precisei estar na universidade, não era uma obrigação da Golden. A
única obrigação sempre foi ter concluído o ensino médio ao menos.
Posso não ter estado em uma universidade como aluno, mas
já joguei em algumas contra o time delas, na temporada de peneira,
a Golden costuma escolher alguns times para jogar, algo fechado,
apenas jogadores, profissionais e convidados, isso acontece nas
escolas também, mas lá não existe outros times jogando com os
alunos, afinal, são muito jovens, tem apenas os olheiros.
Esse ano, os Red Fire não foram escalados para participar,
parece que, como já vão ceder as exclusivas internas para algum
jornalista, esses jogos precisam ficar de fora da imprensa até
segunda ordem, porque evitam esse tipo de vazamento aos jornais.
Mas, aqui estou, após o treino, como convidado do Oliver
para assistir ao jogo. Queria? Não. Claro que não. Mas por ele eu
acabo cedendo em muitas coisas, ainda mais depois da nossa
breve discussão, a qual peguei pesado. Eu tenho sido um merda em
muitos aspectos e ele não merece isso.
Muitos lugares estão isolados, para evitar aglomeração de
alunos e de pessoas que não estejam na lista vejam o jogo.
Cumprimento as pessoas que trabalham aqui e na Golden, já que os
vejo pelo caminho. Já estive aqui algumas vezes, sei exatamente
como chegar na quadra.
Meu celular vibra em minhas mãos, e quando vejo o nome,
apenas coloco no bolso da calça, sem atender.
Entro pelo corredor dos vestiários, onde o nome Stanford
Cardinal está espalhado. Grandes nomes saem daqui compondo
diversos destaques no esporte pelo mundo, e o basquete está entre
eles. Nas Olimpíadas de Tóquio, a universidade enviou muitos
atletas para várias categorias. É importante ver o apoio ao esporte
que proporcionam.
Cumprimento mais pessoas que encontro, e ajeito meu boné
com a aba para trás. Os jogadores estão na quadra, cada um de um
lado, conversando com seus treinadores, alongando-se, batendo-
papo, bem relaxados, quero dizer, os Tigers estão, afinal, esse
momento é sempre de muita tensão para aqueles que podem
conseguir uma chance no maior campeonato de basquete do mundo
na próxima temporada.
Na arquibancada já está um dos olheiros, e ela é terrível, e
mais dois nomes importantes da Golden. Mais abaixo estão Kristal e
suas amigas usando camisetas dos Tigers. Elas sabem que não é
um jogo comum hoje, correto? Melhor nem pensar nisso, o inferno
passa na cabeça da louca da irmã do Oliver e deve contagiar as
outras.
Sou parado por Oliver, que está sorrindo como um idiota.
— Pega leve com os caras, seu imbecil! — falo e ele ri.
— Pegar leve hoje? Nem pensar. Temporada de peneira não
se pega leve. Daqui alguns serão selecionados e precisam aprender
a lidar com a peneira final, o draft, se quiserem um lugar na Golden.
Aprender a conviver com essa tensão já é importante. E estou
parado um tempo, isso aqui é um refresco para mim, não me prive!
— Me empurra e sorrio.
— Cuidado, Oliver, quando passou pelo mesmo que eles teve
diarreia, lembra? — falo alto e ele me fuzila com o olhar.
— Idiota! — me xinga, mas apenas sorrio e vou para a
arquibancada, dando um leve aceno aos jogadores da universidade,
que me encaram como se eu fosse um monstro, o terror da vida
deles.
As três torcedoras estão sentadas acima de mim, e sim, eu
poderia me sentar mais abaixo, ou mais afastado, porém eu coloco
minha maturidade no rabo quando o assunto é infernizar a vida de
Kristal Reed.
Sinto um cutucar na minha nuca e posso jurar que a demônio
faz isso com o pé.
— O que quer, Reed?
— O que faz aqui? — pergunta sempre curiosa. Isso nunca
mudou, porra!
— Seu irmão me chamou, mas trabalho nisso também, meio
que tenho funções, observar é uma delas. E você? Líder de torcida
não faz muito seu estilo. — Viro lentamente a cabeça e suas amigas
controlam o riso, enquanto ela me olha séria.
— É sempre bom observar mesmo, aprender com os
melhores, já que os Red têm estado muito abaixo nas pontuações,
não é mesmo? Talvez se trocassem algumas posições do time,
como o armador e também capitão... Eu sempre achei que o
posicionamento em quadra de vocês é fraco, e, pelos últimos jogos,
tenho certeza disso... Ai, Cherry! — Sua amiga também loirinha a
belisca.
Começo a rir e balanço a cabeça. Ela me pegou em um bom
dia, mas a filha da mãe realmente entende desse esporte, e o que
puder usar para me atacar fará.
— Aquela ali é a Camilla Rogers, não é? Faz parte dos
enormes números de olheiros da Golden! — uma de suas amigas
fala.
— Sim! E uma das mais terríveis. Ela está nisso há anos.
Quando meu irmão estava lutando por uma vaga, ela já era olheira,
e o maior medo dele era que fosse ela em cima dos jogos dele. O
diabo a teme.
— Jesus, Kris! — a outra amiga, de voz mais doce, diz e
sorrio.
— Mascotezinha, você é prima do diablo, como diria o meu
irmão, e se assusta quando falo no capeta? — Kristal provoca e elas
riem.
Oliver se aproxima de onde estamos, com a bola em mãos, e
joga na minha direção, que seguro sem problema algum.
— Arremessa para dar sorte! — fala e reviro os olhos.
Desde quando éramos crianças, fazemos isso, é meio idiota,
mas faz parte. Sempre que estamos em quadra juntos, um dos dois
precisa fazer uma cesta antes, é nossa cesta da sorte juntos.
Levanto-me.
— Ele não vai acertar daqui... O lado direito dele é o
dominador, estamos ao esquerdo, logo, uma cesta a essa distância
ele teria dificuldades. Para isso, vai ter que se posicionar mais à
direita... Vejam e assistam, meninas! — a intrometida sussurra as
amigas, mas ouço.
Ela não erra, esse pequeno estorvo cresceu comigo e o
irmão, acompanhou jogos, treinos e ainda trabalha como jornalista
esportiva, claro que a garota entende, mas me admira lembrar
detalhes sobre a minha jogada.
Me posiciono, apenas um pouco à direita, e arremesso, e
claro: cesta!
— O filho da puta é sempre bom! Eu te odeio! — Oliver
aponta para mim e começo a rir, antes de me sentar novamente.
— Vinte minutos, pessoal! — eles são avisados e começam a
ir ao vestiário para se prepararem.
Olho para trás e as três me encaram.
— Me fale, Kristal, conhece minhas jogadas tão bem, mesmo
após anos. Isso significa que tem assistido muito os Red Fire, tem
certeza de que torce mesmo pelos Tigers? — pergunto.
Ela gargalha e suas amigas a olham.
— Sério? Tenha juízo nessa sua cabeça de vento, garoto! É
lógico que preciso acompanhar, é meu trabalho.
— Milhares de jogadores e guardou exatamente minhas
jogadas?
— Crescemos juntos, Sparks! — diz entredentes, perdendo a
paciência, porque ela sempre perde fácil comigo, precisa de
segundos. — E já disse, trabalho com isso, preciso fazer bem! —
Ergue a sobrancelha.
— Mas nunca escreveu dos Red Fire, você não os suporta!
Como sabe tanto das jogadas do bonitão aí?
Ela olha para a morena.
— Está de qual lado, Vicky?
— Da confusão, sempre! — sua amiga responde, rindo.
— Reparando demais, como sempre, princesa Kristal. —
Sorrio.
— E agora vai ainda mais... — a outra mais tímida, comenta
baixinho, e olhamos para ela. — Desculpe, escapou!
Franzo o cenho.
— Como assim? — questiono confuso.
— Não sabe ainda? — Vicky pergunta e nego. — Isso vai ser
muito bom! — a morena ri, exibindo seus dentes brancos através do
batom vermelho.
Nem perco mais meu tempo, torno a olhar para a frente, e
pego o celular no bolso que torna a vibrar, mas ignoro novamente.
Ficamos todos no aguardo dos azul-escuro e branco, e os de
vermelho e branco dominarem a quadra.

O jogo está quente, mesmo não sendo importante para o


campeonato, é para alguns que podem conseguir estar na próxima
temporada.
— Por que ele fez três pontos? Olha, eu nem deveria estar
aqui, não entendo nada disso. Posso ir agora? — Cherry pede as
amigas, que negam. — Vocês me odeiam.
— Dramática! — Vicky diz a ela. — Amor, trabalho com
esporte e muitos ali não faço ideia do que são. É só entrar na onda
e ir junto com a galera!
Meu Deus!
Estendo a mão esquerda na direção que eu sei que a loirinha
está.
— Não mordo, mesmo que a maluca ao seu lado
provavelmente tenha dito isso — falo esperando um chute, mas pelo
menos ela não o faz.
— E-eu? — Cherry indaga e a olho. Assinto e ela segura
minha mão descendo com cuidado e sentando-se ao meu lado.
— Cherry, tenho tantos xingamentos a você nesse instante...
Ah, minha amiga, seus dias estão contados! — Kristal ameaça e sua
outra amiga gargalha. — Você também, Vicky!
— Cala a boca, está atrapalhando o jogo! — alerto a louca
atrás, que agora me chuta. Louca, eu disse!
— Camisa 22 de Stanford, focaremos nele, agora, ok? — Ela
concorda ao meu lado, com o rosto bem vermelhinho. — Ele é o
pivô do time dele, mais forte, mais alto e o que mais fica perto da
cesta. Ele tem uma função importante, não que outros não tenham,
mas ele... — O jogador faz uma ótima defensiva contra os Tigers.
— Faz a defesa! — diz compreendendo.
— Exato! Agora vamos focar no camisa 10, bem ali, vê? —
Ela assente atenta. — Ele vai arremessar, porque o camisa 3 vai
lançar a ele, exatamente para isso. Ele é ala, tem algumas funções,
e algumas semelhantes ao armador, como precisar ler bem o jogo...
E ele vai arremessar, e conseguir uma cesta, porque está muito bom
nesse jogo! Presta atenção, viu os pontos que ele marcou ao fazer a
cesta? — Ela concorda. — Cada ponto equivale exatamente a
distância que o jogador estava na quadra. Isso depende muito do
tamanho da quadra também, os desenhos no chão marcam pontos,
e o dele valeu dois pontos, porque ele estava na parte interna da
linha dos três pontos, bem ali. — Aponto para ela e seus olhos
brilham com a informação.
Engulo em seco, porque ela me lembra alguém que também
amava receber conhecimento e isso quase me leva ao passado,
digo quase, porque bloqueio imediatamente essa informação.
— Então por isso alguns marcam mais que outros, é questão
da distância em que estavam ao fazerem o arremesso?
— Isso mesmo. Já assistiu outros jogos pessoalmente?
Ela nega.
— Ela sempre foge. Dessa vez, não teve saída! — Kristal
informa atrás.
Olho para a garota ao meu lado, que assente e sorri
timidamente.
— Esporte nunca foi meu forte. Mas talvez seja por eu não
entender muito, e até que não parece difícil — fala olhando para a
quadra, especificamente para o camisa 20 dos Tigers. — É bem
interessante.
Franzo o cenho e balanço a cabeça. Péssima escolha,
garota. Não faz ideia da sua dor de cabeça nisso.
— Droga... A Jennifer está me ligando bem agora... — Kristal
reclama e se levanta, mas escorrega e acaba acertando a mim, e
sendo segurada por sua amiga. — Porra... — xinga baixo. — Acho
que torci meu pé. Merda, que dor...
Cherry sobe para ajudar a amiga também, e me viro com
cuidado para ela não escorregar de vez, já que estou sendo a
barreira dela.
— Kris, está tudo bem? Onde dói? Precisa de uma
ambulância? — Vicky indaga.
— Não! Apenas torci o pé. — Ela tenta se ajeitar e puxa a
perna com cuidado. — Merda... está doendo muito.
Viro-me direito e seguro seu pé, ela também machucou, está
ralado na lateral.
— Precisa por gelo nisso e ir ao médico, para ter certeza,
Kristal — comento.
— Médico? Nem fodendo! — grita e percebe o que fez. — Só
gelo, sem médico.
Então, ainda tem medo de hospitais.
Reviro os olhos e me levanto, puxando seu celular e
colocando no meu bolso, e entregando sua bolsa a Cherry.
— Vem. — Ela me olha desconfiada. — Acha que irei fazer o
quê? Te jogar no meio da quadra para ser pisoteada? — Ela
assente. — Vamos logo, Kristal, antes que distraia seu irmão! —
Puxo-a e a Vicky ri.
— Quanto cavalheirismo. O mundo precisa de mais Tyron! —
provoca. Eu realmente não gosto dessa maluca 2.0.
— Só vou aceitar por causa do Oliver. Meninas, fiquem aqui,
para ele não desconfiar que a irmã dele pode morrer!
— Cale a boca, antes que eu mesmo te mate! — aviso.
Arrasto-a com cuidado para fora dali, indo aos vestiários, sob
o olhar de algumas pessoas.

Entramos no vestiário, está vazio e sento-a no banco,


colocando seu celular ao lado.
— Vou pedir gelo. Tire o tênis — peço e ela assente.
Peço a um funcionário próximo, para buscar gelo, e ele vai de
bom grado. Retorno para perto dela, abaixando à sua frente e
olhando o pé, que está inchando mais.
— Estou ferrada! Não posso ficar imobilizada!
— Kristal, não exagere! — Seguro seu pé com cuidado e ela
faz uma careta. — Dói muito?
— De zero a dez? Dez! — Massageio de leve, e ela reclama
de dor.
Trazem a bolsa de gelo e coloco sobre seu pé com cuidado,
avisam que vão chamar alguém da enfermaria. Agradecemos, antes
de focar na merda que aconteceu.
— Sério, qual o problema da vida? Se eu tiver que ficar de
repouso, estou ferrada! — reclama desesperada.
— Se tiver que ficar parada, acho que será poucos dias. Vai
sobreviver, garota! — Sento-me no banco e puxo sua perna para o
meu colo apoiando o gelo por alguns segundos em alguns cantos do
pé e intercalando.
— Não está entendendo, Tyron! — Está muito séria. — Nos
próximos dias a temporada da Golden começa, mas eu tenho que ir
antes para Boston, no primeiro jogo da temporada. Porque eu sou a
jornalista que vai acompanhar o seu time! — Seus olhos marejam.
— É uma chance única, existe um contrato, e, se eu falhar, estou
fora!
— Você é a jornalista! — afirmo. — Só pode ser brincadeira!
Terei que aturar você no meu rabo por meses? — Ergo a
sobrancelha e devo ter apertado muito o gelo porque ela faz uma
careta. — Desculpe.
— Pelo jeito não. Já que, dependendo, eu tenha que ficar de
fora! — Pisca rápido seus olhos verde-claros e desvia o olhar.
Respiro fundo, engolindo meu orgulho.
— Vai ficar bem. Isso vai passar rápido.
Ela olha o celular desbloqueando a tela e muda sua
expressão, então me olha.
— Amanhã... — sussurra. — Eu... Desculpa, eu esqueci e...
Sei ao que se refere e não a encaro.
— Não tem que lembrar de nada, Reed! — Engulo em seco.
— Claro que tenho! Eu aqui falando sobre meu pé e surtando
por algo, que perto disso não é nada... Desculpe, Tyron. Agora que
vi a data e eu...
— Não tem nada com isso. Esquece! — Levanto-me com
cuidado e deixo sua perna sobre o banco, entregando a bolsa de
gelo a ela. — Você e sua família precisam parar de achar que tem
que salvar tudo e todos, Kristal! — falo com rispidez.
Ela franze o cenho e abre os lábios rosados, desenhados
perfeitamente, tudo nela combina, Kristal tem traços de uma
boneca.
— Tyron, para de ser escroto! Minha família ama a sua, e nós
o amávamos!
Dou um riso sarcástico.
— Amava? Você realmente o amava? Oito anos, Kristal, e
nunca se prestou a vê-lo de novo!
Seus olhos enchem de lágrimas.
— Não seja injusto. Eu mantinha contato...
— Todos nós somos culpados, todos, então parem de tocar
na porra desse assunto, como se isso tivesse sido um acidente e
não algo que todo mundo teve culpa! — corto o que ela diria.
Me afasto, saindo do vestiário com ela me chamando:
— TYRON! — Não olho para trás.
Isso nunca vai mudar. Nada do que digam vai trazê-lo de
volta, ou apagar a tristeza dentro de mim. Eu sou o culpado, mas
muitos têm culpa nisso também.
Vejo Oliver vindo todo suado.
— Cadê a Kristal? As meninas me falaram!
— Cuide dela. Preciso ir!
— Quê? O que houve? Que merda foi agora? Brigaram? —
pergunta, mas não dou chance para que continue falando, passo
por ele saindo daqui.
Eu sempre dou o pior de mim quando tocam na ferida jamais
cicatrizada.
— SPARKS! PORRA! — ele diz nervoso e soca alguma
coisa.
Ninguém tem o direito de dizer que se importava, que o
amava, porque todos falharam nisso, inclusive eu!
O dia amanheceu bonito, mas meu coração está apertado de
certa forma, não pelo meu pé, que felizmente apenas preciso
cumprir três dias de repouso e não vai interferir na minha viagem no
final de semana para Boston. Vou ficar bem. O problema é outro, e
envolve Tyron Sparks.
A forma como ele me tratou por eu apenas tocar no assunto
sobre Philip, me chateou, não vou mentir. No instante que notei que
havia esquecido que hoje seria o aniversário do irmão dele, me
culpei, porque nunca, nesses anos, me esqueci dessa data. Então
ele veio cheio de acusações, como se eu fosse um monstro nessa
história toda, e isso me afetou, me atingiu mais do que talvez ele
pudesse imaginar.
Como um pequeno pedaço de bacon que pego ao lado dos
ovos mexidos em meu prato e levo à boca, tentando mastigar.
Passos indicam que meus pais já estão acordados e vindo
tomar café. Meu irmão saiu muito cedo para o centro de treinamento
dos Tigers, o dia começava a tomar forma quando isso aconteceu, e
eu vi tudo, porque não preguei os olhos direito, mesmo com os
remédios para as dores no pé.
— Bom dia, meu amor! — papai me cumprimenta beijando
minha testa e puxando uma cadeira na mesa.
— Bom dia! Parece cansada, não conseguiu dormir, querida?
— mamãe indaga fazendo o mesmo que o meu pai e se sentando
para tomar café.
Balanço a cabeça lentamente e forço um sorriso.
— Foi uma noite difícil.
— O pé ainda dói muito? Querida, se continuar, é melhor
retornarmos ao hospital! — Fica preocupada e dessa vez sorrio de
verdade.
— Não se preocupe, senhora Karen, meu pé está ótimo! —
digo a verdade e ela assente aliviada.
Papai e ela começam a se servir e tento comer mais um
pouquinho.
— Então, por que essa cara? Seriedade demais não combina
com você, Kristal! — meu pai comenta.
Solto uma leve lufada de ar e olho para fora, através das
janelas imensas de vidro, tendo a vista do nosso jardim, que é
cuidado pelo jardineiro que chegou mais cedo. Ele me vê e sorri,
aceno retribuindo o carinho.
— Hoje era o aniversário do Philip e me sinto culpada por um
momento ter me esquecido disso.
Eles me olham e o semblante de tristeza começa a surgir em
seus rostos.
— Nem me fale. Era jovem, uma criança linda e tinha
chances para um futuro brilhante — mamãe comenta triste, e
assinto.
— Não tem que se culpar, tem muitas coisas na cabeça. Isso
não anula o carinho que sempre teve por ele, mesmo com a
distância. E ainda pode ir até Nova York, em uma viagem rápida. Os
jogos começam na próxima semana, e pode fazer esse vai e volta
de lá para Boston — meu pai fala e mamãe concorda com ele.
Nesses dois anos da morte dele, na semana do seu
aniversário eu fui para Nova York, especificamente, na ponte do
Brooklyn, um dos seus lugares favoritos, e lá, de um jeito talvez
idiota para alguns, é como se eu o sentisse pertinho de mim.
Converso com ele e conto tudo, como se meu celular fosse tocar
com fotos engraçadas, respostas irônicas, ligações no meio da noite
e sem sentido, principalmente quando seu time de basquete vencia,
os Red Fire. Apenas minha família sabe, porque é rápido, sempre
vou e volto no mesmo dia, umas cinco horas de voo, totalizando dez
horas de ida e volta, apenas para pedir perdão todas as vezes por
eu não ter sido mais presente desde que saí de Nova York.
Nunca nem mesmo contei aos Sparks sobre isso, porque eu
sei o quanto sinto a dor da perda daquele menino, mas jamais
chegará aos pés do que a família sente, entretanto, me julgar e
condenar como o Tyron fez também não é justo. A dor dele nunca
será a mesma que a minha, mas isso não dá a ele o direito de
anular meus sentimentos.
— É... Talvez eu realmente faça isso... — Bebo um pouco de
suco e ajeito meu pé sobre a cadeira.
Papai aperta meu ombro e sorrio para ele.
— Tudo bem ficar sozinha? Eu queria ficar, mas hoje terá
uma reunião importante sobre alguns cosméticos que vamos testar
para saber como será em nossos clientes, e preciso estar presente
— minha mãe diz.
— Claro que está. Consigo me virar normalmente. E
provavelmente Vicky e Cherry apareçam por aqui mais tarde. — Ela
me olha desconfiada. — Estou falando sério, mãe!
— Tudo bem! Mas qualquer coisa ligue para mim ou para o
seu pai, ok? — indaga e assinto.
— Agora coma. Mal tocou no seu prato. Precisa se alimentar
bem devido aos remédios que está tomando. — Meu pai aponta
para meu prato.
Não tem jeito, Oliver e eu podemos ter a idade que for, eles
sempre vão nos tratar como crianças.

O dia foi tranquilo, meu irmão ainda não retornou, e os


funcionários da casa me ajudaram mais do que deveriam, quando
envolvia coisas que eu precisava e estava no segundo andar, pois
estou ficando no primeiro andar, para evitar ficar subindo escada e
forçando o pé. Foram uns amores comigo, como sempre são.
Agora estou ao lado de fora, na espreguiçadeira da piscina,
com meu caderninho, fazendo anotações, de coisas importantes
que posso tentar coletar mais informações quando os jogos
começarem. Gosto de ter tudo organizado do meu trabalho, é uma
forma de eu me sentir mais confiante, mesmo que, às vezes, a
insegurança com as coisas que faço me domine.
O céu está alaranjado, um entardecer perfeito para uma
piscina, mas que não posso. Sério, eu ainda estou querendo
entender como fiz essa merda de me arrebentar do nada.
Escuto barulho nos arbustos e olho, vendo a minha
mascotezinha saindo dali, pela passagem que a Vicky criou. Cherry
é tão linda, meiga, a garota consegue emitir luz apenas com sua
chegada.
Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo, com a
franja solta nas laterais. Usa uma calça jeans desses modelos mom
e uma babylook do time de basquete de Stanford. Ganhamos
ontem, como uma espécie de mimo.
— Que gatinha! — provoco e ela sorri se aproximando. Me
coloco mais para o lado e bato ao meu lado, onde ela vem com
cuidado, se aconchegando e deitando com a cabeça em meu peito.
— Não me diga que saiu agora da universidade?
— Acredite, colocaram as provas de surpresa hoje, três!
Estou exausta, mas tinha que vir para ver como está. Tomou os
remédios? Não está forçando o pé, certo? — Olha para ele e
começo a rir.
— Estou me cuidando, mamãe! — falo e ela me mostra a
língua.
Cherry é tão fofinha, não tem jeito, é uma bonequinha para
mim, ainda mais que consegue ser a mais baixinha do nosso trio de
mulheres desprovidas de muita altura.
— Que bom! Ainda bem que não foi nada grave. — Pega o
caderno e olha. — Planejando tudo? E depois eu que sou
organizada demais.
Começo a rir e puxo da sua mão apontando com a caneta
para ele.
— Isso aqui são ideias apenas, quero dar o meu melhor
nisso. Mas não quero falar disso agora, preciso descansar a mente
um pouco. Passei o dia deixando quase tudo preparado. — Coloco
na mesa ao lado. — Cadê a Vicky?
Cherry boceja e se ajeita me agarrando.
— Parece que alguém que cobriria o jogo de baseball hoje,
ficou doente de repente, e não tinha ninguém disponível. A Jennifer
deu uma chance a ela de fazer isso. Vai vir tarde, porque será uma
transmissão gravada e depois transmitida no jornal ao vivo da Sport
Universe.
— Meu Deus! Isso é incrível! — Fico animada.
— Ela te mandou mensagem também, mas pelo jeito não viu.
— Não... — Faço uma careta. — Fiquei focada em distrair
minha mente e longe do celular.
— Tudo bem? — Me olha e assinto.
— Vai descansar, Cherry. Está muito cansada, é nítido.
— Estou de plantão! — Mais um bocejo vem. Olho para ela
sem entender. — Uma das suas enfermeiras particulares. Vicky vem
me cobrir quando chegar. Assim não fica tão entediada.
Gargalho. Essas duas são loucas!
O carro do meu irmão chega, conheço o barulho de longe. E
não erro, porque não demora muito para ele surgir onde estamos.
— Se eu achava que você estava com cara de cansada,
saiba que ele te supera! — comento olhando para a girafa que se
aproxima.
— Garotas... — Oliver se aproxima e beija nossos rostos —
Sem a diablo? — pergunta e sorrio.
— Ela está trabalhando — Cherry fala sonolenta.
— Oliver, expulsa ela daqui. Segundo ela, ficará de plantão.
Pode dizer que posso contar com você, pois vai ficar em casa, e ela
pode descansar? — peço e ela resmunga.
— Nem pensar! Tomei banho por lá mesmo, só para vir e
dormir. Estou destruído. E eu até poderia ser um bom irmão e
amigo, mas tendo em vista dessa traição, Cerejinha que durma em
pé! — Aponta para a camiseta dela e reviro os olhos.
Alguém mata ele?!
— Foi a primeira coisa que peguei quando cheguei em casa
para vir logo aqui. E não vou embora. Só preciso jogar uma água no
rosto e vou despertar!
Meu irmão revira os olhos.
— Vocês dois querem me tirar do sério, só pode! Já que não
vai, então vamos comer algo e ficar no quarto, porque ficar nessa
posição está me destruindo.
— Idade chegando, irmãzinha. — Oliver provoca,
caminhando lentamente para dentro de casa.
— Pode acertar algo na cabeça dele? — peço a minha
amiga.
— Já viu o tamanho dele perto de mim? — Ela se levanta e
me ajuda.
— Ela não viu, mas se você quiser ver, pequena Cherry... —
ele provoca e ela tropeça quase caindo em cima de mim e ficando
bem vermelha, muito rapidamente.
— SEU NOJENTO! SOME DAQUI, OLIVER! — grito e ele
entra rindo em casa. — Como meus pais juraram que esse garoto
era normal? Meu Deus! — Me levanto com cuidado, enquanto ela
pega minhas coisas. — Se ficar um pouquinho mais vermelha, irei
chamar uma ambulância para você, porque está me preocupando.
Ainda cai nas merdas dele? Sabe que ele faz isso porque ama te
ver vermelha, né? — Sorrio.
— Por que ainda estamos nisso? Vamos entrar. Também
estou com fome. E talvez eu precise de um energético também. Por
que não posso cursar Direito de uma vez? Me fale, como você e
minha prima amaram Comunicação? Isso é terrível! Eu quase morri
só de lidar com a apresentação do trabalho antes das provas.
Rio e caminho com sua ajuda para dentro de casa.
— E é por isso que escolheu. Vai te ajudar nessa timidez,
bloqueios, pânico a humanos...
— Não tenho pânico de humanos, Kris!
— Sei... Vamos comer, isso sim vai nos dar energia. E
também já estou ansiosa para ouvir tudo que a Vicky tem para
contar dessa primeira vez dela cobrindo algo desse modo!
— Não sei por que, mas prevejo uma enorme tempestade
sobre isso... — fala e sorri.
É, vindo da Vicky, tudo pode acontecer.
— Vai! Vai! Vai! — Ashton grita a plenos pulmões, avaliando
meu treino junto com o meu treinador.
Quando o personal se junta ao treinador, eu me fodo de
muitas maneiras e nenhuma envolvendo altos prazeres.
Estou muito suado, cansado. Desde cedo treinando em Nova
York, no centro de treinamento dos Red Fire. Cheguei de
madrugada em casa, depois dos poucos dias na Califórnia a
trabalho, cumprindo agenda. E já tive treino hoje.
— Chega! — pede, e vou parando aos poucos, antes de sair
do equipamento, e me jogar no chão, sem forças nem para existir.
— Desempenho péssimo. Está mais fadigado que minha avó
que morreu aos 94 anos, Sparks! — Ashton reclama, anotando tudo
na prancheta. — Seus batimentos cardíacos estão subindo em uma
frequência rápida demais, não está conseguindo manter um bom
ritmo. Eu preciso de alguns exames seus, antes da temporada
começar, ou vai morrer na quadra, e não estou brincando. Coma
melhor, e fique sem álcool pelos próximos dias, consegue isso? —
Me encara sério.
— Ele vai conseguir, ou irei meter meu pé no rabo dele, e ele
vai sair da Golden a base do soco, porque essa porra não é
brincadeira! — Malcolm diz firme e me puxa do chão me entregando
água e uma toalha.
Ashton ri balançando a cabeça.
— Vou avisar sobre seus exames. Preciso deles! — avisa se
afastando e assinto, bebendo a água aos poucos, conforme enxugo
meu rosto.
Meu treinador me olha, leva as mãos ao bolso da calça de
moletom justa e balança a cabeça negativamente.
— Se matando, idiota?! Achei que tivesse lhe dito muitas
vezes para pegar leve nas suas merdas. Estamos a porta dos jogos,
acha que consegue sobreviver meses jogando? Porque, assistindo
seu treino hoje, está um lixo! — Ele nunca foi muito delicado nas
palavras.
— Vou melhorar! — me limito em dizer.
— Me disse isso meses atrás, no ano passado... Que
exemplo quer dar as pessoas? É o capitão do time também, e como
vou confiar em você liderando em quadra, se mal consegue
sobreviver a um treino básico! — Aponta o painel com o treino do
dia. — Básico, Tyron! Era a porra de um treino praticamente para
iniciantes da Golden, cacete!
Me sento no banco ao lado e respiro fundo, vendo a tela do
meu celular acender com uma ligação, mas não quero lidar com isso
ainda.
— Eu vou me cuidar, não vou foder minha vida na Golden, eu
sei o quanto custo nisso aqui, não precisa me lembrar, se é nisso
que quer chegar, treinador!
— Acha que me importo com a porra do seu preço? Eu me
importo com o cara que confiei desde que entrou aqui, e vi virar um
astro do basquete rapidamente. Tem vinte e oito anos, os tempos
joviais não duram para sempre, uma hora a idade avançada chega,
e é assim que quer se lembrar dos seus melhores momentos,
quando os jogou no lixo, porque sua cabeça anda uma merda e tem
fodido sua vida? Anos treinando você, Sparks, não me faça
arrepender de ter dado tudo de mim em cima do seu potencial!
Malcolm cospe as palavras e se afasta. Ele carrega esse time
nas costas desde que entrei, começamos juntos isso aqui, e ele é
um dos melhores treinadores, foi premiado três vezes seguidas com
isso. Tem 35 anos e é foda no que faz, não mede esforços para
levar alguém ao topo, mas também sei que não terá qualquer volta
se ele desistir de mim.
Pego minhas coisas e sigo para o vestiário, para tomar um
banho e ir para casa.

Saio do vestiário com minha mochila e celular em mãos, mas


não consigo sair daqui sem ser notado, porque esbarro no gerente
geral do time, Jimmy Cornell, e o velho adora falar.
— E consegui encontrar meu astro! Precisamos conversar,
garoto! Muita coisa tem saído na mídia e os caras de terno não têm
gostado disso... Eu sou um deles! — ri com ironia e respiro fundo.
— Minha cota de broncas foi batida hoje, Sr. Cornell — Ele
respira fundo e noto que os botões da camisa lutam por sua
sobrevivência, e acredito que o paletó não feche. Se ele continuar
comendo hamburgueres desse jeito, vai se matar primeiro que eu.
— Relaxa, hoje não lhe darei broncas. Quero falar sobre a
nossa jornalista da Sport Universe, que estará presente nos jogos e
nos nossos bastidores. — Só pode ser piada. Ajeito a mochila no
ombro. — Existem regras e tudo que eles já sabem, muitos limites,
mas precisamos que vocês peguem leve, evitem dores de cabeça,
porque, se essa jornalista vazar alguma merda, estamos ferrados.
Consegue fazer o time ter controle sobre isso?
— Quer que eu seja babá de um bando de homem adulto? —
Ergo a sobrancelha e ele concorda como se isso fosse um pedido
fácil. — Eles sabem se cuidar. Já tenho muita coisa na cabeça, não
ficarei responsável também pelo que essa garota vai ou não
escrever!
Ele suspira.
— Imaginei que diria isso. Mas, por favor, é um pedido de um
velho amigo, Sparks.
Somos amigos? Desde quando? Até poucos dias falava
sobre eu cair fora se continuasse dando trabalho.
— Eu preciso ir, Sr. Cornell. Com licença. — Passo por ele.
— Sparks, pense nisso! — grita e faço um gesto qualquer
com a mão me afastando o quanto antes, para ele não prolongar
isso aqui.

Estou no apartamento em Manhattan. Meus pais não estão


nele, possuem uma casa aqui perto, e acaba que fico mais tempo
sozinho aqui, e isso é perfeito. Nos últimos dias tenho tentado
manter a cabeça longe do passado, tentando ao extremo controlar a
vontade de ligar o foda-se e sair, beber, transar, qualquer merda que
anula o que esses dias significam para mim, desde que perdi meu
irmão. E evitar meus pais é uma das coisas importantes a se fazer,
porque eles conseguem de alguma forma foder ainda mais tudo
isso. Eu os amo, mas existem coisas demais para lidar, e eles
acabam piorando tudo.
Pedi uma comida, não tem nada aqui, fiquei dias longe. Estou
esperando chegar, enquanto estou na sacada, observando toda
Nova York, seus prédios, seu pouco verde e toda sua
movimentação. Oliver me mandou mensagens, respondi
rapidamente, sem estender o assunto, não estou com muita cabeça
hoje.
Na terapia aprendi a respeitar meus limites, e quando não
estou bem, não estou com cabeça para lidar com ninguém, não me
forço, porque eu sei que isso tira o pior de mim, e é exatamente
onde busco pelas merdas que me acalmam e, provavelmente, já fui
uma vergonha imensa ao meu irmão em vida, não preciso piorar
ainda mais essa merda agora.
O barulho da fechadura eletrônica me faz xingar baixinho.
— Trouxe sua encomenda, garoto! — A voz do meu pai
alcança meus ouvidos e fecho os olhos por alguns segundos.
Droga!
Seus passos se aproximam, e não demora para o homem
alto assim como eu, estar ao meu lado, vestindo um de seus ternos
caros, e com aparência cansada, que vem piorando a cada novo
caso que pega como advogado.
— Valeu! — agradeço e ele me encara, sinto seus olhos em
mim.
— Não deixarei sua mãe sonhar que chegou em casa sem
avisá-la, porque ela está preocupada, já que não tem feito contato
há dias, desde que sumiu para a Califórnia e não atende nossas
ligações.
— Devo agradecer? — questiono e ele suspira.
— Só estamos preocupados. E sabe o quanto ela sente com
tudo, ainda mais com o que esses dias de maio significam para
todos nós.
— Não quero falar sobre isso, pai! Se o veio aqui para...
— Calma. Não entre em defensiva. Eu passei aqui porque
seu treinador entrou em contato comigo. Estão preocupados, e eu
também. Os jogos estão chegando, e com as férias de verão a
caminho, as pessoas ficam mais ligadas em vocês.
Aperto os olhos e me viro para ele, encarando o homem a
qual tenho os mesmos traços.
— Não se preocupe, Sr. William Sparks, o astro de vocês vai
dar o melhor dele na porra da quadra! — Me afasto ouvindo sua
longa respiração profunda.
— Não é isso que eu quis dizer e sabe disso. Pare de ficar na
defensiva, Tyron! Somos seus pais, nos preocupamos, porque
sabemos que tudo que aconteceu te afetou muito. Você perdeu um
irmão, e nós perdemos um filho! Acha justo querer condenar a todos
nós? Acha justo se condenar eternamente?
Não respondo, porque sei que falarei o que não quero, e não
quero machucá-lo.
Caminho até onde ele deixou a comida, em cima da ilha, e
retiro da embalagem.
— Ok... Viu os Reed? Como estão? Tem meses desde que vi
a Karen e Steven, e, claro, o Oliver! Já a pequena Kristal, faz muito
tempo que não a vejo — muda de assunto.
— Vi apenas o Oliver e a irmã dele.
— Ela vai trabalhar nos bastidores do seu time, está em
diversos lugares! Isso é bom. Ela sempre foi uma jovem esperta,
carismática. Quem sabe assim coloca juízo na sua cabeça, estando
mais perto! Deveria se inspirar nela, filho! — Ergo o olhar a ele, que
ri. Sabe que sempre fomos como gato e rato.
— Aquela garota poderia ser tudo, como um tormento na
minha vida, jamais uma inspiração! Ela nem deveria estar nos
bastidores dos Red, porque agora querem que eu seja babá de um
bando de homem, para não fazerem merda que ela possa expor! —
Pego pratos e talheres.
— Olha só, exatamente como somos de você! — Ergue a
sobrancelha para mim e nem perco meu tempo revidando. —
Espero que a trate bem, você tornava a vida dela um inferno quando
éramos vizinhos!
— Eu? Essa garota era uma peste e, pelo visto, continua!
Pai, por que ainda estamos falando dela?
— Porque nunca quer falar de nada, e, pelo menos falando
dela, consigo ver meu filho de novo!
Coloco a comida em meu prato e ele se serve também.
— Preciso reservar espaço, ou sua mãe desconfiará que
jantei sem ela, quando pedi para me esperar!
— Ela vai saber, sujou a roupa. — Aponto, e ele pega o
guardanapo.
— Que merda! Enfim, me fale, como foi o treino hoje?
— O treinador te falou, pai. Não finja que não sabe. — Ele dá
de ombros e sorri.
— Então voltamos a Kristal. Estou feliz, de verdade. Talvez
isso te distraia, filho. Sabe que sua mãe e eu achávamos que ainda
terminariam casados no futuro? Porque se odiavam tanto, que
parecia cena desses filmes bobinhos adolescentes.
Eu realmente não acredito que estou tendo que ouvir essa
merda. Esse dia apenas piora.
— Se eu tiver alguma coisa com a Kristal, acredite, o mundo
vai saber, porque saio do basquete e me interno no manicômio.
Ele gargalha e não entendo a graça nessa porra.
— Eu estou falando sério, pai. Não dá, primeiro que nem
consigo vê-la com outros olhos; além disso, os poucos segundos
perto dela, eu poderia ter terminado preso, porque a vontade de
matá-la era imensa. Agora dá para não falar nisso? Está me
fazendo até perder a fome.
Puxo o banco e me sento.
— Não está mais aqui quem falou! — Sorri de lado. — Amo
esse espaguete ao pesto.
Ótimo, tudo que não preciso para fechar o dia é ficar ouvindo
papo sobre casamento entre mim e a Kristal. Isso nem faz sentido,
inferno!
Eu realmente acreditei que isso seria mais fácil, afinal não
estou indo para outro país, são apenas horas daqui, nada grave,
mas não está sendo. Não quando minha família organizou uma
despedida, quando a família das minhas amigas estão aqui, e
quando minhas amigas estão presentes, sabendo que, a partir de
amanhã, nos veremos quando der, coisa que nos últimos tempos
nunca aconteceu. Aquele papo de cortar o laço para seguir novos
rumos. Só que raramente falam o quanto pode doer.
Parece dramático olhando assim, mas quando se cresce na
bolha familiar, onde faz tudo com a família, encontra amigas que
praticamente moram juntas, e a sua rotina se conecta a dessas
pessoas, romper o laço por um tempo machuca. Estou acostumada
com o Oliver ficando meses longe de casa, eles estão acostumados
também, mas agora é diferente.
Respiro fundo e entorno a bebida em minhas mãos, de
origem duvidosa, já que Vicky me trouxe.
— Meus filhos estão finalmente me dando folga de meses,
juntos, e eu deveria estar animada por finalmente ter paz sem eles
me enlouquecendo, mas estou aqui, preocupada, com o coração na
mão! — minha mãe diz e sorrio de longe, vendo o drama.
— Ainda não aprendeu que mãe é tudo boba? — Michelle, a
mãe da Vicky, fala e elas riem.
Meu pai e o Sr. Landon Foster estão na churrasqueira, diz
eles que sabem o que estão fazendo, mas já vi coisas saindo
queimadas dali.
Oliver está sentado na grama ao meu lado, com uma garrafa
de cerveja em mãos.
— Ela vai chorar por horas, não vai? — ele questiona e
assinto. — Compraram entrada para todos os jogos dos Tigers e
dos Red Fire já confirmados nessa primeira etapa.
— Red Fire? Eles não vão ficar me perseguindo, né? — Ele
me olha de lado e começamos a rir. — Queria estar feliz, mas não
estou com isso.
— Por quê? — Permanece me olhando, e respiro fundo.
— Eu não quero mais ficar sendo marcada como a
princesinha dos Reed. Ou como a irmãzinha do Oliver. Não é nada
contra você, juro. Eu sinto muito orgulho de quem é e de quem eles
são. Mas é como se eu não tivesse identidade. Tudo que faço, as
pessoas pensam que consegui por privilégios, e realmente eles
existem, não sou hipócrita, mas tenho feito de tudo para não
depender deles. Construir meu nome sozinha.
Ele passa o braço ao meu redor e beija o topo da minha
cabeça.
— Você nunca precisou da gente para ser especial, Kristal.
Não dê ouvidos ao que dizem, eles não sabem quem realmente
você é e o quanto é foda!
Sorrio e bebo minha bebida. Queria pensar assim, mas não é
fácil. Nunca seria, já que cresci com o mundo me dizendo quem eu
era, me colocando no lugar que me designaram.
— E os irmãos que amo, vou sentir falta de irritar vocês com
frequência! — Vicky pula nas costas do Oliver, que quase derruba
sua cerveja.
Começo a rir da maluca, que cai sentada ao lado e gargalha.
— Se quebrou a bunda, não irei lamentar! — Oliver diz e ela
mostra o dedo do meio a ele.
Cherry aparece e se senta perto da gente.
— Onde estava? — pergunto, porque ela sumiu por uma hora
mais ou menos. Ela me olha de lado, rindo. — Não vou me
estressar. Se for falar que estava com a cara nos livros logo hoje,
melhor nem dizer!
— Alguém tinha que ser inteligente de vocês três! — meu
irmão provoca e acerto sua cabeça com um tapa.
— Quem te garante que não somos? Meu querido, esse trio
inteiro é completamente inteligente. Saiba disso! — Vicky nos
defende e ele ergue a sobrancelha e bebe sua bebida antes de ser
furtada por ela, que puxa de sua mão.
— Tão lindos juntos, nem parece que tocaram o inferno em
nossas vidas nos últimos meses! — Landon fala e os outros riem.
Não temos qualquer valor nesse lugar. Nem sequer damos
dor de cabeça assim!
— Oliver e Kristal juntos na Golden, esse lugar vai pegar
fogo! — meu pai provoca.
— Amor, isso nem é o problema. Olha o time que ela vai
trabalhar e quem é um dos jogadores dele! — mamãe diz e reviro os
olhos terminando minha bebida. O idiota ao meu lado gargalha.
— Teremos problemas e precisaremos deixar nossos
advogados em alerta!
— Muito engraçado! — falo e eles riem. — Saiba que sei ser
bem profissional, e jamais colocaria isso de lado para socar a cara
de Tyron Sparks. — Sorrio confiante.
Cherry e Vicky me olham desconfiadas. Sério, eu não tenho
ninguém ao meu lado?
— Sabe o que será bom? Não terei que procurar Cherry e
Vicky em duas casas, quando sumirem e não atenderem ao
telefone! — Michelle diz e elas riem.
— Vai ter que procurar em outros lugares, pois a Cherry
prometeu que se eu precisasse iria até a mim, já que entrará em
férias de verão! — falo e ela assente.
— Pronto... Esquece a paz! — papai comenta.
— Já estou procurando as desculpas perfeitas para dar a
Jennifer, para eu precisar estar com a Kristal! — Vicky fala e não
duvido que esteja fazendo isso mesmo.
Continuamos com a minha festinha de despedida,
aguentando os melodramas dos nossos pais, as provocações do
Oliver; a Vicky sendo ameaçada pelos pais, que querem deserdá-la;
e a Cherry sendo a única normal no meio de todos.
Realmente irei sentir falta desses momentos nos próximos
meses.
Estou no meu quarto, terminando de ajeitar tudo na mala.
Não levarei muitas coisas, posso pedir socorro para as meninas, ou
faço um bate-volta bem rapidinho para pegar mais roupas,
exatamente para não ter que ficar carregando muitas malas para
cima e para baixo. Como estaremos na temporada de verão nos três
primeiros meses, isso será bom, as roupas não são do tipo que
ocuparão espaço demais.
Antes de ir para Boston, vou até Nova York, fazer o que meu
coração manda, e só então terei a paz que necessito para seguir
com meu trabalho da melhor maneira. Jennifer já me mandou as
regras do que posso ou não fazer, e de verdade, me admira dizerem
que a vida íntima dos jogadores deve ser mantida em sigilo.
Primeiro, por alguns deles se exibirem ao mundo com muita
frequência, nas farras; e segundo, por que diabos eu iria querer isso
como matéria? Nem faz o meu estilo.
Eu quero falar da vida deles por detrás dos bastidores, sim,
mas com cautela. Mostrando o jogador por trás da bola, o astro por
trás do uniforme.
Escuto barulho na frente de casa e olho com cuidado da
minha janela, que fica para a entrada, conseguindo já forçar o pé
normalmente, ainda bem. Meu irmão está saindo com alguns
colegas de time.
Algo grudou na minha cabeça. Eu e a Vicky não ouvimos
nada no dia que o Tyron esteve aqui, apagamos de verdade, mas
Cherry comentou hoje, que achava que não apenas o Tyron anda
tendo problemas nos bastidores, quando comentamos sobre as
polêmicas dos jogadores, e ela contou que acordou de madrugada e
a janela dela ficava para a nossa piscina e ouviu a discussão entre
os dois. Não entendeu muito bem, mas Oliver parece ter arrumado
problemas, e um jogou na cara do outro as coisas.
Na mídia não tem nada além do comum, saída, mulheres,
festinhas, e ele nunca deu esse tipo de dor de cabeça grave. Mas
para ele e o melhor amigo discutirem aos gritos, e a Cherry se
preocupar, é porque realmente o negócio foi sério e isso me deixou
em alerta.
Puxo a cortina e me afasto da janela, voltando às minhas
coisas e tentando não focar nisso, ao menos por ora.
Batidas no vidro me assustam e puxo a cortina de novo, com
cuidado, soltando um grito em seguida.
— Que porra! — Abro a janela com cuidado não acreditando
na cena. — Que merda está fazendo na árvore?!
— Um jeito diferenciado, vibe filmes. Abre mais a janela,
antes que eu quebre meu corpinho! — Vicky Foster está na árvore
na lateral da minha janela!
Abro e a puxo para dentro, com ela gargalhando. Essa garota
não tem juízo algum!
— Cherry está vindo pela porta.
— Claro, como uma pessoa normal! Vicky, e se você cai?
Meu Deus, cadê seu cérebro? — grito ainda assustada.
Ela segue rindo, conforme se joga na minha cama.
— Para! Fui até que romântica. Nos filmes os caras não
fazem isso?
— Sim, Vicky, nos filmes! Disse tudo! Aqui não é filme, e se
você caísse não teria preparo algum para evitar que quebrasse o
crânio! — Jogo uma almofada na cara dela, que segura rindo mais.
— Nada romântica, Kristal Reed. Nada romântica! E depois a
sem romance sou eu! — Me joga beijos.
A porta do meu quarto se abre, Cherry, pela cara, está
furiosa.
— Não vou falar nada. Eu prometi que não vou me irritar.
Kristal, pelo amor de Deus, não me deixa sozinha com ela! — Nossa
mascotezinha se joga na poltrona e joga a cabeça para trás.
É a minha vez de rir. Porque é impossível que a vida jurou
que juntar uma louca e desequilibrada, junto de uma sensata e
tímida, daria certo. Elas são completamente o oposto.
— Eu vou sentir saudade de vocês, malucas! Mas sério,
Vicky, está amassando minhas coisas! — Puxo-a, ou ao menos
tento, porque ela nem se move.
— Noite das meninas, a última até você ter folga, ou a gente
ter. Não reclama. Eu peço pizza e vocês cuidem de organizar o
resto! — ela diz.
— Ainda cabe comida em você depois de tudo que comeu de
tarde? — Cherry questiona e eu concordo com a pergunta.
— Sempre cabe. — A morena pisca.
Balanço a cabeça, desistindo de terminar de ajeitar minhas
coisas. Ela não vai me dar paz mesmo. Me jogo do outro lado da
cama, e aguardo a maluca fazer os pedidos, antes que talvez escale
meu teto na ideia de ainda se inspirar em filmes.
Corro pela ponte do Brooklyn, sentindo o ar fresco da manhã.
O local não está cheio como costuma estar pelos turistas, ainda
mais sendo sexta-feira, provavelmente pelo horário. Amanhã terá
abertura dos jogos, e os Red Fire jogam no domingo contra quem
ganhar amanhã. Na Golden, os jogos funcionam de um jeito
simples: na primeira fase, acumulamos pontos; na segunda,
começam as eliminatórias, até chegar ao final com os dois times e
ver quem será o melhor.
Amanhã os Tigers jogam com os Brave, sendo os Tigers já
com lugar garantido amanhã, por ter sido vencedor da última
temporada, e os Brave por ter sido o time sorteado para esse
primeiro jogo.
Eu particularmente não gosto do primeiro jogo,
independentemente de quem seja o vencedor, porque não sei o que
esperar, quais surpresas os times têm para essa temporada. É tudo
muito vago.
A partir de agora não temos mais treinos pesados, somente
nas pequenas pausas. Apenas treinos leves, para evitar lesões, ou
cansaços desnecessários. E por isso vim apenas correr um pouco,
esvaziar a mente o máximo que eu puder. E aqui é um lugar que
gosto de fazer isso, porque já corri muito aqui com ele...
Ajeito o capuz na minha cabeça e tento esvaziar a mente.
Durante as férias, fiz muita merda, dei a imprensa motivos ótimos de
primeira capa, e sei que não posso continuar seguindo por esse
caminho, ou as consequências serão piores, e mesmo que tudo isso
tenha sido motivo para o que aconteceu, eu não posso perder a
Golden, porque é a única coisa que realmente me restou.
Os fones em meu ouvido tocam alto a música, meu coração
está acelerado, como se seguisse o ritmo das batidas da canção,
mas é a adrenalina me consumindo.
Desvio de algumas pessoas — as poucas presentes —, mas
um azar absurdo entra em meu caminho, fazendo meu corpo colidir
com alguém, que vai diretamente ao chão.
Paro a música e olho para a pessoa.
— Qual o seu problema?! — Ouço a voz irritante, o olhar
insuportável... Caralho.
— Que porra está fazendo aqui, Kristal?! — Tento ajudá-la,
mas ela se levanta sem precisar de mim, pegando sua bolsa.
— Não é da sua conta. Porra, Tyron, sério que não me viu?!
— resmunga se ajeitando e só consigo pensar que estou pagando
todos os pecados que cometi na minha vida, porque isso aqui não é
normal.
A loira ajeita o cabelo, enquanto as pessoas passam ao
nosso lado como se fôssemos invisíveis.
— Eu estava correndo, não é como se eu fosse prever que
alguém surgiria na minha frente do nada. Aqui passam até
bicicletas, e você andando calma desse jeito, ficou louca? —
reclamo irritado e ela revira os olhos. — Ok... Desculpe por te
derrubar, mas não aconteceria se estivesse atenta! — Tiro o capuz e
guardo os fones no bolso da minha calça preta.
— Ok. Eu também deveria ter prestado mais atenção. — Só
agora noto que seu rosto está vermelho, seus olhos inchados.
Kristal estava chorando. — Eu já estava indo de qualquer forma.
Nos vemos por aí.
Ela se afasta e fico olhando sem entender nada do que foi
isso. Kristal nunca assumiria parte de qualquer culpa relacionada a
mim, e jamais sairia cabisbaixa. Se puder tornar minha vida um
inferno, essa garota torna. Alguma coisa aconteceu.
Pego o celular no bolso e envio uma mensagem ao Oliver,
perguntando se está tudo bem. Se for algo com a família Reed, ele
vai falar.
Encosto na lateral da ponte e olho a vista do alto. Esse lugar
sempre me acalma, me faz sentir como se o Philip ainda fosse
presente e tudo o que aconteceu foi pesadelo, mas então saio
daqui, volto para casa e a realidade mostra o quão dura é.
Uma mão toca meu braço, e viro-me. É ela... novamente.
— Pode me ajudar a chamar um táxi? Não consigo um... —
Sua voz é chorosa, e não sei se rio, ou tento entender o que diabos
está havendo. — Seja um cavalheiro e coloque a educação que
seus pais te deram para funcionar, Sparks.
— Te ajudo, garota...
— Mas? — Ergue a sobrancelha. — Qual é, você sempre
quer tirar algo de mim em qualquer favor, desde sempre.
Desembucha!
Sorrio de lado.
— Vai me falar que merda aconteceu e por que estava
chorando... Ainda está chorando. — Trinco o maxilar, ficando sério.
Ela enxuga o rosto e revira os olhos. Mesmo com a
maquiagem borrada e o rosto avermelhado continua bonita. Uma
pena ser tão irritante.
— Não sabia que fofoqueiro fazia parte do seu currículo de
babaca nova-iorquino.
Começo a andar, com as mãos no bolso da blusa de
moletom.
— Se quiser um táxi, precisará me acompanhar, princesinha
Reed.
— Pare de me chamar assim. A imprensa é escrota com isso
e você está só piorando tudo! — Ela começa a me seguir e sei disso
pela reclamação: — Dá para esperar? Um passo seu são dez meu!
Diminuo as passadas, para evitar romper as proteções
laterais e jogar essa garota daqui de cima.
— O que está havendo, Kristal, o que está fazendo em Nova
York? Errou o caminho para Boston?
Ela respira fundo ao meu lado, e dá de ombros.
— Vim resolver uma coisa. E o choro é apenas ansiedade por
tudo que está para acontecer.
Mentirosa! Uma perfeita mentirosa. Kristal Reed mente muito
mal. Mas como sei que não vai falar, não insisto, também estou
cansado e tenho uma reunião com o meu empresário e a turma do
time.
— Meu trabalho já está valendo a partir de hoje, não em cem
por cento, mas você pode ser o primeiro a responder algumas
perguntinhas, e posso acompanhar seu dia... — começa a tagarelar
e paro abruptamente.
— Pode parar! Minha vida, minhas regras; e nela não inclui
uma pequena jornalista intrometida. Eu vou te colocar em um táxi e
vamos fingir que não teremos que lidar um com o outro por meses.
E se eu sonhar que está tentando coletar coisas além do que deve,
vai conhecer um Tyron que não vai gostar, Kristal. Fui claro? — falo
firme, encarando seu rostinho infernal.
Ela começa a rir e acredito que devo ser um idiota para essa
menina.
— Que fofo, tentando ser sério? Deixa-me te contar uma
coisinha... Meu trabalho exige que eu fique na cola de vocês, que eu
dê ao público os bastidores que ninguém viu. Então eu vou sim
grudar em vocês como um carrapato, quer você queira ou não. Se
estiver desconfortável com isso, reclame com o seu time. Eu sei os
limites, e não vou além deles, porque sou profissional o suficiente
para isso. Então cuida da bola na quadra, que do jornalismo eu sei
cuidar. Fui clara? — Me olha firme, com o nariz arrebitado e o olhar
sarcástico. Eu odeio esse olhar.
Balanço a cabeça sem responder. Porque todas as respostas
que daria a ela, faria eu ser classificado como um filho da puta muito
escroto.
Se essa garota me irritar, eu jogo-a de ponta-cabeça na porra
da cesta!
Fecho a mala para ir a Boston. A reunião foi rápida e não
tomou o tempo além do necessário. Como sempre, as mesmas
coisas: sem causar problemas, foco no jogo e essas coisas. Os
exames que fiz ontem a pedido do personal saíram hoje, devido ao
pedido urgente, e algumas coisas estão baixas e outras altas.
Colocaram mais suplementos, e uma pequena alteração na minha
dieta.
Enquanto minha cabeça estiver no jogo, eu acredito que
posso ficar fora de problemas. Minha psicóloga tem feito um bom
trabalho, mas muitos altos e baixos acontecem, e são esses picos
de alterações de humor que preciso aprender a lidar melhor, antes
que eu jogue fora as pequenas evoluções que tive, se é que elas
realmente são válidas, já nem sei mais.
— Vai comer algo antes de ir? Quase não comeu hoje, filho
— minha mãe fala. Uma mulher de cabelos escuros como os meus,
olhos castanhos e uma beleza extraordinária.
— Não deveria estar no escritório com o seu cliente? —
rebato com outra pergunta e ela sorri, se sentando na beirada da
minha cama.
Ela observa minha mala e meus movimentos indo pegar a
carteira na mesa. Irei em um voo particular, no jatinho dos Red Fire.
Não chegará a uma hora de viagem até Boston, por não ser voo
comercial.
— Deveria, pois é uma emergência e não existe horários e
dias para elas, infelizmente. Mas precisava vir ver como estava, mal
nos vimos nos últimos dias. Sinto saudade, filho. — Me aproximo
dela, coloco a carteira no bolso e deixo um beijo em sua testa.
— Mãe, sem dramas, ok? Eu preciso ir, tudo bem? —
questiono e ela assente chorosa.
Se levanta e me inclino para abraçá-la.
— Promete que não vai fugir das minhas ligações
novamente? — Assinto apenas, e ela suspira. — Se cuida. Uma
ótima temporada. Qualquer coisa que precisar, basta me ligar e vou
correndo onde estiver.
Concordo e beijo seu rosto nos afastando.
— Mãe, sem ligar para o treinador me procurando! — Ela me
olha com um sorrisinho. — Estou falando sério!
— Não preciso ligar só para ele. Agora que eu sei que a
Kristal estará lá também, ela poderá ser minha fonte de
informações, para quando você sumir e nos deixar ter notícias
apenas pela mídia!
Porra, isso é castigo!
— Esquece isso. Aquela garota não tem que se intrometer
em nada, e nem a senhora tem que ficar dando motivos para ela ser
mais enxerida. Entendeu? Mãe?
Ela ergue as mãos e assente.
— Entendi. Mas não significa que farei! — diz e tenho certeza
de que não me ouviu em nada.
— Eu preciso ir agora.
— Amo você, meu lindo. Se cuida... Por favor — pede e
concordo.
— Te amo. — Deixo mais um beijo em seu rosto e pego
minhas coisas para sair antes que ela me impeça.
Subo as escadarias do jatinho, aguentando o Alfred, camisa
29 e pivô, falando merda atrás de mim. A cada dez palavras dele,
nove eu tenho vontade de socá-lo.
— Alf, cale a boca! — reclamo e ele ri.
Estaco na entrada, com o idiota batendo nas minhas costas e
me xingando. Zion, Tanner e Killian, normalmente nós, os cinco
titulares, embarcamos juntos, todos somos de Nova York e acaba
que sempre saímos daqui para a cidade onde começará a
temporada. Mas o que me chama atenção é a loira de cabelos
longos, boné, fones de ouvido e um caderno em mãos, sentada aos
fundos, do lado direito.
— Dá para dizer por que empacou, mula? — Alf questiona
atrás de mim e me empurra para o lado. Os outros três nos olham e
riem. — Nossa, então teremos companhia mesmo nessa
temporada. Só poderiam ter me preparado melhor... A irmã do Oliver
Reed é gata!
Reviro os olhos e empurro o idiota, que cai no assento ao
lado.
Passo pelos outros idiotas, que prendem o riso, porque ela
está sentada onde normalmente sempre me sento, sempre usamos
esse jatinho durante a temporada de basquete, já demarcamos
nossos lugares. A peste perseguidora ergue os olhos e retira os
fones, colocando ao redor do pescoço.
— Sentiu minha falta, Sparks? — Ergue a sobrancelha, e,
juro, consigo visualizar perfeitamente eu a jogando para fora desse
voo.
— O que está fazendo aqui? — Coloco a mala de mão na
parte de cima; a outra, a equipe já tomou conta.
— Segundo ela, ordens do time! — Zion, um dos alas,
responde. O idiota de cabelo preso em coque samurai, e todo
tatuado, balança as sobrancelhas de modo divertido. — Eu gostei.
Cansei de conviver apenas com um bando de homens. Minha
masculinidade sofre assim! — Pisca para ela, que revira os olhos.
— Senta o rabo, Tyron. Para irmos logo! — Killian me
empurra para o assento ao lado. O lugar que não é o meu!
— Digamos que o capitão aqui não me suporta e o
sentimento é recíproco, que fique claro — a loira irritante fala e eles
fazem uma careta se virando para a frente.
Imbecis!
Ela torna a colocar os fones por cima do boné preto e pisca
para mim, antes de voltar atenção ao maldito caderno, que deve
estar anotando cada merda sobre nós.
Respiro fundo, porque não vou dar a ela o que sempre
conseguiu no passado: minha paciência indo embora. Tenho vinte e
oito anos, não vou cair nas provocações dessa garota, não sou mais
um adolescente, porra!
Se controla, Tyron!
Ela morde o canto da boca coberta pelo gloss sutil,
concentrada no que faz, e espero que se mantenha assim, cuidando
do que quer que seja, e ficando longe de mim o máximo possível.
Caminho de um lado para o outro no quarto de hotel, sentindo
minha alma sair do corpo, enquanto tento falar com as meninas,
com um padre, um pastor, qualquer coisa, mas parece que todo
mundo resolveu ficar incomunicável nesse momento.
Jennifer acaba de me informar que as atualizações do time
devem acontecer uma vez por semana no site do jornal. Eu achei
que seria apenas a matéria no final da temporada, não que, além
dela, eu teria que toda semana entreter a todos com conteúdo. Terei
que pensar na matéria final e no que postarei durante a semana
sem que isso se torne chato, repetitivo para o público.
Meu Deus!
Tropeço na minha mala e respiro fundo, jogando o celular na
cama. O idiota do Oliver já chegou, mas nem mesmo ele me atende.
Eu preciso desabafar, respirar, surtar, qualquer coisa.
E se eu não der conta de fazer isso? Estou ferrada!
Ligo novamente para a Jennifer, para tentar negociar isso,
mas ela também não atende mais. Esse final de semana tem jogos
no TD Garden, para nós jornalistas, é claro que a comunicação fica
mais difícil, e é óbvio que a minha chefe não iria me atender quando
eu bem entendesse.
— Você se ferrou, Kristal Reed!
Respiro fundo e me jogo na cama.

Caminho pelo hotel, parte dele foi totalmente fechado aos


jogadores da Golden. Depois do meu surto, precisei de um banho
para me acalmar e agora estou observando as pessoas. Sempre
gostei de observar as coisas ao meu redor quando preciso
espairecer. Isso me ajuda muito de certo modo. Larguei o celular no
quarto, para não ficar pensando em trabalho por alguns minutos ao
menos.
Paro perto de uma salinha aberta do hotel, tem diversas
pessoas e alguns rostos eu conheço, são grandões do basquete.
— Muita gente começará a ser cortada da próxima
temporada. Dores de cabeça não estão na minha programação do
ano que vem mais — diz Zachary Rice, presidente e dono da
Golden.
Franzo o cenho, ouvindo as informações, que dariam uma
matéria incrível, mas não faço esse estilo de jornalista.
— A peneira desse ano está fraca, comparada com as
anteriores, acha mesmo viável ficar eliminando os jogadores assim?
— Jimmy Cornell, gerente geral dos Red Fire, rebate o velho, que
sempre carregou fama de poucos amigos.
— Aí é um problema dos times. Vocês os possuem,
praticamente compram os jogadores, mas nós o mantemos aqui.
Eles trabalham para vocês, mas vocês trabalham para nós. Essa é a
pirâmide, Cornell.
Os demais ficam em silêncio e eu fico boquiaberta com a
frieza desse homem.
— Dando uma de fofoqueira, Reed? — A voz que sopra em
meu ouvido me faz sobressaltar.
Olho para o infeliz, que me encara, e em seguida observa os
homens conversando.
— Quase me mata do coração, Tyron! Não tem nada para
fazer, não? — questiono baixo e ele nega.
Me puxa para trás quando os homens olham, quase nos
pegando no pulo.
Caminho para fora dali, com ele ao meu lado. Cruzo os
braços ao caminhar, ficando pensativa.
— Eles querem cortar jogadores assim do nada? Você sabia
disso? — questiono e ele assente. — E eles podem fazer isso
assim, sem mais e nem menos?
— Eles podem tudo, Kristal. Não se envolva com esses
caras, ok? Mantenha sua curiosidade longe dali, antes que se
prejudique. Não diga que não avisei!
Olho para ele e me dou conta apenas agora, nesse instante,
o quanto seus olhos são lindos, clareiam e escurecem conforme a
luz. Por que nunca notei que seu olhar é tão penetrante assim?
— O que foi?! — questiona, me encarando como se eu fosse
maluca, o que acho que estou ficando.
— Tem olhos bonitos! Alguma coisa em você tinha que ser
bonita, quero dizer... — pigarreio, me dando conta da merda que
acabo de falar. — Vamos fingir que isso não aconteceu, certo? —
Faço um gesto com a mão.
— Eu sempre finjo que suas maluquices não acontecem, é
um jeito perfeito de não querer te matar. — Sorri com deboche.
Faço uma careta para o idiota, desviando do seu olhar. Que
inferno, agora quero ficar olhando. Ele respira fundo e começa a se
distanciar.
— Tyron? — Ele para e aperto o passo para me aproximar
dele de novo.
— O que foi agora? — Sua voz de preguiça me dá uma
vontade imensa de socar sua cara.
— Acha que meu irmão pode estar nessa lista de limpa? —
Engulo em seco e ele me olha. — Não finja que não sabe. A Cherry
escutou vocês. Está acontecendo algo, não está? Ele anda
aprontando, certo? Isso o afetaria... — Ele desvia o olhar ao levar as
mãos ao bolso da blusa vermelha de moletom dos Red. — Não
minta, Tyron. Se você pode me chamar de irritante, pode ser
sincero. Por favor — peço preocupada.
— Não. Seu irmão não está fazendo nada grave, ele só está
meio que se perdendo na fama. A pessoa mais cotada nessa lista
sou eu, Kristal, não se preocupe.
Franzo o cenho. Sei que ele tem tido alguns deslizes, mas
cortarem ele assim? Tyron vale muita grana para a Golden e para o
seu time. E droga, ele é bom no que faz, muito bom. Assisto aos
jogos, e acompanhei o início de tudo... Não... Ele joga melhor que
meu irmão, e até o Oliver assume isso. Ele não pode perder isso
também, o basquete e seu irmão eram tudo para ele. Seria
desumano demais, por causa de deslizes ligados à sua dor, se ele
perdesse a Golden também. Podemos não nos suportar totalmente,
mas nunca o odiei e nunca desejaria o pior a ele.
— Desfaz essa cara de pena, Reed! — avisa, com a voz mais
grave, e desvio o olhar.
Ele se afasta, deixando o rastro do seu perfume gostoso e
me deixando pensativa no quanto será difícil nossa convivência.
Basta segundos para alguém de nós dois pisar em falso e irritar um
ao outro.

Amanhã tem jogo dos Tigers e domingo dos Red Fire, meu
trabalho começa em cem por cento amanhã, e já estou ficando
louca um dia antes. Olha, da próxima vez que surgir uma
oportunidade assim, eu me amarro na cama para não ter que lidar
com isso tão cedo.
Como minha comida no hotel mesmo, enquanto leio diversos
jornais, estudando bastante como posso trabalhar nisso tudo.
O loiro que se aproxima, e se senta puxando a cadeira, me
faz encará-lo querendo furar seus olhos.
— Lembrou que sua irmã poderia estar em perigo, imbecil?
— questiono e ele ri. Oliver é um traíra.
— Está corrido, Kris. Mas vi que está ótima e de péssimo
humor. O que houve?
Largo o celular e afasto o prato, suspirando, preocupada
novamente.
— Minha chefe me avisou hoje que toda semana preciso
liberar uma matéria. Eu achei que seria apenas uma única matéria
sobre tudo, e não é, Oliver! Eu preciso ter criatividade extrema para
não tornar tudo cansativo ao público. Além disso, o pouco que vi,
não tem nada de interessante acontecendo, ou são coisas que
fogem dos limites declarados a mim. — Faço uma careta. — Isso vai
ser péssimo. Eu nunca deveria ter participado disso!
Ele segura minha mão sobre a mesa e acaricia.
— Para com isso. Você é incrível. Vai fazer o melhor, como
sempre fez. Só está nervosa, são os primeiros dias. Respira fundo,
vai dar tudo certo — diz com carinho e sorrio. Larga minha mão e
rouba a batatinha do meu prato. — E se quer conteúdo, cole nos
jogadores, se infiltre nos bastidores. Use muito bem a área livre que
te deram.
— E isso significa... — tenho até medo de terminar essa
frase.
— Que se quer estar por dentro de tudo, e ter inspiração, vai
ter que andar com quem todos respeitam, e que tem livre acesso a
tudo no time, e informações que de outros não teria intimidade
suficiente ou passaria confiança para que se abrissem com você.
Faço uma cara de choro e desespero.
— Oliver... Tudo menos isso...
Ele sorri e assente.
— Quer uma matéria foda? Então cole no capitão dos Red
Fire. Seja o carrapato irritante que sempre foi ao Tyron Sparks. —
Ele se levanta e pisca para mim. — Seu irmão aqui sabe o que diz.
Seja esperta, linda. — Me sopra um beijo e se afasta.
Eu odeio quando ele tem razão!
Levo uma batata frita à boca e ela desce rasgando tudo, de
tão fechada que minha garganta parece se tornar.
Isso nunca vai dar certo. Tyron e eu colados significa o
mundo prestes a explodir, é como um meteoro imenso prestes a se
chocar com a Terra e acabar com tudo.
Segundos para eu querer matá-lo.
Segundos para ele querer me matar.
Segundos para tudo isso pegar fogo.
Segundos para um dos dois pedir para sair.
Claro que eu viria assistir ao jogo dos Tigers contra os Brave,
gosto de observar o pouco que eles apresentam nesse primeiro
jogo. Não revelam muito, seria burrice, mas o que eu puder pegar
como dica, farei.
Os outros titulares preferiram não vir, optaram por descansar
bem para o nosso jogo de amanhã. Os Brave são um time novo
perto dos outros, surgiram no Texas, e tem tido grande destaque
nos últimos três anos. Já os Tigers assim como os Red Fire, são
mais antigos na Golden, um dos primeiros times a surgir nela.
Entro no elevador para ir direto ao estacionamento onde um
carro me espera para levar ao jogo, mas seguro a porta quando
gritam para esperar. Fecho os olhos por um instante, reconhecendo
perfeitamente a voz.
A loira ofegante força um sorriso e passa para dentro do
elevador. Está toda arrumada. Solto a porta do elevador e aperto o
botão, enquanto as portas se fecham, noto que Kristal não aperta
nenhum botão, e seria coincidência demais estar indo para o
estacionamento também.
Ela fica em silêncio e, quando Kristal Reed está calada, é
porque tem merda vindo. Assim que as portas se abrem, saio
enquanto escuto os passinhos atrás de mim, ecoando pelo
estacionamento.
— Está me seguindo, garota? — indago parando de uma vez
e sinto seu corpo se chocar às minhas costas.
— Porra... Avisa quando for parar! E claro que não estou te
seguindo... Eu só... — Me viro para ela, que esfrega a testa. — Ok...
Talvez eu esteja... Vai ao jogo, né? Encontrei com o Zion e ele disse
que você iria.
Respiro fundo e encaro seu rosto, as bochechas rosadas, a
pouca maquiagem, os lábios cheios, desenhados como os de uma
boneca e rosados pelo gloss, e o olhos verdes piscando curiosos.
Kristal nunca foi feia, mas a vida foi ainda mais gentil com ela,
realçando ainda mais sua beleza, seus traços delicados.
Pigarreio jogando esses pensamentos idiotas para longe.
— Vou. E não, você não vai ficar me seguindo, Reed! —
aviso e ela sorri e eu odeio quando ela me dá esses sorrisos
irônicos.
— Tudo bem, Sparks! — Pisca e se afasta animadinha
demais.
Ela está aceitando isso na boa? Porra, eu devo estar ficando
louco, só pode!
A loira sai cantarolando, me dando uma bela visão do quanto
sua bunda é empinada, ainda mais nessa calça preta e bem justa. A
cintura muito fina, marcada pela blusa de mangas longa e vermelha.
Ela segue lentamente pela saída do estacionamento e algo me diz
que estou fodido, porque ela vai aprontar.
Oliver vai ter que me perdoar, mas eu vou esganar a irmã
dele ainda.
Depois de anos, ter que voltar a conviver com ela é castigo
de alguma forma. Kristal era uma criança irritante e uma
adolescente insuportável. O que ela pudesse fazer para me irritar,
fazia. Os únicos momentos de paz eram quando ela dormia, ou
sentia medo das tempestades, pois colocava suas travessuras de
lado e ficava quieta.
Franzo o cenho.
Será que ela ainda possui o pavor das tempestades? Me
lembro de como ficava, era um pouco preocupante. Lembro-me dos
Reed levarem ela para tratar disso, e passava, até voltar
novamente. Seus pais diziam que tudo começou quando, aos dois
anos, ela ficou presa dentro da academia na casa que eles estavam
de férias no Texas, era toda de vidro, e teve uma forte tempestade
naquele dia, demoraram a encontrar e, quando fizeram, ela estava
em choque.
Quando seu medo vinha e seus pais não estavam por perto,
era o único momento que realmente nos dávamos bem, porque eu
parava tudo para cuidar dela se estivesse por perto, principalmente
quando Oliver deveria ficar de babá por algumas horas, e ele fugia
para jogar com os colegas nas quadras perto de onde morávamos,
e eu era a babá que ele pedia ajuda; por falar nisso, ele me deve
muita grana, pois sempre dizia que iria me pagar e nunca pagou. Se
eu for colocar os juros, Oliver está fodido.
Nem seus pais e nem os meus sabem disso, éramos
vizinhos. Quando os Reed tinham algum compromisso de última
hora, os irmãos odiavam babás, e meus pais sempre iam lá ver
como estavam as coisas, uma família ajudava a outra, Oliver, por
ser o mais velho e já prestes a entrar na adolescência, quem
imaginária que o idiota fugiria e a deixaria sob meus cuidados?
Ninguém acreditaria, porque na certa nos mataríamos. Só que o
mais surpreendente é que não acontecia, ficávamos quietos, ou ela
sempre dormia, e quando as tempestades surgiam nesse período,
eu cuidava dela, e talvez ela nem se lembre disso.
— Porra, por que estou me lembrando disso agora? —
Balanço a cabeça e sigo para onde o carro me aguarda.

O TD Garden está lotado, diversos famosos estão presentes


também. O jogo promete ser bem agitado, porque não tem como
não ser. Dois times que têm batido muito de frente nos últimos anos
e não fariam diferente agora. Não vi o Oliver, e nem posso me meter
nos bastidores, não com um jogo amanhã, preciso respeitar as
regras da Golden, e elas são claras sobre isso: durante a temporada
da World Golden Jump, quando jogadores de times rivais estão
assistindo aos jogos, só podemos entrar nos bastidores após o jogo,
assim como ter contato com os jogadores em quadra, o que nunca é
respeitado, pois é impossível.
Estou sentado na área restrita a convidados, e VIP. Ao meu
lado alguns famosos me cumprimentam, como cantores e jogadores
de outros esportes, e de outros times da Golden. Aceno para eles
sutilmente e me curvo sobre as minhas pernas, apoiando o cotovelo
nelas e brincando com pulseira em meu pulso, enquanto espero o
jogo finalmente começar.
Músicas tocam e os mascotes dos dois times agitam a torcida
com suas danças e brincadeiras. Tigre azul e preto dos Tigers, e o
urso fortão dos Brave. Os Red Fire não possuem, o humor do dono
do time não permitiria tal coisa.
— Com licença... Desculpa... Tô passando...
Não... Mil vezes não!
Kristal Reed se senta ao meu lado, jogando a bolsa entre
nós, segurando uma maldita pipoca e um olhar debochado olhando
a quadra, porque sabe que a encaro de lado.
— Você só pode estar de brincadeira comigo... Está me
provocando, não está? Claro que está! — digo entredentes e ela me
olha, finalmente.
— Nossa, que coincidência. Nem percebi que era você ao
meu lado, Sparks. Que honra estar ao lado de um astro do basquete
para assistir a um jogo. Se tornou até irônico, não é? — Sua voz fica
irônica em uma escala altíssima.
Ergo a sobrancelha e ela sorri.
— Kristal, que porra você quer? Não está suficiente ficar
vigiando o time para criar o inferno que for para o jornal em que
trabalha? — questiono e ela suspira, levando uma pipoca à boca.
— Estou trabalhando. Acompanhando tudo. Você disse que
eu não iria vir com você, e eu não vim. Vim sozinha. — Pisca para
mim e estende o pacote pequeno de pipoca. — Aceita uma pipoca?
— Prende o cantinho da boca, segurando o riso diabólico que quer
soltar.
Desvio o olhar, controlando todos os xingamentos que
querem sair da minha boca.
Faltam uns vinte minutos para o jogo começar, e a loira
segue mastigando sua pipoca, e observando tudo ao redor. Alguns
convidados se aproximam com os filhos e pedem fotos para mim e
autógrafos, e dou a eles, sob o olhar constante da garota irritante.
Como Philip a suportava? Ele era só uma criança, amava
todo mundo, não tem como julgar, mas ainda assim...
Volto a me ajeitar no meu lugar, e ela joga o agora pacote
vazio de pipoca, dentro da bolsa dela e ajeita os cabelos, prendendo
em um rabo de cavalo no alto, alguns fios ficando soltos junto da
franja nas laterais do seu rosto. Ela cruza as pernas, balançando
lentamente o pé. Está ansiosa.
Porém em todos os seus detalhes, eu foco no pequeno P.K.
junto de um coração, bem pequeno, atrás da orelha.
P.K.?
Minha mente parece viajar em alta velocidade. Eu já ouvi algo
assim antes...
“P.K., seria uma ótima dupla, se você não cantasse tão mal.
Sua voz é péssima, ainda bem que optou por outras coisas, porque
com música...”
Claro que ouvi isso antes. Era como eles se chamavam: P.K..
As conversas, o nome P.K. que tanto ele trocava mensagens,
e nas ligações que eu, algumas vezes ouvia... Era o tempo todo ela!
Philip estava entrando na pré-adolescência, rumo a adolescência,
eu nunca invadi seu espaço pessoal se não julgasse necessário, e
como meus pais nunca se preocuparam com o tal P.K. que ele vivia
conversando... P.K. sempre foi para fazer referência a eles dois
juntos. Nesses anos todos que ela se foi, antes da grande merda
acontecer, eles tinham contato. Philip nunca me falou, eu realmente
devo ter sido um péssimo irmão para ele ter me ocultado isso
também.
Balanço a cabeça e ela me olha, e então me lembro do modo
que a acusei no vestiário de Stanford.
Merda, eu sempre fodo as coisas.
Engulo em seco, quando um nó se forma na minha garganta.
— O que houve? Ficou pálido do nada... Eu ofereci a pipoca,
se isso for estômago vazio, não pode me culpar! — Dá de ombros.
Eu preciso sair daqui.
Anunciam que o jogo vai começar, e a torcida vai à loucura.
Meus planos de fuga se esvaem na mesma proporção que surgem.
Parece que algo sempre vai me levar a ele, e vai me mostrar
o quanto estive errado e o quanto ando errando.
— Você está bem? É sério, está muito pálido... — Sua voz se
sobressai no meio da bagunça.
Balanço a cabeça, em qualquer tentativa de não precisar
falar. Que o jogo comece logo, para minha mente se desligar disso.
Meus olhos viajam para os jogadores, para a quadra... para
qualquer coisa que desvie minha mente do passado. Foco nos
detalhes, como a psicóloga me ensinou: “Foque nos detalhes ao seu
redor, quando sentir que uma crise está por vir. Observe tudo e leve
esses detalhes ao foco da sua mente, até ir se acalmando. É uma
das coisas que pode fazer, além de todas as outras que já te
ensinei”.
Fico novamente com o corpo sobre as pernas, os cotovelos
apertando sobre elas e as mãos entrelaçadas, conforme minha
perna direita chacoalha sem parar. As pessoas ao redor não notam
e isso é comum de acontecer, porque sempre estamos perdidos em
nossa própria bolha, e coisas do tipo na maioria das vezes nunca
são notadas por nós. No meu caso, nesse instante, prefiro que
ninguém note, porque não quero isso na imprensa, alguns lugares
inverteriam tudo, dizendo que “Tyron Sparks estava ansioso com o
jogo e temendo jogar no dia seguinte”. Eles adoram inverter tudo
para um jeito que prenda o público ao seu foco de mentiras que só
cresce.
Vejo o Oliver e ele assente para nós, com um sorriso, e tento
forçar a porra de um maldito sorriso, mas não consigo. Ele fica me
olhando por um tempo, antes de puxarem ele.
Quando tudo realmente vai ficar cem por cento bem? Isso
existe ou é algo inventado pelas pessoas, a fim de fazer quem está
na merda se sentir melhor?
Nem sequer notei que a loira ao meu lado havia saído, noto
apenas quando retorna ao me estender uma garrafa de água antes
de voltar a se sentar ao meu lado, segurando outra garrafa.
— Não tem veneno, Tyron. Não garanto que em outras vezes
seja seguro beber algo que eu lhe ofereça, mas hoje é. — Sorri, e
por um instante, um breve instante, eu vejo a garotinha da paz que
durava apenas por segundos no passado.
— Obrigado.
Ela assente e olha para a frente, e eu sigo seu olhar, focando
nos times também.
— Sabe, implicar com uma pessoa a vida inteira não significa
que eu deseje o mal dela. Ok, joguei algumas pragas muitas vezes,
mas nada realmente sério. E uma das coisas mais importantes em
conhecer uma pessoa durante anos, é ser atento à quando ela não
está bem, independente do lugar que hoje ela tenha em sua vida.
Se eu não pudesse notar que alguém que eu cresci junto não está
bem, eu me julgaria como péssima jornalista, por não saber
observar bem o que acontece ao meu redor, e dar voz às pessoas,
mas me julgaria ainda mais como péssima pessoa e passaria a
rever muitos posicionamento e coisas em geral na minha vida. Ser
alheio a estranhos, a pessoas que acabamos de conhecer, até
relevamos, mas ser alheio a quem viveu praticamente metade da
vida conosco é egoísmo, é viver somente dentro da nossa bolha, e
nos prender ao nosso orgulho e bem-estar, e tacar um “que se
dane” a essas pessoas. Eu não sou assim.
Sua voz ecoa em meus ouvidos, e automaticamente vai
desacelerando os batimentos em meu peito, que chegavam a doer.
Torno a olhá-la e vejo agora seus olhos presos aos meus.
— Tudo bem não estar bem. Não é vergonha alguma isso.
Todos somos vulneráveis à ansiedade, e está tudo bem, ninguém
sabe realmente quando algo, alguém, um momento ou uma
lembrança vai nos levar aos picos de gatilhos... Se alguém lhe
perguntar se está tudo bem, seja sincero, isso pode salvar, Tyron. —
Ela toca sua garrafa na minha, como se brindasse a algo. — Bebe,
respira fundo. E se tiver que sair para respirar, saia, ninguém aqui
tem nada a ver com a sua vida, não é o que sempre berra para a
imprensa? — Ergue a sobrancelha e abre sua garrafa, bebendo um
pouco da água.
Abro a garrafa e bebo um pequeno gole da água e respiro
fundo, antes de voltar o olhar para a quadra.
— Por que quer ser legal agora, Reed? Isso nem combina
com a gente!
Ela ri e algo tilinta dentro de mim.
— Ah, se está te preocupando o fato de eu tornar sua vida
fácil, está errado, assim como sei que não tornará a minha. Mas
talvez eu me importe com o cara que cresceu comigo, que tem uma
família que gosto e que é o melhor amigo do cara que está bem ali e
que tem o mesmo sangue que o meu. Que foi, está surpreso que eu
tenha um coração bom, Sparks? — provoca e, dessa vez, consigo
sorrir de verdade.
— Estou apenas surpreso que bruxas tenham sentimentos e
sejam amigáveis — revido e sinto como se estivéssemos voltando
ao passado, apagando um pouco da angústia das lembranças do
meu irmão.
Ela revira os olhos e tenta esconder o riso, mas falha.
— O jogo vai começar, idiota. Cala a boca! — O Jordan em
seu pé, acerta minha perna de um jeito leve e me faz balançar a
cabeça.
— Isso não significa que vou aceitar que fique colada em
mim, Reed.
— Talvez não tenha escolha... Nenhum dos dois tenha!
Fico olhando-a e seus olhos se prendem aos meus e algo
grita dentro de mim: “Ela cresceu, Sparks, e a briga agora é entre
fogo e gasolina, e basta um isqueiro para tudo incendiar em questão
de segundos!”.
Os Tigers estão na frente, 49 a 42 dos Brave. Estamos no final
da primeira metade do jogo, e as coisas estão quentes na quadra.
Queria muito poder estar berrando, mas preciso me conter, porque
agora tenho que ser neutra o máximo possível, já que trabalho no
time rival.
Olho de lado para o Tyron, que parece bem mais calmo
agora, e me questiono o que lhe fez ficar ansioso daquele jeito. Que
tipo de coisa o afetou ao ponto dele tentar controlar o que
provavelmente crescia dentro dele.
— O jogo é na sua frente, Reed!
Droga, pega no flagra.
Desvio o olhar. Queria lembrar o porquê de tanta implicância
um com o outro, mas não existe um motivo, porque ela só
aconteceu, sem precisar de nada. É como se o nosso destino fosse
ficar longe um do outro se não quisermos que alguém saia morto
disso.
Do outro lado da arquibancada, vejo algumas garotas
babando e olhando na direção do Tyron. Coitadinhas, se soubessem
o quanto ele não vale isso. Deus, o que veem nele? Olho
novamente, e bom... Ele tem um perfil bonito, uma barba bem-
feitinha, e os cabelos pretos meio bagunçados são um charme... O
cenho franzido quando está atento a algo também tem seu
charme... Ele ergue a sobrancelha ao olhar o marcador, é isso
também tem um charme... Como nunca notei antes esses charmes?
Jesus! O que estou fazendo? Não! Definitivamente, Tyron
não tem charme. Estou enlouquecendo pela ansiedade do jogo, e,
provavelmente, a pipoca estava estragada.
Tyron já teve duas namoradas firmes nos últimos três anos, e
os términos nunca foram por traições ou coisas assim, ele parecia
respeitar muito elas. Deve ser por isso que idolatram ele, não é a
beleza, as coitadas acreditam que ele é santo. Deveriam ver o
quanto é insuportável e iriam se arrepender de serem fãs e
babarem.
Por que infernos eu estou preocupada com isso?
Cutuco o idiota.
— Por que os outros não vieram? — indago, melhor focar em
trabalho.
— Quer mesmo fazer isso, Reed? Me usar para as suas
informações? — Não me olha e ainda bem, eu poderia furar seus
olhos.
— Vai responder ou não?
— Porque não quiseram. Não controlo a vida pessoal do meu
time, Kristal!
Grosso.
Meu irmão arremessa uma bola, mas o camisa 27 dos Brave
bloqueia muito bem. Droga!
Os Brave marcam 3 pontos, encerram esse tempo. Teremos
um intervalo de 15 minutos, para a parte final.
Confiro meu celular, vejo as mensagens das meninas e
respondo rápido, antes de beber mais um pouco de água e notar
quando Tyron e outros famosos presentes se tornam focos de
atenção de outras pessoas, que pedem fotos, autógrafos. A atenção
que o armador-capitão dos Red está dando é impressionante. Ele é
carinhoso com seu público, ainda de expressão séria, mas muito
carinhoso. Um garotinho pede foto e, com esse, ele sorri bastante,
pega no colo e assina o boné do pequeno.
Credo, onde foi parar o irritadinho?
Os jogadores retornam e todos voltam a focar neles, e é
nesse instante que desvio meu foco do Tyron, me salvando de ser
pega novamente com os olhos nele.

Sou totalmente um amuleto da sorte para os Tigers, não teve


um jogo que eu fui deles que perderam. Não quero me gabar, longe
de mim, mas meu time é perfeito!
Aproveito a festa animada de todos pelos Tigers, para me
esquivar com minha bolsa para longe da aglomeração, e tentar ao
máximo colher coisas que eu possa acrescentar nas matérias que
terei que criar.
Observo atentamente como todos se portam, principalmente
Tyron, já que trabalho para o time dele. O posicionamento dele
como profissional, acompanhando tudo, a forma como trata todos os
jogadores com respeito, e faço algumas notas mentais.
Meu irmão se aproxima, todo suado, e não me importo de me
jogar em seus braços, e ele me pegar no colo, abraçando apertado.
— Está um nojo, mas te amo mesmo assim. Parabéns, meu
lindo. — Aperto-o forte e ele me solta aos poucos.
— Obrigado, gatinha! — Beija meu rosto e sorri animado. —
Começamos bem. Foi cansativo, os Brave são muito bons, mas, se
isso for um spoiler do que tem reservado para os próximos jogos da
Golden, será uma loucura imensa.
Sorrio e balanço a cabeça concordando. Eles ganharam de
90 x 84 pontos. E se tivesse mais tempo de jogo, tenho certeza de
que os Brave teriam dado um trabalho maior aos Tigers.
— Vocês foram incríveis e vão ser ainda mais! — Pisco para
ele quando começam a chamá-lo. — Vai lá, meu jogador perfeito!
— Nossos pais não deveriam ter vindo? — indaga e rio.
— Sim. Mas o voo atrasou, um monte de problema
aconteceu. Mandaram mensagem quando cheguei aqui. Mas
amanhã virão. Eles realmente compraram muitos ingressos. Se vão
estar presentes em todos, já é outra história.
Ele concorda e deixa um beijo na minha testa, antes de se
afastar. Tyron para ele e o abraça. Acho bonita a amizade desses
dois, isso jamais poderei reclamar ou zombar.
Me ajeito para sair dali, pelos fundos, sentido aos vestiários,
e evitar a aglomeração de pessoas.
Passo por algumas pessoas e os cumprimento com um
singelo aceno, até me aproximar do corredor que leva à saída dos
fundos. Caminho rapidamente, passando por algumas salas, até
chegar perto da porta e escutar passos à minha direita, vindo de
uma das salas.
— Vejam só, a princesinha Reed. Então, está trabalhando no
time rival e hoje ainda vem assistir ao jogo e se acha no direito de
se meter nos bastidores daqui?! — A voz de Richard, ou Rik como o
chamam, ecoa no ambiente vazio nesse lado. Ele é um dos Tigers.
Ser fã do time, não necessariamente significa que sou fã de
todos que estão nele.
Olho para o cara alto e de olhar esnobe.
— Isso não diz respeito a você, Richard! — rebato, nervosa
com a situação, querendo me livrar logo disso. — E tenho o direito
de estar nos bastidores! Sou da imprensa autorizada por eles.
Ele se aproxima, me intimidando e engulo em seco dando um
passo sutil para trás.
— Se eu souber que está passando informações nossas para
aqueles idiotas, eu vou acabar com você e esse jornalzinho de
merda — cospe as palavras rancorosas para cima de mim.
Ele tem uma rixa comigo desde que entrei para o jornal, que
evito e oculto do meu irmão. Tudo isso porque, no ano em que
entrei, saiu uma matéria falando sobre ele, e que não acreditariam
que ele se tornaria titular tão cedo, pois tinha muito que amadurecer
em quadra e como pessoa. Eu não fiz essa matéria, mas trabalho
para quem fez, e desde então nossos encontros são assim, com
suas ameaças e intimidações idiotas.
— Eu não preciso disso! Não jogo esse tipo de joguinho
barato! — pontuo dando as costas para ele, tentando sair logo
daqui, mas ele me impede, bloqueando minha saída. — Sai,
Richard! — aviso nervosa.
— Se você continuar se metendo nos nossos bastidores, eu...
— Você vai o quê, Richard? Se afasta dela, agora! — A voz
do Tyron ecoa atrás de nós, e pode parecer loucura, mas isso me
traz um alívio.
Tyron entra na minha frente, ficando entre nós dois. Richard
começa a rir como um bom merda que é.
— Claro, ela tem o protetor, o melhor amigo do Oliver.
Sempre muito bem protegida... Espera, foi assim que conseguiu
essa chance de estar com exclusividade nos bastidores dos Red,
não foi? — Seu tom, seu olhar, fica claro o que ele está insinuando.
— Eu não preciso disso! — digo com a voz entrecortada pela
raiva. — Eu nunca me submeteria a isso, seu idiota!
Ele continua rindo e o Tyron dá mais um passo na direção
dele.
— Cai fora, Richard! Você não quer comprar essa briga. Se
ainda quiser estar na quadra jogando, e sair daquele banco, é
melhor você sair daqui agora, porra! — A voz de Tyron é séria,
nervosa. Ele trava o maxilar.
Engulo em seco, porque é nojento esse tipo de machismo,
insinuações, onde sempre acham que a mulher precisou trepar com
alguém para conseguir algo!
Ele ergue as mãos e sorri com ironia.
— Isso já está bem claro. Só assim para alguém, que é um
nada em um jornalzinho de merda, conseguir algo importante assim.
Sendo irmã de um jogador, filha de pais riquinhos e trepando com o
capitão do time em que está!
— Vai se foder, seu idiota! — grito com a voz ainda mais
embargada e meus olhos marejados.
É rápido quando Tyron acerta um soco na boca dele, que vai
ao chão, e nem isso é o suficiente para esse imbecil parar, porque
ele apenas ri mais, levando a mão ao local machucado e adorando
tudo isso.
Tyron segura minha mão e abre a porta.
— Fale mais uma merda dessas, envolva a família dela ou
ela nas suas merdas, e você vai entender realmente como funciona
ter influências por aqui! — Sparks diz a ele. Está bem nervoso.
Ele me arrasta para fora dali, pelo outro lado, sentido ao
estacionamento. Enxugo meu rosto com a mão livre e ajeito a bolsa.
Minhas mãos estão trêmulas pela raiva.
No meio da multidão de carros, ele encontra rapidamente
qual veio. O rapaz, provavelmente seu segurança, assente,
conforme entramos no carro. Meu coração está acelerado e uma
vontade imensa de chorar ainda mais me consome.
Estou me cansando disso, das pessoas sempre pensarem
esses tipos de coisa sobre qualquer coisa que eu conquisto. Não
aguento mais esse inferno!
Coloco o cinto e pisco rápido tentando controlar as lágrimas
que querem tornar a cair. O nó na garganta é forte.
— Ele fez alguma coisa com você? — A voz dele é baixa e
eu apenas nego.
— Nada além das merdas que falou! — Olho de lado e ele
assente.
— Richard sabe que os dias dele estão contados aqui. Ele
quer alguém para descontar sua frustração e mirou em você. É
apenas um merda, que nunca deveria ter tido essa chance. Ele já
fez isso antes?
Assinto e uma lágrima solitária escorre, enquanto olho pela
janela e o carro vai saindo devagar, devido a fila enorme.
— Desde que o Sport Universe fez uma matéria sobre ele, no
mesmo ano que entrei para trabalhar lá. Desde então, sempre que
me vê, faz provocações, piadinhas idiotas, mas hoje ele realmente
foi além nas palavras.
Ele respira fundo.
— Fique longe dele quando estiver sozinha. E evite ficar
andando sozinha pelos bastidores, quando souber que não há
seguranças ou outras pessoas por perto. Será mais seguro a você,
ok?
Concordo, porque sempre é assim. Nós temos que nos
preparar para lidar com os babacas que podem surgir.
— Obrigada por ter me defendido. Não precisava socá-lo.
Não quero problemas. Nem tem nada com isso. O problema dele
aparentemente é minha existência. — Enxugo os olhos, porque
agora ambos escorrem lágrimas.
— Eu querer te colocar de ponta-cabeça na cesta, não
significa que eu não me preocupe com você ou que te deixaria
passar por uma merda assim, Kristal. Isso nunca!
Olho para ele e seus olhos se encontram com os meus, e
sorrio com sinceridade. Apenas dou um pequeno aceno com a
cabeça.
Tiro o cinto e me aproximo abraçando-o.
— Ainda adora abraços, né? Isso me lembra porque eu te
expulsava dos treinos, sempre queria abraçar todo mundo! — fala e
começo a rir.
Seus braços me envolvem e relaxo mais um pouquinho, por
saber que estou segura e com alguém conhecido.
— Já notou que, mesmo querendo nos matar, nunca
deixávamos de nos abraçar naquela época? Sempre que chegava,
me abraçava, e se eu chegava e te via, te abraçava e assim por
diante. Os abraços nunca foram problemas — comento algo que
percebo agora.
— Talvez eu gostasse deles. Era quando ficava muda
também! — provoca e sorrio me afastando.
Volto ao meu lugar, colocando o cinto.
— Relaxa, não vou escrever no jornal que o grande
irritadinho dos Red Fire é vibe Olaf, gosta de abraços quentinhos! —
brinco e ele me fuzila com o olhar. — Então assistiu Frozen, por
essa cara...
— Kristal, calada, se quiser chegar no hotel inteira!
Rio baixinho e noto o segurança emendando um riso em uma
tosse. Esse é dos meus, perde o emprego, mas não a boa risada ao
ficar atento na fofoca.
Limpo minha mão levemente machucada, conforme Oliver me
observa, sentado na beira da minha cama, no quarto de hotel.
— Richard com a boca fodida e você com a mão machucada,
não vou levar isso adiante, porque se mexer nesse vespeiro, vai dar
merda.
— Melhor coisa que faz. Agora fale o que quer. Se veio me
comprar para entregar o jogo a vocês amanhã, foi uma péssima
escolha! — provoco, sentando-me na poltrona à frente, e o
encarando.
Ele sorri e balança a cabeça.
— Não, idiota. Eu vim ver se quer ir comigo e os caras curtir
um pouco da noite. Consegui com que seja no quarto de hotel
mesmo. Coisa leve, amanhã tem jogo, e o melhor é não sair. —
Encaro-o bem e ele revira os olhos. — Se for mandar sermão,
engole eles, Ty!
— Acha que precisa de sermão? Conseguiu uma noite de
farra no quarto de hotel? Me diga, com quem foi que você usou seus
privilégios de fama, e conseguiu isso? Porque bebedeira antes do
jogo, quebra alguns regulamentos da Golden, não? — Ergo a
sobrancelha, tirando o celular do bolso e colocando na mesa ao
lado.
Ele bufa e se levanta.
— Porra, toda vez vai ser isso? Caralho, temos privilégios,
até quando vai fingir que eles não existem? Passou as férias
fodendo sua vida, em todas as manchetes esportivas e de fofocas,
mas quando eu apenas uso alguns benefícios que temos, para algo
de boa, você vem bancar a porra do certinho, Tyron? Você faz
merda, tudo bem, mas se eu faço algo que não tem nada demais, aí
você resolve ser o santo! É de foder!
Balanço a cabeça.
— E pelo seu surto, ninguém sabe dessa festinha privativa,
além de quem você contatou. Oliver, as minhas merdas têm um
motivo, e estou a todo custo tentando consertar. E as suas? Acha
mesmo que vai conseguir ficar agindo como um playboy famoso de
merda, ainda mais agora que a sua irmã está por perto? Acha
mesmo que ela não vai desconfiar que você anda deixando a fama
subir na sua cabeça, cometendo merdas, sendo um babaca do
caralho? Realmente pensa que sua família vai acreditar por quanto
tempo que não é mais o santinho que acreditam? Seus colegas
estão te influenciando ao pior, e você que se diz não influenciável,
com vinte e oito anos está se saindo um belo de um adolescente
idiota.
Jogo as palavras com sinceridade. Porque me preocupo com
esse imbecil. Desde o ano passado, o Oliver tem andado com as
pessoas erradas, usando seu nome para coisas idiotas, agindo
como um merda quando está com eles. Eu nunca o vi agir assim
antes. E me preocupa, porque todos aqueles que perderam o
controle sobre a fama, nunca terminou bem.
Caralho, será que ele não vê as consequências de tudo em
cima de mim? Ele quer realmente isso para ele?
— Você está fodido mentalmente e não vou entrar nessa
briga desse jeito. Não quer ir, já entendi. Só que estamos nos
distanciando, Ty, como nunca aconteceu. Não conseguimos manter
um diálogo sem brigas. Achei que, com o início da temporada, isso
fosse mudar. Mas sabe o que vejo? Que, quando você esteve na
merda, eu estive lá. Mas agora que estou em uma fase boa e quero
você comigo, tudo termina assim, em brigas...
Vou responder seu modo defensivo, mas batidas à porta nos
interrompem.
Respiro fundo e me levanto, passando pelo Oliver que está
irritado, frustrado.
Abro a porta e dou de cara com a Kristal, que passa por mim
sem pedir licença. Fecho a porta e cruzo os braços. É hoje...
— Educação lhe enviou lembranças, garota! — aviso.
— Foda-se, você... — Ela olha para mim e depois para o
irmão. — Eu espero que o pouco que ouvi ali fora, não tenha coisas
ainda piores, Oliver. Então, Cherry não ouviu errado, tem mesmo
uma merda rolando, não apenas com aquele ali, mas com você
também! — A loira está furiosa, mas também preocupada.
— Kristal, não se mete nisso! — ele diz, mas ela ergue um
dedo.
— Me meto sim! Eu espero que a merda que for que estiver
acontecendo, não termine como muitos casos terminam. Oliver,
você pode ser o mais velho, mas, se estiver agindo como um idiota,
não me importa que tenha quase dois metros de altura, eu soco sua
cara e abro a boca aos nossos pais. Se estiver tendo problemas, se
abra, mas não vá por um caminho que muitas vezes não tem volta!
— ela é dura nas palavras, como eu previa. Eles sempre se
protegeram, é claro que ela não deixaria algo assim passar
despercebido.
— Quer saber? Chega! Não vou ficar discutindo com vocês.
Estou cansado, mas feliz pra caralho com o resultado do jogo. Eu
vou sim comemorar com meus colegas. Se quiserem ir, sabem onde
estou. Mas não fiquem tentando controlar a minha vida, porque eu
sei bem o que estou fazendo.
Não sabe, seu filho da puta!
— Sabe, Oliver? — questiono, ele me encara. — Sabe
mesmo?
Sua irmã o encara e ele apenas passa por ela, parando na
minha frente, querendo passagem. Olho firme em seus olhos, antes
de ir para o lado, e ele abrir a porta.
— Querem tanto cuidar da minha vida, e a de vocês? Kristal
precisa que as pessoas a encorajem, porque ela nunca acredita o
suficiente em si mesma, e no primeiro sinal de pânico, ela recua.
Você tem feito terapia, mas é só tocar no nome dele, que perde o
controle emocional, e basta isso para sair, beber, ficar louco. Mas,
claro, é comigo que precisam se preocupar! — Ele olha para a irmã,
que balança a cabeça negativamente. — Avise a Cherry, que,
quando ela quiser saber da minha vida, pergunte a mim, e não se
baseie no que ouve às escondidas!
— Ela se preocupou, e não fez isso de propósito. Não inverta
tudo isso, Oliver! — Kristal defende a amiga.
Ele não responde, apenas sai, socando a porta.
A loira se senta na cama e se deita, abrindo os braços. Me
aproximo e me sento novamente na poltrona. Aparentemente, os
irmãos Reed resolveram me irritar.
Oliver não está bem e ele sabe disso.
— Sabia que tinha problemas no ar... Mas uma coisa de cada
vez para lidar. E agora a mais fácil... — Torna a se sentar e me
encarar. — Você vai me ajudar, Tyron!
— Vou? — Ela concorda. — E quem te disse essa bobagem?
Enlouqueceu de vez? — Apoio o cotovelo no braço da poltrona e
levo o indicador à lateral do meu rosto, deslizando na barba.
— Vai me ajudar, porque me deve isso! — Ergo a
sobrancelha, sem acreditar que ela realmente veio com esse papo.
— Eu te devo? Kristal, que droga usou?! — pergunto bem
incrédulo.
Ela ri alto e se levanta, andando pelo quarto, olhando tudo.
Inclusive, pegando uma camiseta que estava no chão e segurando
com as pontinhas do dedo, para jogar na cama.
— Deve, por todas as vezes que apoiei vocês no passado,
que fui a torcida de vocês quando ninguém dos colegas de vocês
era. Me deve também, pelas vezes que os incentivei dizendo o
quanto eram incríveis, quando vocês duvidavam de si mesmos. Ah,
também me deve, por eu ter me calado esses anos todo sobre você
cobrir as fugas do Oliver, quando ficava de babá comigo; e me deve
agora por estar cobrindo as merdas dele, e não estar abrindo a boca
para a família dele!
Cuidar dela quando o irmão fugia, deveria já ser um ótimo
pagamento. Abraçar seu corpo e segurar sua mão durante suas
crises de pânico com a tempestade, poderia contar também, mas
isso a espertinha não sabe que era eu, pois quando acordava ele
estava lá.
Começo a rir.
— Então ele também te deve algo nessa sua lógica!
— Exatamente, ambos me devem. Mas no momento preciso
de você!
— Então fez tudo isso já sabendo que poderia cobrar algo em
troca? E aquele papo de não fazer nada esperando as coisas em
troca? — revido e ela para no sofá do outro lado.
— Nunca esperei nada em troca por tudo que fiz. Mas o
mínimo para mim é que as pessoas que se importam conosco,
sejam recíprocas com as coisas boas que um dia fizemos a elas. É
um gesto de carinho, Tyron. Conhece isso? — me provoca.
— E quem disse que me importo com você, para retribuir
agora? — Levanto-me e me aproximo dela, parando ao seu lado,
onde agora ela cai sentada no braço do sofá, por eu me aproximar
muito.
— Se não se importasse, não teria me ajudado como fez
algumas horas e pedido para eu evitar ficar sozinha. Quem não se
importa, não faria o que fez, Sparks! — Ergue o queixo e sorri.
Diabólica esperta. — Preciso de ajuda para o que vim fazer aqui, e
você é o caminho que eu quis evitar, mas não teve jeito. Não estaria
aqui se tivesse outra solução.
Me apoio no encosto do sofá. Ela se deita, me encarando.
— Se eu te ajudar, será com uma condição, Reed! — Ergo a
sobrancelha e ela me olha ainda mais esperançosa.
— E qual seria?
— Não poderá escrever nada sobre mim no jornal — aviso.
— E por que não? Todos querem uma chance de aparecer
por ali de forma positiva! — Me olha surpresa e engulo em seco. Ela
então se ajoelha no sofá, sentando-se sobre as pernas, e ficando de
frente para mim, com as mãos apoiadas no encosto dele. — Claro...
O Sport Universe era o jornal que ele confiava e o único que ele
acompanhava para saber sobre os jogos, quando não podia estar
pessoalmente. Por isso não quer ter ligação nesse jornal e me quer
tão longe assim, né? — Sua voz não contém mais ironia,
provocações. É serena, leve. Doce demais, melosa.
Às vezes me esqueço de que ela é esperta demais, e nada
lhe passa totalmente despercebido. Esse é um dos motivos para
querer ela tão longe. Eu tento negar a mim que ainda fujo de coisas
que me levam a ele, mas a cada instante isso fica mais claro.
— Tyron... Eu... Ok... — suspira desanimada. — Prometo que
não irei citar nada exclusivamente a você. É uma promessa, pode
acreditar!
Encaro seus olhos, e sinto um arrepio estranho.
— E tem mais... — Ela respira bem fundo. — Se sair falando
que ando te dando informações para as suas matérias, eu acabo
com esse acordo! — dou o ponto final.
Ela sorri animadinha.
— Não se preocupe. Não direi que é a minha Gossip Girl[1]!
É a minha vez de respirar fundo. Ela se levanta do sofá,
quase caindo, mas ajeita a postura.
— Por que precisa de mim para ser intrometida e conseguir
colher coisas para o jornal?
— Simples. Eles jamais confiariam a mim seus sentimentos,
preocupações, coisas que pudessem se mostrar vulneráveis, além
de eu não estar a par de toda a agenda de vocês. Não posso
escrever só por observar, isso aqui não é ficção. Você é a minha
chave da cidade, entende? — Pisca para mim e pega a lata de
Coca-Cola em cima da mesa. — Estamos evoluindo, Sparks!
Fazemos até acordos! — Abre a lata e sai do meu quarto.
Eu só posso estar muito na merda para estar aceitando
acordos com essa garota!
Não olhar o marcador...
Tenho que focar na quadra...
Tenho que focar no jogo...
Primeiro jogo depois das férias infernais...
São dois anos desde a morte dele, isso não pode me afetar
agora...
São com esses pensamentos que eu tento focar o máximo
que consigo na quadra, no meu time, antes de deixar minha mente
se perder no agora. Eu foco nos passes de bola, no suor
escorrendo, no barulho dos tênis deslizando no chão.
As batidas da bola no chão controladas por mim, antes de
passar para o Zion, se tornam mais altas na minha mente ocultando
meus próprios pensamentos. O grito da torcida me leva ao bloqueio
de qualquer brecha para pensamentos que me farão colocar esse
jogo a perder.
Quando Alf pega a bola e passa para mim, desvio
rapidamente do Oliver, que tenta me bloquear, mas faço uma cesta.
Ele me olha e balança a cabeça, rindo. O camisa 37 dos Tigers,
Kylo, está marcando em cima de mim, e já levou falta em cima do
Killian. Ele é um dos bloqueadores, trabalha bem na defensiva do
seu time, mas meu time sabe o que faz, quando o Tanner pega e
arremessa, outra cesta de 3 pontos.
Estamos a 65 contra 60 dos Tigers. A metade do jogo vai se
encerrar em poucos minutos, o intervalo será de quinze minutos.
Nosso treinador berra para que Alf fique mais atento. O camisa 66
dos Tigers, armador e capitão deles, é bom, faz um bloqueio
perfeito, Killian perde a bola, mas Tanner a recupera, e passa para
mim, arremesso em um jump, mas sou impedido por Kylo, falho na
cesta, e o tempo encerra.
Passo a mão pelos cabelos molhados de suor, e respiro
fundo. O treinador nos chama para irmos direto para o vestiário.
Temos quinze minutos para descansar, rever as estratégias de jogo
e beber uma água. A música alta toma conta da agitação da torcida,
junto das nossas líderes de torcidas e o mascote dos Tigers.
A família Sparks está aqui, e, para a minha surpresa, meus
pais estão presentes nesse primeiro jogo. Com a vida corrida de
advogados, raramente conseguem ser sempre presentes nos jogos.
Entramos no vestiário e nos entregam toalhas, água. Eu
encosto no armário e me enxugo, antes de beber a água e me
sentar um pouco.
— Caralho, o que aqueles caras tomaram? Que energia
fodida é essa? — Zion indaga e dou de ombros.
Os caras passaram a noite em festa e hoje conseguem um
fôlego desse jeito?!
— É o seguinte, eu quero mais posse de bola para o nosso
time! O que aconteceu na metade do jogo, não pode se repetir
nesse final. Acorda, time! — Malcolm pede, batendo a prancheta
nos armários de ferro. — Tyron, é o capitão deles ou uma alface?
Reage, cara! Parem de ficar olhando a porcaria do marcador e se
concentrem em dar o melhor de vocês naquela quadra!
— Sim, treinador — falamos em uníssono.
— Não ouvi direito!
— SIM, TREINADOR! — falamos mais alto e ele assente.
— Descansem um pouco e, quando estiver faltando cinco
minutos para o retorno do jogo, iremos rever as estratégias. E Alf,
coloque seu foco em ação, porque os caras têm conseguido a bola
antes de você pensar em repassar ou arremessar! — Aponta para
ele, que assente, então se afasta porque é chamado pelo dono do
time, Drake Grant.
— Acha que podemos vencer hoje? — Tanner me questiona.
Dou de ombros.
— Esse jogo não define a temporada inteira. Ganhando ou
perdendo, temos que dar o melhor, não apenas pelo time, mas por
nós mesmos, para não haver qualquer chance de pensamentos do
tipo: “eu poderia ter feito diferente”. É jogando contra os Tigers, mas
também contra a nossa mente. Esqueçam o marcador, ou a porra
que for, e foquem em dar o seu melhor — tento motivá-los.
— É assim que se fala, capitão! — Alf diz e sorrio.
Me afasto deles, deixando a garrafa de água e a toalha sobre
o banco, puxo o casaco do time e coloco, antes de sair para algum
lugar longe de todos e tomar um ar.
A loira está encostada em um canto, anotando coisas em seu
pequeno caderno. Parece bem atenta ao que faz. Não a vi
assistindo ao jogo, não que eu estivesse a procurando.
Ela está com os cabelos soltos, as pontas onduladas. Seu
loiro é bonito, puxado para o platinado e totalmente natural. Usa
uma calça legging preta, tênis, e uma camiseta vermelha larga, com
Los Angeles estampado nela. Morde o cantinho da boca, enquanto
não para de anotar coisas nas folhas. Para uma geração de tantas
tecnologias, me admira que ela prefira escrever à mão.
Ela ajeita a credencial de imprensa em seu pescoço e meus
olhos seguem o movimento.
Que porra estou fazendo?!
Passo a mão pelo cabelo e, quando vou me mover para sair
logo daqui, me chamam, e então ela me olha, parecendo surpresa
por não ter me visto chegar.
— Vamos, cara! — Zion diz e assinto.
Ela não se aproxima, fica na dela. Me afasto, fugindo dessa
palhaçada esquisita.
De novo... Que porra estou fazendo?

O jogo retornou, após mais alguns puxões de orelha do


nosso treinador. E agora as coisas realmente estão do jeito que
sempre foi quando os dois times se enfrentam, e basta ver os
olhares debochados do Oliver, para eu saber que, mais uma vez, as
coisas estão bem entre nós dois. Prova disso é o beijo que joga na
minha direção, arrancando risos de muitos que nos assistem,
porque sabem da nossa história e que isso aqui é uma irmandade.
Os passes de bola se tornam mais rápidos. Zion tenta
arremessar, mas é impedido e ainda cai. Killian o ajuda a se
levantar, enquanto o Wilder, camisa 12 dos Tigers, tenta implicar
com ele. Me aproximo, ficando entre eles, e o capitão dos Tigers
intervém.
— ESTÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL? QUERO JOGO,
NÃO BRIGAS IDIOTAS! VAI... VAI! — Malcolm berra a plenos
pulmões.
Pego a bola, batidas rápidas no chão, linha dos três pontos, e
é daqui que arremesso, e cesta. Sorrio animado.
— Que filho da puta! — Oliver xinga passando perto de mim
e começo a rir.
Fico atento ao meu time, dando sinais de repasses da bola,
para que sigam o que combinamos antes de retornar a quadra.
Tanner pega a bola, repassa para mim que repasso para o
Alf, que desvia rapidamente do Oliver e Jamal. Seu tempo com a
bola está acabando.
— Repassa, agora! — grito nervoso.
Batidas mais aceleradas...
O marcador quase lá...
O juiz atento...
Vai porra, repassa!
A torcida se levanta desesperada, mas ele não repassa. Alf
arremessa e mais três pontos chegam para nós, com um grito forte
dos nossos torcedores. Killian pula nele, que me olha e grito:
— Na próxima vez, eu chuto seu rabo daqui! — aviso
soltando o ar e ele ri.
Seguimos na frente, mas os Tigers revidam prontamente,
com duas cestas seguidas e o último intervalo, antes da parte final
do jogo, o último período. Esse intervalo é mais curto.
Nem saímos da quadra, apenas bebemos água e escutamos
o treinador, e não demora para o jogo recomeçar. Os Tigers fazem
uma alteração de jogador, e o nosso time segue do mesmo modo.
Tomada a posse de bola, o jogo reinicia. Nossos corpos ainda
estão tomados pela adrenalina que não teve tempo de cessar, já
que o tempo foi curto de pausa. Estou cansado, não minto, mas
continuo atento a tudo.
A bola está com os Tigers, Oliver a repassa, e em descuido o
outro jogador pega em um impulso forte, e simplesmente ela voa,
enquanto ele vai ao chão. Estou perto e jogo o corpo para a direita e
bato na bola, para o outro lado, livrando de acertar a cara da Kristal,
que agora está aqui e assustada.
Às vezes, esses tipos de acidentes acontecem.
— Meu Deus... — leio seus lábios e acabo sorrindo antes de
me afastar.
A bola retorna ficando para nós.
— Se eu ganhar, terá que beijar minha bunda, Tyron! —
Oliver diz parando ao meu lado, observando atento, assim como eu.
Giro para o seu outro lado, pegando a bola, ele tenta me
bloquear, sigo para o centro, dou mais um giro e passo ao Alf, que
repassa para o Zion, que arremessa. Ele conseguiria essa cesta de
olhos fechados. E mais pontos para os Red Fire.
— Sei que é louco para que eu faça isso, mas não será
dessa vez, Reed! — aviso o loiro quando passo ao seu lado e ele
gargalha.
Os minutos passam depressa, o jogo esquenta mais ainda. E
a vitória tem um lugar.

Red Fire 98 x 92 Tigers

A torcida está alucinante. O treinador grita animado junto dos


nossos jogadores reservas, e de nós que nos aproximamos deles
agora. Nos abraçamos e comemoramos, antes de sermos
cumprimentados pelo time rival.
— Ainda abraço perdedores, idiota! — aviso ao Oliver,
conforme me afasto do meu time e me aproximo dele e de nossas
famílias.
— Seu imbecil! — Ele me abraça e ri.
— Somos as mães, não vamos tomar partido de nenhum
lado! Somos neutras! — a senhora Reed diz e sorrimos.
Abraço eles e é bom vê-los, isso me traz ainda mais o
sentimento de lar.
— Estou indignada! Eu nunca assisti pessoalmente a um jogo
que os Tigers perdessem! — Kristal reclama, e eles riem.
— Trocou de lado, trouxe azar, filha! — seu pai diz e ela sorri.
— Foi um belo jogo, meninos! Jantamos juntos?! — meu pai
diz e concordo.
— E que belo jogo. A coitada da Kristal quase teve o rosto
destruído se não fosse pelo Tyron! — minha mãe comenta.
— O mínimo era ele ser ágil. Esse rostinho aqui precisa estar
inteiro para trabalhar! — a loira fala e me encara. — Obrigada,
Sparks!
É, seria um desperdício estragar esse rosto. A filha da mãe é
muito bonita.
Apenas assinto, e Oliver e eu precisamos retornar para
terminar de cumprir os protocolos e nos preparar para sair o quanto
antes.
— Da próxima vez, eu arremesso a bola primeiro! Você
arremessou para a nossa sorte, e deu ruim pra caralho para mim —
Oliver reclama e só posso rir.
— Sabe que não é sorte. É questão de ser o melhor! —
revido e ele me mostra o dedo do meio.
É bom me desconectar de tudo, depois de achar que não
conseguiria mais.
Entro para o vestiário, enquanto ele é parado por outras
pessoas. Passos atrás de mim me fazem olhar.
— Veio chorar por que seu time do coração perdeu? —
provoco, seguindo para o vestiário.
Os caras já devem estar tomando um banho rápido antes de
atenderem aos fãs que conseguem acesso a gente.
— Claro que não. Tenho maturidade. Vim pegar minhas
coisas e fazer algumas anotações rápidas. Sou madura o suficiente
para perder um jogo, Sparks! — responde irritada.
Não, ela não é madura para isso.
Ela pega as coisas dela no meu armário reservado, porque
até nisso essa intrometida se meteu. Pego minhas coisas também,
para jogar uma água no corpo. Kristal se vira para mim.
— Parabéns pela vitória! Não se atrase para o jantar, não vou
ficar esperando você para que possamos comer. Estou morrendo de
fome!
— Mais alguma ordem, princesinha? — Ergo a sobrancelha e
sorrio.
— Imbecil! — Se vira de uma vez, mas acaba tropeçando no
banco e preciso segurá-la rápido, puxando seu corpo para o meu.
Nossos olhos ficam completamente presos um no outro. Algo
estranho acontece. Algo realmente muito estranho; seu perfume
chama a minha atenção: baunilha. Suas mãos paradas em meus
braços emitem um calor desconhecido, mas... muito bom. Foco
novamente em seus olhos, agora ainda mais verdes.
— Gosto dos seus olhos... — As palavras saem sem que eu
tenha controle.
Me afasto rapidamente.
— É... Não demora, Tyron! — Ela sai praticamente correndo
e não julgo.
Isso nunca aconteceu. Desde quando o perfume e olhos dela
me chamam atenção, ou reparo no calor das suas mãos? Anos sem
nos ver, o que mudou, porra?
Uma voz grita dentro de mim e queria muito poder silenciá-la,
porque é perigosa.
“Somos adultos agora. Ela é adulta, e está muito atraente,
Tyron Sparks, e nem sob tortura conseguiria negar isso.”
Faz tanto tempo que não vejo os Reed unidos em uma mesa
com os Sparks, que parece que por um instante eu voltei ao
passado, mas com uma única diferença: Philip não está mais aqui.
A ausência do pequeno com suas travessuras, perguntas
constrangedoras parece até estranho. Quando saí de Nova York, ele
ainda era uma criança, mas nosso contato prosseguiu. Acompanhei
suas novas fases chegarem, através da tela do celular, até o
instante de tudo ficar apenas nas lembranças.
Nunca saberei o porquê, mas desconfiarei de qual foi a razão
que levou a tudo isso.
— Então, o que está achando do trabalho, Kris? — Ergo o
olhar da taça de vinho e encaro o Sr. Sparks, que me olha
sorridente, e traz a atenção de todos na mesa para mim.
Escolhemos um restaurante ao centro de Boston. Uma mesa
mais reservada, evitando o holofote aos astros aqui. O verão dá as
suas caras, como no sol ainda ao lado de fora mesmo ao anoitecer,
nas roupas leves que as pessoas usam e no sorriso mais disposto
dos americanos. Já são anos vivendo na Califórnia, que nem me
lembro de como é viver com a neve constante do inverno, o nosso
frio em Santa Clara, não é comparado ao que vivíamos em Nova
York. Nisso eu não sinto falta da Grande Maçã, muito pelo contrário,
eu amo o sol, peles bronzeadas, a sensação de aconchego,
totalmente oposta do frio, que traz mais solidão, e se torna
depressivo demais.
— Sim... Bom, ainda é o começo, fica difícil dizer com
exatidão, mas é basquete! — Sorrio.
Tyron está sentado ao meu lado, e sinto seu olhar sobre mim.
— Quem diria, que ambos trabalhariam juntos! Se me
falassem isso há uns anos, eu diria que a pessoa estava louca! —
Paige diz, olhando do filho para mim.
— Eu diria que poderia acontecer, mas que a sobrevivência
dos dois ficaria em jogo e faríamos apostas em quem se mataria
primeiro! — meu irmão brinca e nossos pais riem.
— Não trabalhamos juntos! — Tyron enfatiza e preciso
concordar com ele, o que é um milagre até. Se bem que levando em
conta que ele vai me ajudar... Eu vou calar minha boca!
— É difícil estar no time rival ao que ama, confessa, filha! —
papai diz e sorrio.
— É sim. Tortura!
— Os Red são bons também, não pode negar, Kris! —
William, o pai do Tyron, comenta e balanço a cabeça.
— São bons sim...
— Não foi você que disse que o capitão do time tinha muito
que melhorar e o time também? — Tyron me interrompe e joga na
minha cara o que eu disse antes da temporada começar. Eu
realmente preciso controlar o que falo. Ele ergue a sobrancelha, e
todos me encaram tentando controlar o riso, inclusive o idiota loiro à
minha frente.
— É... Disse. Mas todo mundo tem algo em que melhorar!
Não são perfeitos, e nem você... Tyron, não me estressa!
Reviro os olhos e bebo meu vinho, como se fosse água.
Odeio quando ele me deixa encurralada.
— Está querendo dizer que até os Tigers precisam melhorar
então? Pela sua explicação... — meu irmão entra na onda de
provocações do amigo.
— Foi o que entendi, né, pessoal? — Mamãe dá palco a
maluquice.
— De qual lado a senhora está? — questiono e eles riem. —
Ótimo, nem minha família me leva a sério. Isso é muito errado! —
pontuo.
— Os Red Fire deram umas vaciladas mesmo, Kris não está
tão errada.
— Viu! Papai me entende. Obrigada! — Ergo a taça em
agradecimento. — Tyron joga bem, muito bem. Mas não deu seu
melhor na temporada passada. Ah, gente, qualquer um aqui sabe
que ele e o Oliver são muito bons, mas o idiota aqui tem mais
maturidade em jogo que o Oliver. Pronto, satisfeitos?!
Oliver leva a mão ao peito e afasta a cadeira.
— Nunca fui tão ofendido! — meu irmão diz, forçando uma
voz dramática.
— Quanto estão te pagando para me elogiar? Cobre o dobro!
— Tyron pirraça.
— Argh! Vocês são insuportáveis. Parecem duas crianças! —
reclamo e todos começam a rir.
— E voltamos ao normal da família Reed e Sparks!
Elogiamos cedo demais, pessoal — William fala e eles concordam.
Meu irmão se ajeita na cadeira, rindo, e faz um cumprimento
com o Tyron, quase derrubando as coisas sobre a mesa.
Idiotas. Por isso preciso das minhas meninas, eu sou a
minoria aqui, que isso, gente?!
Uma garotinha com os pais se aproxima, e toda sem jeito
pede foto com os dois, que não recusam. E é bonito ver o orgulho
no rosto dos nossos pais. Tiram um de cada com ela, e depois Tyron
a pega no colo e tiram os três juntos. Seus pais agradecem, bem
felizes e a menininha com toda certeza vai marcar isso por um bom
tempo, a sensação de estar ao lado de quem admiramos e sermos
bem recebidos.
Olho meus pais, e a expressão no rosto deles é tão cheia de
vida, linda. O dia que eu tiver minha própria família, quero poder ser
para os meus filhos tudo que meus pais são para mim e meu irmão.
A forma como eles nos apoiam em nossos sonhos, é incrível.
Os jogadores tornam a se sentar e podemos pedir a
sobremesa, minha parte favorita.

Estamos saindo do restaurante. Meus olhos focam nos


paparazzi, que hoje em dia poucos disfarçam o que vão fazer. Olha,
eu entendo, faço parte desse ramo de notícias, mas sinceramente?
Não me submeteria a tudo que eles fazem para conseguir um flagra.
Tem cada situação em que se colocam, que chega a ser
assustadora.
Abraço os Sparks e meus pais. Os meninos fazem o mesmo.
— Próximo jogo é na Arena Amway Center? — mamãe
indaga.
— Sim. Vamos para Orlando amanhã cedo — meu irmão
responde a ela.
Os próximos jogos, os Tigers e os Red Fire jogam na mesma
cidade, com dois times diferentes. Alguns jogos eles acabam
estando na mesma cidade, e outros não.
— Infelizmente nesse jogo, não poderemos estar presentes.
Tenho uma reunião de trabalho muito importante e seu pai tem uma
viagem ao Japão a negócios. Mas as meninas vão. Demos nossas
entradas a elas! — papai comenta e fico surpresa. As danadinhas
não falaram nada.
— Imaginava que seria impossível que conseguissem estar
em todos. Não deveriam ter comprado tantas entradas! — comento.
— Eu teria dado elas gratuitamente, mas fazem questão de
pagar! — Oliver avisa.
— Não nos julguem. Gostamos de apoiar no que trabalham,
crianças! — Paige fala e me agarra de novo, e rio baixinho,
passando o braço ao seu redor. Amo abraços. — Juízo. Nós
também não poderemos estar presentes, o escritório está terrível de
trabalho. Mas tentaremos ir em outros!
— E ganhem essa temporada. Obrigação de vocês! —
William pede ao filho.
— Vou estar em cima do muro sempre, porque torço muito
pelos dois — meu pai diz.
Tyron e Oliver sorriem.
— Quer para você, Paige? Estou doando um dos dois.
Peguei mais duas para criar, vizinhas, e melhores amigas dessa aí...
Só loucura em casa.
— Mãe! — grito e eles sorriem.
— Filha, a Vicky invadiu nossa casa, acabou praticamente
com nossa comida. A Cherry é a que menos dá trabalho, mas
acredito que a coitada ainda terá um infarto em cuidar sozinha da
prima!
Começo a rir e me afasto da Sra. Sparks.
— Eu já disse para trancarem ela como fizeram com a
Anabelle, mas ninguém me ouve! — Acerto o braço do meu irmão
por falar isso.
— Elas são uns amores. Muito da paz, eles que não sabem o
que dizem! — defendo-as para os senhores Sparks. — Cherry é um
docinho; e a Vicky, muita alegria e paz! — Tudo bem, exagerei um
pouco.
— Não acreditem nela, acreditem em mim. A Vicky é o diablo
e a Cherry, é... Essa é fofa mesmo. Enfim, espero que Orlando
esteja pronta para as três juntas! — Oliver fala e mostro o dedo do
meio a ele.
— Não importa a idade, nunca vão crescer! — Minha mãe
balança a cabeça. — Se cuidem. Bom jogo a vocês, e um ótimo
trabalho a você, filha. Estamos ansiosos para a matéria, querida.
O carro que pedimos para eles, chega, pois vão direto para o
hotel onde estão e, em seguida, para o aeroporto.
— Estou ansiosa para que vejam as matérias! — digo com
um friozinho na barriga. Nem sei por onde começar a escrever.
Ganho mais um abraço de despedida. Meus pais são os
primeiros a entrarem no carro depois de dizerem que nos amavam.
Noto os pais do Tyron falarem sobre alguma coisa que parece o
incomodar, mas estou mais afastada e os barulhos na rua me
impedem de entender bem. Oliver está ao meu lado, mas distraído
com algo no celular.
Lembro que os pais dele sempre ficaram em cima dele como
jogador e com os estudos. Qualquer pai ou mãe que quer o melhor
para o filho faria o mesmo, mas, às vezes, eu mesma me sentia
sufocada vendo de fora. Ele e o Philip pareciam ter um roteiro de
vida já criado. Paige e William são maravilhosos, porém lembro
também que meus pais como amigos deles, uma vez chamaram a
atenção dos dois, que deveriam deixar os meninos um pouco mais
livres, com menos proteção, e deixar o Tyron viver mais, ele já tinha
responsabilidade imensa, e controlar demais não estava sendo
saudável, foi uma das brigas entre eles, porque sempre foram
amigos, ao ponto de se aconselharem, conversarem sobre tudo, não
é à toa que os Sparks cuidam de muitas coisas jurídicas da minha
família, mas, naquele dia, eu jurei que essa amizade não existiria
mais, porque a briga foi feia.
Aquele negócio de não se meter na criação que a pessoa dá
ao filho, mas eu entendi meus pais, e não por serem meus pais,
mas porque eu via que Philip, como criancinha, e Tyron, como
adolescente, eram sufocados pela obrigação em serem “perfeitos”
dentro do roteiro de vida que receberam.
Os Sparks entram no carro e aceno para eles e sorrio. Tyron
está de cara amarrada.
— Vamos? — meu irmão diz e assentimos.
O carro que vai nos levar, se aproxima e não demora para
estarmos seguindo para o hotel também.

Apago exatamente tudo que escrevi e respiro fundo,


conforme prendo o cabelo em um coque alto. É bem tarde já e faz
boas horas que saímos do restaurante, e eu me tranquei no quarto
de hotel e não consegui produzir nada.
A mensagem que chega em meu celular só piora tudo.

Jennifer: Não se esqueça, precisa entregar a primeira matéria até o meio


da semana. Reúna fotos, vídeos, precisamos deles também. Acredito que consiga
fazer o melhor, Kristal.

Estou muito na merda. É como se eu não conseguisse ver o


que posso realmente escrever.
As meninas começam a me ligar em chamada de vídeo, e
atendo pelo laptop mesmo, em conexão ao celular.
— Onde estão, que estão ligando separadamente? —
questiono.
— Eu estou no aeroporto indo para Orlando já! — Cherry diz,
virando a câmera. — Surpresa! Vamos nos ver logo mais!
Finalmente férias. — Volta a câmera para ela.
— Não tem surpresa. Meu pai falou! — Sorrio.
— E depois as fofoqueiras somos nós. O Sr. Reed é péssimo!
— Vicky reclama. — Eu estou ajeitando as coisas. Saí do trabalho
agora. E não conseguimos voo juntas. Embarco de madrugada. —
Mostra a mala com tudo jogado, literalmente.
— Vai ser bom ter vocês por perto. Vão ficar a semana toda
ou até o jogo?
— Eu fico até o jogo. A Cherry fica a semana toda com você
por lá e depois segue para o Canadá, para ver os nossos avós.
— Ai que bom! Saudade deles. Vai ficar muito tempo por lá,
Mascotezinha? — pergunto e ela nega bebendo seu Starbucks.
— Não! Alguns dias. Quero tentar melhorar meu
condicionamento físico. Estou péssima. Nos últimos meses comi
mal demais, e não sei o que é atividade física direito. Estou me
sentindo fraca, emagreci mais... E com meus avós, você sabe, vão
me mimar ao extremo e nunca meus cuidados vão acontecer. Mas
antes do verão terminar acho que eles vêm para a Califórnia ficar
um tempinho aqui conosco.
— Meu orgulho! Queria essa sua responsabilidade, Cherry!
— exclamo, desanimada.
— E o que está havendo? E essa cara de derrotada? Rainha
não tem cara de derrotada! O que houve? Tyron e você se
agrediram? — Vicky diz rindo e Cherry sorri, se sentando na cadeira
de espera.
— Não... Antes fosse. Eu jurei que ele poderia ser um grande
problema, e está sendo em muitos momentos, mas tem algo pior.
Esse lance das matérias semanais. Eu estava apostando tudo para
a matéria final. Eu já tentei de tudo, meninas, não sei o que
escrever, para já surpreender. A verdade é que não sei bem o que
esperam de mim, e isso está me apavorando, me deixando
bloqueada — suspiro.
Vicky se deita na cama.
— Enquanto estiver esperando agradar aos outros, nada vai
dar realmente certo. Precisa focar no que você quer escrever e o
porquê quer fazer isso. Você é inteligente, boa no que faz — Vicky
fala.
— Eu não sei o que falar...
— Kris, a sua chefe nunca disse sobre o que teria que
escrever nessas matérias semanais. Você sabe o que tem que ser
feito na matéria final. Talvez o tema seja livre, e se for, investe nisso.
Fale do que julga ser importante.
Isso é um ponto. Jennifer não avisou nada sobre um tema.
— Podem ter razão. Vou perguntar a ela sobre isso de tema.
Tenho lido matérias de grandes jornalistas esportivos, para ver se
surge algo, mas nada... — resmungo, me ajeitando na cadeira.
— Para com isso, Kris! Não tente fazer isso, porque ficará se
comparando e vai piorar. E não adianta dizer que é inspiração,
porque termina com você se julgando um lixo. Foca em si mesma, e
no quanto é maravilhosa! — Cherry chama minha atenção e sua
prima concorda.
— Você é foda, garota! Vai dar um show nessas matérias,
acredito muito nisso... Sabe o que precisa? Sair, beber, beijar na
boca... Transar... — Cherry começa a revirar os olhos com o papo
da prima e rio. — Isso vai te relaxar. Acredite em mim!
Em certo ponto, ela tem razão. Nunca fui dada a sair com
muitas pessoas. E nem em namorados foquei nesses anos. Porque
namoro para mim é algo sério. Então saí com muitos caras, mas
nada mais que uma noite, coisa de curtição mesmo, e não me
arrependo. A última vez tem um pouquinho de tempo, porque, desde
que soube que seria eu assumindo essa função de jornalista
exclusiva nos bastidores dos Red, minha cabeça só focou nisso e
me sinto até mesmo estressada, baixo astral.
— Pode ser... Mas, por hoje, quero só a pizza que pedi e
dormir.
Cherry arregala os olhos e diz olhando para algo a sua frente:
— Ai. Meu. Deus!
— O que foi, garota?! — Vicky grita.
Meu coração já era!
— Liguem a TV, no Sport Universe! Agora...
Pego o controle rapidamente e Vicky parece fazer o mesmo.
E caio sentada na cama no mesmo instante que vejo o que chocou
Cherry.
Tyron se meteu em uma briga que generalizou em uma boate
na cidade.

— Estamos no centro de Boston, onde tudo aconteceu.


Pessoas no local dizem que o atleta parece ter se sentido ofendido
com coisas ditas por um rapaz, que dizem ser um jornalista.
Pessoas tentaram apartar a briga, mas tudo terminou em uma briga
generalizada. A polícia foi chamada pelos seguranças do local. A
boate fica aqui na High Street, onde a imprensa se dirigiu ao local. O
camisa 14 dos Red Fire se colocou em confusões recentes, durante
as férias, e isso parece ter gerado alguns problemas para ele como
atleta da World Golden Jump, e as pessoas dizem que pensavam
que teriam agora uma versão mais calma do atleta, mas,
aparentemente, ele realmente ficou muito nervoso hoje. Ainda não
se sabe qual foi o assunto que gerou toda essa confusão. O
jornalista saiu daqui com alguns ferimentos, foi atendido no local e
passa bem. O atleta, no entanto, não sabemos bem. Seu segurança
o retirou do local. Tentamos contato com ele, sua equipe, ou o time,
mas sem respostas até o momento...
Puta merda.
Arregalo os olhos.
— Como jornalista, posso dizer, isso não é nada bom! —
Vicky diz e preciso concordar.
— O que será que levou a tudo isso? — Cherry questiona.
Balanço a cabeça.
— Não sei. Mas desconfio do tipo de assunto que esse
jornalista entrou, tendo em vista o que ando notando.
Balanço a cabeça vendo o restante da reportagem. Isso vai
gerar ao capitão dos Red Fire uma punição enorme. O time nunca
perdoaria isso facilmente, ainda mais durante a temporada e na
cidade lotada da imprensa acompanhando tudo.
Levo a mão ao local da tatuagem que possuo, e respiro
fundo.
Ajeito a bolsa em meu ombro, conforme caminhamos pelo
aeroporto de Orlando, após um pouco mais de três horas de voo.
Viemos em um avião comercial. Vou empurrando a minha mala de
rodinhas ao meu lado.
Seguranças ajudam no caminho, com os quatro jogadores
titulares, e mais uma turma do time. Tyron não veio conosco, nem o
vi. Isso que estão fazendo, voo comercial de última hora, é trabalho
das relações públicas, para que os jogadores chamem atenção dos
fãs presentes e isso comece a espalhar na mídia, distribuindo o foco
em cima do Tyron. Não sou idiota, cansei de ver isso.
Fico um pouco afastada deles, até nos aproximarmos do
estacionamento, onde muitos fãs estão presentes, gritando, em puro
surto pelos atletas, que acenam, dão alguns autógrafos rápidos,
antes de entrarem no carro grande, e eu os acompanhar.
Zion me ajuda com a mala e me sento, observando sem
parar as coisas. Os outros membros do time entram no carro atrás e
não demora para estarmos saindo daqui.
Está com uma chuva bem verão, que abafa ainda mais o
calor na cidade. Alf se senta ao meu lado e estende um pacote de
snacks na minha direção.
— Não, mas obrigada. — Sorrio e ele assente, levando uma
porção à boca.
O jogador ajeita os fones semelhantes aos meus, ao redor do
pescoço.
— E aí, gata, o que está achando da gente?
— Alf, deixa a menina em paz! — Killian pede e sorrio.
— Eu sou a própria paz. Poderia ser uma pomba branca! —
diz e os caras riem. — Estou te incomodando, Kristal? — questiona.
— Nem um pouco.
— Viu? Não sabe de nada, Killian! — fala cheio de si, e o
amigo acerta sua cabeça.
O carro segue pelas ruas de Orlando e observo pela janela.
— O idiota está fazendo falta. Para que ele foi revidar as
provocações idiotas?! O cara queria provocar, tenho certeza! —
Tanner diz e fico na minha, tentando saber o que está havendo.
Então Tanner estava junto...
— Melhor não falarmos disso aqui! — Killian fala e sinto o
olhar do Alf sobre mim.
— Se estão preocupados comigo, saibam que não faço esse
tipo de jornalismo — aviso olhando para eles.
— É que você é um deles, gata! — Alf dá de ombros e chupa
os dedos alaranjados.
Os outros três concordam.
— Podemos ter a mesma profissão, mas eu não me meto em
brigas com atletas. E é até antiético eu ficar julgando um colega de
profissão, mas não é porque sou jornalista que eu apoio todos os
meios de se conseguir uma informação. Acredito que tudo tem um
limite. Então não precisam se preocupar comigo, porque eu vim aqui
para fazer matérias sobre como tudo isso acontece, falar de coisas
importantes, sobre vocês como atletas e pessoas, mas entendendo
e respeitando os limites! — aviso de uma vez e torno a olhar pela
janela.
— Eu gosto dela! — Alf diz e já tenho notado que é o bobão
da turma. Gosto dele também.
Zion e Tanner falam comigo, mas são mais contidos e frios. E
Killian é o mais contido de todos. Me respeitam, porém é nítido que
a desconfiança é forte, já que com todos são muito divertidos e
serenos, mas comigo existe a pequena tensão.
O assunto se encerra, e eles começam a falar sobre outras
coisas, enquanto apenas desejo chegar no hotel, e ver minhas
amigas que já estão na cidade, esperando por mim.

Chegamos ao hotel, e a entrada é um pouco conturbada,


claro que isso tudo não é apenas por eles, mas porque aguardam
notícias de Tyron Sparks.
— Ele não vai jogar e nem participar do evento que temos
hoje com um patrocinador — Alf fala e o olho sem entender,
conforme passamos pelas portas duplas. — É irmã do melhor amigo
dele, achei que pudesse querer saber. É a punição dele por tudo.
— Ele não vai jogar? Deixaram-no fora do jogo?! — Arregalo
os olhos. Ele concorda.
— Ninguém sabe ainda. Mas é isso. Nosso capitão está fora.
— Pensei que eu não fosse confiável a esse ponto para
vocês...
— Eu gosto de você e acho que se preocupa com ele. —
Engulo em seco. — Cresceram juntos, ele falou para nós.
Realmente temos receios com você, mas talvez possa dar uma
força, pela ligação que possuem. Será difícil, Kris.
— Não imaginei que a punição fosse ser tão severa. Eu sinto
muito pelo time... — digo com sinceridade.
Ele assente e se afasta.
As meninas conseguiram vaga no mesmo hotel que estamos,
então estaremos bem juntas. Descobri que Jennifer deu uma
matéria sobre alguns jogos na cidade a Vicky, e foi a oportunidade
perfeita para nos vermos, ela usou isso para dizer que precisava
pesquisar pessoalmente. Nossa chefe não é burra, entendeu bem o
que ela queria, mas cedeu.
Faço o check-in rapidamente e sigo para o quarto. Preciso de
um banho e uma roupa mais fresca ainda, está muito calor.

Ainda não consegui ver as meninas, mas já nos falamos pelo


telefone. Como tem um evento, sou obrigada a estar presente nele,
porque trabalho nos bastidores do time. E preciso das fotos e vídeos
que a Jennifer pediu.
O evento é uns trinta minutos do hotel, e acabei me
atrasando um pouco, para me arrumar rapidamente, trocando os
planos de roupa fresca para algo usável em um lugar do tipo. É uma
marca de tênis famosa, mas pede uma produção bem mais
elaborada que somente algo casual. A sorte que trouxe um vestido
preto, um pouco curto, de alcinhas, justo ao corpo, mas nada
chamativo, afinal, não contava com isso agora. Fiz umas ondas
rápidas no cabelo e uma maquiagem mais rápida ainda. Uso uma
sandália preta também, e é isso. Não tinha muito o que fazer em
cima da hora.
Sério, eu preciso estar mais por dentro da agenda deles. Que
droga!
Saio às pressas do quarto de hotel, e vejo a pessoa entrando
no último quarto do corredor. Está abatido, é nítido. Respiro fundo e
olho a hora em meu celular antes de colocar na bolsa, que por sorte
coloquei uma pequena na mala.
Meu coração se aperta um pouco, porque,
independentemente de qualquer coisa, eu realmente nunca desejei
o mal a ele, crescemos juntos, droga, ele é irritante pra caramba,
mas é um bom cara, insuportável? Claro. Estressadinho? Óbvio.
Mas caramba, precisavam cortar ele do jogo? Ouviram todos os
lados? Entendo que regras são regras, mas nunca vi isso... Cortar o
capitão do jogo, de um jogo importante no início da temporada, onde
precisam acumular pontos. Tirar ele do evento? Até compreendo.
Mas a meu ver, isso de tirar ele da quadra, é uma estratégia
péssima, dando mais margens a falatório. Conheço a mídia e sei
que isso foi uma decisão horrível.
Tyron não merecia.
— Sério, por que meus pais me deram uma educação muito
boa ao ponto de me colocar no lugar das pessoas? Inferno! —
retruco baixinho.
No fundo é porque realmente me importo... A verdade que
preciso sempre assumir.
Caminho pelo corredor, indo diretamente na porta que eu não
deveria e bato nela.
Leva alguns segundos até que ela seja aberta, e o moreno
fixar seus olhos em mim. Os cabelos bagunçados, olhos inchados.
Completamente abatido.
Sinto um aperto no peito...
Uma angústia em vê-lo assim...
— O que você quer, Reed? — Sua voz é ainda mais rouca.
— Se troca e me espera. Em cinco minutos retorno. — Ele
me encara mais confuso ainda. — Vai me agradecer, Sparks. E não
reclame, posso tomar uma bronca imensa da minha chefe por isso!
Me afasto sem falar mais nada. Envio mensagem as
meninas, e ao Oliver, que sei que teria um treino bem leve hoje e
depois apenas descansaria.
E me produzi à toa, olha, nem eu me entendo mais!
“Ty é especial, K., e até você sabe disso. Ele ainda pergunta
de você ao Oliver, eu já ouvi. Ele se importa com você, assim como
se importa com ele, porque vive perguntando, então não finja que o
odeia.”
Respiro fundo, porque é como se eu ouvisse nitidamente sua
voz dizendo isso.
Entro no quarto e começo a me trocar, colocando uma
legging, tênis, um top e uma blusa de frio bem fininha por cima. Tiro
os acessórios.
— E não é que foi útil essa roupa? Quem disse que eu não
usaria roupa fitness? — Sorrio falando comigo mesma.
Tudo por uma boa causa que pode me custar muito, ou não,
mas nunca ficaria na minha vendo alguma coisa do tipo. Tyron pode
ter errado, mas não é trancando-o em um quarto de hotel que vão
melhorar algo.
Observo a loira irritante andando à minha frente. Queria
entender quando foi que passei a confiar nas maluquices dela, ao
ponto de segui-la, sem saber onde ela quer se meter? O Uber nos
deixou em um local um pouco longe do hotel.
A chuva voltou a cair, mas não é forte, e é nela que
caminhamos nas ruas de Orlando, o capuz dos nossos casacos
cobre nossas cabeças. Viramos à direita e vejo uma quadra de
basquete, e reconheço as três pessoas nela, que me fazem
balançar a cabeça.
Conforme vamos nos aproximando, ela olha para trás e sorri.
— Não adianta reclamar. Tenho um emprego em jogo apenas
por organizar isso aqui.
— Não te pedi isso, Reed! — aviso e ela dá de ombros.
— E precisa? Cala a boca e curte, cara!
Entramos na quadra vazia e não me admira estar com esse
clima instável na cidade.
Os três nos olham e as meninas correm abraçar a Kristal.
— Olha, eu preciso de muitos mimos depois, porque está
chovendo, posso ficar doente! Nem sei por que estamos aqui. Eu
nem sei jogar isso, Kristal! — Vicky reclama.
Elas me olham e acenam sorrindo, e apenas assinto. Oliver
está com uma bola de basquete em mãos.
— Querendo virar boxeador, cara? — Sorri enquanto leva a
bola ao chão e ela quica sobre suas batidas nela.
— Parece que sim... — Respiro fundo.
Não falei com ninguém sobre o que aconteceu. Minha equipe
e o time sabe do necessário. Ainda não me sinto com cabeça para
isso. Meus pais tentam contato, mas me limitei a uma única
mensagem a eles e nada mais.
— Não sei o que aconteceu naquele lugar, e a real, que não
precisa falar nada. Mas não acho justo que te deixem fora do jogo.
Então, por isso trouxe a gente para cá. Passei aqui em frente no
caminho para o hotel. Isso pode relaxar você. Não jogo nada, mas
seu melhor amigo joga. Vim como base de apoio e elas também —
Kristal diz, e a olho de lado. — Não me olhe assim. Distrair a cabeça
será melhor do que ficar naquele quarto de hotel o dia todo, Tyron!
— Ela pega a bola do irmão e joga na minha direção, sobre o risinho
do idiota. — Vai lá, jogador. Faça o que sabe fazer de melhor. Aqui
não tem as câmeras, o público...
— É como no passado, Ty! — Oliver diz e sorri. — Um contra
o outro e apenas por diversão. Sem dinheiro, contrato, nada
envolvido... Vamos! — Oliver fala e pego a bola arremessando na
cesta.
— É... Pode ser! — digo e eles sorriem. — Mas vocês vão
jogar também.
— Como é que é, o astro do basquete? — Vicky exclama,
enquanto as outras duas me encaram confusas.
— Nem pensar. Viemos para apoio moral. Uns gritinhos se
quiserem! Não jogo. A bola e eu não temos intimidade, sabe? Eu
sempre fui péssima em esportes na escola, na universidade! —
Kristal fala desesperada.
— E eu nem de basquete entendo. Você viu aquele dia. Eu
nem deveria estar aqui. Minha imunidade anda péssima e essa
chuva... Horrível! — Cherry diz e Oliver começa a rir. — Que foi?
— Adora tomar banho de chuva. Vive fazendo isso com suas
amigas. Parem de ser preguiçosas!
Cherry fica corada e as suas amigas dão um passo para trás.
— Está com medo, Kristal? Não é a espertinha do basquete?
Com medo de jogar comigo e seu irmão? — provoco, porque isso
me anima, me relaxa e me faz esquecer a merda toda.
Ela semicerra o olhar.
— Ah, não... Kristal, pelo amor de Deus, não vai... Ela vai! Ela
vai entrar nessa provocação! Garota, se eu quebrar um dedo aqui,
vai me sustentar pelo resto da sua vida! — Vicky diz e Cherry tenta
escapar, mas bloqueio ela, virando-a para a frente.
— Eu sempre me lasco quando entro nos planos malucos de
vocês! — a loirinha reclama e sorrio.
— Tudo bem, mas quem fizer menos pontos, vai bancar o
jantar de hoje! — Kristal diz.
— Pelo amor de Deus! Eles são atletas profissionais, garota.
Enfiou seu juízo na bunda?! — Vicky grita para ela.
— Eu não precisava dessa informação! — Oliver rebate.
— Fechado! — Encaro a peste irritante.

Quase dez minutos de jogo, temos uma Cherry sentada no


canto pedindo socorro, Vicky reclamando que quebrou a perna.
Oliver gargalhando delas e Kristal caída de bunda no chão, porque
tentou me bloquear, e escorregou sozinha.
— Dez pontos para mim e onze ao seu irmão. Ainda quer
continuar, Kristal? — indago, ajudando-a levantar-se.
Oliver vai ajudar a Vicky, que parece que está tendo um filho
de tanto que berra e reclama que tentamos matá-la. A chuva está
um pouco mais forte e o capuz já caiu.
— Eu tive esperança, fé... Não pode me julgar! Em minha
defesa, essa cesta deve ter vinte metros de altura! Porra, qual o
problema dela? — resmunga me fazendo sorrir.
— Precisa de prática, Kristal. O problema não está na altura,
mas na prática que leva a perfeição. Se quiser umas aulas, faço um
preço em conta a você! — brinco e ela me fuzila com o olhar,
acertando a bola em mim.
— Idiota! Oliver é péssimo! Como pode um irmão ser tão
contra a irmã?
— Gatinha, era um jantar inteiro nas minhas costas e a Vicky
come pra caralho! — Ele recebe um tapa da morena. — Ai... Você
que anda ensinando ao idiota ali a ser boxeador? — resmunga. —
Vai deixar, Cerejinha? Sua prima quase me desmonta!
Cherry sorri e se levanta.
— Não contem comigo para nada. Podemos ir para um lugar
coberto? A chuva piorou. Estou morrendo de frio e dolorida para
sempre!
— Só saio daqui quando eu acertar aquela maldita cesta! —
Kristal pega a bola, furiosa, e arremessa, mas provavelmente eu
deveria avisar que o jeito que ela fez, como ficar na frente, não era a
melhor escolha, porque a bola bate na grade da quadra, não chega
nem perto da cesta, e volta com força em sua direção. — Puta que
pariu! Precisarei de uma cirurgia nos seios!
— Você estava tentando acertar o quê? — Oliver indaga. —
Vai se matar!
— Jura? Nem notei... — ela ironiza.
— Amiga, deixa essa... Ok... E vamos de ambulância! —
Vicky diz, quando a amiga tenta de novo e escorrega.
— Alguém deveria pará-la, não? — Cherry diz, bem
preocupada.
Ela vai tentar de novo, mas impeço.
— A bola não te fez nada. E vai se matar, garota!
— Olha, se vão ficar aqui, eu estou indo com as meninas.
Estou congelando. Alguém precisa sobreviver para contar a história
da morte dos dois! — Oliver fala.
— Gente, uma cesta, só isso! — Kristal implora. — Preciso
do apoio moral de vocês!
Cherry olha ao redor e vê a cobertura na frente de uma loja,
do outro lado.
— Vamos estar ali, te dando apoio, Kris! — ela diz e aponta o
local.
— E com o celular nas mãos para emergências! — Vicky fala
e o Oliver a puxa, enquanto controla o riso.
Oliver me olha e assinto, para que saiba que não vou matar a
irmã dele. Eu acho.
Eles vão às pressas para se proteger da chuva, enquanto a
outra está irritada com a cesta.
Miro na cesta e arremesso, a bola passa por ela, caindo no
chão.
— Exibido! — Ela cruza os braços. — Por que nunca consigo
acertar? Sempre que tento, erro. Que inferno! — resmunga.
Os cabelos estão molhados, assim como a roupa. Ela retira o
casaco que já não protege mais nada e amarra na cintura, e ajeita o
top preto no corpo.
— Porque até mesmo o jeito que arremessa pode interferir
em acertar a cesta, Kristal — falo. — Presta atenção em como eu
fico, minhas pernas, braços, o movimento que faço. — Faço
devagar e ela me olha atenta. Passo a bola a ela. — Agora tente
imitar o que fiz.
— Quanta humilhação. Saio da Califórnia para ser humilhada
em uma quadra de rua em Orlando!
— Reclame menos, Reed. E ajeite essa postura. Não vai
jogar vôlei, porra! — informo e ela dá um risinho.
Me aproximo, parando às suas costas, e com calma ajeitando
seu corpo. Subo as mãos para seus braços e sinto sua pele arrepiar,
me fazendo engolir em seco. Que merda é isso?! Noto seu corpo
tensionar e não me parece ser pelo frio. Com a perna direita,
empurro sua perna um pouco mais para a frente, e nosso corpo
acaba colando, e, mais uma vez, me vejo engolindo em seco. A
chuva escorre por nossos corpos, à medida que vai intensificando.
— Arremesse... — falo com a voz baixa, e ela o faz. O leve
impulso faz sua bunda roçar em mim e travo o maxilar. — Cesta...
— sai entredentes.
A bola passa pela cesta e cai no chão, quicando pelas poças
que se formam.
— A-acertei — diz com a voz entrecortada. — Minha primeira
cesta.
Ela se afasta um pouco e se vira para mim. E porra, eu não
queria me apegar a esses detalhes, como o bico dos seus seios
bem rígidos através do tecido do top encharcado em sua pele. Seus
lábios entreabertos. Seu nariz avermelhado e o sobe e desce
contínuo do seu peito. Eu nunca deveria notar uma merda assim,
porque eu não deveria estar duro na chuva gelada, e pela irmã do
meu melhor amigo!
Escutamos o assovio do outro lado, e ela corre pegar a bola.
— É... Obrigada por me ajudar... Valeu mesmo! Melhor irmos!
— diz e somente concordo.
Que porra é isso agora?!
Nos aproximamos dos outros para voltarmos para o hotel.
Cherry pede o carro e Oliver me olha de lado.
— Conheço essa cara, filho da puta. Olhe bem o que vai
fazer, Tyron!
— Não sei do que está falando — minto.
— Sabe sim. Só não fodam as coisas, porque eu estarei no
meio dessa guerra depois! — avisa e pega a bola da irmã. — Isso
aqui é coisa sagrada. Já machucou demais a coitada!
— O importante é que fiz uma cesta! — diz animada, feliz
pela conquista.
— Só que, por sua aposta, teremos que bancar o jantar! —
Vicky diz.
— Vocês duas, sim. Eu fiz três pontos, levando em
consideração de onde acertei a bola — Kristal se gaba e disfarço o
sorriso. As duas olham para ela. — Está bem, eu fiz a aposta, eu
banco! Péssimas amigas!
Oliver passa o braço pelos ombros da Cherry, que segue o
movimento e seu rosto automaticamente começa a ficar vermelho.
Sério, ele ainda não se tocou de que a menina gosta dele? Se tem
alguém que vai foder as coisas por aqui, não sou eu... A briga será
feia, porque serão duas mulheres contra qualquer putaria que ele
armar para cima da menina.
— No fim, nos divertimos! — Oliver declara.
— Fale por você, meu querido. Porque eu provavelmente
precisarei de uma cirurgia nas pernas! — Vicky fala e me olha. —
Olha, o que fiz por você hoje sem nem ter amizade, considere um
carinho imenso, gostosão!
— Vai ter cobrança, certo? — questiono erguendo a
sobrancelha e a morena ri acenando.
— Sempre tem! Vicky Foster não faz nada sem pensar no
futuro! — fala.
— Certeza? — Cherry indaga a ela. — Certeza que sempre
pensa? Que usa esse cérebro?
— Estou sentindo uma negatividade da sua parte, prima! —
Vicky rebate e Kristal ri.
— Deixe a Cerejinha em paz, Diablo! — Oliver rebate e noto
o olhar da Kristal para ele e para a amiga nos braços dele. Ela
percebeu também, não é burra.
— Você é o primeiro a irritar ela! — Kristal diz. — Olha, cadê
esse carro? Estou realmente com frio agora! — Cruza os braços e é
agarrada pela amiga maluca.
O carro se aproxima e, quando vê nosso estado, eu tenho
certeza de que poderia nos xingar, mas abre as portas. As meninas
entram primeiro.
— Fala de mim, mas o único prestes a cometer uma grande
merda é você, Oliver. E eu não queria estar na sua pele quando
outra pessoa notar. — A Vicky não sabe que a prima gosta dele, ou
Oliver estaria morto.
— Quê? — Olha para mim confuso. — Do que está falando?
— Esquece. Vamos! — Empurro-o para dentro do carro. Vai
na frente. Fico atrás. O carro é grande, cabe todos.
O motorista nos reconhece e o humor melhora muito. Ao
menos não nos expulsará antes de chegar no hotel.
Quando o carro começa a trafegar, eu então noto que, pela
primeira vez, desde a merda que fiz, eu me esqueci de tudo e da
confusão que criei, e realmente me diverti.
Olho para a garota ao meu lado, suas amigas e Oliver
conversam com o motorista. Ela me olha e sorrio.
— Obrigado.
— Pelo quê? — sussurra.
— Você sabe pelo quê. — Ela assente e retribui o sorriso. Um
trovão ecoa e ela estremece olhando para a frente.
Passo o braço ao redor do banco, tocam seu ombro. Ela não
me olha quando outro trovão ecoa, mas deixa nítido que as
tempestades barulhentas ainda a assustam, quando seu corpo fica
tenso. Ela aperta as mãos sobre o colo.
Suas amigas não parecem saber do seu medo, e seu irmão
parece alheio. Algo me diz que ela esconde de todos que esse
medo continua. Acaricio seu ombro e ela me olha de lado. Tento
falar, mas ela nega rapidamente e tenho as respostas para todos os
meus pensamentos.
Assinto. Seu medo a envergonha, porque Kristal sempre
tentou ser forte, e mostrar fraqueza nunca fez parte dos seus
planos. E isso nesses anos todos nunca mudou.
Todos temos medo de algo, e só nós sabemos como lidar
com cada coisa, mesmo que alguns julguem bobagem. É um
processo, onde aprendemos aos poucos como enfrentar cada coisa.
É assim que aprendo na terapia, mas também sei que nem sempre
estaremos em um dia ótimo para enfrentar tudo e todos que
surgirem e ativarem nossos gatilhos.
É, eu não estava bem para enfrentar o que aconteceu
naquela boate.
O jogo entre os Red Fire e Iron acontece antes dos jogos dos
Tigers, que será à noite. Sigo com meu caderninho anotando muitas
observações que tenho feito nos últimos dias. Jennifer quer a
matéria até amanhã para a edição final, e subir no site o quanto
antes. Eu quero dar o meu melhor e sei que isso acaba me
desestimulando em muitas coisas, devido a autocobrança que faço
em mim mesma.
As meninas estão sentadas na primeira fileira, assistindo ao
jogo, e parecem se divertir mais. Eu estou nos bastidores,
observando tudo pelos televisores. Eles jogam com um dos
reservas. O time ainda está bom, mas é óbvio que toda estrutura
montada para esse jogo, toda estratégia foi por água abaixo,
porque, consertar assim em cima da hora, não é fácil. Os reservas
são ótimos, mas o capitão deles está fora, isso abala a torcida, o
time. Desanima a todos. O técnico do time está mais estressado que
o normal, e eu achei que isso não era possível.
Risco o que escrevi e coço a nuca, lembrando-me do jogo de
basquete com o pessoal na quadra... Por que o que aconteceu ali
não sai da minha cabeça? O maldito toque dele, é como se eu ainda
sentisse. O sutil ar da sua respiração perto demais, é como se eu
ainda a sentisse percorrer minha nuca.
Tem alguma coisa bem errada acontecendo, que eu sei que
jamais deveria acontecer. Crescemos juntos, nunca cogitamos algo
assim durante todos esses anos, e agora, dias convivendo
novamente, as coisas vão perdendo o controle aos poucos.
Crescemos, e parece que estamos tendo que lidar com as
consequências de algo... Que algo é esse? É aí que o problema
reside.
Levanto-me para beber um pouco de água, e me concentrar
em trabalhar, fazer algumas fotos do jogo, se bem que pedi ajuda
das meninas. Não quis ficar por lá hoje, para ver se longe do foco da
bagunça toda do jogo, eu consigo me concentrar mais.
Caminho pelos bastidores, indo até a salinha especial
reservada para descanso.
Zachary está presente em mais um jogo e está dentro da sala
com o vice-presidente. Donos literalmente da Golden, e não são
muito legais, digamos assim.
— Você tem noção da quantidade de dólares perdidos com o
capitão no vestiário? Porra! O que os Red Fire têm na cabeça? Que
ele soque a cara de quem for, mas não o sentem no banco! —
Jayden, o vice, fala.
— Eu já disse que prefiro retirar o Sparks antes de mais
prejuízos. Os patrocinadores estão desesperados. Mandei entrarem
em contato com o empresário dele, porque não tenho nada a ver
com a porcaria que fizeram! — Zachary beberica o café e leva a
mão ao bolso da calça social.
Engulo em seco ouvindo mais uma vez uma conversa que eu
não deveria.
— É dinheiro pra caralho que perderemos. O contrato dele é
milionário, e romper logo após ele renovar com a Golden e o time
dele... Não vou perder bilhões assim. O time dele precisa ensinar a
esse mimado o que um atleta realmente faz, e aqui, trabalham para
nós, com as nossas regras! Foda-se o time! Foda-se os
probleminhas idiotas deles! Isso aqui vale dinheiro.
Arregalo os olhos. Como podem ser tão frios assim? Não sou
burra, tudo que envolve dinheiro demais, ele sempre vai vir à frente
de qualquer compaixão, mas caramba... Todo mundo sabe por que
ele está regredindo na quadra, na vida... Ou ao menos deveriam
saber, já que esteve em todos os jornais por quase um ano inteiro.
Ele até que enfrenta bem tudo isso, muitos outros provavelmente
recuariam, viveriam o luto sem nem tentar mais nada, porque cada
um enfrenta de uma maneira. Tyron está tentando, eu vi...
Acompanhei cada maldita notícia. Ele não recuou. Continuou dando
o que podia nesse time. Se meteu em muita merda nas férias
passadas, porque provavelmente foi quando ele se permitiu sentir
de verdade. Mas agora, eu vejo as crises que ele tenta controlar, o
quanto tenta aceitar ajuda, e por longos momentos consegue ser o
idiota de sempre.
Eles deveriam ver isso, mas são focados no dinheiro o
suficiente para tacar o foda-se em qualquer coisa que possa tirar
deles a quantia que seja. Mesmo que essa coisa, ou pessoa, tenha
rendido a eles muito mais do que perdem.
Me faço ser notada e eles me olham surpresos.
— Olá! — Dou um belo sorriso.
— Como vai, senhorita Reed? — Zachary indaga com um
sorriso digno de Oscar.
— Ótima, e os senhores? — pergunto, pegando uma garrafa
de água.
— Muito bem, obrigado por perguntar! — Jayden responde.
— O que tem achado dessa oportunidade? Estamos ansiosos para
ver o que falará do time e dirá sobre nós, mesmo que nas
entrelinhas. — Sorri.
Sorrio e suspiro.
Se eu pudesse falar tudo que realmente tenho notado,
acabaria com vocês antes que pudesse falar basquete.
— Está sendo incrível. Digamos que estou conhecendo um
lado dessa competição e dos jogadores que nunca imaginei, mesmo
sendo irmã de um e amiga de infância de outro. Muita coisa está me
surpreendendo. — Encaro-os e pisco antes de sair.
Foda-se se entenderam que eu ouvi, isso não me importa,
não quando o respeito deles pelos jogadores foi para o lixo. A
Golden merecia melhores donos, ou que todos que trabalham nela
fossem mais firmes e mostrassem que eles podem ser donos, mas
sem todo mundo aqui, inclusive o público, nunca teriam nada.
Ninguém cresce sozinho, é uma verdade que poucos estão prontos
para reconhecer, pois podemos sim ter grande mérito em nossa
conquista, exatamente por não ter desistido e ter tido confiança,
mas sem tudo e todos que trilharam nosso caminho até o topo,
nunca chegaríamos nele.
Babacas!
Sigo para o vestiário e vejo no meu celular que logo o time
terá um intervalo.
Entro no vestiário e Tyron está de braços cruzados, boné
para trás, a camisa vermelha com detalhes brancos do time, calça
jeans justa ao seu corpo e encarando a televisão no alto.
Pego a bola caída no canto e acerto ele, que nem se move.
— Nem preciso me virar para saber quem é o demônio a
fazer isso! — fala e suspiro animada por saber que minhas
“delicadezas” a ele são reconhecidas. Que bom.
— Ótimo. Próximo tempo, sobe com o time. E senta esse
traseiro naquele banco! — aviso bebendo minha água enquanto me
sento no banco, colocando minhas coisas ao lado.
O moreno me encara.
— Não adianta me olhar com essa cara péssima! Escuta o
conselho. Entra com os meninos, senta essa bunda malhada no
banco com os demais reservas e assista de lá. Ergue essa cabeça,
Sparks! — Fecho a garrafa.
Ele começa a rir e o encaro.
— Reparando na minha bunda, Reed? — Descruza os
braços.
— Idiota! Só focou nisso? Eu não reparo na sua bunda. Não
se sinta por isso! — aviso e ele ri ainda mais.
— Ficarei aqui mesmo. E se puder sair e parar de atrapalhar
aqui... — Pisca para mim.
Idiota. Mil vezes idiota!
Pego minhas coisas e me levanto.
— Depois não diga que eu não avisei! — Me viro para sair.
— Qual a fofoca que ouviu? Kristal, não acha que tem sido
fofoqueira demais?
Viro-me para ele e sorrio animada.
— Digamos que os ratos estão loucos para fazerem a festa!
— Quê? Que porra comeu ou bebeu? Andou saindo com o
Alf? Isso é convivência!
— Não fale assim! Ele é ótimo! — defendo o coitado.
Ele me observa e tento não me sentir esquisita com isso.
— Defendendo um Red Fire? Estou surpreso.
— Pode só escutar o que eu alertei, Tyron Sparks? —
Gesticulo com a mão livre.
— Vou pensar no seu caso, Kristal Reed! Agora pode ir.
Reviro os olhos.
— Está me devendo ajuda. O que o time fará depois? Tentei
a agenda, mas parece que é exclusiva demais. Porra, para que me
mandaram para cá?! — reclamo.
— Se o time ganhar, comemorar. Se ele perder, comemorar.
Eles amam comemorar! Obrigado, perdi o final do tempo! — Aponta
para a TV.
— De nada! — Pisco e me afasto. — Vá com eles, Sparks.
Não seja teimoso. Vai me agradecer muito! — grito conforme
caminho, e posso estar doida, mas acho que ele me xinga.

Os Red Fire perderam por pouco, isso os prejudica um pouco


nas pontuações, mas nada grave, ainda.
Eles realmente vão comemorar, para espairecer, em um
restaurante perto do hotel, fechando uma ala exclusivamente a eles.
Obviamente não poderei estar, é algo privado ao time. Mas Tyron
vai, e se ele não me falar como foi, e alimentar minha inspiração, eu
esfolo o rostinho bonito dele.
— Sabe, eu não prestaria para ser atleta. Um minuto de jogo
e eu me deitaria no chão para dormir! — Vicky diz.
Estamos em uma pizzaria comendo. Queríamos um bar, mas
não deixaríamos a nossa mascotezinha de fora, já que completará
vinte e um anos logo mais. Falta bem pouco. Ela não se importaria,
saímos para boates e bares sem ela, mas sempre incluímos ela em
todos os nossos passeios possíveis. E se o local permitir sua
entrada, então a levamos, o que são raros os lugares assim, muito
raros mesmo.
Bebo minha Coca-Cola e sorrio.
— E nós sabemos disso! — falo e rimos.
— Ai, tão bom ficarmos juntinhas. Uma pena Vicky ter que
retornar amanhã, e eu já ter que ir para o Canadá — Cherry diz e
assentimos.
— Mas só de ter vocês um pouquinho comigo, já fico muito
feliz. Já estão tornando esses dias mais leves. E sabem, me sinto
até mais inspirada para criar a matéria.
Elas sorriem e isso é tudo que preciso. Toco de leve a
tatuagem.
Eu vou te dar muito orgulho nesse jornal, garoto. E de onde
estiver sinto que vai ler algo grandioso escrito por mim nele...
Não costumo falar sobre isso com minhas amigas. Nem com
minha família. Desde que perdemos ele, eu sinto que é como se o
meu garotinho de sorte tivesse se tornando uma estrela que me guia
por onde estiver, e eu sempre quero dar a ele orgulho.
Philip era muito apegado a mim antes de eu vir embora, e
depois eu sempre tinha contato com ele por videochamadas,
através do celular dos seus pais, e quando ele ganhou seu primeiro
celular, já não precisava mais dessa pequena ajuda, todos os dias
trocávamos mensagens bobas, e sempre fazíamos videochamadas
quando dava, falando ainda mais asneiras. Ele dizia que estava me
tornando uma adulta velha demais para a minha idade, e eu dizia
que ele estava se tornando um adolescente bocudo demais.
Nunca comentei com todo mundo do nosso contato
frequente, porque era algo nosso, onde eu sentia que, mesmo
crescendo, a garotinha dentro de mim poderia ainda existir, essa
essência nunca deveria se apagar. Ele me fazia acreditar nisso.
Estive ao seu lado na sua infância. Acompanhei sua trajetória
a adolescência. Seu primeiro beijo — dois adolescentes dando
selinho, foi literalmente isso —, foi dito a mim. Eu tentei amparar
seus medos. Suas alegrias eram as minhas também. Mas, ainda
assim, eu não notei os sinais e me culpo por isso. Hoje eu vejo
todos eles em cada entrelinha nas conversas não apagadas, nos
áudios ainda existentes. Não tive forças para estar no seu enterro,
porque eu não sentia que era o momento.
A tatuagem, as idas a Nova York no seu aniversário, fiz tudo
por ele. Porque todos os dias, em cada pequeno detalhe, eu quero
me lembrar dele, dos seus sorrisos, das suas piadas sem graças,
das suas ironias muito semelhantes às de seu irmão.
— Terra para Kris! — Vicky diz e pisco rapidamente.
— Perdão. O cansaço me faz ficar perdida. Vamos comer e
aproveitar antes de irmos assistir aos Tigers.
Elas toparam ir comigo, e vai ser bom. Quanto mais eu sair,
ver as pessoas, a Golden acontecendo, melhor será para escrever
sobre ela e os Red.

Tyron: Eu não vou ficar de fofoca sobre conversas. Caralho, Kristal, seja
específica no que quer!

Começo a rir.
— O que houve? — Cherry pergunta.
— Um ajudante do meu trabalho, aparentemente é bem
impaciente.
Me olham confusas.

Kristal: Seria um péssimo jornalista. Só preciso que me fala como foi tudo,
me inspire, Tyron. Ou só serve para jogar e pegar geral?

Ele me envia um emoji mostrando o dedo do meio. Quanta


maturidade. Retribuo enviando uma foto mordendo a pizza e dando
uma piscadinha.
O idiota visualiza e curte a foto... Qual é? Não vai revidar?
— Vai nos contar o que está havendo entre você e o camisa
14? — Vicky indaga e começo a me engasgar. Cherry ri. — Já vi
tudo... Acha mesmo que não notamos o clima na quadra, a chuva...
os toques... O carinho em seu ombro no carro.
Continuo entalada com o pedaço de pizza e Cherry me
estende meu próprio copo com Coca-Cola. Bebo para ir
desentalando, e vai melhorando.
— Está louca? Tyron e eu? Nem morta, Vicky! Nem morta! —
aviso, limpando a boca.
Ela ri e odeio esse risinho debochado. Até a Cherry parece
duvidar.
— Ok... Vamos acompanhar, né?! — Cherry diz e a olho de
lado, e ela me joga um beijo.
— Não tem nada, ok? E nem vai ter!
Tyron e eu? Nunca!
No carro, ele apenas foi atencioso, como sempre foi, pois
sabe do meu medo de tempestade, e pareceu notar que ele ainda
existe, não forte como antes, mas se faz presente... Elas não sabem
que isso existe, tento ocultar, porque é muito bobo ter isso ainda, ao
menos eu considero bobo para mim, e evito que minha família
também note. Ele notou, por um deslize meu, e foi educado, o que
ele consegue ser as vezes, nada demais!
— Acho que bastará segundos perto um do outro, em um
clima mais quente, para explodir! Mas como vai negar, vou me calar!
— Vicky provoca e meu rosto queima de raiva. — Nem adianta falar
nada, até a Cherry notou! A galera do romance diz que amor e ódio
andam lado a lado... — Morde sua pizza.
— Cale a boca, Vicky! — rebato e mordo com raiva meu
pedaço.
Merda, perdi até a fome!
Elas ficam rindo, e eu sendo a piadinha das primas palhaças!
“Os primeiros jogos têm se mostrado realmente impactantes,
mesmo que muitos digam o contrário do que eu vejo aqui. Quando
estamos do lado de fora, nas arquibancadas, apenas dando ordens
aos jogadores e seus times, é porque realmente não entendemos, e
muitas vezes vemos tudo fácil, porque não vivemos a situação de
verdade.
Não é fácil acordar sempre muito cedo, lidar com regras e
mais regras o tempo inteiro, lidar com alimentações mais regradas,
não ter privacidade, e ainda lidar com a pressão de dar o melhor
pelo time, por si mesmo e pelos torcedores. E é isso que notei
nesses primeiros dias, primeiros jogos, não apenas com os Red
Fire, mas em toda a World Golden Jump.
Eu pensei muito em como criaria essas matérias semanais a
vocês, e escolhi o jeito que se sentirão realmente aqui: eu entrego a
vocês um diário aberto dessa temporada de basquete, onde não falo
apenas como jornalista, e sim como uma espectadora de tudo que
está havendo nos bastidores.
Acompanhar a rotina desses caras gigantes, não tem sido
fácil. Eles realmente têm mais dias agitados do que de folga. A todo
instante tem algo a ser feito, uma agenda a ser cumprida
corretamente. Isso tem feito eu me arrepender amargamente de não
ter tido um estilo de vida mais saudável, e ainda culpei uma das
minhas melhores amigas por ser relaxada, e vejam só, mordi minha
língua.
Os bastidores sempre têm algo acontecendo, seja, conversas
misteriosas, jogadores fazendo seus rituais antes do jogo ou nos
intervalos, e uma correria assustadora. Entretanto, é o silêncio que
me chamou mais atenção, porque nele eu vi expressões de
desespero ou preocupação, rugas se formando, batimentos tão
acelerados que era notório em suas gargantas, dores sendo
controladas, uma luta contra a própria mente acontecendo,
enquanto fora daqui sorrisos, autógrafos e fotos são dadas.
Para poucos dias, sinto que pude observar muitas coisas que
quero compartilhar mais com vocês, trazendo em palavras, vídeos e
imagens. Sei que podem estar esperando fofocas, escândalos, e
sim, eles existem, mas não é esse o meu objetivo. Eu quero que
sintam e conheçam esses jogadores por trás dos uniformes, que
conheçam o time por trás do fogo que os representa, e vivam a
Golden de dentro para fora.”
Kristal Reed – Jornalista esportiva

Confiro as fotos e vídeos, e me pego sorrindo. A maluca é


boa com as palavras e fez ótimos registros exclusivos.
Jamais imaginei que realmente gostaria de ler algo falando
sobre nós, afinal, sempre costumo fugir dessas notícias e pensei
que ela falaria de todas as merdas explodindo aos poucos, mas se
conteve, falando apenas o que observa, não as fofocas que se
espalham. Estou realmente muito surpreso.
Hoje é o nosso último dia em Orlando e depois seguiremos
para o nosso próximo destino. Resolvi sair um pouco para correr
com o Tanner e respirar longe do hotel. Perdemos o jogo, mas isso
não é o fim, e precisamos recuperar o que ficou perdido.
Ainda me culpo por toda a merda que resultou em me
deixarem de fora do jogo, mas são as consequências do meu ato,
não me arrependo do que fiz, apenas me culpo por toda a merda
que respingou no time.
Bebo a água que compramos aqui perto, bloqueando a tela
do celular e colocando no bolso, após ter lido a notícia.
— Olha, mal começamos e já penso em desistir. Os caras
estão vindo com tudo para cima da gente. Desse jeito terminaremos
o campeonato mortos! — Tanner diz, conforme se senta no banco,
bebendo sua água.
— Estão fazendo isso porque sabem que temos chances
demais esse ano, tendo em vista todo preparo insano que foi feito
em cima de nós. Somos o inimigo que querem eliminar. Estamos no
meio da fogueira deles.
— Sendo torrados! — fala e começamos a rir. — Porra, a
única coisa boa nisso tudo é que no final sempre nos divertimos,
mesmo quando você faz suas cagadas! — Chuta meu pé.
— O time não é apenas eu, Tanner. Sabem se virar sozinhos!
— Se soubéssemos, não precisaríamos de um capitão, filho
da puta! Vê se controla esse temperamento, porque mais um jogo
sem você e eu mesmo soco sua cara! — avisa sério e apenas
sorrio.
— Vou ver o que posso fazer! — Pisco, provocando-o e ele
joga água em mim. — Filho da puta!
— Estava precisando de um banho, Sparks! — Ele se levanta
rindo. — Vou indo nessa, já te doei muito do meu tempo! — Se
afasta rindo, indo em direção ao hotel. Estamos perto.
Não sei como aguento esses idiotas.

Saio do banho conferindo as informações que Gilbert, meu


empresário, me envia sobre a reunião que teve com algumas
marcas que trabalho com elas. De acordo com ele, conseguiu conter
um pouco da bagunça criada por mim em Boston. Skyler, relações
públicas, também me mandou mensagem, dizendo que eu ter
assistido ao jogo sentado com os reservas, caiu muito bem na mídia
depois de tudo, que alegam que foi um ato de respeito e coragem
pelos meus parceiros de time.
E parece que Kristal tinha razão em me encher o saco para
sair do vestiário. Os Tigers perderam também. Pelo jeito, foi uma
semana de muita merda para nós.
Já organizei minhas coisas, tenho o restante do dia livre e
não estou a fim de sair, prefiro ficar pelo hotel, colocando a cabeça
no lugar, para viajar amanhã. E pensando nisso que passo protetor
solar, e desço para a área da piscina, está sol, bem quente. Carrego
junto comigo meus fones de ouvido, para distrair minha mente.
Não demora para eu estar no local, com pouquíssimas
pessoas, o que é perfeito.
Sento-me na espreguiçadeira mais distante, retiro a camiseta,
ficando apenas de short. Deito-me, deixando a camiseta perto dos
meus pés. A música em meu ouvido me acalma e apenas fecho os
olhos, puxando uma das pernas para cima, enquanto a outra se
mantém esticada. Gosto de ficar na minha própria companhia
também, nunca foi um problema para mim. Mais tarde tenho terapia,
e a psicóloga vai provavelmente agradecer por não ter um Tyron
irritado, apenas good vibes.
De alguma forma, eu começo a acreditar que o universo anda
tendo grandes problemas comigo. É impossível sempre que eu pedir
paz, ele me trazer o tormento!
No instante que abro os olhos de novo, vejo Kristal, do outro
lado, sentando-se na espreguiçadeira, com Cherry na outra. Estão
de biquíni. Mas é apenas na loira diabólica que meus olhos focam.
No biquíni pequeno, desses bem modernos, verde-água. Ela sorri
de algo que a amiga fala, e então se vira de bruços na
espreguiçadeira, a bunda fica bem empinada, com a calcinha do
biquíni cravada dentro dela.
Engulo em seco.
Cherry se deita, ajeitando o biquíni vermelho, enquanto
conversa com a amiga. Ela parece tímida por estar assim, mas é
difícil saber direito, já que é sempre tímida. A diabólica de bunda
para cima, ri de algo de novo, e se ajeita, mexendo a bunda.
Engulo tão seco que me sinto no Saara.
Eu quero entender por que infernos essa garota está me
fazendo pensar no que eu nunca deveria pensar nela? Segundos,
malditos segundos para ela tirar tudo do lugar! Kristal Reed é o
diabo na Terra!
Alguém terá que pedir para sair desse inferno, e ela chegou
agora na Golden. Ou ela sai, ou teremos grandes problemas!
Levanto-me, pausando a porra da música e deixando os
fones em meu pescoço. Pego a camiseta e saio dali, seguindo para
os elevadores próprio a quem está com roupa de banho.
Aperto o botão e parece que leva uma eternidade, até ele
chegar e as portas se abrirem. Soco o botão para o meu andar.
— SEGURA! — A voz não só me assombra, como me obriga
a segurar a porta, porque iria amassá-la. — Esqueci o protetor, sou
totalmente... Ah, é você! — Me encara finalmente.
A diabólica desencosta e a porta se fecha. Estamos no
mesmo andar, para o meu grande azar. Aperto a camiseta em minha
mão, porque eu estou pagando algum pecado do caralho.
Ela me olha de cima a baixo, e fica em um canto mais
afastada. Melhor assim!
E espero que fique muda. Estamos quase chegando no
andar, e isso é ótimo, porque está um calor do inferno. Não tem ar
dentro dessa merda não?
Um tranco...
O caralho de um tranco...
Luzes piscantes...
Não! Não! Tudo menos isso!
O elevador para.
— Ah, não! Sério que parou?! — ela resmunga, e olha ao
redor.
Aperto o botão e não resolve. A luz pisca de novo e se apaga
de vez, ficando escuro. Pego o celular, e está sem sinal!
Só pode ser uma brincadeira de mau gosto do caralho do
universo!
Ilumino com o celular o painel, e aperto o botão de
emergência, até conseguir contato com o hotel. Isso tem que
funcionar.
— O que aconteceu? — A voz sai para o meu alívio.
— O elevador parou. Está totalmente sem energia. A única
coisa funcionando é o contato com vocês. Paramos no sétimo
andar. Elevador perto da área da piscina.
— Certo... Estamos confirmando o que pode ter acontecido.
Tem quantas pessoas no elevador? Estamos sem acesso as
câmeras no momento.
— Duas! Moça, pelo amor de Deus, isso tem que voltar logo.
Está quente aqui! — Kristal fala, tomando a frente.
— Estamos verificando com a emergência. Mas o que já
adiantamos é que mantenham a calma, por favor. Foi uma queda de
energia coligada aos elevadores. Todos pararam e estamos
tentando resolver o quanto antes isso. Manteremos contato. Nossa
equipe já está correndo para que eles voltem a funcionar, ou que
consigamos fazer a retirada de vocês. Sabem dizer se ele
completou a chegada no sétimo andar?
— Provavelmente, tenha subido um pouco. Estava para virar
o número no painel quando tudo aconteceu — explico.
— Certo. Por favor, pedimos calma e vamos resolver isso.
Sentimos muito pelo ocorrido.
— Ok.
Ela corta o contato e bloqueio a tela do celular, tornando tudo
escuro.
— Sério, a porra do contato funciona, mas o elevador, não?!
— Deve ser por isso que é chamado de botão de
emergência, Kristal. Exatamente para funcionar quando acontecer
uma emergência — falo, e ela xinga baixinho.
— E está um calor infernal aqui. Sabe que iremos morrer? Eu
nunca imaginei que meu fim fosse assim. Morrer de biquíni em um
elevador escuro e tendo a companhia do dono do inferno!
— Como é?! — rebato.
— Estou agoniada de calor, não me peça para ser menos
drástica!
Reviro os olhos, mesmo que ela não possa ver.
— Se ficar quieta, não sentirá tanto calor! O único que
deveria estar irritado sou eu.
— E posso saber o porquê? — revida com a voz nervosa.
— Porque estou em uma lata preso com você. Tem coisa
pior? Kristal, se acalme, porra! — Minha voz sai mais alta.
— Vai se foder, Tyron! Ai, merda, soquei minhas costas.
Sorrio.
— Não me lembro de ser tão boca suja, princesinha Reed.
— Você consegue coisas inimagináveis vindas de mim,
Sparks! Acende esse celular, esse breu está me agoniando mais! E
se isso explodir?
Se isso for calar ela, invento energia nessa merda agora.
Acendo a lanterna do celular, colocando no chão, ao canto, e
o reflexo no espelho ilumina o pequeno espaço. Kristal está a minha
frente, fazendo um coque no cabelo.
— Isso é culpa sua, sabia? — Ela se vira para o espelho,
ajeitando o maldito biquíni.
— Minha? — Ergo a sobrancelha, e coloco a camiseta no
ombro. — Posso saber de onde tirou essa conclusão, garota?
Ela tenta arrumar o laço na parte de trás do biquíni.
— Com a sua péssima vontade em abrir a porta para mim.
Energia ruim contagia!
— Eu sempre me arrependo de questionar qualquer coisa a
você, assim que abre essa boca!
Ela sorri vitoriosa.
— Ajeite aqui, antes que eu fique nua. Seja útil!
Com tantas pessoas que eu poderia ficar preso em um
elevador, ela foi a escolhida. Isso é tortura!
Me aproximo, ficando as suas costas, e pegando os fios
grossos de suas mãos. Ela segura a frente do biquíni em seus seios
cheios o suficiente para me trazer pensamentos de merda. Ajeito o
mais rápido possível, porque isso está me deixando com mais calor
ainda nessa merda.
— Obrigada!
Assinto, e volto para onde eu estava.
— Está calor demais, Tyron! Sério... Que merda! — fala com
a voz ansiosa.
— Assim como ainda tem medo de tempestade, tem de
elevador? — Sai mais rápido do que posso controlar.
Ela fica de costas para o espelho.
— Não te agradeci pelo que fez naquele dia... Obrigada... E
não tenho medo, só pavor dele ter uma queda drástica.
— Pensei que não existisse mais isso de chuva. E para de
pensar merda.
Ela suspira e relaxa os ombros.
— É bem mais fraco do que antes. Só não gosto de ficar
expondo que ainda acontece. Fico meio tensa, mas nada grave —
confessa e concordo.
O silêncio torna a reinar e sua impaciência parece retornar. O
suor começa a escorrer por nós, lentamente. Faço contato com o
hotel, e dizem que estão tentando ao máximo resolver depressa,
que são todos os elevadores, e alguns tem criança e pessoas de
idade, e claramente se tornam prioridade.
— Quer se sentar? Pega minha blusa e coloca embaixo de
você, Kristal.
— Não... Só quero realmente sair logo daqui... — Meu celular
desliga, porque não tinha muita bateria. — Que ótimo! — diz.
O elevador é tomado pela escuridão novamente.
Esse dia só melhora...
— Eu vou abrir essa porta sozinha, juro! Que demora, meu
Deus! Deveria ter vindo com um lanchinho... Comer me relaxaria.
Ela tenta fazer sabe se lá que porra, e só sinto seu corpo
vindo em cima do meu, que preciso segurar rápido. Sua bunda está
colada em mim e o grito dela ecoa pelo susto.
— Que merda tentou fazer, porra? — indago.
— Andar? Está escuro, não pode me julgar! — responde
ofegante. — Será que morreremos assim?
Sem pensar muito nas consequências, aperto mais seu corpo
ao meu.
— Se acalma, ok? — Abaixo o rosto na direção do seu
ouvido. — Pensar merda só vai piorar tudo. Eles logo vão tirar a
gente daqui ou fazer isso funcionar. Respira fundo.
Ela assente e isso só faz o seu perfume de baunilha me
atingir ainda mais. Respiro fundo, quando meu pau pulsa, sem que
eu possa controlar. Sei que ela sente, sua bunda está colada nele.
Oliver poderá meter um murro na minha cara se achar
necessário, darei razão a ele.
— Sua respiração está agitada demais, Kristal... Se não
começar a respirar fundo com mais calma, vai ter uma crise aqui...
— sussurro.
— N-não é pelo elevador... Não estou agoniada aqui à toa...
— Porra! — Tyron... — Sua voz é como nunca antes ouvida por
mim, sexy.
— Kristal... — Engulo em seco. — Pede para eu te soltar
agora... — Silêncio. — Kristal! — chamo de novo, e mais vida meu
pau ganha.
— Está me acalmando... T-Tyron... Juro.
— Péssima escolha, garota! — digo nervoso, e incapaz de
afastá-la.
Seu corpo segue ainda colado ao meu, sua bunda sendo
cutucada pelo meu pau crescendo, e minha respiração se perdendo
a dela.
Não sei que porra tudo isso está se tornando e como
começou a se tornar, mas é perigoso demais esse jogo. Não existe
palavras, e esse silêncio é ainda pior. As lembranças da sua bunda
empinada minutos atrás, do seu corpo colado ao meu na quadra...
Tudo se torna combustível.
O som baixinho que sai da sua boca no instante que meu pau
atinge o limite, me faz fechar os olhos, mesmo que a escuridão não
me permita ver nada.
Ninguém pede para sair, ou tenta se afastar... Isso é um erro
enorme.
— Isso é errado. Mas está me relaxando... Muito... —
sussurra. — Fica assim... não me solta, por favor... — pede e sua
voz é uma tortura maior. — Sentia que daria ruim...
— Sabe o que está acontecendo, Kristal... Sente como
estou...
— Eu sei... Fica apenas entre nós, mas não me solta...
Respiro mais uma vez fundo. Eu nem conseguiria soltar.
Kristal não tem claustrofobia, ela apenas não gosta de
lugares apertados, e escuros, fica agoniada, mas nunca foi algo
grave, por isso pensei que mantendo-a colada a mim, ajudaria a
parar de pensar besteira, só não imaginei em como ajudaria.
Meu pau chega a estar dolorido de tesão, que tanto cresce.
Meu coração está acelerado com isso.
Ela se mexe e um ruído sai dos meus lábios.
— Não faz isso, garota! Não fode mais essa merda! — falo
sentindo o cheiro do seu pescoço. — Vem... senta aqui comigo.
— Tyron...
— Não vou te soltar!
Escorrego pelo elevador, com ela presa em meus braços.
Sinto o chão dele e me sento com ela entre minhas pernas, bem
colada a mim. Com um braço seguro seu corpo, e o outro uso para
nos ajeitar.
E se eu achei que isso seria menos ruim, foi uma ideia de
burro. Ela encosta as costas em meu peito nu, estamos suados,
quentes. Os segundos se tornam horas e as horas parecem se
tornar dias dentro desse lugar.
Ela se ajeita e minha mão vai parar em cima da sua calcinha
do biquíni. Está molhada essa porra...
Kristal Reed deseja me matar!
Retiro a mão levando a sua perna.
— Está muito calor... — diz baixinho.
— O que quer que eu faça para te distrair, Reed? — Minha
voz está entrecortada.
Ela não diz. A filha da puta apenas se vira, ficando de frente
para mim e montada em meu colo. Eu sinto seus braços
contornarem meu pescoço, enquanto sua boceta se esfrega no meu
pau no processo.
— Sparks... Isso nunca deveria acontecer. Mas estar assim...
excitada com você, está tornando essa merda menos ruim... Olha o
que estou dizendo!
Sua confissão não melhora em nada.
Deslizo os dedos por suas costas, até desfazer o nó do
maldito biquíni. Ela não é contra, muito pelo contrário, sua
respiração fica mais agitada em meu pescoço. Acaricio suas costas
e ela se mexe devagarzinho em meu colo.
— Não faz isso... Porra, garota! — gemo. — Isso não deve
nunca sair daqui, Kristal. Nunca!
— Combinado...
Caralho, quando tudo deu tão errado? Quando eu comecei a
desejar gozar com a irmã do meu melhor amigo montada em mim?
Eu nunca tive problemas em ir contra os meus desejos
sexuais. No instante que Tyron me segurou nesse infernal elevador,
e que comecei a sentir o que acontecia, eu sabia que não poderia ir
contra, mesmo que quisesse.
Isso é tão errado, nunca nem passou pela minha cabeça,
mas estar montada nele, nesse momento, me parece
estranhamente certo.
Suas caricias estão me arrepiando inteira, minha boceta está
mais encharcada do que meu corpo suado. Meus seios estão
eriçados, roçando sua pele, pelo tecido fino que tapa apenas a
frente deles.
Eu pressiono mais em cima dele e acabo gemendo baixinho
em seu pescoço.
Eu nunca precisei gozar tanto quanto agora... É insano. A
escuridão torna tudo mais quente. Meu cérebro não consegue focar
que Tyron e eu nunca poderíamos fazer isso.
Suas mãos deslizam para a minha bunda, e apertam. Outro
maldito gemido baixinho sai de mim.
— Não tem o direito de me fazer gozar assim, porra... — Sua
voz é assustadoramente deliciosa, rouca assim, intensa. — Isso é
um erro imenso... Oooh... — geme quando controla meu movimento.
Minha mente se perde de vez entre o certo e o errado,
quando ele passa a controlar os nossos movimentos, intensificando,
quando a porra da parte de cima do biquíni para de atrapalhar o
contato pele a pele e meus seios nus roçam seu corpo com
músculos perfeitos, definidos sem exageros.
— Não para... por favor...
Eu me vejo implorando, mordendo a pele em seu pescoço,
tentando controlar os gemidos. A parte debaixo do meu biquíni sai
do lugar, e minha boceta sente ainda mais o atrito embaixo, coberto
pelo short que ele usa.
— Puta que pariu... Caralho! — ele xinga, quando rebolo um
pouco.
— Tyron... Eu vou gozar... Eu vou gozar... — gemo
choramingando. — Aaah... Meu Deus! Não para... — imploro.
Nossos movimentos ficam fortes. Ele me afasta um pouco e
choramingo desesperada, sem noção de mais nada. Até que seu
dedo me toca.
— Kristal... Puta merda... — Ele começa a me tocar. — Não
para de rebolar, garota!
Continuo os movimentos, apoiando as mãos em seus
ombros, meus seios expostos, já que a parte de cima caiu de vez.
Ele me toca gostoso, seu dedo desliza no meu clitóris, que o
desgraçado sabe bem onde achar.
Tyron intensifica os movimentos, e começo a gozar gemendo,
ele não para os dedos. Meu corpo estremece e ele continua. Minha
voz se perde, e ele não para. Estou sensível, mas não quero que
acabe.
— Puta que pariu... Não vou te perdoar por me fazer gozar
assim... Porraaaa! — geme forte, e então seus dedos me largam,
conforme ele vai se mexendo embaixo de mim.
A voz que preenche o elevador nos assusta:
— Em cinco minutos voltaremos ao normal.
— Ok... — Tyron diz batendo no botão para responder e
parece dar certo. — Precisamos nos ajeitar... Isso fica apenas entre
nós...
— Uhum... Tyron?
— O quê, Kristal?
— Não pode mais acontecer. É um erro fodido!
— Não vai acontecer! — afirma.
Não vai. Eu jamais deixarei essa loucura sem sentido
acontecer de novo.

Olho para Cherry, que me ajuda a organizar minha mala para


amanhã. Não contei a ela sobre o que aconteceu, e nem vou. Ela
apenas sabe que ficamos presos no elevador. Esse erro nunca deve
ser dito em voz alta, porque se tornará mais real ainda.
Como eu pude me deixar cair nesse tipo de tentação com
Tyron Sparks? Poderia ser com qualquer um, caralho! E o pior, não
consigo me culpar, apenas me xingar mesmo.
— Está muito calada desde cedo. Está acontecendo algo? —
Cherry questiona. — Se for sobre a matéria... Eu amei, e todo
mundo está amando, Kris! Você foi incrível!
Sorrio e respiro fundo.
— É sim... — minto. — Mas não vou ficar criando paranoias.
Ela sorri, e fechamos a mala. Ela seguirá para o Canadá e eu
para o próximo destino com os Red Fire.
Como vou olhar na cara do Oliver, da família Sparks,
sabendo que gozei no colo e nas mãos do melhor amigo e filho
desse pessoal?
Puta merda, e eu achando que a Vicky arrumava problemas.
Meus parabéns, Kristal!
— Uma pena eu ter que ir hoje. Se não iríamos juntas
amanhã. Mas vi errado o dia... Que raiva! — Cherry reclama e
sorrio.
— Está tudo bem. Ter você comigo foi perfeito. Você e a
Vicky me inspiraram muito. Espero que surja mais jogos para que
possamos ficar juntas, vai ser bom.
— Vai sim. Estou querendo focar apenas em relaxar. Foram
meses exaustivos de estudos.
Concordo e ela suspira.
— Mascotezinha, tem que viver mais. É jovem! E por falar
nisso, já sabe como quer comemorar seu aniversário?
— Com vocês duas, claro. Acha que conseguirá?
— Sim! Tem jogo em L.A. na semana do seu aniversário —
respondo animada e ela sorri, mas não parece bem. Se joga na
minha cama. — O que houve? — questiono preocupada. Cherry
hoje se levantou mais inquieta, estranha. Me deito ao seu lado.
— Cansaço. Não dormi direito. Estou bem, não se preocupe.
Mentirosa! Mas quem sou eu para julgar.
— Tem certeza? — questiono e ela concorda. — Tudo bem.
Sabe que pode falar qualquer coisa comigo? Até do meu irmão... —
Me olha assustada. — Não precisa se assustar. Mas não sou boba,
eu tenho notado que gosta dele. Não se preocupe, não falei nada
com ninguém, nem com a Vicky. Isso é algo seu.
— Não sei do que está falando... Ficou doida? — Fica
nervosa.
— Só não quero que se machuque. Oliver é um bom cara,
carinhoso, atencioso, divertido, mas é um safado de primeira. Só
não crie ilusões que possam te ferir, Cherry. Só me preocupo com
seu coração. — Seguro sua mão. — Não precisa me confessar
nada. Mas se esse desânimo for ligado a ele, e a saída com uma
influenciadora essa madrugada...
— Não! Nunca seria isso. Oliver não tem nada a ver com o
fato de eu estar cansada e sem dormir. Somos só amigos, Kris... Sei
bem os limites disso aqui. — Eu queria acreditar nisso. — Estou
preocupada com outras coisas, minha vida é uma delas... Às vezes,
sinto que não sou mais a mesma, que a garota antes da morte dos
meus pais se foi, e parece que me perdi e não consigo mais me
encontrar em nada.
Acaricio sua mão.
— Mudou sim, claro que mudaria. Isso mexeu com você e te
colocou em uma etapa da sua vida que nunca se imaginou. Todos
nós nos perdemos um dia, mas sempre podemos nos encontrar,
basta ter calma e paciência, meu amor.
Ela assente.
— A minha psicóloga diz o mesmo. Só que, às vezes, a
ansiedade me faz pensar demais no futuro e lembrar do passado, e
simplesmente anular o presente... É complicado.
Puxo-a para os meus braços e ficamos agarradinhas.
— Estou aqui... Todos estamos aqui. Amo você, minha
amiga!
Ela sorri e beija meu rosto.
— Também amo você. Todos vocês são incríveis comigo.
Suspiramos.
— Gosta dele, né? — tento mudar de assunto, para ela se
distrair.
— Kris...
— Só diz que sim ou não... Sou curiosa! Não sabe que tenho
vinte e cinco anos, com a maturidade de cinco anos quando algo me
traz curiosidade? — brinco e ela ri.
— Esquece isso com seu irmão... Oliver e eu somos apenas
amigos. Nada mais que isso.
— Ok... Vou respeitar tua boquinha fechada.
Ela balança a cabeça rindo mais.
Cherry não assumiria facilmente isso a mim nem por milhões
de dólares. Mas o que importa é que ela fique bem.
— Sabe que a cara que ambos saíram do elevador era
suspeita, né?
— Cherry, não sei do que está falando! — pigarreio.
— Sou tímida, virgem, mas não burra. Aconteceu algo ali.
Mas relaxa, não vou abrir a boca, principalmente para a Vicky, que
tiraria isso de você nem se fosse na porrada. — Gargalhamos. Ah,
aquela ali faria de tudo por respostas.
— Você finge que não gosta do Oliver, e eu finjo que nada
aconteceu no elevador.
— E ambas fingimos que acreditamos em tudo!
— Isso foi uma afirmação a minha curiosidade, sabia? — Seu
rosto queima. — Eu sabia! Mas sim, fingiremos.
O que mais poderia dar errado? Eu nunca me apaixonaria por
aquele doido! Jamais. E Cherry nunca cairia no encanto do Oliver ao
ponto de ficar rendida. Não precisamos nos preocupar. Somos
espertas, poxa. Terei esse voto de confiança na gente!
Estamos em Chicago, onde acontecerá nosso próximo jogo,
no United Center, contra os Strong Wave, um time novo, porém
bem-preparado, com ótimos jogadores e que vem tendo bons
resultados na Golden.
Na minha mente, apenas fica a maldição do elevador e o
quanto nem dormindo estou, pensando no que foi feito. Em como
isso aconteceu. Sabrina, minha psicóloga, questionou por que eu
estava aflito e tive que mentir a ela, jamais confessaria a merda que
fiz. E que merda!
Oliver me mandou mensagens e não consigo nem responder,
porque porra... Como pude cair nessa confusão toda? E o pior... A
maldita não sai da minha cabeça agora, com seu cheiro, seus
gemidos, seu rebolado. Eu estou muito na merda, a verdade é essa.
Saio do quarto após o banho, porque tenho uma coletiva de
imprensa, fotos e uma reunião com meu empresário hoje. Será um
dia corrido, e fico grato, porque, quanto mais coisas eu tiver para
fazer, menos pensarei em Kristal e no que aconteceu, mesmo que
ela esteja trabalhando no time.
Desço para o primeiro andar do hotel, e acabo fazendo foto
com duas pessoas que me pedem gentilmente se posso fazer isso.
Me afasto e sigo para a saída, onde meus seguranças e carro me
levará ao meu primeiro destino.
A saída é um pouco turbulenta, Chicago está lotado de
pessoas, imprensa, muitos aguardando o grande jogo. Quando
comecei com o basquete, sempre me imaginei jogando em grandes
lugares como aqui, e nem por um segundo duvidei que poderia.
Eu sempre tive muita fé no meu sonho, de onde queria
chegar, mesmo quando muitos duvidavam, eu poderia me abalar,
porém nunca deixar de acreditar. Esse mundo é grande demais para
acreditar que viver apenas em um canto, sem viver grandes
histórias e realizações, é normal. Não é! Posso ser muitas coisas,
mas sonhos sempre foram sérios para mim. Porque sem eles, essa
merda aqui fica mais difícil ainda.
Entro no carro e meu celular começa a tocar, uma ligação de
casa. Atendo, sabendo que existe um limite em evitar as ligações,
antes que eles surjam onde eu estiver para saber se estou vivo.
— Oi, pai.
— Oi? Você mal nos contata. Apronta em Boston e manda
apenas um “está tudo bem”, continua nos evitando, e agora me
atende em um apenas “oi, pai?”. Caramba, Tyron, um pouco mais
de consideração de sua parte seria ótimo! — chama minha atenção
e apenas respiro fundo.
O carro percorre as ruas de Chicago, uma cidade que
representa muito bem suas estações, mostrando perfeitamente cada
fase.
— Está tudo corrido. Estou vivo, isso já é ótimo, não acha?
Ele bufa do outro lado antes de voltar a falar:
— Como estão as coisas? Vai contar o porquê agrediu o
jornalista? E antes que diga que não, saiba que ele está pensando
em entrar com uma denúncia e processo contra você!
— Como é? Ninguém me falou isso! — Franzo o cenho,
sentindo uma fisgada na cabeça.
— Toda ação gera uma reação, Tyron. Imagine como é para
nós, advogados, descobrindo que o filho pode ser processado por
agredir alguém! — Está nervoso, irritado mesmo. — E tudo isso
porque você não quer falar realmente o que aconteceu, para que
possamos tentar algo, algum acordo com esse cara!
Noto o olhar do segurança pelo retrovisor e respiro fundo.
— E desde quando trabalham como meus advogados?!
— Desde que te colocamos no mundo! Filho, passou as
férias dando trabalho, e, quando achamos que havia superado tudo,
melhorado, apronta essa... Olhe as notícias, te chamam de
descontrolado. Só queremos seu bem, só que precisa nos deixar te
ajudar!
Eu amo meus pais, mas essa proteção é irritante, porque
quem mais precisou dela não teve, porque a vida deles sempre foi
focar em mim, na minha carreira, ao ponto de Philip ter sido mais
sozinho, e hoje noto isso.
— Eu tenho um dia cheio, pai. Trate tudo com meu
empresário, com a equipe jurídica ligada a mim. Não estou com
tempo para ficar pensando nessas coisas, só preciso focar no jogo
essa semana.
— Tyron...
Desligo, antes que eu acabe dizendo merda sem pensar.
Abro o vidro um pouco, para respirar melhor. Eu só preciso
que meus pais sejam apenas pais, e que parem de me ver apenas
como um atleta o tempo inteiro, a porra de um astro do basquete,
que tem que ser perfeito ao mundo. Quero que eles respeitem mais
meu limite, compreendam quando eu precisar de espaço. Durante
vinte e oito anos, eu apenas segui o que as pessoas queriam, fui
uma peça no jogo de xadrez de todos. A única vez que decidi por
mim foi quando escolhi amar o basquete, e onde eu queria chegar
com ele, porque até mesmo na quadra eu preciso decidir por um
time. Tudo isso tem se tornado sufocante.

A coletiva não foi difícil, pensei que seria pior, que


perguntariam sobre a merda em Boston, as polêmicas sobre isso,
mas não fizeram, porque provavelmente foram instruídos a não
fazerem.
Estamos agora em um estúdio para as fotos de uma marca.
Todo o time está presente, uniformizados. As fotos são feitas de um
por um, demora um pouco, pois cada um leva um tempo para
terminar sua sessão. Provavelmente serei o último, já que depois
daqui tenho apenas uma reunião com meu empresário, enquanto os
outros tem mais tarefas no dia.
Estou em um canto, vendo as idiotices do Zion fazendo as
fotos e acabo rindo. Tanner e Killian provocam ele e isso arranca
mais risadas pelo estúdio.
— Fala sério, esse uniforme me deixa gato pra caralho! — Alf
fala, surgindo ao meu lado, se achando.
Começo a rir, encostando na parede e levando as mãos ao
bolso do casaco vermelho do time.
— Autoestima é tudo, cara. Não serei eu a dizer a verdade e
destruir sua confiança nisso — provoco.
— Confessa que não resiste a mim... — Kristal se aproxima,
parece distraída quando Alf completa: — Não fico gostoso, Kris? —
ele pergunta a ela, que nem parece ouvi-lo. Ele olha para mim e dou
de ombros. — O que fez a ela, Sparks? — Me fuzila com o olhar.
Pronto. Eu nem me mexi nessa porra.
— Nada! Por que eu teria feito?
— Porque é nítido que prefeririam furar o olho um do outro, a
terem dias de paz!
Reviro os olhos, enquanto ele continua se gabando com sua
beleza que ele diz ter muita, mas, por um breve instante, olho para o
outro lado, onde Kristal faz anotações no seu fiel companheiro, o
caderno, e enxuga os olhos de modo discreto, mas por eu estar
atento a ela, noto. Franzo o cenho.
— Vou nessa, chegou minha vez! Olhe e aprenda, Ty! — fala
e apenas assinto, sem me importar muito.
Que merda aconteceu com ela?
Hoje não a vi direito. O dia está sendo corrido. Mas alguma
coisa aconteceu. Seu nariz está avermelhado, sua expressão
fechada. E nem atenção ao Alf deu, e muito menos surgiu com suas
provocações a mim. Certo, depois do elevador as coisas ficaram
meio estranhas, entretanto, isso nunca a impediria de me irritar.
— Tyron, por favor, vá até o camarim, precisam tirar um
pouco do brilho da sua pele e ajeitar seu cabelo, para ir adiantando
— a organizadora das fotos avisa e assinto.
Caminho em direção ao camarim, no corredor à esquerda.
Passos apressados atrás de mim, me fazem olhar, e é ela, agarrada
ao seu caderno e nem sequer me olha. Acelera o passo ao passar
do meu lado, mas sou mais rápido e a seguro.
— Ei... — Puxo-a com calma. — O que foi? — Não me olha.
— Nada, Tyron. Eu preciso ir... — Sua voz é séria.
— Não até me dizer o que está acontecendo. Kristal, por que
está chorando? — questiono erguendo seu queixo e vendo seus
olhos verdes ainda mais intensos pelas lágrimas e vermelhidão que
os destacam. — Me fala, o que aconteceu?
Ela nega e isso me preocupa. Kristal sempre foi falante
demais, nem ao menos me xingar faz.
— Me solta, Ty, por favor.
Alguma merda aconteceu. Me chamando de Ty?
— Vou te soltar, mas vai vir comigo e contar o que está
acontecendo. Não está bem. Até o Alf notou. Olha seu estado. —
Solto-a e olho a porta ao lado, é um quartinho da limpeza, e é nele
que entro trazendo-a comigo.
A luz é com sensor de presença. O espaço não é muito
apertado e é bem-organizado. Fecho a porta, encostando nela, e
encarando a loira à minha frente.
— Vai... Me fala. Foi algo que te fiz? É comigo que está
chateada? — pergunto e ela me encara.
— Tyron, você falou alguma coisa do que aconteceu naquele
elevador para alguém? — indago baixinho. Franzo o cenho,
totalmente perdido. — Seja sincero, por favor.
— O que acha? Me diz você, Kristal. Acha que eu falaria
aquilo para alguém? Iria te expor desse modo? Me responde. Acha
mesmo que eu sou esse tipo de cara? — Ela nega. — Então por
que perguntou isso? Eu jamais faria isso, nem com você e nem com
nenhuma outra. Eu não sou esse tipo! — falo calmo, sabendo que,
para ela pensar isso, alguma merda aconteceu. — Me fala por que
pensou isso? O que realmente está acontecendo?
Ela enxuga os olhos, mas é inutilmente, porque logo
começam a marejar de novo e as lágrimas escorrerem.
— E-eu esbarrei com o Richard dos Tigers, parece que
alguns deles também fariam essas fotos, e ele veio com indiretas...
Eu... — Balança a cabeça em negativa. Meu sangue ferve.
Esse moleque está começando a me irritar.
— Ele jogou com você, como fez naquele dia, e você caiu na
provocação dele. Eu nunca abri a minha boca, e mesmo que eu
tivesse feito essa merda para alguém do meu time, nenhum deles
suporta a presença desse imbecil, nunca nem falariam disso com
ele também.
— Eu sei... sou uma idiota. Mas por ter realmente acontecido
agora, ele veio insinuar onde estava o meu defensor, se ele já tinha
se enjoado da minha... Porra, só estou exausta disso. Porque,
quando não é pela porcaria do meu sobrenome, é por causa do
Oliver, e agora esse idiota fala essas merdas como se eu precisasse
transar com você ou qualquer outro aqui para ter sido escolhida
como jornalista. Eu estou esgotada, é horrível tentar provar para
todo mundo que sou mais do que a irmã de um astro do basquete,
ou mais que a filhinha de pais ricos.
Me quebra... Me quebra de verdade ela assim. Toda e
qualquer provocação foge, e qualquer distância é substituída por
querer mantê-la perto. O único que pode irritar essa garota sou eu, e
não um merdinha que não sabe porra alguma.
— Vem cá, Reed. — Me aproximo e ela nega, mas retiro o
caderno de sua mão, colocando na prateleira ao lado. Ela esconde o
rosto e isso me faz sorrir, pois me lembra de anos atrás, ela odiava
chorar na minha frente, sempre fugia.
— Eu sou uma idiota.
— Não. Não é. Só caiu nas provações dele, e está tudo bem,
todo mundo já caiu em alguma provocação, Kristal. — Puxo-a para
os meus braços, e a baixinha se perde neles, seu rosto gruda um
pouco abaixo do meu peito. — Pare de dar ouvido a essas pessoas.
Foda-se o que falam sobre você. Foque em si mesma, e nas
pessoas que gostam de você. Sempre terá alguém para te falar uma
merda, te tirar do sério, mexer com a sua cabeça, porque pessoas
que não estão felizes com a felicidade alheia surgem sem parar. Só
não pode perder o controle sempre, dar esse poder a eles. Eles não
merecem suas lágrimas, entendeu? Não merecem!
Ela passa os braços ao meu redor e assente.
— Desculpa por perguntar... Mas ouvir você falando me
ajudou um pouco.
— Está tudo bem. Richard merece uma conversinha sobre
essas merdas...
— Não! Não se mete nisso. É o que ele quer. Tirar todo
mundo do sério, e está se divertindo pelo pouco que consegue. Não
faz nada, Tyron!
— Ok... — Vou pensar sobre isso. — Está mais calma? —
questiono e ela assente. Seus olhos erguem para os meus e uma
batida muito irregular me contagia, meu coração está acelerando. —
Tenho que me arrumar, e você fique longe de onde aquele merda
estiver, ok?
Concorda. Fico olhando-a e é horrível vê-la abatida. Não me
traz nem inspiração para irritá-la, e com isso solto sem pensar:
— Depois das fotos, tenho só mais uma reunião. Se quiser
podemos fazer alguma coisa juntos.
Me olha surpresa. Até eu estou.
Que merda estou fazendo?
— Pode ser. Te darei a honra da minha companhia. — Sorri
mais animadinha. Me aproximo da porta e ela faz o mesmo, após
pegar seu caderno. — Obrigada, de verdade.
— Não precisa agradecer. — Pisco e ela sorri de novo.
— Meu rosto está manchado? Não preciso dessa humilhação
também.
— Não. — Sorrio. Me olha desconfiada. — Não está.
Ela assente e abro a porta. Passa por mim deixando o rastro
do seu perfume para trás.
Kristal é diabólica, mas é uma garota boa. Irritante, mas
boa... E especial.
Depois da primeira matéria que soltei, e foi completamente
aprovada pela Jennifer, tenho recebido muitos elogios no site, nas
redes sociais, mas sempre surge alguns para criticar, e foi o que
aconteceu no meu encontro com o Richard mais cedo. Ele veio me
insultar nas entrelinhas sobre a publicação, dizendo que eu estava
pegando leve com o time, querendo ser poética, e falou sobre o
Tyron e eu, insinuando mais uma vez que estou aqui porque me
deitei com ele.
Normalmente tento não me afetar, mas como havia
acontecido tudo aquilo no elevador... Droga, por um instante, eu
realmente me culpei, sendo que isso jamais deveria ocorrer, porque
nunca conquistei essa chance porque transei com alguém. Só que,
por um momento, ele me fez acreditar nisso, permiti que ele me
atacasse desse modo, só que não sou errada por ter feito, o único
culpado é ele e agora mais calma vejo isso.
Conversar com o Tyron foi bom, por incrível que pareça. E
agora estou aqui, na porta dele, esperando abrir, porque eu aceitei
um convite vindo dele. O quão sem-noção eu estou sendo? Que tipo
de água estou bebendo? Gostaria de saber mais sobre.
A porta se abre e o moreno alto me dá passagem. Ele está
de calça de moletom preta, uma camiseta branca, lisa, cabelos
molhados, e um belo cheiro de pós-banho.
Por que estou reparando nisso?
— Só uns dez minutos, e decidimos o que vamos fazer. Estou
em reunião...
— Ah, eu posso esperar no meu quarto se quiser...
— Está tudo bem ficar aqui — fala e concordo.
Por que estou tímida? Nunca sou com ele!
Ele caminha até a poltrona marrom, se sentando e pegando o
iPad ao seu lado.
Ajeito a barra do shortinho cinza de moletom que uso, e em
seguida o camisetão azul dos Tigers. Foi a primeira coisa que
peguei mais confortável. Preciso de mais roupas para a viagem,
começo a achar que peguei só roupa largada demais.
Ele conversa e parece ser com seu empresário, e o assunto
não parece nem um pouco tranquilo.
Caminho em direção a cama e me sento encostada na
cabeceira, mexendo no celular e tentando fingir que não estou
prestando atenção na conversa que parece calorosa. O seu
empresário chama sua atenção pelo ocorrido em Boston, pois o
suposto jornalista quer denunciá-lo e abrir um processo. Isso é
ridículo. Eu tenho certeza de que esse cara falou algo relacionado
ao irmão do Tyron, é a única coisa que o deixa fora de sério e pude
notar rapidamente.
Mexo nas redes sociais e realmente falam sobre isso, já
circula em muitos lugares. Jogo baixo demais soltarem isso logo
durante a temporada, mas vende, esse é o problema, pelo dinheiro
muitos vendem a alma até ao diabo se for necessário.
— Deixe-o fazer o que quiser, Gilbert. Não me importo —
Tyron fala e sua voz é de cansaço.
— Não é desse modo que as coisas funcionam. Vamos tentar
conversar com os advogados dele e resolver isso da melhor
maneira. Não abra sua boca sobre nada disso a imprensa. Se te
perguntarem desvie do assunto, estamos entendidos, Tyron? Isso
pode te sujar muito, então é melhor colaborar! Espero que na
próxima ligação que fizermos, você fale o que realmente aconteceu
para tentarmos resolver!
— Ok. Mais alguma coisa? — indaga com a voz baixa.
— Não. Descanse e pense bem, o seu silêncio nesse caso
pode te afundar! Se cuida, cara!
Escuto o fechar brusco da capa do iPad e não olho, para não
o constranger. Continuo fingindo que não estou prestando atenção
em nada, mesmo curiosa com tudo isso.
— Já sabe o que quer fazer? — questiona e o olho.
Eu tinha pensado em filmes, séries, qualquer coisa que eu
não precisasse me produzir para sair, mas, tendo em vista o clima
tenso aqui, pensei em sair agora.
— Boliche, que tal? Ou parque de diversões, tem um incrível
aqui perto. — Sorrio animada.
— No caminho decidimos. — Se levanta, pegando o celular e
o tênis.
— Preciso me trocar rapidinho, então.
— Está linda assim, Kristal. Vamos!
Ergo a sobrancelha e o encaro. Seus olhos param em mim.
— Tudo isso é medo de eu demorar?
— Também. Vamos!
— Delicado como um ogro! — Reviro os olhos e me levanto.
— Se me chamarem de louca na rua, saiba que a culpa será sua.
Vou apenas colocar um tênis. Estou a cara da derrota!
— Sem dramas, garota. Vamos, antes que eu mude de ideia!
— Calça o tênis.
— Delicadeza deveria ser seu sobrenome. Me fale, como
suas ex-namoradas te aturavam?
Ele dá um sorriso safado e me arrependo de ter entrado
nesse assunto com ele. Idiota.
— Nojento! — Atiro o travesseiro nele e o babaca ri.

Tyron teve que esperar eu trocar de short, por um jeans,


colocar o tênis e passar uma maquiagem simples. Não levei nem
dez minutos, mas, segundo ele, foi uma hora. E depois quem faz
dramas sou eu.
Escolhemos o boliche, e como quem vai pagar é ele, já que
dei a ideia, e já foi muito, então jogo as bolas nos pinos, rindo.
Por ser de semana, o local não está cheio, mas viemos
acompanhado de um segurança dele, Harold. Pegamos os tênis
próprios e estamos na pista reservada para nós. Algumas pessoas
olham para ele, parecendo reconhecer, e sorriem animadas. Que
isso não vire aqueles filmes que temos que correr, porque estou
bem cansadinha.
— Quer começar? — indaga bebendo seu energético e nego.
— Quer assistir como faz, né? — provoca e mostro o dedo a ele, e o
idiota ri.
— Para sua informação, sou ótima no boliche. Eu poderia
ganhar um prêmio! — Me aproximo das bolas, e tento escolher a
mais leve, acho que é a rosa que o rapaz do balcão do tênis me
confidenciou. Nunca joguei isso. — Vou até provar que sou ótima,
Sparks!
O imbecil faz uma reverência quando passo por ele. Me
segue e para ao lado da pista, com uma mão no bolso da calça,
provavelmente jogando praga mentalmente. As músicas tocam no
ambiente, com luzes levemente escuras e misturadas com
coloridas.
Miro os pinos, e faço uma oração mentalmente para não voar
junto da bola até eles. Jogo, e ao menos ela sai dos meus dedos,
sem me levar junto.
Um pino apenas derrubado. E uma pista quase destruída.
— Uau... Estou até preocupado agora em me humilhar aqui e
perder! — provoca ao meu lado e o empurro para passar. O babaca
ri mais. — Segura aqui, maluca. — Me entrega o energético, juro
que mentalizo eu acertando a sua cabeça com a latinha.
Ele pega a bola preta, se exibindo, e se aproxima da pista, e
sem demora joga a bola, e o filho da puta... Derruba todas!
As fãs do idiota aplaudem animadinhas na pista ao lado da
nossa. Ótimo, teremos plateia para a minha humilhação. O grupinho
de amigas recebe um aceno sutil do Tyron e uma piscadinha barata!
Idiota!
Entrego o energético a ele, pegando a bola, enquanto os
pinos voltam ao lugar. Arremesso a bola pela pista lisa, e pelo
menos dessa vez derrubo três pinos. Viro-me para o astro do
basquete, que ergue a lata de energético.
— Está pegando o jeito, Reed.
Jogo o cabelo para o lado, provocando.
— Talento. Tenho muitos talentos! — Paro ao seu lado, e o
olho de lado.
— Não vou dizer o contrário, para não me chamar de escroto!
— Joga a lata de energético no lixo. — Mas talvez devesse observar
um pouco mais como é que se faz. — Pega a bola e arremessa,
porém erra.
Não consigo evitar, gargalho da cara de decepção que ele
faz. O gigante passa ao meu lado me empurrando de leve e isso só
me faz rir ainda mais.
— Cuidado, Sparks, não faça feio para as suas fãs ali! —
Indico discretamente.
Ele me fuzila com o olhar e se senta na cadeira, com as
pernas abertas. A calça marca o volume de suas coxas musculosas.
Pode parar com isso, Kristal!
Pigarreio e pego a bola para arremessar. A bola rosa segue o
caminho, e fico olhando, ansiosa. Fecho os olhos com medo de ver,
mas o barulho no painel me faz olhar para ele e para a bola.
— STRIKE! — grito sem acreditar. — Aguenta essa, Tyron! —
grito para ele, que balança a cabeça.
— Sorte de principiante! — Ergue a sobrancelha e lança um
sorriso sarcástico.
— Isso tem uma palavra: inveja, meu amor! Inveja! — Sento-
me ao seu lado, olhando a pontuação. — Estou começando a me
animar. Vai, sua vez!
Pego meu celular no bolso e confiro as mensagens, deixando
para responder depois, já que não são importantes.
Pego a água com gás que pedi e estava na pequena mesa
ao lado. Bebo um pouco, observando-o jogar e STRIKE!
Ele retorna com um sorrisinho que eu poderia quebrar seus
dentes se não tivesse um sorriso lindo, e isso fosse estragar... O
que estou pensando?!
Me olha e sinto um friozinho idiota na barriga. Flashes do
elevador invadem minha memória e o friozinho intensifica, assim
como sinto meu rosto esquentar um pouco.
Preciso apagar isso da minha mente para sempre.
Olho para as jovens ao lado, que não param de olhá-lo, mas
ele nem parece estar ciente disso, e se está, disfarça bem.
Se senta ao meu lado.
— Sua vez, garota.
— Uhum... — Levanto-me meia desnorteada, tentando a todo
custo bloquear essas lembranças.

Terminamos com ele ganhando no boliche e desistimos, não


aguentávamos mais. E claro que as meninas da pista ao lado
conseguiram o que queriam: fotos com ele. Não vou mentir não,
mulheres de famosos precisam ter um ótimo psicológico, confiar
muito em si mesmas e no parceiro, e ele não dar motivos, porque,
olha, é muita agarração, beijos, passada de mão... E claro que isso
serve para quem a mulher é a famosa, o homem tem que ter
maturidade a níveis extremos.
Eu teria? Provavelmente bem limitada. Sou ciumenta de
nascença. Única garotinha da família, claro que seria. Não sou uma
ciumenta maluca, mas assumo que bate aquele negocinho em mim.
Por isso devo ainda estar solteira, não só pelo tempo, mas porque o
universo já sabe o caos que sou.
E por que estou pensando nisso? Eu hein! Credo.
Chegamos no hotel quase ao anoitecer e o combo final inclui
ver filme, com direito a algo para comer, porque estamos morrendo
de fome.
— Eu escolho o filme! — aviso enquanto retiro meu tênis e
me jogo na sua cama, bem cansada.
— E quem decidiu isso? — pergunta tirando as coisas do
bolso e colocando na poltrona. Ele retira o tênis, e em seguida a
camiseta. Depois coloca o celular na mesa de cabeceira quando
termina de fazer tudo.
Puta. Que. Pariu!
Por que está parecendo mais gostoso ainda? Eu já o vi sem
camiseta, no elevador mesmo, e foi recente. Os gominhos na
barriga, o V bem-marcado...
Ah, não... Para de pensar!
— Fiz uma pergunta, garota. Perdeu a língua? — pergunta se
aproximando e se sentando na cama, com as pernas sobre ela e as
costas na cabeceira.
— Quê? Que pergunta? — Encaro-o e ele me olha como se
eu fosse uma maluca, e não está errado.
— Escolhe logo o filme!
— Meninas malvadas! — Revira os olhos. — Não reclame. É
um clássico perfeito. E meu filme favorito!
— Acabo de me arrepender de mandar você escolher. Deixa
que eu decido a comida!
Sorrio, tentando desviar o olhar do seu corpo, enquanto chuto
meu tênis para longe e retiro o celular do bolso, colocando na mesa
de cabeceira.
Me ajeito na cama, sentando-me do mesmo jeito que ele, que
agora estica a mão no telefone ao lado da cama para pedir comida.
Coração, para de ser idiota! Está batendo acelerado por quê?
Bobão!
Não presto atenção no que ele pede. Apenas puxo o controle
do pé da cama e ligo a TV, e para não procurar por muito tempo,
faço conexão com meu celular e coloco o filme.
— Sabe que vai sair caro me fazer assistir isso, né? —
pergunta terminando de falar com o hotel.
Olho para ele.
— Não reclame. Estou lhe dando a honra de estar na minha
presença. Isso é o sonho de muitos! — provoco.
— Muitos com problemas da cabeça. Isso aqui é tipo tortura,
Kristal Reed! — revida.
Empurro-o, mas nem se move, só ri.
Por que fui aceitar passar um tempo com esse cara? Merda
na cabeça!
E meu coração vai ficar acelerado mesmo? Que palhaçada!
Algum momento entre comer, assistir Meninas Malvadas, com
papo de “às quartas, usamos rosa”, ambos dormimos, porém, o
problema, foi exatamente a forma como isso aconteceu, e que fui
descobrir, porque meu celular começou a despertar, alertando ser
quatro horas da manhã e ter que treinar com o personal,
agendamos uma corrida e alongamentos, leve. Killian nos
acompanhará.
E foi com isso que soube que dormimos na mesma cama, de
conchinha. Estou tentando me lembrar se usei alguma merda ao
ponto de me fazer estar cometendo tantas loucuras ultimamente,
mas parece que não. Provavelmente sejam as vitaminas a mais que
estou tomando, tem que ser.
Coloco o celular na mesa de cabeceira de novo, quando ela
se vira ficando de frente para mim. Seus olhos se abrem
lentamente, e o verde me encara, e engulo em seco, sentindo uma
batida mais acelerada no peito.
— Merda... Dormimos, né? — pergunta baixo, com a voz
meiga.
Seu perfume de baunilha me deixa tonto, perdido ainda mais.
Percorre o olhar sobre nós, provavelmente só se dando conta agora
de que estamos colados um no outro, porque, quando sobe
novamente o olhar, suas bochechas já avermelhadas, ficam mais
coradas.
— Dormimos — finalmente consigo responder sua pergunta.
— Tenho treino... — sussurro, tentando controlar as malditas
lembranças do elevador, da chuva percorrendo o corpo dela na
quadra em Orlando, dos risos no boliche. Só tento controlar e falho
miseravelmente.
— Que horas são?
— Quatro.
— Melhor eu ir... Obrigada pelo... — Meus dedos tocam seu
rosto, e ela se perde nas palavras.
Deslizo por sua bochecha lisa, até alcançar seus lábios
bonitos, e contorná-los. Não sei que porcaria estou fazendo, quando
aproximo o rosto e roço o nariz no seu, e nossos lábios se
esbarram.
— Ty...
— Shhh... — impeço que continue.
Eu sei que isso só vai piorar tudo. Mas estar colado a ela,
está piorando cada sensação. Quando roço os lábios nos seus
lentamente, seus olhos se fecham e ela suspira. Eu inalo seu cheiro
adocicado, e puxo seu corpo para mais perto ainda, como se fosse
possível, mas é o que desejo, quando aperto sua cintura.
Ela puxa meu lábio inferior e é a minha vez de fechar os
olhos, sentir esse contato vindo dela, que me enlouquece só um
pouco mais. Se existia qualquer chance de pararmos de cometer
esse erro, se perde quando uma de suas mãos toca meu rosto,
deslizando pela barba que precisa ser um pouco aparada, e
acaricia.
Ninguém fala nada, porque não é preciso, sabemos o que
estamos fazendo, quando começo a beijá-la, lento, e ela retribui ao
mesmo modo. Se eu achei que meu coração estava acelerado
antes, agora está muito mais. Não consigo pensar em outra coisa a
não ser em seus lábios gostosos colados aos meus, no seu corpo
se mexendo lentamente preso ao meu. Quando aperto sua cintura,
ela suspira mais ainda entre o beijo, eu sei que nossa situação só
tende a piorar, se nenhum dos dois for forte o suficiente para se
afastar.
Não dá para saber quando essa atração começou a crescer,
mas aconteceu, e está difícil controlar. Meu corpo deseja o dela. Eu
a desejo.
Desço a mão por baixo da blusa, tocando sua pele que se
arrepia ao meu contato. Meu corpo se movimenta lento, seguindo os
movimentos do dela. Kristal está me levando ao ponto alto da
loucura, como eu sempre soube que um dia poderia me levar, só
nunca imaginei que seria com desejo.
Meu celular começa a tocar e seus lábios se afastam.
Merda.
Puxo o aparelho, sem tirar os olhos dela, que me encara
levemente ofegante. Mantenho seu corpo ao meu. Atendo, com a
respiração um pouco agitada também.
— Cadê você? — Killian questiona. — Ashton já está
xingando! — ele ri.
— Em dez minutos encontro vocês. Me atrasei um pouco. —
Desligo sem falar mais nada.
Coloco o celular no bolso da calça, e empurro o corpo dela
para trás, ficando entre suas pernas.
— Isso é errado demais, Sparks! — fala tocando meus
ombros. Seu contato em minha pele me arrepia.
— Acha que não sei? Mas tem alguma coisa acontecendo,
Kristal. — Ela assente. — Só entre a gente... — Aproximo a boca da
sua.
— Só entre a gente — afirma. Pressiono meu pau entre suas
pernas, porque é exatamente como ela me deixa ultimamente: duro.
— Precisa ir, Tyron... Oooh...
Infelizmente. Porra.
— O que vamos fazer com isso tudo acontecendo, Kristal?
Deixo que decida! — Acaricio seu rosto.
Ela me encara.
— Posso te odiar o dia todo e te desejar em alguns
momentos, e nos pegarmos em outro. Sem compromisso! Afinal,
nem sabemos que loucura toda é essa.
Sorrio.
— Parece bem decidida... Não consegue tirar da cabeça o
que aconteceu no elevador, né?! — Roço a boca na sua e ela
assente. — Porra! Estamos fodidos!
Volto a beijá-la, porque as horas com ela tem sido os únicos
momentos que tenho sido eu de verdade.
O celular torna a tocar, mas não atendo mais. Continuo
beijando a maluca diabólica que vai me foder.
Ela já está fazendo, Tyron! Perdeu o controle e sabia que
poderia acontecer quando viu que Kristal Reed se tornou uma
tremenda provocadora, muito mais linda e extremamente atraente.
— Alguém vai ter que pedir para sair disso... Cada segundo
juntos, e isso pode explodir, Tyron!
Encaro-a e sorrio.
— Façamos nossas apostas em quem vai surtar primeiro. —
Meu celular toca de novo. — Porra, Killian! — Pego-o no bolso e ela
ri embaixo de mim.
— Pelo jeito, temos um spoiler de quem vai pedir para sair.
Pronto para se aposentar, só para se manter longe? Nunca largaria
meu emprego. E pode terminar apaixonado por mim, Tyron... Isso é
brincar com fogo! — provoca enquanto desligo na cara do Killian.
Aproximo a boca do seu ouvido:
— Nunca me apaixonaria por você ou me aposentaria. A
única pessoa que terminará isso fugindo, será você, garota. —
Mordo a ponta da sua orelha, e ela se remexe forte embaixo de
mim, e preciso me controlar, porque meu pau lateja. — Faça de
novo, e vai arcar com a punição pela minha falta no treino, porque
eu irei ficar e te foder bem aqui!
— Porra... — fala baixo, gemendo em seguida.
Torno a beijar sua boca arrumando forças da puta que pariu
para me levantar. Totalmente com meu pau duro.
Ela me encara.
— Quem diria que isso estaria acontecendo... Alguém fez
magia pesada para a gente.
Sorrio, só para não concordar com a maluca.
Me afasto seguindo para o banheiro, sabendo bem o que
terei que fazer se quiser ir logo treinar, já que banho não é opção
agora, por estar muito atrasado. E de todas as coisas na minha vida,
bater uma pensando na Kristal jamais esteve nos meus planos. E o
problema de ser eu mesmo quando estou com ela, anulando todas
as merdas na minha cabeça, é que o verdadeiro Tyron ama brincar
com fogo e é o que vai acontecer agora, porque está sendo mais
forte que eu.

Corro ao lado de Killian, enquanto Ashton acompanha, um


pouco mais atrás. Estamos suados. Tem um pouco mais que trinta
minutos que estamos correndo, percorrendo o circuito que o
personal programou. Normalmente não treinamos pesado durante a
temporada, mas, quando os desempenhos começam a cair, Ashton
pega no nosso pé.
— Por que demorou tanto? — Killian questiona quase sem
fôlego. — E de quem foi a ideia de correr de madrugada durante a
temporada? Odeiam a gente?! — reclama e nem consigo sorrir,
porque estou exausto.
— Estava ocupado. E porra... Ashton, caralho! — xingo alto e
o imbecil atrás ri.
— VÃO, SEUS MARSHMALLOWS. DAQUI A POUCO
DERRETEM NESSA MOLEZA! ACELERA! TIQUE-TAQUE...
Filho da puta!
Killian tropeça e Ashton gargalha atrás. Está se divertindo.
Ama nos torturar!
— Me lembre de colocar cola nos produtos de cabelo dele!
Imbecil do caralho!
Bato em sua mão e continuamos o percurso, com ele dando
ordens, colocando pressão na gente.

— Viram? Ninguém morreu! Fracotes! — ele diz enquanto


bebemos água dentro do carro, que ele dirige de volta ao hotel.
Estou no banco de trás, deitado todo torto, suado, e fechando
a garrafa e jogando no chão do carro.
— Que porra foi isso? Matamos alguém para essa punição?
Amanhã tem jogo! — falo e ele ri.
— Porque o desempenho dos dois em quadra anda baixo,
com isso precisei anotar tudo para analisar no que precisam
melhorar. Estão se cansando mais que outros. O restante do dia,
tirem para descansar, comam bem, bebam muita água, as
vitaminas, e vê se sosseguem o rabo na cama à noite, para o jogo
de amanhã! Isso é uma ordem — avisa e apenas balanço a mão.
— Ok... Depois da corrida, alongamentos e exercícios de
brinde, tudo que não teremos é força para nada. Seu objetivo em
nos parar foi bem-sucedido, Ashton! — Killian diz e ele ri mais.

Entro no meu quarto, e ela não está mais. O seu perfume


segue aqui. Kristal deixa o rastro dela por onde passa. Entro no
banheiro para finalmente tomar um banho.
Pego o celular no bolso do short e vejo as fotos que ela me
mandou por mensagem. São do boliche. Fizemos algumas na
brincadeira.
Salvo no celular e posto algumas nos stories do Instagram.
— Eu não vou cair nisso, Kristal. Apenas pegação e nada
mais!
Olho-me no espelho e respiro fundo.
Nada mais vai acontecer!
Observo os jogadores em seu jogo no United Center. O local
está totalmente lotado, vendeu todas as entradas. Meu caderninho
está em mãos, para anotar tudo que eu observar e criar a próxima
matéria em tempo recorde para enviar amanhã a Jennifer.
Os jogadores estão realmente empenhados. Esse jogo é
importante, pois os Red já perderam pontos em Orlando e tudo isso
pode ajudar nas eliminatórias. Faço algumas fotos e vídeos, e
aproveito para postar nas redes sociais.
Quem diria que eu estaria postando coisas de um time que
não fosse dos Tigers, nas minhas redes sociais pessoais.
Realmente acredito que alguém sairá morto dessa quadra.
Não estão brincando em serviço. A cesta chega a balançar forte
quando eles se prendem nela ao colocarem a bola. Alf já caiu duas
vezes, porque a quadra está molhando muito, devido ao suor, e isso
é apenas o início.
Estou sentada assistindo de perto, e bem preocupada de
como isso vai terminar. Tyron é encurralado por dois do time
adversário, mas consegue arremessar para o Killian, que não
demora a pegar e repassar ao Tanner, que arremessa, mas a bola
bate na lateral da cesta.
Faço algumas anotações sobre detalhes legais que observo,
e deixo o caderno de lado, registrando os momentos mais
mentalmente. Ajeito a credencial de imprensa no pescoço e basta
uma pequena distração para já perder parte do jogo de tão agitado
que está, por exemplo, os Strong meteram três pontos, ficando à
frente dos Red.
Malcolm, treinador dos Red, vai acabar infartando. O homem
está desesperado. Deve ter envelhecido uns dez anos só nesse
início. Ele grita tanto, já abriu o paletó, tirou a gravata. Logo mais
fica nu e sai batendo no peito como o Tarzan.
Eles seguem fazendo o melhor deles em quadra e eu nunca
seria maluca de dizer o contrário, porque o negócio está
literalmente: vida ou morte.
Tyron é derrubado e arregalo os olhos, pois isso foi
proposital.
— Essa porra virou UFC? — grito irritada.
As pessoas ao meu lado olham, porque acho que berrei, não
apenas gritei. Ele se levanta com ajuda do pessoal e o jogador do
time adversário sofre uma falta.
Tyron está mancando um pouco, olho o tempo e faltam cinco
segundos para encerrar. Zion tenta repassar a bola a ele, mas ele
nega e se afasta.
Acaba logo, porra!
Balanço as pernas, estou nervosa. Até que o juiz para o jogo.
Primeira parte encerrada!
Os times seguem para o vestiário. Malcolm acompanha o
Tyron e eu me levanto, indo atrás. Aproveito para fazer mais
anotações, antes de guardar o caderninho na minha bolsa no
vestiário.
Dou um tempo ao time, para que conversem, ficando
distante. Envio mensagens as meninas que perguntam como estou,
e como está o jogo hoje. Oliver me manda mensagem perguntando
se o Tyron está bem, está assistindo ao jogo e viu que ele saiu
mancando. Respondo com a verdade:

Kristal: Não sei.

É estranho sentir que estou me preocupando bem mais com


o Tyron, e tudo porque as coisas estão mudando rapidamente entre
nós, como se a vida tivesse predestinado tudo isso, e definido que,
no segundo em que estivéssemos perto, tudo intensificaria e
mudaria.
Que bela merda eu me meti!
O técnico sai do vestiário e eu olho para ele.
— Ele se machucou?
— Não se preocupe. Só torceu de leve, já estão cuidando
dele. Vai voltar inteiro ao jogo! — Toca meu braço e se afasta.
Melhor. Tyron não está destruído então.
Caminho até o vestiário, passando pelos meninos e
guardando o caderno na minha bolsa. Eles estão conversando
sobre o jogo, é um momento deles. Tyron está com uma bolsa de
gelo no pé, sendo massageado pela equipe médica do time.
Eles têm uma pausa de quinze minutos, vai ser bom para se
recuperarem da surra que estão levando. Os Strong Wave não
estão pegando leve.
Aproveitarei esse tempo para ver as notícias, saber como
andam as coisas nas redes sociais. Me afasto do vestiário e sigo
para a sala onde encontrei comida, água e café. Queria ver
realmente se o Sparks está bem, mas não vou invadir um momento
do time.
Entro na salinha, que, por sorte, está vazia, e pego um
energético. Ajeito minha roupa, vim com um short jeans hoje, uma
blusa branca por baixo, de alcinha e por cima um blazer preto.
Cabelos soltos e nos pés a única sandália preta que eu trouxe. Me
arrumei mais hoje, estava mais inspirada, fiz até uma maquiagem
mais elaborada, com direito a um batom vermelho.
Encosto-me no balcão, abro a latinha do energético e bebo
um gole enquanto olho as notícias no celular.
O jogo tem rendido assunto na internet. Muitos falam que os
dois times estão fortes demais em quadra. Comentam sobre o jogo
bruto acontecendo, e realmente não estão mentindo. Nessa nova
matéria que farei, quero colocar mais o lado técnico das coisas, falar
um pouco mais do que estou notando deles como jogadores. Por
exemplo, a parceria, eles são muito unidos. Não jogam sozinhos. Se
um cai, outros estão ali para erguer. Essa cumplicidade forte do Red
com toda certeza é o que ajuda esse time a se manter tão forte e na
lista dos melhores.
Bebo um pouco do energético e confiro a hora, falta ainda
uns oito minutos para o jogo retornar.
A porta se abre e espero que não seja a corja que lidera esse
campeonato. Ninguém merece lidar com eles em uma salinha
pequena.
O camisa 14 dos Red Fire entra, parecendo bem melhor no
caminhar. O suor foi limpo, mas os cabelos seguem molhados, as
bochechas avermelhadas. Está sem a parte de cima do uniforme,
pois está em suas mãos. E por que esse louco tinha que ficar tão
gostoso com o passar dos anos? Inferno!
— Seu pé está melhor? — questiono, colocando a latinha de
lado e o celular no bolso do short.
Ele encosta a porta e se aproxima parando ao meu lado.
Olho seu pé, parece que passaram alguma pomada.
— Sim. Vai ficar bem. E você se continuar gritando e
xingando vai acabar sendo expulsa dali. — Me olha e meu rosto
queima.
— Não me importo. Esses caras estão achando que é UFC
mesmo. Só sabem empurrar e socar vocês. — Dou de ombros e ele
sorri.
— Isso é normal, Reed. Não é correto, mas é normal. Todos
aqui querem o título de campeão no final, e cada um dá o que tem
— explica calmo. Queria essa calmaria. Não presto para ser
torcedora, e, pelo visto, se eu jogasse mataria alguém.
— Tem certeza de que seu pé está bem? Até o Oliver
mandou mensagem perguntando. Não está fingindo que está bem
só para jogar, né? — Observo-o, conforme me afasto do balcão e
paro a sua frente. — É sério, idiota. Para com esse sorrisinho.
— Está preocupada demais, não acha? Tem certeza de que
serei eu a me apaixonar, Kristal? — Ergue a sobrancelha para
acompanhar a ironia em seu tom.
— Vai se foder, Tyron! — Reviro os olhos para me afastar,
mas ele me impede me puxando para si. Fico entre suas pernas,
com seus braços me prendendo a ele. — Pode me soltar? — Minha
voz praticamente sai com dificuldade. Meu coração está mais
acelerado do que vendo o jogo.
— Quer isso mesmo? — Aproxima o rosto do meu e meus
lábios entreabrem. Minhas mãos vão para os seus ombros.
— E-eu... — tento falar, mas seus lábios roçam os meus e um
friozinho na minha barriga surge de modo intenso. — Ty...
A porta se abre e me afasto abruptamente. Tyron solta o ar
com força e xinga baixinho. Cruzo os braços olhando para Malcolm,
que nos encara de um para o outro.
— Com licença — peço saindo o quanto antes daqui, para
tentar ter ar, coisa que ficou na maldita sala.
Tyron tinha que ter pegada, uma voz gostosa? Por que eu
passei a focar tanto nessas coisas?! Qual o meu problema?
Argh, estou na merda. Como o cara que eu nunca me dei
bem, se tornou um desejo que meu corpo pede sem parar?!
Philip iria rir disso, porque sempre disse que imaginava que
ficaríamos juntos, pois, segundo ele, era ódio demais entre duas
pessoas que nem se falavam mais. Do que esse menino entendia
sobre isso? E agora... Droga, olha o que está havendo agora.

O jogo continua, e eu continuo pensando no capitão deles,


quero dizer, na bola... Na bola percorrendo a quadra... Inferno...
Tyron Sparks é meu inferno!
Continuo sentada, totalmente desnorteada.
Zion consegue fazer uma cesta, para a tristeza do time
adversário. Malcolm parece mais calmo, o que é realmente
surpreendente. Killian está muito bem, na verdade, todos eles
parecem mais atentos. Tyron não manca mais, e isso já é algo
importante.
Chega uma mensagem em meu celular e preciso conferir por
se tratar da minha chefe:

Jennifer: Preciso falar com você. Me ligue com urgência!

Levanto-me rapidamente, para sair o quanto antes daqui.


Porque ela nunca pediria urgência à toa. E algo me diz que posso
odiar o que ela tem a dizer. Me afasto do barulho da torcida, dos
gritos do time e do assovio do tênis no chão liso.
Sigo para vestiário, notando que está vazio, e ligo para ela,
que me atende rapidamente.
— O que aconteceu? — sou direta.
— Kristal... Temos um problema.
— Jennifer, não sei se estou gostando desse tom. Solta de
vez o que aconteceu!
Ela suspira e sinto o coração agitar.
— O jornalista que teve problemas com o Tyron Sparks... Ele
é da Sport Universe!
— Como é? — Caio sentada no banco.
— Sim! Jornalista espião, como gosto de chamar. Aaron é um
dos nossos jornalistas misteriosos. Mantemos dois para os casos
que precisem de mais investigação para as matérias mais sérias,
envolvendo notícias importantes. Ele é a “nossa fonte confiável”.
Descobri hoje que é ele. Ele abriu a boca.
Puta merda!
— O contrato com a Golden!
— Exatamente! Uma das principais regras é que não
podíamos nos intrometer em níveis pessoais extremos e ele
ultrapassou os limites! Ele está furioso com o que aconteceu, quer
processar o Sparks pela humilhação que sofreu, os socos que
levou... Se descobrirem que ele é do jornal... Esse contrato estará
encerrado e a nossa multa será bilionária... Talvez feche até o
jornal, porque isso seria grave, quebrar um contrato desse porte!
Sinto um pinicar na nuca. Fecho os olhos.
— Por que estavam investigando o Tyron? Se ele era espião
de vocês... Jennifer, que tipo de matéria pretendem fazer do Tyron?!
— questiono mais preocupada.
— Estávamos criando uma matéria sobre ele, iríamos ir mais
a fundo na vida dele no esporte, mas Aaron foi além... Parece que
ele entrou no assunto sobre a morte do irmão mais novo do jogador.
Sabia! Filho da mãe!
— Tyron sabe disso? Sabe que terá uma matéria sobre ele?
— Não... — O silêncio se faz por alguns segundos. — O
jornal pode ser meu, mas existe um time de pessoas por trás, eu
nunca concordei em cem por cento com isso... Mas a bancada quer
falar do jogador em mais destaque. Eu pedi ao Aaron para cuidar,
porque confiei nele, pensei que ele pegaria leve, seria responsável!
— Jennifer... Você sabia disso quando assinei o contrato para
estar aqui? — Minha voz embarga.
— Sabia. Mas era sigiloso. Eu sinto muito...
— Você sabia que, se acontecesse qualquer merda, eu
poderia levar a culpa junto e ainda assim não me preparou? Tem
noção que podem pensar que estou compactuando com isso? Que
podem achar que eu coleto informações da mesma forma?! —
Minha voz está trêmula pelo nervosismo.
— Me perdoa... Eu jamais quis te colocar em uma situação
assim. Jamais! Tenho muita admiração por você. Eu tentei impedir,
mas os votos dos sócios falaram mais alto. Existem ações, não é
fácil manter um local desse porte sozinha!
Balanço a cabeça. Levanto-me, parando em frente ao
armário.
— E agora? O que faremos?!
— No momento, ficaremos quietas. Vou tentar fazer Aaron
desistir dessa ideia absurda e deixar esse caso de lado. Não abra a
sua boca. Qualquer suspeita deles com você, precisa me dizer... E o
principal, se mantenha profissional. Não entre demais na vida deles,
porque se essa merda vazar, provavelmente todos iremos ter que
lidar com essa tempestade... Eu farei de tudo para te deixar fora
disso e que não respingue em você! — Eu confio nela, mas isso
tudo é informação demais.
— Eu preciso respirar um pouco. Isso tudo é muito sério.
Esses caras aqui estão tentando confiar em mim, e saber que, por
culpa de um dos nossos, o capitão deles ficou de fora de um jogo, e
está na mídia de modo péssimo de novo... Isso será uma grande
merda...
— Perdão, Kris... Perdão... Se mantenha em silêncio e vou
ver o que faço! — Sua voz é de muita preocupação.
— Ok. Preciso desligar! — Respiro fundo.
Ela se despede com a voz abatida também. Soco a mão no
armário com raiva e me afasto, pegando minha bolsa e tirando a
credencial de imprensa do pescoço, que jogo nela.
Eu preciso sair daqui.
Tyron pode se foder por causa do jornal em que trabalho! E
ainda pode pensar que compactuei com tudo isso. E eu posso ser
prejudicada pela maior competição de basquete do país, por um
erro que nem ao menos eu sabia!
Estou ferrada.
Isso não é qualquer segredinho, é algo que envolve contrato
bilionário, minha carreira e a vida pessoal de alguém. E que porra
de matéria é essa que farão dele, para o idiota ter feito isso? Nunca
seria apenas o lado atlético dele.

Caminho pelo Millennium Park, tomado pelas pessoas que


fazem o mesmo. É um grande ponto turístico na cidade. Muitas
pessoas fazem fotos no Cloud Gate. Está calor, o dia está ótimo
para aproveitarem, sejam os turistas ou as pessoas daqui mesmo.
Paro perto de uma árvore e fico observando tudo, tentando
respirar fundo. Isso é algo sério demais. Eu sempre prezei pela
honestidade no meu trabalho. Eu assinei esse contrato sabendo das
cláusulas, e que deveria respeitar cada uma, para, no final,
quebrarem e isso respingar em mim, porque não tem como não ser
assim. Quem acreditaria em uma jornalista começando agora? Já
me massacram, isso seria um ponto maior para fazerem, pois
poderiam muito bem dizer que arquitetei um golpe no melhor amigo
do meu irmão, apenas para ter matérias exclusivas e crescer em
cima de todos, como sempre falam: Que Kristal Reed, a princesinha
da família, só cresce às custas dos outros.
E o Tyron, é nítido o quanto a história do Philip ainda o abala,
e o idiota o cutucou bem nessa ferida, e, para ele ter feito, é porque
pretendem falar do que aconteceu há dois anos. Porque há dois
anos, Tyron Sparks quase arruinou a carreira, é o que dizem, ele iria
largar tudo depois que soube do irmão. Se não o fez, ninguém sabe
o real motivo.
Eu não sei mentir sobre coisas sérias... Isso não é uma
mentirinha boba. E dizer a todos que não sei quem é o jornalista,
que não sei o que está havendo, estarei compactuando com essa
merda.
Pego o celular na bolsa e abro os áudios salvos, as
conversas mantidas. Retiro o fone da bolsa também e coloco
apenas um lado, e, automaticamente, a voz preenche meu ouvido:

“K, pare de pensar que não vai conseguir ser alguém. Eu


acredito em você, e deveria fazer o mesmo. Uma jornalista que
trabalha com a verdade, é assim que vai conseguir se destacar.
Sendo sincera, respeitando as pessoas e deixando o Sport Universe
melhor ainda, porque é lá que vai trabalhar!”

Meus olhos marejam, era tão esperto, especial. Antes de eu


entrar no jornal, ele já dizia que isso aconteceria. Já previa.
Olho algumas mensagens e sorrio.

Philip: Já notou que não sabe mentir? Não está bem não. Vai, abre a boca!
Kristal: Você é irritante, já te falaram isso, pirralho? Mas tem razão. Não
estou, mas vou ficar. É apenas a ansiedade me fazendo pensar demais.

Philip: Tyron está perguntando com quem tanto falo. Ele acha que a K é
algum amigo, ou namorada... Devo confirmar que é minha futura noiva? Sabe que
vamos nos casar, né?

Kristal: Deixe-o ficar curioso. Seu irmão é uma anta. Mesmo sem nos falar,
consegue me irritar. Ele não tem nada melhor do que cuidar da vida alheia? E
pare de ser nojento, pirralho! Tenho você como irmão!

Philip: Esqueci que o amor da sua vida é o Tyron. Confesse, essa briga
que sempre tiveram é porque se amam, né? Quando foi embora, eu era criança,
mas me lembro de algumas coisas. O jeito que ele te olhava... HAHAHAHA.

Kristal: Por que estou te dando atenção, pestinha?!

Philip: Porque me ama! E sei que tirei um sorriso seu. Nada de ficar triste.
Já basta as provas essa semana... Odeio provas! Não quer vir fazer para mim?

É, ele me fez sorrir muitas vezes... Todos os Sparks são


especiais para mim, e esconder algo assim sobre a matéria às
escondidas, a qual até jornalistas espiões estão na cola dele, e que
o cara que ele socou trabalha no mesmo lugar que eu... Isso é
demais.
Enxugo a lágrima que escorre em meu rosto e guardo o fone,
antes de pedir um carro para voltar ao hotel.
“E o principal, se mantenha profissional. Não entre demais na
vida deles.”
— Tarde demais, Jennifer... Tarde demais.
Ganhamos o jogo, e como de costume o time saiu para
comemorar, e, dessa vez, não tive saída de novo. Reservaram um
restaurante perto do hotel, apenas para os jogadores, todos, e é
aqui que estamos, depois da grande vitória contra os Strong Wave
que perderam de 79 x 62.
— Não disse que a loira viria junto? — Alf questiona.
Sim, ela pediu para ser inclusa, precisa gerar conteúdo à
matéria, mas não sei onde ela se meteu. Sumiu, não responde as
mensagens, tentei ligar e bati à porta do seu quarto, mas não obtive
resposta. Estou começando a me preocupar.
Onde essa maluca se meteu ou em que problemas se
meteu?
Se acontece algo com ela, Oliver corta meu pau fora e a
família Reed me esgana.
— Não faço ideia de onde ela está! — Bebo minha água com
gás, e olho para o celular em minha mão no meu colo.
— Quem? A jornalista? Ela saiu com o celular em mão, no
meio do jogo. Sei disso, porque a bola quase a acertou, e ela nem
percebeu. Estava bem distraída — Tanner comenta.
Ótimo, alguma merda aconteceu. E por que estou
preocupado? Eu nem deveria estar. Caralho, onde essa menina se
meteu?

Tyron: Kristal, cadê você? Pode ao menos dar um sinal de vida? Estou
preocupado, garota!

Envio mais uma mensagem, e aguardo.


— Que jogo! Porra, achei que perderíamos de novo. Foi
difícil. Os caras estavam prontos para nos matar! — um dos nossos
jogadores reserva fala, mas nem olho, estou olhando para a tela do
celular.
Nada. Ela não responde.
Tento ligar, enquanto dispenso pedir algo para comer quando
o garçom para ao meu lado.
Cai direto na caixa postal, está desligado o celular dela.
Se ela estivesse tão concentrada escrevendo a matéria
dessa semana, provavelmente manteria o celular longe ou
desligado, mas, porra, se ela estivesse no quarto teria aberto a
porta.
— Vai atrás dela, antes que morra do coração. Eu arrumo
desculpas para você! — Alf cochicha e o olho. — Que foi? Acha que
sou cego. Anda de olho nela. Vai logo!
— Alfred, você...
— Some, Tyron!
— Te devo essa. — Bato em seu ombro e me levanto,
aproveitando que estão distraídos com a conversa animada sobre o
jogo.
— Quero ser padrinho!
— Vá se foder! — Acerto sua cabeça e ele ri.

Bato na porta, e nada da diabólica sair. Tentei ligar mais


vezes, porém só caiu na caixa postal. Não sei se aciono a polícia
local, o FBI ou a família dela.
Caralho, Kristal!
Me afasto da porta, ligando para o Oliver. Espero que ao
menos esse irmão Reed me atenda.
— Oi, esposa! — provoca e começo a me arrepender do
contato.
— Sabe onde está a sua irmã? — vou direto ao assunto. Ele
começa a rir.
— Cara, tudo bem com você? Eu estou ótimo! — ironiza. —
Se você que trabalha com a Kristal, não sabe onde ela se meteu,
como eu saberia estando em outro lugar? Que foi, já brigaram?
Tyron, o que fez?
— Porra nenhuma... — Quase transei com ela, mas isso não
vem ao caso. — Não iria te ligar se não estivesse preocupado. A
Kristal sumiu do jogo hoje, já liguei e só dá caixa postal, já esmurrei
a porta do quarto dela, enviei mensagens e nada. Vou na recepção
do hotel, ver se ela passou por aqui, se saiu, se sabem de algo. Faz
horas, Oliver! — Soco o botão do elevador, esperando que seja
rápido.
— Kristal deu sumiço? Tenho duas opções: aconteceu algo
grave, ou ela está mal e quis se isolar. Quando ela está preocupada,
triste, costuma se afastar de todos. Lembra quando era criança e
adolescente? Isso não mudou. Vou tentar ver se meus pais ou as
amigas dela sabem de algo, sem preocupá-los, me mantenha
informado!
— Ok. Vou tentar ver se encontro uma pista de onde ela se
meteu.
Desligo e entro no elevador.
A ida até a recepção não ajuda muito, pois não a viram. O
serviço de quarto foi de manhã e ela estava, depois não a viram
mais.
Onde a Kristal se meteria, levando em consideração que
nada de ruim possa ter acontecido?!
Olho para o quadro dentro do hotel, inspirado no anoitecer, e
respiro fundo.
Estrelas... Céu... Quando era mais nova, sempre que discutia
com os pais ou o irmão, Kristal fugia para cima do telhado da casa
dela, onde conseguia ver o céu, segundo ela, mais de perto.
Quando descobriram, seus pais quase infartaram.
Ela provavelmente está no heliponto do hotel! Lá o sinal não
funciona direito, o que faria sentido com o celular dela está dando
caixa postal.

Saio da pequena porta, após conseguir acesso com os


seguranças e eles liberarem apenas para avisar a minha amiga que
já tinha passado o tempo limite que disponibilizaram a ela.
Amiga... Se fosse minha amiga, já teria jogado ela daqui de
cima apenas por me deixar preocupado.
Kristal está sentada no chão. Não usa a mesma roupa de
mais cedo. Que, por sinal, estava ainda mais atraente, linda. Agora
está usando um vestido rosa-claro, justo ao seu corpo. Os cabelos,
presos em um coque no alto, feito de qualquer jeito, e o vento aqui
em cima bagunça ainda mais eles.
Pegarei leve, apenas porque não sei o que está havendo,
mas minha vontade é de matá-la, por me fazer procurar por ela o dia
todo!
Me aproximo com calma, parando às suas costas.
— Que porra está acontecendo?! — Ela sobressalta e solta o
ar com força. Olha para trás, e os planos de pegar leve já eram. —
Kristal, eu passei o dia te procurando. Seu irmão também ficou
preocupado. Até o Alf pediu para vir atrás, porque você está
desaparecida!
Ela revira os olhos e torna a olhar para a frente.
— E depois a dramática somos nós mulheres.
Eu vou esganar essa menina!
Me sento ao seu lado. O celular dela está a sua frente,
enquanto suas pernas estão esticadas. O tênis branco nos pés
chacoalha com o movimento ansioso da perna.
— O que houve? Por que sumiu assim? — Olho para o seu
rosto e ela balança a cabeça.
— Precisava pensar. Me inspirar para o trabalho.
— Mentirosa! Não precisaria sumir assim para isso. Fale, o
que houve? — Me olha de lado, e a luz do sol deixa seus olhos mais
encantadores. — Foi pelo que quase aconteceu no intervalo do
jogo? — Ela nega rapidamente. — Me fala, Kristal. Você é péssima
escondendo as coisas.
— Não é o primeiro a dizer isso... Deve ser de família. — Fico
confuso. — Não é nada, Ty. Valeu por se preocupar.
Ty...
— Olha para mim, Reed... — falo e seus olhos me encaram.
— O que aconteceu que está abatida? Richard aprontou
novamente? Apareceu?
— Não. Eu... Infelizmente preciso manter isso só para mim,
Tyron, até saber o que fazer ou ver no que vai acontecer. Não se
preocupe, não é nada grave... — Sua voz se perde e ela desvia o
olhar.
Pode não ser grave, mas é sério.
— Tudo bem... Se precisar falar, pode me procurar, ok? —
indago e ela só assente. — Precisa descer. O segurança disse que
já ficou além do limite aqui.
— Nossa! Nem tinha notado. Coitado, confiou em mim e eu
abusando da boa vontade dele! — Pega o celular e se levanta,
ajeitando o vestido bem curto e justo ao seu corpo. — Ainda preciso
fazer a matéria... Merda, olha a hora! — Faz uma careta.
— Vamos, vou com você!
Ela assente, enquanto me levanto.

Enviei mensagem ao Oliver dizendo que ela está viva, e que


está tudo bem. Ele agradeceu e disse que depois nos falamos.
Estou com ela em seu quarto, deitado na cama, enquanto ela
anda por ele com o laptop em mãos, criando a matéria.
— Você é um péssimo observador, Tyron. Como pode dizer
que o final do jogo foi só bom? Isso não me ajuda a dar um
desfecho épico! Péssimo, ajudante!
Encaro-a, largando o celular.
— Eu não diria que sou um péssimo observador. Por
exemplo, sei que utiliza calcinha fio dental nesse instante. — Ela
tropeça e quase cai com o laptop. — E que quando está mentindo,
fica mais atrapalhada! Além de muitas outras coisas.
— Como sabe que estou usando... Esquece! Dá para ir
embora? Alguém aqui tem que trabalhar, e você, já que não ajuda,
não me atrapalhe. Eu não vou sumir de novo, se essa é a sua
preocupação. Some, Sparks! — reclama, caminhando sem parar
com o laptop.
— Na verdade, te incomodar me relaxa, e depois do jogo,
preciso disso. E pode parar de ficar andando para lá e para cá,
antes que se arrebente com esse laptop?
— Vai jogar praga mesmo?! Ai, que inferno! Não estou
conseguindo escrever nada.
Claro que não está. Kristal está tensa, esquisita desde que a
encontrei. Tem alguma coisa séria acontecendo e vou descobrir.
— Me dá isso aqui. — Estendo a mão e ela me olha. — Estou
falando sério. Me dê esse negócio, Reed! — Ela me entrega a
contragosto. Coloco ao meu lado.
— Para que me pediu? Vai escrever para mim? Se for,
agradeço, porque hoje tudo está dando errado!
Puxo seu corpo, e ela cai sobre o meu, soltando um gritinho
assustada. Já que estamos fazendo merda, que seja uma merda
completa então. Prendo seu corpo ao meu, apoiando uma das mãos
em sua bunda.
— Precisa relaxar. Está me irritando ver você se forçar a
escrever e ficando mais nervosa.
— Tyron, eu tenho que entregar isso, ou minha chefe...
— Sua chefe vai querer algo útil, não um texto de qualquer
jeito. Relaxa, Kristal. Desde que a encontrei está tensa, esquisita.
Não quer me falar, tudo bem. Mas respira, ok?
Ela gira para o lado, empurrando o laptop para baixo. Viro-me
de lado, apoiando a cabeça em um dos braços, e colocando o
celular em meu bolso.
— Hoje descobri uma coisa que me chateou muito... E o pior,
não posso falar com ninguém. Nem com minhas amigas, porque sei
o que elas diriam, guardariam a sete chaves tudo, mas eu sei
exatamente o que pediram para eu fazer.
— O que elas diriam, seria para fazer a coisa certa? —
pergunto e ela se vira, ficando deitada de lado, de frente para mim.
Apenas assente. — É algo tão sério assim para ter medo de fazer a
coisa certa?
— Sim. Envolve coisas que são pessoais a outra pessoa. E
que pode fazer essa pessoa e todos os outros ao redor dela não
confiarem mais em mim, além de me prejudicar seriamente... É
complicado, sabe... — suspira chateada.
Preciso admitir que a única vez que a vi abalada assim foi na
ponte em Nova York.
— Ultimamente não tenho sido o melhor conselheiro, tendo
em vista que nem com minhas merdas consigo lidar direito... —
Prendo a mecha solta de seu cabelo. — Esconder as coisas podem
complicar mais ainda. Veja por mim, tentei abafar o que aconteceu
em Boston, e olha a merda agora. Só se fala disso de novo nos
jornais. Meus pais, empresário, dono do time, todos querem a
verdade. O que resultou fugir? Nada. — Noto sua expressão ficar
mais tensa.
— O que aconteceu naquele dia, que o fez agredir aquele
jornalista, Tyron? — Sua voz é baixa, suave.
Respiro fundo.
— Eu estava um pouco abalado com algumas coisas naquele
dia em relação aos meus pais. Tanner me chamou para sair, distrair
a cabeça, notou que eu não estava muito bem. Eu mal tinha bebido
direito, quando o cara se sentou ao meu lado no bar e começou de
início a jogar conversa fora, não me importei, Tanner também estava
interagindo. Até que ele parecia saber demais da minha vida e
perguntei qual era a dele, então confessou que era jornalista e
gostava de estar por dentro de tudo. Isso já me deixou
desconfortável... Normalmente sempre se aproximam de mim para
colher algo.
— E aí? O que ele te falou que te abalou?
— Tocou no nome do Philip. Disse que acompanhou as
notícias, porém não entendia por que nunca foi falado se houve
investigação para se aprofundar mais na morte dele. Que achava
totalmente absurdo um moleque de treze anos ter tido a causa da
morte como suicídio e ninguém ter investigado melhor. Foi invasivo.
Quando pedi para parar com esse assunto, Tanner também
orientou, ele falou que conversou com fontes próximas ao Philip e
diziam que ele era recluso na escola, não tinha amigos. O filho da
puta questionou se ele tinha amor em casa... Caralho, que pessoa
chega em outra fazendo isso? Eu perdi a cabeça e terminou como já
sabe.
— Meu Deus... Tyron, ele foi muito irresponsável! — Sua
expressão é totalmente de choque. — Ele jamais deveria ter te
abordado dessa forma... Ele foi um idiota!
— Mas fez. Sabe, eu me senti um merda ainda mais do que
antes. Só eu sei a culpa que carrego por não ter visto que o Philip
não estava bem, que ele poderia estar enfrentando uma depressão,
pedindo ajuda... Eu sinto a culpa diariamente disso, principalmente
por saber que minha carreira sempre ocupou o maior foco na nossa
família, para um filho da puta vir falar merda assim! — Meu coração
acelera. Minha respiração agita. — Faço terapia, estou tentando por
ele, apenas pelo Philip, porque não quero ser um fracasso depois de
tudo. Para vir um desgraçado questionar umas merdas assim. Óbvio
que eu perderia a cabeça, sou humano... Meu erro foi me calar,
nunca vou admitir que errei com esse idiota, porque não errei.
Apenas que me calar custou um jogo ao meu time, e agora está
custando a paz da minha equipe, dos meus pais e do time...
— Ei... Para! Ninguém teve culpa de nada. Ele te amava, ok?
Eu conversava com ele diariamente. A K era eu, Tyron! Ele poderia
estar vivendo uma depressão silenciosa. Nunca quis preocupar
ninguém, você sabe como ele era! — Seus olhos estão marejados.
— Ele amava você, tinha orgulho. Sorria sempre que falava do
irmão ser um astro do basquete. Hoje, depois de tudo, claro que
vamos notar os sinais, os pequenos detalhes de que tinha algo
errado, mas não dá para nos culpar, porque... Porque não é justo
nos culpar também! Não é, Tyron! — Ela começa a chorar
desesperada. — E-eu... fui a última pessoa... A última pessoa que
ele falou. Eu não quero ser culpada, Tyron. Ninguém pode ser...
Meus olhos marejam e franzo o cenho. Meu coração se agita.
— Do que está falando?
Ela chora nervosa.
— Eu estava muito ocupada naquele dia, com mil coisas para
fazer... Ele me mandou uma mensagem dizendo que me amava
muito e que eu seria a melhor jornalista do mundo, e para desculpá-
lo por não ser tudo que talvez eu precisasse, para eu me cuidar
sempre. Não entendi bem e meu celular descarregou. Só que passei
o dia com isso na cabeça — soluça, está muito abalada. Minha
respiração agita mais. — Eu estava angustiada demais, sentia uma
vontade louca de chorar naquele dia. Não entendia. Achei que fosse
TPM. Cheguei em casa, meus pais e o Oliver estavam esquisitos, e
então eu entendi que a sensação ruim o dia todo não era coisa da
minha cabeça. Eu perguntei o que havia acontecido... — Ela busca
o ar e seguro sua mão tentando acalmá-la. Lágrimas despencam
em meu rosto. — Então eles falaram que precisavam falar comigo
algo sério e começaram a chorar. A mensagem do Philip na hora
veio novamente a minha memória... E eu já sabia que algo tinha
acontecido com ele.
— Kristal...
Ela me impede de falar.
— Eu não quis deixar eles contarem. Corri carregar o celular
e comecei a ligar para ele, mas não atendia. Enviei mensagens,
áudios... Nada. Até que sua mãe me ligou e disse que o haviam
encontrado desacordado no quarto, com frascos de remédios
espalhados ao redor. Que tinham levado ele ao hospital, mas ele
começou a ter várias paradas cardíacas seguidas... E que...
Ninguém pode ser culpado... Porque senão eu serei a principal,
porque a mensagem, eu fui a última pessoa que ele falou, eu
poderia ter feito algo, falado algo, ido para Nova York, ou pedido
para alguém ficar com ele... Não sei!
Sua confissão me assusta. Eu sabia que entraram em
contato com ela durante as investigações, mas não quis me
aprofundar, doía demais. Ainda dói.
— Eu estava entrando no avião para o início da temporada,
quando meu celular tocou trazendo a notícia. Fazia dias que não via
ele. O contato estava difícil, estava treinando muito e tinha passado
uns dias na Europa. Meus pais mandaram eu correr para Nova York,
que algo tinha acontecido com meu irmão. Eu não me lembro como
cheguei ao hospital, fiquei muito desnorteado, mas quando cheguei
já era tarde... Então meus pais me contaram tudo. Eles haviam
saído, mas meu pai esqueceu a carteira e retornou. Chamou pelo
Philip que havia ficado em casa e ele não respondeu, então foi até o
quarto e o encontrou desacordado, e começou a gritar pelos
funcionários da casa, pedindo ajuda. Philip não tomou por engano,
Kristal... Ele era muito inteligente, mais de cinco frascos vazios... Ele
sabia o que estava fazendo. E que precisava acabar com tudo, seja
lá o que estivesse acontecendo...
Deixo as palavras saírem. A última vez que me abri assim foi
com a minha psicóloga. Nunca me imaginei tendo que falar disso
novamente, e nem que seria em um momento tão bobo que traria
tudo isso à tona. Me quebra ter que falar disso, ficar voltando ao
maldito dia. Me destrói mais um pouco.
Ela se senta na cama, bastante nervosa.
— Você não teria como fazer nada. Nunca daria tempo...
Eram remédios em grandes quantidades, fortes — falo e ela balança
a cabeça.
— Eu fui a última pessoa... Seus pais olharam o celular dele
e por isso me ligaram, as investigações, tudo voltou a mim, me
ligavam, perguntavam o porquê, Ty, ele não tinha ninguém além da
família e de mim. Ele mal falava com outras pessoas. Eu não posso
ser a culpada disso também... Então não fale que tem culpa,
ninguém pode ter... Dói demais pensar isso, me destrói!
Sento-me ofegante a olhando.
— Por isso estava na ponte... A ponte favorita dele. — Ela
concorda. — Kristal, você não teve culpa. Se existe culpado, sou eu,
meus pais. A família dele que passou tempo demais focada no astro
de merda aqui, do que nele. Meus pais queriam tanto filhos
perfeitos, que se esqueceram de ver que ele não estava bem... Eu
queria tanto o proteger que me esqueci de focar mais no interior do
que no exterior. Sabe por que soquei o idiota? Porque, no fundo,
uma voz gritou dentro de mim me culpando! — Minha voz muda.
— Não... Eu não quero acreditar que fomos tão cegos
assim... Porque mesmo que tenha sido uma depressão silenciosa,
como tudo apontou nas investigações, hoje eu noto os detalhes...
Quando ele dizia que só éramos nós dois, quando fugiu de sair com
a menina que deu o primeiro beijo. Quando passava mais tempo
falando comigo do que com outros adolescentes. Que adolescente
prefere ficar enfurnado no quarto o dia todo, conversando só com
uma pessoa? Tantos sinais... Não fale de culpa, por favor... Porque
então todos nós teremos!
Puxo seu corpo, deitando-me com ela.
— Ele queria acabar com alguma dor, que nunca saberemos
qual era... Talvez todos deveríamos ter sido mais observadores... Eu
principalmente, porque era o irmão dele, que tanto o amei e que
acabei sendo mais presente que nossos pais. A verdade é que
nunca teremos a resposta de nada, mas a lição de que nem sempre
um sorriso é sinal de felicidade. — Lágrimas escorrem pelas minhas
bochechas.
Ela assente, escondendo o rosto no meu pescoço. Me dói
muito como tudo terminou com meu irmão, só eu sei o quanto dói. O
quanto me culpo demais. O quanto tento encontrar culpados, mas
não é mais hora para isso... Nada vai trazer ele de volta. Só nos
resta a dor, saudade, lições e memórias que, a cada dia, parecem
se perder, virar um borrão.
— O jornalista nunca deveria ter tocado nessa sua ferida...
Nunca! E eu jamais julgaria sua atitude no desespero!
— Minha psicóloga costuma dizer que damos aos outros
aquilo que estamos cheios. É a mais pura verdade. Ele me ofereceu
a irresponsabilidade, e eu dei a ele a ira que ainda me toma... — Ela
concorda. — Desculpa.
— Pelo quê? — Sua voz é chorosa.
— Por ter sido um grande filho da puta em Stanford. Te
julguei, quando te dói muito também. Eu já sabia que ele falava com
você, não tinha ideia de que era a K, porque Philip amava ser
enigmático, e tanto falava Kristal quanto K. Descobri por causa da
sua tatuagem. — Toco a tatuagem e respiro fundo.
Ela ergue o rosto e me encara. O rosto vermelho, olhos ainda
mais, e sei que não sou diferente. Por mais que tudo tenha sido há
dois anos, a dor em lembrar sempre será a mesma.
— Para sempre ter algo dele em mim.
Sorrio levemente.
— Não se culpe mais... Dois anos tenho feito isso, e dói
muito. É a única coisa que tenho demorado a evoluir, e isso acaba
me afetando em muitas outras situações. Não sinta desespero,
medo de achar que nós nos culpando, você automaticamente se
torna culpada... A verdade nunca saberemos, e é com isso que
tento trabalhar, que o que passou não tem volta, e não trará ele de
novo para nós.
— Por isso está abalado com seus pais? — questiona e
assinto. — Os culpa?
— Já nem sei mais quem é o certo ou o errado nisso tudo.
Mas ver que ainda seguem focados na minha carreira e tornando
isso ainda a base de tudo, me tirando a liberdade de errar e ser eu...
sufoca, me leva ao passado, onde provavelmente ele sentia tudo
isso. Não são más pessoas, mas talvez se esqueçam, às vezes, de
que nada disso dura para sempre, uma hora não serei mais o astro
do basquete, não terei mais forças para jogar, eles não terão mais
forças para trabalhar... Tudo ficará, porque nada disso é mais
importante do que viver, e o Philip sempre me ensinou muitas
coisas, e a principal veio após a sua morte: viver é uma dádiva. E,
quando se fala disso, é viver de verdade, aproveitar tudo, porque
uma hora isso tudo pode acabar.
Ela me aperta forte e faço o mesmo a ela.
— Eu quero ser a melhor jornalista, por mim... E por ele.
Fazer valer a pena. E Tyron?
— Oi. — Enxugo meu rosto.
— Ele tinha muito orgulho mesmo de você. Sempre te
colocava em nossos assuntos malucos. E te defendia demais dos
meus xingamentos — ri entre as lágrimas.
Toco seu queixo e ergo com calma. E simplesmente me deixo
levar, beijo-a mais uma vez. O beijo é salgado pelas lágrimas, calmo
pelo momento, mas capaz de fazer algo que, em dois anos, não
sinto: calmaria de dentro para fora.
Afasto lentamente, segurando a lateral do seu rosto e
encarando-a em seus olhos.
— Não esconda as coisas, seja o que for que te deixou nesse
estado ao ponto de se abrir pelo Philip também... Fale. Se calar é
uma merda e eu sou a prova disso.
Ela assente, e toca meu rosto, de um jeito delicado.
— Acho que estou pronta para escrever...
— Tem certeza?
— Sim! E não será nada técnico como pensei, e talvez nunca
fosse para ser. — Se senta, puxa o laptop e ajeita os cabelos,
soltando-os.
Respira fundo e faço o mesmo.
— Quer que eu suma ainda? — pergunto sentindo uma
leveza, como se estivesse anestesiado. É estranho, já que a última
vez que senti isso foi quando me abri com a psicóloga pela primeira
vez.
“Quanto mais vezes colocar suas dores para fora, mais leve
se sentirá, Tyron. Se sufocar com seus sentimentos é como se
torturar, e ninguém merece isso.” A voz da Sabrina se sobressai na
minha cabeça. “Quanto mais falar, mais leve se tornará, e mais
rápido aprenderá a lidar com tudo isso.”
— Não. Pode ficar, vai ser bom ter companhia hoje —
responde baixinho.
Sorrio e ela retribui.
“Ele sentia muito orgulho de você”, as palavras me aquecem
como nunca imaginei que algo poderia fazer.
É… eu também sentia muito orgulho do meu menino.
Meia-noite, e sigo no quarto da Kristal. Depois de tudo,
parece que até o ambiente está mais leve. Ela está deitada de
barriga para baixo, digitando no notebook. Nem comer quis,
enquanto aguento Oliver me mandando merda por mensagens, pois
ganhou o jogo hoje também, está dizendo que, se formos para a
final juntos e ganharem, terei que beijar a bunda dele. Que porra de
tara na própria bunda é essa?
A TV está ligada, em som baixo, nem presto atenção direito
no que passa. Largo o celular, deixando-o de lado e olho para a
garota de bunda arrebitada, com o vestido completamente colado a
ela, e mostrando a pontinha da bunda lisa, por ter subido o tecido.
— Terminei! — exclama cansada e animada. — Algo de bom
teria que ter tido nesse dia. Jennifer que revise direito. Merece
depois de tudo! — Franzo o cenho e ela me olha. — Minha chefe,
deve saber quem é ela.
Claro que sei. Ela é uma grande jornalista esportiva.
Fecha a tela do notebook e suspira.
— Precisa descansar, garota. Depois desse dia, precisa
relaxar — aviso, notando o quanto está com os ombros tensos.
Ela se senta na cama e mexe o pescoço de um lado para o
outro.
— Eu ainda vou me matar escrevendo em posições toda
torta. Minha mãe quer minha alma quando vê isso, ainda mais que
fujo do centro de estética dela, para fazer massagens, tirar essas
tensões.
Sorrio.
— Sua mãe não mudou em nada.
— Nem me fale! Maluca desde sempre. Acredita que ela quer
doar um dos filhos sempre que surge a oportunidade? Porra, não
era nem para ela pensar em qual doar. Óbvio que o Oliver!
Começo a rir e balanço a cabeça.
— Você é má, garota. Seu irmão é uma peste, mas merece
mais apoio! — brinco.
— Vai defender o amigo, não me admira. Faço o mesmo com
a Vicky, mesmo sabendo que ela ainda nos levará a sermos presas.
Não duvido. Essa garota é muito doida.
— Cherry parece ser a mais quieta, calma.
— Sim! Um amorzinho. Uma pena estar tão caída pelo...
Esquece!
— Pelo Oliver. Já notei. Ela não sabe o problema que está
arrumando. Mas não dá para se intrometer. É a vida deles, são
adultos. — Concorda. — Ela me lembra alguém.
Me olha e assente.
— Ela se daria bem com o Philip, né? Ambos têm
semelhanças. Carinhosos, calmos, engraçados na mesma medida,
inteligentes, estudiosos... Eu já havia notado isso. Cherry é muito
sozinha, mesmo estando rodeada de pessoas, e isso me assusta, e
deve imaginar o porquê. — Concordo. — Depois dele... eu tenho
sido mais protetora com os meus, apavorada na verdade.
Me sinto da mesma forma. Tenho ficado mais atento com as
pessoas que me preocupo.
— Ela vive apenas com a prima?
— Prima e os pais da Vicky, tios dela. — Se encosta na
cabeceira. — Cherry morava no Canadá, com os pais e os avós,
mas quando ela tinha quinze anos, seus pais sofreram um acidente
de carro, ela estava junto e foi a única sobrevivente. Seus avós
queriam cuidar dela, eles têm muito carinho pelas netas, mas os
pais da Vicky acharam melhor trazer ela para a Califórnia, pois teria
a Vicky, alguém jovem também para distrair ela. Desde então ela
vive em Palo Alto, minha vizinha literalmente, colada à minha casa.
Terminou o ensino médio, e agora cursa Comunicação, antes de
cursar Direito. Um amor, mas fechada em muitas coisas. Vicky diz
que a prima não era assim no Canadá, sempre foi rodeada de
amigos, mas não é bem o que acontece aqui... É complicado —
suspira.
Fico atento as coisas que conta. Eu gostei muito da Cherry,
algo nela é tão doce, calmo, repleto de paz.
— E a Vicky é a maçã podre do trio? — Ela me mostra o
dedo e rio. — Não menti.
— Não... Mas não fale assim dela! Vicky é maluca, grudamos
desde que nos conhecemos. E por sinal mesma universidade, curso
e mesmo local de trabalho. Quase almas gêmeas. — Reviro os
olhos e ela ri. Gosto do som. — Ela é maluca, gosta de fugir do que
esperam que aconteça. Sai bastante, gosta de curtir os homens, a
vida... Ela vive intensamente, e não se importa com o que dizem.
Gostaria de ser assim. O que ela quer? Faz. Não tem tempo ruim...
Para Vicky ficar abalada, é porque a coisa é séria. A única coisa que
a tiraria do sério, é brincar com ela, enganar, ou ferir quem ela ama.
Do contrário, ela vive, e como vive! — Arregala os olhos. —
Saudade de estar com elas. Nos víamos todos os dias. Acredita que
nunca brigamos? Discutimos levemente, mas jamais brigamos.
— Admirável, já que você é o diabo quando quer!
— Meu Deus, como consegue ser insuportável tão
rapidamente? Tyron, somos adultos, cresça então!
— É um dom ser assim! — Pisco e me sento.
Puxo-a para ficar entre as minhas pernas.
— Não sabe ser delicado? Porra, Sparks! — reclama.
— Calada. É a primeira e última vez, não se acostume.
— Do que está... Ai, Deus... Isso é bom! — fala ficando mole,
conforme massageio seu pescoço, descendo para os seus ombros.
— Tyron... Se você parar, eu juro que te jogo dessa sacada! Não
estou brincando. Isso é o paraíso.
Sorrio da folgada. Ela prende os cabelos para o alto,
facilitando o contato em sua pele. Encosto-me na cabeceira e a
trago comigo. Está repleta de tensões, pescoço está duro.
— Precisa deixar cair bastante água morna aqui, Kristal...
Está muito tensa...
— Uhum... Agora continua, vai! — Dá tapinhas nas minhas
pernas. — Até que é um homem útil, Tyron! — ri e aperto um pouco.
— Ai, idiota! Sabe quem faz massagens perfeitas? Oliver, mamãe
ensinou a ele. Deve ser por isso que as coitadas caem no papo
besta dele. Olha como isso é bom!
Observo sua nuca, sentindo seu perfume bem de perto.
Desço as alças do vestido e ela retira, segurando a frente dele.
Estar com ela assim, é esquecer de todo assunto mais cedo, das
lágrimas, da dor... É relaxar vendo-a deixar a tensão sair de seu
corpo.
Deixo um beijo em sua nuca, sem poder me controlar, e vejo
sua pele se arrepiar. Deixo mais um beijo, dessa vez em seu
pescoço, e ela o inclina para o lado, apertando minhas pernas.
— M-melhor eu enviar a matéria a minha c-chefe para ficar
mais t-tranquila — diz com a voz fraca.
— Vai lá... — sussurro em seu ouvido.
Ela se inclina sobre a cama, abrindo a tela do notebook, e me
dando uma visão deliciosa de sua bunda, quase nua. A filha da puta
está me provocando... Kristal é uma peste!
Meu pau sente os efeitos da provocação, começando a
endurecer.
— Prontinho... — Fecha novamente a tela do notebook, e
volta a ficar entre minhas pernas. — Pode continuar, Sparks.
— Com muito prazer, Reed! — Puxo-a firme para que sinta o
que está dentro da minha calça. Ela aperta minhas coxas, e sorrio.
— Está relaxando mais? — pergunto, deslizando as mãos para a
frente do seu vestido.
— S-sim... — Encosta a cabeça em meu ombro, e sua bunda
se empina em meu pau.
Com calma, toco seus seios por cima do vestido e ela
suspira.
— Estão bem durinhos... Está excitada, Kristal? — provoco,
apertando os bicos.
— Tyron... Merda! — Aperta mais minhas coxas e se remexe
mais, sua bunda roça no meu pau.
— E se eu fizer assim, te relaxa mais? — Abaixo o tecido, ela
está sem sutiã, e ter a visão dos seus peitos é muito gostoso. Toco,
brincando com os bicos, puxando com calma, e ela geme baixo.
— Muito... Relaxa muito... Ai... — Se esfrega em mim. Seus
olhos se fecham e eu endureço mais.
Beijo sua boca, enquanto recebo sua bunda rebolando colada
em mim, seus seios sendo pressionados em minhas mãos.
— Eu preciso de você... garota... hoje!
— Só pegar o que quer... armador. — Sorri manhosa.
Safada!
Me inclino, pressionando mais meu pau nela, e erguendo seu
seio, colocando o bico em minha boca, sem cerimônia.
— Tyron... Jesus! Oooh... — Se contorce desesperada.
Prendo-a mais a mim, quando suas pernas se abrem e o
vestido sobe de vez.
Largo seu seio e levo a mão ao lado interno de suas coxas,
acariciando a região lisa, delicada. Seu seio está vermelho e ela
arrepiada.
— Tem certeza de que quer ir até o final? — questiono
mordendo seu ombro e ela geme mais.
— Sim... Quero... Só faça!
Sorrio da sua ansiedade, conforme subo a mão para o meio
de suas pernas e sinto sua calcinha molhada, e cacete isso é o
golpe final para o meu pau que fica tão duro, que dói. Afasto o
tecido para o lado, e toco sua boceta melada, e ela geme alto dessa
vez.
— Porra... Que delícia... Meu pau vai deslizar muito bem
aqui... Escorregar bem gostoso, garota! — falo em seu ouvido e ela
se oferece mais a mim. — Escuta o barulho dela... ouve o quanto
está melada... — Chupo seu pescoço e ela geme mais. — Quantos
dedos você quer? Me fala... Quero ouvir dessa boquinha atrevida!
— Todos que quiser colocar... Eu quero poder gozar, Tyron...
— E vai gozar, só que somente quando eu estiver metendo
em você... — Coloco dois dedos dentro dela e ela geme forte,
gostoso. — Cabe mais aqui, nessa bocetinha... Você é tão
magrinha, pequena... Essa boceta está muito receptiva... O que tem
feito, Kristal? Tem aprontado aqui? — Coloco mais um dedo e ela
geme forte.
Eu poderia gozar só fazendo isso a ela.
— Me masturbando... — Caralho.
— E por que fez isso? Por que estava tão excitada?
— Sonhei que me fodia... — A diabólica é direta.
Kristal Reed perde a pose de correta, bravinha, quando está
excitada. Isso é perfeito.
— Diabólica!
Aperto seu rosto, puxando para mim e a beijo bruto, enquanto
fodo-a com meus dedos, e ela rebola em mim, se esfregando,
querendo mais.
— Tyron... Preciso de mais... — pede quando largo seus
lábios.
Empurro-a para a cama, arrancando seu vestido. Louco,
tomado pelo tesão. Sua calcinha é tirada com tanta força que
estoura a lateral, e ela morde os lábios.
Kristal é linda pra caralho!
Tiro minha camiseta e as coisas do bolso, jogando na cama.
Ela se ajoelha, vindo até a mim, me ajudando com a calça,
enquanto seus olhos estão presos aos meus. Toco seu rosto, lábios
inchados, bem vermelhos. Os cabelos caindo do coque, e
despencando, longos, em suas costas.
Chuto a calça e ela desce a cueca, e quando dou um fim no
tecido branco, ela desce o olhar para o meu pau, e morde o
cantinho da boca. Ele está duro, as veias marcadas, a cabeça
brilhosa, molhada. Meu pau não é completamente grosso, é médio.
Mas é grande.
Puxo-a para o meu colo, suas pernas contornam minha
cintura, e beijo-a, porque sua boca é um vício perigoso. Aperto sua
bunda, antes de inclinar nossos corpos sobre a cama macia.
Pego a carteira ao lado e retiro a camisinha, sob seu olhar,
seus olhos agora verdes-escuros. Sua expressão de uma
verdadeira cachorrinha safada.
— Apenas uma... Só tenho uma aqui... Não me provoque
além do limite, ou irei te foder sem pensar muito nisso aqui! —
aviso, conhecendo a diaba que pode ser.
— Ainda bem que nos cuidamos, atleta... — Pisca.
— Kristal... — Jogo a camisinha para ela, que ri. — Vem,
coloque em mim. Me toque, essa sua cara safada diz que deseja
isso.
Ela rasga a embalagem, tirando o preservativo de dentro e se
sentando à minha frente. Kristal é o diabo em pessoa quando quer.
Ela segura meu pau pela base, e preciso controlar o gemido alto.
Desliza a mão algumas vezes por ele, antes de colocar o látex.
— Você é grande, Tyron... Não só na altura!
Empurro-a na cama e ela gargalha. Mas logo o riso dá lugar
ao gemido, quando esfrego meu pau em sua boceta.
Não acredito que vou foder Kristal Reed... Porra! E eu quero
muito.
— Abre bem para mim... Isso... — Começo a entrar nela,
assistindo a cena do meu pau sumindo entre suas pernas. —
Porra... Você está me devorando tão bem... Oooh... Caralho! —
Olho para ela gemendo baixinho, mas bem gostoso. — Só mais um
pouco... — Curvo-me de vez sobre ela e meto o restante.
— Meu Deus! Tyron... Que gostoso... Puta merda! — Me
agarra com suas unhas apertando minha pele, e nem isso me
importa, porque me excita mais.
Começo a me movimentar, socando de leve meu pau no
buraco que se abre para mim, e se aperta por ela em seus
movimentos. Apoio as mãos em cada lado seu, erguendo um pouco
do meu corpo, e podendo meter mais fundo nela, que aperta meus
braços, onde as veias se marcam mais forte. Nossos olhares presos
um no outro, e totalmente perdidos do mundo fora desse quarto.
Seus gemidos ficam mais altos, fortes. Aproximo a boca do
seu ouvido e mordo a pontinha da orelha, e ela geme mais.
— Shhh... Quero seus gemidos só para mim... — Meto forte e
ela grita. — Quieta, Kristal... Não entendeu que, enquanto eu te
foder, seus gemidos não podem ser de mais ninguém? Ninguém
tem o direito de ouvir o quanto é gostosa gemendo. — Meto mais
forte.
— Ty! — Rebola e meto mais forte. — Ai... Isso... Mete mais
forte! Vou gemer apenas para você... Mete bem forte, me fode bruto,
por favor! — pede em meu ouvido e geme nele.
— Safada do caralho!
Meto mais forte, repetidas vezes, e ela me deixa louco
gemendo diretamente em meu ouvido, puxando meu cabelo, e
enrolando as pernas ao meu redor, quando colo nossos corpos
suados.
— Enquanto. Estiver. Comigo. Seus. Gemidos. São. Apenas.
Meus. — Vou falando a cada vez que penetro nela. — Sua. Boceta.
É. Minha. Sua. Boca. É. Minha.
— Tyron... — choraminga em meu ouvido e gosto ainda mais.
— Exclusividade... Ambos... Até isso acabar... Tyrooooon... — Meto
mais forte ainda. — Eu vou gozar. Eu vou gozar! — diz
desesperada.
Beijo sua boca, prendendo nosso ar, quando o orgasmo
chega, seu corpo treme embaixo do meu, sua boceta me aperta
forte, e pela primeira vez na vida desejei estar sem a camisinha
apenas para sentir sua boceta no meu pau, melando-o, como faz
com a látex.
Eu esporro forte, gemendo entre o beijo, assim como ela, e
desejando foder sua boceta novamente, sem ainda ter saído dela.

Nossos corpos estão colados. Ela usa minha camiseta e


apenas visto a cueca. Suas costas em meu peito, e um de meus
braços ao redor dela. Ninguém ainda teve coragem de ir para o
banho, estamos apenas nos acalmando depois de tudo.
— Foram muitas informações hoje. — Acaricia meu braço
enquanto fala. — Não é estranho para você estarmos assim?
— Um pouco... Não pelo que aconteceu, mas por ter
acontecido entre nós. Nunca imaginei você dessa forma. Nem
pensava nisso.
Ela ri baixinho.
— Entendo. Parece que as coisas têm mudado rapidamente.
O editor da vida deve estar se divertindo, não acha?
Assinto e respiro fundo.
— Se a nossa família souber... Porra! Oliver vai me matar! —
rimos.
— Ninguém vai saber. E Oliver nunca te mataria, não vive
sem você!
— Ele se nega, mas é verdade!
Rimos novamente, e ela vira um pouco do rosto.
— Sem climas estranhos, né?
— Sem... Até porque evitará climão quando eu voltar ao meu
quarto essa noite. — Beijo sua boca, e, porra, por que me parece
tão correto? — Tenho que organizar as coisas para o próximo
destino. Los Angeles.
— E aniversário da Cherry. Nem acredito que vai dar certo! —
fala animada. — Queria fazer algo especial, que ela se sentisse
confortável.
— Reúna as pessoas que ela gosta, onde ela gosta de estar.
O que fizer, certeza de que ela vai gostar. Eu vi como se tratam,
vocês têm uma amizade bonita.
Ela sorri e concorda. Viro-a para mim, e puxo-a para mais um
beijo. É, sua boca é extremamente viciante.
— Obrigado por ser abrir sobre o Philip, ouvir o que disse,
que ele sentia orgulho, me atingiu de um jeito bom.
— Independentemente de qualquer coisa, distância, as
brigas, tudo que nos envolve, estarei a um segundo de distância,
Tyron, porque eu realmente me importo com vocês, com você. Eu
sempre me importei!
Beija minha boca e aperto seu corpo. Sorrindo confuso.
— A um segundo de distância... Onde ouviu isso, Kristal? —
pergunto meio abalado.
Ela franze o cenho.
— Não sei... Às vezes, acho que sonhei com essa frase,
sabia? Ela sempre mexeu comigo. E ainda irei tatuá-la. Será minha
segunda tatuagem. Sabe quando você sente que já viveu algo e
isso te marcou, mas não sabe separar realidade de sonho? Não
sabe identificar? Essa frase ficou em mim. Ela significa proteção a
mim. Estar a um segundo de distância de alguém, é estar ao lado
dessa pessoa para o que ela precisar.
Balanço a cabeça e sorrio em silêncio.
Não, garota... Nunca foi sonho.
Eu disse isso a ela, em uma noite de tempestade quando ela
era criança. Estava dormindo, quando começou a ter pesadelos, o
barulho da tempestade a deixava mais agitada. Deitei-me ao seu
lado, segurei sua mão. Quando ela se acalmou, tentei me afastar,
ela parecia acordada, mas ainda abalada.
— Eu vou buscar água para você, pirralha. Estarei a um
segundo de distância daqui.
— Isso é longe? — questionou baixo, chorosa.
— Não, princesinha. É muito perto. Perto o suficiente para te
ajudar.
Sorrio.
— Um segundo de distância... — Seus olhinhos verdes se
fecharam, e me afastei buscando a água, que, mesmo que
dormisse, poderia precisar ao acordar.
Oliver me pagaria, mais uma noite que ele fugiu para jogar
basquete. Que tome um raio na bunda.
Pego a água e retorno ao quarto. Ela ainda dorme. Kristal
pode ser uma pirralha fofa as vezes, mesmo que me irrite na maior
parte do tempo.

Sorrio como um idiota, me apegando a esse detalhe, de um


jeito que não deveria.
Desço do carro em frente à casa, e nunca pensei que
precisaria tanto da minha cama, depois de alguns hotéis. Não avisei
ninguém que chegaria hoje, então meus pais devem estar no
trabalho, assim como Vicky. A Cherry volta amanhã cedo, e meu
irmão chega mais tarde. Ou seja, terei tempo para tomar um banho,
descansar, e ir conversar pessoalmente com a Jennifer sobre tudo e
ir ao evento que preciso comparecer.
Agradeço ao motorista, que me ajuda com a mala, e entro em
casa, encontrando a chave na minha bolsa bagunçada.
— Por Deus! Menina, como entra assim?! — Me assusto com
a voz da nossa governanta, uma brasileira incrível, que está
conosco há anos, e basicamente manda em tudo aqui quando
mamãe não está.
— Oi, senhora Kássia... — Me aproximo, abraçando-a e
beijando, enquanto a mala acaba despencando no chão.
— Senhora? Uma hora dessas e vem com senhora? Não me
chama mais de Ká? Fiquei um mês de férias e você semanas longe,
e já volta sem carinho por mim? — seu drama começa e começo a
achar que ela aprendeu com minha mãe.
— Ká, menos drama. Eu só estou cansada. Preciso de
banho, descansar, porque terei que passar no jornal ainda.
Sorrio.
— Está mesmo parecendo cansada. Tão acabadinha!
— Ká! — chamo sua atenção.
— Minha sinceridade é o que amam! Vai... Deixe suas coisas
que peço para darem um jeito. Vou pedir para prepararem algo para
comer, tudo bem?
— Você é perfeita! — Aperto sua bochecha.
Subo para o meu quarto, e os planos de banho primeiro
somem quando vejo minha cama.
Meu Deus, até parece que eu que joguei essas semanas!
Agarro meu travesseiro e começo a rir.
— Não acredito que se meteu nisso, Kristal... Logo com
Tyron! Logo com ele!
Sorrio como uma tonta, e o pior: sinto palpitações, friozinho
na barriga.
O que estou me tornando?
Que ódio!

Tudo que eu precisava era de um banho em casa, minha


cama, uma comida caseira, para renovar as energias, e estou
realmente me sentindo muito melhor.
Me arrumei rapidinho, para vir na Sport Universe. Passo pela
catraca, e jogo o meu cartão de acesso na bolsa.
Cumprimento algumas pessoas no caminho, surpresas por
me verem aqui, já que com o jogo na Crypto Arena, sabem que eu
deveria estar na cola dos Red. Ou é apenas pela matéria que foi
liberada.
Caminho me aproximando da área onde trabalho, e vejo
Vicky sentada com as pernas em cima da mesa, outros comendo
em suas mesas.
Merda, Jennifer não está.
Chego por trás da morena, tampando seus olhos.
— Só conheço duas pessoas delicadinhas assim, Cherry
chega amanhã... É a vagabunda da Kristal, que não avisou que viria
hoje para eu me preparar! — Tira minhas mãos e rio, quando ela se
vira para mim. — Péssima amiga! Por que não disse que chegava
hoje? Me conte tudo. Me alimente com novidades! Eu já tenho
uma... Um show, essa semana. Iremos! Será no dia do jogo e em
L.A.. Consegui os ingressos! Cinco horas de carro com a dona Vicky
aqui! Ou avião, não sei ainda. — Seus olhos brilham.
— Não vou nem perguntar como conseguiu, porque não
quero ser conivente com nenhum crime! — Deixo a bolsa de lado e
me sento na beirada da mesa. — Jennifer saiu, pelo jeito.
— Sim! Vem mais tarde! Esse lugar está um caos. Reuniões
misteriosas sem parar! E detalhe, pelo que ando ouvindo... — Se
aproxima, e cochicha: — Envolve alguma coisa com a Golden.
Respiro fundo.
— Envolve. E eu sei o que é... Está com tempo? Nem deveria
te colocar nisso, mas preciso de ajuda para pensar!
— Tenho uma pausa agora. — Ergo a sobrancelha. — Acabei
de definir. Acredite se quiser, entreguei tudo. E precisa me falar
sobre a matéria... Te conhecendo como conheço, aquilo ali está
repleto de indiretas. Coloque tudo para fora. Eu amo novidades.
— Fofocas, você quis dizer! — Saio da mesa e pego a minha
bolsa. Ela pega a dela e desliga a tela do computador.
— Não! Novidades. Fofocas jamais. Apenas novidades!
Começo a rir. Vicky nunca terá jeito. É maluca.

Estamos em um café próximo ao jornal, e se eu não começar


a colocar muita coisa para fora, irei surtar.
Bebo meu café com caramelo e respiro fundo. Ela se entope
de bolo Red Velvet e café gelado.
— Vai, solta a bomba! O tempo está correndo. Quem é o
corpo que preciso te ajudar a esconder? Tyron? Amiga, pelo amor
de Deus, não me diga que matou ele!
— Não... E começo a pensar que se tivesse feito, seria mais
fácil de resolver. — Franzo o cenho e balanço a cabeça. — O
problema é maior. A Sport se meteu em um problema que pode
resultar em uma multa bilionária.
— Ah, merda... Já me vejo desempregada. Continue... — Faz
uma careta.
— Você desempregada e eu sem emprego para sempre! —
Ela para o pedaço de bolo no ar e ele despenca em seu prato. — Eu
disse. O negócio é sério. Lembra do problema com o tal jornalista
que o Tyron teve? — Ela assente. — É um jornalista do tipo espião
da Sport, Aaron... Ele falou merdas, Tyron perdeu o controle, e o
idiota do jornalista ao invés de ficar na dele, porque isso poderia
prejudicar muita gente, está revoltado e quer justiça. Porém, umas
das principais regras do contrato com a Golden é que o jornal não
pode interferir em assuntos pessoais dos jogadores a níveis
extremos, ou seja, isso ultrapassou os limites, porque os Red
ficaram sem o capitão deles em um jogo, e agora o nome do Tyron
está em polêmicas novamente.
— Puta que pariu! E quem te falou que esse cara... Jennifer!
Por isso esses dias ela estava apavorada precisando falar com
você! — Assinto. — E agora? Isso pode respingar em você... Em
todos do jornal. Mexer com peixe grande em um contrato grave?
Sério que foram irresponsáveis assim?
— Nem me fale... E não para por aí... — Ela escorrega na
cadeira, esperando o restante da bomba. — Estão criando uma
matéria sobre o Tyron como jogador... Porém, com toda a certeza
vão falar do irmão dele, pois foram os dois últimos anos de
indecisões para o time, se o mantinham ou não, e se ele queria
continuar. E como imagino isso? Porque o jornalista foi direto nesse
assunto, jogou a bomba no colo do Tyron. Foi irresponsável.
Jennifer confiou nele, porque, segundo ela, não queria matéria do
tipo, então ela sabe que podem pegar pesado. Mas tem sócios, tem
outros grandões, porque o jornal nunca se manteria apenas com
ela. Foi uma votação.
— Olha... Dessa vez, a merda será imensa! E o que quer
fazer? Kris, isso não pode estourar, ou vão achar que você que está
colada eles, que sempre soube!
— Exatamente! Ainda mais que a mídia vive para me destruir
publicamente! Essa era a oportunidade de mudar esse cenário, mas
tudo virou contra. E não acaba por aí. Tenho ouvido papos nos
bastidores. Eles não querem saber, se tiver que tirar alguém, vão
tirar. E o nome do Tyron circula nisso, se ele ainda não saiu, é
porque rende lucros altíssimos a Golden, mas agora com mais
polêmica, jornalista esportivo, a Golden envolvida... O que eles
puderem fazer para se livrar das dores de cabeça, farão!
Bebo mais do café e ela se ajeita na cadeira.
— É... temos um problema!
— E não acabou...
— Kristal, dá para me deixar respirar um pouco? Que isso?
Semanas fora e vem só com bombas?!
— Melhor falar de uma vez, antes que eu exploda! Tyron e
eu... — Ela arregala os olhos. Engulo em seco.
— Fodeu! Deixa-me ver se eu entendi: O espiãozinho fez
merda, você pode rodar, o jornal pode falir com uma multa bilionária,
o jogador pode ser expulso, pois podem usar isso para se livrar
dele, e no final, além de você também ficar sem emprego e
provavelmente ninguém mais querer contratar você por ficarem
desconfiados, o gostosão pode achar que usou ele? — Assinto.
— Melhor resumo não existiria!
Ela torna a comer.
— Olha, só tenho uma solução, vamos fugir para outro país.
Mudar de nomes!
Apoio os braços na mesa, e tampo o rosto agoniada.
— Me fala que tem como resolver essa merda sem dar ruim?
— Queria... — Sua boca está cheia. — Mas tudo que penso
no momento não é nada de útil.
Olho para ela, que bebe o café.
— Converse com a Jennifer e conte a verdade de tudo que
sabe ao Tyron. Se isso explodir, o único que pode ajudar a livrar seu
rabo é ele, Kristal, desde que ele esteja a par da verdade. E é o
único jeito dele se proteger, se realmente tentarem tirar ele da
Golden. Quanto ao jornal, isso é responsabilidade deles. Você é tão
vítima quanto o jogador, não é justo isso explodir no colo de vocês,
por irresponsabilidade que nunca foram coniventes. Agora se você
se calar, minha amiga, sinto em lhe dizer, mas poderá se tornar
cúmplice de tudo. Ele merece saber que podem usar um assunto
pessoal dele nessa matéria. Um assunto muito sério! Mexer na
ferida dele e da família.
— Eu sei... Eu já sabia que seria isso que diriam, você ou a
Cherry. E eu sinto que também preciso ser sincera.
Suspiro desanimada e ela ri.
— Está gostando dele... Eu sabia que tinha alguma coisa
rolando... Ele te ensinando basquete, a forma que encostava em
você, os olhares...
— Quê? Não... Está louca! — Sinto meu rosto queimar.
— Está mais preocupada em proteger ele do que a si mesma,
Kristal! Posso ser leiga nisso de amor, mas está rolando algo.
Acenderam a famosa faísca que todo mundo fala. Ainda comentei
com a Cherry, que bastaria alguém riscar um fósforo e isso
explodiria em segundos! — ela gargalha.
Palhaça!
Reviro os olhos sem jeito, e balanço a cabeça.
— Não me engane. Sei que está gostando. Nunca julgaria, o
cara é gostoso!
— Vicky! — chamo sua atenção e ela ri.
— Desculpa! Agora que ele é seu, vou me controlar em como
chamá-lo. Preciso de um novo apelido. — Fica pensativa.
— Para com isso! E me diga que tudo isso vai terminar bem...
— Faço uma careta desanimada.
— Não posso... Mas posso afirmar, que seja qual for o final,
vou estar do seu lado. Sei que essa cabeça deve estar fervilhando e
você se culpando, como sempre faz por tudo... Pode parar! Ergue
essa cabeça. Converse com a Jennifer e fale a verdade ao Tyron.
Esconder sempre termina mal, Kris.
Concordo e ela segura minha mão e sorrio fraco.
— Vou fazer isso... Só preciso do momento certo.
— Seja rápida. Crie um momento se for necessário. Antes
que isso exploda! E agora estou entendendo a matéria que fez. E se
a Jennifer liberou, ela não é burra, e espera para que fale com ele!
— Pode ser...
Não terei saída. Não vou me calar, quando é minha carreira e
a vida de outras pessoas em risco.

Estou em um evento, o time foi convidado e claro que


consegui estar aqui, e dessa vez bem mais arrumada.
Trajo um vestido verde, longo, de alças finas, um decote
marcado, e uma enorme fenda na lateral, que mostra minha perna
direita. Ele é bem justo a minha cintura, e desce mais largo nas
pernas. Uso uma sandália prateada nos pés. Cabelos soltos e
ondulados e uma maquiagem leve. Acessório, apenas uma pulseira
e um ponto de luz no pescoço e orelhas.
Oliver está aqui, eles jogam um dia após os Red. É um pré-
evento, antes do evento oficial. Nesse, as categorias são
apresentadas. No próximo temos os nomes concorrentes e abrem a
votação ao público, e depois vem o último no final do ano, onde
entregam os prêmios. Esse normalmente fazem no meio da
temporada, onde convidam pessoas, falam das categorias do ano, é
interativo entre as pessoas, com coquetéis, música, e tudo do
basquete.
Já vim com o Oliver, é a terceira vez que estou aqui, mas
dessa vez a trabalho. Irei cobrir tudo. Vicky veio me acompanhar,
usando um vestido branco todo brilhoso, de mangas transparentes,
justo ao corpo, parando no meio de suas pernas, sensual e
elegante.
Jennifer me avisou que a equipe de imprensa estaria aqui
cobrindo e toda matéria será assinada em meu nome. No momento,
não sei se quero sair assinando mais nada.
— Você está a trabalho, eu não! — Vicky pega uma taça e
vira de uma vez. — Apoio moral!
— Jura?! — Olho-a de lado.
— Espera... Aaron... Esse é o nome do jornalista maluco? —
pergunta em meu ouvido e assinto sem entender por que voltou a
isso. Ela puxa outra taça de outro garçom que passa. — Beba. Vire
de uma vez. Vai precisar! — Me entrega a bebida.
— Hã? — Seguro a taça, tentando entender o que a maluca
quis dizer. Ela gesticula para eu virar de uma vez e faço, sentindo
bem na alma, e sabendo que champanhe não era. Faço uma nota
mental de não beber outra dessa se eu quiser me manter inteira até
o final.
— Não surta... Esses dias foi um rapaz no jornal, tinha uma
reunião com a Jennifer, e ele se chamava Aaron, lembro dela
chamá-lo assim... E bem, se for o mesmo maluco, ele está bem ali!
— Indica sutilmente com a cabeça.
Viro-me e olho o local onde um rapaz ruivo conversa com
outros, entre risos. Ele está com outros jornalistas convidados. Meu
coração acelera. Não vazou uma foto do cara no dia, mas seria
coincidência demais, não?
— Merda! — Olho para o outro lado, Tyron e Oliver entrando,
de smoking preto.
— Me produzi para a guerra! Quem diria! — ela diz e
concordo.
Eles caminham lado a lado, chamando a atenção da
imprensa... A atenção do ruivo. E o que seria do mundo sem suas
ironias? Tyron parece sentir, porque sua expressão fecha, seus
olhos vão diretamente para o seu lado esquerdo, e não precisamos
de mais nada para ter a certeza de que é esse o Aaron.
— Xeque-mate! — Vicky fala.
Merda!
Oliver e Tyron se aproximam e nos cumprimentam. O moreno
está completamente sério, como se pudesse matar alguém em
pensamento. O clima está pesado e apenas quem está a par de
tudo sentiria isso.
— Estão lindas! — meu irmão elogia e sorrimos, ou tentamos.
— Que foi? Por que ficaram esquisitos, todos vocês?
Erro meu, outros sentem o clima!
— Nada! Cansaço! Então, acham que serão nomeados na
premiação desse ano?
Santa Vicky! Ela tenta desviar o foco.
Olho para o Tyron, parado ao meu lado, e ele mal consegue
prestar atenção ao que falamos. Está tenso.
— Provavelmente. Já viu como sou foda? — meu irmão
brinca e sorrio forçado. — Certo, o que está havendo? Tyron estava
ótimo até entrar aqui. E vocês duas sorrindo parecendo o Coringa.
Que porra aconteceu?
Eu já disse o quanto odeio o Oliver ser observador para o que
não deveria?
— Estamos ótimas, não é, Kris? — Vicky questiona e assinto.
Passa mais uma bebida por nós, e foda-se, pego mais uma
taça, virando de uma vez. O olhar deles se volta para mim.
— Que foi? Estava com sede. Vicky, me acompanha até o
banheiro? E vocês fiquem aqui!
— Mandona, não?! — Oliver diz enquanto puxo a Vicky.
Tyron me encara desconfiado. É sério mesmo que eu
realmente não sei esconder nada?
Caminho com a Vicky, dando graças a Deus por ter deixado
as bolsas no carro, para não ter que correr com elas além do salto,
se necessário! Nesse momento, tudo que facilitar será ótimo.
— Ai... Ai... Meu braço! O que quer fazer? — questiona.
— Preciso que tire esse Aaron de foco!
— Eu? E o que farei? — Passamos pelas pessoas.
— O que sabe fazer de melhor com qualquer cara!
— Quer que eu seduza o inimigo para distraí-lo? — Dou de
ombros. — Vamos seduzir o diabo. Depois me acusam de ser o
diabo! E o que vai fazer?
— Tentar manter Tyron longe dele, e Oliver sem descobrir
nada! Deus, cadê a Cherry nessas horas? Cada uma lidava com
um!
— Ela provavelmente desmaiaria no meio da operação!
— Fato! Vamos ao banheiro, e na volta, disfarça e tira ele do
foco do Tyron. E o Sparks não pode ver os dois juntos... Até ele
saber da verdade por mim!
— Amiga... Então... Não querendo ser a pessoa que estraga
seus planos... Essa é a hora que grito alerta vermelho! — Me vira,
me puxando para o canto.
Aaron não está mais onde estava. Ele está parado próximo
aos meninos, Tanner está lá também, e ele sabe quem é o
jornalista, porque estava com o Tyron em Boston.
— Qual é o problema do universo? Porra! — xingo irritada.
— Plano B?
— Não tinha, porque o A acabou de existir e ser extinto! —
Meu coração está tão acelerado, que sinto que pode explodir.
— Já sei! Se está rolando algo entre vocês dois, ele se
preocuparia o suficiente para vir socorrer a donzela passando mal.
— Nem será uma mentira. Estou tendo um infarto!
— Fique aqui! Vou trazê-lo.
— Tanner... O jogador Tanner, ele sabe do problema. Ele vai
te ajudar para tirar o Tyron dali, e o Oliver não se meter, porque,
para defender o amigo, meu irmão mataria, confie em mim!
— Não duvido de mais nada. Esse Aaron veio para arrumar
briga, ou não estaria colado ao Tyron! Fique aqui e me deseje sorte.
As aulas de teatro no ensino médio precisam funcionar!
— Vai! — Empurro-a e ela se afasta.
Sigo seus passos com o olhar, até ela se aproximar do grupo.
Aaron está bebendo, e não tira os olhos de Tyron, que está de
costas para ele, mais sério que antes. Tanner olha algumas vezes
para o lado. Richard, reserva dos Tigers, se aproxima.
Que isso? Evento dos babacas?
Vicky fica entre o Tyron e Tanner, que parece ouvir o que ela
fala também, já que o meu irmão está falando com o Richard.
Tanner e Tyron olham na minha direção, e desvio o olhar, cara de
desespero nem preciso forçar, sinto que está estampada.
Tanner olha para ela e para mim, parece desconfiado, é
esperto, sabia que entenderia que algo está havendo. Mesmo que
não sejamos tão próximos, é bom que ele confie. Tyron passa por
eles, e Vicky fica. Aaron segue o camisa 14 com os olhos. Qual o
problema dele? Já não fodeu tudo? Para que perseguir o Tyron?
Meu vestido no pequeno volume abaixo da cintura, tem uma
espécie de bolso escondido, retiro o celular e envio uma mensagem
às pressas a Jennifer, falando que ela precisa tirar Aaron desse
evento. Guardo o celular quando Tyron se aproxima.
— O que está havendo? — pergunta e engulo em seco.
— Preciso de ar. Pedi para a Vicky te chamar, para não agitar
o Oliver. Ela é péssima em socorrer pessoas.
Que merda. E eu péssima em inventar histórias.
— Vem!
Começamos a nos afastar dali. Ele apoia a mão nas minhas
costas conforme passamos pelas pessoas, e alguns nos
cumprimentam.
Saímos por um lugar que eu nem sabia que tinha uma saída.
É uma rua atrás do evento, uma espécie de beco. Nas pontas ficam
a avenida principal e uma das travessas da avenida.
Encosto na parede e solto o ar com força.
— Não está passando mal... O que está havendo? Te
conheço — fala de uma vez, me fazendo erguer o olhar.
Apoio as mãos nas pernas e respiro fundo. Seja o que Deus
quiser!
— Aaron... O jornalista é da Sport. — Ajeito a postura e Tyron
me encara sério, e isso me assusta, porque não sei o que pode
acontecer. — Eu não sabia! Descobri na hora do jogo... Por isso
sumi. Ele é um jornalista espião. Minha chefe me avisou, porque
não esperava que ele fosse longe demais com tudo isso!
Tyron leva as mãos ao bolso da calça. Isso não é bom.
— Você sabia quem era o jornalista, e ainda assim não me
falou nada? Vocês estão trabalhando juntos, Kristal?! — pergunta
elevando a voz e nego.
— Claro que não! Me ouviu dizer que eu não sabia? Descobri
na hora do jogo. Eu nunca trabalharia dentro dessas circunstâncias,
Tyron! — Minha ansiedade está crescendo.
— O papo de que tinha algo que não podia falar... Era isso?
— Concordo, minhas mãos estão trêmulas. Ele balança a cabeça
em negativa. — Por que inferno esse idiota está na minha cola e
fazendo essa bagunça? O que essa merda de jornal quer com a
minha vida?! — ele é duro nas palavras e meus olhos marejam pelo
nervosismo. — Fale, Kristal!
— Farão uma matéria sobre sua vida como jogador, mas para
ele ter feito o que fez... Provavelmente terá coisas pessoais
também. Eu não sei, tudo. Não posso afirmar muitas coisas. Eu juro
que não sabia de nada disso quando aceitei estar na Golden! —
tento controlar o nervosismo na voz.
— E transou comigo ao invés de ser sincera primeiro? A troco
de quê, Kristal? Amenizar tudo isso?
Ele não pode ter dito isso.
— Nunca! Não me acuse disso... Logo você, Tyron! Sabe que
eu nunca faria algo do tipo. Eu não contei porque estava com medo.
Tem multas absurdas, empregos em jogo. E você... Você está em
jogo! Querem tirar quem traz dor de cabeça, eu tenho ouvido as
conversas! Se você não cooperar, vai cair fora! Eu estava buscando
um jeito de resolver isso, ok? Nunca transaria com você para
acalmar a merda que fosse, seu idiota! — grito nervosa. — Por isso
te tiramos de lá. Porque o idiota está querendo alguma coisa. Pedi a
minha chefe para tirar ele daqui.
Ele esfrega o rosto e se afasta um pouco, abrindo a gravata
borboleta e deixando ao redor do pescoço. Abre o smoking e os
primeiros botões da camisa branca.
— Ele sabe que você já o identificou?
— Não... descobri quem era ele agora. Tyron, vamos dar um
jeito nisso... Nem que para isso eu conte a verdade a Golden, de
qualquer jeito se isso vazar, esse contrato já era, a Sport vai rodar...
Eu confio na Jennifer, ela errou, mas tem pessoas maiores acima
dela, sei que nunca teria me colocado nisso se soubesse que daria
merda, assim como eu nunca teria entrado se soubesse que a Sport
pretendia intervir tanto na vida de um dos jogadores, ao ponto de
jogar sujo, mesmo sabendo das regras...
Ele se vira para mim, com a expressão ainda fechada.
— Não abra sua boca na Golden! Quero falar com sua chefe,
precisa nos colocar em contato. Eu vou ligar ao meu empresário e
aos meus pais que acabaram se metendo nessa merda, vou contar
o que realmente aconteceu naquele dia. Eu não queria falar porque
sei que é tudo que a Golden precisa para saber que estou sem
controle ainda, mas se esse merda quer guerra, darei a ele. E eu
não quero essa matéria na Sport! Se desejam falar sobre mim, será
com o que eu autorizar, já que isso foi longe demais.
Concordo lentamente.
— Tudo bem... Como quiser...
Pego o celular e olho a mensagem da Jennifer, dizendo que
pediu para ele sair do evento, e que precisamos conversar depois.
— Ele vai sair do evento, pode aproveitar em paz o dia. Sinto
muito, eu realmente nunca tive nada com isso, e jamais usaria de
sexo para te acalmar sobre qualquer coisa séria assim. — Engulo
em seco e desencosto da parede. — Você vive tão na defensiva,
que acha que todo mundo quer te foder. Eu não preciso disso!
Me afasto entrando no evento, controlando as lágrimas de
raiva.

Cubro o evento, passando as coordenadas à imprensa do


jornal. Aaron desapareceu, Jennifer conseguiu com que ele saísse.
Vicky não perguntou o que aconteceu, sabe que não quero falar.
Pedi para ela aproveitar, e que depois conversamos, será melhor.
— Senhorita Reed! Está muito bela essa noite! — Zachary, o
presidente da Golden, diz, parando ao meu lado onde confiro as
perguntas que farão nas entrevistas com os Red.
Olho para o homem.
— Obrigada!
— Li sua última matéria... Parecia que queria dizer mais. Não
sei se gostei. — Ele me olha desconfiado.

“Talvez seja necessário abrir mais os olhos não apenas para


o jogo, mas por tudo que acontece ao redor.
Quando os jogadores estão na quadra, não é apenas ela que
pega fogo. Os bastidores têm sido uma grande inspiração a mim,
preciso confessar.
O que tem por trás da pose de atletas? Das gravatas e
ternos? Qual o peso de carregar títulos?
Os jogos têm mostrado que os Red estão prontos para
enfrentar qualquer jogo, mas eles estariam prontos para enfrentar
realmente tudo? Muito se fala sobre os jogos, mas pouco se fala
sobre o que realmente deve ser dito.
Ver de perto tudo isso, só tem me mostrado que neste tempo
todo, as coisas são bem mais do que parecem. Enquanto a bola é
repassada, muitas coisas podem acontecer ao redor de todos nós.
E se os jogadores tiverem mais a contar? E se todos
precisarem de mais voz como pessoas e não apenas como “heróis”
usando vermelho?
Já pararam para pensar que, às vezes, os silenciamos
apenas para ouvir o que queremos e não o que eles se sentem
confortáveis em dizer? É isso que eu tenho notado na Golden.
Muitos aqui desejam falar, mas muitos outros tentam os calar. Eu
sei, vocês queriam ouvir muito mais sobre passes de bola, jogadas
marcantes, pontuações, mas estar aqui dentro e não os olhar como
humanos, focar apenas neles como se fossem robôs, isso não é
certo.
Se a Golden fala de sonhos, por que queremos apenas falar
sobre pontos? Sim, existe um campeonato, e é para isso que eles
estão aqui, mas a que preço? Vale realmente tudo por um sonho?
Vale apenas ser reconhecido somente como o jogador do melhor
salto? Da melhor pontuação? Eu prefiro muito mais saber deles
como pessoas comuns, saber o porquê começaram tudo isso,
entender quais são seus objetivos em se manter nisso, do que falar
apenas daquilo que envolve dinheiro, porque nem sempre o valor
mais caro remete ao “produto” mais importante.
Eles saem e comemoram, seja ganhando ou perdendo,
porque, no final eles também querem se divertir, sentir que,
independentemente da vitória, eles são uma família de pessoas
distintas, repleta de manias, vivendo um sonho que muitas vezes
começou ainda quando eram crianças.
Eles são jovens, vão errar, acertar, causar dúvidas, mas
também vão se sentir confusos, culpados. Não tem como exigir
demais de humanos, porque todos nós estamos condenados a
falhar, já que ninguém é perfeito, e é o tempo que nos traz
aprendizados. Por trás do uniforme é isso que eu vejo, jogadores
que deixam suas famílias, amigos para trás, durante meses, para
dar o melhor deles aos seus fãs, e na maioria das vezes sustentar
aqueles que eles deixam em casa.
Falemos de sonhos então, de pessoas reais. Se querem
conhecer os jogadores, basta assistir aos jogos, olhar suas redes
sociais, pesquisar na internet matérias sobre eles. Quando recebi a
oportunidade de estar nos bastidores, não imaginei que
semanalmente teria que entregar uma matéria a vocês, e confesso
que até este momento, realmente acho difícil sentar e escrever,
porque há tanto a ser dito, mas por muitas vezes, se faz necessário
permanecer calada. Entretanto, nos últimos dias, eu tenho
entendido que não importa o que façamos; sempre terão milhões de
dedos prontos para nos derrubar, e é o mesmo que acontece com
esses caras. Sejamos sinceros: todos nós vivemos tão dependentes
de uma grande fofoca que renda a semana toda, ou por vezes
apenas para nos tirar do foco dos nossos próprios problemas, que
nos esquecemos de que, na maioria das vezes, as pessoas que
darão esse palco, esse entretenimento a nós, são pessoas de
verdade, às vezes, silenciadas, sem chances de defesa.
E é por isso que eu não darei a vocês sobre quem são os
jogadores ou sobre as fofocas, mesmo que muitas das vezes elas
caiam em meu colo sem a necessidade de eu me mover. Se
esperam por isso, sinto muito por decepcioná-los, mas aqui falarei
somente do que eles precisam que as pessoas comecem a
enxergar, que são seres humanos, que querem viver, serem
respeitados, e não viver com uma corda no pescoço, ou com cordas
em seus braços como se fossem marionetes.
Já existe muito silêncio da parte deles, porque seguem
exatamente o que ditam a eles. Eles não falam. Não se mostram de
verdade. E é por isso que darei voz a eles como pessoas e não
como um ídolo ‘perfeito’ que querem.”

Lembro-me perfeitamente de tudo que foi dito, e eu sabia que


se fosse aprovado, deixaria nas entrelinhas muitos mistérios.
Porque se eu me sinto limitada, eles, os jogadores, com toda
certeza, se sentem muito mais.
— Sempre queremos dizer mais, senhor Rice. Não acha? —
revido e ele me olha.
— O que quer dizer? — me analisa sem parar.
— Que, às vezes, o silêncio pode se tornar mais perigoso do
que palavras ditas. Por isso observá-lo pode ser uma boa arma as
vezes, podem existir respostas nas entrelinhas. — Sorrio.
Chamam por ele, que se afasta assentindo. Se ele desconfia
que ouvi a conversa dele com o vice, não me importa. Estou com a
cabeça cheia hoje.
— Precisamos conversar! — A voz às minhas costas me faz
sobressaltar. Um arrepio me atinge em cheio.
— Estou trabalhando, Tyron. Vá ficar com seus amigos,
procurar pelo Oliver... Não estou livre no momento. Se mostre bem a
imprensa, é o melhor que faz no momento. — Me afasto um pouco.
Entrego a caderneta da repórter, e ela me agradece.
— Retirei as perguntas sobre o ocorrido em Boston! Não
precisa se preocupar com isso — falo séria, e me afasto.
Sinto-o atrás de mim, quando sigo pelo mesmo caminho que
me levou mais cedo. Empurro a porta, e sei que não volta na cara
dele, porque ele segura.
— O que quer? Agora quer ficar me seguindo? Eu já falei o
que sabia, Tyron! — Viro-me encarando-o. — Se for para mais
discussões, passo a vez.
Ele sai, deixando a porta bater atrás de si. A gravata agora no
lugar, a expressão mais leve. Ele me puxa pela cintura, colando
nossos corpos.
O friozinho na barriga torna a surgir.
— Desculpe... — As palavras vêm com calma. — Eu fui um
merda. Receber essa notícia, sabendo que ele estava aqui, isso me
deixou puto e descontei em você, de um jeito idiota, que não
merecia. Eu sei que jamais faria aquilo ou usaria sexo para mudar a
situação... Me perdoa por ter sido um fodido, por favor?
Ergo o olhar, seus olhos estão presos em mim.
— Foi escroto demais o que disse, Tyron! A insinuação foi
uma merda.
— Eu sei... Eu realmente sei! Me perdoa, por favor, Kristal.
Eu falhei e assumo isso. Me dê uma nova chance de reparar essa
merda, é tudo que te peço — me pede com calma, com sinceridade
em seus olhos.
Assinto lentamente.
— Todo mundo estava de cabeça cheia. Mesmo que não
justifique, que fique claro!
Ele assente e se inclina na minha direção.
— Obrigado por ter sido sincera. Isso foi importante. —
Acaricia meu rosto com a mão livre.
Meu coração está bem acelerado. Sinto como se ele pudesse
ouvir as batidas, porque parece que as ouço.
Seus lábios se aproximam dos meus, e quando seu corpo se
inclina mais, levando o meu levemente para trás, com seu braço me
mantendo firme a ele, a outra mão em minha nuca, ele me beija.
Seguro seu rosto com minhas mãos, retribuindo ao beijo, que
apenas me deixa mais rendida, e preocupada, porque tenho medo
do que tudo isso pode se tornar... Se já não está se tornando.
Contorno seu pescoço, agarrando-o para mim.
Seus lábios se afastam lentamente e seus olhos se
encontram com os meus.
Algo mudou bruscamente. Isso está me apavorando.
Ele me abraça apertado antes de nos afastarmos.
— Precisamos retornar — avisa e concordo. Sorri de lado e
meu rosto esquenta quando retribuo.
Abre a porta, me dando passagem. Estende a mão e seguro,
quando me puxa para si novamente, me beijando rápido.
— Está linda, Reed! Eu já deveria ter dito antes. — Sua voz é
calma, bonita.
— Obrigada. — Sorrio.
Passo por ele, dando uma leve olhada para trás, antes de
voltar ao trabalho, sabendo que de alguma forma assinar o contrato
para trabalhar com a Golden, resultou em grandes problemas
envolvendo o coração também.
Aceitar vir na casa dos Reed após o evento, não fazia parte
dos meus planos. Mas quando se tem Oliver, raramente
conseguiremos desistir de algo. Ele chamou a mim, Tanner e o
Jamal, capitão e armador dos Tigers. Não vi a hora que Kristal e sua
amiga foram embora. Depois de tudo, o evento ficou mais agitado,
precisei ceder para algumas entrevistas e mal tive tempo de
respirar. Saí junto do Oliver, Tanner e Jamal, praticamente quase os
últimos a saírem. Então ele nos chamou para terminar a noite em
sua casa, jogar conversa fora, descansar. Nós três passamos no
hotel para trocar de roupa e tomar um banho rápido, enquanto ele
foi para casa dele ajeitar tudo.
Confesso que poder estar no mesmo ambiente que a Kristal,
tem me animado um pouco mais, e, puta que pariu, eu realmente
devo estar querendo que o Oliver estoure minha cara, afinal, até
mesmo eu estou querendo estourar. Essa garota está me fazendo
duvidar até mesmo das coisas que eu acreditava como: não me
apegar a ninguém esse ano. Respirar longe de relacionamentos e
tentar focar apenas no basquete.
Ouvir tudo o que ela disse sobre meu irmão, ver sua
sinceridade sobre a verdade por trás do jornalista; o modo como
tentou me animar em Orlando, como cuidou para que eu saísse do
vestiário e assistisse ao jogo de perto; não deixar que o jornal a qual
trabalha fizesse perguntas sobre o ocorrido em Boston; o carinho
meio bruto quando notou que eu estava com crise de ansiedade no
primeiro jogo da temporada... Ela sempre está por mim de alguma
forma, sempre a um segundo de distância, como um dia eu estive
por ela.
Philip tinha razão sobre tantas coisas e é uma pena eu só
notar agora.

— Sabe, vocês vivem dizendo que sou criança... Mas a maior


criança aqui é você, irmão! Kristal cresceu com você, ela cuidou de
mim, a família dela é muito especial à nossa. O Olie é um cara muito
maneiro, e sempre confiou a irmã a você, sempre me contou que ele
deixava você cuidar dela... E ainda assim foi passar uns dias na
Califórnia, falou com ele, saiu com ele, mas não teve coragem de ir
ver os Reed? Ver ela? Dar um “oi”? Babacão! — Joga seu
videogame, enquanto me ataca com suas palavras sem precisar me
olhar.
— Kristal e eu nunca fomos amigos. Se você gosta tanto e
quer saber dela, por que não vai você? Passa as férias lá!
— Porque eu continuo estando por ela mesmo a distância! —
Franzo o cenho com suas palavras. Desde quando? Ele vive no
celular e, pelo jeito que fala, parece um amigo, e não a
princesinha... Foda-se. — Dois cabeças-duras. Nossos pais vivem
dizendo que acreditavam que até se casariam no futuro de tanto que
se implicavam, mas com certeza se gostavam. Por que sempre
caga pra ela, cara?
— E por que quer tanto que eu seja próximo a ela
novamente? Kristal foi embora, nossas vidas mudaram! Pare de
tentar bancar o cupido!
Ele ri e pausa o jogo, me olhando.
— Eu cupido? Olha, vendo que você nem se importa com ela,
eu seria um monstro desejar você a ela!
— Não é bem assim, Philip!
— Então se importa? — indaga e olho feio para ele. — Ok,
parei! Eu só queria que as pessoas que são especiais para mim
voltassem a se unir. E se quer saber, vocês dois são iguais:
teimosos. Orgulhosos. Fogem, porque sabem que a vida sempre
quis os dois juntos, essa distância foi a desculpa perfeita para
fingirem que não existem!
— E que porra entende sobre amor? Philip, você é uma
criança!
— Adolescente! Não ofende! E entendo bem mais que vocês.
Já notou que toda garota que arruma tem os traços dela? Coisa de
serial killer, hein!
Levanto-me da poltrona em seu quarto.
— Chega! Você precisa de vida social, deu alguma merda
viver nesse quarto! Eu vou me arrumar, tem cinco minutos para ficar
pronto se quiser ir comigo assistir ao jogo de baseball.
— Kristal é legal. Carinhosa, protetora com quem ama. Quer
saber? Eu desisto de entender esse silêncio dos dois. Seria medo,
é?
Ele gargalha enquanto saio do seu quarto.

Balanço a cabeça parado em frente à casa dos Reed. Eu


nunca pensei na Kristal do modo que Philip ou minha família achava
que eu pensava e nunca deixei de falar com ela por anos, com
medo de dar merda. Nunca arrumei garotas parecidas com ela... Ok,
as garotas eram parecidas, mas todas são!
Caralho, claro que garotas não são parecidas. Mas foi
coincidência!
Eu não tinha medo de estar com ela, e acabar vendo que
todo mundo ao nosso redor tinha razão sobre combinarmos e ter
química.
Não! Kristal saiu de Nova York na adolescência, eu estava
saindo da adolescência para a fase adulta. Nunca! Sem chances.
— Argh! — Esfrego o rosto e sigo para a porta.
Tudo que envolve essa menina sempre me deixou maluco!
Porra.
Abro a porta sabendo que Oliver a deixou aberta. Tanner virá
daqui a pouco, teve um imprevisto no caminho. A sala está vazia,
escuto vozes ao lado de fora, nos fundos. Na cozinha ouço vozes
que reconheço e sigo para lá primeiro.
Karen e Steve conversam na cozinha, diante da ilha, junto da
filha, que está de costas para mim, debruçada sobre a pedra fria.
Kristal usa um short bem curto, preto e colado ao seu corpo, cintura
alta. Está com um top branco, de alças finas. Os cabelos estão
presos em um coque alto, ajeitado, com fios soltos.
A família ri sobre algo, até que os pais notam minha
presença.
— Ai, meu Deus! Venha, querido! — Karen estende a mão e,
quando seguro, ela me puxa para um abraço. — Que maravilha que
veio! Estávamos falando sobre você agora.
— Espero que coisas boas! — brinco e beijo seu rosto, me
afastando e sentindo os olhares da filha sobre mim.
— Sempre, moleque! Sempre! — Stevan me abraça agora, e
aperta meus ombros.
Oliver puxou sua altura. O senhor Steven é alto como nós,
um senhor bem bonitão ainda, os anos parecem que o renovam.
Kristal me olha e desvia o olhar, sem jeito.
— Estávamos falando que tudo está como nos velhos
tempos, os três juntos. Vivendo os sonhos juntos, e vejam só, Kristal
acabou que foi colocada no mesmo ramo, esportivo, e ela era
péssima com esportes!
Sorrimos.
— Mãe! Ele chega e eu viro o saco de pancadas? — Kristal
reclama e seus pais riem.
— Jamais, boneca! Mas é verdade. Lembra? Quando mais
jovens, antes deles ficarem famosos, você sempre os acompanhou
em muitas coisas. Passou os anos, andaram... Andaram... Caíram
tudo junto! — Steven explica e tenho que concordar.
— Nem me fale... Castigo! — ela diz baixinho e prendo o riso.
Está sem maquiagem, parece cansada.
— A vida e suas loucuras! — comento.
— Nem me fale, querido! E seus pais? Vão vir para esse
jogo? Temos negócios a tratar — Karen questiona.
— Sempre tem! — Sorrio. — Parece que sim.
— Ótimo! E espero que tudo se ajeite logo para você. Essa
loucura toda com esse jornalista... Sem cabimento essa história.
Acreditamos em você, Tyron! Sabemos que é um bom menino! Vai
dar tudo certo! — O Sr. Reed aperta meus ombros e apenas assinto,
olhando rapidamente para ele.
— Bom, curtam a noite de vocês, porque nós dois estamos
cansados. Temos idade e vamos nos deitar! — Karen enlaça o
braço do marido.
— Ela me chamou de velho? Foi isso? — ele nos questiona e
assentimos. — Que desacato dentro do meu lar! Boa noite,
crianças! Juízo!
— Sempre tenho, papai! — Kristal sorri. — O que faltou em
Oliver, veio em dobro para mim!
Seus pais riem e saem da cozinha.
— Seu amigo está te esperando lá fora. Ele disse que o
Tanner viria com você...
— Teve um imprevisto, daqui a pouco aparece, dei o
endereço a ele. — Encosto-me ao seu lado, com as costas na ilha e
as mãos no bolso da calça. Olho-a de lado. — Parece cansada e
preocupada.
— E estou — suspira. — Amanhã cedo minha chefe quer
falar comigo, e estou pensando no que irei fazer também. Não quero
ficar no meio dessa bagunça que eles criaram. E também vou cobrir
a coletiva de vocês... Só preciso descansar.
— Não parece que é apenas isso. O que houve? É ainda pela
merda que falei hoje? — Me preocupo. Nega lentamente. —
Kristal...
— Não. Só cansaço. Vou descansar, aproveitar que a Vicky
teve compromisso com os pais, e que Oliver não vai tornar essa
casa em uma zorra. — Força um sorriso. — Boa noite, Sparks!
Assinto, sabendo que ela está mentindo. Kristal se afasta,
sumindo da minha visão.
Que inferno aconteceu?

Estamos ao lado de fora, sentados na grama, jogando


conversa fiada, bebendo, comendo uns snacks, e esse é o Oliver
que conheço. Onde não incorpora a pose de astro do basquete, que
se perde no seu personagem idiota, e deixa a fama gritar dentro de
si. O Oliver de verdade é o que faz piadas sem sentido, tem seus
dramas, ri à toa, estressa todo mundo, joga uma bomba e depois
corre quando arma o caos. É esse o meu amigo, irmão da vida.
— Só nós dois, queria ver se me derrotava em uma quadra,
Tyron! — Jamal provoca e os outros dois riem.
— Está querendo demais ficar sozinho comigo, não acha? —
Ergo a sobrancelha e bebo minha cerveja.
— O amor é lindo! Fico até emotivo! — Oliver finge enxugar
os olhos e Jamal o acerta com uma bolinha de papel.
— Certo... Ambos são bons. Mas sozinhos? Não são nada.
Quem carrega os times, somos nós! Podem ser os capitães, mas é
só isso! — Tanner revida.
Oliver e ele batem as mãos e soltam um grito de vaia.
Começo a rir.
— Ok... Por que eles ainda jogam? — Jamal questiona a
mim.
— Não tenho ideia. Tiveram pena deles? — provoco dessa
vez e eles me xingam, enquanto o outro capitão gargalha.
— Dois fodidos! — Tanner se levanta pegando sua garrafa
vazia e atirando outra para o Oliver.
Jamal se levanta dizendo que precisa ir ao banheiro, e
Tanner vai atender uma ligação, provavelmente, das mulheradas
que ele sai, me questiono como decora os nomes.
Oliver chuta meu pé e rimos.
— Tudo na paz? — Faz o sinal de dois com os dedos.
— É só não me irritar! — Sorrio. — Cadê os outros?
Ele suspira.
— Sei lá... Hoje eu queria ficar só de boa. Os últimos jogos
têm sido intensos. Queria ficar esses dias com minha família,
amigos de verdade.
— Amigos de verdade... Está cansado de fazer o papel que
não nasceu para fazer, Oliver. Não é esse cara que tenta mostrar, só
está confuso e se perdendo.
— É difícil se encontrar, Ty. Mas não quero falar disso. Isso
sempre termina em brigas entre nós. Quero que me fale a verdade
sobre toda essa confusão envolvendo você e a Kristal...
— Ela te contou?
— Um pouco. Não vou arrancar sua cabeça. Mas imagino
que também tem rolado algo entre ambos. Eu só não quero que se
machuquem, ou aí sim vou matar... os dois! — Sorrimos. — Mas
esse rolo com o jornalista, Philip, emprego dela, seu futuro no
basquete... Como você está? Ela está péssima.
Respiro fundo e viro o restante da bebida.
— Vou dar um jeito. Eu prometi a mim mesmo que esse ano
eu tentaria tudo, e eu quero. Tenho consulta com minha psicóloga
essa semana, acho que será bom para ajeitar as ideias.
Ele concorda.
— Estou aqui, sabe disso, né? Sei que não estamos
concordando com muita coisa ultimamente, mas faço qualquer coisa
por você. Qualquer coisa para cuidar de você! — Aperta meu
ombro.
— Comece a cuidar de si mesmo. Já será algo importante
para mim!
Ele respira fundo e assente.
Os outros dois voltam e mudamos de assunto, conversando
sobre outras coisas, enquanto as horas vão passando.

É bem tarde quando Jamal vai embora e ajeitamos as coisas.


— Valeu pelo convite, cara! — Tanner agradece ao Oliver.
— Rivalidade aqui é apenas na quadra! — Bate nas costas
do ala.
— Vamos? — Tanner me chama.
— Pode ir. Irei depois! — falo e ambos me olham. — Que foi?
— Jogo as latas no lixo.
Eles erguem os braços em rendição. Idiotas.
— Até amanhã na coletiva! — se despede e sai da casa.
Oliver guarda o que sobrou.
— Tira esse sorriso idiota da cara, imbecil! — falo baixo e ele
controla o riso.
— Eu vivi para esse momento! Sua sorte que não sou
surtado... Se bem que, se for passar a madrugada, é melhor dormir
com um olho aberto e outro fechado!
— Vai se foder! Não é nada do que está pensando...
— Qual é, Tyron? — Ele abre os braços, rindo. — Comigo, e
de conchinha, é que não vai dormir! E ficar para me fazer
companhia muito menos. Eu só estou realmente com medo do
mundo acabar, porque por isso nem eu esperava!
— Por que te mantenho como amigo? Porra! — Saio da
cozinha, deixando-o para trás e ele continua rindo.
— Sem barulhos, crianças! Meu quarto é ao lado!
Eu vou matar esse filho da puta! Passo no banheiro e lavo as
mãos.
Subo as escadas e como nunca vim nessa parte antes, não
tenho ideia de onde fica o quarto dela, mas o que o Oliver disse
ajuda, já que seu quarto tem a porta aberta, e só tem mais uma
porta ao lado do seu, já que à frente das duas tem um banheiro, e
do outro lado provavelmente fica o quarto de hóspedes e dos pais
deles.
Não sei nem por que estou fazendo isso... Quem eu desejo
enganar? Estou preocupado com o jeito que ela estava.
Em outras épocas, eu amaria enfiar ela de ponta-cabeça na
cesta, e agora estou querendo cuidar... Sou um maluco!
Bato de leve na porta, e escuto um “entra”, baixo, mas nítido
pelo silêncio na casa.
Abro a porta e sou engolido pela pouca luz, apenas as
luzinhas ao redor da cabeceira da sua cama iluminam o ambiente.
Ela está debaixo das cobertas, deitada. Aparentemente dormia ou
tentava.
— Oliver, eu juro que se for você me acordando, eu te mato
antes que consiga falar “desculpa”.
Sorrio e fecho a porta atrás de mim com cuidado. Passo a
chave, por via das dúvidas. Nunca se sabe quando um irmão pode
se tornar vingativo.
Caminho com cuidado pelo quarto e me sento aos pés da
cama, com os braços apoiados nas pernas, e a olho.
Ela se vira com calma e seus olhos se abrem na minha
direção.
— Mas... Tyron? O que faz aqui? Oliver aprontou, né? — Se
senta na cama.
Sorrio e nego.
— Não. Eu não queria te acordar, só queria saber como está.
Fiquei preocupado com o jeito que estava.
Ela esfrega o rosto e torna a se deitar, e bate ao seu lado da
cama.
— Tem certeza? — pergunto e ela assente.
Tiro tênis, meia e as coisas do bolso, colocando tudo perto da
poltrona grande. Ela fica me olhando, enquanto retiro o restante da
roupa, ficando apenas de cueca.
Me deito ao seu lado, ajeitando-me embaixo das cobertas
com ela, que não perde tempo em me usar de travesseiro. Passo
um braço ao seu redor, enquanto levo o outro para baixo da minha
cabeça.
— Isso está uma bagunça... — sussurra.
Acaricio suas costas nuas e respiro fundo.
— Sim.
— Mas acho que estou gostando dessa bagunça maluca,
Tyron.
Ergue o rosto e a encaro.
— Eu também, garota... Eu também! — falo a verdade, não
escondo, seria idiotice ficar buscando mais desculpas.
Acaricia meu peito e beija meu pescoço. Tiro o braço de trás
da cabeça, e seguro seu queixo, então a beijo, e ela retribui me
deixando mais caído ainda nessa feitiçaria infernal que me colocou
quando essa maldita boca tocou a minha. E pensar que tudo entre
nós está começando basicamente de trás para a frente. Fugindo da
ordem que ditam como exata dos acontecimentos. E parece mais
louco ainda, eu achar que é o jeito certo.
Seu perfume me deixa bêbado, e seu corpo me deixa louco,
tudo na mesma medida que sua boca consegue me tirar do sério,
mas me relaxar. Essa garota é tão diabólica em tudo, que é capaz
de me enlouquecer só por existir.
— Gosto de Tyron com álcool, o sabor fica mais quente! —
provoca e sorrio, acertando sua bunda.
— Descansa, maluca! — Aperto sua bunda, e ela sorri. —
Obrigado por estar sendo boa para mim, mesmo me
enlouquecendo, Reed!
Ela torna a me beijar, e preciso assumir: estou viciado nessa
garota!
Tyron escova os dentes com a escova que arrumei para ele,
enquanto crio coragem para sair novamente da cama. Escovei os
dentes e me deitei, mas preciso reagir, porque tenho que me
encontrar com a Jennifer e dar um jeito nessa bagunça inteira... E
na nova que criei!
Por incrível que possa parecer, ter o Tyron comigo essa noite
foi bom. Dormir em seus braços, me fez relaxar de verdade à noite.
O que antes era “Deus me livre”, agora tem se tornado “eu desejo”.
Que bagunça, Kristal. Que bagunça!
O pior é que tenho gostado muito mesmo dessa bagunça que
criamos.
Levanto-me, para separar a roupa, e resolver tudo isso logo.
Ainda é muito cedo, meus pais ainda dormem e Oliver
provavelmente também. Tyron tem reunião com o time antes da
coletiva e também tem que ir cedinho.
Entro no closet e separo rapidamente o que irei usar. Preciso
renovar a mala que fiz para trabalhar, isso se eu ainda tiver um
emprego após L.A..
Saio do closet e Tyron já está na cama, sentado, ainda
apenas de cueca, o que é um pecado em terra, e infelizmente não
posso negar mais. Ele digita algo no celular. Deixo as coisas na
poltrona e ele me puxa para si, deixando o celular de lado. Minhas
pernas contornam seu corpo, quando me sento de frente para ele,
que está com os cabelos bagunçados, os olhos castanhos mais
claros, e um sorriso preguiçoso.
— Antes de eu ir, me fala o porquê estava daquele jeito
ontem. O que mais aconteceu?
Ele não vai desistir, e vai me matar quando souber, porque
ele mandou eu ficar longe disso.
Tento beijá-lo, mas ele me impede.
— Não me enrola! O que houve?
Apoio as mãos em seus ombros e sorrio quando me empino
sobre ele e roço os lábios nos seus.
— Kristal...
— Hoje pode falar que estou tentando amenizar algo com
sexo... — falo sorrindo. Rebolo devagarzinho e sinto seu pau se
mexer embaixo de mim.
— Não vai me... — tenta falar, mas aperto mais o rebolado e
subo uma das mãos para seus cabelos, puxando um pouco. — Filha
da puta... Kristal, não me enrola! — Acerta minha bunda e mordo o
cantinho da boca.
— E quem diz que estou enrolando? Eu apenas quero brincar
um pouquinho, Sparks. — Rebolo mais e ele aperta minha bunda,
me fazendo gemer baixinho.
Seu pau está mais duro e começo a cair na minha própria
provocação. Ele me aperta firme em seu corpo e começa a me
beijar intensamente, forte, enquanto me esfrego sem parar em seu
colo, desejando mais, muito mais.
Quero mais, muito mais do que já provei.
Sua boca larga a minha e seus olhos descem para os meus
seios, duros, tão excitados quanto eu. Retira meu top, jogando-o
para trás de mim. Seus olhos sobem para o meu rosto, quando sua
boca toca um deles. Aperto seus ombros e ele começa a chupar
meu seio, sem tirar os olhos de mim.
Rebolo mais forte em seu colo, tentando controlar os
gemidos, quando o tesão cresce sem parar. Ele pega o outro seio e
dá o mesmo tratamento, e tudo que desejo é seu pau em mim nesse
momento.
— Me fale... o que aprontou... agora! — ordena, enquanto me
deixa louca.
Minha boceta está encharcada, eu só preciso de mais.
— Tyron...
Ele me empurra para a cama, tira meu short junto da
calcinha, de modo rápido, ágil, bruto!
Suas mãos abrem minhas pernas, e, quando tento raciocinar,
o filho da mãe se inclina e sem me preparar para qualquer outra
loucura, Tyron Sparks começa a me chupar, e imediatamente
preciso prender um grito forte que quer escapar da minha garganta.
Eu seguro seus cabelos com firmeza, enquanto cravo a outra mão
nas cobertas na cama bagunçada.
Ele sabe que meus gritos seriam fortes... Ele fez de propósito
porque não abri a boca... Filho da puta!
— Oooh... — um gemido escapa forte e preciso travar os
lábios.
São involuntários meus movimentos, estou sem controle do
meu corpo. Elevo meu corpo para ele, oferecendo-me mais ainda.
Quando ele nota que estou prestes a gozar, para de me
chupar.
— Tyron... Porra...
— Quer gozar, Reed? — Sorri. Passa um dedo pelo meu
clitóris e desce devagar.
— Isso... é j-jogo sujo, Tyron! — falo ofegante.
— Jogo sujo, princesa? Quem tentou aprontar aqui? Sabia
que nem camisinha eu trouxe? Você tentou me distrair jogando esse
jogo!
— Foda-se! Como eu disse, nos cuidamos bem! — Ergo a
sobrancelha, bem puta, porque ele parou. O idiota desliza a língua
pela minha boceta de novo. — Ai... Tyron... Porra!
Ele se levanta e juro que quero matá-lo!
Retira sua cueca e tenho uma visão deliciosa. Está muito
duro, grande, gostoso.
Ele se senta na cama, encostado na cabeceira, e sorri como
um cretino. Sua mão desliza pela base do seu pau, e ele geme
baixinho. Minha boceta contrai com a cena.
— O que aprontou, Kristal? — Sua voz é rouca e engulo em
seco, repleta de desejo.
Ele se toca na minha frente, pirraçando-me. Sento-me na
cama, e inclino-me na sua direção, engatinhando até ele, antes de
montá-lo. Ele continua os movimentos e isso só está me deixando
mais maluca ainda.
— Me fode e abro a boca! Me faça gozar, e eu digo! — Minha
voz é irreconhecível, totalmente tomada pelo desejo.
— Talvez eu aceite esse acordo... Senta aqui, garota! —
Posiciona seu pau.
Apoio as mãos em seu ombro, e me ergo o suficiente para
ele encaixar seu pau na minha entrada, e eu começar a descer
gemendo baixo. Ele me aperta forte com suas mãos e geme junto.
— Gostosa! — Acerta minha bunda em um estralo forte, que
preciso controlar o grito.
Começo a quicar em seu colo, subindo e descendo rápido,
desesperada. Tyron aperta minha cintura, com sua expressão séria
enquanto o desejo brilha em seus olhos. Eu subo e desço por quase
toda base, deslizando perfeitamente, sentindo tudo e um pouco
mais.
Seu celular começa a tocar, e o desgraçado não ignora, ele
puxa o aparelho e me mostra o nome na tela. É seu empresário. Ele
troca rapidamente as nossas posições, deitando nossos corpos, e
ficando por trás de mim. Ergue minha perna e entra de mim, assim
mesmo, de lado.
— Quietinha... Preciso atender. Ele nunca liga se não for
importante...
— Tyron... Melhor atender e voltamos depois então... — O
celular continua tocando sem parar.
— Só fique quietinha... Não vou sair dessa boceta! —
sussurra em meu ouvido, apertando meu corpo e só assinto.
Ele atende a maldita ligação e volta a meter em mim. Uso o
travesseiro para controlar qualquer som em minha boca. Não presto
atenção na conversa, apenas foco no quanto esse filho da puta é
bom no que faz e consegue ter uma concentração absurda para
duas coisas ao mesmo tempo.
Aperto os tecidos da cama, querendo gozar. Eu apenas
entendo o “ok”, antes dele jogar o telefone para baixo e acelerar os
movimentos.
— Boa garota... Agora goza pra mim... Me aperta com essa
bocetinha, Kristal... — Não precisa pedir duas vezes, porque
começo a gozar forte. — Aaaaah... Isso... Porra, como você é
deliciosa!
Meu corpo queima e o gemido forte é abafado pelo
travesseiro.
— Agora diga o que... aprontou! — sussurra, ainda metendo
em mim.
— Você... Tinha... Ai... Meu Deus! — Estou sensível, mas não
consigo nem me afastar, eu quero mais. É como se eu precisasse
gozar mais. — Ty... Eu preciso gozar mais!
— Eu vou te dar o orgasmo, princesa. Calma...
Ele não acabou! Porra, quer me matar. Ele continua entrando
e saindo. Viro o rosto para ele, ficando meio de lado, e ele me beija,
e gememos juntos.
— O presidente... Ele chamou a atenção do jornal... minha
última matéria... Desconfia que sei de algo... E dei indiretas no
evento! — Ele me penetra mais forte e abafa meu grito com um
beijo.
Não diz nada, só continua me deixando presa nesse
momento. Seu pau vai até o fundo e acende o orgasmo dentro de
mim. Quando minhas pernas queimam, tremem, meu corpo fica
rendido de vez, e ele tapa minha boca com a mão livre, enquanto
sua boca vem para o meu ouvido, e sou agraciada com seus
gemidos fortes, sentindo-o gozar e devorar meu orgasmo.
Se achava que tudo isso era loucura, agora tenho certeza de
vez.
— Diabólica! — diz em meu ouvido e sorrio. — E eu vou te
matar... Mandei não se meter com eles, garota!
— Prefiro punições com sexo... O que acha? — Minha voz é
fraca.
Ele sai de dentro de mim, e me vira, beijando-me.
— Vamos... Vou junto com você... — Franzo o cenho
segurando seu rosto. — Meu empresário e eu fomos chamados pela
Jennifer, antes de conversarmos com o jurídico.
— Merda... Rodei!
— Se acalma! A única coisa que vai rodar é sua bunda, se
não parar de se intrometer com os grandões da Golden. A conversa
é sobre o jornalista e a matéria. Ela contou a ele o que fariam, e
parece que tem novidades sobre tudo. Ela conversou com o
jornalista.
Assinto e ele me beija de novo.

Entramos no jornal, sob os olhares de todo mundo. Jennifer


mandou irmos diretamente para a sala dela.
Vicky vem pelo corredor e me vê primeiro.
— Olha só quem está aqui! — Sorri animada. Tyron e seu
empresário surgem logo atrás e ela arregala os olhos. — Ai, fodeu!
Faço uma careta e ela acena para eles. Eles passam a frente
quando indico a sala.
— Me deseje sorte! Espero que isso seja para termos boas
notícias.
— Amiga, tenho que te desejar toda sorte do mundo!
Beija meu rosto e me afasto.
Tudo isso porque um idiota fez merda e o jornal inventou de
criar uma matéria, que, pelo visto, iria além.
Chegamos na sala da Jennifer, e, para a minha surpresa, ela
me barra na porta.
— Primeiro quero conversar com eles. Depois conversamos.
Chega de envolver você nessa confusão! — minha chefe diz e Tyron
me olha e assente.
— Ok — respondo e me afasto sob o sorriso fraco dela.

Eles ficam em reunião por pelo menos uma hora enquanto eu


fico sentada no café do jornal, que raramente uso. Beberico a
bebida quente, enquanto vejo os três se aproximarem, e as poucas
pessoas presentes olharem surpresas.
Até que enfim.
— Nossa vez! — Jennifer diz e não sei dizer se sua
expressão é boa ou ruim.
— Tem dez minutos, antes de ir para a reunião com o time.
Faça as fotos e autógrafos e te aguardo no carro! — Gilbert diz a
Tyron e fico confusa. — Até mais, senhorita Reed! — Acena para
mim e retribuo.
O empresário do armador se afasta e ambos me olham.
— Jennifer, vai direto ao ponto! Se eu continuar nessa
ansiedade, sou capaz de devorar esse lugar inteiro. Deu merda?
Preciso arrumar minha mesa? Se eu precisar, pede para a Vicky,
estou sem cabeça para isso agora!
— Pare de ser pessimista! Você só sai desse jornal, quando
você quiser! — ela fala me puxando da cadeira.
— E por que ele vai ficar? — Aponto para o Tyron, e ele pega
o café da minha mão.
— Tenho fãs, Kristal. Sabia? — debocha bebendo meu café.
Eles parecem mais tranquilos. Isso é bom, né?
— Vamos logo! E me dá meu café! — Tento pegar, mas ele
impede. — Vai logo, Sparks!
Jennifer dá um risinho estranho. Ele me entrega o café, e não
estou gostando nada desse suspense!
Beberico meu café.
— Vamos, seu namorado tem que ser rápido.
Uma palavra.
Um tropeço.
Um café voando pela minha boca.
— Kristal! — Jennifer diz e Tyron gargalha.
— MEU O QUÊ?! — grito.
— Longa história... Longa história... Vem!
Minha chefe sai me arrastando, enquanto o som da
gargalhada do infeliz segue atrás de mim.
Entrar na sala de Jennifer me faz ficar mais em choque ainda
e cair no sofá deixando o copo de lado e a bolsa cair no chão.
— Vai falando... Só vai falando... — falo e ela se senta na
beirada de sua mesa e respira fundo.
— Vamos por partes. A primeira é que Zachary não ficou puto
com a sua matéria à toa. Tudo começou porque Aaron abriu a boca
para ele. Quando ele foi falar com você no evento, jogou o verde e
sua resposta deu a ele tudo que ele queria pensar que acreditava!
Abro a boca. Não sei se quero ouvir tudo!
— Aaron nunca nos disse que era amigo próximo e de longa
data do Richard, reserva dos Tigers. Descobrimos puxando mais
informações sobre ele, afinal somos jornalistas. — Arregalo os olhos
e ela assente. — Pois é... Richard deveria ser titular nos Red Fire
esse ano, porém houve uma grande votação nos grandões da
Golden, incluindo no dono do time, e o presidente com a palavra
final, resolveu dar mais esse ano ao capitão dos Red, ou o Sparks
mostrava jogo de novo, ou o Richard assumiria. Porém,
aparentemente, o camisa 14 passou ano mostrando serviço, que
estava descontrolado depois dos dois últimos anos de caos. Richard
não gostou, ficou apavorado de não ter vez ano que vem e logo se
juntou ao Aaron para tentar queimar o Tyron. Só não fazia parte dos
planos, que isso crescesse ao nível que cresceu.
— Meu Deus... — Balanço a cabeça lentamente. — Espera, o
Richard e o Aaron queriam tirar o Tyron do sério propositalmente?!
— Ela concorda. — Por isso o Richard tem me cercado mais que o
normal. Sou a irmã do melhor amigo do Tyron. Era um jeito do
Sparks fazer merda e entregar seu lugar a ele!
Meu Deus.
— Ele te provocou? Como assim? O que ele fez?! — Fica
séria.
— Depois... Continua. Por favor!
— Certo... Com isso, Aaron começou a mudar o foco da
matéria, que faríamos em especial ao Tyron, mesmo que eu nunca
goste de fazer matérias grandes assim sem o consentimento da
pessoa. No desespero de ontem, com medo de ser dispensado,
tentou inverter o jogo e se fez em partes de inocente ao presidente
da Golden, jogando tudo para o seu colo! Porque, pelo jeito, notou
que seria a única forma de se livrar de um processo, por estar
sujando um jogador da Golden e o próprio campeonato, já que isso
tem feito abrirem bastidores problemáticos nessas últimas décadas
sobre essa competição.
— Ele tentou me sujar?! Eu vou matar esse cara! — Recosto
no sofá.
— Não vai fazer nada! Aaron foi demitido, era isso, ou um
processo vindo de nós. Só que hoje precisei reunir o Tyron e o
empresário dele, junto do Zachary em uma videochamada.
Conversar sobre tudo. Colocar a verdade à frente. Os sócios do
jornal ficaram apavorados com tudo isso, principalmente com o
Zachary enviando um e-mail ontem, falando sobre o rompimento do
contrato após esse jogo, e que você não fizesse mais nenhuma
matéria!
Meu coração acelera. Ela não me disse isso ontem. Apenas
falou que ele reclamou sobre. Merda...
Meus olhos marejam, estou preocupada, com medo.
— E isso quer dizer...
— Calma. Respira! — Ela solta uma lufada de ar. — Hoje
expliquei tudo a ele, ao Gilbert e ao Tyron. Foram dias complicados,
e ontem e hoje mais ainda. Se todos que dividem esse local comigo,
tivessem me ouvido, não teríamos chegado a esse ponto. E se
Aaron tivesse continuado com sua ética, nada disso teria
acontecido! Enfim... Zachary está furioso... Estava mais que furioso.
Conversamos, tentando não envolver o jurídico, imprensa, nada em
cima disso, seria mais escândalo.
Respiro fundo e enxugo o olho que lacrimeja sem parar.
— E qual o resultado? Disse que eu ficaria, mas não parece
que isso terminou bem... E o Tyron?
— O presidente é um bosta, sejamos sinceras. Mas não é
burro. Sabe que romper com o Tyron assim, seria uma fortuna que
ele não quer perder e um escândalo ainda maior a todos nesse
momento. Ou melhor, seu vice não quer, pois sabemos que ele
segue as ordens do Jayden — ela tem razão. Pelas conversas que
peguei, Jayden sabe que é dinheiro demais em jogo. Apenas
assinto. — Ele manterá o Tyron, mas exigiu que limpássemos esse
escândalo de modo sigiloso, e que não romperia o contrato
conosco, se tirássemos você, pois não via como confiar em você, já
que Aaron era farinha do mesmo saco, segundo ele. E daríamos a
eles apenas uma matéria final, sem estar mais presente. E também
teríamos que arrumar uma desculpa para não ter mais a nossa
jornalista com eles no dia a dia.
Engulo em seco.
— Então estou fora da Golden — afirmo, com o coração
partido, porque independentemente de tudo, eu estou amando esse
trabalho. Mas feliz ao menos que Tyron não se prejudicou, e Aaron
não chegou a ter o que queria e nem o Richard.
Ela sorri e nega. Me deixando mais confusa.
— É aí que o salvador da pátria entrou. Eu não queria te tirar,
é algo grande isso, te daria um destaque que merece, e não era
justo essa bagunça inteira cair no seu colo sem que tivesse culpa
em nada. Tyron falou ao presidente, que não teria como não confiar
em você, sendo que você delatou o Aaron a ele, tem respeitado o
espaço de todos, e sendo namorada dele e irmã do melhor amigo
dele que é também um grande astro do basquete, seria burrice se
tivesse entrado nessa sujeira toda.
— Oi? — Levo uma mão à boca sentindo que meu coração
vai sair.
— É... Foi um choque a todo mundo. Mas Zachary acreditou
e deu uma última chance. Se sair mais um escândalo envolvendo
um dos nossos, você está fora e nós fecharemos o jornal, porque a
multa é imensa, e nem matéria final terá!
Levanto-me assustada.
— Tyron falou que eu sou namorada dele? Ele ficou louco?
Tem noção da merda que vai ser isso?! — grito nervosa e ela me
olha confusa. — Eu já tenho que escutar merdas o tempo inteiro por
ser irmã do Oliver e filha dos meus pais... Agora, o que acha que
vão dizer quando isso vazar, porque vai vazar! — Minhas mãos
tremem.
Ela pega água na mesinha ao lado e me entrega.
— Bebe um pouco. Se acalma!
Bebo a água e entrego o copo a ela.
— Como me acalmar? Jennifer, mais uma vez isso só esfrega
na minha cara que mulher precisa sempre ter um homem para
conseguir algo, para que acreditem nela! — Minha voz sai trêmula.
— É linda a atitude dele em querer me ajudar, mas tem noção do
quanto isso vai ferrar mais minha vida? Do quanto vão falar?
— Ei... — Ela me senta e se abaixa à minha frente. Estou
desesperada. Meu coração acelerado. — Olhe para mim... Kris,
foda-se essas pessoas! É isso mesmo, foda-se! Infelizmente sempre
terá idiotas para maldizerem sobre nós mulheres. Mas não podemos
parar nossas vidas por causa deles. Temos que continuar lutando.
Zachary é um bosta e só aceitaria você se confiasse de novo e,
infelizmente, esse foi o único jeito.
— Sendo protegida pelo astro! Eu não quero desse jeito... Eu
prefiro sair disso! Não é orgulho, é porque isso não é certo.
— E se vocês namorassem mesmo? Nunca trabalharia
nisso?
— Seria diferente, Jennifer! Seria real. Não uma mentira para
livrar a mim, como se eu fosse uma princesa indefesa. Se o Zachary
quer me manter, que seja porque confia na minha verdade, não
porque sou a “namoradinha” de Tyron Sparks! — Levanto-me,
pegando minha bolsa.
Ela se levanta, me olhando.
— Kristal...
— Não tente me convencer do contrário. Agradeço terem
tentado. Mas não é assim que as coisas precisam ser. Prefiro ficar
fora da Golden, do que precisar de uma mentira, para que ele
acredite que nunca tive nada com isso. — Sorrio fraco.
Ela assente.
— Eu só iria dizer que sinto orgulho de você. E pedir perdão,
mais uma vez.
— Está tudo bem. A vida tem dessas, ninguém está ileso a
passar por problemas. Estou triste, mas não desesperada ao ponto
de aceitar brincar com isso, apenas para que convença alguém de
que não minto. Como eu disse, é uma atitude bonita, tentou me
ajudar, mas não é a certa para mim, ainda mais nesse caso já
repleto de bagunça.
Ela apenas concorda e saio da sua sala. Triste, mas em paz,
sabendo que tomei a decisão correta.
Olho paras as pessoas à frente da mesa, que se organizam
em cadeiras, esperando a coletiva começar. Todos com câmeras,
celulares, microfones, gravadores, esperando o momento de
poderem colher o que querem. Mas o rosto que procuro não está
aqui, e deveria estar porque faz parte dessas pessoas.
Onde se meteu, garota?!
— Olha, a loira não deveria estar na nossa cola? Caramba,
até eu me acostumei com ela igual sombra atrás da gente! — Zion
comenta e assinto.
— Deveria!
— Parem de fofocar! Me contem, o que é? — Alf diz do meu
outro lado e Tanner e Killian nos olham.
— Kristal sumiu e o doido aqui está chorando atrás dela! —
Zion provoca e o olho de lado.
— Sumiu? Ué, mas eu a vi antes de sentar aqui. Ela pediu
para falar com o Zachary!
Olho para o Alf e ele dá de ombros após jogar essa bomba,
que ele nem sabe que é uma!
Porra! Por que sinto que algo deu ruim?!
Chacoalho a perna embaixo da mesa, ansioso. Querendo o
fim logo disso para saber o que está havendo. Ajeito a camisa do
time, e tento ajeitar a postura.
Pego o celular no bolso e, disfarçadamente, envio uma
mensagem a ela, espero que responda antes da coletiva começar.

Tyron: Onde se meteu? Cadê você aqui? O que houve?

A mensagem chega para ela, mas ela não visualiza, e segue


assim até a maldita coletiva iniciar e eu saber que só terei a
resposta no fim disso.

Levanto-me quase derrubando a cadeira para trás, ansioso


para sumir daqui e saber que porra aconteceu, já que Kristal não
apareceu. Respondi as perguntas no modo automático, preocupado
e sentindo que alguma coisa está acontecendo.
Mais cedo, quando conversamos com a chefe dela, Jennifer,
eu não estava preparado para ouvir tudo aquilo, foram muitas
informações, que só me fizeram ter a certeza de que a fama, o
dinheiro, pode trazer muitas coisas boas, mas pode foder muitas
outras também.
Eu nunca pensei que faria qualquer coisa para defender essa
garota, mas descobri que sou capaz até mesmo de mentir para o
presidente da Golden. Porra, estou me transformando no cara que
faz qualquer coisa pela garota que está saindo, porque é o que está
acontecendo, estamos saindo, transando, convivendo de um modo
que nem mesmo com minhas ex-namoradas vivi.
Nunca fui o cara babaca, ou que troca de mulher sem parar,
certo, tive casos, transei muito sim, mas nada a qual me gabaria,
entretanto, mesmo com tudo, jamais me imaginei assim:
preocupado, ansioso, com medo, querendo vê-la para saber se está
bem... Isso está me preocupando. Eu sei o que é o amor, senti pelas
namoradas que tive, mas era um amor mais recheado de carinho
apenas, admiração, respeito. O que estou sentindo é algo novo,
existe a admiração, o carinho, o respeito, mas é mais forte, mais
potente.
— Tem treino hoje. Vê se não esquece! — Killian me avisa e
apenas assinto.
Não iria me esquecer. É um treino do jogo, pois iremos jogar
contra os Squirrels, um time bem antigo, famoso, vitorioso e com
jogadores de grandes nomes de gerações um pouco atrás de nós.
São anos a mais de experiências, as quais precisamos ser mais
cautelosos. Então é óbvio que eu não me esqueceria do treino.
— Não irei me esquecer! — Nos desvencilhamos das
pessoas que vão se aproximando. Os outros vem logo atrás.
Olho o celular e tem uma mensagem que chegou agora. É
dela.

Kristal: Estou aqui. Olha para a frente!

Ergo o olhar e olho sentido a porta de vidro do local onde


estamos, e ela acena. Parece inteira, isso é bom. Solto um ar que
prendia quando vi que havia uma mensagem sua.
— Ih, a namoradinha apareceu, mudou até a expressão.
Nesse jogo, você perdeu, cara! — Alf fala, surgindo com a cabeça
em cima do meu ombro.
Os outros riem e tenho vontade de socar a cara de cada um,
que entra nas provocações do idiota.
Me afasto deles sob suas vaias e provocações, e reviro os
olhos. Passo pelas portas, saindo da barulheira de pessoas, vozes
sem parar, flashes intermináveis. É um alívio, pois, quanto mais
tentava me desvencilhar, mais surgiam.
O silêncio do ambiente fora da bagunça me acalma na
ansiedade, mas meu coração se agita em vê-la. Ela trocou de
roupa, está com um vestido amarelo-claro com pequenas borboletas
coloridas espalhadas neles. Não está com sua credencial. Ajeita a
pequena bolsa a sua lateral, e sorri de um jeito... carinhoso quando
me vê.
Me aproximo parando a centímetros dela, inalando meu novo
cheiro favorito: baunilha.
Ela ajeita a franja lateral, prendendo atrás da orelha.
— Por que não estava lá? Não deveria estar acompanhando
tudo isso literalmente de perto? — A observo com atenção.
Ela solta o ar, fazendo seus ombros subirem e descerem
lentamente.
— Vi Malcolm e ele disse que vocês têm meia hora livre
antes do treino, já que atrasou um pouco aqui. Podemos conversar
em outro lugar? — pede e jamais negaria isso, mesmo se já tivesse
que treinar, pois parece ser algo bem importante.
— Claro. Vamos!
Ela concorda e guarda o celular na bolsa, conforme
caminhamos para fora daqui. Sem seguranças, sem imprensa, só
nós dois.

Trouxe ela para o hotel, onde teríamos mais privacidade, e


sei que ela se sentiria mais confortável em falar. Ela olha ao redor,
enquanto retiro as coisas do bolso, e deixo no aparador abaixo da
TV.
— Uau... Esse é lindo, hein! — Caminha pelo quarto e sorrio.
— Sim. Mas não aproveitarei muito. Vamos de madrugada
para Los Angeles, com o ônibus do time, um pouco mais que cinco
horas de viagem.
— Já fiz muito essa viagem de carro, com a Vicky dirigindo e
eu sem saber se teria vida para contar o final de tudo. — Olha para
mim, e deixa a bolsa no sofá. — Ela dirige mal.
Assinto sorrindo mais uma vez.
— E você, como está? — Encosto na parede próximo ao
sofá, levando as mãos ao bolso.
Ela se senta no braço do sofá. Sua respiração muda e força
um sorriso.
— Estou... Estou bem... — Um choro se emenda no riso que
ela tenta forçar. Os olhos clareiam mais pelas lágrimas que se
formam sem parar. — Desculpe... Eu estou bem... Eu só... —
soluça.
Meu coração se aperta vendo isso, porque eu já cheguei
nesse limite. Eu já vivi isso. Estou vivendo-o agora.
Desencosto, da parede, e sento-me no sofá. Estendo uma
mão para ela, que segura e com calma a puxo para se sentar ao
meu lado. Entrelaço nos dedos, e apoio nossos braços em minha
perna, acariciando sua mão.
— É só que... Uff... É difícil controlar. Como essa pergunta
pode ser difícil... — Ela tenta controlar o choro, mas não resolve.
— Não precisa tentar esconder. Chore, Kristal. Coloque para
fora o que está acontecendo dentro de você. Somos só nós dois
aqui. Eu não espero que seja sempre forte, porque esperar isso das
pessoas é desumano demais. É querer que elas anulem seus
sentimentos, e não os viva, e isso também sufoca, machuca.
Ela assente e aperto sua mão na minha e ela chora mais,
coloca para fora o alívio que talvez precise. Ela não anula o que
está sentindo. Kristal volta a ser a garotinha de anos atrás, a que
sentia sem medo. Os soluços são o seu grito de desespero.
Eu a puxo para os meus braços, e aperto seu corpo com
força, e minha garotinha grita em meu peito, e sua angústia é
sentida por mim, porque dentro do meu peito parece que tudo se
rompe ainda mais por vê-la assim.
— Eu estou tão cansada, Ty. Eu não aguento mais.
Beijo o topo da sua cabeça, sem deixar de apertá-la forte.
Treme em meus braços, e eu tento anular sua angústia no meu
abraço.
Ela fica assim por mais alguns minutos, ao ponto de seu nariz
entupir, e eu sentir seu corpo ficar mais fraco, relaxado, e ela
começar a se afastar com calma de mim.
Levanto-me e busco papel e água para ela.
Ao sentar novamente ao seu lado, fico de lado, para que
possa estar de frente para ela. Seu rostinho vermelho, olhos e nariz
mais intensos. Ela limpa o nariz, bebe a água e me olha.
— Não sou louca.
— Claro que não é. — Estendo uma mão, e enxugo seu rosto
com carinho, e ela respira fundo. — Está melhor?
Ela assente e recosta no sofá, com a cabeça de lado, me
olhando e sorrindo fraco agora.
— Obrigada... Eu acho que realmente precisava disso. Não
lembro a última vez que consegui colocar tudo assim para fora
através das lágrimas.
Apoio uma mão em sua perna e acaricio. Ela suspira e deixa
o papel e a água de lado.
— Jennifer disse o que fez... Foi um gesto fofo tentar me
ajudar, mas não posso aceitar. Seria errado permitir que o Zachary
só me desse uma chance por eu ser uma protegida sua. Mas
obrigada por tentar ajudar.
Eu imaginei que ela pudesse recusar, porque a Kristal é uma
mulher forte, determinada, nunca aceitaria ser protegida de alguém
para ter algo. Ela sabe que merece mais.
— Tudo isso está sendo uma loucura. Richard ter se juntado
com o Aaron. O Zachary com essa multa absurda e exigências
idiotas. Nós dois... É muita coisa para lidar, e não vai conseguir
segurar tudo sozinha, Kristal.
Ela concorda.
— Eu acho que tenho vivido demais pelas pessoas, que me
esqueci das coisas que eu quero, que eu gosto, que eu preciso. Eu
me esqueci de sentir. Foquei muito no que diziam, em ajudar o
mundo, enquanto eu estava caindo.
— Sabe, depois da morte do Philip, eu passei a entender que
sentir machuca, mas é necessário. E que não dá para salvar todo
mundo. Isso ainda me sufoca, me quebra, me faz ir ao limite e, às
vezes, ultrapassar. E é quando eu falho, surto, mas é necessário.
Não vamos conseguir salvar todo mundo, princesa, nem se
desejarmos.
Ela se vira, se aconchegando em mim, até estar com as
costas e a cabeça em meu peito, as pernas no sofá. Passo um
braço ao seu redor e beijo seu ombro.
— Eu acho que preciso aprender isso. Eu sempre me culpo
por tudo. Me culpei pelo Philip, por não ter conseguido ir até vocês...
Me culpo por não conseguir ser mais presente para minhas amigas,
mesmo que sempre juntas. Me culpo por não ser mais presente aos
meus pais, ou ao Oliver que também sinto que finge estar bem, mas
está se perdendo. Não aceitar continuar na Golden nas atuais
circunstâncias, foi a primeira coisa que fiz por mim de verdade e me
sinto bem, e isso me trouxe um cansaço gigante.
— Pare de tentar salvar as pessoas e comece a salvar a si
mesma. Não é egoísmo querer focar mais nas coisas que deseja. E
olha que quem está falando tudo isso, é um cara todo fodido
mentalmente.
Ela sorri e ergue o olhar, inclinando a cabeça, e ficando uma
vesga fofa.
— Não está fodido mentalmente! Não fala isso...
— Pare de tentar salvar as pessoas, Kristal. Acabamos de
falar sobre isso. O foco é você agora! — Faço cócegas em sua
barriga e ela ri.
— Tonto! Sim... Ok... Eu... E agora estou fora da Golden, não
sei nem como vou contar essa bomba aos meus pais, que estavam
felizes. Nem consegui falar com o Zachary. Só tive tempo de
devolver a credencial para o assistente dele. — Revira os olhos.
Isso me incomoda. Saber que não a terei me importunando
todo dia, me incomoda pra caralho, porque eu quero essa baixinha
me irritando. Porque por mais que digam que ninguém tem que
salvar ninguém, e eu acredito nisso, mas sempre tem a pessoa
capaz de tornar seus dias nublados em ensolarados, e nas loucuras
dela, minha mente volta ao que um dia já fui, e o meu controle
parece se equilibrar... Não, não parece. Realmente ele se torna mais
equilibrado. Ela me salva sem notar que faz isso, sem a obrigação
de fazer isso, porque ninguém é obrigado. Ela faz de modo
inconsciente e isso me torna mais especial, mais calmo, mais
natural.
— É difícil um tempo com ele. Conseguirá apenas durante o
jogo, é o momento que ele normalmente assiste, e fica livre.
— Ou fica falando merda com o Jayden! — suspira.
— Como assim? Escutando conversas de novo, Kristal?
Ela sorri e é lindo ver seu sorriso sincero. Ela sinaliza o
indicador com o polegar, fazendo “pouco” com eles.
— Zachary queria você fora, e o vice acha burrice, porque,
aparentemente, você vale muita grana, Sr. Sparks. Seu corpinho
vale ouro, literalmente!
— Não me surpreende. Todos esperam que eu peça para
sair, a multa será menor. Mas não farei isso. Eu continuei por mim, e
pelo Philip. Meu irmão amava esse esporte tanto quanto eu, e vou
tentar dar o melhor de mim por mim e por nós dois. Eu só saio
desse jogo carregado!
— Credo, Tyron! Seja menos drástico. Aprendeu com a
Vicky? Ninguém sairá carregado!
— Preocupada comigo, garota? — pergunto e beijo seu
pescoço.
— Pior que sim. Viu como minha vida virou uma tragédia
inesperada? Segundos, é tudo que ela precisa para ir destruindo
cada coisa que eu disse que não faria, ou que planejei!
Sorrio, e ela bufa.
— Vem para Los Angeles comigo. Assiste ao jogo. Respira
fundo. E pensa em você.
— Eu já iria, tem um show que a Vicky arrumou do nada. Mas
tem o aniversário da Cherry e...
— E mais nada! — Ergo seu rosto com cuidado, e ela me
olha toda fofa de novo. — Pense em você, o que quer fazer. Vicky e
Cherry são adultas, sabem se virar. Esse momento é seu, precisa
decidir por si mesma o que quer fazer.
— Mas eu nem comprei os ingressos, e o Oliver vai me matar
se eu fizer ele arrumar as entradas agora ou credenciamento.
Sorrio.
— Às vezes, eu tenho vontade de te matar, porque é incrível
como anula facilmente quem eu também sou — falo e ela sorri.
— Não é que eu anulo. Só te vejo como o idiota que me irrita
sempre, e o Oliver como meu irmão também irritante. Pessoas
“normais”.
— Adoro isso, mas não precisa apenas do Oliver para
conseguir as entradas. Quer assistir aos jogos de Los Angeles? —
pergunto e ela assente animada. — Ótimo, então a gente passa na
sua casa, você pega suas coisas e você vai comigo, ok? — Sorri. —
E se a maluca e a fofa quiserem estar lá e você quiser também, irei
reservar as delas também.
— Por que não pode ser sempre legal como está sendo? —
questiona e aperto suas bochechas, formando um bico em seus
lábios.
— Porque talvez você me irrite mais do que me faça ser
calmo! — Deixo um beijo em sua boca e ela ri. — E eu sou legal!
— Queria ter sua confiança, cara! Juro! — Se senta me
olhando. — Obrigada... Sabe, o Philip tinha razão.
— Sobre o quê?
— Você pode ser legal!
— Posso? Quer dizer que não sou? — Ergo a sobrancelha!
— Ele afirmou que era, eu já gosto de ser correta. Mentir é
pecado! Sou uma mocinha verdadeira! — Se levanta. — Vamos
arrumar minhas coisas? E quero dar um abraço na Cherry, ela
chegou e não a vi ainda!
— Tenho treino daqui a pouco. Vou precisar da sua carona!
— Homens... Tudo tem uma cobrança! — provoca e me
levanto, agarrando-a. — TYRON! — gargalha. E rio com o som que
me relaxa.
— Tem medo, mas continua sendo cara de pau! Vamos logo.
E torça para eu não arrumar lugar para você dentro da cesta!
Solto-a, e ela pega a bolsa.
— Depende... Se correr o risco de eu cair em cima, de quem
será? — Faz uma cara de deboche.
— Você vai ficar! — aviso, irritado. — Não me provoque,
Kristal Reed!
— Ciúmes? — Pisca e caminha para sair do quarto.
Pego as coisas. Eu com ciúmes? Dela? Uma porra!

Pegamos as coisas em sua casa, e ela tem tempo de falar


com suas amigas. Pelo que entendi, as meninas vão para Los
Angeles amanhã cedo, de avião. Já conversei com o Malcolm, o
cara que consegue o quiser, e ele mandou os acessos ao Gilbert,
que me encontrará em Los Angeles para entregar tudo.
As notícias sobre Kristal Reed e sua saída da Golden
vazaram, e descobri com ela e suas amigas. Muitas suposições,
nenhuma é a verdade, mas o que me importa é como ela se sente
sobre isso, e vê-la não se importar ou ao menos tentar, é algo
importante.
Ela está dirigindo. O som do carro toca Party In The U.S.A..
— Um clássico! — ela diz e assinto rindo. — O que seria do
americano sem essa música em todos os lugares?
— E o que será do meu time se eu morrer? Diminui isso,
porra!
Ela gargalha.
— Me empolguei! Não seja dramático. Uma perguntinha,
como vou acessar ao treino se meu acesso será em Los Angeles?
— Sério, o que você acha que sou na Golden e nos Red? —
Encaro-a bem puto.
— Desculpa, Senhor Ego Ferido! — Ela cantarola a música, e
sua voz é bonita. A diabólica chegou a ter aulas de canto na
infância, mas ainda não era o que ela queria. — Sabe que eu
poderia esperar e nos encontrávamos na hora de ir? Até porque
terei que deixar tudo no hotel, vai ter que conversar lá sobre isso, e
depois terei que mandar o Oliver trazer meu carro. Fala sério, eu
animo seu dia, né? Por isso me quer por perto. Sou sua alegria,
Tyron! Assume!
É nesses momentos que me arrependo de estar louco por
essa garota... Espera... O quê?!
Engulo em seco e abaixo o vidro do carro.
Preciso de ar.
Bastou um aviso do Tyron, e eu pude estar aqui dentro sem
as credenciais, mas o que mais me animou, é porque não precisou
só dele, quando viram que era eu, autorizaram, porque confiam em
mim, pois, ao que parece, eu estou gerando confiança para as
pessoas desse lugar, por mim mesma, e pelo respeito que dei a eles
no tempo que estive presente.
Observo eles treinarem, e é pesado o negócio. Já imaginava,
mas normalmente eles não treinam pesado durante os jogos, para
não ter um desgaste prejudicial, só que o time de amanhã está
apavorando-os, e todo desemprenho físico será ótimo.
Tudo que tem acontecido, trouxe uma certeza em minha vida:
eu amo a minha profissão, e quero fazer isso por um longo tempo.
Agora aqui, apenas assistindo, sem pensar no que posso anotar,
usar, registrar, me faz até sentir estranha, porque me acostumei em
sempre estar pensando, anotando tudo disso aqui.
Estou sentada na arquibancada, quietinha, observando cada
detalhe e babando lentamente pelo capitão-armador deles. Quem
diria que eu passaria a ver Tyron Sparks com outros olhos, e que
meu coração iria errar tantas batidas apenas por vê-lo? Eu jamais
acreditaria nisso se me contassem lá atrás.
Ele mexe comigo, isso é muito mais que atração, e eu sei, o
pior de tudo é que eu sei, e estou com medo, porque tudo isso vai
acabar no instante que finalizar o jogo em Los Angeles, onde ele
seguirá suas viagens por todo país, e eu ficarei, e a distância pode
mudar tudo mais uma vez. É como se L.A. estivesse se tornando um
cenário de despedida, e nunca imaginei que eu pudesse me
apavorar por estar longe dele de todas as maneiras.
Toco levemente a tatuagem e suspiro.
É, garoto, parece que deixou uma certa praga sobre mim, e
eu queria que estivesse aqui para berrar em meu ouvido: eu avisei!
Tyron me olha e pisca, me fazendo sentir um friozinho na
barriga, e um sorriso envergonhado surgir, além das bochechas
queimarem.
Eu estou muito caída por esse idiota.
Esse joguinho de “apenas sexo e nada mais” nunca termina
bem, e eu fui teimosa em entrar de cabeça nisso, porque, nessa
loucura, meu coração foi de brinde.
Malcolm para se sentando ao meu lado, e é a primeira vez
que vejo esse homem calmo. Parece até mais novo sem o estresse
em sua expressão e xingamentos. Ashton está cuidando dos
treinos, e não parecem gostar muito não.
— Ele não era para ser apenas do Tyron?
— Nenhum outro aguentou esses moleques. Ashton é o
único que coloca ordem neles.
— Nem imagino o porquê... — comento vendo o homem
quase fuzilar cada um.
O homem ao meu lado deixa a prancheta ao lado e ajeita o
cordão da credencial de acesso.
— Então saiu da Golden... Não teremos mais a senhorita nos
seguindo?
— Pois é... Aliviado? — brinco, mas com medo dele gritar
para mim “arremessa, porra”.
— Digamos que até que me acostumei com você igual uma
sombra na nossa cola, e pior, acho que meu jogador só tem mais
juízo quando tem você por perto. — Me olha de lado e desvio o
olhar. — Sabe de quem eu falo. Esse bunda mole é gente boa, só
tem cara de bravo, e sim as vezes é, mas é um jovem bobão, que
perdeu o irmão de um jeito triste, e precisou engolir a dor porque
tem contratos, carreira, que é acima dele. Tyron vai longe, muito
mais do que já está indo, só precisa de alguns empurrões e parar de
achar que pode resolver tudo sozinho.
Acho que é a primeira vez também que o vejo falar tanto e
calmo.
— Sparks é bom, e confesso isso mesmo sendo fã dos
Tigers. — O treinador ri e me surpreendo. — Mordi a língua. Falei
tanto de vocês, dele... E droga, são realmente bons. Esse ano só
está me esmurrando!
— Somos bons... Tenho que admitir! — Sorrimos. — Poucos
times nesse campeonato têm realmente união. O que torna os Red
forte não é apenas ter bons jogadores, é entenderem que são um
time, e precisam jogar juntos, um pelo outro, dar sempre o melhor
deles pensando no coletivo. Eles se valorizam dos titulares aos
reservas. Brigam, não são perfeitos, mas estão ali um pelo outro em
quadra. E respeitam a posição de cada um.
Olho para eles e sorrio quando o Zion escorrega no exercício
e cai em cima do Tanner, que o xinga. Tyron e os outros gargalham.
— Vou sentir falta disso, de assistir tudo isso de perto —
confesso a ele.
— Sabe, senhorita Reed, isso aqui não é fácil. Mas nenhuma
profissão é. Terão altos e baixos em qualquer lugar, com qualquer
pessoa. A vida precisa do equilíbrio de ser boa e ruim, não dá para
ser cem por cento só uma coisa. Não se dê por vencida, seja pelo
que tiver acontecido. Eu posso imaginar um pouco pelos
comentários que percorrem os corredores, mas a verdade só a
senhorita sabe. E se tem uma coisa que aprendi nesses anos todos,
é que ninguém tem o direito de nos calar, destruir nossos sonhos; e
se o fazem, é porque demos esse poder a essas pessoas. — Olho
para ele, que me encara. — Tire esse poder das mãos de quem a
senhorita os deu. Se viver tudo isso aqui é seu sonho, seu desejo,
então mostre para o que veio, e faça todos entenderem quem
realmente é e o valor que merece receber; e se, ainda assim, não
lhe derem ouvidos, então a Golden não lhe merece, porque todos
nós merecemos mais.
Se levanta pegando suas coisas.
— Treinador? — chamo-o e ele me olha. — Obrigada! E pode
me chamar só de Kristal ou Kris.
Ele assente e sorrio.
É... Ele tem razão.
Ashton dá uma pausa ao pessoal, que enxuga o suor e
bebem água. Tyron conversa com seu time, mas me lança alguns
olhares, me deixando mais sem jeito ainda, como jamais pensei em
ficar por ele.

Não contei tudo aos meus pais, expliquei por cima a história,
e pedi para não confiarem em nada da internet que, quando eu
voltar, explico tudo. Eles vão para L.A. assistir aos jogos, assim
como os pais do Tyron, mas será amanhã. Eu escolher ir com o time
é bom, me tira do meu lugar de conforto, onde eu fugiria para os
braços das minhas amigas e família, e agora estou enfrentando tudo
de outro modo: escolhendo o que quero fazer, pensando em mim,
somente no meu desejo.
— Vai ter que vestir nossa camiseta nesse jogo, Kris! — Alf
grita quando me sento no último banco, junto do Tyron.
Ele está no banco à frente do nosso junto do Killian. Os
demais estão espalhados, todos estão juntos, até os reservas.
— Nem morta! — falo rindo e os idiotas começam a me vaiar.
— Não troco o Tigre pelo Fogo! — Me debruço sobre o banco dos
dois à minha frente e o ônibus segue rumo a L.A.
Eles me olham.
— Ué, mas já não está trocando, quando se tornou a senhora
Sparks?! — Tanner grita à frente.
Idiota!
— Eu não me tornei nada! Olha, eu nem sei por que estamos
falando disso! — Fico toda desconcertada, e eles riem mais.
Tyron ri atrás de mim, claro que faria. Ama ver eu me
lascando.
— O que foi, Reed, qual o problema em admitir que ama um
Fogo? — Zion diz e juro que eu vou matar esses idiotas.
— Vou fingir que não notei seu tom. Quantos anos vocês
têm?!
Eles riem mais, e acabo rindo. Tyron me puxa para o banco.
— Sossega! — Se ajeita no banco. — Quanto mais falar,
mais eles vão arrumar motivos para te provocar — cochicha em
meu ouvido.
— Eu sei... Foram treinados no mesmo lugar que você! —
Reviro os olhos rindo. — Eu deveria ter exposto o podre de cada
um! — grito.
Alf se pendura no banco, se virando para nós dois.
— Nunca faria. Eu confio em você. É gente boa demais. E
não temos podres. Somos um grande exemplo de atletas.
— Fale por você! Eu não sou exemplo para ninguém! — um
dos meninos do reserva berra e começo a rir.
— Até que enfim alguém sincero aqui! — retruco.
— Qual é? Vai deixar sua garota ficar nos difamando assim,
Tyron? Sou muito sentido! — Alf pirraça.
Finjo não notar o “sua garota”.
— Eu vou acabar descendo e indo de avião para não aturar
nenhum de vocês! — Me olha de lado. — Isso inclui você!
Olho para o Alf e começamos a rir. O jogador se senta em
seu banco, e não sei, mas o fato do motorista apagar as luzes, me
faz lembrar dos passeios escolares onde faziam isso para calarmos
a boca. Pobre homem, deve achar que está levando o ensino
fundamental.
Uma mensagem em meu celular de um número
desconhecido me faz franzir o cenho.

“Senhorita Reed, o Sr. Rice espera para falar com a senhorita


amanhã, após o jogo dos Red Fire.”

Respiro fundo e respondo apenas com um “Ok”. Depois da


conversa com o Malcolm, eu liguei para o assistente do Zachary, E
pedi uma reunião urgente e, pelo jeito, consegui. Não contei a
ninguém, quero deixar as coisas acontecerem sem surtar antes.
Coloco o celular na minha bolsa, que cai no chão e nem perco
tempo pegando.
Um dos reservas do outro lado ao nosso, conversa com o
Tyron, mas a única coisa que noto são os detalhes, como a mão do
camisa 14 pousando em minha perna, e acariciando, sem nem
olhar, só fazendo. Seus olhos e atenção estão na conversa, mas o
seu carinho está comigo.
Não está ajudando em nada meu coração com isso, Sparks.
Alf passa pelo banco um chocolate e pego rindo, porque ele é
doidinho, mas muito legal. Ele me olha pelo vão do banco e
sussurro um “valeu”.
Tyron olha de relance para o doce em minha mão e só noto
sua perna “acidentalmente” chutando o banco do Alf, que ri.
— Desculpe! — ele diz e controlo o riso.
— Eu amo ver homens apaixonados. Ficam idiotas! — Alf
comenta e me engasgo.
Tyron finge não ouvir, porque impossível não ter ouvido. Os
risinhos de alguns mostram que ouviram. Balanço a cabeça e olho
pela janela.
Que loucura você se colocou, Reed... Que loucura!

Tyron avisou que eu viria junto, e fizeram um upgrade em


relação ao seu quarto e aos dados no check-in. Já é madrugada e
nem isso poupou a imprensa de estar presente, querendo registros
da chegada dos jogadores. O time que jogará contra os Red já está
na cidade e os Tigers chegam mais tarde, pois só jogam depois.
Agora as pontuações começam a ficar mais complicadas, pois logo
mais começam a eliminatórias.
Trouxe apenas uma mochila simples. Aproveitei e trouxe uns
biquínis, talvez eu alugue um carro e vá para Malibu, uma hora mais
ou menos de L.A., para pegar uma praia e distrair ainda mais a
cabeça.
Abro a sacada e entra o ar um pouco mais fresco da noite.
Estamos perto do local de onde acontecerá o jogo. Tyron se joga na
cama, e caminho em direção a ela.
— Como aguentam viajar tanto e lidar com jogos, noites de
pouco sono? Todos na Golden têm um trabalho intenso, mas o de
vocês é mais cansativo se formos analisar que jogam, treinam, tem
as coletivas, os eventos, poucas horas de sono... — Sento-me na
beirada da cama.
— Me faço essa pergunta todos os dias! — responde uma
mensagem no celular, e deixa o aparelho de lado. — Seu irmão
mandou eu cuidar de você, ou vai arrancar minha cabeça.
Começo a rir.
— Oliver tem que cuidar é dele mesmo, isso sim. Pronto para
o jogo e enfrentar seus pais e a família Reed em peso? — brinco e
ele respira fundo.
— Prefiro enfrentar os Squirrels mil vezes! — Se senta,
retirando a camiseta e passando a mão pelos cabelos. — Mas
consigo sobreviver! — Sorri e nunca reparei que Tyron tem além dos
olhos, um sorriso extremamente lindo, muito lindo mesmo. É
hipnotizante. — O que foi?
— Nada... — Chacoalho a cabeça e ele se levanta.
— Vou tomar um banho. Está com fome? — Nego, porque só
me passa outro tipo de fome... Deus, que horror!
Ele vai até sua mala e sigo-o com o olhar. Virei uma safada!
Vicky Foster me levou para o mal caminho.
Segue para o banheiro e eu me jogo para trás.
— Estou muito ferrada.
Levanto-me e pego meu celular, e envio mensagem as
meninas e a minha família, avisando que estou viva, ou pelo menos
acho que estou.

Vicky: Transe muito por mim. Quero te ver assada!

Meu Deus! Ela poderia me ajudar? Que ódio!

Cherry: Se cuida, Kris. Te amo!

Olha só como a Vicky deveria ser! Olho a outra mensagem e,


meu Deus, essa turma não deveria estar dormindo?

Mamãe: Use camisinha! Te amamos. Manda um beijo ao Tyron.

Por Deus! Chega!


Minha família, a Vicky, desconhecem limites! Puta merda. E o
conselho de dona Karen veio tarde demais. Mas a responsabilidade
esteve presente, nos cuidamos muito bem, ele por ser atleta, e eu
por ter uma mãe maluca com coisa de saúde, e que, se não fosse
por ela, eu provavelmente seria bem relaxada com tudo, tenho que
dar os créditos a ela.
Separo minhas coisas para tomar um banho também, porque
o jogo deles é tarde, e cedo quero dar umas voltas por L.A.. Jennifer
me deu essa semana para colocar a cabeça no lugar, me enviou
mensagens pedindo desculpas de novo e me dando esses dias de
folga. Isso é perfeito.
Deixo tudo separado, e pego meu celular de novo, me
deitando na cama, após tirar o tênis e esperando o Tyron sair do
banheiro.
Fico mexendo no celular e vendo um pouco das notícias.
Vazaram sobre minha saída, mas os problemas entre Tyron e Aaron
parece sem foco agora, e isso vai sumir cada vez mais, já que vão
limpar essa confusão o máximo que puderem. Espero que Richard
tome as punições devidas também, seria demais ele sair ileso nisso
tudo. Aaron perdeu o emprego e com toda certeza, não pode
esperar uma carta de recomendação da Sport, que, com toda
bagunça criada, não vão querer mais dor de cabeça.
A porta do banheiro se abre, e eu não esperava ver um Tyron
apenas com uma toalha branca enrolada na cintura, gotas de água
escorrendo de seu corpo. O celular cai bem na minha cara, e espero
que ele não tenha notado essa humilhação. Ele pega algo caído
perto de sua mala, acho que a cueca.
Eu estou quase babando como uma idiota. Droga!
Esfrego o local onde o celular atingiu e continuo olhando para
ele, sem conseguir disfarçar.
Não poderia ser menos gostoso? Ajudaria tanto!
— Cuidado, Reed, posso começar a pensar que vai me
devorar!
Merda.
— Vai à merda! — falo e engulo em seco.
Ele me olha e que olhar maligno é esse? Me deixa até
desnorteada.
— Pode usar o banheiro se quiser. — Aperta a cueca em sua
mão e assinto.
— Aham... Claro. Vou! — Se recomponha, idiota!
Levanto-me, deixando o celular de lado, e pegando minhas
coisas para fugir para o banheiro o quanto antes. Nunca pensei que
teria que lidar com o diabo em pessoa.
Escuto seu risinho e tenho vontade de me jogar dentro da
privada.
Ótimo, agora ele já sabe que me afeta e muito.
Estou animada. Realmente bem animada. Los Angeles é um
lugar que me causa isso, me deixa em outra vibe. As meninas já
chegaram, e vamos nos encontrar no jogo. Tyron teve
compromissos de última hora mais cedo, e, como eu não poderia
acompanhar, foi até bom. Estou curtindo a mim mesma desde cedo
pelas ruas de L.A., me divertindo como um turista que vem aqui pela
primeira vez.
Já estive aqui muitas vezes, mas eu sempre sinto como se
fosse a primeira. As pessoas, o clima, tudo aqui me deixa em um
astral diferente. Eu gosto disso.
Tomo o sorvete enquanto caminho pelas ruas observando as
pessoas. Os que registram cada momento, os que vivem os
momentos em silêncio, tudo sempre agitado. Está bem cheio aqui,
pelos jogos, pelo show, e por uma premier que terá de um filme que
irá lançar. Além disso, parece que os pilotos de uma corrida
automobilista bem famosa, estão na cidade para um evento antes
de seguirem para o Texas, algo relacionado a Stars On The
Racetrack[2]. Los Angeles está o puro caos armado, e
completamente o foco para muitos fãs.
Umas meninas pedem se posso tirar foto delas na estrela da
calçada da fama, e faço a foto sem problema algum. É divertido ver
a empolgação das pessoas, eu me sinto até animada, uma energia
que leva a outra.
Caminho mais, e vejo o enorme outdoor sobre os jogos na
cidade, e Tyron junto do Oliver estão em destaque neles. Eu deveria
estar acostumada em ver o rosto e assinatura deles estampado em
tudo, mas isso sempre parece surreal para mim, porque eu era uma
pirralha quando vi esses dois começarem com tudo isso e olha onde
chegaram.
Faço uma foto do outdoor e mando ao Tyron.

Kristal: Sério, o Photoshop foi pesado aqui, hein! HAHAHAHA.

Brinco, e continuo caminhando com meu sorvete de baunilha,


o que faz pensar que preciso mudar um pouco dos meus gostos, já
me basta meu perfume.
A caminhada continua de maneira tranquila, mesmo com o
calor que parece querer derreter minha pele. Isso me faz pensar que
não pode chover, pois quero muito ir para Malibu e aproveitar o mar.
Seria muito azar uma chuva, como está previsto e por isso desse
calor abafado.
Passo em algumas lojas para aproveitar o ar-condicionado
porque não sou tonta, e para ver se algo me agrada. E nessa
curiosidade entro em uma da Golden — eles têm lojas próprias. As
camisetas dos times que jogam essa semana estão em destaques,
junto dos bonés.
Termino meu sorvete que já estava em ponto de pedir
socorro, por estar derretendo tanto.
— Oi, desculpa perguntar, mas é a jornalista Reed, não é?
Sorrio.
— Sou sim.
A funcionária sorri mais animada ainda.
— Eu sou Melanie, será um prazer te ajudar! Qualquer coisa
é só me chamar.
— Muito obrigada! — Sorrio novamente e ela se afasta.
Eu estou sendo reconhecida como jornalista. Puta merda!
Puta merda!
“Para com isso, finja que é algo natural. Que sempre
acontece.”
Eu quero gritar!
Controlo as emoções malucas, começo a olhar tudo. Vejo os
bonés e os objetos em destaques. Pego um copo com a assinatura
do Tyron.
E pensar que posso ter tudo isso de graça. Acho que vou
vender tudo que ele e meu irmão tocar, porque olha o valor dessas
coisas. Meu Deus! Se tudo der errado como jornalista, posso ganhar
dinheiro no eBay.
Chega uma mensagem em meu celular.

Tyron: Não consegue ficar sem tentar procurar defeitos em mim? Princesa,
entenda, sou perfeito. Não vai encontrar!
Reviro os olhos e envio emojis mostrando o dedo do meio a
ele.

Tyron: Onde a educada Reed está?

Tiro uma foto da loja e envio a ele.

Tyron: Que romântico. Vai usar uma camiseta com meu número hoje?

Kristal: HAHAHA... Está se achando muito, Tyron. Está na hora de


crescer! Eu nunca usaria uma camiseta com seu número! Eu nunca usarei uma
camiseta dos Red Fire. Não troco o Tigre pelo Fogo, já disse!

Sua resposta não demora, mas eu não deveria ter lido,


porque me faz tropeçar e quase cair em cima das araras.

Tyron: Não é bem o que parece, quando estou te fazendo gemer, ou


quando está gozando no meu pau. Agora me encontre na arena.

Quê? Ele solta uma merda dessas e ainda quer que eu o


encontre? Eu tenho certeza de que está estampado na minha cara
que li alguma putaria. E que merda ele quer na arena?
Puxo uma camiseta, sabendo de quem se refere. Se ele acha
que pode me provocar, eu posso até mesmo ir contra o que acabei
de falar. Como diria Justin Bieber: Never say never.
Entro na arena e totalmente autorizada para entrar, e eu
estive em jogos aqui, mas nunca vim por esses lados dos
bastidores. Se eu me perder, eu mato o Tyron.
Vou seguindo as placas, porque se perder lendo elas, seria
humilhação demais. Mas eu poderia facilmente ter esse problema.
Escuto o barulho de bola e o assovio que faz o tênis no chão
liso da quadra. Empurro a porta e vejo-o jogando sozinho. Não tem
ninguém, e é muito estranho ver esse local vazio, parece ainda
maior.
Ele para segurando a bola e me olha.
— Estou aqui, Sparks. Qual o motivo disso tudo? Saiba que
atrapalhou meu passeio turístico! — Sorrio.
Faz uma careta. Ajeito a bolsa e a sacola da loja.
— Não resistiu e comprou uma camiseta? — pirraça.
— Claro que não. É para o jogo dos Tigers, o novo casaco.
Oliver anda mão de vaca demais, e não faz o mínimo pela irmã dele
— minto e ele parece acreditar, porque parece se decepcionar, mas
posso estar louca.
— Não importa... Você tentou jogar em uma quadra de rua. E
em uma quadra fechada, da Golden, já tentou?
Meus olhos brilham.
— Mentira! Sério? Nunca nem me convidaram para isso.
Acho que podem ter medo de eu ser talentosa demais e roubar a
vaga deles.
Sou péssima em esportes.
— Não exagere! Deixe suas coisas ali. Temos uma hora livre
aqui.
— Abusando dos poderes de fama? Pensei que tivesse
chamado a atenção do Oliver com isso. — Coloco minhas coisas em
um dos assentos.
— Não. Só pedi para ficar um pouco aqui. A educação faz
milagres, sabia?
Olho para ele e reviro os olhos.
— Vamos lá, Sparks, o que pode fazer por uma jovem
desprovida de altura perto de você?!
— Muitas coisas. — Me olha de lado.
— Deixe de ser safado! Vamos, quero jogar. Sério, me
animei! — Bato palminhas, e ele ri. — Ainda bem que estava de
tênis já. O destino me preparou.
Ele sorri e arremessa a bola, acertando como sempre, e seu
olhar me lança um desafio, repleto de divertimento. E é nessa vibe
que entro nas loucuras dele, e começamos a jogar, ou pelo menos,
eu tento.
Diferente de Orlando, aqui existem risos, olhares mais
confiantes, uma emoção diferente e muita adrenalina sentimental.
Eu me sinto vivendo um momento especial demais, que eu vou me
lembrar sempre.
Tyron poderia estar fazendo qualquer coisa antes do grande
jogo, mas escolheu estar comigo na quadra onde o jogo vai
acontecer, se divertindo comigo.
Tento acertar, mas não acerto uma cesta. E não me
entristece, só me faz rir, porque se na quadra de rua foi um
sacrifício, imagine aqui.
Tento mais uma vez, mas ele me agarra por trás, me fazendo
rir.
— Isso é injusto! Essa eu poderia ter acertado. Está
roubando! — falo.
— Não teria acertado, princesa!
Nem esse maldito apelido me incomoda mais, porém vindo
dele. Que ódio.
Ele pega a bola e faz uma cesta e retribuo com uma careta.
Pego a bola e tento de novo, mas, dessa vez, ele me pega no colo e
aproveito para acertar, e soltar um gritinho animada, antes de me
virar para ele, que me coloca no chão, rindo. E me beija, inclinando
seu corpo na minha direção.
Enlaço seu pescoço e retribuo ao beijo sem me importar com
nada, mas sabendo que estou louca por ele, o cara que cresci, que
me distanciei, que jurei que nunca me afetaria e que preferiria me
jogar em um vulcão do que lidar com ele.
Eu estou rendida pelo armador e também capitão dos Red
Fire. Ele afasta um pouco dos lábios e me olha, e não quero criar
esperanças, mas vejo um brilho diferente em seus olhos, e isso me
arrepia de um jeito positivo.
— Fez uma cesta, Reed. Acha que consegue mais alguma?
— questiona e nego.
— Foi por milagre, não espere o mesmo milagre seguido.
Rimos e ele torna a me beijar, antes de voltarmos a nos
divertir como os jovens do passado, com provocações, piadas, e
isso me faz lembrar do porquê realmente escolhi minha profissão:
Porque ver os sonhos deles ganharem vida, me fez sonhar e
acreditar que o meu também poderia.
Observo as pessoas conforme entramos na quadra, os gritos,
os surtos de todos. Sorrio fraco, nervoso. Os Red Fire precisam
marcar bem hoje. Precisamos de mais pontos.
O local que mais cedo parecia enorme, agora se torna
pequeno com tantas pessoas. Os Squirrels já estão aqui também,
se aquecendo, dando atenção aos torcedores.
Meu coração acelera quando vejo a primeira fileira ao lado
esquerdo, onde meus pais, a família Reed toda e as amigas da
Kristal estão. É estranho jogar com tanta gente assim especial para
te ver, porque até pela doida e a fofinha que a Kristal anda, criei um
carinho mesmo que em poucas vezes próximos.
— Está tudo bem? — Malcolm pergunta.
— Me diz você?! Quer mesmo me perguntar se está tudo
bem?
Ele sorri.
— Concentração, Sparks! Eu confio em vocês. Deem o
melhor de vocês e será o suficiente. Não pensem demais, só façam
o que sabem fazer de melhor. — Bate em minhas costas!
Assinto e me afasto. Para distrair a cabeça, vou até alguns
torcedores fazer fotos, dar alguns autógrafos. Prefiro não ir até a
turma na primeira fileira, isso vai me deixar mais desconcentrado.
Volto para ficar com o pessoal do time.
— Parece até a final... — Tanner diz ao me jogar a bola.
Giro e salto, arremessando na cesta e me pendurando nela.
— Estou tentando não notar isso, mas fica cada vez mais
difícil. Esses caras são complicados.
— Nem me fale... Merda! Olha o tamanho deles! — Zion se
aproxima pegando a bola. — Mas espero que o Alf amanse eles, já
que está de papo com o inimigo!
Sorrio olhando. Alfred é carinhoso demais, sempre vai ser
assim.
Olho para a primeira fileira, Killian fala com os meus pais e
cumprimenta o pessoal.
— Olha, a jornalista está aqui! — Zion diz e assinto. — Não
vai lá ganhar um beijinho da sorte dela ou do Oliver?
— Vá à merda! — Empurro o idiota.
Oliver me encara e sorri. Jogo a bola na sua direção e ele ri,
se levantando e arremessando, e arrancando um grito de todos, e
sorrisos. Não tem jeito, eu amo esse imbecil. Mesmo que eu saiba
que ele pode estar fodendo sua carreira aos poucos, eu nunca o
largaria, porque vou até no inferno arrastá-lo se necessário.
— Querendo ser um Red, Oliver? — Malcolm questiona.
— Jamais, treinador! — meu amigo responde. — Só
ensinando como se faz.
Malcolm o olha feio e ele ri. Oliver me joga a bola.
— Essa final será nossa! — falo e ele assente.
— Destrua esses caras, ou eu destruo você! — me fala se
afastando e assinto sorrindo.
Olho para os meus pais, que sorriem para mim. Sei que
temos que conversar sobre muitas coisas e eu preciso contar como
as coisas têm terminado, mesmo que saibam tudo por cima. A Sra.
Reed me joga um beijo e pisco para ela, e seu marido sorri
acenando.
Kristal conversa algo com as amigas. Está linda. Usando um
short curto e preto, botas cano curto da mesma cor. Um blusão de
frio por cima, branco. Seus cabelos estão soltos e está com uma
maquiagem leve, mas lábios vermelhos marcantes.
Ela parece sentir meu olhar sobre ela, porque me olha e sorri
tímida.
— Mas é um cachorro mesmo! Está apaixonado demais! —
Alf me empurra e me viro para o idiota. — Foque no jogo, pelo amor
de Deus! Depois pode pedir ela em casamento.
— Sabe que eu posso mandar te sentar no banco, né?
— Não seria maluco. Eu sou o bonitão desse time. A
concentração perfeita que buscam! — O imbecil sorri.
Nos aproximamos do treinador, largando a bola e respirando
fundo. Retiramos os casacos e tento focar apenas no jogo e nada
mais.
E quando recebemos a ordem de nos posicionar, e que a
bola é lançada definindo a posse sobre ela, é exatamente focar no
jogo que faço. Eu não penso em mais nada, ou ao menos tento não
pensar. O marcador começa a contabilizar e tento não ficar
pensando nele. Eu foco no meu time, e na adrenalina que começa a
percorrer minhas veias nesse jogo, para dar o melhor, e conseguir
muitos pontos ao time.
Os passes de bola estão rápidos, e isso é bom, significa um
jogo agitado. Os gritos da torcida, incentivando é o que me move, e
com isso marco os primeiros pontos dos Red sob os gritos do meu
time e daqueles que torcem por nós.
Zion e Tanner se unem em cercar o camisa 01 do time
adversário, o capitão e armador deles, que tomou a posse de bola,
mas ele é bom demais e marca pontos. Empatados.
Tanner xinga e balanço a cabeça para que foque no jogo, é
só o começo. Alf é empurrado forte, e seu corpo vai ao chão, me
levando junto, pois seu peso veio para cima de mim que estava
perto.
— Caralho! — ele xinga e nos levantamos. — Porra, isso foi
falta! — ele grita para o juiz, e seguro-o.
— Segue! O tempo está correndo! — o juiz grita.
— PORRA, JOGARAM MEU JOGADOR! — o treinador
berra.
O idiota que o empurrou se faz de inocente, e já vi que nada
será feito. Só que se é assim que vão jogar para tentar vencer,
podem ser a porra de lendas, mas vão lamber esse chão dos
infernos!
Afasto o Alf, tomando a bola, e arremessando ao Killian, que
se vira, passando para o Zion, que é bloqueado por dois dos
Squirrels, mas consegue sair e arremessar a bola antes do tempo
limite em posse dela, e marca um ponto. Sorrio da cara do time
adversário.
O mesmo que derrubou o Alf, um dos pivôs deles, passa me
empurrando e o olho de lado.
— NÃO ENTRA NESSA, SPARKS! — Malcolm grita.
O treinador deles manda ele calar a boca.
Sim, eles não são fáceis. Se acham sempre os melhores, por
realmente serem, mas não é assim que as coisas funcionam.
Podem ser mais velhos, mas não os qualifica como vencedores
sempre, ou teriam mais títulos que nós.
Recebo a bola e tento arremessar, mas sou empurrado por
um dos alas deles.
Levanto-me sem precisar da ajuda do Tanner, que estava
perto.
— Qual é, porra?! É para jogar essa merda ou ficar
empurrando? — Me estresso.
— Menos cena, cara! — o imbecil grita de volta se
aproximando e me empurra.
O juiz se aproxima junto de outros.
— Vá se foder! Não sabe jogar essa porra! Qual é? Os caras
estão fazendo merda desde o primeiro segundo e não vai fazer
nada, caralho? — grito com o juiz e o infeliz mete uma falta em mim
sem motivo algum.
A nossa torcida começa a vaiá-lo. Pedem uma pausa no jogo.
— Vá se foder! — grito de novo.
Malcolm nos chama. Me afasto irritado.
— Beba uma água e se controlem. Eles querem tirar o
controle de vocês! Foquem na minha voz e no jogo e não na merda
deles. Esse juiz é um bosta. Não podemos perder o capitão do time,
então não revide mais!
Assinto, mas recuso a água. Zion aperta meu ombro.
— Os caras ficam socando a gente e temos que ficar
quietos? Porra! — Killian rebate.
— Façam o jogo de vocês. Sem descer ao nível que eles
querem! Vão. Voltem!
Estralo o pescoço e me afasto nervoso.
O jogo retoma e já tenho certeza de que tem muita coisa para
acontecer até o final dele.

Estamos no vestiário no nosso primeiro intervalo. Cansados


física e mentalmente. Eles vieram para ganhar isso a qualquer
custo.
— Se continuarem caindo nessas provocações, esse jogo vai
terminar com alguém morto! Se eles falarem, se calem. Se eles
forem para cima, deixem que eu resolvo. Fui claro?! — Malcolm
berra.
— Sim, treinador! — respondemos e ele assente.
— Continuem com a mesma estratégia de jogo. E vamos ver
como será esse retorno. Mas se continuarem marcando em cima do
Alf e do Tyron, faremos substituições, antes que isso se vire contra
vocês e sejam expulsos! — avisa.
— Quê?! Aqueles caras fazem merda e eu e o Alf rodamos?
— pergunto e os outros assentem confusos.
— Exatamente! Eu prefiro tirar os dois, do que carregar
ambos em uma ambulância. Espero ter sido claro! — Ele se afasta e
odeio quando faz isso, joga a merda e some!
Eu deveria ter relaxado durante uma semana para aguentar
esse jogo. Bem que a Kristal disse que, pelas entrevistas que viu
deles recentemente, viriam como loucos para cima de nós. Já
jogamos contra eles duas vezes, mas nessa terceira está mais difícil
ainda.

O jogo é retomado, e se eu achei o início intenso, agora


parece pior, depois que descansaram. Deram o quê para esses
caras? Porra!
Pela primeira vez, sinto que nenhuma estratégia de jogo será
suficiente para a bomba que está vindo. Não vieram apenas para
jogar, mas para nos destruir.
Estamos quase empatados, eles estão à frente. Não
podemos perder esse jogo. Olho para o meu time, conforme respiro
agitado, e, quando recebo a bola, sei que não conseguirei essa
cesta, estou sendo bloqueado, arremesso para o Alf, que tenta a
cesta, mas o bloqueador do outro time o impede.
Porra!
Estou começando a ficar novamente irritado. Frustrado. Nem
sempre é sobre ganhar e sei disso, mas isso é um jogo sujo que
estão fazendo!
Agora sei por que o Philip os odiava. Mais uma vez tinha
razão.
O idiota do camisa 01 para ao meu lado e me olha de lado.
Quando observo o meu time, esperando a bola vir, e quando ela
vem tento a cesta, mas o imbecil me impede.
Xingo nervoso, e me afasto.
— Está tudo bem... Respira! — Zion fala ao meu lado, mas
não respondo.
Estamos agitados e a cada repasse de bola, giro, salto,
bloqueio, tudo intensifica. A rivalidade parece crescer cada vez
mais. Mas uma vez a chance de uma cesta em minhas mãos, e
mais uma vez o camisa 01 na minha cola, sei que é o mais novo de
seu time, chegou há pouco, e posso não ser um santo, mas
conheço a fama desse imbecil e o quanto ele ama mexer com o
controle dos outros jogadores.
Um salto, um arremesso, três pontos, é o que deveria
acontecer, se eu não tivesse escutado suas malditas palavras:
— E ainda dizem por aí que seu irmão era seu fã número 1?
O coitado realmente nunca se tocou que não passa de um cara de
marketing? Propaganda demais, Sparks...
Eu erro a cesta.
Meu coração muda o ritmo, parece ficar lento as batidas.
A adrenalina dá lugar ao desfoque.
Tudo muda quando me viro para ele e seu rosto, sua risada é
a única coisa que consigo focar no momento.
Eu apenas sei que fechei o punho e ergui, quando meus
colegas me seguram, e o juiz para o jogo, mais uma vez.
— Se acalma... Se acalma! — eles gritam comigo, me tirando
de onde estou e me empurrando para perto do Malcolm.
Olho para os meus pais, que estão assustados, preocupados.
Os pais do Oliver não são diferentes. O silêncio toma conta de
todos. Ninguém sabe o que foi dito, o que realmente fez o jogo
parar.
Sou empurrado para o corredor, que leva ao vestiário.
Esse desgraçado não tinha o direito... Não esse tipo de
provocação.
Me deixam sozinho e me abaixo, encostado na parede
escura. Respiro fundo tentando controlar a ansiedade que começa a
me dominar. Minhas mãos tremem. Minha boca está amarga e meu
coração volta em um ritmo muito acelerado.
Ninguém tem o direito de usar meu irmão contra mim.
Fecho os olhos e ouço os passos, que param ao se
aproximarem. Ergo o rosto e é o Oliver.
— Malcolm me autorizou a vir. Aquele filho da puta falou do
Philip, né? Desgraçado! Ele não tinha o direito de fazer isso. Eu li
perfeitamente a boca daquele merda quando falou do seu irmão! —
Se abaixa ao meu lado e me abraça de lado. — Respira. Estou aqui,
não está sozinho, cara! Nunca esteve. — Me aperta.
Torno a fechar os olhos.
— Não posso voltar ao jogo... — Minha voz sai baixa.
— Não pense nisso agora. Malcolm vai vir também conversar.
Conseguiram uma pausa mais demorada. Quer falar o que ele
disse? Colocar para fora?
Nego e ele apenas sussurra um “tudo bem”. Oliver fica
abraçado em mim, sem se importar com nada.
— Sabe, Philip teria mandado você socar a cara desse cara,
e seus pais diriam: “Philip, tenha modos!”.
Acabo rindo fraco e ele também.
— Ele estaria nesse jogo. Principalmente se soubesse que
sua irmã está aqui. — Minha voz embarga.
— Estaria, e sabe o que mais? Estaria orgulhoso pra caralho
de você, porque eu estou... Todos nós estamos. Você é um cara
incrível e temos muita sorte em ter você! — Bagunça meu cabelo já
bagunçado.
Respiro fundo, me acalmando um pouco mais.
— Se não tivessem me parado, eu teria feito uma enorme
merda.
— Eu sei... Mas nem teria como te julgar. Malcolm logo
também será expulso, arrumou confusão com o treinador deles.
Provavelmente vocês precisarão do assistente dele, se não for
expulso junto. Ah, e Kristal provavelmente não assistirá mais o jogo.
Olho para ele, que ri.
— O que ela aprontou?
— Digamos que a garotinha dos meus pais, resolveu mandar
o jogador tomar na porta dos fundos dele, e quando o juiz chamou
sua atenção e o treinador dos Squirrels mandou ela se colocar no
lugar dela, ela pode ter mandado eles irem se foder. E talvez as
meninas tiveram que segurar ela e a levaram para o banheiro, para
acalmar a fera. Meus pais acham que ela perdeu o juízo e os seus
que terão que tirar ela e você da cadeia.
Balanço a cabeça.
— Chame ela, por favor.
— Tem certeza? — Sorri e assinto. — Vai ser um grande
jogo, Tyron, mas só será divertido se você estiver naquela quadra.
Eu vim ver meu irmão jogar, só que, se você ficar aqui dando a eles
o que querem, eu serei obrigado a vestir sua camisa para levar esse
time a final! — avisa e acabo sorrindo. — Amo você, idiota. Respira
e vou trazer a coisinha maluca.
— Amo você! — falo e ele se afasta.
Me levanto respirando melhor e mais calmo. E sigo para o
vestiário, onde me sento no banco e apoio os braços sobre as
pernas, inclinando o corpo para a frente.
Controle.
Foco.
Não cair nas provocações.
Mãos apertam meus ombros, e não só elas como seu
perfume me fazem reconhecer rapidamente quem é. Ela caminha
parando na minha frente, se abaixando e ficando entre minhas
pernas.
— Malcolm está tão estressado, que nem conseguiram
impedir a ordem dele de me deixar vir. Porque não querem deixar
mais ninguém vir para cá. Nem ele pode sair de lá. Queria vir.
Mandou dizer que você decide.
Encaro seu rosto e é como sentir a paz em meio à
turbulência. Ela fica de joelhos e se inclina me abraçando. Agarro
seu corpo, inalando seu cheiro: o meu favorito.
— Se quiser, a Vicky assiste séries policiais. Faria um crime
passar despercebido por aqui — brinca e sorrio.
— Não vai precisar, se continuar arrumando mais confusões
que eu. Pode se controlar?
— Depende. — Me encara, ainda agarrada a mim, e balanço
a cabeça rindo. — Quer voltar ao jogo?
— Quero. Preciso voltar a ele. — Acaricio seu rosto e ela
sorri.
— Então volte e mostre quem é o melhor! — Beija meu rosto.
Se afasta, levantando-se e estende sua mão. — Vamos?
Respiro fundo e seguro sua mão, levantando-me.
— Um beijo me acalmaria mais — falo e ela ri.
— Quem sabe depois do jogo. Foco, Tyron Sparks!
Sorrio sentindo-me muito melhor. Em paz.
— Irei cobrar, Reed. — Ergo a sobrancelha.
— Vou aguardar! — Pisca e sai me arrastando, porque me
permito ser levado por ela.
Estou pronto para tentar enfrentar esse jogo de novo. Eu só
preciso bloquear minha mente das provocações. Manter o controle.
O jogo segue completamente difícil. Mas falta pouco para o
final e conto os segundos para isso finalizar, pois não sei se terei
coração até o final, ou se conseguirei me manter sem ser presa.
Minhas amigas se sentaram uma de cada lado meu, e meu
irmão trocou de lugar, sentando-se atrás de mim, e tudo isso como
forma de me bloquear, para não voar em cima de alguém. Sou o
quê? Um bicho? Eu queria ter o controle dos meus pais e deles,
que, mesmo nervosos, se mantém com classe.
— Meu Deus! Falta muito para o final disso? A Kristal vai ter
um ataque.
— Dez minutos. E nem com os Tigers ela fica desse jeito.
Que traição! — meu irmão responde a Cherry. — Eu espero o dobro
disso amanhã por mim! Ouviu, Kristal Reed? — provoca e nem
respondo.
Não estou traindo o time que amo, certo? Eu só estou sendo
justa com os Red. Não tem nada a ver com o Tyron também...
Merda, estou enganando somente a mim!
Eu quero que eles ganhem e o Tyron mostre que é o melhor
para esses loucos!
— Não está com calor com essa blusa? — Vicky indaga e
assinto.
Estou, mas não vou tirar a blusa de frio... Não ainda. Eu
realmente vim a esse jogo para aprontar, só não imaginei que iriam
torturar tanto o Sparks psicológica e fisicamente. Agora estou até
pensativa se apronto um pouquinho ou não para descontar a
mensagem que me mandou na loja.
— Gente, que inferno! Que dez minutos mais demorado é
esse? E eles estão empatados de novo. Porra! — reclamo
agoniada.
Minhas pernas balançam cada vez mais. Meus olhos
perseguem os pontinhos vermelhos na quadra. O controle para não
roer as unhas está forte, apenas por ter pintado elas hoje, antes do
jogo, e estão lindinhas.
Não consigo nem ao menos olhar o marcador. Meu
nervosismo não me permite isso agora.
— Vai... Tyron... Caralho... Arremessa... Serão dois pontos a
mais e terá tempo para tentar mais uma... Porra! — Oliver grita
nervoso.
Olho de relance para trás e ele dá de ombros. E depois a
nervosa sou apenas eu.
Tyron arremessa e marca dois pontos, arrancando gritos de
todos. Menos de mim, estou paralisada. Malcolm grita desesperado.
Mais um... Só mais um para ficarem mais à frente ainda.
Zion está com a bola, o repasse dele fica complicado, estão
cercando muito. A coitada da perna da Cherry deve estar sofrendo,
porque aperto a dela. Enquanto sinto Vicky apertar a minha. As
mãos do Oliver pousam em meus ombros. Alf consegue pegar a
bola, e lança para o Tanner, que se desvia do adversário, e manda
para o Killian, que conseguiria a cesta, mas está sem saída. Eu
arrisco olhar o marcador. Segundos, faltam segundos.
Tyron recebe a bola, o camisa 01 do time adversário tenta
impedi-lo, mas ele é mais rápido e marca mais um ponto quando o
marcador para a vitória é certeira aos Red Fire.
Todos começam a gritar, e eu apenas sinto o alívio vir junto
do ar que estava prendendo.

SQUIRRELS 98 X 101 RED FIRE

Nossa família resolve perder a pose de cheias de classe e se


levantam gritando. Oliver pula por cima de mim e corre para junto do
amigo.
— Gente... Que loucura! Que isso? Eu não quero nem assistir
uma final pessoalmente depois disso aqui! Eu juro que achei que
não conseguiria usar os ingressos do show mais tarde! Porra, eu
quase morri! — Vicky grita e Cherry e eu rimos.
Os meninos são cercados pelo time, familiares, amigos. É
sempre bonito ver isso. Retiro a blusa de cima, indo contra o meu
“nunca”. E sob os olhares chocados das minhas amigas, eu entrego
a blusa a Cherry.
— Eu nem sei o que dizer. Está rendida demais!
— Não é nada disso, Mascotezinha! — aviso.
Nos levantamos e elas estão com minhas coisas. Tyron se
desvia do pessoal e me olha. Seus olhos arregalam antes dele
começar a sorrir e, então, a rir.
— Eu vou vomitar! — Vicky grita e Cherry ri.
— Pensei que nunca faria isso, Reed! — avisa se
aproximando cada vez mais.
— O retorno da sua mensagem.
Mais um passo.
Um empurrão das minhas amigas me leva totalmente a ele.
— Sabe o que quero fazer com você por isso, né?
— Posso imaginar! — revido.
Meu coração está muito acelerado e não mais pelo jogo.
— Tem certeza de que quer me provocar bem aqui?
Imprensa, família, torcedores... Tem certeza disso, garota?
— Está falando demais, Sparks!
— Diabólica! — Me puxa pela cintura. Seus olhos prendem
nos meus. — Você é muito doida!
Começo a rir e fico na pontinha dos pés, quando seguro seu
rosto, e ele se inclina me beijando. Os gritos e assobios não são
mais pelo time e eu sei disso. Mas nada me importa, porque mais
uma vez estou fazendo o que senti vontade, e não o que esperam
de mim ou o que acho que vai agradar todo mundo.
E acho que é uma das melhores coisas que faço, porque eu
estou apaixonada por ele. E vestiria mil vezes essa camiseta com
seu nome e número, para ser beijada assim.
Ele me ergue e enlaço sua cintura com as pernas. O riso
escapa entre o beijo, porque o que seria uma mentira está se
tornando real em relação aos sentimentos que nos unem.
— Louca... E gostosa pra caralho com essa camiseta.
Vermelho é sua cor, Kristal.
— Só não vou retrucar para não estragar o momento. E saiba
que... — olho de relance para trás de nós — nossos pais estão em
choque e Oliver rindo. Ah, e seu time fazendo corações com as
mãos e te provocando.
— Foda-se. — Torna a me beijar, descendo meu corpo. —
Preciso cumprir os protocolos. Nos vemos depois daqui?
Assinto e ele se afasta, e minhas amigas se aproximam.
— Para, eu quero um jogador também. Que sexy! — Vicky
diz e começo a rir.
— Achei romântico. Droga, vou chorar! — Cherry resmunga.
Olho para os nossos pais e sorrio sem jeito. Mas seguem em
choque e começo a me preocupar.
Meu irmão se aproxima.
— Que traição imensa, Kris. Quero saber qual das outras
duas pode me presentear com um show do tipo amanhã? Estou me
sentindo triste! — provoca minhas amigas.
— Nem morta! — Vicky rebate.
— Não quero ver um jogo tão cedo! — Cherry fala e sorrimos.
Oliver me puxa para os seus braços.
— Está feliz? — pergunta e não preciso pensar para assentir.
— Então é o que me importa. Mesmo que esteja usando essa
camiseta absurda! — Beija meu rosto.
— Não seja ciumento, Oliver. Uma vez Tigers, sempre Tigers!
— falo rindo e ele assente.
— Vamos? Mais tarde temos um show. Tenho mais dois
ingressos, topa ir? — Vicky pergunta a ele.
— Claro. Nunca faz nada de bom por nós, Diablo. Temos que
aproveitar quando faz!
Ela o empurra e começo a rir. Me afasto, grudando na minha
loirinha.
— Então, não quer ver mais nenhum jogo? — cochicho em
seu ouvido, conforme andamos.
— Pode parar, Kristal! Nem vem!
Suas bochechas ficam bem vermelhas, quando caminhamos
para fora da bagunça. Mesmo eu sabendo que não sairei daqui com
eles, pois preciso falar com Zachary como combinado.

Depois de todas as emoções, e pouco me importando pela


primeira vez com o que dirão, eu entro na sala onde mandaram eu
esperar o presidente, que logo chegaria. Não escondi a camiseta,
isso não mudaria nada agora. Antes inventaríamos uma coisa para
me ajudar, agora é algo real, e ainda assim não usarei disso para
tentar consertar essa bagunça.
A porta da salinha pequena, de descanso, se abre e o
homem entra sozinho e isso já é ótimo. Porque, sem sua corja o
acompanhando, parece que tudo fica mais fácil de lidar.
Me ajeito na cadeira. Apenas as meninas sabem o que vim
fazer aqui, contei um pouco do que está acontecendo a elas. Pedi
para enrolarem todo mundo, que depois me encontraria com eles.
Nossos pais querem almoçar conosco amanhã, já que ficam para o
jogo do Oliver, então temos a noite hoje livre.
— Senhorita Reed, como vai? — indaga ao se sentar na
cadeira perto da pequena mesa ao lado. Ele abre o paletó e me
encara.
— Bem. Obrigada por questionar. Espero que o senhor
também esteja bem.
Ele assente.
— Bom, não consigo imaginar o que gostaria de falar comigo,
ao ponto de insistir por uma reunião. Tendo em vista que sua chefe
me ligou cancelando de vez sua participação na Golden, pois
recusou ficar aqui nas circunstâncias atuais. Eu diria até que foi
muito egoísta de sua parte e orgulhosa demais, levando em
consideração que Tyron Sparks tentou lhe ajudar e seria uma ótima
proteção a senhorita mediante o escândalo armado, e seria um
início de carreira perfeito, desde que seguisse ordens.
Sorrio. Só pode ser brincadeira.
— Minha carreira não começou agora por causa da Golden,
Sr. Rice. No momento em que eu me formei, que entrei na Sport, ela
já havia começado. Aqui é só mais um degrau nela, não o topo final
— falo mais calma do que imaginei que poderia ser. Ele faz uma
cara de preguiça, de papo cansativo. — Eu nunca aceitaria trabalhar
com vocês apenas porque o senhor confiou na palavra do Tyron...
Um homem, e não na minha. Eu nem tive chances de abrir a boca e
me defender sobre tudo.
— Senhorita, ainda é jovem demais para entender como as
coisas funcionam. Tenho respeito por sua família, e a senhorita
deveria aprender com eles como os negócios funcionam. Acha
mesmo que eu ou qualquer outro aqui acreditaria que a senhorita
não teve nada com aquele jornalista merdinha? Acha mesmo que eu
confiaria em alguém que está o tempo todo sendo massacrada na
mídia? Sabe por que eu aceitei o que o Sparks disse? Porque
estava cansado, sem cabeça para ficar com mais papo mole. Mas,
se a senhorita não quer continuar, o problema não é meu. Até
porque, pelo showzinho que deram naquela quadra, algo me diz que
qualquer boato que percorra os bastidores sobre a senhorita, seria
difícil de dizer o contrário.
Começo a rir e ele me olha confuso. Levanto-me, rindo sem
parar.
— O senhor está insinuando que eu estar com o Sparks é
parte do meu jogo? Pois saiba que só tem um jogo acontecendo
aqui e quem o joga é o senhor e seus ratos! — Paro de rir. — Eu
não tenho que lhe provar nada, porque o senhor sabe que eu não
tive nada a ver com isso, e sabe como eu sei disso? — Ele me olha
sério. — Porque não perderia tempo em aplicar a multa na Sport.
Não o fez, quis fazer qualquer acordo ridículo. E claro, agora eu
entendo tudo. Isso foi a desculpa perfeita para me tirar fora do seu
jogo, onde move as peças, e eu virei uma delas, correto? E tudo por
que está com medo de eu descobrir mais merdas? O senhor sabe
que tenho ouvido muitas coisas... — Abro os braços. — É óbvio...
Como não reparei nisso antes! Sabem de toda merda que falam
sobre mim, sabe que eu não aceitaria o que o Sparks fez e que eu
desistiria. Então as suas duas jogadas foram: ou me manter por
puro machismo; ou manter a Sport por ameaças, tirando o direito da
imprensa de se expressar!
Ele se levanta nervoso.
— Escute aqui, Srta. Reed...
— NÃO! — grito. — Escuta aqui o senhor! Eu não cheguei
até aqui porque meus pais ou irmão me trouxeram. Eu caminhei
nisso sozinha. Se estou ou não com o Sparks, não afeta em nada
na minha vida profissional, porque ela não é moldada por relações
afetivas. — Minha voz é firme, eu não tremo uma única vez. — Sabe
por que tem medo de me manter? Porque tem pavor que eu grite
por aí o quanto o senhor e sua corja brincam com os sonhos das
pessoas. O quanto usam dos jogadores de times de marionetes.
Que se chegar alguém que pague o dobro, esses saem com uma
mão na frente e outra atrás. O seu medo é que eu derrube sua
máscara. É tão grandão, homem, que está com medo de perder
tudo por causa da garota com “a carreira ainda começando”. —
Sorrio. — Quer saber? Eu não preciso disso aqui. Eu não preciso
me sujeitar a isso aqui. Eu mereço mais, Sr. Rice. Muito mais que
benefícios, acessos e exclusividades. Eu mereço respeito. Eu
mereço pessoas que me valorizem de verdade, e não sejam sujas o
suficiente ao ponto de terem pânico de manter minha profissão por
perto.
Pego a minha bolsa ao canto.
— Onde pensa que vai? Essa conversa não terminou! — grita
nervoso.
— Eu não perderei mais tempo e nem tomarei mais o seu.
Bastou poucas palavras vindas do senhor para eu saber que não
importa o que eu falar, não vai me ouvir. Porque tem medo desse
jogo de dinheiro ir por água abaixo por minha causa. Mas sabe
quem fará isso? Não serei eu. Será aqueles que diz confiar, porque,
do mesmo jeito que senta com as cobras para derrubar alguém, elas
não perderão tempo em sentar-se sem o senhor para lhe derrubar
quando precisar, começando por seu vice-presidente, que comanda
mais isso aqui que o senhor. Passar bem!
Saio da salinha, deixando-o com sua expressão de choque
para trás. E mais uma vez com uma sensação de paz.
Estava na cara esse tempo todo. Aaron, Richard, nunca
foram os reais motivos para esse circo todo da Golden. Mas sim o
medo de que eu abrisse a boca, porque sabem que eu já peguei
muita coisa por aqui.
Vejo as mensagens no meu celular, todos me procurando,
pelo jeito Cherry e Vicky foram péssimas em esconder. Aviso que
estou indo para o hotel. Eu vou curtir minhas amigas, família, minha
própria presença, que é o que mais me importa nesse momento.
Observo a garota se arrumando na minha frente, enquanto
estou sentado no sofá, bebendo uma cerveja. Suas amigas estão
em nosso quarto também, e Oliver está ao meu lado. Conseguimos
despistar nossa família hoje, com a promessa de que amanhã
seríamos deles.
Elas se aprontam para o show, uma banda que estourou
muito nas redes sociais e está crescendo cada vez mais. Oliver
bebe ao meu lado, deitado no sofá, com as pernas em cima de mim.
— Ela sumiu por um tempo. Por que eu sinto que minha irmã
estava aprontando?
— Porque estava. Tenho certeza. Mas se ela não quiser falar,
não é algo a qual devemos nos meter.
— Wow! Calma aí, futuro cunhado! Já começou a
defensoria? — me provoca e rio bebendo mais um pouco da
cerveja. — O bom, que qualquer papo insuportável vindo das
nossas famílias, vocês quebraram, pois vão querer saber de vocês.
Nem me fale. Kristal e eu viramos foco na família Reed e
Sparks, e no país!
Ela ajeita o vestido vermelho curto, de alcinha, sendo a
segunda a ficar pronta. Já que Cherry foi a primeira, e está deitada
na cama, esperando sua prima, que ainda enche a cara de coisas.
— Vicky, vai demorar quantas horas nisso? — ela pergunta à
prima e sorrio.
— Tempo necessário para garantir que tudo que eu colocar
nela, vai durar a noite toda, e no caso de eu sair para transar.
— VICKY! — Cherry e Kristal chamam sua atenção.
— Como ela consegue ser tão cara de pau? Ela supera até a
mim! — Oliver fala, e assinto.
— Estou ouvindo, idiota! — ela grita.
Cherry faz aniversário amanhã e vão começar a comemorar
hoje. Mas passarão um tempo juntas depois, só elas, do jeito que eu
realmente acredito que a loirinha deseja.
Kristal se aproxima, se sentando no braço do sofá, mas
empurro as pernas do seu irmão e a puxo para o meu colo.
— Ei... Porra, mas estou sendo bem traído hoje! — Ele se
senta.
— Cale a boca, Oliver! — falo terminando minha bebida.
Oliver se levanta e entrego a garrafa a ele, que pega me
xingando.
— Pronto, seus apressadinhos. Estou pronta. Como estou?
— Se vira para nós.
— Linda. Agora podemos ir? — Oliver com sua paciência
limitada pede, e ela assente rindo.
Ele puxa Cherry da cama, que solta um gritinho.
— Ele realmente não nota... É incrível! — comento e Kristal
assente.
— Nem me fale... Nem me fale! Vamos! — Se levanta e faço
o mesmo.
Pego minhas coisas, enquanto eles vão saindo do quarto.
Kristal me espera e quando me aproximo da porta, ela fecha e se
vira para mim, sorrindo. A diabólica se aproxima, ficando na ponta
dos pés, mesmo com saltos, e se pendura em meu pescoço. Puxo-a
pela cintura, e ela ri.
— Está linda... — falo com a boca próxima a sua.
— Depois do show podemos nos divertir... Só nós dois... O
que acha? — diz e sorrio.
— Eu vou te tirar desse show antes dele acabar. Pode
apostar nisso.
Garota dos infernos!
Aperto sua bunda, e ela solta uma respiração mais intensa.
Forte.
Beijo sua boca, apertando seu corpo, e subindo a mão por
baixo do seu vestido, tocando a pele da sua bunda e sentindo a
calcinha fio dental que utiliza. Acerto um tapa forte e ela geme em
minha boca, me deixando duro.
— Precisamos mesmo estar nesse show? — sussurro e ela
assente. — Espero que pense em uma boa desculpa para sairmos o
quanto antes dele e podermos voltar para eu te foder bem gostoso!
— as palavras são ditas em seu ouvido.
— Merda... Eu já estou pensando... Vamos logo!
Ela se afasta nervosa e sorrio, vendo-a ajeitar o vestido.

O show está cheio e estamos no camarote. Entre bebidas,


curtindo a música, aproveitamos a noite juntos. Nos divertindo com
as provocações e as maluquices que surgem.
— Cherry, vai poder encher a cara. Prima, não poderá mais
ser minha motorista! — Vicky fala já bem altinha.
Cherry a olha e balança a cabeça.
— E ainda me pergunto como eu a aturo! — revida e
começamos a rir.
— Está vendo? Está deixando a Cerejinha com a língua
afiada. Isso é convivência com você! — Oliver culpa a morena, que
pisca para ele e ri.
— Eu nunca fui santa, Oliver! — Cherry revida.
— E nem precisa beber para estar bem afiada... Amiga,
melhor nem ingerir álcool! — Kristal comenta e Cherry sorri
timidamente. — Deixem a menina em paz. Seus insuportáveis! —
defende a amiga.
Encosto-me na parede, bebendo a bebida que pegamos, e
Kristal encosta em mim. Passo a mão por sua cintura. Aproximo o
rosto do seu pescoço e beijo sua pele.
— Ah, pronto. Serão casais melosos! Cherry, te proíbo de me
abandonar também! — Vicky fala. — Vou descer, curtir lá da pista.
Quem vem?!
— Espere! — Oliver diz, olhando a hora no relógio. — Só
mais um pouco... E parece que temos alguém mais velha por aqui!
— ele avisa e Kristal se afasta de mim, correndo para cima da
amiga.
— Feliz aniversário, minha linda! Nossa mascotezinha
perfeita. — Kristal a enche de beijos e Cherry sorri.
Vicky se aproxima delas e puxa a prima a agarrando.
— Finalmente a idade da putaria geral chegou! Cresceu
tanto, minha baby. Nem acredito que agora pode fazer mais merdas,
não que eu espero que faça! Prima, se inspire na Kristal, nunca em
mim! — Ela puxa a Kristal. — Amo vocês, suas perfeitas! Feliz
aniversário!
— Obrigada, meninas. Sério. E não se preocupe, Vicky, nem
passou pela minha cabeça ser como você. Também amo vocês! —
diz sorridente.
Sorrio da cena, porque é bonita a amizade delas. Kristal e
Vicky se afastam e me aproximo, abraçando a loirinha.
— Feliz aniversário, Cherry! Que seja uma fase incrível —
desejo a ela, que agradece bem mais tímida, e me afasto.
Kristal abraça a Vicky de lado, ficando emotiva pela amiga
aniversariante. Oliver se aproxima da Cherry e a abraça. É nítido o
quanto Cherry fica mais tímida, pois suas bochechas ruborizam
muito mais.
— Feliz aniversário, meu amor. Não confie em nada do que
elas mandarem você fazer, Cerejinha! Elas são loucas... Confie em
mim! — Ele beija seu rosto, se inclinando, ficando mais próximo, já
que Cherry é ainda mais baixinha que as outras, e perto de nós
some ainda mais.
Porra, Oliver. Jura que não nota nada? Caralho. Até eu já
notei isso, porque é como eu me sinto com a Kristal... Espere?
Quê?!
Engulo em seco e olho para a minha diabólica, que lança um
olhar a mim, e meu coração acelera muito.
É... Porra, é exatamente como me sinto com a Kristal. Eu me
apaixonei por quem nunca nem cogitei isso.
Ele se afasta da Cherry, que agradece quase sem voz e toda
desconcertada. Vicky pede para irmos até a pista, comemorar lá
embaixo, e todos topamos. E acho que será um jeito da
aniversariante surtar menos, porque depois do Oliver, eu sinto que
ela poderia explodir.

Empurro o corpo da Kristal para dentro do quarto, e ela ri.


— Elas acham que tive dor de barriga. Sério, me fez mentir
para as minhas amigas e confiar que o meu irmão vai cuidar delas.
A que ponto chegamos, Tyron!
— Deveria ter pensado nisso quando me provocou antes de
sair, e quando ficou dançando se esfregando em mim. — Arranco a
blusa e os sapatos.
Porra, se o objetivo dela é me deixar louco hoje, está
conseguindo.
Ela larga a bolsa e ri, enquanto se senta aos pés da cama,
apoiando as mãos sobre ela e abrindo suas pernas.
Não estamos bêbados, mas o álcool deu um gás a mais ao
tesão e às provocações. Ela me olha toda safada, enquanto retiro a
calça, dando um fim a ela, e a cueca logo em seguida. Meu pau está
duro, grande, querendo entrar o quanto antes na garota à minha
frente.
— Tire o vestido, Kristal. Agora! — falo e ela morde o
cantinho da boca.
Se levanta, dando um fim na peça, e revelando seus seios
nus e a calcinha vermelha e pequena.
Me aproximo, ela me analisa ansiosa.
— Se vire... e se incline para tirar suas sandálias. Agora,
Kristal... — aviso e ela ofega.
Ela se vira e se inclina exatamente como pedi, e começa a
abrir as sandálias, me dando uma visão de sua bunda empinada e a
calcinha se perdendo nela. Me aproximo mais, segurando sua
cintura com uma mão enquanto roço meu pau no vão de sua bunda
com a outra mão e ela geme alto.
— Vamos, Kristal... Foque em tirar as sandálias! — Passo
mais uma vez meu pau e gemo junto dela.
Ela retira rapidamente, e empurro seu corpo para a cama. Ela
sorri, virando o rosto para mim, e porra eu preciso meter nela logo.
Seus cabelos despencam para o lado, quando afasto o fio de sua
calcinha e abro suas pernas, vendo o quanto está encharcada.
— Caralho... Eu não vou conseguir pegar leve...
— Não quero que pegue! — A peste se empina mais, colando
o rosto no colchão e me deixando mais louco ainda. — Vem, Ty...
— Filha da puta!
Seguro sua cintura com força, puxando o fio da calcinha de
novo para entrar nela, e, quando meu pau sente a sua umidade,
perco todo o controle de vez e deslizo de uma vez para dentro dela,
preenchendo sua boceta.
Kristal geme forte e não sou diferente. Não existe beijos,
olhares... Só queremos foder bruto hoje. E é o que fazemos. Eu
meto forte nela e ela choraminga muito excitada, gritando por mim.
Meu pau entra e sai dela rápido, bruto, comendo-a sem pensar em
mais nada.
— Ai... Isso é bom... Meu Deus! TYROON! — ela grita
desesperada.
Eu seguro seu corpo com ambas as mãos, e controlo ele,
trazendo-o até meu pau, em movimentos de vai e vem. Kristal se
agarra nos tecidos da cama, enquanto seu corpo se choca com o
meu. O barulho do meu pau entrando em sua boceta e sua bunda
batendo nas minhas bolas é alto.
Como pode ser tão gostosa assim? Merda!
Empurro de uma vez seu corpo, e com ela ainda de bruços,
eu fico por cima, suas pernas afastadas e eu sigo penetrando-a.
Minha boca em seu ouvido, minhas mãos prendendo as suas agora.
— Essa bocetinha é só minha... Está me entendendo?
Ninguém mais tem o direito de tocar em você... Pensar em você...
Você é completamente minha, Kristal Reed! Só minha! — falo forte,
firme. Foda-se o que acontecer daqui para a frente. Isso é uma
promessa.
Ela fecha os olhos gemendo mais, com seus lábios abertos.
A maquiagem borra, os cabelos molham-se pelo suor que surge em
ambos.
— Só... sua... Tyron...
Minha boca ainda está próxima ao seu ouvido, e meus
gemidos presos a ele. E dessa vez foda-se se outros podem nos
ouvir. Hoje, exatamente hoje, todos devem saber que essa garota é
minha e eu sou totalmente dela.
Ela me aperta com sua boceta, seu corpo contrai me
deixando a ponto de explodir. Ela grita em um choro de desespero,
quando o orgasmo a domina. Meu pau é apertado ainda mais e não
aguento, explodo dentro dela, gozando e sentindo seu gozo se
misturar ao meu.
Eu fodo-a até não ter mais nada. Até ambos termos chegado
ao limite. Até ela me implorar para parar. E só assim eu saio de
dentro dela e deito ao seu lado, dando ar e calmaria a minha garota.
Ela continua na mesma posição. Estamos muito ofegantes e
vermelhos. Seu sorriso preguiçoso é lindo e não preciso que diga
nada, porque ele é tudo que preciso.
Olho para o meu pau todo melado e depois para ela, e sorrio.
Ela estende sua mão para mim e seguro, entrelaçando nossos
dedos. E levo à minha boca, onde deixo um beijo em sua mão.
Beijo seus lábios com calma, e, porra, eu realmente tenho
certeza sobre tudo isso.
O almoço com todos não poderia ser menos caótico, onde
não importa quem estiver presente, Kristal e eu nos tornamos o foco
principal. Já era esperado.
— Então estão namorando e não pensaram em nos contar?!
— Karen questiona e minha mãe concorda.
— Quem está namorando? Ninguém está namorando! —
Kristal rebate rápido e vira seu suco de uma vez.
Oliver e suas amigas escondem o riso do outro lado. Meu pai
e o dela nos olham à espera de uma resposta e nossas mães ficam
ansiosas em seus olhares repletos de expectativas.
— Estamos deixando acontecer... Podemos mudar de
assunto? — indago e Kristal assente concordando comigo.
— Que diabos é “deixar acontecer”? Algum código para
“serão vovôs em breve?” — meu pai pergunta e Kristal se engasga,
enquanto dou leves tapas em suas costas.
— Não são nem malucos! Deus do céu... Acho que vou ter
um ataque! — minha mãe fala se abanando.
— Paige, não serão avós. Eu acho... — Oliver diz e o fuzilo
com o olhar. — Estou tentando ajudar!
Cherry o cutuca e ele dá de ombros.
— Que clima perfeito está hoje, não acham? — Vicky tenta
mudar o rumo da conversa.
— Não vai nos enrolar! Vicky Foster, nem se meta! — Steven
diz a ela, que sorri. — Dão um show daqueles no final do jogo e não
querem que façamos perguntas? Não estamos falando de quaisquer
pessoas... Estamos falando de Kristal e Tyron, que se odiavam.
— Prevíamos isso! — Karen diz e eles concordam. — Mas é
chocante!
— Mas não é só isso... Existe toda uma mídia, nomes... Isso
é algo sério... — minha mãe diz e reviro os olhos.
Vai começar.
— Podemos deixar isso para outro momento? — Kristal
rebate. — Somos adultos e acho que o mínimo é confiarem um
pouco mais na gente. Pode ser?
Abaixo o olhar e sorrio fraco.
— Tem razão! Estamos apenas surpresos. Vamos comer,
falar de mais coisas boas! Como comemorar o aniversário da
Cherry! — Karen diz.
— Isso aí! Que tal focarmos em bolo, quem quer um bolo
com velinhas? — Oliver diz e sorrimos. — Deixem os dois. É fofo,
fazer o quê?!
— O boboca aí tem razão! — Vicky ajuda e olho para ela.
Maluca, mas sensata.
— Podemos seguir com um almoço normal? — pergunto e
nossos pais assentem como crianças. — Ótimo.
— E gente, por favor, sem bolo... — Cherry pede, mas é tarde
demais.
Os garçons vêm com o bolo, tem até velas, e cantando
parabéns. O foco sai de mim e da Kristal, e vai diretamente para a
loirinha. Com um Oliver mais animado ao seu lado do que ela
mesma.
— Deveríamos falar que o Oliver que planejou isso de bolo?
— pergunto a Kristal, que aperta minha perna.
— Nem abra a boca. Ela vai dizer que fomos cúmplices e que
não tentamos impedir. Ela não gosta dele? Ature o amor dela, que
gosta de comemorações! — sussurra.
Começo a rir e tento controlar, bebendo o suco.
Cherry assopra as velas e batemos palmas.
— Obrigada, gente. Mas sério, não precisava! Realmente não
precisava — agradece toda vermelha e sorrimos.
— Querida, claro que precisava! Uma nova etapa inicia em
sua vida! — Steven diz a ela e Karen concorda.
— A fase do álcool. Beba muito, priminha! — A morena sorri
muito animada.
— VICKY! — Kristal, Oliver e Karen dizem em uníssono.
— Não se preocupem. Nada vai mudar... Eu espero... —
Cherry sorri.
O almoço segue uma bagunça entre mandar a Vicky parar,
ou nossos pais tentar controlar as provocações de todos à mesa.
Pelo menos sem estresses ainda. Tirando obviamente a parte que
Kristal e eu estamos com nosso beijo estampado em todos os
jornais e sites de fofocas do país, e nossa sorte é que meus fãs não
chegam ao nível de serem como os do Oliver, que, infelizmente, são
tóxicos muitas vezes, tomando propriedade sobre ele, atacando
toda e qualquer mulher que esteja ao seu lado. Eu amo as pessoas
que torcem por nós, mas limites precisam existir, porque somos
pessoas, temos uma vida, e precisamos seguir com ela.

Depois do almoço, os Reed foram com as meninas dar umas


voltas, antes do jogo do Oliver, enquanto segui com meus pais para
uma parte de cafés dentro do restaurante, bem mais reservada.
Pedimos um café simples. Kristal ficou preocupada quando eu disse
que precisava conversar com eles, mas fiz ela ir com a família,
porque isso é um momento que precisa ser reservado.
Meu pai arruma a manga da camisa, e minha mãe a postura,
totalmente ereta na poltrona à frente, lado a lado com meu pai.
Bebo um gole do café apenas e coloco sobre a mesa de
centro.
— Foi uma surpresa e tanto isso com a Kristal... Filho, não
acha que jogaram rápido demais na imprensa? Se bem que, de
certo modo, abafa mais ainda o caso do jornalista. Que, por falar
nisso, quando Gilbert nos contou essa manhã, ficamos assustados,
e espero que esse jogador sofra consequências de modo igual
também, já que colaborou com o jor...
— Pai, para! — peço encarando-o. — Quando eu falei que
precisava conversar com vocês, é exatamente sobre isso. Preciso
que falem menos e me escutem. Que parem de tentar criar um
assunto e ouçam o que preciso dizer.
— Tudo bem... Está nos preocupando, querido — minha mãe
diz e, assim como eu, deixa o café de lado.
Respiro fundo, pois sempre odiei enrolações.
— Eu quero que parem de se intrometer na minha carreira.
Eu tenho uma equipe jurídica especialmente para isso. Eu não
preciso que sejam meus advogados também. Só sejam meus pais.
As coisas têm chegado em limites extremos, onde se intrometem
até em coisas que não deveriam. Eu sou eternamente grato por
terem lutado pelo meu sonho para que eu chegasse até aqui, mas a
que preço? Vocês não sabem manter uma conversa normal, de pais
normais. O tempo inteiro querem envolver a minha carreira... Olhem
o que tudo isso fez, não conseguem notar? Eu me afasto cada vez
mais por causa disso. Vocês estão me sufocando e não percebem
isso — digo baixo, olhando para eles, colocando a verdade para
fora.
Minha mãe entreabre os lábios e meu pai abaixa o olhar.
— Filho, não imaginava que se sentia assim... Nós só
queremos seu bem, apenas isso — meu pai fala.
— Mas não é o que estão fazendo. Apenas me afundam cada
vez mais na culpa que sinto pelo que aconteceu ao Philip. Uma voz
grita dentro de mim que, se eu não fosse tanto o foco central dessa
família, teríamos notado que ele precisava de ajuda. — Engulo em
seco e eles me encaram. Mamãe com os olhos já marejados e meu
pai sério. — Eu estou tentando melhorar, e todo dia luto contra as
merdas que me assombram. A terapia diminuiu a frequência, e nem
isso notaram, e sabe por quê? Porque, quando estou afastado de
vocês, os gatilhos diminuem e precisei ficar longe para ficar bem.
Hoje não se preocuparam se estou feliz ou não com a Kristal,
apenas na porcaria da minha carreira... — rio nervoso. — Isso aqui
não é eterno. Uma hora a idade vai chegar, ou outras coisas podem
acontecer, e o astro ficará apenas na história, e se ficar... Mas e
minha vida? Eu preciso construir laços, voltar a querer lidar com
pessoas. Sair sem me importar com a porra da minha imagem. Mas
como fazer isso quando vocês dois me lembram constantemente
dela?
Minha mãe enxuga o rosto.
— Sabe, eu invejo os pais dos meus colegas, a família Reed.
E me dói dizer isso a vocês, mas é a verdade. Quando estão com os
filhos, eles brincam, focam em outras coisas que não seja apenas o
esporte, a carreira deles. Vocês dois só sabem me ver como a
imprensa me vende. Quando foi a última vez que me deram espaço
de verdade? Que não ficaram cobrando ligações, ou querendo
saber se saio e com quem saio? Bastou um escândalo para se
intrometerem e tentarem limpar tudo. Essa é a minha carreira, é a
minha vida. Eu não preciso mais de membros na minha equipe. Eu
preciso de espaço, me sentir menos sufocado. Eu preciso dos meus
pais e não dos advogados.
Dizer essas coisas está me aliviando de um jeito que não
imaginei que pudesse acontecer. Mas eu me sinto mais calmo.
— Só queríamos seu bem... Eu sei que passamos do limite,
mas também nos culpamos muito pelo Philip. Ter perdido nosso
caçula deixou um sentimento que não desejamos a ninguém.
Encontrar um filho como encontrei, eu não desejo nem ao meu
inimigo. Cada vez que eu me preocupo e fico em cima de você, é
por medo. Medo de que eu possa lhe encontrar como eu o
encontrei. — A voz do meu pai embarga.
— O problema é que sempre foram assim, e hoje estão
piores. Eu preciso de mais liberdade, me sentir menos sufocado. Eu
amo vocês, mas preciso que aprendam a respeitar meus limites. Eu
não sou o Philip, muito pelo contrário. Eu cresci, estou com quase
trinta anos, uma carreira imensa, dinheiro que não para de cair na
conta, uma fama que mesmo envolvida a recentes escândalos, tem
crescido mais e mais... E nada disso me importa tanto quanto viver.
Poder sentir a liberdade que necessito. Eu amo o basquete, mas
sou mais que um jogador. Eu sou humano, falho pra caramba, mas
necessito continuar vivendo. Quando o meu irmão se foi, uma parte
de mim foi junto, e nos últimos dois anos eu tento me reconectar à
vida, e acho que realmente posso estar começando a ir por esse
caminho... Só que tudo se perde quando eu olho para o que restou
da minha família e sinto que, para ela, eu sou um contrato
milionário, e nada mais.
Minha mãe se levanta e se senta ao meu lado, me abraçando
de lado.
— Filho, perdão... Se eu soubesse que se sentia assim...
Estou tão focada em tentar te manter bem, que acabo te sufocando.
Me culpo muito pelo Philip, todas as noites eu entro no quarto dele e
choro pedindo perdão. Eu nunca vou me perdoar por não ter notado
que meu filho precisava de ajuda, e jamais me perdoaria em saber
que você não está feliz conosco e eu não tentei nada para mudar
isso... Me perdoa, eu amo você e só quero seu bem, mas vou tentar
mudar isso, é uma promessa.
Afago seu braço, sentindo-me acolhido como filho pela
primeira vez.
Meu pai pisca algumas vezes e se aproxima, sentando do
meu outro lado e apertando meu ombro. Olho para ele, que sorri.
— Perdão... — pede com a voz trêmula. — Eu queria muito
ter a chance de pedir perdão ao seu irmão também... Passei a vida
reclamando do meu pai por ser um homem que só me via como o
futuro advogado da família, e jamais foi pai de verdade, e, pelo jeito,
acabei sendo como ele. Perdão, Tyron... É o que posso pedir, além
de tentar melhorar. Não quero que sinta que precisa sumir de perto
de nós para se sentir menos sufocado. Se precisa de espaço, nós
lhe daremos, filho.
Assinto, soltando o ar com calma.
— Mas se precisar de nós, para o que for, estaremos com
você. Posso não ser a mãe que sonha, mas espero poder lhe trazer
mais alegrias. Nossa família já foi destruída demais e não quero
perder mais um filho.
— Eu não quero que sejam outras pessoas. Amo vocês. Só
preciso que respeitem meu espaço e sejam pais apenas, e parem
de tentar controlar minha carreira e tornar dela o foco da nossa
família. — Meus olhos marejam. Meu pai deixa um beijo no topo da
minha cabeça. — Precisamos mudar como tudo está sendo. Não
repetir os erros do passado.
— Seu irmão sentia muito orgulho de você, e com toda
certeza deve estar sentindo agora, e colocando mais lenha nessa
fogueira armada, dizendo que você tem razão em tudo... Porque se
tem uma coisa que aprendi nesses anos como advogada, é que pais
erram, e muito, só que a gente sempre acha que nós somos
diferentes, que com a gente não será assim. Sentimos orgulho por
quem é como pessoa — minha mãe fala com a voz tomada pelo
choro.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Porque tomar essa
atitude em ser sincero com eles parecia muito mais difícil na minha
cabeça, e adiei isso por tantas vezes. No final, apenas vejo o quanto
cada um de nós se culpa de alguma forma pelo que aconteceu e o
quanto, no meio dessa dor, acabamos destruindo aos poucos o que
restou.
— É difícil gritar para as pessoas que estamos bem, quando
na verdade tudo por dentro está quebrado. Então obrigado por
ouvirem e entenderem isso, quando finalmente tive coragem em
admitir para vocês que não estou bem.
— Te amamos e vamos te ouvir, só basta nos dizer. Porque,
às vezes, seremos cegos, presos na nossa bolha de pais teimosos.
Se precisar estourar essa bolha, faça, filho — meu pai pede e
assinto feliz.
É, talvez isso seja a abertura oficial de um recomeço.

Retornamos no carro alugado por eles para o hotel. Estou no


banco de trás, vendo as fotos que Kristal mandou dela com o
pessoal em um parque aqui perto, e parece que Oliver comer tanto
no almoço e quase todo o bolo, e ir em um brinquedo de adrenalina,
não foi a melhor opção. Passou mal, vomitou, e praticamente saiu
carregado, segundo ela.
Sorrio das fotos e falo para ela que nos vemos quando ela
voltar. Eles alugaram um carro também, porque ela e as meninas
querem seguir para Malibu. Eu, infelizmente, amanhã cedo preciso ir
para o próximo destino, já recebi a agenda hoje, mas ver que ela
está bem, me deixa feliz.
— Querido, sobre você e a Kristal, estou feliz. Ela é uma
garota encantadora. Espero que dê certo, seja lá o que for que está
“rolando”.
Olho para a minha mãe e balanço a cabeça.
— Seu irmão surtaria. Ele a amava demais — meu pai
comenta e concordo, porque é verdade. Era o maior fã dela.
Abro a galeria do celular e começo a ver as fotos antigas,
várias com ele. Sorrio, mesmo estando triste por ele não estar aqui,
porque isso é a maior marca que ele deixou: poder tirar sorrisos das
pessoas sempre.
— É... Ele ficaria feliz... Assim como estou.
Nunca saberemos o real motivo de toda a sua dor a ponto de
tentar tirar sua própria vida, mas no que eu achar que posso ter
contribuído a isso, eu quero melhorar, por ele, por mim, e por todas
as outras pessoas que passem por algo assim. Nunca sabemos o
que se passa realmente por dentro de uma pessoa, mas se
existirem sinais eu quero poder notar e ajudar, aprender com os que
não notei e que somente agora percebo.
É impossível não sentir culpa, porque sempre que se perde
alguém a culpa ficará dentro de nós seja da forma que for, ainda
mais se for alguém muito especial. Mas o quanto eu puder lutar para
mudar isso, eu quero fazer. Porque eu quero me lembrar dele
focando apenas nas boas lembranças, na esperança que exista um
outro lugar, e que ele esteja vendo que estou tentando por nós dois.
Eu também sei que é cruel comigo mesmo pensar que posso
ter culpa nisso tudo, já que não sabemos o que lhe motivou a ser ao
extremo. É até errado. Mas não controlo isso, é algo que veio
acompanhado ao luto. Busco evoluir nisso, pensando em fazer
diferente seja no que for, seguindo o que aprendo na terapia, porque
o primeiro passo para buscá-la eu fiz, para lidar com tudo isso com
a ajuda de um profissional.
Observo o pessoal se preparar para o jogo, e estou animada.
Que os Tigers vençam o jogo hoje. Obviamente estou devidamente
uniformizada com a camiseta deles, e até a Vicky se empolgou e
está usando, mas a Cherry não veio. Ela teve uma crise de
enxaqueca, e queríamos ficar com ela, mas pediu para virmos. O
calor na cidade está intenso e andamos muito, eu e a Vicky ficamos
meio mal, mas melhoramos rápido, já ela não. Assim que sairmos
daqui vamos direto ficar com ela.
— Vê se não apronta nada! — meu pai me fala e o olho. — É
isso mesmo. Parece uma doida! Kristal, tenha modos!
— Eu sempre tenho, pai! Credo! — falo completamente
chocada. Eu surto um pouco, mas nada exagerado, poxa.
Tyron está sentado ao meu lado, nossos pais atrás da gente
e a Vicky do meu outro lado.
— Sabe, estou começando a entender esse tal basquete. É
tipo transar. — Olho para ela querendo acreditar que ouvi errado. —
Sim. Meter a boca no buraco da cesta. Mirou? Acertou! Simples.
— Puta que pariu! Cale a boca, Vicky! — falo e ela ri. —
Sério. Você se supera. Quando penso que não pode se superar
mais, você vai lá e solta essa! Meu Deus!
— Você tem cérebro? — Tyron indaga e ela mostra o dedo do
meio a ele. — É, não tem.
Empurro cada um para trás.
— Olá, fãs! — Oliver se aproxima com a bola nas mãos e
sorri.
— Filho, boa sorte. Dê o seu melhor e tente não se quebrar!
E querido, precisa urgentemente dar uma passadinha na clínica da
mamãe, pois está com muitos poros! — minha mãe diz e ele toca o
rosto.
Tyron começa a gargalhar e prendo o riso.
— Mãe! — ele repreende ela. — Me odeiam, né? E você,
idiota! Está rindo de quê? — Chuta o Tyron, que ri mais.
— Oliver, ainda dá ouvidos a sua mãe?
— E por que ele não daria, Steven? Me diz?! — mamãe
revida.
— É, meu amigo, se lascou! — William, pai do Tyron,
constata.
— Querido, boa sorte no jogo! — Paige pede, acalmando o
caos.
Eu e Vicky? Rimos, porque é o que tem de melhor.
— Arremessa para me dar sorte e quero um abraço do meu
amuleto! — Meu irmão joga a bola para o Tyron e me puxa do banco
para me abraçar.
— Acho bom você ganhar! — falo rindo, abraçando-o de
volta.
Tyron passa por nós, para arremessar, e olhamos a bola
atingir a cesta e descer por ela. Acho legal isso deles. Bonitinho.
— Cadê a Cherry? — questiona e sorrio ainda em seus
braços.
— Não estava muito bem. Te desejou boa sorte.
— O que ela tem? O que aprontaram com a menina? — Me
olha preocupado. Pior que ele realmente se importa com ela. Existe
esse carinho.
— Enxaqueca. Ninguém aprontou nada, até porque você
passou parte do dia junto. Vai, boa sorte, gigante! — desejo e ele
sorri para mim, beijando meu rosto.
Me afasto e me sento novamente. Tyron retorna ao lugar.
— Boa sorte, cara. Dê um show — Tyron diz ao amigo, que
sorri para ele, antes de se afastar.
Respiro fundo, pois o objetivo é manter a paz nesse jogo.

Vá à merda! PORRA!
Vejo o time dar uma surra nos Tigers, faltando pouco para o
final. Que isso? Passei a ser pé frio para eles?
— PORRA! LEVANTA, OLIVER! OU EU MESMA TE
COLOCO DE PÉ! — grito irritada.
— Amiga... Cal...
— O CARA ESTÁ SOCANDO O MEU IRMÃO E NINGUÉM
VAI FAZER NADA?! — berro.
Minha mãe puxa meu cabelo e pede para eu calar a boca.
Tyron aperta minha perna e Vicky esconde o rosto com os cabelos.
— EU NÃO VOU CALAR! VAI, TIGERS! — Meu coração nem
existe mais.
— Kristal, se controle! — Tyron pede em meu ouvido e nem
sua voz me controla. — Eu vou te tirar daqui!
— Se juntar ela e o seu treinador, não sei quem é pior! Que
vergonha que a Kristal me faz passar! — Vicky fala e faço uma
careta a ela.
— Toma, Kris. — Paige me entrega uma água. — Vai te fazer
bem.
— Eu vou fingir que nem é minha filha! — meu pai fala
nervoso. — FILHO DA PUTA! — ele grita quando o time adversário
marca três pontos.
E depois não sabem quem eu puxei para o esporte.
— Eles já eram, não é? — pergunto desanimada ao Tyron. —
Faltam dez minutos para acabar o jogo. Eles teriam que marcar uns
sete pontos para vencer! — Encosto a cabeça em seu braço, e ele
passa o braço ao meu redor.
— Um jogo pode mudar em segundos, quem dirá em
minutos. Pare de olhar o marcador e foque no time. Eles estão
sofrendo, mas nós também sofremos e vencemos. Até o minuto
final, ainda existe chances.
Quando me tornei a pessoa sem paciência e fé?
— AAAAAH! Cesta, olha!
— Do time rival, Vicky... Do time rival! — meu pai avisa e dá
tapinhas em seus ombros.
— Ah, sim. Mas foi uma cesta!
— Precisam de oito pontos à frente agora. Minha fé está indo
embora! — digo.
Tyron ri baixinho.
— Se eles perderem, não estarão fora ainda, princesa.
— Mas vão ter mais dificuldades em pontuações nas
eliminatórias!
— Às vezes, me esqueço de que você trabalha com esporte,
e entende bem de basquete. Ok... Pode focar só no jogo e parar de
pensar que tudo acabou? — me pede e assinto.
Já quero me embriagar para eliminar a derrota. Quando virei
a Vicky?
Escondo o rosto, não quero nem assistir os minutos finais.
Não tenho coração para mais emoções. Chega.

— EU SEMPRE ACREDITEI QUE VOCÊ VENCERIA,


GAROTO! — Pulo nos braços do meu irmão, que me agarra rindo.
— Mentirosa. Estava escondendo o rosto! — ele gargalha.
— Sim, mas o importante é que deu tudo certo. Parabéns! —
Sorrio animada.
Ele me afasta, abraçando nossa família, seu melhor amigo,
os Sparks e a Vicky.
— Viu? Infartou à toa, sua louca! — Vicky me fala, me
puxando da bagunça.
— Agora sim estou mais animada para seguir para Malibu
amanhã... E... — Olho para o Tyron de longe.
— Está apaixonada nele, né? Ai, minha amiga. Que cagada!
— Me abraça de lado.
— Não quero ficar pensando nisso, Vicky. Em como será tudo
depois de amanhã. Ele vai ter que ir para o próximo destino, e eu
retorno para Palo Alto, ao jornal. Sabe, é diferente se já tivéssemos
algo certo, definido, tudo bem. Mas quando parece que algo
começou, a distância vai vir. Talvez não fosse para ser, né? —
suspiro, vendo a festa na quadra, a música e as pessoas surtando.
— Um dia de cada vez. Não vai surtar antecipadamente. É o
que posso te dizer apenas. — Beija meu rosto e assinto.

Nossos pais e os meninos vão embora pela manhã. As


meninas e eu vamos para Malibu curtir uma praia, e depois
voltamos para casa. É estranho se acostumar a uma rotina e ser
tirada dela rapidamente. E estar realmente conectada a uma
pessoa, e se distanciar... de novo.
Ajeito minhas coisas no quarto do Tyron, pois sairei de
madrugada com as meninas, para aproveitar bastante. Ficaremos
na casa dos pais da Vicky. Eles alugam para a temporada, e demos
sorte de, dessa vez, estar livre nesse verão.
Tyron está me olhando, quando termino de organizar tudo e
sorrio.
— Tenho que ir, porque quero ver como a Cherry está.
— Por que está com essa carinha? — Me puxa com calma e
meu corpo cola ao seu, encostado na parede perto da TV.
— Preocupada com a Cherry, com meu emprego e com a
gente, Tyron... Não quero pensar nisso, mas a cada segundo tudo
se torna mais real, para de ser só algo que vai acontecer e se torna
algo acontecendo. — Ergo o olhar para ele.
— Nossa próxima parada é em Phoenix, tem certeza de que
não quer vir? Aproveitar que estará livre esses dias? — questiona
acariciando meu rosto.
— Não posso. Eu tenho que resolver minha vida. Voltar a
rotina... Eu conversei com o Zachary e não terminou muito bem. —
Me olha preocupado. — Não precisa se preocupar. Só acho que dei
um basta mesmo na Golden, e provavelmente nem queiram me
vender ingressos e logo eu seja proibida de assistir aos jogos —
brinco para tentar animar isso tudo.
— Ainda não acredito que vai pagar por essa merda toda.
Kristal, tem certeza de que não posso fazer nada para ajudar a
ajeitar essa bagunça? — pergunta e sorrio.
— Tem... Se cuidando, jogando e não se metendo em
problemas. É nisso que pode ajudar. Richard nem punido
oficialmente ainda foi, isso ainda não é um fim, e pode respingar em
você também. Ainda não conversei diretamente com meus pais
sobre tudo, tem pendências ainda, não quero mais confusão.
Ele assente e segura meu queixo.
— Pode me pedir ajuda se precisar, sabe disso, certo? —
Assinto e ele me abraça apertado. — Parabéns, garota. Conseguiu
me deixar maluco ao ponto de ficar mais preocupado com você. Eu
vou te ligar para saber como as coisas estão e vou te esperar nos
próximos jogos, quando estiver livre no trabalho.
Meus olhos marejam.
— Da última vez que eu era próxima de vocês e me afastei,
coisas ruins aconteceram, e se...
— Para! — Segura meu rosto com as mãos. — Nada vai
acontecer. Não pensa besteira.
Ele me beija e é calmo, mas ao mesmo tempo de despedida,
e isso me quebra um pouquinho mais, porque não sei como será
daqui para a frente e tenho medo de me machucar assim. Coração
quando quebrado, nunca se reconstrói do mesmo jeito.
— Tyron, a gente pode não ter nada oficialmente, mas se
você sair com qualquer garota nesse tempo, não me falar nada, e
me apelidarem de chifruda, traída... eu acabo com você! — aviso e
ele ri. — É sério. Seja sincero comigo. Estamos na mídia em todo
canto!
— Adora duvidar do meu caráter, né? E quem disse que não
temos algo oficial? Deixar rolar, para mim é algo oficial. — Abraço-o
de novo e ele ri. — Realmente ama abraços.
— Os quentinhos sim! E não reclame, que gosta também,
idiota!
— Dos seus? Talvez!
Ele não colabora para eu sentir menos saudade e menos
medo!
Beijo-o, ficando na pontinha dos pés. Seu corpo se inclina na
minha direção, e meu coração sabe que mais rendido que isso,
impossível. Estou realmente muito apaixonada nele, e pior: eu sinto
que é recíproco.
— Vamos, vou te deixar com elas, antes que eu te amarre
nesse quarto!
— Nossa, Sparks ficando louco por Kristal Reed, isso é épico!
— Mordo o lábio e ele ergue a sobrancelha.
— Calada, garota!
Acerta minha bunda e rio, me afastando dele.
Ele pega uma sacola no canto e me entrega. Olho sem
entender e ele sinaliza para eu abrir. Retiro a camiseta dos Red de
dentro, toda autografada. Começo a rir.
— O que significa isso? — Olho para ele, que sorri.
— Mandaram te entregar. Todos ali te respeitam e vão sentir
sua falta, porque será estranho não ter você seguindo a gente com
seu caderninho ridículo com capa fofa. — Meus olhos tornam a
marejar. — E o capitão e armador do time mandou avisar que
também sentirá falta disso, principalmente de poder implicar
diariamente com você.
— Tyron! Para... Que droga. Não quero chorar! — Pisco
rápido e ele sorri mais. — Parece até que nunca mais nos veremos
desse jeito... Que é realmente um adeus.
— Não é... Sabe que não é. — Pisca e olho mais uma vez a
blusa que irei guardar com muito carinho.
Eu vou sentir falta das babaquices deles, e de implicar o dia
inteiro com esse idiota ao meu lado. Os pequenos detalhes são os
que mais fazem falta quando passam a não existir mais.
A praia está razoavelmente cheia. A casa dos Foster tem
vista para o mar, e é literalmente na praia. Basta sair pelos fundos
da casa, e estamos na areia. Me esqueci do quanto esse lugar é
bonito, gostoso e ótimo para colocar a cabeça no lugar.
Ajeito os óculos de sol no rosto, e respiro fundo, sentindo a
brisa, observando o mar. As meninas estão sentadas ao meu lado, e
é bom ter esse momento tranquilo com elas.
Olho o celular em meu colo, e zero mensagens, mas sei que
ele chegou, as notícias falam sobre a chegada dos Red em Phoenix,
no Arizona. A pior coisa é se apegar a alguém, que tudo pode ser
incerto.
— Eu queria tanto pegar um bronzeado, o máximo será eu
ficar como um camarão — Cherry comenta e sorrio.
Vicky nos mostra as fotos que tiramos juntas.
— Me manda, quero postar também! — aviso e ela assente.
— Olha, essa viagem rápida para Malibu foi a melhor ideia
que tivemos. Nada melhor que céu e mar para relaxar a cabeça e
acalmar a ressaca por ter bebido a madrugada toda.
— Qualquer natureza para mim é boa, Vicky. E ainda me
pergunto como consegue ficar ótima após tanto álcool! — Cherry a
olha e rio.
— É um dom! — Pisca para a prima e coloca os óculos.
As fotos chegam em meu celular e posto algumas, vendo que
Tyron começou a me seguir. Sigo-o de volta. Pelo menos é um sinal
de fumaça.
Bloqueio o celular e deito na toalha.
— Eu ainda acho injusto terem te tirado da Golden. Isso não
foi certo. Está pagando por um erro que não é seu — Cherry diz,
enquanto encaro o céu através dos óculos escuros.
— Kristal deveria meter um processo no rabo deles!
Palhaçada tudo isso! — Vicky diz deitando a cabeça na minha
perna.
Eu desabafei sobre tudo com elas enquanto Vicky ainda não
estava bêbada. Contei da conversa com o Zachary. De como estão
as coisas com o Tyron. Falei tudo. Foi bom me abrir em cem por
cento, e não contar tudo picado.
— Não quero mais essa dor de cabeça. Ele tomou a decisão
dele, e eu tomei a minha. Não vou me rebaixar para provar nada e
nem comprar uma briga desgastante. Nem mesmo na matéria final
quero estar envolvida, pois precisaremos entregar isso. Jennifer
pode escolher outra pessoa. Tenho meu orgulho, meus princípios.
Sou meio doida, destrambelhada, mas tudo tem limite. Eu quero
seguir trabalhando, fazendo minhas coisas, é a melhor coisa que
faço! — falo e Vicky acaricia minha perna.
Eu sei que vou encontrar tudo que procuro, porque segundas
chances podem estar a um segundo de distância... Droga, essa
frase de novo. Onde foi que eu ouvi? Por que sempre penso ser
sonho? E por que ela me acalma sempre que entro em desespero?
— Estou com você no que decidir. — Cherry sorri para mim e
retribuo.
— Já que vamos ficar até amanhã, porque só tem voos à
tarde, podíamos fazer noite do pijama e dar umas voltas na cidade,
o que acham? — Vicky sugere.
— Eu topo! — aceito e Cherry concorda. — Vai ser bom dar
umas voltas, curtir só a gente! Até porque, nem sempre a Vicky nos
dá ideias que não nos leve presas!
Um tapa na minha perna me faz rir.
— Minhas ideias são muito tranquilas. Podem me respeitar!
— Ela se ajeita e Cherry faz uma careta me fazendo rir. — Podem
parar as duas! Eu sei que estão zombando.
Rimos, porque é como sempre tudo termina entre nós.

Estamos na sala, de pijama, com as pizzas espalhadas, junto


dos sucos e refrigerantes. Passamos a tarde na rua, e retornamos
prontas para curtir mais da noite, e foi a sorte, porque começou a
chover, e espero que não venha chuva forte, principalmente que
parte da casa é toda de vidro.
— Eu ainda não acredito que fez isso... Do nada, ela sai e
volta com uma tatuagem! Começo a pensar que realmente estou
fazendo mal ao cérebro de vocês! — Vicky gargalha e morde a
pizza.
Na TV passa High School Musical, porque maturidade nos
faltou, e isso é um clássico para a geração antiga da Disney.
— Eu achei linda, mas é realmente chocante. Ela nem
pensou, entrou no estúdio e fez! — Cherry bebe o refrigerante e
sorrio.
Olho a tatuagem coberta pela proteção transparente. Fiz no
antebraço, na horizontal:

Eu disse que faria essa tatuagem ainda e, nessa fase que


estou, era o melhor momento. Nos últimos anos, essa frase
simplesmente me ajudou em muitas vezes que achei que iria
fracassar, porque ela remete a inúmeros significados, se adapta a
eles de modo positivo.
Uma grande chance pode estar a um segundo de distância...
Um recomeço pode estar a um segundo de distância...
Uma pessoa especial pode estar a um segundo de
distância...
A calmaria pode estar a um segundo de distância...
Ela remete à esperança de que algo bom pode surgir a
qualquer segundo e trazer a paz que tanto pedimos. É uma frase
que, para mim, traz o sentimento de paz, de não desistir, porque em
segundos de distância algo pode mudar completamente nossas
vidas, em uma virada radical, e de modo bom, porque a vida não
pode ser feita unicamente de maus momentos.
— É um momento muito bom para ter feito. Tirando que terei
que evitar as pizzas. A última vez da tatuagem no pescoço, inventei
de comer também, e me dei mal por uns dias, lembram?
Elas riem. É cada humilhação por uma boa coisa.
— Vai lá, coelho! Come seus matos! — Vicky aponta a bacia
de salada que fez para mim. Olho desconfiada. — Não vou te
envenenar. Eu faço ótimas saladas!
— Só sabe fazer salada! — Cherry resmunga e pega um
pedaço de pizza.
Vicky mostra o dedo a ela e começamos a rir.
— High School Musical, uma quase matando a outra,
tatuagem do nada... É, nossa família vai nos internar se virem isso!
— digo, me sentando no chão e puxando a bacia de salada.
— Ué, mas esse filme agora te representa, Kris. Gabriella e
Troy, o jogador e a mocinha meiga!
— VAI SE FODER, VICKY!
Cherry gargalha ao nosso lado, e acerto uma almofada nela.
Vicky ri desviando da almofada que tento acertar nela.
— Duas idiotas! Não tem nada a ver isso. Vamos assistir?
Obrigada! — Pego o garfo e levo a salada à boca na força do ódio.
Sério, nem uma mensagem para dizer “Cheguei!”?
Desde quando me tornei pegajosa assim? É só o Tyron
Sparks, inferno!
Desde que você está apaixonada!
Droga.
Depois do banho de mar, passeio na cidade, e noite do
pijama, nossos corpos pedem arrego. E por isso fomos deitar. A
chuva na cidade cai, e piora a cada instante. Cherry ficou dormindo
no sofá da sala mesmo, nem quis subir, e Vicky está esparramada
na cama do quarto dormindo tranquilamente.
Eu estava plena, maravilhosa, até os trovões e relâmpagos
começarem a serem fortes. Eu não me importo com a chuva, o que
me traz medo, agonia, são os barulhos intensos da tempestade. Os
anos fizeram isso diminuir um pouco, mas ainda fica alguns gatilhos
vindos da garotinha que ficou trancada em um local de vidro,
enquanto a tempestade clareava tudo. E essa casa me lembra
exatamente aquele dia, por ter muitas janelas, paredes de vidros.
Amo ficar aqui, desde que os clarões e os barulhos não façam
companhia.
Saio da cama, puxando um dos cobertores e pegando o
celular. Um trovão forte e um relâmpago me faz estremecer. Fecho
os olhos por alguns segundos, antes de sair do quarto, e seguir para
a brinquedoteca que eles fizeram na casa, exatamente por alugarem
e, às vezes, virem com crianças. Ela não tem essas janelas, é mais
fechada.
Entro no lugar, e acendo as luzes. Tudo bem colorido e
divertido para crianças.
Caminho na direção dos pufes e sento em um deles,
enrolada nas cobertas. O espaço mais fechado abafa um pouco
mais dos sons e me deixa mais tranquila.
Olho a tatuagem em meu antebraço, e respiro fundo.
Fecho os olhos por um tempinho, e o cansaço me vence.
Em Nova York chove muito, e mamãe e papai tiveram que
sair. Deixaram o meu irmão com o bobão do amigo dele para
ficarem comigo, e o senhor e a senhora Sparks também vêm aqui
ver se está tudo bem, somos vizinhos. Mas eu não gosto de ficar
sem o papai e a mamãe em dias de chuvas, me dá medo.
Não gosto não!
Mas se eu dormir, não vou ficar ouvindo... Eu tento dormir,
mas eu lembro que fiquei presa uma vez, e quando fecho os
olhinhos eu tenho pesadelo.
A porta se abre, acho que acordei gritando, porque o bobão
entra me olhando assustado. Pelo jeito, o Oliver fugiu de novo, vou
contar para o papai e mamãe!
Ouço outro barulho, meu corpo treme e tento me esconder
embaixo da coberta. O Tyron se aproxima e deita do meu lado.
Segura minha mão, que fica bem pequenininha perto da dele. Tiro o
rosto debaixo das cobertas e olho para ele. Meu coração está igual
uma bateria: Tum... Tum... Tum...
Papai e mamãe deveriam chegar logo!
Ele faz carinho na minha mão. É legal comigo. Quando me
olha, sorri. Tyron nunca sorri para mim. Ele já até puxou meu
cabelo, e eu puxei o dele de volta!
O barulhão da chuva não me deixa mais tão com medo, e
meu coração vai ficar mais calminho.
Ele tenta sair de perto, mas e se eu voltar a ter medo? Eu vou
ficar sozinha? Não pode! Seguro sua mão com a força que eu
tenho, e balanço a cabeça rápido, fazendo “não”.
Tyron sorri de novo.
— Eu vou buscar água para você, pirralha. Estarei a um
segundo de distância daqui.
— Isso é longe? — pergunto, bem chorosa.
Ele respira forte e ri.
— Não, princesinha. É muito perto. Perto o suficiente para te
ajudar.
Respiro fundo, calma, o soninho está vindo de novo.
— Um segundo de distância... — falo, mas meus olhinhos
estão fechando sozinhos.
Eu não tenho pesadelos de novo. Durmo certinho.

Acordo assustada, com o celular tocando e meu coração


acelerado. Estou ofegante. Meu peito sobe e desce. Esse é o sonho
mais real que eu tive...
— Por que não foi um sonho... Isso aconteceu! Então foi ele
que me disse essa frase... Que cuidou de mim... A mão que sempre
segurava a minha nos meus pesadelos nos dias que meus pais não
estavam... — falo sozinha.
Meus olhos marejam e eu sorrio assustada. Óbvio que o
Oliver não seria, ele sempre fugia para curtir a farra, porque era um
adolescente fanfarrão.
Pisco rapidamente, puxando o celular do meu colo e olhando.
5 Chamadas perdidas.
É a primeira vez que sonho isso por completo. Antes eram
flashes. E agora me lembro perfeitamente dessa noite. Por isso ele
me perguntou onde ouvi!
Idiota. Por que não me contou?
Começo a rir de nervoso, mas meu celular toca de novo. A
mesma pessoa.
É chamada de vídeo. Ajeito-me no pufe, e atendo. A chuva
quase não se ouve mais ao lado de fora.
O rosto dele surge na tela e parece bem preocupado.
— Oi... Estava preocupado!
— Por quê? — pergunto ainda meio perdida com o sonho e a
descoberta.
Tyron passa a mão pelo cabelo e deita na cama.
— Porque fiquei sabendo que cancelaram os voos hoje.
Malibu e Los Angeles está debaixo d’água. Uma tempestade forte!
Você não atendia as ligações.
Sorrio achando fofo sua preocupação. Ele sempre se
preocupou. Meu coração sente isso mais do que nunca agora.
— Sim, vamos embora amanhã. Mas está tudo bem...
— Está onde? — Franze o cenho e olho ao redor rindo.
— Longa história. Mas na brinquedoteca da casa. E por aí,
como estão as coisas? Chegou bem? — suspiro e ele assente.
— Estou bem. Seja sincera, está tudo bem? A tempestade...
— Estou bem, Sparks. Por isso vim para esse lugar aqui.
Evitar ter uma crise. Acabei pegando no sono. Essa cara que devo
estar, é por estar sonolenta ainda — rio baixinho e ele respira fundo.
— Dá para confiar no que estou falando e desfazer essa cara de
marrudo?
Ele revira os olhos.
— Sabe que pode me ligar para o que precisar, né? Ou que
pode vir até a mim? Kristal, eu...
— Você vai dar o seu melhor na temporada. É isso que vai
fazer. Eu vou ficar bem. Até fiz uma tatuagem. — Ele arregala os
olhos e rio. — Olhe! — Viro o celular e mostro a ele.
Volto a câmera a mim e ele entreabre os lábios.
— Realmente tatuou... Você é louca, garota! — Sorri sem
jeito e é fofo ver ele assim.
— Pouca coisa... — Batidas à porta dele fazem ele
resmungar.
— Combinei com os caras que iria sair com eles hoje.
Segundo eles, esqueci do time. Culpa sua! — Se levanta e sorrio.
— Então aproveite com eles. E agradeça o presente que me
deram. — Ele assente. — Se cuida, Tyron.
— Se cuida, baixinha. E não inventa nada que possa se
matar!
Começo a rir. Idiota.
— Aproveite sua noite. Ou madrugada! — Olho a hora. —
Juízo, Sparks! — Forço um sorriso.
— Sem jogo amanhã... Mas não se preocupe. Não é como se
eu pudesse focar em outras por aí. Se cuida, princesa. Boa noite.
Jogo um beijo para ele e desligamos a chamada.
Abro as mensagens e digito uma para ele.

Kristal: Eu me lembrei daquela noite... Você me disse essa frase.


Obrigada por ter feito isso, por ter cuidado de mim. Agora eu tenho certeza de que
todas as tempestades que meus pais não estavam, era você quem segurava
minha mão, mesmo que eu fosse uma criança irritante com você. E obrigada por
ligar hoje, isso é importante para mim. Aproveite sua noite, e tenha um jogo
incrível.
Eu penso que a mensagem será demorada, mas, para a
minha surpresa, vem bem rápida.

Tyron: Era meu dever cuidar da pirralhinha que me irritava, ou eu não a


teria me irritando se acontecesse algo. Ainda estou em choque pela tatuagem,
porque isso é algo importante, sério. Eu sempre vou segurar sua mão, baixinha. É
estranho dizer que já sinto sua falta? Foda-se se for. A primeira e última cestas
serão suas. Boa noite, princesa.

Meu coração se agita e o friozinho na barriga triplica.

Kristal: Saudades, Ty!

Bloqueio a tela e me encolho no pufe sorrindo como uma


idiota. A forma como a vida está mudando tudo não me assusta
mais, ela me ensina, me anima.
Coloco os pepinos nos olhos da minha mãe que está deitada
com uma máscara verde no rosto, na área da piscina. Papai toma
café ao lado de fora hoje. Eles sempre estão juntinhos quando
podem. É uma relação que admiro.
— Mãe, por que não vai na sua clínica estética e faz isso? —
pergunto rindo, e me afastando apenas para pegar minha bolsa.
Hoje volto a rotina no Sport, e será uma fase de recomeços.
— Porque quero ficar longe de trabalho hoje. E sempre que
passo por lá, surge algo.
— Não acham que ambos precisam de férias? — Me sento
na espreguiçadeira, deixando a bolsa em meu colo. — Vivem
trabalhando.
Papai me olha, ajeitando sua gravata antes de beber seu
café. E noto que os fios brancos tornam a surgir nos cabelos que ele
vive pintando.
— Com os novos hotéis que estamos abrindo no Brasil e no
Japão, seria completamente inviável férias agora. Mas acho que a
senhorita deveria ter tirado mais dias para ficar em casa — ele fala e
mamãe levanta o polegar concordando com tudo.
Respiro fundo. Quando voltei de Malibu, expliquei tudo a eles.
Do mesmo modo que fiz com as meninas. Meus pais nunca
gostaram do presidente da Golden, e isso foi um prato ainda mais
cheio de raiva para eles. Foram compreensíveis, me apoiaram.
Nunca poderia criticá-los quanto a isso. Sempre estiveram ao nosso
lado para o que der e vier.
— Não! Eu quero voltar a trabalhar. Não podem me culpar,
sou exatamente como vocês nisso. Sempre focada em trabalho. —
Sorrio e eles riem. — E por falar nisso, a Vicky contou que vocês
fecharam parceria com os Foster para os equipamentos de
academia para a clínica e os hotéis. Isso é o máximo.
— Nossa clínica vai expandir mais. A partir do ano que vem
iremos juntar SPA a ela nas da Califórnia e depois de Nova York,
tudo para crescer ainda mais a Reed Beauty. E seu pai tem as
academias nos Reed’s Hotéis. Seria loucura pensarmos em outras
pessoas. Eles têm os melhores equipamentos. Ainda acho um
absurdo que a Golden não tenha pensado neles, ou centro de
treinamentos da Califórnia — mamãe diz e concordo, mas tendo em
vista como é o presidente, não me admira que não tenham dado
essa oportunidade aos Foster.
Vicky buzina ao lado de fora. Meu pai mandou meu carro
para a revisão, e irei com ela.
— Eu vou indo. Amo vocês. Não sei se irei jantar em casa.
Provavelmente, eu saia com as meninas para comer fora. —
Levanto-me e deixo um beijo na cabeça loira da mamãe, e me
afasto.
Sigo para o meu pai, deixando um beijo em seu rosto.
— Você é incrível, filha. Nunca deixe que te digam o
contrário! — Sorrio para o meu pai. Ele sempre sabe o que dizer.
— BOM DIA, SENHORA KAREN E SENHOR STEVEN! —
Vicky literalmente berra ao lado de fora.
— Ela está com megafone? — mamãe questiona derrubando
um dos pepinos dos olhos.
— Provavelmente. Daquela ali espero de tudo!
Eles riem e me afasto, entrando na casa. Passo pela Kássia,
jogando um beijo a ela, que segue para os fundos da casa, e
provavelmente mamãe levantou e a assustou, porque ela solta um
grito e papai gargalha. Pobre mulher, não sei como aguenta essa
família. Se bem que ela tem paz quando o Oliver não está, porque
ele sim tira o juízo dela, e de toda a Califórnia.

O jornal está tranquilo hoje. Algumas pessoas estão de folga


e outras foram cobrir o jogo de tênis na cidade. Minha mesa está do
jeitinho que deixei, isso mostra que Vicky não tocou nela, e se fez,
organizou, porque essa é bagunceira a níveis absurdos. Sua mesa é
uma zona, não sei como ela consegue se concentrar no que vai
fazer.
Escuto a cadeira se arrastando ao meu lado.
— Vicky, eu preciso estudar as notícias de esporte. Pode
voltar para a sua mesa? — Prendo o cabelo em coque.
— Esqueci de te falar. A vovó vem morar nos Estados
Unidos.
Olho assustada.
— Só sua avó? Espera, Abigail e George Weber se
divorciaram?! — Arregalo os olhos. — Desacredito do amor agora!
São o casal mais lindo e unido que já conheci!
Ela ri.
— Não. Falei vovó por costume. Mas ambos vão vir. Vão
viver em Malibu. — Sua carinha me assusta. — Meu avô não anda
bem de saúde. Os médicos dizem que ele precisa viver em lugares
mais arejados, com mais natureza. Meus pais deram a eles a casa
em Malibu, por isso não estão alugando mais.
— Meu Deus... Eu sinto muito. Mas ele vai ficar bem, certo?
O que ele realmente tem?
Ela suspira, e ver Vicky Foster assim é uma surpresa.
— Quando a Cherry foi para o Canadá, ela disse que o nosso
avô estava mais cansado que o normal. Não estava indo trabalhar.
Vivia só em casa. Ela contou aos meus pais, e conhece dona
Michelle, já surtou, afinal, são os pais dela. Ela ligou e descobriu
que ele tinha feito exames e teve muitas alterações. O meu pai acha
que pode ser a idade, mas eu sinto que isso do meu avô ficar em
lugar mais arejado, aceitarem facilmente vir para os Estados Unidos,
largar a rede de supermercados que possuem lá... Eu acho que, no
fundo, ele sente que não vai viver muito mais, e não quer deixar a
vovó sozinha.
— Oh, minha amiga... — Abraço-a. — Eu vou torcer para que
tudo termine da melhor maneira. Estou aqui para o que precisarem.
— Obrigada, Kris. Além dessa preocupação, sabe o que me
preocupa também? — Nos afastamos. — A Cherry. E se ela não
aguentar perder mais alguém? Perdeu os pais, quase foi vítima do
acidente. Nossos avós é o que ela tem de mais perto das
lembranças deles no Canadá. Da vida dela. Tenho medo de algo
acontecer e isso ser ainda pior a ela...
Respiro fundo. É um ponto.
— Só vamos saber na hora que acontecer e se acontecer.
Por ora, vamos pensar positivo. E estaremos juntas para o que for!
Ela sorri e assente.
— Ter você e ela foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu
sempre vou cuidar de vocês! — Segura minha mão.
— E vai deixar a gente cuidar de você se for necessário! —
Concorda. — Agora me fala, eles vêm quando?
Respira fundo, parecendo mais relaxada por colocar tudo
para fora.
— Provavelmente no final do ano. Precisam ajeitar tudo lá.
Vovô é americano e vovó já morou com ele aqui antes de irem
embora com a tia Madeline, e mamãe ficar para a faculdade, noiva
do papai... Toda história que já conhece. Então meio que já facilita
parte da documentação. Mas tem os mercados aos quais são
donos. Precisam deixar responsáveis, coisas assim. Nesse meio
tempo meus pais vão reformar a casa em Malibu, deixar mais
adaptada a eles e a carinha deles.
Sorrio.
— Pense positivo mais uma vez. Teremos uma casa para os
dias quentes, onde seremos bem mimadas e iremos nos divertir
com eles!
— Fato! Minha pancinha agradece! — Toca a barriga.
Rimos e ela volta para a sua mesa, quando Jennifer aparece.
— Não foge, Vicky! Eu a vi! — fala e prendo o riso. Vicky
realmente acha que engana alguém. — Podemos conversar
rapidinho? — me pergunta e assinto.
Levanto-me e a sigo para a sua sala.
Entramos e isso me lembra que toda vez que venho aqui são
para novidades e nem sempre coisas boas.
Ela me indica a cadeira, e contorna a mesa, se sentando
atrás dela. Não fecha a porta, isso é um bom sinal, pois não virá
bomba.
Ajeita a postura de dona do mundo, com sua beleza
invejável.
— Kris, eu quero saber como ficará a questão da matéria
final. Se quiser fazer, ela é sua. — Cruza as mãos sobre a mesa.
Respiro fundo e me ajeito na cadeira.
— Não irei fazer. Depois da conversa que tive com o
presidente da Golden, eu não acho que ele queira meu nome ali. —
Sorrimos. — Eu prefiro seguir longe disso um pouco, até porque as
notícias sobre o Tyron e eu tem aumentado, e não quero que
foquem em mim apenas como alguém com ele, e que comecem a
associar isso com minha saída dessa parceria com a Golden.
Ela assente.
— Ótimo. Muita coisa vai mudar por aqui. — Franzo o cenho
com suas palavras. — Diante de todos os acontecimentos, a equipe
jurídica tem olhado as coisas como comentei, e quero resolver tudo
o quanto antes. Podemos ter sócios, mas sou a dona, eu comecei
isso aqui! — avisa e assinto.
— Tem razão!
— E tem mais. Outros esportes amaram a forma poética a
qual tratava as matérias, indo por trás do lado técnico. — Sorri ao
revelar e sinto meu coração se agitar. — Alguns campeonatos na
cidade querem que você cubra eles nas matérias. Vão te enviar
conteúdos exclusivos, para que crie a matéria com base nisso.
Claro, se aceitar!
Sorrio muito feliz.
— Sério isso? — questiono e ela assente. — Claro que topo.
Será incrível. Eu nunca imaginei que outros poderiam gostar tanto
das matérias. Eu estou muito agradecida. Quero muito isso! Falar de
esporte é tudo para mim, e ainda poder ser do meu jeitinho, é
melhor ainda!
Meu coração se enche de orgulho.
— Pois gostaram. E bom, acho que vai gostar de dar uma
notícia a sua amiga também. — Estende os papéis na minha frente.
Pego-os e leio ficando em choque.
— V-Vicky... Ela vai... Sério? Meu Deus! — Olho para a
Jennifer, que ri. — Isso é incrível. Tem certeza de que eu devo dar a
notícia? Jennifer, pode contar você, seria melhor, não?! — pergunto.
— Não tem pessoa melhor para fazer isso a ela do que você!
Vai, pode contar a ela. E vou avisar ao pessoal que aceitou fazer as
matérias deles, para que enviem tudo ao seu e-mail. Claro, isso vai
gerar bônus a mais no trabalho.
— Me animei mais! — rio e me levanto. — Obrigada,
Jennifer... Sério... Por tudo que faz por mim e pela Vicky, que somos
ainda aprendizes nisso tudo. Obrigada mesmo!
Ela me olha agradecida e assente.
— Era o mínimo que eu poderia fazer pelas duas, que
sempre se dedicaram muito. Agora, se me der licença, eu tenho
uma reunião. — Se levanta.
— Claro! Estou indo. Fui!
Saio da sua sala animada e vou direto para a minha mesa.
Envio mensagens ao Oliver e aos meus pais, contando a novidade,
que irei cobrir com exclusividade alguns campeonatos na cidade.
Quero muito contar ao Tyron também, mas fico preocupada dele
pensar que fico incomodando ou coisa assim... Droga, esse idiota
deveria ter resolvido nossa situação antes de ir. Eu também falhei
nisso.
Sou atingida por uma bolinha de papel. Sorrio, fingindo não
estar notando. Abro meu e-mail no computador e pego meu
caderninho fiel, para fazer algumas anotações.
— Psiu... Kris... Kristal! Dá para me olhar e contar o que ela
queria?! Eu sou curiosa! Kristal! — Sua voz atrás me faz rir. Outros
nos olham, mas sigo sem me virar. — Kristal Reed, espero que sua
bunda caia!
Meu Deus, essa é muito fofoqueira!
— Eu preciso trabalhar, senhorita Foster! — aviso,
controlando a língua para não abrir a boca. Farei no jantar.
— Senhorita Foster é meu c... — pigarreia. — Bom dia,
senhores! — diz aos engravatados passando por nós. — Se eu for
demitida, vai me sustentar, porque meus pais não vão!
Prendo o riso e aceno a eles.

Estamos em um restaurante bar perto de casa. O local não


está cheio e isso já é perfeito.
Pedimos algumas bebidas, para nós com álcool e para a
Cherry sem, já que ela não quis. Escolhemos algumas comidas para
acompanhar, e é assim que passamos nossa noite.
— Eu resolvi entrar para a academia. Odiei! Por que fiz isso?
— Cherry reclama e sorrimos.
— Te pergunto o mesmo. Comer é melhor! — Vicky diz
apontando para os pratos na mesa, com acompanhamentos das
bebidas.
— Porque alguma de nós teria que viver até os cem anos.
Vicky morrerá antes dos trinta se continuar comendo e bebendo
assim. E eu posso não comer tanta besteira ou beber demais,
porém pratico atividades físicas, o que vai terminar comigo mais
sedentária ainda, travada antes dos trinta. É, talvez eu dure até os
cinquenta. — Levo o canudo do drink à boca.
Elas riem e dou de ombros.
— Pois iremos durar muito! Seremos velhinhas safadas.
Dando festas e rebolando em muitos gostosos!
— VICKY! — chamamos sua atenção, mas rimos.
— Eu acho que você deveria se cuidar mais, para não cair
dura em frente as câmeras a qualquer instante! — falo e elas me
olham confusas.
— Eu mal trabalho como repórter presencialmente. Não faz
diferença! — Vicky dá de ombros.
Sorrio, jogando meus cabelos para o lado, dando um charme.
— Como diz isso, se a partir do ano que vem estará sendo
repórter dos campeonatos?
Ela arregala os olhos. Cherry para a comida no ar.
— Quê? Do que está falando, maluca?!
— Jennifer mandou eu te contar. Vão mudar seu contrato.
Gostaram dos que você cobriu, pelo jeito. Você vai estar nas ruas,
cobrindo tudo de perto como sempre quis fazer! — Sorrio.
Cherry arregala os olhos.
— CARALHO! — ela grita e as pessoas próximas nos olham.
— AI, MEU CARALHO! — Bate na mesa. — Isso é sério? Não está
brincando com a minha cara?
— Óbvio que não. E pare de gritar, sua louca!
— Meu Deus! Isso é incrível. Parabéns, prima! — Cherry diz
toda feliz.
— Eu vou morrer! Isso merece mais bebidas e comidas! — ri
animada.
— Se controla, doida! — aviso e sorrimos. — Além disso,
também irei fazer a matéria de alguns campeonatos, com
exclusividade. Gostaram do modo que fiz na Golden. Querem que
eu faça o mesmo com eles.
— E eu só tenho a novidade que entrei para a academia!
— Mascotezinha, pense que vai escrever um livro sobre a
nossa vida, ou, quando virar advogada, limpar o nosso rabo dos
processos que provavelmente vamos receber! Isso já é um marco
histórico! — sua prima diz e Cherry ri balançando a cabeça.
— Eu estou muito feliz por vocês, e não poderia esperar
menos! São incríveis. Tudo está se ajeitando aos pouquinhos... —
Ela sorri emotiva e nós também.
Meu celular começa a tocar, e o nome do Tyron surge na tela.
— Esperem só um minutinho!
— Hum... Vai lá... O sexo virtual chama!
— Vicky, por que é assim? — Cherry chama sua atenção e
me levanto rindo.
Ela ainda vai matar a prima do coração.
Sigo para uma área livre onde o som é mais abafado. Atendo
a chamada, e respiro fundo, sentindo o friozinho idiota na barriga vir
de novo.
— Oi.
— Oi, Sparks! Sentindo minha falta? — provoco, sentando-
me no banco.
— Não posso dizer que não. É estranho não ter você me
irritando presencialmente. — Escuto seu riso idiota. — Como está?
Voltou a Sport?
— Estou bem. Voltei hoje a rotina de antes de tudo isso. —
Brinco com os anéis no meu dedo. — E você, como está? Vi as
notícias, Zion estará fora desse jogo? Ele se machucou muito?
No jogo em Phoenix, que eles venceram, Zion se machucou
em quadra e foi para o hospital. As notícias que correm é que ele
pode ficar de fora do jogo dessa semana em Dallas.
O suspiro longo já diz tudo. Está estressado. Parece que
posso ver a cara amarrada, a sobrancelha erguida.
— Sim. Iremos substituir ele. Precisa de mais dias de
repouso. Mas vai ficar bem.
— Essa semana começa as eliminatórias. Eu espero que
tudo fique bem para vocês... E... vai ter o evento para abrir as
votações e definir os jogadores correndo em cada categoria, será
em breve, e aqui em Palo Alto... Você vai vir? — pigarreio.
— Eu não sei... — não queria ouvir isso. — Eu normalmente
só participo do primeiro evento e do último. Essa época de
eliminatórias é complicado.
— É, eu sei... — Meu coração se aperta. Parece que nunca
conseguimos definir nada.
— Não faz essa voz... Eu sei que nos afastamos exatamente
quando precisávamos definir as coisas. Está sendo foda para mim
também. Mas não é algo que se faz por telefone, ou na correria.
Precisamos sentar, conversar com calma. Isso pode mudar tudo
ainda mais. Só mais um pouco de paciência, tudo bem? — Sua voz
é calma, e deveria me acalmar, mas me deixa ansiosa.
— Está tudo bem, Sparks. Foque no seu jogo. Eu também
estarei focada no trabalho, nos campeonatos que irei cobrir e...
— Vai cobrir outros? Exclusivas?
— Sim! Jennifer me falou hoje. Parece que gostaram do que
fiz na Golden. Querem matérias exclusivas comigo.
— Isso é incrível. Você é incrível. Eu fico feliz que as coisas
estejam dando certo, depois de tudo... Eu estou realmente feliz,
Kristal.
Sorrio e meus olhos marejam.
— Ty? — chamo, tentando controlar a voz.
— Oi, princesa.
— Acha que o Philip estaria orgulhoso da jornalista dele
depois de toda essa bagunça? — Meu peito se aperta. — Desculpa
perguntar, é que...
— Ei... É claro que ele estaria! Philip sentia orgulho até dos
xingamentos que você dava. Ele te amava. Suas conquistas sempre
seriam as dele. Não pense o contrário.
Pisco rápido tentando controlar as lágrimas, mas é inevitável.
— É que essa distância que surgiu de novo, me trouxe
lembranças de como tudo terminou antes... Desculpa ficar falando
dele.
— Eu não me importo que fale dele comigo. Eu gosto quando
você fala. É a única pessoa que não me faz sentir mal ao ouvir
sobre meu irmão.
Sorrio, enxugando o rosto.
— Vamos nos falando por mensagens ou ligações? —
questiono.
— Claro! Sempre.
— Eu preciso desligar. Deixei as meninas sozinhas na mesa.
Devem estar querendo me matar.
Ele ri baixinho e amo esse som.
— Tudo bem. Beijos, Reed.
— Beijos, Sparks!
Desligo e me levanto do banco, respirando mais leve, mesmo
com medo de cada vez mais a saudade aumentar, por nada estar
definido.
Volto para a mesa com as meninas, e elas me olham.
— Eita... Azedou tudo, foi? — Vicky pergunta e nego.
— Não é isso... Será que não nota, Vicky? É porque tudo
deles é incerto. Kristal e Tyron não definiram nada. Ela está
preocupada, não é? — Cherry questiona e assinto.
— Aaah... Quer saber? Vamos focar em nós, em comemorar
nossas conquistas e atazanar a Mascotezinha!
A morena fica animada, nos animando junto. Esse
sentimento, essa angústia tem nome, e eu sei disso. Por isso estou
com tanto medo de tudo terminar sem ter começado direito, e eu me
ferir.
Mas não vou focar nisso. Não posso. Eu preciso aprender a
focar em mim, no hoje. E é isso que tenho que começar a fazer.
D I A S D E P O I S...

Caminho pelas pessoas, dando autógrafos, fazendo fotos.


Estamos em um evento em Sacramento, na Califórnia. É um evento
de uma marca, seguido do jogo amanhã. O pior de tudo é estar na
porra da Califórnia, e não ter tempo de ir a Palo Alto para ver ela.
Faz longos dias que apenas nos falamos por mensagens,
ligações. Essa semana tem outro evento na cidade dela, e ainda
assim não terei como ir. Eu não me sentia irritado assim há muito
tempo. As coisas estão intensas, reta final da Golden, outono
tomando conta do país, o frio em alguns lugares já dificultando os
jogos, o nosso desempenho em quadra. E tudo que consigo saber
sobre minha garota é por ligações e mensagens. Caralho, estou
pegando ódio de ligações e mensagens.
Desde quando me tornei tão obcecado por ela? Eu preciso
sentir ela em meus braços, sentir sua boca na minha, seu corpo
colado ao meu. Eu preciso sentir a porra do seu perfume me
consumindo.
Eu vejo mais o irmão dela do que ela. E começo a odiar o
universo por me fazer ter apenas um dos irmãos Reed. Nunca foi
desafiador estar distante dela como agora está sendo.
Segundo minha psicóloga, eu preciso buscar distrações e
arrumar um momento para resolver as coisas com ela, antes que eu
acabe desencadeando crises de ansiedade.
Será que ela e o universo entendem que simplesmente tenho
agendas infernais a cumprir? Kristal está se dedicando as matérias
que tem criado. Caralho, eu vejo mais os pais dela, até os meus,
nos últimos jogos. Eu vou surtar nesse inferno!
— Pode melhorar essa cara? — Gilbert questiona. — Está
parecendo que odiou vir aqui!
— Só pareço? Então estou fazendo errado. É para
entenderem que não quero estar aqui.
Ele me olha de lado e pouco me importo. Termino de atender
as pessoas e entro no evento. Mais fotos e mais irritação para mim.
— Olha, bem que todos estão dizendo: Você está
insuportável desde que se afastou da jornalista. Está voltando a ser
amargo, chato pra caralho! — Me empurra para longe das fotos.
Eu não sou chato... Porra, eu só estou irritado por deixar uma
situação sem resolução. Eu odeio fazer isso e não quero fazer por
telefone!
— Amanhã você vai jogar, focar nesse jogo. E darei um jeito
nessa sua agenda. Ninguém te aguenta mais, Tyron! Ninguém! —
Ele se afasta e reviro os olhos, puxando a bebida da bandeja que
passa.
Ele tem dito que vai dar um jeito há muitos dias.
Nos jogos? Tudo incrível e indo bem.
No passado? Tudo se ajeitando finalmente.
No amor? Tudo fodido!
Faço minhas obrigações, forçando-me a ser simpático, até
poder sumir daqui.
A final será em dezembro, na primeira semana, e já tem local
definido: Nova York. Eu sonho com o último jogo, para ter férias e
uma vida. E acho bom ela arrumar agenda, porque ela vai ficar
comigo, em casa, longe dos holofotes, de todo mundo.
Oliver me envia mensagem e sorrio do idiota.

Oliver: Mais um jogo ganho! É, bundão, tudo se encaminhando para a


final. Nosso próximo jogo juntos será em Nova York, pode acreditar! Já se prepare
para chorar!

Tyron: Cresce, Oliver! E quero saber quando vai se endireitar, filho da


puta! Eu tenho ouvido as conversas, pode abafar da mídia, com uma equipe foda
que tem, mas não de mim. Eu vou te arrebentar se não parar de fazer merda!

Oliver: Cuide do seu jogo, e resolva sua situação com a Kristal, que está
irritante como você. Deixe que eu cuido de mim. Amo você, irmão!

Cuida tanto de si mesmo, que tenho ouvido os papos das


bebedeiras, farras, mulheres sem parar, mais abusos de “poder”.
Oliver está andando com as pessoas erradas, no momento que a
fama está mexendo com ele por ter crescido mais, e o pior, não
posso fazer nada a não ser o apoiar quando ele precisar, porque
toda vez que tento, termina em briga e isso não vai ajudar. Ele
precisa cair na real sozinho, ou alguém de fora mostrar para ele o
quanto está fodendo as coisas. Às vezes quem está de dentro não
resolve.
Volto a atenção as pessoas que eu não queria dar, sob os
olhares do meu empresário pronto para me matar se eu não for
mais sorridente aqui.
Inferno, para que querem ver meu dente?

Duas horas naquele maldito evento, parecem ter se tornado


dois dias. Não via a hora de vir para o hotel, e fugir desse povo. O
que ninguém fala sobre a fama, é que essa vida corrida pode acabar
com você aos poucos também, pois se perde momentos, pessoas,
muitas coisas, porque seu tempo é controlado por todos, menos por
você. Nos iludem dizendo que temos controles, escolhas, quando a
porcentagem disso é muito baixa. Tem que amar muito o que faz, ter
a cabeça boa para isso, porque seguir seus sonhos te faz ter que
deixar coisas para trás, que podem doer muito.
Perdi momentos com meus pais, com meu irmão... Só não
perdi tantos momentos com o Oliver, porque, assim como eu, sua
vida é igual. Mas diferente da minha, seu divertimento vem com as
pessoas erradas, mas, no fundo, eu preciso admitir, ele encontrou
nessas pessoas os segundos de liberdade que nossa vida nos tirou.
Amar o basquete, não significa que eu concorde com toda a
vida que levo. Ter a conta bancária recheada é ótimo, o problema é
as consequências nem sempre tão legais disso.
Envio mensagem para a Kristal porque é o que nos restou.

Tyron: Boa noite... Sinto sua falta!


Tiro a roupa, me jogando na cama. Amanhã cedo temos uma
coletiva e, à tarde, o jogo. Só preciso descansar um pouco e relaxar,
mas está sendo uma tarefa difícil.

Kristal: Boa noite! Eu também sinto sua falta. Está na Califórnia, e, ainda
assim, não conseguimos nos ver. Castigo pelos anos de xingos, os anos
afastados e o início turbulento do nosso reencontro? Andou xingando o universo,
não foi, idiota?

Sorrio e me surpreendo com a videochamada repentina. Ela


aparece na câmera, está se arrumando. Kristal está linda em um
vestido brilhoso verde.
— Onde a senhorita vai? — pergunto e ela sorri, colocando
os brincos e um colar também.
— Tem um evento do jornal. Ficou bom? Os grandões vão
estar presente. Não quero fazer feio. Já troquei de roupa várias
vezes. Vicky foi mais cedo, pois ficou encarregada de algumas
coisas. E aquela louca não me atende, para me ajudar! Cherry
voltou às aulas e deve estar no vigésimo sono! Eu não tenho um
maldito dia de paz! — resmunga e agora entendo o Oliver.
— Está linda, Reed. Não vai fazer feio. Só pode passar um
pouco de frio, mesmo que o frio da Califórnia não chegue perto do
que temos em Nova York. — Sorrimos.
Cadê o restante do vestido? Por que estou puto com isso?
Nunca fui assim.
— Eu vou levar um casaco, Sparks! — ela ri. — Achou curto,
né? — provoca e, pelo jeito, não sei disfarçar minha cara. —
Ciúmes, idiota? — pergunta e ergo a sobrancelha. — Não sou eu
indo em eventos repletos de mulheres coladas em você, ou que
deixo as fãs só faltarem me lamber!
Pega o perfume e passa. É como se eu pudesse sentir o
cheiro.
— Não parece que sou o único com ciúmes por aqui! —
rebato e ela faz uma careta. — Está saindo com um astro do
basquete e não queria esse tipo de situação? — provoco.
— Estou saindo? Faz um bom tempo que nem tocando nele
estou. Acho que até voltei a ser virgem... Só não voltei porque meus
vibradores fazem um bom serviço! — pontua e a fuzilo com o olhar.
— Alguém tinha que trabalhar aqui, que sejam eles!
Eu sei bem, minhas mãos estão doloridas já.
Ela apoia o celular em algum lugar e calça a sandália. Suas
pernas à mostra, me fazem lembrar delas ao meu redor. Seus seios
marcados no decote, me lembram o quanto são ótimos na minha
boca.
Eu preciso da minha louca.
Ela termina o que faz e me olha.
— Eu vou dar um jeito de nos vermos — falo e ela sorri
sutilmente. — Eu prometo. Nem que seja para passarmos apenas
vinte e quatro horas juntos.
— Eu vou esperar, Sparks. Eu prometo! Eu preciso ir. Beijos,
jogador! — Me joga um beijo de um jeito meigo, como sempre faz.
— Beijo, garota. Se cuida!
Ela assente e desliga.
Olho para o teto bufando, enquanto meu pau está duro só por
falar com ela. Gilbert vai ajeitar essa agenda, ou os Red vão
precisar de outro armador e capitão, porque eu vou ser preso por
surtar.
Ela me manda uma mensagem com uma foto sua. Parece
que gosta de me torturar. Diabólica, é isso que ela é!
O primeiro filho da puta que olhar para ela nesse evento,
espero que o pau caia.
— PORRA! MIL VEZES PORRA! — grito irritado e cubro os
olhos com o braço.
Paro na porta dos fundos, após literalmente invadir a casa.
Após mais dois jogos, consegui agenda livre por dois malditos dias.
Isso não deveria nem ser considerado folga levando em
consideração o tempo que trabalho sem ter tempo de respirar.
— Na porta de vidro é só dar um pequeno tranco nela. Meus
pais vivem falando que vão arrumar, mas não fazem. Ela vai abrir.
Mas não esquece, tem cinco segundos para desativar o alarme à
sua esquerda com o código que te passei, ou o sensor de presença
vai ativar, e até explicar tudo, estará preso, e eu vou rir! — Reviro os
olhos mesmo que o idiota não possa ver.
— Certo. Tem certeza de que seus pais não estão em casa?
Não quero levar um murro do seu pai por me pegar aqui do nada!
Ele ri.
— Não! Viajaram essa semana, em um evento empresarial
em Nova York. Os funcionários chegam por volta das nove horas e a
nossa governanta não estará em casa hoje. Já sondei tudo, ela vai
cuidar das compras da casa, essas coisas, ficará o dia fora. Confia
em mim, porra!
— Difícil. Estamos falando de Oliver Reed! — aviso, olhando
ao redor.
— Deveria confiar, pois estou dando passe livre para entrar
na minha casa e fazer coisas erradas com minha irmãzinha... Olha,
não quero nem imaginar! Porra, Tyron! Logo minha irmã? Caralho!
Sorrio, olhando a hora em meu pulso. São seis horas da
manhã.
— Valeu. Tchau! — Desligo na cara dele.
Quando recebi esse passe livre, vim diretamente para Palo
Alto. Precisava ver a Kristal. Mas não quis falar. Queria que fosse
surpresa. Pedi ajuda do Oliver e tudo parece que coincidiu. Casa
praticamente livre, ela realmente acreditando que não daria para vir
de novo, e achando que estou enrolando-a. Exatamente tudo
coincidiu.
Respiro fundo e faço o que o Oliver disse, e a porta
realmente se abre. Sou rápido vendo o aparelho do alarme ao lado
e coloco o código que torço para ser o certo.
— Vai dar merda... — sussurro na sala escura ainda.
O alarme desativa e meu coração volta a bater normalmente.
Fecho a porta com cuidado e olho ao redor. Tudo silencioso.
Vim direto do aeroporto para cá, porque não queria perder
tempo. E como sei que ela vai trabalhar, o quanto antes eu
chegasse, melhor seria.
Caminho com cuidado pela casa e minha ansiedade começa
a triplicar. Eu preciso ver logo essa menina. São muitas semanas
longe, virando meses, às portas do final da temporada. A cada dia
que passa, nossa despedida em Los Angeles vai ficando mais
distante e tornando tudo isso mais agonizante.
Subo as escadas, e, porra, porque tudo parece fazer mais
barulho quando não queremos?
Paro no topo dela e o corredor está com algumas luzes
acesas.
Oliver, filho da puta! Ele disse que seus pais não estariam
aqui.
Uma porta à minha direita se abre, e a loira com cabelos
soltos, toalha enrolada no corpo e um creme em mãos sai. É o
banheiro. Ela não olha diretamente para a frente. Está distraída com
o creme, olhando algo nele. A baixinha, a diabólica, a louca da
minha vida é capaz de me fazer ter um treco por sua presença
apenas.
Porra, que saudade!
Não quero que ela se assuste muito, por isso encosto na
parede perto da escada, cruzo os braços e ergo a sobrancelha
olhando para ela.
— Isso não é hora para criança estar dormindo ainda? —
sussurro e ela para abruptamente, deixando o creme cair de suas
mãos.
Os olhos verdes que tanto amo, me encaram, assustados, e
ter esses olhos presencialmente de novo é minha paz, coisa que um
dia já foi minha tortura.
— Sparks... — sussurra e sorrio. — TYRON!
Ela corre na minha direção, se jogando em meus braços, e
sou rápido, segurando-a. A toalha despenca ao chão. Seu corpo fica
em volta do meu, completamente nu. O perfume de sua pele após o
banho, a maciez, tudo preso em meus braços.
— Baixinha! — falo e ela sorri. — Porra, garota!
— Eu não acredito nisso... — Seus olhos marejam.
Mas eu não deixo que continue com mais nada. Eu beijo-a,
porque preciso da sua boca na minha, do seu gosto. Prendo seu
corpo na parede e devoro sua boca, com a saudade controlando
nós dois. Seus braços me apertam, as lágrimas em seu rosto se
misturam ao beijo, deixando salgado. Tudo é uma combinação
perfeita de saudade, desejo, amor.
Meu coração nunca bateu tão acelerado como faz agora. É
como se ele tivesse tomado a adrenalina que precisa para se agitar,
animar. Não falamos, não conseguimos fazer isso.
São semanas que viraram meses...
São segundos que viraram horas...
E a saudade que se acumulou se misturou ao desejo...
O beijo é um dos mais gostosos que já demos. Meu corpo
sente cada choque que o seu me lança, e atinge no meio das
minhas pernas, onde meu pau está duro como uma pedra, louco
para estar dentro dela, pedindo para entrar no lugar que pertence a
sua dona.
Com um braço a mantendo firme, eu ligo o foda-se e abaixo a
calça justa de moletom que eu uso, junto da cueca, apenas o
suficiente, e sem pensar em mais nada além da gente nesse
momento, eu entro nela, eu preencho sua boceta com meu pau,
ouvindo seu gemido em meus lábios, que se misturam ao meu.
Eu fodo-a presa a parede do corredor, com ela nua em meus
braços. Nossos olhares se encontram e ela me abraça mais forte,
com seu rosto em meu pescoço, os movimentos fortes, indo fundo,
com ela me engolindo, apertando dentro de si.
Suas pernas me apertam mais e minhas mãos fazem o
mesmo em sua bunda. A adrenalina cresce cada vez mais, até
estarmos gozando juntos, com seus gemidos desesperados, e
minha boca presa em sua pele.
Seu rosto torna a vir ao meu foco. Tiro meu pau de dentro
dela e subo a minha roupa. Carrego minha garota ainda presa em
meus braços, levando-a para o seu quarto.
Coloco seu corpo sobre a cama e torno a beijá-la, tirando
meu tênis. Afasto nossos lábios apenas o suficiente para tirar meu
moletom preto, e voltar para os seus braços, seu beijo.

Estou deitado em sua cama, com ela completamente nua


ainda em meus braços. E eu não desejaria estar em outro lugar que
não fosse aqui.
— Você é louco! Eu poderia ter infartado, seu idiota! — Ela
acerta meu peito e sorrio.
— Só queria fazer uma surpresa. Não reclame. Ficou um
longo tempo reclamando que eu não vinha te ver, e é assim que me
recebe? Com tapas? — provoco.
Acaricio suas costas e sua perna por cima de mim.
— Claro! Tyron, eu acreditei que não viria! E tenho certeza de
que tem dedo do Oliver nessa surpresa, porque ele investigou muita
coisa esses dias comigo!
— Acertou! — Pisco para ela. — O que diabos estava
fazendo em outro banheiro e já acordada a essa hora?
— Meu chuveiro está com problema. Vão vir arrumar essa
semana, algo com a fiação. E eu iria mais cedo ao jornal, ver se
consigo adiantar mais coisas.
— Quer que eu vá? Não quero te atrapalhar, Reed — digo
com sinceridade. Ela tem as coisas dela.
— Nem pensar. Vou avisar a Jennifer que irei trabalhar de
casa. Não é nem louco de ficar longe. Quanto tempo vai ficar? —
Seus olhinhos brilham.
— Até amanhã. À noite preciso embarcar.
— Já? — pergunta desanimada e assinto.
— Só consegui dois dias livres. Poderia ter ido para qualquer
lugar, até mesmo para casa, mas escolhi você, para resolvermos as
coisas oficialmente. Não dá para continuar em aberto.
— Não dá... Viu as notícias? A cada hora dizem coisas
piores. Inventam de tudo, sobre eu não estar mais na Golden, não
estar indo aos jogos nem aos seus e nem do meu irmão, depois do
beijo no jogo em L.A.. Eu queria não me importar, mas até no
trabalho algumas pessoas olham, ficam cochichando, nos lugares
que vou. Me colocam como “um caso aleatório do astro do
basquete, Tyron Sparks”. É foda... — suspira, acariciando meu
peito.
Eu acompanhei as notícias. Odeio fazer isso, mas minha
equipe me alertou sobre tudo e foi um ponto a mais para eu exigir
esse tempo e Gilbert se virar.
— Desculpa. Eu nunca imaginei que iriam chegar a tanto.
— Eles sempre chegam. Eles invadem minha vida desde
sempre, seja por conta dos meus pais, ou por causa do Oliver. Era
óbvio que fariam o mesmo por causa de nós dois. Tudo isso me
trouxe ansiedade em ter resolver as coisas. Eu nunca quis te
pressionar em nada, eu só...
— Ei... Eu sei disso. Nunca me pressionou. Eu entendo que,
enquanto o silêncio existir, nesse caso, só dará margens a mais
fofocas. É por isso que vim, Kristal. Eu nem queria ter começado
com sexo, mas não é como se eu pudesse resistir ter você nua em
meus braços depois de tanto tempo.
Rimos e esse som pessoalmente, é tudo que eu precisava.
— E como será? — pergunta receosa. — Tyron, eu realmente
gosto de você. Essa distância, tudo isso só provou a mim mesma
que eu preciso de mais. Tudo começou de um jeito bagunçado, eu
sei, só que eu não esperava me apaixonar, amar... Eu não queria te
amar, não vou dizer que queria, porque não queria! — fala rápido, e
meu peito se enche de alegria. — Era para nos odiarmos ainda,
inferno! Mas droga, você não ajuda! — Seus olhos enchem de
lágrimas novamente e eu só sorrio. — Pare de sorrir, inferno. Fale
alguma coisa. Estou me expondo mais do que deveria, e ainda nua
nos seus braços! Tem mais humilhação?
Seguro seu rosto e seus olhinhos me encaram.
— Acha mesmo que eu passaria esse tempo todo falando
todos os dias com você, buscaria por folgas o mais depressa
possível, e viria correndo na primeira oportunidade, só por vir? Só
para transar com você? Óbvio que não! Eu larguei tudo por dois
dias, para estar aqui, porque parte de mim está com você, garota.
Quando eu fui embora em L.A., eu deixei metade de mim com você,
e, caralho, eu não poderia dizer isso por uma simples ligação. Acha
humilhação isso? Então vamos nos humilhar juntos. Acha que eu
também queria amar a pirralha irritante que parece um carrapato na
minha vida? Eu te amo também, e é por isso que vim aqui, para te
dizer isso olhando nesses olhos verdes infernais.
— Eu te odeio, Tyron! — Sua voz é tomada pela emoção.
— Não odeia, princesa. — Beijo sua boca. — Namora
comigo, Reed? — peço e ela assente montando em cima de mim,
beijando-me.
Chuto a minha roupa para longe, tirando com facilidade,
porque eu não quero desgrudar dessa garota mais. A única que faz
meu coração acelerar e parar na mesma velocidade. Que me faz
sentir raiva e amor no mesmo instante. Que me deixa louco e calmo
na velocidade da luz.
Sento-me, encostando na cabeceira da cama, apertando seu
corpo, e me perdendo nela mais uma maldita vez.
— Eu te amo... — sussurra em meus lábios.
— Eu sei. Seus olhos sempre mostraram isso, minha
princesa. Mas eu amo ouvir saindo de sua boca. — Sorrio e mordo
seu lábio inferior.
— Quem diria! — Balança a cabeça.
Rimos, e viro seu corpo, deixando-a por baixo de mim, com
um gritinho vindo dela.
— Eu te amo também, agora abre essas pernas que quero te
foder mais! — Beijo seu pescoço e ela se arrepia.
— Você é um safado, um cretino, seu idiota! — Acerta meu
rosto de leve.
— Por você? Sou!
Ela gargalha, mas beijo-a de novo. Porra, que viciante!
Fecho a tela do notebook, após terminar de adiantar algumas
coisas de trabalho. Tyron está deitado em meu quarto,
descansando. É nítido o quanto está exausto, até mesmo sua
expressão está mais abatida. Isso é o jogo, nessa reta final, os
jogadores começam a sentir uma pressão maior, um desgaste físico
triplicado, e o mental nem se fala. Meu irmão fica desse jeito
também, tem vezes que meus pais ficam preocupados em como ele
pode estar lidando com tudo.
Ele nem quis comer, virou para o lado na cama e dormiu. Iria
reservar um hotel, mas não deixei, então pegou as coisas no carro
que alugou, e vai ficar aqui. Isso é bom, nos dá mais tempo juntos.
Quem diria que eu iria me derreter por ele. Isso é assustador.
Amando Tyron? É tão inevitável não amar. A forma como a vida nos
uniu de novo, o carinho dele comigo, nossas provocações. Os
últimos tempos, as trocas de mensagens, ligações, sua
preocupação... Tyron sempre tentou estar presente mesmo que
distante.
São tantas coisas acontecendo agora, que tenho até medo
do que pode vir depois. Ele também foi nomeado em duas
categorias: armador do ano e melhor jogador da temporada. Espero
que ao menos em uma ganhe, porque não podem me dizer que ele
não está dando tudo de si. Tenho acompanhado os jogos. Meu
irmão também foi nomeado em: Melhores arremessos e Destaque
do time.
Passei a vida torcendo pelos Tigers e agora me vejo uma
boba tendo que dividir meu apoio. É, entendo as mães deles, tem
carinho pelos dois e ficam em cima do muro.
Vicky estava curiosa porque irei trabalhar de casa, e bastou
eu dizer que tenho que lidar com uma surpresa, que ela entendeu
do que se tratava e soltou suas loucuras. Cherry foi para a aula,
mas passou antes aqui e também já sabe, logo eu sei que elas vão
me dar espaço até amanhã, não porque eu pedi, mas porque são
especiais demais para entender que isso é importante para nós.
Combinamos que só iremos expor nas redes sociais o
anúncio do namoro, depois de falar com nossas famílias, para
saberem oficialmente por nós. Até o momento meus pais sabem que
nos falamos, mas não imaginam que tudo terminou em namoro.
Estou namorando Tyron Sparks!
Solto um gritinho e começo a rir, antes de me levantar do
sofá. Vejo a hora, e ele precisa comer algo.
Subo para o meu quarto, ele dorme de bruços, agarrado ao
travesseiro. Apenas de cueca, e me dando uma visão perfeita. Que
bunda!
Me aproximo e beijo seu pescoço, e ele se mexe um pouco.
— Que fofinho... Acorda, Tyron! — Acerto sua bunda e ele
resmunga.
— Me lembre de arrumar uma namorada carinhosa! — fala
sonolento, com uma voz perfeitamente rouca, sexy.
— Eu sou carinhosa. Vim te acordar porque precisa comer.
Quer sair, ou pedir algo aqui?
O filho da mãe olha de lado e sorri todo safado.
— Pare de pensar besteira. Vou pedir algo para comer então.
Toma um banho enquanto isso.
— Reed, quando está gemendo é menos irritante!
Sério, por que eu fui amar ele? Me fala, universo? Me fala!
— Então morra de fome! Tchauzinho.
Me viro e caminho para fora do quarto.
— Reed... Kristal! — fica me chamando, e escuto do corredor,
enquanto rio. — Diabólica!
Desço as escadas, para pedir alguma coisa para comer.
Kássia, nossa governanta, recebeu folga minha, liguei para ela,
disse que, se não tivesse comprado nada ainda, poderia deixar, que
está tudo bem. Ela tem parentes na cidade, gosta de ficar com eles.
Desconfiou que estou aprontando, mas não sou o Oliver. Poxa.
Dispensei os outros funcionários também. Eu quero a casa
livre, quero curtir com o Tyron, longe das pessoas, de olhares. Só a
gente. Merecemos isso.

Ajeito a comida sobre a ilha da cozinha, enquanto braços me


rodeiam por trás. O resmungão tomou banho e desceu, e somente
de cueca.
— Não tem roupa?
— Para quê se iremos ficar sem? — brinca e sorrio. — Essa
casa não deveria ter funcionário? Foi o que seu irmão disse.
— Deveria. Dispensei todos. — Recebo beijos no pescoço. —
Tyron... Pare de ser tarado e foque em se alimentar!
Sorrio me afastando dele, e pegando os pratos e talheres.
Pego os copos entrego a ele, que coloca na ilha.
Ele segura meu braço com cuidado, olhando a tatuagem, e
sorri.
— Ainda não acredito que fez. Está linda. — Me olha e sorrio
animada.
Sem querer, registrei ambos Sparks em mim, e não me
arrependo.
— É especial. — Olho para a tatuagem e suspiro.
Ele solta meu braço e se debruça sobre a ilha e sigo-o com o
olhar. Que gostoso infernal.
— O que quer fazer? — pergunta e tento não babar.
— Podemos ficar por aqui, assim também descansa. Não me
importo em sair ou não, Tyron. — Coloco suco em meu copo e bebo
um pouco. — Ah, tem algo que você vai gostar e não tem como eu
perder!
Ele me olha desconfiado e sorrio.
— Comida primeiro! — Aponto para ela, e ele segue
desconfiado.

Entro no porão da casa, está escuro. É um espaço que papai


usava para acumular tralhas, até que reformamos e virou uma parte
academia, que o Oliver é quem mais usa; e a outra parte seria uma
sala de cinema, o que nunca aconteceu, e resultou no início de uma
diversão recentemente.
— Pronto? — pergunto, animada.
— Acende logo a luz e para de suspense. Porra, o que
aprontou? Kristal, não estou a fim de namorar uma presidiária. Se
escondeu o corpo de alguém aqui...
Começo a rir.
— Amor, está namorando Kristal Reed, e não Vicky Foster.
Ok, vamos lá!
Acendo a luz à minha direita e bato palminhas animada.
— Só pode ser brincadeira... — Ele está com as mãos no
bolso da calça que colocou, a sobrancelha erguida e uma cara de
puro deboche. — Você realmente comprou isso?
— Aí que está o destino. Já que ninguém usava esse lado do
porão, eu queria algum entretenimento, já que sempre faço alguma
coisa com as meninas. Não tem as matérias que estou fazendo? —
Ele concorda me olhando desconfiado. — Um dos donos de um dos
times é dono também de uma rede desses brinquedos de parques e
simplesmente me presenteou com jogo de basquete eletrônico,
depois de um evento que me convidou!
Eu sei que meus olhos brilham.
Me aproximo do brinquedo e ligo ele, toda animada.
— Um cara te presenteou com isso e te convidou para um
evento?! — Olho para ele, que não parece muito feliz.
— Sim. Dá para fingir animação?
— Desculpe, é que me perdi na parte que um cara anda
presenteando minha namorada e fazendo convites. — Sua cara é
emburrada e a minha é de riso.
— Para de frescura! É um senhorzinho, Tyron! Eu e as
meninas ficamos jogando, e até meu pai gostou. E sabe quem é boa
nesse? Eu! — Jogo meu cabelo e ele revira os olhos.
— Lógico que seria. Tem sua altura.
Mostro o dedo a ele, que se aproxima, parando ao lado do
brinquedo todo iluminado agora.
— Pois saiba que a cesta desse mexe, tá! Ela aumenta a
velocidade conforme vai marcando mais pontos. É um nível de
concentração e talento avançado! — aviso e ele sorri.
Pego a bolinha de basquete e arremesso na cestinha,
marcando pontos.
— Senhorzinho... Que idade? — pigarreia.
— Quê? — Olho para ele, que me encara. — Mentira! Tyron,
está com ciúmes disso?
— Lógico que não! — Desvia o olhar e me empurra de leve,
pegando a bola e marcando pontos.
— Pois parece! — Olho de lado para ele, controlando o riso.
— Reed, não me provoque que te coloco dentro desse
brinquedo!
— Não fiz nada. — Pego a segunda bolinha e jogo. O jogo
vai dando várias minibolas de basquete. Cada vez mais rápido. —
Mas é que você fica bonitinho emburrado...
Ele me olha de lado e sorrio.
— Ok. Quer jogar isso? Então vamos jogar! — fala irritadinho
e eu só me divirto mais.
Ligo o outro lado, pois é um jogo duplo e zeramos para
começar do zero.
— Sem roubar, Sparks!
— Está insinuando que faço isso, Reed? — Me olha.
— Na quadra? Não! Para me irritar? Sim!
Ele sorri todo leviano, e isso já me diz muito que isso aqui vai
ser tortura, para mim.

Meia hora depois estou sendo agarrada quando tento fazer


minhas jogadas, entre risos e provocações.
— Tyron, seu idiota... Não! — Tento arremessar, mas ele me
faz cócegas e começo a rir. — Jogo o seu e vence de maneira justa,
peste!
— E perder a chance de te irritar? Jamais! — Beija meu
pescoço e me arrepio toda.
— Ty... — Erro uma cesta e tento jogar outra bola que vem,
mas não consigo, ele não deixa, porque sua mão está entrando por
dentro do meu short e deslizando por dentro da minha calcinha. —
Tem duas câmeras bem atrás da gente, sabia? — alerto, e ele sorri.
— Acha que não notei? Então é melhor ficar quietinha e
continuar jogando, sem perder, Kristal... — Desliza o dedo pelo meu
clitóris e prendo um gemido.
As câmeras aqui do porão não têm som, são as únicas que
não tem, pelo menos isso.
O infeliz continua sua provocação, enquanto sinto seu pau
duro pressionar minha bunda.
Tento jogar, mas estou errando tudo, porque cada movimento
que faço, seus dedos brincam com o perigo.
— Não está jogando... — diz com a voz rouca.
— Tyron... Aaaaah... — Ele desliza mais firme os dedos pelo
meu ponto sensível. — I-isso é injusto... Meu Deus! — Fecho os
olhos, o jogo já era.
— Injusto é passar tanto tempo longe de você. — Beija meu
pescoço. — Onde são os pontos cegos dessas merdas, Kristal?
Seus dedos não param e estou ficando louca.
— Nenhum... Elas giram, dão zoom, assim que nos mover...
Tyron... Droga! — Ele quer me deixar louca. — O quarto... Tem um
quarto aqui embaixo... A porta à esquerda.
— Ótimo... Esquece esse jogo, porque a brincadeira será
outra agora.
Ele retira a mão, me fazendo sentir raiva por isso e ainda
acha graça. Babaca!
Segura minha mão e levo ele até o quarto. É pequeno,
simples. Nunca usamos. Mas qualquer quarto imenso se tornaria
pequeno, para o desejo que temos um pelo outro.
Quando a porta se fecha atrás de nós, roupas são tiradas e,
em um instante, sua boca está na minha; e no outro, estou de
quatro, com ele me penetrando por trás, fodendo forte, ao ponto dos
nossos gemidos ficarem presos pela intensidade.
— Estou viciado em você... Porraaa... — geme rouco quando
rebolo em uma das investidas.
Estou na ponta da cama. As pernas para fora dela e suas
mãos puxando meus cabelos de modo bruto. Tyron não é delicado
no sexo, e, por favor, ainda bem.
Ouvimos um barulho no porão e a voz me faz saber que
estamos ferrados.
— Ty... Kássia esqueceu algo, a porta... Não trancamos com
chave... — sussurro e ele coloca a boca em meu ouvido.
— Quietinha... — Ele continua se movimentando. — Devora
meu pau quietinha... Isso... — Fecho os olhos e mordo os lábios.
— Mas essa menina... Deixa tudo ligado... Some... Deve ter
saído às pressas para trabalhar!
Tyron ri baixinho em meu ouvido.
— O que seria se descobrissem que, na verdade, a garotinha
está de quatro me dando a bocetinha?
Levo a mão à boca, quando um gemido quase escapa. Ele
triplica o movimento. Me comendo sem parar, quando podemos ser
pegos a qualquer instante. Tyron literalmente liga o dane-se, e isso
só deixa tudo mais intenso, gostoso.
Ele puxa meu rosto e começa a me beijar, prendendo meus
gemidos à sua boca. A porta do porão é fechada de novo, o barulho
é alto. Meu corpo escorrega um pouco mais para baixo, mas ele me
segura firme, apertando meu seio em seguida. As pernas queimam,
o coração é um caos perfeito e não consigo mais controlar o
orgasmo que me consome inteira, e gozo desesperada, gemendo
mais forte em sua boca e sentindo ele me encher todinha dele.
— Eu... posso não ser atleta, mas... preciso... me
movimentar, Tyron! — sussurro ofegante e ele ri, saindo com calma
de dentro de mim.
— Não reclama, que gosta! — Beija meu rosto e assinto
fraca. — Mas vou te dar folga.
— Não pedi por isso. — Sorrio e recebo um tapa na bunda.
— Como pode ser tão irritante e foder tão bem? — provoco e recebo
outro tapa.
— Você é extremamente insuportável, Reed! — Sorri
beijando meu pescoço e fecho os olhos. — Vem, vou te ajudar a se
ajeitar para sairmos daqui.
— Ou podemos dormir um pouquinho aqui... Almoço, jogo,
sexo... Não sou ninguém mais.
Ele gargalha, me ajeitando na cama, e agarra meu corpo por
trás, enchendo meu pescoço de beijos. Nossos olhos se encontram,
e tenho só mais certeza de que fiz uma boa escolha.
— Linda... — sussurra e me beija, mas dessa vez com
carinho.
Tyron foi embora tem dois dias, para o novo destino, mas,
dessa vez, sem ficar o sentimento de preocupação, angústia. Muito
pelo contrário, resta paz, calmaria. Provavelmente só nos veremos
agora no último jogo, em Nova York, e estou ansiosa para isso,
porque acredito muito que poderá ser os Tigers contra os Red Fire.
Irei ficar bem dividida, pela primeira vez, não vou mentir. Me tornei
uma bobona apaixonada.
— Olha, estou exausta, mas nunca estive tão realizada! —
Vicky fala, sentando-se em sua mesa. — Vou cobrir mais um jogo
hoje, mas estou muito feliz. Eu gosto de agitação, nada parado, e
isso foi perfeito. Imagine só ano que vem que isso será definitivo?
Que não irei ficar mais tempo aqui do que na rua? Sonhando com
esses dias.
— Para! Eu vou sentir sua falta, maluca! Será esquisito ficar
aqui sem você também. — Anoto umas coisas que quero pesquisar
mais para duas matérias que preciso fazer.
— Como se você fosse ficar muito tempo trancada aqui. Seu
namorado vai estar de férias, certeza de que vai pedir home office.
Estaria errada se não pedisse. Transando e trabalhando... A vida
que pedi a Deus!
Viro-me para ela, olhando ao redor.
— Pode controlar as coisas que fala?! — repreendo-a e ela ri.
— Mas talvez seja uma bela opção!
Ela ri e pisca para mim.
— Eita... Olhe! — Indica e me viro, para a pessoa que sai do
elevador.
Zachary Rice, presidente da Golden. Sem seu cão de guarda,
Jayden. Desde aquela conversa, nunca mais nos vimos
pessoalmente. Ele não olha para o lado, segue por onde já deve ter
sido informado para ir.
— O que será que quer? — Vicky arrasta sua cadeira para
perto de mim.
Pego algumas folhas e grampeio.
— Final da Golden chegando, a matéria final ainda faz parte
do acordo, deve ser algo sobre isso que veio tratar. Jennifer passou
ela a outra pessoa, a única coisa que sei.
Coloco as folhas dentro da pasta.
— Não sei não... Ele não está com uma cara muito boa. Viu
as fofocas? Dizem que está rolando alguns desentendimentos dele
com outros dentro da Golden, e com o anúncio oficial da saída do
Richard dos Tigers, isso só está gerando mais suposições.
Sim, finalmente Richard tomou as devidas punições.
Anunciaram recentemente a quebra de contrato com ele, deixando
os Tigers com reservas a menos.
— E só tiraram oficialmente o idiota agora, porque, com toda
certeza, o tempo reduziu mais da multa. Pode acreditar!
Minha morena maluquinha ajeita o cabelo e assente.
— Pior que deve ser isso mesmo. Richard tinha muitos
contatos, provavelmente muitas promessas. Ah, e viu o Aaron, o
jornalista de merda? — indaga e nego.
— Se destruindo mais. Postou nas redes sociais dele uma
carta aberta destruindo a Sport, a Golden e detonando o meio
jornalístico. Está em todos os lugares. Surtou!
— Jennifer já está puta com ele, vai arrancar os couros dele
em processo. Bem feito!
— Eu arrancaria na porrada! — Finge uns golpes e começo a
rir.
— Sai, vai para a sua mesa!
Empurro sua cadeira e ela sai rodopiando nela.
— Na verdade, vou para a rua. Tenho que chegar do outro
lado da cidade em vinte minutos.
— Vicky, vê se vai com cuidado!
— Sempre! Ah, Cherry pediu carona, vai ficar até tarde na
universidade e disse que não vai aguentar caminhar nem cinco
minutos, está exausta.
— Pode deixar! — Sorrio.
Ela pega suas coisas na mesa e se ajeita. Passa por mim me
jogando um beijo e sai toda animada.
Doidinha, mas tão especial!

Terminei de organizar as coisas pendentes, e agora estou


pesquisando informações sobre as matérias que farei. Tenho que
colher fatos, averiguar o que pode ser fake news, antes de pontuar
tudo.
Hoje está mais vazio por aqui, pois está tendo reuniões de
pautas, e acaba que, nesses dias, as mesas ficam sem seus donos.
Isso é bom, me concentro mais, sem olhares, toda hora alguém
surgindo para pedir algo.
A porta da Jennifer se abre e do mesmo modo que o velho
entrou sozinho, sai sozinho, com uma expressão indecifrável. Tento
controlar minha curiosidade, mas é maior que eu.
Cherry me envia mensagem e confirmo a carona, mas é a
pessoa que para em frente à minha mesa, que me faz largar o
celular e erguer os olhos. Ele pega o mascotezinho dos Tigers na
mesa, de pelúcia, e encara o bichinho e torna a colocar no lugar.
Os olhos passam pela mesa, vendo os porta-retratos com as
meninas, minha família e a tela do celular acende bem na hora que
ele encara, e uma foto minha e do Tyron surge, por conta da
notificação.
— Deseja alguma coisa, Sr. Rice? — questiono nervosa com
o suspense.
O velho de terno ergue os olhos na minha direção e leva as
mãos ao bolso. Parece bem cansado. Não é para menos, já que vai
para todos os jogos. Não sei como não está no Canadá onde
acontece o dessa semana.
— Quanto tempo, Srta. Reed. Tenho ouvido falar muito da
senhorita, das matérias que tem feito... E agora sei que realmente
se recusou a fazer a matéria final da Golden.
Respiro fundo e me ajeito na cadeira.
— Sim. Recusei. E que bom que tem ouvido, é importante um
trabalho estar sendo falado, e claramente espero que sejam coisas
boas — falo enquanto ele puxa a cadeira ao lado, se sentando nela.
Era só o que me faltava.
— Sabe, depois da nossa última conversa, eu descobri
algumas coisas...
— Olha, senhor, se vai prolongar isso, arrumar discussão,
com todo respeito, eu preciso trabalhar! — sou direta. Não quero
encher minha cabeça com merda.
— Escute, por favor! — Solto uma lufada de ar com suas
palavras. — Retomando... Eu descobri o que o Richard fez com a
senhorita, a forma como a tratou, alguns funcionários viram e em
uma das vezes o Sparks lhe ajudou. — Engulo em seco. —
Descobrir isso me assustou. Sabe, eu nunca tive filhos, sobrinhos,
gostaria de ter tido, mas não tive essa sorte. E talvez, se tivesse
tido, eu poderia ser menos babaca. — Arregalo os olhos. — Não se
surpreenda. Sei que pensa até pior. No instante que soube desse
assédio, não escutei ninguém, tomei as medidas cabíveis e comecei
a preparar o desligamento dele da Golden, que já acontecia, mas
seria apenas ano que vem. Quando tomei essa atitude, foi
pensando na senhorita.
— Em mim? — Fico cada vez mais surpresa.
— Sim. Porque poderia ser uma sobrinha ou filha que tanto
quis, a estar passando por isso. É uma maneira egoísta de se
pensar, porque, para proteger uma mulher, respeitar, não precisa
pensar que é filha, sobrinha, parente, basta ter caráter para isso e
entender que assédios morais, físicos, não devem existir. E quando
refleti sobre isso, eu vi que lhe tratei com desrespeito também, e da
mesma forma que me enojei pelo que disseram... Era a forma como
provavelmente se sentiu com o que lhe disse. Isso não anula nada,
mas eu gostaria de lhe pedir desculpas por tudo, pois não é assim
que as coisas deveriam ser.
— Realmente não é. Estou surpresa, mas que bom que quer
aprender, não é? Nenhuma mulher deveria ser tratada como eu fui
por ambos! — Não meço as palavras, sou fria.
Ele assente, e isso só me surpreende mais.
— Enfim... Peço desculpas por tudo. E acrescento que a
senhorita estava certa sobre as pessoas à minha volta. Na primeira
decisão que tomei sem consultá-los, as coisas fugiram do controle.
Talvez seja tarde para tentar corrigir algumas coisas, mas os
choques de realidade baterem à minha porta.
O que a Vicky disse... Então a fofoca é real! Meu Deus!
— Tudo bem... Antes a verdade na cara, do que uma mentira
sendo romantizada. Vivem de mentiras, aparências, uma hora a
casa cai, não é? — revido e ele concorda.
O velho está morrendo?
— Bom, era isso. — Ele se levanta. — Ah, e vim
pessoalmente me retratar com sua chefe também. E fazer um
convite.
— Um convite? — Encaro-o atenta.
— Sim... A Golden tem um espaço exclusivo para a senhorita
para o próximo ano. Se desejar cobrir, nós iremos custear tudo,
inclusive lhe dar suporte jurídico sobre o que precisar.
Arregalo os olhos e começo a rir. Ele me olha confuso.
— Sério isso? Para quê? Para me privar do que falar pelo
medo? Ou para tornarem minha vida um inferno novamente quando
se sentirem encurralados? Sr. Rice...
— Pense. O contrato, tudo será diferente e poderá falar do
que e como quiser. Daremos a sua liberdade de imprensa. É o
mínimo que eu poderia fazer diante de tudo. Aguardo sua resposta
até o início do próximo ano. Passar bem, senhorita Reed.
Ele assente e se afasta. Jennifer coloca a cabeça dela para
fora da porta, assim que ele entra no elevador que um funcionário
sai. Então vem correndo até minha mesa.
— O que foi isso? Eu estou delirando? — questiono e ela ri.
— Isso se chama medo e inveja. Os esportes que está
cobrindo com exclusividade estão muito engajados, todos falam
sobre suas matérias, está crescendo muito e sozinha, Kris. E as
coisas com os “amigos” dele não andam boas, ele precisa de
aliados novos, antes que o tirem da presidência, mesmo sendo
dono. Jayden pode e consegue isso, porque tem o irmão na palma
das mãos. — Franzo o cenho. — Não sabia? São irmãos, querida.
Mães diferentes, cresceram separados, são meios-irmãos. Porém,
Jayden é mais novo. Para tirar o irmão de louco e tomar o que
Zachary construiu é um estalar de dedos.
— Uau... Dessa eu não sabia. Confesso que nunca fui a
fundo na vida deles.
— Não se fala muito sobre isso, só se pesquisar nos buracos
da internet. Gente muito rica dessas coisas deixam expostos apenas
o que querem.
Concordo.
— Estou chocada. O velho vindo pedir desculpas, dizendo
que tirou o Richard antes por minha causa e querendo que eu volte
para a Golden... Olha, se me falassem que aconteceria, eu
duvidaria! — Faço uma careta.
Ela sorri.
— Como eu disse: medo. Isso se chama rabo preso. Uma
jornalista crescendo muito, assédios na Golden, ele sendo um dos
que fez. Você está crescendo muito como jornalista, eu já disse.
Isso é medo! E sabe o que é bom nisso? — Nego e ela ri. — Você
tem ele na suas mãos, querida. — Pisca.
Sorrio e balanço a cabeça.
— Espera... Ouviu tudo da sua sala?
— Sim, quando está vazio aqui, ouço tudo.
— Então quando...
— Quando você e a Vicky falam asneiras, eu ouço!
Arregalo os olhos e ela ri.
— Meu Deus... Enfim, vou voltar as minhas coisas.
— E a resposta? Vai aceitar? Acredita que até enaltecer a
Sport nas matérias, caso você aceite, ele vai?
Rimos porque é inacreditável.
— Vou pensar. Tenho até ano que vem para decidir.
— Vai dar a resposta no último segundo só para torturá-lo,
correto?
— Não pensaria melhor!
Rimos de novo e ela se afasta.
É, quem diria que o jogo viraria assim. O que o medo não faz
com os idiotas. Tão homens, e na hora do desespero, que sentem a
corda apertar no pescoço, se desesperam.
Pego a Cherry na universidade, descobrindo que seu carro
deu problema na bateria, por isso nem pensou em vir com ele hoje.
— Com quem tanto troca mensagens? — pergunto, parando
na Starbucks, porque estou morrendo de fome, e até chegar em
casa, irei desmaiar, já que está tendo uma festa universitária no
bairro e um caos para chegar em casa.
— Quê? — Me olha e reviro os olhos.
— Mensagens, não para de digitar.
— Nada... Coisas da universidade! — Sorri com as
bochechas vermelhas.
Duvido. Tem coisa aí... A mascotezinha...
Peço o que queremos, e não demora para sairmos, comigo
tomando um frappuccino com caramelo, e ela segue no de
morango. Peguei um donut também.
— Adivinha quem me procurou? — indago e ela me olha
curiosa.
— Não tenho ideia. Hoje não consigo pensar em nada.
— Zachary!
— QUÊ?! O QUE ELE QUERIA? TE FEZ ALGO?! — Se
assusta e nego.
— Longa história. Em casa te conto. — Um universitário
passa totalmente bêbado na frente do meu carro e freio
rapidamente. — Eu não sei como aguentei a universidade! Meu
Deus! — exclamo e Cherry ri.
— E eu ainda terei que viver nisso por um longo tempo...
Sorrimos. É um fato, ela começou um pouco tarde, precisa
terminar Comunicação, para poder ingressar em Direito.
— Só posso te desejar boa sorte, Mascotezinha... Só isso!
Mordo meu donut e sonho com um banho.
Observo a arena lotada. Mais uma quadra, mais um dia.
Canadá é nossa parada da vez, e o frio na cidade não me incomoda
muito, mas meu corpo sente um cansaço a mais, mas quando se
está em quadra, tudo esquenta, é a adrenalina que nos consome.
Temos um tempo ainda antes de entrarmos. Ajeito o capuz do
casaco vermelho, cobrindo minha cabeça e respiro com calma. É
um jogo decisivo, mais um para a conta. Meu time depende de mim,
e eu dependo deles. Falta pouco para a grande final, para o
descanso.
Não tem amigos, família, namorada... ninguém lá fora além
dos torcedores que contam com a vitória. Essa é uma das outras
partes complicadas de se viver isso, é que nem sempre as pessoas
que precisa poderão estar por perto.
Inclino a cabeça para trás, encostando na parede, e
respirando fundo. Os televisores à minha frente liberam os sons, a
agitação de todos. Scotiabank está com capacidade para mais de
dezenove mil pessoas... Entradas esgotadas.
Um erro aqui e estamos fora, as pontuações hoje não fazem
sentido, porque o time adversário venceu a muitos pontos os Brave,
eles pontuaram passando à nossa frente, e para vencê-los temos
que marcar mais, muito mais.
Um erro e vamos para casa... A Golden já era para nós. E
pensar que é o desejo de muitos aqui que ela termine para mim. É,
talvez possa acontecer.
Passos me fazem olhar para o lado. Jimmy Cornell, gerente
geral do time, para ao meu lado e olha os televisores. Em seguida
leva as mãos ao bolso da calça social.
— Ah, bons tempos os que eu só me preocupava em jogar.
Cornell já foi um grande jogador de basquete algumas
décadas atrás. Até se aposentar e virar gerente de um time.
— Quer trocar de lugar hoje, senhor? — questiono, cruzando
os braços e ele ri alto.
— Ah, não! O jogo é muito decisivo.
— Sim. Podemos voltar para casa. Tudo pode acabar hoje.
Ele faz um som com a garganta e balança a cabeça.
— Todos aqui se preocupam só com o dinheiro, até eu, não
sou tolo. — Sorri. — Mas esquecem de que estão lidando com
pessoas... Vocês são pessoas. Não máquinas.
Uma pena que não enxergam isso.
Ele se vira para sair.
— O senhor já foi capitão... O que fazia em grandes jogos
como esse?
Ele torna a me olhar.
— Eu me divertia. Porque ganhar não significa fazer história.
Às vezes, quem perde é o maior vencedor, meu jovem.
Assinto. Ele é irritante, vivia me ameaçando em passar o
corte em mim por causa do jeito que eu estava antes da temporada
começar, mas é um cara sábio, isso não tem como negar.
Ele se afasta, pego o celular que vibra em meu bolso. Mais
uma mensagem se acumulando. Elas não param de chegar, mas eu
precisava de uns minutos quieto.
Começo a olhar:

Oliver: Estou contigo hoje e sempre. Em pensamento arremesso nossa


bola da sorte, cara. Amo você, irmão!

Mãe: Seu pai e eu estamos torcendo por você. Queríamos estar presentes.
Sentimos muito. Mas hoje, filho, só pedimos que faça o seu jogo. Não nos importa
o resultado, desde que você esteja bem. Te amamos.

Sorrio das mensagens. Oliver é um amigo incrível, mesmo


que me irritando quase sempre, e meus pais, desde a nossa
conversa, estão tentando melhorar as coisas e isso já é um começo.
Ainda não falei com eles sobre o namoro com a Kristal, quero falar
depois do jogo, quando estiver com a cabeça longe daqui.
Continuo vendo as mensagens:

Kristal: Boa sorte, Ty. Independentemente do resultado, eu sempre saberei


que todos vocês deram o melhor. O carinho que criei por vocês me faz hoje vestir
vermelho e torcer para que o fogo queime essa quadra. Te amo, gigante! E, por
favor, foque no controle e em se divertir também. Beijos. Ah... Qualquer coisa,
estarei “a um segundo de distância (ligação)...”, assim como sinto que a vitória de
vocês também está a um segundo de distância.
Sorrio e respiro fundo. Respondo as mensagens deles, até
retornar a dela e responder:

Tyron: Te amo, garota!

Como é libertador dizer, falar, escrever essas palavras a ela.


Abro a galeria do celular e vou no álbum especifico, onde
tenho muitas fotos com ele, e abro uma onde sorrimos sentados em
uma mesa de restaurante. Meu menino sempre estará comigo onde
eu for.
Respiro fundo duas vezes, bloqueio a tela do celular e me
afasto da salinha, seguindo para o vestiário. Todos estão
conversando, rindo, até me verem. Os caras de vermelho me
encaram sérios.
— Manda, capitão! — Killian diz.
— Vamos entrar naquela quadra e fazer história. O
resultado... Foda-se o resultado. Eu confio na gente, e sei que
treinamos pra caralho para conseguir chegar até aqui. O que
acontecer nesse lugar hoje não define nossas carreiras.
Eles erguem um braço e gritam juntos:
— VAI, RED FIRE!
Sorrio. Não dá para prever um jogo, porque tudo pode mudar.

Os idiotas viram mais uma garrafa, dentre todas as outras


que já bebemos após o jogo. Em algum momento entre “ter
controle” e “sermos responsáveis”, houve um equívoco.
Eu perdi as contas de quanto de álcool já ingeri. Prova disso
é que estou rindo à toa, eu nunca rio à toa. Alf está dando beijinhos
no rosto do Tanner, que já gritou para ele beijar o pau, muito
educado, claro. Killian parece que foi o que menos bebeu, ou eu já
desaprendi a contar, tendo em vista que ele está brincando com os
canudos, colocando dois na boca e, segundo ele, isso é um leão-
marinho, mas ele já viu um mesmo?
Balanço a cabeça.
Zion... Mas...
— Cadê o Zion? — pergunto e eles me olham.
— Ele disse que ia no banheiro, provavelmente caiu na
privada! — Alf gargalha.
Por que eu aceitei beber com esses caras depois do jogo?
Fica o questionamento. O bar está lotado e não lembro a ultima vez
que me senti assim... na verdade, lembro, foi nas férias, quando
tudo estava uma grande merda, mas agora não está, tenho até uma
namorada... Que caralho, vai me matar se me ver assim.
— Eu preciso ir! Sério, que caralho fizemos? Cadê a
responsabilidade? Eu sou a porra do capitão!
— Pode ficar com seu rabo aí! — Tanner aponta na minha
direção. — As mulheres só vem aqui, porque vocês as atrai. Deixa a
gente ser mais papari... — soluça — CADO! — Começo a rir.
— Vocês são uns merdas! — Acerto uma tampinha neles, ou
tento.
Meu celular começa a tocar e, quando tiro do bolso, o nome
da baixinha aparece na tela.
— Ah, fodeu! Se vazou fotos nossas aqui e meu pau for
cortado, eu fodo vocês!
— FALA PARA A KRISTAL QUE A GENTE AGORA AMA
MUITO ELA, E QUE O CACHORRINHO DELA NÃO DEU PARA
NINGUÉM, QUERO DIZER, NÃO COMEU NINGUÉM... ESQUECE!
— Killian tenta falar.
— Cale a boca! — Alf diz, quando me levanto atendendo a
chamada. — KRISTAAAAAL, A GENTE TE AMA, SUA GOSTOSA!
Passo por ele acertando sua cabeça, e arrancando mais
risos.
— Amor, um segundo! — peço no celular.
Porra, eu poderia estar menos tonto.
Me desvio das pessoas, saindo dessa porra. Que caralho
cheio! De onde surgiu tanta gente?
Saio na direção do estacionamento, e encosto em um poste
que parece se mexer. Caralho, tô fodido.
Um frio desgraçado na rua... O que não faço por essa garota!
— Está vivo, Red Fire? — questiona e sorrio.
— Ganhamos, baixinha! Claro que estou vivo, e com
saudade.
— E bêbado... Sua voz, a gritaria deles...
— Eu juro que bebi só um pouquinho... Fazia tempo que não
fazia isso, essa porra vai ser ruim amanhã! — Esfrego o rosto e
abraço o poste. — Amor, vamos nos casar? Pensa comigo, eu me
aposento dessa merda, chuto o rabo deles e vamos viver juntos em
paz! — Olho o céu, todo escuro, que bosta.
Ela gargalha e que delícia.
— Você está muito louco. Tyron, não vamos casar! Para de
ser maluco, garoto.
— Não me ama? Pensei que me amasse. — Olho o poste
que estou abraçado, isso deve estar lotado de bactérias, porra.
— Claro que amo. Mas não vou me casar por um pedido de
um cara bêbado, e a gente começou a namorar agora. Tyron, vai
para o hotel, precisa de banho e cama, amanhã vai se arrepender
tanto disso.
— Preciso de sexo... Da minha namorada. Do carinho dela...
— Sorrio. — Porra, que fodido estou! — Encosto o rosto no poste
todo cheio de bactéria.
— Espero que não faça nenhuma merda, eu te mato, Tyron
Sparks! — avisa e começo a rir.
— O meu pau nem tem forças para subir hoje. Cansado,
acho que estou bêbado... Nem se eu fosse um filho da puta, o que
não sou! Não me ofenda duvidando de mim. Quer saber? Vou
comprar uma passagem para a Califórnia!
— Tyron, sossega! — ela ri. — Como vou ter garantias de
que vai chegar bem no hotel? Está louco!
— Está aí algo que nem eu sei, já que perdemos até um
jogador! — Desencosto do poste, e dou uma leve cambaleada, que
me faz rir. — Vamos casar? Ter dois filhos! Não daria conta de mais
um, a mãe já me enlouqueceria.
— Tyron, esquece casamento! — começa a rir de novo. —
Vai descansar, bobão.
— Um dia... Não agora. Eu não deixaria você se casar com
um bêbado! Ah, se for menina, só vai namorar depois que eu
morrer; e se for menino, vai aprender a ser gentil com uma garota!
— Deus... Ty, para de loucura.
— Um dia... Um dia aceitaria? — questiono abraçando o
poste de novo. Até ele é maior que ela. Claro que é. É um poste!
Começo a rir.
— Um dia...
— A um segundo de distância? — questiono e suspiro.
— Tyron, até bêbado joga sujo? — ela ri e imagino suas
bochechas ficando vermelhas. — Quem sabe... Vamos esperar.
Agora, eu preciso desligar. Promete tentar lembrar de me falar que
chegou bem no hotel!
Zion aparece, saindo todo perdido, e quando me vê começa
uma tentativa de rebolar, fazendo graça. Melhor eu nem falar isso a
ela, imagine só, vai pensar que o namorado só anda com doido.
— Prometo...
— É... eu vou te ligando, porque não vai lembrar de nada
amanhã, tenho certeza. E se lembrar, será tudo uma confusão.
Tenho pena de quem vai lidar com seu humor! — começo a rir. —
Parabéns pelo jogo. Você e os meninos foram incríveis. Se cuida,
Ty. Te amo!
— Também te amo, princesa! Se cuida, enquanto não estou
aí cuidando de você.
Ela ri e desliga.
— Vamos, amor? — o tatuado todo empinado me chama e
começamos a rir. — A mulher ligou? Ficou de castigo? — Balança
os cabelos soltos.
— Lidar com vocês, é um castigo! — Desgrudo do poste. —
Estou com fome!
— Eu estou com sede... Mais um álcool para dar um gás!
— O treinador e o Ashton vão nos matar! — passo por ele e
quase caio. — Porra!
Ele gargalha atrás. Babaca!
Pelo menos vencemos o jogo, a ressaca será só da
humilhação moral, e não acumulativa com o retorno para casa.
Sério, por que a Kristal não casa comigo? Meu plano é perfeito!
Oh, diabólica difícil!
Eu vou fazer trinta anos em pouco tempo! Eu quero casar.
Zion passa o braço ao redor do meu ombro.
— Você casaria comigo? — Ergo a sobrancelha ao perguntar
a ele.
— Com essa sua aparência? Não! Muito feio!
— EU SOU LINDO, FILHO DA PUTA!
Ele gargalha. Desde quando ele entende de beleza? Eu sou
lindo sim. Será que é por isso que a Kristal não quer casar? Me
acha feio?
Passamos pela porta e a bagunça volta, até porque Alf está
dançando em cima de uma mesa. Tão estressante essas crianças.
Dor de cabeça.
Ressaca.
Por que fiz isso?
Bebo o remédio de dor de cabeça, enquanto olho a bagunça
no quarto. Alf e eu ficamos no mesmo quarto dessa vez, e ele
dormiu no chão, em cima das malas abertas.
Como cheguei nesse ponto da minha vida? Poderia estar
acordando com a visão da minha menina em meus braços, a loira
maluca, mas tenho a visão do idiota perturbado, que usa cueca de
ursinhos. Porra!
Meu celular toca e o procuro pela bagunça onde está,
seguindo o som.
— Desliga isso! — Alf reclama e se vira de barriga para cima.
Olho para ele por um instante e me arrependo.
— Desarma essa porra, Alfred! — reclamo e ele olha para o
meio das pernas.
— Quer desarmar? — ele ri.
— Vai se foder... Cadê meu celular?! — reclamo, sentindo a
cabeça latejar mais.
— Argh, Tyron! Para isso! Minha cabeça vai explodir!
Eu vou matar esse idiota.
Batidas na porta me desconcentram mais da busca.
— Inferno! — Desisto da procura e caminho em direção a
porta.
Abro e dou de cara com o Tanner, com uma escova de dente
na boca.
— Isso tem que ser um pesadelo! O que quer? — Esfrego o
rosto.
— Temos uma hora para estarmos prontos, e voltarmos aos
Estados Unidos para o próximo jogo.
— Caralho. Sério? — Alf reclama no chão.
— Seríssimo! A próxima vez que qualquer um de vocês me
levar para beber, eu mato! — Ele se afasta e fecho a porta.
— O idiota deu a ideia! — Alf diz e reviro os olhos e até essa
mania me dói.
Que merda tudo isso, e por que eu sinto que pedi alguém em
casamento? Estou na merda!

Ajeito o boné na cabeça, enquanto entramos no avião


particular. Meu humor ainda não é bom, e não consegui falar com a
Kristal depois de não a atender por não achar o celular. Tentei ligar
diversas vezes, enviei mensagens, mas nada.
Só quero chegar logo nos Estados Unidos, e me jogar em
uma cama, até esse dia acabar. Tudo está foda.
— Bebam mais! Beberam pouco! — Malcolm passa por mim
falando.
Quem deixou ele ir com a gente? Inferno! Será o voo inteiro
ouvindo sermão.
Tento mais uma vez falar com minha garota, mas sem
respostas. Mereço depois da noite de bebedeiras. Merda, está em
todos os lugares!
Entro no avião, pensando em me jogar dele a qualquer
instante.

Termino de tirar a roupa, em um quarto sozinho, finalmente,


pois mais um pouco do Alf comigo, e eu mataria ele.
Pego meu celular na cama, e tento ligar novamente para a
Kristal. Ao lado de fora chove, e me sento na cama esperando que
ela atenda.
— Oi!
Sua voz me acalma. Pelo menos resolveu me atender.
— Oi, princesa. Desculpa não ter atendido quando ligou, as
coisas estão estranhas hoje.
Aperto os dedos na testa.
— Ressaca bateu, né? Eu avisei. Tudo bem... Hoje o dia foi
corrido, consegui tempo só agora mesmo. Pronto para enfrentar o
jogo depois de amanhã?
— Nem quero pensar em jogo! — Caio para trás na cama e
fecho os olhos. — Kristal, eu andei falando sobre casamento
ontem? — pergunto preocupado.
O silêncio só me preocupa mais. Tudo é muito confuso sobre
ontem à noite, e me lembro de ter falado com ela, só não tudo que
falei. E se não foi com ela que falei de casamento... Eu estou fodido.
— Não! Nos falamos ontem, estava bêbado, mas não
falamos sobre casamento algum. Por quê? Alguém vai casar? —
questiona e sinto meu sangue gelar. Olho de um lado para o outro.
— Não... É que... Eu...
A gargalhada do outro lado me deixa confuso.
— Apavorado, Sparks? Falou comigo. Me pediu em
casamento, planejou filhos. Ficou assustadinho, né?
— Porra, Reed! — solto o ar com força. — Isso não se brinca.
— Brinca sim... Pare de ser reclamão. Tenho uma novidade.
— Qual? — Encaro o teto.
— Na verdade, duas! A primeira é que seus pais vieram aqui,
estavam a trabalho na cidade, e bom... Acabei contando de uma vez
a eles e aos meus pais sobre a gente, espero que não se importe.
Não é como se eles não estivessem esperando! — ela ri. — Eles
ficaram felizes, só preocupados com a maldade das pessoas.
Sorrio. Ela nunca segura a língua. Sempre ansiosa.
— Tudo bem. Claro que não irei me importar. E sobre o que
vão falar, foda-se. Irei avisar meu empresário e a equipe de mídia
para fazer a postagem anunciando, e, antes de liberar, mostrar a
você.
— Tudo bem! Estou feliz de estarmos resolvendo tudo —
suspira e apenas concordo, ela tem razão. É mais libertador.
— E a segunda coisa?
— Ah... O Zachary me procurou. — Sento-me de uma vez na
cama e me arrependo, porque a cabeça ainda lateja um pouco.
— Que porra ele foi falar com você? Caralho, ele não sabe
dar paz?
— Calma, nervosinho! Ele veio pedir desculpas por tudo,
sobre a saída do Richard e me fazer um convite.
— Velhos adoram te fazer convites!
— Ainda com isso? Não esqueceu?! Tyron! — ela ri. —
Enfim, o convite é para voltar a Golden ano que vem. Com bastante
benefícios.
— Como é? O filho da puta te humilha e te quer de volta?
Nesse tempo longe, ela me contou tudo que aconteceu,
inclusive a forma que foi tratada por ele, e só não fiz merda, para
não piorar as coisas, já que os papos sobre quererem me tirar tem
diminuído. Não posso foder de novo as coisas!
— Calma, Ty... Escuta! — Reviro os olhos e fecho a cara. —
Eu não disse que aceitei, mas quem sabe. Tenho um tempo para
pensar com calma. Ele fez porque está apavorado, tenho me
destacado como jornalista, ele tem medo de que eu faça acusações,
com toda certeza não é cem por cento arrependimento, mas
digamos que é uma proposta a ser avaliada.
— Tem certeza? Depois de tudo... Kristal, se eles falarem
uma merda a você, sabe que perco meu contrato por fazer uma
merda, né?
Ela ri.
— Não preciso de heróis assim, Sparks. Estou aprendendo a
me virar. E se ele se rebaixou a esse nível, é porque passou a
entender que tenho valor e poder que pode deixá-lo no chão. Mas
vou pensar com calma. Irei decidir no último segundo.
— Tudo bem... No que decidir irei te apoiar. Só quero te ver
bem.
— Eu sei... Agora me fala, falta pouco para o último jogo.
Acha que nosso relacionamento acaba na final? Tenho certeza de
que vão chegar nela.
Começo a rir.
— Está falando isso por causa de quem vai torcer?
— Exatamente! Estarei dividida! Você não tinha o direito de
me conquistar, Sparks!
— Digo o mesmo, Reed. E não me importa para quem vai
torcer, no final do jogo será na minha cama que vamos estar
independente do resultado!
— Como você é podre, Sparks! Meu Deus! Eu tenho que ir,
prometi que jantaria com nossos pais. Me salva?
— Castigo por usar azul na final, sei que é isso que fará!
— Idiota! — ri. — Beijos. E bom jogo!
— Beijos. Falta pouco para ficarmos mais tempo juntos.
— A um segundo de distância...
Sorrio, sentindo-me cada vez mais louco por ela.
— Exatamente, Reed... Exatamente!
Escuto seu suspiro e entendo. Só queremos estar o mais
perto juntos, sem correria, sem agendas malucas. Viver esse início
de relação de modo correto, um curtindo o outro, respeitando os
espaços, mas estando juntos.
— Até breve, jogador!
— Até, baixinha.
Desligamos e suspiro, porque me tornei o cara que suspira.
Eu virei um molenga, e ainda gosto disso!
A grande final da World Golden Jump:
Tigers x Red Fire
Apenas um único vencedor.

Leio o letreiro com uma emoção única. Um sentimento de que


depois de tantas coisas, finalmente o fim chegou, e ele não é um
ponto final, é só a abertura de um novo parágrafo.
Meses de fortes emoções, e agora com o coração acelerado,
o frio intenso de Nova York, é assim que entramos no Madison
Square Garden, eu acompanhada das minhas amigas, da minha
família, e da família Sparks. Todos juntos para prestigiar nossos
atletas. Tão estranho pensar nisso desse modo. Todas as finais
longes da Califórnia, eu não tinha como ir e agora estou aqui. A
imprensa está aqui. O país para tudo para ver a grande final.
Ajeito o blusão de frio dos Tigers e, por baixo de toda essa
roupa, uso lingerie vermelha, só para não me sentir totalmente
culpada.
Me perdoa, Tigers!
Cheguei na cidade, e não o vi, muito pelo contrário. Estamos
todos na casa dos Sparks, não queríamos atrapalhar, tem hotel,
papai tem hotel aqui, mas disseram que seria um absurdo. Então
chegamos direto para a casa deles e nos aprontamos para vir para
cá.
Enviei mensagens, mas acredito que não tenha visto, nem
ele e nem o Oliver, que, por sinal, nossos pais estão furiosos. Ele se
meteu em um escândalo semana passada, uma farra descontrolada
em um hotel com várias garotas, e dessa vez veio tudo à tona; e se
ele tentava esconder, não deu certo. Mas nem isso diminui o
coração repleto de orgulho dos nossos velhos. Eu me preocupo com
ele, no fundo sinto que estamos ficando distantes, é como se o
Oliver fosse ele, mas ao mesmo tempo não fosse mais.
Caminhamos para o nosso acesso credenciado, que eles
pegaram para nós, sob os protestos dos nossos pais, que não
queriam privilégios, já que tem entradas, compraram de todos os
jogos, mesmo não indo em todos. Mas isso foi bom. Eu até poderia
vir como imprensa, assim como a Vicky que vai cobrir como
repórter, mas optei por viver esse momento como família,
namorada, torcedora, e não abusar do meu privilégio, ainda mais
agora que, cada vez mais, estou em destaque e não poderia me
sentir mais orgulhosa.
Encontramos nossos lugares e Vicky nos olha.
— Nos vemos no jantar? — indaga e assentimos.
— Vai lá e arrasa, garota! — desejo e ela me joga um beijo.
— Isso, dê o seu melhor! — Cherry joga um beijo para a
prima.
Ela se despede da nossa turma, e segue para fazer sua
função: trabalhar e ser a melhor.
O jantar será no apartamento do Tyron, ele chamou todos e
mandou preparar lá, combinou isso ontem, sem saber que sua
família já nos raptaria para a casa deles hoje.
— Estou ansiosa! — mamãe diz e sorrimos.
— Nem me fale, Karen! Nós mães sofremos! — Paige
comenta e os pais deles riem de suas esposas.
— Vai dar Tigers! — papai provoca o William, que ri.
— É o que veremos, Steven! É o que veremos!
Cherry e eu nos entreolhamos e começamos a rir.
— Acha que deveríamos separá-los? — minha mascotezinha
pergunta e nego.
— E acabar com o nosso entretenimento? Me recuso!
Rimos e isso é bom para me distrair da ansiedade.
— Finalmente vão passar bons tempos juntinhos. Tão
romântico! — ela suspira, deitando a cabeça em meu ombro.
— Até porque isso já virou tortura! — falo e ela ri assentindo.
— Acha que pega mal eu namorar ele e vir com o blusão dos
Tigers?
— Claro que não! Pode gostar dos Red agora, mas sempre
foi fiel ao time do seu irmão. Ninguém tem o direito de te julgar por
isso, Kris. — Segura minha mão. — Se acalma, está suando frio.
— Ansiosa! Eu não presto para ser torcedora, já estou
aceitando.
Ela ri, mas falo muito sério sobre isso.
Os jogadores são liberados para vir para a quadra, que vira
uma loucura de gritos misturada a música, flashes e a emoção de
uma grande final.
Oliver vem diretamente até nós e é agarrado por nossa mãe
e, em seguida, por Paige. Ele abraça nosso pai e o William em
seguida. Está mais sério, concentrado.
Ele se aproxima de nós duas e levanto-me abraçando-o.
— Pensei que me trairia hoje! — Começo a rir quando recebo
seu abraço de urso. — Estão muito bravos?
— Melhor focar no jogo. Dê o seu melhor, para mudar o foco
das emoções deles!
Ele beija o topo da minha cabeça e sorri de lado.
Nos afastamos e ele se inclina na direção da Cherry, e até eu
me assusto vendo-o segurar seu rosto com ambas as mãos, e tudo
para deixar um beijo em sua testa. A menina muda de branquinha
para pimenta vermelha. Coitada, se eu me preocupei... Oliver, por
que é tão galanteador? Meu Deus!
— Oi, Cerejinha. Achei que me apoiaria também.
— E-eu estou sendo imparcial, Tyron é namorado da sua
irmã agora.
Ele me olha de lado.
— Viu o que arrumou para a minha cabeça? Perdendo
torcida! Péssima irmã! — resmunga e começo a rir.
Mais braços me envolvem por trás e sei bem quem é.
— Nos traindo, jornalista?! — Alf diz e o olho atrás de mim, e
começo a rir. — Que bom te ver de novo! — Viro-me de frente e o
abraço.
— Com você aqui, o Sparks ficava mais humorado. Porra,
nunca mais nos abandone! — Tanner diz. — Desculpa se todos nós
não te acolhemos ainda mais. Só agora sabemos o quanto é muito
especial, pois se faz nosso capitão feliz, nos faz também!
Sinto os olhares dos Sparks e dos meus pais. Sorrio para os
meninos, um pouco sem jeito. Alf fica com os braços ao redor do
meu ombro.
— Loira! — Killian me cumprimenta.
— Boa sorte no jogo hoje!
— A namorada do capitão usando azul? Qual é? Isso dá
azar, Reed legal! — Zion fala e olha para o meu irmão, sentado no
meu lugar.
— Ei! Qual é? Guarde a energia, Zion! — meu irmão diz e
eles riem.
— Tire as mãos da minha namorada! — A voz que me faz
estremecer se aproxima e meus olhos focam no moreno alto,
marrudo, que faz meu coração saltitar.
— Eita, ferrou! Circulando... Circulando! — Alf diz e se afasta
junto dos outros, que riem.
Tyron cumprimenta nossa família e é abraçado apertado
pelos pais. Aquela tensão que eu observei no início, não existe
mais. Tem algo leve rodeando-os e é calmo, bonito, do jeitinho que
Philip amaria ver.
Ele se volta para mim e me puxa pela cintura, então me
abraça. E que saudade desse abraço, meu Deus! Coloco os braços
ao redor do seu pescoço, com um sorriso largo nos lábios, e,
quando nossos olhos se encontram, ele me beija e eu não esperaria
por menos.
— Eu vou vomitar! — A voz do meu irmão em meio a
bagunça, me faz rir entre o beijo. — Cherry, não dê palco... Ah,
pronto, olhinhos brilhando por eles? Essas meninas estão te
deixando toda errada! — o resmungo segue atrás de nós.
— Para... Deixa-os. Eles se amam, Oliver. É bonito ver o
amor das pessoas!
— Não quando o seu melhor amigo come sua irmã!
— OLIVER! — o coro do meus pais e do Tyron nos faz rir e
afastar os lábios.
Olhamos para ele e para a Cherry, que vai explodir de tão
vermelha.
— Sua inveja é sentida do outro lado do país! — falo para
ele.
— Eu com inveja disso? Olha... Eu nunca teria inveja de
namo... Ai, Cerejinha! — Cherry o cutuca e pisco para ela. — Já
calei! Podemos nos concentrar no jogo?
— Melhor coisa que faz! Vai, menino! — meu pai grita com
ele.
Oliver se levanta, enquanto Tyron fica me abraçando por trás.
— Oliver só está com ciúmes de mim. Relaxa, cara, posso
me dividir entre os dois! — Tyron provoca.
Rimos e Oliver mostra o dedo do meio a ele.
— Vamos! Vai, bunda mole! — Passa por nós.
Beijos no meu pescoço me fazem sentir em casa, porque é a
sensação que ele me traz: sensação de lar.
— São tão lindos juntos. Olha, valeu a pena os cabelos
brancos que nos deram no passado! — mamãe diz e sorrio.
— Ele era a peste! Eu era um amor.
— Você era terrorista, garota! — ele revida.
— Ah, pronto! Para que foi elogiar, amor? — papai questiona.
— Esses dois não pode elogiar! Jesus Cristo! — William
rebate e começamos a rir.
— Eu nunca coloquei esperanças que não iriam se matar
mais! — Papai dá de ombros.
Tyron se afasta entre nossos risos e me beija no rosto.
— Preciso me concentrar — fala se aproximando da Cherry e
deixando um beijo no topo da sua cabeça. — Não está faltando
uma?
Cherry sorri, enquanto me sento ao seu lado.
— Está a trabalho hoje. Repórter! — ela responde.
— Meu Deus... Preciso me preparar psicologicamente para
mais essa! — Ele se afasta sorrindo.
Seguro a mão da minha amiga e respiro fundo.
Oliver e Tyron fazem a jogada um de cada vez, lançando
duas sortes entre eles.
— Por que fazem isso? — ela questiona olhando com carinho
para eles.
— Sorte. É uma mania deles muito antiga, fazem em todos os
jogos juntos, mas na final, ambos lançam a sorte.
— Tradição já — papai diz nos ouvindo.
— Isso mesmo. — Aproximo o ouvido do dela e sussurro: —
Sabe o que notei? Ele nunca pergunta pela Vicky quando ela não
está, mas engraçado que sempre pergunta por você, e na primeira
oportunidade de estar te abraçando, dando beijinhos, ele faz... Não
quero alimentar nada, mas estranho esse carinho dele.
Seu rosto começa a avermelhar de novo.
— Para com isso! Somos só amigos, e ele é carinhoso com
todas nós. Oliver e eu não é uma possibilidade. Deveria esquecer
isso, Kris.
Fico quietinha, porque era o que eu dizia sobre o Tyron e veja
só.
— Tudo bem. Vamos aguardar o jogo então! — falo olhando
para o Tyron, que me encara e dá uma piscadinha.
Coração, se controla! Precisamos de você até a final.
E não demora para o meu coração acelerar mais, quando o
juiz se aproxima, e todos se preparam, e me deixam perdida em
dois lados.

É a primeira vez em um jogo que não consigo falar, muito


pelo contrário, meu coração nem me permite isso. Eu acompanho o
jogo vidrada, seguindo cada jogador, atenta a cada lance. Enquanto
a torcida, nossos familiares gritam, surtam, e a Cherry que passou a
entender mais, chacoalha as pernas sem parar, eu fico focada
neles. Não tenho coragem de olhar o marcador, perdi as contas das
pontuações, e nem me atrevo a tentar ver.
Último tempo, os dois primeiros foram cheios de adrenalina,
em seus intervalos não vieram até nós, a concentração do armador
e ala é completamente intensa. Enquanto sentimos o desespero,
Tyron Sparks e Oliver Reed riem, se divertem, sem deixar de lado a
responsabilidade séria.
Eles querem isso, eles merecem isso. Lutaram por essa final,
todos os jogadores. E a nós cabe esperar o segundo final.
Seus treinadores estão prestes a terem um infarto, a torcida é
bonita de se ver, os cabelos sendo puxados, rostos vermelhos, o
choro de desespero e emoção. Os gritos de cada criança, de cada
adulto à minha volta, é como se eu visse em câmera lenta.
Eu não preciso olhar o marcador para saber que isso é o
segundo final. Só um bola, dez jogadores em quadra, o capitão dos
Red batendo-a no chão, a cesta, e um Oliver pronto para defender
seu time, porque o jogo se embaralhou, as posições levou os
melhores amigos para o segundo final, ou vai... Ou vai... Não tem
mais tempo.
A bola é arremessada, ambos em um jump imbatível, todos
param para olhar, os jogadores em quadra arregalam os olhos. E só
então tenho coragem de olhar o marcador, por um ponto... Por um
único ponto.
As pessoas começam a gritar, a pular, nossa família berra,
porque, independentemente do final, eles torcem por ambos. Oliver
olha a bola passar pela rede, porque não conseguiu impedir. Tyron
abre um sorriso lindo, e não é o seu time que corre para pular nele,
é o seu melhor amigo. Oliver vai para os braços do amigo, porque a
irmandade sempre estará à frente de qualquer coisa.
Meus olhos se enchem de lágrimas, não de tristeza, mas de
alegria. De poder assistir de pertinho esses dois darem seus nomes
hoje. É como voltar ao passado, onde tudo começou.
A chuva de papeizinhos vermelhos dispara, a música é alta,
mas não mais que o grito da torcida.
Cherry me agarra e sorrio abraçando-a, e olhando para a
minha família, que está em prantos, pelo menos não somos a únicas
bobas choronas.
Olho para a frente e ele me olha. Em meio à bagunça, ele
simplesmente me olha e consigo ler em seus lábios: “Eu te amo”.
Jogo um beijo para ele, soltando o ar de leve.
— Acabou... — sussurro. — Acabou os meses mais malucos
e insanos.
Solto o ar e, dessa vez, mais forte.
Faz alguns dias que estou em Nova York com a Kristal. A
final foi uma loucura, e eu não poderia me sentir mais feliz, além
disso teve toda a premiação, que ganhei o prêmio de “armador do
ano”, e pude ver meu amigo ganhar o prêmio de “destaque do time”.
Mas no meio de toda loucura que foi esse ano, tudo o que eu
desejava está bem aqui, no meu apartamento, me vendo eu me
arrumar, para sairmos um pouco. Ela insiste que quer jogar
basquete, está um frio enorme lá fora, mas ela não se importa.
Está a coisinha mais bonitinha, usando calça jeans clara,
Jordan nos pés, um blusão de frio dos Tigers e um gorro branco. Só
para provocar, coloco o blusão de frio dos Red e ajeito a calça preta.
— Seus pais vão nos matar! Estão fazendo um almoço aqui,
porque meus pais resolveram passar o Natal aqui. Sabe que eles
querem nos perseguir, né? — pergunta e assinto rindo.
Termino de me ajeitar e aponto a bola no chão para que ela
pegue.
Meus pais e eu estamos nos aproximando aos poucos, e
como minha psicóloga diz: um passo de cada vez. O mais
importante já demos.
— Claro que estão. Oliver se mandou para o Brasil, eles só
têm a gente para atormentar!
— Nem me fale. Preocupada com ele. Depois da final, ele
mal ficou com a gente. Tenho medo de estar perdendo meu irmão...
— ela suspira abraçada a bola.
— Não está. Só temos que ter paciência. Cercá-lo não vai
resolver, sei bem disso. Quando nos sentimos sufocados, a
tendência é fugirmos mais e o problema piorar.
Ela concorda e me aproximo segurando seu queixo e dando
um beijo rápido em seus lábios.
— Vamos?
— Sim! — Sorri do jeito que amo.
Saímos do quarto, e minha mãe está na cozinha com meu
pai. Dizem estar cozinhando algo, porém discutem mais do que
fazem.
— Vão demorar? Estamos preparando tudo aqui! — minha
mãe questiona.
— Não. Só vou levar a maluca para congelar na quadra aqui
perto.
— Ei! — ela reclama e meus pais riem.
Meu pai limpa as mãos e pigarreia.
— Filho... — Ele olha para Kristal com carinho.
— Eu vou descendo. Espero você! Até daqui a pouco, família
Sparks!
— Até, meu amor! — minha mãe diz a ela.
Kristal caminha em direção à porta do apartamento e se
retira, entendendo que provavelmente meu pai queria um momento
de privacidade.
— O que houve? — pergunto preocupado.
Minha mãe limpa as mãos e para ao lado dele.
— Querido, decidimos limpar de vez o quarto do Philip. Ter
aquele quarto ainda cheio de lembranças, está nos machucando
demais. É como se alimentássemos a esperança de que ele
voltará... — minha mãe começa e sua voz já embarga.
Meus olhos rapidamente se enchem de lágrimas, assim como
os do meu pai.
— Sim... Não é se livrar dele, mas sim do que aquele quarto
representa. Achamos que passou da hora de fecharmos essa porta
e tentar seguir em frente de vez. Queremos corrigir os erros com
você, tirar essa dor que ele deixou... Só que para isso, esse é o
primeiro passo, e queríamos pedir sua autorização para isso.
Porque ele era seu irmão, e sabemos o quanto eram importantes
um na vida do outro.
Meu peito aperta, mas por eu saber qual é o certo a se fazer.
Dói, mas é necessário.
— Tudo bem. Só peço que façam isso quando eu estiver
junto, quero estar nesse momento. — Pisco rápido, controlando as
lágrimas.
Meus pais se aproximam e me abraçam.
— Vamos recomeçar, será um ano de recomeços o que está
por vir. Philip sempre estará em nossas vidas, e nós sempre
estaremos na sua, mas dessa vez do jeito certo — meu pai diz e
assinto.
Eles se afastam, e ele passa o braço ao redor da minha mãe.
— Amamos você, nunca se esqueça disso. E estamos felizes
por estar se reconstruindo depois de tudo e que seja ao lado de
alguém especial. — Minha mãe sorri.
Sorrio emocionado.
— Amo vocês também. E obrigado por estarem tentando
assim como eu fiz — digo e levo as mãos ao bolso da calça. — Eu
tenho que ir. Nos vemos mais tarde.
— Pronto para ver você no manicômio e saindo do basquete
— meu pai fala e me lembro o motivo, porque eu disse isso sobre
ter algo com a Kristal.
Rio e balanço a cabeça. Minha mãe olha sem entender, mas
meu pai ri.
— Vou nessa!
Eles assentem e sorriem.
Saio do apartamento entendendo cada vez mais a
importância de se permitir recomeçar.

Estamos na quadra perto de casa, e logicamente vazia. O frio


está do caralho!
— Kristal, vamos embora! Não vai acertar, vai ficar puta, e vai
sobrar para mim ainda! — falo para a maluca, quando cruzo os
braços ao seu lado. — Princesa, seu nariz está todo vermelho. Se
ficar doente, eu vou te esganar!
— Deixe de ser dramático! Saiba que aquele basquete
eletrônico me fez praticar a concentração.
Reviro os olhos e ela ri animadinha.
— E jogar vai nos aquecer!
— Tem outra coisa que faz isso também! — Ergo a
sobrancelha e ela gargalha.
— Tudo bem. Jogamos, se eu não fizer nenhuma cesta em
dez minutos, vamos embora, e podemos nos esquentar de outra
maneira. Mas se eu acertar, vai ter que me levar para patinar no
gelo, e ver as decorações natalinas de Nova York.
— Odeio Natal. É chato...
— Grinch! — Me olha feio e é fofo, acabo sorrindo.
— Ok... Não odeio, mas normalmente sempre estou cansado
e só quero dormir. Sério, eu poderia dormir até o final do mês, se a
senhorita colaborasse!
Ela me mostra a língua com a pouca maturidade que possui.
E por pirraça, sou mais rápido e pego a bola dela, sem que consiga
pensar e faço uma cesta.
— Pronto. Vamos!
— TYRON SPARKS! — grita irritada. — PARE DE ROUBAR
SEMPRE QUE TENTAMOS JOGAR!
Fico olhando para ela ficando vermelhinha de raiva e meu
coração se derrete, porque sou um idiota bobão dela!
— Fica linda assim! — Inclino a cabeça de lado e ela perde a
braveza.
— Para! — ela ri ficando sem jeito, e pegando a bola.
— Tudo bem, dez minutos então! Nenhum minuto a mais!
— Combinado!
Eu dou a ela o que queria, um jogo justo. Claro que não faço
tudo o que faria em um jogo de verdade, mas dou a alegria a
criança interna dela. E é bonitinho ver ela tentando fazer as cestas
com sua carinha emburrada.
— Você consegue, baixinha... Só acreditar em si mesma! —
falo, quando tento bloquear ela.
Ela me olha de um jeito diferente, um olhar que só faz
quando estamos transando feito coelhos. Perco o foco e a peste
arremessa, e não só arremessa, como acerta.
— MEU DEUS! EU ACERTEI! — ela grita e pula como uma
doida.
— Espera... Ei, você roubou! — aviso e ela pisca.
— Não tenho culpa se não estava cuidando da sua
concentração. Se não tem controle, foco, eu não posso fazer nada,
Sparks! — Ela sorri e a puxo pela cintura.
Suas mãos param em meu peito e ela inclina a cabeça, para
me olhar.
— Por que sempre quer tanto jogar comigo? — pergunto e
ela sorri mais carinhosa agora.
— Porque me traz lembranças de como tudo começou, e, de
repente, eu sinto que ele não se foi e que vamos voltar e ele vai
estar nos esperando. É sentir que terei o abraço dele mais uma vez
quando me ver, após voltar da rua com você e o Oliver. Eu gosto
dessa sensação e aqui ela parece que triplicou.
Como pode ser tão perfeita?
Beijo-a mais apaixonado do que nunca. E sabendo que ela foi
o maior presente que eu pude ter esse ano.
— Eu te amo, Reed, e estarei sempre a um segundo de
distância para o que precisar. Assim como ele estará de onde quer
que esteja a um segundo de nos trazer sempre as melhores
lembranças.
Seus olhos marejam e ela assente, passando os braços ao
redor da minha cintura.
— Eu te amo, Sparks. Obrigada por ter voltado a minha vida,
no segundo que eu precisava para aprender mais sobre valores,
pessoas e aprender o meu próprio valor, porque você sempre
acreditou em mim, em cada olhar, em cada palavra. Obrigada!
Aperto-a em meus braços e sorrio.
Em segundos, alguém pode não estar mais entre nós.
Em segundos, coisas ruins podem acontecer.
Em segundos, coisas boas podem acontecer.
Em segundos, um grande amor pode chegar.
Em segundos, um jogo inteiro pode mudar.
Em segundos, alguém pode riscar o fósforo e queimar tudo.
Em segundos...
A vida precisa só de segundos para virar tudo de ponta-
cabeça e sempre nos deixar lições, mas, acima de tudo, nos fazer
entender que nem sempre haverá segundas chances, mas poderá
haver um recomeço, e se ela nos permitir isso, não podemos perder
essa chance, porque basta segundos para ela não existir mais.
Olho para ele e seus olhos se erguem na minha direção.
— Estou a um segundo de te beijar e não parar mais.
— Um...
Ela conta e eu a beijo. Beijo permitindo que um segundo
virem dez, vinte... aproveitando essa chance que a vida nos deu.
Oi, gente!
Eu pensei muito em vir aqui bater esse papinho com vocês
após o final do livro. Essa história veio à minha mente totalmente
pronta, acredito que, em muito tempo, é a primeira história que eu a
ouvia por inteiro, e que ela trazia suas sequências junto. Por causa
disso, eu pensei muito em quais temas eu trabalharia mesmo que
na ficção, porque, independentemente de ser real ou não,
precisamos ter responsabilidade no que escrevemos.
Eu sabia que alguns temas que eu abordaria nessa história e
nas próximas, seriam temas que eu poderia abordar de um jeito leve
para que entrasse na mente de vocês, mas de um jeito que não
anulasse a importância deles. Com isso, uma cena específica
mexeu muito com a minha cabeça durante um dia inteiro.
(Se você pulou diretamente para esta parte, então PARE
IMEDIATAMENTE, pois pegará e spoiler da história.)
Continuando...
O que mexeu muito com a minha cabeça, é a parte na qual o
Tyron, para ajudar a Kristal, mente que eles são namorados e ela
não aceita. No início, eu tinha pensado que ela poderia aceitar,
apenas para não perder a oportunidade única que recebeu em
trabalhar com algo grande, mas, conforme fui escrevendo, eu parei
e pensei: Como eu posso escrever sobre o machismo e aplicar uma
romantização dentro da minha história?
E foi graças a isso que, antes de continuar a cena, refleti
muito, e cheguei à conclusão de que: não era certo ela aceitar. Ela
não estava sendo orgulhosa quando ela disse “Não!”, muito pelo
contrário. Ela foi sensata, correta!
Vejamos, se o Tyron nunca tivesse dito esta mentira para
Zachary, presidente da Golden, ele nunca teria aceitado que ela
continuasse trabalhando com eles, e seria ela fora e apenas a
matéria final entregue. Era isso, ou a Sport arcaria com a multa, e
tudo isso porque, no meio de uma grande confusão, jogaram a culpa
em uma mulher; mulher esta, nossa protagonista. E que, se
tivessem ouvido outra mulher, Jennifer, a chefe, a principal dona do
jornal, nunca teria acontecido, ou as consequências teriam sido
menos intensas.
Então pensemos: Um ato de machismo dentro dessa história
já havia acontecido. Como eu poderia simplesmente romantizar
outra situação e não acabar mostrando o que deveria ser feito? Foi
pensando nisso que eu optei pela Kristal dizer “não”, mesmo que eu
sinta que algumas pessoas possam dizer que ela foi orgulhosa e
mimada, porque é isso que nós mulheres sempre vamos escutar.
Que os nossos “nãos” são frescuras, orgulho, que temos sim que
abaixar a cabeça para algumas coisas.
Nós já passamos anos, décadas, séculos, nos calando, nos
silenciando, “precisando” de homens para que outros acreditem na
gente. Isso não é certo! Quantas vezes mulheres são silenciadas e
só acreditam nelas se um homem as defender, porque, às vezes,
até mesmo outras mulheres são machistas. Então refleti muito e
pensei: Não! Não era apenas mais um clichê a qual adoramos, onde
envolve o famoso fake dating. Era uma situação real, onde acontece
na vida real. Mulheres muitas vezes, dentro do seu local de trabalho,
não são ouvidas, duvidam delas! Ela “precisa” de apoio de homens
para chegar aonde quer.
A atitude do Tyron foi bonita, não podemos negar, ele
realmente tentou ajudá-la, mas ela aceitar, estaria sendo conivente
que o Zachary pensasse que, por ela ser namorada de um famoso,
irmã de um outro jogador famoso do basquete, ela seria uma tola
em aprontar algo. Ou seja, ele nunca acreditaria na verdade: que ela
não fez porque tem ética, tem caráter; e não pela fama que carrega
por seu sobrenome e ser a “namoradinha” de um dos jogadores
deles.
Então eu vim bater este papo com vocês, para fazermos uma
reflexão sobre isso, no quanto temos que começar a ter voz, a não
aceitar menos do que merecemos, a não aceitar que nossas
verdades sejam silenciadas, a não aceitar que nos joguem em
mentiras e tenhamos que ficar caladas, aceitando qualquer coisinha
que nos oferecerem, apenas para termos alguma coisa. Isso não é
certo!
Quantas vezes, eu mesma, estive em lugares com meu
esposo, a qual quem vinha nos atender, na maioria das vezes,
sendo homens, nunca se dirigiam a mim para nada, sempre
perguntavam ao meu marido, o que queria, o que iria escolher, e
isso não era forma de respeito, era uma forma na qual sempre
estamos sendo criados, onde acham correto apenas o marido ter
voz, e a mulher aceitar todas as escolhas, em silêncio. Quantas
vezes cheguei em lugares, que, na hora do pagamento, não
olhavam para mim, olhavam para o meu marido, era como se eu
fosse invisível — e sim, em todas, era que eu iria pagar algo, pois
estava comprando algo para mim, pois trabalho e me sustento
também. Quantas vezes, em algum local, iriam explicar algo e não
explicavam diretamente a mim, explicavam ao meu esposo, como
se eu fosse incapaz de entender.
Isso que narrei sobre experiências próprias, acontece
também com muitas mulheres, infelizmente! Não queremos criar
uma guerra, só queremos ser ouvidas, ter lugares dentro de
empresas sem que nos ataquem, sem que nos diminuam, por ser
filhas, irmãs, mulheres, de alguém a qual ditam ser melhor que
nossa capacidade de sermos boas sozinhas. Óbvio, não sejamos
hipócritas em dizer que muitas vezes os nossos sobrenomes,
influências ligadas à família, a maridos, ao que for, acaba nos
trazendo privilégios, mas são poucos, é minoria. Dizer que isso
qualifica um todo é errado, generalizar isso é um absurdo.
Então eu vim bater este papo com vocês, porque senti
necessidade. Pensei que deveríamos falar mais sobre isso, mesmo
que dentro de romances, porque é nos livros que nós leitores
também tiramos lições, muita das vezes, as maiores. E eu, como
autora, tirei uma lição forte: Como eu posso bater no meu peito e
falar sobre o machismo, trabalhar sobre ele dentro de uma história,
se eu cogitei dar palco a romantização dele? Então venho aqui
confessar para vocês que até mesmo eu preciso aprender mais,
sendo que eu mesma já passei por muitas situações machistas, por
assédios na qual me rebaixavam por eu ser mulher, por estar com
um sorriso no rosto, por uma roupa que eu estava usando, um
batom vermelho na minha boca, e muitas vezes vindo de outras
mulheres, infelizmente.
Então, eu vim aqui para dizer: Você mulher que está me
lendo, não deixe que te rebaixem em sua casa, na rua, onde
trabalha... Qualquer ato de machismo no seu trabalho, busque os
seus direitos. Qualquer ato de machismo, assédios físicos ou
morais, em qualquer lugar que seja, se imponha, se dê voz, busque
sempre os seus direitos, por mais difícil que seja. Se ninguém te deu
voz, se dê voz. Porque as pessoas precisam começar a nos ouvir,
as pessoas precisam começar a entender que lugar de mulher é
onde ela quiser. Que, se ela quiser estar relacionada à sua família, é
um direito dela; mas se quiser que as conquistas dela sejam
atreladas somente a ela, porque lutou muito por isso, devem dar
esse direito a ela. Porque, se fosse um homem, sim, se fosse um
homem, ninguém pensaria duas vezes antes de atrelar todas as
conquistas que ele adquiriu, apenas a ele.
É muito fácil confirmarmos isso, é só olharmos nas notícias,
quantas vezes uma mulher famosa por todas as batalhas dela para
chegar aonde está, é simplesmente atrelada como a namorada de
tal, a filha de fulano, muitas das vezes nem seus nomes são citados.
Falemos do esporte — algo tratado nesse livro —, onde a mulher,
atleta, que consegue parar o mundo para prestigiá-la, se torna um
marco, porque muitas outras são ofuscadas dentro do seu espaço,
da sua profissão. Quantas vezes uma mulher que está falando
sobre esporte, é rebaixada como se não entendesse nada do
assunto, dizem “esse lugar não é para você”... Ué, como assim?
Isso não pode mais acontecer, precisa parar.
E é com isso que eu venho dizer que os meus livros também
me ensinam. Muitas coisas podem passar, às vezes, despercebidas
por mim, mas aquilo que eu percebo imediatamente tento mudar,
tento organizar, melhorar, não apenas na história, mas em mim
como pessoa. Então, eu estou aqui para dizer que, se você sentiu
que a atitude da Kristal nessa situação específica foi puro orgulho,
que ela foi mimada, te convido a aprender junto comigo, porque eu
também iria errar, eu iria cometer essa falha, iria fazer ela aceitar, e
tudo seria lindo e maravilhoso, mas não era para ser assim. Não era
só uma cena de romance, de fake dating, ou como gostamos de
chamar, é um ato sério, que acontece na vida real sempre, e até
mesmo na ficção os limites precisam existir, e eu compreendi, que
dar palco a uma situação do tipo, onde a personagem desde o início
aguentou tantas coisas da mídia, nos bastidores como, assédios
morais, machismos... Não, isso é realmente um limite a não ser
ultrapassado mesmo que em prol de dar o clichê que amamos. Dá
para ser de outra forma.
Eu sei que, se escolhemos livros de romances não é para ter
autoajuda, ou lições de moral, mas se é através dos livros que eu
posso contribuir um pouquinho ao menos para que nós mulheres
tenhamos voz, ou mostrar coisas erradas a não serem repetidas no
mundo real, eu farei, porque eu, como escritora de romances
eróticos, dramas, comédias, sinto preconceito apenas por colocar a
palavra erótico em destaque, porque anulam tudo, apenas para me
diminuir por ela. Eu jamais me calaria por qualquer outra atitude
machista que eu visse, porque até mesmo eu, quando acabo tendo
alguma, me sinto mal, busco de todos os meios aprender com o erro
e não fazer mais, porque até mesmo nós mulheres crescemos
aprendendo a ser machistas. Precisamos mudar as coisas nesse
mundo, que tem regredido mais do que evoluído.
Então, deixo aqui com vocês este pequeno desabafo, que eu
espero que leiam, porque ele está sendo feito de coração. Apenas
para dizer: “nós mulheres merecemos mais do que sermos atreladas
a alguém, para conseguirmos chegar em algum lugar”.
Sempre começarei agradecendo primeiramente a Deus,
porque sem Ele, eu nunca chegaria a lugar algum.
Agradeço também a minha Lizi, que sempre foi e sempre
será minha leitora fiel e grande amiga. Anos ao seu lado só me
ensinaram muitas coisas, e ter seu apoio em todos os meus livros, é
muito importante. Sinto muito orgulho de você e da nossa amizade,
que ultrapassou as barreiras do ensino médio e chegou até aqui,
onde estamos realizando nossos sonhos e, ainda assim sempre
conectadas. Te amo, amiga, hoje e sempre! Obrigada por estar
comigo em tudo, em cada evento, cada livro, cada desastre, e cada
riso.
Obrigada minha irmãzinha de coração, a minha princess, a
minha mineirinha mais pitica e mais amada. Obrigada, Hevy, por ser
tão especial para mim. Ser um grande presente em minha vida, pois
você se tornou uma parte minha, que eu quero levar por toda vida.
Sonhamos juntas e realizamos juntas, esse é o nosso lema. Você é
a minha pessoa, e nosso carrossel jamais para de girar. Obrigada
por ter acreditado tanto em mim, principalmente no ano que lanço
esse livro, por ter segurado minha mão quando eu achei que estava
sozinha, por ter gritado comigo e me feito entender que meu valor é
muito mais do que eu me rebaixei. Obrigada por não desistir de mim
e ser a pessoa que mais surta pelos meus lançamentos do que eu
mesma, a que sonha por mim e que faz de tudo para ser uma parte
importante todos os dias na minha vida. Love u, baby.
Quero agradecer também a dona Bel, a marrudinha que foi
parte importante desse lançamento, me fazendo rir, me xingando,
me fazendo ver doramas e ouvir BTS, e, ainda por cima, me
presenteando com sua amizade, que só me fez entender o quanto
eu ainda posso confiar nas pessoas, e que as mágoas que um dia
tive, não podem fechar os espaços para que pessoas boas como
você se aproximem. Obrigada por ser minha companhia diária na
reta final de Seconds, por me valorizar como autora, e por me apoiar
como amiga. Love u, garota! E que venham mais cafés, canecas,
surtos, e xingos, porque, no final, terminamos rindo de tudo, minha
best-seller.
Rafa e Shirley, duplinha, vocês já sabem que sempre sou
grata por tudo. São anos agradecendo vocês em livros, não tenho
nem mais o que dizer, porque eu amo vocês, e quero levar vocês
por mais anos, minha ruivinha e minha nordestina. Obrigada por
serem minhas, me apoiarem em cada lançamento, e serem tão
incríveis comigo. Amo vocês, meninas, muito mesmo e sabem
disso, e se não sabem, vou xingar vocês, hein!
Marcielle e Larissa, obrigada por terem sido tão especiais
nesse lançamento. O que vocês e as parceiras fizeram, eu jamais
poderei ser tão grata. Vocês foram incríveis, e jamais conseguirei
retribuir tudo que fizeram por mim. Obrigada de coração, meninas,
obrigada por tudo mesmo. Tia Deby ama vocês.
Família, obrigada por tudo, principalmente por aturarem eu
surtando e sem paciência, devido a quantidade de trabalho que
tenho diariamente, e que muitas vezes me tira um tempo com
vocês. Obrigada por serem compreensíveis, e me arrancarem do
quarto ou do escritório, para socializar, e brigarem comigo para eu
me cuidar. Amo muito vocês!
Leitoras, blogueiras, ilustradora, revisora, e todos que
estiveram comigo esse ano, obrigada. Nesse último livro de 2022,
eu só tenho o que agradecer, porque chegamos até aqui juntos, e
sem o apoio de cada um que teve importância durante todos esses
meses, eu nunca poderia estar aqui, comemorando esse
lançamento com vocês. Obrigada por tudo!
Você que chegou até aqui, muito obrigada também.
Nos vemos em breve, então fiquem com o meu até logo.

Com amor,
Deby.
A verdade é que nem eu sei quem sou, e passo todos os dias tentando me
descobrir. O que posso lhe contar é que comecei a escrever com dezesseis anos,
e hoje tenho vinte e quatro, e posso te assegurar que escrever não me torna
inteligente demais, apenas maluca o suficiente para colocar para fora vozes da
minha cabeça, que alguns chamariam de esquizofrenia, eu diria que tenho medo
de dizer a uma psicóloga que essas vozes realmente existem, e elas me contam
histórias, criam rostos, sons e nos trazem aqui, a esses livros.
Nascida em Guarulhos, casada desde os dezoito anos e vivendo meu
Friends to Lovers e, às vezes, um Enemies to lovers, dona do cachorrinho mais
travesso desse mundo, Cookie — sério, ele me deixa louca. Apaixonada por
romances e não sendo nada romântica, movida a música mesmo cantando muito
mal, da casa de Sonserina com um bizarro gosto para personagens de
personalidade duvidosa — Hello, Mr. Darcy! —, e sempre encantada por vampiros
que brilham, e histórias com vestidos bufantes e carruagens, além de muitas
outras coisas.
Eu sou uma mistura muita louca dentro de mim mesma, mas posso te
assegurar que nem vale a pena tentar entender, pois, como diria Alice no País da
Maravilhas:
“Quem é você?” — perguntou a Lagarta.
“Eu... mal sei, Sir, neste exato momento... pelo menos sei quem eu era
quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças
desde então”. — respondeu Alice.
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UNLIMITED

[1]
Gossip Girl é uma série de livros para jovens adultos escrita por Cecily von
Ziegesar. O livro original tornou-se a inspiração para a série de televisão de
drama adolescente Gossip Girl, criada por Josh Schwartz e Stephanie Savage,
que estreou na rede de televisão The CW Television Network em 19 de setembro
de 2007. (Wikipédia)
[2]
Stars on the Racetrack é uma corrida automobilística criada pela autora Deby
Incour, inspirada na Fórmula 1 e está presente em seus livros “Fast Love”, “Slow
Down” e “Um amor inesperado”, todos na Amazon em formato eBook.

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