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Direito

da
Responsabilidade
• A responsabilidade civil consiste na necessidade
imposta a quem transgride as suas obrigações,
adoptando comportamento diverso do que lhe era
prescrito, e por tal forma causa prejuízo ao titular do
correspondente interesse tutelado pela ordem jurídica,
de colocar à sua custa o ofendido no estado em que ele
se encontraria se não fosse a lesão sofrida
• Por regra, os prejuízos, os danos, correm por conta de quem os
sofre – só excepcionalmente o lesado pode responsabilizar
terceiro pela verificação de alguma lesão. É uma aplicação de
um antigo princípio: ubi commoda, ibi incommoda. Daí, por
exemplo, a razão de ser do disposto no art. 796º do Cód.Civil.

• A responsabilidade civil surge precisamente para permitir ao


lesado imputar a lesão sofrida a terceiro de modo a que este
deva “reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse
verificado o evento que obriga à reparação” (art. 562º, Cód.Civil)
Responsabilidade
civil

Contratual

Extracontratual

Pré-contratual
• A responsabilidade contratual ocorre sempre que preexista uma
relação jurídica obrigacional e aquele que nesta ocupa a posição de
devedor não cumpra pontualmente

• A responsabilidade extracontratual produz-se sempre que não exista


relação jurídica prévia e a ocorrência do dano na esfera daquele que
a partir daqui será constituído credor resulte da violação de um
dever genérico, maxime, da violação do dever de respeito por
situações jurídicas alheias

• A responsabilidade pré-contratual deriva da violação dos princípios


da boa fé durante o processo de negociação (art. 227º)
• O nosso Código Civil, apesar de manter a dicotomia
tradicional (arts. 483º e segs. e 790º e segs), acaba por
implicitamente aceitar, para o essencial, a similitude
entre responsabilidade contratual e extracontratual,
pois o efeito básico de ambas as espécies de
responsabilidade – a saber, a obrigação de indemnizar –
está disciplinado de forma unitária nos seus arts. 562º a
572º

• O que não impede, não obstante, o surgimento de


hipóteses de concurso dito aparente, legal ou de
normas entre pretensões derivadas de responsabilidade
contratual e de responsabilidade extracontratual. O
dano, porém, é um único e, portanto, ou se pede a
indemnização correspectiva com base na primeira ou
com base na segunda espécie de responsabilidade
• A responsabilidade civil cumpre uma função: obrigar terceiro a
proceder à reparação de danos provocados na esfera jurídica do
lesado (credor para este efeito)

• O que significa (ainda que pareça uma redundância) que não se


provando a existência de danos não há responsabilidade

• Por isso, ainda que o devedor (autor da lesão) sinta a


realização da obrigação de indemnizar como uma
penalização, não é esta, nem objectivamente nem
juridicamente, a respectiva função (ao contrário da
responsabilidade penal onde através v.g. da punição da
tentativa também se castiga o seu autor)
• Deve reconhecer-se, contudo, que:

• 1) a forma como, tratando-se de danos pessoais, se tem


procedido, na prática, ao cálculo da indemnização

• 2) e, muito particularmente, admitindo-se a figura dos


chamados punitive ou exemplary damages,

o instituto da responsabilidade civil pode ser


utilizado para castigar, para penalizar condutas
• Porém, ainda que a obrigação de indemnizar se funde, nestes casos,
na verificação dos requisitos da responsabilidade civil, aquela não
serve os seus fins típicos, antes serve os propósitos da
responsabilidade penal (não obstante se fundar nos requisitos da
responsabilidade civil)

• Nos punitive damages, a obrigação de indemnizar consiste numa


soma em dinheiro conferida ao autor de uma acção de indemnização
em valor expressivamente superior ao necessário à compensação do
dano fundada mais na censurabilidade da conduta do que na
produção do resultado danoso

• Por isso:
i) Só devem admitir-se nos casos previstos na lei (princípio da
taxatividade das penas e medidas de segurança)
ii) Só podem ser atribuídos em processo penal pois só aí estão
instituídas garantias processuais com o nível exigido pela Constituição
A imposição da obrigação de prestar punitive ou exemplary damages depende da
verificação das seguintes condições :

(I) deve provar-se que o devedor/lesante merece ser punido por ter
cometido determinado tort;
(II) deve provar-se igualmente que não sendo imposta tal obrigação a
conduta do mesmo não é adequadamente punida;
(III) por fim, supõe-se que o tortfeasor tenha levado a cabo uma “extreme
and outrageous conduct” (isto é, tenha actuado de um modo
manifestamente censurável – v.g. mesmo conhecendo a ilicitude da sua
conduta, preferiu realizá-la e sujeitar-se à eventual obrigação de
indemnizar pelos inerentes compensatory damages, por, mesmo assim, tal
lhe ser economicamente mais vantajoso do que omitir semelhante
comportamento)
• Na compensação pelos danos pessoais deve conceder-se que a
remissão para a equidade realizada pelo art. 496º do Cód.Civil
implica naturalmente, na operação de conversão em dinheiro dos
danos não patrimoniais, uma certa dose de arbitrariedade

• Porém, em teoria, a compensação por danos pessoais:


• a) tem em vista reparar ou, pelo, atenuar danos
• b) pelo que não tem necessariamente natureza pecuniária (ao invés dos
verdadeiros punitive damages)
Não cumprimento
contratual

Imputável ao
devedor

Objectivamente
Subjectivamente
(v.g. 800º)

Não imputável
ao devedor
• Como a responsabilidade contratual pressupõe a existência de uma
relação jurídica anterior, é concebível que o não cumprimento da
obrigação daí decorrente para o respectivo sujeito passivo possa ficar
a dever-se tanto a uma conduta que lhe é atribuível, como a um facto
natural, a um comportamento imputável a um terceiro ou,
inclusivamente, a uma conduta da autoria do próprio credor.

• Evidentemente, só há responsabilidade contratual quando o devedor


seja o autor do não cumprimento (ainda que a determinação de tal
autoria resulte apenas da não ilisão da presunção contida no art.
799º/nº1 do Cód.Civil)
Responsabilidade
extracontratual

Com culpa
(art. 483º/nº1)

Independente
de culpa
(art. 483º/nº2)

Por factos
Pelo risco
lícitos
• A culpa, como adiante se dirá, é um juízo de censurabilidade de que a
conduta de certa pessoa é susceptível por, na realização dessa
conduta, ter revelado certa atitude quando podia e devia ter
revelado outra.

• Quando, entre outros requisitos, a responsabilização de certa pessoa


por ter causado danos a outra exija a possibilidade da formulação do
referido juízo, está-se perante a chamada responsabilidade
subjectiva, delitual, aquiliana ou por factos ilícitos.

• Ao invés, quando para obrigar certa pessoa a reparar danos causados


a outra tal juízo de censura seja irrelevante ou desnecessário, diz-se
que a responsabilidade é objectiva (justamente porque independe de
culpa)
• A responsabilidade pelo risco ocorre sempre que a lei associe ao
desenvolvimento de certa actividade naturalmente perigosa, ou seja,
potencialmente danosa, a obrigação de reparar danos que da mesma
possam eventualmente resultar para terceiros

• A responsabilidade por factos lícitos funciona como uma categoria


residual perante a responsabilidade pelo risco. Existirá sempre que a
lei institua um caso de responsabilidade objectiva fora do âmbito das
acções/omissões perigosas por natureza

• Não existe uma distinção polar entre Strict Liability e Negligence. Ao


invés, as regras de responsabilidade situam-se num continuum que
vão desde a negligência com consideração pelas circunstâncias
pessoais do agente (responsabilidade subjectiva) até à
responsabilidade objectiva – por pura “causação” de danos
Responsabilidade

Directa

Indirecta (491º, 500º ou 800º )

• Na responsabilidade directa, a autoria da conduta lesiva e a adstrição


à obrigação de indemnizar coincidem na mesma pessoa

• Na responsabilidade indirecta, o responsável pela indemnização não


é o autor da conduta lesiva
• Efeito da responsabilidade civil

• obrigação de indemnizar: entendida no preciso sentido que lhe


foi definido pelo art. 562º (reconstituição da situação que
existiria se não se tivesse verificado o evento lesivo) e não só no
sentido, mais restrito, de pagamento de uma quantia
pecuniária ao lesado (ainda que em alguns casos outro remédio
não reste que não passe por esta via)
• A obrigação de indemnizar pode destinar-se à reconstituição natural
ou à compensação em dinheiro (art. 566º/nº1, Cód.Civil). Aquela tem
prioridade e esta funciona, portanto, como último remédio.

• A indemnização em dinheiro para reparação de danos patrimoniais


tem como critério de cálculo a diferença entre a situação patrimonial
real e actual do lesado e a sua situação patrimonial actual mas
virtual, ou seja, aquela em que presentemente estaria “se não
existissem danos” (art. 566º/nº2, Cód.Civil)
• Persegue-se, portanto, para abranger também os danos
pessoais, o objectivo de recolocar o lesado no ponto
mais próximo que possível for da situação em que
estaria se a lesão não se tivesse produzido (art. 562º,
Cód.Civil)

• Leva-se em consideração, assim, não “a situação


abstracta, mas a situação concreta do lesado”

• Por força do disposto no art. 801º, na


responsabilidade contratual, a indemnização tanto
pode (à escolha do credor lesado) ter em vista a
reparação pelo interesse contratual negativo como
pelo interesse contratual positivo
• Na responsabilidade pré-contratual a indemnização far-
se-á, em geral, atendendo ao interesse contratual
negativo: o lesado terá direito a ser ressarcido pelos
prejuízos correspondentes “às vantagens que teria
obtido somadas aos danos e despesas que teria evitado,
se não tivesse iniciado as negociações, depois
injustificadamente interrompidas pela contraparte, ou
celebrado um contrato inválido“ (Enzo Roppo, O
Contrato, pág. 108)
Conceito de Dano

• O dano não pode resultar simplesmente da infracção de direitos alheios


(artigo 483º/n.º 1) nem da violação de obrigações próprias (artigo 798º).
Caso contrário, mesmo que, em última análise, inexistisse um prejuízo
daí emergente, poderia afirmar-se ter ocorrido uma lesão no património
ou na pessoa do titular do direito desrespeitado.

• A existência de dano avalia-se através do counterfactual test:


comparação entre a situação real e actual da pessoa afectada com
aquela outra em que ela se encontraria caso o autor da conduta não
tivesse actuado como actuou (situação actual virtual)

• A obrigação de indemnizar constitui-se no instante em que o lesante


executa a conduta que conduz à respectiva produção, ainda que só
retrospectivamente a sua adequação possa ser atestada
Espécies de dano

1.

• Lucro cessante: o benefício que o lesado deixou de


obter por causa do facto ilícito, mas a que ainda não
tinha direito à data da lesão
• Dano emergente: o prejuízo causado nos bens ou nos
direitos já existentes na titularidade do lesado à data da
lesão
2.

• Dano real: é a ofensa que efectivamente o lesado sofre – a


subtracção ou a destruição da coisa, o sofrimento causado pelo
ferimento, a afectação da reputação, o prejuízo decorrente da
contrafacção da marca, etc
• Dano de cálculo: é constituído pelo conjunto de consequências que a
verificação do dano real faz repercutir sobre o património do lesado.
É dentro deste que se distinguem danos emergentes e lucros
cessantes
3.
• Dano patrimonial: sempre que a lesão provocada seja susceptível de avaliação
pecuniária
• Dano pessoal: sempre que a lesão provocada seja insusceptível de avaliação
pecuniária. Distingue-se em dano físico (personal injury), ou seja, dano causado à
integridade física, e dano psíquico (mental injury), ou seja, dano produzido sobre
a integridade psicológica ou moral
• dano biológico como modalidade do personal injury: aquele que afecta as qualidades físicas
e intelectuais do lesado, no presente e, em especial, no futuro (a que igualmente se pode
dar o nome de dano corporal)

• 4. A própria verificação da morte (wrongful death action) é dano indemnizável,


apesar de se dever reconhecer que o direito correspondente nascerá na
titularidade do lesado no preciso momento em que cessa a sua personalidade
jurídica
• Uma wrongful birth action é intentada pela mãe e/ou pelo
pai em seu próprio nome. Nela, os progenitores alegam
essencialmente terem perdido o direito de tomar uma
decisão informada sobre a manutenção da gravidez relativa a
um filho marcado por defeitos congénitos, eventualmente
capazes até de provocar a respectiva morte à nascença (v.g.
hérnia diafragmática congénita). Tendo, porém, ocorrido o
nascimento pretendem agora ser compensados por se ter
tornado necessário criar uma criança deficiente.
• Uma wrongful life action é proposta pelo filho, tipicamente (quando seja incapaz)
por intermédio dos pais em seu nome (nos termos gerais do artigo 1878º, n.º 1,
Código Civil). Neste contexto, o autor sustenta (por si ou através do substituto),
que, se não fosse a negligência médica, os progenitores teriam presumivelmente
recorrido à interrupção voluntária da gravidez. O dano concretamente sofrido
consiste, por isso, em ter que existir com uma deficiência que jamais se produziria
caso o nascimento não tivesse sobrevindo. A acção não apresentaria
especialidades de maior se o filho se limitasse a pedir compensação pecuniária
para fazer frente, durante o resto da sua vida, às despesas especiais que o seu
estado de saúde demanda. Mas, diferentemente, o que ele reclama é o
ressarcimento pelo facto de ter de existir. O direito violado será, assim, o de não
viver.
4.

• Dano directo: é o efeito imediato, na esfera jurídica


do lesado, da conduta do lesante
• Dano indirecto: é uma consequência eventual ou
remota daquela conduta
5.

• Dano presente: é o que já está produzido no momento


em que o lesado exige a correspondente reparação
• Dano futuro: é aquele que, no mesmo momento,
apenas se prevê que se concretize. Distingue-se em
certo e eventual (art. 564º/nº2)
6.
Pure economic loss (vg Exxon Shipping Co. vs Baker )

• A - Danos de ricochete: sempre que um lesado directo suporte danos


materiais enquanto um lesado indirecto sofre danos puramente
económicos – A foi contratado para rebocar o navio de B; C afunda tal
navio; A fica assim impossibilitado de obter o benefício que poderia ter
conseguido através do cumprimento do contrato de rebocagem
celebrado com B;
• B - Danos transferidos: quando um dano que recai sobre um lesado
primário se translada para um lesado secundário – B, empregado de A,
foi ferido por C ficando impossibilitado de trabalhar durante três meses;
se A tiver o dever de, não obstante, pagar o salário de B, sofre um dano
puramente económico;
• C - Encerramento de mercados públicos, corredores de transporte ou infra-
estruturas públicas: auto-estradas, mercados, aeroportos, portos, são
equipamentos que não pertencem a ninguém em particular, mas, no
entanto, podem existir indivíduos cujas vidas estejam estreitamente
deles dependentes; o seu encerramento pode provocar, nessa medida, a
ocorrência de danos económicos – A procede a uma descarga de
produtos químicos num rio; por isso, todo o tráfego de navios no corredor
marítimo fica impedido durante duas semanas; como consequência, os
transportadores fluviais devem fazer percursos terrestres ou marítimos
mais demorados e onerosos;
• D - Confiança depositada em informação ou conselhos financeiros: se
estes ou aquela forem descuidadamente prestados, daí podem resultar
danos puramente económicos – C, contabilista, realiza uma auditoria à
sociedade B, cotada em bolsa, exagerando largamente o seu valor
financeiro; A, investidor, compra acções daquela sociedade pagando o
dobro daquilo que elas realmente valem.
• - Gastos para prevenção de danos eventuais e futuros: antecipando a
ocorrência de algum dano, uma pessoa faz despesas para minorar os
respetivos efeitos – v.g. A proprietário de um terreno superior, deixa
descuidadamente o seu lagar de azeite verter líquidos residuais pela
colina abaixo; B, proprietário inferior, para atalhar os previsíveis
prejuízos, realiza uma série de obras de contenção.
• Caberá tomar em consideração, especialmente:
• a proximidade entre o agente e a pessoa ameaçada,
• ou o facto de o agente estar consciente de que causará danos

496º/n.º1 por analogia:


Permitirá arbitrar compensação por pure economic loss quando ele, pela sua
gravidade, mereça a tutela do direito
• 7.

• Perda de chance ou de oportunidade (loss of a chance). Dá-se


quando de uma acção ou inacção (ilicíta e censurável) resulta a perda
para outrem da possibilidade de conservar, de obter ou de satisfazer
um certo interesse. O mal em que ela se traduz – e que se pode
tornar atendível tanto em sede de responsabilidade contratual como
de extracontratual – tem carácter meramente potencial.

• Em rigor, a perda de chance não constitui, todavia, um dano só por si.


Para dela poder emergir a obrigação de indemnizar torna-se
indispensável demonstrar, em acréscimo, o prejuízo, desvantagem ou
lesão que da sua verificação concretamente derivou ou resultou
• 8.

• Wrongful death: avaliar se a morte constitui um dano para o titular


do direito à vida pressupõe que mediante o counterfactual test se
proceda à seguinte comparação:
• (i) a situação (virtual) em que se encontraria o sujeito caso não fosse vítima
da conduta que, depois, lhe provoca a morte;
• (ii) e aquela em que ele se encontra (realmente) após tal sucesso (e não após
a concretização do seu resultado).
• No que respeita ao momento da verificação do dano – em geral e
não apenas no que especificamente concerne ao dano da morte,
ainda que seja a este propósito que a questão adquire maior
acuidade – duas hipóteses elementares se podem conjeturar. Ele
pode coincidir:
• i) com o instante em que se inicia o processo que, posteriormente,
desencadeia a lesão;
• ii) ou, ao invés, com o momento em que a referida lesão se tem por
inteiramente concretizada.

• As dificuldades suscitadas pelo acolhimento do segundo critério remetem


quase necessariamente para a adoção do primeiro. Que cabe formular nos
seguintes moldes: a obrigação de indemnizar constitui-se no instante em que
o lesante executa a conduta que conduz à produção da lesão, ainda que só
retrospetivamente a sua adequação se possa atestar. A contabilização,
eventualmente impossível nesta ocasião (seja por não se conhecer a sua
existência ou extensão, seja por o prejuízo não estar ainda liquidado, etc.),
não inviabiliza o ponto de partida. A obrigação de indemnizar considera-se
instituída, portanto, na data em que o dano se materializa, mesmo que,
nessa altura, o seu conteúdo seja impreciso, indeterminado ou indefinido.
• Titularidade do direito à indemnização: como óbvia regra geral, tem
direito de exigir a indemnização fundada em responsabilidade civil o
lesado, ou seja, o titular do direito ou interesse violado pela conduta
do lesante
• Particularidades (art. 495º):
• 1. no caso de a lesão causar a morte, terceiros têm crédito contra o lesante
pelas “despesas feitas para salvar o lesado e todas as demais, sem exceptuar
as do funeral” (nº1). Mutatis mutandis no caso de lesão corporal (nº2).
• 2. O credor de alimentos tem igualmente direito a indemnização contra o
lesante quanto àqueles que podia, por qualquer via, exigir ao lesado ou
quanto àqueles que este último cumpria ao abrigo de uma obrigação natural
(nº3)
• 3. “No caso de morte”, o nº4/in fine do art.º 496º do Cód.Civil reconhece o
direito à indemnização a alguém que não o defunto. O direito que os
familiares do lesado falecido aí fazem valer é não só o direito à indemnização
originalmente pertencente ao defunto por causa da violação do seu direito à
vida, como é também um direito próprio: o direito à respectiva integridade
psicológica e saúde psíquica que também são reflexamente atingidos pela
conduta do lesante
• Obrigado à indemnização: o autor do dano é sempre o
obrigado à indemnização

• Especialidades:
• 1ª - quando exista responsabilidade indirecta
• 2ª: quando exista comparticipação
• Autoria:

• É autor (imediato) da conduta, genericamente, quem


domine a sua realização (quem tenha o domínio do facto).

• É participante quem tendo intervenção na realização dessa


conduta ou na sua motivação não a domine.
• Assim, haverá autoria mediata quando aquele que tem
o domínio do facto não seja (ou não seja só) o
executante:

• A primeira hipótese de autoria mediata verificar-se-á quando o


executante actue sem dolo (o que pelo menos abrange o que
obra de boa fé)
• Também haverá autoria mediata quando alguém domine a
realização da conduta aproveitando-se da extrema
dependência psíquica do executante ou por causa de coacção
moral exercida sobre o mesmo
• Existirá igualmente autoria mediata quando o executante seja
inimputável (ao menos enquanto realiza a conduta) ou actue
sem consciência da ilicitude, e em qualquer dos casos aja ao
serviço de outrem.

• E ainda quando alguém domine, mesmo sem coacção e sem


erro, um “aparelho de poder”, desde que a “person behind”
domine de facto a organização e desde que exista uma reserva
suficientemente ampla de executantes que os torne
absolutamente fungíveis entre si
• A co-autoria supõe a intervenção de, no mínimo, duas
pessoas que conjuntamente têm o domínio da conduta
mas que separadamente apenas realizam uma parcela
da mesma sem que, ao mesmo tempo, alguma seja
instrumento ao serviço da outra

• A co-autoria pressupõe decisão comum e,


principalmente, realização comum
• Da co-autoria distingue-se a chamada autoria concorrente que
sucede sempre que vários intervenientes põem condições suficientes
para a produção do dano, todos contribuindo para o mesmo
independentemente uns dos outros
• 1.ª hipótese – Ou é possível discernir qual a medida de participação
imputável a cada um, e existirão então tantas obrigações (parcelares) de
indemnização como quantos forem os autores;
• 2.ª hipótese: Ou, ao invés, tal não é exequível e haverá fundamento então
para aplicar o disposto no artigo 497º , tornando os autores devedores
solidários perante o lesado e presumindo igual, portanto, a sua medida de
intervenção na produção do dano (Summers vs Tice rule - formulada a
propósito de uma caçada conjunta)

• Desta segunda hipótese separa-se, em termos conceituais, a situação – que se pode


designar como autoria concorrente parcelar – em que, inexistindo similarmente
qualquer combinação recíproca, cada uma das condutas de cada um dos respectivos
autores não basta para causar o dano, embora todas conjugadas sejam causa suficiente
para o produzir indivisivelmente (o que sucede com frequência, por exemplo, em
matéria de poluição ambiental). Não obstante inexistir decisão comum, a hipótese
encontra-se também suficientemente próxima da co-autoria para justificar a extensão
do disposto no artigo 497º
• Já não há coincidência de autores, diferentemente, quando a
conduta lesiva, sendo com alto grau de certeza atribuível a alguma
pessoa dentro de grupo aproximadamente determinado, se revele
insusceptível de concretização subjectiva. É o fenómeno que se
conhece como de causalidade indeterminada – em rigor, autoria
indeterminada – em que ela se imputa, muito provavelmente, a uma
ou a várias pessoas integrantes de um conjunto mais numeroso mas
sem que seja possível precisar qual ou quais (ignorando-se mesmo,
portanto, se alguma delas para ele terá sequer potencialmente
contribuído). V.g. o caso, muito conhecido, decidido em Sindell vs
Abbott Laboratories.
Participação (a respectiva interferência não supera o but for
test: ou seja, o resultado da conduta do autor não deixaria
de se produzir ainda que aquela não houvesse sucedido):

• Instigador é aquele que dolosamente determina outrem à


prática de uma conduta ilícita

• Cúmplice é aquele que dolosamente presta colaboração a


outrem para a produção de uma lesão na esfera jurídica
alheia
• A razão de ser da responsabilização do participante reside no facto
de este ter cooperado na produção do resultado danoso.

• The agency theory: segundo a qual, partindo do pressuposto de que o


indivíduo é livre para determinar a sua acção, cada um torna-se então
responsável pela conduta alheia sempre que voluntariamente a ela adere;
• The forfeited personal identity theory: pela qual, quando um indivíduo
assume uma participação em conduta alheia ilícita, abdica da sua liberdade –
porque esta lhe é confiscada – e deixa, por isso, de poder ser tratado como
um ser autónomo.
• Na responsabilidade civil extracontratual, “se forem várias as pessoas
responsáveis pelos danos, é solidária a sua responsabilidade” (art.
497º/nº1, Cód.Civil), independentemente do grau de participação
que cada qual teve na produção dos referidos danos

• Na responsabilidade contratual, faltando indicação legal ou negocial


em sentido inverso, tem-se entendido que, sendo vários os obrigados
à indemnização, todos respondem conjuntamente (art. 513º,
Cód.Civil)
• Porém, internamente (ou seja, na relação entre
lesantes/devedores), pode algum (alguns) dos
intervenientes ter direito de regresso contra os demais.
O que pressupõe que cada qual tenha tido medida e
qualidade distinta de participação na produção do dano
– ou, de outra forma, que todos sejam responsáveis
mas “na medida das respectivas culpas e das
consequências que delas advieram” (art. 497º/nº2,
Cód.Civil)
Pressupostos da responsabilidade civil
subjectiva

• Na responsabilidade subjectiva ou por factos ilícitos


culposos cabe tanto a responsabilidade pré-contratual,
como a contratual, como a extracontratual ou aquiliana
(ou delitual). Em todas estas espécies, a
responsabilidade em causa pressupõe uma conduta
objectiva e subjectivamente reprovável (ilícita e
culposa, respectivamente)
• Os pressupostos ou condições da responsabilidade civil são: uma
conduta lesiva, a respectiva ilicitude, a culpa do agente, o dano e o
nexo de causalidade (entre a referida conduta e a lesão causada). É a
arrumação tradicional.

• É forçoso admitir que os cinco requisitos da responsabilidade civil de


que depende, na doutrina tradicional, a constituição da obrigação de
indemnizar se devem reduzir a quatro:

• conduta lesiva (abrangendo momentos subjectivos – os relativos ao dolo ou à


negligência – e integrando também o nexo de causalidade, o juízo de
imputação objectiva, como um sub-capítulo),
• ilicitude,
• culpabilidade
• e dano
Pressupostos da
responsabilidade civil subjectiva (contratual e extracontratual)

Conduta lesiva

Componente subjectiva: dolo Nexo de causalidade (imputação


ou negligência objectiva)

Ilicitude

Causas de exclusão da
ilicitude

Culpabilidade (imputação
subjectiva)

Consciência da
Imputabilidade Exigibilidade
ilicitude

Causas de
desculpabilidade

Dano
• Conduta lesiva
Antes de mais, é necessário que o dano indemnizável seja o
produto de uma conduta imputável a alguém
Uma vez que é sobre a referida conduta que assenta o juízo de
ilicitude e de culpa, ela deve ser objectivamente dominável ou
controlável pela vontade humana

• A susceptibilidade de domínio da conduta pressupõe uma


capacidade natural mínima e um animus mínimo.
• Em primeiro lugar, pressupõe que o comportamento em causa está
no limiar da aptidão humana para o dominar: acções reflexas, factos
naturais ou casos fortuitos ou de força maior, por exemplo, não são
humanamente controláveis – logo, não são conduta.
• Em segundo lugar, o domínio da conduta pressupõe também uma
dose mínima de voluntariedade. Assim, pelo menos não existindo a
chamada vontade de acção (coacção física; às vezes coacção moral),
uma conduta aparentemente dominável não será na realidade uma
conduta (ao menos, para efeitos de responsabilidade civil).
• Acção/inacção

• Em tese, a conduta lesiva tanto pode consistir numa acção


(comportamento activo) como numa omissão (comportamento
passivo)

• (I) Na responsabilidade contratual, tanto importa a natureza da conduta


lesiva. O que releva é a natureza da obrigação assumida

• (II) Na responsabilidade pré-contratual também tanto importará a natureza


da conduta lesiva desde que esta seja contrária à boa fé (o que significa que
tudo depende do dever concretamente decorrente desta)
• Ao invés, a responsabilidade extracontratual, uma vez que
pressupõem um dever de não ingerência na esfera jurídica alheia,
surgirá sempre que esse dever seja violado, isto é, sempre que se
pratique a acção que devia ter sido omitida.

• Assim, a omissão somente poderá gerar esta espécies de


responsabilidade quando exista o dever jurídico de praticar certa
acção e este não tenha sido cumprido. De harmonia com o disposto
no art. 486º do Cód.Civil, o dever de actuação pode resultar da:
• - lei
• - ou de negócio jurídico
• - ou do dever geral de prevenção do perigo.
• Quando entendida nos seus mais estritos termos, esta perceção
afigura-se ultrapassada. As fontes do dever de agir ou do dever de
elucidar, respetivamente, têm sido consideravelmente alargadas, não
obstante a apertada letra da lei : (i) a boa-fé no processo de
contratação (artigo 227.º, Código Civil); (ii) a ingerência (“creation of
a source of danger”); (iii) a estreita relação vital; (iv) os casos de
protection of the vulnerable ; (v) e também, ao menos no âmbito do
Direito Civil, o unanimemente reconhecido dever geral de prevenção
do perigo .

• No fundo, portanto, todas aquelas situações em que sobre alguém


incida um dever de vigilância (v.g. o que resulta do artigo 491.º do
Cód.Civil) ou, mais amplamente, um dever de cuidado (duty of care),
são também casos em que a omissão do comportamento requerido é
capaz de engendrar responsabilização civil.
• Dolo e negligência

• Entre dolo directo e negligência inconsciente há uma série infindável


de graduações de que uma conduta é susceptível, como aliás é
próprio de todo o género de análises que envolvem a valoração de
vontades, intenções ou finalidades – por isso as distinções
conceptuais a que em seguida se procede têm natureza orientativa.

• Dolo: Pressupõe a previsão, ou seja, a antecipação do resultado (no


caso da responsabilidade civil, a antecipação do dano), o que envolve
o conhecimento das circunstâncias de facto (elemento cognitivo), e a
vontade de o produzir (elemento volitivo)
• O dolo admite três modalidades: directo, necessário e eventual – a
distinção faz-se atendendo à vontade do resultado, ou seja,
atendendo ao elemento volitivo do dolo (o que significa que o
resultado está sempre antecipado)
• O dolo é directo quando exista a intenção de desencadear o resultado lesivo
da conduta – pode dizer-se, por isso, que nesta espécie de dolo o dano
constitui a “meta própria” da referida conduta
• O dolo é necessário quando o agente não queira efectivamente uma parte do
resultado – que para ele é secundária – mas este seja todavia inevitável para
atingir o resultado pretendido
• O dolo é eventual quando o agente se conforme com a possível
concretização do dano antecipadamente previsto – não o pretende
propriamente, mas realiza a conduta aceitando-o como uma consequência
provável da mesma
• Haverá negligência:
• consciente quando o agente tenha antecipado o resultado danoso mas não o
tenha admitido como uma consequência possível da sua conduta ao realizá-
la.
• inconsciente quando o agente nem sequer tenha antecipado o resultado
possível da sua conduta quando a consumou.

• Distingue-se também a negligência em grosseira e simples


conforme, respectivamente, a violação do dever de cuidado
que ao caso couber for particularmente censurável (v.g.
descuido indesculpável) ou não.
• A negligência resulta sempre da violação do dever
de cuidado ou de diligência que ao caso caiba

• Quando é que tal dever existe?


Em geral, torna-se necessário executar o chamado
Caparo test (vg Donoghue vs Stevenson):

• 1.º – “the foreseeability of damage”;


• 2.º – “a relationship characterised by the law as one of proximity
or neighbourhood”;
• 3.º – “that the law should impose a duty of a given scope upon
the one party for the benefit of the other
• Consequências da distinção dolo/negligência:
- Em princípio, para a obrigação de indemnizar é
indiferente salvo o disposto no art. 494º
- A conduta dolosa é censurável; a pouco cuidadosa
só potencialmente
- só na conduta negligente a inexigibilidade em
geral é causa suficiente de desculpabilidade
• Nexo de causalidade: A conduta lesiva, para o ser, supõe uma certa
conexão entre a acção/omissão e dano dela resultante – essa
conexão é o nexo de causalidade

• A determinação do “se contribuiu” e da “medida da contribuição”


faz-se através do método experimental, colocando e retirando
mentalmente a conduta do agente em causa para verificar se ela foi
ou não decisiva para a produção do resultado

• 1. O procedimento para descortinar a existência de um nexo de


causalidade entre a conduta de certa pessoa e o dano dela
eventualmente resultante começa pois necessariamente
recorrendo à chamada teoria da condição sine qua non
• 2 . Teoria do risco permitido: imputa-se a alguém a responsabilidade
por um dano causado a outrem quando este desenvolva uma
conduta que envolva riscos que ultrapassem a fasquia do socialmente
aceitável (ou seja, que vão para além dos riscos normais da vida).

• Apresenta-se de imediato uma dificuldade antecipável: a definição da


extensão do socialmente aceitável e, portanto, do âmbito dos riscos normais
da vida.

• Mas, sobretudo, para engendrar o dano, importa não o grau de perigo a que
se deu causa mas a aptidão para o efeito daquele que concretamente se
produziu. Por outras palavras, o que interessa é adequação entre a conduta
tal qual foi executada (independentemente da quantidade de risco que,
mediante ela, o agente aportou) e o seu resultado.

• A teoria do risco permitido, por fim, encontra-se concebida em conexão com


o tort of negligence e, por isso, é indissociável da censurabilidade da conduta
que o origina. Se ela houver sido desenvolvida sem dolo e com a devida
diligência, o risco está sempre permitido por muito elevado (para além da
fasquia do aceitável) que se revele.
• 3. A concepção que, segundo a opinião comum, foi
adoptada pela formulação contida no art. 563º do
Cód.Civil corresponde à chamada teoria da adequação
ou da causalidade adequada - certa conduta é causa de
determinado dano sempre que se possa considerar
que este seja uma consequência normal ou típica
daquela

• Variante negativa: desde que a conduta tenha sido


condição sine qua non do dano, o nexo de causalidade
encontra-se estabelecido a menos que o dano tenha
acontecido por circunstâncias manifestamente
excepcionais (vg combustão da palha transportada no
tractor) – consequente inversão do ónus da prova

• Variante positiva: a normalidade da conduta para


produzir o dano depende da prova do lesado
• Na teoria da causalidade adequada não se pressupõe que o dano
tenha sido exclusivamente determinado por certa condição, ou seja,
por certa acção ou inacção. Ao invés, pode tratar-se, apenas, de
concausalidade: nada impede que a conduta capaz de provavelmente
causar o dano concorra com outras igualmente susceptíveis de
produzir o mesmo efeito.

• Além disso, a adequação causal pode ser simplesmente indirecta: a


acção ou a inacção imputável ao agente apenas ocasiona outra, e é
esta que, por seu turno, provoca imediatamente o dano.
• Causa virtual e nexo de causalidade: pode suceder que o
processo causal desencadeado pelo agente não tenha
acarretado o dano em virtude de um outro processo
fortuito, natural ou iniciado por terceiro, o ter causado
efectivamente

• A causa virtual é aquela que seria idónea à produção de


certo dano embora o não tenha produzido verdadeiramente
em virtude de entretanto ter sido interrompida a sua
concretização pela ocorrência de outra causa que realmente
causou o dano; a causa real é por contraposição aquela que
efectivamente causou o dano
• Para que o problema da causa virtual se possa colocar
apropriadamente, ao menos duas condições devem
estar preenchidas:
• 1.ª: “intervening causes must intervene between
defendant's act and the harm”;
• 2.ª: “intervening causes must not themselves be caused by
defendant's action (extraneous cause)” (Bunting vs
Hogsett)

• Em abstracto, a causa virtual pode importar a dois níveis:

• para fundar a responsabilidade do respectivo autor quando ela se


possa imputar a alguém (relevância positiva);

• ou para excluir ou atenuar a responsabilidade do autor da causa


real (relevância negativa)
• Na responsabilidade civil, estando em causa a reparação de um dano,
não faz sentido inculpar o autor da causa virtual – exclui-se, portanto,
a sua relevância positiva

• Mas já é concebível que a demonstração de que o dano se produziria


de igual modo, ainda que o processo conducente à ocorrência da
causa real se não tivesse cumprido, possa afastar ou atenuar a
responsabilidade do autor da causa real.

• Todavia, admitir em geral a susceptibilidade de proceder a tal


demonstração poderia facilmente levar a que o lesado não fosse
ressarcido

• Pelo que só excepcionalmente se pode dar relevância negativa à causa


virtual – será o caso das hipóteses dos arts. 491º, 492º, 493º, 807º/nº2 e
1136º/nº2 do Cód.Civil, porque assim se contra-balança o ónus
decorrente do estabelecimento da presunção de culpa ou da inversão do
risco contra aquele a cuja conduta o dano é imputável
Ilicitude

• Na responsabilidade civil, em geral não há tipos ou, mais


propriamente, modelos típicos – em geral, ela consiste na ingerência
(não justificada e indesculpável) na esfera jurídica alheia

• No que toca à definição de ilicitude:


- há responsabilidade pré-contratual quando, no processo de
contratação, se violaram as regras da boa fé;
- há responsabilidade contratual quando se incumpriram
obrigações anteriormente assumidas;
- há responsabilidade extracontratual quando se violaram
direitos ou interesses legalmente protegidos de outrem
Pré-contratual

• Segundo uma tripartição muito comum, a boa fé na responsabilidade


pré-contratual encerra três modalidades típicas de deveres: de
protecção, de esclarecimento e de lealdade

• A) O primeiro tipo implica que, mesmo antes de iniciadas as


negociações formais, bastando uma “proximidade negocial”, as
potenciais partes estejam já reciprocamente vinculadas por deveres
de cuidado com a vida, a integridade física e a propriedade da outra

• B) O dever de esclarecimento impõe que as potenciais partes, na


negociação, prestem reciprocamente as informações necessárias à
correcta formação e motivação da vontade alheia, de modo a que
não fiquem escondidos, pelo menos, aqueles esclarecimentos cujo
não fornecimento possa determinar o surgimento de erro-vício
• C) O dever de lealdade, por fim, impõe aos
intervenientes no processo de contratação a vinculação
a um comportamento honesto, o que os obriga a não
romper as negociações a não ser justificadamente e
disso dando conhecimento ao outro interveniente e
também a não incluir cláusulas negociais que à partida
se sabe serem juridicamente inadmissíveis
Extracontratual

• Atendendo ao disposto no nº 1 do art. 483º do Cód.Civil, a ilicitude


poderá revestir duas formas:
1. violação do direito de outrem ou
2. violação de qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios

1. Na primeira, cabe a violação de qualquer direito absoluto (de


personalidade, real, de propriedade industrial, de autor)
• Caberá ainda a violação de um direito de crédito quando se
considere concebível essa violação cometida por terceiro
2. Na segunda, muito mais difícil e muito mais discutível, está em causa a
protecção de interesses particulares que se não consubstancie na
atribuição ou reconhecimento de direitos subjectivos (v.g. cable cases)
porque aparentemente inexistem direitos absolutos violados. Os exemplos
que normalmente se apontam para a integrar podem com facilidade
constituir, de um modo geral, hipóteses de violação de verdadeiros
direitos subjetivos. A diferenciação entre “direito de outrem” e “interesse
alheio”, fruto de nuances, revela-se então uma subtileza.
Para o seu preenchimento supõe-se:

• que o dano resulte da transgressão de uma norma legal, o que significa que se
torna necessário demonstrar a respectiva existência e não apenas que certo
interesse foi lesado;
• que o referido interesse faça parte dos fins da norma violada, o que traduz a ideia
de que se deve tratar de um interesse directamente protegido por tal norma e
não de uma tutela meramente reflexa;
• que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse privado que a lei
tutela.
• A fórmula “direito de outrem ou qualquer disposição
legal destinada a proteger interesses alheios” utilizada
pelo nº1 do art. 483º do Cód.Civil deve entender-se
como uma expressão única sem distinção de partes

• É infrutífera a distinção entre violação de direito


subjectivo e violação de interesse legalmente protegido
uma vez que, por uma via ou por outra, está preenchido
o pressuposto da ilicitude
• Na responsabilidade extracontratual, há ainda casos
especiais de ilicitude:

• A. É ilícito “afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar


o crédito ou o bom nome de qualquer pessoa, singular ou
colectiva” (art. 484º, Cód.Civil).
É particularmente evidente a solução sempre que em causa
estejam factos ou qualidades inexistentes ou inverídicas –
falsas, em geral.
Já tratando-se de factos ou qualidades verdadeiras, a
ilicitude da sua afirmação ou difusão não é segura porque
truth hurts (Noonan vs Staples Inc. )
• A afirmação ou a divulgação de factos verídicos há-de fazer-se no
respeito por três condições elementares extraíveis da fórmula
contida no n.º 2 do artigo 80º do Cód.Civil:

– primeira, que a violação do “bom nome e da reputação” alheia


se funde em alguma causa justificativa (tipicamente, a relevância
pública);
– segunda, no respeito pelo princípio da proporcionalidade, que
o meio ou o instrumento utilizado para o efeito não envolva uma
ofensa excessiva àqueles direitos
– terceira, que não haja, da parte de quem faz a afirmação ou
difusão, a intenção (actual malice) de difamar, ultrajar, vexar ou
humilhar
• B. No que toca à emissão de “conselhos, recomendações ou
informações” (art. 485º, Cód.Civil), a regra é no sentido de não
responsabilizarem o seu autor pelos prejuízos que a respectiva
observância tenha causado ao aconselhado, mesmo que aquele tenha
actuado imprudentemente ou sem a diligência ou a atenção requerida.
• Todavia, excepcionalmente, o autor de tais “conselhos, recomendações
ou informações” poderá incorrer na obrigação de indemnizar:

• se tiver actuado dolosamente (art. 485º/nº1/in fine/a contrario, Cód.Civil);

• se tivesse o dever jurídico, legal ou negocial, de aconselhar (como sucede


tipicamente com o advogado – art. 485º/nº2, Cód.Civil), e os restantes requisitos
estabelecidos pelo nº1 do art. 483º/nº1 do Cód.Civil estiverem preenchidos.
A ilicitude na responsabilidade contratual

• Não é qualquer omissão da obrigação de prestar que constitui o


devedor em responsabilidade contratual. É preciso, em geral, que a
omissão da obrigação de prestar lhe seja imputável.
• O que conduz à necessidade de proceder à delimitação entre não
cumprimento imputável (arts. 798º a 808º) e não cumprimento não
imputável ao devedor (arts. 790º a 797º).
• E, dentro do não cumprimento imputável ao devedor, acarreta
também a distinção entre as diversas modalidades que o mesmo
pode assumir na medida em que isso se repercute sobre as
respectivas consequências.
• O não cumprimento não imputável ao devedor ocorre,
como a própria designação inculca, quando a
inexecução da obrigação seja provocada por um facto
não dominável pelo devedor (facto do próprio credor
ou de terceiro, força maior, caso fortuito, etc).

• O não cumprimento imputável ao devedor (violação


negativa) verifica-se sempre que este não consiga ilidir
a presunção que contra si é estabelecida pelo art.
799º/nº 1 do Cód.Civil.

• É irrelevante se a obrigação é de meios ou resultado


• A presunção tirada pelo artigo 799º tem um tríplice alcance.

Faltando o devedor ao cumprimento exacto, presume-se que:


i) ele se assaca a uma acção ou inacção da respectiva autoria;
ii) essa sua conduta é censurável; e
iii) por inerência, é também ilícita.

Na prática, não sendo o devedor capaz de demonstrar que


beneficia de alguma desculpa ou justificação ou se não conseguir
provar que o não cumprimento lhe é inimputável, tudo se passa como
se a sua responsabilidade fosse objectiva.
• O não cumprimento redunda na chamada impossibilidade de cumprimento.

- Objectiva
originária - Subjectiva

- Definitiva
Impossibilidade
- Temporária

superveniente - Total
- Parcial

• A dificultas praestandi não é impossibilidade


• É temporária ou definitiva, conforme o efeito do
impedimento for o de obstar a que, durante certo lapso de
tempo, se efectue a prestação, ou o de a tornar para sempre
impraticável

Se imputável definitiva:
Resolução ou manutenção do vínculo Se não imputável definitiva:
+ Extingue a obrigação
Indemnização

Se imputável provisória:
Manutenção do vínculo
+ Se não imputável provisória:
Indemnização Mantém a obrigação
+
Inversão do risco
+
Conversão em definitiva
• É objectiva e subjectiva consoante se refira
predominantemente à pessoa que deve efectuar a prestação
ou sobretudo à própria prestação (mas só releva no não
imputável)

A impossibilidade definitiva objectiva extingue a obrigação

A impossibilidade definitiva subjectiva extingue a obrigação


se a prestação for infungível; caso contrário, o vínculo
permanece na medida em que o devedor se fizer substituir
• A impossibilidade é total ou parcial, consoante,
respectivamente, toda ou apenas parte da prestação se
torne temporária ou definitivamente, subjectiva ou
objectivamente, irrealizável

Parcial não imputável:


total não imputável
a) Prestação do possível ou
extingue a obrigação
b) Resolução do negócio

A total imputável Parcial imputável:


tem os mesmos a) Prestação do possível ou
efeitos da definitiva b) Resolução do negócio
+
Indemnização
Cumprimento defeituoso (violação positiva):
• No caso da compra e venda, os direitos do credor da entrega da coisa
quando esta apresente vício material (art. 913º) são:
• 1º - anulação do contrato com fundamento em erro, simples ou
qualificado por dolo (arts. 913º/nº1 e 905º);
• 2º - consequente indemnização pelo interesse contratual negativo (arts.
913º/nº1, 908º, 909º e 915º);
• 3º - redução do preço (arts. 913º/nº1 e 911º);
• 4º - reparação ou substituição da coisa (arts. 914º e 921º).
• Quando a coisa manifeste vício jurídico (art. 905º), os três primeiros
direitos que ficam enumerados permanecem (desaparecendo o último,
evidentemente), acrescendo o direito de exigir a convalescença do
contrato (arts. 906º/907º).
• Assim, sendo certo que a responsabilidade do devedor
pressupõe não cumprimento que lhe seja imputável, a
medida da ilicitude e, portanto, da correspectiva
obrigação de indemnizar varia em função da espécie de
não cumprimento

• Entre a simples mora e a falta de cumprimento total


definitivo há uma série de graduações que se devem
realizar para apurar a medida da responsabilidade do
devedor
• O não cumprimento não imputável ao devedor pode ser
imputável ao próprio credor, o qual, sendo temporário,
provoca a mora do credor, o que originará as seguintes
consequências:
- atenuação da responsabilidade debitória
- imputação ao credor do risco de impossibilidade
superveniente da prestação
- indemnização ao devedor pelo acréscimo de encargos
Exclusão da ilicitude

Exercício normal de um direito

Gerais
Cumprimento de um dever

Causas
de exclusão Legítima defesa
da ilicitude
Acção directa

Especiais Estado de necessidade

Consentimento do lesado
Excepção do não
cumprimento (428º)
Específicas
da responsabilidade
contratual
Direito de
retenção (754º)
• A) Exercício de um direito
• Importa que o titular exercente:
- não esteja em abuso do direito
- não esteja a colidir com um direito perante o qual deva ceder

• B) Cumprimento de um dever
Desde que:
- o dever exista
- esteja ou não em conflito com outro dever da mesma pessoa e
- o dano causado não seja manifestamente superior ao
salvaguardado pelo cumprimento do dever
• 1. Legítima defesa:
• São pressupostos, ou seja, elementos caracterizadores do modelo legítima defesa: (i)
uma agressão (ii) atual e (iii) ilícita (iv) a direitos do agente ou de terceiro (v) que não
possa ser repelida com eficácia mediante a tutela pública.
• São parâmetros da sua procedência (i) a necessidade e (ii) a adequação da resposta.

Consiste na reacção para repelir uma agressão actual ilícita


• Entende-se por agressão uma conduta humana, activa ou omissiva, dirigida
contra um interesse juridicamente relevante do agredido
• a agressão deve ser actual no sentido de iminente ou continuada
• a agressão contra a qual se reage deve ser ilícita, ou seja deve violar, nem
que seja potencialmente, direitos ou interesses legalmente protegidos
daquele que repele a agressão ou de terceiro e
• somente é legítima a defesa necessária, ou seja, só está justificada a reacção
na medida do imprescindível
• 2. Acção directa:
• São pressupostos, ou seja, elementos caracterizadores do modelo ação direta: (i) a
existência de um direito próprio (ii) ilicitamente (iii) violado ou ameaçado (iv) que não
possa ser eficazmente amparado pela tutela pública.
• São parâmetros da sua procedência (i) a necessidade e (ii) a adequação da ação
ofensiva.
Consiste
- numa agressão à pessoa ou ao património de terceiro
- destinada a realizar ou assegurar o direito ou um interesse
legalmente protegido do próprio agressor (é, assim, da exclusiva
iniciativa deste) ou de interesse geral

Apenas é lícita na medida do necessário


• pelo que o titular do direito ou interesse legalmente protegido só pode
actuar na medida do imprescindível para “evitar a inutilização prática desse
direito”
• por isso também, basta, para a acção directa ser ilícita, que “sacrifique
interesses superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar” (MBank El
Paso, N.A. vs Sanchez)
• 3. Estado de necessidade:
• São pressupostos, ou seja, elementos caracterizadores do modelo estado de necessidade: (i) a
existência de um perigo (ii) atual e real (iii) de dano claramente superior àquele que se causa
(iv) para algum direito do agente ou de terceiro.
• São parâmetros da sua procedência (i) a indispensabilidade e (ii) a adequação do necessary
act.
É um caso de intromissão lícita na propriedade (para “destruir ou danificar
coisa alheia”) ou, em geral, de ingerência na esfera jurídica alheia (Vincent vs
Lake Erie Transportation Co.: Um navio a vapor (Reynolds) propriedade da
Lake Erie Transportation Co. foi amarrado à doca pertencente a Vincent para
descarregar a carga. Levantou-se entretanto uma violenta tempestade. Para
segurar devidamente o navio, a Lake Erie, através do seu representante,
ordenou que o atassem fortemente à doca. Todavia, os sucessivos
encontrões contra ela provocaram-lhe danos no valor de 500 dólares)
• Pressupostos
• que um bem juridicamente protegido somente se possa salvaguardar à custa de
outro (ou seja, pressupõe-se uma colisão de bens) e
• a actualidade do perigo
• Efeitos
• exclusão da ilicitude mas
• eventualmente com dever de indemnizar
• 4. Consentimento do lesado
É necessário:
i) que este se refira a direitos disponíveis (A aceita ser conduzido por B na
respectiva avioneta percebendo que, nesse instante, o segundo se
encontrava fortemente embriagado; pouco depois da descolagem, o
aparelho despenhou-se por causa imputável exclusivamente ao estado
natural do piloto, matando B e ferindo gravemente A [Morris vs Murray &
Anor])
ii) que se esteja a consentir na lesão de um bem individual e
iii) não pode ser contrário a uma proibição legal nem aos bons costumes
iv) o consentimento supõe a capacidade de quem o manifesta e
v) pode dar-se expressamente ou tirar-se por presunção
• Consentimento do lesado ≠ culpa do lesado (Eckert vs Long Island
R.R.) – exclusão de partes da segunda ante a primeira

• Eckert encontrava-se junto de uma linha de caminho de ferro. Uma criança,


de quatro anos de idade, estava sentada em cima dela quando um comboio
se aproximava. Percebendo o perigo, Eckert saltou para a via e empurrou a
criança dali para fora, salvando-a. No mesmo instante, outro comboio que
circulava em sentido contrário acabou por atingir o autor do salvamento,
provocando-lhe a morte. Supondo que a Long Island R.R. podia ser
responsabilizada a título de negligência (por descuidamente ter possibilitado
o acesso da criança à via férrea), ser-lhe-ia legítimo excepcionar invocando
“contributory negligence” (culpa do lesado) ou “voluntary assumption of
risk” (consentimento do lesado)?
• A eficácia do consentimento do lesado pressupõe que a actuação do
autor do dano não padeça de outra irregularidade a não ser aquela
que decorreria da sua própria falta. A respectiva conduta não pode
sofrer, portanto, de outros fundamentos de antijuridicidade .

• V.g. A, fotógrafo num evento hípico, colocou-se aquém da vedação onde se


procedia a uma mostra de cavalos. Durante a competição, um dos corcéis
dirigiu-se, a galope e a grande velocidade, para o banco onde A se
encontrava sentado. Assustando-se com a sua aproximação, este deu um
passo atrás mas, ainda assim, foi derrubado. O acidente provocou-lhe
diversas lesões físicas [cf. Wooldridge vs Sumner & Anor]
• São pressupostos da válida manifestação do informed consent
(modalidade especial de consentimento):

– primeiro, como sucede para o consentimento em geral, a


devida competence (ainda que, habitualmente, ela se presuma);
– segundo, a disclosure (do diagnóstico, do tratamento
recomendado com os inerentes riscos e proveitos, do prognóstico);
– terceiro, a evaluation (com base na informação revelada).
• Como é próprio de qualquer espécie de consentimento justificante, a
sua largueza encontra-se preconfigurada pela vontade do autor. Por
isso, ele vale para o efeito visado e para nenhum mais.

• V.g. Smith vs Charles Baker & Sons : Joseph Smith foi contratado para operar
uma broca numa pedreira; na sua proximidade, para servir um outro
conjunto de trabalhadores que talhava pedras, usava-se um guindaste a
vapor o qual, frequentemente, as balouçava sobre a cabeça de quem se
encontrasse por baixo; numa ocasião, uma das referidas pedras soltou-se e
caiu sobre o plaintiff causando-lhe graves ferimentos.
Culpa

• Para fundar a obrigação de indemnizar, não basta que o


autor da conduta tenha procedido de forma
objectivamente inadmissível
• É ainda indispensável que a atitude revelada pela sua
conduta lesiva seja reprovável
• E isso supõe e exige a formulação de um juízo de
apreciação pelo qual se possa sustentar que tal pessoa
“podia e devia ter agido de outro modo”
• A demonstração de que o agente “podia e devia ter
agido de outro modo” tem um pressuposto básico: a
imputabilidade

• A culpa pressupõe também que o agente imputável


conheça a ilicitude da conduta lesiva - caso contrário,
não se pode ter motivado segundo o que é Direito e,
portanto, não “podia e devia ter agido de outro modo”
Imputabilidade na responsabilidade
extracontratual
• A imputabilidade é sinónimo de capacidade natural - esta é a aptidão
que certa pessoa revela em concreto para se auto-determinar
segundo as regras que ao caso caibam ou, como se diz no art.
488º/nº1 do Cód.Civil, é a capacidade de “entender ou querer”

• Do ponto de vista jurídico, a imputabilidade não se prova


positivamente: ela é presumida,ou seja, em princípio, o agente tem
aptidão para “entender ou querer”

• A lei presume, todavia, a inimputabilidade “nos menores de sete


anos e nos interditos por anomalia psíquica” (art. 488º/nº2)
• A incapacidade de “entender ou querer” não pode ficar excluída
quando o agente se tenha colocado censuravelmente nessa situação
- é o que se pode designar como exclusão culpável da imputabilidade
(actio libera in causa)

• O caso não é de responsabilidade objectiva porque a ilicitude


permanece como requisito de imputação. Mas, em última análise,
seguindo o entendimento tradicional, deve acabar por se reconhecer
que, nesta hipótese, se forma uma espécie de presunção de
imputabilidade contra aquele que, efectivamente, no momento da
prática do acto, dela não dispõe.
• A inimputabilidade não isenta automaticamente o agente de
responsabilidade civil.
• De facto, de harmonia com o disposto no art. 489º do
Cód.Civil, pode o inimputável ficar subsidiariamente
obrigado a indemnizar o lesado (ou seja, obrigado para o
caso de o lesado não conseguir obter a reparação actuando
contra os respectivos vigilantes) se a justiça do caso concreto
demandar esta solução (é, portanto, um caso de
responsabilidade objectiva)
Imputabilidade na responsabilidade
contratual
• Na responsabilidade contratual a imputabilidade
coincide, em princípio, com a capacidade jurídica de
exercício - isto é, em geral, como só menor emancipado
ou o maior não interdito nem inabilitado tem
capacidade para celebrar negócios jurídicos, somente
eles poderão ser responsáveis pelo não cumprimento
de obrigações daí emergentes
• Como regra, os contratos que vinculem os inábeis para agir
devem ser celebrados por meio dos seus representantes
legais e também por eles devem ser cumpridos. Por isso, a
regra é no sentido de os seus representados não terem
capacidade para dar execução às obrigações a que se
encontrem adstritos.

• O n.º 1 do artigo 764º do Cód.Civil introduz um atalho à


aludida regra. Assim, no que toca ao adimplemento de
obrigações assumidas por incapaz de agir (seja,
normalmente, por intermédio dos seus representantes, seja,
atipicamente, por si próprio):

• (i) primeiro: cabe distinguir actos de disposição, de um lado, e simples actos


materiais ou actos puramente omissivos, do outro; para estes dois últimos, numa
interpretação a contrario, o juridicamente inábil, que, não obstante, seja
naturalmente capaz não só dispõe de aptidão para os executar, como responde
ainda pelo seu eventual não cumprimento;
• (ii) segundo: para os actos de natureza dispositiva, somente o representante
legal do incapaz tem legitimidade para a sua realização; mas sendo eles
eventualmente executados pelo próprio devedor inapto, o credor pode, ainda
assim, inviabilizar a correlativa invalidação (nos termos gerais do artigo 125º)
demonstrando que com isso aquele não sofreu prejuízo ;

• (iii) terceiro: o mesmo regime que se institui para os actos dispositivos há-de
estender-se, por igualdade de razão, aos actos de cumprimento que se cifrem na
realização de um negócio jurídico (v.g. outorga de contrato-promessa). Pelo que
o cumprimento que represente acto de administração mas que não se cifre num
acto material ou numa omissão fica submetido ao mesmo regime do acto de
cumprimento que tenha natureza dispositiva.
Consciência da ilicitude
• Ainda que o agente tenha capacidade para “entender ou querer”,
a conduta lesiva pode não ser susceptível de reprovação na
medida em que aquele seja, desculpavelmente, desconhecedor da
ilicitude por:
• 1. o agente desconhecer certa proibição ou interdição (v.g.
proibição eticamente incolor)
• 2. o agente possuir “todo o conhecimento razoavelmente
indispensável para tomar consciência da ilicitude do facto” e
todavia não o ter alcançado (v.g. suposição errónea sobre a
existência de certa causa de exclusão da ilicitude – v.g. aborto que
era crime na antiga Berlim Ocidental mas não em Berlim Oriental)
• Assim, o agente actua censuravelmente apenas se teve a
possibilidade de determinar-se segundo o que é Direito - o que
pressupõe a susceptibilidade genérica de tomar conhecimento
sobre a ilicitude do facto
Censurabilidade

• Na falta de indicação de outro critério, “a culpa é apreciada


… pela diligência de um bom pai de família, em face das
circunstâncias de cada caso” (arts. 487º/nº2 e 799º/nº2
• Este critério surge estabelecido para apreciar o cumprimento
de um dever de diligência e serve apenas, portanto, para
averiguar acerca da presença de negligência
• Quer dizer, por causa do critério enunciado, que a
(mera) culpa se avalia em abstracto - ou seja:
- a existência de culpa e a modalidade de culpa
aquilatam-se certamente perante o caso concreto
- mas atendendo ao critério da pessoa normalmente
atenta, prudente, capaz e inteligente
• Na responsabilidade extracontratual, “é ao lesado que
incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo
havendo presunção legal de culpa” (art. 487º/nº1)
• Ao invés, na responsabilidade contratual, “incumbe ao
devedor provar que a falta de cumprimento ou o
cumprimento defeituoso da obrigação não procede de
culpa sua” (art. 799º/nº1)
• Presunções de culpa:
• Na hipótese de art. 491º do Cód.Civil, presume-se a culpa
dos vigilantes, a qualquer título, de pessoas naturalmente
incapazes pelos danos que estas tenham causado a terceiro
• Na hipótese do art. 492º, também do Cód.Civil, presume-se
a culpa daqueles que, novamente a qualquer título, tenham
o dever de zelar pela conservação de edifícios ou de outras
obras, se por defeito de conservação a sua ruína causar
danos a terceiro
• Na hipótese do art. 493º/nº1, ainda do Cód.Civil,
presume-se a culpa daqueles que tiverem, de novo a
qualquer título, o dever de vigiar coisa imóvel ou móvel
pelos danos que a sua simples detenção tenha causado
a terceiro
• Nos termos do art. 493º/nº2 do Cód.Civil, presume-se a
culpa daqueles que tenham causado danos a terceiro
no desenvolvimento de uma actividade “perigosa por
sua própria natureza ou pela natureza dos meios
utilizados”
• A concorrência de culpa do lesado (art. 570º, Cód.Civil)
é um factor que pode atenuar ou inclusive eliminar a
culpa do autor da lesão
• Quando, porém, a culpa do autor do dano resulte de
presunção legal (como sucede, por exemplo, nas
hipóteses dos arts. 491º, 492º e 493º do Cód.Civil), a
culpa do lesado exclui, em princípio, a responsabilidade
daquele (art. 570º/nº2, Cód.Civil)
Exigibilidade

• Pode dar-se o caso de por razões reconhecidamente


insuperáveis não ser possível ao agente actuar segundo
o que é Direito
• São situações em que a liberdade de motivação, sem
estar excluída, surge grandemente condicionada ou
limitada - reconduzem-se às chamadas causas de
exclusão da culpa ou causas de desculpabilidade
• 1. Na comissão do ilícito por omissão e por negligência, vale
genericamente como causa de exclusão da censurabilidade a
inexigibilidade de um comportamento conforme ao direito
• 2. Estado de necessidade desculpante: pode suceder que, não
cumprindo com os requisitos do art. 339º, a conduta em
causa se destine a salvar bens jurídicos fundamentais: a vida,
a integridade física, a liberdade pessoal do agente ou de
terceiro próximo
O que desresponsabiliza:
- nos termos do nº2 do art. 338º
- não existindo o dever de suportar o perigo
• 3. Erro sobre a ocorrência de uma causa de justificação:
o agente actua na convicção de que uma causa de
exclusão da ilicitude está preenchida quando
efectivamente os seus pressupostos factuais não estão
presentes
• Supõe-se:
- que a causa de justificação exista e
- que exista também erro sobre o modo do seu
desempenho
O que irresponsabiliza nos termos do art. 338º/nº2
• 4. Não verificação dos requisitos de que depende o
preenchimento de uma causa de exclusão da ilicitude:
O que irresponsabiliza se for desculpável (337º/nº2)
• 5. O agente actua na convicção de estar a exercer um
direito que afinal não tem ou estar legitimado para
provocar uma intrusão em esfera jurídica alheia quando
na realidade não está
O que irresponsabiliza se for desculpável (art. 338º)
Responsabilidade objectiva

• Regras gerais:
- Por um lado, no que toca aos danos indemnizáveis, permanecem as
regras gerais constantes dos arts. 562º a 572º do Cód.Civil, salvo se a
lei, para algum modelo particular, instituir normas especiais – como
sucede, por exemplo, no âmbito do disposto no art. 504º do Cód.Civil
- No que respeita aos titulares do direito à indemnização, estendem-
se novamente as regras aplicáveis à responsabilidade subjectiva, a
menos que cânones específicos tenham sido instaurados – como
sucede, outra vez por exemplo, com o referido art. 504º do Cód.Civil
• É no que concerne ao nexo de causalidade que
especialidades de maior monta podem surgir – ainda
que esteja razoavelmente assente que na
responsabilidade objectiva importa apenas determinar
se o dano concretamente ocorrido está (ou não) dentro
do domínio dos riscos imputáveis a alguém
• Pelo que se deve operar aqui também com a
causalidade adequada mas na sua formulação positiva
Responsabilidade do comitente

• Pressupostos
• 1. Para que de um comitente se possa falar é necessário que
exista um comissário e, por isso, uma relação de comissão
entre ambos
• Uma relação de comissão é uma qualquer relação da qual
resulte uma subordinação daquele que é encarregue do
exercício de uma função àquele que disso o encarrega
• Em segundo lugar, é indispensável que o comissário
tenha causado um dano a terceiro “no exercício da
função que lhe foi confiada” (distinguindo-se detour and frolic?)
• É indispensável ainda que sobre o comissário “recaia
também a obrigação de indemnizar”
• O comitente responde objectivamente perante terceiro
pela indemnização que ao comissário cabe também
realizar - na verdade, ambos respondem solidariamente
(art. 497º, por força do disposto no art. 499º, ambos do
Cód.Civil)
• O comitente responde, porém, como garante, isto é,
assegurando ao terceiro lesado a indemnização devida
pela conduta lesiva do comissário
• Se apenas a conduta do comitente for censurável, a
responsabilização deste dá-se nos termos gerais da
responsabilidade extracontratual (art. 483º/nº1) -a
censurabilidade da actuação do comitente pode
revelar-se, por exemplo, na designação do comissário
(culpa in eligendo), nas instruções que lhe tenha dado
(culpa in instruendo) ou na vigilância da sua actuação
(culpa in vigilando)
• As regras relativas à responsabilização do comitente são
extensíveis à responsabilização do Estado ou de outras
pessoas colectivas públicas por actos de gestão privada
praticados pelos seus órgãos, agentes ou representantes

• O cerne desta susceptibilidade de responsabilização assenta


na distinção entre actos de gestão privada e actos de gestão
pública - só aos primeiros se manda aplicar o regime contido
no art. 500º do Cód.Civil. Os segundos sujeitam-se ao
disposto nos arts. 22º, 27º/nº5, 29º/nº6 e 271º/nº1 da C.R.P.
e ao regime constante da Lei nº 67/2007

• “São actos de gestão pública os que forem praticados no


exercício de uma função de interesse público submetida a um
regime de direito público no âmbito da Administração
Pública”
Responsabilidade civil do
Estado (por actos de gestão pública)

Por actos administrativos:


a) responde só o Estado se:
- houver culpa leve do agente ou
- houver funcionamento anormal do serviço

b) responde o Estado solidariamente


- se houver dolo ou culpa grave (e o regresso é de
exercício obrigatório)
• Similar à responsabilidade do Estado ou de outras
pessoas colectivas públicas (artigo 501º do Cód.Civil) é a
responsabilidade das pessoas colectivas de direito
privado pelos actos dos seus representantes, agentes
ou mandatários (artigo 165º do Cód. Civil), a qual, de
resto, se constrói também por remissão para os termos
da responsabilidade do comitente
• Actos dos representantes legais ou auxiliares - na
responsabilidade contratual “o devedor é responsável
perante o credor pelos actos dos seus representantes legais
ou das pessoas que utilize para o cumprimento da obrigação,
como se tais actos fossem praticados pelo próprio devedor”

• Tal como na responsabilidade do comitente, pressupõe-se
que, não fora a sua função de colaborador, o representante
ou o auxiliar seria responsável perante o credor pela
respectiva conduta

• Esta responsabilidade do devedor “pode ser


convencionalmente excluída ou limitada, mediante acordo
prévio dos interessados, desde que a exclusão ou limitação
não compreenda actos que representem a violação de
deveres impostos por normas de ordem pública”
Danos causados por veículos de circulação
terrestre
• O responsável pelos riscos envolvidos na utilização de um veículo de
circulação terrestre (art. 503º) é individualizado pela conjugação de
dois critérios:
- um principal: a direcção efectiva de veículo da referida espécie;
- outro acessório: utilização do mesmo no interesse próprio

Tem a direcção efectiva do veículo quem dominar factualmente


o seu uso - não importa, pois, a natureza da situação jurídica de que
disponha aquele que exerce o domínio de facto (direito, real ou
pessoal, dever, expectativa, etc), nem sequer se tal domínio de facto
tem carácter lícito ou ilícito
• O segundo critério complementa o primeiro para
aquelas circunstâncias em que quem tenha a direcção
efectiva do veículo seja pessoa distinta daquela em cujo
interesse se exerce o domínio de facto correspondente
– é o caso paradigmático do comissário por fazer a
utilização do veículo no interesse do comitente e não no
seu (mas já não é o caso do locador ou o do
comodante)
• Quando exista uma relação de comissão, para além da
responsabilização pelo risco do comitente nos termos do
disposto nos arts. 500º ou 503º/nº1, pode acrescer a
responsabilização pela culpa do comissário nos termos do
art. 503º/nº3

• A presunção estabelecida pelo referido nº3 do art. 503º tem


eficácia interna – isto é, na relação comitente/comissário –
mas tem também eficácia externa – ou seja, na relação entre
comitente/comissário, de um lado, e terceiro lesado, do
outro (o que pode levar à aplicação do 500º/nº3)
• Não se ilidindo esta presunção, entra em funcionamento o regime
geral da responsabilidade do comitente, ou seja, o regime instituído
pelo referido art. 500º - pelo que o comissário responde por factos
ilícitos culposos (art. 483º/nº1) e o comitente responde como
garante (art. 500º)
• Ilidida a presunção decorrente do nº3 do art. 503º, só o comitente
responderá nos termos do nº1 do mesmo artigo
• A vantagem prática resultante, para o lesado, da instituição da
presunção em causa reside, pois, no afastamento da regra dos limites
máximos de indemnização (art. 508º), a qual somente opera na
responsabilidade pelo risco originada, neste caso, pela utilização de
veículos de circulação terrestre e que já não actua no campo da
responsabilidade do comitente, ou seja, do garante
Colisão de veículos

• O art. 503º apenas abrange os danos causados a


terceiro por causa do risco associado à utilização de
veículos de circulação terrestre.
• Se os danos forem o resultado da colisão de veículos
vigora a disposição contida no art. 506º, ainda que a
aplicação desta possa envolver, para cada um dos
intervenientes, a aplicação das normas contidas no
referido art. 503º
• Assim, em caso de colisão de veículos, basicamente importa
distinguir se pode ou não censurar-se o comportamento dos
condutores.
1. Estando preenchidos os requisitos da
responsabilidade por factos ilícitos censuráveis
a) para ambos os condutores, ambos respondem pelos
danos causados, em princípio em igual medida, a menos que
se consigam determinar diferentes proporções de
contribuição para o dano.
b) estando tais requisitos verificados apenas em relação a
um dos intervenientes, apenas esse será responsável por
todos os danos.
2. O mesmo mutatis mutandis para o caso de inexistir
censurabilidade e a colisão for fruto exclusivo da
concretização dos riscos inerentes à utilização dos veículos
que colidiram: cada qual participa na proporção do risco que
criou para a produção da colisão, presumindo-se igual essa
proporção na falta de prova em sentido contrário
• Beneficiários da responsabilidade pelo risco instituída pelos
arts. 503º e 506º são terceiros em geral, incluindo as
pessoas transportadas no veículo (art. 504º).
a) No caso de transporte contratado a qualquer título, as
pessoas transportadas têm direito a ser indemnizadas por
danos pessoais e por danos sofridos em coisas
transportadas (art. 504º/nº2)
b) No caso de transporte fundado em razões familiares, de
amizade ou de cortesia, a responsabilidade compreende
apenas os danos pessoais (art. 504º/nº3, Cód.Civil
• A responsabilidade pelo risco fundada no disposto no
art. 503º/nº1 cessa numa de três hipóteses (art. 505º):
- se o dano for exclusivamente imputável ao próprio
lesado;
- se o dano for imputável a terceiro;
- se o dano resultar “de causa de força maior estranha
ao funcionamento do veículo”
• Quer dizer que, nestes casos, taxativamente
enumerados, o nexo de causalidade considera-se não
estabelecido
Danos causados por instalações de energia
eléctrica ou de gás
• O regime estabelecido pelo disposto no art. 509º é
muito similar àquele que resulta do art. 503º
• Assim, o responsável pelos danos derivados “de
instalação destinada à condução ou entrega da energia
eléctrica ou do gás”, abrangendo os “danos resultantes
da própria instalação” é aquele que:
- tiver a respectiva direcção efectiva
- e a utilizar no próprio interesse
• Tal responsabilidade fica excluída em duas hipóteses:
- devido a força maior, ou seja, a qualquer “causa exterior
independente do funcionamento e utilização da coisa” (art.
509º/nº2)
- ou, ainda que somente em relação aos danos provocados pela
própria instalação, quando “esta estiver de acordo com as regras
técnicas em vigor e em perfeito estado de conservação” (art.
509º/nº1/in fine)

- “Os danos causados por utensílios de uso de energia não são


reparáveis” nos termos da disposição contida no art. 509º (nº3).
Danos causados por animais

• Enquanto o disposto no art. 493º do Cód.Civil tem por


objecto a responsabilidade daqueles que têm o dever de
vigiar animais (entre outras coisas), o disposto no art. 502º
do mesmo diploma dirige-se ao utente ou utilizador de
qualquer animal
• É responsável por tais danos quem no “seu próprio
interesse” utilizar quaisquer animais - alcança-se, portanto,
o proprietário, o usufrutuário, o usuário, o comodatário, o
locatário, em geral o titular de qualquer direito pessoal de
gozo, o possuidor, etc
• Esta responsabilidade é mais intensa do que a do utente de
veículo porque:
- não estão instituídos limites máximos para a
correspectiva obrigação de indemnizar
- o utilizador não pode isentar-se da responsabilidade
invocando força maior na medida em que, primeiro, tal
causa de exclusão não está prevista e, segundo, dado que a
generalidade das circunstâncias que se poderiam considerar
de força maior estão compreendidas no perigo especial que
envolve a utilização do animal
Responsabilidade civil do produtor (DL nº
383/89 de 06/11)
• O produtor é responsável, independentemente de culpa, pelos danos
causados por defeitos dos produtos que põe em circulação. Trata-se,
pois, de responsabilidade objectiva pelo risco.

• Noção de produtor:
• 1. O fabricante do produto, de uma parte componente ou
matéria-prima
• 2. Quem se apresente como fabricante através da aposição
do nome, marca ou outro sinal distintivo (fabricante
aparente)
• 3. Aquele que, no exercício da sua actividade comercial,
distribua na União Europeia produtos fabricados no exterior
• 4. Qualquer fornecedor de produto quando o respectivo
produtor ou importador não estiver identificado
• Noção de produto:
- qualquer coisa, originária e naturalmente, móvel (artigo 3º)
ainda que integrada em outra coisa móvel ou imóvel.
- dizendo-se coisa originária e naturalmente móvel, daí decorre
que se aplica o regime da responsabilidade do produtor mesmo
quando ela tenha sido incorporada num imóvel (seja a título de parte
integrante, seja a título de parte componente – artigo 408º/n.º 2,
Cód.Civil), imobilizando-se por associação a este último (artigo
204º/n.º 3, Cód.Civil).
• Noção de defeito:
a falta da segurança esperada tendo em conta, nomeadamente:
– a apresentação do produto;
– a sua função típica;
– o momento da sua entrada em circulação.

• Atendendo a este último aspecto, pode garantir-se, à partida, que inexiste


defeito se a posteriori surgir um produto mais aperfeiçoado (artigo 4º/n.º 2).
Remete-se para o conceito de state of the art: obedecendo o produtor aos
standards técnicos em vigor no momento em que foi distribuído , o produto
não tem defeito ainda que depois se descubram, inventem, adoptem,
concebam, etc., outros padrões de produção que permitam obtê-lo em
moldes mais aperfeiçoados.
• Causas de exclusão da responsabilidade:
a) Que o defeito se deve ao respeito por normas
imperativas ditadas por autoridades públicas;
b) Que, no caso de parte componente:
- o defeito se deve à concepção do produto em
que se fez incorporação
- o defeito é devido às instruções dadas pelo
fabricante do mesmo
• Regras de indemnização:
• 1. A responsabilidade do produtor obedece à regra da
solidariedade
• 2. A concorrência de um facto do próprio lesado pode
atenuar ou eliminar a responsabilidade, mas não a
concorrência de um facto de terceiro (excepto nas relações
internas entre produtor e terceiro)
• 3. São ressarcíveis os danos derivados da morte ou da lesão
à integridade pessoal, bem como os provocados noutras
coisas destinadas ao uso privado (desde que se lhes
estivesse a dar tal uso)
• 4. Há limites máximos de indemnização mas apenas para os
danos causados em pessoas – os danos em coisas não têm
limite de indemnização
• 5. Para os danos pessoais, o limite máximo é global e não
para cada uma das vítimas
• 6. Os danos sofridos pelo próprio produto defeituoso não
estão abrangidos por esta espécie de responsabilidade
(seguem antes as regras próprias da compra e venda de
coisas defeituosas)

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