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InTRODUCAO R. B. Medeiros O comerciante holandés Antonie van Leeuwenhoek (Figura 1.1), ainda no século 17, foi o primeiro a visualizar 0 que hoje chamamos microrganismos, com 0 auxilio de lentes de vidro que ele mesmo fabricou, © que permitiram um aumento significativo dos objetos visualizados, € consequentemente, a visualizago de organismos vivos até entao desconhecidos, como bactérias, fungos, algas e protozodrios. Tais microrganismos passaram a ser vistos, finalmente, e portanto, tiveram sua existéncia confirmada pelos cientistas da época, por meio da correspondéncia entre Leeuwenhoek e cientis:as ingleses. Figura 1.1 ~ Leeuwenhoek (1632-1723), pintado por Jan Verkolje (Fonte: Wikimedia Commons, dominio piblico) CAPITULO 1 | INTRODUGAO | 17 Virus, no entanto, sio agentes submicroscopicos, que nao podem ser visualizados com 0 microscépio ético, também chamado microscépio de luz, instrumentos que vém sendo modernizados desde o primeiro protétipo construido por Leeuwenhoek, e que podem ajudar o olho humano a visualizar objetos de 1 mm até cerca de 100 nm (nanémetros), Virus apenas podem ser vistos por meio de microscopia eletrénica, que usa instrumentos bem mais caros e complexos, que s6 vieram a ser fabricados no século 20, a partir da década de 30. ‘Assim, os virus passaram inicialmente despercebidos, ¢ assim permaneceram por um bom tempo, nem tanto em relagao a sua existéncia, pois a passagem de um tipo de patégeno ainda desconhecido por firs bacterianos, criados por Pasteur, que sabia-se impedir a passage das menores bactérias conhecidas, j4 indicava a sua existéncia no final do século 19, entretanto, permaneceram desconhecidas a aparéncia e morfologia dos virus por quase meio século. Cientistas do século 20 em diante, em geral, néo precisam ver para crer, embora, em relagio aos virus, a capacidade de vé-los e fotografé-los marcou profundamente a virologiz por boa parte do século 20, até o advento das chamadas técnicas de biologia molecular (capitulos 14 15). O tamanho dos virus (Figura 1.2) varia na ordem de dezenas a centenas de nanémetros (1 nm = 10° pm = 10 mm), ou seja, na escala de milioaésimos de milimetros. O bacterisfago MS2 por exemplo mede cerca de 24 nm e 0 Tobacco mosaic virus - TMV (género Tobamovirus) cerca de 15 nm x 300 nm. Comparativamente, sao de tamanho similar ao dos ribossomos celulares, com cerca de 25 a 30 nm, enquanto as bactérias estio na ordem de micrémetros. Escherichia coli, por exemplo, mede de 1 a 3 um, ou seja, 3000 nm. Ainda assim, alguns dos maiores virus, como o Smallpox virus, um Poxvirus causador da variola (doenga praticamente extinta), com 200 x 300 nm, so até um pouco maiores do que algumas das menores bactérias (como as clamideas). Recentemente foi descoberto na costa do Chile um virus de DNA, denominado Megavirus chilensis, que infecta Acanthamoeba e que possui um genoma de 1,26 Mb e particulas com diametro em torno 18 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacao e controle de 700 nm (ARSLAN ET AL., 2011), 0 que levou muitos cientistas a Proporem uma associagio entre a emergéncia dos primeiros eucariotos c esses virus de DNA gigantes. Figura 1.2 Tamanho comparativo de particulas virais, ribossomos e bactéria. TMV: Tobacco mosaic virus ¢ E. coli: Escherichia coli Ao contrario de bactérias, virus nao crescem em meio de cultura, apenes no interior de células hospedeiras. Virus sio, basicamente, organismos simples que adquiriram a capacidade de duplicar-se, com a ajuda da célula hospedeira. Também ao contririo dos microrganismos celulares, virus podem possuir DNA (Acido desoxirribonucleico) ou RNA (cido ribonucleico) (Figura 1.3) como material genético (virdides, entidades similares a virus, s6 possuem RNA, capitulo 18).O RNA ou DNA dos virus pode ser de fita simples ou dupla, Em organismos ¢ microrganismos celulares, o DNA é sempre o material genético e este é sempre encontrado no formato fita dupla do tipo a// fa-hélice, como demonstrado inicialmente CAPITULO 1 | INTRODUCAO | 19 (tree eee La ae re ee 2 | a nos estudos biofisicos pioneiros de Rosalind Franklin, que foram analisados e extendidos por Watson e Crick em 1953 (MADDOX, 2003) eo RNA é sempre fita simples. ye | Adenina (A) Guanina 0) ut i me Clos © Te a Unt wy Figura 1.3 — A-B: Acido nucleico em (A) acido desoxirribonucleico (DNA) ¢ Acido ribonucleico (RNA) e seus respectivos componentes e (B) Bases nitro- genadas: purinas (adenina e guanina) e pirimidinas (citosina, timina e uracila) Nos microrganismos ¢ organismos celulares a fungo do RNA é de participar da maquindria biossintética da célula, na forma de ridossomos, mRNA(RNA mensageito) e RNA (RNA transportador),¢ assim fabricar proteinas (polipeptideos) (Figura 1.4). Tanto 0 DNA quanto 0 RNA (Figura 1.3) sao polimeros de nucleotideos, que por sua vez sio moléculas compostas por uma base nitrogenada [purinas: adenina (A) e guanina (G) ou pirimidinas: citosina (C), timina (T) e uracila (U), Figura 1.3], um agicar (ribose ou desoxirribose) e um grupo fosfato. O agicar ¢ o grupo fosfato formam a espinha dorsal da molécula. As pitimidinas do DNA sio cifosina € fimina, enquanto as do RNA sao citosina e uracila (Figura 1.3). A maioria dos virus de plantas possuem RNA como material genético, compreendendo a cerca de 71% das espécies, enquanto apenas cerca de 29% sao virus de DNA (Figura 1.5). Esses nimeros tém sofride alteragées drasticas recentes, principalmente por causa do aumente assombroso das espécies pertencentes a familia Geminiridae, Atc poucos anos atras o ntimero de espécies de virus de plantas com RNA "| VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacio e controle como material genético chegava a 90%. Atualmente, dentre os virus de DNA, a maioria (cerca de 25%) é de fita simples (ssDNA), como os membros da familia Geminiviridae, e uma minoria (cerca de 4%) de fita dupla (dsDNA), como 0s Caulimoviridae. Os virus de RNA séo, em sua maioria, de fita simples (ssRNA) e de senso positiva, totalizando cerca de 57% do total das espécies conhecidas, como os Potyvirus, por exemplo. Os virus com RNA de fita dupla (dsRNA), como os Reavirus, representam cerca de 4% dos virus de plantas e os de ssRNA de senso negativo ou ambisenso representam cerca de 10% do total de espécies conhecidas de virus de plantas (capitulo 7). Ritecoun 308 ‘Mevineaio do ribosome Figura 1.4 —Diagrama simplificado da maquindria biossintética celular Usam-se portanto as siglas ss (single stranded, fita simples) e ds (double stranded, fita dupla) para designar o nimero de fitas do acido nucleico dos virus ¢ as denominagées posifivo e negative para definir sua polaridade em relagio ao mRNA celular. Sao positives aqueles com polaridade igual a dos mRNAs ¢, portanto, diretamente traduziveis pela CAPITULO 1 | INTRODUCAO | 21 célula, e séo negativos aqueles com sequéncias complementares a dos mRNAs, que precisam ser copiados em mRNA primeiro, pela polimerase viral, para entdo serem traduzidos. Essas carateristicas, aparentemente pouco importantes, so primordiais no ciclo de vida e para as estratégias de replicagao dos virus (capitulo 8). Quanto ao genoma, os virus podem ser segmentados, contendo varios segmentos de RNA ou DNA na mesma particula, como os Tospovirus, Reovirus e Tenuivirus, ou multipartidos, em que cada segmento do genoma é encapsidado em uma particula diferente, como os Comovirus, Tobravirus e Bromovirus. O Influenza virus é um dos virus humanos de genoma segmentado Evidéncias experimentais indicam que a segmentagio do genoma aumenta significativamente a variabilidade genética, visto que em células em que por ventura encontremos dois isolados diferentes de Influenza, fatalmente algumas das novas particulas formadas conterio uma combinagao de segmentos de ambos os isolados do virus, aumentando as chances de aparecimento de uma nova estirpe, mais virulenta, ou com maior facilidade de transmissio, 0 que explicaria as constantes novas epidemias causadas por esse virus (capitulo17). Figura 1.5 —Constituigio do material genético dos virus de plantas 22 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacSo e controle ee rttr—t—e © mesmo pode ser dito dos virus de planta com genoma segmentado, alids, o estudo dos virus de animais ¢ humanos tem, muito comumente, servido de base para novas descobertas para os virus de plantas (capitulo 17). comparativamente, diminuto, variando O genoma dos virus de pouco mais de mil a aproximadamente pouco mais de um milhao (10°) de nucleotideos. Para os virus de plantas, especificamente, 0 limite parece ser em torno de 20.000 nucleotideos (ou cerca de 20 £4, kilobases). Comparativamente, bactérias (procariofos) tem genomas de 10° a 10” nucleotideos, e os fungos (eucariotos) vio de 10” a 10° nucleotideos (Figura 1.6). © fato da maioria dos virus de planta conter RNA como material genético sugere que plantas possuem alguns efetivos, ¢ ainda desconhecidos, mecanismos que impedem a evolugio dos virus de DNA em suas células (capitulo 2). Em animais € humanos encontramos um ntimero e uma diversidade bem mais significativa de virus de DNA, além de um niimero razoavel de virus com morfologia complexa e de um grande nimero de virus com genomas significativamente maiores que os dos virus de plantas. Muitas espécies dentro das familias Hespesviridae e Paramyxoviridae, por exemplo, tém genomas com cerca de 200 kb, enquanto alguns Poxviridae tem mais de 300 kb (capitulo 17). Apesar disto, sabe-se que 0 tamanho do genoma dos virus nao esti diretamente associado com a complexidade do hospedeiro, visto que alguns virus de DNA que infectam Acanthamoeba (Megavirus ¢ Mimivirus) apresentam genoma em torno de 1,2 Mb. CAPETULO 1 | INTRODUGAO | 23 ee, et ON RN [0H eee ede Plantas 10" 10° §Mamiferos 108 10° 10 10 10! Genoma . em niimero de pares de bases 10° Organismo Entidade bioldgica Figura 1.6 Tamanho comparativo dos genomas de virus ¢ organismos vivos Podem entio ser considerados aspectos fundamentais dos genomas dos virus: composi¢o (DNA ou RNA, fita simples ou dupla, genomas lineares ou circulares), tamanho e ntimero de segmentos, estruturas terminais nas moléculas de DNA e RNA (que em geral possuem fungées reguladoras), a sequéncia dos nucleotideos (que determina quais proteinas virais so sintetizadas, quando e quanto), ntimero de genes (ORF; sigla para Open Reading Frame), e a presenga de outras sequéncias regulatérias encontrados ao longo do genoma, como promotores, terminadores de transcri¢do e outros (capitulo 8). As proteinas codificadas pelos genes virais sio produzidas com 0 uso da maquinaria biossintética celular (Figura 1.4). Proteinas si0, basicamente (em sua estrutura priméria), polimeros de aminodcidos que desempenham as fungées celulares constitutivas ¢ enzimiticas, enquanto RNA e DNA armazenam a informagio genética, transmitida de geragio a geracio, por meio do cédigo genético. Além dos ribossomos € tRNAs celulares, os virus também usam aminoacidos, ATP como fonte de energia para os processos enzimaticos, e outros elementos necessirios 24 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacao e controle OO rrr $®™™™.—E™..L—E™—_._._. 4 sua multiplicagéo que se encontram disponiveis na célula. Os virus S40, ar-se fora nao portanto, parasitas do metabolismo celular. Nao podem multiplic de uma célula hospedeira e este é um dos critérios utilizados para serem considerados organismos vivos. poucas proteinas estruturais, aquelas que fazem parte da particula. Ha sempre uma capa proteica, ou capsideo, que é 0 invélucro protéico do material genético, b-unidades, de uma ou teina. Muitas RNA e muitas Virus possuem composicio organica simples,com formada por dezenas ou centenas de cépias, ou sul mais proteinas, sendo na maioria dos virus uma tinica pro cépias so necessarias porque proteinas sio bem menores que DNA genémicos, e portanto, para cobrir todo 0 acido nucleico, c6pias da capa proteica sao sintetizadas. A capa proteica é, em geral, multifuncional, como @ proteinas virais, € além de proteger 0 Acido nucleico do virus co! ela ago de enzimas celulares, maioria das ntra a degradacio pelo meio ambiente ou p também interage com outras proteinas para a montagem da particula e, em alguns casos, permite 0 reconhecimento da célula hospedeira (em células animais ou de insetos, que pode ser o inseto vefor). Cada subunidade proteica chama-se capsomero, simétrico para a formagio do capsideo. ‘Alguns virus de plantas, como o TMV, tém a habilidade de formar s nas células infectadas, que depois de liberados que interage de modo cristais microscépico: resistem um bom tempo no mei uniformidade estrutural, ou simétrica, das particulas desses virus, quando 11 a uma certa complementaridade da superficie o ambiente. Tais cristais refletem a agregadas na célula, aliad: das particulas ea interagio de forgas hidrofobicas e eletrostiticas. ‘A capa proteica, por sero invdlucro externo, também é,na maioria dasvezes,a principal responsive pelas propriedades antigénicas dos virus, ou seja, o reconhecimento deste por anticorpos produzidos pelo sistema mune de animais, 0 que, no caso dos virus de plantas, ¢ importante, por exemplo, para a obtengao ¢ execugio de testes sorolégicos de diagnose, como o teste do tipo ELISA (capitulo 14) e em estudos de taxonomia, ou seja, a classificagaio das espécies viras (capitulo 7). CAPITULO 1 | INTRODUCAO | 25 O conjunto do material genético somado ao capsideo chama- se nucleocapsideo, que pode ter as seguintes morfologias: a) icosaédrica (poliedro isométrico), formado por 20 faces triangulares equilaterais e 12 vértices (Figura 1.7; ver também capitulos 5 ¢ 6), como no caso dos Bromovirus, por exemplo; b) belicoidal, sendo este dos tipos rigido, como no caso dos Tobamovirus, ou flexuoso, como no caso dos Closterovirus); c) em poucos casos, do tipo baciliforme (como os Rhabdovirus). Este nucleocapsideo pode ser envolvido por uma membrana de origem celular (envelope), e estes virus sio chamados entio envelopadas, como no caso das espécies do género Tospovirus. Vale lembrar que a maioria dos virus que infectam plantas nio possuem envelope. Adicionalmente, em alguns casos, RNAs virais sao encontrados em forma de filamentos finos ¢ flexiveis, como no caso das espécies de Tenuivirus (Figura 1.8). Figura 1.7 —Representagao esquematica de um icosaedro (20 triangulos idén- ticos), que representa o formato de particulas de varios géneros de virus de plantas Bromovirus Begomovirus Caulimovirus Comovirus Rhabdovirus Cucumovirus Tobamovirus Alfamovirus Necrovirus Tobra Badnavirus Tungrovirus Umbravirus Tospovirus x smuivirus Closterovirus Ponvirus Tritimovirus Titivirus Figura 1.8 — Alguns tipos de particulas virais (esquema de morfologia simpli- ficada) e exemplos de géneros de virus de plantas para cada tipo de particula Muitos virus de plantas possuem simetria helicoidal e nao sio envelopados, como exemplos temos centenas de espécies dentro dos géneros Tobamovirus, Potyvirus, Tobravirus, Closterovirus, Carlavirus, Potexvirus € outros (capitulo 7). O comprimento das particulas varia de 100 nm (Tobravirus) a cerca de 1.000 nm (Closterovirus). Ao mesmo tempo, nao existem virus animais ou humanos com simetria helicoidal nao envelopados. A razio de tamanha discrepancia nao é¢ inteiramente clara, mas certamente a resposta esté na biologia das células e tecidos vegetais e no modo pelo qual esses virus sio transmitidos de planta a planta (capitulo 11). Existem, entretanto, muitos virus de animais ¢ humanos com formatos helicoidais e envelopados (capitulo 17), entre eles temos os membros da familia Rhabdoviridae (como o virus da raiva), o virus da gripe espanhola (Influenza, Orthomyxoviridae) ¢ 0s virus da caxumba e do sarampo (géneros Rubulavirus e Morbillivirus, familia Paramyxoviridae). Jaa auséncia de um grande ntimero de virus de plantas envelopados pode ser explicada pela barreira exercida pela parede celular vegetal, CAPITULO 1 | INTRODUGAO | 27 que impede 0 contato direto com a membrana celular. Os poucos virus de plantas envelopados (como os Tospovirus, Nucleorhabdovirus © Cyorhabdovirus) sto todos transmitidos por insetos, que os inserem diretamente na célula quando alimentam-se nos tecidos vegetais. Virus so exemplos elegantes de arquitetura em escala molecular, visto queo icosaedro (Figura 1.7) é0 volume geométrico de maior relago volume/ tamanho. O icosaedro também é a mais eficiente construgio bioldgica do tipo fechada, pois utiliza as menores subunidades possiveis para construir uma estrutura fechada de tamanho fixo ¢ a energia usada para fazé-lo é conservada (Lei da Economia Genética). A quantidade relativa de proteina ¢ Acido nucleico na particula varia bastante, de acordo com o virus e com a morfologia da particula. Nos virus helicoidais, os capsémeros arranjam- se de forma helicdide em volta da fita de acido nucleico (em geral ssRNA), visto que este contém uma conformagao naturalmente helicdide, devido a sua composigdo quimica (como nos foi ensinado por Rosalind Franklin). Ha uma tendéncia dos virus helicoidais em terem menor porcentagem de écido nucleico ¢ dos icosaédricos em terem uma maior porcentagem. O TMV, por exemplo, de morfologia helicoidal, contém cerca de 5% de acido nucleico (RNA) na particula, enquanto que as particulas icosaédricas dos Polerovirus (como 0 Potato leafroll virus ~ PLRV, conhecido como virus do enrolamento da folha da batata, classificado no género Polerovirus e familia Luteoviridae) sto compostas por cerca de 30% de RNA, Além disso os virus helicoidais tendem a apresentar genomas maiores, comparados aos icosaédricos, devido « menor restrigo de espago dentro do capsideo. Estudos estruturais da particula viral, discutidos detalhadamente nos capitulos 5 e 6 (cujo autor, Dr. J-Y. Sgro, é um dos mais proeminentes ¢ reconhecidos pesquisadores desta frea da virologia no mundo), avangaram inicialmente apés o desenvolvimento das técnicas basicas de microscopia eletrénica, como contrastagdo negativa, seguidas pelo desenvolvimento de téenicas de difrastio de raio X usando preparagdes cristalinas de virus, também chamada cristalografia de raios X (capitulos 5,6 e 15), aliada aos recentes e enotmes avangos em bioinformatica, ¢ ainda, mais recentemente, em técnicas de microscopia crio-eletrdnica, por exemplo. 28 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificago e controle | | Um exe: are cemplo do grau de detalhamento resultante da combinagio dessas técnica sondh s ¢ ferramentas, , : Fe i ferramentas, que exige o emprego de sofisticados recur ioinformati ee ‘ i . rmitica, pode ser vislumbrado na Figura 1.9. Outras imagens emelhantes de particulas virais podem ser vistas nos capitulos 5 ¢ 6. Figura 1.9 — A-L: Representagdes da particula do Brome mosaic virus (BMV, "A.C: variagées de cor da superficie da particula pela técnica PDB ID: 1js9). chamada gray scale radial depth cueing, em que a escala de cinza vatia de preto (raio 100 a 110A) a branco (raio 140 a 160A), mostrando cada unidade pro- teice, D-F: superticie colorida de acordo com a conformasio do capsideo viral (azul, verde ou vermelho), sem sombras (D), mistura das dus representagbes (E), mistura com transparéncia (F). G-I: mesmo que anterior utilizando 3D (G), utilizando ambient occlusion shadow (H) e apresentando todos os dtomos se eats rolécula, zepresentados por esferas(L). J-L: estruturas supra-mo- eculares representadas por fitas ou bastdes. Imagens foram criadas por J.Y. Sao udlizendo os softwares Chimera (unowgl.ucsfedwchimera, HUANG *AL., 1996) e PyMol (PyMo| Molecular Graphics System, Versto 15.0.1, LLC), PhotoShop (Adobe) foi utilizado para a mistura das ima- {gens Be D (cesultndo.em E) Ce D (cesultando em F) CaPITULO 1 | INTRODUGAO | 29 ante notar, por exemplo, que virus com. genomas bem E interes: diferentes podem ter particulas ¢ hospedeiras em reinos distinto quase idénticas, como € 0 aso das ricas extremamente similares, « classificadas nos Comovirus (que i ), Rhinovirus ¢ Poliovirus (cujas espécies causam umanos),’Todos estes virus possum icosaedros e capsideos compostos por 60 cépias da idades distintas. estruturais podem infectam plantas), Nodavirus espe (que infectam insetos gripe e poliomielite em h de cerca de 30 nm de diametro capa proteica, arranjadas em trés sub-unit Além do capsideo, outras protefnas sna particula. A membrana (envelope) dos virus estar_ presente -lipidica composta de fosfolipidios envelopados, que & uma camada bi- ¢ polissacarideos, como qualquer outra membrana biolégica (Figura ‘las 4.10), contém glicoproteinas codificadas pelo virus € necess para entrada em células animais, humanas ou de insetos (hospedeiro principal ou inseto vetor),e € sequestrada da célula hospedeira quando da saida do virus da célula, ou durante a montagem da particula em um compartimento celular rico em membranas, como 0 complexo de Golgi ou o reticulo endoplasmatico. 55 . Proteina Carboidratos a3 ay + Ss2 — RE8ES Glicoproteina Proteina associada a membrana Figura 1.10 — Diagrama dos componentes de uma membrana bioldgica A sintese da propria membrana exigiria um ntimero muito grande de genes (pelo menos todo o aparato para sintese de lipideos), portanto ¢ 30 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacao e controle ed mais econdmico para o virus simplesmente apoderar-se das membranas da célula. Adicionalmente, alguns virus contém enzimas na particula viral, como polimerases ¢ proteases, a exemplo disto teros a polimerase dos Tospovirus (¢ outros virus com genoma de senso negativo). Em oposi¢ao as proteinas estruturais, chamamos de proteinas ndo-estruturais aquelas que, embora codificadas pelo genoma do virus, sio encontradas apenas na célula infectada e¢ ausentes na particula. Por exemplo, os virus de plantas possuem um ou mais genes que nao ocorre(m) entre os virus de animais ¢ humanos, que é(sao) o(s) gene(s) que codifica(m) a proteina(s) responsavel(eis) pelo movimento na planta, ausente(s) na particula (capitulo 9). Outro exemplo seria a polimerase dos virus de RNA de senso positivo, como o TMV. Virus sao parasitas intracelulares obrigatérios, inertes fora das células. A progenia viral é formada por montagem de novas particulas a partir das sub-unidades produzidas com a ajuda da maquinaria biossintética (traducional) da célula, em varios dos seus compartimentos. © {Acido nucleico viral contém toda a informacio genética necessaria para programar a célula para sintetizar todas as proteinas virais e ajudar na sintese de dcido nucleico viral. Determinadas sequéncias no RNA ou DNA do virus (sinais) ditam onde as particulas so montadas, assim como onde as proteinas virais so acumuladas (nttcleo, complexo de Golgi, reticulo endoplasmético, membrana celular, endossomos, lisossomos entre outros, capitulo 8). Este tipo de multiplicagio (por montagem) € um processo exclusivo dos virus, ¢ os distingue de outros parasitas intracelulares obrigatérios de tamanho diminuto, como riguétsias e clamideas, ¢ obviamente os diferenciam também das células, que dividem-se ‘A montagem das particulas ocorre no chamado por fissio bindria. viroplasma e a particula do virus completa ¢ madura € chamada virion, Podemos dizer que 0 ciclo infeccioso, ou ciclo de vida, dos virus, em linhas gerais ¢ para efeito ilustrativo, inclui os seguintes passos (Figura 1.11): CAPITULO 1 | INTRODUCAO | 31 ee Qe ne ek. a e_ = + Reconhecimento entre proteinas virais e proteinas da céluly hospedeira (para virus de animais e humanos). + Entrada (introdugao via vetores ou ferimentos para virus de plantas). sma eh i nimais e hu + Fusdéo com a membrana celular (virus de a1 ee envelopados). + Decapsidagao (liberagio do RNA/DNA). ' + Sintese das proteinas virais iniciais (como as replicases, poucas cépias). + Replicagdo do genoma viral. + Sntese das proteinas virais tardias (capa proteica, feitas em abundancia). * Montagem das novas particulas. + Brotamento (para os virus envelopados). + Liberagao das novas particulas e movimento para outras células, O reconhecimento da célula hospedeira pelos virus de animais © humanos dé-se, em geral, por meio da ligagdo da particula viral a receptores especificos, que séo proteinas, ou mesmo lipideos, localizados na membrana plasmética das células hospedeiras (Figura 1.10). Esse tipo de reconhecimento nao ocorre com virus de plantas, visto que as membranas das células vegetais so protegidas pela parede celular, uma barreira inerte. Assim, virus de plantas precisam entrar em suas hospedeiras com 0 auxilio de vetores, ou por ferimentos, ou ainda serem transmitidos para a proxima geracio da planta via semente, entre outros (capitulo 11), 32 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacdo e controle 6. Liberagio | Q |. Plantas: introdugio diseta ‘etore ‘imentos). reconhecimento ¢ entrada \ AAA. 2: Decapsidagio \ \ Figura 1.11 — Esquema geral do ciclo de um virus na célula hospedeira. No caso dos virus que infectam células animais, quando virus no-envelopados ligam-se aos seus receptores, promovem mudangas na conformasao dessas moléculas, promovendo a endocitose da particula viral, e sua consequente en- trada na célula. Quando virus envelopados ligam-se aos seus receptores, estes promovem a fustio das membranas do virus e da célula, com a consequente en- trada dos componentes virais (cido nucleico e protefnas) no interior da célula, Para virus de planta, a barreira inicial (parede celular) para entrada do virus na planta é ultrapassada mediante vetores e/ou ferimentos. Segue-se entdo os processos de decapsidacio, tradugao e replicagdo, montagem € movimento viral a curta e longa distincia (processos peculiares a cada grupo de virus), seguidos pela liberagio No caso de alguns bacteriéfagos (Figura 1.12), 0 DNA é injetado no interior da célula hospedeira, o que significa ligagdo, penetragio decapsidacao ocorrendo em um tinico passo. CAPITULO 1 | INTRODUGAO | 33 Ae Figura 1.12 — Representagio diagramatica de um bacteri6fago. Depois da montagem das particulas virais estas podem ser liberadas por brotamento, para virus envelopados que infectam animais e humanos, por meio da invaginagdo na membrana da célula, nos locais onde houve actimulo de componentes virais; ou por /ise (ruptura) da célula, para alguns virus de animais ¢ humanos e para alguns bacteriéfagos, que produzem uma enzima que promove a lise bacteriana, a qual é sintetizada no fim do ciclo replicative do bacteriéfago; ou por transporte de vesiculas, no caso de alguns virus de animais e humanos; ou, no caso dos virus de plantas, por movimento por meio dos plasmodesmata, estruturas que conectam as células vegetais, para 0 movimento de célula a célula, ¢ pelos vasos do floema, para o movimento chamado a /onga distancia, neste caso significando de um tecido a outro na planta (capitulo 9). Doengas ocorrem porque este ciclo acaba afetando de forma irreversivel as células € tecidos infectados, destruindo seus componentes e/ou desregulando as suas fungdes basicas (capitulo 13). Diferentes componentes das particulas virais podem ser sintetizados em diferentes compartimentos celulares, como protefnas no reticulo endoplasmitico, genoma no nicleo ou livre no citoplasma, entre outros. O actimulo de cada proteina viral também pode dar-se em diferentes compartimentos (complexo de Golgi, reticulo endoplasmatico ¢ membrana plasmitica, 34 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificagao e controle entre outros). Em alguns casos, 0 actimulo destas proteinas forma estruturas denominadas corpos de inclusdo, que apresentam formatos caracteristicos ¢ contribuem para a identificagao de algumas espécies virais por meio de microscopia eletronica, como por exemplo as estruturas em forma de catavento, caracteristicas dos Potyvirus (Familia Potyviridae). ‘Adicionalmente, as infecg6es virais nas células vegetais (ou animais/ humanas) em geral resultam em intimeras alteragdes celulares, sendo as mais comuns as alterag6es em organelas ¢ membranas, como a formacao excessiva de vesiculas ou corpos multivesiculares e os rearranjos em organelas. Em muitos casos essas vesiculas ou organelas induzidas pelos virus sio 0s viroplasmas, onde os complexos de replicagio do genoma viral sio encontrados. Ja os sintomas externos causados por virus de plantas variam enormemente, de acordo com a genética da hospedeira, do virus, 0 ambiente ¢ 0 estégio de desenvolvimento da planta (capitulo 13). Virus de plantas podem ser transmitidos de uma planta a outra de varias maneiras. O modo talvez mais simples € 0 da transmissio por meio de 6rgios vegetativos, como bulbos ¢ tubérculos, utilizados no plantio de culturas como batata e alho, ou por meio de érgaos reprodutivos da planta, como sementes pélen, ou a transmissio mecinica, com 0 virus entrando em contato com ferimentos abertos em plantas sadias, produzidos por tratos culturais, por exemplo. © modo mais comum de transmissao de virus de planta é por meio de vetores. Virias espécies de virus de plantas sio transmitidas por vetores, sendo a maioria deles insetos (pulgées, cigarrinhas e moscas-brancas dentre outros), mas também nematoides, fungos ¢ Acaros (capitulo 11). Alguns destes vetores podem funcionar como uma /ospedeira adicional do virus, ou seja, também sao infectados pelo virus. Ao estudo da disseminagio das viroses no campo chamamos cpidemiologia e a procura de alternativas para minimizé-la chamamos de controle (capitulos 12 e 16). Virus, portanto, infectam todos os tipos de organismos celulares, sejam bactérias, algas, plantas, protozodrios, fungos, insetos, peixes, caPiTULO 1 | INTRODUGAO | 35 stima-se que existam cerca de um milhao répteis, aves ou mamiferos. Es a um bilhao de particulas de do mar, por exemplo, ¢ cerca de 10 a 100 Embora alguns virus possam estabelecer, algumas vezes, infeccoes eral o processo infectivo leva a danos ou morte virus em cada centimetro ciibico de agua particulas por célula viva. assintomaticas, em g celular, entretanto, os virus dependem da sobrevivencia da hospedeira para sua propria sobrevivéncia, e por isso tendem a estabelecer infeccoes leves, nas quais a morte da hospedeira é mais uma aberragio do que um resultado comum. Virus distinguem-se de outros microrganismos também pela sua dependéncia extrema da célula hospedeira. O vocabulirio virolégico é extenso e especifico. Alguns exemplos de termos aplicados a virus ¢ amplamente utilizados na fitopatologi patogenicidade que refere-se a habilidade de um organismo incitar doenga num dado membro de uma espécie hospedeira. E um atributo qualitativo: um organismo é patogénico ov nao patogénico. Viruléncia é a quantidade de doenga que um isolado incita num dado membro de uma espécie hospedeira; ela é relativa. S6 pode ser avaliada quando dois ou mais isolados patogénicos a genétipo especifico de uma hospedeira sio comparados para a quantidade de doengas que cada um incita, Algumas vezes boa parte da viruléncia pode ser perdida e chamamos 0 isolado de atenuado, Agressividade € quando dois isolados patogénicos exibem a mesma viruléncia numa hospedeira, mas em tempo diferente, 0 isolado que causa a mesma quantidade de doenga em menor tempo, € © mais agressivo. Outro termo bastante utilizado refere-se a arbovirus, para os virus de humanos e animais que sdo transmitidos por artrépodes; integrado, quando © genoma do virus foi inserido no genoma da hospedeira; /atente, quando o virus nao € detectavel no inicio de uma infeccio, e nao hé formagao de novas particulas. Virus so entidades moleculares, ¢ assim so as interagdes proteina- proteina, proteinas-Acidos nucleicos e entre proteinas ¢ outras moléculas, que determinam a estrutura de sua particula, a sintese e expressio do seu genoma ¢ seus efeitos na célula hospedeira (capitulo 10). Nao sio 08 Gnicos agentes intracelulares parasitas obrigatorios, j4 que bactérias 36 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacéo e controle como riguétsias € clamideas também 0 sao, mas so os mais simples em estrutura ¢ composi¢ao, juntamente com virdides, virusdides e prions (capitulo 18), ¢ além disso, néo possuem a informacio genética necessiria para a sintese metabdlica ou proteica. Assim, devido a natureza molecular dos virus, o desenvolvimento das chamadas técnicas de biologia molecular (capitulo 15), principalmente a partir da década de 1980, permitiram um grande avango na virologia como um todo, e mudaram o0 foco de atengao dos virologistas da particula viral para 0 genoma viral. Virus também podem ser definidos como elementos genéticos méveis, provavelmente oriundos da prépria célula e caracterizados por uma longa coevolugao com sua hospedeira (capitulo 2). Os virus sao agrupados (classificados) principalmente em relagao ao tipo, configuragao e composi¢io do seu genomna, seu modo de replicagio e a morfologia da particula madura (capitulo 7). Virus sao alvos relativamente dificeis no que se refere 4 terapia (ou seja, o uso de viricidas, quimicos que afetem o virus diretamente), principalmente porque replicam-se e tém intima relagao com a célula hospedeira, utilizando os processos biossintéticos celulares, e portanto, praticamente fazendo parte da célula. As similaridades entre os processos celulares aqueles direcionados pelo virus tornam a descoberta de drogas anti-virais um processo dificil. A dificuldade maior est4 em encontrar- se uma droga que afete a replica¢ao do virus e que, ao mesmo tempo, nao exerga um efeito deletério na célula (principalmente nas células nao- infectadas), ou que, ao menos, o efeito deletério no virus seja maior, compensando os efeitos indiretos a célula hospedeira. E cada vez mais perceptivel que cada virus possui caracteristicas especificas de replicagio (capitulo 8) que podem ser usadas, no caso dos virus de animais e humanos, como alvo para drogas altamente especificas. O custo de produsio de tais drogas é relativamente alto, na casa das centenas de milhGes ou mesmo bilhdes de dolares, para © desenvolvimento de drogas eficazes contra virus humanos, pois envolvem testes clinicos de varias fases, relativamente complexos, que duram anos, na maioria das vezes cerca de uma década. Este custo, CAPITULO 1 | INTRODUGAO | 37 considerado 0 seu uso potencial mesmo significativamente menor se omo 0 curto ciclo de vida das na agricultura, aliado a outros fatores plantas e 0 seu baixo custo de propaga¢ao, inviivel, nos dias de hoje e a longo prazo, 0 contra virus de plantas. ‘Assim, 0 desenvolvimento de medidas de viroses de plantas tem objetivado, principalmente, mais recentemente, a obtengao de plantas resistentes, expressem um fator que bloqueie o ciclo de vida do virus ny planta, em geral uma proteina do proprio virus, o que tem sido chamado de resisténcia derivada do patégeno (capitulo 16). O estudo de virus de plantas nao é importante somente para a agricultura, visto que a virologia vegetal tem contribuido de maneira significativa para as ciéncias biolégicas como um todo. Um exemplo clissico foi o uso de preparagses purificadas do Tobacco mosaic virus - TMV nos estudos pioneiros da estrutura dos dcidos nucleicos realizados por Rosalind Franklin (ainda nos anos 1940), além do fato de que o TMV foi o primeiro virus descoberto, considerando qualquer tipo de hospedeira, ainda no final do século 19, com um artigo descrevendo a doenga causada por um agente nao-bacteriano em fumo (trabalho publicado em 1886; capitulo 3). O primeiro virus animal reconhecido, 0 virus da febre aftosa (Foot-and-mouth disease virus) 86 veio a ser descoberto alguns anos depois (1898, por Léffler ¢ Frosch), enquanto a primeira doenga reconhecidamente causada por virus em humanos, a febre amarela (Yellow fever virus), s6 foi devidamente reportada (como causada por virus) em 1900 (por W. Reed, no canal do Panamé), € os bacteri6fagos (Figura 1.12) 56 vieram a ser descobertos em 1917 (por F. d'Heérelle), na tem tornado economicamente desenvolvimento de viricidas -ontrole efetivas contra evitar a infeccao, ¢ via transgenia, que a célula da Franga (capitulo 3). Ao longo dos anos, diversos virus de plantas tém sido utilizados na descoberta de importantes fungdes celulares, sendo importantes ferramentas da biologia molecular, ligando a bioquimica 4 genética. Isto deve-se, principalmente, ao fato de que a organizacao ¢ as propriedades dos virus so, em ultima instancia, as mesmas das células nas quais eles replicam-se (pela total dependéncia dos virus na célula), 38 | VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificagao e controle ey assim muitas das caracteristicas ainda nao conhecidas das células vivas, assim como aquelas que um dia foram desconhecidas, podem e tém sido descobertas pelo estudo dos virus. Junte-se a isso o fato de que os virus de plantas so muito priticos na sua manipulagio ¢ no seu estudo, nao oferecendo riscos de contaminagio aqueles que os manuseiam diariamente, propiciando a utilizagao de instalagdes de pesquisas mais baratas ¢ priticas (0 mesmo pode ser dito dos bacterisfagos, virus que utilizam bactérias como células hospedeiras, muitas das mais importantes descobertas da bioquimica ¢ da genética foram demonstradas com o estudo dos bacteriéfagos, seu ciclo de vida e suas caracteristicas). Um exemplo relativamente recente, com relagdo a virus de plantas, € a descoberta dos mecanismos de silenciamento génico por RNA nas células de plantas, que depois descobriu-se ocorrer também em células humanas e de animais. Este mecanismo foi pioneiramente estudado como um sistema de defesa de células vegetais contra viroses € no bloqueio da expressio de fransgenes em plantas transgénicas, € depois descoberto no nematoide Caenorhabditis elegans (Figura 1.13) e, finalmente, em outros eucariotos (capitulo 10). Outro exemplo é a descoberta da utilizagao de plasmodesmas pela planta para o transporte de proteinas e metabélitos importantes no desenvolvimento dos tecidos vegetais, o que s6 ocorreu depois que descobriu-se que os virus utilizam tais vias para o seu movimento na planta (capitulo 9). Além do seu uso na descoberta de fungées celulares, virus de plantas também podem ser titeis como ferramentas biotecnolégicas. Um exemplo é 0 seu uso como verores de expressdo para a obtengio de proteinas recombinantes em plantas ¢ sua posterior ou potencial utilizagaéo pela industria biotecndlogica na fabricagio de proteinas, férmacos ou vacinas potenciais. Ou seja, o uso de plantas e seus virus, ao invés de bactérias, como biorreatores, O pequeno tamanho do genoma destes virus (BMV, TMV, PVX, CMV, espécies de Todravirus e outros), 0 baixo custo efetivo ea facilidade de sua manipulaco,a simplicidade dos processos infectivos, os niveis de expresso alcangados a estabilidade CAPITULO 1 | INTRODUCAO | 39 ee — das particulas sio algumas das carateristicas que fazem os sistema, transgénicos com vetores virais uma estratégia vidvel € promissor, quando comparada a vigente produgdo de proteinas recombinantes ¢; bactérias. Um exemplo adicional é a utilizagao dos capsideos de y de plantas como moldes biolégicos para a fabricagao de novos materiais baseados em nanotecnologia. Figura 1.13 - Caenorhabditis elegans (Fonte: autor desconhecido, via Wikimedia Commons, dominio piblico) Assim, apesar dos virus de plantas constituirem um inimigo a ser combatido e controlado na agricultura (capitulo 16), também podem ser, e tém sido, convertidos em ferramentas experimentais ¢ bioldgicas extremamente titeis nas ciéncias agricolas e biomédicas, por meio do seu estudo ¢ do entendimento das suas propriedades quimicas ¢ bioligic:s elular ¢ ¢ dos seus mecanismos de replicagdo, transmissao, transporte patogénese. 40° vt VIROLOGIA VEGETAL: Conceitos, fundamentos, classificacao e controle

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