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WBA0706_v1.

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Aline Coelho Macedo

Bráulio Nascimento Lima

Fisiologia do Exercício

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Daniella Fernandes Haruze Manta
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Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Lima, Bráulio Nascimento
L732f Fisiologia do exercício/ Bráulio Nascimento Lima,Aline
Coelho Macedo – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A. 2019.
119 p.

ISBN 978-85-522-1578-3

1. Educação Física,. 2. Fisiologia do exércicio. I.


Lima, Bráulio Nascimento. II. Macedo, Aline Coelho.
Título.

CDD 612
____________________________________________________________________________________________
Thamiris Mantovani CRB: 8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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Fisiologia do Exercício

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina___________________________________________________ 05

Bioenergética________________________________________________________________ 06

Metabolismo do exercício____________________________________________________ 25

Respostas Hormonais ao Exercício __________________________________________ 42

Cálculo metabólico __________________________________________________________ 67

Neurofisiologia e Exercício_______________________________________________ 88

Fisiologia Cardiovascular, Endócrina e Respiratória__________________________111

Treinamento Físico e Prescrição______________________________________________ 132


Apresentação da disciplina

Olá caros alunos, sejam bem-vindos!

A disciplina Fisiologia do Exercício é fundamental para a formação


do profissional que estuda o movimento humano. Quanto mais
aprofundados forem os seus conhecimentos, maior será o seu
diferencial para o mercado de trabalho.

Aqui abordaremos o funcionamento de diversos sistemas do organismo


humano, como eles interagem, quais respostas eles geram para cada
estímulo e quais os mecanismos de respostas à atividade física e ao
exercício físico. Espero que gostem da disciplina, desejo bons estudos
para você!

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Bioenergética
Autora: Aline Coelho

Objetivos

• Entender como ocorre a produção aeróbia e


anaeróbia de ATP;

• Esclarecer o metabolismo do ácido láctico e de


proteínas;

• Estudar os mecanismos de recuperação


pós-exercício.
1. ATP, a energia para a célula

Imagine que você acabou de se matricular em uma academia e que


nesta situação seus músculos vão precisar de muito mais energia do que
normalmente utiliza em suas atividades rotineiras, pois precisam gerar
muito mais força com mais frequência. Em qualquer atividade há um
gasto energético, até mesmo quando estamos dormindo.

Estudos apontam que durante um esforço físico o gasto calórico pode


aumentar mais do que quinze vezes em relação à condição de repouso.
Leve em consideração que no exercício físico há uma intensa atividade
muscular com ciclos de contração e relaxamento, em um processo
que requer grande demanda energética para mantermos nosso
metabolismo. O termo metabolismo está relacionado aos processos
químico-físicos que ocorrem em nossos sistemas e que garantem
nossa homeostase em processos, que vão desde os mais básicos, como
respirar, até os mais complexos, como correr uma maratona.

A energia que tanto precisamos e que é liberada em grande quantidade


quando nos exercitamos gerando calor é obtida através da alimentação,
sendo assim, não comemos apenas para nos satisfazer e obtermos
prazer, mas também, e, em grande parte, porque a energia adquirida
através dos alimentos precisa ser transformada em um composto
denominado trifosfato de adenosina (ATP), para que consiga ser
aproveitada pelo organismo, ou mais precisamente pelas nossas células.

O cérebro é fundamental para o planejamento dos movimentos, para


a realização da maioria das nossas reações químicas e em grande
parte responsável por manter a disponibilidade da energia obtida na
alimentação no organismo como um todo. Para que seja garantido um
bom funcionamento do sistema nervoso central, a glicose não pode
faltar como principal combustível. Trata-se de um combustível obtido
principalmente a partir da ingestão de carboidratos e que promoverá a
integridade do sistema nervoso.

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Quando a ingestão de carboidratos não supre a demanda, ou quando
o gasto calórico é maior do que o ganho, o organismo começa a
mobilizar o tecido adiposo para garantir o suprimento energético. Após
a utilização dessa reserva, o organismo passa a utilizar proteínas como
fonte energética, alterando o pH sanguíneo, tornando-o mais ácido
pela formação de corpos cetônicos. Essa situação não pode manter-se
por um período prolongado, pois à medida que as reservas proteicas
se esgotarem, as células perderão seu suprimento, levando o ser vivo a
falências e morte.

A seguir, você estudará a respeito dos mecanismos e reações químicas


envolvidas na produção do ATP em situações de atividades aeróbias
(na presença de oxigênio) e anaeróbias (na ausência de oxigênio)
para que as células o possam aproveitar em suas atividades. Também
estudará acerca dos mecanismos de recuperação pós-exercício e
restabelecimento da situação de repouso.

Vamos começar?

1.1 ATP e sua responsabilidade no armazenamento de energia

Todos os seres vivos são constituídos de células e estas são suas


unidades biológicas e funcionais. As células formam os diversos tecidos
constituintes de seus órgãos, que por sua vez formam sistemas que
funcionam em conjunto para manter a homeostasia do organismo. Para
que consigam realizar a manutenção do metabolismo, as células passam
por inúmeras reações químicas, muitas dependentes de energia.

Dentro desse contexto, o ATP é fundamental para qualquer


organismo vivo, tendo em vista que ele é o principal responsável pelo
armazenamento da energia necessária à atividade celular. O ATP é
presente no citoplasma e nucleoplasma de todas as suas células, de
forma que toda a energia necessária para sua atividade é derivada

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desse composto, considerado energia circulante, porque é adquirido e
consumido de maneira constante.

PARA SABER MAIS


ATP é a sigla que indica a molécula de Adenosina trifosfato
ou Trifosfato de adenosina, considerada a principal fonte
de energia química existente. Essa molécula sofre hidrólise,
ou seja, é decomposta pela ação da água e com isso libera
grande quantidade de energia livre.

Sob o ponto de vista estrutural, o ATP é composto por três grupos


fosfato, cada um consistindo em átomos de fósforo e oxigênio (PO 43-) e
uma molécula de adenosina gerada por adenina e ribose. Este composto
é derivado de nucleotídeo, no qual a adenina representa a base e a
ribose representa o açúcar. Existem ligações energéticas que mantêm os
segundos e terceiros radicais de fosfato presos ao ATP (Figura 1). Grande
quantidade de energia é liberada pelo ATP quando há adição de uma
molécula de água, ou seja, quando ele sofre hidrólise.

À medida que ocorre o desligamento do terceiro radical fosfato do ATP


por meio da hidrólise, existe uma liberação daquela energia contida
na ligação que o mantinha interligado. Quando o fosfato terminal é
removido, a molécula modificada resultante é o ADP (difosfato de
adenosina) e 7.3 Cal (kcal) de energia livre, essa reação é catalisada pela
enzima adenosina trifosfatase. A energia liberada nesse processo é a
mesma utilizada nas atividades celulares para qualquer atividade que
esteja fazendo, por exemplo a atividade que você está realizando agora,
que é ler este capítulo.

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O ADP é formado através da catálise pela enzima ATPase, liberando um
íon fosfato (Pi) e aproximadamente 7,3 kCal de energia livre por mol de
ATP hidrolisado para ADP.

Se associarmos diretamente a utilização do ATP pelas células


musculares, concluímos que a energia liberada é utilizada na ativação de
proteínas contráteis, resultando no processo de contração muscular.

Figura 1 – ATP, a moeda energética

Fonte: ttsz/ istock.com

Após a liberação da energia do processo em que o ATP foi reduzido


a ADP, é necessário mais energia para ser liberada e consumida pela
célula. Deste modo é possível imaginar que talvez o ATP fornecido
poderia não ser suficiente, nesse caso, há um mecanismo de
reabastecimento do ATP através da adição de um grupo fosfato ao ADP.

Produzir ATP é necessário para as atividades celulares, mas é um


processo que requer energia para ocorrer. A energia que será utilizada

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para a síntese de ATP é obtida através da respiração celular. Quando
estamos realizando algum tipo de exercício, os movimentos são resultado
de uma constante atividade muscular em um processo que requer grande
quantidade de energia.

A cisão do ATP ocorre na ausência do oxigênio e libera energia para que


seja utilizada de maneira imediata, isso ocorre porque nosso metabolismo
energético não necessita de oxigênio o tempo inteiro. Em suma, o ATP
pode ser gerado na presença e na ausência do oxigênio e libera a energia
necessária a atividades de intensidade e duração distintas, pois cada tipo
de exercício requer um sistema específico de transferência de energia.

De maneira geral, pensando em um nível molecular, os exercícios podem


ser divididos em duas categorias gerais: aeróbicos e anaeróbicos. A
diferença entre as duas categorias reside no fato de que em exercícios
aeróbios, o esforço empregado na atividade é sustentado, assim o corpo
deve ter oxigênio o suficiente para oxidar as moléculas e obter energia,
um exemplo dessa atividade é uma agradável caminhada no parque.

Já em exercícios anaeróbios, a energia deve ser gerada na ausência de


oxigênio, envolve exercícios de explosão e curta duração, por exemplo, o
levantamento de peso. Nos dois tipos de exercícios citados o combustível
utilizado para a geração do ATP irá diferir conforme veremos em
detalhes adiante.

2. Sistemas de produção do ATP

Na musculatura, os sistemas metabólicos presentes são exatamente


os mesmos encontrados em outras células do organismo. Em geral, os
sistemas trabalham em conjunto e em etapas.

No exercício físico, existe um consumo intenso de ATP com um


incremento de mais de dez vezes, dependendo da atividade. A

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contribuição de cada substrato específico para a síntese de ATP tem
variação de acordo com a intensidade e a duração de cada exercício.
O entendimento de cada um desses sistemas de geração de energia é
fundamental para a compreensão do limite existente em cada tipo de
exercício.

ASSIMILE
Exercícios considerados como aeróbios utilizam o
oxigênio como fonte de queima dos substratos que irão
gerar energia para a atividade muscular. Esses exercícios
apresentam uma longa duração e exigem muito da
capacidade cardiovascular do indivíduo. Os exercícios
anaeróbios, por sua vez, não utilizam o oxigênio como fonte
de queima dos substratos, apresentam uma curta duração,
porém uma elevada intensidade.

De forma mais específica, na musculatura esquelética existem sistemas


eficazes para constante ressíntese do ATP, esses sistemas são o da
fosfocreatina, glicólise e fosforilação oxidativa. Vamos estudar adiante os
três sistemas.

2.1 Produção anaeróbia de ATP

2.1.1 Sistema do fosfagênio

Conforme explanado, o ATP pode ser sintetizado na ausência


de oxigênio, gerando a quantidade de energia suficiente para
utilização imediata. Desse modo, quando há a necessidade de uma
quantidade energética mais elevada que aquela que pode ser gerada
aerobicamente, a liberação da energia aeróbia pode aparecer como

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uma potência auxiliar. As células não são capazes de armazenar grandes
quantidades de ATP e este precisa ser constantemente ressintetizado à
medida que é utilizado pelo trabalho celular.

A partir do momento que a célula tem um aumento em sua demanda


energética há uma alteração no equilíbrio da quantidade de ATP e
ADP que estimula a ressíntese de ATP. Há um aumento na velocidade
de transferência energética de até 120 vezes quando a pessoa passa
de uma posição sentada para um pique explosivo. Conforme eleva-
se a necessidade energética proporcionalmente à intensidade do
exercício, o aporte de ATP também deve acompanhar a demanda e ser
ressintetizado de uma forma mais veloz.

Uma parte da energia a ser utilizada na ressíntese do ATP é proveniente


da hidrólise da fosfocreatina (PCr). A PCr libera muita energia quando
são rompidas as ligações entre as moléculas de creatina e fosfato.

A seguir está representada a utilização energética das ligações na PCr.


A hidrólise da PCr utiliza ADP e Pi para gerar o ATP. A hidrólise da PCr é
catalisada pela enzima creatinoquinase. Tendo em vista que essa enzima
tem uma velocidade de atividade muito alta, o ADP é fosforilado muito
mais rápido do que quando comparado à transferência de energia sem
a presença de oxigênio, através da glicose armazenada na musculatura
em forma de glicogênio muscular.

A reação acima não necessita da presença de oxigênio e a produção


máxima de energia é alcançada em aproximadamente dez segundos.
Nesse momento você deve estar imaginando, “E se o esforço máximo
ultrapassar a duração de dez segundos?” Nesse caso, a ressíntese

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do ATP será realizada a partir da energia proveniente da catálise de
macronutrientes armazenados.

Existe uma outra reação que ressintetiza o ATP, denominada reação


de adenilatoquinase, nesse caso a enzima adenilatoquinase catalisa
a reação em que duas moléculas de ADP dão origem a uma molécula
de ATP e uma molécula de AMP (monofosfato de adenosina),
exemplificada abaixo:

Tanto a creatinoquinase quanto a adenilatoquinase apresentam a


capacidade de aumentar de forma rápida a produção energética com
disponibilização do ATP e produzir o ADP, Pi e AMP que ativam as vias da
mitocôndria e os estágios iniciais do catabolismo.

2.1.2 Sistema do Glicogênio – Ácido Láctico

A glicose é armazenada na musculatura sob a forma de glicogênio


muscular, e esta pode ser utilizada para a obtenção de energia com a
síntese de ATP. Nesse sentido, o primeiro passo é denominado glicólise,
cujos resultados levam à degradação da glicose. Esse processo ocorre
totalmente na ausência de oxigênio e a energia liberada resultante é de
quatro moléculas de ATP para cada molécula de glicose.

Na mitocôndria, organela responsável pela respiração celular, há a


penetração do ácido pirúvico e a reação deste com o oxigênio é capaz
de gerar ainda mais moléculas de ATP. Entretanto, imagine que não haja
oxigênio para essa segunda etapa, chamada oxidativa, acontecer, o que
ocorre com o ácido pirúvico? Não é tão difícil responder a esta pergunta,
o ácido pirúvico, resultante da glicólise, sofre conversão em ácido láctico
e é difundido das células musculares para o sangue e interstício.

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Se levarmos em consideração a velocidade de formação de moléculas de
ATP, é válido afirmar que o sistema do glicogênio – ácido láctico é duas
vezes e meia mais rápido que o mecanismo oxidativo mitocondrial.

No momento da realização do exercício uma parte do lactato sintetizado


na musculatura esquelética alcança o fígado via corrente sanguínea
e é convertido em glicose pela gliconeogenese. Assim, a glicose
recentemente sintetizada pode retornar à circulação e ser armazenada
novamente na musculatura esquelética para ser utilizada como fonte
energética em outras circunstâncias que envolvam a realização de
atividade física. Esse ciclo entre musculatura e fígado é denominado
Ciclo de Cori (Figura 2).

Figura 2 – Ciclo de Cori

Fonte: SCOTT e HOWLEY, 2000.

2.2 Produção aeróbia de ATP

O ATP também pode ser obtido através do metabolismo aeróbio


que se relaciona com a oxidação de substrato nas mitocôndrias para

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que a energia possa ser obtida. Imagine que você estava sentado e
agora resolveu levantar-se e fazer atividade física, nesse momento
a atividade já está durando três minutos. A partir de agora o seu
músculo já consegue se suprir de oxigênio e na atividade ocorre uma
predominância da obtenção de energia pela via oxidativa.

Em comparação com os outros sistemas geradores de ATP, o oxidativo é


mais complexo, mais lento que os sistemas anaeróbios e apresenta uma
baixa produção de energia, entretanto, sua capacidade é quase ilimitada,
permitindo que a atividade se mantenha até por horas, estando apto a
fornecer energia para ressíntese do ATP constantemente. Em situações
de esforços de longa duração com intensidade leve ou moderada, o
glicogênio é preservado para haver uma maior utilização dos ácidos
graxos como substrato.

Na fosforilação oxidativa há a síntese do ATP através de uma corrente


de transporte de elétrons, de modo a formar um gradiente de prótons
através da membrana mitocondrial interna.

Mais precisamente, nesse tipo de metabolismo, a molécula de ATP


é formada na mitocôndria com a presença de oxigênio a partir da
oxidação de carboidratos, lipídios e proteínas oriundas da musculatura
e da corrente sanguínea. Os produtos finais de todo esse processo são
constituídos por ATP, CO2, H2O, radicais livres e calor.

Os macronutrientes como carboidratos, lipídeos e proteínas são


obtidos através da alimentação e da sua oxidação, tal processo oferta
continuamente átomos de hidrogênio proporcionados através do
catabolismo destes. Nas mitocôndrias existem algumas moléculas que
retiram elétrons do hidrogênio (oxidação) e transferem para o oxigênio
(redução), e exatamente a partir dessas reações é sintetizado o ATP.

A coenzima nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD +) aceita os pares


de elétrons oriundos do hidrogênio. O substrato é oxidado e cede

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hidrogênios, no entanto, o NAD+ ganha hidrogênio e dois elétrons e é
reduzido para NADH. A flavina adenina dinucleotideo (FAD) também
é aceitadora de elétrons, recebe os hidrogênios e se transforma em
FADH2. Essas reações geram moléculas altamente energéticas.

A glicólise é o primeiro estágio do metabolismo da glicose e esta quebra


da glicose gera ATP, nesse caso, cada molécula de glicose com seis
carbonos passa por algumas transformações por diversas enzimas
distintas. No final a glicose é clivada em duas partes em que cada uma
gera duas moléculas de piruvato com três carbonos.

O piruvato gerado a partir de glicose e glicogênio é transportado para


o interior da mitocôndria e convertido em oxalacetato. Isso porque o
piruvato perde dióxido de carbono gerando a acetil-CoA, esta consiste
em uma molécula de 2 carbonos ligada a um portador (coenzima A).
Quando a acetil-CoA é oxidada em dióxido de carbono no ciclo de Krebs,
a energia química é liberada e capturada sob a forma de 3 moléculas
de NADH, 1 molécula de FADH2 e 1 molécula de ATP. O ciclo começa e
termina com o oxaloacetato.

O acetil-CoA também é oriundo da beta oxidação ou oxidação β de


ácidos graxos. O acetil-CoA e o oxaloacetato geram citrato através da
enzima Citrato sintetase (CS).

O citrato gerado a partir do ciclo de Krebs é parcialmente transportado


para o citoplasma. O oxoglutarato é convertido em glutamato e este
em glutamina. Assim, nesses dois mecanismos, há perda contínua de
esqueletos de carbono do ciclo de Krebs. Em consequência, a geração
de oxaloacetato é uma etapa importante para manter a atividade
deste ciclo.

Se considerarmos o ciclo de Krebs unicamente, não há a geração de ATP,


mas, GTP, NADH e FADH2, utilizados na geração de ATP.

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No esquema a seguir estão representados os sistemas de transferência
de energia vistos até agora:

Figura 3 – Sistemas de transferência de energia

Fonte: Elaborado pela autora

2.3 Metabolismo de proteínas

Ao contrário da glicose e dos ácidos graxos, os aminoácidos não são


constantemente utilizados para a obtenção de energia, na verdade,
a utilização desse substrato é mais preponderante em situações de
jejum prolongado e exercício físico de longa duração.

Em geral não possuímos estoques de proteínas, porém estas estão


presentes na maioria dos alimentos. Quando as proteínas são
clivadas em seus aminoácidos constituintes podem ser utilizados
pelos músculos e pelo fígado. Os aminoácidos são quebrados em
intermediários do ciclo de Krebs ou Acetil-CoA e então entram no
ciclo de Krebs. Os aminoácidos preferencialmente oxidados pela
musculatura são leucina, isoleucina e valina.

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Os aminoácidos dependem do ciclo do ácido cítrico para serem
oxidados completamente e podem ser metabolizados de forma
aeróbia. Entretanto, para que qualquer aminoácido possa entrar
no ciclo do ácido cítrico e possa exercer seu papel de combustível,
o grupo amina precisa ser removido (-NH3), pois o acúmulo de
nitrogênio é altamente tóxico para tecidos e células. Esse processo
ocorre no fígado em que a molécula -NH3 é convertida em ureia e é
excretada.

A oxidação das proteínas é mais eficiente que a de carboidratos sob


o ponto de vista energético, entretanto a eliminação do nitrogênio
de sua estrutura necessita muito gasto de energia. Sendo assim, a
quantidade de energia proporcionada pela utilização de proteínas
torna-se semelhante ao de carboidratos (4,1 kCal/g).

Para recapitular acerca das fontes energéticas, lembramos que


o ATP e a fosfocreatina são as fontes de combustível iniciais a
qualquer atividade física e seus estoques esgotam rapidamente,
assim a glicose precisa ser degradada através da glicólise e então
através do metabolismo anaeróbio pela fermentação, ou através do
metabolismo aeróbio pelo ciclo de Krebs, gerar condições para uma
atividade aeróbia por um período maior, no qual uma quantidade
elevada de ácidos graxos é mobilizada. Os aminoácidos não são
fonte combustível preferencial e colaboram de forma modesta com o
metabolismo aeróbio, mas são utilizados em situações específicas de
jejum prolongado e alta demanda energética.

2.4 Recuperação pós–exercício

Dentro de qualquer programa de condicionamento físico, a


recuperação pós-exercício é de fundamental importância,, tanto para
os atletas quanto para os profissionais envolvidos no treinamento

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físico e na manutenção da saúde, uma vez que visa reestabelecer o
equilíbrio dos sistemas orgânicos.

As sessões de treinamento podem prejudicar o desempenho dos


praticantes de atividade física por minutos, horas ou por dias. A
recuperação envolve a reposição do glicogênio muscular (em até 24
horas após a atividade exaustiva), e também envolve a reparação das
lesões musculares inflamatórias.

Alguns protocolos de recuperação pós-exercícios melhoram a


resposta de substâncias que possuem papel crítico no processo
inflamatório, nos danos musculares e no processo de reparação pós-
exercício como, por exemplo, o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) ou
a interleucina 6 (IL-6).

Em relação ao componente nutricional, muitos estudos focam na


ingestão de proteína pós-exercício para melhorar as adaptações
de treinamento, porém existem muitos fatores nutricionais que
interferem no equilíbrio entre anabolismo e catabolismo muscular,
sendo assim mais estudos focando na ingestão específica de
proteínas ainda necessitam ser realizados.

TEORIA EM PRÁTICA
Sabemos que o oxigênio é essencial à vida e necessário
para a produção de ATP, sendo a principal fonte de energia
para o trabalho celular, no entanto, as atividades físicas
podem ser executadas na ausência de oxigênio. Se você
quiser, nesse momento pode prender a respiração e subir
um lance de escada, por exemplo. Como é possível que isso
ocorra, dada a necessidade constante de oxigênio pelas
nossas células?

20
VERIFICAÇÃO DE LEITURA:

1. No exercício anaeróbio o oxigênio não é a fonte


de queima do substrato para a geração de energia
necessária à atividade muscular. Trata-se de exercícios
de curta duração e grande intensidade. Trazem
grandes benefícios cardiovasculares e envolvem grande
esforço físico. Dentre os exercícios citadas abaixo, qual
apresenta metabolismo anaeróbio?

a. Caminhar
b. Pedalar
c. Correr
d. Musculação
e. Nadar

2. O ATP é fundamental para qualquer organismo vivo,


tendo em vista que ele é o principal responsável
pelo armazenamento da energia necessária à
atividade celular.

Estruturalmente, o ATP é composto por:

a. Três grupos fosfato e uma unidade de adenosina


gerada por adenina e ribose.
b. Dois grupos fosfato e uma unidade de adenosina
gerada por adenina.
c. Um grupo fosfato e uma ribose.
d. Quatro grupos fosfato e três riboses.
e. Dois grupos fosfato e uma unidade de adenosina
gerada por adenina e ribose.

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3. O ATP apresenta uma limitação em seu armazenamento,
sendo necessária sua ressíntese para suprir a energia
necessária aos sistemas biológicos. A cisão anaeróbia de
qual composto pode gerar energia para essa ressíntese?

a. fosfocitocina
b. nicotinamida
c. fosfocreatina
d. adenina
e. flavina

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Anatomia e Fisiologia. Artmed Editora, 2016.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: Dentre os exercícios citados, o que utiliza o
metabolismo anaeróbio é a musculação, no qual os exercícios
apresentam curta duração, grande intensidade e geração de força.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Estruturalmente, o ATP é composto por três grupos
fosfato (PO 43) e uma unidade de adenosina gerada por
adenina e ribose.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: O ATP apresenta uma limitação em seu
armazenamento, sendo necessária sua ressíntese para suprir a

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energia necessária aos sistemas biológicos. A cisão anaeróbia da
fosfocreatina pode gerar energia para essa ressíntese.

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Metabolismo do exercício
Autora: Aline Coelho

Objetivos

• Esclarecer as respostas metabólicas das transições


do repouso, exercício e recuperação;

• Entender as implicações metabólicas da duração e


intensidade do exercício;

• Estudar os fatores envolvidos na seleção dos


substratos.
1. Do repouso à recuperação

Conhecer os sistemas metabólicos que produzem o ATP tão necessário


para a realização de qualquer atividade celular em nosso organismo
é primordial, entretanto não é o suficiente para quem quer se dedicar
ao entendimento da fisiologia do exercício detalhadamente. Sempre
é preciso ir além e aprender também acerca da relação dos exercícios
físicos e os sistemas de energia específicos empreendidos na realização
de cada um deles.

Nosso organismo precisa ser capaz de absorver os nutrientes obtidos


através da alimentação, como carboidratos, lipídios e proteínas e, desta
forma, gerar energia química utilizável em todas as nossas células.

A energia gerada é utilizada em diversas atividades como cognição,


reprodução e movimento. Nesse sentido, existem diversas alternativas
de vias de oxidação dos substratos gerando energia para ser utilizada
como trabalho.

Quando pensamos diretamente no organismo em situações de exercício


físico, quando há uma elevação do desprendimento energético, ocorre
uma condição chamada estado estável, e seu conceito é o contrário de
homeostasia. O estado estável é o estado de manutenção do equilíbrio
da produção de substratos energéticos e da frequência cardíaca no
momento do exercício, e é atingido de acordo com a intensidade e a
duração do exercício, portanto é altamente dependente da modalidade
quando nosso organismo tem a capacidade de ajustar-se a cada
dificuldade imposta pela atividade física, mantendo a estabilidade e
continuidade do exercício.

Para qualquer atividade que nosso corpo realize, desde as funções


corporais básicas à manutenção da atividade física, há a necessidade
de substratos energéticos que precisam ser consumidos diariamente.
Assim, as reservas dos substratos energéticos armazenados em nosso

26
corpo também colaboram para a obtenção de energia. Se a quantidade
de alimentos ingeridos for superior à quantidade de energia gasta, o
indivíduo pode ganhar peso.

Para atender a demanda metabólica necessária para a realização de


uma atividade física, podem ocorrer dois sistemas metabólicos distintos,
de acordo com a intensidade e duração do exercício físico: o sistema
anaeróbio, que é ativado na ausência de oxigênio, e o sistema aeróbio,
que acontece na presença do oxigênio, utilizando os carboidratos,
lipídios e gorduras como substrato.

Os sistemas aeróbio e anaeróbio são ativados de modo a proporcionar


energia para cada necessidade metabólica dos exercícios físicos,
sendo que cada um deles pode contribuir gerando energia de modo
sequencial, superposto e integrado, ou seja, os dois sistemas não
apresentam necessariamente a necessidade de agir individualmente.

A seguir você aprenderá sobre as necessidades e adaptações


metabólicas do nosso organismo, do repouso até o exercício, entenderá
como as alterações na intensidade e duração do exercício interferem
no sistema metabólico a ser utilizado para a produção do ATP, e ainda
como os substratos são escolhidos para a geração de energia.

Vamos lá?

1.1 Adaptações fisiológicas: do repouso ao exercício físico

Antes de entendermos a adaptação fisiológica ao exercício físico é


necessário entender o conceito de maneira mais ampla. Adaptações
fisiológicas são aquelas que o indivíduo sofre ao longo da vida,
relacionadas ao funcionamento do organismo em resposta aos fatores
genéticos e variações ambientais.

27
A capacidade de reagir a diferentes estímulos, sejam estes internos ou
externos ao organismo, é inerente ao ser humano. Os estímulos, quando
presentes, desencadeiam respostas específicas, de forma que possam
atingir o sistema como um todo.

PARA SABER MAIS


O fisiologista francês Claude Bernard (1813-1878) postulou,
em 1859, a necessidade que os organismos possuem de
manter a estabilidade do meio interno dentro de limites
estreitos, para que sejam mantidas as funções vitais de
maneira harmônica.

Independente das reações nervosas, metabólicas, endócrinas ou outras


que o estímulo possa provocar, o organismo precisa ser capaz de
manter a homeostasia, garantindo a constância do meio interno. Se você
imaginar o indivíduo em uma situação de repouso, pode pensar que seja
mais fácil para o organismo se adaptar a essa condição.

Em um estado de repouso, a taxa mínima de energia consumida para


manter as funções vitais do organismo é denominada taxa metabólica
de repouso (TMR). A TMR é medida em condições de jejum, repouso
físico e ambiente calmo com controle de temperatura, iluminação e
ruído. O profissional que atua com a prática esportiva deve conhecer a
TMR, posto que ela ajuda na definição das necessidades calóricas para o
balanço energético.

A TMR baseia-se na mensuração do consumo de oxigênio total do


organismo e seu equivalente calórico. Existe fórmula padronizada
que mensura o gasto energético em repouso, e alguns fatores que
influenciam são a idade genética, sexo, peso, nível de atividade física,
dentre outros.

28
A TMR corresponde ao componente principal do gasto energético diário,
cerca de 60% a 75% do gasto total, o que representa uma porcentagem
bastante elevada. O restante do gasto energético diário é preenchido
pelo período em que os macronutrientes estão sendo absorvidos e pela
atividade física, que representa cerca de 10% a 30% (Figura 1).

Figura 1 – Gasto metabólico diário

Fonte: A autora

Conforme mencionado, para que exista uma adaptação fisiológica é


necessário a presença de um estímulo natural, artificial, espontâneo ou
planejado, mas que tenha a capacidade de desencadear uma adaptação. Se
você transpor esse conceito para a prática de atividade física, perceberá que
o estímulo, nesse caso, é a prescrição do exercício que em seu objetivo final
visará a melhora do desempenho esportivo na categoria específica, sendo
assim, é recomendado que a atividade física seja programada de forma
individualizada.

Se você pensar em sair de uma condição de repouso para a realização de


uma atividade física, deve ter em mente que a harmonia de seus processos
vitais e a constância do meio interno, denominada homeostase, serão
desafiados, e seu organismo deverá ser capaz de adaptar-se à essa nova

29
situação. A seguir veremos as adaptações metabólicas e fisiológicas pelas
quais nosso organismo precisa passar em uma situação de esforço físico.

1.2 Adaptações agudas e crônicas ao exercício

Quando se pensa em qualidade de vida, imediatamente nos vem à mente


os cuidados com a alimentação e também a prática de atividade física. O
conceito de atividade física é traduzido pela realização de movimentos
corporais que demandem um gasto energético maior que os níveis de
repouso. De acordo com a Associação Americana de Medicina Esportiva
(ACMS), o exercício é um tipo de atividade física, definido como movimento
corporal planejado, estruturado e repetitivo, realizado com o intuito de
melhorar ou manter um ou mais componentes da aptidão física.

Ele deve ser realizado de forma que atenda rigorosamente aos princípios
de especificidade, sobrecarga, progressão, valores iniciais, reversibilidade,
adaptação, individualidade, dentre outros.

O conceito de exercício físico difere da atividade física, pois nesse caso


precisa ser planejado e praticado regularmente. O ideal é que a prescrição
dos exercícios físicos seja realizada por um profissional habilitado e que
tenha conhecimento acerca da individualidade do praticante e de todos os
fatores que possam interferir na prática da modalidade.

Em um processo de preparação desportiva, o principal objetivo deve ser o


desenvolvimento de aptidão física, que é um conceito multidimensional que
se refere à capacidade de realizar atividade física ou exercício, trata-se de
adaptações metabólicas e fisiológicas para gerar a performance adequada
a cada modalidade desportiva.

A realização de exercício físico gera efeitos em muitos parâmetros


orgânicos, dentre eles, na concentração de lipídeos na corrente sanguínea,
na quantidade de lipoproteínas, no metabolismo da glicose, na pressão
arterial, etc. Todas essas alterações metabólicas e fisiológicas geradas pelo

30
aumento da demanda desencadeiam ajustes do seu organismo na busca
da manutenção da homeostase.

A atividade física depende da ação muscular, sendo assim, toda vez


que você realizar uma atividade física, a energia química precisa ser
transformada em energia mecânica em seu músculo, para gerar
movimento, e em cada momento que isso acontecer, o seu estado de
homeostasia tende a ser modificado. No caso de atletas, mesmo na
presença de estímulos extremamente intensos como modalidades
desportivas que exigem um alto grau de desprendimento energético,
há uma estabilidade das funções metabólicas e fisiológicas visando a
constância do meio interno.

Muitos processos estão relacionados às adaptações que nosso organismo


sofrerá frente à execução do exercício físico. Nos instantes iniciais
o organismo passará por uma fase catabólica, não haverão muitas
adaptações bioquímicas, hormonais e imunológicas. Posteriormente,
haverá a fase anabólica, que objetiva a recuperação do esforço e até
mesmo uma supercompensação com uma maior tolerância aos novos
estímulos. Os principais sistemas que sofrem as adaptações fisiológicas
relacionadas aos exercícios físicos são o cardiovascular e o muscular.

As adaptações fisiológicas em resposta aos exercícios podem ser


classificadas como agudas ou crônicas.

ASSIMILE
Nossos músculos sempre dependem de energia para
realizar trabalho, e durante a atividade física essa demanda
energética aumenta. Utilizamos a energia química dos
nutrientes para produzir energia mecânica por processos
bioquímicos altamente complexos e regulados por muitas
enzimas e hormônios.

31
No caso das adaptações agudas aos exercícios, as adaptações
fisiológicas precisam acontecer de forma imediata ao exercício e em
pouco tempo após são cessadas. Um exemplo de quando esse fato pode
ocorrer é quando analisamos a frequência cardíaca de um individuo na
realização de um exercício dinâmico, nesse caso, a frequência cardíaca
aumenta conforme o exercício vai sendo realizado e volta aos valores de
repouso quando o exercício é finalizado.

Quando o indivíduo sai de uma condição de repouso para a prática


de uma atividade física, há a necessidade de um maior aporte de
fluxo sanguíneo para os grupos musculares, já que necessitarão de
uma quantidade maior de oxigênio e nutrientes. Para satisfazer essas
necessidades, as adaptações agudas ao exercício físico são primordiais,
com o envolvimento de todos os sistemas, em particular os sistemas
cardiovascular e respiratório. Essas alterações permitem que a
recuperação pós-exercício aconteça de forma mais rápida.

Em geral, há um aumento do consumo de oxigênio até que se atinja


um valor mais estável, em torno de 1 a 4 minutos do início da atividade.
No início do exercício há um atraso no consumo de O2 (déficit de
oxigênio), sugerindo que as vias anaeróbias são as que contribuem com
a produção de ATP exatamente nessa fase.

Em relação às adaptações crônicas ao exercício, são aquelas que não


possuem um efeito imediato ao exercício, mas que perduram por mais
tempo após o exercício ter sido finalizado. Por exemplo, imagine que
você tenha começado um treino de musculação em uma academia e
quer resultados rápidos em relação ao ganho de massa muscular, nesse
caso você precisa entender que a hipertrofia muscular é uma adaptação
crônica, portanto não ocorrerá imediatamente após o exercício
ter cessado.

Em relação à recuperação na fase posterior à realização da atividade


física é importante o profissional saber que após a finalização do

32
exercício, o metabolismo ainda continua alterado por diversos minutos,
os exercícios induzem também um aumento da duração do consumo
de O2, ao débito de O2, no qual há após o exercício um aumento do
consumo de O2, transpondo até mesmo os valores de repouso, leva
também ao EPOC, que é o excesso do consumo de O2 após a realização
do exercício físico.

O débito de O2 (Teoria de Hill) é importante para gerar a energia


necessária para levar novamente o organismo para as condições de
repouso, para realizar a reposição dos substratos energéticos que
foram usados na realização da atividade física e, por fim, para realizar a
remoção do ácido láctico que está em excesso na musculatura.

As adaptações crônicas ao exercício são tão importantes quanto


as agudas, pois determinam a recuperação do organismo frente às
alterações estruturais, metabólicas, fisiológicas e funcionais sofridas.
Geralmemente as adaptações crônicas são resultantes de uma prática
frequente e regular de exercícios. A Figura 2 sintetiza os conceitos
relacionados às adaptações crônicas e agudas em resposta ao exercício
de maneira mais didática.

Figura 2 – Adaptações fisiológicas no exercício

Fonte: A autora

33
1.3 Adaptações metabólicas: implicações sobre a duração e a
intensidade do exercício

O exercício físico estimula uma série de adaptações metabólicas para


suprir a esta nova demanda energética a qual nossos tecidos são
expostos. Nosso organismo só consegue gerar movimentos porque
os músculos são capazes de converter a energia química em energia
mecânica necessária para a contração muscular.

De maneira geral, muitos estudos apontam que os exercícios físicos


aumentam a capacidade do sistema oxidativo das fibras musculares,
aumentam a atividade metabólica e a sensibilidade à insulina,
reduzem a produção de lactato (depende da intensidade) e os níveis
de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), também chamado de
“colesterol ruim”, e poupam o glicogênio muscular por permitir uma
melhor utilização dos ácidos graxos livres.

Lembramos aqui o importante fato que a energia química muscular é


o trifosfato de adenosina (ATP), moeda energética de todas as nossas
células, que quando clivado em difosfato de adenosina (ADP), gera a
energia necessária para as reações químicas.

Na contração muscular, existem três mecanismos envolvidos na


ressíntese do ATP:

1. ATP- CP;
2. Glicólise;
3. Fosforilação Oxidativa.

Os dois primeiros mecanismos ocorrem na ausência do oxigênio e o


terceiro ocorre nas mitocôndrias, na presença do oxigênio.

34
A intensidade e a duração do exercício apresentam grande influência
na capacidade aeróbica e no tipo de metabolismo. Sendo assim,
estudos indicam que exercícios anaeróbios como exercícios de força
ou que estimulam a hipertrofia, não parecem melhorar a capacidade
aeróbica do indivíduo, mas apresentam benefícios como melhora da
força muscular, da quantidade de ATP-PCr na musculatura, além de
uma melhora da ação enzimática na glicólise. Exercícios aeróbicos,
por sua vez, como corrida de longa duração e ciclismo, melhoram a
atividade enzimática no ciclo de Krebs e aumentam a densidade de
mitocôndrias e capilares.

Muitas dessas adaptações que ocorrem mediante a prática


de exercícios físicos podem ser aferidas em comparação com
parâmetros fisiológicos. Um dos exemplos é o consumo máximo
de oxigênio (VO2max), que tem sido utilizado na avaliação da
aptidão aeróbia.

É importante lembrar que nem todos os indivíduos adaptam-se


aos exercícios físicos exatamente da mesma maneira, e esse fato
está simplesmente relacionado a nossa diversidade genética. Lapin
et al. (2007), em suas revisões, apresentam evidências de estudos
que compararam o VO2máx através de um mesmo programa de
exercícios e treinamento aplicado em homens jovens e saudáveis, e
encontraram diferenças resultantes em um aumento no VO2máx, que
foi de até um litro por minuto.

35
Figura 3 – Principais adaptações metabólicas em exercícios aeróbios e
anaeróbios

Fonte: A autora

1.4 Fatores que influenciam a seleção de substratos

Durante a realização dos exercícios físicos, os ciclos constantes de


contração e relaxamento a fim de gerar movimento demandam uma
grande quantidade de energia, esta energia deve ser oriunda da
dieta, pela qual os substratos serão adequadamente armazenados
para posteriormente serem absorvidos pelo organismo.

Para obtenção de energia são utilizados como substratos os


carboidratos, ácidos graxos e proteínas, eles são metabolizados na
presença de oxigênio (ciclo do ácido tricarboxilico) e na ausência do
oxigênio (glicólise). As vias aeróbia e anaeróbia visam a geração do
trifosfato de adenosina (ATP), o qual libera energia química de suas
ligações (7.500 Kcal.)

Primeiramente vamos pensar nos carboidratos que podem ser


armazenados na musculatura sob a forma de glicogênio muscular e
no fígado sob a forma de glicogênio hepático. As gorduras, também

36
oriundas da dieta, são degradadas em ácidos graxos e glicerol,
e também são armazenadas sob o formato de triglicérides, já as
proteínas são armazenadas através dos aminioácidos.

Nesse momento você precisa começar a pensar que os fatores


que controlam a seleção do substrato energético a ser utilizado no
exercício físico são a duração e a intensidade do exercício.

No início da realização da atividade física, há a necessidade de uma


energia que precisa ser liberada de maneira imediata, essa energia é
gerada pelos fosfatos de alta energia armazenados na musculatura e
com liberação imediata.

Agora imagine que o exercício continue avançando, a partir daí a


glicólise é ativada e há a formação de ácidos graxos. Por fim, se o
indivíduo mantém a intensidade do exercício de baixa a moderada
ou com baixa frequência cardíaca, a gordura também é pensada
como substrato que contribuirá para as necessidades energéticas
do músculo.

Possuimos o glicogênio muscular e o glicogênio hepático, porém não


fornecem quantidades elevadas de energia, entretanto, as gorduras
podem gerar de 70.000 a 75.000 Kcal.

Lembre-se sempre que os carboidratos e gorduras são os substratos


primários na realização de uma atividade física, entretanto, proteínas
também são capazes de fornecer energia, mas de maneira limitada.

Finalizando, a prática regular de exercícios físicos gera adaptações


nas vias de sinalização e nas moléculas regulatórias que coordenam
as respostas adaptativas ao exercício físico. Nesse sentido, a prática
esportiva e o desempenho são altamente dependentes de uma
estratégia nutricional adequada.

37
TEORIA EM PRÁTICA
Todos nós, seres humanos, precisamos de uma quantidade
de energia mínima para executarmos nossas funções
vitais no momento em que estamos acordados e no
repouso, esta taxa reflete a produção de calor pelo corpo.
Como é chamada esta taxa durante o repouso? Como
podemos identificar em nosso cliente, durante a prática de
atividade física?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA:

1. O estado de manutenção do equilíbrio da produção


de substratos energéticos e da frequência cardíaca no
momento do exercício, é chamado:

a. Estado alterado;
b. Estado homeostático;
c. Estado hemostático;
d. Estado estável;
e. Homeostase metabólica.

2. NA Taxa Metabolica de Repousocorresponde a qual


porcentagem do gasto energético diário?

a. 30% a 50% do gasto total


b. 60% a 75% do gasto total
c. 10% a 20% do gasto total
d. 100% do gasto total
e. 40% a 60% do gasto total

38
3. Assinale a alternativa que completa corretamente as
lacunas abaixo:

De maneira geral, muitos estudos apontam que os


exercícios físicos aumentam a capacidade do sistema
oxidativo das __________, aumentam a atividade
metabólica e a ____________ à insulina, reduzem a
produção de lactato (depende da intensidade) e os níveis
de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), também
chamado de “colesterol ruim”, e poupam o glicogênio
muscular por permitir uma melhor utilização dos ácidos
graxos livres

a. Fibras musculares-insensibilidade
b. Fibras cardíacas-insensibilidade
c. Fibras musculare-sensibilidade.
d. Fibras musculares-aumento da resistência.
e. Fibras cárdicas- aumento da resistencia

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Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: O estado estável é o estado de manutenção do
equilíbrio da produção de substratos energéticos e da frequência
cardíaca no momento do exercício.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: Em um estado de repouso, a taxa mínima de energia
consumida para manter as funções vitais é denominada taxa
metabólica de repouso (TMR). A TMR corresponde ao componente
principal do gasto energético diário, cerca de 60% a 75% do gasto
total, o que representa uma porcentagem bastante elevada.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: De maneira geral, muitos estudos apontam que os
exercícios físicos aumentam a capacidade do sistema oxidativo
das fibras musculares, aumentam a atividade metabólica e a
sensibilidade à insulina, reduzem a produção de lactato (depende
da intensidade) e os níveis de lipoproteínas de baixa densidade
(LDL), também chamado de “colesterol ruim”, e poupam o
glicogênio muscular por permitir uma melhor utilização dos ácidos
graxos livres

41
Respostas Hormonais ao Exercício
Autor: Bráulio Nascimento Lima

Objetivos

• Identificar as principais glândulas do corpo humano;

• Identificar os principais hormônios e suas respostas


fisiológicas;

• Identificar as principais respostas hormonais à


atividade física e ao exercício físico.
1. Respostas hormonais ao exercício

Para introduzir o tema Endocrinologia, devemos compreender que o


referido sistema contribui com a comunicação entre os tecidos do corpo,
nesse sentido, podemos considerar que a Neuroendocrinologia é o
estudo que compreende dois sistemas importantíssimos para conduzir
informações e comandos para todas as partes do corpo humano. Para
diferenciar a forma de participação dos sistemas, devemos considerar
que as informações e comandos enviados através do sistema nervoso
se utilizam de neurotransmissores em sinapses entre nervos ou entre
nervo e tecido, enquanto o sistema endócrino utiliza hormônios
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Os hormônios são produzidos e liberados no tecido sanguíneo por


glândulas e, dessa forma, podem chegar a todos os tecidos do corpo,
porém, para que possam atuar sobre um determinado tecido as células
deles devem possuir receptores proteicos adequados e específicos.
Após a liberação do hormônio no sangue, ele passa a circular por todo
o corpo, disponibilizando-se para se comunicar com todas as células,
porém só surtirá efeitos sobre as que possuem receptores específicos
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

PARA SABER MAIS


A atividade física impõe desafios para o organismo
humano, que precisa de ferramentas para desenvolver
respostas capazes de criar um ambiente de segurança
fisiológica. Nesse sentido, as respostas se direcionam
para um estado de tentativa de estabilidade durante a
atividade física que, dependendo da intensidade, pode
estimular adaptações. O referido processo demanda uma
complexa coordenação entre células e tecidos, em que o
sistema de comunicação é vital. O sistema endócrino atua

43
em paralelo ao sistema nervoso, levando informação e
induzindo o comportamento dos tecidos.

A concentração de hormônios no sangue depende da velocidade de


produção da glândula, da velocidade do metabolismo, da quantidade de
proteína transportadora (proteínas que ajudam a transportar hormônios
específicos) e das alterações no volume plasmático, mesmo assim, os
hormônios se encontram em pequenas concentrações plasmáticas
representadas em microgramas (10–6 g), nanogramas (10–9 g) e
picogramas (10–12 g) (Powers e Howley, 2017).

ASSIMILE
O sistema nervoso é composto por neurônios que, entre
si, formam complexas redes de comunicação baseadas em
estruturas sinápticas. As sinapses ocorrem entre neurônios,
entre nervos e entre nervo e tecido (como ocorre na
sinapse neuromuscular). O sistema endócrino se utiliza
da secreção de hormônios, que são substâncias químicas
comunicadoras que se propagam pelo corpo através da
corrente sanguínea para influenciar na atividade de diversos
tecidos. Ambos os sistemas (nervoso e endócrino) ligam e
sincronizam as atividades teciduais e celulares, porém de
formas diferentes.

Para que a concentração de hormônio se altere deve ser considerada


a velocidade de produção, assim como a demanda de receptores
disponíveis para captar a informação disponível. A produção está
diretamente ligada à magnitude do efeito produzido, mas dependente
do número de receptores específicos disponíveis para cada hormônio.

44
Toda concentração de hormônio está dependente das variáveis em
torno da produção das glândulas, do número de receptores celulares, da
disponibilidade de transportadores sanguíneos e do volume plasmático.
Um exemplo é a regulação de produção de insulina descrita em
fluxograma na Figura 01 (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Figura 01 – Controle de secreção hormonal influenciada por


diversos fatores

Fonte: O autor

Os números de receptores proteicos de cada célula podem variar de


acordo com as demandas dela, portanto seu comportamento não é
estático e pode estar sujeito a mudar dependendo da relação que possui
na presença dos hormônios. O número de receptores pode diminuir,
por exemplo, em detrimento de elevada carga contínua de exposição
aos hormônios e, assim, diminuir sua potencial atividade e respostas a
uma mesma concentração hormonal. Da mesma forma, o número de
receptores proteicos celulares pode aumentar de acordo com o efeito de
diminuição de exposição hormonal, tornando as células do tecido mais
reativas. Considerando que os receptores proteicos celulares podem
ser limitados em número, após a ativação de todos disponíveis, gerando
excedente hormonal, temos um efeito chamado de saturação (Kraemer
et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

45
1.1 Atuação do hormônio na célula

Os hormônios lipofílicos possuem facilitação de entrada através da


membrana celular, desvinculando-se de um transportador do plasma
sanguíneo, no meio extracelular, e vinculando-se em um receptor que
pode estar no citoplasma ou no núcleo celular. Tais hormônios, ao
formarem o complexo hormônio-receptor (esteroide-receptor), passam
a influenciar determinadas áreas do DNA que produzem mRNA com a
respectiva informação. A síntese de proteínas passa a ser direcionada
por esse novo ambiente celular a partir da entrada do hormônio
lipofílico (esteroide), onde o esquema está representado na Figura 02
(Powers e Howley, 2017).

Figura 02 – Comportamento de hormônios lipofílicos difundidos pela


membrana plasmática

Fonte: O autor

Outros tipos de hormônios, por possuírem uma estrutura molecular


maior ou diferente, passam a caracterizar um tipo de demanda
diferenciada para atravessar para o meio intracelular e, por esse motivo,
necessitam de transportadores de informação que são os receptores
na superfície de membrana, como é o caso do segundo mensageiro.
A referida proteína é responsável pela interação entre o hormônio e

46
o receptor a partir da membrana até os eventos no meio intracelular.
O mecanismo do segundo mensageiro está descrito na figura a seguir
(Figura 03) (Powers e Howley, 2017).

Figura 03 – Mecanismo do segundo mensageiro

Fonte: O autor

A proteína G também pode ativar a enzima fosfolipase C da


mesma forma. Trata-se de um fosfolipídio localizado na membrana
(fosfatidilinositol bifosfato [PIP2]) que está hidrolisado em duas
moléculas, o trifosfato de inositol (IP3) (provoca a liberação de Ca++
dos estoques intracelulares) e o diacilglicerol (DAG). O cálcio liberado
ativa a proteína calmodulina que, por sua vez, altera a atividade celular
da mesma forma que o AMP cíclico faz. Esses referidos “segundos
mensageiros” não devem ser vistos como independentes um do outro
porque as mudanças em um afetam a ação do outro. O esquema a
seguir demonstra a ação desse modelo de segundo mensageiro (Figura
04) (Powers e Howley, 2017).

47
Figura 04 – Mecanismo do segundo mensageiro

Fonte: O autor

Outro importante efeito de alguns hormônios é o transporte de


membrana, no qual temos um hormônio que se liga à membrana da
célula para aumentar a movimentação de substratos ou moléculas de
fora para dentro da célula. Um exemplo importante dessa atividade
é a ação do hormônio insulina que liga receptores da superfície da
membrana passando a viabilizar a entrada de glicose para o meio
intracelular através de mobilização de transportadores de membrana.
Sem uma quantidade adequada de insulina passamos a ter um quadro
de diabetes. O referido modelo de transporte está demonstrado na
Figura 05 (Powers e Howley, 2017).

Figura 05 – Receptores específicos de insulina

Fonte: O autor

48
1.2 Glândulas e hormônios

Cada hormônio possui uma glândula responsável pela sua produção. É


de fundamental importância compreender a necessidade fisiológica, a
glândula de origem e resposta de cada hormônio na atividade física.

A hipófise é uma glândula localizada na região medial inferior do


cérebro, no centro da base. Possui dois lobos, em que o anterior é uma
glândula endócrina e o posterior tecido nervoso. Os dois lobos estão
logo abaixo (inferior) e são controlados pelo hipotálamo (Kraemer et al.,
2016; Powers e Howley, 2017).

A hipófise anterior, majoritariamente, responde a comandos vindos


de forma hormonal através de terminações nervosas vindas do
hipotálamo. Tal proximidade com o cérebro demonstra o caráter
integrado entre os dois sistemas responsáveis pela comunicação do
corpo. Na hipófise anterior temos a produção de hormônios que
carregam estímulos para adaptações celulares de diversos tecidos e para
estimular a produção de outros hormônios. Os principais hormônios
produzidos na hipófise anterior estão descritos na Tabela 01 (Kraemer
et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Tabela 01 – Principais hormônios sintetizados e liberados pela


hipófise anterior
Principais Hormônios Sintetizados e Liberados pela Hipófise Anterior.
Hormônio Atuação
Estimula as células da camada cortical
da glândula adrenal a sintetizar e
Adrenocorticotrófico (ACTH)
liberar seus hormônios, dentre eles
o cortisol.
Estimula a produção de testosterona
Luteinizante (LH) nos testículos e de estrogênio
nos ovários.

49
Estimula as células melanócitos para
Estimulante de Melanócitos (MSH)
produzir melanina.

Controla a velocidade de formação dos


Estimulador da Tireoide (TSH) hormônios tireoidianos e a secreção
de cortisol no córtex suprarrenal.

Estimula a liberação de fatores de


Crescimento (GH) crescimento semelhantes à insulina
(IGF) pelo fígado e por outros tecidos.

Prolactina Estimula a mama para produzir leite.


Fonte: O autor

O GH é um hormônio cujo conhecimento de sua atuação é fundamental


para estudos envolvendo movimento humano e exercício, pois ele
influencia diretamente sobre o desenvolvimento muscular e, com isso,
na performance da atividade proposta. Apesar do fator de Crescimento
Insulínico (IGF) poder ser produzido por diversos meios além do
estímulo causado pelo GH, o fator de Crescimento Insulínico (IGF-1)
sintetizado no músculo está associado à hipertrofia muscular. Outro
efeito do GH influenciando o exercício físico está no metabolismo. Os
principais estímulos de produção do GH estão descritos no esquema de
fluxograma na Figura 06 (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Figura 06 – Fluxograma com principais estímulos de produção de GH

Fonte: O autor

50
Atualmente a utilização de hormônios com a finalidade de melhorar a
performance e estética corporal entre usuários de exercício recreacional
tem chamado a atenção. Os estudos atuais envolvendo a utilização de
GH com essa finalidade, inclusive em associação à utilização de outros
hormônios, têm demonstrado dados alarmantes, sem mencionar o fato
de não existirem estudos suficientes que comprovem a eficácia esperada
da referida utilização. É importante ressaltar que os estudos atuais
apontam para uma maior eventualidade de efeitos adversos em relação
a efeitos benéficos da utilização de GH (Liu et al., 2008; Hoffman et al.,
2009; Widdowson et al., 2009; Rogol, 2014; Powers e Howley, 2017).

A hipófise posterior é o local onde se encontram dois hormônios, a


ocitocina e o hormônio antidiurético (ADH ou Vasopressina arginina)
(Tabela 02). Os hormônios encontrados na hipófise posterior
são produzidos no hipotálamo, portanto trata-se de um local de
armazenamento. A ocitocina estimula a musculatura lisa como no
caso do parto e no início da produção do leite necessário para a
amamentação. O ADH regula a produção de urina (Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017).

Tabela 02 – Principais hormônios armazenados e liberados pela


hipófise posterior
Principais Hormônios Sintetizados e Liberados pela Hipófise
Posterior.
Hormônio Atuação
Estimula a reabsorção de água
dos túbulos renais para os
Hormônio antidiurético (ADH)
capilares, controlando, também, a
produção de urina.
Estimula a musculatura lisa, em
Ocitocina especial do parto. Estimula a saída
do leite para a amamentação.
Fonte: O autor

51
A tireoide é uma glândula que tem como principal finalidade a
síntese e liberação de dois hormônios que são a tri-iodotironina
(T3) e a tiroxina (T4). O TSH é o principal sinalizador da liberação de
hormônios tireoidianos que, após secretados, se ligam a proteínas
do plasma sanguíneo. Os hormônios tireoidianos são importantes
reguladores metabólicos, nesse sentido, possíveis distúrbios em
sua produção podem levar a quadros de aumento ou perda de
peso excessivo, caracterizando quadros de hipotireoidismo (baixa
produção de hormônios tireoidianos) ou hipertireoidismo (excesso
de produção de hormônios tireoidianos) (Kraemer et al., 2016; Powers
e Howley, 2017).

A tireoide também sintetiza e secreta a Calcitonina, que é um


hormônio secundário responsável pela regulação de cálcio (Ca++) no
plasma sanguíneo. O referido controle é feito por feedback negativo,
em que baixas concentrações de Cálcio (Ca++) plasmático sinalizam
aumento da produção de Calcitonina (Figura 07) (Kraemer et al.,
2016; Powers e Howley, 2017).

O controle da síntese de hormônios tireoidianos se dá a partir de


feedback negativo envolvendo o TSH, ou seja, altas concentrações
de T4 e T3 inibem a liberação de TSH, enquanto baixas concentrações
de T4 e T3 promovem maior liberação de TSH. Durante a prática de
exercícios a concentração de T4 e T3 tende a diminuir, aumentando a
liberação de TSH e, consequentemente aumentando a atividade da
tireoide (Figura 07) (Powers e Howley, 2017).

52
Figura 07 – Fluxograma de atividade de Feedback Negativo envolvendo a
síntese e secreção de hormônios tireoidianos

Fonte: O autor

A principal regulação de cálcio (Ca++) é feita pelo hormônio


paratireóideo (ou paratormônio) que é sintetizado e secretado pela
glândula paratireoide (localizada posteriormente à glândula tireoide
em quatro glândulas). O referido hormônio estimula a liberação de Ca++
dos ossos no mesmo passo que estimula a captação desse íon pelo rim.
Outro efeito da atuação do hormônio paratireóideo é o estímulo para
o rim converter vitamina “D” em mais absorção de cálcio (Ca++) através
do trato gastrointestinal (Figura 08). Durante o exercício, a absorção de
Cálcio diminui enquanto aumentam as catecolaminas e o íon H+, efeito
que ocorre com o aumento típico de hormônio paratireóideo nessas
circunstâncias (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

A glândula suprarrenal está dividida em medula suprarrenal e córtex


suprarrenal. A medula suprarrenal secreta catecolaminas (adrenalina
e noradrenalina) e o córtex suprarrenal secreta hormônios esteroides
(Figura 09) (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

A medula suprarrenal secreta, majoritariamente, a adrenalina que


afeta diretamente o funcionamento dos sistemas cardiorrespiratório,
digestório, endócrino (outras glândulas) e muscular; afeta também
o tecido adiposo, a pressão arterial e a concentração de glicose no

53
plasma sanguíneo (Figura 09). A adrenalina é um hormônio de ação
rápida que está relacionado à sobrevivência do contexto de “luta ou
fuga” (Trumper, 1930). A adrenalina possui receptores divididos em “α
(α1 e α2)” e “β (β1 e β2)”; os efeitos ocorrem por segundo mensageiro
e, dependendo do receptor, pode inibir ou excitar, direcionando a
relevância de reação para o receptor (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017).

O córtex suprarrenal sintetiza hormônios esteroides. Os esteroides


têm como base química o colesterol e, embora existam uma
determinada variedade com diferenças estruturais muito pequenas,
suas ações podem ser muito diferentes. Os esteroides podem ser
divididos em mineralocorticoides (aldosterona – regula concentrações
de Na+ e K+ no plasma sanguíneo), glicocorticoides (cortisol – regula
glicose no plasma sanguíneo) e esteroides sexuais (andrógenos e
estrógenos) (Figura 09) (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Como consequência da diminuição da pressão no rim ou do volume


plasmático, as células renais podem secretar uma enzima chamada
de renina, que atua no plasma sanguíneo para a produção de
angiotensina I, que é convertida nos pulmões em angiotensina
II (efeito causado pela ação da enzima conversora de angiotensina
[ACE}–tornando a angiotensina em um vaso compressor / Trata-se
de um agente inibido, de forma medicamentosa, em hipertensos).
A angiotensina II estimula a aldosterona (produzida no córtex
suprarrenal), que aumenta a absorção de Na+ (Figura 09) (Kraemer et
al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Durante a atividade física, as concentrações de renina, angiotensina e


aldosterona se alteram significativamente a partir de aproximadamente
50% do VO2máx. Nesse contexto temos um aumento de hormônio
natriurético atrial (ANH) que se opõe às ações da aldosterona,
diminuindo o volume do sangue (Figura 09) (Powers e Howley, 2017).

54
Figura 09 – Fluxograma de divisões e hormônios secretados pela
Glândula Suprarrenal

Fonte: O autor

O Cortisol é o principal glicocorticoide secretado pelo córtex


suprarrenal e contribui para a manutenção da glicose plasmática
durante períodos sem ingestão de alimentos ou durante a prática
de exercícios. O cortisol é responsável por sinalizar a degradação de
proteínas (também inibe a síntese proteica), liberando os aminoácidos
para serem transformados em glicogênio no fígado, movimenta os
ácidos graxos do tecido adiposo e estimula a síntese de glicose. Nesse
contexto, a utilização de ácidos graxos é estimulada. O controle de
síntese de cortisol funciona de forma semelhante aos hormônios
tireoidianos, no qual o corticotrofina (CRH) sintetizado no hipotálamo
faz com que a hipófise anterior secrete mais ACTH que, por sua vez,
estimula a produção de cortisol (Figura 10) (Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017).

O fato do cortisol ser agente de degradação de proteínas, libera os


aminoácidos para nova utilização em reparos e cicatrização de possíveis
danos. A principal fonte de aminoácidos a partir da ação do cortisol é
o tecido muscular, porém a atrofia excessiva é evitada pela ação dos
glicocorticoides estimulados, principalmente, por exercícios (Kraemer
et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

55
Figura 10 – Fluxograma de estímulo e atividade do hormônio Cortisol

Fonte: O autor

O pâncreas é uma glândula mista, pois possui porção endócrina e


exócrina, tendo como principais hormônios glucagon, somatostatina
e insulina. O glucagon é secretado pelas células alfa (α) das ilhotas
de Langerhans e tem como principal finalidade o estímulo à produção
e disponibilização de glicose em reserva hepática (glicogenólise) e
de ácidos graxos. A insulina é secretada pelas células beta (β) das
ilhotas de Langerhans e estimula os tecidos a absorverem glicose
e aminoácidos, reservando glicogênio, ou seja, serve de facilitador
de transporte pelas membranas celulares. A somatostatina é um
hormônio secretado nas células delta das ilhotas de Langerhans e é um
importante regulador do comportamento de absorção de nutrientes no
trato gastrointestinal, e está associada, também, à regulação de insulina
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

O glucagon e a insulina são fundamentais para o controle energético


durante a atividade física, principalmente por serem “hormônios de ação
rápida”. Baixas taxas de insulina podem levar a um grande acúmulo de
glicose no plasma sanguíneo. A esse quadro é dado o nome de Diabetes
Mellitus (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018).

56
A testosterona e o estrogênio são os principais hormônios secretados
pelas glândulas dos sistemas reprodutores masculino e feminino. A
testosterona é sintetizada nos testículos, enquanto o estrogênio no
ovário (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

A testosterona tem sua produção estimulada a partir do hormônio


estimulador das células intersticiais (ICSH ou LH) que é produzido
na hipófise anterior e controlada pelo hipotálamo. A produção
de espermatozoide depende da testosterona e do hormônio
foliculoestimulante (Figura 11) (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017).

Figura 11 – Produção de testosterona e espermatozoide a partir da ação


do hipotálamo

Fonte: O autor

A testosterona é um hormônio anabólico (aumento de tecido)


e androgênico (características masculinas). A concentração de
testosterona no plasma sanguíneo aumenta de forma significante
durante exercícios de média e alta intensidades. O referido evento pode
estar associado à diminuição do conteúdo plasmático (decorrente da
atividade física de média e alta intensidade), assim como ao processo
de adaptações necessárias na supercompensação de adaptação ao
exercício, incluindo a hipertrofia muscular (Kraemer et al., 2016; Powers
e Howley, 2017).

57
O Estrogênio é o principal conjunto de hormônios responsável pelas
características femininas secundárias, como o desenvolvimento das
mamas e localização da reserva de gordura; sua produção ocorre nos
ovários. Durante a fase folicular do ciclo menstrual o LH estimula a
produção de andrógenos no folículo que passam a ser convertidos
em estrógenos sob efeito do FSH (Figura 12). Após o início de outro
ciclo menstrual, partindo da ovulação, tanto o estrógeno quanto a
progesterona voltam a ser produzidos no corpo lúteo. Durante o
exercício, o estrógeno apresenta um pequeno aumento atribuído à
diminuição do conteúdo do plasma sanguíneo (Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017).

Figura 12 – Localização das principais glândulas do corpo humano

Fonte: iStock – newannyart

58
Tabela 03 – Resumo: principais glândulas e seus hormônios
RESUMO

Fatores que Estímulos que Efeito


Glândulas Hormônios Ação controlam provocam do
sua secreção uma resposta exercício

Promove o aumento,
Hormônio Hormônio Exercício:
mobilização de AGL
do liberador de GH “estresse”;
e gliconeogênese; Aumento
crescimento hipotalâmico; baixa glicose
abranda a absorção
(GH) Somatostatina sanguínea
de glicose

Hormônio
Acrescenta a
Hormônio liberador T3 e T4
produção e
estimulador de TSH plasmáticos Aumento
secreção
da tireoide hipotalâmico baixos
de T3 e T4
(TSH)

“Estresse”;
fraturas
Hormônio Hormônio
ósseas;
adreno- Aumenta a síntese liberador
exercício ?
corticotrófico de cortisol de ACTH
intenso;
(ACTH) hipotalâmico
queimaduras,
Hipófise etc.
anterior

Hormônio
Mulher: produção liberador
Gonadotrofinas:
de estrogênio e gonadotrófico
hormônio
progesterona e hipotalâmico
foliculoesti- Gatilho cíclico Alteração
incremento dos Mulheres:
mulante ou intermitente pequena
óvulos Homem: estrogênio e
(FSH); de neurônios no ou sem
produção de progesterona
hormônio hipotálamo mudança
testosterona e plasmáticos
luteinizante
incremento dos Homens:
(LH)
espermatozoides testosterona
plasmática

Aumento
Impedem a dor
Hormônio para
pela atuação nos
Endorfinas liberador “Estresse” exercício
receptores de
de ACTH ≥70% do
opiatos no cérebro
VO2máx

59
Diminui a perda
Hormônio Volume
de água renal;
Hipófise antidiurético Neurônios plasmático;
aumenta a Aumento
posterior (ADH) hipotalâmicos osmolaridade
resistência
(vasopressina) plasmática
periférica

Aumenta a
alíquota
Aumento
Tri-iodotironina metabólica, TSH; T3 e
T3 e T4 baixos de T3 e
(T3); tiroxina (T4) mobilização T4 plasmáticos
T4 “livres”
dos combustíveis,
Tireoide crescimento

Cálcio
Diminui o cálcio Cálcio
Calcitonina plasmático ?
plasmático plasmático
alto

Acrescenta Cálcio
Hormônio Cálcio
Paratireoide o cálcio plasmático Aumento
paratireoide plasmático
plasmático baixo

Adiciona a
gliconeogênese,
Aumento
a mobilização
no Exercício
dos AGL e a
Ver ACTH intenso;
Cortisol síntese de ACTH
nesta tabela Diminuição
proteína;
no exercício
abranda
leve
a utilização
da glicose
Córtex Pressão
suprarrenal arterial e
volume
Concentração plasmático
Aumenta a
plasmática baixos;
excreção
de potássio potássio
Aldosterona de potássio e a Aumento
e sistema plasmático
reabsorção de
renina- elevado e
sódio nos rins
angiotensina atividade
simpática
elevada
nos rins

Acrescenta a
Informação
glicogenólise, Pressão
dos
mobilização arterial e
baroceptores;
Adrenalina dos AGL, glicose
receptor
Medula (80%); frequência sanguínea
de glicose no Aumento
suprarrenal noradrenalina cardíaca, baixas;
hipotálamo;
(20%) volume excesso de
centros
sistólico e “estresse”;
cerebral e
resistência emoção
espinal
periférica

60
Concentrações
plasmáticas
Aumenta a Concentrações
de glicose e
absorção de plasmáticas
aminoácidos
glicose, de glicose e
Insulina altas; Aumento
aminoácidos aminoácidos;
diminuição
e AGL nos sistema nervoso
da adrenalina
tecidos autônomo
e da
Pâncreas noradrenalina
Baixas
Concentrações
concentrações
Aumenta a plasmáticas
plasmáticas
mobilização de glicose e
de glicose e
Glucagon da glicose e aminoácidos; Aumento
aminoácidos;
dos AGL; sistema
elevação da
gliconeogênese nervoso
adrenalina e da
autônomo
noradrenalina
Síntese de
proteína;
características
sexuais FSH e Acréscimo Pequeno
Testículos Testosterona
secundárias; LH (ICSH) do FSH e LH Aumento
impulso sexual;
produção de
espermatozoides
Deposição
de gordura;
características
Acréscimo Pequeno
Ovários Estrogênio sexuais FSH e LH
do FSH e LH Aumento
secundárias;
desenvolvimento
do óvulo

Fonte: Adaptado de Powers e Howley, 2017.

Cada glândula que possui responsividade ao estímulo da atividade física


pode aumentar ou diminuir sua atividade. Ao aumentar a atividade, a
glândula aumenta a produção do hormônio e, dessa forma, aumenta a
atividade de respostas no sistema. Ao diminuir a atividade, a glândula
diminui a produção de hormônios, diminuindo as respostas no sistema.

TEORIA EM PRÁTICA
Um cliente do sexo masculino, com 58 anos de idade,
com sobrepeso e sem necessidades de adaptações
motoras, pretende iniciar um programa de exercícios por

61
recomendação médica devido a um quadro diagnosticado
de diabetes mellitus. O referido cliente já iniciou o
tratamento medicamentoso e está ministrando doses
regulares de insulina de acordo com a instrução do
médico. Ao ouvir o médico descrever os danos que a
diabetes sem o devido controle pode causar, o cliente
resolveu perguntar para o profissional de Educação
Física: “Como o exercício físico pode contribuir para a
minha saúde, levando em consideração meu contexto
geral (quadro de diabetes mellitus e ministrando doses
de insulina)?”

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Leia as afirmações abaixo:

I. O sistema Neuroendócrino é composto por dois sistemas


(Nervoso e Endócrino) responsáveis pela comunicação de
diversos tecidos do corpo.
II. O sistema Endócrino se utiliza de hormônios, secretados
por glândulas, para levar informações que vão influenciar
a atividade de outros tecidos.
Marque a alternativa correta:

a. A afirmativa “I” não apresenta corretamente o sistema


endócrino, pois ele não possui características de
comunicar tecidos do corpo humano.
b. A afirmativa “II” não possui ligação com a afirmativa “I”,
pois o sistema endócrino produz hormônios de forma
estável, sem influências de outros tecidos.

62
c. As afirmativas “I” e “II” estão corretas, porém o
sistema neuroendócrino não interfere na atividade de
outros tecidos.
d. As afirmativas “I” e “II” estão corretas. O sistema
nervoso comunica através de sinapses, enquanto o
sistema endócrino utiliza a secreção de hormônios.
e. As afirmativas estão incorretas, pois os sistemas
citados não comunicam e não influenciam
outros sistemas.

2. A glândula Hipófise produz hormônios que atuam


diretamente em outros tecidos e também estimulando
a síntese secreção de outros. Marque a alternativa que
contenha APENAS hormônios produzidos na Glândula
Hipófise Anterior.

a. Hormônio do Crescimento (GH) e Hormônio


Estimulador da Tireoide (TSH).
b. b) Hormônio Estimulador da Tireoide (TSH) e Insulina.
c. Hormônio do Crescimento (GH) e Testosterona.
d. Estrogênio e Hormônio Estimulador da Tireoide (TSH).
e. Tiroxina e Hormônio do Crescimento (GH).

3. Leia as afirmativas abaixo, preencha as lacunas com V


(verdadeiro) ou F (falso) e marque a alternativa correta:

( ) A tiroxina é um importante regulador metabólico.


( ) A insulina não participa do controle de glicose no
plasma sanguíneo.
( ) A adrenalina corresponde a menor produção da medula
suprarrenal.
( ) O estrogênio sinaliza características secundárias
masculinas.

63
( ) A testosterona também está associada ao aumento de
massa muscular.

a. V, V, V, V e V
b. F, F, F, F e F
c. V, F, V, F e V
d. F, V, V, V e F
e. V, F, F, F e V

Referências Bibliográficas
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performance. Ann. Intern. Med., v. 148, n. 10, p. 747-58, May 20 2008. ISSN
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MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: nutrição,
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TRUMPER, M. Bodily changes in pain, hunger, fear and rage: an account of recent
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WIDDOWSON, W. M. et al. The physiology of growth hormone and sport. Growth
Horm. IGF Res., v. 19, n. 4, p. 308-19, aug. 2009. ISSN 1096-6374.

64
Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: As duas principais formas de comunicação entre
tecidos do corpo humano estão baseadas na atividade dos sistemas
Nervoso e Endócrino, através de sinapses entre nervos ou através
de hormônios, respectivamente, portanto a afirmativa “I” está
correta. Os hormônios são sintetizados e secretados por glândulas
do sistema endócrino e influenciam as atividades celulares de
outros tecidos, portanto a afirmativa “II” está correta.
Feedback de reforço: As afirmativas “I” e “II” estão corretas, pois
o sistema nervoso comunica diversas partes do corpo através de
sinapses entre nervos e entre nervos e outro tecido, enquanto
o sistema endócrino é baseado em glândulas que sintetizam
hormônios para influenciar a atividade de outros tecidos. Apenas
a alternativa “D” apresenta concordância com o exposto, portanto
apenas esta está correta.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Os principais hormônios produzidos na glândula
hipófise anterior são adrenocorticotrófico (ACTH), luteinizante (LH),
estimulante de Melanócitos (MSH), estimulador da eireoide (TSH),
crescimento (GH) e prolactina.
Feedback de reforço: Os principais hormônios produzidos
na glândula hipófise anterior são adrenocorticotrófico (ACTH),
luteinizante (LH), estimulante de Melanócitos (MSH), estimulador
da tireoide (TSH), crescimento (GH) e prolactina. A insulina é
sintetizada no pâncreas, a testosterona é sintetizada principalmente
no testículo, o estrogênio é sintetizado principalmente nos ovários
e a tiroxina é sintetizada na tireoide. A única alternativa possível
de estar correta por apresentar apenas hormônios sintetizados na
glândula hipófise anterior, é a alternativa “A”.

65
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: O hormônio tiroxina é um importante regulador
metabólico (V), insulina é o principal regulador de glicose do plasma
sanguíneo (F), a medula suprarrenal chega a ter mais de 80% da
sua produção de adrenalina (F), o estrogênio é um sinalizador de
características secundárias femininas (F) e a testosterona possui um
vetor anabólico que sinaliza construção de tecido (V).
Feedback de reforço: O hormônio tiroxina é um importante
regulador metabólico (V), insulina é o principal regulador de
glicose do plasma sanguíneo (F), a medula suprarrenal chega a
ter mais de 80% da sua produção de adrenalina (F), o estrogênio
é um sinalizador de características secundárias femininas (F) e a
testosterona possui um vetor anabólico que sinaliza construção de
tecido (V). A única alternativa que representa a marcação correta
está presente na alternativa “E”.

66
Cálculo metabólico
Autor: Bráulio Nascimento Lima

Objetivos

• Identificar os principais metabolismos vinculados à


atividade física;

• Diferenciar valor metabólico e seu comportamento


durante a atividade física, o exercício físico e
o repouso;

• Compreender diferentes fatores que possam


influenciar no gasto energético.
1. Cálculo metabólico

A atividade física e o exercício físico estão associados ao corpo humano


a uma relação de maior necessidade de gasto energético em detrimento
dos movimentos produzidos. O movimento dos músculos possui um
preço baseado na relação entre a entrada de alimento para a produção
de ATP e o desencadear de contrações, criando uma relação com o
repouso, no qual o ambiente de atividade muscular gasta mais de 120
vezes mais energia. A níveis sistêmicos, o corpo humano como um todo
gasta 20 vezes mais energia durante uma atividade física em relação ao
estado de repouso (Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

O nível de treinamento do atleta é uma referência importante para que


possamos compreender melhor a lógica do consumo energético do
corpo humano, pois, vale ressaltar que, o comportamento fisiológico
do indivíduo sedentário ou fisicamente inativo está representando
um estado de constante adaptação às demandas impostas durante
a execução de qualquer atividade a qual não esteja adaptado. Nesse
contexto, vamos basear o entendimento bioenergético em indivíduos
fisicamente ativos durante a proposição de três diferentes sistemas de
transferência de energia, que são: sistema ATP-PCr, sistema glicolítico e
sistema aeróbico (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi,
2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

PARA SABER MAIS


O corpo humano produz calor e esse calor é uma derivação
de atividades fundamentais para o funcionamento do
organismo humano. O calor produzido é aferido através da
quantificação de calorias em um mecanismo chamado de
calorimetria. A atividade física e o exercício físico necessitam
de mais energia que o momento de repouso, aumentando
de forma significante a temperatura corporal. É importante

68
identificar que em repouso ou com atividades de baixa
intensidade temos um valor de gasto energético menor e
consequentemente uma temperatura menor em relação
às atividades físicas de média e alta intensidades, nas quais
gastamos mais energia e aumentamos a temperatura
corporal em até 2 graus celsius.

Considerando indivíduos fisicamente ativos, o tempo de atividade em


esforço máximo gera uma referência baseada na distribuição da energia
durante a atividade, assim como no sistema de transferência de energia
utilizado. Por esse motivo, a primeira subdivisão a ser considerada está
baseada em energia imediata (baseada em sistema ATP-PCr), energia
a curto prazo (baseada em sistema glicolítico) e energia de longo prazo
(baseada em sistema aeróbico) (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley,
2017; Mcardle et al., 2018).

ASSIMILE
Considerando indivíduos fisicamente ativos, cada
metabolismo envolvido na atividade física máxima
desenvolve uma performance típica por um tempo
delimitado a suas características. Atividades mais curtas,
baseadas em ATP-PCr (no máximo 30 segundos), podem
desenvolver a mais alta performance de velocidade,
potência e força. Na sequência, a produção de lactato,
baseada no sistema de degradação de glicose (até
3 minutos), consegue manter a atividade acima da
possibilidade de estabilidade fisiológica. Por fim, a atividade
aeróbica consegue manter o corpo em estado estável
durante a atividade física.

69
O consumo de ATP-PCr é o primeiro a ser solicitado pela atividade física e
pelo exercício físico, por esse motivo, trata-se de uma energia de consumo
imediato. Junto a esse fato, o sistema ATP-PCr também é considerado o que
possui maior potencial de transferência energética, podendo ultrapassar
mais de 4 vezes o potencial do sistema aeróbico. O consumo de ATP-
PCr pode durar de 5 a 8 segundos em atividades máximas, porém em
atividades de nível aeróbico seu consumo pode chegar a durar 30 segundos
(Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle
et al., 2018).

O sistema ATP-PCr é composto de trifosfato de adenosina (ATP) e


fosfocreatina (PCr) em uma concentração de 3 a 8 mmol de ATP e quatro
vezes esse valor de PCr por quilograma muscular (Kraemer et al., 2016;
Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Considerando a concentração e o tempo, podemos identificar que possui


curta duração em alta intensidade, possibilitando identificar o sistema ATP-
PCr como um tipo de energia fundamental para atletas velocistas de 100
m, de levantamento de peso, de lançamento, de arremesso, dentre outros
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Após o curto período de consumo de sistema ATP-PCr passamos a ter a


predominância do sistema glicolítico. A energia utilizada para fosforilação
do ADP, formado nas atividades de alta intensidade e curta duração, utiliza
o glicogênio armazenado na célula muscular em um processo chamado
de glicólise anaeróbica, que é uma forma rápida de produção de energia,
e gerando, de forma imediata, o lactato (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Com a glicólise anaeróbica temos a ressíntese de ATP, também considerada


uma fonte de energia reserva para altas intensidades de atividade física.
Atividades em esforço máximo com duração aproximada entre 60 e 180
segundos têm características de grande acúmulo de lactado, principalmente

70
no músculo agonista do movimento (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al.,
2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Em atletas, podemos identificar uma fundamental importância do sistema


glicolítico para inúmeras modalidades esportivas, um exemplo é a prova de
corrida de 800 m do atletismo, na qual o atleta precisa suportar a sensação
do lactato e ter grande tolerância à dor dessa condição. Outra modalidade é
a prova de fundo, pois o maratonista se utiliza da energia reserva produzida
na ressíntese de ATP para voltar a uma intensidade maior em determinadas
partes da prova (Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

O sistema aeróbico é direcionado para a sustentação da atividade física,


ou seja, devido à pequena produção de ATP durante a atividade glicolítica
o consumo de oxigênio passa a aumentar em uma tentativa de criar um
estado estável com uma produção contínua de energia capaz de suportar
as demandas. Vale ressaltar que o sistema aeróbico não possui suporte
energético para intensidades elevadas como ocorre no sistema ATP-PCr
e no sistema glicolítico, porém, durante atividades de intensidade menor
pode manter a estabilidade fisiológica renovando continuamente a
quantidade necessária de ATP (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017;
Mcardle et al., 2018).

Durante o período em que a atividade do sistema aeróbico está, aos


poucos, sendo ativada, os sistemas ATP-PCr e glicolítico são utilizados
gerando um efeito chamado de déficit de oxigênio. Durante uma atividade
de intensidade possível de ser executada em estado estável e durante a
utilização do sistema aeróbico, não existe produção de lactato ao ponto
de gerar sensibilidade a níveis de dor (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al.,
2016; Mcardle et al., 2018).

O estado estável da atividade física representa o tempo em que o consumo


de oxigênio é suficiente para manter a atividade física constante. Esse
estado estável de manutenção da atividade física tem um limite baseado
no máximo de consumo de oxigênio, dessa forma, podemos definir tal

71
platô limítrofe como consumo máximo de oxigênio (VO2max ou velocidade
máxima de consumo de oxigênio) (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017).

O VO2max, ao representar o limite máximo de consumo de oxigênio,


também pode representar o limite de atividade física possível de ser
executada, pois a produção de ATP está atrelada a esse sistema aeróbico.
O VO2max depende da interação de vários sistemas que possam captar
(sistema respiratório), distribuir (sistema cardiovascular) e consumir
(músculos adaptados à atividade) o oxigênio (Andrade e Lira, 2016; Kraemer
et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Mcardle et al., 2018).

A adaptação muscular também se faz importante, pois as fibras de


contração rápida têm como característica possuir mais unidades de
miofibrilas (sarcômeros), que são responsáveis pela utilização do ATP
na promoção da contração muscular, enquanto fibras de contração
lenta, por possuírem menor quantidade de miofibrilas, podem se
manter em atividade por mais tempo devido ao menor consumo de
ATP. Por esse motivo, as fibras de contração rápida (IIa e IIx) possuem
características anaeróbicas; especializando-se em contrações mais fortes,
rápidas e potentes; pertencentes aos sistemas ATP-PCr e glicolítico.
As fibras musculares de contração lenta (I) possuem características
aeróbicas; especializando-se em contrações lentas, precisas e com baixa
fadigabilidade; pertencentes ao sistema aeróbico (Andrade e Lira, 2016;
Mcardle et al., 2018; Mansour, 2019).

Tabela 01–Participação relativa do metabolismo em percentual


Duração do exercício em esforço máximo

Segundos Minutos
10 30 60 2 4 10 30 60 120

% Anaeróbico 90 80 70 50 35 15 5 2 1

% Aeróbico 10 20 30 50 65 85 95 98 99

Fonte: Mcardle et al., 2018.

72
De acordo com a predominância do tipo de fibra muscular (tipo I, IIa
ou IIx) pode-se observar uma influência direta sobre a performance
da atividade desenvolvida pelo atleta. Provas de longa duração exigem
mais resistência, portanto as fibras tipo “I” são fundamentais, sendo
estas as mais recrutadas e, quanto maior o desenvolvimento dela, mais
suas características serão mais exigidas. Provas de curta duração, que
envolvam força, velocidade ou potência, necessitam de atividade com o
máximo de fibras musculares, chegando a recrutar as “IIx”, que possuem
seu desenvolvimento direcionado para esse tipo de atividade física,
ou seja, são as principais fibras responsáveis pelo desenvolvimento de
performance em curtas durações e altas intensidades (Andrade e Lira,
2016; Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017;
Mcardle et al., 2018; Mansour, 2019).

Figura 01– Tipos de fibra muscular

Fonte: O autor
Legenda: Fibras tipo “I” possuem menor espessura e mais resistência e precisão. Fibras
tIpo “II” possuem maior espessura e são mais força, velocidade e potência.

73
Os processos metabólicos possuem como importante resultante a
produção de calor e a velocidade do referido evento é um importante
marcador. Nesse contexto a unidade de calor é a caloria e a aferição da
produção de calorias é chamada de calorimetria (Pithon-Curi, 2017; Mcardle
et al., 2018).

A aferição direta do calor está no campo da teoria e suas implicações ainda


possuem inviabilidades de aplicabilidade, pois sua mensuração ainda
sofre com altos valores em protocolos demorados com alta exigência
da engenharia. Tais dificuldades não tornam a calorimetria direta viável
para mensurar o cotidiano de atletas em atividade cotidiana (Mcardle et
al., 2018).

As reações responsáveis pela liberação de energia no corpo humano têm


relação direta com consumo de oxigênio, sendo esta a forma mais viável
de utilização para as atividades esportivas cotidianas e rotinas de avaliação
do treinamento. A aferição indireta possui aplicabilidade para o cotidiano
através da identificação do consumo de oxigênio ou da produção de gás
carbônico (Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Figura 02–A produção de calor durante o processo metabólico pode ser


aferida de forma direta ou indireta

Fonte: O autor

74
A relação diretamente proporcional entre análise de consumo de oxigênio
e produção de gás carbônico em relação à mensuração da produção de
calor torna a espirometria um método eficiente e indireto para estudar
calorimetria. As aplicações da espirometria podem ser em circuito fechado
ou em circuito aberto, sendo ambas representações de calorimetria indireta
(Mcardle et al., 2018).

A espirometria em circuito fechado utiliza apenas o oxigênio disponível no


equipamento, enquanto o gás carbônico produzido é removido por um
absorvedor e fica retido para aferição. A espirometria em circuito aberto
avalia a diferença de concentração de gases (oxigênio e gás carbônico)
entre a inspiração e expiração. Nesse contexto, as formas aplicáveis mais
comuns são a espirometria portátil, técnica com bolsa e instrumentação
computadorizada (Mcardle et al., 2018).

O quociente respiratório relaciona o consumo de carboidratos, proteínas


e gorduras ao consumo de oxigênio e sua reação para a produção de gás
carbônico e água. Para cada macronutriente utilizado temos diferenças
na quantidade de oxigênio necessária, decorrentes da reação relacionada
à oxidação do carbono e do hidrogênio de cada molécula. A Tabela 02
apresenta a reação química de oxidação em cada macronutriente (Mcardle
et al., 2018).

Tabela 02–Fórmulas representando o cálculo do quociente respiratório.


Quociente respiratório para os macronutrientes carboidrato, gordura
e proteína.

QR = CO2 produzido ÷
Quociente respiratório
O2 consumido

C6 H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O


Quociente respiratório para
carboidrato
QR = 6 CO2 ÷ 6 O2 = 1,00

75
C16 H32O2 + 23 O2 → 16 CO2 + 16 H2O
Quociente respiratório
para gordura
QR = 16 CO2 ÷ 23 O2 = 0,696

C72 H112N2O22S + 77 O2 → 63 CO2 + 38


Quociente respiratório H2O + SO3 + 9 CO(NH2)2
para proteína
QR = 63 CO2 ÷ 77 O2= 0,818

Fonte: adaptado Mcardle et al., 2018.

Vale ressaltar que as suposições envolvendo o consumo de oxigênio só


podem tornar-se avaliáveis a partir do momento em que o indivíduo
está em repouso ou em estado estável da atividade física (Pithon-Curi,
2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

O consumo energético do corpo humano depende de muitas variáveis


dentro de uma complexa relação com o ambiente, com a alimentação,
com a intensidade da atividade física executada, com a frequência da
prática de atividade física e com a estrutura corporal. Muitos outros
fatores podem influenciar no consumo de energia, mas é importante
considerar as diferenças entre a manutenção das funções vitais durante
o repouso (gasto basal) e durante a atividade física de média e alta
intensidades (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi,
2017; Mcardle et al., 2018).

O valor metabólico de base é o valor aproximado do consumo


energético, considerando a ausência de atividade física de média e alta
intensidades ou apenas o repouso. A taxa metabólica é uma referência
baseada na produção de calorias por metro quadrado de superfície

76
dividido pelo tempo de atividade (Kcal/m2/h) (Powers e Howley, 2017;
Mcardle et al., 2018).

Vários fatores podem gerar diferenças na taxa metabólica entre


indivíduos, dentre eles o gênero, a idade, a composição corporal, etc.
Tais diferenças podem ser observadas no fato da mulher possuir uma
taxa metabólica média de 5% a 10% menor que a do homem, mas esses
valores podem estar sofrendo efeito de outros, como o maior percentual
de tecido adiposo (tecido adiposo possui menor consumo metabólico
por quilograma em relação ao tecido muscular). A idade também
influencia na taxa metabólica, pois com o aumento da idade os valores
de consumo energéticos diminuem (Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018).

Os valores que envolvem taxa metabólica de base representam os


valores de consumo imediatamente em estado de repouso ou com
atividade de baixa intensidade. Na Tabela 03 estão expressos os
valores de taxas metabólicas padronizadas para homens e mulheres
em diferentes idades em unidade de KCal/m2/h (quilo calorias / metro
quadrado de superfície / hora) e Kj/m2/h (quilo joules / metro quadrado
de superfície / hora). Os referidos valores podem estar sujeitos a
um desvio padrão que ainda representa normalidade para qualquer
indivíduo, esse valor corresponde a 10%, ou seja, de acordo com a
Tabela 03, uma mulher de aproximadamente 25 anos de idade (±2,5)
com 31,68 Kcal/m2/h está dentro da normalidade, pois o seu valor
metabólico de base está 10% abaixo do valor de referência que é de 35,2
Kcal/m2/h (Mcardle et al., 2018).

Tabela 03–Valores para taxa metabólica basal para homens e mulheres


de diferentes idades (podendo ter um desvio de 10%)
kcal/m2/h kJ/m2/h
Idade (anos)
Homens Mulheres Homens Mulheres
1 53 53 222 222
2 52,4 52,4 219 219

77
3 51,3 51,2 215 214
4 50,3 49,8 211 208
5 49,3 48,4 206 203
6 48,3 47 202 197
7 47,3 45,4 198 190
8 46,3 43,8 194 183
9 45,2 42,8 189 179

10 44 42,5 184 178

11 43 42 180 176
12 42,5 41,3 178 173

13 42,3 40,3 177 169

14 42,1 39,2 176 164

15 41,8 37,9 175 159

16 41,4 36,9 173 154


17 40,8 36,3 171 152
18 40 35,9 167 150
19 39,2 35,5 164 149

20 38,6 35,3 162 148

25 37,5 35,2 157 147

30 36,8 35,1 154 147


35 36,5 35 153 146
40 36,3 34,9 152 146

45 36,2 34,5 152 144

50 35,8 33,9 150 142

55 35,4 33,3 148 139

60 34,9 32,7 146 137


65 34,4 32,2 144 135

78
70 33,8 31,7 141 133

75+ 33,2 31,3 139 131

Fonte: Adaptado de Fleisch, 1951.

A padronização dos valores de consumo energético diário pode


ser influenciada por diversos fatores, dentre eles a atividade física,
termogênese causada pela dieta, efeito calorigênico causado pelos
alimentos durante atividade física de intensidade média ou alta, clima
e gestação. A Tabela 04 representa o consumo diário de energia em
repouso, comparando a massa corporal em Kg com seu consumo em
Kcal sem considerar o tecido adiposo (Kraemer et al., 2016; Mcardle et
al., 2018).

Tabela 04–Valores padronizados de consumo energético diário por Kg


corporal sem considerar o tecido adiposo

Massa Gasto Massa Gasto Gasto


Massa
corporal energético corporal energético energético
corporal
sem diário sem diário diário
sem gordura
gordura em repouso gordura em repouso em repouso

(kg) (kcal) (kg) (kcal) (kg) (kcal)


30 1.018 58 1.623 86 2.228
31 1.040 59 1.644 87 2.249
32 1.061 60 1.666 88 2.271
33 1.083 61 1.688 89 2.292
34 1.104 62 1.709 90 2.314
35 1.126 63 1.731 91 2.336
36 1.148 64 1.752 92 2.357
37 1.169 65 1.774 93 2.379
38 1.191 66 1.796 94 2.400
39 1.212 67 1.817 95 2.422
40 1.234 68 1.839 96 2.444

79
41 1.256 69 1.860 97 2.465
42 1.277 70 1.882 98 2.487
43 1.299 71 1.904 99 2.508
44 1.320 72 1.925 100 2.530
45 1.342 73 1.947 101 2.552
46 1.364 74 1.968 102 2.573
47 1.385 75 1.990 103 2.595
48 1.407 76 2.012 104 2.616
49 1.428 77 2.033 105 2.638
50 1.450 78 2.055 106 2.660
51 1.472 79 2.076 107 2.681
52 1.493 80 2.098 108 2.703
53 1.515 81 2.120 109 2.724
54 1.536 82 2.141 110 2.746
55 1.558 83 2.163 111 2.768
56 1.580 84 2.184 112 2.789
57 1.601 85 2.206 113 2.811

Fonte: Mcardle et al., 2018.

O consumo de energia durante a atividade física depende da


intensidade imposta em sua prática, ou seja, se utilizar o VO2max como
referência em uma atividade de corrida, em 60% durante 10 minutos
o gasto energético é menor que 80% durante os mesmos 10 minutos
independente da distância, inclinação ou velocidade para pessoas
fisicamente ativas. Pessoas sedentárias, inativas ou iniciando a prática
regular de atividade física podem ter alterações nesse padrão (Mcardle
et al., 2018).

Para melhorar o cálculo usando valores de referência envolvendo os


valores metabólicos de base, utilizamos a nomenclatura MET. Um MET
representa o valor metabólico de base por um determinado tempo e
a referência dos seus múltiplos para momentos de atividade física ou

80
exercício físico, ou seja, se o consumo de oxigênio em repouso estiver
representando pelo valor de 3 ml/kg/min (1MET), quando o indivíduo
estiver praticando atividade física com consumo de 6 ml/kg/min ele está
em 2MET’s, de 9 ml/kg/min está em 3MET’s, e assim por diante (Mcardle
et al., 2018).

Tabela 05–Valores de referência de gasto energético em MET’s baseados


em níveis de esforço

Gasto energético
Nível mℓ/kg/
kCal/min ℓ/min MET’s
min

Homens

Leve
2,0 a 4,9 0,40 a 0,99 6,1 a 15,2 1,6 a 3,9
(excitação)

Moderado
5,0 a 7,4 1,00 a 1,49 15,3 a 22,9 4,0 a 5,9
(manutenção)

Pesado
7,5 a 9,9 1,50 a 1,99 23,0 a 30,6 6,0 a 7,9
(adaptação)

Muito pesado
10,0 a 12,4 2,00 a 2,49 30,7 a 38,3 8,0 a 9,9
(dano)

Extremamente
pesado ≥ 12,5 ≥ 2,50 ≥ 38,4 ≥ 10,0
(máximo)

Mulheres

Leve
1,5 a 3,4 0,30 a 0,69 5,4 a 12,5 1,2 a 2,7
(excitação)

Moderado
3,5 a 5,4 0,70 a 1,09 12,6 a 19,8 2,8 a 4,3
(manutenção)

81
Pesado
5,5 a 7,4 1,10 a 1,49 19,9 a 27,1 4,4 a 5,9
(adaptação)

Muito pesado
7,5 a 9,4 1,50 a 1,89 27,2 a 34,4 6,0 a 7,5
(dano)

Extremamente pesado
≥ 9,5 ≥ 1,90 ≥ 34,5 ≥ 7,6
(máximo)

Fonte: Adaptado de Mcardle et al., 2018.

Tabela 06–Relação da intensidade pela idade em MET’s

Intensidade absoluta (METs)


Intensidade
Classificação > 80
relativa (% Jovem Meia-idade Idoso
anos
do VO2max)

Repouso < 10 1 1 1 1

Leve
< 35 < 4,5 < 3,5 < 2,5 < 1,5
(excitação)

Razoavelmente
leve < 50 < 6,5 < 5,0 < 3,5 < 2,0
(manutenção)

Moderada
< 70 < 9,0 < 7,0 < 5,0 < 2,8
(adaptação)

Pesada
< 70 > 9,0 > 7,0 > 5,0 > 2,8
(dano)

Máxima
100 13 10 7 4
(máximo)
Fonte: Adaptado de Mcardle et al., 2018.

82
TEORIA EM PRÁTICA
Um atleta recreacional de corrida de rua, saudável, do sexo
masculino, adulto jovem e sem necessidade de adaptações,
vai participar de uma prova de 10 km e possui um tempo
total de 3 meses para treinar. Com o intuito de desenvolver
o máximo possível do sprint final da prova, esse atleta
procura um profissional de Educação Física. Qual sistema
energético o atleta está esperando melhorar e como fazer
para desenvolvê-lo?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A prática da atividade física está relacionada a um


consumo maior de substratos energéticos, porém,
dependendo da atividade esportiva, temos um sistema
predominante. Nesse contexto, marque a alternativa
que esteja relacionando de forma correta a modalidade
esportiva ao sistema energético.

a. A corrida de 100 m rasos, para o atleta profissional,


dura 10 segundos, portanto trata-se de
sistema ATP-PCr.
b. A corrida de maratona dura mais de duas horas,
portanto sua característica de esforço máximo utiliza
sistema ATP-PCr.
c. O arremesso de peso dura menos de cinco segundos
em esforço máximo, ou seja, o curto tempo elimina a
necessidade de gasto energético.
d. As provas de ginástica artística estão direcionadas
para maior precisão nos movimentos, portanto trata-

83
se de uma modalidade com movimentos vigorosos
que não aumentam o gasto energético basal.
e. Independente da modalidade esportiva, todos
os sistemas são utilizados de forma homogênea
sem predominância e agindo exatamente da
mesma forma.

2. Leia e complete com “V” (Verdadeiro) ou “F” (Falso)


as lacunas ( ) das afirmativas abaixo e marque a
alternativa que corresponda à ordem correta.

( ) As fibras tipo I possuem maior capacidade de


resistência (sistema aeróbico).
( ) As fibras tipo II possuem maior força, potência
e velocidade, por isso duram menor tempo de
performance em atividade máxima nessas capacidades.
( ) As fibras tipo I possuem maior capacidade de força,
potência e velocidade (sistema ATP-PCr).
( ) As fibras tipo II possuem maior resistência, por isso
duram menor tempo de performance em atividade
submáxima nessas capacidades.

a. F – F – V - V.
b. F – V – F - V.
c. V – V – F - F.
d. V – F – V - F.
e. F – F – F - F.

3. Leia as afirmativas abaixo:

I. O valor metabólico basal diário é o valor referente ao


valor aproximado do consumo de energia diário em que

84
o indivíduo tenha executado tarefas de atividade física em
esforço médio ou maior.
II. A atividade física de média e alta intensidades
aumentam de forma significante a quantidade de energia,
por esse motivo precisamos de maior vigor nos exercícios
para alcançar sistemas energéticos ATP-PCr e glicolítico.

a. Apenas a afirmativa II está correta.


b. Apenas a afirmativa I está correta.
c. Ambas as afirmativas estão erradas.
d. As afirmativas estão se contradizendo.
e. As afirmativas I e II estão corretas.

Referências Bibliográficas
ANDRADE, M. D. S.; LIRA, A. B. D. Fisiologia do Exercício. Barueri: Manole, 2016.
ISBN 978-85-204-4100-8.
FLEISCH, A. Le metabolisme basal standard et sa determination au moyen du
“Metabocalculator”. Helv Med Acta, 1951.
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. Fisiologia do exercício: teoria e
prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. ISBN 978-85-277-3033-4.
MANSOUR, N. R. Cinesiologia e fisiologia do exercício. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
ISBN 978-85-9502-854-8.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: nutrição, energia
e desempenho humano. 7. ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. ISBN 978-85-
277-3015-0.
PITHON-CURI, T. C. Fisiologia do Exercício. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. 9. ed. Barueri: Manole, 2017. ISBN 978-85-
204-5510-4.

85
Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
Resolução: O sistema ATP-PCr, utilizado em atividade de esforço
máximo, possui uma duração máxima de 30 segundos. A
modalidade de 100 m rasos do atletismo para o atleta profissional
dura um tempo aproximado de 10 segundos (descrito na
alternativa).
Feedback de reforço: A alternativa “B” não corresponde ao sistema
ATP-PCr, pois atividades de longa duração são caracterizadas
pelo sistema Aeróbico. A alternativa “C” descreve uma atividade
de menos de 5 segundos em esforço máximo, característica do
sistema ATP-PCr, portanto existe aumento de gasto energético
independente do tempo. A alternativa “D” está incorreta pelo
fato de afirmar que uma modalidade em que temos aumento de
atividade não aumenta o consumo de energia. A alternativa “E” está
incorreta por afirmar que os sistemas energéticos funcionam pelo
mesmo tempo e da mesma forma.
Questão 2 – Resposta: C
Resolução: Fibras tipo I possuem maior resistência (capacidade
vinculada ao sistema aeróbico) e fibras tipo II possuem maior
força, potência e velocidade (características de atividades de maior
intensidade e menor duração – características dos sistemas ATP-PCr
e glicolítico).
Feedback de reforço: As duas primeiras afirmações estão corretas
enquanto as duas seguintes invertem o verdadeiro sistema que
caracteriza a dominância do tipo de fibra na atividade física.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: A afirmação I realmente descreve o conceito de valor
metabólico de base, e a afirmativa II, de forma correta, descreve

86
a necessidade de mais vigor para chegar aos sistemas ATP-PCr e
glicolítico.
Feedback de reforço: As alternativas (A, B e C) discordam das
afirmativas I e II que estão corretas. A Afirmativa D está incorreta,
pois não existe discordância entre afirmativas, apenas estão
em contextos diferente ao tratar de valor metabólico de base e
atividade de alta intensidade.

87
Neurofisiologia e Exercício
Autor: Bráulio Nascimento Lima

Objetivos

• Identificar estruturas do neurônio e do


sistema nervoso;

• Identificar as funções das estruturas do neurônio e


do sistema nervoso;

• Compreender a participação do sistema nervoso


na coordenação de diversos tecidos do corpo,
influenciando na fisiologia humana durante a
atividade física e o exercício físico;

• Compreender a participação do sistema nervoso na


produção do movimento humano e sua forma de
exercer o controle motor sobre os músculos e sobre
o reflexo.
1. Neurofisiologia e Exercício

O sistema nervoso é responsável pela maior parte da comunicação


entre segmentos e sistemas do corpo humano, conduzindo
informações até o sistema nervoso central e devolvendo respostas
após o processamento. Além do processamento de informações,
gerando respostas, outra função fundamental do sistema nervoso
é a integração entre diversos sistemas. Ao observar suas funções,
podemos dizer que o sistema nervoso é fundamental para o controle
da homeostase, assim como para todas as respostas decorrentes
da atividade física e do exercício físico. A própria atividade física
necessita de controle baseado no sistema nervoso através do
controle neuromuscular, pois está vinculada a uma complexa relação
de ativação dos músculos envolvendo feedback sensorial e níveis de
controle no sistema nervoso central (Andrade e Lira, 2016; Kraemer
et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018).

A proximidade com outros sistemas, devido à característica de


levar e trazer informações, assim como de integrá-las, criaram
nomenclaturas usuais para a atuação do sistema “neuroendócrino”,
“neurovascular” e “neuromuscular”. Tal organização está ligada a toda
organização envolvendo atividade física e exercício físico, gerando
inúmeras respostas sistêmicas, assim como respostas pontuais,
como a coordenação dos músculos em suas atividades. Sendo
assim, o sistema neuromuscular está ligado ao controle individual
de cada unidade motora em uma complexa relação com seu papel
na produção de força da contração muscular. Vale ressaltar que a
estrutura desenvolvida pelo sistema neuromuscular no controle de
unidades motoras chega ao ponto de coordenar vários músculos
simultaneamente, através de suas unidades motoras, chegando aos
movimentos complexos (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

89
PARA SABER MAIS
Usualmente, nas academias de ginástica e musculação,
por exemplo, utilizamos as nomenclaturas iniciante,
intermediário e avançado para caracterizar os clientes de
acordo com o grau de familiarização com a modalidade.
O sistema nervoso está intimamente ligado às respostas
de controle motor durante a atividade física e o exercício
físico, coordenando cada músculo envolvido no gesto
motor. As adaptações do sistema nervoso às modalidades
propostas geram maior viabilidade na coordenação entre
músculos participantes e entre órgãos de diversos sistemas.
Portanto, como consequência das adaptações do sistema
nervoso, temos mais eficiência da atividade motora e na
coordenação entre sistemas.

Assim, como pode ser observado, a grosso modo, em todos os


órgãos do corpo, o sistema nervoso também está vinculado a uma
necessidade de sobrevivência do sistema biológico, e suas funções
podem distinguir vertebrados “superiores” de outros grupos de
animais mais “primitivos”. No caso específico do ser humano, o
encéfalo se demonstra desenvolvido ao ponto de gerar raciocínio
lógico a níveis acima dos demais animais do planeta, além de
compreender memórias, sentimentos, consciência, sensações,
percepções, reflexos subconscientes e movimentos corporais. Tudo
o que o sistema nervoso humano pode desenvolver está ligado ao
movimento humano (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

90
ASSIMILE
O sistema nervoso é o principal mecanismo de
comunicação entre diversos tecidos do corpo humano.
Sua principal finalidade também está direcionada para a
sobrevivência, ou seja, é responsável por gerar respostas
ao estresse e a outras situações que necessitem de
coordenação entre órgãos. Além disso, o sistema
nervoso, de forma integradora, controla os músculos
do aparelho locomotor, coordenando as contrações
para produzir movimentos complexos. Nesse contexto,
podemos identificar que a compreensão da fisiologia
do sistema nervoso é fundamental para compreender o
movimento humano e suas implicações na atividade física
e no exercício físico.

O exercício físico produz alterações fisiológicas que incluem perda


excessiva de água, mudanças no equilíbrio acidobásico, aumento na
temperatura, alteração na glicose sanguínea e mudanças na pressão
arterial. Tantas alterações necessitam da atuação do sistema nervoso
para controlar e normalizar o ambiente interno do corpo, ou seja,
durante o exercício físico o sistema nervoso controla, em forma de
resposta, as funções necessárias para suportar tais demandas e, após
o exercício, controla a recuperação, incluindo a supercompensação
necessária para o retorno da homeostase e preparando para
um possível estresse maior. Sendo assim pode-se observar a
fundamental importância do sistema nervoso para a homeostase e
para o resultado do treinamento físico (Andrade e Lira, 2016; Kraemer
et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018).

91
A maioria das respostas utilizam sistema de retroalimentação,
envolvendo o sistema nervoso, direcionada para o melhor
comportamento fisiológico para as demandas impostas em
determinadas situações, como ocorre, por exemplo, no exercício
físico. Tais respostas podem ser chamadas, dependendo do
tipo, de alças de retroalimentação positiva ou negativa. A alça de
retroalimentação positiva tem a intenção de iniciar ou intensificar
um processo, como ocorre na intensificação do fluxo sanguíneo local
na medida em que a acidose aumenta. A alça de retroalimentação
negativa é a mais comum e tem a finalidade de iniciar ou aumentar
uma atividade em sentido contrário ao estímulo, como ocorre no
aumento da temperatura corporal durante o exercício estimulando
a liberação de suor para controlar o superaquecimento (Andrade e
Lira, 2016; Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018).

Para executar tantas funções o sistema nervoso possui estruturas


especializadas que vão desde a célula até uma complexa estrutura
neuronal. Iniciaremos com as estruturas do neurônio, que é a célula
típica desse sistema.

2. Neurônios

Os neurônios, anatomicamente, são compostos por três estruturas


características que são o corpo celular (soma), o axônio e os dendritos
(Figura 01). As referidas estruturas dão suporte para as características
especializadas do neurônio de transmitir e receber informações,
contribuindo com as capacidades eletroestimuláveis dessa célula
(Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Mansour, 2019).

92
Figura 01–Principais estruturas anatômicas do neurônio.

colematt/istock.com.br
Legenda: 1. Dendritos 2. Núcleo 3. Corpo Celular (soma) 4. Axônio 5. Neurolemócitos
Células de Schwann) 6. Nódulo de Ranvier 7. Bainha de Mielina 8. Terminações Axonais.

Os dendritos são estruturas especializadas em receber informações. As


informações recebidas seguem para o corpo celular, que é a central de
processamento da célula. Toda célula possui um limiar de estímulo e,
ao ser estimulada, envia a informação através do axônio, culminando a
transmissão nas terminações axonais, gerando o estímulo para a célula
seguinte (Kraemer et al., 2016).

O verdadeiro número de tipos de neurônios ainda é desconhecido


e, na atualidade, ainda estamos descobrindo tipos diferentes de
neurônios. Mesmo nesse ambiente de descoberta de tipos de neurônios,
utilizamos três tipos para caracterizar os formatos principais, que são os
pseudounipolares (ou unipolar), bipolares e multipolares. Os neurônios
pseudounipolares são sensitivos e seus corpos celulares compõem
regiões de gânglios espinais e cranianos, possuindo como característica
ter os axônios e os dendritos fundidos em um processo único ligado ao
corpo celular. Os neurônios bipolares possuem apenas um dendrito e
um axônio partindo do corpo celular e são considerados raros, podendo

93
ser encontrados em locais específicos como na retina dos olhos. Os
neurônios multipolares são predominantes no cérebro e também
caracterizam os neurônios motores (eferentes) localizados na medula
espinal; possuem como característica ter vários dendritos e um único
axônio, todos partindo do corpo celular (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017). Alguns exemplos de neurônios podem ser visualizados na
Figura 02.

Figura 02–Características principais dos neurônios.

Fonte: TefiM/istock.com.br
Legenda: 1. Pseudounipolar (ou unipolar – predominantemente sensitiva) 2. Bipolar (raras
e predominantemente sensitiva. Ex.: Retina dos olhos) 3. Multipolar (predominante no
cérebro e compõem os neurônios motores).

O tamanho do axônio depende de sua finalidade, podendo chegar a


mais de um metro de comprimento como ocorre nos neurônios motores
que ligam a medula espinal ao músculo (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017).

94
Neurônios aferentes ou sensitivos são os responsáveis por conduzir a
informação dos receptores sensoriais na pele ou órgãos internos em
direção ou para dentro do SNC, enquanto os neurônios motores ou
eferentes levam a informação no sentido inverso (do sistema nervoso
central para a periferia). Os interneurônios formam a grande maioria
dos neurônios do corpo, compondo principalmente o próprio sistema
nervoso central e ligam os neurônios sensitivos nos motores (Kraemer et
al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Figura 03– Tipos de neurônios

Fonte: Graphic_BKK1979/ istock.com.br


Legenda: O neurônio motor (1) tem seu corpo celular localizado na medula espinal e seu
axônio se estende até a sinapse neuromuscular. O neurônio sensitivo (2) tem seu axônio
seguindo da terminação nervosa até a medula espinal; seu corpo celular fica localizado
em gânglios.

O sistema nervoso tem cerca de 10% de sua estrutura formada por


neurônios sensitivos (aferentes), motores (eferentes) e interneurônios.
As demais células são neuróglias (células glias) e são responsáveis por

95
dar o suporte para os neurônios. As células glias são responsáveis
por dar suporte na nutrição (Astrócitos) dos neurônios, formar e
dar manutenção à bainha de mielina (Oligodendrócitos) e defender
(Micróglia) os neurônios (Kraemer et al., 2016).

Figura 04. Astrócitos: nutrição e controle do ambiente

Fonte: ttsz/istock.com.br

3. Sinapses

A sinapse é a ligação entre duas células excitáveis, formada por uma


célula pré-sináptica e uma pós-sináptica. Apenas neurônios e células
musculares são excitáveis (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017;
Mcardle et al., 2018).

96
A membrana da célula pré-sináptica secreta neurotransmissores
que ativam receptores específicos na célula pós-sináptica. O
neurotransmissor pode ser uma substância química (sinapse química)
ou um pulso elétrico (sinapse elétrica). As sinapses elétricas permitem
que partículas carregadas passem por elas em áreas especializadas
chamadas de junções comunicantes (Kraemer et al., 2016; Pithon-
Curi, 2017).

Figura 05. Fenda Sináptica.

Pré-sináptico

Pré-sináptico

Fonte: ttsz/istock.com.br

O neurotransmissor da sinapse química também é responsável por


pulsos elétricos direcionados à despolarização da membrana pós-
sináptica. O referido pulso elétrico pode excitar a membrana de outro
neurônio, assim como de uma célula muscular, sendo essa membrana
pós-sináptica de uma célula alvo. Existem muitos neurotransmissores,
dentre eles acetilcolina, histamina, norepinefrina, dopamina, serotonina,

97
glutamato, ácido gama-aminobutírico (GABA), glicina, substância P,
encefalinas e endorfinas (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

4. Sistema nervoso central

Anatomicamente o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso


central e sistema nervoso periférico. O sistema nervoso central é
composto pelo encéfalo, medula espinal e interneurônios, enquanto
o sistema nervoso periférico por nervos sensitivos, nervos motores e
gânglios (Kraemer et al., 2016).

Funcionalmente o sistema nervoso central é responsável pela


integração de diversos sistemas. O sistema nervoso periférico
coleta informações para levar até o sistema nervoso central por
vias sensitivas (aferentes) e devolver respostas por vias motoras
(eferentes) (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

A Figura 06 descreve em fluxograma a organização do sistema


nervoso, onde pode ser identificado, também, o sistema nervoso
somático, que é responsável pelas respostas conscientes e desejadas,
e o sistema nervoso autônomo, que se trata de atividades de controle
e respostas que ocorrem fora de um ambiente consciente. O sistema
nervoso autônomo pode ser dividido em simpático, que são vias de
ativação de processos, e parassimpático, que são vias de desativação
dos processos (Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e
Howley, 2017).

98
Figura 06–Fluxograma com resumo das divisões anatômicas e funcionais
do Sistema Nervoso

Fonte: Adaptado de Kraemer et al., 2016.

O cérebro, que é uma parte do encéfalo, é conhecido por ser a parte


“consciente” do sistema nervoso central. Na superfície do cérebro existe
uma fina camada de substância cinza chamada de córtex cerebral. No
córtex fica localizado uma importante área de comando motor voluntário
chamado de córtex motor, que pode ser identificado na Figura 07 (Kraemer
et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Figura 07–Localização do Córtex Motor Voluntário

Fonte:kowalska-art/Istock.com.br

99
As regiões do encéfalo chamadas de bulbo e ponte são fundamentais
para regulação da frequência da atividade do coração, da pressão
arterial, da respiração e de alguns reflexos como os de engolir, soluçar,
espirrar e vomitar (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017). Sua
localização pode ser visualizada na Figura 08.

A segunda maior área do encéfalo é o cerebelo, que é uma estrutura


fundamental para a coordenação de movimentos. O cerebelo também
está envolvido na manutenção do equilíbrio, assim como da postura
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017). A localização do cerebelo
está representada na Figura 08.

Figura 08–Localização da Ponte, Bulbo e Cerebelo no Encéfalo

Fonte: rendixalextian/iStock.com.br

A medula espinal compõe o sistema nervoso central e fica localizada


inferiormente ao encéfalo seguindo internamente através dos forames
vertebrais até o início das vértebras lombares. A partir da medula
espinal temos a origem de muitos nervos que se ramificam por todo
o corpo, recebendo informações e gerando respostas eferentes. Tal

100
envolvimento com o sistema locomotor torna este órgão fundamental
para o controle do movimento, executando tarefas complexas como o
reflexo (Figura 09) (Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018).

Figura 09–Participação da medula espinal no controle motor humano

Fonte: AlexeyBlogoodf/iStock.com.

O reflexo é uma atividade motora involuntária e automática em resposta


ao estímulo. Normalmente o reflexo é uma conexão da via sensitiva
gerando uma resposta imediata na via motora. O reflexo mais simples
é o monossináptico, como o que ocorre no tendão patelar. Em geral
os reflexos ocorrem na medula espinal através de interneurônios que
ligam a via sensitiva à via motora (Figura 10). A compreensão desse
mecanismo é fundamental para o treinamento, pois a repetição diminui
a participação de níveis corticais e aumenta a velocidade de reflexo a
níveis medulares (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle
et al., 2018).

101
Figura 10–O reflexo é um mecanismo de resposta a nível medular

Fonte: VectorMine/iStock.com.

Formas de controle mais primitivos podem ser bloqueados por níveis


mais altos de controle, ou seja, quanto mais específico o movimento,
maior a participação de níveis corticais, enquanto movimentos que
necessitam de velocidade de reação, necessitam estar a níveis mais
medulares (Fileni et al., 2019).

5. Unidade Motora

A unidade motora é a base do controle muscular pelo fato de ser a


unidade fundamental da contração. É formada por um neurônio motor
e suas sinapses neuromusculares. A quantidade de fibras musculares
em uma unidade motora pode variar, podendo ter apenas 5 fibras
(músculos que controlam a lente dos olhos) e chegando a 1.000 fibras
em alguns músculos, como ocorre no gastrocnêmico (Kraemer et al.,
2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018; Mansour, 2019).

102
Figura 11–Esquema exemplificando o funcionamento das unidades
motoras. A ativação do neurônio motor contrai todas as fibras
por ele inervadas.

Fonte: O autor.

A despolarização é baseada principalmente em íons de sódio (Na+),


localizados do lado de fora da membrana, e Potássio (K+), localizados
internamente à membrana. Quando um pulso é conduzido a membrana
se torna permeável, trocando de polaridade com o meio externo,
permitindo a entrada de sódio (Na+) em um processo de despolarização.
Com apenas um pequeno atraso a membrana troca íons novamente
com o meio externo, devolvendo potássio (Na+) para o meio extracelular
em uma repolarização (Figura 12) (Mcardle et al., 2018).

103
Figura 12–Despolarização: canal de entrada de sódio aberto.
Repolarização: canal de potássio aberto.

Fonte: O autor.

Vale ressaltear que os nervos utilizam impulsos saltatórios, através


da bainha de mielina, para condução local. Entre bainhas de mielina
estão pequenos espaços chamados de nó de Ranvier. Os íons têm
dificuldades de atravessar a membrana da bainha de mielina, porém
podem atravessar facilmente a membrana nos nós de Ranvier (Kraemer
et al., 2016).

O tamanho do neurônio influencia suas características de contribuição


para a contração muscular, pois neurônios motores menores, além
de inervar quantidade menor de fibras, também possuem um sinal
de abalo elétrico menor e mais lento, atribuindo às fibras inervadas
características semelhantes (fibras tipo “I”). Os neurônios motores
maiores, devido ao tamanho, conseguem inervar uma maior quantidade
de fibras musculares e conduzir sinais de abalo elétrico maiores e
de propagação mais rápida, atribuindo essa característica às fibras
inervadas (fibras tipo “II”) (Figuras 13 e14) (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

104
Figura 13–Representação do sinal de abalo.

Fonte: Baseado em Kraemer et al., 2016.


Legenda: 1. Repouso da membrana; 2. estímulo; 3. Limiar é alcançado–canais de Na+ se abrem
e Na+ entra; 4. Entrada de Na+ por causa da despolarização; 5. Canais de Na+ começam a fechar
na medida em que canais de K+ se abrem; 6. K+ move do interior para o exterior da célula; 7.
Canais de K+ permanecem abertos, causando hiperpolarização; 8. Canais de K+ se fecham, então
menos K+ deixa a célula; 9. Célula retorna ao potencial de membrana de repouso.

Figura 14 - Sinal de abalo conforme tipo de unidade motora.

Fonte: O autor.
Legenda: Neurônio motor menor despolariza sem a necessidade de sinal de abalo grande e,
consequentemente, também segue um sinal de abalo menor e mais lento para suas fibras
musculares inervadas (tipo “I”). Neurônio motor maior necessita de um sinal de abalo maior para
despolarizar, e segue com um sinal maior e mais rápido para as fibras inervadas (tipo “II”).

105
Toda fibra muscular desencadeia força máxima possível em sua
contração ao ser despolarizada, ou seja, trata-se de uma atividade
intimamente ligada à quantidade possível de fibras despolarizadas, e
quanto maior esse valor, maior a intensidade da contração, conceito
conhecido como “Lei do tudo ou nada”. Sinais de abalo maiores geram
maior intensidade na contração de fibras, têm mais força, velocidade
e potência (Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley,
2017; Mcardle et al., 2018; Mansour, 2019).

Além de considerar o tipo de fibra, o abalo maior também recruta uma


quantidade maior de fibras, pois sinais maiores também despolarizam
neurônios menores. Esse mecanismo de despolarização é a ferramenta
de controle utilizada pelo sistema nervoso para coordenar os
movimentos (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et
al., 2018; Mansour, 2019).

TEORIA EM PRÁTICA
Ao iniciar um adolescente saudável, sem restrições, para
prática de atividade física, sedentário e sem experiência
na modalidade de esporte coletivo basquetebol, é possível
perceber que o gesto de quicar a bola não é semelhante
ao gesto de um atleta treinado. Com o tempo, praticando o
basquetebol, o gesto vai se tornando mais semelhante ao
utilizado pelos atletas treinados. Depois de muito tempo
praticando basquetebol, não é necessário, para o agora
atleta, concentração no gesto de quicar a bola. Qual a
importância da repetição para o desenvolvimento de gestos
motores? O que o reflexo tem a ver com o desenvolvimento
do gesto motor citado?

106
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O sistema nervoso necessita de células especializadas


chamadas de neurônios. Utilizando neurotransmissores,
a principal função do neurônio é transmitir informação.
Marque a alternativa correta

a. O corpo da célula do sistema nervoso (neurônio)


não possui estruturas específicas de transmissão de
informações para a célula seguinte.
b. O axônio é uma estrutura do neurônio responsável
pela transmissão da informação, utilizando o
pulso elétrico.
c. Com a finalidade exclusiva de transmitir informações
para a célula seguinte, o dendrito é uma estrutura
especializada para essa função no neurônio.
d. A bainha de mielina é uma organela única dentro da
célula nervosa e sua finalidade é captar informações
externas à célula.
e. Os neurônios não podem ser eletroestimuláveis, pois
não podem conduzir eletricidade.

2. Complete os parênteses com “V” (Verdadeiro) ou “F”


(Falso) e marque a alternativa que corresponda à
ordem correta.

( ) A principal divisão anatômica do sistema nervoso é


em central e periférico.
( ) Os nervos compõem vias sensitivas (aferente) e vias
motoras (eferentes).
( ) O reflexo é baseado na atividade do sistema nervoso
central, que busca aumentar as respostas entre o
sistema sensitivo (aferente) e motor (eferente).

107
( ) O gesto motor responde mais rápido ao estímulo
quando a coordenação ocorre a nível medular. Níveis
corticais podem se sobrepor, porém são mais lentos.

a. F – F – F - V.
b. F – V – F - V.
c. V – V – V - F.
d. V – V – V - V.
e. F-V-V-V.

3. Leia os parágrafos “I” e “II”:

I. A “lei do tudo ou nada” ocorre quando uma única fibra


muscular, ao ser estimulada, contrai com o máximo de
intensidade possível.
II. Os neurônios motores necessitam de estímulo elétrico
para serem ativados, ou seja, quanto maior o sinal de
abalo gerado pelo sistema nervoso central, maior o
número de fibras recrutadas e maior a intensidade da
contração muscular.

a. Os parágrafos “I” e “II” estão corretos.


b. Ambos os parágrafos estão errados.
c. Apenas o parágrafo “I” está correto.
d. Apenas o parágrafo “II” está correto.
e. Os parágrafos “I” e “II” estão parcialmente corretos.
Pois cada fibra muscular leva em consideração
graduações de contração e o controle motor não
precisa do sistema nervoso para gerar contração
coordenada.

108
Referências Bibliográficas
ANDRADE, M. D. S.; LIRA, A. B. D. Fisiologia do Exercício. Barueri: Manole, 2016. ISBN
978-85-204-4100-8.
FILENI, C. H. P.; OLIVEIRA, R. D. C.; VILELA JUNIOR, G. D. B. Educação Física: na
ciência, na escola e na prática. Campinas: CPAQV, 2019. ISBN 978-65-900730-0-6.
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. Fisiologia do exercício: teoria e
prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. ISBN 978-85-277-3033-4.
MANSOUR, N. R. Cinesiologia e Fisiologia do Exercício. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
ISBN 978-85-9502-854-8.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: nutrição, energia
e desempenho humano. 7. ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. ISBN 978-85-
277-3015-0.
PITHON-CURI, T. C. Fisiologia do Exercício. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. 9. ed. Barueri: Manole, 2017. ISBN 978-85-
204-5510-4.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B

Resolução: O axônio é uma estrutura especializada em conduzir


pulsos elétricos até a terminação axonal. Dessa forma libera
neurotransmissores para a membrana pós-sináptica. A alternativa
correta é a “O axônio é uma estrutura do neurônio responsável pela
transmissão da informação, utilizando o pulso elétrico”.

Feedback de reforço: A alternativa “A” está incorreta, pois o neurônio


possui uma estrutura especializada em transmitir informações
que é o axônio. A alternativa “C” está incorreta, pois o detrito é
especializado em captar informação da membrana pré-sináptica. A
alternativa “D” está incorreta, a bainha de mielina é responsável pelo

109
pulso saltatórios conduzido no axônio, ou seja, ajuda no aumento
da velocidade de condução da informação. A alternativa “E” está
incorreta, os neurônios são células eletro-estimuláveis e conduzem
pulsos elétricos.

Questão 2 – Resposta: D

Resolução: Todas as afirmações expostas para terem preenchimento de


lacuna em “V” ou “F” estão corretas, portanto, a alternativa a ser marcada
é a letra que contém “V-V-V-V”.

Feedback de reforço: A primeira afirmativa tem sua resposta


demonstrada na Figura 06. A segunda afirmativa deve considerar
que anatomicamente o sistema nervoso periférico é dividido
anatomicamente em nervos e gânglios, onde a finalidade é a via
aferente e eferente. A terceira afirmativa descreve o funcionamento do
reflexo dentro do conceito descrito em esquema na figura 10. A quarta
afirmativa se refere aos níveis de resposta do sistema nervoso, onde
níveis medulares são mais rápidos que níveis corticais.

Questão 3 – Resposta: A

Resolução: Os parágrafos “I” e “II” estão corretos em suas descrições da


“lei do tudo ou nada” e da base do controle motor baseado no sinal de
abalo. A única alternativa correta é a letra que diz “Os parágrafos “I” e “II”
estão corretos.”

Feedback de reforço: Como os dois parágrafos (“I” e “II”) descrevem


corretamente a “Lei do tudo ou nada” e a forma de controle motor,
as alternativas “B”, “C”, e “D” estão erradas. Quanto a alternativa
“E”, é incorreto afirmar que uma fibra muscular possui graduações
de contração e que a contração pode ocorrer sem o comando do
sistema nervoso.

110
Fisiologia Cardiovascular,
Endócrina e Respiratória
Autor: Bráulio Nascimento Lima

Objetivos

• Identificar estruturas e funções do sistema


cardiovascular.

• Descrever a ação dos hormônios das principais


glândulas do corpo humano.

• Identificar estruturas e funções do sistema


respiratório.
1. Sistema cardiovascular

O sistema cardiovascular desempenha inúmeras funções ligadas à


circulação do tecido sanguíneo pelo corpo e pelo pulmão. Nesse sentido,
podemos considerar que está funcionalmente dividido em uma bomba
(coração), responsável pela diferença de pressão entre o sangue que sai
e que retorna; vias de alta pressão (artérias), que são responsáveis pela
distribuição do sangue; canais de ligação ou comunicação (capilares),
para a troca de vias; vias de baixa pressão (veias), que são responsáveis
pela coleta de sangue (Andrade e Lira, 2016; Kraemer et al., 2016; Pithon-
Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

O sangue segue o caminho, saindo do coração, através de artérias para


as arteríolas e, por fim, chegando aos capilares. Nos capilares ocorre
uma maior proximidade do sangue com as células dos tecidos, ou seja,
nesse momento temos trocas entre o tecido sanguíneo e os demais
tecidos. O sangue retorna, sendo coletado dos capilares por vênulas e
chegando ao coração através das veias (Andrade e Lira, 2016; Kraemer
et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

PARA SABER MAIS


A normotensão do ser humano corresponde a 120 mmHg
(120 milímetros de mercúrio) sistólico e 80 mmHg (80
milímetros de mercúrio) diastólico. Trata-se de valores
de pressão sanguínea que ocorrem nas artérias durante
a contração dos ventrículos (sístole) e recuperação do
ciclo cardíaco (diástole). Os valores da pressão arterial
podem variar dependendo de muitos fatores, dentre eles
a alimentação e atividade física. Quando os referidos
valores cotidianamente estão muito abaixo da referência
normotensa, temos uma situação de hipotensão. Quando

112
os valores estão cotidianamente muito acima da referência
normotensa, temos uma situação de hipertensão.

O volume total de tecido sanguíneo encontra-se distribuído


aproximadamente da seguinte forma: 75% encontra-se nos vasos
sanguíneos, 7% no coração e 18% dentro de órgãos. Os pequenos
vasos sanguíneos do corpo humano podem conter próximo de 46%
de todo o conteúdo sanguíneo. Os valores percentuais sugerem que
a maior parte do tecido sanguíneo se encontra distribuído pelo corpo
humano enquanto o coração trabalha para que ele se mantenha em
movimentação (Mcardle et al., 2018).

ASSIMILE
O sistema cardiovascular é responsável por acessar
todas as partes do corpo através dos vasos sanguíneos
(artérias, capilares e veias) com a finalidade de levar o
tecido sanguíneo. O tecido sanguíneo possui um dos
principais sistemas de defesa do organismo (leucócitos)
e é responsável pela pela condução, por exemplo, de
nutrientes, gases e hormônios, portanto possui uma íntima
ligação com outros sistemas do corpo humano, como
ocorre com os sistemas respiratório e o endócrino.

Também podemos identificar que a circulação do tecido sanguíneo


pode passar por dois caminhos diferentes, também conhecidos como
grande (sistêmica) e pequena (pulmonar) circulação. A grande circulação
(circulação sistêmica) é quando o tecido sanguíneo sai do ventrículo
esquerdo em direção ao corpo e volta para o átrio direito. A pequena

113
circulação (circulação pulmonar) ocorre quando o tecido sanguíneo sai
do ventrículo direito para o pulmão e retorna para o átrio esquerdo. Vale
lembrar que o tecido sanguíneo sai do átrio esquerdo para o ventrículo
esquerdo e sai do átrio direito para o ventrículo direito. A movimentação
descrita encontra-se representada esquematicamente na Figura 1.

Figura 1 – Sistema cardiovascular humano

Fonte: ttsz/iStock.com

114
1.1 Coração

O coração é formado por músculo estriado cardíaco (Miocárdio)


que possui estrutura peculiar, baseado em um tecido muscular
altamente capilarizado e com células mononucleadas que possuem
altas concentrações de mitocôndrias, semelhante a fibras tipo “I”. Seu
comportamento coordenado também se dá pelo fato de as células
excitarem umas às outras, propagando o potencial de ação que só
depende do estímulo de uma única célula para que todas entrem em
ação (Mcardle et al., 2018; Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi, 2017).

A contração do miocárdio é responsável por gerar o impulso que


o tecido sanguíneo necessita para se movimentar pelo corpo,
deslocando próximo de 70 mℓ em cada contração. As diferenças de
quantidade de tecido sanguíneo deslocado por contração dependem
do tamanho das cavidades que, por sua vez, diferem em cada
indivíduo (Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

O sistema cardiovascular possui várias válvulas que impedem o


retorno do tecido sanguíneo para o sentido contrário da circulação.
No coração, entre átrios e ventrículos existem válvulas átrio
ventriculares esquerda (bicúspide ou mitral) e direita (tricúspide), e
entre ventrículos e vasos temos a válvula aórtica (saída do ventrículo
esquerdo) e válvula pulmonar (saída do ventrículo direito). Durante o
relaxamento do ciclo cardíaco (diástole) as válvulas atrioventriculares
se abrem e as válvulas aórtica e pulmonar se fecham. Durante a
contração dos ventrículos (Sístole) as válvulas atrioventriculares se
fecham e as válvulas aórtica e pulmonar se abrem (Figura 02) (Powers
e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

115
Figura 2 – Válvulas do coração durante a sístole e diástole

Fonte: go-um-lee/iStock.com.

O evento da distribuição do tecido sanguíneo que ocorre para o próprio


coração é chamado de circulação coronariana pela semelhança do
formato dos vasos sanguíneos coronarianos com uma coroa. Os vasos
coronarianos se iniciam e retornam para a parte superior do coração,
saindo imediatamente da artéria e voltando para a veia (Powers e
Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

1.2 Vasos sanguíneos

As artérias constituem-se de vasos sanguíneos capazes de suportar altas


pressões e, para isso, contam com uma grossa camada de musculatura
lisa. A condução para os capilares diminui o calibre dos vasos, sendo
esta uma demanda que gera resistência. Devido a tal resistência, a
artéria conta com maior capacidade de elasticidade que a mantém

116
pressurizada mesmo durante o relaxamento do ciclo cardíaco, ou seja,
durante a contração ventricular (sístole) a pressão é maior (120 mmHg),
enquanto no relaxamento (diástole) a pressão é menor (80 mmHg)
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Fígura 3 – Características dos vasos sanguíneos

Fonte: VectorMine/iStock.com.

Os capilares são, basicamente, as terminações microscópicas do


sistema vascular que aumentam a proximidade de contato com as
células de cada tecido para que haja trocas. Os capilares possuem
sistemas de regulação de circulação através de estruturas chamadas de
“esfíncter pré-capilar”. Essas estruturas estão envolvidas no processo de
autorregulação dos tecidos para suas demandas metabólicas, podendo,
dessa forma, aumentar ou diminuir a circulação periférica (Kraemer et
al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

117
As veias não possuem altas pressões ou outro tipo de sistema vigoroso que
facilite o retorno venoso para o coração, já que os capilares, praticamente,
gotejam o tecido sanguíneo nas vênulas, porém as veias possuem válvulas
que facilitam o processo de retorno venoso, pois, sem permitir que o
sangue retorne, impedem uma circulação em sentido contrário. Sem as
válvulas das veias o sangue poderia ficar estagnado (Powers e Howley,
2017; Mcardle et al., 2018).

O retorno venoso é facilmente influenciado, chegando ao ponto de sofrer


alterações decorrentes até da própria pressão gerada na caixa torácica
durante a respiração e consegue influenciar no fluxo sanguíneo das veias.
O retorno venoso também pode ser influenciado pela contração muscular,
pois a contração muscular gera um efeito mecânico de aumento de pressão
nas veias locais, consequentemente aumentando a pressão nas vênulas
e veias, gerando, por fim, a remoção do tecido sanguíneo local (Powers e
Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

2. Sistema endócrino

O sistema endócrino é composto por órgãos (glândulas) especializados


em secretar hormônios na corrente sanguínea e assim influenciar
o comportamento de outros órgãos. As quantidades de hormônios
secretados são extremamente pequenas e dependem de receptores
celulares, nas células-alvo, capazes de interpretar a informação (Powers e
Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

As principais glândulas do corpo humano estão representadas na Figura


04. Os órgãos do sistema endócrino (glândulas) representam uma parte
muito pequena do corpo humano e em suas estruturas não existem canais
de acesso direto a dutos sanguíneos, ou seja, os hormônios são secretados
imediatamente no meio extracelular das glândulas e seguem até o tecido

118
sanguíneo através de difusão entre os tecidos (Kraemer et al., 2016; Powers
e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

Figura 4 – Principais glândulas do corpo humano

Fonte: ttsz/iStock.com.

Dois grupos de hormônios recebem maior notoriedade, os “hormônios


derivados de esteroides” e os “hormônios representados por aminas
e polipeptídios” (sintetizados de aminoácidos) (Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018). Segue na Tabela 01
um resumo das principais glândulas, seus hormônios e seus efeitos
principais.

119
Tabela 1–Principais glândulas, seus hormônios, características dos
hormônios e principais efeitos

Glândula Tipo Efeito


Localização Hormônio Alvo
ou células químico principal

Estímulo
para o
crescimento
Hormônio do osso e
dos tecidos
do Diversos
moles; regulação
crescimento tecidos do metabolismo
(GH) das proteínas,
dos lipídios
e dos
carboidratos

Hormônio Estímulo
adreno- Córtex para a
corticotrófico suprarrenal secreção de
(ACTH) glicocorticoides

Hormônio Estímulo
tireo- para secreção
Tireoide
estimulante de hormônios
(TSH) tireóideos

Hipófise Estímulo
Glândula Peptídios para
Anterior Prolactina Mama
Secreção
do leite

Mulheres:
Estímulo
para o
crescimento
Hormônio e o desenvolvimento
foliculo- dos folículos
Gônadas
estimulante ovarianos e a secreção de
(FSH) estrogênios;
Homens: Estímulo
para a produção de
espermatozoides
pelo testículo

Mulheres:
Estímulo para
Hormônio a ovulação, a
secreção de
luteinizante Gônadas
estrogênio e de
(LH) progesterona;
Homens: secreção de
testosterona pelo testículo

120
Mulheres: Estímulo
para as contrações
uterinas e a ejeção de
Ocitocina (OT) Mama e útero
leite pelas glândulas
mamárias; Homens:
Expansão dos função desconhecida
Hipófise
neurônios Peptídio
posterior
hipotalâmicos

Estímulo para reduzir o


Hormônio antidiurético débito urinário; promove
Rim
(ADH ou vasopressina) a constrição dos vasos
sanguíneos (arteríolas)

Peptídio
Estímulo para inibir a
Coração Células Peptídio natriurético Túbulos renais
reabsorção de sódio
atrial (PNA)

Estímulo para a
Mineralocorticoides
Rim reabsorção de Na+ e a
(aldosterona) secreção de K+

Estímulo para promover o


Glicocorticoides catabolismo das proteínas
e das gorduras; eleva
(cortisol; c Diversos tecidos
Córtex os níveis sanguíneos
Glândula Esteroide orticosterona) de glicose; adapta o
suprarrenal
organismo ao estresse

Androgênios
(androstenediona; Estímulo para promover o
Diversos tecidos
desidroepiandrosterona impulso sexual
[DHEA]; estrona)

Córtex Estímulo para a secreção


Angiotensinogênio suprarrenal, vasos de aldosterona; eleva a
sanguíneos, encéfalo pressão arterial

Fígado Células Peptídio


Fatores do
crescimento Estímulo para o
Muitos tecidos
semelhantes à crescimento
insulina (IGF-1)

Estímulo para controle


Glândula pineal Glândula Amina Melatonina Desconhecido
dos ritmos circadianos

121
Hormônios tróficos
(hormônios liberadores
e inibidores da liberação:
hormônio liberador de
corticotropina [CRH];
Estímulo para liberar ou
Aglomerados hormônio liberador
Hipotálamo Peptídio Adeno-hipófise inibir os hormônios da
de neurônios de tireotropina [TRH]; adeno-hipófise
hormônio liberador
do hormônio do
crescimento [GHRH];
hormônio liberador de
gonadotropina [GnRH])

Estímulo para facilitar


a atividade simpática;
aumenta o débito
Medula cardíaco; regula os
Glândula Amina Epinefrina, norepinefrina Diversos tecidos
suprarrenal vasos sanguíneos;
acelera o catabolismo do
glicogênio e a liberação de
ácidos graxos

Fatores do crescimento
semelhantes à
Estímulo para o
Músculo Células Peptídio insulina (IGF-1, IGF-2); Diversos tecidos
crescimento
fatores reguladores
miogênicos (FRM)

Estímulo para a produção


Estrogênios (estradiol) Diversos tecidos de oócitos; características
sexuais secundárias

Esteroide

Estímulo para promover o


Ovários (mulher) Glândulas Progestinas crescimento endometrial
Útero
(progesterona) e prepara o útero para
a gestação

Estímulo para inibir a


Peptídio Inibição ovariana Adeno-hipófise
secreção de FSH

122
Estímulo para a redução
dos níveis sanguíneos de
Insulina Diversos tecidos glicose; promove a síntese
de proteínas, lipídios e
glicogênio

Estímulo para elevar


os níveis sanguíneos
Glucagon Diversos tecidos de glicose; promove
Pâncreas Glândula Peptídio a glicogenólise e a
gliconeogênese

Estímulo para inibir a


secreção dos hormônios
pancreáticos; regula a
Somatostatina (SS) Diversos tecidos
digestão e a absorção dos
nutrientes pelo sistema
digestório

Estímulo para a promoção


da liberação de Ca2+ pelo
osso, a absorção de Ca2+

Paratireoide Glândula Peptídio Paratormônio (PTH) Osso, rim


Estímulo para o intestino
e para a reabsorção de
Ca2+ pelo rim; elevando
os níveis sanguíneos
de Ca2+; estimulando a
síntese de vitamina D3

Forma hormonal Precursor de 1,25 di-


Pele Células Esteroide Vitamina D3
intermediária hidroxivitamina D3

Estímulo para o
Estrogênios e
Esteroide Diversos tecidos desenvolvimento
progesterona fetal e materno

Placenta
Somatomamotropina Estímulo para regulação
(mulher Glândula
coriônica (SC) do Metabolismo
grávida)
Peptídio

Gonadotropina Estímulo para a


coriônica (GC) secreção hormonal

123
Estímulo para produção
Eritropoetina (EPO) Medula óssea
de hemácias

Rim Células Peptídio Esteroide

1,25 di-hidroxivitamina Estímulo para aumentar a


Intestino
D3 (calciferol) absorção de cálcio

Estímulo para a ingestão


Tecido Leptina; adiponectina Hipotálamo,
Células Peptídio alimentar, metabolismo,
adiposo (resistina) outros tecidos reprodução

Estímulo para a produção


de espermatozoides;
Esteroide Androgênio Muitos tecidos
características sexuais
Testículos secundárias
Glândulas
(homem)

Estímulo para inibir a


Peptídio Inibina Adeno-hipófise
secreção de FSH

Estímulo para a
Timo Glândula Peptídio Timosina, timopoetina Linfócitos proliferação e a função
dos linfócitos T

Tri-iodotironina (T3);
Estímulo para aumento
da taxa metabólica;
Aminas iodadas Muitos tecidos
desenvolvimento
físico normal
tiroxina (T4)

Tireoide Glândula

Estímulo para promover


a deposição de cálcio
Peptídio Calcitonina (CT) Osso
no osso; reduz os níveis
sanguíneos de cálcio

Gastrina; colecistocinina Estímulo de ajuda à


Sistema digestório
(CCK); secretina; Sistema digestório digestão e à absorção
(estômago e Células Peptídio
peptídeo insulinotrópico e pâncreas dos nutrientes; regula a
intestino delgado) motilidade gastrintestinal
(PIT) glicose-dependente

Fonte: adaptada de Mcardle et al. (2018).

124
3. Sistema respiratório

A ventilação pulmonar é o nome dado à movimentação nas trocas entre


o ar que está interno ao pulmão e o ar ambiente. Para que a ventilação
ocorra, o ar deve entrar pelas cavidades nasal ou bucal, onde serão
filtrados para poder percorrer a traqueia, brônquios e bronquíolos,
respectivamente. Na terminação dos bronquíolos temos os alvéolos
pulmonares, que são estruturas microscópicas que aproximam o ar dos
capilares da circulação pulmonar e, é nesse momento, que ocorrem as
trocas gasosas. Para ser expelido, o ar segue o sentido inverso, seguindo
pelos bronquíolos, traqueia e cavidades nasal e bucal (Kraemer et al.,
2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018). Verificar anatomia do
sistema respiratório (ventilatório) na Figura 05.

Figura 5 – Sistema Respiratório. Troca gasosa nos alvéolos

Fonte: ttsz/iStock.com.

125
Para ocorrer a ventilação é necessário um conjunto de ações musculares
envolvendo o músculo diafragma, músculos intercostais e músculos
do abdome. Durante a inspiração o diafragma contrai aumentando o
espaço torácico em forma de dilatação, fazendo com que a diminuição
de pressão interna promova a migração do ar externo para o meio
interno. Durante a expiração o diafragma relaxa, podendo ter seu
efeito potencializado com a contração dos músculos do abdome, que
aumentam a pressão na região e, dessa forma, forçam o diafragma
a retornar à posição inicial com mais força. Somado ao retorno da
posição inicial do diafragma, os músculos intercostais contribuem com
a retração do tórax (Figura 06) (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley,
2017; Mcardle et al., 2018; Mansour, 2019).

Figura 6 – Ação de contração do diafragma durante a inspiração


(esquerda); Ação de relaxamento do diafragma durante a
expiração (direita)

Fonte: wetcake/iStock.com.

126
TEORIA EM PRÁTICA
Um cliente do sexo masculino, jovem, saudável, sem
necessidades de adaptação e treinado em corrida, iniciou uma
atividade na esteira. Durante a atividade utilizou intensidades
diferentes variando a velocidade e a inclinação de esteira.
Durante a atividade percebeu que nos momentos de maior
intensidade o coração mantinha uma maior frequência de
batimentos simultaneamente a uma maior frequência de
ventilação pulmonar. Como justificar o referido evento para
o cliente, levando em consideração as características da
atividade aeróbica?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Leia o Parágrafo “I” e “II”:

I. O sistema cardiovascular transporta gases para as


células do corpo. A captura de mais oxigênio e eliminação
do gás carbônico ocorre nos alvéolos pulmonares.
II. O sistema cardiovascular também transporta
hormônios. As glândulas sintetizam e secretam hormônios
que podem influenciar qualquer célula que tenha
receptores específicos.
De acordo com os parágrafos “I” e “II”, marque a
alternativa correta:

a. O parágrafo “I” não apresenta corretamente uma


função do sistema cardiovascular.
b. O parágrafo “II” não tem relação com o parágrafo “I”,
pois o sistema endócrino possui suas próprias vias de
distribuição.

127
c. Os parágrafos “I” e “II” estão incorretos, pois o sistema
cardiovascular não faz transporte pelo corpo.
d. Os parágrafos “I” e “II” estão corretos e ambos relatam
apenas o mesmo tipo de transporte de gases.
e. Os parágrafos “I”” e “II” estão corretos, sendo que “I”
trata de transporte de gases e “II” trata de transporte
de hormônios.

2. As artérias e veias possuem musculatura lisa em sua


estrutura. As artérias têm maior espessura em seu
músculo em relação às veias. Essa estrutura dá o suporte
às altas pressões que ocorrem nessa estrutura. Marque
a alternativa correta:

a. A pressão sistólica tem valores iguais à pressão


diastólica.
b. A pressão sistólica ocorre durante a contração
ventricular do coração.
c. A pressão sistólica e diastólica ocorre
simultaneamente.
d. A pressão diastólica é maior, em valores, que a
pressão sistólica.
e. Os vasos sanguíneos, em especial as artérias, não
possuem diferenças de pressão.

3. Preencha os espaços abaixo:

O sistema __________ transporta gases para o organismo. A


absorção de oxigênio e eliminação do gás carbônico ocorre
nos __________ pulmonares.
Os __________ influenciam o comportamento de diversos
tecidos de forma coordenada, para isso dependem do

128
__________, que é conduzido pelo corpo inteiro dentro de
artérias, capilares e veias.

a. Cardiovascular / neurônios / Hormônios / nefro


b. Endócrino / alvéolos / Leucócitos / sangue
c. Cardiovascular / alvéolos / Hormônios / sangue
d. Metabólico / ventrículos / Hormônios / sangue
e. Endócrino / gandulos / Gases / neurônio

Referências Bibliográficas
ANDRADE, M. D. S.; LIRA, A. B. D. Fisiologia do Exercício. Barueri: Manole, 2016.
ISBN 978-85-204-4100-8.
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. Fisiologia do exercício: teoria e
prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. ISBN 978-85-277-3033-4.
MANSOUR, N. R. Cinesiologia e fisiologia do exercício. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
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MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: nutrição, energia
e desempenho humano. 7. ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. ISBN 978-85-
277-3015-0.
PITHON-CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. 9. ed. Barueri: Manole, 2017. ISBN 978-85-
204-5510-4.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: E
Resolução: Os dois parágrafos estão corretos. O parágrafo “I”
relata a ligação do sistema cardiovascular com o respiratório em
sua necessidade de troca de gases no alvéolo. O parágrafo “II”
relata a ligação do sistema cardiovascular com o endócrino em

129
sua necessidade de chegar a todas as células que possam ter
receptores. A única alternativa correta é a letra “E”.
Feedback de reforço: A alternativa “A” está incorreta, pois o
sistema cardiovascular leva o tecido sanguíneo para todo o corpo.
A alternativa “B” está incorreta, pois o sistema endócrino depende
do sistema cardiovascular para alcançar todas as células que
possuem receptores. A alternativa “C” está incorreta, pois, além dos
leucócitos, o tecido sanguíneo também conduz gases e hormônios.
A alternativa “D” está incorreta, pois hormônios não são gases.
Única alternativa correta é a letra “E”.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: A pressão sistólica ocorre durante a contração
dos ventrículos, ao expulsar o tecido sanguíneo do coração
aumentando a pressão nas artérias que possuem características de
elasticidade; durante a recuperação do ciclo cardíaco os ventrículos
voltam a se encher enquanto a pressão das artérias vai diminuindo,
sendo assim temos uma diferença de pressão sistólica, que ocorre
durante a sístole, e diastólica, que ocorre durante a recuperação do
ciclo cardíaco. Resposta correta letra “B”.
Feedback de reforço: Os capilares somados representam
um menor calibre em relação às artérias, gerando resistência
à pressão arterial, por esse motivo, o coração, ao bombear o
tecido sanguíneo, aumenta a pressão nas artérias que mantêm
uma pressão elevada, porém diminuindo gradativamente, para
impulsionar seu conteúdo para os capilares. Essa diferença de
pressão na artéria se dá pelo alívio que ocorre durante a entrada
do tecido sanguíneo nos capilares. A maior pressão arterial ocorre
durante a sístole dos ventrículos e segue diminuindo durante a
recuperação do ciclo cardíaco. A alternativa correta é a letra “B”, as
demais estão incorretas.

130
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: O sistema cardiovascular é responsável pelo transporte
de gases que ocorre nos alvéolos do sistema respiratório.
Os hormônios influenciam o comportamento das células
que possuem receptores específicos, para isso dependem do
sangue, que é conduzido pelo corpo inteiro dentro de artérias,
capilares e veias.
Feedback de reforço: O sistema cardiovascular elimina o gás
carbônico e capta oxigênio nos alvéolos pulmonares. O tecido
sanguíneo é o responsável pela distribuição de hormônios, para
isso é impulsionado pela rede vascular lasseada em artérias,
capilares e veias. A única alternativa correta é a letra “C”.

131
Treinamento Físico e Prescrição
Autor: Bráulio Nascimento Lima

Objetivos

• Identificar a interação de dieta, exercício e balanço


energético;

• Compreender a aplicabilidade das recomendações


do treinamento aeróbio e resistido para a
promoção da saúde;

• Compreender a aplicabilidade dos tipos de


treinamento de flexibilidade
1. Treinamento físico e prescrição

Dentre os principais pontos a serem abordados, no que tange ao tema


atividade física e exercício físico, devemos compreender a necessidade
de conscientizar que o sedentarismo está descrito como uma patologia
no código internacional de doenças pelo CID10-Z72.3. Na atualidade, é
considerado um desafio para os profissionais da saúde trabalhar com
o paciente a necessidade de uma vida fisicamente ativa (Ainsworth e
Buchholz, 2017; Buchholz e Edmunds, 2017; Olmstead, 2017; Pettitt e
Joy, 2019).

PARA SABER MAIS


O valor metabólico de base depende, principalmente, da
composição corporal e, mais especificamente, dos tecidos
metabolicamente ativos. No processo de emagrecimento,
esses valores são fundamentais, pois o referido processo
depende, em maior parte, do déficit calórico (relação
do gasto energético com a ingestão). Por esse motivo, a
manutenção da massa muscular é fundamental para o
processo de emagrecimento saudável. Vale ressaltar que
a compreensão do emagrecimento não é fundamental
somente para fins estéticos, pois atletas de vários níveis
também dependem de uma composição corporal típica da
modalidade praticada.

A conscientização leva a um estado de contemplação do cliente, que


passa a compreender a necessidade de praticar atividades físicas
regulares, porém apenas um trabalho motivacional pode levá-lo ao
prazer da prática.

133
ASSIMILE
Da década de 70 até os dias atuais tivemos evoluções
significativas da medicina nos países desenvolvidos.
Uma forma de identificar essa evolução é a diminuição
dos óbitos por doenças cardiovasculares nos Estados
Unidos (EUA), onde, na década de 70, representava 50%,
e atualmente representa menos de 36,3%. Mesmo as
doenças cardiovasculares ainda sendo a principal causa de
morte, a referida redução é significante. O motivo principal
dessa redução é a evolução dos tratamentos e estímulos
modificadores no estilo de vida. Nos países desenvolvidos, o
incentivo à prática de atividade física regular é considerado
um dos passos mais importantes para a melhoria da saúde
da população, e também um importante desafio para os
profissionais da saúde na atualidade.

1.1 Exercício e a composição corporal

A preocupação com a falta de atividade física é considerada um


problema de saúde pública a nível mundial e, junto ao sedentarismo,
inúmeras outras doenças tornam-se eminentes, como a obesidade,
hipertensão, diabetes, dentre outras. A obesidade, em especial, ganha
notoriedade por se associar facilmente ao sedentarismo, e ambos
podem estar intimamente ligados a um estilo de vida cada vez mais
comum, principalmente em países desenvolvidos (Kraemer et al., 2016;
Buchholz e Edmunds, 2017; Powers e Howley, 2017).

A composição corporal é um importante objeto de estudo para todos


os profissionais da saúde, estejam ligados ao movimento humano
ou não, pois, além do quadro propício a inúmeras doenças, ainda

134
deve ser considerada a grande probabilidade de falta do mínimo de
atividade física cotidiana (Pettitt e Joy, 2019). Altos valores de gordura
corporal podem estar associados a condições limitantes para a prática
de atividade como, por exemplo, piores desempenhos em testes
de velocidade, endurance, equilíbrio e agilidade, demostrando a
necessidade de aprofundar no contexto da perda e controle da gordura
através de exercícios físicos (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley,
2017; Pettitt e Joy, 2019).

A estrutura corporal também afeta a performance em atletas, sejam


recreacionais, amadores ou profissionais. Dessa forma, em vários
ambientes da prática da atividade física a estrutura corporal, em especial
a massa gorda, é um importante indicador a ser considerado para a
prescrição da rotina de atividades físicas (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

De forma geral, a gordura corporal é identificada como “Massa Gorda”,


que é a massa total de tecido adiposo do corpo que também representa
um “percentual de massa gorda” em relação à “massa corporal total”.
Sem a massa gorda o que sobrou da “massa corporal total” representa
a “massa corporal sem gordura” (Kraemer et al., 2016; Mcardle et
al., 2018).

Facilmente pode ser observada a necessidade de implantar programas


de atividade física regular, por ser uma questão de saúde pública.
Programas envolvendo alterações na composição corporal se fazem
necessários, não apenas para reduzir a quantidade de massa gorda, mas
também para diminuir o percentual de massa gorda através do aumento
da massa muscular (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017;
Mcardle et al., 2018).

A antropometria é o estudo envolvendo as medidas corporais,


como estatura, circunferências, largura de ossos, comprimento de
membros e dobras cutâneas, importantes para avaliar e caracterizar

135
individualidades. O sucesso de atletas que competem também considera
características individuais antropométricas, pois para cada tipo de
esporte existem características comuns e características que podem
gerar vantagens individuais (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

A composição corporal é a referência de tecidos na massa corporal


total. Existem alguns tipos de avaliação da composição corporal, como
demonstrado na Tabela 01.

Tabela 01–Métodos para a determinação da composição corporal


Massa corporal
Densitometria Densidade do corpo total dividida pelo
volume do corpo
Mensuração da espessura Cálculos envolvendo
Dobras cutâneas da pele e da gordura valores extraídos do
subcutânea. adipômetro.
Cálculo da
Baseada no composição corporal
Pletismografia
deslocamento de ar. por meio do
deslocamento de ar.
Relação da passagem Colocação de
Bioimpedância
de corrente elétrica eletrodos em 2 ou
Elétrica
pelos tecidos. mais locais no corpo.

Feixes de raios X de
Densitometria Absortometria
baixa energia e software
Computadorizada Radiológica de
de computador para
por DEXA dupla energia.
produzir imagens.

Utiliza ondas
eletromagnéticas Reproduz cortes
Ressonância magnética
e tecnologia de transversais do corpo.
computador.
Determina o
Ondas sonoras de alta
Ultrassonografia volume e a
frequência.
espessura tecidual.
Fonte: O autor.

136
Outra forma de avaliar o tamanho corporal é o “índice de massa
corporal”, também conhecido como IMC, e está relacionado ao cálculo
da massa corporal em quilogramas dividida pela estatura em metros, o
valor do resultado deve ser comparado com a classificação na Tabela 02.
O IMC não representa valores confiáveis para individualidades, mas sim
para populações (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

Tabela 02–IMC–Classificação

Classificação IMC (kg/m2)

Abaixo do peso < 18,5


Normal 18,5–24,9
Sobrepeso 25,0–29,9
Obesidade, classe I 30,0–34,9
Obesidade, classe II 35,0–39,9

Obesidade, classe III > 40,0

Fonte: Adaptado de Kraemer et al., 2016.

O exercício físico pode influenciar a composição corporal dentro de


determinados parâmentos. Devemos considerar que a complexidade
de um processo de ganho ou perda de massa muscular ou de massa
gorda não depende exclusivamente do exercício, mas é dependente dele
para viabilizar o referido processo, ainda mais quando se almeja um
ambiente saudável durante o processo (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017).

Conjunto de exercícios envolvendo altas intensidades em tempo mais


curtos estão associados ao ganho, mais acentuado, de massa muscular,
em especial através do treinamento tradicional de hipertrofia. O
processo de hipertrofia muscular está intimamente ligado à diminuição
percentual de massa gorda (Kraemer et al., 2016).

137
O emagrecimento ocorre somente em ambiente de déficit calórico, ou
seja, o gasto calórico deve ser maior que a ingestão. Nesse ambiente
de menor ingestão em relação ao gasto o emagrecimento ocorrerá
com o decorrer do tempo (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

A prática da atividade física e do exercício físico aumentam o gasto


calórico, ou seja, usando como referência a ingestão e gastos de
calorias, a possibilidade de emagrecer passa a ser maior no decorrer
do tempo. Quanto maior o gasto energético durante a atividade física
maior a possibilidade de produzir déficit calórico, consequentemente
aumenta a chance de ocorrer o emagrecimento no decorrer do tempo
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

O aumento da hipertrofia muscular também pode influenciar


no processo de emagrecimento, pois a massa corporal sem
gordura aumenta significantemente o valor metabólico basal,
como consequência temos a possibilidade de aumento no déficit
calórico. Vale ressaltar que o treino para gerar hipertrofia possui
alta intensidade e valores significantes de gasto calórico durante a
atividade (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Em resumo, o emagrecimento, ao envolver atividade física e exercício


físico, possui três desafios básicos que devem ser considerados. 1. A
atividade física e o exercício físico contribuem com o emagrecimento
aumentando o gasto calórico. 2. A hipertrofia muscular ou a
manutenção da massa muscular durante o emagrecimento mantém
o valor metabólico de base mais elevado, dessa forma aumentando
o gasto calórico do corpo. 3. Todo processo de emagrecimento
depende do déficit calórico em relação ao tempo (Kraemer et al.,
2016; Powers e Howley, 2017; Mcardle et al., 2018).

138
1.2 Atividade física e exercício físico para a promoção da saúde

1.2.1. Conceitos de treinamento na promoção da saúde

A melhoria do condicionamento físico é decorrente de adaptações


fisiológicas que ocorrem pela necessidade de aumentar a resistência à
sobrecarga imposta cotidianamente. É dessa forma que ocorre o evento
de supercompensação à sobrecarga, com a preparação do corpo para
tarefas mais intensas nos sistemas mais solicitados (Kraemer et al., 2016).

A melhoria do condicionamento físico envolvendo capacidades físicas


como força, velocidade, flexibilidade, resistência, dentre outras, também
estão associadas a uma melhoria na qualidade de vida (Kraemer et al.,
2016; Mcardle et al., 2018).

A prescrição de exercícios deve levar em consideração a relação de


interdependência existente entre o volume e a intensidade. A intensidade
do treinamento físico ou do exercício físico tem relação com a dificuldade
imposta para a execução. O volume do treinamento físico ou do exercício
está relacionado à quantidade de atividade proposta. Nesse contexto é
importante separar os objetivos de treinamento ligados à saúde, pois
estes têm intensidade e volume bem menores que dos objetivos ligados à
performance (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

A individualidade biológica também pode influenciar nas dosagens de


atividade possíveis de serem ministradas durante um determinado
período. O equilíbrio entre o estresse criado pelo treinamento físico e
o descanso necessário para a recuperação, deve ser respeitado para
evitar o efeito de Overtraining. O Overtraining ocorre quando dosagens
de treinamento superam as respostas fisiológicas ocorridas durante
a recuperação, gerando um efeito deletério e, consequentemente,
diminuindo a performance e a resistência corporal (Kraemer et al., 2016;
Mcardle et al., 2018).

139
Para que o efeito benéfico do treinamento ocorra, e assim tenha
melhorias nas capacidades físicas e habilidades motoras, é necessário a
aplicação do princípio da sobrecarga, que relaciona o desenvolvimento
físico a um esforço capaz de gerar estresse continuamente. Nesse
sentido, podemos observar que indivíduos sedentários podem estar
praticando exercícios com sobrecarga, bastando que o esforço seja
maior que o utilizado em seu cotidiano, ou seja, os níveis de treinamento
são fundamentais para a aplicação da sobrecarga. As atividades que
não utilizam sobrecarga tendem a se estabilizar dentro do processo de
desenvolvimento físico (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

1.2.2. Atividade aeróbica na promoção da saúde

Os ganhos do treinamento aeróbico são semelhantes aos obtidos


com o desenvolvimento do metabolismo aeróbico, portanto estão
vinculados à capacidade física resistência. Normalmente envolve
grande quantidade de músculos, sendo recrutados, principalmente,
os maiores grupos musculares do corpo em atividades repetidas
várias vezes. Exemplos de atividades aeróbicas são: a corrida, o
ciclismo, a natação, a dança, o remo e muitas outras (Kraemer et
al., 2016).

O desenvolvimento de atividades aeróbicas precisa seguir as


recomendações mínimas para promover benefícios. É importante
ressaltar que atividades de maior duração (volume) não permitem
altas intensidades, já atividades de curta duração podem compensar
o tempo com intensidades maiores (Kraemer et al., 2016; Powers e
Howley, 2017).

A recomendação de tempo mínimo por sessão de treino aeróbico é


de 20 minutos. A recomendação para a duração da sessão do treino
aeróbico é entre 30 e 60 minutos. Nesse contexto, é uma questão
de opção a utilização de uma série de 39 minutos ou 4 séries de 9

140
minutos com 1 minuto de intervalo entre elas, sendo que ambas
podem gerar estresse e adaptações, desde que haja sobrecarga
utilizando a velocidade (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

O treinamento aeróbico contínuo é muito recomendado, pois evita


sobrecargas elevadas, consequentemente, diminuindo a chance de
possíveis lesões (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

A frequência de treinamento aeróbico recomendada é de 3 a 5 vezes


por semana, pois são valores que comprovadamente promovem
desenvolvimento significativo para o praticante. A diferença é que 3
vezes possui um pico de consumo de oxigênio, porém 5 vezes, por
possuir uma sobrecarga menor, diminui também os riscos de lesão
(Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

A frequência cardíaca gera um importante referencial de intensidade


do exercício aeróbico, pois está relacionada à carga total de consumo
de oxigênio durante o repouso e a atividade. As medidas envolvendo
a utilização da frequência cardíaca utilizam dois pontos de referência
que são a frequência cardíaca de repouso (FCrep) e a frequência
cardíaca máxima (FCmáx). A frequência cardíaca de repouso (FCrep) é
representada pela menor frequência de ciclos cardíacos possível para
manutenção das funções em repouso. A frequência cardíaca máxima
(FCmáx) é a representação do maior esforço possível produzido pelo
miocárdio (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

A frequência cardíaca de repouso (FCrep) deve ser aferida durante o


mínimo de atividade possível. A frequência cardíaca máxima (FCmáx)
é relativa e, por questão de segurança, comumente é avaliada
através de cálculos gerais. Valores percentuais da frequência cardíaca
máxima (FCmáx) podem ser calculados dentro da frequência cardíaca
de reserva (FCres). que é a margem entre a frequência cardíaca de
repouso (FCrep) e a frequência cardíaca máxima (FCmáx) (Andrade e

141
Lira, 2016; Kraemer et al., 2016; Pithon-Curi, 2017; Powers e Howley,
2017; Mcardle et al., 2018; Mansour, 2019).

A seguir, um exemplo de como calcular o percentual de frequência


cardíaca máxima em um indivíduo com idade de 20 anos e frequência
cardíaca de repouso de 60 bpm. Ex.:

I. Idade = 20 anos
II. FCrep = 60 bpm
III. FCmax = 207 – (0,7 x Idade)

FCmax = 193 bpm

IV. FCres = FCmáx – FCrep

FCres = 193 bpm – 60 bpm

FCres = 133 bpm

V. FC(%) = FCrep + % x FCres (100%=1, 50%=0,5, 20%=0,2, etc.)

FC(%) = 60 bpm + % x 133 bpm

FC(40%) = 60 bpm + 0,4 x 133 bpm = 113,2 bpm

FC(50%) = 60 bpm + 0,5 x 133 bpm = 126,5 bpm

FC(60%) = 60 bpm + 0,6 x 133 bpm = 139,8 bpm

FC(70%) = 60 bpm + 0,7 x 133 bpm = 153,1 bpm

FC(80%) = 60 bpm + 0,8 x 133 bpm = 166,4 bpm

FC(90%) = 60 bpm + 0,9 x 133 bpm = 179,7 bpm

142
Tabela 03–Referência da zona alvo em relação ao percentual da
frequência cardíaca máxima. Exemplo de um indivíduo jovem saudável
com idade de 20 anos e frequência cardíaca de repouso de 60 bpm.

Zona alvo Percentual da FCmáx FC do exemplo

Excitação <50% <126,5 bpm

Entre 126,5 bpm –


Manutenção Entre 50%–60%
139, 8 bpm

Entre 139,8 bpm


Aeróbia lipolítica Entre 60%–70%
– 153,1 bpm

Entre 153,1 bpm


Limiar aeróbica Entre 70%–80%
– 166,4 bpm

Entre 166,4 bpm


Mista Entre 80%–90%
– 179,7 bpm
Entre 179,7
Esforço máximo Entre 90%–100%
bpm – 193 bpm
Fonte: O autor.

A intensidade de treinamento aeróbico está ligada à frequência cardíaca.


A recomendação expõe como suficiente a utilização entre 40% e 60%
da frequência cardíaca máxima, podendo sedentários terem resultados
com valores menores. O nível de treinamento pode permitir a utilização
de valores maiores, chegando ao nível de atletas que treinam próximo
do máximo (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

1.2.3. Treinamento resistido na promoção da saúde

O treinamento resistido é caracterizado por exercícios baseados em


atividades contra a resistência. As características dessas modalidades
permitem um maior recrutamento de fibras musculares, chegando as

143
tipo “IIx”. Nesse sentido, podemos observar que as atividades passam a
ter maior direcionamento para capacidades físicas de força e potência
(Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

Outra característica comum de resposta fisiológica, típica do


treinamento resistido, é a hipertrofia muscular, pois as adaptações
das células também têm como resultado o aumento do número de
sarcômeros. A musculação é a modalidade que abordaremos nesse item
como referência de treinamento resistido (Kraemer et al., 2016; Powers
e Howley, 2017).

As recomendações para o desenvolvimento de sessões do treinamento


resistido possui margens que permitem maior personalização do
treinamento, mas os cuidados com o desenvolvimento envolvendo a
sobrecarga devem ser constantes. Os indivíduos sedentários podem
desenvolver seus potenciais mesmo com sobrecargas baixas, pois deve-
se levar em consideração as sobrecargas cotidianamente utilizadas por
ele (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

O exercício a ser prescrito no treinamento resistido deve considerar,


principalmente, o nível de complexidade para o praticante, por
exemplo a utilização de máquinas ou pesos livres e exercícios de
múltiplos grupos musculares ou exercícios de grupo muscular único.
As máquinas oferecem mais estabilidade e segurança, mas os pesos
livres, em geral, possuem mais suporte de carga. Exercícios de múltiplos
grupos musculares trabalham simultaneamente vários grupamentos
musculares, enquanto exercícios de grupo muscular único treinam
apenas um grupo por vez (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

O número de repetições e séries de cada exercício estão ligados ao


volume do treino. A recomendação para desenvolvimento de força,
hipertrofia e resistência (em parte) dentro de um programa para
melhorar a saúde de indivíduos é de 2 a 4 séries de 8 a 12 repetições
por grupo muscular. Vale ressaltar que indivíduos mais treinados podem

144
desenvolver o treinamento com volumes maiores (Kraemer et al., 2016;
Powers e Howley, 2017).

Como o treinamento resistido é baseado em séries e repetições, o


intervalo entre as séries é fundamental para o desenvolvimento da
sessão. É notório que quanto maior o intervalo, maior a recuperação
dos substratos energéticos anaeróbicos, portanto a recomendação de
intervalo para o treinamento de força e potência é de 2 a 3 minutos,
enquanto o treinamento muscular de resistência local e hipertrofia
utilizam intervalos de 1 a 2 minutos (Kraemer et al., 2016; Mcardle et
al., 2018).

A frequência é o intervalo entre os treinos de um mesmo grupo


muscular e, por esse motivo, faz parte do planejamento do treinamento
resistido. É comum dividir os dias de treino consecutivos por
grupos musculares, aproveitando o intervalo de recuperação de um
grupamento para treinar outro. A recomendação para um programa
de saúde e condicionamento é 2 sessões de cada grupo muscular por
semana (Kraemer et al., 2016; Mcardle et al., 2018).

A intensidade é a utilização da sobrecarga. Em programas de


treinamento direcionado para saúde e condicionamento físico, a
falha concêntrica não se faz necessária, porém é recomendado que
os estímulos de intensidade estejam sempre em zona de desconforto
em relação ao volume adotado. Cargas capazes de provocar falha
concêntrica estão associadas a um maior índice de lesão (Kraemer et
al., 2016).

1.2.4. Prescrição do Alongamento

O alongamento é uma modalidade de exercício que possui a finalidade


de desenvolver a capacidade física flexibilidade. Durante uma sessão
de alongamento, as propriedades visco-elásticas e plásticas da unidade

145
musculotendínea junto com outros tecidos moles sofrem estiramento,
possibilitando o aumento de amplitude articular (Kraemer et al., 2016).

Durante a execução do alongamento, podemos chamar de


“alongamento ativo” a contração até gerar uma amplitude máxima
articular, ou seja, os músculos agonistas do movimento, posicionam
a articulação no máximo de amplitude, alongando os músculos
antagonistas. O “alongamento passivo” ocorre quando nenhum músculo
da articulação, que está sendo alongada, executa contração. A diferença
de amplitude entre o alongamento passivo e ativo representa a
“amplitude de reserva” (Kraemer et al., 2016; Powers e Howley, 2017).

Quando o alongamento está sendo executado em isometria (sem


movimento), passa a receber o nome de “alongamento estático”.
Quando o movimento é constante, de forma rítmica ou simplesmente
mantendo o movimento nos picos de amplitude, recebe o nome de
“alongamento dinâmico” (Kraemer et al., 2016).

Basicamente temos quatro topos de alongamento ao cruzar as formas


de execução, formando alongamentos “ativo-dinâmico” (balístico), “ativo-
estático”, “passivo-dinâmico” e “passivo-estático” (Figura 01).

Figura 01–Tipos de alongamento

Fonte: O autor.

146
A facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) é uma técnica que
utiliza a contração do músculo seguido de estiramento dele. Dessa
forma, ao utilizar a contração muscular, a resposta passa a ser uma
indução ao relaxamento reflexo (Kraemer et al., 2016).

TEORIA EM PRÁTICA
A hipertensão aumenta as necessidades de oxigênio
do coração em repouso e durante o exercício, eleva a
pressão arterial. Também está associada à uma série de
outras doenças. O hipertenso pode controlar o quadro
hipertensivo de forma medicamentosa, porém essa medida
precisa estar associada a uma mudança significativa no
estilo de vida, com a inclusão de alimentação adequada
e atividade física. Nas academias os hipertensos podem
encontrar uma ampla gama de atividades possíveis de
serem inclusas em sua rotina. Levando em consideração
que um hipertenso está controlando sua hipertensão
através de medicamentos, quais opções de atividade física
poderiam ser prescritas no ambiente de uma academia
e quais mecanismos de cada atividade podem ajudar no
controle da doença?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O emagrecimento consiste na diminuição da massa


corporal. Com relação ao emagrecimento no contexto da
atividade física e do exercício físico, marque a alternativa
correta:

147
a. O exercício físico não possui mecanismos que ajudem
no processo de emagrecimento.
b. O treinamento resistido não contribui com o
emagrecimento.
c. Apenas o exercício físico é suficiente para o
emagrecimento.
d. A atividade física não ajuda no emagrecimento, pois
essa é uma questão unicamente genética.
e. A atividade física contribui com o emagrecimento
através do aumento do gasto calórico.

2. Complete com “V” (Verdadeiro) ou “F” (Falso) as


afirmações.

( ) A sobrecarga não é um marcador importante para o


treinamento.
( ) A sobrecarga é fundamental até nos níveis mais
iniciais para o desenvolvimento de alguma capacidade
física ou habilidade motora. O que caracteriza o iniciante
em relação ao treinado é a intensidade da sobrecarga.
( ) A flexibilidade é treinada com alongamentos. É uma
capacidade física vinculada à amplitude articular.

a. F – V - V.
b. F – V - F.
c. V – V - F.
d. V – F - V.
e. F – F - F.

3. Leia as afirmativas abaixo:

I. A frequência cardíaca é uma importante referência de


sobrecarga em estado estável.

148
II. O exercício resistido, mais especificamente a
musculação, desenvolve capacidades como força e
potência.

a. Apenas a afirmativa II está correta.


b. Apenas a afirmativa I está correta.
c. A afirmativas I e II estão corretas.
d. As afirmativas estão se contradizendo.
e. Ambas as afirmativas estão erradas.

Referências Bibliográficas
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Nurse Practitioners, v. 13, n. 1, p. 1-8, 01/01/ 2017. ISSN 1555-4155. Disponível
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149
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. 9. ed. Barueri: Manole, 2017. ISBN 978-85-
204-5510-4.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: E
Resolução: Para ocorrer o processo de emagrecimento é
necessário, principalmente, o déficit calórico. Essa é a principal
função do exercício físico durante o emagrecimento que deve
ocorrer no decorrer do tempo.
Feedback de reforço: A alternativa “A” está errada pois o exercício
possui mecanismos fundamentais para o emagrecimento, como o
aumento do gasto calórico e a manutenção dos valores metabólicos
basais. A alternativa “B” está errada, pois o treinamento resistido
tem alto valor de gasto calórico durante a atividade e após, durante
a recuperação, além de ter características de ajudar no aumento
de massa muscular, que por sua vez aumenta o valor metabólico
basal. A alternativa “C” está errada, pois é necessário controlar a
ingestão para ter déficit calórico. A alternativa “D” está errada, pois
a genética direciona apenas para uma tendência, sendo necessário
o estilo de vida para o ganho ou perda de peso. Portanto a resposta
correta é a alternativa “E”.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: A única afirmação errada é a primeira, porque a
sobrecarga é sim um marcador importante para o treinamento.
Feedback de reforço: A sobrecarga é importantíssima para o
treinamento, quando se tem um objetivo de desenvolvimento de
capacidade física ou habilidade motora. Vale ressaltar que, para
o treinamento, a sobrecarga só precisa estar acima dos valores
cotidianos, ou seja, podemos concluir que a primeira afirmação é

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falsa e a segunda é verdadeira. A flexibilidade é uma capacidade
física dependente da plasticidade dos tecidos moles da articulação,
portanto essa afirmativa também é verdadeira. Resposta correta é
F-V-V, ou seja, alternativa “A”.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: A frequência cardíaca é uma importante referência
de sobrecarga em estado estável, e o exercício resistido, mais
especificamente a musculação, desenvolve capacidades como força
e potência. Ambas as afirmativas são verdadeiras.
Feedback de reforço: A afirmação “I” está correta, pois existe
uma relação direta da frequência cardíaca com a necessidade de
troca de gases. A afirmação “II” está correta, pois o treinamento
resistido está associado a maiores intensidades durante o exercício,
propiciando maiores ganho s de força, potência e hipertrofia.
Resposta correta é a letra “C”

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