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Programa de Pós-Graduação em Arqueologia

Tópicos Avançados em Análise Cerâmica

Prof. Dra. Denise Cavalcante Gom


Aluno: Andrei S. Santo
ARTIGO

“Explaining the prehistory of ceramic


technology on Waya Island, Fiji”
ETHAN E. COCHRANE
Introdução

Em um primeiro momento, o autor aponta que a variação tecnológica da cerâmica, medida através de
experimentos de desempenho e outras investigações detalhadas da tecnologia cerâmica, é
convincentemente explicada como resultado da adaptação e transmissão cultural (e.g., Arnold 1985; Braun
1983; Dunnell and Feathers 1990; Hoard et al. 1995; O’Brien et al. 1994; Pierce 1998; Schiffer et al. 1994;
Young and Stone 1990). Nesse sentido, à luz da teoria evolutiva, o autor se propõe a analisar a tecnologia
cerâmica da ilha de Waya através de três pontos fundamentais:

• Transmissão Cultural

• Adaptação por Seleção

• Inovação
• Nota-se que os três aspectos citados anteriormente são estruturados pelos mecanismos evolucionários,
sendo estes, por sua vez, universais.

• Elaboração de hipóteses relacionando a variação observada na espessura dos fragmentos sob análise,
práticas de temperamento e diversidade do tipo de vasos (sob a ótica da vantagem evolutiva conferida
por cada aspecto).

• Hipóteses testadas através de experimentos e análises específicas das ciências materiais (ex: análise por
radiocarbono).

• O mecanismo de adaptação por seleção implica na transmissão cultural, o que demonstra, em essência, a
base teórica evolutiva utilizada pelo autor.

• A análise da mudança cultural formulada em referência a mecanismos explicativos universais (os três
pontos abordados anteriormente) podem produzir conhecimento empiricamente testado, que é vital para
explicações robustas da pré-história das Ilhas do Pacífico. Ainda assim, por se tratar de um
conhecimento calcado em uma base explanatória universal (evolução), é possível ampliar a indução
para instâncias além da ilha de Waya.
Tecnologia Cerâmica
e
Metas gerais

• O objetivo principal do autor neste trabalho é se debruçar sobre a forma como os mecanismos
evolutivos podem ter modelado a mudança tecnológica da cerâmica na ilha de Waya e, em seguida,
tentar delinear experimentos e análises futuras para testar suas hipóteses.

• O auto pressupõe a evolução cultural para pensar os aspectos da cerâmica em concordância com os
mecanismos evolutivos.
O Abrigo de rochas
• O abrigo de rochas Qaranicagi está localizado na Ilha de Waya, em
Fiji. O abrigo rochoso fica a aproximadamente 100 m acima do nível
do mar. Neste sítio, através da escavação de uma única sondagem de
1m² no meio do abrigo, foi revelado um depósito cultural
estratificado. Ali, foram encontrados diversos materiais cerâmicos,
material faunístico e alguns artefatos históricos.
Descrição do material e primeiras
conclusões
• A unidade de teste em Qaranicagi revelou seis camadas escavadas em vinte e oito espetos de 10 cm. A
partir daí, o autor as descreve. Abaixo, segue alguns exemplos de tópicos presentes em sua descrição:

• Textura do sedimento (macio)


• Coloração do sedimento (valores relativos à Carta de Munsell e o Sistema de Cores de Munsell)
• Estado do sedimento (solto)
• Conteúdo (raízes, rochas, matéria orgânica diversa, etc)
• Consistência (seco)
• Análise por radiocarbono
• PH do solo (razões de acidez e alcalinidade)

• Nota-se que o trabalho do autor é fortemente quantitativo e técnico.


• Carvão e cerâmica foram os maiores achados no Abrigo, e foram encontrados a uma profundidade de
2,3m.

• Segundo o autor, considerando as datas mais prováveis provenientes da datação por radiocarbono, os
primeiros usuários de cerâmica em Qaranicagi chegaram entre 1400 e 750 AC. No entanto, as primeiras
cerâmicas em Qaranicagi sugerem que os primeiros usuários de cerâmica chegaram ao final desse
período ou posterior.

• As primeiras cerâmicas em Qaranicagi são decoradas de forma semelhante ao grupo de lapitas fijianas
posteriores, incluindo arcos simples, clean collars, lábios vermelhos e aros entalhados.
Análises tecnológicas
• As cerâmicas Qaranicagi foram analisadas utilizando características macroscópicas de espessura,
têmpera, núcleo de queima, dureza e tipo de aro. Nesse sentido, quaisquer variações dentro desses
aspectos devem, segundo o autor, influenciar na performance dos vasos de cerâmica em diversos
contextos.

• Nesse sentido, as distribuições na linha do tempo de diferentes variantes de espessura, temperamento e


outras características podem ser explicadas por adaptação e seleção. No entanto, os mecanismos
evolutivos não necessariamente explicam toda a variação cerâmica. Esta (variação), dentro de algumas
características, pode não ser importante para o desempenho da cerâmica e, portanto, ela é explicada por
outros mecanismos, como a transmissão cultural isolada.
• Ao longo do tempo, ocorreram mudanças na cerâmica Qaranicagi, mais precisamente na espessura dos
vasos, o que – segundo o autor – é produto da adaptação e seleção.

• Do mesmo modo, os respectivos mecanismos – ou ainda a simples transmissão cultural – parecem ter
moldado o contexto das variações de temperatura na cerâmica Qaranicagi. O tipo e abundância do
temperamento foram notados através de uma lente de aumento 10x.
• As diversas formas cerâmicas, suas variações de temperaturas e espessura foram eleitas para análise
pelo autor à medida que essas características parecem se adequar às explicações dentro de uma estrutura
evolucionária geral.

• Elaboração de uma série de testes e análises de padrões visando fornecer robustez às hipóteses
levantadas, consistência aos mecanismos potencialmente explicativos e preservação da fidelidade da
descrição dos fenômenos. Rigor científico.
Como os mecanismos de transmissão cultural,
seleção, adaptação e inovação explicam as mudanças
na espessura dos fragmentos cerâmicos Qaranicagi?

• (1) A espessura da cerâmica é uma característica que influencia diretamente a capacidade das panelas
para suportar as forças de compressão e tração em suas superfícies externas e internas quando colocadas
diretamente sobre o fogo.

• (2) Vasos finos possuem melhor condutividade térmica do que vasos espessos e são capazes de resistir
melhor aos efeitos do estresse térmico.

• Logo, esperar-se-ia encontrar populações com vasos mais finos quando e onde as tecnologias capazes de
cozimento prolongado ou repetido são vantajosas. Se os períodos de uso de vasos finos são o resultado
da adaptação favorecendo cozimento prolongado ou repetido, esses tipos de práticas culinárias podem
ter sido predominantes em torno de um período específico de tempo (700 aC e AD 1.400), mais do que
em outras épocas quando as paredes dos vasos eram relativamente espessas.

• Análises adicionais são precisas, pois o autor reconhece que tal hipótese adaptativa é uma inferência
simplificativa de uma situação complexa.
• Além da espessura e do temperamento, as formas do vasos também variaram ao longo do tempo,
explicitando ainda uma redução geral nos tipos.

• Essa redução pode estar ligada ao declínio das redes de troca da região. Como respaldo argumentativo,
o autor ressalta que esse padrão é comum na divisão Oeste de Fiji.

• A diminuição nas formas dos vasos pode estar relacionada à seleção de um repertório de vasos que é
menos dispendioso (em termos de tempo, conhecimento e possivelmente materiais) para produzir.
Segundo o autor, é possível observar isso nos registros arqueológicos.

• Se a variação estilística (por exemplo, vasos descritos por suas formas labiais) diminuiu com o tempo, a
diversidade das funcionalidades (armazenamento ou serviço) permaneceu a mesma. Isso indica que os
vasos estariam sendo produzidos para preencher os mesmos papéis funcionais, mas de forma menos
elaborada do ponto de vista estilístico.
Conclusões
• A hipótese de adaptação culinária sugere que as alterações na espessura da parede dos vasos Qaranicagi
são o resultado da seleção de vasos com paredes mais finas no momento em que o cozimento
prolongado e repetido foi vantajoso na população, e isso ocorreu particularmente entre os períodos 700
aC e 1400 dC. Essa hipótese tem como respaldo científico a análise experimental.

• Mudanças nas práticas de temperamento podem ser explicadas pela hipótese da resistência mecânica. A
hipótese de resistência mecânica sugere queOxCal 3.5. tardio de fragmentos com mais que 30% de
o aumento
calcário de areia calcária é resultado do aumento da resistência ao choque mecânico transmitido por esta
prática de temperamento. Da mesma forma que a hipótese culinária, esta também pode ser
experimentalmente analisada.

• Finalmente, o declínio da diversidade de vasos é explicado pela hipótese do alto custo, isto é, a seleção
contra os altos custos de produção das cerâmicas. Nota-se que essa hipótese pode ser avaliada por
futuros estudos estilísticos e funcionais das cerâmicas fijianas.
FIM

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