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From Ritual to Theatre

(Do Ritual ao Teatro)

The Human Seriousness of Play


(A seriedade Humana do Divertimento)
VICTOR TURNER
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual

• Vai discutir tipos de processos socioculturais e contextos


nos quais novos símbolos, verbais ou não-verbais,
tendem a ser gerados, o que o levará a comparação
entre fenômenos liminal e liminóide.
• Diferença entre simbologia comparativa,
semiótica/simbologia e antropologia simbólica
• “simbologia é o estudo ou interpretação de símbolos”; é
também “representação ou expressão por meio dos
símbolos” (p.20)
• Comparação como método
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Os símbolos rituais devem ser analisados em
séries de tempo em relação com outros
eventos; o símbolo também como evento, isso
porque ele envolve também processos sociais
e psicológicos.
• Símbolos são bom para pensar e bom para
agir
• Potencial criativo ou inovador dos símbolos
como fatores na ação humana
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Nas sociedade primitivas e nos gêneros culturais
os símbolos têm a característica de sistemas
semânticos dinâmicos, ganhando e perdendo
significados (em processo) e envolvendo
emocionalmente e psicologicamente as pessoas.
• A simbologia comparativa procura preservar essa
capacidade lúdica de pegar os símbolos em
movimento, de jogar com suas possibilidades de
forma e significados.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• A simbologia comparativa é mais do que a
antropologia simbólica: procura trabalhar
também com gêneros simbólicos das
chamadas sociedades industriais e não só com
material “etnográfico”.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Esquema de Van Gennep: na fase de transição
(2) os sujeitos são separados da sociedade, os
símbolos rituais nessa fase representam um
inversão da realidade normal.
• Há um processo de obscurecimento e fusão,
desparecimento de distinções, que
caracterizam a liminaridade.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Na liminaridade as pessoas jogam com
elementos do familiar e “desfamiliarizam”
eles.
• Novidade emerge a partir de combinações
sem precedentes de elementos familiares.
• Nas situações liminares e liminóides novos
modelos e paradigmas surgem – como o
reservatório das sementes da criatividade
cultural de fato.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• A liminaridade como região livre e
experimental da cultura é mais marcante nas
sociedades em que há clara demarcação entre
trabalho e lazer.
• Diferença entre as sociedades localizadas
antes e depois da Revolução industrial no
tocante a sua cultura expressiva.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• A distinção entre trabalho e lazer/jogos é um
artefato da sociedade industrial.
• Os gêneros simbólicos expressivos - rituais e
mitos - são atividades culturais nas quais os
trabalho e o lazer estão incluídos. São nesses
lugares que os aspectos lúdicos se
desenvolvem.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Diferença entre liminal e liminóide
• Diferenciação entre trabalho e lazer: as
características do lazer são específicas das
sociedades industriais.
• Lazer é associado a dois tipos de liberdade:
recuperar o ritmo biológico; liberdade para
transcender as limitações estruturais.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Liminal versus liminóide:
obrigatoriedade versus opcionalidade
• Situação paradoxal para o noviço no rito de
passagem: é dada a liberdade, mas não se deve
perder de vista que todos os símbolos são
obrigatórios, até mesmo a quebra de regras.
• Capítulo 4: persona versus indivíduo

• No liminal está a semente do liminóide


Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
Fenômeno Liminal Fenômeno Liminóide
• Sociedades tribais e agrárias • Pós-industrial
(solidariedade mecânica) (solidariedade orgânica)
• Coletivo, envolve ritmos de • Podem ser coletivos, mas
calendário, biológico, social- geralmente são produtos
estrutural individuais
• É integrado no processo • É aparte do centro, nas
social total, forma um todo margens; plural,
fragmentário e
experimental
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
Fenômeno Liminal Fenômeno Liminóide
• Símbolos (representações • Idiossincráticos, gerados
coletivas) têm significado por indivíduos em grupos
intelectual e emocional particulares; psicologia-
comuns individual.
• É, em ultima análise, • Crítica funcional ou
endofuncional revolucionária
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• A antiestrutura (liminaridade e communitas)
não é um reverso estrutural ou uma fantasia
de rejeição das necessidades estruturais, mas
a liberação da capacidade humana de
cognição, afeto, volição, criatividade dos
contrangimentos normativos.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Nas sociedades tribais, devido a
homogeneidade geral de valores,
comportamentos e regras sociais , esses
instantes podem ser facilmente dominados
pela estrutura social. É posto a favor da
normatividade (mais do que isso aparenta),
ainda que tenha uma cápsula que contém o
germe da mudança.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Communitas: preserva a distintividade individual
• Communitas logo se desenvolve como uma
estrutura, na qual a relação livre entre indivíduos
de convertem em relações sociais e normativas
entre personas sociais.
• As fronteiras entre communitas e estrutura social
são dadas uma em relação a outra, sendo ambas
são modalidades de interação humana.
Liminal to Liminoid, in Play, Flow, and
Ritual
• Communitas tende a confrontar identidades,
ser inclusiva e persuasiva;
• A estrutura social tende a ser exclusiva, a
separar nós dos outros.
• Os paradigmas e modelos oferecidos por essas
condições são bons para pensar e bons para
agir.
Social Dramas and Stories about Them
• Discussão da variedade e valência das
narrativas: serve para mostrar como certas
qualidades enraizadas na estrutura social
dada de um sociedade influencia o curso da
conduta em eventos observáveis e o cenário
para esses gêneros de performance cultural.
Social Dramas and Stories about Them
• Exemplo da sociedade Ndembu: conflito entre
matrilinearidade e virilocalidade

• Os homens têm em suas mãos a força política,


a chefatura depende dos filhos da irmã
deixarem suas aldeias paternas e travarem
acordos com seus tios maternos.
Social Dramas and Stories about Them
• Para Turner, o drama social é uma unidade
espontânea do processo social e um fato da
experiência de cada um em toda sociedade
humana.
• Os dramas sociais ou dramas de vida podem
ser estudados como possuindo quatro fases:
ruptura, crise, reparação/ação corretiva e
reintegração ou reconhecimento do cisma.
Social Dramas and Stories about Them
• (1ª) Ruptura: rompimento público e evidente,
ou pelo descumprimento deliberado de
alguma norma.
• (2ª) Crise: crescente; clivagem dominante, a
estrutura se mostra mais claramente.
• (3ª) Ação corretiva: seguida de cerimônias
públicas ou rituais indicando a reconciliação
ou clivagem permanente entre as partes
envolvidas
Social Dramas and Stories about Them
• (4ª) Reintegração: do grupo social perturbado ou
no reconhecimento e na legitimação social do
cisma irreparável entre as partes em conflito.
• “Dramas sociais são em larga medida processos
políticos, i.e., eles envolvem competição por fins
escassos – poder, dignidade, prestígio, honra,
pureza – para propósitos particulares e pela
utilização de recursos que são também escassos
– bens, território, dinheiro, homem e mulher”
(p.71-2)
Social Dramas and Stories about Them
• O processo do drama social é como a descrição
de Aristóteles da tragédia, não porque o autor
tentou construir de forma inapropriada um
modelo ocidental etic dos estágios de ação na
conduta das sociedades africanas, mas porque há
uma relação de interdependência, talvez
dialética, entre dramas sociais e gêneros de
performance cultural em todas as sociedades
talvez. A vida é mais uma imitação da arte do que
o seu contrário.
Social Dramas and Stories about Them
• Quando alguém quer inaugurar um drama já
tem uma moldura, meios para se espelhar
• A narrativa aparenta ser uma generalização
emic, revestida em metáfora e envolvendo a
projeção de dramas sociais específicos e
inumeráveis, gerados pela tensão estrutural.
Ela retorna ao processo social, provendo-o
com uma retórica, um modo de
funcionamento e significado
Social Dramas and Stories about Them
• Gráfico p.73:
• “A curva da esquerda representa o drama social;
acima da linha está o drama público e abaixo a
estrutura retórica implícita; a curva da direita
representa o drama de palco; acima da linha está
a performance/atuação manifesta e abaixo, o
processo social implícito, com suas contradições
estruturais. As flechas apontando da esquerda
para a direita representam o curso da ação ->
Social Dramas and Stories about Them
• “Elas seguem as fases do drama social, acima
da linha da curva da esquerda, descendo para
cruzar dentro, mais abaixo da curva da direita,
onde elas representam a infraestrutura social
encoberta/escondida. As flexas, então,
ascendem e, movendo agora da direita para a
esquerda, passam através das fases sucessivas
de um drama de palco generalizado. ->
Social Dramas and Stories about Them
• “No ponto de intersecção entre as duas
curvas, elas descendem mais uma vez para
formar a sustentação do modelo estético
escondido/encoberto, por assim dizer, o
drama social público” (p.73-4)
• Esse modelo sugere um movimento cíclico ao
invés de linear, mas tem o mérito de apontar
a relação dinâmica entre drama social e
gêneros culturais expressivos.
Social Dramas and Stories about Them
• A terceira fase, de maior auto-consciência
estrutural, é a que mais tem haver com a
gênese e sustentação de gêneros culturais de
todos os tipos.
• Entre os Ndembu, quando não há saída
racional para a crise, eles recorrem à
adivinhações e aos ancestrais.
Social Dramas and Stories about Them
• O resultado é um reflexividade plural através
da qual o grupo tenta escrutinar, entender e
agir sob si mesmo.
• Reflexividade é mostrar nós mesmos para nós
mesmos.
• É uma forma de negociar passado e presente,
uma barganha
Social Dramas and Stories about Them
• O autor tende a considerar “o drama social no
seu desenvolvimento formal total, sua fase
estrutural total, como um processo de
conversão de valores particulares em fins,
distribuídos num conjunto de atores, em um
sistema (que é sempre temporário e
provisório) de significados compartilhados e
consensuais.” (p.75)
Social Dramas and Stories about Them
• A última fase do drama social (reintegração)
tenta dar coerência ou senso à crise
• A diferença entre os valores experienciados e
o significado firmado nessa quarta fase geram
as narrativas.
• O drama social é indeterminado, recheado de
conflitos. É essa indeterminação que
aterroriza nas rupturas, nas crises.
• Indeterminação é potencialidade
Social Dramas and Stories about Them
• Ritual de correção (fase 3) é a matriz
experimental a partir da qual a maioria dos
gêneros de performance cultural foram gerados.
• Ritual como performance: a performance
transforma a si mesma. O fluir pode criar novos
símbolos, que provêm antes do sentimento do
que da cognição.
• As outras definições de ritual esquecem o
movimento descoberto por Van Gennep.
Social Dramas and Stories about Them
• É preciso levar em conta a liminaridade para
que o ritual não seja visto como mera
formalidade.
• O ritual vai do indicativo ao subjuntivo, volta
para o indicativo embebido pela
“subjuntividade”, o que precisamente
representa as fases preliminal, liminal e pós-
liminal.
Social Dramas and Stories about Them
• Narrativa é um termo apropriado para uma
atividade reflexiva que procura saber (gnosis)
sobre eventos antecedentes e sobre o
significado desses eventos. Drama é fazer,
atuar. Assim, a narrativa é saber que emerge
da ação. (p.87)
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• A monografia antropológica não pode perder
de vista os elementos cognitivos, afetivos e
volitivos da vida social experienciados pelo
observador como experiência vivida.
• Uma forma de ensinar antropologia sem
perder de vista essas condições pode ser feita
através de três estágios: transformar a
etnografia em script, script em performance,
performance em meta-etnografia.
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• Ciência social e arte performática
• “To perform” a etnografia é considerar os
dados em sua completude, na plenitude do
seu significado de ação.
• Reconhecer desejos, sentimentos e
estratégias – o contrário da teoria asséptica
sobre o homem produzida pelo século 18
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• Experiência em uma oficina envolvendo
antropólogos e atores
• Tomou sua etnografia “Schism...” como script
e tentou fazer com que os alunos se
envolvessem fisicamente e mentalmente no
modus vivendi de uma cultura não presente
ali.
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• Fazer o ator passar, durante o processo de
preparação (fase liminal, na qual toda
experiência é possível) do “não-mim” (espécie
de manual do personagem) para o “não-não-
mim” (o personagem realizado).
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• Ritual “Herança Nome” (Kuswanika ijina)
• Importância de experienciar o processo
profundo da vida social. O script está sempre
sendo confrontado com o entendimento a
respeito da cultura em questão.
• Antropólogos também atuaram, sentir o
“homem vivo”.
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• O movimento da etnografia para a
performance é um processo de reflexibilidade
pragmática. Reflexibilidade sobre a
experiência histórica ocidental, no sentido de
atentar para modalidades representativas ou
genéricas da existência humana, para
entender, no pulsar, o que não se é capaz de
entender.
Dramatic Ritual/Ritual Drama
• Ser reflexivo significa tornar a si mesmo um
objeto, fazer da intersubjetividade o modo
humano caracteristicamente pós-moderno.
• Ser afetado
Everyday Life
• Origem da palavra acting tem haver com
trabalho e lazer.
• As tragédias gregas eram metacomentários
sociais da sociedade grega, eram espelhos
intensivamente reflexivos e ativos.
• Nas sociedade complexas a arte não possui o
caráter reflexivo da tragédia grega, não tem
referência universal, refere-se a condições
específicas.
Everyday Life
• Mas o alcance mundial dessa arte forma uma
parede de espelhos (plano, convexo, concavo,
convexo cilíndrico...), a partir dos quais os
problemas (crises) podem ser iluminados.
• A distorção dos espelhos provoca a
reflexividade.
• O teatro é uma literatura que anda, fala, atua
Everyday Life
• Crítica de Geertz: a abordagem do drama
social foca o movimento, mas negligencia os
conteúdos multifatoriais. A analogia do texto
daria conta disso.
• As formas de autoridade usadas para conter
as crises cristalizam autenticidades culturais.
• O sistema simbólico ritual e jurídico dos
Ndembu seriam análogos do texto
Everyday Life
• Mas, localiza esses textos no contexto da
performance, e não como sistemas
dominantemente cognitivos, abstratos.
• O palco e na vida real apresentam analogias
dramáticas e textuais.
Everyday Life
• O drama de palco é um metacometário,
explícito ou implícito dos maiores dramas
sociais de seu contexto.
• Sustenta que a origem de todos os gêneros de
performance cultural estão potencialmente
presentes na terceira fase do drama social
genérico.
• O drama tem sua fonte direta no conflito
social.
Everyday Life
• Sociedade tribais v complexas
• O tribalismo ou o retribalismo é uma ênfase na
estrutura, as expensas do indivíduo
• O período liminal se torna uma introdução ao ser
moral. O homem cresce na antiestrutura e se
mantém na estrutura
• O movimento oscilante entre indivíduo e pessoa
(persona), ou a capacidade de se mover entre
essas duas instâncias, pode ser chamado de
individualidade
Everyday Life
• Na pós-renascença há uma assimetria. A
persona trabalho, o indivíduo joga; o primeiro
é indicativo o segundo subjuntivo
• O teatro é possibilidade de sentimento e
emoção atrás dos papéis, é o lugar do
indivíduo em geral.
• O lugar real, da persona, é falso, o do
indivíduo, não.
Everyday Life
• O modo subjuntivo é mais real.
• Tende a considerar a dimensão do indivíduo
como communitas, limial, voluntária,
espontânea, integral.

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