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D. Dinis Nanoite escreve um scu Cantar de Amigo Oplantador denaus ahaver, E ouve um silencio mirmuro!consigo: Forumordospinhaisque,como um trigo + DeImpério, ondulamsem se poder ver. Arroio#, esse cantar, jovem e puro, Busca o oceano porachar, a fala dos pinhais, marulho? obscuro, oso presentedesse mar fururo, > avozdatenaansiando pelomar. Femando Pessoa Poesia do eu, edigio de Richard Zenith Lisboa, Assi & Alvin 2014, 9.287, 2 slério mirmuro> feito de murmirios:*regta: eve uo provocato pla gus do mar abate em terre 1. Enplica o sentido da perfirase constitufda pelo segundo verso, tendo em conta 0 sen- tido geral do poema 2. Refere as duas atividades a que se dedicou D. Dinis ~ uma de natureza cultural, outra de natureza econémica. Transcreve versos, ou partes de versos, que justifiquem a tua resposta, 3... Dinis «ouve» (v. 3} um leve ruido relativo aos pinhais que mandou plantar, «a fala dos pinhais» (¥. 8). Identifica as varias formas de concretizagao dessa «fala». 4. Interpreta 0 sentido dos dois iltimos versos do poema. 5. Descreve a estrutura do poema, ao nivel da estrofe, do metro e da rima, 3. Explique de que modo o monarca es- taria inconscientemente a preparar 0 futuro do pais. 4. Justifique a inser¢do do poema nesta seccdo da estrutura da obra. 5. Exemplifique, referindo a expressivi- dade, a metafora e a personificagao. 1. «Plantador de naus a haver» é peri- frase de D. Dinis: ao mandar plantar 0 pinhalde Leiria, estavaa langar os ali- cerces da futura expansdo maritima, estava a mandar plantar as arvores cuja madeira se empregaria na cons- trugéiodas futuras embarcacées. 2. D. Dinis notabilizou-se, a nivel cul- tural, como poeta - «escreve um seu Cantar de Amigo» (v. 1); nivel econd- mico, é conhecido por ter mandado plantar o Pinhal de Leiria: a madeira dos pinheiros serviria mais tarde para a construgao de naus - «O plantador denaus a haver» (v. 2). 3 Num primeiro momento, D. Dinis «ouve» 0 «rumor dos pinhais», asso- ciadospor comparagaoaumaseara— «trigo / De Império» (w. 4 € 5); 0 «ru- mor dos pinhais» é como o ligeiro ruido provocado pela seara agitada pelo vento. Num segundo momento, aquilo que o rei «ouve» é um «cantar, jovem e puro» (v. 6), de um riacho, 0 «arroio» (v. 6), Este novo ruido metaforiza o «rumor dos pinhais» (v. 4) e associa os «pinhais» ao mar, ao «oceano por achare (v. 7), a0 «lm- pério aconstruir». 4, Estes dois ultimos versos consti- ‘tuem como que uma sintese do poe- ma-explicam, na sua brevidade, are- lag&o anteriormente expressa entre 0s «pinhais» e a expansao maritima, 0 «lmpério»: o ruido provocado pelos pinheiros e apresentado de varias for- mas mais nao é do que uma voz, ada terra que busca ansiosamenteo mar. 5. 0 poema estrutura-se em duas estrofes, duas quintilhas; os versos ‘so quase todos decassflabos; o es- quema rimatico da primeira estrofe é ABAAB e o da segunda CDCCD, arimaé interpolada e emparelhada. Gramatica 1. Sujeito 2. a. «dos pinhais» (v. 8), «desse mar futuro» (v. 9) e«da terra» (v. 10) b. «o oceano por achar» (v.7) . «pelo mar» (v.10) 3. Sugere-se no poema que a plantagao do pinhal de Leiria teria sido preponderante paraa construgao dos barcosa utilizar nos Descobrimentos ("0 plantador de nausa haver”, v. 2), dai que, involuntariamente, o rei tivesse preparado o futuro, 4.0 poema integraa primeira parte da obra, “Brasao",sendo osexto poema da secgaio “Os Castelos”. D. Dinis foi o sexto rei de Portugal e antecede o ciclo dos Descobrimentos. Preparouo futuro, criando, no presente, condigdes para oalargamento do|mpério, que seré cantadona segunda parte da obra. 5. Aexpressdo"E a fala dos pinhais, marulho obscuro” (v.8) contém uma personificagao e sugere o carater mitico de D. Dinis, uma espécie de intérprete de uma vontade superior, que anunciava aos ouvidos doreium novo ciclo de conquistas. A metéfora esta patente em “um trigo/De Império” (vv. 4-5) e sugere que a génese, a origem do futuro teve inicio em terra. No fundo, tal como o trigo éa base do pao que alimenta os povos, também os pinheiros serdoa base da construgao dos barcos que alimentarao os Descobrimentos. 0 trigo “ondula” ao sabor do vento, os barcos ao sabor das ondas.

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