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Capítulo 4 - Uniões Soldadas

Introdução
A análise de tensões em uniões soldadas depende de diversos aspectos, entre os quais:

- tipo e amplitude do carregamento;


- tamanho da zona termicamente afetada - ZTA;
- mudanças das propriedades do material na ZTA; e
- tensões residuais oriundas do processo de soldagem.

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J.C. Almeida, R. Barbieri, K. Fonseca
Capítulo 4 - Uniões Soldadas
Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

Observar que a geometria da solda é idealizada como sendo triangular sem considerar a
real configuração do cordão efetivamente realizado!

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

O diagrama de corpo livre acima ilustra as parcelas de força normal e tangencial que são
utilizadas para avaliar a tensão normal e a tensão cisalhante em função do ângulo “q” (0  q
 p/2) ao longo do cordão.

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

O comprimento do segmento “OE” pode ser calculado utilizando a lei dos senos:

h h OE
 
sen (  ) sen (135   ) sen (45)

hsen (45) hsen (45) h


OE   
sen (135   ) sen (135) cos( )  cos (135) sen ( ) cos( )  sen( )

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

Portanto, a tensão cisalhante t(q) e a tensão normal s(q) serão dadas por (sendo “L” o
comprimento do cordão em análise):

F sen ( )  [ cos( )  sen( ) ]


 ( ) 
FT

h L

F
h L

sen( ) cos( )  sen 2 ( ) 
OE  L

F cos ( )  [ cos( )  sen( ) ]


 ( ) 
FN

h L

F
h L

cos 2 ( )  sen( ) cos( ) 
OE  L

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

As curvas para a tensão equivalente de Mises e para a tensão cisalhante, em função do ângulo
“q”, estão representadas a seguir.
O valor máximo da tensão
equivalente de Mises ocorre
em q = 62,5o, ponto onde
se obtém:

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

Similarmente, a máxima tensão cisalhante ocorre em q = 67,5o, ponto onde se obtém:

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

O modelo proposto é bastante simplificado visto que foram ignorados diversos fatores
importantes para a análise de tensões, entre os quais:

- o efeito da flexão não foi considerado nos cálculos. Isso pode ser visualizado na figura a
seguir, onde se identifica que essa tensão tende a comprimir a região próxima do ponto “B”
e tracionar a região próxima ao ponto “A”:

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Um modelo simplificado para a análise de tensões em filetes de
solda

- as concentrações de tensões na extremidade da solda não foram consideradas nos


cálculos. Os resultados da fotoelasticidade mostrados em figura ilustram essa condição nos
vértices do filete de solda:

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solda

- nas proximidades do ponto “B” existe uma região com contato deslizante entre as duas
peças. Esta região pode ser considerada como sendo uma macro trinca com solicitações no
modo II da mecânica da fratura elástica linear. Análises deste problema, empregando o
método de elementos finitos, permitem identificar um forte gradiente das tensões ao redor
desse ponto.

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Um modelo baseado na ferramenta dos Elementos Finitos (MEF)

O método de elementos finitos é uma técnica que tem sido utilizada para a análise de
tensões em uniões soldadas, motivo pelo qual diversos trabalhos são encontrados na
literatura sobre o tema. Um exemplo desses trabalhos é o de Chattopadhyay (2011).

No entanto, a construção de um modelo de elementos finitos adequado para as análises de


tensões ainda é o ponto fraco para o uso do método nestas análises. As principais
limitações estão associadas à geometria da solda, às propriedades mecânicas dos materiais
na região afetada pelo calor e à distribuição das tensões residuais para cada nó da malha.

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Um modelo baseado na ferramenta dos Elementos Finitos (MEF)

O modelo de elementos finitos ilustrado em figura foi elaborado para avaliar as tensões no
filete de solda e nos membros para a geometria de cordão idealizada. Este modelo possui
37500 nós e 32400 elementos isoparamétricos lineares (QUAD4). O detalhe da macro
trinca ilustrada à direita apresenta uma distância de 0,05mm entre os componentes
soldados.

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Um modelo baseado na ferramenta dos Elementos Finitos (MEF)

Um carregamento de tração (força externa) foi prescrita para obter uma tensão s0 = 1
N/mm2 no membro tracionado e distante do cordão de solda. Os resultados das tensões
“sxx” e “syy” estão ilustrados em figura:

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Um modelo baseado na ferramenta dos Elementos Finitos (MEF)

Pode-se observar pelos gráficos anteriores que os resultados obtidos para as tensões “sxx” e
“syy”, mostram semelhança com os apresentados por Norris ao longo do lado “AB”. No lado
“BC” estes resultados são diferentes e indicam alta concentração de tensão ao redor do
ponto “B”. Com isso e conforme anteriormente comentado, os resultados obtidos com o
modelo simplificado são realmente muito diferentes dos resultados obtidos com o método
de elementos finitos e com os resultados da fotoelasticidade de Norris.

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Uma regra simples para projeto
Diante da complexidade do problema em se avaliar adequadamente as tensões nos filetes
de solda, uma alternativa prática encontrada foi o uso de equações simplificadas, as quais
também são utilizadas nas normas internacionais sobre o assunto.

Uma destas propostas é estudar os limites das tensões nos filetes de solda empregando o
valor de uma “tensão cisalhante equivalente”, a qual é calculada utilizando o comprimento
da garganta da solda, isto é:

F F
  1,414
0,707hL hL

O valor da tensão cisalhante equivalente obtida com esta equação é 1,414/1,207 = 1,17
vezes maior do que a tensão cisalhante máxima do modelo simplificado dado pela equação
anterior correspondente. Nesta proposta todas as outras componentes de tensão acabam
sendo negligenciadas.

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Indicação da solda
- em conformidade com as normas como a ABNT 7165/SB 121 e a AWS A2.4:

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Indicação da solda

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Soldas de tôpo - Exemplos

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Soldas de tôpo – Solicitações axiais

F

hL

“h” = garganta da solda (sem os eventuais reforços da solda);


“L” = comprimento total do cordão de solda.

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Soldas de tôpo – Solicitações transversais

F

hL

“h” = garganta da solda (sem os eventuais reforços da solda);


“L” = comprimento total do cordão de solda.

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Tensões equivalentes em filetes de solda em torção

x,y = coordenadas do centróide da solda.


Admite-se ainda que a dimensão “t” é muito menor do que a distância “l” de tal forma que
o momento fletor “F x t” também seja muito pequeno, podendo assim ser desconsiderado
na análise de tensões.
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Tensões equivalentes em filetes de solda em torção

A “tensão cisalhante primária”


na solda que é oriunda da
força cortante vale:

V F F
 '  
A A 0,707 h  Au

“Au” = área unitária da solda;


“0,707h” = comprimento da
garganta do filete .

A direção desta tensão


coincide com a direção da
força cortante.

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Tensões equivalentes em filetes de solda em torção

O momento torcedor irá gerar


a “tensão cisalhante
secundária” na solda, dado
por:
Mr Mr
" 
J 0,707h  J u

“r” = distância do ponto do


cordão de solda em análise até
o centróide da solda;
“Ju” = momento polar de
inércia unitário.

A direção desta componente de tensão coincide com a direção do momento torcedor e é


perpendicular à linha que une o centróide ao ponto onde estão sendo avaliadas as tensões.

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Tensões equivalentes em filetes de solda em torção
Mr Mr
" 
J 0,707h  J u

Note que quanto maior o valor de “r” maior será o valor da tensão cisalhante secundária,
motivo pelo qual os pontos mais afastados do centróide naturalmente deverão ser os
primeiros pontos da união soldada a serem avaliados, visto que as tensões nestes pontos
provavelmente serão as maiores ao longo do cordão de solda.

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Tensões equivalentes em filetes de solda em flexão
A “tensão cisalhante primária” na solda
novamente é oriunda da força cortante
e vale:
V F F
 '  
A A 0,707 h  Au

O momento torcedor irá gerar a “tensão


cisalhante secundária” na solda, dado
por:
Mc Mc
 
I 0,707 h  I u
“c” = distância até a linha neutra;
“Iu” = momento de inércia unitário.

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“Iu” e “Ju”
Dado o cordão de solda:

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“Iu” e “Ju”
CG?

A1 x1  A2 x2 d  0  b  b / 2 b2
x  
A1  A2 bd 2(b  d )

A1 y1  A2 y2 d  d / 2  b  0 d2
y  
A1  A2 bd 2(b  d )

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“Iu” e “Ju”
Momentos de inércia unitários:

d /2 d /2 3 d /2
y d3
I u x1x1   y dA1   y dy1 
2
1
2
1
1

d / 2 d / 2
3 d / 2
12

1/ 2 1/ 2 3 1/ 2
x d
I u y1 y1   x1 dA1   x1 d dx1 d 
2 2 1

1 / 2 1 / 2
3 1 / 2
12

1/ 2 1/ 2 1/ 2
y23 b
Iu x2 x 2   y2 dA2   y2 bdy2  b
2 2

1 / 2 1 / 2
3 1 / 2
12

b/2 b/2 b/2


x23 b3
Iu y 2 y 2   x2 dA2   x2 d dx2 
2 2

b / 2 b / 2
3 b / 2
12

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“Iu” e “Ju”

Momentos de inércia unitários em relação


aos eixos do CG e momento polar de inércia
unitário:

d3 d b
I u xx  I ux1x1  Au1 (y1 )  I ux 2 x 2
2
 Au 2 (y 2 ) 
2
 d  (  y) 2   b  y 2
12 2 12
d b3 b
I u yy  I uy1 y1  Au1 (x1 )  I uy 2 y 2
2
 Au 2 (x 2 ) 
2
dx 
2
 b  (  x)2
12 12 2

J u   r 2 dAu   ( x 2  y 2 ) dAu  I uxx  I uyy


A A

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“Iu” e “Ju”

Para outras configurações de cordão, obter valores conforme Tabela 4.1.

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Propriedades de resistência dos eletrodos

A recomendação básica para a seleção de eletrodos é que a sua resistência seja menor ou
igual à resistência do material base. As propriedades mínimas de alguns eletrodos estão
listadas na Tabela 4.2.

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Tensões admissíveis para cargas estáticas

O código AISC (American Institute of Steel Construction) prescreve as tensões admissíveis


em soldas de acordo com a Tabela 4.3. Além da solda, o referido código também limita o
valor da tensão cisalhante no metal base, para o qual não se deve exceder 40% do seu
limite de escoamento.

“n” = coeficiente de segurança, sendo nesse caso definido a partir do critério da máxima
energia de distorção.

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Tensões admissíveis para cargas estáticas

O AWS D1.1 (Structural Welding Code) também define o tamanho mínimo dos filetes em
função da espessura do metal base visando assegurar uma boa fusão durante o processo. A
Tabela 4.4 apresenta alguns desses valores.

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Carregamento em fadiga

Normas técnicas pertinentes (AISC, AWS, etc.) apresentam recomendações do valor da


tensão máxima admissível para carregamentos de fadiga.

Para situações, porém, em que não se faça a aplicação destas normas, sugere-se o enfoque
no uso das análises convencionais de fadiga com uso do critério de Gerber. Os fatores de
concentração de tensões podem ser utilizados conforme valores listados na Tabela 4.5.

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Problema resolvido – 10.1

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Problema resolvido – 10.1 - continuação

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Problema resolvido – 10.2

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Problema resolvido – 10.2 - continuação

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Problema resolvido – 10.3

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Referências bibliográficas

ABNT NBR 7165/SB 121 - 1982. Símbolos gráficos de solda para construção naval e
ferroviária.
AWS A24 - 2007. Standard Symbols for Welding Brazing and Nondestructive Examination.
AWS D1.1/D1.1M-2010. Structural Welding Code - Steel. Standard by American Welding
Society.
Budynas, R., Nisbett, K. Shigley´s Mechanical Engineering Design, Eighth Edition. McGraw-
Hill Company, 2006.
Chattopadhyay, A., Glinka, G., El-Zein, M. Stress Analysis and Fatigue of welded structures.
Welding in the World Vol.55; pg.2-21, 2011.
Jennings, C.H. Welding Design, Trans. ASME, 58:497-509, 1936.
Norris, C.H. Photoelastic Investigation of Stress distribution in Transverse Fillet Welds.
Welding J., vol.24, pg.557, 1945.
Norton, R. L. Projeto de Máquinas: Uma abordagem Integrada. Ed. Bookman, 2013.
Salakian, A.G., Claussen, G.E. Stress Distribution in Fillet Welds: A Review of the Literature.
Welding J., vol.16, pp.1-24,, 1937.
Shigley, J. E., Mitchell, L. D. Mechanical Engineering Design. International Student Edition.
McGraw-Hill International Book Company, 1983.

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