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CLIMATIZAÇÃO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO Prof. Dr. Jorge E.

Corrêa

CAPÍTULO 1
AR CONDICIONADO E REFRIGERAÇÃO
Nesse capítulo, destacaremos a função, classificação e aplicações mais comuns dos sistemas de ar
condicionado; descreveremos sucintamente uma instalação básica de ar condicionado para conforto; traçaremos
diretrizes de elaboração de projetos em instalações de ar condicionado; e finalmente, faremos uma breve
exposição sobre os sistemas de refrigeração por compressão mecânica de vapor e por absorção de vapor, e
mostraremos como se integram aos sistemas de ar condicionado.

1.1 Breve histórico

Em 1901, nos Estados Unidos da América, Willis H. Carrier (1876-1950) graduou-se na Universidade de
Cornell e foi trabalhar na Buffalo Forge Company, onde observou que os sistemas de climatização não poderiam
ser projetados e instalados de modo satisfatório devido à imprecisão dos dados usados nas fórmulas disponíveis
para os cálculos. Para obter curvas confiáveis de desempenho de equipamentos de condicionamento de ar, com
bases teóricas consistentes, ele desenvolveu as primeiras pesquisas de laboratório na indústria de ventilação e
aquecimento.
Em 1902, Carrier projetou e instalou numa indústria litográfica um sistema de climatização que permitia
controle de aquecimento, resfriamento, umidificação e desumidificação do ar, para resolver o problema da
sobreposição de cores nos impressos gráficos sobre embalagens de papelão que variavam de tamanho, em
resposta às mudanças sazonais nas condições climáticas.
Em 1911, no encontro da ASME (American Society of Mechanical Engineers), Carrier apresentou em seu
artigo Rational Psychrometrics Formulae a teoria de saturação adiabática, na qual relacionava as temperaturas
de bulbo seco, bulbo úmido e ponto de orvalho do ar com as cargas térmicas sensível, latente e total. As
fórmulas e o diagrama psicrométrico apresentado tornaram-se a base de todos os cálculos fundamentais em
condicionamento de ar, e proporcionaram um crescimento significativo do emprego desses sistemas em
ambientes industriais. Embora os sistemas de ar condicionado fossem instalados desde 1890, com o trabalho de
Carrier tomaram um impulso significativo.
Embora nenhum grande progresso fosse feito na área de refrigeração mecânica até a virada do século
XIX, diversas instalações de condicionamento de ar entraram em operação: em 1902, Alfred Wolf projetou e
instalou um sistema de 400 TR (1.260 kW) para o New York Stock Exchange, que funcionou por quase 20 anos;
em 1908, o The Boston Floating Hospital foi o primeiro a ser equipado com um sistema moderno de
condicionamento de ar; em 1928, The Milam Building, um edifício de escritórios, projetado e construído em Santo
Antônio, Texas, já atendia especificações de sistemas de condicionamento de ar para conforto.
No final de 1920, foi lançado no mercado o primeiro aparelho de ar condicionado de janela. Entretanto,
ainda havia um fator restritivo à sua popularização: o elevado grau de periculosidade dos refrigerantes usados na
época, que inviabilizavam técnica e economicamente a fabricação de sistemas de refrigeração que operassem
com segurança, de modo que qualquer pessoa pudesse utilizá-los.
Nos anos 1929/30, Thomas Midgley coordenou com uma equipe de pesquisadores e desenvolveu um
refrigerante promissor, que se tornaria um dos fatores responsáveis pela expansão e consolidação da indústria
da refrigeração e do ar condicionado: o diclorodifluormetano ( ), com ponto de ebulição à –29,8°C em
pressão atmosférica normal, que recebeu o nome comercial de Freon 12. Esses compostos químicos, derivados

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do metano e do etano, denominados clorofluorcarbonos (identificados pela sigla CFC), eram conhecidos desde o
final do século XIX; porém, suas propriedades como refrigerante só então foram investigadas.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a tecnologia do condicionamento de ar avançou
rapidamente. Surgiram então: bombas de calor com condensação a ar, resfriadores de água de grande porte
usando sistema de absorção com brometo de lítio, condicionadores de ar automotivos, condicionadores de ar
unitários e de gabinete (self-contained), pequenos resfriadores de água, purificadores de ar, unidades de
resfriamento de cabinas de aeronaves usando ciclo de expansão de ar, e outros.
Atualmente, a indústria de refrigeração e ar condicionado trabalha para aperfeiçoar produtos existentes e
no desenvolvimento de novos produtos, visando principalmente o conforto térmico e a qualidade do ar em
ambientes climatizados, a eficiência energética e a proteção do meio ambiente.

1.2 Refrigeração por compressão mecânica de vapor

Os sistemas de refrigeração por compressão mecânica de vapor são os mais utilizados em sistemas de
ar condicionado para realizar a desumidificação do ar por resfriamento, ou para aquecimento do ar trabalhando
como bomba de calor. Vários estudiosos e empreendedores contribuíram para a evolução da refrigeração por
compressão mecânica de vapor, por conseguinte do ar condicionado, seja descobrindo seus princípios físicos
e/ou desenvolvendo e construindo equipamentos e os integrando aos sistemas de ar condicionado.
Em 1755, o Dr. William Cullen, professor de química na Universidade de Edimburgo na Escócia,
conhecia a sensação de resfriamento que o éter provoca quando evapora em contato com a pele. Ele bombeou
o vapor formado dentro de um vaso hermético contendo éter líquido e mergulhado em água. A temperatura no
vaso baixou e a água congelou sobre sua superfície externa. Dois princípios sustentam esse fenômeno: (1) Todo
líquido tende a se transformar em vapor: dentro de um vaso hermético o líquido e seu vapor estão em equilíbrio
termodinâmico na pressão de vapor saturado e se o vapor é bombeado essa pressão diminui e o líquido
evapora, e (2) Para evaporar um líquido deve absorver calor: o calor absorvido pelo líquido na mudança de fase
em pressão constante foi medido por Joseph Black e designado de calor latente, pois não há variação de sua
temperatura. Em termos modernos, o calor latente é conhecido como entalpia de mudança de fase. Se não há
uma fonte externa, o calor é retirado do próprio líquido que tem sua temperatura reduzida.
Em 1834, Jacob Perkins fez a primeira descrição completa do ciclo de refrigeração por compressão
mecânica de vapor tal como o conhecemos hoje. A máquina descrita e patenteada por Perkins é mostrada na
Figura 1.1. O fluido volátil (éter) evapora ao receber calor da água existente no tanque. A bomba manual aspira e
comprime o vapor até uma pressão em que sua temperatura permita liberar calor para a água de resfriamento no
condensador e liquefazer. O condensado escoa através do dispositivo de expansão que mantêm a diferença de
pressão entre o condensador e o evaporador. A pequena bomba manual existente acima do dispositivo de
expansão serve para reposição da carga de refrigerante. Segundo relatos da época, a máquina de não
despertou interesse comercial devido ao acionamento manual da bomba que comprimia o vapor.
A Figura 1.2 mostra um sistema de refrigeração por compressão mecânica de vapor. Os componentes
principais são: evaporador, compressor, condensador e dispositivo de expansão. O evaporador e o condensador
são trocadores de calor de serpentinas com aletas, que são adequados para realizar a troca de calor entre o
refrigerante e o ar. O compressor é do tipo alternativo (denominado também de pistão ou de êmbolo). A válvula
de expansão (termostática) controla a vazão de fluido refrigerante no evaporador. Esse fluido, que escoa
sucessivamente através dos componentes do ciclo conectados por tubulações de cobre, é submetido a uma
série de processos termodinâmicos que permitem desenvolver a capacidade de refrigeração usada para o

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resfriamento de uma substância. O filtro secador retém partículas sólidas e a umidade que penetrando no
sistema podem comprometer seu funcionamento. Os ventiladores movimentam o ar ambiente resfriado no
evaporador e o ar atmosférico que resfria o condensador, em circuitos independentes. Esses equipamentos
devem ser dimensionados para trabalhar integrados, e com a supervisão de um sistema de controles que
permita compatibilizar sua capacidade de refrigeração com a demanda de carga térmica do ambiente
condicionado.

Figura 1.1 – Máquina de refrigeração por compressão mecânica de vapor, idealizada por Jakob
Perkins, em 1834.

Figura 1.2 – Sistema de refrigeração por compressão mecânica de vapor.

Ciclo teórico ideal de refrigeração

Nos sistemas de refrigeração, o fluido refrigerante (ou fluido primário) assume sucessivos estados
termodinâmicos ao passar por processos de transferência de calor e trabalho, e retorna sempre ao seu estado
inicial, caracterizando um ciclo. A Figura 1.3 mostra as interações de calor e trabalho que ocorrem nos
componentes do ciclo de refrigeração. No evaporador, mistura líquido-vapor recebe calor do fluido a ser resfriado
(ar do ambiente condicionado) e o líquido evapora. No compressor, o vapor aspirado tem sua pressão elevada
sendo descarregado no condensador. No condensador, o vapor transfere calor para um fluido de resfriamento e
condensa. No dispositivo de expansão, o líquido vindo do condensador tem sua pressão reduzida até atingir a

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pressão existente no evaporador, e, nesse processo, parte do líquido evapora. Portanto, ao penetrar no
evaporador o fluxo de refrigerante compõe-se de mistura líquido-vapor e não somente líquido. O dispositivo de
expansão controla a vazão de refrigerante e mantém a diferença de pressão entre o condensador (lado de alta
pressão) e o evaporador (lado de baixa pressão) do sistema.

Figura 1.3 – Interações de calor e trabalho dos sistemas de refrigeração.

Os processos do ciclo teórico de refrigeração por compressão mecânica de vapor podem ser
visualizados no diagrama Pressão × Entalpia do refrigerante usado no sistema. Existem vários refrigerantes
disponíveis para uso comercial em sistemas de refrigeração. O Apêndice 1-A apresenta alguns desses
refrigerantes com sua fórmula química, nomenclatura e composição química. A Figura 1.4 apresenta o diagrama
Pressão (kPa) × Entalpia (kJ/kg) do refrigerante HFC-134a, ou simplesmente, R-134a. Sobre esse diagrama está
representado um ciclo teórico de refrigeração onde a evaporação ocorre à temperatura de 0ºC (correspondente
pressão de 293 kPa) e a condensação à 45ºC (correspondente pressão de 1.160 kPa), e são identificados os
quatro processos principais: evaporação, compressão, condensação e expansão. A seguir serão descritos,
comentados e quantificadas as transferências de calor e trabalho em cada um desses processos e no sistema
como um todo.

Figura 1.4 – Ciclo teórico de refrigeração sobre o diagrama Pressão × Entalpia do R-134a.

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O compressor realiza trabalho mecânico sobre o vapor refrigerante para mantê-lo escoando, de modo
que transferências de calor e trabalho entre o refrigerante e sua vizinhança ocorrem no próprio compressor e nos
outros componentes do sistema. As mais significativas ocorrem no evaporador (com o fluido a ser resfriado), no
condensador (com o fluido de resfriamento), no compressor (com a vizinhança devida às ineficiências próprias
do equipamento) e nas tubulações de refrigerante, que conectam os componentes. O uso de isolamento térmico
nas tubulações de baixa pressão reduzem as trocas de calor indesejáveis com a vizinhança, de modo que
podem ser desprezadas nas análises.
A taxa de transferência de calor do fluido a ser resfriado para o refrigerante no evaporador corresponde à
capacidade de refrigeração da instalação. A taxa de trabalho do compressor (potência de compressão) é usada
manter a instalação funcionando. O coeficiente de desempenho (COP = Coefficient of Performance) para um
ciclo de refrigeração por compressão mecânica de vapor é definido por:

Q Capacidade de Refrigeração
COP  e  (1.1)
Wc Potência de Compressão

Sendo Q cd a taxa de transferência de calor do refrigerante para o fluido de resfriamento no condensador


e Q c a taxa de transferência de calor do compressor para sua vizinhança (perdas de calor decorrentes das
ineficiências da máquina), um balanço de energia em regime permanente, aplicado ao sistema resulta em:

Q e  Wc  Q cd  Q c (1.2)

Num volume de controle ( ) a equação do balanço de energia em regime permanente é dada por:

 V2   V2 
Q líquida  Wlíquida  m r  hsaída  saída  gZ saída   m r  hentrada  entrada  gZ entrada  (1.3)
 2   2 

onde: Q = taxa de transferência de calor, W; W = taxa de transferência de trabalho, W; mr = vazão mássica de


refrigerante, kg/s; h = entalpia específica, J/kg; V = velocidade, m/s; g = aceleração da gravidade, m/s²; e Z
= altura, m.
A Equação (1.3) pode ser usada para analisar cada componente do ciclo. Por convenção, calor e
trabalho que entram no volume de controle assumem sinal positivo. Na prática, as análises não necessitam da
inclusão de todos os termos dessa equação. Em sistemas de refrigeração, os termos que contém podem ser
desprezados em determinados componentes, embora seja importante em casos de redes de tubulações de
refrigerantes (fluidos primários) e de fluidos de transporte térmico (fluidos secundários). Os termos de velocidade
correspondem à energia cinética específica e também podem ser desprezados, pois quase sempre as
velocidades do escoamento de refrigerante na entrada e na saída dos componentes são iguais, embora seja
conveniente antes de descartá-los checar alguns valores em termos de ordem de grandeza. A equação do
balanço de energia será aplicada para um em cada componente do sistema, assumindo essas
simplificações. Os números que aparecem como subscritos dessas equações correspondem aos pontos
identificados nas Figuras 1.2 ou na Figura 1.3, e representam os estados termodinâmicos do refrigerante.
Compressor: na aspiração, estado 1 (vapor saturado seco em baixa pressão); na descarga, estado 2
(vapor superaquecido em alta pressão); o trabalho de compressão é realizado pelo pistão sobre o vapor

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refrigerante e a perda de calor ocorre na superfície externa do compressor para sua vizinhança, ou seja,
W  Wc , Q   Q c . Daí:

 r h2  h1   Q c
Wc  m (1.4)

Condensador: na entrada, estado 2 (vapor superaquecido em alta pressão); na saída, estado 3 (líquido
saturado em alta pressão); durante a mudança de fase a pressão de condensação permanece constante; não há
realização de trabalho e a troca de calor ocorre do refrigerante para um meio de resfriamento, ou seja,
W  0 , Q   Q cd . Daí:

 r h3  h2 
Q cd  m (1.5)

Dispositivo de expansão: na entrada, estado 3 (líquido saturado em alta pressão); na saída, estado 4
(mistura líquido-vapor saturada em baixa pressão). Nesse componente, Q é tão pequeno frente às
transferências de calor nos outros que pode ser desprezado. A rigor ocorre uma transferência de calor para o
refrigerante visto que o corpo da válvula está mais frio que sua vizinhança. Entretanto, a área superficial da
válvula é muito pequena e o quociente Q / m r é desprezível com relação aos outros termos, particularmente com
relação à variação de entalpia no evaporador, ou seja, W  0 . Os termos de energia cinética também são
desprezados, pois ao escoar pelo orifício da válvula o refrigerante desenvolve uma energia cinética considerável;
entretanto, a superfície de controle intercepta o escoamento de refrigerante à jusante do orifício do dispositivo de
expansão num ponto onde essa energia cinética já foi dissipada por efeitos viscosos. Assim:

0  m r h4  h3  (1.6)

h4  h3 (1.7)

Como os estados do refrigerante na entrada e na saída da válvula de expansão são iguais o processo de
expansão é isoentálpico. Isso permite que o estado 4 seja localizado sobre o diagrama × e a entalpia
específica da mistura líquido-vapor é obtida por:

h4  1  x4 hl ,e  x4 hv ,e (1.8)

onde: e são, respectivamente, as entalpias específicas do líquido e do vapor saturado na pressão de


evaporação (baixa pressão). Daí, o título da mistura será:

h4  hl ,e
x4  (1.9)
hv ,e  hl ,e

Evaporador: na entrada, estado 4 (mistura líquido-vapor saturada em baixa pressão); na saída, estado 1
(vapor saturado seco em baixa pressão); durante a mudança de fase a pressão de evaporação permanece
constante; não há realização de trabalho e a transferência de calor ocorre do fluido a ser resfriado para o
refrigerante, ou seja, W  0 , Q  Q e . Daí:

 r h1  h4   m
Q e  m  r h1  h3  (1.10)

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A Equação (1.10) é obtida para um onde a superfície de controle envolve simultaneamente o


evaporador e a válvula de expansão. Nesse caso, não é necessário desprezar a pequena transferência de calor
para a válvula de expansão vista que está incluída em Q e . Na situação real, a válvula é instalada muito próxima
do evaporador e, portanto, dentro do espaço refrigerado.
Verifica-se pela Equação (1.10), que a capacidade de refrigeração Q e depende de dois fatores: vazão
mássica de refrigerante m  r (vazão mássica de vapor bombeado pelo compressor) e diferença de entalpia
específica , que depende do tipo de refrigerante e das condições de operação (pressões de
evaporação e de condensação). O termo é denominado de efeito refrigerante específico. A vazão
mássica de refrigerante (kg/s) em qualquer componente do ciclo relaciona-se com a vazão (m³/s) por:

V  m
 r (1.11)

onde v é o volume específico do refrigerante (m³/kg). A vazão mássica de refrigerante na aspiração do


compressor (estado 1) é particularmente importante para estabelecer o tamanho do compressor. Introduzindo o
volume específico na entrada do compressor v1 a Equação (1.11) tornase:

V1  m r 1 (1.12)

onde V1 é a vazão de refrigerante na aspiração do compressor (deslocamento do compressor). Substituindo a


vazão mássica obtida pela Equação (1.12) na Equação (1.11), tem-se:

h  h 
Q e  V1 1 3 (1.13)
1

Esta equação mostra que a capacidade de refrigeração é função de dois fatores: V1 , vazão de vapor
refrigerante na aspiração do compressor, que depende principalmente das dimensões e da velocidade do
compressor; e do termo h1  h3   1 , que é função do tipo de refrigerante e das condições de operação. Esse
termo é denominado de efeito refrigerante volumétrico.
Observa-se no diagrama da Figura 1.3 (ou nas tabelas de saturação do refrigerante) que se a pressão de
evaporação diminui o termo e o volume específico v1 aumentam. Na fração da Equação (1.13) esses
termos são concorrentes; portanto, reduzir a pressão de evaporação do sistema, mantendo sua pressão de
condensação constante, não implica necessariamente em aumento de sua capacidade de refrigeração.
Dependendo do refrigerante usado isto pode ou não ocorrer.
Em alguns tipos de compressores a vazão mássica de refrigerante é muito grande em relação à
superfície disponível para trocar calor com a vizinhança. Nesse caso, a razão Q c / m r pode ser desprezada, pois
a variação de entalpia específica h2  h1  é muito maior, e tem-se a denominada compressão adiabática.
Assim, a Equação (1.4) reduz-se a Equação (1.14) onde o subscrito indica que o processo de compressão é
adiabático:

 r h2  h1 
Wc ,ad  m (1.14)

O coeficiente de desempenho com base na compressão adiabática é obtido por:

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h1  h3
COPad  (1.15)
h2  h1

e depende somente do estado termodinâmico nos quatro pontos principais do ciclo. Se for considerado que além
de adiabático o processo de compressão é termodinamicamente reversível, então a entropia do refrigerante é
constante durante a compressão, ou seja:

s1  s2 (1.16)

e o coeficiente de desempenho é dado por:

COPr 
h1  h3  (1.17)
h2  h1 s

O subscrito s no parêntesis do denominador indica que a variação de entalpia específica é avaliada na


condição da Equação (1.16). O subscrito indica que o é avaliado para um processo reversível e
adiabático, ou seja, um processo isentrópico. O é um parâmetro importante do ciclo que está relacionado
ao refrigerante e às condições de operação.
Na prática, um processo de compressão adiabático e reversível não pode ocorrer (processo idealizado).
Entretanto, é importante salientar que nesse tipo de processo o trabalho realizado é o mínimo disponível. A
reversibilidade implica que a compressão ocorre de tal modo que é possível retornar ao estado inicial por um
processo de expansão, que corresponde ao caminho inverso do percorrido na compressão, e a mesma
quantidade de trabalho será extraída. Isto aconteceria se a força aplicada ao pistão, que comprime o vapor no
cilindro, fosse contrabalançada pela força decorrente da pressão do fluido. Desse modo, obviamente, o pistão
não se movimentaria. Portanto, para iniciar a movimentação do pistão a força deve ser aumentada (para
compressão) ou relaxada (para expansão). Um processo reversível só pode ser conceituado a partir de uma
série de estados de equilíbrio. Um processo real, que ocorre em tempo finito, sempre parte do equilíbrio.
Se o processo isentrópico é adotado então obrigatoriamente a compressão é adiabática. Se durante o
processo de compressão ocorre transferência de calor do vapor para a vizinhança então o trabalho é reduzido,
pois aumenta a taxa de redução do volume do vapor refrigerante dentro do cilindro do compressor. Se essa
transferência de calor é tal que a temperatura do vapor dentro do cilindro do compressor permanece constante,
então uma abordagem isotérmica deve ser usada. A compressão isotérmica (reversível) geralmente é adotada
como padrão para compressores de ar, pois o ar está inicialmente na temperatura ambiente e é possível resfriá-
lo durante todo o processo de compressão. Entretanto, no ciclo de refrigeração o vapor aspirado pelo
compressor está bastante frio e não é possível resfriá-lo durante os momentos iniciais da compressão, quando o
vapor aspirado penetra no cilindro. Se qualquer fonte mais fria estivesse disponível não haveria necessidade de
refrigeração! Portanto só é possível realizar o resfriamento durante os momentos finais da compressão, quando
o vapor estará quente, em face da redução de seu volume. Entretanto, o breve tempo de contato entre o vapor e
as paredes do cilindro, e os baixos coeficientes de transferência de calor por convecção no vapor seco, são
razões práticas que tornam impossível obter altas taxas de resfriamento nos compressores modernos de alta
velocidade. A potência de compressão isentrópica é obtida pela Equação (1.14), considerando a entropia
constante. Daí:

 r h2  h1 s
Wc ,s  m (1.18)

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O termo entre parêntesis na Equação (1.18) é o trabalho específico de compressão isentrópica. Em


termos de vazão de refrigerante na aspiração do compressor, tem-se:

h  h 
Wc ,s  V1 2 1 s (1.19)
1

O termo h2  h1 s v1 , denominado trabalho de compressão isentrópica volumétrico, representa


trabalho necessário para comprimir isentropicamente cada unidade de volume de vapor do estado 1 (aspiração)
ao estado 2 (descarga). Portanto, está relacionado com a potência necessária para acionar um compressor de
determinado tamanho em dada velocidade. Verifica-se que esse termo tem dimensões de pressão: J/m3 = Nm/m3
= N/m2 = Pa. O desempenho do compressor real relaciona-se ao do compressor isentrópico por uma eficiência
isentrópica, dada por:

h  h 
s  2 1 s (1.20)
Wc m r

onde Wc m r é o trabalho específico de um compressor real operando entre os mesmos estados 1 (aspiração) e
2 (descarga). Assim, a potência real necessária ao compressor é obtida por:

m h  h  W
Wc  r 2 1 s  c ,s (1.21)
s s

A eficiência isentrópica não é uma eficiência no sentido exato da palavra, ou seja, a razão entre a
quantidade que sai e outra que entra no volume de controle ou no sistema. Na verdade, compara dois processos:
um real (que acontece) e um ideal (que não pode acontecer). Geralmente, seu valor é usado para obter uma
estimativa rápida e superficial da potência de compressão, dado que valores aproximados são conhecidos para
vários tipos de compressores: na faixa de 0,5 para compressores de refrigeração doméstica até 0,8 para grandes
compressores de parafuso. Entretanto, esses valores variam bastante com as condições de operação e a
eficiência isentrópica não serve para determinar a potência do motor elétrico de acionamento do compressor.
A compressão mecânica de vapor é um método eficiente para obter refrigeração artificial, porém: (a) a
energia necessária à compressão geralmente é fornecida por um motor elétrico, que consome energia de custo
elevado; (b) aumentar a pressão do vapor com redução de seu volume requer uma quantidade de trabalho
relativamente grande. Por isso, surgiram outros sistemas artificiais de refrigeração que também podem ser
usados em sistemas de ar condicionado, tais como o sistema de absorção de vapor.

1.3 Refrigeração por absorção de vapor

O vapor que se forma na superfície de um líquido volátil pode ser removido por bombeamento ou por
absorção. Nesse último, o vapor deve ser absorvido por uma substância com a qual reaja quimicamente e nela
se dissolva facilmente. Por exemplo, o vapor d’água é absorvido rapidamente pelo ácido sulfúrico.
Em 1810, este princípio foi usado por para produzir artificialmente gelo usando água e uma
solução aquosa de ácido sulfúrico. Seu método tornou-se a base de várias máquinas comerciais para fabricação
de pequenas quantidades de gelo. Entretanto, para operação contínua era necessária recarga periódica de ácido
sulfúrico, de modo que a solução fosse concentrada por ebulição. Em 1878, um equipamento desse tipo foi

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projetado e obteve algum sucesso comercial, porém, nunca foi muito popular. Era usado para fabricar gelo e
resfriar água. Nesse sistema, a água atuava como refrigerante e a solução aquosa de ácido sulfúrico era
denominado absorvente.
O sistema de refrigeração por absorção de vapor foi patenteado nos Estados Unidos em 1860 pelo
francês . Além de fabricar gelo e resfriar água, permitia também o armazenamento de
pequenas quantidades de alimentos perecíveis. Desde então, sua popularidade oscilou ao sabor de condições
econômicas e de desenvolvimento tecnológico. Entretanto, as vantagens de sistemas de absorção
permaneceram ao longo do tempo, e podem ser resumidas como: (a) Comparado ao sistema de compressão de
vapor consume menos energia elétrica para manter-se em funcionamento; (b) Suas instalações são bastante
silenciosas e livres de vibração; (c) A energia térmica recuperada ou excedente em dado processo pode ser
utilizada como insumo energético (em substituição ao trabalho mecânico da compressão); (d) Seus fluidos de
trabalho não causam dano à camada de ozônio e têm menor impacto no aquecimento global do que outras
opções de refrigerantes, usadas em compressão de vapor; e (e) Instalações de absorção são economicamente
atrativas quando o custo do combustível varia de 12% a 20% do custo da energia elétrica.

Soluções binárias homogêneas

Em sistemas de refrigeração por absorção de vapor o fluido de trabalho é uma solução binária
homogênea constituída de um refrigerante e um absorvente. Atualmente, as soluções binárias uniformes (ou
misturas homogêneas) mais usadas em máquinas produzidas comercialmente são a de brometo de lítio (LiBr) +
água (H2O) e de água (H2O) + amônia (NH3). Na primeira, usada em instalações de ar condicionado de grande
porte, o absorvente é uma solução aquosa de brometo de lítio e o refrigerante é a água; na segunda, restrita aos
sistemas industriais dadas à toxicidade da amônia, esta é o refrigerante e a água o absorvente. De acordo com a
nomenclatura apresentada no Apêndice A-1 a água é o refrigerante R-718 e a amônia o R-717, ambos são
compostos inorgânicos. O brometo de lítio é um composto químico (sal inorgânico) de bromo e lítio que se
dissolve facilmente em água, produzindo uma solução aquosa extremamente higroscópica.
Os componentes de uma mistura homogênea não podem ser separados por métodos puramente
mecânicos, e o seu estado termodinâmico não é determinado apenas por duas propriedades independentes (por
exemplo, pressão e temperatura), como no caso da substância pura. A concentração (relação entre a massa de
um dado componente e a massa total da mistura) é a informação que complementa a definição de seu estado
termodinâmico.
O comportamento de uma solução binária homogênea em condições próximas à saturação é importante
para o funcionamento dos sistemas de refrigeração por absorção. A Figura 1.5(a) mostra um sistema cilindro-
pistão contendo com uma solução binária homogênea na fase líquida, formada pelos componentes ,
sendo o componente o mais volátil, ou seja, aquele que em dada pressão vaporiza na menor temperatura. A
concentração do componente na mistura é dada por:

Massa de B
x (%) (1.22)
Massa de A  B

Desconsiderando atrito mecânico do pistão com a parede do cilindro, os pesos e a pressão atmosférica
mantém constante a pressão sobre a solução. A Figura 1.5(d) apresenta os estados da solução sobre o diagrama
Temperatura × Concentração do componente na mistura binária. A solução líquida inicialmente está sub-
resfriada e à medida que lentamente a aquecemos sua temperatura aumenta e atinge a de saturação, sem que

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haja mudança da concentração, Figura 1.5(a). Na Figura 1.5(d) o estado 1 representa o líquido sub-resfriado e o
estado 2 o líquido saturado, ambos com a mesma concentração do componente , . Ao atingir o estado
2 o componente (fluido mais volátil) começa a vaporizar, de modo que sua concentração na solução líquida
diminui para e na solução vaporizada aumenta para . Os estados 3 e 4 estão às mesmas temperatura e
pressão. Prosseguindo o aquecimento, atinge-se o estado 5, vapor saturado, onde o componente assume sua
concentração inicial, pois todos os componentes da solução líquida vaporizaram. Daí em diante, o aquecimento
superaquece a solução vaporizada e sua concentração permanece inalterada, . Caso a pressão total
seja alterada pela adição ou remoção dos pesos sobre o pistão, e o experimento descrito anteriormente seja
repetido para várias concentrações, às linhas de vaporização e condensação na Figura 1.5(d) serão deslocadas
para cima ou para baixo.

Figura 1.5 - Processos de evaporação e condensação de solução binária homogênea: (a) líquido
sub-resfriado/saturado, (b) mistura saturada, (c) vapor saturado/superaquecido, (d) diagrama
temperatura-concentração.

Embora o diagrama Temperatura × Concentração apresente informações importantes sobre o


comportamento de uma solução binária homogênea, em termos de balanços de massa e de energia é
conveniente usar o diagrama Entalpia × Concentração. A Figura 1.6 apresenta esse diagrama para a solução
homogênea binária de LiBr + H2O, válida para as faixas de temperatura e concentração de LiBr mostradas na
parte superior da mesma.
De modo geral, os componentes de uma solução binária podem ser denominados soluto e solvente,
sendo o primeiro o que se dissolve no segundo. Na solução binária LiBr + H2O verifica-se que o solvente é a
água (líquido) e o soluto o brometo de lítio (sal inorgânico sólido); na solução H2O + NH3, em que ambos são
líquidos, é difícil identificar o solvente e o soluto. Porém, tratando-se de uma solução aquosa podemos dizer que
a água é o solvente e a amônia o soluto. Assim, quando falamos em concentração de uma solução, estamos nos
referindo à quantidade de soluto presente na quantidade total de solução.
Em sistemas de absorção de vapor, os componentes da solução primária são designados absorvente e
refrigerante, sendo esse último o componente mais volátil. Na solução binária LiBr + H 2O verifica-se que o
absorvente é uma solução aquosa de brometo de lítio e o refrigerante a água; na solução H 2O + NH3, o
absorvente é a água e o refrigerante a amônia. Assim, uma solução concentrada é a que apresenta bastante
LiBr, no caso da primeira, ou bastante NH3, no caso da segunda; numa solução diluída, é o contrário. Se
experiência mostrada na Figura 1.5 fosse realizada com a solução binária LiBr + H2O sua concentração
aumentaria; porém, com a solução H2O + NH3 essa concentração diminuiria. Isso pode causar alguma confusão
no momento de analisar os sistemas de absorção de vapor.

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Figura 1.6 – Diagrama Entalpia (da solução) × Concentração (de LiBr).

Princípios de funcionamento: intermitente e contínuo

Na Figura 1.7(a), dois vasos evacuados são interconectados por um tubo contendo uma válvula: o da
esquerda contém líquido refrigerante e o da direita uma solução binária absorvente-refrigerante, com baixa
concentração de refrigerante, por isso mesmo designada solução diluída. Inicialmente, a válvula está fechada e
os vasos estão em equilíbrio térmico com suas vizinhanças. Como os vasos não estão cheios de líquido, certa
quantidade de vapor existe em cada um deles, em suas respectivas pressões de saturação. Quando a válvula é
aberta o vapor refrigerante é absorvido rapidamente pela solução diluída e a pressão no vaso esquerdo é
reduzida. Para que mais líquido seja vaporizado é necessário que o mesmo absorva mais calor; esse calor é
fornecido inicialmente pelo próprio refrigerante que permanece como líquido. Como a temperatura do líquido é
reduzida, instala-se uma diferença de temperatura entre o vaso e sua vizinhança que provoca uma transferência
de calor no sentido do líquido. Esse efeito de refrigeração pode ser utilizado para resfria uma substância
qualquer. A solução diluída no vaso da direita torna-se pouco a pouco mais concentrada pela absorção de vapor
refrigerante, que é um processo exotérmico. Esse calor de reação deve ser removido do vaso da solução a fim
de manter a capacidade do processo de absorção. Quando a solução absorvente torna-se saturada de
refrigerante (concentração máxima permitida nas condições de temperatura e pressão vigentes) o processo de
absorção cessa. Para reiniciá-lo o refrigerante deve ser removido da solução concentrada e mandado de volta ao
vaso da esquerda. Nesse caso, a injeção de calor no vaso da direita induz o processo de separação, ou seja, a
remoção de refrigerante da solução, como mostra a Figura 1.7 (b). No vaso da esquerda o vapor refrigerante

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será condensado pela remoção de calor e o processo de absorção estará pronto para reiniciar. Nesse arranjo,
como os processos de absorção e separação do refrigerante não ocorrem simultaneamente, a refrigeração útil
disponível no vaso da esquerda é intermitente.

Figura 1.7 – (a) Processo de absorção de refrigerante pela solução diluída, (b) Processo de
separação de refrigerante da solução concentrada.

Um ciclo de refrigeração por absorção para produzir refrigeração útil continuamente pode ser obtido pela
combinação desses dois processos intermitentes, como o sistema da Figura 1.8 mostra. Os vasos da esquerda e
da direita, nos processos de separação e absorção do refrigerante, tomam nomes específicos, respectivamente:
gerador, absorvedor, condensador e evaporador. Como o processo de separação ocorre em pressão maior do
que o processo de absorção, uma bomba é usada para elevar a pressão da solução entre o absorvedor e o
gerador, e dispositivos de redução de pressão são instalados entre o gerador e o absorvedor e entre o
condensador e o evaporador.

Figura 1.8 – Sistema de refrigeração por absorção de vapor com funcionamento contínuo.

A Figura 1.9 mostra um esquema comparando o sistema de absorção ao de compressão mecânica de


vapor. Verifica-se que o condensador, o evaporador e o dispositivo de expansão existem em ambos. Entretanto,
o compressor é substituído por um conjunto de equipamentos composto de absorvedor, bomba de solução
concentrada, válvula redutora de pressão e gerador de vapor. Esse conjunto “aspira” o vapor em baixa pressão
do evaporador e o descarrega em alta pressão no condensador, tal qual faria o compressor. O absorvedor é
alimentado com a solução diluída que absorve o vapor refrigerante. O processo da absorção libera grande

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quantidade de calor; se nenhum resfriamento do absorvedor for providenciado sua temperatura aumenta e a
eficiência do processo de absorção diminui, podendo atingir condições em que cessará. Normalmente, o mesmo
fluido usado para resfriar o condensador resfria antes o absorvedor (geralmente água vinda de uma torre de
resfriamento). A solução concentrada no absorvedor tem sua pressão elevada pela bomba e é descarregada no
gerador. No gerador, a solução é aquecida e o vapor refrigerante separa-se por destilação para ser descarregado
no condensador. Para manter a diferença de pressão entre o gerador e o absorvedor instala-se uma válvula
redutora de pressão na tubulação da solução diluída, antes da sua entrada no absorvedor.

Figura 1.9 – Sistema de refrigeração por absorção de vapor × compressão de vapor.

Desempenho dos sistemas de absorção

O desempenho dos sistemas de absorção depende fortemente das propriedades químicas e


termodinâmicas dos componentes das soluções empregadas. Um requisito fundamental exige miscibilidade
completa entre os líquidos absorvente e refrigerante em todas as condições de operação encontradas no
sistema. Além disso, a mistura deve ser quimicamente estável, atóxica e não-explosiva. Adicionalmente, são
desejáveis: (a) A diferença entre as temperaturas de evaporação do refrigerante e do absorvente na mesma
pressão deve ser a maior possível, para facilitar a separação do refrigerante por destilação; (b) O refrigerante
deve apresentar entalpia de vaporização e concentração no absorvente elevadas, a fim de manter baixas vazões
de bombeamento de solução entre o gerador e o absorvedor, por unidade de capacidade de resfriamento
produzida; (c) A viscosidade, condutividade térmica e os coeficientes de transporte de calor e massa por difusão
devem ser favoráveis; e (d) Os componentes não devem ser corrosivos, ambientalmente corretos e
apresentarem baixo custo.
O coeficiente de desempenho ( =Coefficient of Performance) para um ciclo de refrigeração por
absorção de vapor é definido por (vide Figura 1.9):

Q
COPab   e (1.23)
Qg  Wb

onde: Q e = capacidade de refrigeração útil no evaporador, W; Q g = energia térmica consumida no gerador de


vapor, W; e W = potência das bombas de solução, W.
b

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A potência de bombeamento representa menos de 1% da quantidade de calor utilizada no gerador e


costuma-se desconsiderar essa quantidade em análises simplificadas do ciclo de absorção. As taxas de
refrigeração no evaporador e de calor adicionado ao gerador podem ser expressas pelas temperaturas atuantes
no sistema, admitindo que todos os processos reversíveis. Assim, a Equação (1.22) torna-se:

Q T T  T 
COPab,r   e  e g c (1.24)
Qg Tg Tc  Te 

onde: Tg = temperatura absoluta da fonte de calor no gerador, K; Tc = temperatura absoluta de condensação, K;


e Te = temperatura absoluta de evaporação, K. O subscrito indica que os processos do ciclo de absorção são
considerados reversíveis, e, portanto, o coeficiente de desempenho é máximo. O COP máximo de um ciclo de
absorção representa aproximadamente 1/3 do COP máximo de um ciclo de compressão de vapor,
considerando as mesmas condições de operação. Entretanto, deve-se levar em conta que o custo da energia
elétrica para o trabalho de compressão é bem maior do que o custo da energia térmica que aciona o gerador do
ciclo de absorção.
Os primeiros sistemas de absorção usavam carvão como combustível para aquecimento do gerador
(fonte térmica); eventualmente, o vapor proveniente de uma caldeira. Atualmente, também queimam gás natural
ou óleo combustível, e aproveitam a energia rejeitada de outros sistemas térmicos em instalações de cogeração.

1.4 Função e aplicações do ar condicionado

Os sistemas de condicionamento de ar têm como funções principais obter e manter a temperatura, a


umidade relativa, a limpeza e velocidade relativa de ar, o nível de ruído e o diferencial de pressão entre o
ambiente condicionado e sua vizinhança, em condições compatíveis com sua finalidade de uso. Para obter o
efeito desejado, equipamentos de resfriamento e/ou aquecimento de ar, umidificadores de ar, ventiladores, dutos
de ar, filtros de ar, tubulações de água, bombas e acessórios, devem ser instalados mediante um arranjo
conveniente, a fim de que o sistema de ar condicionado resultante possa: (a) Tratar o ar (aquecer e/ou resfriar,
umidificar e/ou desumidificar, filtrar/purificar o ar); (b) Distribuir, insuflar e remover o ar tratado dos ambientes
condicionados sem que esses processos provoquem ruídos que incomodem seus ocupantes; (c) Prover ar
externo suficiente para ventilação e renovação de ar em cada ambiente condicionado; e (d) Consumir um mínimo
de energia com máximo desempenho dos equipamentos.
De acordo com o uso do ambiente os sistemas de climatização são classificados em sistemas para obter
conforto ou proporcionar a realização de um processo. A Tabela 1.1 lista aplicações típicas: em conforto térmico,
o ar é tratado a fim de manter o ambiente confortável e preservar a saúde das pessoas durante suas atividades
no ambiente condicionado; em processos industriais, para manter o controle de condições ambientais adequadas
aos processos de fabricação, armazenamento de produtos ou quaisquer outros processos ligados à indústria.

Tabela 1.1 – Aplicações do ar condicionado.


EM CONFORTO TÉRMICO
Prédios de escritórios, supermercados, lojas de departamentos, shopping-centers,
Setor comercial
restaurantes, etc.
Estádios, bibliotecas, museus, cinemas, igrejas, teatros, salas de concerto, centros de
Setor de público
recreação e lazer, etc.
Setor residencial e serviços Hotéis, motéis, prédios de apartamentos, residências particulares, etc.
Setor de saúde Hospitais, centros de recuperação, centros cirúrgicos, unidades de terapia intensiva (UTI), etc.
Setor de transporte Aeronaves, automóveis, transporte público (metrô), ferroviário, etc.

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EM PROCESSOS INDUSTRIAIS
Muitas fibras naturais e/ou manufaturadas são higroscópicas (absorvem umidade). Por isso,
Indústria têxtil nos processos de fabricação a umidade relativa do ambiente deve ser rigorosamente
controlada.
Fazem uso de salas-limpas onde temperatura, umidade relativa, e granulometria das partículas
Indústria de eletroeletrônicos
em suspensão no ar são rigorosamente controladas.
A fabricação e a utilização de instrumentos de precisão, geralmente necessitam de controle
Indústria de mecânica de precisão
rigoroso da temperatura.
Geralmente os processos de fabricação necessitam de controle rigoroso de temperatura,
Indústria química e farmacêutica
umidade relativa e nível de contaminação do ar.
A indústria de alimentos perecíveis congela os alimentos para manter suas qualidades
Indústria de alimentação nutritivas. Entrepostos frigoríficos preservam essa qualidade durante o transporte até os pontos
de consumo. São controladas a temperatura e a umidade relativa.

1.5 Instalações para conforto

De modo geral, o conforto ambiental relaciona-se com quatro aspectos dos ambientes climatizados:
conforto térmico (ventilação e/ou condicionamento de ar), conforto visual (iluminação natural e/ou artificial),
conforto sonoro (nível de ruído) e conforto ergométrico (locais de ocupação e postos de trabalho). Os sistemas
de ar condicionado interferem bastante no conforto térmico e no conforto sonoro. A utilização de iluminação
natural (luz solar) ou artificial pode afetar a carga térmica do ambiente condicionado, interferindo na potência dos
equipamentos. Se a insuflação de ar resfriado no ambiente condicionado for feita de forma adequada, os postos
de trabalho pouco serão afetados; caso contrário, jatos de ar frio ou pontos de estagnação de ar podem tornar
certos locais do ambiente condicionado desconfortáveis. Entretanto, esse é um desconforto térmico e não
ergométrico. A Figura 1.10 identifica os elementos de um sistema de ar condicionado para conforto, com vazão
de insuflação de ar constante.

Figura 1.10 - Sistema básico de ar condicionado de conforto com vazão constante de ar.

Em instalações para conforto, a temperatura do ar no ambiente condicionado deve ser mantida entre
24ºC e 26ºC e sua umidade relativa entre 40% e 60%. Os ventiladores de insuflação e retorno movimentam o ar
pelos dutos do sistema. O ar deixa o ambiente condicionado pelo retorno na mesma temperatura do ar ambiente;
entretanto, a temperatura de insuflação do ar deve ser inferior à temperatura do ambiente condicionado, de modo
que, ao passar pelo ambiente, a variação na sua temperatura seja compatível com a energia térmica adicionada
na corrente de ar entre a insuflação e o retorno. Para reduzir o consumo de energia, a maior parte do ar de
retorno segue para recirculação e mistura-se ao ar externo que repõe as perdas de ar pela exaustão e serve
para ventilar os ambientes, já que os ocupantes consomem o oxigênio do ar durante a respiração. Três registros

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de controle de vazão de ar estabelecem as quantidades de ar de exaustão, recirculação e ventilação (ar


externo). Os registros de exaustão e ventilação abrem ao mesmo tempo em que o de recirculação fecha; e vice-
versa. O ar de recirculação mistura-se ao ar externo de ventilação, passa pelo filtro de ar, e aspirado pelo
ventilador de insuflação segue em direção à serpentina de resfriamento e desumidificação, que pode ser de
expansão direta ou de água gelada. O ventilador aspira o ar tratado e o insufla no ambiente condicionado. A
capacidade de resfriamento do condicionador depende das cargas térmicas decorrentes das trocas de calor que
ocorrem no ambiente condicionado e em outros pontos do sistema devido à sua operação.

1.6 Diretrizes em projetos de instalações ar condicionado

O projeto do sistema de ar condicionado determina suas características básicas. Depois que a instalação
foi construída de acordo com o projeto é muito difícil e bastante dispendioso fazer qualquer modificação. O
engenheiro-projetista tem grande responsabilidade na seleção adequada do tipo sistema de climatização a ser
usado para uma dada aplicação.
Normalmente, os procedimentos e exigências de projeto incluem: (a) Início do projeto (proprietário ou
incorporador); (b) Escolha da equipe de projetistas (arquiteto e engenheiros: estrutura, civil, mecânico, elétrico);
(c) Definição dos parâmetros ambientais e características básicas de projeto do sistema de climatização; (d)
Seleção de alternativas com as mesmas características básicas, identificação das interfaces com outros
subsistemas, e preparação dos esboços; (e) Preparação de prévias de contratos, plantas, especificação de
materiais, métodos construtivos e caderno de encargos; (f) Seleção dos empreiteiros para participar da licitação;
(g) Avaliação das propostas e negociações para modificações de contratos; (h) Definição do vencedor de
licitação; (i) Revisão das plantas, cadernos de encargos, e manuais de operação e manutenção; (j) Monitoração,
supervisão e inspeção da construção; (k) Testes de balanceamento e verificação de desempenho; (l)
Modificações das plantas para incluir as condições “as-built” (como construído/finalizado); (m) Finalização dos
manuais de operação e manutenção; e (n) Aceitação.
O trabalho inicia-se com a definição do vencedor da licitação, seguindo-se a empreitada e as
negociações, finalizando com a aceitação da obra. O engenheiro-projetista de ar condicionado deve selecionar
alternativas para tratar do conforto térmico, da qualidade do ar interno, da conservação de energia, dos níveis de
ruído, da segurança, da flexibilidade, da confiabilidade, das conveniências e custos operacionais, e da
disponibilidade de manutenção. Assim, a experiência, a formação técnica e a capacidade de julgamento do
engenheiro-projetista são fundamentais nesse processo de seleção. Se duas alternativas de projeto, uma
simples e uma complicada, oferecem o mesmo desempenho, o sistema de climatização mais simples deve ser o
escolhido por sua confiabilidade, conveniência de operação e custos menores.
Os sistemas de ar condicionado, o hidráulico e o de proteção contra incêndio são sistemas mecânicos da
edificação, que juntamente com o elétrico atendem seus ocupantes. Assim, o engenheiro-projetista de ar
condicionado deve trabalhar de modo integrado com o arquiteto, o engenheiro estrutural e o eletricista. Com o
arquiteto e o engenheiro estrutural deve trocar informações sobre: forma e orientação da edificação; tamanhos
de janelas, paredes externas e coberturas, especialmente das características térmicas dos materiais
construtivos; localização de dutos de ar, tubulações e poços de serviço (elevadores) para evitar interferências
com os de climatização; localização de difusores e grelhas de retorno de ar; espaço livre disponível entre lajes e
forros suspensos para instalação de dutos insuflação e retorno de ar e tubulações; e localização e dimensões de
salas para os equipamentos de climatização e seus acessórios e sistemas auxiliares. Com o engenheiro
eletricista sobre: potência elétrica e tipos de luminárias usadas; combinação entre arranjos de luminárias e
difusores e grelhas de retorno de ar usadas; disponibilidade de potência elétrica e iluminação nas salas em que

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estarão os equipamentos do sistema de climatização; e coordenação entre os arranjos de dutos de ar,


tubulações, eletrodutos, cabos elétricos, etc.
Manter as condições do ambiente condicionado dentro de limites pré-determinados, depende
principalmente da seleção adequada da capacidade de resfriamento do equipamento de climatização, e da
qualidade do sistema de controles. Uma economia de energia significativa pode ser obtida se a capacidade do
sistema, em carga parcial, acompanhar adequadamente as variações de carga térmica na edificação, em razão
de um sistema de controles eficiente. Assim, esse sistema é fator decisivo no desempenho do sistema de ar
condicionado. Muitos problemas encontrados em instalações de ar condicionado são decorrentes de controles
inadequados e/ou seu uso impróprio. Por isso, o engenheiro-projetista deve manter informações atualizadas em
relação às novas tecnologias de controle disponíveis no mercado e que são adotadas pelos fabricantes de
equipamentos de ar condicionado. Não é necessário ser um especialista em controles; entretanto, a sequência
de operações no sistema deve ser bastante clara, bem como os critérios desejados para os sensores, os
controladores e atuadores.
Pode ser bastante útil ao engenheiro-projetista visitar projetos similares, que estejam em operação há
mais de dois anos, e conversar com o operador antes de iniciar seu próprio projeto. Tal prática, pode trazer
informações vantajosas: sobre o desempenho real do sistema de climatização e de controle que pretende utilizar;
de acordo com os relatórios de operação pode verificar se o sistema foi sobre ou subdimensionado, ou se sua
escolha foi acertada; identificar possíveis causas de problemas futuros; e acumular experiência prática valiosa
para complementar seus conhecimentos e superar suas deficiências.

1.7 Relação entre ar condicionado e refrigeração

As áreas de ar condicionado e refrigeração são correlatas, embora cada uma tenha seu campo de
atuação específico, como mostra a Figura 1.11. Uma aplicação típica da refrigeração envolve resfriamento e
desumidificação do ar, em sistemas de ar condicionado para conforto em climas quentes e úmidos. Os
engenheiros mecânicos, especialistas em sistemas térmicos, podem atuar em áreas de pesquisa,
desenvolvimento de produtos e equipamentos ou ainda em projetos de sistemas de refrigeração e ar
condicionado. Embora o engenheiro de ar condicionado possa transitar livremente nas três áreas distintas, a
atuação de firmas comerciais tende a se agrupar quer na área de ar condicionado (conforto) quer na de
refrigeração industrial (processo). Nesta última, as temperaturas de trabalho podem chegar a 60°C negativos
(abaixo de zero). Processos que exigem temperaturas ainda menores, como instalações de separação de
oxigênio e hidrogênio do ar, são objetos de estudo de uma área específica de refrigeração denominada
criogenia.

Figura 1.11 – Relação entre as áreas de refrigeração e ar condicionado.

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Apêndice 1-A: Numeração de refrigerantes (ASHRAE Fundamentals 2005)

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