Mecânica dos Solos II Prof. Danilo Bernardes Lourenço Introdução
Em obras como estradas, fundações e barragens em
rocha, há necessidade de se estimar o grau de estabilidade dos taludes de rocha naturais e construídos pelo homem.
Um talude é uma superfície de fronteira entre o ar e a
rocha, vertical ou inclinada, ou o corpo de uma obra de terra, como uma barragem ou um aterro. Conceito
O conceito estabilidade de um talude é indeterminado,
já que taludes feitos sobre ou de rochas ou solos não fornecem garantia de estabilidade por muitos anos. Condições climáticas, hidrológicas e tectônicas, atividades humanas na área imediata ou adjacente a estrutura, escavações subterrâneas ou obras de terra podem trazer, anos mais tarde, mudanças que afetam a estabilidade dos taludes naturais e escavados pelo homem. Não se pode desprezar a possibilidade de a rocha ou o solo tornar-se saturado por água ao longo do tempo. As ondulações se constituem em fator favorável à estabilidade dos taludes da mineração aumentando a resistência ao cisalhamento das rochas. Entretanto, há casos em que as ondulações, ou dobras, são muito pronunciadas, resultando em ruptura da rocha por tração, junto às cristas das dobras. Estas rupturas são planas de fraqueza, que reduzem a estabilidade dos taludes.
O efeito da água como agente estabilizador dos taludes
é significativo, seja reduzindo a tensão efetiva, na forma de pressão neutra, seja pela percolação, ou ainda saturando os terrenos e aumentando o seu peso. Desenho esquemático de escorregamento de taludes Movimentos de Massas
Segundo a Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia (ABGE, 1998), a execução de cortes nos maciços pode condicionar movimentos de massa ou, mais especificamente, escorregamento de taludes, desde que as tensões cisalhantes ultrapassem a resistência ao cisalhamento dos materiais, ao longo de determinadas superfícies de ruptura. Naturalmente que os taludes provenientes da má execução de aterros pode também levar ao movimento de massas de solos. A figura 01 ilustra um exemplo de obra recente, em via de acesso ao município de Juiz de Fora/MG, em que se verificou uma série de escorregamentos de taludes, que exigiu a execução de obras de contenção e reconfiguração dos mesmos. Figura 01 - Exemplo de obra em que se verificou uma série de escorregamentos de taludes, em via de acesso ao município de Juiz de Fora MG. Recentemente construídos, exigindo a readequação dos mesmos, a partir de novas obras. Agentes e Causa
Entende-se por causa o modo de atuação de
determinado agente ou, em outros termos, um agente pode se expressar por meio de uma ou mais causas. É o caso, por exemplo, do agente água, que pode influir na estabilidade de uma determinada, massa de material das mais diversas formas: no encharcamento do material. Tipos de Agentes Predisponentes trata-se de um conjunto de características intrínsecas, função apenas de condições naturais, nelas não atuando, sob qualquer forma, a ação do homem.
Pode distinguir: complexo geológico (acidentes
tectônicos, atitude das camadas), complexo morfológico (massa e forma do relevo), complexo climático-hidrológico (clima e regime e água subterrânea), gravidade, calor solar ou tipo de vegetação original. Tipos de Agentes Efetivos Conjunto de elementos responsável pelo deslocamento do movimento de massa incluindo-se a ação humana. Estes deslocamentos subdividem-se em:
Preparatórios – pluviosidade, erosão pela água ou vento,
congelamento e degelo, variação de temperatura, dissolução química, desflorestamento. Imediatos – chuva intensa, fusão de gelo e neve, erosão, terremotos, ondas, vento, ação do homem, etc. Tipos de Causas Causas internas: são as que levam ao colapso sem que se verifique qualquer mudança nas condições geométricas dos taludes e que resultam de uma diminuição interna ao material.
Causas externas: provocam um aumento das tensões
de cisalhamento sem que haja diminuição da resistência do material.
Causas intermediárias: resultam de efeitos causados por
agentes externos no interior do talude. Causas Internas
Efeito de oscilações térmicas: oscilações térmicas
diárias ou sazonais provocam variações volumétricas em massas rochosas, podendo conduzir a destaque de blocos. Num bloco de material colocado sobre um plano horizontal, contrações e dilatações de origem térmica ocorrem simetricamente em relação ao seu eixo e distribuem também as tensões de cisalhamento na superfície de contato com o plano. Diminuição dos parâmetros de resistência por intemperismo: o processo de alteração por intemperismo leva a um enfraquecimento gradual do meio rochoso, ou terroso, no qual ocorre, pela remoção dos elementos solúveis constituintes dos próprios minerais, pela dissolução dos elementos com função da cimentação em solos ou rochas sedimentares, pelos desenvolvimentos de uma rede de microfraturas num meio rochoso que não as possuía. Causas Externas
Mudanças na geometria do sistema: uma das causas
das condições de instabilidade consiste em modificar as condições geométricas da massa terrosa, ou rochosa, que esteja sendo analisada, acrescentando- lhe uma sobrecarga em sua porção superior, ou então, retirando parte de sua massa na porção inferior. Efeitos de vibrações: agentes, como terremotos, o bater das ondas, explosões, tráfego pesado, cravação de estacas e operação de máquinas pesadas, transmitem, invariavelmente, vibrações ao substrato. Máquinas pesadas induzem nos solos que lhes servem de fundação, vibrações de alta frequência. Como a aceleração, fator principal da força nociva resultante das vibrações, é proporcional ao quadro da frequência. Mudanças naturais na inclinação das encostas: as formas mais evidentes resultam de movimentos tectônicos que mobilizaram corpos de estruturas dobradas, conduzindo-os muitas vezes a fenômenos de desequilíbrio. As formas mais conhecidas são as cadeias montanhosas, como os Andes, Himalaia entre outros sendo um escorregamento translacional, também chamado gravitacional. Causas Intermediárias
Elevação do nível piezométrico em massas
“homogêneas”: considerando uma massa saturada de rocha intensamente fraturada, solo ou sedimento a água que ocupa os vazios se acha sob pressão a mecânica dos solos conduz a seguinte conclusão: O potencial de escorregamento se situa numa camada de areia ou silte, a resistência ao cisalhamento por unidade de área, será igual a:
S = (p-a.h).tg
P - pressão num ponto p da superfície potencial de
escorregamento; H - altura piezométrica no ponto; a - peso específico da água; - ângulo de atrito na superfície de escorregamento Se o material possuir coesão por unidade de área teremos:
S= c + (p-a.h)tg
P - pressão num ponto p da superfície potencial de
escorregamento; H - altura piezométrica no ponto; a - peso específico da água; - ângulo de atrito na superfície de escorregamento Rebaixamento do lençol freático: a expressão se refere a abaixamentos de água numa razão de pelo menos 1m por dia, caso comum em reservatórios ou nas margens fluviais após uma enchente. Se o nível de uma massa de rebaixamento lento o lençol permanecerá horizontal e a resistência média será dado como:
S= c + (pi -a.hi)tg
Sendo (pi - ª.hi) a pressão efetiva em cada elemento de
espessura unitária da superfície de ruptura. Se rebaixamento forma rápido, a descida da superfície piezométrica não acompanhará o nível de água livre. Classificação dos Movimentos de Massa Em termos gerais os movimentos de massa podem ser classificados em quedas, tombamentos, escorregamentos, que podem ser translacionais ou rotacionais, espalhamentos, escoamentos e movimentos complexos. Queda de blocos Queda de detritos Tombamentos Escorregamentos Escoamentos Avalanche de detritos Movimentos complexos de massas Queda de Blocos
É um movimento definido por uma ação de queda livre
a partir de uma elevação, com ausência de superfície de movimentação. Ocorre em taludes com forte inclinação ou escarpas onde blocos de tamanhos variados se desprendem do maciço por intemperismo e caem pela ação da gravidade. Movimentos das mais variadas proporções incluem-se nesta categoria, desde a queda de um bloco isolado até o colapso de enormes complexos rochosos. A velocidade do movimento é alta. Queda de Detritos É a movimentação de reduzidas massas de fragmentos terrosos ou rochosos, consolidados, ou pouco consolidados, em movimentos de pequena magnitude.
Dentro dessa classe pode-se enquadrar o fenômeno da
desagregabilidade de massas rochosas. Trata-se de um processo de proporções limitadas, que não atinge o noticiário dos jornais por não ter efeito catastrófico, mas que produz contínuos efeitos nocivos a obras de drenagem de rodovias e ferrovias, bem como à sua própria manutenção. Consiste no destaque contínuo de fragmentos rochosos provocados por fenômenos de secagem e saturação sucessivas em rochas de baixa resistência expostas ao longo de cortes artificiais. Exemplos de talude em rocha, estabilizados com tela de arame de alta resistência. Tombamentos
O tombamento é um tipo de ruptura em taludes em
maciços rochosos com camadas ou descontinuidades de foliação regularmente espaçadas. Ocorre quando as camadas estão inclinadas para dentro do talude. O tombamento é comum em quartzitos, ardósias e xistos, em taludes de minas e em taludes naturais, mas ocorre também em finas camadas de sedimentos mergulhando fortemente, em descontinuidades colunares de origem vulcânica e em granitos com descontinuidades regulares. Escorregamentos
Escorregamentos são movimentos rápidos, de duração
relativamente curta, de massas de terreno geralmente bem definidas quanto ao seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para fora do talude. Diferentes tipos de escorregamentos podem ser identificados em função de sua geometria e da natureza do material que se torna instável, podendo ser subdivididos em translacionais e rotacionais. Escorregamentos Rotacionais
Procede-se à separação de uma certa massa de material
do terreno, delimitada de um lado pelo talude e de outro lado por uma superfície contínua de ruptura, efetuando- se então a análise de estabilidade dessa cunha. Assume- se uma forma simplificada de superfície em arco de circunferência (ou cilíndrica). Escorregamentos rotacionais puros ocorrem em materiais homogêneos, tipo em barragens de terra, aterros em geral, em pequenas escavações de materiais naturais. São movimentos catastróficos, causados pelo deslizamento súbito do solo residual que recobre a rocha, ao longo de uma superfície qualquer de ruptura. Escorregamentos Translacionais
Os escorregamentos translacionais podem ocorrer em
taludes mais abatidos e são geralmente extensos, podendo atingir centenas ou milhares de metros. A ruptura é por cisalhamento e a massa se desloca sobre uma superfície relativamente plana, muitas vezes condicionada por superfícies de fraqueza, desfavoráveis à estabilidade, originadas de descontinuidades, tipo fraturas, falhas, acamamento, foliações, xistosidades. Escorregamentos Translacionais de Rochas Trata-se de movimentos de massas rochosas ao longo de descontinuidades, ou planos de fraqueza, preexistentes. As superfícies de movimentação são geralmente um reflexo da estrutura geológica do terreno e podem consistir em planos de estratificação, xistosidade, gnaissificação, acamamento, diaclasamento, falhas, juntas de alívio de tensões, fendas preenchidas por materiais de alteração, contatos entre camadas, casos de ruptura planar. Tais escorregamentos, geralmente denominados deslizamentos, são típicos de regiões montanhosas e apresentam devido à elevada aceleração que o movimento pode adquirir efeitos catastróficos. Escorregamentos Translacionais de Solos
Trata-se de movimentos ao longo de superfície plana,
em geral preexistente e condicionada a alguma feição estrutural do substrato. O movimento é de curta duração, velocidade elevada, grande poder de destruição. Pelo aumento do teor de água, escorregamentos translacionais de solo podem adquirir o aspecto de corridas. Podem, por outro lado, passar a atuar como rastejos, após sua movimentação e acumulação no pé da encosta. Escoamentos
Os escoamentos, numa definição ampla, são
representados por deformações, ou movimentos contínuos, estando ou não presente uma superfície definida ao longo da qual a movimentação ocorre. O conceito de escoamento não está associado ao fator velocidade, englobando movimentos lentos (rastejos) e movimentos rápidos (corridas). Escoamentos Rastejos:
São movimentos lentos e contínuos de material de
encostas com limites indefinidos. A movimentação é provocada pela ação da gravidade, intervindo, nos efeitos devido às variações de temperatura e umidade. Em superfície, o rastejo se evidencia, muitas vezes, por mudança na verticalidade de árvores, postes, etc. Escoamentos Corridas:
São formas rápidas de escoamento, de caráter
essencialmente hidrodinâmico, ocasionadas pela perda de atrito interno, em virtude da destruição da estrutura, em presença de excesso de água. Escoamentos Corridas de Massa:
ocorrem geralmente sob determinadas condições
topográficas, adaptando-se às condições de relevo. São geralmente provocadas por encharcamento do solo por pesadas chuvas ou longos períodos de chuva de menor intensidade. A velocidade de deslocamento pode ser elevada, resultando daí o risco de destruição. Escorregamento de Encostas Complexos de Massas
Resultam de uma combinação das formas vistas
anteriormente e se caracterizam por movimentos múltiplos ou complexos e pela ação de vários agentes simultâneos ou sucessivos. Esta classe abrange todos os fenômenos de movimentação nos quais, durante sua manifestação, ocorra uma mudança de características morfológicas, mecânicas ou causais. É o caso das intensas formas de erosão conhecidas sob o nome de boçorocas ou voçorocas. Proteção de taludes de aterro em canal de curso d’água, com colchão de pedras de mão, contra o efeito de erosão desenvolvida pelo movimento da água no canal (São Pedro – J. Fora/MG, 2005).