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Ao construir a regra de competência funcional inserta no art. 120, § 1º, inciso I, alínea
"e", do Código de Organização Judiciária do Estado de Pernambuco (competência
absoluta ratione materiae no plano horizontal), o legislador provinciano utilizou-se de
cláusula extraordinariamente ampla e abrangente: versando a causa sobre bem de
espólio, compete ao Juízo de Vara de Sucessões o seu processo e julgamento.
Bem, no sentido técnico-jurídico, são valores materiais ou imateriais que podem ser
objeto de uma relação de direito. O termo, que é amplo no seu significado, abrange
bens corpóreos e incorpóreos, coisas materiais e imponderáveis, fatos e abstenções
humanas.
CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, tendo em vista o Código Civil de 1916, afirmava que
"as coisas são materiais ou concretas, enquanto que se reserva para designar os
imateriais ou abstratos o nome bens em sentido estrito. Sob o aspecto de sua
materialidade é que se fazia a distinção entre coisa e bem" (Instituições de Direito
Civil, 5ª ed., Rio de Janeiro, Forense, v. 1, 1976).
MARIA HELENA DINIZ diz que "os bens são coisas, porém nem todas as coisas são
bens. As coisas são o gênero do qual os bens são espécies. As coisas abrangem tudo
quanto existe na natureza, exceto a pessoa, mas como 'bens' só se consideram as
coisas existentes que proporcionam ao homem uma utilidade, sendo suscetíveis de
apropriação, constituindo, então, o seu patrimônio" (Curso de Direito Civil Brasileiro,
18ª ed., São Paulo, Saraiva, vol. 1, 2002, p. 275-276).
SILVIO RODRIGUES lecionava que "bens' são coisas que, por serem úteis e raras, são
suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico, enquanto 'coisa' é tudo quanto
existe objetivamente, com exclusão do homem" (Direito Civil, 32ª ed., São Paulo,
Saraiva, v. 1, 2002)
Tenha-se presente, destarte, que a palavra bens, que serve de rubrica ao Livro II da
Parte Geral do Código de 1916, e do novo Código Civil, tem amplo significado,
abrangendo coisas e direitos, sob os mais diversos aspectos. Na parte especial, refere-
se o Código ao direito das coisas, porque, então, se dedica, exclusivamente, à
propriedade e aos seus vários desmembramentos.
Logo, a matriz da regra de competência funcional inscrita no art. 120, § 1º, alínea "e",
do COJPE, localiza-se, topograficamente, no plano do direito substantivo, no objeto da
pretensão formulada. Se esta tem por fundamento, objetivamente, coisa ou direito
relativo ao espólio, a competência para o seu processo e julgamento é do Juízo de Vara
de Sucessões.
De tal sorte que, de harmonia com o magistério de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, "o
inventário proposto fora do juízo nele previsto não pode ser rejeitado pelo juiz de
ofício. A competência para o processo sucessório é prorrogável, se não houver exceção
por parte de algum interessado. (...) A competência regulada pelo art. 96, é bom
notar, não é de juízo, mas sim de foro, conforme os termos da própria lei. Disso
decorre, nas comarcas onde existirem várias varas de igual competência, que a causa
contra o espólio poderá correr perante outro juiz que não o do inventário. O que se
exige é que as ações corram no mesmo foro e não no mesmo juízo (Curso de Direito
Processual Civil, 41ª ed., Rio de Janeiro, Forense, v. 1, 2004, p. 163).
A tudo se acresça que a competência regulada pelo art. 120, § 1º, alínea "e", do
COJPE, não impede que, nas comarcas onde existirem duas ou mais varas privativas
de sucessões (igual competência funcional), causa proposta pelo ou contra o espólio
possa correr perante outro juiz que não o do inventário. O que fez o legislador
estadual, ao editar o atual Código de Organização Judiciária, foi atribuir ao Juízo de
Vara de Sucessões - e não ao Juízo do inventário - a competência ratione materiae
para o processo e julgamento das causas e seus incidentes relacionados a bens de
espólio.
http://www.imp.org.br/webnews/noticia.php?id_noticia=503&