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Digitalizado com CamScanner Titulo original: ‘Michel Foucault t ses contemporains ‘Tradugio autorizada da primeira ediglo francesa publicada em 1994 por Librairie Artéme Fayard, de Paris, Franga Copyright © 1994, Librairie Arthéme Fayard. Copyright © 1996 da edicao em lingua portuguesa: Jorge Zahar Editor Ltda. ua México 31 sobreloja 20081-144 Rio de Janeiro, RJ tel: (O21) 240-0226 / fax: (021) 2625123 Todos os direitos reservados. CIP-Brasil. Catalogacio-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Eribon, Didier 61m Michel Foucault ¢ seus contemporineos / Didier Eribon; tradugio, Lucy Magalhaes. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar 1996 Tradugao de: Michel Foucault et ses contemporains Inclui bibliografia ISBN 85-71103488 1. Foucault, Michel, 1926-1984. I. Titulo. 96-0208 DD 194 ‘DU 1 (44) Digitalizado com CamScanner CAPITULO 2 A Critica e seus Monstros Como vimos, o livro de James Miller é um romance, uma ficcdo desenfreada, uma mitologia do heréi negativo, correspondendo espontaneamente ao gosto america- no pelos grandes painéis biograficos baseados na psicologia, no patético, no drama, no sexo, no rumor € na fiiria. Seu ponto de partida nao é outro senao 0 boato que lhe contaram, segundo o q fichel Foucault teria transmitido deliberadamente virus da AIDS aos seus parceiros quando de suas ultimas permanéncias na que hoje considera ‘esse boato “essencialmente falso”.! Os leitores de Larchéologie du savoir podem fica Wanquilos. Pos Miller, por um momento, nos inquictara: “E se esse boato fosse verdadeiro?”, pergunta ele, sem nunca responder a essa questo, cuja tinica funcdo, como tantas outras nesse livro, é dar intensidade dramatica ao seu relato € conferirlhe o famoso “talento narrativo” que parece deleitar uma certa critica americana. Mas jé que ele escolhe a vida, ¢ principalmente a vida sexual, como coracao da obra, é muito provavel que, no caso em que lhe teria sido impossivel desmentir 0 boato (mas ele o desmente, verdadeiramente?), ficariamos confrontados com uma apaixonante releitura de Les mots et les choses e das paginas finais sobre a “morte do homem”. Isso teria concordado com a légica de sua demonstracio, j4 que, quando Foucault fala do “sacrificio do autor” na literatura contemporanea, Miller decifra nessas palavras um fascinio pelo “martirio” ¢ pe- lo “auto-sacrificio”.2 A reflexao sobre o tema do “desaparecimento do autor” é assimilada a vontade de aniquilar-se a si mesmo, assim como o tema da “morte do homem” deve resultar na “apoteose deliberadamente escolhida” da AIps volun- tariamente contraida ¢ talvez até voluntariamente transmitida.? Se esse livro foi levado a sério, se teve repercussio bastante importante, a ponto de suscitar debates em revistas, em universidades, por mais incrivel que isso possa parecer, foi porque ele chegou na hora exata para dar armas a todos aqueles que tentam lutar contra a influencia de Foucault, ¢ mais geralmente contra a influéncia francesa nos Estados Unidos. Imaginase facilmente que a aceitacio consideravel conquistada por Foucault, Derrida ¢ alguns outros nao pode deixar de provocar muitas reagdes, que nem sempre se devem ao processo normal da discussio intelectual. Poderiamos publicar um divertido florilégio do que se escre- eu em revistas de aparéncia muito séria, a comecar pela New York Review of Books, 45 Digitalizado com CamScanner 46 FOUCAULT HOE «em eujas colunas todo ivr que ataca os intelectunsfranceses €altamente celebra- 4do.4 Defende-se uma volta is fonts, s rafes da cultura americana, através de uma, ruptura com os autores estrangciros, Ese nacionalismo ¢ esse protecionismo teé- ros se dectinam em miiipas ersbes,e seria tedioso cits todas. Outros fendmenos comprovam a profundidade desse movimento de reagio tances. Nas lira, alguns ano ate, podiamse ver pilhas do liwo de TF Idahrfninerupa de scuscies, cada uma mais extvagante do que a ture Ela ecreve, pr exemplo, que ese ebricorsfo“assainor do amor” e que “Oerotmoineandecente que Jeanne Moreau encamava et totalmenteausente do mundo toate emisgine de Michel Foueult™. Acrecenta que prefere tezes Catherine Dencuea Jacques Derida® Ninguém quer contesar se drcto 2, masnose be porque cua profusi dé mereceria ser publicada. Asses pentadoresfrancese don ‘nnot 70° (aia), ela opSe oF "anos 6 pricodlicos™ (pce se?) Nao Unhamosnecenidade de Derrida, czcl, pot} inhamos Jini HendrixE portal Nem sempre é do cbmio: ela tambon fa indignada om fat de ques unveridade americans sjoclne hoje para“beljar os tasers fanowser’ ao paso qu fo precio quea Amst fe svar aFranga do nazismo ete, ete. Todo io €ridioo e nem mereera noma atengao, se 0 New York Times no tvese se ackado na obrigaio de publiar rechos do lio, sob o titulo: “Palermas,pedanes, anos e outros membros da niveridade”* Evidentemente, mesmo entre os profesoresuniversitrios americanos mais hosts 2 pensamento francés seria desonrovo ser asimilad as elucubragées da Se. Pala Masalgunsdeseuscsctoose pram dedesenvolveremasandlogos. No presente tabalho, no poso fazer a anise da receptdade do pensamento francts nos Eades Unidos Mas iso seria palonante Tratage verdadciramente dlouma la ferenka pela heyemonia, que no daa de ontem, Avolenta pole cqee ops John Seal, ofsofadalinguagem, profesor em Berkeley, a Jacques Derrida foi um dos tempos fortes dessa luta.” Ela esté Jonge de acabat a= fur, ‘TEimo sempre acontece nos Estados Unidos, inimeras publicacdes em uma multi- dio de revisas, coloquos, debates etc. Como a de Derrida, a obra de Foucault, tomandose uma referenda maior na culturaamerians, flo avo privlegiado dos ataques ao memo tempo dosneaconserradoere da dita eaguniana,e também a coquerda tradicional Naspolemicas, misturamae muitasvezesa reel tedrca profunds c uma especie de hosldadepescal conta mancirs de ser subversiat Ercmais que parecem choc o purianio acalémic, Embora nem sempre ia fomulada em tenmos io extremists quanto os de Camille Pati ou de james Miller, encontras freqoentemente aidéa de que no fundo os franceses io uma gente 'um tanto equi, Natralmente, »penonaliade de Foucault devera desconcerttos Desde alguns anos, ov aaques pestaisconracleaumentaran,¢ cada ver mas ouramse argumentos que eram mais denincias do que dilogos Floxéicen,econssam em reduiraobra de Foucal sua hormoseruaidade © Prindpatacms ac que se dia de saa prises seria Nio se excrovam ext eumgbes,eidentemente, ma elas eran migerias, o que valia por uma con denagio aos clos dos apéntcloe ds moral que ve entegnam a esas brineadelns ACRITICA Estus MONSTROS ” deletérias. Quando se soube que Foucault morrera de AIDS, esa violéncia terpretaiva em estado bruto redobrou. Deve ter presente esse contexto, para compreender por que o livro de Miller apareceu como uma bingo em certos meio. A Naw York Review of Boks, € claro, concedeuihe todasas honra,!*come fizeram muitas revsas.Atése afirmou aque as revelagSes de Miller sobre Foucault reduziriam o caso Paul de Man a um “simples piquenique’." Precisemos que Paul de Man foi um tedrico da literatura, professor em Yale, que, como se ficou sabendo recentemente, colaborou durante sua juventude na Belgica, entio sob ocupagio alem, para urn jornal pré-nazsta ‘Asimples posibilidade dessa oomparagio €escandalosa. Enecessiriauuma boadose de estupidez ¢ de irresponsbilidade para afirmar que a freqdéncia 20s bares sadomasoquistas de Sio Francisco € mais grave do que o apoio 20 regime nazista. Tanto quanto se sabe, ali ninguém ¢ obrigado a ire ali nio se comete nenhum ‘A Inglaterra nio ficou para tris, ¢ um certo Mark Lilla cantou os ouvores de Miler no Tier Liteory Suppienent. Esse mesmo Lilla, que, se Ihe fala seriedade, nem por so é menos constant, étinha dedicado um artigo detestivel&autobio- fgalia de Althuwer. Um drama humano como o de Althuser matando a esposa, sua internacio psiqudtrica, toda essa horrveltragédiainspiou a esse membro da ‘universidade apenasa consatagio de que poderia sever nela “um outro desenlace Imérbido do penammto 68" acrescentndose i morte de Foucault arasdo pela ps? A prosa antintelecwual desses comentaristas nfo deica de serinquietante, 4 referencia 20 “pensamento 65° esti ali para nos lembrar que, inflizmente, a Franca nfo fot poupada por esse desvio da erica Eimpressionante constr até ‘que ponto os procesos de James Miler siopréximos dos ulzados por Lue Ferry G Alan Renaul, em seu pequeno pane intitulado La Powée 68 Coma excegio = muito importante, ¢ verdade — do recurso As acusagGesfundadas sobre a vida pettoa, ques tigi polémica francesa nio autorza. Mas, 20 querer a qualquer reco ver em Les mote ls chos a prefiguracio do engaiamento esquerdista de Foucault, Fen e Renautnio esti Longe ce James Mile. A leturapolitzada da ‘obra converge com a leitura psicologizante Enquanto um quer inserever nela © sadomasoquismo ea experiénciimite, os outros querem lea recusa da democrs- cae dos liteitos humanos. Emambososcaos,aclaboraio tedria € brutalmente remetida para outta cois, que nio ela propria, e recebe a imposicfo de um contesido de um significado extrailoseicos. Em ambos os casos, a obra de Foucault ¢ acusada de levar a0 nazismo: aberaente por James Miler, de modo rai sutl por Fry e Renaut Em anigo dedicado &s “monstrusidades da erica’, em que responde a objecdesaberrantesque oensista George Steiner he opusers, Foucault interroge ‘oque se deve fazer quando se €controntado com crticasquedesnaturam ttalmen- te 0 contetdo de um lo eas penpectivas do seu autor? Devese asta com desprezo, para concentra atengio apenas mas eens dignas deste nome, que ofetecem matéria para resposta, para intercimbio, para diseussio2" Na verdad, escreve Foucault, talver sea errado menosprezar ess formas absurd de rica, Digitalizado com CamScanner POUCAULT HOE {eitas “de incompreensio, de uivialidade, de mé fe", Do mesmo modo que existe, ‘no mundo vivo, onormal eo patol6gico, devese considerar que existem,nomundo, dacritica, formas sériaseformas monstruosas Ambas exigem quese presteatengio nnelas. Mas nio da mesma maneira: quando se trata das formas monstruosas, no hd motivo para resposta, dliscussio, argumentagio. Deve-se evidenciar os proces- 40s polémicos, desmontar o jogo das manipulagdes, restabelecer a realidade dos textos desnaturados. Podesse muito facilmente fazer esse trabalho com o livro, de James Miller, O livro de FernsRenaut deve ser passado pelo mesmo crivo, poissua obra é um modo: Salo Tite certs desis da vida intelectal, cla pode valer como excelente exemplo para um estudo clinico das formas “monstruosas" da erica. ‘Quando se Ié atentamente esse livro, notase imediatamente que os autores cstio mergulhados em uma indeterminagio semimtica permanente, que torna tas cujgenos impose dar sentido ao que ecrevem. rimcio, deveaeexaminar ° ho a uaF (@Tenamens Gee danni que aie a telagio Ea a obo coment ROD Foucault, lac, Derida-e Tenbmenos soeaG. ollie ¢ ultras que afcaram a Franga nagule an FRBCREE SERENE quad les pereentos no HNAT Gee coToT ewe ‘Densament’, angular equal €4 natures daligagto qu cles tem eom aquilo ce sbjar ua porta unkade, ito € malo de 8? Ferny e Renaut dio apenas denies muito vagas. Por exemplo: “Por ‘pensamento 68 ot, se nos permitem 2 expreado, por ‘lwo frances dos anos 68, vamos uma constlagio de obras Cronologicamente préximas de malo, e prindpalmente aquelas cujos autores reconheceram, na malora das veasexpictamente, um parcntcsco de inspiracio com o movimento." Em seguida, dio uma lista de autores e livros, apresentaclos como “quase contemporineos da cise de malo (admirese 0 “quase", que nio (quer dizer grande cosa). Comegam com Foucault, “cuja Histoire dela fle data de 1961" eque “publica Ls mots et les chsesem 1966, Larchdologiedu savoir, em 1969°.!” Pouco depois péscocar Denia Althusser flam de Latan, que publica os Bats «em 1966. evidente que ease recorte é muito problemstico um firo publica cm 196, comoa Hite dla oe redigido entre 1956. 1960) difclmente poser deste como “quate contemporineo" de malo de 68, Aba acontece¢ meimo com Las mets Us cho etn necro definir a nate dessa qe comer. Poraneidade” de uma obra de hnéria das citnc, pula em 1905 excria Entre 1962 € 1965, com um movimento socal poco que ocorre alguns anos epi Erle rool? Plt Inlecnal any aos ade Lacan, publicados também em 1966, reinem textos dos quaisalgunssiaablenian {eae gum Tnicanoe REET ee Sa aS “Também € preciso questionara escolha dos autores assim reunidos, Por que «ses? E por que apenas esses? Se acitarmos os dois citrios definidos por Ferry € Renaut, devemos excluir Lacan, que nunca “reconheceu” o menor “parentesco” ‘entre sta “inspiragio” © maio de 68. E devemos acrescentar Sartre, cuja Critique de o AGRITICA EELS MONSTROS ” {a raison diaetique (Critica da razio dalética),publicada em 1960, é io "contem- porinea" de 68 quanto a Histoire dela ole, do qual o minimo que se pode dizer € que ele reconheceu um parentesco com 0 movimento de maio, Logo nas primeiras paginas dolivo, somos mergulhados em plena confusio, Arazio emuito simples Ferry ¢ Renaut querem mostrar que maio de 68 est estreitamente ligado a0 pensamentos que questionaram o humanism" eo primado da subjetividad ‘Onome de Sartre é evidentemente, um doloroso obsticulo para eles. Assim, seri pura simplesment ignorado. Como Ferry e Renaut poderiam resaltar como um dos traos caratersticos do “pensamento 68" "a ertea radical da subjetividade” © “oamincio damortedo homem comosujeito"!"s ivessem que fazer Sartre entrar no seu esquema arquitetado para as necesidades da causa? O problema é que nto s¢-vé muito bem como thes € possvelagir de outra forma, nem — jf que, apesar ‘dewdo,decidiram agir de outra forma —comothesé possfel nso se explicarem.”” ‘Vamos prosseguir nosa letur: de que ordem €a ligagio entre o“pensamen- {0 68", constituide por esses poucos lirospublicados anerde 1968 (ou, tratando-se de Llarchiloie du sor, pubicado depois, mas esrto antes) ¢ 0 movimento de aio? Biso que dizem Ferry Renaut: “Essa concentragio cronolégiea éertamente impressionante." (Ceramente.sobretudo se se esquece todos os outros ivros que foram publicados nesses anos e que viriam contradizer 0 que eles explicam. Mas ‘nfo vamos insti) “Apreientamse pensamentos sobre Os quais setia abrurdo afirmar que exerceram uma influéncia sobre o curso dos acontecimentos, mas que podem ter mantido com o movimento de 1968 uma rdagdo menos mediate mas no 1menasrevdadora: esas publicagdes ea revolt de maio podria, de fato, ter perten= ido a um mimo fondmeno cultural tee consttuido, cm modo divers, como que seus sintomas.® Estranha, esa ea de “simtoma, j que ese é um dos tagos que cles vio denuinciar depois no “pensamento 68", isto €, que ele seria, segundo’ expressio qucutam, equ fornece um magoilico exemple da retérica de deme’ que impregna todo o livro, uma “filesia ca suspeita” que #6 quer ver na realidad ‘Aaparéneia de algo que estaiaescondidlo eque seria necessiio deséelar®* Volicmos.definigio de Fen e Renaut: esse conjunto de lvros"euja concedf, tragio cronoligica & ceramente impressionante™, ¢ 0 “movimento de maio 1968" seriam pois “como que sintomas" ce un mestno “fendmeno cultural". Oque entese eer por it non"? Cont exe term eles enasiam wn po de casalidade: ni € wna determinagio casa, no: * da pelas obras flosfias sobre © movimento pol menos “revel”, Intrduzem pois uma deterninagio que far clona no outro sentido, isto , do movintento po io 3s obras flos6f- as, Ou mas exatament,determinacio por um fendmevo cultural” mais prof do, ite prods snualaneamente of PEMSAMEATON TOTES TETAS TAT Todo sujelto © o movimento de mao, Digitalizado com CamScanner FOUCAULTHOE Nem ae cana = eS Sa a Ree ce ce ae ees eRe CoE ee a Pe agin Pe eee ey ener reer panera sala Seer acne anicnaemamecman Sie eas esas coer code) eve aren miseries ysnrne oo persue) Wom do acasmerea tices eigen no pena BF ee Sr ae te Taste Ie Con Seon ene ceasaaw ane eee oer SSBEEE Ease be pager oon ch la ete ep pork ee ee eros Fon dono sums iotacs eabte ps eone faslearens een ae pe eae ae ante aes oe aan caption nica oma ego hnertanten oixedmersdens rena, tae ee eer ecg ts ae na ‘erlang nme gra Sate Fuca TLogo que se fazem esas perguntas, desenha-se uma configuragio intelectual complexa nos anos que precederam 1968: Canguilhem e Sartre desempenham wm. papel essencial, € ndo se pode recortéta em pedacos para deixar subsistir apenas as obras de Foucault, Derrida, Althusser, Deleuze ¢ Bourdieu. A propésito de Sartre, observemos que existem astiias na histéria que os censaltas mais experientes no exercido da manipulagio dos textos nem sempre ‘conseguem desvendar. O que eles haviam jogado fora pela porta do texto volta subrepticiamente pela janela da nota. A frase, mencionada acima, pela qual cles ‘excluem aidéia de que as ilosofias reunidas sob o r6tulo “pensamento 68" tenham ddesempenhado um papel determinante no curso dos acontecimentos, ¢interrory- pida por uma chamada de nota.O texto dessa nota nio deixa de ser surpreendente- farses objet ery Rena cam un vechodo lio ESRB das eines progonin omovney a endo que MATE Cz TONS QUT UE AcRITICA EsEUS MONS! fenhum autor como inspirador do movimento.” Ferry ¢ Renaut tiram dessa dtaqao Toque conclino: or sores de mais de 68 emprerecuaram dia de aque indvenisintlecuais be teviam exereid sobre seu movimento, Sem dda Mas podose rar outa cio dese uecho qu cles treram a imprudéncia de car Cohtrendite Dueilmenconam apenas dos autores seleconades na ita de Ferny Renaut tase evidentemente,daquele que sara em conerioimediata com a politica, Louis Althusser. Quanto aos demas, eles nio evocam nem Foucault ‘gem Lacan, mas Henri Lefebvre ¢ Jean Tam com wm, ‘SGnhecido vigor, nos anos que precederam imediatamente 1968, em textos “quase ntemporineor” de malo de G8, todos aqueles que Ferry e Renaut swam no F Saree Lefsbe, que Yoram dos sates lis poraintas Go ‘rovimento de maio, denuncavam, um ou doisanosantesde 1968,os pensamentos {qu recustam o prima dasubjetrdade, Seusataqueseram muito pollicos lam Lasts cs hows como um rode dicta, que negara polia, recusavao curso THE pretiso lembrar que fol a propesito dma obra que Sate, em 1965, femuma frase que nfo contribu para asia gira, ou pelo menos ndo et a altura do seu génio,designou Foucault como “a tlima barragem que 3 burguesia sind pode enguer contr Mare’ Por conseuint, poderseia amar que © “pen: Samento 65° € mais Sartre ue Foucault Lacan. Ali, foro ponto se viser qe TMUItOs stores do Movimento: malo de OS teria sidoa reva ITGTaTGTeY do MOWTATENTO® Talo de OS teriasidoa revanche de Sartre 1oje esquccido, mas quc teve um papel importante na vida, ‘ator veemente como poucos dle maio de 68 e adversério, feroz, também ele, do estruturalismo, expressaria cruamente essa maneira de ver, por ocasiio de um debate bastante acirrado ue o oporia em 1969 a Michel Foucault, depois da conferéncia deste para a Sociedade francesa de filosofia, inttulada “O que é um autor? Insurgindose contra exposicio de Foucault, ele inyocou com certaexaltagio todas os otens de urna filosofia que agradaria a Ferry f¢ Renaut: © homem, o sujeto, a conscigncia etc. Mas ele os defendeu com a seguranga de quem € levado pelo movimento da historia, ou ao menos pelo le 68, ‘edeclarou a Foucault que todos os temas da morte de homem ¢ doautor acabaram de ser varridos pelo que acontecera em maio. E concluiu sua diatribe, assumindo a frase escrita por um estudante num quadeo da Sorbonne: “As estruturas no vio para a mua." Foi nessa ocasiio que Foucault the dew a respésta, tada no capitulo” Drecolente tobiea moe ta homen-¢ do autor, dndodhe que “nine fente, sobre a morte do homem e do autor, dizendothe que “ninguém Drecisva chorat”. Everdadei -e Renaut, que seapreser™ {am como os “historiadores dos sia’, no mencionem nenhum esses text05, dntsori Tey etejam dispontiels em todas as Bibliotecas™ > To os Tevaa indagar a razio da ausEncia, no iro, de um outro pensador, dos mais importantes: Claude Lévi-Strauss, que publicou, nos anos 60, obras que & dificil esquecer: La penséesawvagee os és primeiros volumes das suas Mychologigues: Leena elle cuit, Du mie aux cendre, Lerigine des manitres de table Ora, houve entre Sartre e LéviStrauss um debate muito vivo, e “quase contemporineo” de mai de Digitalizado com CamScanner ” FOUCAULT HOVE 68, jé que ocorren entre 1962 ¢ 1968. LéviStraussconsagrao capitulo final de La pevai sowvagea um questionamento radical da Cita da raxio dialétca. Sarre The responder, por duas vezes 20 menos, na entrevista no Lre, em 1966, onde também ataca Foucaul, e,no mesmo ano, em entrevista 20s Cahiers de philesophic®™ © motivo explicto © permanente dessa controvérsia que opde 0 fil6sof0 © 0 eindlogo gira em tomo do primado da consciéncia ¢ da subjetividade fundadora, E intl precisar os papeis: todos sabem que Sartre esti do lado da consciéncia, contra LéviStrauss, que esté do lado das “regras”edas“estruturas” Ora, ea relacio eles com maio de 68? E uma pergunta que pode estragar um pouco mais a demonstracio de Fery e Renaut, pois a realidide histrica €, aqui, de umg simplicidade desarmante: Sartre se empenhou sem reservas no movimento de, ‘malo, enquanto LéviSurauss sent o que seria avez exagerado chamar de repulsay mas de qualquer forma uma grande distancia” © que seria o caso também dg alguns outros grandes pesquisadorescujas obra foram etapascruciais no processo de “dissolugio do sujeto" no pensamento contemporinco: Dumézil e Braudel, por cexemplo. Suponho que Ferry ¢ Renaut responderioa esa objecio enfatizando que [LéviStrause, Dumézil e Braudel nio pertencem & “geragiofloséfica dos anos 60°, mas A geragio precedente. Porém gostarfamos de saber como se define uma “geracdo floséfica"e segundo que critérios nea se integra ou dela se exclui um. autor, e também observariamos que Lacan, a quem Fery ¢ Renaut dio um lugar importante no “pensamento 68°, sti mais préximo de LéviStrauss do que de Foucault, pela data de nascimento (nasceu antes de LéxiStraus: 1901 1908) 04 plas datas de publicacio (seus primeirs artigos remontam aos meados dos anos 20, € sua tese A prices paranica em sus rags com a rsonalidade data de 1982, {quando os primciros artigos centiicos de LéviStraus so de 1985-1936 e sua tee de 1948). Meditemos nestas datas: 1982 éverdadciramente-quaze contemporineo” de..maio de 68? EGO prosseguir ese trabalho fastidioso? Estamos apenas na terceira pégina do livro e Ferry ¢ Renaut jé estio atolados em contradigdes que fazem ‘explodir sua tese, antes mesmo do fim da introducio, Depois, os autores :¢ ‘empenham em dificeis contorgées para segurar todos os elementos dispersos, incompatives ¢ incoerentes do seu raciocinio. Eles nos gratiicam com um longo capitulo no qual perguntam se 0 movimento de maio de 68 foi individualista, ou coletvsta, ou humanist. Ferry e Renaut, que, apesar de suas pretensSes ilos6ficas, sempre traem, por sua referencias, o nivel em que se situa 0 espaco de discussio no qual evolyem —0.do ensasyno joralistco—, encontraram a chave explicativa nosensziosdl autor de Le duvide (A era dovazio) e de L’empi otrzubrs or Sia am mo do-penaent oA ue es Tac como pensamentorque disolvem sujet podem Sta ligadosa mao de 68, que exaltou, pelo contritio, a revolta individual, ees podem agora respon- AGRITICA ESEUS MONSTROS a der: era um mau individualism, niochumanista, mas narcisico, que recusava a intersubjetividade, a presenga do outro, Eraa defesa do individualismo ¢ no uma ddefesa da consciéncia dirigida para valores universis nos quais todo ser humano podesereconhecer.Bisoque oi maio de 68. Ferry ¢ Renaut retocam: eles sio pelo “pluralismo interpretativo*, e essa é apenas uma das maneiras possveis de ver as coisa, mas é esta que eles excolheram. Nao pretendo entrar neste tipo de debate para saber se maio de 68 fol indvidualista ow no. Mas existe, na propria lgica do que cles escrevem, uma enorme difculdade: se se trata apenas de uma interpreta Go possivel entre outras, se maio de 68 tambim pode ter sido ao mesmo tempo otra coisa, como podem eles estabelecer uma ligagio de necessidade, uma relacio de enol alii de mado da Fubjetividade? Poisasoutrasinterpretagdes que eles evocam, eque eles admiteat Seem iguaimente accitiveis, excluem esse tipo de ligacio, ou entio o er tabelecem com pensamentos que sio 0s mais opostos aqueles professados por Ferry ¢ Renaut. Eles devem terse dado conta da dificuldade, pois, em um pequeno livro que publicaram um ano depois, exquecem o “pluralismo in- {erpretativo” ese rjubilam por ter mostrado que maio de 68 se relacionava com 0 “individualismo narcisico". ‘Vimos como procedem Ferry e Renaut para defini o “pensamento 68". Uma vez estabelecida a definigio, que nao define nada, pensam que produziram uma demonstracio, que agora podem fazer funcionar 3 sua vontade. Assim, podemos Jer, no capitulo consagrado a Foucault no meio do live, paginas diante das quals ficamos perplexos. Depois de comentar (0 letor imagina em que termos!) Les mots 1 ls choses € evocar as iltimas obras de Foucault, eles escrevem: “Até em seus “lkimos trabalhos, ele op6sa subjetividade, como consciénciade principio fazendo figura de universal e de pélo de intersubjetividade, a nocio sexsenteoitista da individualidade"® Aqui, eles nio se preocupam mais com precaucées oratérias Certamente levados pela vertigem da polémica, nossos dois ensaisus parecem ter perdido 0 controle do teclado do computador. E Les mats tls choses, que era "quase Contemporanco" de maio de 68, “sintoma” de um fenémeno cultural mais geral, ‘a0 qual pertencia 0 movimento de maio, mouse simplesmente um lvro “sessen- teoitista", Sem diivida publicado em 1966, mas “sessenteoitisa", rancamente...O “pluralismo interpretavo" teve vida cura. E é talvez com um trago de humor {nvoluntério que cles concluem o seu capitulo sobre Foucault acusando- de nio accitar a idéia, desenvolvda por Habermas, de uma *comunicagio ideal” e de “formas universais” da dseussio.® Respondendo, um ano depois, a objecBes que thes tinham sido fit sobre a interpretagio de maio de 68, queinsisiam na impossbilidade deestabelecer uma ligagio entreas obrasde Foucault ou Lacan ¢ omovimentode maio, Frye Renaut precisaram, se € que podemos dizer assim, 0 seu ponto de vista Falando do que chamam de “Glosofias da diferenca” (2), no caso Foucault e Lacan, escrevem:“O sucesso que Tas TETARTIOTATOT7UWETia totalmente incompreensivel, eno fosse relacionado com os acontecimentos de maio."® Correndo o rsco de repetirme, ‘observo que se poderia dizer a mesma coisa do verdadero revalda obra de Sartre nessa época. Mas existe outra dificuldade: Lacan ¢ Foucault também tiveram Digitalizado com CamScanner Ey FOUCAULT HOE sucesso nosanos 60, antes dosacontecimentos de maio. Anotoriedade de Foucault data de 1966 ¢ da publicacio de Les mots at es chose, cujo sucesso junto a um tio ‘grande piblico € um dos misérios da via cultural daquela época. Ferry e Renaut afirmam que esse sucesso de antes de 1968 “seria incompreensvel” se nao fosse relacionado com maio de 68? Na sua légica, nio pode ser de outra forma, jé que, como acabamos de ver, €exatamente oque eles dizem no comeco de La Pensée 68. E preciso embrara expressio que escreviam logo no inicio do livro, eque pediam ‘permissio para usar: “o pensamento dosanos63", Namedidaem que, tanto quanto se saa, 1968 representa apenas um ano, se eles usam o plural (os anos 1968"), isso quer dizer que englobam o que aconteceu antes ou 0 que aconteceu depois esse ano. Mas como mencionavam explictamente Les mas ele chase, podese condluir que a expressio “os anos 68° designa tanto o que aconteceu antes (0 que €, no minimo, estranho), quanto © que aconteceu depois (0 que jé da para centender) . Ora—evoquei esse fato por vias vezes —, quando escrevia Les mots lschass| {da Educagao do gencral de Gaulle, Sese quera qualquer prevoTelacionar ess livro| tomas a com as prticas para poliicas de Foucault nessa €poca, preciso atentar para ese fto, incontomével, e que é rigorosamente contem- porineo de seule eno apenas "que contenprineo, Deerada conc Ls mat ls sso “anipentamento 63" que a reforma Fouche: enue vigor en TT e que cr movmentos de c Spee curs viplcarao ean aes vee apres Canoe ‘WoraTera Ese ponid Ho aM tobre as relacées entre Sartre e Foucault, foi um tirotcio cerrado, injGriasvindo da exquerda pertonalista (jl), dos comunistas, dos saruianos, dos marcusianos. podese dizer que o livre fe Foucaultliga-ea um pensamento “ant-68",maisdo queaum “pensamento 68°? Para isso, seria necessiio acitar o postulado de partida de Ferry e Renaut, isto é, {que todo lio defilosofa, nem que fos um lio de histria das céncias, expressa « contém as opinides politica do seu autor. Eé sem divida esse tipo de leitura que devemos recusar, Pos €evidente que ess interpretagdes podem inverterse com © tempo: 0 mesmo liv, que era apresentado em 1968 como uma expressio do tecnocratismo gaullist, como um tratado reaciondrio que fazia a apologia do statu ‘quo até do imperialismo americano, € estigmatizado, em 1985, por ensaistas que ‘utiliza a mesma retGrica da dentncia politica, como o manifesto de um moximen- {© ceajosatoresprincipas so justmenteaquces que o haviam denunciado no ‘momento em que apareceu.*! Mas alguém poderd dizer: no entanto, €verdade que Foucault apresentou seu waballioe depal de TOE Gasca proche Waerdepuisde 7O),come vendo 30 10. Eso que se deve esuudar: um corte surouno pensamento de Foucault depoisde 1968 seu trabalho se modificou, AGaITICA ESEUS MONSTROS 55 liizouse. Foi ue sua pesquisa se a aanilse doy le Fetnterpretou todo o seu iineririo anterior em termos politicos, Insistindo rmuito mais na Histoire de la folie do que em Les mots eles choses ou em Larchiologir Tcsana DE WN ES, porque ESE 7e presava melhor a este trabalho eralmente wransformado nese sentido pelos seus litores do pés68. Foucault se, nese Gpoca, a um trabalho de reformulagio de toda a ua pexqu, feintegraroque ieraantes.ao que queria fazer dal em dianve- Kgrande genuine de Fey © Reem seu engano ngeta fol tomar ope tum autor disse em 1977 (a entrevista de Foucault que eles citam) sobre os liros qucescreveu 1501 20anosantes come a propria verdade desseslivros, umaverdade mmaisverdadcia do que aqullo que o autor dizia no momento de sua publicacio. E neste ponto que a mania de interpretagio atua plenamente: se Ferry ¢ Renaut Auisestem fazer eetvamente ahiséra do pensamento francés dos anos 60, teriam ‘que se abster de um tal método de leitura retrospectiva, mesmo que ela pudeste Spoiarse em certs declaragdesde Foucault Nese senido,Ferrye Renautpraticam mesma operacio de James Miler, que consixe em imporar para os livros onteios que nio se zncontam nee. Um lio ¢ como um quad: podese vernele que seque. Mas, ape dso, preci que cy ‘pelo menos pos fo que ele chama de istrico © A reflexio floséfica, eles sio evidentemente menos dotados deixaremos que “se virem” como pyderem, e se puderem, com os documentos que citarei abaixo. Podese falar de um “pensamento 68" para o Foucault dos anos 1970-1975? ‘Talvez. Coma condiciode dara férmula de Ferry Renautum outro sentido: existe realmente, em Foucault, uma poliizagio da sua pesquis, das suas atividades, das suas declaracGes, dos seus modos de existéncia.* Ele até fara, em certas ocasibes, declaragies de um esquerdismo tio radical que aqueles que o conheceram antes dde 1968 mal poderiam acreditar que se tratava da mesma pessoa. E evidente que ‘Surveill t punirse inscreve na esteira de suas atividades militantes do inicio dos anos 70. E um liv “nascido das lutas”e “destinado a voltara elas’ dria ele. Mas, é preciso, apesar de tudo, observar com mais cuidado. Digitalizado com CamScanner "6 FOUCAULT HOE De qualquer form, é certo que o'pensamento de Foucault sofrew uma profunda reorganizacio a partir de 1970 Ali, seria muito interessante ver como) Aagem os eletos de inércia e como certs textos de Foucault em 1969, emesmo no fim de 197, eto ainda muito mais enazos no qu era a peu anieiog cemais préximos de Lares du sevoirdo que de Suri puni E.0 e380, pot cexemplo, da sua conferéneia“O que é um autor. E também o cao da sua au inaugural no Collége de France, em dezembro de 1970. Assim, € muito dil detect 0 momento em que rupturase opera comeraaagir nos textos. Mas incomtestivel que, entre Les mote lr chou © L'reilgi du savor, de um Indo, Survie punire La vloné desavoirdo outro, bé uma nia mudanca. Nao haveria tum outro corte depois dese itimo lira, publicado ent 19762 A reflexio de Foucault vai se reortentar de novo, eoito anos xe pasario antes que ele publique cosdois wolumes seguintes da sua Hire dela eral Nio porque ele decida volar 20 assunto, como se disealgumas vezes, mas, a0 contrivio, porque sua pesquisa ‘genealdgica 0 levou mais longe em sua tentatira de fazer uma hst6ria do sujito, Elaro que querer fazer uma histria da consituigio do homem ocidental como ‘sujitoe principalmente como seta de deseo, ¢precisamenteo contriiode um retomo a uma floifia do nijeto. Foucault cominvard ase empenkar em nume- rosas atvidades polities, como no incio dos anos 80, quando convoearé, com Pierre Bourdieu e alguns outros, uma mobiizacio em favor da Polonia, depois da insturacio do estado de stio. James Miler, que se detém, durante paginas ¢ ‘éginas, no atvismo ultreesquerdisa de Foucault, consagramenosde vine link: 2 ese engajamento, que seri entretanto io importante para Foucault, e abr novas perspectivas, como suas ages com a crbT. E verdade que seria dificil fazer pasar dislogo de Foucault com Edmond Maire por uma nova tentatva para realizar uma “experiénciatimite’ 5 Quanto a Ferry ¢ Renaut, na medida em que tai fatoss6 podem, evidentemente, reir is suas arremetidas interpreta, eles, ‘io dizem nem ura palavra sobre iss. E mais simples. Talvez nao seja bastante contemporinco de maio de 68 para gorar de ua atencio, Entretanto, seria possvel Bfirmar que es athidade miltante em favor dot movimentos antotalitrios se insereve na légica de maio de 68. “Mas no entremos neste debate, que nos aistara de nosso propésito. Uma coisa é cera: nio € posse, quando se quer comentar a obra de um filésof0, escolherarbitrariamente um ponto da sua ajetéria,recusando-se a interessarse pelo que aconteceu antes (poderfamos, por exemplo, e de modo muito mais plausie,explicar todo Foucault pelo campo flosfio dos anos 50 ou pela recusa do marsismo ete) e interessindose por aquilo que acontece depois. Na verdade, Fen e Renautsfoprisioniro de maio de 68 e dos anos eguintes, por uma razio muito simples: foi a época em que eram estudantes. Fiaram fechadlos nos debates {que constitiam seu ambiente naguele momento.* Leitores mais jovens tm uma ‘isio completamente diferente da obrade Foucault, quc se basciaprincipalmente za leitura dos kimor livros, Lage dt ples (Oso dos prazeres)e Le soi dso (© cuidado dei), Esa leitura nio é menos verdadeira do que aquela que congela ‘obra de Foucault em torno do ano de 1968 la € até miito mais legtima, ja que ‘eapdia no timo esadodo pensamento de Foucaule Mas uma histria das ills AcRITICAESEUSMONSTROS a iio deve aceitar nem uma nem outra dessa totalizagées retrospectivas. histéra, ‘ousamos dizer, deve... voltar&hiséria. De qualquer Angulo que se examine o texto de Ferry Renaut, seu castelo de cartas marcadas desmorona. Quer seja abordado em termos de histéra concreta doque foi o engajamento dosintelectuaisantes, durante e depoisde maio de 1968, «quer osejaem termos de hstéria do pensamento ilos6fico, e particularmente do pensamentode Foucault, no se pode concedera menor significacionem omenor valor ao que eles escrever. ‘Auto-intoxicados por sua prépria tagarelice, persuadidos de que todo livro publicado depois do seu panfleto € uma resposta ao que escreveram.* despeitados Porque nio sio mencionados ¢ exigindo com uma candura desarmante que © scjam mais freqitentemente.™ Ferry ¢ Renaut se empenham numa corrida contra ‘ reldgio para acompanhar a atualidade poles, socal ou intelectual, e divulgar seu pontode vista sobre tudo, para mostrara que ponto les esavam certos de estar certos Assim, quando grandes manifestacdesde ginasianosinvadem asruasde Paris no outono 1986, eles se apressam a traralicio desses acontecimentos, em uma pequena obra de “Ploy imediata", como diz a qugra capa, num belo impulso de lucider: seu titulo, todo tum programa. Essa “Filosofia”, mesmo “i jo deta de conter certo niimero de.pérolas, das ‘quais seria lamentivel privarse. Encontramse bonitas frases, parédias de interpre- tacéescirculares, como a que evoea “o sucesso do pensimento 68 nos anos que se seguiram a maio..""" E uma outra versio do “fenémeno cultural", do qual o “pensamento 68" é um “sintoma’: depois de decretar“ainanidade das ilosofiasem uestio,e especialmente da sua iquidacio da subjetividade’, eles escrevem: “Ela AAcompanham esa ascensio em poténcia do indvidualismo narcisicoeapitico, que culmina no comeco dos anos 80." Poderfamos car mil outros exemplos dessa retdrca que oscil entre 0 vocabultio de uma agéncia de marketing eo estilo em vigor nas revstasstalinists dos anos 50. Mas vamos examinar a tese desse novo panflto. Pois hi uma ese. Ela ¢ simples, obviamente: o movimento ginasiano de 1986 mostra que 0 “pensamento 68" acabou. Assi, eles pretendem indagar: por que ese “pensamento 68", que devia estar morto'€ enterrado continua a viver? “O ‘outono de 1985", cscrevemles,“fcardcomo1uma dataimportante,em que oatraso ‘da flosofia em relagio is exigéncias da época se manifestou em plena luz do dia” (Ou sea: enquanto olivo de Deleuze sobre Foucaultse omavaum acontecimento, ‘0s ginasianos desfilavam nas ruas de Pars eos lideres do movimento declaravam 3 imprensa que nada inkam aver com maio de 68. E da? Qual relacio entre um fato e outro? A primeira vista, nfo se percebe. Nossos dois ensaistas tm um grave feito, ou, para sermos amveis, una bela qualidade: areditam no que escrevem. Eo que escreveram eles? Que Foucault e Lacan pertenciam a0 “pensamento 68°, ligado ao movimento de maio. E-6 que constatam em 1986? Que os ginasianos dleclaram & imprensa que ndo querem ser assimilados a maio de 68, que o seu ‘movimento é diferente, que nio tém os mesmos valores. Dai o espanto dos dois autores: que os “movimentos socaisrejitam maio de 68, nao € compreensivel «que obra de Foucault posa ominar ainda vida intelecual, Nao thes pasa pela Digitalizado com CamScanner 8 FOUCAULT HOE cabeca que, se vem uma “defasagem" na concomitincia fortuita desses dois fendmenos pertencentes a ordens diferentes — 0 sucesso do livro de Deleuze eas, -manifestacées dos ginasianos — € unicamente porque eles giram no carrossel das, suas proprias fantasmagoras. Se tivessem tido 0 cuidado de refletir, a0 invés de correr com a sua “Gilosofa imediata” atras das passeatas de estudantes que ignora- ‘vam até o nome deles e pouco se importaram com o seu *pensamento 86", suposto, substituto do “pensamento 68°, poderiam ter tirado uma licio simples daquilo que ‘constatavam: no havia nenhuma defasagem, ¢ tudo 0 que eles contaram an- teriormente sobre a relagio direta entre maio de 68 ¢ certas obras tedricas no passava de lorota. Mas ceramente, em sua opiniio, tal conclusio era préxima

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