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COLECAO ENFOQUES Letras Yves Reuter A anilise da narrativa “Tradugio Mario Pontes DIFEL jons Nathan/Vivendi Bivta Rane Yoo enim wey eo 1, Anise do cue nareao, LT I Se ats cop- 808925, cou 82-5409) sf — Sio Cristévo a préviaautoriagio Auersdenos pelo Reembolio Po escrito da Sumario INTRODUGIO 9 CAPITULO 1 OS PRINCIPIOS ESSENCIAIS DA ANALISE INTERNA DAS NARRATIVAS 1. DISTINGUIR 0 TEXTO E 0 “NAO-TEXTO" 1 Jofenunciagéo 15 2, Fiegio/referente 17 3. Autor/narrador 19 4. Leitor/narratério 20 U. DISTINGUIR OS NIVEIS DE ANALISE 21 I, UM EXEMPLO: “A RAPOSA E ACEGONHA” 23 A ondlise da narrativa Podemos entio nos interrogar sobre o sentido dessa busca que o leva de volta ao pi tar se, querendo “ganhar a vi dendo os parentes e a noiva. De fato, ¢ a0 contréri muitos contos, nao se diz. que ele regressou carregado de presentes. E sua presenga encontra apei nts idade, historicidade ¢ investimento personagens agi eemseu fiver. As categorias e 0 funcionamento das personagens segundo os generos: as dos con- € psicologicamente; conta com um grande ntime~ eixos de caracterizagio rever, para melhor compreend cada um dos atores. A ficgio te, € necessirio, sobretudo, ndo subesti- mar o fato de quea sicolégico dos autores e nvestimento repousa em parte na \s categorias de IIL. O ESPAGO 1. Os modos de anilise do espago Oespago construido pela narrativa pode ser do por meio de alguns eixos fundamentas: lo ou no; exéticas ou nio; ‘mais ott menos ricas; urbanas ou rurais etc.; SL A flegao 1a, elemento determinante em diferentes mo- tos do desenrolar da histéria, até mesmo serdo puramente simbélicos (a casa como 0 lugar de seguranga, a floresta como espago do medo), €estaremos em face de uma histéria cuja para as personagens constantes ete. Esses eixos da anilise permitirio que se indique com precisio. cionamento das hi (© espago partic 2. As fungées do espago Os lugares vao primeiramente defini a fixagio realista ‘ou ndo realista da hist6ria, Assim, eles pe por exemplo, com lugares subterraneos ou cas- te caso estaremos na presenga de imaginério, ‘maneira tio precisa, tio det niés chegaremos a acreditar nele, como ocorre no caso da ficgdo ci nos guias, nos mapas). Os lugares participam, entio, mentos (ver Capitulo 6) para a cons- verso e chegamos a “vi im nos encontraremos, sem Mas os lugares também podem ser const ‘ge do nosso universo: a, diante de um romance de vanguarda, como os do Jean Ricardou ou Al: 3 A andlise da narrativa for, énecessério constatar que o efeito do real é mais tributétio da apresentacio textual do que da realidade dos lugares. Os lugares também vio det cx e genéica das narrativas. Isso quando tratamos da ancoragem rea Tugares — sua abertura — so mais necessérias as nar- rativas de aventuras do que ao romance psicol6gico, que pode, em um caso-limite, desenrolar-se inteiramente ‘em um 56 lugar. Do mesmo modo, certos universos determinam os géneros romanescos: 0 romance de faroeste, o de mar, de montanha, 0 passado para os romances hist6ricos,o futuro para a ficgio ci Assim, também as historias e as temiticas serio muito liferentes, na medida em que os lugares sejam urbanos, pobres ou “chiques”. Algumas histérias literé- rias podem se li a esse ou aquele lugar, a essa ou Aquela forma de re 190 (as pai tormentosas do romantism bairros populares do nat Os lugares também assumem fungGes narrativas rmiltiplas: — Descrever o personagem por metonimia (o lugar onde ele vive e @ maneira como ele mora indi- cam, em conseqiiéncia, 0 que el 54 A fiecao — Descrever a pessoa por metafora (o lugar que ele acontecimentos (os lugares e sua atmosfera pre izem de um algum modo a h es (como os do- Gervaise em que marcam o ritmo de sua ascensio social e em seguida de sua decadéncia); tar a aco (os lugares permi- tem ou ndo as ages — correr, conversar — dio forma as ages — as desordens tomam for- bar ow em um prado — e elas mesmas se tornam auxiliares ou jwando favorecem um amor ou A andlise da narrativa Iv 0 TEMPO 1. Os modos de andlise do tempo Como 0 espago, o te pode ser analisado 2. As fungées do tempo {As indicagbes do tempo contribuem, em primeiro a fzer a fxagdo realsta ou nd re Quanto mais precisas elas forem, 56 A fiegao aquelas que regem nosso universo, mais remeterdo a um saber que funciona fora do romance e mais participario, lo 6), da constru- \clonamento esp — Assim, o texto pode carecer de sas que remetam ao nosso universo ou fornecer mengSes que remetam a um tempo im: licos verso com elementos incontroléveis (a comuni- cago com outras vidas ou outras épocas), como no caso do fanté —0 texto pode construir um tempo imaginério, tio precisa, que 0 leitor logo a — 0 texto pode ainda embaralhar as categorias ¢ as referéncias, mesmo que estas se refiram a0 nos- so universo (ver 0 Nouseau Roman). Seja como for, e do mesmo modo que é para o espa- ¢0,0 eleito do real é um produto da organizagao textual. ta da histéria, i As indicagdes temporais determinardo também a io temética e genérica das narrativas. Assim, uma 57 A andlise da narrativa longa duragio caracteriza mais freqiientemente o ro- ‘mance de aventura do que o romance psicolégico; pode- mos distinguir géneros romani passado ou para o futuro, para ait nescas ricas em poss sadas a0 tempo: a ‘5es temporais também assumem milti- plas fungées na — Qualificam lugares, ages e personagens de ma- neira direta — Estruturam e gens (mortos/vivos; jovens/idosos; adultos/ criangas); — Marcam as etapas da vida; dificultam ou deter (ver A volta ao mundo em oitenta dias, de Jules Verne); —Contribuem para a dramatizacio das narrativas (no caso do suspense, por exemplo, com 0 au mento do tempo e a multi m as agbes o das indica- vo, a vor, as perspectivas, a do ter feito de formas diferentes. Distingu 3 ANARRAGAO Definigao: A narragio d téenicas que regem a orga tiva que a expoe. Assim, estudaremos sucessivamente o modo narrati- sti Do (momento, velocidade, freqiiéncia e ordem). narrativa e a gestio I, OS MODOS NARRATIVOS: CONTAR OU MOSTRAR ‘Toda histéria é contada, narrada. Mas isso pode ser Jim, confor- 3s narrativos, que So dois 59 A andlise da narrativa VI. O TEMPO DA NARRACAO. Além das questdes que tratam da fala, da perspecti- va e do nivel, harragio pGe mais uma dimensio em jogo: a da temporaidade. Com rratva se sua narragio). Quatro nogGes podem ajudar a anilise dessas relagg mento da narragio, a velocidade, a freqiiéncia e a ordem, 1. O momento da narragio Definigao: 0 momento em que a histéra & contada, jue supostamente ela se desenrola Na narrago ult iiente, 0 narrador conta 0 que se passo «em um passado mais ou menos distante. Na naragio simulténea, mais rara e fre ligada & narragio homodiegética (em ), coma pers- pectiva passando pela personagem, tem-se a impressio de que 0 narrador conta a histéria no momento em que ela A narragio Na textuais, o narrador cot ragdo anterior, muito rara fora de passagens aquilo que vai se passar u riormente, em um futuro mais ou menos distante. Essas passagens, as vezes sob a forma de sonhos ou de profe- pois, um valor de pressigio, antecipando a dos acontecimentos. Contudo, € necessério nndi-las com géneros como a fiecio cientifica, que pode perfeitamente contar 0 que ¢ futuro em relagao ‘a9 nosso mundo real sob a forma de narracio ulterior, como se aquilo houvesse ocorrido no passado em relagao ‘ao momento em que & contac 2. A velocidade da narragio duragdo da histéria (calculada em anos, meses, dias, horas) e a duragio da narrasfo (ou, mais exatamente, dda passagem para o texto, expressa em nti piginas ou linhas) (Os romancistas demoraram pouquissimo para com- preender que se tratava de uma de suas prerrogativas, essenciais e que podiam, por motivos de economia ou de ef gosto, o tempo destinado a contar uma histéria, Podemos agora considerar uma tendén Ad 1s a serem criados, acelerar ou reduzir, a0 seu se € 0 sums ‘grau méximo da gio com ael 89 A andlise da narrativa aceleracio, ser As vezes retrospect iste em “saltar” (a ndo mencionar, a no nte) sobre a duracio tempo- rragio. Em O diabo enamora- ral eas agbes da ficgio na do (1772), de Cazotte, 0 de Biondetta, sua mie, A cena de sexo se passa inteiramente em detta, ap6s 0 momento O sumério, jf estudado por nés, pode cond resumir em algamas linhas um tempo ficcional as vezes elipse, o sumério textualmente esse t po, embora de maneira mi Considera-se que os di quais se procura dar diretamente aos nossos sentidos visam a produzir a so de uma igu € 0 tempo de narragio, Mas existe ainda u criada por diversos proce ‘mentos ou ages secur logos € as cenas com as ipressio de que a ficgio chega entos: a expansdo de mo- a repetigdo de a descrigao, que des doe 90 A narrasao vas ou explicativas, que parecerdo mais 080s leitores. Elas tambi proc rabies limentos que por lamento da n a angtstia, 0 suspense, 0 ab tensio do leitor 3. A freqiiéncia we se passou n 0 risco de parecer entedi- aro, costuma marcagio da angist inquietantes ou 0 cresci (0 da loucura em uma per- texto conta n vezes aq certos romances contemporit reside nao na hist6ria em si, mas percepclo/(re)construgio, Assi gio. Muito fr se realiza muitas vezes em relagio ao sumarios. Constitui tipicams narrativa, do qual se di dos aconte: podemos ment A andlise da narrativa sonagem que repete as mesmas agées e acredita ver a 05, nos quais o essen variagdes A narrasio Depois da Gervai seios nos quais nio se Levantada e ves io ea ordem na q ra narragio. les & a Costumamos enco ja em alguns is narrativas para criangas. Na reali- yntecimentos. E wrativas vio permi- de certos tira producto de ce fatos, como assinalou Louis Althusser em Livenir dure ongremps (Stock, 1992) A andlise da narrativa Advirto: 0 que se segue nio é otivos que marca~ ym uma forma: aque- Ta na qual me reconhego e na qu outros poderdo me reconhecer. Este resuumo segue As penso que os vezesa orem do ten indo, ora recor~ endo & memria: nfo para confundir os mor 10, ora antec ‘mas, ao contréti tro dos tempos aquilo que constitui de idades mestras e distintas dos afetos em. torno dos quais, por assim dizer, eu me constitu douro as a Essas anacronias narrativas podem ser “objetivas” (certas) ou * ncertas). Dist: seu alcance: situam-se em um jetivas muem-se pelo mento mais distante daquele em que o acontecimento deveria ter sido contado, Distinguem-se, assim, pela sua amplitude: cobrem uma duragi mais ou menos longa Hé dois grandes tipos de anacronias narrativas. A anacronia por antecipag catéfora, 01 te em contar ou evocar u to antes do momento em na ficgio. E 0 caso dos sor profecias, que di acontecer. E tai bém 0 que ocorre com as entradas in ‘medias rs, quando, para captar a atencio do leitor, come- 4 A narragao ase 0 relato no meio de ainda ocorre em certos ron «quando comegam com uma ce todo |, com o objetivo de ou no espectador. lo quea precede ago ta de certa hist to acompanhavamos outras personage ativas de Xe XII do Cunegundes e da to de um segredo. Esses jogos com a ordem té fangdes: “mimar” um percurso psicolgico ou as. aio, contestar a objetividade do re co (ver oN da mem e da cronologia do romance ¢ 95 tar sua c antecipacio wi A andlise da narrativa ‘osidade, or, revelando-Ihe por jetante, exci- lo-lhe acontecimentos 4 A MONTAGEM DO TEXTO tuadas no universo rep ragio no tocante As escolhas dos grandes do universo, este capitulo ser dedi- cl que distinguimos: a montagem do Estas sio mais part pelos semidlogos e

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