Você está na página 1de 162
GHOSOD0 -— 7 SN 7 Obra atualizada ‘\ conforme 0 I Acordo Ortogréfico da \ in | Portuguesa y - MINISTERIO DA.EDUGAGAO MAN) GRONO DO LORI ALICE GRESSLER ‘Mestre em Educapao pela Universidade Fecieral de Santa Maria, Doutora em Educagao pela Universidade de Mississipi (EUA). Ex-professora dl ensino fundamental e do ensino médio. Professora dos cursos de graduacao pés-graduaeao da UFMS. LUIZA MELLO VASCONCELOS Mestre em Linguistica pela PUC-PR, Ex-professora do ensino fundamental e do ensino médio. Professora dos cursos de graduacao e pés-graduagao da UEMS e da UFMS. Revisora da Editora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. ZELIA PERES DE SOUZA KRUGER Licenciada em Historia pela UFMS. Mestre em Desenvolvimento Sustentével pelo CDS/UNB. Consuitora para assuntos ambientais da UNESCO (2003). 18 edigdo - So Paulo ~ 2008 Mi erp EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 (Bela Vista) Sao Paulo ~ SP CEP 01326-010 — Tel, (0-XX-11) 3253-5011— Fax (0-XX-11) 3284-8500 r. 337 Caixa Postal 65149 ~ CEP da Caixa Postal: 0190-970 Internet: http://wwwftd.com.br E-mall:ciencias.sociais@tftd.com.br Geréncia Editorial Silmara Sapiense Vespasiano ‘Assistente de produgo Caio L. Rios Lilia Pires Editor Lafayette Megale Editoras assistentes Leticia Vidor de Sousa Reis Maria Izabel Simdes Goncalves Edigdo de texto do Manual do Professor José Alessandre S. Neto Preparagao Geuid Dib Jardim José Alessandre S. Neto Lucila Vrublevicius Segovia Revisdo Adriana Rinaldi Périco José Alessandre S. Neto Editor de arte e projeto grafico Roque Michel Jr. ltustragées van Coutinho Cartografia ‘Sonia Vaz Capa Carlos Augusto Asanuma sobre gravura de Debret: Carga de cavalaria Guaicuru. Séc. XIX. Biblioteca Municipal Mario de Andrade, SP. Foto: Nelson Toledo Iconogratia Coordenagao: Sdnia Oddi Pesquisa: Valéria Vaz Assisténcia: Cristina Mota ¢ Patricia Black Editoragdo eletrOnica Diagramagaio: Wilde Velasques Kern Coordenagao: Carlos Rizzi e Reginaldo Soares Damasceno Finalizagao: Alceu Medeiros e Ana Isabela Maraschin ‘Dados Internacional de Catalogacdo na Pubiicagio (CIP) {(Cémara Brasilia do Livro, SP, Brasi) Cressi, Lon Ale Fitri do Mato Grosso do Su, Sano / Lor Aloe Gress, \usea Melo Vasconodbos, Zeta Pers de Souza Krugec ~ S80 Paulo FTD, 2008, ekg ndo consume” supementado por manval do professor bora Ian 978-85.022.6548-7 auno) ISBN 97685.222.65494 professor) 1. Mato Grosso do Su — Histéia Ensino fundamental) | Vasconcelos, Luiza Melo. I. Kruger Zola Peres de Souza i, Th. o8-04198, coosrzessi71 | Indices para catélogo sistemétic: 1. Mate Grosso d0 Sul: Historia Eneine fundamental 9372.898171, Apresentagao Este livro foi preparado para vocé. O que queremos 6 que vocé conhega mais sobre a hi storia do nosso estado e continue a construi-la. A histéria de um povo é uma obra coletiva, da qual todos nés tomamos parte, ainda que, na maioria das vezes, de maneira anénima. O que os historiadores estudam so as permanéncias e as transformagdes que ocorrem no tempo. Vocé sabe que o atual estado de Mato Grosso do Sul faz parte do pats em que vivemos, 0 Brasil. Sabe também que o Brasil faz parte de um espago muito maior, formado por continentes e oceanos, conhecido pelo nome de planeta Terra. O estado de Mato Grosso foi dividido em 1977, criando-se entao, um novo estado, Mato Grosso do Sul. Neste livro, trataremos apenas da hist6ria de Mato Grosso do Sul, 0 nosso estado. Porém, como os dois estados estio unidos pela mesma histéria, muitas vezes faremos referéncia a fatos que ocorreram na regiao do antigo Mato Grosso mas que, de alguma forma, relacionam-se ao passado do atual Mato Grosso do Sul. Vocé veré que é fascinante viajar pelo tempo através dos livros e compreender melhor 0 mundo que nos rodeia. Nosso propésito é compartilhar com vocé esta viagem fantastica no tempo. Com este objetivo, reunimos informagées que estdo distribufdas nos textos que compéem este livro. Bom trabalho! As Autoras Sumario [EMIT] - 0 estucio da Hist01id aosnonnnone T § Por que estudar 0 passado? ei A historia 6 dinamica 8: Fontes de pesquisa em Historia... 10° Atividades : (ENIMINE— 0s primeiros ocupantes da terra... 0 povoamento da América... Os primeiros ocupantes de Mato Grosso. do Sul...... Os indigenas do territrio sul-mato- -grossense ... Situago no passado ... Situagao no presente .. Atividades (ZERININE)— 0 sonho das descobertas.. . 23 ‘As Grandes Navegages O caminho para as Indias A divisdo das novas terras Atividades ........ (Tite — A colonizagao da América .. Os espanhdis na América 32 Os portugueses no Brasil 85, As primeiras expedigdes........ ‘As capitanias hereditarias.... Os governos-gerais A economia colonial ... O pau-brasil A cana-de-acuicar Atividades ........... (ERMINE A ocupacao de Mato Grosso do Sul — 0 dominio @SpaNHOl .....seesseessesseees 44 Uma breve histéria da evolugdo administrativa de nosso estado ites MS: 0 inicio do povoamento. oo 46 A penetracao dos bandeirantes. 47 As bandeiras para captura de indigenas “ eee AE: As expedigdes de busca de metais preciosos .. As mongées em busca do ouro.... Primeiros niicleos de ~ 52 povoamentt0 ........... Atividades [EMIS - 4 ocupagao de Mato Grosso do Sul — 0 dominio de Portugal . 55 O Tratado de Madi... 56 A criagdo da Capitania de Mato Grosso soos 56 A formagao de niicleos de povoamento de Mato Grosso do Sul..... Coimbra .. Miranda Corumba .. Atividades CETTE —- Origem e evolucdo dos municipios de Mato Grosso do Sul: séculos XIX e XX Aindependéncia do Brasil... A expansdo do povoamento na Provincia de Mato Grosso.... et Acriagao de colénias militares ¢ 0 surgimento de cidades A pecudria e o aparecimento de cidades Atividades (EINE) — A Guerra do Paraguai e Mato Grosso do Sul .. 0 Brasil daquela época ‘A Guerra do Paraguai. wth = 0 desenvolvimento do Paraguai O inicio do contflito ... Os principais acontecimentos da Guerra do Paraguai.. A ocupagao paraguaia de Mato Grosso ARetirada da Laguna ... Consequéncias da guerra Atividades . CERIO] — 0s movimentos pela emancipacao do sul do estado de Mato Grosso..... Auta pela autonomia... ARepiiblica Velha (1889-1930) Nioaque - 0 berco da divisao.. 0 governo Vargas (1930-1949) ... A formagao do estado de ‘Maracaju (1932) territ6rio federal de Ponta Poré (1943-1946) Acriagao do estado de Mato Grosso do Sul. Atividades .. (ERIN — 4 historia do cuttivo da erva-mate em Mato Grosso do Sul O inicio da exploragao .. O preparo da erva-mate A Companhia Mate Laranjeira . O crescimento econémico da Mate Laranjeira ‘Acusagies e deniincias contra a Mate Laranjeira Atividades . (ITI - 0 desenvolvimento da pecuaria em Mato Grosso do Sul Aterra como fator de produgéo de riqueza 109 A expansao da criagéo de gado .. 109 0 transporte do gado mW A organizagao da comitiva . 112 Atividades ..... (ERINIEEE— 4 agricuttura e a indtistria em Mato Grosso do Sul Aagricultura de subsisténcia e a criacao das colénias agricolas 116 As colénias agricolas publicas 117 ‘As coldnias agricolas privadas 120 0 crescimento da agroindtistria e da indéstria 121 A abertura para 0 turismo ecolégica 124 Atividades .. 125 (ENIMINEE- Transportes e comunicagées em Mato Grosso do Sul 126 ‘A evolugao dos transportes.. 127 A Estrada de Ferro Noroeste 127 129 do Brasil Outros meios de transporte O desenvolvimento das comunicagées 129 0 telégrafo ... . 129 Atividades sits WBA (EMIMIEEZI— Nossa gente, nossa cultura.. O que é cultura....... Influéncias culturais ~ usos e costumes ... 134 0 indi... 134 O branco .. 135 Onegro .. 136 A contribuicao dos migrantes e dos imigrantes Os migrantes .... Os imigrantes Algumas manifestagées artisticas de Mato Grosso do Sul Aartista plastica Lydia Bais 142 0 poeta Manoel de Barros 143 O compositor Zacarias Mouréo 146. Atividades . 147 [EMIMINEIS - Memérias da educacao em Mato Grosso do Sul .. Os primeiros professores Surgem as primeiras escolas As escolas piblicas As condigGes de trabalho dos professores ... Atividades ..... Sugestées de atividades para encerrar 0 ano letivo Sugestées de leitura ..... Bibliografia consultada Referéncias bibliograficas . Capitulo 1 O estudo da Historia Por que estudar o passado? Todas as pessoas tém um passado. Vocé, mesmo crianga, j4 tem sua histéria. s drvores, nossa casa, nossa escola, tudo Nossos pais, nossos avés, nossa rua, nossa tem uma histéria. A historia de uma cidade, por exemplo, inicia-se com seus fundadores e de- pois vai sendo, no cotidiano, construfda coletivamente pelos que nela moram. Rua com casas antigas em Corumba. Esta foto, apesar de recente (2005), 6 um documento da época em que Corumbé era 0 centro comercial mais importante do estado. O estudo do passado possibilita a compreensao da realidade de hoje. Isto é a histéria. A histéria é como nossa memoria. Sem meméria, nado temos identidade. Nao sabemos quem somos, quem so nossos pais, onde moramos. Um povo que nfo preserva a sua histéria 6 como uma arvore sem rafzes: qual- quer vento a tomba. E através das raizes que a arvore obtém seu alimento, Assim, também, a compreensao dos fatos e acontecimentos atuais depende do conheci- mento do passado. A histéria é dinamica A hist6ria preocupa-se com o estudo das transformagées vivenciadas por um grupo social. Ela 6, portanto, dinamica. Ao longo do tempo, o ser humano foi mu- dando sua forma de pensar e agir. Até o significado das palavras esté sujeito a mo- dificagdes. Milhares de pessoas viveram antes de nés, de maneiras diferentes ¢ em 6pocas diferentes Compare fotos antigas € recentes de seus avés, de sua cidade, de sua escola. Voce vai perceber nelas as transformagSes que sofreram, mas também observaré a dizer que o ritmo das mudangas varia, sendo que, enquanto algumas ocorrem de maneira mais lenta, permanéncia de determinados elementos. Com isso, podemo outras se dio mais rapidamente. Nao podemos modificar o passado. Fo conhecimento deste passado que muda. Mudam, portanto, as interpretagGes e a compreensio dos fatos. Por exemplo, nas primeiras décadas do século XX, alguns municipios do estado se desenvolveram mais que os outros. Por que hoje esses municipios nao sio os mais desenvolvidos? Isso pode ser respondido pela hist6ria, Estudamos a histéria para compreender o presente. O que esses acontecimentos tém aver com a realidade do estado hoje? Como eles ajudam a explicar 0 que est acontecendo agora? As coisas poderiam ter sido diferentes? Para estudar as transformagGes, precisamos nos orientar no tempo, isto 6, co- nhecer o que existiu antes e o que existiu depois. E na linha do tempo que situamos os acontet simentos em seu tempo histérico. Assim como vocs, sua cidade e nosso estado, o Brasil, paf em que vivemos, s, faremos referén- também tem uma histdria. Ao longo deste livro, por varias ve: cia aos perfodos em que essa hist6ria esté dividida. Conhega abaixo a linha de tem- po do Bras Linha de tempo do Brasil 40,000 anos (2) Império —_-Repiiblica (A16 1750, aregiao que hoje 0 1759 1822 1889 Mato Grosso do Su eratortiio geparhol) Talado—IndependénclaProclamapso de a Mack Repiblica [Logo apd 0 7d setaibr, fol camposto Hino 3a Incependércla, com lata de Evaristo ce Voge misiea de 0 Pech, como rte 0 quacre a Augusto Brace (1881-1960) Como vocé vé, a hist6ria desta terra que foi chamada de Brasil comeca por volta de 40 mil anos atrés, quando, provavelmente, chegaram por aqui os primeiros grupos humanos. Em 1500, inicia-se o perfodo do Brasil Colnia, com a descoberta € a posse das terras brasileiras pela Coroa portuguesa. No ano de 1822, quando 0 Brasil torna-se independente de Portugal, abre-se 0 perfodo do Brasil Império. Finalmente, de 1989 até hoje, tem lugar o perfodo do Brasil Repiiblica. Fontes de pesquisa em Historia Para encontrar respostas no passado, utilizamos todos os tipos de documentos que possam revelar e esclarecer os fatos. Estes documentos sao chamados de fon- tes hist6ricas e podem ser: livros, jornais, fotografias, pinturas, entrevistas, miisi- cas, roupas, restos de construgdes antigas ete. Os documentos escritos tém sido, tradicionalmente, os mais utilizados na pes- quisa hist6rica. Nem tudo, porém, que esta escrito é verdadeiro. Por exemplo, como saber sobre a vida dos escravos, se nao temos a opiniio deles em jornais ou livros? Por isso temos de comparar e confrontar documentos ¢ questionar suas afirmagées. A carta de Caminha é um importantissimo documento da Historia do Brasil. Nela Pero Vaz de Caminha conta ao rei de Portugal suas impressées sobre a terra a que os portugueses chegaram em abril de 1500. Hoje em dia, no entanto, os historiadores vem ampliando muito 0 uso de suas fontes de pesquisa. A observagao atenta de pinturas e fotografias, por exemplo, pode nos revelar muitos aspectos sobre 0 passaco, como 0 tipo de roupas que as pessoas usavam, suas formas de moradia e mesmo as diferencas sociais existentes. Também a histéria oral tem sido bastante valorizada como forma de se obterem informagoes sobre o passado. Assim, por meio dos depoimentos das pessoas que vivenciaram os acontecimentos, busca-se reconstitui-los. Esta gravura foi feita pelo pintor francés Debret por volta de 1830, quando ele vivia no Brasil, Por ela podemos ter uma ideia do modo de vida naquela época. Observe o que esto fazendo e como estéio vestidas as personagens: a dona de casa, a menina branca, as escravas @ 0 escravo, as criangas. Datret - Un sora rasa oe su li. ‘Se. 10 Bblotca Maal Ma de Arta SP Fat: Naso Tee Veja os mévels e objetos. Por exemplo: é possivel conhecer a hist6ria de sua escola fazendo-se a coleta de informagées contidas em documentos escritos, em fotos, videos e também com base em registros obtidos através da histéria oral. ATIVIDADES 1. Por que é importante estudarmos 0 nosso passado? 2. “Um povo que nao preserva a sua historia é como uma arvore sem raizes: qualquer vento a tomba”. Como vocé explica essa comparagao? 3. © que significa dizermos que a historia é dinamica? Dé um exemplo ba- seado na sua experiéncia de vida. 4, Procure em casa uma foto de seu pai ou de sua m&e quando eram crian- cas. Compare-a com o aspecto fisico atual deles, observando o que mu- dou e 0 que permaneceu igual ou parecido. 5. A linha do tempo é uma representagdo ou desenho que nos ajuda a visualizar a passagem do tempo, localizando fatos e periodos histéricos. Faga uma linha do tempo da histéria de sua escola. 6. © que sao fontes histéricas? Por que elas sao importantes? Se vocé fosse estudar a historia da sua familia, cidade, escola, por onde comegaria? Que fontes vocé utilizaria? 7. A maioria das pessoas nao costuma escrever suas experiéncias, mas elas podem ter muito que contar sobre os acontecimentos que viveram. Facga uma entrevista com uma pessoa idosa. Pega que ela conte como era, no passado, a cidade onde vocé mora hoje. Pergunte sobre os meios de transporte, o comércio, as festas e 0 que mais vocé quiser saber. Compare a resposta acima com a de seus colegas e anote em seu ca- derno as diferencas e as semelhangas que vocés encontraram nas entre- vistas realizadas. 8 Capitulo 2 Os primeiros ocupantes da terra f Sib Si = — ~ O povoamento da América Vocé sabia que a América ja era habitada muito antes da chegada dos europeus, no final do século XV? Como esses primeiros habitantes chegaram aqui? A explica- do mais aceita é a de que os primeiros povoadores vieram da Asia e atravessaram andando o estreito de Bering, que estava congelado. E possfvel que, algum tempo depois, outros grupos humanos tenham vindo para a América por mar, provenien- tes da Asia e da Oceania. ‘OCEANO GLAGIAL ARTIC Oceano \ ATLANTICO. OCEAN paeeico | OCEANO: \ ATLANTICO, Incase (RRR Primeiros grupos a) ss ai a tt do mand ait LT chegarem a América ae Os seres humanos chegaram a América em varias correntes. A mais importante, mas n&o a Unica, 6 a que foi da Asia para a América do Norte através do estreito de Bering. Nao se sabe exatamente a data do inicio do povoamento da América. Acredi- ta-se que isso teria ocorrido entre 70 mil ¢ 20 mil anos atras, mas novas pesquisas esto sendo feitas ¢ podem nos trazer dados mais precisos no futuro. Em diferentes regides do Brasil, existem sinais de grupos humanos datados de aproximadamente 10 mil a 40 mil anos. Portanto, em 1500, os portugueses ape- nas tomaram conhecimento da existéncia do Brasil, que jé era habitado havia mui- to e muito tempo, sendo que, 4 época da chegada de Cabral, havia aqui ce 5 milhdes de indigenas. ade OCEANO “a ATLANTICO oceano | PACIFICO Hi Tope-guarani SS macroie TB Auaque — Unites atuais Sos paises | Fon; Ate tno aco FAE, 1988, Os primeiros ocupantes de Mato Grosso do Sul Os primeiros seres humanos a percorrerem 0 atual territ6rio sul-mato-grossense devem ter chegado aqui hé cerca de 15 mil anos. Vinham de outras regide do 0 curso dos rios, Existem vestfgios dessa presenga em varios municipios de nos- so estado, que conta com cerca de 120 sitios arqueolégicos. Os mais antigos datam de 11 mil anos, na regio do rio Sucurit, no municipio de Paranaiba. Sitio arqueolégico: Local onde se encontram vestigios muito antigos de ocupagae humana. 14 Desenhos na rocha no sitio arqueoldgico localizado no municipio de Antonio Joao (1998). Como 08 povos pré-hist6ricos nao tinham escrita, um dos meios de co- nhecermos seu modo de vida sao os de- senhos e pinturas que deixaram nas pa- redes das cavernas. Em nosso estado, foram encontrados desenhos feitos na rocha ha mais de 2.000 anos em sftios arqueol6gicos localizados nos munict- pios de Antonio Jofio e Corumba, en- a tre outros. j Outra maneira de sabermos algo sobre esses povos sao as fontes materiais, isto é, ossadas de seres humanos ou de animais e restos de utensilios domésticos, entre outros. No municfpio de Ladario foi encontrado um esqueleto humano mui- to antigo, datando de cerca de 8.400 anos. Sabe-se que esses grupos humanos sobreviviam da caca, da pesca ¢ da coleta do que poderia Ihes servir como alimento. Lascavam e poliam a pedra para produ- zir utensflios e instrumentos de trabalho, como armas, facas, machados, moedores, pontas de flecha e langas. Coleta: Altvidade caracteristica dos povos que ndo conhecem a agricultura @ vivem de colher rutos @ raizes oferecidos pela natureza, Os indigenas do territério sul-mato-grossense Situagdo no passado Ha pelo menos 5 mil anos que a aprendizagem do cultivo de plantas, a domesticagiio de animais e as condigdes de solo e clima favoreceram 0 desenvolvi- mento de diversos grupos étnicos que ocuparam o territ6rio do atual estado de Mato Grosso do Sul. Grupo étnico: Grupo de pessoas que compartiha a mesma cultura, especiaimente a inguia, os comportamentos socials @ as crencas. Entre os nativos do territério sul-mato-grossense, os mais numerosos, no sé- culo XVI, eram os Guarani. Excelentes agricultores, plantavam principalmente o milho e a mandioca, base de sua alimentacao. Eles conheciam também 0 cultivo ea tecelagem do algodio, para a confeccio de redes e vestimentas. Produziam potes de ceramica para o armazenamento de alimentos e os utilizavam, inclusive, para o sepultamento de seus mortos. Atual- mente, os Guarani sio representados pelos Kaiow4 e pelos Nandeva. A partir do século XVII, os colonizadores portugueses ¢ espanhdis intensificaram seus ataques as aldeias dos Guarani. Eles exploraram a mao de obra indfgena, tanto no trabalho agricola como na mineragio. Indigenas do povo Kaioweé particioam de uma refeicéo comunitaria na aldeia Borord, em Dourados (2003). Com 0 enfraquecimento dos Guarani, outros povos, como os Aruak e os Guaicuru, penetraram na regiao sul do Pantanal. Os Aruak sdo hoje representados pelos Terena, enquanto a nagdo Guaicuru esta reduzida atualmente a menos de mil indios Guana ou Kadiwéu. Também es so do Sul os Ofayé-Xavante e os Guaté, entre outros (consulte neste capitulo, & pagina 19, 0 (0 presentes em Mato Gro quadro “Localizagiio das terras indigenas”). 16 | Cagadores e coletores extremamente guerreiros, os | Guaicuru dominavam as demais tribos, favorecidos pela | domesticagao do cavalo, introduzido na regio pelos colonos espanhdis. Excelentes montadores, até hoj conhecidos como “fndios cavaleiros”. Possuem também uma arte refinada, que se revela nos belos motivos colo- ridos usados na decoragdo de seus objetos de cerdimica e nas tatuagens realizadas em seus corpos. Mulher Guaicuru com pintura facial e corporal. O retrato fol feito por volta de 1845 por Francis Casteinau, que airigiu uma expedicao francesa que percorreu a América do Sul. sade had SP Ft ‘Debt - Gare de cata Gaicun Sbe, XB Bees Ma —— = Esta gravura de Debret mostra indigenas do povo Guaicuru. Os Guaicuru 40 conhecidos como “indios cavaleiros”. Situagdo no presente Os indigenas resistiram como puderam a presenga europeia, mas 0 resultado © quase exterminio da populagao nati Francs Casta nie Guys, Se, XH, JE/AISP SP Fe: Non Toledo foi va. A miscigenagao, de certa forma, também contribuiu para isso, Muitos brasileiros sao descendentes dos indigenas que se uniram a pessoas de outras etnias através do casamento e nao se consideram indios. Quando os portugueses aqui chegaram, existiam cerca de 1.300 Iinguas in genas. Desse total, restam hoje em dia apenas cerca de 170 Iinguas. Isso da ideia grande redugiio que a populagdo indigena sofrew no Brasil. a 7 di da Hoje, a maior concentragao de populacdo indigena do Brasil encontra regifio amaz6nica, onde vivem cerca de 200 mil individuos (segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatfstica (IBGE), 2000). No Mato Grosso do Sul, ainda segundo o IBGE, vivem aproximadamente 54 mil indfgenas, nas aldeias ou fora delas. A maioria deles vive em reserva Alguns misturam-se aos marginalizados das grandes cidades, na condigao de indios desaldeados. Embora sejam poucos, existem, também, indigenas estudando nas universidades, oeupando cargos ptiblicos, trabalhando na cidade ou em propriedades rurais, Os tinicos indigenas que tém titulo de posse de suas terras siio os Kadiwéu, da Reserva da Bodoquena, drea de 373.024 hectares localizada no antigo municipio de Corumbi, Essa érea foi doada pelo imperador Dom Pedro TI como recompensa pela participagao do grupo na Guerra do Paraguai. Atualmente, segundo 0 Relatério do Senado Federal sobre Demarcagao de Terras Indigenas (2004), essa area foi ampliada para 538.535 hectares, sendo habitada também por outras etnias, localizando-se nos atuais municipios de Porto Murtinho e Corumba. Desaldeados: Indigenas que vivem fora de & si <_< : ‘ Memorial da Cultura Indigena, em Campo Grande (2000). O Memorial é formado pela oca central, feita de bambu, e pelo Conjunto Habitacional Marcal de Souza - a primeira aldeia urbana brasileira. A aldeia 6 habitada por familias que deixaram a mata, pertencentes a diversos povos - Kadiwéu, Kaiowé, Terena, Ofayé-Xavante. O Brasil [...] ainda de em seu territdrio, |... A imagem do indio conhecida pela populagéto é a do indio romédntico, a do conhece a imensa sociodiversidade indigena que existe indio selvagem [...]. E existe vdrias razdes para isto. A primeira é que existem poucos espagos para a expressdo dos indios no cendrio cultural e politico do pats. Vivendo a maioria deles em locais de dificil acesso, com condigdes quase que exclusivamente orais de comunicagdo ¢ falando geralmente apenas sua lingua, com dominio relativo do portugués, as diferentes etnias encontram dificuldades para se expressar no mundo dos ndo indios. Sua cultura e pontos de vista so tomados geralmente fora dos contextos onde vivem [...]. Basta mencionar, por exemplo, que das 206 etnias conhecidas [...], no maximo a metade, talvez, foi objeto de pesquisa [...] e a maior parte dos resultados [...] ndo esta publicada nem é acesstvel ou o é apenas em linguas estrangeiras. (Pita Amaral. Cagando © pescado, quereando fla: representagées sobre inc fetas por rancas de uma escola pica de primoro grau, na cidade de Sao Pauio (SP), Os Urbanitas, Revista Digtal de Antropologia Lrbar em: «http://www. aguaforte.convantropologia/osutbanitasvrevistaypovosindigenas.himls, Acessado er: 2 O estado de Mato Grosso do Sul conta com uma drea total de 35.054.800 hectares, enquanto a area de reservas efetivamente ocupada soma 50.506 hectares, 0 que corresponde a cerca de 0,2% das terras do estado. Existem outras areas indigenas além das reservas. A demarcacio das terras indigenas 6 uma constante fonte de conflitos entre os indios e os fazendeiros. Veja, no quadro a segui localizagio atual das terras indigenas de nosso estado. ocalizagao das terras indigenas Municipio Nome da terra Grupo indigena ‘Amambai Aideia Limo Verde Guarani-Keiowd Amambai Guarani-Kaiowa, : Guarani-Nandeva Jaguari Guarani-Kaiowé, Guarani-Nandeva Anasta Aideinha Terena Antonio Joao ‘Adela Campestre Guarani-Kaiowa Cerro Marangatu Guarani-Kaiowa Aquidauana Limao Verde Terena Taunay/ipegue Terena Aral Moreira Guasuti Guarani-Kaiowa Bela Vista Pirakuia Guarani-Kaiowa Brasilindia Ofayé-Xavante Ofayé-Kavante Caarapé Caarapé Guarani-Kaiowa, techs Guarani-Nandeva Guiraroka Guarani-Kaiowa 19 Municipio Nome da terra Grupo indigena Coronel Sapucai Sete Cerros Guarani-Kaiowa, wuarani-Nandeva a Taquaperi juarani-Kaiowé Corumba’ Guaté __ Guaté Camba Kamba Dois irmaos do Buriti —Buriti Terena @ Sidrolandi Douradina Panambi Guarani-Kaiowa Dourados: Dourados ‘Terena, Guarani-Kaiowa, Guarani-Nandeva Panambizinho ___Guarani-Kalowa Eldorado Cerrito Guarani-Nandeva, Guarani-Kaiowa Juti Jarara Guarani-Kalowa, ____Guarani-Nandeva Taquara Guarani-Keiowa Laguna Carapa km 20/Barrero Guasu Guarani-Kaiowa Unucuty Guarani-Kaiowa Maracaiu Suouriy Guarani-Kalowa Miranda Cachoeirinha Terena Lalima Terena ekinikinao i Nossa Senho’ Terena Pilacle Rebua Terena Mundo Novo Porto Lindo Guarani-Nandeva Nioaque Nioaque Terena Paranhos ‘Arroio Cord Guarani-Kaiowé Potreto Guagu Takuaraty/Ywykuarusu Ponta Pora Guaimbé Kal Guarani-Kaiowé rani-Kaiowa Guarani-Kaiowa Porto Murtinho Kadiwéu Kadiwéu, Kinikinawa, Terena Rochedo Agua Limpa Terena Sete Quedas Pirajut Guarani-Nandeva Sombrerito Guarani-Nandeva Sidrolandia Buritizinho. Guarani-Kaiowa_ Tacuru Jaguapiré Guarani-Kaiowé Sassor6 Guarani-Kaiowa Fonte: Instituto Socioambiental, 2000. FIQUE SABENDO Por meio de seus mitos, os indfgenas procuram explicar a criagdo do mundo animal, vegetal ¢ mineral. A mandioca 6 um alimento fundamental na dieta alimentar indigena. Leia, a seguir, um mito tupi da origem da mandioca. A mandioca A palavra mandioca significa “casa de Mani”. Segundo uma lenda tupi, a filha de um chefe indigena engravidou. Nasceu uma menina chamada Mani, que morreu com 1 ano de idade. De seu témulo, brotou um arbusto desconhecido. A terra entao se abriu, deixando & mostra as raizes da planta, que passou a ser conhecida como “mandioca”, que significa “a casa de Mani”. A mandioca é uma planta tipica de regiées quentes, sua raiz € muito nutritiva. Existem diversas an Coat variedades de mandioca, entre elas a mandioca-brava, que é venenosa. A farinha seca é um dos principais produtos provenientes da mandioca e 6 obtida ralando-se a mandioca descascada. Depois de ralada, a mandioca é espremida para que seja retirada a égua. Até hoje os indfgenas usam grandes vasilhas rasas e redondas para assar a massa seca. A tapioca e o polvilho sto outros produtos obtidos a partir da mandioca. ATIVIDADES 1. Observe o mapa da pagina 13 que mostra a entrada dos primeiros grupos humanos na América. Segundo a teoria mais aceita, como isso aconteceu? 2. O Brasil foi descoberto pelos portugueses em 1500, porém ele ja era habitado muito antes disso. Procure no texto elementos que comprovem essa afirmativa. 3. Onde foram encontrados os sinais mais antigos da presenga humana em territorio sul-mato-grossense? Quanto tempo eles tem? 4. Veja a foto que mostra os desenhos pré-histdricos feitos na rocha em An- tonio Joao (pagina 15). Por que é importante o estudo desses registros? 5. Faca uma historia em quadrinhos mostrando algum aspecto do modo de vida dos primeiros habitantes de Mato Grosso do Sul. 6. Com base nas informacées do texto, faga um desenho de um indio Guai- curu, ressaltando nele suas maiores habilidades. 7. Abaixo vocé encontrara um importante tema para discussao em grupo. Cada grupo deve anotar suas conclusdes para depois apresenta-las para a classe. Tema: Como explicar que havia 5 milhdes de indigenas no Brasil quando os portugueses aqui chegaram e hoje restam apenas cerca de 700 mil? 8. Observe 0 quadro “Localizagao das terras indigenas” e responda as per- guntas a seguir: © Existem aldeias e grupos indigenas situados em seu municipio ou em municipios vizinhos ao seu? Quais sao eles? Como vivem? 9. Em diferentes épocas, as tatuagens tém significados diversos, podendo até despertar preconceitos e discriminagéo. Relacione os desenhos corporais dos indigenas com as tatuagens modernas. 40. Observando a foto da pagina 16, identifique as mudangas ocorridas no modo de viver dos indios. \Vocé sabe dizer quais sao elas? Anote-as e compare com as respostas dos seus colegas. 41. Lendo o texto complementar de Rita Amaral, vocé pode conhecer a imagem que o Brasil faz do indio, segundo a autora. Qual a imagem que vocé tem do indio de Mato Grosso do Sul? 42. Vocé encontrara neste livro algumas palavras de origem indigena. Fa- ca uma pesquisa em dupla sobre outras palavras da mesma origem. Anote-as em seu caderno e coloque ao lado o significado de cada uma delas. Veja alguns exemplos: Catapora — fogo que salta. Mandioca — casa de Mani. Itapora — pedra bonita. Tereré - mate preparado Jaca — cesto feito de taquara ou de cipé com agua fria. Capitulo 3 O sonho das descobertas ) ’ | LIB o Vocé jé teve 0 sonho de conhecer outros lugares? Pois nunca houve sonho que tanto seduzisse os homens como o de superar os limites do mundo conhecido e fazer novas descobertas ae vie —aighipyTy % /\H AVSTRALLE mx Ts te Neste mapa da América do Sul, desenhado em 1550, 0 artista representou, com imaginagao e fantasia, a chegada dos europeus e a resisténcia dos indigenas. Navegar, no século XV, significava langar-se & aventura e correr todos os riscos. Nessa época, os dois paises com maiores conhecimentos de navegagio e com mais condigdes econdmicas para financiar expedigdes maritimas eram Espanha e Portugal. O objetivo principal dos espanhis ¢ portugueses era chegar até as Indias, lugar de onde provinham mercadorias muito consumidas pelos europeus, como tecidos, joias e perfumes. Sobretudo, era das ndias que vinham as especiarias. Naquela 6poca, nao ha- via geladeiras, como hoje, e usavam-se especiarias para temperar e conservar ali- mentos, prineipalmente cames. As mais cobigadas eram a pimenta-do-reino, a canela, © cravo-da-india, o gengibre, o anis e a noz-moscada. Cobicada: Desejada. 24 » lucra- Seu comércio era tivo que motivou as chamadas éeulos Grandes Navegages dos s XV e XVI. Assim ficou conheci- do esse perfodo histérico, mar- cado por muitas descobertas e — Especiarias: noz-moscada, sementes de mostarda, cravo, canela e pimenta-do-reino. Sei Dit Te Nex conquistas de novas terras. Os portugueses fundaram em Sagres, no sul do pais, um importante centro de estudos dedicado ao desenvolvimento da navegagao. Para ld dirigiram-se pesquisa- italianas de Veneza e dores de varios lugares da Europa, inclusive das cidad Génova. Lé eles conseguiram aperfeigoar uma embarcagi viagens em alto-mar: a caravela. 0 apropriada para as Os homens que viajavam em uma caravela precisavam de coragem para atra- vessar 0 Atlantico, como hoje os astronautas precisam dessa coragem para langar- -se ao espaco. As viagens eram longa s € perigosas, sendo que mais da metade dos que embarcavam nio retornava. Havia muitos naufragios, e era comum a morte por doengas, como 0 escorbuto e a célera. Escorbuto: Doenga causada pela caréncia de vitamina ©, que provoca hemorragias. Célera: Doenga infecciosa agudle, contagiosa, ccaracterizada por dlarreia abundante, grande fraqueza e caibras, Em navios a vela parecides com este os navegadores portugueses atravessaram o Atlantico e 0 Indico, aleangando terras da América, da Attica e da Asia nos séculos XV e XVI. ans Doerr) See 0 Como a 4gua do mar nao serve para beber por ser muito salgada, 0 navio transportava grande quantidade de barris ¢ pipas com agua doce. A distribui da gna e da comida para os marinheiros ¢ oficiais tinha de ser racionada, pois os mantimentos precisavam durar até o final da viagem. ‘Agua doce: ‘Agua que no contém grandes quantidades de cioreto de séalo e outros sais; Agua das chuvas, das nascentes e dos ros. Racionada: Distribuida com critério, de acordo com regras. O caminho para as indias Para chegar as {ndias, os portugueses e os espanhdis fizeram caminhos dife- rentes. Os espanhéis optaram por seguir na diregao Oeste. Os soberanos espanhéis Fernando e Isabel financiaram a viagem de Colombo, um habil navegador genovés. Ele assegurava que a melhor maneira para se chegar as [ndias era navegar para o Ocidente, e no para o Oriente, como pensavam os portugue: A expedigaio de Colombo era pequena ¢ contava com trés earavelas. No dia 12 0, chamou os habitantes que li encontrou de indios. Na verdade, Colombo havia descoberto um novo continente, a América. Jéos navegadores portugueses esperavam atingir as Indias indo na diregao Leste do pelo oceano Atlintico e pelo Indico. E assim fizeram. Em 1488, consegui- ram contomar 0 extremo sul do continente africano e, finalmente, em 1498, o navega- dor portugués Vasco da Gama conseguiu chegar & cidade de Calicute, nas fndias. de outubro de 1492, ele chegou a um lugar que imaginou ser as {ndias e, por i Essa descoberta do caminho maritimo para as {ndias entusiasmou os comer- ciantes e 0 rei de Portugal, pois abriu-lhes a possibilidade de conseguir grandes lucros com 0 coméreio das especiarias ¢ demais mercadorias orientais. Assim, em 8 de marco de 1500, partia do Tejo, em Portugal, Pedro Alvares Cabral com treze naus € 1.500 homens. Essa era a maior esquadra até ent&o en- viada pelos portugueses ao Oriente. Entretanto, embora a frota devesse navegar para o Leste, la rumou para o Oeste e, em 22 de abril do mesmo ano, os marinhel- aram as costas das terras que mais tarde seriam chamadas de Brasil. Ao desembarcar em Porto Seguro, no litoral do atual estado da Bahia, Cabral tomou posse daquele territério em nome de Portugal. FIQUE SABENDO Na esquadra comandada por Cabral estava também o escrivio Pero Vaz de Caminha, que relatou tudo 0 que viu durante aviagem e depois enviou a carta ao rei de Portugal. Veja sua impr primeira vez: Jio sobre os indfgenas brasileiros quando os viu pela Dali avistamos uns homens que andavam pela praia. Eram uns sete ou oito [...]. A pele deles é parda, meio avermelhada, Eles tém bons rostos e narizes; e sdo benfeitos. Andam nus, sem nada que cubra seus corpos [...]; e s@o tdo inocentes ni: mostrar o rosto. Ambos tinham os labios de baixo furados e metido neles um osso branco verdadeiro [...]. Eles os colocam pela parte de dentro do labio, ¢ a parte que fica entre o ldbio ¢ os dentes é {feita como uma torre do jogo de xadreze é encaixada de maneira que nem os atrapalhe ao falar, comer ou beber: 9 isos e raspados até para cima das orelhas |..] (Poliana Asturian © Rodval Matias. A carta de Pero Vaz de CCaminha: versdo ilustrada em linguagem atual S40 Paulo: FTD, 1999. p. 25-28.) 0 como ao que ndo os mac Os cabelos del uma Aves dos Saree Mare FarecAcersritto Menira Slo sale _ Mi y Soa O menino indigena, fotografado por volta de 1880, e o adulto Guarani-Kaiowé (Paulito Aquino, da aldeia Panambizinho), fotografado em 2000, usam no lébio 0 tembeté, peca semelhante 4 que foi descrita na carta de Caminha 27 A divisao das novas terras Vocé jé deve ter acompanhado, pela TV ou pelos jornais, conflitos entre pafses sobre a posse de territérios e tentativas fracassadas de acordos. No século XV, Portugal e Espanha disputavam os novos territérios. Os portugueses, que jé vinham realizando expedig&es maritimas pelo oceano Atlantico desde o comego do século XY, acreditavam ter direito sobre as novas terras encontradas por Colombo e apossadas pela Espanha. Para evitar conflitos, Portugal e Espanha fizeram um acordo, dividindo entre si as terras descobertas ou por descobrir. Em 1494, foi assinado um tratado, na cidade espanhola de Tordesilhas, que estabelecia uma linha imaginéria, o meridiano de Tordesilhas, situada a 370 léguas (aproximadamente 2 mil quilémetros) das ilhas de Cabo Verde. Ficaram entao demarcados 0s territ6rios de Portugal e da Espanha: as terras a Leste do meridiano pertenceriam a Portugal, ¢ as terras a Oeste seriam da Espanha. Imaginérie Criada pela imaginagao. De acordo com o Tratado de Tordesilhas, firmado, como vimos, seis anos an- tes de Cabral chegar ao Brasil, parte do atual territ6rio brasileiro j4 pertencia aos portugueses, € 0 restante aos espanhdis. Como vocé poderd observar no mapa a seguir, o atual territério sul-mato-grossense situava-se em dominio pertencente a Espanha, visto que a linha imaginaria ia da atual cidade de Belém do Paré a Laguna, em Santa Catarina. [cic Franco ATIVIDADES 1. Por que Portugal e Espanha foram os dois paises que iniciaram as Gran- des Navegagdes? 2. Que importancia tinham as especiarias na Europa do século XV e de onde elas eram trazidas? 3. Pergunte em sua casa como as especiarias (cravo, canela, gengibre, pimenta-do-reino, anis, noz-moscada) so utilizadas para temperar alguns dos alimentos que vocé come. Anote tudo e conte para sua classe. 4, Para encontrar um caminho maritimo para as Indias, os navegadores portugueses e os navegadores espanhdis fizeram op¢Gdes diferentes. Explique cada uma delas. 5. Construa uma linha do tempo onde constem as seguintes datas: 1492, 1494, 1498 e 1500, Em seguida, localize nela os fatos que correspondem a cada data. 6. Para que foi firmado o Tratado de Tordesilhas (1494) entre Portugal e Espanha? 7. Se 0 Tratado de Tordesilhas tivesse sido respeitaco pelos portugueses, que lingua estariamos falando hoje em Mato Grosso do Sul? Por qué? 8. Sob o ponto de vista dos europeus, a América foi descoberta por eles. Em sua opiniao, qual seria o ponto de vista dos indigenas? 9. O que a viagem de Cabral mudou na vida das pessoas que viviam no : Brasil (os indigenas) e em Portugal (os europeus)? 10. Os navegadores do século XV sonhavam com 0 desconhecido. Imaginavam o que existiria do outro lado do oceano Atlan- tico. Tiveram de enfrenta-lo para des- cobrir que la havia novas terras e se- res humanos como eles. Escreva em seu caderno sobre algumas grandes aventuras que vocé gostaria de realizar e explique por que vocé as considera in- teressantes. Em seguida, apre- sente-as a seus colegas para conversarem sobre elas. 11. Observe o mapa e responda: Qual a cor da regiéo fornecedora de especiarias? Qual a cor do caminho percorrido por Vasco da Gama para chegar as Indias? Em que cor esta assinalada a viagem de Colombo? Em que cor esta assinalada a viagem de Cabral? Qual a cor da Africa, continente que os portugueses tiveram de contor- nar para chegar as Indias? Qual a cor do continente americano, descoberto por Cristovao Colombo? Em que cor esta assinalada a linha do Tratado de Tordesilhas? wa Capitulo 4 A colonizacao da América Os espanhéis na América Ainda hoje, as riquezas de um pats despertam a cobiga de outros, que procuram controlé-las As vezes pela forga, outras pela influéncia politica. Isso se aplica ao petréleo, as minas de diamantes, ds reservas de minerais, como ferro e manganés, e até a Amazonia. Entre os séculos XVI e XVIII, acreditava-se que a riqueza de um pajs era medida pela quantidade de ouro ¢ prata que ele possufsse, Por isso, explica-se a enorme avidez dos conquistadores europeus pela busca de metais preciosos nas novas terras descobertas. Avidez: Ambica , ansiedade, nas suas colé- Os espanhéis encontraram metais preciosos em abundanc’ nias americanas, logo que nelas chegaram em 1492. Por essa azo, a minera- do foi a atividade econémica mais importante da economia colonial espanhola até o século XVIIL Nas Antilhas, por meio do trabalho eseravo indigena, foi extrafda uma grande quantidade de ouro, prontamente enviada & Espanha na forma de impostos para enriquecer os cofres do rei. Porém, o grande impulso & mineragiio na América espanhola ocorreu quando os conquistadores espanhéis dominaram os impérios Inca e Asteca na primeira metade do século XVI. Af foram descobertas as riqufssimas minas de prata nas regides de Potosi (Bolivia) e de Zacatecas (México). A exploragao das minas era autorizada pelo rei aos colonos espanhdis na ‘América em troca do pagamento de taxas. Essas taxas cobradas sobre a minera- cao foram a principal forma de arrecadagio de riquezas da Coroa espanhola até o século XVIII. Os povos que habitavam as regides da cordilheira dos Andes (oeste da América do Sul) na época da chegada dos espanhdis tinham uma agricultura muito desenvolvida. Eles cultivavam muitas variedades de batata e também milho, feijéo, amendoim, mandioca, pimentéo, algodao e varias espécies de frutas, verduras e cereais.O desenho, feito por um escritor da época, mostra 0 imperador acompanhando a inicio do plantio. Os agricultores usam um pau de plantar com apoio para 0 pé. onan PIAS Fyne En EP Nuova Cordray Ben Govero,TS/616 Em torno das zonas mineradoras, desenvolveram-se também a agricultura e a criagdio de animais para abastecé-las. Porém, além desse comércio interno, os colonos tinham também interesse na venda de produtos agricolas para o mercado europe. Cultivavam-se as plantas nativas da América, como batata, milho, tabaco e cacau, por exemplo, mas também aquelas introduzidas pelos europeus, como a cana-de-agticar, icanos tanto nas ativida- des agricolas como nas de minerag&io. Uma das formas de exploragio foi a Os colonos exploraram o trabalho dos indfgenas ame “encomienda”, principalmente na agricultura. O rei espanhol permitia ao colono a utilizagao do trabalho de indigenas em suas terras. Em contrapartida, os trabalha- dores deveriam receber instrugao religiosa e comida, 0 que, no entanto, nem sem- pre era cumprido. Nas minas, os indigenas eram obrigados ao trabalho por meio da “mita”. As autoridades espanholas enviavam &s minas de prata trabalhadores (os mitayos) que deveriam, temporariamente, servir aos colonos em troca de um pagamento de valor muito baixo ou mesmo como es\ fe Haters nee ole Cuzco foi o centro politico e religioso do império Inca, até sofrer o dominio espanhol, em 1533. 33

Você também pode gostar