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Um texto “tipo”
Ilíada e Odisseia?
Uma espécie de “saga” contada
por meio de um poema?
Um poema longo e monótono que
narra eventos históricos com
passagens míticas e presença de
herois, e que, AINDA BEM, já não
se escreve mais?
Um poema dividido em
cantos que não consegue
encantar ninguém?
Mas vamos a ela!
O gênero épico, considerado pela crítica um
gênero esgotado no século XVIII, reuniu (e
reúne), contudo, através dos séculos seguintes,
produções literárias cuja precariedade teórica
em relação à evolução do gênero impediu seu
reconhecimento e mesmo sua inserção nos
percursos épicos ocidentais. No século XX,
contudo, a presença marcante de poemas
longos com evidentes traços épicos exigiu um
redimensionamento teórico e crítico em
relação ao gênero.
Ainda que, por ser uma linguagem literária,
a poesia épica tenha a propriedade de propor
reflexões sobre o estar no mundo e suas
injunções, a natureza encomiasta de muitas
obras, principalmente daquelas produzidas
até o final do século XIX, atenua
sensivelmente seu potencial transgressor
quando a questão em foco envolve História,
heroísmo e nação.
A poesia épica tem feito circular
imagens mítico-históricas ligadas à
Histórica Canônica, daí, muitas
vezes, não representar uma voz de
transgressão, mas uma voz de
reafirmação de valores
historicamente cultuados como os
mais relevantes a partir de uma ótica
patriarcalista, cristã e branca.
No entanto…
A produção épica carrega consigo
importantes informações culturais, o que faz
dela um acervo relevante para a
compreensão dos caminhos seguidos por um
povo em sua trajetória histórica, ainda que a
própria obra muitas vezes não discuta o
caráter perverso de muitas das motivações
que levaram (e levam) esse povo a caminhar
de determinada forma.
O texto épico é, portanto, controvertido,
característica que o torna ainda mais
merecedor de um olhar crítico atento. E
um aspecto pode marcar o início da
abordagem: por que tantos poetas e
tantas poetisas, em determinado
momento, elegem o épico como forma
de manifestação literária?
Dante, Homero, Lucano, Virgílio e outras
grandes figuras da Antiguidade.
(Canto IV de A Divina comédia, de Dante,
ilustração de Gustave Doré)
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a antiga Musa canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
(LUÍS DE CAMÕES)
PROPOSIÇÃO
Poema Épico-Trágico
1
Portentos de valor, e mil proezas
Descreve o Grego, canta o Mantuano;
De seus heróis as cívicas empresas
Digam outros em metro soberano:
Ociosos repitam as finezas
Desse vendado Deus, o amor insano;
Entusiasmado Apolo lhes inspire,
Todo o Parnaso a seu favor conspire.
2
Com rouca voz, e Lira dissonante
Meus males cantarei, que o injusto fado
Contra mim suscitou, com mão possante,
Empenho vil, rigor precipitado:
Da fortuna mortal e inconstante
Darei um exemplar nunca cantado
Pois que de Casa, honra e Liberdade
Me usurpou a maior fatalidade.
(TERESA MARGARIDA DA SILVA E ORTA)
(Trecho inicial de “Poema Épico-Trágico”. In: Obra completa,, pp. 18-19.)
PROPOSIÇÃO
Agora sim
Cobra Norato Me enfio nessa pele de seda elástica
E saio a correr mundo.
Um dia
eu hei d emorar nas terras do Sem-fim Vou visitar a rainah Luzia
Que me casar com sua filha
Vou andando caminhando caminhando - então você tem que apagar os olhos primeiro
Me misturo no ventre do mato mordendo raízes O sono escorregou nas pálpebras pesadas
Um chão de lama rouba a força dos meus passos
Depois
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
e mando chamar Cobra Norato. (RAUL BOPP)
(Parte I, p. 3)
- Quero contar-te uma história
Vamos passear naquelas ilhas decotadas?
Faz de conta que há luar.