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ROMANTISMO NO BRASIL

 surgiu poucos anos após a independência política, alcançada no ano de 1822. A


autonomia em relação à colônia fez surgir nos escritores brasileiros um sentimento de
nacionalismo, gerando um movimento anticolonialista em defesa da criação de uma
literatura que enfim retratasse nossa cultura, história e língua de maneira mais fiel.

 contestou os modelos literários europeus que não retratavam nossas raízes


históricas, linguísticas e culturais.

 o indivíduo sente-se em desajuste com a sociedade, por isso a necessidade de fugir


da realidade. Um dos mecanismos usados para fugir da realidade é voltar-se para
o passado. No Romantismo europeu, a volta ao passado histórico leva à Idade Média,
onde estão as origens das nações europeias. Mas, como o Brasil não teve Idade Média,
voltar ao passado significa redescobrir o país antes da chegada dos europeus, quando
era habitado por nações indígenas.
No plano individual, voltar ao passado significa valorizar a infância, como sugerem
estes versos de Casimiro de Abreu:

Oh! Que saudades que tenho


Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Primeira fase

Exaltação da natureza e da liberdade:


• poesia voltada para o índio e para a natureza brasileira;
• poesia expressa em uma linguagem simples e acessível
(contraste com o Barroco e o Arcadismo);
• natureza, vista como lugar de refúgio para os angustiados;
• principais representantes: José de Alencar e Gonçalves Dias.
Canção do exílio
(Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,


Minha terra tem primores,
Onde canta o Sabiá;
Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Em cismar sozinho, à noite
Não gorjeiam como lá.
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas,
Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores.
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite,
Que não encontro por cá;
Mais prazer eu encontro lá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá.
Primeira fase

Indianismo:
• índio = símbolo da nacionalidade brasileira. (O
negro, vindo de outro continente, não podia ser
considerado como um típico brasileiro, tampouco o
homem branco, identificado como o colonizador
português);
• o índio era visto como o “bom selvagem”, cujo
comportamento era idealizado - substituição do
herói medieval português.
Canção do Tamoio II
(Gonçalves Dias) Um dia vivemos!
I O homem que é forte
Não chores, meu filho: Não teme da morte;
Não chores, que a vida Só teme fugir;
É luta renhida: No arco que entesa
Viver é lutar. Tem certa uma presa,
A vida é combate, Quer seja tapuia,
Que os fracos abate, Condor ou tapir.
Que os fortes, os bravos, (...)
Só pode exaltar. III
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!
Primeira fase

Exaltação da pátria (nacionalismo exagerado):


• regionalismo;
• debate acerca dos problemas nacionais;
• projeto de construção de uma identidade nacional em nossa
literatura.
Segunda fase

Décadas de 1850 e 1860


 ruptura com o idealismo exagerado em relação ao nacionalismo, ;
 postura exageradamente pessimista diante da vida como
escapismo dos problemas sociais da época – mal do século;
 os jovens não se sentiam atraídos pelos ideias da Revolução
Francesa – “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” – e optavam por
mergulhar em seu mundo íntimo;
 apego a atitudes mundanas, como a bebida e o vício, e uma
atração pela morte;
 produções literárias = maior subjetividade, intensificação do
sentimentalismo.
• Liberdade de criação e valorização do
conteúdo em detrimento da forma;
• versificação livre;
• tédio, morbidez, sofrimento, pessimismo,
negativismo, satanismo, masoquismo, cinismo
e autodestruição;
• fuga da realidade;
• idealização do amor e da mulher;
• subjetivismo e egocentrismo;
• gosto pelo escuro ou noturno;
• presença da solidão;
• sarcasmo e ironia;
• morte como fuga definitiva e solução dos
problemas.
“Já de noite o palor me cobre o rosto
Nos lábios meus o alento desfalece.
Surda agonia o coração fenece
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!”

(Álvares de Azevedo) Byronismo

Mal-do-século
"Junto a meu leito, com as mãos unidas, Considerando os aspectos temáticos e formais
Olhos fitos no céu, cabelos soltos, do poema pode-se vinculá-lo ao segundo
momento do movimento romântico brasileiro,
Pálida sombra de mulher formosa também conhecido como "geração do spleen"
ou "mal do século."
Entre nuvens azuis pranteia orando.
É um retrato talvez. naquele seio
a) A presença da mulher amada torna-se o
Porventura sonhei doiradas noites. ponto central do poema. Isso é claramente
Talvez sonhando desatei sorrindo manifestado pelas recordações do eu-lírico,
marcado por um passado vivido, que sempre
Alguma vez nos ombros perfumados volta em imagens e sonhos.
Esses cabelos negros, e em delíquio b) O texto reflete um articulado jogo entre o
plano do imaginário e o plano real. Um dos
Nos lábios dela suspirei tremendo. elementos, entre outros, que articula essa
foi-se minha visão. E resta agora contradição é a alternância dos tempos verbais
presente/passado.
Aquela vaga sombra na parede c) Realidade e fantasia tornam-se a única
– Fantasma de carvão e pó cerúleo, realidade no espaço da poesia lírica romântica,
gênero privilegiado dentro desse movimento.
Tão vaga, tão extinta e fumarenta
d) Apesar de utilizar decassílabo, esse poema
Como de um sonho o recordar incerto." possui o andamento próximo ao da prosa. Esse
aspecto formal é importante para intensificar
(AZEVEDO, Álvares de. VI Parte de "Idéias Íntimas". In: CÂNDIDO, A. & CASTELLO, J. A. certo prosaísmo intimista da poesia romântica.
Presença da Literatura Brasileira, vol.II, São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1968, p.
26).
CONDOREIRISMO
Terceira fase “A arte não deve buscar apenas o belo,
mas sobretudo o bem” (Victor Hugo)

• vertente social e abolicionista da poesia romântica;


• os poetas condoreiros cultivaram ideais libertários e
criticaram e refletiram sobre as condições sociais dos
escravos negros.

Brasil, a partir de 1860: o cultivo do café propiciou avanços na


economia e na infraestrutura de algumas cidades, sobretudo
no estado de São Paulo, que se beneficiou com a chegada da
energia elétrica, das redes de água e de esgoto e com a
construção de vias para a exportação do café.
Terceira fase

• a poesia condoreira surge como instrumento de denúncia às injustiças sociais,


principalmente com relação à libertação dos escravos;
• os poetas condoreiros engajavam-se nos debates sociais e mostravam-se
conscientes do contexto brasileiro da época;
• para a divulgação de seus poemas, além dos locais nos quais circulavam a
produção literária das gerações anteriores, como bailes, saraus, quermesses,
praças públicas, teatros e associações estudantis, os autores contavam com
outro grande meio de comunicação, os jornais impressos. Com isso, eles
procuraram atingir grande variedade e número de leitores, que eram
incentivados nos poemas a transformarem as ideias em práticas, em ações
sociais e efetivas.
CONDOREIRISMO
Características da poesia condoreira:
• composta para ser declamada;
• tons característicos da oratória;
• uso intenso de vocativos e de pontos de exclamação;
• gosto pelas imagens exageradas, às imagens e uso frequente
da hipérbole;
• um representante importante: Castro Alves.
CONDOREIRISMO
Tragédia no lar
(Castro Alves, 1883)
Na Senzala, úmida, estreita,
Brilha a chama da candeia, Se o canto pára um momento,
No sapé se esgueira o vento. Chora a criança imprudente …
E a luz da fogueira ateia. Mas continua a cantiga …
Junto ao fogo, uma africana, E ri sem ver o tormento
Sentada, o filho embalando, Daquele amargo cantar.
Vai lentamente cantando Ai! triste, que enxugas rindo
Uma tirana indolente, Os prantos que vão caindo
Repassada de aflição. Do fundo, materno olhar,
E o menino ri contente... E nas mãozinhas brilhantes
Mas treme e grita gelado, Agitas como diamantes
Se nas palhas do telhado Os prantos do seu pensar.
Ruge o vento do sertão. […]

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