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Como a escola lida com

gênero e sexualidade?
Vanessa Soares de Castro

Viamão, 27 de agosto de 2019


Ponto de partida
Trabalho na Assistência Estudantil desde 2013: questão do disciplinamento.

Escola tradicionalmente como instituição excludente, que ordena, classifica, divide


e busca formatar sujeitos.

Como gênero, sexualidade e feminismo podem estar na escola?

Pesquisa de mestrado: 2017 e 2018.

Há relação entre disciplinamento e as questões de gênero e sexualidade na


escola?
Gênero e sexualidade na escola
Na escola “moças e rapazes aprendem os comportamentos adequados, o que
cada um pode e não pode fazer, e têm seus sentidos treinados para perceber o
que é considerado bom e decente, ou ruim e indecente” (LOURO, 1997).

Esperados certos comportamentos “adequados” ao gênero de cada um.

O que é gênero? O que tem a ver com a sexualidade?


Gênero: constitui as relações sociais, com
base nas diferenças percebidas entre os
sexos, definindo relações de poder
(SCOTT, 1995).
Iniquidade de gênero na escola
Quando se relaciona a identidade de gênero a certas características, se
reproduzem representações conservadoras e sexistas sobre as/os jovens e se
esperam que estes ajam de acordo com certos estereótipos.

Socialização de gênero desde a infância.


Pesquisa de Trindade e Souza (2009) com professoras/es:

“Se você você obrigado/a a escolher uma turma só de meninos ou só de meninas,


o que escolheria? Por quê?

Meninos (31,9%) Meninas (68,1%)

Gosto de um desafio. Seria interessante Pela identidade, por ser mulher. Seria mais
lidar com pessoas mais ativas. Pra sair tranquilo. São menos resistentes ao
um pouco do mundo “mocinha”. comando do professor. A mulher é mais
Aprendem mais rápido. São mais abertos fácil de lidar, acata melhor as sugestões.
à conversa, menos tímidos. São mais Não são agressivas. São mais calmas. São
críticos. São mais ousados/corajosos. São mais afetivas. São mais
mais determinados/decididos. São mais dedicadas/esforçadas. São mais dóceis.
bagunceiros, mas mais curiosos. Não São mais sensíveis.
perdem tempo com fofocas.
Dados do Censo da Educação Superior, de 2016
Iniquidade de gênero na escola
Presença maior de homens em cursos de Engenharias, Matemáticas,
Computação, entre outros, e de mulheres nos cursos voltados para Saúde, Bem-
estar e Educação.

As mulheres são maioria em todos os níveis de ensino, mas ainda se encontram


principalmente nos cursos menos valorizados, e continuam recebendo salários
menores (CARVALHO; RABAY, 2015).
Iniquidade de gênero na escola
Formação profissional técnica:

exemplo do campus Ibirubá.

Construções que não estão nas diferenças biológicas entre os corpos, mas na
forma como a sociedade é organizada, e por isso podem ser transformadas se
buscamos uma sociedade mais igualitária.

Compromisso da escola com a quebra dos padrões de dominação masculina


denunciados pelos feminismos.
Sexualidade na escola: heteronormatividade
A escola age de modo a formar sujeitos masculinos e femininos, dentro das
normas heterossexuais, invisibilizando aqueles/as que fogem a estas normas
(BENTO, 2011; LOURO, 1997).

Medo de falar sobre homossexualidade, relegando o assunto a piadas e insultos


fazendo estudantes LGBTs sentirem-se indesejados e desviantes (LOURO, 1997).
Pesquisa sobre ações discriminatórias no âmbito
escolar (MAZZON, 2009):
Discriminação de gênero a mais frequente: 38,2%

Distância social em relação a homossexuais a mais apontada: 72%

Principais vítimas das práticas discriminatórias entre estudantes: negros (19%),


pobres (18%) e homossexuais (17%).

Entre professores: preconceito geracional (8,9%), de orientação sexual (8,1%) e


de gênero (8%).
Pesquisa Nacional Sobre o Ambiente Educacional no
Brasil (2016)
60% se sentiam inseguros/as na escola no último ano por causa de sua
orientação sexual.

43% se sentiam inseguros/as por causa de sua identidade/expressão de gênero

68% foram agredidos/as verbalmente na escola por causa de sua


identidade/expressão de gênero

25% foram agredidos/as fisicamente na escola por causa de sua


identidade/expressão de gênero
Pesquisa Nacional Sobre o Ambiente Educacional no
Brasil (2016)
Duas vezes mais probabilidade de faltar à escola se sofreram níveis mais elevados
de agressão relacionada à sua orientação sexual ou expressão de gênero.

Estudantes LGBT que vivenciaram níveis mais elevados de agressão verbal por
causa da orientação sexual ou expressão de gênero tinham 1,5 vezes mais
probabilidade de relatar níveis mais elevados de depressão.
Sexualidade na escola: heteronormatividade
Trecho do vídeo “Bichas - o documentário”.
Sexualidade na escola: heteronormatividade
Dados do diagnóstico discente apresentados no II Fórum de EPT:

9,5% se declararam bissexuais (número maior do que os que se declararam


homossexuais) - maioria meninas e jovens.

Dos estudantes homossexuais, cerca de 50% relataram terem sofrido


discriminação por causa de sua orientação sexual.

Existe preparo para lidar com a diversidade sexual na escola?


Sexualidade na escola: heteronormatividade
Tradicionalmente, na escola: gênero e de sexualidade a partir de um discurso
moralizante, e de forma velada, disfarçada. Busca reafirmar a norma, mostrar o
que é aceitável, portanto sustentando o preconceito social.

O discurso moral impede a discussão dessas questões, pois as transforma em


normas às quais cada indivíduo precisa se sujeitar.

Já a esfera da política vai na contramão, e busca mostrar os mecanismo de


construção social e histórica das hierarquias.

(PRADO; NOGUEIRA; MARTINS, 2013)


Experiência do Movimento Ovelhas Negras
A política está no fazer cotidiano da escola.

A escola é espaço potencial de transformação, com estudantes e professoras/es


podendo assumir o papel de agentes de mudança.

Movimento Ovelhas Negras: surgiu dessa potencialidade do espaço escolar.


Experiência do Movimento Ovelhas Negras
Coletivo formado em 2016;

Passou por vários momentos, várias integrantes, e


momentos de maior e menor mobilização;

Prática feminista ampla, que atinja todos e todas e


questione estereótipos e hierarquias de gênero e
sexualidade;

Cada vez mais observando também outras


iniquidades (de raça, de classe).
Experiência do Movimento Ovelhas Negras
Funciona em momentos informais;

Enfrentamento de resistências;

Feminismo como político:


incômodo, difícil;

Pautas vindas das vivências e


preocupações das estudantes;

Aprofundamento, estudos.
Experiência do Movimento Ovelhas Negras
Algumas ações:

- Recepção anual às calouras e aos calouros;


- Abaixo-assinado;
- Colocação de cartazes;
- Propostas de debate;
- Ações em conjunto com NEPGS e NEABI (evento, rodas de conversa);

Importância dos estilos de comportamento (MOSCOVICI, 2011)

- Autonomia - Esforço - Consistência - Rigidez/Equidade


Referências
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Secretaria de Educação. Pesquisa
Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2015: as experiências de adolescentes e jovens lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes educacionais. Curitiba: ABGLT, 2016.

BENTO, Berenice. Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 19,
n. 2, p. 549-559, mai.ago., 2011.

CARVALHO, Maria E. P. de; RABAY, Glória. Usos e incompreensões do conceito de gênero no discurso
educacional no Brasil. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 119-136, jan.-abr, 2015.

LOURO, Guacira L. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 6. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1997. 179 p.

MAZZON, José Afonso (coord.). Projeto de estudo sobre ações discriminatórias no âmbito escolar, organizada
de acordo com áreas temáticas. Sumário dos resultados da pesquisa. São Paulo: Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas, 2009.
Referências
MOSCOVICI, Serge. Psicologia das Minorias Ativas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 287 p.

PARENTE, Marlon. Bichas: o documentário. 2016. (38m57s). Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=0cik7j-0cVU>

PRADO, Marco A. M.; NOGUEIRA, Paulo, H. Q.; MARTINS, Daniel A. Escola e Política do armário na produção e
reprodução das hierarquias sexuais no Brasil. In: RODRIGUES, Alexsandro; BARRETO, Maria A.S.C (orgs.)
Currículos, gêneros e sexualidades: experiências misturadas e compartilhadas. Vitória, ES: Edufes, 2013. p. 23-
46.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, v. 20,n. 2, 1995.

TRINDADE, Zeidi A.; SOUZA, Luiz G. S. Gênero e escola: reflexões sobre representações e práticas sociais. In:
ALMEIDA, Angela M. O.; JODELET, Denise (orgs.) Representações sociais: interdisciplinaridade e diversidade de
paradigmas. Brasília, DF: Thesaurus, 2009. p.225-244.
Obrigada!
Contato: vanessa.castro@ibibiruba.ifrs.edu.br

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