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Emmanuelle Laborit
Confidência
As palavras são uma
extravagância para mim desde
minha infância. São uma
extravagância, antes de tudo,
por aquilo que têm de estranho.
O que significam essas mímicas
de pessoas em torno de mim,
sua boca em circulo alongado
em diversos trejeitos, seus
lábios em curiosas posições? Eu “
sentia” alguma coisa diferente
quando se tratava de cólera, da
tristeza ou do contentamento,
mas o muro invisível que me
separava dos sons
correspondentes a essas mímicas
era, ao mesmo tempo, vidro
transparente e cimento.
Agitava me de um lado desse muro, e os
outros faziam o mesmo do outro lado.
Quando tentava reproduzir suas mímicas
como macaquinho, não era nunca por
intermédio de palavras, mas por letras
visuais.
Ás vezes, ensinavam-me uma palavra de
uma silaba ou de duas silabas que
pareciam, como “papa”, “mama”, “tata”
Os conceitos mais simples eram ainda mais misteriosos.
Ontem, manhã, hoje. Meu cérebro funcionava no
presente. O que significa o passado e o futuro?
Quando compreendi pela ajuda dos sinais, que ontem
estava atrás de mim, e amanhã diante de mim, dei um
salto fantástico. Um progresso imenso, que os ouvintes
tinham dificuldade de entender, habituados que estão
de ouvir desde o berço as palavras e os conceitos
repetidos incansavelmente, sem disso se darem conta.
Depois compreendi outras palavras que designam
pessoas: Emanuelle, era eu. Papai, era ele.
Mamãe, era ela. Maria, era minha irmã. Eu era
Emmanuelle, eu existia, tinha uma definição,
logo uma existência.
Ser alguém, compreender que se esta vivo. A
partir disso, pude dizer “eu”. Antes, dizia “ela”
falando de mim. Queria saber onde estava
neste mundo, quem era eu, e por quê. E me
encontrei. Chamava-me Emmanuelle Laborit.
Em seguida, pude analisar, pouco a pouco, a
correspondência dos atos e as palavras que
designavam, entre as pessoas e os seus atos. De
repente o mundo me pertencia e dele eu fazia
parte.
Tinha sete anos. Acabava ao mesmo tempo, de
nascer e crescer, de uma só vez.
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