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,
O CANDOMBLE DA BAHIA
(Rito Nagô)
Exemplar
0364
*
Obra executada nas oficina, da
São Paulo Editora S. A. - Síio Paulo, Brasil
BRASILIANA
VOLUME 313
++++++++++ ++++++++ ++++ ++++++++++ ++++ +++++-+ ++++ ++++ ++ ++ ++ ++ ++
ROGER BASTIDE
~ tANil~MBU DA BAHIA
(Rit.o Nagô)
Tradução de
MARIA ISAURA PEREIRA DE QUEIROZ
( Do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de S!lo Paulo)
Le Candomblé de Bahia
(Rite Nagô)
~958
por
Co. - PARIS, HAIA
Copyright, 1958,
btj
MouToN & Co., PuBLISilERS
1961
Introdução . . . . . , , ____ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
I - APRESENTAÇÃO DO CANDOMBLÉ . .. .. .. . .. .. .. .. .. . 17
1 . O sacrifício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2. A oferenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3. O padê de Exú . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4 . O chamado dos deuses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. As danças preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. A dança dos deuses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
7. Ritos de saída e de comunhão . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
II - O ESPAÇO E o TEMPO SAGRADOS . . . • . . • . . . . . . . . . . • 78
III - A EsmUTURA no MUNDO . . . . . . . . . . . . . . . . ....... 134
1. Os babalaô . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
2. O babalosaim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
3. A sociedade dos Egun ........................ 167
4. Os quatro compartimentos do cosmos . . . . . . . . . . . 181
IV - Exú .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... , • ....... 208
V - A ESTRUTURA DO. f:XTASE . . . . . . . • . . . . . . . . _ . • . • . • • 245
VI - o HOMEM, REFLEXO DOS DEUSES 289
Conclusões
Metafísica e sociologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
Ensaio de uma epistemologia africana ( yoruba) . . . . . 333
Epistemologia africana e sociq_logía do conhecimento . . 348
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
(
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---
INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO DO CANDOMBLt
Cogun
ornuhí
CI] poste
tambores mulheres
i~lorishaeC
. ·. T
dignatários 1 ·
-.
-
dign;tários homens
DJ
casa dos mortos
+
exú
+
exú
O ESPAÇO E O TE~1PO SAGRADOS - 81
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habitach
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iíi:
2 de fevereiro .
.
dia da Purificação .
(Omolü)
festa de Oxun e
Yemanjá
23 de abril . . . .. dia de S. Jorge . . . festa de Oxossi
13 de junho dia de Sto. Antonio festa de Ogun
24 de junho dia de S. João Ba-
tista . . . . . . . . . . . festa de Xangô-Afonja
29 de junho dia de S. Pedro e
S. Paulo . • . . . . . festa de Orixá-la
26 de julho . . . . . dia de Sta. Ana .. festa de Nanan
24 de agôsto . . . . dia de S. Bartolo-
meu . .. . . . . . . . festa de Oxunmarê
27 de setembro . dia de S. Cosme e
Damião festa dos Gêmeos
( ibeji)
30 de setembro . dia de S. Jerônimo festa de Xangô
2 de novembro . dia dos mortos . .. festa dos Eguns
4 de dezembro . dia de Sta. Bárbara festa de Yansan
8 de dezembro . dia da Imaculada
Conceição ... . . . festa de Oxun ou de
Yemanjá
= = =: Yelm-meji Gbe-meji
----
---- Woli-meji
li 11
11
11 .
li li
E a ordem de sua distribuição é a mesma das filhas
de santo dançando em tôrno do poste sagrado.
Ora, encontramos justamente na Bahia a ordem afri-
cana, com algumas complicações, como nos mostra o
exemplo do candomblé de Opo Afonjá:
a 2.ª feira é o dia de Exú (e de Omolú);
a 3.ª feira é o dia de Ogun (de Nanan Buruku e de Oxunmarê);
a 4. ª feira é o dia de Xangô ( e de sua mulher Yansan, que
também lhe é associada na região yoruba);
(96) FnÇ>BENIVS, o. e., pág. 257.
128 - O CANDOMBLÉ DA BÃHIA
A ESTRpTURA DO MUNDO
1 - OS BABALAô
O~g .
búzio
fechado
búzio
aberto
akoueo adjilconi
opelê
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1
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148 - O CANDOMBLÉ DA BAHIA
2 - O BABALOSAIM
O babalaô trabalha ou para os indivíduos, em caso
de doença, de casamento, de viagens, etc., ou para a
coletividade: os búzios são lançados a cada dia que
começa, e a vida do candomblé, no transcurso das 24
horas que se seguem, será inteiramente determinada pelo
odu que saiu21• Assim é êle muitas vêzes levado a acon-
selhar ou, melhor ainda, a ordenar aos assistentes banhos
( 20) Certo informante deu excelente exemplo de umn dessas difi-
culdades. Imaginemos que alguém consulte o babalaô para saber o nome
de seu Ori,cá. Esta consulta tem lugar num dia da semana. Ora, muitas vêzes
o santo, desejoso de falar ao babalalJ, aparece no dia da semana que lhe é
consagrado ( demos atrás esta distribuição dos Omá em cada dia da semana).
A confusão é, assim, possível; acredita-se que o Orixá que saiu é o do
consulente, en~uanto era o do dia da consulta. De onde a necessidade
de formular tres vêzes a pergunta antes de fazer qualquer afirmação.
(21) R. fuaEmo, o. e., pág. 114.
154 - O CANDOMBLÉ DA BAlilA
e para as de Omolú:
Axé di Omulú ornam
di Omulú obetam
eu arei meu axé. . . etc.40
e. ~
o
•
tambor
o
o
o
alimentos anágua
4 - OS QUATRO COMPARTIMENTOS
DO COSMOS
Ou ainda:
os babalaô são os sacerdotes dos homens enquanto indivíduos
e das coletividades sociais enquanto relações entre homens;
ASPECTOS DA
ASPECTOS SOCIEDADE E
1
doenças
epidêmicas
1
Xangô. vermelho cobre galo raio justiça
e bran- carneiro fogo
1
co, ou caran-
apenas guejo
vermelho
Ya,isan id. id. cabras e
galinhas
vento, tem-
pestade
- '
'
ASPECTOS
ASPECTOS DA li
SOCIEDADE E ;1
ORIXÁ CÔRES METAIS ANIMAIS DA RELAÇÕES
NATUREZA HUMANAS
1 Yeman--
já .... rosa, prata pombas, o mar a pesca
azul, ovelhas
claro
Oxun . . côr de latão cabra água doce o amor
ouro galinha
Oxun, 1
qual com seu Oxalá, seu Omolú, seu Ogun ... No Brasil,
estas etnias mantiveram seus cultos, reconhecendo que,
sob nomes diferentes, adoravam no fundo as mesmas
divindades. Daí a justaposição dos nomes e a multipli-
cidade dos Orixá. Há algo de certo nesta explicação.
Cada candomblé pertence a uma "nação" e cada "nação"
dá nomes diferentes aos seus deuses. Por exemplo, Oxalá
se chama Lembá nos terreiros conga, Lembarengangá
nos terreiros angola106 • Exú é denominado Legba nos
candomblés de origem dàhomeana e Bombonjira nos de
origem banto, assim como Oxun tem o nome de Aziri
nos primeiros, ,de Kissimbi nos segundos 107 • Mas não
são estas designações étnicas que constituem problema
para nós; além destas variações de "nação" para ''nação",
há pluralidade de Xangô, de Ogun, de Exú, dentro de
uma mesma etnia. E por outro lado, se a sociologia
oferecesse a chave do problema, não encontraríamos
algarismos diferentes ao passar de uma divindade para
outra. Pois somente um acaso extraordinário faria se
terem reunido indivíduos pertencentes a 12 clãs de Xan-
gô, 7 clãs de Ogun, dezesseis clãs de Oxun, tanto mai~
que os algarismos destas divindades são justamente doze,
sete e dezesseis 11º8
Cada uma das subdivindades possui seus mitos espe-
ciais. Por exemplo, o mais velho de todos os Xangô,
( 106) REGINALD0 GUIMARÃES, "Notas sôbre o culto de Oxalá",
Revista Acadtlmica, 17 (1936), pág. 14.
( 107) P. VERGER, Orixás, pág. 16. A propósito desta questão da
diversidade de nomes de uma mesma divindade segundo as nações, ver
:to1soN CARNEmo, Negros Bantos; REGINALDO GuIMARÃEs, "Contribuições
bantus para o sincretismo fetichista", O Negro no Brasil, págs. 133-7;
R. BASTIDE, Estudos, I, quadio IV.
( 108) Tanto mais que cada deus, na Ãfricn, é o deus de um clã.
li: verdade que os membros do clã estão muitas vêzes dispersos, e então
seria necessário falar de regiões. Mas por que teriam vindo escravos de 16
regiões de Oxun, e somente de 7 de Ogun ? A explicação sociológica
torna ainda mais espêsso o mistério, em lugar de esclarecê-lo. li: preciso
notar também que cada naçito tem seus algarismos, diferentes dos das
outras, e que êstes algarismos não correspondem à nossa numeração de
subdivindades.
202 - O CANDOMBLÉ DA BAHIA
EXú
fixado para saírem do túmulo. Ossaim toma um assobio, Orula seu apún,
e começam a chamar. Os filhos de Orula, bem alimentados, escutaram o
chamado de seu pai, responderam e saíram logo. Os de Ossaim, extenua-
dos, permaneceram no túmulo. nll.o escutaram nada, nllo puderam res-
ponder. Ossaim teve que admitir sua derrota". Noutro mito, vemos Ossaim
perder um õ!ho em combate contra Exú (ibld., pág. 71). il:ste mito não
é conhecido na Bahia, onde Ossaim ·tem uma perna s6, mas conserva seus
dois olhos.
(37) L. CABBERA, "Eggue", d. e., págs. 105-6.
(38) O. ALVARENGA, Melodiaa registradas ... , pág. 366.
228 - O CA...'\DOMBLÉ DA BAHIA
A ESTRUTURA DO ÊXTASE
Cosme e Damião
Ogun ( Doun ? ) e Alaba,
Venho da vila,
Lá no sertãoS0,
-
das divindades do ..!.filQ.._!l a do2_ilnt~pass~fios ~da_Ja!!!i].IB
real36 •
DEUSÉS JOVENS
-11-
Mas o reflexo de que falamos não é simples jôgo de
espelhos, pressupõe realidade mais profunda, participação.
O homtl_!l _só rep~te__os deus!-'ls. J?.orqu(;l partic~pa do cará-:
tê'rêiêles, porque um pouco do qu~ ê1es são penetrou-
lhe na cal:i~ça, O que terá_ cons~qüências no que pode-
- III -
Mas o princípio de ruptura aparece juntamente com
o reflexo simbólico e a participação. O indivíduo não
tem apenas um Orixá, possui também, e ao mesmo tempo,
um espírito individual que o coloca em mundo distinto
do mundo divino.
Chegamos à parte mais delicada dêste capítulo, de-
vido às falhas que surgiram na__.,...g!~mória .coletiya .dos
africanos da Bahia, falhas qü'ê_Turam cobertas por idéias
não-tradicionais, tomadas ao catolicismo ambiente ou
mesmo ao espiritismo: trata-se do estudo estrutural do
indivíduo. Dispomos de duas publicações a respeito: a
do P.e Frikel para a Bahia, a de René Ribeiro para o
Recife 24 • A primeira, embora mais completa, é discutível
nalguns de seus elementos; a segunda, menor, é mais
válida mesmo para fora do Recife. Há também dados
avulsos, tirados de livros diversos, mas que não tratam
do problema senão de maneira incidental. Finalmente,
dispomos de informações pessoais. Infelizmente, em
lugar de convergirem, informações e dados múltiplos são
as mais das vêzes contraditórios, pois os negros esque-
ceram tudo o que não estava estreitamente ligado ao
(24) R. RrnEmo, o. e., r,ágs. 129-137, e PnoTASIUS FRIKEL, "Die
Scelenlehre der Gêge und Nagô ', Santo Antônio, 18"19, págs. 192-212.
O HOMEM, REFLEXO DOS DEUSES - 309
Metafísica e Sociologia
C FAC. EOUCAÇ~\)(J.\3LIOTES~
I 1_____
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