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INIQUIDADES RACIAIS E RESISTÊNCIA: A

LUTA DO POVO PRETO POR


EMANCIPAÇÃO
Prof. Me. Maelison Neves
Departamento de Psicologia – UFMT-Cuiabá
SOBRE O MITO DA NEUTRALIDADE DO/DA ANALISTA DO COMPORTAMENTO E DO/DA
CIENTISTA EM GERAL

“Com efeito, uma regra científica é verdadeira se produz uma ação efetiva sobre o
mundo. [...] Assim, uma vez que a probabilidade do comportamento ser reforçado
depende de fatores sociais, ou seja, depende de quais reforçadores condicionados as
comunidades científicas e a cultura em geral se apoiam na manutenção do
comportamento do cientista, o valor de verdade de uma proposição científica não é
um valor absoluto. Regras científicas são analisadas no escopo do
comportamento verbal, portanto, os enunciados científicos são
"verdadeiros" quando possibilitam que ouvintes, neste caso os cientistas,
comportem-se efetivamente em suas comunidades científicas. Ou seja, o
valor de verdade sempre varia de acordo com os reforçadores utilizados
(Dittrich, 2004)”
Pimentel; Bandini; Muchon de Melo (2012, p.224)
Três perguntas norteadoras
•Quem é o povo preto?
•Que emancipação?
•Qual luta? Luta?
1) Povo preto brasileiro: contingências
sociais, racismo, resistência
• Escravismo colonial e acumulação primitiva;
• Iluminismo, abolição da escravatura, Lei de Terras (1850): o caráter reacionário das
elites brasileiras – modernização conservadora (Florestan Fernandes);
• Marcha para o Oeste: terra para brancos, trabalho para nordestinos, invisibilidade
indígena e dos povos quilombolas ( contingências sociais – processos materiais e
verbais orientadores e produtores de segregação racial – incluindo acesso
diferenciado a reforçadores)
Notas sobre a historicidade e materialidade da
consciência: o caso da construção social do racismo
• Como foi possível que as pessoas negras fossem vistas como inferiores? Como uma condição
sub-humana (humanidade subalterna ou por concessão )?
• Como essa “inferioridade” vai se configurando a ponto de deturpar o autoconceito, a
autoimagem e o autoconhecimento das pessoas pretas?
• Sofrimento psíquico relacionado ao racismo como produto de contingências sociais – regras e
contiguidade de eventos/acesso diferenciado a reforçadores:
• a) Teorias raciais e eugenia: a deturpação de Darwin – confusão entre variabilidade nos níveis
filogenético, ontogenético e cultural – os perigos de negar a historicidade dos eventos humanos;
• b) Discurso religioso;
• c) Eurocentrismo;
• d) Ideologia/meritocracia: nordestino preguiçoso e sulista pioneiro e trabalhador;
• d) funcionalidade para o processo produtivo de acumulação de riquezas: manutenção das
estruturas arcaicas de dominação (escravismo e patriarcado).
Notas sobre a historicidade e materialidade da
consciência: o caso da construção social do racismo
• Estamos falando de contingências sociais (verbais e físicas), que produzem uma
consciência historicamente situada – não dá pra pensar num curso natural nem
progressista da história, descolados de suas relações materiais de produção/reprodução
social historicamente dadas.
• Limitações das explicações sociológicas centradas em processos
internos/mentalistas/idealistas – o antídoto behaviorista radical
• Teoria do reconhecimento, conceito de privilégio focada em dimensões meramente
internalistas, individuais e naturalizado. Exemplo: “Sai hétero!”. Necessidade de
contextualizar esses eventos como resposta de contra controle; urgência de reflexões
sobre sua efetividade do ponto de vista de uma sociedade equânime.
• Opressões como boi de piranha: deixando passar a “boiada” de alterações estruturais
fortalecedoras das desigualdades/iniquidades de classe, gênero e racial.
Qual luta?.... Luta?
• Contexto sombrio: fortalecimento de posturas racistas; aprofundamento das
desigualdades raciais, econômicas, extermínio da juventude negra sob inúmeras
alegações ideológicas.
• Importância de discussões críticas a respeito; importância dos movimentos
sociais; importância de uma postura anti-racista;
• Empoderamento individual é suficiente? É possível?
• Aquilombamento como resposta potente, mas suficiente?
• Articulação com lutas emancipatórias classistas e de gênero: alteração das
contingências (metacontingências/macrocontingências)
produtoras/naturalizadoras das desigualdades raciais, de classe e gênero
2)Qual emancipação?
• Por que ela é necessária?
• Existe racismo no Brasil?
• Não vivemos (ou devemos viver) no reino da
meritocracia?
• Os casos de pessoas negras em postos de poder ou
apoiando discursos meritocráticos não são evidência
da inexistência de racismo?
Modernização conservadora: estado democrático de
direito republicano e a continuidade das iniquidades raciais

• Modos mais sutis de racismo: linguagem, piadas,


• Atualização das teorias raciais: argumentos genéticos (remédio:), retorno do discurso
eugenista.
Antídotos: descobertas na Amazônia de processos evolutivos por cooperação (mais
biodiversidade e co-evolução; Behaviorismo Radical; livro “A falsa medida do homem”)
• Negação como “mecanismo de defesa”: meritocracia; somos todos seres humanos;
mimimi
• Iniquidades raciais: distribuição do estresse; condições de vida, trabalho, status social e
econômico; expectativa de vida.
• Danos psíquicos e sofrimento social: branqueamento (ódio de si negro), consciência
naturalizadora da opressão racial (“o bom crioulo”, o riso que esquiva da dor);
Contingências antiracistas
• Processos sociais de fortalecimento da consciência e da identidade racial;
• Orgulho preto: contingências sociais fortalecedoras do autoconceito; autoestima;
• Superação das iniquidades raciais e socioeconômicas: superação do modelo de
produção/reprodução social pautado nas desigualdades de classe, gênero e
raça/etnia.
Considerações finais
• Nossa base teórica é compatível com perspectivas antirracistas e de defesa dos
direitos humanos;
• Não precisamos validar nossos conhecimentos e saberes a esse respeito apenas
com experimentação, apesar de sua importância para solidificação das teorias
psicológicas materialistas: a especificidade dos fenômenos humanos quando
estamos lidando com níveis mais complexos de organização/processos
comportamentais (polêmico!) – não significa abrir mão da dimensão ontológica
relacionada a fatores filogenéticos, mas entender sua subsunção à historicidade
dos processos sociais.
Referências de leitura
• Questões recentes da análise comportamental: eu iniciador; autoestima;
autoconfiança; autoconhecimento (Skinner)
• De Rose: consciência e propósito no behaviorismo radical (Júlio de Rose)
• Hablo, luego existo: uma aproximación conductual para entender los problemas del
Yo ( Robert Kholemberg e Mavis Tsai).
• “Relações raciais: referências técnicas para a prática da(o) psicóloga(o)” (Conselho
Federal de Psicologia)
• A Falsa Medida do Homem - Stephen Jay Gould
• O mundo dos Homens – Sérgio Lessa
• A revolução burguesa no Brasil – Florestan Fernandes

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