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"Dos Tratados" obra MAZZUOLI, Valério de O.

Curso de Direito
Internacional Público.

Discente: Juliana D’Angelo Serra

O DIREITO DOS TRATADOS NA CONVENÇÃO DE VIENA DE 1969

Chamada Lei dos Tratados, Código dos Tratados ou ainda Tratado dos Tratados, a
Convenção de Viena de 1969 é um dos mais importantes documentos já concluídos na
história do Direito Internacional Público. Ela não se limitou apenas à codificação do
conjunto de regras gerais referentes aos tratados concluídos entre Estados, mas também
se preocupou em regular todo tipo de desenvolvimento progressivo daquelas matérias
ainda não consolidadas na arena internacional. A Convenção regula desde questões pré-
negociais (capacidade para concluir tratados e plenos poderes), até o processo de
formação dos tratados (adoção, assinatura, ratificação, adesão, reservas etc.), sua
entrada em vigor, aplicação provisória, observância e interpretação, bem assim a
nulidade, extinção e suspensão de sua execução.

A Convenção de 1969 não cuidou, contudo, dos efeitos dos tratados na sucessão de
Estados e no estado de guerra. Relativamente ao primeiro tema, concluiu-se, também na
capital austríaca, a Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de
Tratados, em 23 de agosto de 1978. 14 Também não versou a Convenção de 1969 –
talvez por não previr a existência de uma ordem internacional em que os Estados são
prescindíveis – sobre os tratados concluídos entre Estados e organizações internacionais
ou entre organizações internacionais, objeto de outra convenção específica, concluída
mais tarde (em 1986) e intitulada Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados entre
Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais.

CONCEITO DE TRATADO INTERNACIONAL

A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados teve como uma de suas primeiras
preocupações a de definir precisamente o que se entende por tratado internacional,
tendo isto decorrido da falta de precisão com que os autores representativos do
denominado Direito Internacional Clássico vinham caracterizando esse instrumento. A
definição de tratado na Convenção de 1969 aparece logo no seu art. 2º, § 1º, alínea a
que assim estabelece: “Para os fins da presente Convenção: a) “tratado” significa um
acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos
conexos, qualquer que seja sua denominação específica.

TERMINOLOGIA DOS TRATADOS

São elementos essenciais configurativos do conceito de tratado na Convenção de Viena


de 1969. Tal definição, contudo, é limitada ao âmbito de aplicação da própria
Convenção, é dizer, àqueles acordos concluídos sob as suas regras, não tendo a
Convenção de Viena ampliado a definição para outros tipos de acordos, a exemplo
daqueles celebrados em forma não escrita (que, aliás, tiveram a sua juridicidade
reconhecida pelo art. 3º, alínea a, também da Convenção). Daí a necessidade de um
conceito mais amplo, aplicável também aos acordos concluídos fora do quadro por ela
regulado. Por esse motivo é que definimos “tratado internacional” como sendo um
acordo formal de vontades, concluído entre Estados ou organizações interestatais entre
si, regido pelo direito das gentes e destinado a produzir, imprescindivelmente, efeitos
jurídicos para as partes contratantes.

Os acordos de cavalheiros (gentlemen’s agreements), os memorandos de entendimento,


as declarações, os comunicados comuns, os arranjos e vários outros documentos
destituídos de animus contrahendi, não podem ser tidos como tratados na acepção
jurídica do termo, não obstante sua eventual importância na órbita das relações
internacionais, inclusive sob o ponto de vista econômico (tomem-se como exemplos os
chamados “acordos stand-by”, negociados junto ao FMI para resolver problemas de
balança de pagamentos, de déficits temporários ou de natureza cíclica). Todos eles são
atos concertados não convencionais, que se pode definir como “instrumentos
procedentes de uma negociação entre pessoas habilitadas a vincular o Estado e
chamadas a enquadrar as relações destes, sem para tal ter um efeito obrigatório”. Enfim,
para ser tratado deve haver um acordo internacional das partes em sentido jurídico,
possibilitando uma sanção também jurídica em caso de descumprimento.
CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS
Os tratados internacionais, são acordos formais celebrados pelos Estados ou por
organizações internacionais. E essa forma dos instrumentos internacionais pressupõe
sempre uma estrutura, ainda que esta não seja hermética e possa variar de instrumento
para instrumento. Ou seja, os instrumentos internacionais têm uma estrutura mínima (e
não um standard único) que merece ser estudada, sabendo-se desde já que serão as
contingências da prática internacional as responsáveis pela modificação de cada tratado,
também naquilo que respeita à forma. Tradicionalmente, sem levar em conta as
variações de forma que cada instrumento pode apresentar em particular, pode-se dizer
que os tratados internacionais em geral são formados pelas seguintes partes: a) O título,
que indica a matéria tratada pelo acordo ou, mais amplamente, o assunto nele versado;
b) O preâmbulo ou exórdio, que é composto por duas categorias de enunciados: (1) a
enumeração dos contratantes e (2) os motivos que levaram os Estados à negociação do
acordo. Em Direito Internacional o preâmbulo dos tratados não tem força obrigatória, a
não ser como elemento de interpretação do acordo.

O preâmbulo, se inicia com a enumeração dos contratantes, é dizer, dos Estados ou


organizações internacionais que concluíram o tratado, com a menção das credenciais
dos representantes dos Estados. Em regra, os contratantes são indicados pelo título
abreviado do chefe de Estado, ficando assim comprovada sua competência para a
mantença de relações internacionais. Já houve época, como na Antiguidade e no período
medieval, que se invocavam os deuses no preâmbulo do instrumento, ou num passado
menos distante, em que era comum a invocação da Santíssima Trindade ou de Deus
Onipotente ou Todo Poderoso (também muito comum na época do Brasil Império). Nos
tratados com grande número de partes é comum vir no preâmbulo apenas a designação:
“As Altas Partes Contratantes”. O segundo elemento do preâmbulo são os motivos que
levaram os Estados à negociação do acordo Trata-se da especificação das intenções dos
negociadores para com o tratado em causa, ao que se denomina de considerando. Estes
(redigidos normalmente em gerúndio) indicam as intenções dos negociadores em
relação à celebração do tratado (trata-se, às vezes, de verdadeiro programa político) e
também a eventual vinculação de tais negociadores com o acordado, sua
compatibilidade com o regime convencional anterior etc.
PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS TRATADOS
O articulado (ou dispositivo), considerado a principal parte do instrumento
convencional, composto por uma sequência de artigos numerados, em que se
estabelecem (em linguagem jurídica) todas as cláusulas de operatividade do acordo,
variando sua extensão de tratado para tratado. Todos os elementos do articulado são
providos de obrigatoriedade jurídica. Após o corpo do tratado e de suas disposições de
direito subjetivo, seguem-se as cláusulas finais (de natureza adjetiva) relativas à
ratificação e à troca dos seus instrumentos, à sua entrada em vigor, à possibilidade de
denúncia ou prorrogação, eventual prazo de vigência, possibilidade de adesão, de
revisão etc. Depois do articulado é ainda de regra a menção do testemunho (“em fé do
que…”) dos plenipotenciários relativamente ao acordado.

O fecho, que especifica o local e a data da celebração do tratado, o idioma em que se


encontra redigido e o número de exemplares originais. Com a referência ao local e à
data de celebração, o instrumento está apto a receber a assinatura do representante do
Estado e o selo de lacre.) A assinatura do chefe de Estado, do Ministro das Relações
Exteriores, ou de outra autoridade que tenha representado o Presidente da República na
celebração do instrumento. Nos atos bilaterais, a assinatura obedece ao sistema de
alternância ou de inversão, que consiste em cada negociador apor sua assinatura em
primeiro lugar no exemplar que ficará em seu poder, o que evita o problema da
precedência de assinaturas de um Estado em relação ao outro, como existia antigamente
em relação aos príncipes e ao Sumo Pontífice (cujas assinaturas sempre precediam às
dos demais plenipotenciários). Para os tratados multilaterais, têm-se utilizado a aposição
das assinaturas em ordem alfabética dos nomes dos negociadores, o que poderá variar
em função da língua em que se encontra redigido o instrumento.

FASES INTERNACIONAIS DA FORMAÇÃO DOS TRATADOS


A primeira ideia a fixar-se é a de que os tratados e convenções internacionais são atos
solenes, cuja conclusão requer a observância de uma série de formalidades
rigorosamente distintas e sucessivas. Eles somente se completam após a realização de
sucessivos atos jurídicos que vão se érie de formalidades rigorosamente distintas e
sucessivas. Eles somente se completam após a realização de sucessivos atos jurídicos
que vão se encadeando e se entrelaçando desde a sua celebração até a sua entrada em
vigor. São genericamente quatro as fases pelas quais têm de passar os tratados solenes
até sua conclusão: a) a da formação do texto (negociações, adoção, autenticação) e
assinatura; b) a da aprovação parlamentar (referendum) por parte de cada Estado
interessado em se tornar parte no tratado; c) a da ratificação ou adesão do texto
convencional, concluída com a troca ou depósito dos instrumentos que a
consubstanciam; e d) a da promulgação e publicação do texto convencional na imprensa
oficial do Estado. Essa última fase é apenas complementar às demais e visa dar
aplicabilidade interna ao compromisso internacionalmente firmado; sua ausência não
exime, em absoluto, o Estado de responder pelos termos do tratado já ratificado e em
vigor.

Frise-se que a Convenção de Viena de 1969 não se ocupou das chamadas fases internas
de celebração de tratados, é dizer, se o texto convencional respeitou as regras
constitucionais sobre competência para concluir tratados, a menos que nesse iter de
celebração tenha sido desrespeitada disposição de Direito interno de fundamental
importância sobre competência para concluir tratados, hipótese constante do art. 46, §
1º, da Convenção, que será estudado com detalhes mais adiante. Inserindo-se as
medidas complementares da promulgação e publicação dos atos internacionais no seu
iter procedimental de celebração, tem-se que as fases de conclusão dos tratados
(divididas em internacionais e internas) são, grosso modo, as seguintes:

A conjugação das fases internacionais com as fases internas de celebração de atos


internacionais faz nascer um procedimento complexo dos poderes da União, em que se
agregam as vontades do Poder Executivo e do Poder Legislativo para a perfeita
formalização do acordo, o que dá um viés seguramente mais democrático ao processo
de celebração de tratados. Trata-se de tendência característica dos textos constitucionais
contemporâneos, em que a participação desses dois órgãos federais é indispensável para
formar a vontade da nação em relação ao que foi acordado internacionalmente.

Quando regularmente concluídos, os tratados ingressam no ordenamento jurídico


interno com vida própria e com sua roupagem original de tratados, e nessa qualidade
revogam a legislação anterior incompatível, tal como faria uma lei superveniente. E
além de revogarem a legislação interna incompatível, tal como faria a norma posterior
relativamente à anterior, devem também os tratados ser observados pelas demais leis
que lhe sobrevenham. Mas frise-se que os tratados incorporados ao direito nacional não
são leis (como se costuma geralmente dizer) e a estas não podem ser equiparados; são
atos internacionais aplicados internamente como se fossem leis. A roupagem própria de
tratados que têm os atos internacionais não se desfaz com a sua aplicação interna, que é
em tudo semelhante à aplicação das leis nacionais.

Segundo a Convenção de 1969, todos os Estados têm capacidade para concluir tratados
(art. 6º). Devem eles, porém, na realização de negociações junto ao governo de país
estrangeiro, atuar por meio de seus representantes, devidamente habilitados a praticar
atos internacionais em seu nome (plenipotenciários – detentores dos plenos poderes), à
exceção daquelas pessoas que, em virtude do cargo que ocupam no Estado e a depender
do caso, estão dispensadas de qualquer autorização.

RESERVAS AOS TRATADOS MULTILATERAIS


As negociações dos tratados multilaterais têm normalmente lugar no seio de uma
organização internacional ou em uma conferência internacional ad hoc (especialmente
convocada para a discussão e elaboração de um ou mais tratados) sediada no território
de um dos Estados negociadores. Quando a negociação multilateral tem lugar no
primeiro caso (no seio de uma organização internacional), não há conferência ad hoc,
ficando todas as discussões centradas na assembleia plenária da Organização. A única
limitação existente para a negociação de tratados no seio de uma organização
internacional diz respeito ao princípio da especialidade: as convenções concluídas numa
organização devem conformar—se às finalidades e aos objetivos desta. No caso de a
negociação ter lugar em conferências ad hoc especializadas, a situação é outra.

Os Estados são nelas representados por delegados investidos dos poderes necessários
para negociar e concluir o texto convencional. O procedimento das negociações, nesse
caso, reveste-se da mais alta complexidade e rigidez, obedecendo a um regulamento
interno já previamente estabelecido e utilizando-se, normalmente, de um ou mais dos
seis idiomas oficiais da ONU (quais sejam, o inglês, o francês, o espanhol, o árabe, o
russo e o chinês). As negociações – na organização internacionais.

Findas as negociações, tem-se o tratado como concluído (emprestando-se a essa última


expressão o sentido que lhe dá a Convenção de Viena de 1969, ou seja, o de tratado apto
a prosseguir nas demais fases de sua celebração). Nesse ponto já existe um projeto de
tratado composto por: a) um preâmbulo, que elenca os nomes das partes-contratantes e
expõe os motivos a que se destina a consecução do acordo; b) uma parte dispositiva, que
representa o corpo do texto do tratado, na qual são expostos os princípios e regras do
compromisso que as partes passam a assumir, contando também com algumas cláusulas
ou disposições finais, que têm por finalidade dar aplicabilidade a regras técnicas do
próprio acordo, a exemplo das regras sobre sua entrada em vigor, duração, possibilidade
de adesão, permissibilidade de emendas ou reservas etc.

A obrigação formal que as partes assumem na assinatura é, primeiramente, a de


continuar no procedimento sobre a base do texto adotado, sem ulteriores alterações em
sua estrutura (salvo, é claro, a possibilidade de reserva unilateral). Em outras palavras, a
assinatura vincula juridicamente os Estados ao texto final do tratado (notadamente na
hipótese em que ela também o autentica, nos termos do art. 10, alínea b, da Convenção
de Viena).

Dessa forma, verifica-se que a assinatura de um tratado não é um ato destituído de


quaisquer efeitos, eis que impõe aos Estados signatários deveres de segurança ligados à
boa-fé.

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