Aula 1 - Literatura Comparada: conceito; métodos;
tradição francesa; tradição americana. Aula 2 – Sobre o conceito de “clássico”. Literatura Universal (literaturas periféricas, literaturas hegemônicas). Aula 3 – Literatura Comparada no Brasil. Aula 4 – Literatura Comparada e o papel do leitor. Conceito de “influência” e “intertextualidade”. Aula 5 – Intertextualidade. Análise de Gota d’água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Orientações para o trabalho final. O módulo “Literatura Comparada” é predominantemente teórico. Qual importância que o estudo da Teoria Literária teve em sua formação? Presença inevitável da Teoria. “O economista J.Keynes observou certa vez que os economistas que desprezavam a teoria, ou que diziam sair-se melhor sem ela, estavam simplesmente presos a uma teoria mais antiga. Isso também se aplica aos estudantes e críticos de literatura [...]. Alguns estudantes e críticos também objetam que a teoria literária “se interpõe entre o leitor e a obra”. A resposta mais simples a esta observação é a de que sem alguma forma de teoria, por menos consciente e implícita que seja, não saberíamos, em primeiro lugar, como definir uma “obra literária” ou como deveríamos lê-la. A hostilidade para com a teoria geralmente significa uma oposição às teorias de outras pessoas, além de um esquecimento da teoria que se tem”. T.Eagleton (1997). O QUE É LITERATURA COMPARADA? 1) Essa disciplina abrange: a) O estudo comparativo entre duas obras da mesma língua e cultura? b) O estudo comparativo entre a Literatura e outra manifestação cultural, com as histórias em quadrinhos, por exemplo? 2) Quais são as dificuldades de estudos comparatistas? O que se deve levar em conta ao trabalhar com obras de culturas distintas? 3) Existem literaturas “maiores” e “menores”? O que está em jogo nessa classificação? 4) Fala-se em intertextualidade somente quando é possível provar que um escritor realmente teve contato com a obra pela qual supostamente foi influenciado? Um conceito instável “Uma das tarefas mais difíceis é delimitar o campo da disciplina literatura comparada, pois seus conteúdos mudam constantemente, de acordo com o espaço e o tempo” (Sandra Nitrini). A compreensão do conceito, assim, exige um percurso histórico. Sua “pré-história”: estudo da relação entre literatura grega e latina, sem um método determinado. - A dificuldade em mapear exatamente o campo e os métodos levam a autora a chamar a Literatura Comparada de “uma disciplina pouco disciplinada”. O estudo mais sistematizado surge no século XIX, tendo possivelmente derivado de um processo metodológico das ciências naturais, no qual comparar ou contrastar era uma das formas mais confiáveis para provar uma hipótese. Conceito- chave: influência (alvo de críticas a partir de 1950). O espírito cientificista e determinista atingem as concepções de Literatura Comparada. Projeto humanista? Goethe – Conceito de “Weltliteratur” – (“Literatura Universal”). “Cada vez mais me convenço (…) de que a poesia é uma propriedade comum à humanidade, que por toda a parte e em todas as épocas surge em centenas e centenas de criaturas. (…) Apraz-me por isso observar outras nações e sugiro a cada um que faça o mesmo. A literatura nacional não significa grande coisa, a época é da literatura mundial e todos nós devemos contribuir para apressar o surgimento dessa época.”(31 de janeiro de 1827). Brunetière, um dos primeiros comparatistas (século XIX). “[...] a história da literatura comparada estimulará em cada um de nós, francês, ou inglês, ou alemão, a compreensão da maior parte das características nacionais dos grandes escritores. Nós nos constituímos somente nos opondo entre nós; nós nos definimos somente nos comparando entre nós; e não chegamos a nos conhecer a nós mesmos quando conhecemos somente a nós mesmos”. Literatura Comparada X Nacionalismo Wellek destaca que a Literatura Comparada surgiu como reação ao nacionalismo limitado dos estudos literários do séc. XIX. Entretanto, esse projeto foi muitas vezes distorcido pelo patriotismo da época. A motivação patriótica desses estudos “...levou a um estranho sistema de contabilidade cultural, a um desejo de se acumular créditos para seu próprio país, provando o maior número de influências possível sobre outras nações ou, sutilmente, provando que sua própria nação assimilou e compreendeu’ um grande escritor estrangeiro melhor do que qualquer outra”. As duas grandes “escolas”. Consenso: a Lit. Comparada, como disciplina, surgiu e se consolidou na França. Na segunda metade do século XX, teóricos americanos (Wellek, Remak) questionaram os pressupostos tradicionais dos estudos comparatistas. Comentário de Levin sobre as duas vertentes – Para o autor, seria irônico e trágico que a Lit. Comparada, que visada unir os continentes, promovesse uma ruptura entre eles. Não é um conflito “franco-americano de linhas nacionalistas”..., mas divergências metodológicas advindas de contextos culturais e gerações distintas. Escola Francesa: Van Tieghem Descreve o percurso de leitura de uma pessoa que estaria confinada em uma grande biblioteca: Escolha, pautada no valor literário; crítica literária, em suas diversas formas; história literária, “que reintegra a obra e o autor no tempo e no espaço”. Etapas da história literária: biográfica / história dos escritos (atribuição de autoria e outros elementos hoje estudados na crítica genética); estudo da gênese da obra (fontes, influências, antecedentes...); fortuna crítica (recepção. Reedições. Traduções). Escola Francesa:Van Tieghem (1931) Uma produção artística nunca é isolada: “Como num quadro, uma estátua, uma sonata, um livro também se insere numa série, esteja o autor consciente ou não de tal fato. Ele terá tido precursores; e terá sucessores. A história literária deve situá-lo no gênero, na forma de arte, na tradição à qual pertence, e apreciar a originalidade do autor, medindo o que ele herdou e o que criou”. Como lidar com um corpus tão amplo quanto a Literatura Universal? Divisão do trabalho. “Como todas as partes que compõem o estudo completo de uma obra ou de um escritor podem ser tratadas apenas com os recursos da história literária nacional, exceto a pesquisa e a análise das influências sofridas e exercidas, convém reservar esta para uma disciplina especial, que terá seus objetivos bem definidos, seus especialistas, seus métodos”. Ampliará os resultados obtidos pelas historiografias nacionais, sem pretensão de substituí-las. Mas “há de completá-las e uni-las; e, ao mesmo tempo, tecerá, entre elas e acima delas, as malhas de uma história literária mais geral”. Metodologia Três elementos são importantes no estudo das influências literárias: o emissor (ponto de partida: escritor, obra ou idéia); receptor. Transmissor (intermediário entre os dois outros. Um grupo, um tradutor...). Cronologia é importante para eliminar aproximações falsas. Considera elementos biográficos. Lida com escritores menores, considerados muitas vezes bons transmissores. Outra abordagem francesa: Etiemble (1963) Coloca-se contra o chauvinismo predominante na disciplina. Acusa a tendência de confundir a Literatura Universal com a Literatura Ocidental. Defende que a hierarquia entre os povos e as línguas e questões políticas em geral não devem interferir nas análises comparatistas. Rebate o argumento de que uma ampliação do recorte tanto no espaço quanto no tempo seja o fato de um comparatista não poder dar conta do domínio da disciplina, mesmo dedicando a ela toda sua vida. A escola americana A abordagem americana nasce com as ressalvas de Wellek (1959) aos estudos comparatistas franceses. Mundo mudou depois de 1914 e velhas certezas do XIX caíram por terra, como a crença na explicação baseada em causas e consequências (modelo das ciências naturais). Problema da disciplina: incapacidade de estabelecer um objeto de estudo e um método específico. Literatura Comparada não acompanhou as discussões da Teoria literária. Em busca do “universal”
Defende que o “sistema de créditos e débitos” deixe
de existir nesse campo de estudos . Acha que se as pessoas deixarem de conceber a Literatura como forma de prestígio cultural e até financeiro “obteremos a única objetividade verdadeira alcançável pelo homem”. Remak (1961) - Definição de Literatura Comparada: “Em suma, é a comparação de uma literatura com outra ou outras e a comparação da literatura com outras esferas da expressão humana”. Questiona a tendência francesa de valorizar o que pode ser resolvido com base em evidências fatuais. Não há uma diferença fundamental entre os métodos de pesquisa em Literatura Nacional e em Literatura Comparada. Porém, há temas que só são estudados em Lit. Comparada. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Escola francesa Escola americana Não aceita um estudo Campo mais amplo, que comparativo entre a incorpora até a comparação literatura com outras artes entre duas obras da mesma ou ramos do saber. cultura Métodos históricos (estudo Estudo intrínseco da cronológico e objetivo entre Literatura. Não consideram duas literaturas). Elementos elementos biográficos. biográficos e busca por Papel do leitor é mais provas fatuais. destacado. Uma definição conciliatória Rousseau e Pichois – meio termo entre visadas amplas e restritas. “A literatura comparada é a arte metódica, pela busca de laços de analogia, de parentesco e de influência, de aproximar a literatura dos outros domínios de expressão ou do conhecimento, ou então os fatos e os textos literários entre si, distantes ou não no tempo ou no espaço, desde que pertençam a várias línguas ou culturas, que façam parte de uma mesma tradição, para melhor descrevê-los, compreendê-los e saboreá-los”.