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LITERATURA COMPARADA

Profa. Ms. Carolina Duarte Damasceno


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

 Aula 1 - Literatura Comparada: conceito; métodos;


tradição francesa; tradição americana.
 Aula 2 – Sobre o conceito de “clássico”. Literatura
Universal (literaturas periféricas, literaturas hegemônicas).
 Aula 3 – Literatura Comparada no Brasil.
 Aula 4 – Literatura Comparada e o papel do leitor.
Conceito de “influência” e “intertextualidade”.
 Aula 5 – Intertextualidade. Análise de Gota d’água, de
Chico Buarque e Paulo Pontes. Orientações para o
trabalho final.
 O módulo “Literatura Comparada” é
predominantemente teórico. Qual
importância que o estudo da Teoria
Literária teve em sua formação?
Presença inevitável da Teoria.
“O economista J.Keynes observou certa vez que os
economistas que desprezavam a teoria, ou que diziam
sair-se melhor sem ela, estavam simplesmente presos a
uma teoria mais antiga. Isso também se aplica aos
estudantes e críticos de literatura [...]. Alguns estudantes
e críticos também objetam que a teoria literária “se
interpõe entre o leitor e a obra”. A resposta mais simples
a esta observação é a de que sem alguma forma de
teoria, por menos consciente e implícita que seja, não
saberíamos, em primeiro lugar, como definir uma “obra
literária” ou como deveríamos lê-la. A hostilidade para
com a teoria geralmente significa uma oposição às
teorias de outras pessoas, além de um esquecimento da
teoria que se tem”. T.Eagleton (1997).
O QUE É LITERATURA COMPARADA?
1) Essa disciplina abrange:
a) O estudo comparativo entre duas obras da mesma língua e
cultura?
b) O estudo comparativo entre a Literatura e outra manifestação
cultural, com as histórias em quadrinhos, por exemplo?
2) Quais são as dificuldades de estudos comparatistas? O que
se deve levar em conta ao trabalhar com obras de culturas
distintas?
3) Existem literaturas “maiores” e “menores”? O que está em
jogo nessa classificação?
4) Fala-se em intertextualidade somente quando é possível
provar que um escritor realmente teve contato com a obra
pela qual supostamente foi influenciado?
Um conceito instável
 “Uma das tarefas mais difíceis é delimitar o campo
da disciplina literatura comparada, pois seus
conteúdos mudam constantemente, de acordo com
o espaço e o tempo” (Sandra Nitrini). A
compreensão do conceito, assim, exige um percurso
histórico. Sua “pré-história”: estudo da relação entre
literatura grega e latina, sem um método
determinado.
 - A dificuldade em mapear exatamente o campo e os
métodos levam a autora a chamar a Literatura
Comparada de “uma disciplina pouco disciplinada”.
 O estudo mais sistematizado surge no século XIX,
tendo possivelmente derivado de um processo
metodológico das ciências naturais, no qual
comparar ou contrastar era uma das formas mais
confiáveis para provar uma hipótese. Conceito-
chave: influência (alvo de críticas a partir de 1950).
 O espírito cientificista e determinista atingem as
concepções de Literatura Comparada.
Projeto humanista?
Goethe – Conceito de “Weltliteratur” – (“Literatura
Universal”).
“Cada vez mais me convenço (…) de que a poesia é
uma propriedade comum à humanidade, que por
toda a parte e em todas as épocas surge em
centenas e centenas de criaturas. (…) Apraz-me por
isso observar outras nações e sugiro a cada um que
faça o mesmo. A literatura nacional não significa
grande coisa, a época é da literatura mundial e
todos nós devemos contribuir para apressar o
surgimento dessa época.”(31 de janeiro de 1827).
Brunetière, um dos primeiros comparatistas (século
XIX).
“[...] a história da literatura comparada estimulará em
cada um de nós, francês, ou inglês, ou alemão, a
compreensão da maior parte das características
nacionais dos grandes escritores. Nós nos
constituímos somente nos opondo entre nós; nós
nos definimos somente nos comparando entre nós;
e não chegamos a nos conhecer a nós mesmos
quando conhecemos somente a nós mesmos”.
Literatura Comparada X Nacionalismo
 Wellek destaca que a Literatura Comparada surgiu
como reação ao nacionalismo limitado dos estudos
literários do séc. XIX. Entretanto, esse projeto foi
muitas vezes distorcido pelo patriotismo da época. A
motivação patriótica desses estudos “...levou a um
estranho sistema de contabilidade cultural, a um
desejo de se acumular créditos para seu próprio
país, provando o maior número de influências
possível sobre outras nações ou, sutilmente,
provando que sua própria nação assimilou e
compreendeu’ um grande escritor estrangeiro
melhor do que qualquer outra”.
As duas grandes “escolas”.
 Consenso: a Lit. Comparada, como disciplina, surgiu e
se consolidou na França. Na segunda metade do século
XX, teóricos americanos (Wellek, Remak) questionaram
os pressupostos tradicionais dos estudos comparatistas.
 Comentário de Levin sobre as duas vertentes – Para o
autor, seria irônico e trágico que a Lit. Comparada, que
visada unir os continentes, promovesse uma ruptura
entre eles. Não é um conflito “franco-americano de linhas
nacionalistas”..., mas divergências metodológicas
advindas de contextos culturais e gerações distintas.
Escola Francesa: Van Tieghem
Descreve o percurso de leitura de uma pessoa que
estaria confinada em uma grande biblioteca:
Escolha, pautada no valor literário; crítica literária,
em suas diversas formas; história literária, “que
reintegra a obra e o autor no tempo e no espaço”.
Etapas da história literária: biográfica / história dos
escritos (atribuição de autoria e outros elementos
hoje estudados na crítica genética); estudo da
gênese da obra (fontes, influências,
antecedentes...); fortuna crítica (recepção.
Reedições. Traduções).
Escola Francesa:Van Tieghem
(1931)
 Uma produção artística nunca é isolada: “Como
num quadro, uma estátua, uma sonata, um livro
também se insere numa série, esteja o autor
consciente ou não de tal fato. Ele terá tido
precursores; e terá sucessores. A história literária
deve situá-lo no gênero, na forma de arte, na
tradição à qual pertence, e apreciar a originalidade
do autor, medindo o que ele herdou e o que criou”.
Como lidar com um corpus tão amplo
quanto a Literatura Universal?
 Divisão do trabalho. “Como todas as partes que
compõem o estudo completo de uma obra ou de um
escritor podem ser tratadas apenas com os recursos
da história literária nacional, exceto a pesquisa e a
análise das influências sofridas e exercidas, convém
reservar esta para uma disciplina especial, que terá
seus objetivos bem definidos, seus especialistas,
seus métodos”. Ampliará os resultados obtidos pelas
historiografias nacionais, sem pretensão de
substituí-las. Mas “há de completá-las e uni-las; e,
ao mesmo tempo, tecerá, entre elas e acima delas,
as malhas de uma história literária mais geral”.
Metodologia
 Três elementos são importantes no estudo das influências
literárias: o emissor (ponto de partida: escritor, obra ou
idéia); receptor. Transmissor (intermediário entre os dois
outros. Um grupo, um tradutor...).
 Cronologia é importante para eliminar aproximações
falsas. Considera elementos biográficos. Lida com
escritores menores, considerados muitas vezes bons
transmissores.
Outra abordagem francesa:
Etiemble (1963)
 Coloca-se contra o chauvinismo predominante na
disciplina. Acusa a tendência de confundir a
Literatura Universal com a Literatura Ocidental.
 Defende que a hierarquia entre os povos e as
línguas e questões políticas em geral não devem
interferir nas análises comparatistas.
 Rebate o argumento de que uma ampliação do
recorte tanto no espaço quanto no tempo seja o fato
de um comparatista não poder dar conta do domínio
da disciplina, mesmo dedicando a ela toda sua vida.
A escola americana
A abordagem americana nasce com as ressalvas de
Wellek (1959) aos estudos comparatistas franceses.
Mundo mudou depois de 1914 e velhas certezas do
XIX caíram por terra, como a crença na explicação
baseada em causas e consequências (modelo das
ciências naturais).
Problema da disciplina: incapacidade de estabelecer
um objeto de estudo e um método específico.
Literatura Comparada não acompanhou as discussões
da Teoria literária.
Em busca do “universal”

 Defende que o “sistema de créditos e débitos” deixe


de existir nesse campo de estudos . Acha que se as
pessoas deixarem de conceber a Literatura como
forma de prestígio cultural e até financeiro
“obteremos a única objetividade verdadeira
alcançável pelo homem”.
Remak (1961)
 - Definição de Literatura Comparada: “Em suma, é a
comparação de uma literatura com outra ou outras e
a comparação da literatura com outras esferas da
expressão humana”.
 Questiona a tendência francesa de valorizar o que
pode ser resolvido com base em evidências fatuais.
 Não há uma diferença fundamental entre os
métodos de pesquisa em Literatura Nacional e em
Literatura Comparada. Porém, há temas que só são
estudados em Lit. Comparada.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Escola francesa Escola americana
 Não aceita um estudo  Campo mais amplo, que
comparativo entre a incorpora até a comparação
literatura com outras artes entre duas obras da mesma
ou ramos do saber. cultura
 Métodos históricos (estudo  Estudo intrínseco da
cronológico e objetivo entre Literatura. Não consideram
duas literaturas). Elementos elementos biográficos.
biográficos e busca por Papel do leitor é mais
provas fatuais. destacado.
Uma definição conciliatória
 Rousseau e Pichois – meio termo entre visadas amplas e
restritas.
 “A literatura comparada é a arte metódica, pela
busca de laços de analogia, de parentesco e de
influência, de aproximar a literatura dos outros
domínios de expressão ou do conhecimento, ou
então os fatos e os textos literários entre si,
distantes ou não no tempo ou no espaço, desde que
pertençam a várias línguas ou culturas, que façam
parte de uma mesma tradição, para melhor
descrevê-los, compreendê-los e saboreá-los”.

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