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Wallon

A psicogênese da pessoa completa


Henri Paul Wallon (1879-1972)
• Antes de chegar à psicologia passou pela
filosofia e medicina e ao longo de sua
carreira foi cada vez mais explícita a
aproximação com a educação.
• Viveu num período marcado por
instabilidade social e turbulência política.
As duas guerras mundiais (1914-18 e
1939-45), o avanço do fascismo no
período entre guerras, as revoluções
socialistas e as guerras para libertação das
colônias na África atingiram boa parte da
Europa e, em especial, a França.
Desenvolvimento e suas influências
• Wallon considera que não é possível
selecionar um único aspecto do ser humano
e vê o desenvolvimento nos vários campos
funcionais (motor, afetivo, inteligência e
pessoa)
• Fatores biológicos e sociais que influenciam
no desenvolvimento.
• Portanto, o desenvolvimento das funções
depende tanto de condições de maturação
como de exercícios capazes de desenvolvê-las
no meio.
Desenvolvimento e suas influências
• O desenvolvimento não se dá de maneira
linear e contínua, mas por integração de
novas funções e aquisições às anteriores.
• Algumas funções se destacam em
determinadas fases. Essa preponderância
de uma das funções em determinadas fases
é decorrente da sua integração.
• Em qualquer momento, ou fase do
desenvolvimento, a pessoa é sempre uma
pessoa completa.
Desenvolvimento e suas influências
• As aquisições de um estágio são irreversíveis, mas o
indivíduo pode retornar a atividades anteriores ao
estágio. Um estágio não suprime os
comportamentos anteriores, mas sim os integra,
resultando em um comportamento que é a
acumulação das partes.
• Conflitos se instalam nesse processo e são de
origem:
a) exógena - quando resultantes dos desencontros
entre as ações da criança e o ambiente exterior,
estruturado pelos adultos e pela cultura
b) Endógena - quando gerados pelos efeitos da
maturação nervosa.

Esses conflitos são propulsores do desenvolvimento.


As leis do desenvolvimento
• Wallon admite, a existência de três leis que regulam
o processo de desenvolvimento da criança em
direção ao adulto: a lei da alternância funcional, a da
preponderância funcional e a da integração funcional
• A primeira, chamada lei da alternância funcional,
indica duas direções opostas que se alternam ao
longo do desenvolvimento:
A) centrípeta, voltada para a construção do eu
B) centrífuga, voltada para a elaboração da realidade
externa e do universo que a rodeia.
Essas duas direções se manifestam alternadamente,
constituindo o ciclo da atividade funcional.
As leis do desenvolvimento
• A segunda é a lei da sucessão da preponderância
funcional, na qual dimensões ou subconjuntos
preponderam, alternadamente, ao longo do
desenvolvimento do homem: motora, afetiva,
cognitiva e pessoa.
• A última lei, chamada de lei da integração
funcional, diz respeito às novas possibilidades que
não se suprimem ou se sobrepõem às conquistas
dos estágios anteriores, mas, pelo contrário,
integram-se a elas no estágio subsequente.
As leis do desenvolvimento
• Outra tendência apontada por Wallon, manifesta
no desenvolvimento da pessoa completa é a de
caminhar do sincretismo (reunir) em direção à
diferenciação.
• Sincretismo: Movimentos, sentimentos e ideias
são a princípio vividos de uma maneira global, até
mesmo confusa, quando a pessoa não tem
clareza da situação.
• Diferenciação: Aos poucos, tornam-se mais claros
e adequados às necessidades. Á a capacidade de
responder com reações cada vez mais específicas
a situações cada vez mais variadas.
As funções
• O ser humano opera
em 3 funções:
a) Motora
b) Emocional
c) Inteligência
d) Pessoa
Função motora
• É a resposta preferencial e
prioritária às suas necessidades
básicas e aos seus estados
emocionais e relacionais.
• A motricidade é simultaneamente e
sequencialmente, a estrutura de
relação e correlação com o meio,
com os outros prioritariamente, e
com os objetos posteriormente.
Função motora
• Os movimentos, podem estar em duas
categorias:
A) movimentos instrumentais - são ações
executadas para alcançar um objetivo imediato
e, em si, não diretamente relacionado com outro
indivíduo; este seria o caso de ações como
andar, pegar objetos, mastigar etc.
B) movimentos expressivos - têm uma função
comunicativa intrínseca, estando usualmente
associados a outros indivíduos ou sendo usados
para uma estruturação do pensamento do
próprio movimentador. Falar, gesticular, sorrir
seriam exemplos de movimentos expressivos.
Função afetiva
• É primeira forma de interação com o meio
ambiente e a motivação primeira do
movimento.
• À medida que o movimento proporciona
experiências à criança, ela vai respondendo
através de emoções.
• A função afetiva cria os elos os elos
necessários à ação coletiva.
• Há três maneiras de expressão afetiva:
emoção, sentimento e paixão
Função afetiva
• Emoção: é a primeira expressão da
afetividade. Ela tem uma ativação
orgânica, ou seja, não é controlada
pela razão. Quando alguém é
assaltado e fica com medo, por
exemplo, pode sair correndo mesmo
sabendo que não é a melhor forma
de reagir.
Função afetiva
• Sentimento: tem um caráter mais
cognitivo. Ele é a representação da
sensação e surge nos momentos em
que a pessoa já consegue falar sobre
o que lhe afeta - ao comenta um
momento de tristeza, por exemplo.
Função afetiva
• Paixão: em como característica o
autocontrole em função de um
objetivo. Ela se manifesta quando o
indivíduo domina o medo, por
exemplo, para sair de uma situação
de perigo.
Função inteligência
• Está diretamente relacionada ao raciocínio
simbólico e a linguagem
• É o poder de abstração.
• São os pensamentos, as reflexões, de algo
que não precisa necessariamente está
concretamente diante do indivíduo.
Função pessoa
• Campo funcional que coordena os demais. Seria
este também o campo funcional responsável pelo
desenvolvimento da consciência e da identidade
do eu.
• As relações entre estes três campos funcionais
não são harmônicas, de modo que
constantemente surgem conflitos entre eles.
• A integração dos três subconjuntos funcionais –
motor, afetivo e cognitivo – constitui quarto
subconjunto funcional. Para Wallon, em qualquer
momento, ou fase do desenvolvimento, a pessoa
é sempre uma pessoa completa. Ou seja, essa
função sempre está presente.
Estágio de desenvolvimento
Estágios:

• Impulsivo emocional (0 a 1 ano) – predomínio do motor


e afetivo.
• Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3 anos) – predomínio do
cognitivo.
• Personalismo (3 a 6 anos) – predomínio do afetivo.
• Categorial (6 a 11 anos) - predomínio do cognitivo.
• Puberdade e adolescência (11 anos em diante) -
predomínio do afetivo.

Passagem de um estágio ao outro nunca é linear e bem


definida. Ao contrário, essa passagem é sempre marcada
por conflitos, descontinuidades, contradições e por
retrocessos.
Estágio Impulsivo Emocional (0 – 1 ano)
Características gerais:
• Campo funcional predominante a ser
desenvolvido: afetivo.
• Direção do desenvolvimento e das atividades da
criança: centrípeta

a) Etapa da Impulsividade motora (0 - 3 meses)


• Característica principal: impulsividade motora
pura - alívio de sensações de desconforto e de
tensão.
• Simbiose afetiva e fisiológica.
Estágio Impulsivo Emocional (0 – 1 ano)
• b) Etapa Emocional (3 – 12 meses)
• → Característica principal: atividades
circulares – movimentos repetidos
intencionalmente pela criança; percepção
de que a própria ação pode gerar efeitos no
ambiente.
Estágio Sensório-motor e projetivo (1 – 3 anos)
Características gerais:
• Campo funcional predominante: inteligência.
• Direção do desenvolvimento e das atividades da
criança: centrífuga.
• Exploração da realidade exterior e do mundo físico.
• Início do desenvolvimento da inteligência e do eu
corporal.

a) Etapa sensório-motora (1 – 2 anos)


• Característica principal: início da autonomia
motora e da linguagem.
Estágio Sensório-motor e projetivo (1 – 3 anos)
b) Etapa projetiva (2 – 3 anos)
• Característica principal: ato mental
(referente aos processos de
pensamento) necessita ser projetado em
um ato motor.
Estágio Sensório-motor e projetivo (1 – 3 anos)
Principais movimentos projetivos:
a) Imitação – imitação de gestos – observação;
incubação; exteriorização.
b) Simulacro - Criança consigue simular uma
situação de utilização do objeto sem tê-lo presente
de fato. Trata-se de um ato sem a presença do
objeto real.
• Início da constituição do eu corporal
• Período animista – atribuir vida independente a
alguma parte do corpo, tratando-a como se fosse
uma pessoa.
Estágio do Personalismo (3-6 anos)
Características gerais:
• Campo funcional predominante: afetivo.
• Direção do desenvolvimento e das atividades
da criança: centrípeta.
• Principal tarefa do estágio: constituição do eu
psíquico.
• Início do processo de construção e afirmação
da própria identidade.

Três etapas ou fases:


I – Oposição
II – Sedução ou Idade da graça.
III – Imitação
Estágio do Personalismo (3-6 anos)
Oposição
• Caracterizada pela necessidade de se auto
afirmar, de impor sua visão pessoal, de se
constituir e de se diferenciar do outro.
Sedução:
• A criança agora tem necessidade de ser
admirada, de sentir que agrada aos outros,
pois só assim poderá se admirar também.
Imitação
• Não são mais suficientes para a criança suas
próprias qualidades e passa a cobiçar as dos
outros, tomando-os como modelo.
Estágio Categorial (6 a 11 anos)
Características gerais:
• Campo funcional predominante: cognitivo.
• Direção do desenvolvimento e das atividades
da criança: centrífuga.
• Principal tarefa do estágio: desenvolvimento
da inteligência.

- Estágio de maior estabilidade


- Exploração mental do mundo físico.
- Ampliação da capacidade de atenção (auto-
disciplina mental).
Estágio Categorial (6 a 11 anos)
a) Etapa pré-categorial (6-9 anos)
• Característica principal: pensamento por pares - reconhece
um objeto, fato ou uma situação sempre em relação a um
segundo elemento. Não há a capacidade de generalizações e
conceituações.

b) Etapa categorial (9-10/11 anos)


• Criança é capaz de trabalhar com conceitos, categorias e
representações.
• Desenvolvimento de categorias intelectuais, tais como a
capacidade de identificar, analisar, definir e classificar
objetos de acordo com diferentes situações.
• Capacidade de operar com noções abstratas como é o caso
da noção de tempo, de espaço e de causa.
Estágio da Puberdade e da Adolescência (12 - 16 anos)
Características gerais:
• Campo funcional predominante:
afetivo.
• Direção do desenvolvimento e das
atividades: centrípeta.

Puberdade
• Evento biológico decorrente das
mudanças hormonais e fisiológicas.
• Transição da infância para a vida
adulta.
Estágio da Puberdade e da Adolescência (12 - 16 anos)
Consequências
• Necessidade de se reapropriar de seu
corpo – relação conflituosa com o
espelho.
• Necessidade de consolidar a própria
identidade – voltado para os próprios
interesses.
• Ambivalência de atitudes e sentimentos.
• Período de oposição.
• Afastamento dos pais e aproximação dos
pares.
Estágio da Puberdade e da Adolescência (12 - 16 anos)
• Nesse estágio, os sentimentos se
alternam procurando buscar a
consciência de si na figura do outro,
contrapondo–se a ele, além de
incorporar uma nova percepção
temporal.
• Ocorre nova definição dos contornos
da personalidade, desestruturados
devido às modificações corporais
resultantes da ação hormonal.
Questões pessoais, morais e
existenciais são trazidas à tona.
Estágio da Puberdade e da Adolescência (12 - 16 anos)
• O meio social e cultural passam a ser
de grande importância. Os
adolescentes tornam-se intolerantes
em relação às regras e ao controle
exercidos pelos pais, e necessitam
identificar-se com seu grupo de
amigos e/ou, dependendo da
cultura, se inserir no mundo adulto.

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